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FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DE MOÇOS DE SOROCABA APRENDIZAGEM MOTORA PELA FILOSOFIA DA DIFERENÇA: POSSIBILIDADES E DESLOCAMENTOS PAULO HENRIQUE OLIVEIRA LOPES Sorocaba 2020

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ASSOCIAÇÃO

CRISTÃ DE MOÇOS DE SOROCABA

APRENDIZAGEM MOTORA PELA FILOSOFIA DA DIFERENÇA:

POSSIBILIDADES E DESLOCAMENTOS

PAULO HENRIQUE OLIVEIRA LOPES

Sorocaba

2020

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PAULO HENRIQUE OLIVEIRA LOPES

APRENDIZAGEM MOTORA PELA FILOSOFIA DA DIFERENÇA:

POSSIBILIDADES E DESLOCAMENTOS

Pesquisa apresentada ao programa de

iniciação científica da Faculdade de Educação

Física de Sorocaba.

Orientador: Prof. Dr. Rubens Antonio Gurgel

Vieira.

Sorocaba

2020

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O essencial neles não é que eles querem “voltar”: mas que eles querem –

afastar-se. Um pouco mais de energia, voo, senso artístico: e eles quereriam ir

adiante – e não de volta!

- Nietzsche

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DEDICATÓRIA

Dedico as próximas palavras aos encontros e desencontros que me

fizeram apaixonar pelo problema aqui levantado. Bem como as pessoas que

sempre estiveram a me incentivar das diversas formas possíveis.

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AGRADECIMENTOS

Aproveito esse espaço para lembrar a importância de meus familiares e amigos

que influenciaram a minha permanência nesse projeto, sempre me apoiando e

aconselhando em minhas decisões.

Aos meu professor e orientador Rubens Gurgel que por muitas vezes via em

mim uma capacidade de envolvimento e criação, sempre me convidando a

movimentar o pensamento; ao diretor Mauricio Massari sempre apoiando os trabalhos

e pesquisas de nosso grupo das diversas forma possíveis, e a outrxs professores (as)

que abrigaram em meu universo uma imensa constelação de conhecimentos

Ao Grupo de Estudos em Pedagogia da Educação Física e o Grupo de Leituras

e Debates, que me possibilitaram amizades de pesquisa e grandes aprendizagens,

especialmente os amigos (as): Elder José, Gabriela Andreotti e João Góes. Para todos

os momentos, horários, espaços e situações agradeço tê-los ao meu lado.

A instituição de ensino FEFISO, que me dera a oportunidade de conhecer

excelentes experiências e profissionais. A academia Wfit, na qual trabalhei e

desenvolvi uma enorme rede de conhecimento com diversos e singulares alunos (as).

Aos problemas diários- dores, paixões, responsabilidades, preocupações e

felicidades- que cortaram meu corpo e me fizeram degustar o tempo das melhores e

piores formas possíveis.

A vocês todos (as), que citei e que passaram despercebidos (as), lhes dou o

nome de vida!

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

CAPÍTULO 1 - CAMINHOS MUITOS: PROBLEMA E PESQUISA ..................... 13

CAPÍTULO 2 - APRENDIZAGEM MOTORA: INQUIETAÇÕES E CONVITES .. 15

2.1. A aprendizagem motora .............................................................................. 16

CAPÍTULO 3 - FILOSOFIA(S) DA(S) DIFERENÇA(S): DESLOCAMENTOS .... 22

3.1. A questão do tempo .................................................................................... 24

3.2. Aprendizagem motora e abordagens .......................................................... 28

3.3. Caos: Os mergulhos científicos e filosóficos ............................................... 30

3.4. Os novos paradigmas: mudança, ciência e filosofia .................................... 31

CAPÍTULO 4 - A INVENÇÃO DOS PROBLEMAS: EXPERIMENTAÇÃO DO

TEMPO COMO DEVIR NO PENSAMENTO ...................................................... 34

4.1. Pensamento e produção singular ................................................................ 37

CAPÍTULO 5 - OS AFECTOS: CORPO E PENSAMENTO NA PRODUÇÃO DO

MOVIMENTO ..................................................................................................... 39

5.1. A dimensão motriz da motricidade .............................................................. 40

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 43

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RESUMO

O presente trabalho busca aproximar a literatura da (s) filosofia (s) da (s) diferença (s) às discussões sobre aprendizagem motora. Tenho como método de pesquisa a proposta de “método como acontecimento” desenvolvida por Ribeiro (2016), na qual a autora considera importante a experiência do pensamento para além dos confrontos epistemológicos e aquém das dimensões ético-políticas. A pesquisa baseia-se em leituras de estudiosos do comportamento motor como: Go Tani (2005) e Richard A. Schmidt (2010); e os filósofos/psicólogos (as) Gilles Deleuze (2018), Henri Bergson (2006), Silvio Gallo (2008/2017), e Virginia Kastrup (2001/2007). Relata-se ao final desta pesquisa a possibilidade de pensar a invenção no relacionamento sensório-motor; reivindicando uma dimensão analítica dos afectos neste intermeio.

Palavras chaves: Aprendizagem; Motricidade; Diferença.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the discussions on motor learning in the light of the philosophy of difference. The research methodology utilized in this paper draws on the “method as an event" proposal, developed by Ribeiro (2016), in which the author considers the thought experience to be an important ethical-political construction that stretches beyond epistemological arguments. The research is based on readings by scholars of motor behavior such as: Go Tani (2005) and Richard A. Schmidt (2010); and the philosophers / psychologists Gilles Deleuze (2018),Henri Bergson (2006) , Silvio Gallo (2008/2017), and Virginia Kastrup (2001/2007). The final part of this paper states the possibility of invention in the sensorimotor relationship, claiming an analytical dimension of the affects in the interim.

Kay words: Learn; Motricity; Difference.

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INTRODUÇÃO

Começo esta pesquisa desenvolvendo uma breve apresentação dos

caminhos que me levaram ao problema que proponho. Como um iniciante

científico e estudante de graduação, não me vejo desatrelado dos inúmeros

espaços que atravesso na minha vida cotidiana bem como das relações das

quais crio e sou criado e suas importâncias para a produção deste trabalho.

Esta pesquisa abre espaço para relacionamentos que desde junho de

2019 venho me dedicando e, como em quase tudo na vida, este engajamento

não poderia ser reduzido a uma simples história. Estar em experiência com o

corpo- pesquisador é uma prática de abertura do pensamento e de reformulação

daquilo que vinha tomando como prioridade na vida. Então, posso dizer que não

se tratou de uma escolha de ganho de status, mas sim, em uma mudança na

forma de composição de minha própria relação com o que me faz bem- uma

afirmação.

O interesse em estudar os pensadores da (s) diferença (s) desenvolveu-

se em uma ruptura no meu entendimento sobre o que seria o “conhecimento”.

Recordando-me dos anos no Ensino Médio (2014-2017), na qual havia uma

cobrança muito grande em saber e tirar notas máximas, vivia para reproduzir

aquilo que o programa escolar moderno nos propõe: estudar para ser bom aluno

e bom profissional e bom filho e com um bom emprego... de certo modo, estava

ali para manter a “posição” de bom aluno e a bolsa que mantinha.

Na escola, desenvolvi grande proximidade com as matérias que exigiam

uma reflexão social e encaravam problemas de ordem cultural, gerando

discussões e debates entre os alunos. Todavia, diminuir tais discussões e

resumi-las em provas alternativas, desvalorizando o poder de mudança que elas

podem proporcionam no pensamento faz parte daquilo que um dia ouvi chamar

de: “vestibularização”. A discussão era dada, mas, com outro objetivo: produzir

boas redações e saber identificar as questões corretas nos exames finais.

Apesar de tudo isso, os professores que fugiam do ensino fortemente

embasado no apostilado estão marcados em minha memória. O prazer em

discutir literatura, geografia, história e filosofia faziam-me aproximar das

humanidades e querer um dia poder lecionar. De início, tinha interesse em seguir

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graduação em História, entretanto, a voz de meu pai ecoava em minhas escolhas

com um: “ser professor não dá dinheiro!”.

Em dezembro de 2017, logo após ter finalizado o Ensino Médio, dava

início a minha graduação em Bacharelado em Educação Física na Faculdade de

Educação Física da A.C.M Sorocaba (FEFISO). E qual seria minha relação com

esta área do conhecimento? De certa forma, sempre estive cercado de

profissionais. Tive exemplos na minha família, entre os quais o mais próximo é a

própria figura do meu pai.

Na escola pude experimentar dois profissionais que encaravam a

educação física escolar de maneiras diferentes. No fundamental I a educação

física resumia-se na “hora do lazer”, momento em que os alunos eram liberados

das fatídicas horas em sala de aula e, sob a supervisão de uma pedagoga, eram

liberados para brincar.

No fundamental II, pude experimentar a interação com uma professora

que conseguia oferecer diversas vivências voltadas para as práticas esportivas,

gímnicas e dança.

Já no Ensino Médio, participei da relação básica vôlei-futebol na qual:

meninas jogavam vôlei e meninos futebol, sem espaço para discussões e

abertura para outras perspectivas. Fora da escola, cheguei a participar em

escolas de iniciação esportiva, que gerou uma paixão pelo futebol, ou, melhor

dizendo, pela prática de defender o gol.

Então, adentro os primeiros semestres de Bacharelado em Educação

Física com o mesmo pensamento, estar sempre preparado, saber tudo, tirar boas

notas e estar no controle para, enfim, poder ter tudo aquilo que possa se ter

quando se formar. Desenvolvia-me bem em todas as matérias, entre humanas,

exatas e biológicas. Mas, essa inclinação à conquista ainda me posicionava em

uma relação muito individualista e impossível de sentir as possibilidades que o

Outro possa oferecer além da grande rivalidade das propostas que a maquinaria

política dominante finda, melhor dizendo, é preciso ter o Outro como um inimigo,

aquele que roubará sua vaga, seu respeito, sua importante chance de ser alguém

na vida.

