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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE INTEGRADA AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU TUTELA PENAL AMBIENTAL: A PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO NOS CRIMES AMBIENTAIS Prof. Francisco Carrera Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

TUTELA PENAL AMBIENTAL:

A PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO NOS CRIMES AMBIENTAIS

Prof. Francisco Carrera

Rio de Janeiro

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

TUTELA PENAL AMBIENTAL: A PESSOA JURÍDICA COMO SUJEITO ATIVO NOS CRIMES AMBIENTAIS

Esta publicação atende a complementação didático-pedagógica da disciplina de metodologia da pesquisa e a produção e desenvolvimento de monografia para o curso de pós-graduação lato e stricto sensu.

Rio de Janeiro

2012

3

AGRADECIMENTOS

A todos os autores, corpo docente do

Instituto A Vez do Mestre, ao professor

Francisco Carrera pela revisão dos textos.

Aos alunos e pessoas que, direta e

indiretamente, contribuíram para a

confecção desse trabalho acadêmico e

sua constante atualização.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao Deus Todo-

Poderoso que me deu força e inspiração

para a realização deste sonho; a minha

família que compreendeu e serviu-me de

suporte para os momentos difíceis pelos

quais passei durante esta jornada.

“Os céus são os céus do Senhor; mas a

terra, deu a ele aos filhos dos homens.”

(Salmos 115:16)

5

RESUMO

SILVA, Edicleia Pereira da. Tutela Penal Ambiental: A pessoa jurídica como sujeto ativo nos crimes ambientas. 2012. 75 f. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-graduação Lato e Stricto Sensu – Universidade Candido Mendes Faculdade Integrada AVM, Rio de Janeiro. Com o avanço da densidade demográfica, acompanhada do êxodo rural, causando um inchaço nos centros urbanos, foi necessário arregimentar meios mais céleres de produção visando atender as necessidades básicas do ser humano. Com isso, houve um avanço tecnológico na indústria, que precisava obter insumos, fator que desencadeou uma degradação sem precedentes ao meio ambiente, colocando em risco vários ecossistemas. Neste contexto erguem-se as grandes empresas com fins lucrativos a qualquer custo, que na busca de matéria prima, se tornaram os maiores devastadores do meio ambiente. De olho nesse panorama, tem este trabalho o escopo de analisar no âmbito da tutela penal ambiental, a problemática da pessoa jurídica como sujeito ativo nos crimes ambientais. A Constituição Cidadã de 1988 elegeu o meio ambiente como bem comum do povo e trouxe em seu bojo normas de proteção ambiental, dentre elas a inovação no sistema jurídico pátrio, onde responsabiliza penalmente a pessoa jurídica nos crimes ambientais. É mister a elaboração de políticas que visem a aplicabilidade dessas normas, pois a tutela penal é um instrumento eficaz na proteção ambiental, uma vez que serve de freio aqueles que sem escrúpulos degradam a natureza e as vezes sob o manto da impunidade. Não pode perder de vista que as normas que versam sobre meio ambiental, objetivam sua proteção, bem como o apenamento dos autores de crimes da espécie. No tocante às pessoas jurídicas, como já colocado, na realização de seus empreendimentos, acabam por serem os maiores causadores de devastação e poluição ambiental, não podem, portanto, se furtar a essa responsabilidade. Um meio ambiente sustentável é imprescindível para a preservação da vida, portanto, quando se fala em tutela penal ambiental, é mais um instrumento de preservação da vida no planeta. Por isso é indispensável que todos sejam responsabilizados, inclusive penalmente, pelos danos causados à natureza e no caso em foco, as pessoas jurídicas. Palavras-chave: meio ambiente; tutela ambiental; dano ambiental; crime ambiental; responsabilidade criminal da pessoa jurídica.

6

SUMÁRIO INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………..07 1. DIREITO AMBIENTAL…………………………………………………………………10 1.1 - Evolução Histórica ………………………………………………………………...10 1.2 - Base Conceitual..............................................................................................14 1.3 - Princípios do Direito Ambiental ....................................................................15 1.4 - Meio Ambiente.................................................................................................25 1.5 - Tutela do Meio Ambiente ...............................................................................26 2. TUTELA PENAL DO MEIO AMBIENTE...............................................................29 2.1 - Antecedentes Históricos e importância........................................................29 2.2 - Dano Ambiental...............................................................................................31 2.3 - Conceito de Crime...........................................................................................33 3. RESPONSABILIDADE CRIMINAL DA PESSOA JURIDICA...............................41 3.1 - Critérios para a Responsabilização da Pessoa Jurídica.............................43 3.2 - Desconsideração da Pessoa Jurídica na Lei 3.605/98.................................45 3.3 - Penas Aplicadas às Pessoas Jurídicas.........................................................47 3.4 - Problemática à Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica..................... 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................64 REFERENCIAS..........................................................................................................67

7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo analisar a possibilidade de a pessoa

jurídica figurar como sujeito ativo no âmbito dos crimes ambientais, considerando os

esforços empreendidos para garantir a todos um meio ambiente ecologicamente

equilibrado.

O método utilizado consiste em técnica de pesquisa bibliográfica, haja vista

que para a sua elaboração é aplicado o conhecimento teórico, constante em livros,

artigos, revistas, entre outros.

Destarte, para fomentar o debate em torno do tema e alcançar o objetivo

proposto, este trabalho foi desenvolvido três capítulos.

O primeiro capítulo trata do Direito Ambiental, trazendo à baila a base

conceitual, principais princípios, bem como acentuando a tutela ao meio ambiente.

O segundo capítulo se desenvolve com vistas a analisar a tutela penal

ambiental, com ênfase nos crimes ambientais.

O terceiro capítulo trata-se com exclusividade da responsabilidade penal da

pessoa jurídica, critérios para essa responsabilidade, desconsideração da pessoa

jurídica no âmbito da Lei 9.605/98, penas aplicadas à pessoa jurídica e por fim, a

problemática da responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Funda-se na atual preocupação que se pode dizer global em preservar o meio

ambiente, e isso é explicado pelo fato de que tudo aquilo que é utilizado sem que

seja feita a reposição adequada tende-se a extinguir. Isso é o que tem ocorrido com

os recursos naturais, evento este que gerou uma crise sem precedentes a nível

ambiental.

O que se percebe é que diante do avanço populacional, a crescente

industrialização, que emite fluentes em altíssimos níveis na natureza, a conseqüente

diminuição e ameaça de exaurimento de recursos naturais não renováveis, e caso

este panorama continue imutável, desembocará em um processo de extinção da

vida no planeta.

8

Essa situação levou à necessidade de tomar medidas urgentes para conter o

avanço da degradação da natureza.

É lógico que não é uma situação tão nova, pois desde que o homem começou

a viver cada vez mais de forma concentrada em cidades e, na medida em que

ocupavam maiores áreas, poder-se-ia perceber que o impacto no meio ambiente

evoluía, de maneira geral, em proporções desmedidas.

As medidas preventivas e de preservação começam então a fazer parte da

preocupação do ser humano, até ocupar a posição de uma das mais importantes.

No entanto, a leitura que se faz é que apesar disso, percebe-se que os

instrumentos utilizados, tanto em nível de governos, como por parte de empresas

industriais e sociedade, tem se mostrado ineficazes em minorar a espantosa

escalada de degradação ambiental.

Até mesmo os organismos criados com o objetivo de atuarem na prevenção e

preservação do ecossistema têm desenvolvido de forma tímida políticas nesse

aspecto.

Os resultados, não poderiam ser outros, a qualidade de vida no planeta

começou a ficar ameaçada, pelos desastres naturais cada vez mais freqüentes que

deixam rastros de destruição, além de outros fatores, como a diminuição de recursos

renováveis etc.

Claro que tudo isso levou a uma corrida mais acelerada em busca de políticas

pudessem diminuir o impacto das ações humanas no meio ambiente. Começou uma

maior colaboração entre os Estados na formulação de mecanismos para minimizar

os resultados negativos sobre os ecossistemas, oriundos das atividades humanas.

Assim, no final do século XX, os Estados celebraram acordos, algumas leis

foram elaboradas, além de uma política de publicidade a nível global, por parte de

diversas organizações, visando à conscientização não só dos governantes, mas

também das empresas, bem como toda a comunidade internacional, de que a

necessidade em preservar o meio ambiente é urgente, sob pena de a vida no

planeta entrar em declínio incontrolável.

Com a intervenção da Organização das Nações Unidas (ONU), houve uma

intensificação de ações por parte de todos os atores envolvidos com políticas de

preservação ambiental.

9

Esse fato se mostra por meio da realização em 1972, da Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, com a participação

de 113 países, dessa conferência saíram várias diretrizes para prevenção e

preservação da natureza.

Na década de 1990, aconteceu a realização da Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), ocorrida no Rio de

Janeiro, com a participação de 178 países, onde foi feito uma análise acerca das

diretrizes surgidas na conferência de Estocolmo, bem como foi elaborada a

chamada Agenda 21, assinada por todos os países participantes, a qual tinha como

base o slogan “pensar globalmente, agir localmente”. Os países signatários desse

documento saíram dali acordados que buscariam caminhos que levassem à

mudança do modelo de desenvolvimento até então utilizado, para alcançar novos

paradigmas ambientalmente equilibrados.

Em fevereiro de 1997, o Brasil cria a Comissão de Políticas de

Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e a Agenda 21 Brasileira, vinculada ao

Ministério do Meio Ambiente. Com isso passou a definir estratégias de

desenvolvimento sustentável para o país, por intermédio de parcerias entre o

governo e a sociedade.

10

1 DIREITO AMBIENTAL

1.1 Evolução histórica

Não se sabe ao certo quando o homem passou a ser detentor de uma

consciência ambiental correta, no entanto, historicamente, percebe-se alguns

marcos que sinalizam a preocupação do ser humano com a preservação do

ecossistema.

De acordo com Palma (2005, p. 68) a despeito de não haver na própria

acepção da palavra, um Direito Ambiental na antiguidade, não da maneira que é

concebido atualmente, no entanto, é correto afirmar que em um período passado,

especificamente, antes da nossa Era Cristã, já havia normas de conteúdo

inteiramente ecológico. Tais preceitos encontram-se presentes na Torah do hebreus,

conhecido como Pentateuco para os cristãos. Embora os estudiosos não incluam a

Bíblia como fonte histórica no tema do meio ambiente, em seu conteúdo perceber-

se-á elementos ecológicos, como por exemplo: A Lei sobre o Descanso Sabático da

Terra (ex. 23: 10-11 e Lv. 25: 1-7); A Proibição do Desmatamento Indiscriminado (Dt.

19: 20); A Prescrição que Assevera os Cuidados para o Entorno (Dt. 20: 19-20);

Preocupação com a vida e a Perpetuação das Espécies (Dt. 22: 6-7).

Ademais, sob a ótica jurídica, há estudiosos do assunto a dizer que no Direito

Hebraico encontra-se a função social da propriedade.

Para Sirvinskas (2009, p. 19) considera-se que o homem saiu da idade da

pedra e ingressa na denominada Era das civilizações, pelo fato de fazer uma

associação entre noções de Direito e o conhecimento acerca da ecologia.

Deste modo, os homens começam a aglomerar em terras banhadas pelos

rios, surgindo verdadeiras cidades ribeiras. Com isso começam a valorizar as

nascentes e fontes de águas, por ser meio de sobrevivência.

Na opinião referenciada, há conhecimento de um documento chamado de

Confissão Negativa, encontrado junto a múmias do Império do Novo Egito,

documento este que fazia parte do Livro dos Mortos, datado de cerca de três

milênios e meio, segundo consta este documento passou a fazer parte do

testamento do morto, onde se fazia homenagem e confissão a uma divindade tida

como criador. Nessa confissão era dito não ter matado animais sagrados, nem

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prejudicado lavouras, não mandado maltratar escravos, não haver sujado as águas,

dentre outras declarações, finalizando dizendo, eu sou puro.

Neste histórico, pode ser citado o Código de Hamurabi, datado de 2050 a.C.,

que de acordo com fontes históricas, Hamurabi efetuou trabalho de regulagem do

curso do rio Eufrates e a construção e conservação de canais para irrigação e

navegação, incrementando enormemente a produção agrícola e o comércio.

Na aludida lição, outro acontecimento marcante nos anais do direito ambiental

foi a Magna Carta de 1215, que era divida em dois diplomas: a Carta da Floresta e a

Carta das Liberdades.

De acordo com Sirvinskas (2006, p. 24) tem-se como um dos mais

importantes pronunciamentos em defesa do meio ambiente, uma resposta do chefe

de uma tribo indígena ao então Presidente dos Estados Unidos, Flanklin Pierce, que

oferecia a compra de grande parte de terras pertencente aquela tribo, contrapartida

lhes concederia outra reserva (texto distribuído pela ONU – Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA), conforme a seguir transcrito:

[...] Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. Seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho [...]

[...] Os rios são nossos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhe vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.

[...] Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto [...].

[...] O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros[...].

[...] O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. [...]. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados [...].

[...] ”Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, sacrificamos somente para permanecer vivos” [...] .

12

[...] “Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos” [...].

[...] Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados de cheiro de muitos homens e a visão dos morros obstruídos por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.

Na dicção de Milaré (2005, p. 50) outro acontecimento marcante em relação

ao direito ambiental foi a ocorrência ano de 1972, da Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente Humano em Estocolmo, onde houve a participação de

113 países, sendo esta considerada a primeira discussão a nível planetário acerca

do tema.

Acrescenta Milaré (2005, p. 50) que com a mesma finalidade ocorreu no Rio

de Janeiro, em 1990, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, também conhecida por ECO 92, agora com a participação de 178

países, desse evento surge um documento denominado Agenda 21, que serviu de

mola mestra para uma política global pro meio ambiente, por fim, no ano de 1997, foi

realizada em Kyoto no Japão, a conferência sobre mudanças climáticas, onde foi

elaborado o documento, que ficou conhecido por Protocolo de Kyoto, que objetivava

estabelecer metas e diretrizes para que os países industrializados reduzissem os

níveis de gás carbônico emitido na atmosfera, os denominados gases do efeito

estufa.

Na lição de Sirvinskas (2009, p.25), a proteção jurídica do meio ambiente no

Brasil pode ser dividida em três períodos, a saber:

1- O primeiro período começa com o descobrimento no ano de 1500 e

segue até a chegada da Família Real no ano de 1808. Havia algumas normas

esparsas que visavam a proteger de forma pontual os recursos naturais que se

tornavam escassos, como é o caso do ouro, pau-brasil etc.

2- O segundo período tem o seu início no ano de 1808 e finda em 1981,

com a edição da Lei n. 6938 de 31 de agosto de 1981 (Lei de Política Nacional do

Meio Ambiente). O que marcou essa época fora uma exploração desordenada dos

recursos ambientais e as questões que surgiam eram tratadas no âmbito do Código

Civil, como e.g., o direito de vizinhança. Não havia uma intenção maior em preservar

13

o meio ambiente, somente era tutelado o que fosse considerado economicamente

interessante.

3- Já o terceiro período inicia-se com a edição da Lei 6.938 de 31 de

agosto de 1981, citada acima, que marca o início de uma proteção mais ampla, que

se denominava sistema ecológico integrado.

Para Sirvinskas (2009) a história mostra que a proteção estava voltada para

as florestas, por causa da retirada de madeira de forma desenfreada, principalmente

o pau-brasil, que era levado para Portugal. No entanto, as Ordenações Afonsinas e

depois as Ordenações Manuelinas, de 1521, que tratam da proteção à caça e as

riquezas minerais, inclusive tipificava como crime o corte de árvores frutíferas entre

outros.

