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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA-FESPCURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
MARCELO LOPES DA NÓBREGA
LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997: A PROTEÇÃO BRASILEIRA AOSREFUGIADOS EM ANÁLISE
CABEDELO-PB2016
MARCELO LOPES DA NÓBREGA
LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997: A PROTEÇÃO BRASILEIRA AOSREFUGIADOS EM ANÁLISE
Trabalho de Conclusão de Curso em forma deArtigo Científico apresentado à Coordenação doCurso de Bacharelado em Direito, pela Faculdadede Ensino Superior da Paraíba – FESP, comorequisito parcial para a obtenção do título deBacharel em Direito.
Área: Direitos Humanos
Orientador: Prof. Ms. Edísio Ferreira de FariasJúnior
CABEDELO-PB2016
MARCELO LOPES DA NÓBREGA
LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997: A PROTEÇÃO BRASILEIRA AOSREFUGIADOS EM ANÁLISE
Artigo Científico apresentado à BancaExaminadora de Artigos Científicos da Faculdadede Ensino Superior da Paraíba – FESP, comoexigência para a obtenção do grau de Bacharel emDireito.
APROVADO EM 20/06/2016
BANCA EXAMINADORA
______________________________________Prof. Ms. Edísio Ferreira de Farias Júnior
ORIENTADOR-FESP
_________________________________Prof. Dr. Antônio Germano Ramalho
MEMBRO-FESP
_____________________________________Prof.ª Dra. Luciana de Albuquerque Cavalcanti Brito
MEMBRO-FESP
TERMO DE RESPONSABILIDADE/DIREITOS AUTORAIS
Eu, MARCELO LOPES DA NÓBREGA, RG nº 2667519 SSP/PB, acadêmico do
Curso de Bacharelado em Direito, autor do Trabalho de Conclusão de Curso –
TCC, intitulado LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997: A PROTEÇÃO
BRASILEIRA AOS REFUGIADOS EM ANÁLISE, orientado pelo professor EDÍSIO
FERREIRA DE FARIAS JÚNIOR, declaro para os devidos fins que o TCC que
apresento atende às normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de textos,
indicadas no Manual para Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso da
Fesp Faculdades. As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e
apresentam a origem da ideia do autor com as respectivas obras e anos de
publicação. Caso não apresente estas indicações, ou seja, caracterize crime de
plágio, estou ciente das implicações legais decorrentes deste procedimento.
Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no TCC,
isentando o professor-orientador, a Banca Examinadora e a instituição de
qualquer ocorrência referente à situação de ofensa aos direitos autorais.
Cabedelo, PB, 01 de Junho de 2016
_____________________________________Marcelo Lopes da Nóbrega
Matrícula 2016110102
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS………………………………………………………….05
2 BREVE INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE REFUGIADO………………………..07
3 A SOLICITAÇÃO DE REFÚGIO E O PRINCÍPIO DE NON-REFOULEMENT…..12
4 O ENVOLVIMENTO DO CONARE COM OS SOLICITANTES DE REFÚGIO…..14
5 O RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS NOS PROCESSOS DE REFÚGIO...16
6 OS EFEITOS DA CONDIÇÃO DE REFUGIADO SOBRE A EXPULSÃO E A
EXTRADIÇÃO…………………………………………………………………………...17
7 O RECOMEÇO: A INTEGRAÇÃO SOCIAL DOS REFUGIADOS………………...19
8 O FIM DA CONDIÇÃO DE REFUGIADO…………………………………………….20
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………20
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………….22
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LEI Nº 9.474, DE 22 DE JULHO DE 1997: A PROTEÇÃO BRASILEIRA AOSREFUGIADOS EM ANÁLISE
MARCELO LOPES DA NÓBREGA*
EDÍSIO FERREIRA DE FARIAS JÚNIOR**
RESUMO
Este estudo teórico visa, através de instrumentos metodológicos de pesquisabibliográfica e documental, ampliar o entendimento acerca da política brasileira pararefugiados, tratando do processo de assimilação histórica de princípios basilares dodireito internacional dos refugiados ao ordenamento jurídico pátrio e dascontribuições legislativas brasileiras ao sistema de proteção às vítimas de migraçõesforçadas. Nesse sentido, enfatiza-se a importância da Lei nº 9.474/1997 e dosconceitos e instrumentos nela ratificados, demonstrando-se a sua importância naefetivação de direitos resguardados constitucionalmente e assinalando-se algumaspropostas de ampliação do seu alcance. Isso é depreendido por meio da atribuiçãode ênfase a três aspectos da referida Lei: a amplitude do conceito de refugiado, aaplicação do princípio de non-refoulement no Brasil e a importância do encontro desoluções duradouras para a questão dos refugiados que buscam resguardo no país.Por fim, acentuam-se posicionamentos relevantes do Estado brasileiro, condizentescom a assunção de compromissos internacionais posteriores de tutela aos direitosdos refugiados.
PALAVRAS-CHAVE: Refúgio no Brasil. Direitos Humanos. Direito Humanitário.Direito dos Refugiados. Non-refoulement.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, é resultado da aprovação do Projeto
de Lei nº 1.936, de 1996 (renomeado, no Senado, Projeto de Lei nº 16, de 1997), de
iniciativa do Poder Executivo (Mensagem nº 427, de 1996), e regulamenta,
finalmente, de forma atualizada, no ordenamento jurídico pátrio, a Convenção
Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, e o Protocolo Relativo ao Estatuto
dos Refugiados, de 1967.