A ruptura com tal ideia que se esboçava em minhas ações se desenvolveu

com o tempo e com o convívio com amigos (as) e colegas no ambiente da

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Faculdade. Como uma ruptura, movimentaram-se em meu pensamento

turbulentas relações com as escolhas que fazia.

Foi no evento MAPA1-2018 que tomei conhecimento dos horizontes da(s)

filosofia (s) da (s) diferença (s), mais especificamente os filósofos Friedrich

Nietzsche e Michel Foucault; sendo nesse mesmo evento convidado pelo

professor Rubens Gurgel a participar do GEPEF-FEFISO2 no qual, por

impossibilidades de conciliação dos horários dos encontros com o trabalho, não

pudera comparecer até então.

As indagações propostas naquele evento não foram fáceis de digerir. Me

inclinavam sempre a duvidar das minhas escolhas e principalmente quando

essas envolviam outras pessoas.

Chegando ao quarto semestre, em uma disciplina optativa3 do curso,

lecionada pelo mesmo professor que me convidara para participar do grupo de

estudos, deparo novamente com as leituras incertas e provocadoras dos textos

desta “perspectiva” filosófica. Com o foco em discutir aprendizagem e diferença

pelo viés “pós-estruturalista’ dos pensadores franceses Gilles Deleuze e Felix

Guattari e os brasileiros Silvio Gallo e Virgínia Kastrup, catabolizou-se em meu

pensar um movimento de vazão; dentre muitas outras propostas, tínhamos como

exercício pensar a descentralização do processo de aprendizagem de um

caminho resumido em “não-saber – saber”, digo - aprender, como estávamos

discutindo, não seria somente a experiência de captar as formas das coisas

como se faz entender nas teorias clássicas e no senso comum; como também,

invoca um choque com a realidade, com o novo, que não se pode resumir às

técnicas e pressuposições morais de uma vida dada ou ainda transcendente

(igualmente designadas a todos os corpos). Uma filosofia que luta pelo mínimo

de possível num mundo que entrega máximos estranguladores – Diria Deleuze.

Foi por essas aulas e com minhas diversas questões que agarrei um

segundo convite. Este agora consistia em participar do PIBIC4 e, se interessado

estivesse, dar início a um projeto de pesquisa.

1 Evento Mostra Anual de Produções Acadêmicas que ocorre na FEFISO. 2 Grupo de Estudos em Pedagogia da Educação Física que ocorre na FEFISO. Link para acompanhamento de trabalhos: http://gepeffefiso.blogspot.com/ 3 A disciplina era optativa pois envolvia questões relacionadas à graduação em Licenciatura em Educação Física, ou seja, que estivessem relacionadas as teorizações escolares. 4 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica.

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Foi neste grupo, constituído por poucas pessoas, que fiz amizades de

pesquisa e de muitos outros lugares. Com eles que venho traçando cada vez

mais meu interesse em seguir pesquisando. Com essas amizades vieram

também outros espaços, novas experiências, pude participar dos congressos XV

Seminário de Educação Física Escolar-USP, VII Seminário Conexões: Deleuze

e Corpo e Cena e Máquina e ... - Unicamp e Mostra Anual de Produção

Acadêmica -FEFISO/2019. Participei também da criação e utilização de

espações virtuais para conexões de conhecimentos e discussões textuais,

destacando aqui o pequeno Grupo de Leituras e Debates 5 constituído por

encontros semanais via Skype durante o período de férias e a finais de semana.

Nos primeiros dias de PIBIC me via perdido com as leituras; o foco

naquele momento era compor encontros que visassem discutir a aprendizagem

nas perspectivas deleuze-guattarianas e movimentar as pesquisas dos iniciantes

e aspirantes. Como um grupo voltado a produzir pesquisa, todos (as) que entram

recebem o convite a participarem e desenvolverem um projeto. Depois de certo

tempo como membro-ouvinte, aceitei ao convite e comecei a escrever. O tema a

ser proposto em meu projeto seria as possíveis conexões entre aprendizagem

motora e filosofia (s) da (s) diferença (s); vi-me sobrevoado um vasto campo

carregado de autores e perspectivas, dentre ciências e filosofias.

Quando terminado o projeto e aceito, uma das impressões que tinha era:

mergulhar minhas leituras em aprendizagem motora como campo do

Comportamento Motor utilizando como referência os teóricos apresentados no

curso de Educação Física e dali formular uma pesquisa centrada em apresentar

os limites e possíveis relações para com a filosofia. Entretanto, entrar em contato

com essas teorias me empurrava ainda mais para um aprofundamento “nômade”

de pesquisa, quase uma viagem sem ideia de onde pararia; impulsionado por

meu interesse singular de conhecimento. Estudar motricidade, comportamento,

diferença e aprendizagem, como veremos a seguir, não coincidiu em um

movimento puramente filosófico, mas ainda, múltiplo e, em pequenos momentos,

inventivos.

5 Grupo de Leituras e Debate- formado em meados de 2019 para discussões potencializadas pela literatura pós-estruturalista. Segue link dos registros dos encontros: https://www.youtube.com/channel/UCm6r0_0wzme_S3BmJMdXwtg

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Como será possível observar nas próximas seções, entenderemos as

práticas cientificas e filosóficas em dois movimentos: analítica da verdade, da

qual têm-se a busca incessante pelo domínio do tempo, tomando-o como espaço

percorrido, o materializando em leis, traduzindo-o em fases, estruturas e metas;

e a ontologia do presente, em que o tempo é tomado como diferença, como

produção de transformações tão dinâmicas que escapam às representações.

Trazer essas palavras para o texto não é uma mera justificativa, mas sim

uma abertura, de como a produção não pode ser desvinculada das

transformações das quais fui e sou ocorrido. Acredito que, além da proximidade

que proporciona, tal descrição auxilia na desfiguração de uma pesquisa

desvinculada do corpo, ou seja, dos prazeres e dores que nela possam ocorrer.

O leitor pode perceber que por muitas vezes opto por manter minha escrita no

plural e poucas vezes pelas frases singulares, de modo a considerar os diversos

ambientes e pessoas que acima dediquei em apresentar.

Com isso, tomamos sob a leitura das vertentes que constituem as análises

da aprendizagem motora e de sua conceitualização como arraigadas aos

pretextos da analítica da verdade, não possibilitando espaço para pensar o

tempo como diferenciador e sua dimensão afectiva. Quando pensada, retornam

a um processo que afirma o âmbito transcendental dos métodos de aquisição de

habilidades motoras. Por esses caminhos, nos debruçaremos a apontar os

limites de tal prática tendo como questão: Como pensar a diferença na

aprendizagem motora com a filosofia da diferença?

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CAPÍTULO 1 - CAMINHOS MUITOS: PROBLEMA E PESQUISA

A presente pesquisa tenta aproximar, ciente das complexidades, os

estudos de aprendizagem motora aos da filosofia da(s) diferença (s). Para isso,

consideramos como via de pesquisa a proposta colocada por Ribeiro (2016)

como: método- acontecimento. Para a autora, a escolha consegue abordar uma

dinâmica ético-político do problema; desenvolve-se não somente num único

âmbito de circulação discursiva, mas também, empenhando-se a propor

mudanças levando em conta os dinâmicos e intensivos encontros dos corpos em

suas diversas realidades:

Ao evocarmos essa imagem do método como acontecimento, buscamos enfatizar um trabalho analítico de experimentação do pensamento que somente se efetua na imanência. Nesse ato, sequestramos as discussões metodológicas da zona de conforto epistemológico e arremessamos à arena-ético político. (RIBEIRO, 2016, p. 75).

Aproximados aos pensadores franceses Gilles Deleuze, Félix Guattari e

Michel Foucault (e outros (as) que trouxeram à tona a discussão sobre a

diferença no ambiente acadêmico, literário, científico e filosófico), nos

desafiamos a provocar possibilidades as teorias do comportamento motor aqui

consideradas.

Reconhecendo a importância de pesquisadores (as) como: Richard

Schimidt, Crain Wrisberg, Richard Magill, David Gallahue, John Ozmun, Jackie

Goodway e, especialmente, Go Tani6 (uma das principais referências de

pesquisas em Comportamento Motor no Brasil) na composição deste campo

científico. Reconhecemos que tratar de tal assunto sem referenciá-los ou até

mesmo rejeitar seus textos e conceitos nos aproximaria de uma prática comum à

modernidade.

Este trabalho opera com "convites insuspeitáveis” que são encontrados

em nossa jornada (não só por leitura dos artigos presentes na bibliografia como

também nos encontros da vida) e, como nos apresenta Gallo (2017):

possibilitamos mudanças menores, sem perspectivas emancipatórias. Lançamo-

6 Go Tani é um dos pioneiros dos estudos do Comportamento Motor no Brasil, será aqui nossa principal referência.

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nos a problematizar a literatura da aprendizagem motora com a (s) filosofia (s)

da (s) diferença (s). Mas exatamente o que se problematiza nesta pesquisa? De

certo o que está parado, ou seja, aquilo que se encontra sob controle.

Como pode ser visto a aprendizagem motora como campo do

Comportamento Motor possui uma vasta literatura que busca compreender e

analisar através do comportamento observável e, mais recentemente,

aproximasse de estudos dos comportamentos não observáveis. Entretanto,

como ressaltado por Tani (2005), a tentativa de estabilizar o processo de

aprendizagem gera paradigmas que a neutralizam.

Já quando em leitura das observações referentes a aprendizagem

inventiva proposta por Kastrup (2001, p.18), vemos que:

[...] se por um lado a aprendizagem é reconhecida como um processo de transformação, seja do comportamento, seja da cognição, o que aponta para sua dimensão temporal, por outro a empresa científica busca as leis e os princípios invariantes que regulam este processo de transformação temporal.