Nesta esteira, com o advento do Governo-Geral no Brasil, foram criados

vários regimentos objetivando a proteção de recursos naturais, principalmente da

madeira. Destaca-se que a Carta de Regimento, “contém o verdadeiro zoneamento

ambiental, no qual delimita as áreas de matas que deveriam ser guardadas”

(SIRVINSKAS, 2009, p. 26).

De acordo com Sirvisnkas (2009, p.27) datado em 1605, surge o Regimento

acerca do pau-brasil, com o intuito de proteger essa madeira, sem contar que no

período em que vigorava as Ordenações Filipinas, eram tipificados diversos crimes

ecológicos.

Neste sentido, ainda no período colonial, a Constituição de 1824 trouxe a

previsão criminal para quem efetuasse o corte ilegal de árvores, bem como inovou

no tocante à proteção cultural. Tais dispositivos foram também tratados no Código

Criminal de 1830. Em 1850 foi editada a Lei n. 601, a qual estabelecia sanções

penais e administrativas para aquele que efetuasse desmatamentos e queimadas.

Neste diapasão, com a proclamação da República, foi o meio ambiente,

embora de maneira tímida, tutelado com a criação do Código Civil de 1916, surgindo

posteriormente o Código Florestal (Lei 4.771/65); de proteção à Fauna (Lei n.

5.197/67); o Código de Mineração (Dec-lei n. 227/67); o Código da Pesca (Dec-lei n.

221/67); o Código de Águas e o Código de Caça, entre outras leis que veio a regular

a proteção jurídica incidente de forma específica a determinados bens naturais.

14

Nesta seara, como parte desse avanço, em 1981 foi criada a Lei n. 6.938, de

Política Nacional do Meio Ambiente, a qual constituiu o Sistema Nacional de Meio

Ambiente com a seguinte estrutura:

a) Conselho de Governo, órgão superior;

b) Conselho Nacional do Meio Ambiente, órgão consultivo e deliberativo;

c) Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, órgão central;

d) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis,

órgão executor;

e) Órgãos seccionais e locais, a nível estadual e municipal.

Nesta linha, a Carta Política do Brasil, de 1988, recepciona a Lei n. 6.938 de

1981, e reconhece o meio ambiente como Direito Fundamental e o consagra Direito

Comum do Povo e, traz uma inovação para o ordenamento jurídico pátrio, a

responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Ademais, após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento – ECO-92, ocorrida em fevereiro de 1992, o Brasil cria a Comissão

de Políticas de Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e a Agenda 21 Brasileira,

vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com o intuito de definir estratégias de

desenvolvimento sustentável para o país.

Finalmente, em 1998, foi editada a Lei de Crimes Ambientais n. 9.605, que

será objeto de estudo do presente trabalho.

1.2 Base conceitual

Devido a sua abrangência, torna-se difícil conceituar o direito ambiental, para

alcançar o objetivo aqui proposto faz-se constar alguns conceitos trazidos pela

doutrina.

Segundo Moreira Neto (apud MACHADO, 2009, p. 52) pode-se conceituar

direito ambiental como sendo o “conjunto de técnicas, regras e instrumentos

jurídicos sistematizados e informados por princípios apropriados, que tenham por fim

a disciplina do comportamento relacionado ao meio ambiente”.

No conceito de SIRVINSKAS, (2009, p.38)

15

[...] o Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as

questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano,

tendo por finalidade a proteção do meio ambiente e a melhoria das

condições de vida no planeta.

Já na dicção de MILARÉ, (2005, p. 155) Direito Ambiental pode ser

considerado como:

O complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades

humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do

ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade para as

presentes e futuras gerações.

De acordo com MUKAI, (2007, p.11)

[...] o Direito Ambiental é o conjunto de normas e institutos jurídicos

pertencentes a vários ramos do Direito, reunidos por sua função

instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao

seu meio ambiente.

Para CARVALHO, (2005, p. 15) Direito Ambiental é conceituado como:

[...] o conjunto de princípios, normas e regras destinados à proteção

preventiva do meio ambiente, à defesa do equilíbrio ecológico, à

conservação do patrimônio cultural e à viabilização do desenvolvimento

harmônico e socialmente justo, compreendendo medidas administrativas e

judiciais, com a reparação material e financeira dos danos causados ao

meio ambiente e aos ecossistemas, de modo geral.

1.3 Princípios do Direito Ambiental

Não se pode furtar ao Direito Ambiental aquilo que é peculiar a todos os

ramos do Direito, pois todos eles são direcionados por princípios, objetivando

16

alcançar sua precípua função, que é trazer o equilíbrio e harmonia entre os

indivíduos, bem como entre estes e o meio em que vivem.

Na erudição de SIRVINSKAS (2009, p. 53): “Princípio além de ser o valor

fundamental de uma questão jurídica, também o é em outras palavras normas que

exigem a realização de algo, da melhor forma possível, de acordo com as

possibilidades fáticas e jurídicas”.

Na lição de Bandeira de Mello (apud MARCHESAN, STEIGLEDER e

CAPPELLI, 2008, P. 26)

Princípio é mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,

disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-

lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e

inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema

normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido humano.

Na definição de Bertolo (apud LESBECK DE OLIVEIRA, 2009, p. 24),

Os princípios são normas que, por possuírem dimensão de peso e

importância e maior grau de abstração, dependem de medidas

concretizadoras. Representam “standards” jurídicos que têm função

estruturante no ordenamento, e, ainda, constituem fundamentos das

regras.

Dentre os princípios norteadores do direito ambiental, está o princípio da

dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição Federal de 1988, artigo 1º,

inciso III, que se coloca como carro chefe dos demais princípios, inclusive, devido o

seu valor poderia ser tratado como supra princípio.

1.3.1 Princípio do direito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado

como direito fundamental

A Carta da República de 1988, em seu artigo 225 consagra o direito ao meio

ambiente sadio e ecologicamente equilibrado como direito fundamental, que é tido

pela doutrina como sendo direito de terceira geração.

No dizer de LENZA (2008, p. 588-589):

17

Direitos Humanos de terceira geração: marcados pela alteração da

sociedade, por profundas mudanças na comunidade internacional

(sociedade de massa, desenvolvimento tecnicológico e científico), as

relações econômico-sociais se alteram profundamente. Novos problemas e

preocupações mundiais surgem, tais como a necessária noção de

preservacionismo ambiental e as dificuldades para proteção dos

consumidores. O ser humano é inserido em uma coletividade e passa a ter

direitos de solidariedade.

Neste diapasão, para memorial ficam acentuados dois acontecimentos

importantes. Há uma inserção do homem em um contexto de coletividade e assume

o status de sujeitos de direitos de solidariedade. O que leva o ser humano a buscar

uma consciência de coletividade, inculcando-lhe que a manutenção de uma vida

saudável, necessário se faz que todos assumam uma postura de preservação do

meio em que vivem, sabendo que o equilíbrio entre o homem e a natureza é

essencial às presentes e futuras gerações.

Na visão de Milaré (2005, p. 158) O direito à vida leva os seres humanos não

só a estarem no centro das atenções voltadas para um desenvolvimento

sustentável, como também é ele próprio o responsável pela elaboração de medidas

para assegurar para si e para seus descendentes um meio ambiente saudável,

ecologicamente equilibrado.

1.3.2 Princípio da Natureza Pública da Proteção Ambiental

Para Philippi e Alaôr Caffé (2005, p.17) ao declarar que o meio ambiente é

bem de uso comum do povo, entende-se que o meio composto pelos recursos

naturais e artificiais, é de interesse público, não podendo ser objeto de apropriação

particular. Isso implica dizer que o proprietário de bens ambientais, seja ele público

ou particular, está impedido de dispor de tais bens sem observar as normas relativas

à proteção do meio ambiente.

Deste modo, abstrai-se que a fruição dos bens ambientais deve ser de forma

solidária por todos, pode-se dizer que o princípio aqui estudado é corolário do

18

princípio da função social da propriedade esculpido no artigo 5º, inciso XXIII, da

Carta Magna de 1988. Além do mais no seu artigo 186, § 2º, traz as regras para que

a propriedade urbana cumpra sua função social, na mesma esteira o artigo 186, e

seus incisos, estabelecem quais são os requisitos essenciais para o cumprimento da

função social da propriedade rural, é que esta proceda com:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do

meio ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos

trabalhadores.

Em consonância com o exposto, observam que a Constituição Federal

disciplina normas de ordem pública para que a propriedade cumpra a sua função

social, observando a preservação do meio ambiente, seja ele natural, artificial ou do

trabalho.

1.3.3 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

No dizer de Lesbeck de Oliveira (2009, p. 25) para que o desenvolvimento

sustentável alcance com êxito os fins que lhe são propostos, deverá este ser

implementado de forma a abranger todas as suas dimensões, ou seja, ao mesmo

tempo em que se propõe a elevação da melhoria de vida, não pode deixar para trás

as políticas de conservação e preservação dos recursos naturais, bem como o

equilíbrio do meio ambiente com vistas a atender na sua integralidade as presentes

e futuras gerações. Para tanto deve perceber a realidade de forma holística,

procurando ter a real noção das conseqüências que mudanças socioambientais

causam, para que, através de esforço conjunto haja um manejo adequado dos

recursos naturais. Isso é percebido quando há um fortalecimento da própria gestão

no seio das comunidades, [...] “a distribuição das riquezas e do poder”, [...] “a

valorização da qualidade de vida e do desenvolvimento do homem em detrimento de

valores quantitativos de produção” [...].

De acordo com Sirvinskas (2009, p. 57-58) o tema do desenvolvimento

sustentável apareceu na década de 1970, e se tornou relevante em um documento

19

elaborado pela ONU na década de 1980, denominado Relatório de Brundtland. No

entanto, só recebeu sua consagração de forma permanente na ECO-92, onde foi

convertido em princípio. Este princípio é considerado de vital importância na

proteção ao meio ambiente, pois busca adequar o desenvolvimento socioeconômico

para uma melhoria de vida do ser humano, com a preservação ambiental. Quer

dizer, é o disciplinamento das ações humanas, na utilização dos recursos não

renováveis de uma maneira racional.

Para Marchesan; Steigleder e Cappelli (2008, p. 39) esse princípio para de

uma idéia pré-concebida de que a humanidade não se limita às presentes gerações,

contrapondo às características dos recursos ambientais, que estão fadados ao

exaurimento. Motivo pelo qual deva haver uma sincronia entre a utilização dos

recursos naturais e a necessidade de preservá-los para as gerações presentes e as

futuras, até porque o direito ao meio ambiente equilibrado é de terceira geração ou

dimensão e tem como característica a solidariedade.

Nesta visão, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

define desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do

presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem a

suas próprias necessidades”, [...].

1.3.4 Princípio da Precaução

De acordo com Sirvinskas (2009, p. 60) este princípio é decorrente do

princípio quinze da (ECO 92), que traz o seguinte enunciado:

De modo proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser

amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades.

Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de

absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para

postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a

degradação ambiental.

Nesta esteira, encontra-se também estampado na Lei 11.105/2005, que

disciplina a biosegurança, reza seu artigo 1º:

Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização

sobre a construção, cultivo, produção, a manipulação, o transporte, a

20

transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a

comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de

organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo

como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biosegurança e

biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a

observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente.

Continua Sirvinskas (2009, p. 60), no âmbito ambiental, este princípio é

fundamental, pois prioriza a tomada de medidas capazes de evitarem o surgimento

ou a redução de ações maléficas ao ambiente, que poderão causar alterações de

sua qualidade, ou seja, provocando o seu desequilíbrio.

Na lição aventada, a prevenção volta-se para o momento anterior ao atentado

ao meio ambiente, uma vez que o dano ambiental, via de regra, é irreparável. Com

base nessa premissa que a Administração Pública empreende políticas de avaliação

de impacto ambiental, como ações administrativas para alcançar tal fim, além de

embasar as autorizações e licenças na efetivação de atividades que poderiam de

alguma forma ameaçar o equilíbrio ambiental.

Já na dicção de Flávia Barros (apud SIRVINSKAS, 2009, P. 60), O princípio

da precaução, foi consagrado no direito internacional ambiental com a missão de

dotar legisladores e líderes políticos de um instrumento de regulação internacional

da inovação tecnológica e da atividade antrópica de uma maneira geral. Porém, foi

criado dentro de um contexto jurídico que evolui lentamente em comparação ao

progresso da biotecnologia e da demanda social por certezas científicas sobre essas

questões.

Na fala de Alvarenga (2001, p. 72) com o advento da 9.605/98, que

implementa a responsabilidade penal das pessoas físicas e jurídica, além da

responsabilidade administrativa e civil, já havia sido expressa no artigo 225, § 3º, da

Carta Política de 1988, houve a manutenção do princípio civil objetiva, sendo

portanto, a implementação do princípio da precaução, o qual já se trata de objeto

reconhecido em acordos internacionais.

Nesta dicção, de acordo com este princípio, diante da ameaça de danos ao

meio ambiente, o fato de haver ausência de prova ou certeza científica, não pode

servir de álibi para que medidas capazes de evitar tal ameaça, não sejam tomadas

ou proteladas, além, é claro, de aplicar as sanções necessárias à repressão à

21

infração perpetrada, destinadas acima de tudo para a reparação do dano ao meio

ambiente.

1.3.5 Princípio da Prevenção

De acordo com Marchesan, Steigleder e Cappelli (2008, p. 29) este é um

princípio fundamental em sede de Direito Ambiental, uma vez que evitar o

surgimento de atividades atentatórias ao meio ambiente deve ser visto como

prioridade. Considera ainda, que quando se trata de prevenção, as ameaças ou

danos já foram detectados cientificamente, ou seja, já restam conhecidos e

provados.

Neste sentido, pode se afirmar que o Direito Ambiental tem sua finalidade

voltada basicamente para a prevenção. Isso quer dizer que está atento ao que pode

ainda vir a ocorrer que possa trazer prejuízo ao meio ambiente, tendo portanto, sua

ação voltada para o momento que antecede o dano, quando o risco é flagrado.

Arremata ao dizer que: “Diante da pouca valia da simples reparação, sempre incerta

e, quando possível, onerosa, a prevenção é a melhor, quando não a única solução”.

E traz como exemplo, que não tem como reparar o desaparecimento de uma

espécie; [...] também, não tem como reparar a supressão de uma nascente.

No dizer de Fiorillo (2009, p. 53) este é mais um dos importantes princípios

que norteia o direito ambiental, diz mais que a prevenção na verdade é preceito

fundamental, por um simples motivo, os prejuízos causados ao meio ambiente

geralmente é irreversível e de difícil reparação. Frente a incapacidade que tem as

normas legais em fazer retroagir as condições anteriores, a prevenção é adotada,

como pilar do direito ambiental, sobressaindo como seu objetivo basilar.

Complementa Fiorillo (2009, p. 54), o instrumento pelo qual a prevenção e

preservação tornam concretas é trazendo a todos uma consciência ecológica, que

só pode ser alcançada por meio de políticas educacionais ambientais. Sabendo que

isso irá trazer o êxito na luta preventiva contra a degradação do meio ambiente. No

entanto, defende que enquanto tal sucesso não seja alcançado, ou artifícios são de

suma importância na efetivação da prevenção, tais como o estudo prévio de impacto

ambiental (EIA/RIMA), o manejo ecológico, o tombamento, as sanções

administrativas etc.

22

Nesta esteira, outro fator considerado que traz efetividade ao princípio da

prevenção é a correta repressão exercida por parte do estado contra o poluidor,

além dos incentivos fiscais e outros cedidos aqueles que são parceiros na

preservação ambiental, inclusive, maiores benefícios aos que adotam tecnologias

não poluentes.