Fruto do compromisso assumido pelo Brasil em face da comunidade
internacional de proteger os direitos humanos e as populações vítimas de migrações
forçadas, a lei brasileira para refugiados reflete o desenvolvimento da temática a
partir de contribuições das Nações Unidas, da sociedade civil e do Estado, sendo
* Graduado em Comércio Exterior, servidor público, aluno concluinte do Curso de Bacharelado emDireito da Fesp Faculdades, semestre 2016.1. e-mail: [email protected].** Mestre em Sociologia, Professor da FESP Faculdades, atuou como orientador deste TCC. e-mail:[email protected]
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considerada hoje uma das que melhor aborda a questão dos refugiados no mundo
(BARRETO, 2010).
A crise humanitária resultante da diáspora atual merece tratamento urgente,
pois afetará diversas gerações. Prova disso é que, no período de 2010 a 2015,
houve um aumento de 2.868% nas solicitações de refúgio recebidas pelo Brasil
(CONARE, 2016). Logo, o debate a respeito da matéria torna-se imprescindível, uma
vez que o devido conhecimento legislativo e o questionamento de dispositivos
normativos existentes constituem elemento basilar de todo sistema democrático.
Com efeito, a democracia não se resume à expressão da vontade da maioria.
Igualmente importante para a sua concretização é o modo pelo qual se constrói a
vontade dos indivíduos, devendo esta ser resultado de um efetivo debate de teses e
ideias formulados a partir da transferência de conhecimento. Assim, constituem
óbice à definição e à consequente expressão da vontade democrática a ineficiência
do alcance universal à informação e aos demais direitos fundamentais.
Nesse sentido, o objetivo deste artigo consiste em estimular o aludido debate,
analisando, em linhas gerais, a política brasileira para os refugiados e,
especificamente, o conteúdo da Lei nº 9.474/1997, incluindo o processo histórico de
construção da referida norma legal. A partir de então, direcionaremos nosso olhar
para a necessidade de atualização, no Brasil, da sistemática normativa concernente
à matéria e, particularmente, ao Projeto de Lei nº 2516/2015, hodiernamente em
trâmite no Congresso Nacional. Dessa forma, buscaremos demonstrar o
enquadramento do sistema brasileiro de proteção às vítimas internacionais de
deslocamentos forçados dentro do amplo sistema de garantias oferecidas a essas
pessoas.
A Lei nº 9.474/1997, objeto principal de nosso estudo, é dividida em oito
Títulos, os quais examinaremos, quando necessário, individualmente e, ao final,
holisticamente. O Título I trata dos aspectos caracterizadores da condição de
refugiado; o Título II discorre sobre o ingresso no território nacional e sobre o pedido
de refúgio; o Título III versa sobre o Comitê Nacional para os Refugiados
(CONARE); o Título IV aborda o processo de refúgio; o Título V expõe os efeitos do
reconhecimento da condição de refugiado sobre os institutos da extradição e da
expulsão; o Título VI ocupa-se da cessação e da perda da condição de refugiado; o
Título VII refere-se a soluções duráveis para os refugiados; e o Título VIII relata as
disposições finais.
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2 BREVE INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE REFUGIADO
Preliminarmente, faz-se necessário apontar, de maneira sintética, as
diferenças existentes, na sistemática jurídica brasileira, entre os institutos do asilo
político e do refúgio. Nessa perspectiva, ensina Ramos (2011, p. 41):
O asilo é instituto mais estreito, voltado à perseguição política, não gerandodireito ao solicitante, que fica à mercê dos humores governamentais e dapolítica das relações internacionais. (…) Por outro lado, o refúgio é maisamplo, gera direitos ao solicitante de refúgio, inclusive direito de ingresso noterritório nacional e direito de um julgamento adequado no CONARE.Justamente por isso, a decisão equivocada de concessão ou denegaçãopode ser mais facilmente combatida perante os órgãos nacionais einternacionais de direitos humanos.
Essa distinção eflui do envolvimento histórico do Brasil com a proteção
internacional aos refugiados. Já em 1947, o país assinou o documento de
constituição da Organização Internacional para os Refugiados (OIR), uma agência,
criada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), dedicada à proteção
de populações deslocadas forçosamente.
Em 1961, o Brasil reafirmou seu compromisso com a matéria ao promulgar,
através do Decreto nº 50.215, a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de
1951, e, em 1972, quando promulgou, através do Decreto nº 70.946, o Protocolo
Relativo ao Estatuto dos Refugiados, de 1967. A efetiva aplicação desses
instrumentos no país, todavia, foi limitada, nas décadas seguintes, por obstáculos de
ordem político-ideológica (MORÊZ, 2009).
A Convenção de 1951 expressa, eu seu artigo 1º, a possibilidade de aplicação
de reservas temporal e geográfica ao conceito de refugiado. Assim, considerar-se-
iam refugiados apenas os indivíduos vítimas de perseguição na Europa, em período
anterior a 1º de janeiro de 1951. O governo brasileiro manifestou adesão às aludidas
reservas na promulgação do Decreto nº 50.215/61. Quando da ratificação, em 1972,
do Protocolo de 1967 – o qual aboliu ambas as condicionantes –, o Brasil aceitou
levantar a exceção temporal, mas manteve a restrição geográfica.