Entendemos que: se aprender escapa às tentativas ambiciosas de

controle e exatidão, resistir torna-se uma possibilidade (GALLO, 2017). Estamos

em busca dessas possibilidades, resistir pode nos levar a diferentes caminhos e

novas realidades sobre a aprendizagem motora, assim podemos deslocá-las em

novos ambientes. Todo este intenso movimento pode ser observado nos estudos

da (s) filosofia (s) da (s) diferença (s), entretanto, é um caso que evoca a

produção de controle aos estudos da aprendizagem motora - um registro desta

situação pode ser observado pela acentuada existência de: sistemas, metas,

desempenho, fases, feedbacks, alvos, etc. As palavras a seguir pretendem

introduzir algumas inquietações deste encontro.

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CAPÍTULO 2 - APRENDIZAGEM MOTORA: INQUIETAÇÕES E CONVITES

Para compressão mínima de aprendizagem motora alguns conceitos

serão abordados. Entenderemos inicialmente as dimensões do Comportamento

Motor (CM). Para Tani (2008), o CM pode ser explicado como uma área de

investigação científico-acadêmica composta por três campos denominados:

Desenvolvimento Motor, Aprendizagem Motora e Controle Motor. Essas áreas

buscam assim compreender o significado, mecanismo e processo de mudanças

referentes ao comportamento motor humano. Os estudos sobre o CM datam de

um longo tempo. Pesquisas em Aprendizagem Motora remontam ao final do Séc.

XIX provenientes da Psicologia, o que demonstra a consolides desta área do

conhecimento, tendo mais de cem anos de produção e com presença nos

diversos cursos de Educação Física e afins.

Em uma compreensão histórica desta área de pesquisa Fairbrother (2012,

p.18) cita que:

O campo do comportamento motor emergiu em grande parte da psicologia experimental em razão dos esforços para solucionar e treinar eficientemente os pilotos da Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia, o comportamento motor se relaciona a uma ampla variedade de campos que também envolvem os estudos do desempenho humano. Estes incluem os fatores humanos, a terapia ocupacional, a educação física, o treinamento, a ciência do exercício e a fisioterapia.

Já segundo Tani (2006), existem três problemas que norteiam os estudos

do CM, são eles: os mecanismos responsáveis pela produção do movimento,

objeto de estudo do Controle Motor; a compressão dos processos subjacentes

resultantes da prática que influenciam no comportamento motor, abordado pelas

pesquisas em aprendizagem motora; as mudanças motoras ocorrentes no

indivíduo ao longo do ciclo da vida, objeto de investigação de pesquisas em

Desenvolvimento Motor.

No Brasil, o campo ganha visibilidade com a chegada da obra “Educação

física escolar: Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista”, do qual

Tani (2008) apresenta como uma relevante colaboração frente a um cenário de

escassez teórica da Educação Física Escolar.

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A abordagem desenvolvimentista se preocupou em apresentar, tendo

como base os estudos sobre o comportamento motor, vias de compreensão da

“[...] criança em movimento, diagnosticar suas capacidades e definir linhas de

ação em programas de atividades motoras com fins educacionais” (TANI, 2008,

p. 313). Nesse sentido, a abordagem fornece material para a prática pedagógica

distanciando-se da abordagem anterior, afeita as demandas esportivas e de

condicionamento físico.

Faz-se relevante ressaltar que ao falarmos de aprendizagem motora

estamos conversando com uma área do conhecimento com mais de cem anos de

existência e com significativa participação nos cursos de Educação Física,

fisioterapia, entre outros. Portanto, seu processo de colaboração ao

desenvolvimento dos sentidos e objetivos da Educação Física possui uma

concreta e estável posição.

Opto então por percorrer alguns sentidos que o conceito de aprendizagem

motora perpassou. Estando ciente das possíveis limitações encaradas,

entretanto, com olhar atento as diferentes abordagens deste “fenômeno”,

encarando o percurso com curiosidade e interesse pelas mudanças.

2.1. A aprendizagem motora

Ao nos direcionarmos ao Dicionário de etimológico Nova Fronteira da

língua portuguesa (1994) vemos que a palavra “aprendizagem” provém do latim:

apprehendere, que por sua vez significa “apanhar”; enquanto “motor”, advém,

também do latim, de: motor- oris, ou seja: o que faz mover. Assim podemos

entender de maneira introdutória e simplista, que, qualquer campo do

conhecimento que se dedique a comentar sobre a aprendizagem motora, passe

a construir sentidos que expliquem como os seres vivos podem apanhar, ou

ainda, apreender, o que faz, ou o que produz, o movimento.

Em Magill (2000, p.136), o conceito de aprendizagem é definido como: Uma alteração na capacidade de uma pessoa em desempenhar uma habilidade, que deve ser inferida como uma melhoria relativa permanente no desempenho, devido à prática ou a experiência.

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Para o autor, a avaliação dos níveis de aprendizagem ocorre pelo

comportamento observável - desempenho. Sendo assim, a aprendizagem não é

passível de uma análise direta dependendo sempre das características

observáveis desempenhadas pelo indivíduo (MAGILL, 2000).

Já a Aprendizagem Motora é explicada por Schmidt e Wrisberg (2008,

p.213) como “as mudanças, associadas às práticas ou experiências, em

processos internos que determinam a capacidade de um indivíduo para executar

uma habilidade motora”.

Em leitura dos apontamentos anteriores, vemos que a aprendizagem

motora se desdobra em razão do tornar-se habilidoso, ou seja, um processo

identificado na transformação do comportamento observável, processo esse da

consideração de seus estudos como campo do comportamento motor como visto

em Fairbrother (2012) e Tani (2006 e 2008). Ora, talvez aqui encontremos um

convite - como pensar a Aprendizagem Motora fora da ordem “causa” e “efeito”

concretizada pelo reconhecimento dela como processo temporário que se leva

na aquisição de habilidades motoras?7

Magill (2000) definirá habilidade como uma forma de resposta a tarefa que

por sua vez possui uma finalidade específica a ser atingida. Já as habilidades

motoras são vistas pelo autor como habilidades que exigem a movimentação

consciente do corpo e/ou de seus membros para atingir objetivos com maior

destreza. Devido à existência de diversas habilidades motoras diferentes o autor

considera a necessidade da sistematização como forma de encontrar suas

semelhanças, sendo assim, as categoriza em: habilidades grossas e finas, de

acordo com o número de grupos musculares envolvidos nos movimentos;

habilidades discretas e contínuas, pela a existência de pontos iniciais e finais de

movimento; habilidades abertas e fechadas, de acordo com a estabilidade do

ambiente.

Já quanto à experiência de aprendizagem, Schmidt e Wrisberg (2010, p.

213) a definem como: “situações nas quais as pessoas fazem tentativas

deliberadas para aumentar sua performance em um movimento ou ação

particular”. Os autores destacam ainda que esta experiência pode envolver a um

ou mais aprendizes e que nem sempre conta com a orientação de um instrutor,

7 Esses convites serão retomados e problematizados com o decorrer do trabalho.

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terapeuta ou técnico. Evidenciam quão importantes é aqui identificado como

“profissional do movimento,” estar ciente de que a experiência de aprendizagem

pertence ao aprendiz. Afirmam que:

Todo aprendiz aborda uma nova situação de aprendizagem de habilidades com alguma ideia que quer realizar. A experiência de aprendizagem é uma interação entre o instrutor e o aprendiz que deveria focar no alcance de metas do aprendiz (SCHMIDT; WRISBERG, 2010, p.213).

Seguindo esta linha de raciocínio, esclarecem que a produção de metas

de aprendizagem (pelo aprendiz) é um importante requisito para a veracidade

deste processo. Assim nos é apresentado uma sequência de metas, sendo elas:

metas de resultado, metas de performance, metas de processo, habilidades-

alvo, comportamento-alvo e contexto-alvo (SCHMDT; WRISBERG, 2008).

Aqui, outro convite nos é colocado- a quem pertence a experiência de

aprendizagem motora? Este convite é provocado pela incerteza do

pertencimento que interessa aos estudos da aprendizagem motora quanto

campo do Comportamento Motor. Vemos um jogo entre “aprendiz” e “aprendiz-

instrutor”, que resultam em estabelecimento de metas em função das já

apontadas “melhoras de performance” e “habilidades motoras”. Temos que: a

aprendizagem motora está para o aprendiz, assim como o aprendiz (visto aqui

como “o que quer aprender”) está para as metas e as formas de alcançá-las está

para a atenção dos instrutores quanto ao interesse dos aprendizes. O que se

nota é uma situação paradigmática quando a experiência de aprendizagem em

função da ordem dos fatos e identificações. Como então conseguiríamos

deslocar essa manipulação do pertencimento?

Em uma outra perspectiva Tani (2005) compreende o homem como um

“sistema aberto” por estabelecer relações de mudança com o meio ambiente,

sendo assim, é importante que tenha a capacidade de se adaptar a essas

mudanças. Descreve ainda que quando um sistema aberto é perturbado existem

duas formas de resposta - a) tentar neutralizar a perturbação ou b) fazer da

perturbação uma fonte de ordem em direção a estados mais elevados de

complexidade. Nesta concepção, a aprendizagem motora ganha a compreensão

de “... processo de solução de problemas motores” (BERNSTEIN apud TANI,

2005, p.65).

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Tani (2005) ainda observa que a formação de habilidades motoras possui

uma complexidade, aponta que as teorias correntes em aprendizagem motora

se debruçam em explicar o processo de estabilização da performance, sendo

incapazes de produzirem novas estruturas. A automatização do movimento é

dado pelo autor como um exemplo de neutralização do processo de

aprendizagem. Ainda, acrescenta que estes desencontros produzem

paradigmas que, por sua vez, trazem novas questões aos estudos de

aprendizagem motora; dessa maneira a concepção do processo de

aprendizagem motora como “processo adaptativo” parece primordial para

transpassar as situações paradigmáticas, cambiando a atenção de suas

pesquisas à desordem e aos inúmeros fatores que afetam a aquisição de

habilidades motoras, gerando assim um paradoxo.