1.3.6 Princípio do poluidor-pagador

Sirvinskas (2009, p. 62) recorda que o princípio aqui mencionado está

embasado no princípio treze da Conferência do Rio de 1992 (Eco 92), pois diz este

princípio que os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à

responsabilidade e indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais.

Continua ainda o princípio dezesseis da mesma conferência, “[...] tendo em vista que

o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição [...]”.

Nesta visão, tal princípio foi abraçado pela 6.938/81, em seu artigo 4º, inciso

VII, sendo que a Constituição de 1988, ao recepcioná-la, repete o no parágrafo 3º,

do artigo 225.

Destarte, este princípio passa para o produtor o ônus pelos resultados

negativos provocados pelo processo de produção, fazendo com que este insira de

maneira continha em sua atividade produtiva os custos necessários para reparação

de possível degradação do meio ambiente.

No entanto, o princípio em estudo não tem o cunho de ser tolerante com

ações poluidoras, mediante pagamento de certo valor, nem tampouco está restrito à

compensação de danos perpetrados pelo agente poluidor. Antes, tem como principal

objetivo prevenir possíveis malefícios ao ecossistema. Isso leva ao entendimento de

que a previsão de reparação do dano ambiental mediante pagamento por parte de

quem o ocasionou, não autoriza comportamento descompromissado com a

preservação do ambiente. Isso leva a um raciocínio maior e mais sublime, que a

preservação da biosfera é responsabilidade de todos.

1.3.7 Princípio do usuário-pagador

23

Para Marchesan; Steigleder e Cappelli (2008, p. 39) esse princípio traduz

uma evolução do princípio do poluidor-pagador, ponderando que os preços devem

refletir todos os custos sociais do uso e esgotamento do recurso.

Ademais, estando este princípio fundado na premissa de que o meio

ambiente é um bem de uso comum do povo, ou seja, pertence a toda a coletividade,

mesmo aqueles que sobre si recaia título de propriedade privada. Fica cristalino que

o direito de propriedade é limitado pelos princípios que regem o meio ambiente.

Desta forma, alguns bens naturais não são passíveis de apropriação e são

indisponíveis, outros que reconhecidamente tem valor econômico, como é o caso

dos recursos hídricos, são onerados pelo Poder Público. Isso leva a perceber que o

objetivo primordial desse princípio é que ao impor uma contribuição ao usuário há

uma distribuição de responsabilidade social de forma compartilha pelo uso dos

recursos naturais. Por um lado tem-se o poluidor, com as obrigações que lhes são

impostas, por outro o usuário deverá também contribuir ao usufruir dos recursos

ambientais.

Como bem disse Machado (2009, p. 66): “o uso gratuito dos recursos naturais

tem representado um enriquecimento ilegítimo do usuário, pois a comunidade que

não usa do recurso ou que o utiliza em menor escala fica onerada”.

1.3.8 Princípio da Informação

De acordo com Machado (2009, p. 94) este princípio encontra-se inserido no

princípio 10 da Declaração do Rio de Janeiro de 1992 – ECO 92, que traz o seguinte

texto: “no nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações

relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive

informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades”.

Deste modo, a convenção sobre acesso à informação, a Participação do

Público no Processo Decisório e o Acesso à Justiça em Matéria de Meio Ambiente

prevê, em seu artigo 2º, item 3º. A expressão informações sobre meio ambiente

designa toda informação disponível sob forma escrita, visual, oral ou eletrônica ou

sob qualquer outra forma material, sobre:

24

a) O estado do meio ambiente, tais como o ar e a atmosfera, as águas, o

solo, as terras, a paisagem e os sítios naturais, a diversidade biológica e seus

componente, compreendidos os OMGS, e a interação desses elementos;

b) Fatores tais como substâncias, a energia, o ruído e as radiações e

atividades ou medidas, compreendidas as medidas administrativas, acordos

relativos ao meio ambiente, políticas, leis, planos e programas que tenham, ou

possam ter, incidência sobre os elementos do meio ambiente concernente à alínea

“a” [...].

Continua Machado (2009, p. 95) ao afirmar que a informação é um

instrumento utilizado para promover a educação tanto do indivíduo enquanto

pessoa, como para toda a comunidade, Além de dar a oportunidade â pessoa que a

obteve de assumir um posicionamento, bem como se manifestar acerca do assunto

informado.

Em consonância com o aventado, a finalidade precípua da informação

ambiental é formar opinião da sociedade. Ressalta que a formação de uma

consciência ambiental, deve ser feita por meio de canais apropriados, dando

condições aos seus destinatários para que pronunciem. Desse modo, as

informações que o Estado repassa, deverão ser estendidas à toda sociedade, claro,

exceto as que envolvam segredo industrial ou de Estado.

No dizer de Marchesan, Steigleder e Cappelli (2008, p. 41) o direito à

informação é decorrente do Estado Democrático e tem por objetivo fornecer amplo

acesso ao conhecimento acerca de decisões que influem no equilíbrio do meio

ambiente, para que o cidadão, sabedor de todas as diretrizes, adquira a capacidade

para tomar medidas que visem mudar-lhes o rumo.

Ademais, o direito à informação tem base na Carta Política de 1988, artigo 5º,

inciso XXXIII, ao prever que os cidadãos têm direito a acessar as certidões e, no

inciso XXXIV, garante o direito de petição, Enfim, disciplina em seu artigo 225, § 1º,

inciso IV, a publicidade do estudo de impacto ambiental, dando aos cidadãos pleno

acesso ao EIA/RIMA. Nessa mesma linha, a Lei 6.938/81, traz em seu artigo,

incisos VII e XI, a previsão da obrigatoriedade do Estado produzir um cadastro de

informações ambientais, além de assegurar ao público a prestação de informações

relativas ao meio ambiente. O presente princípio é regrado pela Lei n. 10.650/03.

25

1.4 Meio Ambiente

Para Almeida (2008, p. 3), partindo da premissa de que um sistema ecológico

ou ecossistema, é qualquer região natural que contém organismos vivos e

substâncias abióticas interagindo com o intuito de efetuarem a permuta entre si

matéria de partes e vivas e não vivas, pode-se dizer que o meio ambiente é um

conjunto de sistemas ecológicos ou ecossistemas.

Destarte, na ótica ecológica, pode-se entender o vocábulo ambiente ou meio

ambiente, ou apenas meio, como sendo um hábitat natural, ou seja, o espaço que

engloba todos os seres vivos, que é entendido como meio ambiente natural, sendo

compreendido ainda, o meio ambiente artificial, cultural e do trabalho.

Na dicção de Marchesan, Steigleder e Cappelli (2008, p. 15), a partir do

tratamento dispensado ao meio ambiente pela legislação, pode abstrair-se que

hodiernamente, o meio ambiente é tratado e assim conhecido como bem jurídico.

Desta maneira, a Lei 6.938/81 em seu artigo 2º, inciso I diz que o meio

ambiente no seu artigo 2º, inciso I, diz que o meio ambiente deve ser considerado

como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo

em vista o uso coletivo. Logicamente, essa interpretação deve ser feita por uma

ótica sistêmica e geral, de maneira a englobar o meio ambiente natural, artificial,

bem como o patrimônio histórico-cultural, considerando que existe entre todos estes

elementos uma interdependência.

Neste diapasão, no ordenamento jurídico pátrio há uma valorização da

temática ambiental, valor este que iniciado pela Lei 6.938/8, vindo a sedimentar-se

com o advento da Constituição Federal de 1988, que seu artigo 225, caput, eleva o

ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental e como bem de uso

comum do povo.

1.4.1 Base conceitual

Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, traz o conceito de meio ambiente em

seu artigo 3º, inciso I, como sendo o “conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em

todas as suas formas”.

26

Para Silva (apud SIRVINSKAS, 2009, p. 40), meio ambiente é “a interação do

conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o

desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.

Já para Dotti (apud ALVARENGA, 2001, p. 13), a conceituação de melhor

aplicação ao meio ambiente é “o complexo de relações entre o mundo natural e o

ser vivo, as quais influem na vida e no comportamento do mesmo ser”.

No parecer de Milaré (2005, p. 99), uma conceituação em linguagem técnica

de meio ambiente seria “a combinação de todas as coisas e fatores externos ao

indivíduo ou população de indivíduos em questão”. Que de uma forma mais exata, é

constituído por seres bióticos e abióticos e suas relações e interações.

Coimbra (apud MILARÉ, 2005, p. 100) traz o seguinte conceito:

Meio ambiente é o conjunto dos elementos abióticos (físicos e químicos) e

abióticos (flora e fauna), organizados em diferentes ecossistemas naturais

e sociais em que se insere o homem, individual e socialmente, num

processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades

humanas, à preservação dos recursos naturais e das características

essenciais do entorno, dentro das leis da natureza e de padrões de

qualidade definidos.

Percebe-se que não existe uma conceituação única para meio ambiente,

dado a complexidade de sua formação e composição.

1.5 Tutela do Meio Ambiente

Da preservação do meio ambiente depende a sobrevivência da vida no

planeta, daí o justo motivo para a proteção ambiental. Considerado bem comum de

uso de toda a coletividade é a biosfera carecedora de proteção por parte de todos e

com maior propriedade pelo Poder Público, pois tem o Estado, pela sua formação e

natureza, legitimidade inata de tutelar os bens jurídicos mais importantes. Esta tutela

compreende um conjunto de ações. (SIRVINSKAS, 2009, p. 75)

27

No dizer de Eladio Lecey (2005, p. 251) o meio ambiente é um autêntico

valor, ou melhor, uma riqueza, em si, gerando interesses às pessoas individual e

coletivamente consideradas, e isso faz com que a sua proteção seja elevada

exponencialmente a patamares prioritários no âmbito do direito de cada Estado.

Para Milaré (2005, P. 77;) a partir da interpretação que é dada na atualidade

ao meio ambiente, através de visão sistemática, onde são englobados todos os

recursos naturais, ambiente artificial, patrimônio histórico, bem como o ambiente do

trabalho, dentro dessa lógica é irrefutável interdependência entre todos os

elementos, inclusive o ser humano, elevando a importância dessa reciprocidade que

há nessa relação entre o homem e o meio ambiente.

De acordo Milaré (2005, p. 110) essa nova forma de interpretar o ambiente

supera em muito a noção fragmentária e de utilidade que até então era percebido

nas normas esparsas que tratavam da tutela ambiental, que vigoraram antes da Lei

6.938/81, onde a tutela jurídica repousava sobre específicos recursos naturais, e

isso não pelo seu significado para o equilíbrio ecológico, mas pela importância

econômica que lhes era atribuída.

No entanto, deixando essa idéia utilitarista para trás, a Lei 6.938/81, inova,

dispondo em seu artigo 2º, inciso I, como fundamento da Política Nacional do Meio

Ambiente o seguinte enunciado: “a ação governamental na manutenção do equilíbrio

como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em

vista o uso coletivo”.

Desta forma, a proteção jurídica que recai sobre a biodiversidade, independe

dos diversos elementos corpóreos que a compõem, incidindo essa proteção sobre a

qualidade da biosfera, bem como sobre suas características físicas, químicas e

biológicas.

Por conseguinte, considera-se, ser um bem jurídico coletivo, incorpóreo,

improvável, indivisível e indisponível, sendo apropriáveis somente os elementos

corpóreos e dentro dos limites legais.

Nesta esteira, a Carta Cidadã de 1988, consolida a independência do meio

ambiente e o qualifica como “bem comum de uso do povo”, elevando o ao nível de

interesse público para sua efetiva preservação.

28

Destarte, o novo Código Civil de 2002, em sintonia com Carta Magna, em seu

artigo 1.228, § 1º, traz um esclarecimento acerca do princípio da função social da

propriedade no atual contexto, ao dispor que:

[...] o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as

finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de

conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as

belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico,

bem como evitada a poluição do ar e das águas.

Na visão de Machado (2009, p. 61) na Convenção de Estocolmo, na Suécia,

realizada em 1972, na qual o Brasil foi um dos participantes e signatários, fora

elaborada uma Declaração de Princípios, e em seu princípio 1º dispõe que:

O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade, e ao desfrute

de condições de vida adequadas em um meio cuja qualidade lhe permita

levar uma vida digna e gozar de bem-estar e tem a solene obrigação de

proteger melhor esse meio para gerações presentes e futuras.

Ademais, este princípio teve sua reafirmação na Eco-92, com seguinte

disposição: “Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas

com o desenvolvimento sustentável e produtivo em harmonia com o meio

ambiente”.(grifo do autor)

Arremata Machado (2009, p.61) o Brasil ao consagrar por meio da

Constituição Federal de 1988 como direito fundamental, que todos tem direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibrado, honra o compromisso firmado na

Convenção de Estocolmo de 1972. Deste, ao tutelar o meio ambiente como bem

coletivo, reconhece o também como bem jurídico autônomo, conseqüentemente, é

inserido na galeria dos interesses difusos a serem protegidos, que pertencem a uma

pluralidade indeterminada de indivíduos.

Neste sentido, o Brasil tem-se nivelado aos Estados e segmentos

internacionais que estão voltados para uma política de efetiva preservação

29

ambiental, afinal, o país vem demonstrando amadurecimento no tocante à matéria,

ao elaborar leis e tomar medidas de proteção aos ecossistemas.

2 TUTELA PENAL DO MEIO AMBIENTE

2.1 Antecedentes históricos e importância

De acordo com Milaré (2007, p. 913-919) as leis da Coroa, que consistiam em

ordenações, tratavam a matéria penal ambiental de maneira incipiente e

extremamente minguada, prevendo condutas criminais que somente recaiam em

bens específicos e quando havia interesse econômico em risco, como por exemplo,

o corte não autorizado do pau Brasil.

Dessarte, até a independência não existia no Brasil uma legislação penal

ambiental que formasse um conjunto de normas que facilitasse sua aplicação, pois

consistia em leis esparsas e assistemáticas. Essa situação perdurou depois da

independência até a promulgação do Código Criminal do Império em dezembro de

1830, o qual de forma muito tímida dispunha acerca do interesse pela proteção

ambiental, ou seja, em apenas dois de seus dispositivos prescreviam a punição para

o corte ilegal de árvores e para o dano ao patrimônio cultural (art. 178).

Neste enfoque, com a proclamação da República em 1891, não apareceu

nenhuma novidade relevante no tocante à proteção da biodiversidade, porque

mesmo com a edição do Código Penal em 1940, não ocorreu nenhum progresso

acerca do tema, pois de forma acanhada tutelou os seguintes bens: artigo 163 –

dano ao patrimônio público ou particular, estando incluso neste enunciado a fauna e

a flora; artigo 165 – dano em coisa tombada; artigo 166 – alteração em local

especialmente protegido; artigo 250, § 1º, inciso II, alínea h – incêndio em mata ou

floresta; artigo 252 – uso de gás tóxico ou asfixiante; 259 difusão de doença ou

praga que possa causar danos a floresta, e por fim os artigos 270 e 271 que trazem

a previsão legal do envenenamento, corrupção e poluição de água potável.

Nesta ótica, a Lei das Contravenções Penais, que fora editada um ano após o

Código Penal, não acrescentou muito o rol das previsões para infrações penais

contra o meio ambiente, tratando o tema de maneira acanhada, com, por exemplo,

30

uma de suas previsões encontra-se no artigo 38, onde consta a conduta em emitir

fumaça, vapor ou gás capaz de ofender ou molestar alguém. Também no artigo 42

trouxe a previsão de apenamento para quem perturbasse o sossego alheio por meio

da poluição sonora e ainda o artigo 64 que dispôs acerca da crueldade contra

animais.