Não caracterizar como refugiados as vítimas de perseguição fora do espaço
geográfico europeu era congruente com a política do sangrento regime de exceção
instaurado no país a partir de 1964, uma vez que visava impedir a entrada e
permanência, em território nacional, de exilados de países vizinhos. Nesse sentido:
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Ainda que o Brasil tenha ratificado e recepcionado as principais convençõesinternacionais sobre o tema do refúgio, só se verificou uma relativa à políticade recepção de refugiados a partir de 1977, ano em que o ACNUR, por meiode acordo com o governo brasileiro, instalou um escritório na cidade do Riode Janeiro. O interesse do ACNUR em se instalar no Brasil se deu pelainstabilidade política vivida pela América Latina, que estava envolta emregimes políticos ditatoriais, de violência generalizada e de maciça violaçãodos Direitos Humanos (BARBOSA; SAGRADO DA HORA, 2007 apudHAYDU, 2011. p. 133)
A instalação, no Brasil, de um escritório ad hoc do Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) concretizou uma guinada fundamental,
conquanto tímida, na salvaguarda dos direitos dos refugiados que chegavam ao
país. Nesse período, o trabalho da ONU foi fortalecido pela atuação de
representantes da sociedade civil. Com efeito, destaca-se que:
Durante esse período de uma atuação bastante restrita do ACNUR, elecontou com o apoio de vários outros órgãos de atuação interna, engajadosna temática de Direitos Humanos para a proteção dos refugiados. Dentreesses fundamentais parceiros pode-se destacar as Cáritas Arquidiocesanado Rio de Janeiro e de São Paulo; a Comissão Pontifícia Justiça e Paz(comumente denominada Comissão Justiça e Paz), que trabalhava em prolda legalização do tratamento humanitário que a Igreja Católica dava aosrefugiados, bem como a todos os temas de Direitos Humanos, e o Centro deReferência para Refugiados, que cuidava da recepção, encaminhamento eassistência social às pessoas que buscavam asilo e refúgio (JUBILUT, 2007apud HAYDU, 2011, p. 134)
A atuação oficial do ACNUR na proteção aos refugiados no Brasil teve início,
efetivamente, em 1982, com o reconhecimento da referida agência, pelo governo
brasileiro, como órgão da ONU responsável pela matéria (JUBILUT, 2012). A
questão da reserva geográfica, contudo, persistia como verdadeiro óbice ao
acolhimento de refugiados no país.
Em parecer de 1986, o Ministério das Relações Exteriores sustentou a
necessidade de urgente denúncia da cláusula de reserva geográfica pelo Brasil,
acertadamente condenando o seu anacronismo e a sua obsolescência. Nesse
mesmo ano, membros de aproximadamente 50 famílias iranianas que professavam
a fé bahá’i foram reassentadas no país. Como a reserva geográfica impedia o
enquadramento dessas pessoas como refugiadas, foi necessário encontrar uma
solução alternativa. Nessa perspectiva:
A missão brasileira do ACNUR negociou ativamente com o governo doentão Presidente Sarney, que acabou por conceder o estatuto jurídico de
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asilados aos integrantes destas famílias. A acolhida brasileira fez com que hoje existam 300 famílias iranianas da fé Bahá’i vivendo no Brasil(ALMEIDA, 2001 apud RAMOS, 2011, p. 27)
A Constituição de 1988 empenhou-se em enaltecer o viés democrático do
Brasil, consagrando em suas linhas importantes dispositivos de proteção aos direitos
humanos. Esse intento, finalmente, foi incorporado à legislação pátria para os
refugiados quando, em 1989, levantou-se, através do Decreto nº 98.602, a reserva
geográfica da Convenção de 1951.
Com isso, o Brasil adotou, integralmente, a definição de refugiado expressa
na Convenção de 1951, combinada com as alterações contidas no Protocolo de
1967, caracterizando como tal qualquer pessoa que, em razão de ser vítima de
determinados tipos de perseguição, não possa ou não queira retornar ao país do
qual seja nacional e onde resida habitualmente (RAMOS, 2011).
Essa definição permanece em vigor no país. Todavia, com a edição da lei nº
9.474/1997, ela foi expandida através da incorporação, pelo ordenamento jurídico
pátrio, do conceito de refugiado defendido pela Declaração de Cartagena, de 1984,
a qual enquadrou como refugiados, além daqueles assim qualificados pela
Convenção de 1951 e pelo Protocolo de 1967, os migrantes forçados vítimas de
grave violação aos direitos humanos, independentemente da ocorrência de
perseguição. Nessa perspectiva:
A Declaração de Cartagena é importante porque lança elementos capazesde reconhecer a complementaridade existente entre os três ramos deproteção internacional da pessoa humana, à luz de uma visão integral econvergente do direito humanitário, dos direitos humanos e do direito dosrefugiados, tanto normativa, como interpretativa e operativamente. (…) OEstado brasileiro captou o Espírito de Cartagena (LEÃO, 2011, p. 79)
O “Espírito de Cartagena” havia refletido uma expansão conceitual na
necessidade de proteção aos direitos humanos amplamente considerados, o que
teve como reflexo a reavaliação do conceito de refugiado. Essa ponderação teve
como um de seus marcos preambulares a Convenção da Organização de Unidade
Africana (OUA) que Rege os Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados
em África, de 19691.
1 Art. 1º […] 2 – O termo refugiado aplica-se também a qualquer pessoa que, devido a umaagressão, ocupação externa, dominação estrangeira ou a acontecimentos que perturbemgravemente a ordem pública numa parte ou na totalidade do seu país de origem ou do país deque tem nacionalidade, seja obrigada a deixar o lugar da residência habitual para procurar refúgionoutro lugar fora do seu país de origem ou de nacionalidade (OUA, 1969).
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Isto é, a Convenção da OUA foi inovadora ao retirar a perspectiva
eurocêntrica do conceito de refugiado, aplicando-o à realidade do continente
africano. Similarmente, quinze anos depois, a Convenção de Cartagena tomou como
referencial a turbulência sociopolítica que afligia a América Central e as
consequentes violações aos direitos humanos para identificar pessoas desvalidas
que necessitavam de especial proteção na região.