Como prerrogativa desta mudança, acrescenta novas questões que,

segundo o autor, guiam as preocupações no Laboratório de Comportamento

Motor (LACOM), sendo algumas delas: “como explicar os resultados paradoxais?

Como explicar que outro fator relacionado à desordem, qual seja o ruído ou

perturbação, facilita a aprendizagem além de prejudicá-la?” (TANI, 2005, p. 66).

Para a organização desse percurso teórico da aprendizagem motora

Pereira (2010) e Gonzalez (2015) esboçam uma interessante visão histórica.

Para Pereira (2010), é possível dividir as abordagens teóricas em

aprendizagem motora em “Teorias Clássicas” e “Teorias baseadas em sistemas

dinâmicos”. Sobre suas diferença temos que: a primeira considera que a

realimentação sensorial, ou seja, a informação recebida pelo efetor da resposta

dada pelo receptor, como fonte principal de seu desenvolver; a segunda, por sua

vez, considera que os movimentos são resultantes de uma complexa relação

entre o ambiente e o indivíduo (PEREIRA, 2010).

Já Gonzalez (2015) pontua-nos três “áreas” do conhecimento que se

dedicam a explicara a aprendizagem, tornando-se relevantes também aos

estudos dos fatores que afetam a aprendizagem motora, são elas: o

behaviorismo, que considera a aprendizagem como resultado e uma mudança

no comportamento; o cognitivismo, que considera a aprendizagem como um

processo onde os conhecimento já adquiridos se relacionam com as novas

informações já existentes, produzindo assim um significado; e o construtivismo,

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na qual a aprendizagem é vista como um processo de relação professor-aluno,

“[...] Fatores como experiência de vida, clima psicológico do ambiente, interação

professor/aluno, são importantes para a aprendizagem” (GONZALÉZ, 2015, p.1).

Entretanto, a autora ainda pontua que, apesar destas se dedicarem a

explicar os fatores que afetam a aprendizagem motora, existiria uma limitação

no que se refere aos processos internos de efetuação de movimentos. Desse

modo, ainda por Gonzalez (2015), vemos a aprendizagem motora não somente

como um campo científico, como também, um campo de investigação que tem

por objetivo averiguar: “primeiro, as alterações cognitivas que ocorrem em

decorrência da prática, ou seja, como as pessoas partem de um estado que não

dominam uma habilidade e, após um período de prática, passam a executá-la

com grande proficiência; segundo, quais os fatores que afetam a aquisição dessas

habilidades.” (GONZALEZ, 2015, p. 1).

Assim sendo, das teorias clássicas as teorias mais recentes em

aprendizagem motora vemos uma mudança das maneiras pela qual se acessava

este fenômeno. Um salto que, primeiramente, evidencia um “abandono” da ideia

de aprendizagem motora como um processo de estabilidade do movimento,

passando a uma aprendizagem motora que se interessa em abordar além do

processo de estabilização o processo de adaptação, interligando-se a um sistema

dinâmico, com uma intensa interação entre indivíduo e ambiente.

A maioria das teorias da aprendizagem motora compreendem a aquisição de habilidades à partir de um modelo de equilíbrio. A partir disso, um modelo de não-equilíbrio em aprendizagem motora tem sido proposto, que envolve duas fases: estabilização e adaptação. A estabilização ou automatização, sugerida como fase final da aprendizagem nos modelos de equilíbrio, nesse modelo representa apenas um estágio dentro de um processo contínuo de mudança, atingida por meio do feedback negativo, que resulta na padronização espaço-temporal da ação. A inconsistência inicial e a falta de coordenação dos movimentos são gradualmente eliminadas, dando lugar a movimentos coordenados e precisos. Nesse momento a função estabiliza e infere-se que uma estrutura foi formada. Contudo, em uma perspectiva de não equilíbrio, a aprendizagem motora não se encerra com a estabilização ou automatização, mas é vista como um processo contínuo, pois quando uma estrutura já existente é perturbada, se modifica, e a sua reorganização leva e um aumento de complexidade, quando ocorre a segunda fase: adaptação. (GONZÁLEZ, 2015, p.1)

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O artigo produzido por Choshi (2000) evidencia esse fator em uma

interessante “análise”. O autor se propõe a pensar a aprendizagem motora como

um “problema mal – definido ”, ou seja, em suas palavras: “ A solução de

problemas na aprendizagem motora apresenta as seguintes características: não

possuem uma solução a priori, há várias soluções para o mesmo problema e as

mudanças nas soluções são descontinuas.” (CHOSHI, 200, p. 16).

Portanto, o que pode ser observado nas seções a seguir será uma tentativa

de aproximação entre esta concepção de aprendizagem motora e os estudos

organizados pela pesquisadora Virginia Kastrup, tendo enfoque para suas

produções ligadas a filosofia (s) da (s)diferença (s)8.

8 Cabe ressaltar que esse estudo é uma experiência, portanto, quando “inauguro” esse encontro tenho por consciência que as fontes teóricas da aprendizagem motora podem divergir com as fontes teóricas da aprendizagem inventiva (conceito forjado pela Virginia Kastrup). O que está “em jogo” então é um possível contato entre estranhos que pode agradar ou não a quem lê. Acrescento também a aparição de alguns “pensadores comuns” as duas perspectivas, como Georges Canguillem, Humberto Maturana e Francisco Varela; isso, por sua vez, não significa um paralelismo, mas, uma possibilidade de composição mútua em minha pesquisa.

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CAPÍTULO 3 - FILOSOFIA(S) DA(S) DIFERENÇA(S): DESLOCAMENTOS

Traremos nesta seção uma outra maneira de se entender a

aprendizagem. Deve ser observado pelo leitor que o desenvolvimento desta não

corresponde, ou ainda, não pertence a evolução teórica da aprendizagem

motora. Veremos uma diferente maneira de se tratar a aprendizagem que não

pertence a nenhuma instância elencada acima (behaviorismo, cognitivismo ou

construtivismo) embora, por muitas vezes é usada como fonte de crítica a estas.

Em leitura de Gallo (2008) somos propostos a pensar sobre duas

perspectivas filosóficas distintas em relação as abordagens e construção do

conhecimento. O autor nos apresenta essas suas vias de composição pela

“maneira” que cada uma tematiza o “outro” (ou Outro). Então, temos que, na

história da filosofia, ou ainda na filosofia da educação, existem pelo menos duas

maneiras de se tratar as relações para com o Outro. São elas:

• O outro tomado como representação, que redunda que o outro nada mais é do que o mesmo; • O outro tomado enquanto tal, por si mesmo o que significa pensar o outro como diferença (GALLO, 2008, p.02).

A primeira se desenrola pela preferência da imagem do pensamento, ou

seja, um modo rígido de se conceder o mundo. Sobre isso, ainda Gallo (2008,

p.2) considera que isso “[...] significa dizer que penso, tematizo, concebo o outro

sempre na interioridade de meu ser, na interioridade de meu pensamento. O outro

é um conceito, um efeito do pensamento”.

Essa construção do outro pelo meu “eu” é marcada como condução da

ciência moderna e da filosofia da representação que objetiva a busca do absoluto

(essencialidade e verdade) sobre a natureza e as operações humanas. Para este

movimento, as mudanças ocorrentes ao outro estão sob efeitos do domínio

racional, assim sendo, uma alteridade planificada, passível de previsão.

Já a segunda, tem-se como principal expoente a filosofia de Friedrich

Nietzsche. Com ele temos que:

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No “em si” não há nada de associações causais, “necessidades”, de “não liberdade psicológica”, aí não segue o “efeito à causa”, não rege nenhuma “lei”. Fomos nós somente que inventamos as causas, as sucessões, a procidade, o motivo, a finalidade (NIETZSCHE 2017, p.43).

Inspirado em Nietzsche, ocorre na França uma grande produção filosófica

em meados dos anos 1960. Podemos nos referir aqui a Gilles Deleuze e Félix

Guattari, (GALLO, 2017) importantes pensadores para o decorrer deste trabalho.

Seguindo por Schérer (2005), observamos uma “crítica” ao Uno construído em

torno do “eu” - seguridade de si. Com o “eu” constrói-se o mundo da certeza,

“mundo verdadeiro” que, para o autor, sedentariza e dogmatiza possibilitando a

desconsideração dos múltiplos caminhos. Esse sedentarismo colocado pelo

autor é enfrentado pelo deslocamento do ser deste entorno exatificado.

Esta intensa produção filosófica nos provoca a refletir sobre um mundo

múltiplo, recusando a idealização do Uno, onde se pretende pressupor uma

verdade. Assim podemos pensar nas diferenças que esses múltiplos mundos

nos propõem, estamos aqui nos aproximando da “filosofia da diferença”. Diante

disso, aqui nos debruçamos a nos afastar do “pensamento por imagem”, que

resulta nas reflexões, estagnação e sedentarismo do pensamento como já

exposto aqui.

Por essa via a “aprendizagem” também é tematizada. Para Deleuze

(2018), a aprendizagem não se resume em uma passagem entre dois estados,

o que resumiria o processo em uma mera “aquisição” ou “causalidade”, mas,

corresponde a passem vivenciada, o intermediário experimentado.

Na esteira desta proposta, a pesquisadora e psicóloga Virginia Kastrup

(2001; 2007) desenvolve um trabalho conjecturando uma proposta que possibilite

pensar uma aprendizagem para além da disposição do “inteligível”. Nesse

sentido, somos convidados a pensar com o conceito de “invenção”, ou ainda,

“aprendizagem inventiva”; na qual a cognição depara-se com aquilo que a diverge

de suas funções imediatas, “obrigando -a” a experiência com um tempo em

diferença, “Tal aprendizagem não se esgota na solução dos problemas imediatos,

mas prolonga seu efeitos e sua potência de problematização.” (KASTRUP, 2001,

p.17).