Deste modo, posteriormente surgiram diversas leis extravagantes tratando de

matéria penal ambiental, no entanto, não de forma satisfatória por ser um tratamento

não sistemático, pois traziam uma abordagem casual e fragmentada.

Na mesma esteira, com a edição da Lei 9.605/98, houve grande avanço em

termos de tutela penal ambiental, pois citada lei veio preencher uma lacuna até

então existente no âmbito da proteção ambiental, porém, nem todas as condutas

lesivas ao ecossistema foram ali abarcadas, permanecendo ainda em vigor algumas

normas precedentes.

Não obstante, diante desse salto em termos de proteção ambiental, não pode

desconsiderar uma característica do direito penal brasileiro clássico, que pauta-se

em observar o princípio da intervenção mínima e também a “ultima ratio”, ou seja, só

há intervenção do direito penal naqueles casos em que a agressão ao bem jurídico

tutelado alcance um alto grau de reprovação social e, quando outros ramos do

direito demonstram ser incapazes em trazer de volta a harmonia social que foi

quebrada com prática de tal agressão.

Ademais, em se tratando de tutela penal ambiental, a última ratio desta,

demonstra que ela só será solicitada a intervir, naquelas situações que ficar claro

que as ações perpetradas foram tão funestas ao ecossistema, e de forma

intolerável, a ponto de causar convulsão social.

Manter ou restaurar o equilíbrio ecológico, que fora abalado por ações “[...], é

hoje considerado questão de vida ou morte” (MILARÉ, 2005, p. 845).

Cinge-se de grande relevância a ação do direito penal em matéria ambiental,

pois segundo (MILARÉ, 2008):

Os riscos globais, a extinção de espécies animais e vegetais, assim como a

satisfação de novas necessidades em termo de qualidade de vida, deixa

claro que o fenômeno biológico e suas manifestações sobre o planeta

estão sendo perigosamente alterados.

31

Falando da relevância da tutela penal Mukai (2007, p. 79), diz que de um

ponto de vista claro, seria ineficaz a proteção ambiental, sem a cooperação das

normas penais.

De acordo com esta lição, infere-se que garantir um meio ambiente

ecologicamente equilibrado ultrapassa as normas legais, pois um ambiente saudável

parece ser um direito congênito da raça humana.

Deste modo, foi com esse olhar que a Constituição Federal de 1988, em seu

artigo 225, parágrafo 3º, estabelece que “as condutas e atividades consideradas

lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as

sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os

danos causados”.

Nesta disposição constitucional, tem a agressão ao ecossistema repercussão

em três esferas, ou seja, o danificador da biodiversidade, na prática de um só ato,

poderá responder de forma alternativa, ou cumulativamente penal, administrativa e

civilmente.

Na visão de Milaré (2005, p. 845) na esfera civil, a Lei 6.938/81, já tratava da

obrigatoriedade da reparação de danos causados à natureza, inclusive, era aplicado

o princípio da responsabilidade objetiva. Para o autor faltava ainda o preenchimento

de uma lacuna para plena efetividade dessa norma, ou seja, necessitava uma

adequada responsabilização nas esferas penal e administrativa, lacuna esta que foi

preenchida com a edição da Lei de Crimes Ambientais, n. 6.605/98, fechando assim

todas as brechas em relação aos poluidores ambientais.

Nesta esteira, ao prevê uma conduta típica e antijurídica em lei, com escopo

de proteger o bem ambiental, englobando todos os seus elementos, tem por objetivo

coibir as ações humanas nocivas aos ecossistemas, ou ainda, promover a tutela

jurídica de interesses julgados de grande relevância para a coletividade.

2.2 Dano ambiental

Antes de qualquer esforço para entender o que venha ser dano ambiental,

necessário se faz saber o que é “dano”.

Para Fiorillo (2009, p. 48) dano “é a lesão a um bem jurídico”.

32

Nas palavras de Morato (2003, p. 93), de acordo com a teoria do enteresse,

dano “é a lesão de interesses juridicamente protegidos”.

Na consideração de Enrique Sanchez (2005, p. 266) o termo é usado de

forma geral, sobretudo no campo do direito, no entanto deve ressaltar que acerca do

dano ambiental, necessário se faz diferenciar o dano programado, planejado e com

a devida autorização do Poder Público, como, por exemplo, em forma de uma

licença ambiental, e o dano não autorizado antecipadamente, podendo ser voluntário

ou involuntário.

De acordo com Fiorillo (2009, p. 49) levando em consideração que o direito

ambiental trata da temática dos direitos difusos, a lesão pode gerar conseqüências

patrimoniais e extrapatrimoniais. A própria legislação contempla o grau de agressão

ambiental aceitável para fins econômicos e bem estar social.

Miralé (2007, p. 735), conceitua dano ambiental como sendo:

A lesão aos recursos ambientais, com conseqüente degradação –

alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e da qualidade de

vida. Com fundamento neste conceito, pode-se dizer que a lesão causada

aos recursos ambientais, de acordo com o que dispõe o artigo 3º, V, da Lei

6.938/81, não se restringe apenas aos recursos naturais, mas também aos

elementos da biosfera, isso implica em dizer que recursos naturais é parte

de um todo.

No conceito de Morato (2003, p. 93) dano ambiental deve ser compreendido:

como toda lesão intolerável causada por qualquer ação humana (culposa

ou não) ao meio ambiente, diretamente, como macrobem de interesse da

coletividade, em uma concepção totalizante, e indiretamente, a terceiros,

tendo em vista interesses próprios e individualizáveis e que refletem no

macrobem”.

Para Morato (2003, p. 94) o dano ambiental é dotado de sentido bipartido,

pois em dado momento traz a idéia de alterações prejudiciais ao meio ambiente, em

outro instante, designa os efeitos que tais alterações podem causar à saúde das

pessoas, bem aos seus interesses. Arremata o autor que dano ambiental significa,

em primeira mão, uma desordem indesejada atingindo todos os elementos que

compõem o meio ambiente, como exemplo, tem a poluição atmosférica, tratando

33

neste caso da lesividade a um direito fundamental pertencente a toda a coletividade,

em ter um ambiente saudável. No entanto, em uma segunda esteira (acepção), esse

dano abarca as conseqüências que essa desordem gera na saúde das pessoas,

atingindo também seus interesses.

Sob o manto desta visão, a percepção é cristalina que o meio ambiente é

passível de sofrer lesão de forma direta, porém, valores individuais podem ser

atingidos de maneira reflexa.

Diz mais Morato (2003, p. 99), o dano ambiental afasta sobremaneira de um

olhar clássico, pela sua própria natureza jurídica do ambiente, qual seja, bem

comum do povo, incorpóreo, imaterial, indivisível e insusceptível de apropriação

exclusiva. Todavia, por ser um bem carimbado pelo interesse jurídico autônomo, a

ocorrência cabe reparação, ainda que não enquadre nos moldes tradicionais que

retratam o dano.

Destarte, é de considerar que o ser humano com a vivência em sociedade

acaba por realizar suas atividades em contato direto com o meio ambiente, por

conseguinte suas ações pedem causar perturbações a este. No entanto, o que deve

ser colocado é quando essas ações passam do uso necessário para a abusividade.

A partir desse momento é que pode haver o reconhecimento da ocorrência do dano

ambiental.

Acrescenta Morato (2003, p.188), é claro que nem toda e qualquer agressão

é capaz de causar degradação ao meio. Portanto, só há que se falar em prejuízo

ambiental, quando do desrespeito aos limites seguros decorre o desequilíbrio.

2.3 Conceito de crime

Antes de fazer qualquer consideração acerca de crime ambiental

propriamente, necessário se faz entender o conceito crime, bem com sua tipificação.

A lei penal não traz um conceito de crime, ficando esta tarefa a cargo da

doutrina, que por sua vez, visando uma melhor orientação, formulou o conceito de

crime sob os aspectos formal e material e de forma mais abrangente do ponto de

vista analítico.

34

O Dicionário Jurídico Acquaviva (2009, p. 34) traz a seguinte definição:

Do latim crimen – ação ou omissão ilícita, culpável, tipificada em norma

penal, que ofende valor social preponderante em determinada

circunstância histórica”, acrescenta a consideração de que o adjetivo

‘culpável’, empregado neste conceito, tem, evidentemente, um sentido

amplo, incluindo o dolo e a culpa stricto sensu.

Para o Damásio de Jesus (2010, p. 193), do ponto de vista substancial e

dogmático, crime é “a infração da lei do estado, promulgada para proteger a

segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou

negativo, moralmente imputável e dogmático”. Já o aspecto formal do delito, tem-se

como “fato humano tipicamente previsto por norma jurídica sancionada mediante

pena em sentido estrito (pena criminal), lesivo ou perigoso para bens ou interesses

considerados merecedores da mais energética tutela”, constituindo “expressão

reprovável da personalidade do agente, tal como se revela no momento de sua

realização”.

Na dicção de Manzini (apud Damásio, 2010, p. 193) no sentido substancial,

[...] delito é a ação ou omissão, imputável a uma pessoa, lesiva ou perigosa

a interesse penalmente protegido, constituída de determinados elementos

e eventualmente integrada por certas condições, ou acompanhada de

determinadas circunstâncias previstas em lei.

Deste modo, considera que sob o ponto de vista material, “crime nada mais é

que a violação de um bem penalmente protegido. E sob o ponto de vista formal

crime é um fato típico e antijurídico”.

Arremata Damásio de Jesus (2010, p. 193) ao dizer:

[...] que o Brasil adota a teoria finalista da ação, consistindo neste caso

basicamente que a conduta (ação ou omissão), é voltada para um fim, ou

seja, o agente ao praticar uma ação ou omissão tem a sua vontade voltada

para produzir um resultado especifico.

35

Para Moura Teles (2006, p. 117) no aspecto formal crime é “o comportamento

humano, proibido pela norma, ou, simplesmente, a violação desta norma”.

Já na visão material, Fragoso (apud MOURA TELES, 2006 p. 117), crime é “a

ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou

interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena”.

De acordo com a definição legal, prevista no artigo 1º da Lei de Introdução ao

Código Penal, “Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de

reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativamente ou

cumulativamente com a pena de multa; [...].

No dizer de Mirabete e Renato Fabbrini (2010, p. 81), do ponto de vista formal

vislumbra tão somente um dos ângulos do fenômeno criminal, que seria aquele que

mais sobressai, o qual consiste em um dispositivo de direito ser contraposto/violado

através de uma conduta do agente, quer dizer, sua ilicitude como acontecimento

contrário à lei penal. No entanto, não há um aprofundamento em seu conteúdo. Isso

implica em dizer que as definições formais têm por escopo tão somente o aspecto

exterior do crime.

Neste sentido, para que haja uma sondagem na natureza do delito, é preciso

indagar o que levou o legislador trazer a previsão de punição para certas condutas

em detrimento de outras, bem como procurar conhecer o mecanismo que se utiliza

para fazer a distinção entre os ilícitos penais e outras ações lesivas, daí abstrai-se o

conceito substancial ou material do crime.

Arrematam Mirabete e Renato Fabbrini (2010, p. 82), sob o aspecto formal

“Crime é uma conduta (ação ou omissão) contrária ao Direito, a que a lei atribui uma

pena”. Por outro lado, do ponto de vista material ou substancial, “crime é a conduta

humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal”.

Ainda, nesta dicção:

Crime é ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta

violentamente com valores e interesses do corpo social, de modo a exigir

seja proibida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável somente

através da sanção penal.

36

Na visão de Moura Teles (2006, p.119) os conceitos formais e materiais do

delito são insuficientes para os operadores do direito penal, ou seja, para que estes

tenham seus interesses atendidos, há a necessidade de buscar uma nova maneira

de conceituar o crime, tendo como ponto de partida o ordenamento jurídico vigente,

fazendo um estudo das leis penais, incriminadoras etc., para elaborar com

fundamento nesta investigação um conceito analítico do crime, extraindo de todo e

qualquer ação delituosa os aspectos comuns a todas, descobrir seus elementos

estruturais e características. Esse seria trabalho imposto ao penalista.

A definição legal de crime está disposta no artigo 18, inciso II, do Código

Penal, in verbis, “Diz-se o crime culposo quando o agente deu causa ao resultado,

por imprudência, negligência ou imperícia”.

Para Moura Teles (2006, p. 151) desse conceito abstrai-se os elementos da

culpa em sentido estrito, quais sejam: conduta voluntária; inobservância do dever de

cuidado objetivo; resultado lesivo indesejado; previsibilidade objetiva; tipicidade.

A conceituação trazida por Zaffaroni (apud GRECO, 2006, p. 150-151) é tida

como precisa, como se vê:

Delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivo legal

(tipo), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de

justificação) é contrária ao ordenamento jurídico (antijurídica) e que, por ser

exigível do autor que atuasse de outra maneira nessa circunstância, lhe é

reprovável (culpável).

2.3.1 Elemento subjetivo do tipo penal

Na dicção de Damásio de Jesus (2010, p. 311):

[...] a teoria finalista da ação, adotada pelo Brasil, consiste basicamente

que a conduta (ação ou omissão), é voltada para um fim, ou seja, o agente

ao praticar uma ação ou omissão tem a sua vontade voltada para produzir

um resultado específico.

De acordo com Damásio de Jesus (2010, p. 311) inclui-se no tipo penal,

dentro da teoria monista ou finalista, o dolo e a culpa como elementos cognitivo-

37

normativos. Depreende, portanto, que os elementos subjetivos são aqueles

inerentes ao estado anímico ou psicológico do agente.

Destarte, no elemento subjetivo do tipo penal prepondera o estado volitivo do

agente. Esse elemento é referente à situação anímica do sujeito, a qual tem o papel

condicionador da tipicidade do fato.

Segundo Damásio de Jesus (2010, p. 327), o dolo é definido como sendo:

A vontade concretizar as características objetivas do tipo, constituindo

elemento subjetivo do tipo, estando claro a teoria da vontade, como

disposto no artigo 18, I, ao declarar ‘Diz-se o crime doloso, quando o

agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo’.

Diz ainda Damásio de Jesus, (2010, p. 337) que dentro da teoria finalista,

culpa também constitui elemento do tipo, estando isso patente quando o Código

Penal descreve os delitos culposos. Nessa linha de raciocínio a culpa é elemento do

tipo, pela inobservância por parte do agente do dever de cuidado, passando a

conduta culposa ser típica, no instante que o agente deixa de agir com o cuidado

necessário, cuidado este que deve ser aferido com o comportamento que uma

pessoa dotada de discernimento e prudência adotaria.

Para Mirabete (2010, p. 87) o dolo e a culpa integram o fato típico como

elementos subjetivos, podendo ser o dolo compreendido em intencional e genérico

e, eventual, [...]. No crime doloso, a finalidade da conduta é a vontade de concretizar

um fato ilícito, já no culposo, o fim da conduta não está dirigido ao resultado lesivo,

mas o agente é autor do fato típico por não ter empregado em seu comportamento

os cuidados necessários para evitar o evento danoso.

No dizer de Manoel Pedro (apud MIRABETE, 2010, P. 87) “segundo os

ensinamentos da teoria da ação finalista, dolo e culpa são elementos psicológicos

que animam a conduta, ligando o agente ao seu fato. [...]”.

Para Greco (2006, p. 181) o dolo “é por excelência, o elemento subjetivo do

tipo. Elemento subjetivo quer dizer anímico, que diz respeito à vontade do agente”.