Esses dois instrumentos, aliados à crescente noção de convergência entre os
direitos humanos internacionais, o direito internacional humanitário e o direito
internacional dos refugiados, os quais estão enraizados na Constituição de 1988 e
na Convenção Americana de Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil em 1992,
permitiram a acolhida de refugiados em termos mais amplos do que os da
Convenção de 1951. Com efeito, registra-se que:
A eliminação da cláusula da reserva geográfica, contudo, não resultou emaumento expressivo de solicitantes de asilo no Brasil. Cenário que sómudaria com a vinda, entre os anos de 1992 e 1994, de cerca de 1.200angolanos que fugiram de seu país de origem após o final das eleições queali ocorreram. A grande maioria desses indivíduos não estava fugindo deseu país por motivos de perseguição individual, mas sim por conta dosconflitos e da violência generalizada. Desta forma, não estavam de acordocom a definição clássica de refúgio, tal como contida na Convenção de 1951(…) Mesmo assim, foram reconhecidos como tal, já que o governo brasileiroaplicou uma definição mais ampla do conceito de refugiado, inspirada naDeclaração de Cartagena, de 1984 (HAYDU, 2011, p. 136)
A lei nº 9.474/1997, significativamente adotou conceituação inspirada na
Declaração de Cartagena. Embora a expansão teórica não constasse do Projeto de
Lei original, a interlocução com a sociedade civil e com o ACNUR possibilitou que
ela fosse incluída na redação final do aludido instrumento normativo, o que
representou um avanço expressivo para a defesa desses indivíduos no país.
Assim, além da definição clássica de refugiado, vigora no Brasil a definição
constante do artigo 1º, inciso III, da Lei nº 9.474/1997, que caracteriza como tal todo
indivíduo que “devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é
obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país”. Não
obstante, o artigo 3º da menciona Lei apresenta ressalvas. Nesse sentido:
Art. 3º Não se beneficiarão da condição de refugiado os indivíduos que:I — já desfrutem de proteção ou assistência por parte de organismo ouinstituição das Nações Unidas que não o Alto Comissariado das NaçõesUnidas para os Refugiados – ACNUR;II — sejam residentes no território nacional e tenham direitos e obrigaçõesrelacionados com a condição de nacional brasileiro;
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III — tenham cometido crime contra a paz, crime de guerra, crime contra ahumanidade, crime hediondo, participado de atos terroristas ou tráfico dedrogas;IV — sejam considerados culpados de atos contrários aos fins e princípiosdas Nações Unidas (BRASIL, 1997).
O inciso II “faz referência indireta aos portugueses com estatuto de igualdade
de direitos civis e políticos nos termos do artigo 12, inciso I, da Constituição”
(BARRETO, 2010, p. 158). Por seu turno, a inclusão de “crime hediondo” e “tráfico
de drogas” no inciso III ocorreu durante o trâmite do PL nº 1.936, de 1996, que
originou a Lei nº 9.474/1997, uma vez que esses crimes eram – e continuam a ser –
preocupações de destaque na esfera nacional.
A referida Lei legitima, ainda, o instituto da reunião familiar, permitindo a
extensão da qualificação como refugiado aos dependentes do solicitante, desde que
a sua condição seja reconhecida pelo Estado brasileiro. Após a revogação da
Resolução Normativa nº 4, do CONARE, esse instituto passou a ser regulado pela
Resolução Normativa nº 16 do referido órgão, a qual, em seu artigo 1º, reputa aptos
à reunião familiar “cônjuge ou companheira (a); ascendentes; descendentes; demais
integrantes do grupo familiar que dependam economicamente do refugiado”
(CONARE, 2013).
Outrossim, o Título I da Lei nº 9.474/1997 consagra a sujeição dos refugiados
a instrumentos legais aos quais o Brasil expresse ou venha a expressar
aquiescência, tanto no plano interno quanto no plano externo. Essa ressalva se
demonstra importante em razão do caráter notavelmente fluido do cenário político
internacional, o qual frequentemente exige respostas articuladas dos Estados a
situações emergenciais. Ademais, o Título ora em análise dispõe sobre o
reconhecimento do acesso dos refugiados a direitos e a sua submissão a deveres
impostos aos estrangeiros no país, os quais estão relacionados, em parte, na Lei nº
6.815/1980.
3 A SOLICITAÇÃO DE REFÚGIO E O PRINCÍPIO DE NON-REFOULEMENT
O Título II da Lei nº 9.474/1997, em sua essência, dispõe sobre o tratamento
dispensado pelas autoridades migratórias aos solicitantes de refúgio e estabelece
que nem mesmo a entrada irregular no país representa óbice à solicitação de refúgio
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ou motivo de constrangimento para o solicitante, o que evidencia uma harmonização
13com o princípio fundamental da dignidade, sacramentado pela República
Federativa do Brasil no inciso II, do artigo 1º, da Constituição de 1988.
Ademais, reafirma, como alicerce da política brasileira para refugiados, o
princípio do non-refoulement, dispositivo central da proteção internacional às
pessoas vítimas de migrações forçadas, prescrito no artigo 33 da Convenção
Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 19512. Por sua vez, a Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados, de 1969, promulgada pelo Brasil através do Decreto nº
7.030, de 2009, estabelece, em seu artigo 53, a nulidade de tratados que conflitem
com norma imperativa do direito internacional3.