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3.1. A questão do tempo

Como forma a investigar esta situação estagnada produzida na filosofia e

ciência moderna, Kastrup (2007) traz deslocamentos a fim de descobrir o cerne

destas formulações na psicologia cognitiva. A autora nos apresenta o escrito

“Qu’est-ce que les Lumières?” - O que é o iluminismo? (1984) – no qual Foucault

comenta uma obra de Kant (de mesmo título na tradução). Nela Kant teria

apresentado uma reflexão distinta até então formuladas em seus escritos

maiores, em que a “filosofia é afetada e levada a pensar por questões do seu

próprio tempo” (KASTRUP, 2007, p. 29). Assim o filósofo francês observa:

Mas existe na filosofia moderna e contemporânea um outro tipo de questão, um outro modo de interrogação crítica: é esta que se viu nascer justamente na questão da Aufklärung ou no texto sobre a revolução; “O que é nossa atualidade? Qual é o campo atual das experiências possíveis?”. Não se trata de uma analítica da verdade, consistiria em algo que se poderia chamar de analítica do presente, uma ontologia de nós mesmos e, me parece que a escolha filosófica na qual nos encontramos confrontados atualmente é a seguinte: pode-se optar por uma filosofia crítica que se apresenta como uma filosofia analítica da verdade em geral, ou bem se pode optar por um pensamento crítico que toma a forma de uma ontologia de nós mesmos, de uma ontologia da atualidade (FOUCAULT, 1984, p. 08).

Kastrup (em leitura de Foucault) nos apresenta Kant como ponto de

inauguração e bifurcação de linhas distintas na filosofia- a analítica da verdade

e a ontologia do presente. A primeira anuncia o término da metafísica,

valorizando a articulação argumentativa e o seu desenvolvimento inter-

relacionado. Este movimento é destacado por Comte que cita a ciência como

substituta da filosofia. Desta forma, Kastrup (2007) entende a psicologia como

analítica da verdade em busca não de prová-la, mas sim, de reconhecer as vias

que levam a cognição. Este movimento na psicologia a caracteriza como ciência

da cognição já que: sempre está em busca de processos invariáveis tendo como

norteamento de sua problemática científica- o que é verdadeiro e o erro; sendo

herdeira do positivismo de Comte e a analítica da verdade, buscará na cognição

o que ela tem de ordem da necessidade e de repetição. Kastrup (2007, p.36,

p.40) destaca que:

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Nesse caminho, busca determinar as condições do conhecimento verdadeiro que aí se confunde com o emprego de procedimentos e métodos da ciência. A analítica da verdade estuda as representações e suas condições, encontradas no domínio do sujeito, do método ou da linguagem. Para sustentar as representações, essas condições devem ser invariantes, universais e necessárias, à maneira da ciência.

A segunda é denominada por Foucault como ontologia do presente, na

qual se encontramos como problema central: o tempo - seja como investigação

histórica (Marx, Hegel e a Escola de Frankfurt) ou como imprevisibilidade.

(Nietzsche, Bergson). Conectando às palavras de Foucault, Kastrup aprofunda-

se trazendo os pensamentos do filosofo Henry Bergson, apresentando-o como

um filósofo do devir, não como uma característica que o identifica, mas como

quem conduzia suas teses paralelas às descobertas científicas, tomando como

base o tempo extemporâneo. Kastrup (2007) nos apresenta o pensamento

bergsoniano como restaurador da aproximação entre ciência e a filosofia a fim

de que a primeira ultrapasse seus limites e sua dependência dos quadros

referência traçados pela inteligência. A autora aponta que: “... a ontologia do

presente constitui-se como crítica de todas as categorias invariantes

“(KASTRUP, 2007, p.40), e em seguida:

Procurando explicar o que seria o ultrapassamento dos limites da ciência, indica que o principal limite é transpor o cientificismo ou intelectualismo. Este se revela no encaminhamento do trabalho científico a partir de problemas já colocados, como se estes, formulados pela linguagem e traduzidos em conceitos de inteligência, correspondem ao real. (KASTRUP, 2007, p.42)

Bergson problematiza a linguagem intelectiva, nos apresentando um

método que esteja atento à fluidez da própria vida, sendo a intuição o que

possibilita o acesso ao que é real. Nesta ideia, o tempo está tomado pela sua

duração e não com espaço percorrido (VILHENA, 2017).

Assim, se observa que a teoria bergsoniana consiste em eregir um novo método pera a filosofia, isto é, uma nova metafísica capaz de abordar questões mais significativas decorrentes da existência: a vitalidade e seu brotar, sua fluidez, o movimento impregnado ao ser. (VILHENA, 2017, p. 191).

E seguida, outros fenômenos da modernidade nos é apresentado pela

autora, agora com Latour. O primeiro deslocamento nos diz respeito ao que

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Latour conceitua como práticas de purificação, onde se privilegia separações por

identificação do sujeito e de um objeto “... homens e coisas, agora reunidos sobre

o signos de representação, pois podem ser purificados e circunscritos em suas

identidades” (KASTRUP, 2007, p. 46).

A segunda é colocada como “hibridização”, esta ocorre em aversão à

modernidade, sendo “seres que furtam à representação, que resistem a redução

das formas puras” (KASTRUP, 2007, p. 46). Desta forma, vivem em uma

constante guerra dentro a modernidade e seus híbridos que, por sua vez, fogem

de suas categorizações criando assim o chamado aqui por Latour como

“paradoxo da modernidade” (KASTRUP, 2007).

O paradoxo moderno consiste na sua criação relativista, onde ora se

intenta a pensar os híbridos ora se guia a evitá-los e reduzi-los a fato um regime

das representações. Sobre esta questão Deleuze (1983) pontua que a revolução

da “relatividade”, apesar da tentativa de inverter a ordem de análise, que não

dependem mais de instantes privilegiados (poses) mas sim de instantes

quaisquer (cortes da realidade) podendo assim interpretar o tempo como uma

“variável independente”, retornando o tempo a um instante qualquer para que

possa ser analisado. Ainda sobre tal inversão, cita que:

Qual o interesse de um tal sistema? Do ponto de vista da ciência, muito superficial. Pois a revolução científica era de análise. E se era necessário reportar o movimento ao instante qualquer para poder analisá-lo, não se percebia o interesse de uma síntese ou de uma reconstituição fundada no mesmo princípio, a não ser um vago interesse de confirmação. (DELEUZE, 1983, p.11).

Aproximados aos deslocamentos de Kastrup, observamos os preceitos da

psicologia comportamental que se utiliza da análise experimental do

comportamento, ou seja, o que se é observável9. A mesma encontra-se em

busca da “identificação das contingências” e funcionalidades na relação homem-

ambiente, por isso, observamos que esta psicologia, assim como a psicologia da

9 Fui alertado sobre meu desconhecimento para com uma parte das teorias do Behaviorismo. A crítica recebida propunha considerações do pensador norte-americano Skinner e suas reflexões sobre comportamentos não observáveis. Admito a falta, entretanto não me limito a ela. Tratar este campo de pesquisa como “inimigo” fora, boa parte do trabalho, um motivo. Acrescento que, com o tempo, aprendi os perigos de tal exposição. Mas, acrescento que a proposta deste trabalho continua interessante a medida que nos movimentamos a pensar conexões. Recomendo aos leitores o acesso ao site Razão Inadequada, da qual comentam as possíveis conexões entre Espinoza e Skinner. Link para acesso: https://razaoinadequada.com/2016/07/10/espinosa-e-skinner-corpo-organismo-conatus/

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cognição, abraça-se na analítica da verdade já que procura nestas relações

humanas a criação de teorias funcionais- úteis- a fim de tornar perceptíveis os

acontecimentos (TODOROV, 2007). Desta forma o que será reconhecido como

conhecimento científico é o que funciona.

Como visto, a psicologia experimental exerce influência sobre o

desenrolar acadêmico do Comportamento Motor que, por sua vez, herda as

concepções analíticas desta ciência especialmente quanto a aspectos do

desempenho, percepção e aprendizado (FAIRBROTHER, 2012). Entretanto, o

objeto de estudos do Comportamento Motor é regido pela busca da clarificação

do movimento humano. Fairbrother (2012) cita ainda que as disciplinas

subjacentes condizem com esse objeto de estudo e que as três (controle motor,

desenvolvimento motor e aprendizagem motora) interessam-se pela

especialidade dos movimentos e clarificação dos aqui chamados de distúrbios

do movimento.

Como “filha” de ciência analítica moderna, os estudos correntes em

aprendizagem motora exploram em suas próprias concepções- ou melhor, nas

concepções científicas dos estudos do comportamento motor humano - a fim de

operar na realidade, entretanto, como já observado por nós e pelos próprios

estudiosos do comportamento motor, essas estruturas não dão conta de explica-

la. Como vemos em Gallahue, Ozmum e Goodway (2013, p.22) neste trecho que

condensam os objetivos das pesquisas em desenvolvimento motor:

O desenvolvimento motor é um processo contínuo que começa na concepção e cessa com a morte. Ele envolve todos os aspectos do comportamento motor humano, em consequência, só pode ser separado em “domínios”, “estágios” e “faixas etárias” de forma artificial.

Assim como Kastrup, que encontra na psicologia cognitiva formas

invariáveis de interpretação dos processos cognitivos que por sua vez descartam

o tempo como “duração” - tomando-o como espaço, formulando leis invariantes,

rejeitando as possibilidades e a invenção do ser, em prol da inteligibilidade e

cientificismo - encontramos nos estudos da aprendizagem motora sua

concepção como processo do inabilidoso ao habilidoso, generalizando sua

ocorrência. Entretanto, estas formulações são abaladas ou, como Tani (2005)

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verifica: desequilíbrios que, de forma insistente, instigam a formação de outras

estruturas. Assim, aqueles que queiram se identificar como “profissionais do

movimento” devem dominar estes caminhos ou aplicá-los na prática.