Na lição de Cirino dos Santos (apud GRECO, 2006, p. 181),

O elemento subjetivo dos tipos dolosos é o dolo, que normalmente

preenche todo o tipo subjetivo; às vezes, ao lado do dolo, aparecem

38

elementos subjetivos especiais, como intenções ou tendências de ação, ou

mesmo motivações excepcionais, que também integram o tipo subjetivo.

De acordo com Costa Jr. (2008, p. 99) já houve uma superação das doutrinas

germânicas, para as quais dolo e a culpa eram elementos integrantes da

culpabilidade. Passaram, portanto, a comporem o elemento subjetivo do tipo.

Neste sentido, empreende-se que o agente passa a ser censurado a partir da

consciência que tem da conduta que pratica, com a qual se soma a consciência de

sua ilicitude. Implica em dizer que o agente pratica uma ação ou omissão voluntária

voltada para um fim, mesmo sabedor da sua reprovação pela norma penal.

Na lição de Bitencourt (2008, p. 263-269) o tipo penal é composto pelo

elemento subjetivo geral, que é o dolo, além de elementos subjetivos especiais,

dentre eles, o motivo de agir. Acrescenta que o dolo tem sua configuração composta

pelo elemento cognitivo ou intelectual, que se traduz pela consciência daquilo que se

pretende fazer, e pelo elemento volitivo – vontade, que abrange a ação ou omissão

– conduta. Essa vontade entende-se a previsão ou a representação. Porque aquilo

que é previsto ou representado pela mente, é possível de o querer conscientemente.

Para Prado (2005, p. 374) o dolo se caracteriza como elemento entendido

como a consciência e a vontade de praticar os elementos que integram o tipo do

injusto doloso, implica dizer que dolo é “saber e querer a realização do tipo objetivo

de um delito”. Compreende, portanto, o dolo como elemento subjetivo geral,

cognitivo ou intelectual, sendo considerada a consciência presente quando da

realização dos elementos objetivos que compõem o tipo – “conhecimento da ação

típica”. E elemento volitivo, ou seja, a vontade voltada, incondicionalmente, para a

realização dos elementos objetivos do tipo – “vontade de realizar a ação típica”.

Na dicção de Nucci (2007, p. 185-186) os elementos subjetivos do tipo penal,

sem exceção, estão relacionados com a vontade e intenção do agente. Para o

finalismo, adotado no Brasil, tanto o dolo, como a culpa são elementos subjetivos

que encontram-se embutidos no tipo penal, e desse ponto de vista, implicitamente, o

dolo está inserido no tipo, e a culpa, também de forma implícita, encontra-se quando

o comportamento do agente é consciente voluntário e voltado para um fim, e de

forma explícita, quando o comportamento do agente é caracterizado pela

imprudência, negligência ou imperícia.

39

2.3.2 Crime ambiental

Como já visto acerca do elemento subjetivo do tipo, Sirvinskas (2009, p.672)

traz uma consideração que assim como em toda a norma penal, a lei dos crimes

ambientais prevê que a prática dos tipos penais ali previstos, são praticados a título

de dolo, sendo a modalidade culposa, somente quando a lei expressamente o diz,

passando ser uma exceção a prática de crimes culposos.

No dizer de Milaré (2007, p. 924) o que a responsabilidade do agente decorre

de sua culpabilidade, considerando que no âmbito dos crimes ambientais,

encontram-se expressos tanto o dolo como a culpa, como se vê: “O crime doloso

ocorre quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Já no

crime culposo, não definido pela lei, se configura na hipótese de o agente provocar o

resultado por imprudência, negligência ou imperícia”.

Para Milaré (2007, p. 944) a Lei de crimes ambientais representa um avanço

político na proteção do meio ambiente, pelo fato de inaugurar de forma sistemática a

punição administrativa com sanções um tanto severas e, por trazer de maneira

orgânica a tipificação dos crimes cometidos contra a natureza, inclusive prevendo a

modalidade culposa.

Por outro lado, diz MILARÉ (2007, p.852), o meio ambiente, formado por

todos seus elementos, não pode escapar de uma visão holística e sistêmica,

fazendo com que haja extrema dificuldade em desenhar os tipos penais que visam

sua proteção.

Deste modo, isso acaba por suscitar uma questão relevante na formação do

tipo penal ambiental, ou seja, pela indeterminação e amplitude da conduta

incriminada, surgindo com isso o denominado tipo aberto, de forma que a norma

transgredida pelo agente, não se manifesta de maneira completa, motivando por

vezes a necessidade de a lei fazer remissão a disposições externas, a outras

normas e conceitos técnicos.

Depreende, portanto, que parte das infrações penais ambientais, a conduta é

ilícita porque o agente atuou sem estar munido com a devida autorização que

emana da lei, sem licença, ou ainda em desacordo com as previsões legais. Isso

implica afirmar que o agente só é punido pela prática de uma atividade considerada

danosa ao meio ambiente sem autorização ou licença, e se autorizado ou portando

40

licença, não observar as condições estabelecidas, e/ou as disposições legais ou

normas regulamentares.

No dizer de Costa Jr. e Gregori (apud MUKAI, 2007, p.80) a previsão de

crimes especificamente ecológicos, esteja ela compreendida no Código Penal ou

expressa em leis especiais é, de qualquer modo, a única forma para assegurar aos

valores ambientais aquela proteção imediata de que necessitam no momento atual,

surgindo, “assim, no direito penal recente uma tipologia de seus interesses

ecológicos que se apresentam sempre, em todas as experiências legislativas que se

vem a fazer na matéria”.

Na consideração trazida por Sirvinskas (2009, p. 671), por sua importância,

os bens jurídicos ambientais tutelados acabam por se aproximar mais do perigo, do

que do dano propriamente dito, e isso faz com que seja feita uma prevenção e no

mesmo momento uma repressão. Acrescentando que o delito de perigo está

consubstanciado apenas na expectativa da ocorrência do dano. Sendo bastante a

mera conduta, independentemente da produção de um resultado, para que haja a

repressão para evitar o dano. Inclusive, os tipos penais ambientais são marcados

por crimes de perigo abstrato. Reprimem-se as condutas preparatórias, com o intuito

de antecipar a proteção penal.

Na mesma linha se manifesta Mukai (2007, p. 81) ao dizer que o crime de

dano ambiental ocorre sempre que a tutela dispensada ao bem perceber o momento

em que se dá a lesão, capaz de causar o desequilíbrio ecológico decorrente da ação

de determinado indivíduo, comportando o crime o valor dado ao prejuízo efetivo de

um bem ambiental. Conclui afirmando que no caso de crime de perigo, a lei transfere

o momento consumativo da lesão para aquele da ameaça, sendo, portanto

consumado o delito no instante em que o bem protegido encontra-se diante de uma

possível ou provável lesão, nessa perspectiva há um avanço na fronteira da

proteção dos bens e valores ambientais, carecedores de tutela especial

Na lição de Greco (2006, p. 205) os crimes de perigo podem ser abstratos e

concretos, que ao prevê tal situação o legislador antecipou a punição, com a

finalidade preventiva, ou seja, evitar o mau maior, que estaria concretizado no dano.

Isso que dizer que ao punir um comportamento considerado perigoso, tem por

objetivo evitar a ocorrência do resultado danoso.

41

3 RESPONSABILIDADE CRIMINAL DA PESSOA JURÍDICA

Andou bem a Carta da República de 1988 ao tutelar o meio ambiente, trazer

esculpido em seu artigo 225, § 3º, a previsão da responsabilidade criminal das

pessoas jurídicas nos crimes ambientais. Isso representa mais que a mera faculdade

de punir do Estado, saltando para um patamar de proteção à vida em todas as suas

formas, seja animal, ou vegetal, além da preservação da espécie humana no

planeta, bem como sua história, seus costumes, sua origem etc., abrangendo as

presentes e futuras gerações.

No mesmo sentido caminhou a Lei 9.605/98, em seu artigo 3º, ao estabelecer

que:

“as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e

penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração

seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de

seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade”.

De acordo com Milaré (2007, p. 926) o objetivo do legislador foi apenar o

delinqüente determinado e não somente o de menor importância, por não ser o

criminoso nos delitos ambientais, em regra, a pessoa física, como por exemplo, o

que vende objetos em uma esquina, mas a pessoa jurídica que geralmente está a

caça de lucros como sua finalidade principal e que para tanto, pouco importa os

prejuízos que irá causar à coletividade seja a curto ou longo prazo. Não

expressando o maior interesse se a integridade das pessoas sofrerá danos

causados pela poluição.

Nesta ótica, esse posicionamento, ocorre, via de regra, por parte de grandes

e imponentes grupos industriais, e como é de conhecimento, o próprio Estado, que

encontra-se entre os maiores poluidores, em conseqüência de serviços e obras

públicas que são efetuadas sem o devido controle.

Nesta seara, ressalta que de acordo com o disposto no parágrafo único do

artigo 3º da referida lei, as pessoas físicas não são isentadas pelo fato de as

pessoas jurídicas serem responsabilizadas, quando configuram como autora,co-

autoras ou participes do mesmo fato praticado por estas, uma vez que a pessoa

jurídica não comete crime, por si mesma. Daí decorre ser inconcebível

42

responsabilizar a empresa desconectada da conduta de uma pessoa física, que age

imbuída pelo elemento subjetivo próprio, mediante dolo ou culpa.

Acrescenta Milaré (2007, p. 927), a princípio, toda vez que houver

responsabilização delitiva da pessoa jurídica, a conduta criminal do representante

legal que emitiu a ordem para a prática da ação criminosa far-se-á presente. Da

mesma forma, também serão responsabilizados o preposto que obedeceu tal ordem

e todo empregado que contribui de alguma maneira para a concretização do dano.

(resultado).

No entanto, não é o dirigente responsabilizado por todo ato danoso ao meio

ambiente atribuído à pessoa jurídica. Deve em cada caso concreto, analisar o nexo

de causalidade entre a conduta do dirigente e evento danoso. Não estando presente

entre liame, o dirigente não poderá ser responsabilizado, apenas por fazer parte do

colegiado que dirige a empresa.

Destaca Milaré (2007, p. 928) que no ordenamento jurídico pátrio, se tornou

autêntica a responsabilidade penal das empresas, e que isso vem sendo

sedimentado através de decisões dos tribunais, e ressalta que a aplicação não

poderá ser obstacularizada por dificuldades teóricas, ao considerar que o Direito é

uma ciência que se desenvolve de forma dinâmica, sendo capaz de adequar as

diversas situações fornecendo suporte à política escolhida pelo legislador.

Para Machado (2009, p. 699) o fato de a Lei 9.605/98 abraçar o instituto da

responsabilidade criminal da pessoa jurídica, demonstra que a participação das

empresas na atualidade está sendo visto de forma moderna. Considerando que a

agressão ao meio ambiente não se processa mais de maneira imperceptível, uma

vez que nos dias autuais, o crime ambiental é praticado por corporações

empresariais. Contudo, diz Machado (2009, p. 700), diante da possibilidade de as

pessoas jurídicas sofrerem sanções, não irá desencadear uma busca obsessiva de

empresas causadoras de dano ambiental com o fito de puni-las. Porém,

empreender-se-ão esforços no sentido de aplicar um mínimo de medidas

sancionadoras, para possibilitar a nossa posteridade desfrutar de um meio ambiente

equilibrado.

Nesta esteira, que a necessidade de impor a repressão penal às empresas

aumentou e tornou-se importante. Consciente do avanço de grandes grupos

econômicos, que com o afã de angariar lucros a qualquer custo, modificações

43

importantes ao meio ambiente foram perpetradas, nascendo grande preocupação, e

conseqüentemente atenção aos meios utilizados em busca da preservação do meio

ambiente. Surge neste contexto a necessidade de nova norma fundada na

responsabilidade a ser cobrada dos conglomerados empresariais, não importando o

seu porte ou localização, caso que levou a criação da Lei 9.605/98, pautada nos

artigos 173, § 5º e 225, § 3º, ambos da Carta Constitucional de 1988, denominada

de Lei dos Crimes Ambientais.

Outrossim, na atualidade, a sociedade, e especialmente no âmbito jurídico

penal ambiental, de modo geral, não dúvidas de que as normas penais ambientais

são extremamente importantes para o desenvolvimento sustentável. Porque o que

se buscou ao impor medidas de natureza coercitiva na esfera ambiental, aos

infratores, pessoas físicas ou jurídicas, foi trazer uma conscientização a todos os

envolvidos, de como é importante o meio ambiente equilibrado, para suas vidas e

para as futuras gerações, tentando com isso estabelecer a integração entre o ser

humano e a natureza. É consenso que a proteção da norma penal tem como

finalidade principal a preservação da vida humana, no entanto, não libera o homem

para que assuma uma postura nociva e saia danificando a vida, a sociedade e ao

patrimônio, enfim causando prejuízo a todos os habitantes do planeta.

Pondera Bernardes (2005), em se tratando de meio ambiente, a tutela penal é

extremamente relevante, pois objetiva conservar direitos fundamentais, além de agir

sempre que invocado, de forma contundente sobre o infrator.

Ademais, fica evidente que o objeto jurídico do tipo penal ambiental é a

preservação do meio ambiente, implicando na assertiva que o objeto material

dependerá do crime, pode ser, por exemplo, a fauna, as florestas, as águas etc.

3.1 CRITÉRIOS PARA A RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

Na lição de Passos Freitas e Gilberto Passos (2006, p. 70) para a

responsabilização penal da pessoa jurídica, esta deve ser de Direito Privado, uma

vez que as pessoas jurídicas de Direito Público não podem cometer ilícito penal,

para atender seu interesse ou benefício, pois ao contrário dos entes coletivos

privados, os entes públicos só agem visando atingir a finalidade do interesse público,

44

caso isso não ocorra, o administrador público estará agindo com desvio de poder ou

finalidade. Hipótese em que a responsabilidade recai tão somente na pessoa natural

do administrador. Além do mais a lei não trouxe expresso em seu texto situação

diferente.

De acordo com a lição aventada, trouxeram a lume é que pessoas com

personalidades judiciárias, sem personalidade jurídica, não podem ser

responsabilizadas, ou seja, a lei não as alcança, sendo este o caso da massa falida,

do espólio (artigo 12, III a V, do CPC). Na mesma situação encontra-se a sociedade

de fato, a qual passa imune aos ditames da lei penal, por não possuir representante

legal, não seria possível a execução da pena.

Nesta dicção, ressalta-se que quando a pessoa jurídica é extinta, não

importando o motivo por qual motivo, ocorre a extinção da punibilidade, sendo neste

caso, aplicado por analogia o artigo 107, I, do Código Penal. E caso seja sucedida

por outra, ainda que seja para eximir-se da responsabilidade, não existe a

possibilidade de prosseguir com a ação penal contra a sucessora, pois não há

previsão legal.

Ressalta Passos Freitas e Gilberto Passos (2006, p. 71) outro critério exigido

pelo artigo 3º, da Lei 9.605/98 é que o delito deverá ter sido praticado por decisão do

representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, e deve ser no

interesse ou benefício da entidade.

Para Passos Freitas e Gilberto Passos (2006, p. 71) o que chama a atenção é

que o representante legal, obrigatoriamente é aquele que ocupa função por

expressa previsão em lei, implica dizer que o acordo entre os sócios não tem

legitimidade para indicar representante legal do ente coletivo. No entanto, deve ser

observado o preleciona o artigo 1.013, do Código Civil de 2002, pois diante da

omissão do contrato social, todos componentes da empresa serão considerados

aptos para gerir, conseqüentemente, serão representantes legais do ente moral.

Tratando-se de representante contratual, o artigo 997, VI, do Código Civil de 2002,

determina que o contrato disponha sobre quem possa gerir a sociedade. Isso deve

ficar claro no ato constitutivo. Nos órgãos colegiados, subentende sociedade

anônima, cabendo neste caso ao Conselho de Administração prestar as informações

em geral à Companhia (Lei 6.404/76, artigo 142).