Assim, para que uma norma seja considerada imperativa no Direito
Internacional geral, faz-se necessário que ela seja “aceita e reconhecida pela
comunidade internacional” e “como norma da qual nenhuma derrogação é
permitida”. Devido ao cenário atual do direito internacional dos direitos humanos, do
direito internacional humanitário e do direito internacional dos refugiados,
considerável parte da doutrina considera que:
Nesse contexto, a única conclusão possível é a de se considerar o princípiodo non-refoulement como norma de jus cogens, imperativa econsuetudinária, que não pode ser derrogada, a vincular os Estados, aindano sistema Westfaliano, no trato com os indivíduos em busca de abrigo. Viade consequência, estão aqueles proibidos de violarem a norma, sobqualquer circunstância. Nesse sentido, é uma das maiores garantias deproteção do indivíduo (GARCIA; MOREIRA, 2015, p. 260)
A legislação brasileira, portanto, ao conferir a devida importância ao princípio
do non-refoulement, está em consonância com a perspectiva de maior amparo aos
indivíduos e à sua dignidade. A dimensão dessa tutela torna-se ainda mais notável
quando se observa que ela é aplicável aos casos de pessoas cuja solicitação de
refúgio ainda não tenha sido terminantemente analisada, desde que elas não
2 Art. 33 – Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou rechaçará, de maneira alguma, umrefugiado para as fronteiras dos territórios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaçadaem virtude da sua raça, da sua religião, da sua nacionalidade, do grupo social a que pertence oudas suas opiniões políticas (ONU, 1951).
3 Art. 53 – É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma normaimperativa de Direito internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma normaimperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidadeinternacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida eque só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza(ONU, 1969).
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representem perigo à segurança do Brasil (conforme disposição do parágrafo 2º, do
artigo 7º, da Lei nº 9.474/1997).
A questão do non-refoulement se tornou paradigmática quando considerada
diante da chegada ao Brasil de milhares de haitianos vítimas do sismo que atingiu o
seu país de origem, em 2010, o qual “deixou um rastro de devastação: 222.570
homens, mulheres e crianças morreram, por volta de 300.572 foram feridos, e
estima-se que 3,5 milhões de pessoas foram de alguma forma afetadas” (GODOY,
2011, p. 45).
Por um lado, devolver esses indivíduos ao seu local de origem poderia
representar devolvê-los a uma situação de risco; por outro, acolhê-los como
refugiados não encontrava respaldo na definição da Convenção de 1951 ou na Lei
brasileira regulamentadora da matéria, uma vez que a vulnerabilidade a que eles
haviam sido expostos decorria de um desastre natural. Decidiu o CONARE que a
questão “deveria ser pensada no marco de outro cenário, para além da Convenção
de 1951 e da Lei de refúgio brasileira” (GODOY, 2011, p. 62). Assim, nesses casos,
tem-se concedido o chamado visto humanitário. Nessa perspectiva:
O que comumente se chama de visto humanitário é, na verdade, um vistode permanência outorgado pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg) doMinistério do Trabalho e Emprego. Tal visto pode ser concedido aoestrangeiro solicitante de refúgio em necessidade de proteção humanitáriaque não se inclui nos critérios estabelecidos pela lei brasileira de refúgio. Oscasos de solicitantes de refúgio são analisados pelo CONARE do Ministérioda Justiça. (…) Quando um pedido de refúgio é negado, mas subsistempreocupações humanitárias, o CONARE pode encaminhar o caso para oCNIg (GODOY, 2011, p. 63)
O Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), a quem compete,
prioritariamente, verificar o enquadramento à legislação brasileira das solicitações de
refúgio, consiste em um órgão colegiado, vinculado ao Ministério da Justiça e
Cidadania, cuja criação teve especial importância pois “representou a plena
assunção, pelo Estado brasileiro, de todo o procedimento de análise da solicitação
de refúgio, bem como da política de proteção e apoio aos que forem considerados
refugiados” (RAMOS, 2011, p. 30).
4 O ENVOLVIMENTO DO CONARE COM OS SOLICITANTES DE REFÚGIO
Criado pelo artigo 11 da Lei nº 9.474/1997, o CONARE tem suas atribuições
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definidas no artigo 12 da referida Lei, a saber: analisar os pedidos de refúgio,
declarando, em primeira instância, o reconhecimento, cessação e a perda da
condição de refugiado; agir como orquestrador das ações necessárias à efetiva
salvaguarda dos direitos dos refugiados; e aprovar instruções normativas
necessárias à correta e integral aplicação da Lei nº 9.474/1997.
No sentido de realizar plenamente as suas atribuições, as decisões do
CONARE são tomadas por consenso, observando-se o quórum mínimo, para a
realização de reuniões plenárias, de metade mais um de seus membros, os quais
são designados pelo Presidente da República e compostos da forma prescrita no
artigo 14, da Lei nº 9.474/19974.
Importante ressaltar que no CONARE participam membros do governo, da
sociedade civil e da Organização das Nações Unidas, uma vez que o §1º do referido
artigo 14 atribui ao ACNUR o caráter de membro convidado, com direito a voz, mas
sem direito a voto, nas reuniões do órgão, enaltecendo o caráter democrático e
inclusivo de suas deliberações.
Das decisões do CONARE, cabe recurso de revisão ao Ministro da Justiça.