3.2. Aprendizagem motora e abordagens

A abordagem sistemática deste campo é então descrita como:

Retornando o pressuposto de que é essencial a qualquer pesquisador estar consciente e em sintonia com as mudanças paradigmáticas, cremos que, hoje, o grande desafio do Desenvolvimento Motor como um sistema aberto hierárquico. Contudo, conscientizar, questionar e avaliar as implicações da mudança de paradigma na ciência não é um processo fácil- requer muito esforço. (TANI, CORRÊA, BENDA; MANOEL, 2005, p. 57).

As divergências dos resultados obtidos nos laboratórios em relação às

pesquisas de campo geram resultados paradoxais, encaminhando novas

pesquisas e a compreensão de que o campo possa necessitar de novas

metodologias (UGRINOWITSCH; MANOEL, 2005, p.219).

Apesar das pesquisas sobre as situações caóticas da realidade serem o

motor para esta área, a formação de novas perspectivas teóricas sobre a

aprendizagem motora provém da relatividade, ou seja, outras especulações

sobre a natureza da realidade que, por sua vez, são ultrapassadas por uma

natureza que, como apresenta Bergson, encontra-se em perpétuo devir radical

(BERGSON, 2005, p. 297). Os métodos utilizados pelos cientistas encontram-se

muitas vezes picotados pelos retornos que as pesquisas de campo fornecem e

pouco se questionam sobre as intensões e sentidos dados pelos próprios

pesquisadores.

Para isso, Bergson (idem, p.296,297) nos adverte:

Aliás, a irrealidade da qual se trata aqui é puramente relativa à direção na qual se engajou nossa atenção, pois estamos imersos em realidades e delas não podemos sair; só que, quando a realidade presente não é aquela que procurávamos, falamos da ausência da segunda ali onde constatamos a presença da primeira [...] A ideia de desordem, portanto, é inteiramente prática. Corresponde a uma decepção determinada de uma expectativa determinada e não designa a ausência de toda

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ordem, mas apenas a presença de uma ordem que não oferece interesse atual.

O caos, aparece como o “algo” anterior ao momento de adaptação, que,

por sua vez vira um instante de mensuração quando se presume perguntar

“como este pode facilitar o processo de aprendizagem motora?”. Os abalos não

são desconsiderados desse processo, entretanto, o fato de suas pesquisas se

debruçarem em comprovar a natureza dos desequilíbrios dentro de testes

laboratoriais, acabam por restringir os abalos à momentos pressupostos e

delimitados por quem observa e os testa. Ou seja, o que é equilibro (ou o que

equilibra) e o que é desequilíbrio (ou o que desequilibra) ainda se encontra

restrito àquele que constrói o ambiente em que se pesquisa.

Apesar de tal inversão compreender a importância dos desequilíbrios no

processo de aprendizagem motora, ainda é de interesse comprovativo quando

se questionam: como explicar que outro fator relacionado à desordem, qual seja

o ruído ou perturbação, facilita a aprendizagem ao invés de prejudicá-la?

O caos, os distúrbios, a diferença sempre estiveram representados em

suas pesquisas, entretanto há uma necessidade também de comprová-las,

representá-las ou então testá-las. A busca agora é outra- a natureza da

perturbação e, como aponta Bergson (2005, p. 296): “Mas quando, especulado

sobre a natureza do real, ainda olhamos do modo pelo qual nosso interesse

prático nos pedia para olhá-lo, tornando-nos incapazes de ver a evolução

verdadeira, o devir radical”.

Compreendemos que os estudos em aprendizagem motora se

apresentam por não entender seu processo como uma experiência pautada pela

busca da estabilidade, mas como um processo contínuo. Entretanto

consideramos que as dimensões em que suas pesquisas devem ser produzidas

não dão conta das multiplicidades que por muitas vezes escapam (faltam) aos

testes laboratoriais ou as pesquisas de campo. O acúmulo dessas realidades

não consideradas leva assim às mudanças paradigmáticas que por sua vez são

apresentadas pela contestação de métodos e organização de novas questões.

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3.3. Caos: Os mergulhos científicos e filosóficos

Para Deleuze e Guattari (2010), umas das diferenças da escrita filosófica

e científica se dão pelos seus relacionamentos com o caos. Os pensadores

compreendem o caos como: “um vazio, que não é um nada, mas um virtual,

contendo todas as partículas possíveis e suscitando todas as formas do possível

que surgem para desaparecer logo em seguida” (idem, 2010, p 139). Assim o

filósofo mergulha no caos para retirar dele os movimentos plurais, num devir

criador de conceitos nunca exatos ou Universais, sempre múltiplos e mais

rápidos que a própria consciência.

A ciência, por sua vez, aprofunda-se no caos para dali retirar “referencias

capazes de atualizar o virtual”. Nas palavras de Deleuze e Guattari:

Guardando o infinito, a filosofia dá uma consistência ao virtual por conceitos; renunciando ao infinito, a ciência dá ao virtual uma referência que o atualiza, por funções. No caso da ciência, é como uma parada da imagem. É uma fantástica desaceleração, é e por desacelerações que a matéria se atualiza, como também o pensamento científico, capaz de penetrá-la por proposições (Idem, 2010, p.140).

A escrita filosófica, ao abrir-se ao infinito, encontra-se em uma não

linearidade, em desapego com a utilidade, um nomadismo que por muitas vezes

se descompromissa com a referenciação e constrói para si um plano de combate

e invenção; a ciência, por sua vez, constrói para um si um “eu” (um estado), que

se resume ora por “sujeito” ora por “objeto”, ora por “interno” ora “externo” e etc.

em um complexo plano repleto de referências, de coordenadas.

A reflexão comporta-se como exercício da ciência que vê nos

observadores parciais sua confirmação, uma autorreferencia, autoconhecimento;

enquanto o filosofo povoa sua escrita por personagens conceituais10 que

coabitam uma escrita com as sensibilidades.

Os questionamentos sobre o que é o caos e suas implicações à

composição de uma teoria da aprendizagem motora são diversos. As pesquisas

encontradas na ciência da aprendizagem motora e do desenvolvimento motor já

6- Os personagens conceituais são um acontecimento na escrita filosófica. São enunciadores do plano em que o Filósofo se inscreve e se deleita; portanto, o personagem conceitual não é o filósofo, mas sim a criação afetada pelo plano habitado pelo mesmo- o que o provoca a pensar.

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demonstram uma longa consideração das situações caóticas no processo de

aprendizagem. As direções das teorias mais tradicionais que consideravam

essas situações algo a ser aniquilado já são contestadas e, o conceito de

adaptação por eles usado já considera essas complicações.

Assim, para Tani (2005), a diferença no comportamento motor está

quando uma execução sofre alterações do meio, sendo obrigado a se adaptar às

novas situações. A diferença então é a resposta que se dá às perturbações do

ambiente. Sendo assim cria-se uma necessidade de pesquisar como os ruídos

podem facilitar esse processo aprendizagem.

Enquanto isso, a diferença é vista por Deleuze (2018) em “Nietzsche e a

Filosofia” como a vontade de potência, afirmação do gozo, sendo esta o elemento

diferencial das forças que perpassam o corpo no plano da experiência, ou seja,

a maneira como qualificamos as diferentes forças que perpassam nosso corpo.

Tendo essa diferença “metodológica”, ou seja, de como se aborda na

ciência e na filosofia a questão da, ou ainda, do que pode causar a diferença;

tentaremos nas próximas sessões apresentar conexões entre indagações feitas

por cientistas e perspectivas criadas por filósofos,

3.4. Os novos paradigmas: mudança, ciência e filosofia

A escrita cientifica e filosófica fomentam diferentes maneiras de

perspectivação, que por sua vez, implicam em diferentes relações e produção de

multiplicidades. A insuficiência referencial de um plano de funções implica nas

ciências as mudanças de paradigmas, essas mudanças decorrem dos acúmulos

de situações não explicadas, provocando uma crise, uma busca por novos

campos de referenciamento, uma mudança na “imagem” do sujeito/objeto de

pesquisa, um novo “referenciável” (DELEUZE, 2010).

Para Santos (2008), as pesquisas científicas contemporâneas encaram

novas características de operação, distinguindo- se das aspirações e métodos

estruturalistas que um dia vigoraram na distinção do natural e do social,

ocasionando o abalamento do paradigma moderno. Para o autor as ciências hoje

tendem aproximar o que um dia foi separado. A escrita cientifica emergente visa

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borrar as hierarquias entre conhecimento científico e conhecimento vulgar-

abrindo espaço para, em seu dizer, uma “filosofia da prática” (idem, 2008, p.20).

As transformações científicas destacadas por Santos (2008) também são

preocupações à escrita das pesquisas em Comportamento Motor. A

compreensão de que o homem é um sistema aberto, ou seja, estabelece

relações com o ambiente, aproxima-se de uma tentativa de não distinção entre o

indivíduo e as influências ao seu redor. Como já colocado, ao abrir os horizontes

para um mundo de conturbações, questões referentes a situações caóticas que

ocorrem no comportamento motor são mais frequentes e fontes importantes de

investigações. A aprendizagem abordada como um processo adaptativo ressalta

bem que as relações dos sistemas dinâmicos com o meio externo são essenciais

na formação de estados mais complexos do sistema que se conturba.

Cattuzzo e Tani (2016) propõem que o processo de aprendizagem faz

referência às mudanças contínuas no comportamento motor e, para um método

que esteja engajado em explicar o processo de aquisição de habilidades

motoras, deve-se “investigar a mudança de desempenho do sistema perceptivo-

motor para além da estabilização caracterizando um sistema como um que se

encontra afastado do equilíbrio” (CATTUZA; TANI, 2016, p. 56).

Já para Choshi (2000), o problema existente nos estudos em

aprendizagem motora se apresenta como mal- definidos. Em sua concepção, as

dificuldades para com a formulação dos problemas nos estudos da aprendizagem

motora ocorrem pelas seguintes características:

[...] a primeira é que não existe solução a priori, a segunda é que a solução do problema não é determinada de forma única, a terceira é que as mudanças nas soluções são descontinuadas (CHOSHI, 2000, p.17).