45

No dizer de Shecaria (2003, p. 115-116) o delito individual necessariamente,

deverá ter sido praticado no interesse ou proveito da empresa, ou seja, não basta o

representante desta praticar o crime, deve haver um fim útil à pessoa coletiva.

Ademais, outro critério a ser observado é que a ação delituosa não poderá

localizar-se fora do âmbito de ações da pessoa moral, isso de certa forma restringe

o campo de atuação da pessoa jurídica na prática de infrações penais, pois se exige

em primeiro lugar que o delito tenha ocorrido na área de domínio de atuação do ente

moral.

Desta forma, outro ponto a ser considerado é que para a ocorrência do crime,

há a necessidade de poder de influência do ente coletivo, pode se dizer que este

critério é o que distingue os delitos praticados pelas pessoas jurídicas, isso quer

dizer, este poderio que encontra-se escondido atrás delas, como resultado de forças

econômicas, as quais potencializam as infrações, fazendo com que tenham uma

intensidade acima das infrações tradicionais. Porque neste caso, se usa a estrutura

que a empresa fornece o que facilita a prática do crime.

Dessarte, ressalta o que não pode perder de vista, é o fato de a ação

delituosa empreendida pela pessoa natural, é essencial que seja por alguém que

esteja intimamente vinculado à pessoa coletiva, isto é, só o empregado ou preposto,

em pleno exercício de suas funções, é capaz de praticar a ação criminosa para o

ente moral.

3.2 DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURIDICA NA LEI 9.605/98

De acordo com Milaré, (2007, p. 933) A Lei dos Crimes Ambientais, n.

9605/98 em seu artigo 4º traz a previsão da possibilidade da aplicação do instituto

Disregard Doctrine - ver fonte, ou seja, possibilitou a desconsideração da pessoa

jurídica, todas às vezes que sua personalidade for considerada impedimento ao

ressarcimento de prejuízos causados ao meio ambiente.

Na aludida visão, isso quebra o princípio da autonomia das empresas frente

aos seus membros, quando acobertadas suas ações com intenções escusas. Pois

apesar de o ente moral permanecer separado e não se confundir com os membros

que lhe compõem, tal separação poderá ser desconsiderada, toda vez que a

empresa for usada como meio ou suporte de ações fraudulentas e abuso de direito.

46

Outrossim, impor uma pena a uma empresa que praticou um crime ecológico,

não surtirá o efeito da desistência da prática daquele ato, quando o problema

consiste em individualizar as pessoas físicas responsáveis por aquela empresa, que

estão agindo acobertados pelo manto do ente moral.

Na consideração de Requião (apud MILARÉ, 2007, p. 933) ao fazer a

seguinte consideração:

[...] diante do abuso de direito e da fraude no uso da personalidade jurídica,

o juiz brasileiro tem o direito de indagar, em seu livre convencimento, se há

de consagrar a fraude ou o abuso de direito, ou se deve desprezar a

personalidade jurídica, para penetrando em seu âmago, alcançar as

pessoas e bens que dentro dela se escondem para fins ilícitos ou abusivos.

Para Milaré (2007, p. 933) Não pode implantar uma regra geral no tocante

aos casos envolvendo o abuso da empresa, objetivando encontrar uma solução,

mediante o afastamento da personalidade jurídica, devendo para tanto fazer um

estudo detalhado de cada caso, porque é ao examinar os detalhes do caso concreto,

para que a partir daí perceber a maneira como a má administração, o desafio de

finalidade ou a forma injusta de como ente moral é mantido, para então determinar a

sua desconsideração.

Ressalta ainda Milaré (2007, p. 933-934), que a melhor interpretação do

artigo em análise acerca da desconsideração da pessoa jurídica, é a que atribui

maior importância à existência da pessoa moral para atividades as econômicas,

aplicando o instituto em comento tão somente quando indispensável à coibição do

abuso de direito e combate à condutas fraudulentas por parte de seus dirigentes.

Na visão de Marchesen, Steigleder e Cappelli (2008, p. 187) a lei ao trazer tal

previsão se refere às penas de caráter civil, não cabendo sua aplicação no campo

penal. Estando tal instituto fundamentado no Direito Comercial e sendo

posteriormente abarcado pelo Código de Defesa do Consumidor. No sentido

teleológico de a lei prevê a possibilidade da desconsideração da personalidade

jurídica, objetiva responsabilizar os dirigentes de empresa envoltos em seu manto

venham praticar ações ou omissões capazes de lesar o meio ambiente.

47

3.3 PENAS APLICADAS ÀS PESSOAS JURÍDICAS

A Lei 6.938/81, em seu artigo 14, incisos II, III e IV, disciplina a previsão de

possibilidade do apenamento para o caso de descumprimento de medidas

essenciais à preservação ou a correção resultante da degradação ambiental, além

da pena pecuniária, a perda ou restrição de incentivos ou benefícios fiscais

concedidos pelo Poder Público; a perda ou suspensão de participação em linhas de

financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito e a suspensão de sua

atividade. O artigo 3º da referida Lei considera a pessoa jurídica poluidor, portanto,

pode lhe ser aplicadas as penas aqui mencionadas.

A Lei n. 9.605/98 traz em seu bojo o rol das penas que poderão ser aplicadas

às pessoas jurídicas, quando estas incidirem na pratica de infrações penais

ambientais. Aprouve ao legislador enumerar as seguintes penas: multa, restritiva de

direito, prestação de serviços à comunidade, as quais podem ser aplicadas isoladas,

cumulativas ou alternadamente. A pena privativa de liberdade por ser incompatível

com a natureza do ente moral, não foi prescrita pela lei com esse fim.

Nas considerações feitas por Milaré (2007, p. 938), no sentido de que apesar

do inciso III, do artigo 6º dispor que quando da aplicação da pena de multa deverá

levar em conta a situação econômica do infrator, não houve por parte do legislador a

adoção de uma forma específica para a aplicação de pena de multa às pessoas

jurídicas, devendo estas ser punidas igualmente às pessoas físicas, quer dizer, com

os mesmos critérios e valores.

Na dicção de Oliveira (2009, P. 154-155) a Lei 9.605/98 não estabeleceu

regra específica para o cálculo da sanção pecuniária aplicada à pessoa Jurídica.

No dizer de Gonçalves de Oliveira (2009, p. 154), a pena restritiva de direitos,

prevista nos artigos 22 e 23 da referida lei, pode ser distribuída em três categorias, a

saber:

a) suspensão parcial ou total das atividades, que deverá ser aplicada ao ente

coletivo proteção do meio ambiente (art. 22, I e § 1º);

b) interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade. Sua aplicação

é cabível quando o estabelecimento, obra ou atividade funcionar sem a autorização,

ou em desacordo com a concedida, ou violação de disposição legal ou regulamentar

(art. 22, § 2º)

48

c) proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,

subvenções ou doações, tal pena não poderá exceder o prazo legal de dez anos,

independentemente de se tratar de crime culposo ou doloso.

No entanto, a prestação de serviços à comunidade, espécie de pena prevista

no artigo 23, incisos I a IV, ou seja,

a) custeio de programas e de projetos ambientais;

b) execução de obras de recuperação de áreas degradas;

c) manutenção de espaços públicos;

d) contribuições a entidades ambientais ou culturais públicos.

Na dicção de Milaré e Costa Jr. (2002, p. 18) a prestação de serviços à

comunidade, poderá ser o custeio de gastos em programas e projetos ambientais,

execução de obras e serviços de recuperação de áreas degradadas; manutenção de

espaços públicos e contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

Acrescenta que a responsabilidade da pessoa jurídica, na atualidade, diante da

formação de grandes conglomerados de empresas, multinacionais, grupos

econômicos, se torna necessário a atribuição criminal, tributária, econômica,

financeira e ECOLÓGICA.

Nesta linha, o artigo 24, da Lei 9.605/98, há ainda a previsão da sanção

imposta à pessoa jurídica, que é considera extrema, por se tratar da sua liquidação

forçada. Isso implica a dissolução do ente coletivo, em virtude de que todo seu

patrimônio será considerado como instrumento utilizado para a prática delituosa, e

em conseqüência, será confiscado em prol do Fundo Penitenciário Nacional. Diga-se

que só será imputada essa penalidade quando restar provado que o objetivo único

da empresa era permitir, facilitar ou ocultar as ações criminosas descritas na Leio

9.605/98.

Para Mukai (2007, p. 88) a distinção entre a pena de suspensão e a de

interdição consiste no fato de que: no primeiro caso, a atividade desenvolvida pela

empresa não obedece ao que se encontra disposto nas normas legais relacionadas

à preservação do meio ambiente. Já no segundo caso, o estabelecimento, obra ou

atividade tem seu funcionamento operando-se sem estar de posse da autorização

para tal, e se a possui, funciona em desacordo com esta, ou viola alguma disposição

de lei ou regulamento.

49

3.4 PROBLEMÁTICA À RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

No entendimento de Antunes (2006, p. 794) a forma mais adequada é aplicar

as empresas somente as punições de cunho administrativo, mesmo que em alguns

casos essas sanções venham caber ao Poder Judiciário. Justifica que a legislação

firmou a possibilidade da responsabilização criminal das pessoas jurídicas, prevendo

as penas aplicáveis, sem, no entanto, instituí-las.

Destarte, isto faz com que sua aplicação concreta não seja possível, por falta

de instrumentos capazes e indispensáveis para tal fim. Arremata ao dizer que este é

mais dos diversos erros e equívocos sofridos pela norma em debate. Acrescenta

que a responsabilização da pessoa jurídica não esta arraigado no direito penal

pátrio, uma vez que o direito penal brasileiro ao tratar da culpabilidade vincula ao

elemento subjetivo, direito este baseado de forma explicita ou implicitamente no

principio da culpa, tendo como característica a responsabilidade pessoal. Considera

ainda o autor, a adoção do sistema, necessita de mudanças jurídicas consideráveis

que possa exceder em muito a criação de uma simples lei.

Nesta lição, a legislação brasileira caminhou de forma aleatória e sem

propósito rumo à criminalização dos entes coletivos. A critica do autor é que se criou

uma cadeia de responsáveis que praticamente não tem outro objetivo senão o de

fomentar o famoso “jogo de empurra” com intuito de causar temor aos dirigentes e

profissionais das empresas, não trazendo na pratica nenhum ao meio ambiente.

Arremata Antunes (2006) que o mais adequado para o ordenamento pátrio

seria, indubitavelmente, a responsabilização administrativa mais especifica e

definidas para as pessoas jurídicas. Podendo, inclusive, em sendo o poder publico

omisso, o Poder Judiciário, provocado pelo Ministério Publico ou interessados, impor

sanções administrativas e aplicando estas solidariamente ao administrador

desidioso.

Moraes (2001, p. 150-151) se contrapõe à responsabilização penal da pessoa

jurídica por entender que tal sistema estaria na contramão do que prevê a

Constituição Federal de 1988, art. 5º, XLVI, ou seja: “a lei regulará a individualização

e adotará a pena”, sendo assim, a expressa determinação constitucional da

individualização da pena. Conseqüentemente, apenar a pessoa jurídica sem se

preocupar com os ditames da individualização da pena implicaria a imputação da

mesma pena e a mesma conduta a qualquer de seus dirigentes.

50

Ressalta Moraes (2001) ao afirmar que não tem como testemunhar os atos e

condutas das pessoas jurídicas. Em matéria de crimes ambientais em sua maioria, é

de resultado, sendo apenas alguns de mera conduta, ou seja, grande parte exige a

presença do dolo em detrimento da minoria prevê a possibilidade da culpa.

Nesta esteira, ressalta, se pode apenar o ente moral, deve ser concebido de

qualquer maneira que somente este se configura como delinqüente, como não há

possibilidade de responsabilizar a pessoa jurídica isoladamente sem a participação

decisiva de seus sócios, representantes ou diretores. O problema não constitui pelo

fato de tratar de novo sistema e sim ferir frontalmente o principio constitucional da

individualização da pena, restrita unicamente ao condenado.

Neste diapasão, chama a atenção, que se aceitarmos o conceito da

responsabilidade penal da empresa, forçosamente teríamos que aceitar que esta

seria capaz de atuar independentente de seus dirigentes humanos, caso que é

impossível. Por outro lado, se fosse adotado o principio da verdade formal, sem

reserva no processo penal, o qual se pauta pelo principio da verdade real. E crime

resultante da maioria do conselho ou sócio da empresa, seria suficiente imputar a

culpa a esta empresa como um todo, ou seja, à todos os seus integrantes.

Enfim, argumenta que seria a admissão da responsabilidade penal objetiva,

sistema afastado por ser conflitante com a norma constitucional de individualização

da pena.

Para Levorato (2006, p. 91) respeitando os princípios constitucionais

alicerçados na teoria da ação, os penalistas trazem uma advertência no sentido de

que:

Se a ação delituosa se realiza com agente realizando uma opção valorativa

no sentido do descumprimento de um valor cuja positividade a lei penal

impõe, se é uma decisão que existe um querer, e um querer valorativo, vê-

se que a pessoa jurídica não tem capacidade do querer dotado dessa

postura axiológica negativa.

Nesta dicção, as empresas não são ativadas por produções ou fabricações,

nem se movimentam socialmente, se não forem por meio de seus representantes

manipuladas, gerenciadas, administradas, ou seja, só se manifestam por meio de

ações humanas, que possuem variadas especialidades. Por isso a norma penal tem

51

condições de sancionar sem muita demora as pessoas físicas que compõem e

representam a pessoa jurídica, pois a vontade da empresa se externaliza através de

atos de seus dirigentes.

Deste modo, Justifica que o crime somente se concretiza se for proveniente

da vontade humana.

É o que se observa na lição de Zaffaroni e Pierangelli (apud LEVORATO,

2006, p. 92), como se vê: “Se admitíssemos que o delito é algo diferente de uma

conduta, o direito penal pretenderia regular algo distinto da conduta e, portanto, não

seria direito, pois romperia o atual horizonte de projeção de nossa ciência”.

Acrescenta Levorato (2006) que a incapacidade de praticar uma conduta é na

verdade o maior obstáculo no âmbito penal para aceitação da responsabilização do

ente coletivo, além da falta de capacidade de entendimento do fato delituoso.

Na fala de Milaré e Costa (apud LEVORATO (2006, p. 92):

A impossibilidade de volta-lhes um juízo de reprovação, baseado na

averiguação do dolo, da culpa, ou da capacidade de entender o caráter

criminoso do fato ou de determinar-se com esse entendimento, ou então a

impossiblidade de aplicar uma pena há sujeitos que não si apercebam de

seu claro alcance afetivo, nem de seus estímulos reeducativos.

Neste caso, resta demonstrada a ineficácia de arregimentar o sistema penal

para incriminação do ente moral, mesmo diante da possiblidade de reconhecer que

as pessoas jurídicas não são fictícias, mais reais, inclusive, baseado na evolução da

teoria da ficção.

No entanto, mesmo sendo reais e com a vida independente das pessoas

naturais, pelas quais são compostas, os entes coletivos não são detentores do

controle de seus atos, uma vez que forçosamente estão ligados às pessoas físicas,

que de acordo com as suas vontades gerem tais sociedades. Isso quer dizer, que a

pessoa jurídica só existe como ente real no mundo jurídico e de forma alguma pode

existir sem estar vinculado as pessoas naturais. Portanto, a pessoa jurídica não é

um ser livre, consciente, com vontade própria, atributos estes inerentes única e

exclusivamente à pessoa humana. O que leva o ente coletivo depender tanto para

existir, como para atuar da vontade dos seus dirigentes. É sempre o ser humano que

irá decidir quando contratar, demitir, comprar, vender, declarar ou sonegar bens, ou

52

seja, toda e qualquer ação só se realiza em função da vontade humana, fato

obstativo da teoria da ficção ou da realidade.