Outrossim, devido ao princípio da inafastabilidade de jurisdição, insculpido no inciso
XXXV, do artigo 5º, da Constituição da República, é possível recorrer ao Poder
Judiciário para questionar a legalidade das decisões do órgão colegiado. Nesse
sentido, é notório o voto do Ministro Cezar Peluso no “Caso Battisti”:
A condição de refúgio foi, expressamente, reconhecida, no caso, pelaautoridade administrativa, com base nos termos do inciso I. Daí que,ancorando toda sua suposta legalidade nessa específica hipótese normativa(fattispecie abstrata), é preciso, no exercício da atividade de controle dosseus aspectos jurídico-formais à luz dos requisitos de estrita legalidade,verificar se a decisão atendeu, segundo a motivação declarada, ao conjuntodos elementos de fato previstos na norma em que se apoiou (fattispecieconcreta). Em palavras mais simples, cumpre ver se, para justificar aconcessão de refúgio ao extraditando, deveras constam fatos equivocados eprovados, capazes de corresponder à hipótese de “fundados temores deperseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ouopiniões políticas” (Ext. 1085. Rel. Min. Cezar Peluso. Julgamento em16/12/2009. Tribunal Pleno. Publicação: DJe-067. Divulgação 15.04.2010.Publicação 16.04.2010, grifos do autor)
4 Art. 14 […]I - um representante do Ministério da Justiça, que o presidirá;II - um representante do Ministério das Relações Exteriores;III - um representante do Ministério do Trabalho; um representante do Ministério da Saúde;IV - um representante do Ministério da Educação e do Desporto;V - um representante do Departamento de Polícia Federal;VI - um representante de organização não-governamental, que se dedique a atividades de assistênciae proteção de refugiados no País (BRASIL, 1997)
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Esse entendimento está em harmonia com o entendimento do ACNUR, visto
que o reconhecimento e o acolhimento de refugiados não deve se transformar em
ferramenta de proteção a indivíduos foragidos da justiça por autoria de crimes
comuns. Caso contrário, os institutos de proteção internacional às pessoas
verdadeiramente forçadas a migrar estariam expostos ao risco de enfraquecimento,
uma vez que a sua legitimidade seria objeto de questionamento. Nesse sentido:
Deve-se distinguir perseguição de punição pela prática de crimes comuns.As pessoas que fogem de um processo criminal ou da execução de umapena imposta por infrações dessa natureza, em geral, não são refugiadas.Convém relembrar que um refugiado é uma vítima – ou uma vítima potencial– da injustiça e não alguém que foge da justiça. (…) No entanto, a distinçãoacima pode não ser tão clara em certas situações. (…) Em tais casos, tendoem conta as dificuldades óbvias que se apresentam na avaliação das leis deoutro país, as autoridades nacionais serão, com frequência, levadas a tomaruma decisão tendo por referência a sua própria legislação nacional. Alémdisso, pode ser útil o recurso aos princípios enunciados nos diversosinstrumentos internacionais de direitos humanos, em sobretudo os PactosInternacionais de Direitos Humanos, que têm força obrigatória para osEstados Partes e que são os instrumentos aos quais muitos dos EstadosPartes da Convenção de 1951 aderiram (ACNUR, 2011, pp. 15-16, itens 56,57 e 60)
Com efeito, a recomendação do ACNUR demanda circunspecta análise em
decorrência da abrangente proteção à pessoa humana sacramentada no
ordenamento jurídico brasileiro, em especial na Constituição de 1988, e em diversos
tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo país, em especial o
princípio de non-refoulement.
5 O RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS NOS PROCESSOS DE REFÚGIO
O último Título da Lei nº 9.474/1997 dispõe sobre a urgência e a gratuidade
do processo de refúgio, elementos essenciais para o devido atendimento a pessoas
em situação de desvalimento, além de enfatizar a harmonização da Lei nº
4.974/1997 com toda a legislação internacional de direitos humanos pertinente à
questão dos refugiados.
Ademais, o processo de refúgio no Brasil encontra-se delineado no Título IV
da Lei nº 9.474, de 1997, e na Resolução Normativa nº 18 do CONARE. O mais
importante a respeito do trâmite das solicitações de acolhimento subordinadas a
esses instrumentos é o seu caráter sigiloso e a obrigatoriedade de observação dos
17
direitos humanos no decorrer de todo o procedimento.
Dá-se início ao processo com a apresentação do solicitante ao Departamento
de Polícia Federal (DPF), órgão subordinado, assim como o CONARE, ao Ministério
da Justiça e Cidadania. Frequentemente, o estrangeiro não conhece o instituto do
refúgio ou as proteções oferecidas pelo Estado brasileiro a pessoas que possam ser
enquadradas nessa situação. Cabe, portanto, à autoridade competente proceder à
análise dos relatos individualmente, assim como dos meios probatórios
apresentados, se houver.
Nesse sentido, torna-se essencial que os servidores envolvidos no trato com
os solicitantes recebam treinamento adequado para lidar com a diversidade de
situações apresentadas e possuam o discernimento necessário para reconhecer
conjunturas ensejadoras da salvaguarda disponibilizada pelo instituto do refúgio,
demonstrando a sensibilidade necessária às pessoas alcançadas por sua tutela.
O Protocolo de Refúgio, documento que possibilita ao solicitante obter registro
no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas e no Ministério do Trabalho e Previdência
Social, é emitido pelo próprio DPF quando do início do processo refúgio, e possui
validade de um ano. Estima-se que nesse período a análise tenha sido concluída,
mas, caso contrário, o Protocolo e os demais documentos a ele vinculados podem
ter sua validade estendida até que uma decisão seja proferida.
Recebida a solicitação, o ACNUR é informado para que possa acompanhá-la
e o DPF encaminha o processo para a Coordenação-Geral de Assuntos para
Refugiados (CGARE), também vinculada ao Ministério da Justiça e Cidadania, para
que seja realizada a instrução que fundamentará a análise do plenário do CONARE.
Em caso de confirmação ou denegação administrativa, será o solicitante notificado
para assinar Termo de Responsabilidade ou, se desejar, impetrar recurso, a
depender do caso.