Choshi (2000) desenvolve uma questão primordial a oque estamos

tentando propor. Avalia que os estudos da aprendizagem motora poderiam

desenvolver uma preocupação maior no que diz respeito ao cotidiano.

Aproximando de indagações sobre como se constroem as “restrições atuantes no

nível mental” (idem, p.18) que, segundo ele, se diferencia das restrições de nível

físico e biológico. Choshi entende a aprendizagem motora como uma organização

em nível hierárquico.

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A hierarquia, tal qual concedida pelo pesquisador, designa três níveis: o

primeiro se trata da aprendizagem por “feedback”, na qual a detecção e resolução

do erro torna-se mais importante; a segunda, a aprendizagem pela adaptação,

esta diz respeito a como usamos as habilidades adquiridas em diferentes

contextos da nossa vida; e o terceiro, explicita a existência de um último nível de

aprendizagem, este, já mais complicado, é denominando como: nível auto-

organizacional. Compreende que tal nível implicaria em “[...] uma maneira

completamente diferente de realizar o movimento, tentando, com essas

mudanças, buscar o menor gasto energético” (ibidem, p. 19).

Um pensamento aproximado ao apresentado por Choshi pode ser

observado por um estudo produzido por Henri Bergson em 1902, denominado “O

esforço intelectual”. Neste artigo, Bergson (2006) desenvolve uma caminhada

sobre os planos de composição da inteligência e é importante fonte para

apresentarmos as propostas de conexões com as questões propostas

anteriormente.

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CAPÍTULO 4 - A INVENÇÃO DOS PROBLEMAS: EXPERIMENTAÇÃO DO

TEMPO COMO DEVIR NO PENSAMENTO

O problema não é uma forma percebida, não é uma imagem, é, antes uma potência de chegar a imagem, mas sem ter em princípio sua forma exterior e aparente (KASTRUP, 2011, p. 117).

Como produzimos novos movimentos? Como as transformações em uma

estrutura podem estar relacionadas à própria estrutura e ao meio externo ao

mesmo tempo? Seria a formulação mental de um novo movimento totalmente

motora? Como o pensamento torna-se movimento? O leque aberto por Choshi

no artigo nos coloca novas questões e, pelos caminhos que fomos passando,

uma linha de intercruzamento que aguça a escrita desta pesquisa.

Vemos duas instâncias: (1) Choshi se preocupa em questionar a

formulação auto organizacional que, para o autor, pode ser entendida em uma

busca do sistema por uma menor “gasto energético” (2) para Kastrup (2007) à

resolução de um problema só é possível por uma potência criadora, ou seja, de

forma resumida: uma inclinação da percepção àquilo que gera algum “incomodo”

para quem experiência. Os autores apresentam diferentes formas de tratar aquilo

que poderíamos chamar de: “motivo” de/para aprendizagem. Dedicarei nesta

sessão expor um pouco mais as vias tratadas pela filosofia (s) da (s) diferença

(s) e como a o conceito de “aprendizagem inventiva” desenvolve sua relação com

este.

Aprender seria, na perspectiva da (s) filosofia (s) da (s) diferença (s) um

ato de desgaste, antes de tudo a um incomodo inesperado. Por essa via, Kastrup

prossegue tratando o tema da a invenção como efeito de uma força que afeta.

Kastrup encontra no conceito de emoção criadora forjado por Bergson a potência

sua explicação do que se passa:

O conceito de emoção criadora toca na verdadeira zona de divergência do pensamento, ponto que havia deixado de fora no texto anterior. Trinta anos mais tarde, Bergson não evita falar do que há de não intelectual na invenção, e encontra na emoção aquilo que toma contato com uma força que lhe afeta, mas que está para além da representação, pois é por maio da afecção ou da emoção que Bergson fala do contato com o que, vindo do objeto, não é objetivável nem capturável pelos esquemas da recognição, com o que chamamos- com Deleuze- o diferencial do objeto. (KASTRUP; 2007, 122).

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Como coloca Bergson (2006) - estamos falando de um movimento vertical

em diferenciação com um movimento horizontal, pois, enquanto o movimento

horizontal nos revela uma similaridade entre o apresentado e o percebido,

conectando, com pouco um esforço, pensamento e ação; o movimento vertical

nos revela uma descida nas hierarquias das forças.

Segundo Bergson (2006):

Se, no primeiro caso, associando imagens a imagens, nos movemos com um movimento que chamaremos, por exemplo, horizontal, num plano único, devemos dizer que no segundo caso o movimento é vertical, e que ele nos faz passar de um plano para outro. No primeiro caso, as imagens são homogêneas entre si, mas representativas de objetos diferentes. No segundo, um único e mesmo objeto é representado em todos os momentos da operação, mas ele o é diferentemente, pelos estados intelectuais heterogêneos entre si, ora esquemas ora imagens, o esquema tendendo para a imagem na medida em que o movimento de descida se acentua. Enfim, cada um de nós tem o sentimento muito nítido de uma operação que prosseguiria em extensão e em superfície em um caso e, em intensidade e profundidade, no outro (idem, p.18)

Na passagem acima, Bergson nos apresenta a experiência singular que a

problematização/ invenção; a invenção implicaria numa viajem degustativa das

sensações, ou seja, nas palavras de Kastrup (idem, 116): “A invenção implica

tateamentos [...]”. É então que a experiência de criação torna-se complexa e, ao

mesmo tempo, singular (Kastrup, 2007); complexa pois se desenrola em uma

rede gigante de possibilidades e singular porquê está sempre se remetendo ao

corpo que experiência.

Entendemos que assim a aprendizagem motora pode ser vista como um

processo além da “aquisição de habilidades motoras” - ou seja, levando em

consideração as relações singulares que envolvem o pensamento e a ação de

um corpo. Eis o que pensamos ser um ponto de oportunidade em ralação ao

proposto por Choshi: ele levanta o fato de que a aprendizagem motora não se

dá por soluções a priori, entretanto, não considera que o aprendiz possa criar os

próprios motivos além do: querer diminuir os gastos calóricos, ou então, querer

aprender uma habilidade (um conjunto de movimentos eficientes) o que – com

teorias que trazemos para tencionar a questão - já é suficiente para se considerar

uma solução a priori.

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Expressando-me melhor, quando Choshi propõe que a aprendizagem

motora como um “problema mal definido”, entende que este possui inúmeras

maneiras de resolver. Vemos isso quando o relaciona a aprendizagem motora a

sistemas abertos, “[...]ou seja, sistemas distantes do equilíbrio termodinâmico.

Existe uma certa coerência nas condições iniciais, mas com a passagem do

tempo o sistema vai se bifurcando, se distribuindo” (CHOSHI, 2000, p. 2).

Entretanto, mesmo que isso ocorra, ainda é uma incógnita aos estudos em

aprendizagem motora como “restrições” ocorrem em nível interior. Vemos um

relato de Choshi em um experimento de interação entre robôs e humanos numa

tarefa que envolvia a interação da “passada”:

Os dois, homem e robô, interagem emocionalmente, como amigos. Isso e muito importante, pois antes de começar cada um tinha o seu critério de ritmo de passadas, mas essa interação não foi especificada e um estabelece restrições sobre o outro; no final, porém, chega-se a um estado de sincronização. Eu vejo esse tipo de interação como uma interação na representação de ambos. Até agora, nas pesquisas em aprendizagem motora, as restrições são colocadas pelo experimentador de fora para dentro. Entretanto, as restrições que surgem internamente são muito pouco investigadas. Julgo que esse e um aspecto fundamental a ser investigado em aprendizagem motora. Os dados que temos a respeito mostram que, no início, o robô e o ser humano são completamente diferentes no que diz respeito ao ciclo de passadas, mas depois da comunicação entre eles, ocorre uma modificação. Eu estou usando o conceito de coerência física para explicar esse fenômeno, ainda que eu esteja me referindo a construção de restrições internas. (CHOSHI, 2000, p.23)

O que para a Choshi essa interação se dá pela interação entre

representações desenvolvidas nos níveis particulares das operações do robô e

do humano; acredito que, para Kastrup, essa experimento seria resultado de uma

ação coletiva onde o andar estabelecido, ou ainda, o andar robô-humano se dá

por uma experimentação mútua da cognição, onde não se sabe onde se terminas

os efeitos de um sobre o outro, mas sim, que ambos se compõe.

Com estas considerações, conduzo as próximas seções a explorar mais

os contextos da filosofia (s) da (s) diferença (s) para com a aprendizagem.

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4.1. Pensamento e produção singular

Colocando-nos neste embate, voltemos nossos olhares a um ponto

primordial à filosofia (s) da (s) diferença (s) – o próprio pensar. Vemos que:

quando nos distanciamos do cartesianismo clássico e de perspectivas

representativas, já somos provocados a um acontecimento corpo e ambiente,

onde a experiência de um não se sobrepõe as operações do outro. O

pensamento então é fruto de uma complexa relação entre ambos.

Schérer (2005, p.1185) comenta que:

[...] parece-me que esta impregnação sensível e afectiva – que esta repetição na diferença atualiza – ilustra uma da vias deleuzianas, uma das grandes ideias sobre um aprendizado que nunca se encerrará na aquisição de um saber, mas que consiste em um processo a ser incessantemente recomeçado.

O autor, que fora aluno de Deleuze, constrói a ideia de aprendizagem

como uma experiência de um pensamento aberto ao infinito, e que não há

aprendizagem sem antes um desprendimento, uma afecção com o fora, com o

exterior ao corpo. Tal posição também é explorada por Oliveira (2013), para o

autor: “apenas pensamos quando o objeto apresentado nos causa

estranhamento, perplexidade, ou até mesmo uma impotência motora”

(OLIVEIRA, 2013, p. 174), ou seja, aprender é antes um desvio nas relações

habituais entre pensar e agir, nos levando a hesitações, a instantes onde nossos

gestos e movimentos são transitados pelo trânsito intenso do pensamento que,

por sua vez, revoga a “ordem” o nascimento de uma nova relação.