Nesta dicção, considerando que o meio ambiente é um direito de terceira

geração de titularidade coletiva, o qual reflete diretamente da afirmação dos direitos

do homem, direito à vida digna da própria sociedade. Dessa forma o desequilíbrio

ambiental coloca a coletividade em risco, havendo a possibilidade de desembocar

numa verdade exclusão social e a má gestão dos recursos naturais. Diante de uma

situação tão ameaçadora é justificável o interesse global na tentativa de frear e

proibir a degradação ambiental.

Na mesma linha, sem atropelo a Lei 9.605/98 pode ser aplicada às pessoas

físicas, arremata ao dizer:

Considerando que a pessoa jurídica poderia ser responsabilizada

penalmente na pessoa de seu administrador, não haveria problema em

aplicar a tutela penal, mas penalizar as pessoas jurídicas

independentemente das pessoas físicas dos membros que a compõem

vem parecendo incoerência, justamente por ela não possuir os dotes

essenciais do ser humano (liberdade, vontade, consciência, etc)

Desta maneira, outro fator a ser considerado que dificulta a aceitação da

responsabilidade penal da pessoa jurídica, é em virtude do instituto do

arrependimento ou da reeducação por meio das penas, uma vez que o ente moral

não é dotado de consciência, por conseguinte, é incapaz de expressar

arrependimento gerando a ineficácia da sanção penal.

Além do mais, como se sabe, um dos objetivos da pena no direito penal é

exatamente para que o indivíduo não volte a delinqüir. O único meio, diz a autora,

para um combate eficaz contra as infrações praticadas por entes coletivos, seria o

intermédio de uma atividade fiscalizatória por parte do Estado e sua efetiva punição

administrativa e civil, mas nunca penal.

No entendimento de Reale Junior (2010, p. 345) falta à pessoa jurídica

capacidade criminal, não podendo ser apenada, pois para aplicação da pena, ou

seja, na individualização da pena é feita com fundamento na culpabilidade e

arremata que a culpabilidade quer dizer o quanto a conduta perpetrada pelo infrator

merece reprovação e censura por parte da sociedade, sendo incompatível com

53

aceitação da pessoa jurídica como delinqüente, havendo portanto, uma verdadeira

incapacidade penal por parte do ente coletivo.

Arremata Reale Junior (2010) que o texto constitucional deverá ser analisado

de forma sistemática. Para o autor, a nova lei ao prever a responsabilidade penal

das pessoas jurídicas trouxe graves questões, conclui ao dizer que tal previsão é

descabida, uma vez que a imputação administrativa surte os efeitos necessários

para alcançar os fins que se propõem.

No dizer de DOTTI (2001, p. 149) a idéia de responsabilizar penalmente os

entes coletivos está totalmente fora de sintonia com o pensamento da Carta da

Republica de 1988, uma vez que a melhor interpretação do texto constitucional é no

sentido de que tanto a pessoa física como a pessoa jurídica podem responder nas

esferas civil, administrativa e tributaria pelos seus atos, no entanto, na esfera penal

continua a responder somente as pessoas naturais ou físicas.

Na lição de Cernicchiaro (apud DOTTI 2001, p. 149) a sanção penal: “Está

vinculada à responsabilidade pessoal (art. 5º, XLV). Hoje, dela é inseparável. A

constituição brasileira, portanto, não firmou a responsabilidade penal da pessoa

jurídica na esteira das congêneres contemporâneas”.

Arremata Dotti (2001), ao afirmar que “a conduta como primeiro elemento que

estrutura o delito é uma atividade humana”.

No comentário de Toledo, (apud DOTTI 2001, p. 150) “poder-se-á, pois, dizer,

parodiando o poeta, que, no mundo social, só os seres humanos são capazes de

ouvir e de entender as normas, portanto, só eles podem cometer crimes”.

Ademais, só por meio da ação é que as inclinações e decisões delituosas do

individuo são capazes de serem importantes para o direito e movimentar o sistema

penal. Além do que, ainda que o conceito em que a “atividade humana

conscientemente dirigida a um fim” é admitida pacificamente pela doutrina pátria. O

que é traduzido no poder de decidir de cada individuo, em fazer ou não fazer alguma

coisa, sendo, portanto, atributos próprios dos seres humanos.

Diz Garcia (apud DOTTI 2010, p. 168) “sujeito ativo do delito ou agente é

quem pratica. Só o homem, individualmente ou associado, pode sê-lo”.

Arremata Dotti (2010, p. 168) ao prelecionar: “a conduta revelada através da

ação ou missão, como primeiro elemento estrutural do crime, é produto do homem”.

54

Na dicção de Silva (2003, p.96-100),

[...] a responsabilidade penal da pessoa jurídica ofende o princípio da

culpabilidade porque, não obstante os esforços dos seus ilustres

defensores, o ente coletivo é insusceptível de vontade e assim, de dolo e

culpa, já que é mera criação do Direito através da construção da

personalidade jurídica.

Acrescenta Silva (2003), é claro o liame entre o princípio da culpabilidade e

da responsabilidade pessoal, uma vez que este traz uma delimitação à imputação do

crime, que tão somente pode ser executada contra o autor do delito. Levando em

consideração que a pessoa jurídica expressa seus pensamentos por meio de seus

órgãos, isso leva a um raciocínio coerente, e em atenção ao que preleciona o

princípio constitucional da individualização da pena, que a sanção deve ser imposta

sobre os integrantes do ente coletivo, e não sobre a própria empresa.

Neste sentido, pondera que a responsabilidade por ricochete choca

frontalmente com o referido princípio, pois na verdade o autor da ação delituosa é a

pessoa natural, no entanto, sua culpabilidade atinge de forma reflexiva o ente moral,

que deve ser apenado.

Nesta esteira, deve ser considerado que os princípios são na verdade

instrumentos capazes de otimizar a aplicação da norma, fica claro a mensagem que

transmite aos destinatários, é lógico, em relação a responsabilidade penal, a quem

se atribui a prática de delito como feito seu, ou ainda, ao partícipe do feito de

outrem, é sobre esse que deverá recair a imposição da pena diretamente. Deve ser

considerada ainda, sob este ponto de vista, qualquer legislação que traz em seu

bojo a previsão da responsabilidade penal de ente coletivo e elege requisitos em que

a conduta tenha sido praticada por representante ou órgão de direção, tal legislação

o faz equivocadamente.

Diz mais Silva (2003, p.100) que conservar a criminalização da pessoa

jurídica, como se pretende atualmente, fica evidente uma séria ameaça de ocorrer

nova estratificação social irreparável, levando em conta que para a Lei apenas os

representantes do corpo diretivo expressam a vontade da pessoa moral.

Destarte, outro obstáculo à responsabilidade penal da pessoa jurídica a ser

considerado é quando da aplicação da pena, uma vez o magistrado ao fazê-lo, deve

55

observar o princípio da individualização da pena, esculpido no artigo 5º, XLVI, da

Carta da República de 1988. É neste momento que o aplicador da norma, com

observância neste princípio e de acordo com o disposto no artigo 59 de Código

Penal calcula a dosimetria da pena.

Nesta visão, isso choca frontalmente com a responsabilização penal da

pessoa jurídica, tanto no aspecto forma, como no material. No aspecto formal se dá

em virtude que algumas circunstâncias elencadas no artigo 59 do CP, são requisitos

que regem a individualização da pena na fase judicial, e só podem ser aplicadas às

pessoas físicas, que é o caso da personalidade, o motivo, a culpabilidade e mesmo

a conduta social, dado que é referente à relação do indivíduo com o contexto social

onde vive. O que se vê é a impossibilidade, de acordo com a legislação, da

individualização da pena para o ente coletivo, e a Lei 9.605/98 não criou estrutura

diversa para as empresas.

Por conseguinte, a incompatibilidade material está relacionada ao conteúdo

do que significa individualizar a pena, quer dizer, dosar a sanção de acordo com os

critérios da prevenção geral e especial, que são seus fundamentos, e sua

inaplicabilidade às corporações.

Na consideração de Flávio Gomes (2010, p. 424) o Direito Penal do (ius

libertatis) não se compatibiliza com a responsabilidade penal da pessoa jurídica, e

acrescenta, que no seu ponto de vista, a única e correta exegese do artigo 3º, da Lei

9.605/98, consiste em conceber sem sombra de dúvida de que a responsabilidade

do ente coletivo não é especificamente penal, em sentido estrito, sendo portanto,

uma possibilidade de Direito Judiciário Sancionador, e conclui ao dizer:

Não se trata, destarte, nem de Direito penal, nem de Direito administrativo.

Não é tema do Direito Penal do ius libertatis porque, dentre as sanções

cominadas para a pessoa jurídica, obviamente, não consta a privação da

liberdade. Não é assunto do Direito Administrativo porque não é a

autoridade administrativa a competente para impor tais sanções. Cabe ao

juiz fazer isso, no seio do processo penal, com observância de todas as

garantias constitucionais e legais pertinentes: Conclusão: é matéria do

Direito Judicial sancionador, que se caracteriza justamente pelo fato de se

exigir a intervenção judicial para a imposição da sanção prevista em lei.

56

De acordo com Prado (2010, p. 127) em termos científicos domina há muito,

no Direito Pátrio, em consonância com os ordenamentos de origem romano-

germânica, a não responsabilização pena da pessoa jurídica, firmado no princípio

societas delinquere non potest, que tem o significado de reafirmar os institutos da

culpabilidade e da personalidade das penas. Isso implica em afirmar que crimes

praticados no universo dos entes coletivos, só podem ser sancionados

criminalmente às pessoas físicas na condição de autores ou partícipes.

A base deste raciocínio funda-se necessariamente, no fato de não estarem

presentes na atividade da própria pessoa jurídica a capacidade de ação, no sentido

penal estrito, capacidade de culpabilidade (princípio da culpabilidade); capacidade

penal (princípio da personalidade da pena), essencial à caracterização de uma

responsabilidade penal subjetiva.

Ademais, é evidente que o ente moral é desprovido de consciência e vontade,

em sentido psicológico, como é o caso da pessoa natural, conseqüentemente,

capacidade de autodeterminar-se, faculdades que imprescindivelmente irão ser

emprestadas pelos homens. Isso quer dizer, que somente o ser humano, na

condição de pessoa-indivíduo, pode enquadrar na condição de autor ou partícipe de

um crime. “Daí a máxima nullum crimen actione e o seu indispensável coeficiente de

humanidade”.

Continua Prado (2010, p. 128), dessa maneira, mesmo que a pessoa jurídica

seja considerada real, sua vontade jamais poderá ser igualada a da pessoa natural.

Portanto, a falta de capacidade jurídico-penal de ação do ente coletivo, é oriunda de

sua natureza, bem como a sua substância. Pelo que fica esclarecido que a despeito

das empresas poderem contratar, isso não quer dizer que por si só possam realizar

uma ação ou omissão típica.

No dizer de Mourullo (apud PRADO, 2010, p. 128),

Não é a pessoa jurídica que ‘conclui’ por si mesma contratos, mas sim fica

vinculada pelos contratos que celebram em seu nome as pessoa

individuais que atuam nos seus órgãos. Mas o fenômeno da representação

não tem cabimento em relação aos sujeitos ativos do delito. Para que

alguém pratique delito é necessário que tenha realizado pessoalmente a

ação penalmente cominada.

57

Para Prado (2010, p. 129), a conseqüência é a pessoa coletiva é desprovida

do primeiro componente do crime, capacidade de ação omissão, típica. Levando em

conta que no Direito Pátrio rege o princípio da responsabilidade penal subjetiva, o

qual se encontra envolto, implicitamente, pelo manto da dignidade da pessoa

humana (artigo 1º, II, CF/88), e também consoante ao princípio da individualização

da pena (artigo 5º, XLVI, CF/88). Sem tirar o foco do princípio da responsabilidade

penal subjetiva, que o atual codex, de forma expressa, dispõe em seus artigos 18 e

19, que não haverá crime sem a presença do dolo ou da culpa.

Arremata Prado (2010, p. 129) “A respeito da pena, as idéias de prevenção

geral, prevenção especial, reafirmação do ordenamento jurídico e ressocialização

não teria sentido em relação às pessoas jurídicas”.

No ensino de Bitencourt (2000, p. 71) a doutrina dominante, ainda hoje,

entende que a pessoa jurídica não portadora de capacidade de ação, bem como

todas as atividades referentes à pessoa coletiva, são praticadas necessariamente

por pessoas físicas, ainda que façam parte de seus conselhos de direção.

Deste modo, fica evidente que a incapacidade do ente moral não provém da

definição adotada para a ação, seja causal, social ou final. É que na verdade lhe

falta total capacidade natural de ação, considerando que para a norma penal vigente

quem unicamente possui capacidade de ação é sem dúvida alguma a pessoa

natural. Por fim, sendo a ação o primeiro elemento que estrutura o crime,

consubstancia-se no comportamento humano voluntário consciente voltado para um

fim.

Acrescenta Bitencourt (2000, p. 71),

[...] a ação compõe-se de um comportamento exterior, de contudo

psicológico, que é a vontade dirigida a um fim, da representação ou

antecipação mental do resultado pretendido, da escolha dos meios e a

consideração dos efeitos concomitantes ou necessários e o movimento

corporal dirigido ao fim proposto.

Destarte, não pode, sob qualquer argumento, afirmar que a pessoa jurídica,

como ente abstrato, ou seja, uma ficção normativa, a qual é desprovida de sentidos

e impulsos, poderá expressar vontade e consciência. Claro é que uma abstração

58

jurídica não poderia ter representação ou antecipação mental dos resultados de sua

ação. Portanto, o crime é uma conduta (ação ou omissão) somente do ser humano.

Neste entendimento, a responsabilidade pessoal dos componentes do ente

coletivo não ser confundida com a responsabilidade deste. Não foi, portanto,

intenção da Carta Política de 1988 criar a responsabilidade penal da pessoa jurídica,

muito pelo contrário, como ficou esculpido em seu artigo 173, § 5º, que no âmbito da

responsabilidade da pessoa jurídica, aplicar-lhe-á as sanções de acordo com a sua

natureza como se vê: “A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos

dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às

punições compatíveis com sua natureza, [...]”. “grifo do autor”

Na opinião aventada, a responsabilidade penal não deixou de ser pessoal

conforme o artigo 5º, XLV, da Carta da República de 1988, razão pela qual, ao se

identificar e individualizar os infratores naturais, que praticara o delito em nome da

pessoa coletiva, ai sim, tidos como criminosos, deverão ser responsabilizados

penalmente. Não significa que o Estado deva permanecer inerte frente aos abusos

praticados através da pessoa jurídica. Além das penas impostas aos autores físicos

quando praticarem condutas tipificadas criminalmente, deve-se punir e de forma

severa as pessoas coletivas, claro com sanções próprias a sua natureza de entes

morais.

Por fim, na dicção de Munoz Conde (apud BITENCOURT, 2000, P. 80)

Concordo que o atual direito Penal disponha de um arsenal de meios

específicos de reação e controle jurídico-penal das pessoas jurídicas. Claro

que estes meios devem ser adequados à própria natureza destas

entidades. Não se pode falar de penas privativas de liberdade, mas de

sanções pecuniárias; não se pode falar de inabilitações, mas sim de

suspensão de atividades ou de dissolução de atividades, ou de intervenção

pelo Estado. Não há, pois, porque se alarmar tanto, nem rasgar as próprias

vestes quando se fale de responsabilidade das pessoas jurídicas: basta

simplesmente ter consciência de que unicamente se deve escolher a via

adequada para evitar os abusos, que possam ser realizados.