6 OS EFEITOS DA CONDIÇÃO DE REFUGIADO SOBRE A EXPULSÃO E A
EXTRADIÇÃO
A expulsão e a extradição de estrangeiros do Brasil estão regulamentadas
pelos Títulos VIII e IX, respectivamente, da Lei nº 6.815/1980 (Estatuto do
Estrangeiro). Esta Lei é de aplicação subsidiária à Lei nº 9.474/1997, objeto principal
do presente trabalho, que analisa, em seus artigos 33 a 37, os referidos institutos e
18
os seus efeitos em relação às peculiaridades do refúgio.
Concernentemente à extradição, o reconhecimento da condição de refugiado
representa óbice à sua efetivação. Da mesma forma, a existência de procedimento
de solicitação de refúgio caracteriza motivo de suspensão de eventual processo de
extradição. Todavia, para que isso ocorra é necessário observar que os fatos
fundamentadores da aludida solicitação sejam os mesmos ensejadores do processo
de extradição.
Quanto à expulsão, esta é possível caso o refugiado represente ameaça à
segurança nacional ou à ordem pública. Entretanto, importa enfatizar que, mesmo
nesses casos, não será possível expelir um indivíduo para território onde ele possa
vir a sofrer risco de perseguição, por força do princípio de non-refoulement, devendo
tais casos ser analisados com a devida cautela.
Adicionalmente, deve-se atentar para a subsidiariedade da Lei nº 6.815/1980,
instrumento normativo consagrado durante a vigência de um Estado de exceção no
Brasil, comprovadamente violador de uma série de direitos humanos hoje
consagrados pelo país. Por conseguinte, eventuais aplicações dos institutos da
expulsão e da extradição, apesar da previsão legal, devem observar,
prioritariamente, valores consagrados na Constituição de 1988 e em tratados de
direitos humanos ratificados pelo Brasil.
O anacronismo verificado no Estatuto do Estrangeiro é, inclusive, objeto de
discussão no Projeto de Lei do Senado nº 288/2013 (renomeado, na Câmara,
Projeto de Lei nº 2516/2015), a exemplo da ênfase originariamente atribuída a
conceitos abstratos, carregados de viés ideológico, tais quais o de “segurança
nacional” e o de “interesses nacionais”5.
O Projeto de Lei nº 2516/2015, por sua vez, objetivando superar o
entendimento acima exposto, celebra a aplicação de princípios basilares do sistema
internacional de proteção aos direitos humanos, como os expressos no artigo 3º do
aludido Projeto de Lei, o qual enaltece a universalidade dos direitos humanos, o
repúdio à discriminação e o acolhimento humanitário.
Relativamente às alterações propostas, destaca-se, por exemplo, a alteração
do rol de condutas aptas a ensejar a expulsão do estrangeiro. Nesse sentido, o
Estatuto do Estrangeiro dispõe que:
5 Lei nº 6.815/1980, art. 2º: Na aplicação desta Lei atender-se-á precipuamente à segurançanacional, à organização institucional, aos interesses políticos, sócio-econômicos e culturais do Brasil,bem assim à defesa do trabalhador nacional.
19
Art. 65. É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma,atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, atranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujoprocedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que:a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil;b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não seretirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendoaconselhável a deportação;c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; oud) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro(BRASIL, 1980).
Por outro lado, o artigo 526 do Projeto de Lei nº 2516/2015, além de reduzir o
número de situações que desencadeiam a expulsão, confere maior gravidade aos
comportamentos hábeis a motivar a aplicação da mencionada penalidade. Dessa
forma, o Projeto reconhece que o referido instituto não pode ser banalizado, uma
vez que sua aplicação pode resultar em consequências excessivamente danosas ao
indivíduo e à sua família.
7 O RECOMEÇO: A INTEGRAÇÃO SOCIAL DOS REFUGIADOS
São três as soluções duráveis, na forma da Lei: a repatriação, a integração
local e o reassentamento. Em relação à repatriação, ressalta-se o seu caráter
voluntário, exceto nas situações em que, cessados os aspectos objetivos que
caracterizam a concessão do refúgio, o estrangeiro não possa recusar a proteção do
Estado de sua nacionalidade. Outrossim, o reassentamento deve,
preferencialmente, ser caracterizado pela voluntariedade, atentando para a
participação de diversos agentes estatais e, quando possível, de ONGs.
A integração local, por sua vez, é tratada de maneira insatisfatória na Lei nº
9.474/1997, uma vez que eles se restringem a discorrer sobre a leniência quando da
apresentação de documentos expedidos nos países de origem dos refugiados e
quanto à realização de trâmites burocráticos específicos.
6 Projeto de Lei nº 2516/2015, art. 52: A expulsão consiste em medida administrativa de retiradacompulsória do migrante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazodeterminado.
§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativaà prática de:
I – crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão,nos termos definidos pelo Estatuto de Roma; e
II – crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade eas possibilidades de ressocialização em território nacional.
20
Posteriormente, o Brasil ampliou seu compromisso para o alcance de uma
solução durável, com a assinatura do Documento Final da Cúpula Mundial da ONU,
que diz:
Nos comprometemos a salvaguardar el principio de protección de losrefugiados y a asumir nuestra responsabilidad de resolver su gravesituación, incluso apoyando iniciativas destinadas a eliminar las causas delos desplazamientos de refugiados, lograr el regreso seguro y sostenible deesas poblaciones, encontrar soluciones duraderas para quienes llevenmucho tiempo refugiados y evitar que el desplazamiento de los refugiadosse convierta en fuente de tensión entre Estados. Reafirmamos el principiode solidaridad y distribución de la carga y resolvemos apoyar a las nacionesen la labor de asistencia a las poblaciones de refugiados y a suscomunidades de acogida.7 (ONU, 2005, ítem 133, p. 32)
Esse compromisso se mostra mais abrangente e humanitário, ressaltando a
percepção de que a concessão de refúgio não configura um fim em si, uma vez que
as pessoas beneficiadas por essa proteção demandam oportunidades de um
verdadeiro recomeço, independentemente de continuarem no país de acolhida, de
serem reassentadas ou de retornarem ao seu país de origem.