As palavras “problematização” e “invenção”, frequentemente aqui

apresentadas, revelam-nos como o encontro e o pensamento são falsamente

aprisionados aos problemas dados. Sendo assim, só a partir do aprisionamento

da ideia que aprender refere-se ao ato de adquirir certo saber. No Aprender,

ainda nas palavras de Oliveira (2013, p. 174) “o que importa não é o objeto

encontrado, mas o encontro contingente e inesperado com o objeto”.

Pensamento e objeto tornam-se devires, se destorcem e se produzem em uma

velocidade imensurável.

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As relações entre produção do pensamento e sensações corporais são

muito estreitas e impossíveis de apreensão. Tal qual, aquele que aprende não

desenvolve uma inteligibilidade permanente, mas sim, corporifica a própria

potência geradora que leva o corpo-pensamento a resolução. Assim, aprender a

cozinhar não se trata somente de memorizar o maior número de receitas

possíveis, mas ainda estar sensível às cores, sabores, texturas, aromas dos

alimentos, temperos, panelas, talheres; aprender a dirigir não é somente

reconhecer os possíveis ambientes em que se passa com um carro, mas também

estar sensível às mudanças do meio, as posições das marchas, ao barulho do

carro, a posição do volante. Sendo assim, aprendizagem não se dá senão por

um agenciamento das forças do corpo com as forças do meio ambiente. Como

propõe Schérer (2005), sempre com as coisas e não a partir das coisas.

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CAPÍTULO 5 - OS AFECTOS: CORPO E PENSAMENTO NA PRODUÇÃO DO

MOVIMENTO

Tudo se passa como se, nesse conjundo de imagens que chamo de universo, nada se pudesse produzir de realmente novo a não ser por intermédio de certas imagens particulares cujo modelo me é fornecido por meu corpo (BERGSON,1999, p.12).

No primeiro capitulo de Materia e Memória, Bergson descreve a

importancia do corpo na construção da novidade. Para o autor, dentre as

diversas imagens que agem e reagem sobre si numa constante da natureza, uma

tende a se prevalecer sob as demais. Essa imagem prevalecida é oriunda do

corpo. Não somente da percepção, ou seja, na medida que conheço as formas

das coisas, como também na medida que mesclo sua composipção com o de

dentro - “mediante as afecções: o corpo” (BERGSON, 1999, p.11).

Para Merques (2006), está é a manifestação da singularidade de um

corpo; melhor dizando: a afecção produz um “deley” entre a sensação e a ação

propriamente motora, interrompendo a mecâneicidade e as relações de

necessidade, podemos convergir que “[...] são os movimentos imprevisíveis do

corpo, em relação aos previsíveis e necessários da natureza, o que lhe confere

singularide” (p.52). A imprevisibilidade com aquilo que corpo se afecta inviabiliza

representações sua representação; pontuasse, por via dessa relação, o corpo

como “aparelho” de liberdade (MARQUES, 2006).

A palavra “afecção” deriva da palavra latina affecio, refere-se ao “[...]

plano de factilidade, ou seja, o que me chega, o que se impõe a mim, aquilo que

me faz, me constitui ” (ROCHA; KASTRUP, 2009, p. 387). Este vinculo, por sua

vez, não se refere a uma particularidade interior ou exterior, mas sim, ao meio –

no sentido de inexistencia de pertencimento, mas sim, acontecimentos.

Para Rocha e Katrup (2009), está capacidade de ser afctado tembém

gera um força afetiva, manifesta por dois sentidos: “ (1) Há um movimento

corporeificado que se manifesta como possuído por uma força afetiva (affect-

felling force).” e “ Tal movimento é iseparado de sua manifestação visivél:

postura, posição, mudanças na face, na respiração, batimento cardíaco,

sensações de arrepio, etc; e apresenta componentes invisíveis como mudanças

difusas: o tom da voz, a inflexão do olhar, um certo direcionamento do

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movimento, etc” (idem, p.390). As autoras consideram essas manifestações

visiveis e invisiveis como manifestações intensivas do afcto; nos alertanto, ao

contratrio do que se possa pensar, de que estas não representem um sentido

prório de tedencia, mas sim, de um interesse (ROCHA; KASTRUP, 2009 apud

VARELA & DEPRAZ. 2000).

5.1. A dimensão motriz da motricidade

O espectro alcaçado pelos autores desviam do espectro movimetado em

algumas teorias mais recentes da aprendizagem motora. Tani et al. (2011),

apresentam que, atualmente, a abordagem da aprendizagem motora busca “[...]

compreender se o nível de engajamento cognitivo do observador se assemelha

ao engajamento promovido pela prática motora em si.” (TANI et al., 2011, 400).

O movimento que optei para este trabalho, por sua vez, têm proposto uma

dimensão inventiva da cognição; em abarcando a dimensão motriz da

aprendizagem motora ou motricidade.

A palavra motricidade caracteriza-se como uma particularidade do que é

motriz (força que impulsiona) (DICIONÁRIO ONLINE, 2020). Diante dessa

perspectiva, pensar aprendizagem motora na dimensão inventiva é pensar as

forças impulsivas que reivindicam um meio da ralação sensório-motora, relações

motrizes que tomam o corpo na experiência com o presente. Aprendizagem

motriz - dimensão afetiva que germina possibilidades de agir e não agir, é

quantitativo e qualitativo ao mesmo tempo – intempestividade de si. “À medida

que o inventor realiza detalhes de sua máquina, ele renuncia a uma parte do que

queria dela obter ou obtém outra coisa” (BERGSON, 2006, p.137).

A experiência de aprendizagem cosniste então, antes de uma ação

propriamente dita, uma problematização. “Não se trata de mera ignorância, mas

de estranhamento e tensão entre o saber anterior e a experiência presente”,

“Quando viajamos somos forçados a conviver com uma certa errância, a perder

tempo, a explorar o meio com olhos atentos aos signos e a penetrar em

semióticas novas”, alerta-nos Kastrup (2001, p.17) que converge a um “exercício”

que Deleuze traz à tona me Diferença e Repetição: é preciso dar alma aos

músculos.

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CONSIDERAÇÕES DO PROCESSO

No início de minha pesquisa, lembro de estar entusiasmado pela novidade

de aproximar esses diferentes campos teóricos. Reconheço que parte desse

entusiasmo movimentou no trabalho um “ar” de desconhecimento para com a

ciência da Aprendizagem Motora, implicando em diversos pontos que

expressavam uma insuficiência argumentativa ou de sustentação o problema aqui

apresentado. Entretanto, como destacado no campo metodológico, minha escrita

não teria por objetivo principal propor uma superação ou mudança deste campo;

visava sim arriscar um processo que permitisse uma produção experimental de

escrita tendo como base a filosofia de Gilles Deleuze, Felix Guattari e Henri

Bergson, e pelos escritos do filósofo brasileiro Silvio Gallo e a psicóloga, também

brasileira, Virginia Kastrup.

No decorrer de meu exercício, por diversas vezes fui alertado de

controvérsias e excessos em minha escrita; talvez estes fossem os primeiros

ensinamentos. Ao mesmo tempo que compunha, buscava fazer alianças que me

auxiliassem a descrever o que queria dizer, deixar um pouco mais claro o turbilhão

de pensamentos que surgiam. Todavia, acredito ter também produzido uma

espécie de pensamento disposto a entender e criar relações, indo a inúmeras

outras leituras e autores(as).

Questionar aprendizagem motora e ainda dar sentido aos movimentos

corporais gera um grande empenho e diversas teorias no curso de Educação

Física. Dentre estas teorias, escolhi adentrar pela ciência da Aprendizagem

Motora. Em sua história de composição, fora influenciada por diversas outras

ciências, como: o comportamentalismo e a psicologia experimental, estudos da

cognição etc. O que identifiquei neste processo e que sustentou minha

problematização é desamparo próprio; neste desamparo, vi como proposta

pensar a dimensão inventiva da cognição.

Os “resultados” deste trabalho me encorajam a seguir pesquisando sobre

as relações sensório-motoras que, como defendi, são acometidas de sentidos

tanto quantitativos quanto qualitativos. Muitas outras perguntas me surgiram, das

quais posso citar: quais são os discursos que sustentam o sentido de

motricidade? Quais são os pensamentos atuais em relação ao movimento

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corporal? Mas também, muitas coisas ficaram evidentes neste processo, dentre

elas a de que: o processo de aprendizagem pode estar além do reconhecimento

de formas externas ou representação interior do mundo; a motricidade não é uma

capacidade desassociada da cognição, ou ainda, do pensamento - toda

aprendizagem é motora; o afecto corresponde a maneira singular pela qual somos

atingidos pelo fora, implica em uma experimentação de distanciamento do

habitual, assim como um experimentação das possibilidades do Outro; os

movimentos corporais são a maneira pela qual os corpos interagem com mundo;

pensar a aprendizagem motora como parte do processo inventivo da cognição é

tirar os pés das certezas, criar novas formas de agir e resistir àquelas que travam

a “vida”. Como pensei em algum momento dizer: pensar a dimensão motriz da

aprendizagem.

Foram inúmeras as aprendizagens. Mas acrescento aqui, como proposta

para pesquisas posteriores, a necessidade de explorar mais atentamente os

pontos elencados, bem como o conceito motricidade e suas significações

históricas e contemporâneas; seja na Educação Física, seja por outras culturas e

instituições. Acredito ter colaborado em algum instante, mesmo que

minimamente, abrindo um novo espaço que se possa pisar - recolocando a

pergunta com outra “música” e forçando a criação de novas “danças” de

expressar aquilo que se passa no incomodo entre o sentido e a movimento.

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