Segundo Bernardes (2005, p. 752) a doutrina penal, inclusive a brasileira,

erigiu por anos e sobre fundamentos inexoráveis, a célebre compreensão que o

59

elemento subjetivo do tipo penal seria unicamente atributo das pessoas naturais. De

modo que as teorias em torno do tema trouxeram como resultado um conceito

fundamental estritamente de natureza psicológica da culpabilidade, o qual vigora até

o presente, caracterizando a como um nexo de cunho anímico, psíquico, entre o

agente e o fato delituoso. O que levou o Direito Penal a pautar a sua sustentação no

princípio nullum crimen sine culpa, tendo como destinatário final o ser humano.

Portanto, o amparo sobre o qual repousa o Direito Penal tradicional é a

culpabilidade, cujo conceito é dependente de componentes biopsicológicos, os quais

só existem na pessoa humana. De acordo com esse entendimento, para formação

do crime não é suficiente estar presentes os elementos objetivos – tipicidade e

antijuridicidade. Também è essencial a presença da culpabilidade como elemento

subjetivo. Além do mais, consoante este posicionamento, a imputabilidade, que é

traduzida pela capacidade de culpabilidade, tão somente poderá ser aplicada às

pessoas naturais, uma vez que só elas podem ser responsabilizadas penalmente

pela ação criminosa.

Ainda, na visão de Bernardes (2005), mesmo respeitando douto

posicionamento favorável à responsabilidade da pessoa jurídica, há solidez

contrapondo tal entendimento.

Robaldo (apud BERNARDES, 2005, P. 753) traz a seguinte consideração

acerca da Lei dos Crimes Ambientais:

Inquestionavelmente, a Lei 9.605/98 de 12.02.1998, de um lado, deu um

passo no sentido de tutelar o meio ambiente de forma mais eficaz, contudo,

de outra parte, retrocedeu não só nas generalizações como também nas

especialidades. No todo porque, ao prever mais de quarenta figuras

delituosas, incorreu na falsa percepção de que o Direito Penal é remédio

para todos os males; no particular, e, como o mesmo propósito,

responsabilizou penalmente a pessoa jurídica [...]. Isso, sem dúvida,

contrapõe às novas tendências do Direito Penal moderno, em especial, no

que se refere à intervenção mínima.

Para Sanches (apud BERNARDES, 2005, p. 753) mesmo que a pretensão do

legislador for criar uma responsabilidade penal independente e direta do ente

coletivo em relação à pessoa física que pratica o crime, não obteve êxito para tal

60

finalidade, porque antes de imputar uma sanção penal à pessoa moral, é necessário

apurar se a conduta de seus integrantes é culpável. Acrescenta que a culpabilidade

da pessoa jurídica está vinculada à pessoa natural, tratando-se de imputação

genuína de pena àquelas, pois não fora criado sistemas alternativos de aplicação de

sanções penais.

Continua Bernardes (2005, p. 754), ao dizer que “a responsabilidade penal da

pessoa moral é uma responsabilidade subseqüente ou de empréstimo, que tem

como suporte uma intervenção humana”. Nesta esteira, depreende que ao se

imputar um crime à pessoa coletiva será em maioria imputado à uma pessoa física,

o que leva a pressupor, quase sempre que a responsabilidade da primeira remete à

responsabilidade da segunda.

Arremata Bernardes (2005) com a colocação de que ao analisar o artigo 173,

§ 5º, da Constituição Federal de 1988, conclui-se que:

a) A responsabilidade pessoal dos dirigentes não se confunde com a

responsabilidade da pessoa coletiva;

b) A Carta Magna não dotou o ente moral de responsabilidade penal, ao

contrário, condicionou a sua responsabilidade à aplicação de sanções

compatíveis com a sua natureza;

c) A responsabilidade penal continua a ser pessoal (artigo 5º, inciso XLV);

d) A admissão da responsabilidade criminal da pessoa jurídica ainda deve

ser vista com reservas, visto que tal responsabilização feriria os princípios

da culpabilidade e personalidade das penas, pois a pessoa jurídica é

incapaz de realizar voluntariamente conduta ou por fato de terceiro, sem

também que o ente moral não está apto a sofrer as conseqüências das

penas e as sanções acabariam por atingir seus sócios.

Desta maneira, deve ser levado em conta, que o ente coletivo é mera ficção

jurídica, o qual só existe no plano jurídico e abstrato, e como tal, sua natureza não

comporta capacidade de ação, sendo carecedor de capacidade de culpabilidade.

Neste diapasão, não há controversa no tocante à vontade própria da pessoa

jurídica, por certo, é incapaz de praticar conduta dolosa ou culposa, e

conseqüentemente, sua responsabilização penal destoa do garantismo penal, o que

a isenta de responsabilidade criminal. Ressalta-se que “a capacidade de ação e de

culpabilidade exige a presença de uma vontade, entendida como faculdade psíquica

61

da pessoa individual, que somente o ser humano pode ter”. Sem perder de vista que

a ação se coloca como primeiro elemento estrutural do crime.

Nesta seara, depreende, portanto, que a pessoa moral é desprovida de

consciência e vontade, em sentido psicológico, atributos pertencentes única e

exclusivamente à pessoa humana. Isso leva a um entendimento que o ente coletivo

não possui capacidade para se configurar como sujeito ativo de crime, pelo simples

fato de que por estar ausente a faculdade da consciência e da vontade, não pode

falar tecnicamente, que a pessoa jurídica pratica uma ação, como já visto, é o

primeiro elemento que estrutura o delito. Ignorar essa afirmação compreender-se-ia

o aniquilamento do Direito Penal, enveredando-se rumo à responsabilidade objetiva.

Ademais, em relação à incapacidade de culpabilidade da pessoa coletiva,

paralela à falta de capacidade para praticar uma conduta criminosa, fica claro que

isto se torna um dos maiores obstáculos para que a pessoa jurídica seja penalmente

responsabilizada, como se vê:

A imputabilidade é a aptidão para ser culpável aliada à capacidade de

culpabilidade. Segundo o Direito Penal brasileiro, toda vez que o agente

apresentar condições de normalidade e maturidade psíquica, a

culpabilidade está presente. Maturidade e alterações psíquicas são

atributos exclusivos da pessoa natural e, por consequência, impossível de

serem traslados para a pessoa fictícia. Enfim, a pessoa jurídica carece de

maturidade e higidez mental, logo é inimputável.

Portanto, deve-se apenar as pessoas físicas em razão das infrações penais

perpetradas em nome da pessoa jurídica, restando a esta a sanção de cunho

administrativo, haja vista que a vontade expressa através da conduta delituosa –

ação ou omissão, se trata de elemento psíquico inerente às pessoas naturais,

inexistente, portanto, no ente moral.

Na lição de Greco (2006, p. 183) a pessoa jurídica não pode configurar como

sujeito ativo de crime, uma vez que quem os pratica na verdade são os seus

componentes. Mas de forma alguma a empresa, fundado no princípio societas

delinquere non potest.

Considerando o entendimento de Zaffaroni (apud GRECO, 2006, p. 183) ao

dizer:

62

Não se pode falar de uma vontade, em sentido psicológico, no ato de uma

pessoa jurídica, o que exclui qualquer possibilidade de admitir a existência

de uma conduta humana. A pessoa jurídica não pode ser autora de delito,

porque não tem capacidade de conduta humana no sentido ôntico-

ontológico da mesma.

Deve ser considera ainda a autoridade de Cernicchiaro (apud GRECO, 2006,

p. 183), ao prelecionar:

A resistência à inclusão das pessoas jurídicas é devida aos princípios que

orientam o moderno Direito Penal e às tradicionais sanções, que, exceto a

multa, não se adaptam a essas sociedades. Duas, pois, são as objeções.

Analise-se, antes, a segunda.É certo, há evidente incompatibilidade entre

as pessoas jurídicas e as penas privativas de liberdade. Todavia, aplicáveis

as restritivas de direito, por força de lei, poderão ser definidas como penas

principais. A interdição de funcionamento, a dissolução de entidade, além

da perda de bens, mencionadas no art. 5º, XLVI, b, da Constituição,

superam a resistência com facilidade. Os princípios, contudo, formam sério

obstáculo. Um deles viu-se, é o princípio da responsabilidade pessoal – fixa

a relação psicológica entre o homem e a conduta – ao lado do princípio da

culpabilidade. Direito Penal, nos termos da Constituição, sem respaldo

desses princípios, não é Direito Penal. Todos eles, por sua vez, tomam o

homem como referência. Convergem para a preservação do direito de

liberdade, reflexo dos Princípios dos direitos Humanos. A pessoa jurídica

não corre risco dessa natureza. Além disso, não há que falar em conduta

desse ente, no sentido de projeção de vontade, sabido que opera através

de pessoas físicas. Estas, sim, tem vontade e fazem opção entre o atuar

lícito e o comportamento ilícito. A culpabilidade – tome-se o vocábulo no

sentido de elemento subjetivo, ou significando reprovabilidade – é própria

do homem. Não se censura a pessoa jurídica, mas quem atua em seu

nome.Atribuir à pessoa jurídica vontade, conduta, toma-la como objeto para

apludi-la ou censurá-la não é a mesma coisa quando analisamos a pessoa

física e se a crítica pela deliberação e comportamento projetados.

Neste sentido, diz Greco (2006, p. 187), que respeitando posições favoráveis

à responsabilidade penal da pessoa jurídica, será andar em direção ao passado em

termo de Direito Penal, se admitirmos a que tal sistema se instale no ordenamento

jurídico pátrio, além de ser totalmente incompatível com a teoria do crime aceita e

praticada em nosso arcabouço jurídico. Ademais, o ente coletivo não expressa

63

vontade, precisando para atuar na sociedade de seus sócios, pois “a vontade de

ação ou vontade de conduta é um fenômeno psíquico que inexiste na pessoa

jurídica.

Ressalta Greco (2006), que basta observar o princípio da intervenção mínima,

o qual recai sobre o assunto de forma abrangente. De acordo com este princípio, só

se busca a tutela penal a determinado bem jurídico, quando outros ramos do direito

forem eficientes à sua proteção. É de conhecimento que ninguém pode ser apenado

sem o devido processo legal. O que leva muitas vezes a impunidade por prescrição

da pretensão de punir do Estado. Por outro lado tem-se a rapidez do Direito

Administrativo, que poderá agir imbuído do poder de polícia, aplicando sanções

capazes de inibir a prática de atividades das pessoas jurídicas, que possam causar

degradação ao meio ambiente.

64

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal objetivo deste trabalho foi analisar a possibilidade da pessoa

jurídica figurar no pólo ativo em matéria de crime ambiental.

Baseado em pesquisa bibliográfica, foi possível perceber a relevância do

tema para a instrumentalização do Direito Ambiental em busca da proteção de um

direito que é de todos, qual seja, o meio ambiente.

Ficou constatado neste levantamento que a discussão em torno da

criminalização da pessoa jurídica ainda não foi pacificada na doutrina pátria,

persistindo como uma problemática a ser esquadrinhada. Esta discussão deve ser

vista como de relevante interesse para a proteção ambiental, uma vez que o meio

ambiente tem sofrido um enorme desgaste em conseqüência de ações

depredatórias, inclusive por parte de entes coletivos.

O que se observa, é que há séculos o ser humano vem retirando

indiscriminadamente recursos da natureza como se nunca fossem exaurir. Além da

busca incansável pela melhoria de vida, somada à revolução industrial iniciada no

século XVIII. Nesse contexto, surgem os grandes blocos econômicos, formadas por

empreendedores, que buscam incrementar novas tecnologias, por natureza,

altamente poluidoras. Tudo isso foi agravado com o êxodo rural, fenômeno que deu

origem às grandes massas humanas, formando grandes metrópoles. O que gerou

uma degradação ao meio ambiente sem precedentes, através do lançamento de

poluentes na atmosfera, além das queimadas - provocando o chamado efeito estufa,

desmatamentos e descarte de efluentes nos rios, com o conseqüente o

assoreamento de rios, extinção de espécies etc.

É consentâneo que a sobrevivência da vida no planeta depende da

preservação do meio ambiente. Por conseguinte, a preocupação com a má

qualidade do ambiente assume atualmente proporções mundiais, levando

organizações e organismos internacionais a se mobilizarem com a finalidade de

formar uma consciência ambiental global.

Essa mobilização fora aderida por parte de alguns Estados, resultando em

vários tratados internacionais, os quais trazem em seu bojo diretrizes para a

elaboração e efetivação de políticas voltadas à preservação do meio ambiente.

65

Percebeu-se ainda, que o Brasil como signatário de vários desses acordos,

assumiu uma postura ”ecologicamente correta” em todos os níveis, tanto de

governo, como em setores da sociedade, em busca do tão desejado

desenvolvimento sustentável.

Nesta esteira, o país buscou tutelar os recursos naturais, o meio ambiente

artificial bem como o meio ambiente do trabalho, inclusive, dispondo em leis sanções

não só administrativas, mas também cíveis e criminais, que deverão ser impostas

àqueles que causarem danos ambientais.

Neste contexto emerge a importância da tutela penal ambiental, e em

especial a responsabilidade penal, tanto das pessoas físicas, como das pessoas

jurídicas, Haja vista, ser o Direito Penal, considerado um importante instrumento de

prevenção para que bens jurídicos considerados essenciais à vida não sejam

agredidos.

Nesta esteira, é que se discute a responsabilidade penal da pessoa jurídica

em sede de crimes ambientais, uma vez que com a necessidade em buscar uma

vida com melhores condições, por conseguinte surgem novas tecnologias para a

retirada de matéria prima da natureza por parte de grandes grupos empresariais,

que por vezes são os maiores poluidores do meio ambiente. No entanto, não adotam

políticas para um desenvolvimento sustentável, isto é, não se aparelham em busca

de técnicas capazes de diminuir a emissão de poluentes na atmosfera, nos

mananciais e até mesmo no mar territorial.

Em decorrência disso, é freqüente a manifestação de desastres ecológicos

sem precedentes, como furações, inundações, tsunamis, secas, calor e frio em

excesso, extinção de espécies e nascentes etc.

Tais fenômenos deixam rastros de destruição em cadeia, levando governos e

sociedades a arcarem com os prejuízos astronômicos, que acabam por desencadear

crises sociais e econômicas, além de elevar os riscos à vida em todas suas formas.

Portanto, é preponderante a instrumentalização da política ambiental, para

que seja efetiva na prevenção e reparação de danos perpetrados contra o meio

ambiente, principalmente por parte daqueles que figuram como os maiores

poluidores.

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Esta política deve ser formatada com todos os recursos disponíveis, seja

educacionais, formando uma consciência ambiental, seja econômicos, investindo em

tecnologias não poluidoras, seja por meio de leis, de cunho administrativo, cível e

penal, com a devida subordinação de todos a estas normas, pessoas físicas ou

jurídicas.

Destarte, é imperioso arregimentar esforços para que as normas de proteção

ambiental surtam os efeitos a que se propõem, ou seja, equipar o Estado e a

sociedade, para que conjuntamente possam barrar a escalada de degradação ao

meio ambiente, bem como fornecer meios que visem uma efetiva preservação aos

ecossistemas, com o intuito de que as presentes e futuras gerações tenham suas

necessidades atendidas, sem, contudo, serem privadas do direito a um meio

ambiente sadio e equilibrado.

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