8 O FIM DA CONDIÇÃO DE REFUGIADO
A Lei brasileira nº 9.474/1997 expõe, em seu artigo 38, as condições de
cessação do reconhecimento como refugiado no Brasil, as quais estão relacionadas
à situação do país de nacionalidade ou de residência habitual do refugiado. Assim,
caso tenha cessado a perseguição motivadora da salvaguarda oferecida pelo
governo brasileiro ou caso outro Estado ofereça nova nacionalidade e proteção ao
indivíduo, cessará a condição de refugiado oferecida a ele no Brasil.
A subjetividade relacionada às razões de cessação fazem com que elas
sejam, justificadamente, de esparsa aplicação. Os motivos de perda, por sua vez,
relacionam-se a ações do refugiado objetivamente comprováveis, e independem da
situação em seu país de nacionalidade ou de residência habitual. Todavia, em
7 Comprometemo-nos a salvaguardar o princípio da proteção dos refugiados e a honrar a nossaresponsabilidade de resolver a sua grave situação, o que inclui apoiar iniciativas no sentido deeliminar as causas dos deslocamentos de refugiados, assegurar o regresso seguro e sustentáveldessas populações, encontrar soluções duradouras para aqueles que se encontram em refúgioprolongado e evitar que os movimentos de refugiados se tornem uma fonte de tensões entre osEstados. Reafirmamos o princípio da solidariedade e da distribuição de encargos, e resolvemosapoiar as nações na assistência às populações de refugiados e às comunidades que os acolhem(tradução livre).
21
ambos os casos, como é paradigma da atuação brasileira, continua vedado o non-
refoulement.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, revelou-se como verdadeiro marco da
política nacional de proteção às pessoas refugiadas, em consonância com a ordem
democrática instituída pela Carta Republicana de 1988 e com os instrumentos
internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil. Nessa vertente, tornou-se
parâmetro democrático e humanitário para o reconhecimento e tratamento do
instituto do refúgio.
A partir da edição da referida Lei, o Brasil aprofundou o seu comprometimento
com a questão dos refugiados, liderando iniciativas de salvaguarda a pessoas
vítimas de migrações forçadas. Nesse sentido, a postura legislativa adotada
consubstanciou-se no tratamento conferido aos solicitantes de refúgio oriundos do
Haiti, vítimas do terremoto ocorrido no ano de 2010.
Dados do Comitê Nacional para os Refugiados indicam que, no período de
2010 a 2015, das mais de 80 mil solicitações de refúgio recebidas pelo Brasil, cerca
de 50 mil foram realizadas por indivíduos daquele país (CONARE, 2016). Ocorre
que o fluxo de haitianos para o Brasil evidenciou uma carência normativa no que se
refere à contemplação de vítimas de desastres naturais no conceito de refugiado.
Assim, a despeito dos relevantes avanços instrumentalizados pela Lei nº
9.474/1997, o conceito de refugiado ambiental ainda padece de reconhecimento
formal na legislação interna.
Ademais, as lacunas da Lei nº 9.474/1997, que invocam a sua
complementação pelo Estatuto do Estrangeiro, inibem a concretização do seu
almejado caráter humanista, uma vez que o referido Estatuto, datado de 1980,
mostra-se inadequado em diversos aspectos para tratar da crise humanitária
decorrente do fluxo migratório atual. Nesse sentido, são bem acolhidos os debates
acerca do Projeto de Lei nº 2516/2015, objetivando a substituição do vigente
Estatuto por um instrumento efetivamente voltado à proteção dos direitos humanos.
Por fim, observa-se que a oferta de soluções duradouras para as pessoas que
se encontram em situação de refúgio permanece, no Brasil, sem instrumentos legais
adequados para sua efetiva concretização. Nessa perspectiva, é imprescindível,
22
inclusive, a reavaliação axiológica dos princípios que balizam a matéria, a exemplo
do non-refoulement, tendo em vista que a mera não-devolução dos refugiados a
locais onde corram perigo, sem que lhes sejam oferecidas reais condições de
integração social, poderá resultar na sua submissão a condições de vulnerabilidade
equiparáveis àquelas das quais almejavam escapar.
FEDERAL LAW 9,474, OF JULY 22, 1997: AN ANALYSIS OF THE PROTECTIONOF REFUGEES IN BRAZIL
ABSTRACT
This theoretical study aims, through methodological instruments of bibliographicaland documentary research, to amplify the understanding of the Brazilian policy forrefugees, dealing with the process of historical assimilation of the basic principles ofinternational refugee law by the Brazilian judicial system and also dealing with theBrazilian legislative contributions to the protection system directed at victims offorced migrations. To that end, it is emphasized the importance of Law number9474/1997 and the concepts and instruments ratified by it, demonstrating itsimportance in implementing rights protected constitutionally and offering someproposals to broaden its reach. This is accomplished through the emphasis on threeaspects of the Law in study: the scope of the concept of refugee, the application ofthe non-refoulement principle in Brazil and the importance of achieving durablesolutions for refugees attempting to find solace in the country. Lastly, the paperidentifies relevant perspectives of the Brazilian State compatible with the assumptionof international commitments on refugee rights.
KEYWORDS: Refuge in Brazil. Human rights. Humanitarian Law. Refugee Law. Non-refoulement.
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