faculdade de economia da universidade de coimbra · nas sociedades tradicionais, o casamento não...

24
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) Licenciatura em Sociologia – 1º Ano Realizado no âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica Coimbra, Janeiro de 2004 Anabela Lima de Jesus N.º 20030956

Upload: lamtu

Post on 01-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC)

Licenciatura em Sociologia – 1º Ano

• Realizado no âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica

Coimbra, Janeiro de 2004 Anabela Lima de Jesus

N.º 20030956

Page 2: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Índice - Introdução _________________________________________________________ 1

- 1. Estado das artes

1.1. Breve análise sobre o tema em estudo ___________________________ 2 1.2. Evolução do conceito de família ao longo dos tempos ______________ 3 1.3. Quando o amor deixa de dar certo ______________________________ 5

1.3.1. Diferentes tipos de violência praticados contra as mulheres __ 6 1.4. Homicídio conjugal _________________________________________ 8

1.5. Estratégias de apoio às vítimas de violência ______________________ 9

1.6. Afinal as mulheres também são violentas ________________________ 10

- 2. Desenvolvimento da pesquisa _______________________________________ 12

- 3. Ficha de leitura ___________________________________________________ 14

- 4. Avaliação da página da Web ________________________________________ 16 - Conclusão _________________________________________________________ 18

- Referências Bibliográficas ____________________________________________ 19 - Anexos:

- Capítulo “Caracterização de comportamentos” de Violência Conjugal na Ilha da Madeira, de Carla Cruz, Dália Costa e Maria João Cunha _______ Anexo I - Página da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima ____________ Anexo II

Page 3: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

Introdução

No âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica do curso de Sociologia

(1º ano), e de acordo com o regime de avaliação contínua ao qual me propus, irei proceder à

realização do meu trabalho, cuja a pesquisa recairá na temática da Violência Doméstica. Tema

cada vez mais comum nos dias de hoje pois, infelizmente, a violência sobre as mulheres tem

sido “algo de trivial”, sobretudo se nos confinarmos a determinadas culturas. A sua dimensão

é tal, que a transforma num problema crucial da violência familiar.

Assim sendo, e para dar conta do estado das artes, a minha pesquisa irá analisar em

primeiro lugar o que é violência doméstica, quais as suas vertentes e respectivas

consequências, o que se poderá fazer para ajudar a evitar tais actos, qual o papel que a mulher

ocupa na sociedade, agora que luta pela sua emancipação, a evolução do conceito da família

ao longo dos tempos.

Como forma de complemento, a ficha de leitura, referente ao capítulo “Caracterização

de comportamentos”, do livro Violência Conjugal na Ilha da Madeira de Carla Cruz, Dália

Costa e Maria João Cunha (2002), dá-nos a conhecer a realidade à qual a vítima de maus-

tratos (nesta ilha) é submetida (no que diz respeito à identificação dos abusos, à sua

periodicidade, ao local, às pessoas envolvidas e aos comportamentos indicadores de

violência).

Finalmente, o trabalho é complementado pela análise do site da Associação

Portuguesa de Apoio à Vítima (s.d.), o qual avalio procurando analisar as suas áreas de

intervenção e as iniciativas/os esforços efectuados no combate a este flagelo social.

Sem mais demoras procederei à realização do meu relatório, esperando contribuir para

um melhor esclarecimento do leitor sobre esta temática.

1

Page 4: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

1. Estado das artes

1.1. Breve análise sobre o tema em estudo

A violência doméstica é um grave problema que afecta a sociedade contemporânea

atingindo, na sua maioria, crianças, adolescentes e mulheres, causando danos irreparáveis na

pessoa humana.

Parte-se então do princípio de que, em caso de violência conjugal, o homem será o

agressor e a mulher a vítima (facto pelo qual não nos podemos reger, pois apesar de

constituírem uma minoria, alguns homens também são vítimas deste tipo de agressões).

A violência entre cônjuges tornou-se “num problema crucial da violência familiar”

(Costa e Duarte, 2000) e é com desagrado que verificamos que a violência sobre as mulheres

tem sido e continua a ser algo de “trivial” nos dias que se seguem, sendo muito mais comum

do que se imagina. Especialmente, se nos confinarmos a determinadas culturas, onde é notória

a inferioridade e a discriminação às quais a mulher está sujeita1.

Infelizmente, e segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV, s.d.),

este fenómeno de longa data, provoca anualmente a morte de cerca de 60 mulheres no nosso

país. De lamentar ainda, que morram mais mulheres vítimas deste flagelo social do que com

cancro (uma das principais causas de morte no nosso país) (CIDM, s.d. e Notícias Lusófonas,

2003).

A APAV (s.d.), considera que a vítima ainda não é suficientemente protegida em

Portugal e que a demora da Justiça continua a prejudicar a mulher que se sente desapoiada,

nomeadamente no que concerne à existência de centros de apoio (Notícias Lusófonas, 2003).

São apontadas como principais causas da violência contra as mulheres: o álcool, a

toxicodependência, o desemprego, a pobreza, entre outros. O facto de alguns agressores já

terem sido vítimas de agressão, também contribui para esta prática.

Para salvaguardar os interesses e os direitos das mulheres, foi aprovada em 2000 uma

resolução (n.º 107/99 de 3 de Agosto) que visa a protecção das vítimas, assegurando a eficácia

do serviço prestado.

“Concretização de medidas de protecção das vítimas de violência doméstica A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, pronunciar-se no sentido de que:

2 1 Sobre este assunto confrontar Marzal (1999).

Page 5: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

a) No prazo máximo de 90 dias sejam publicados os diplomas necessários à regulamentação da Lei n.º 107/99, de 3 de Agosto, por forma a assegurar a efectiva criação de uma rede pública de casas de apoio a mulheres vítimas de crimes, de acordo com os critérios previstos na lei; b) Seja assegurado de forma eficaz o serviço de atendimento telefónico permanente às vítimas de violência doméstica, por forma que possa funcionar vinte e quatro horas por dia, incluindo aos sábados, domingos e feriados, através de serviços públicos ou mediante cooperação com entidades do sector social.” (Assembleia da república, 2001).

Há que combater este flagelo e, como lembra Marta Pais (1998), “...

simultaneamente, garantir o gozo efectivo dos direitos humanos por todas as mulheres

sem distinção alguma.”

1.2. Evolução do conceito de família ao longo dos tempos

De acordo com Marta Pais (1998), “... a violência contra a mulher é reconhecida como

uma manifestação da desigualdade histórica da relação de poder entre sexos, da tradicional

concepção de subordinação e de inferioridade da mulher face ao homem, em suma como uma

forma de discriminação.”

Comecemos então, por analisar a evolução do conceito de família e de lar ao longo dos

tempos.

Antes de mais, não faria qualquer sentido continuar com a realização deste relatório,

sem que alguns termos essenciais fossem explorados. Nomeadamente o conceito de “família”.

Este termo “define-se como um agregado doméstico constituído pelas pessoas unidas pelos

vínculos de casamento, parentesco e afinidade” (Nazaré et al., 1992: 889). Segundo Robert

M. Mac Iver, em qualquer sociedade encontramos cinco características essenciais da família,

das quais passo a citar apenas duas: 1- uma relação conjugal; 2- uma forma de casamento que

permite estabelecer e manter a relação conjugal (...) (Mac Iver apud Birou, 1978). Contudo,

a família constitui um fenómeno universal, o qual foi sujeito a mudanças e, de uma grande

família da época tradicional, assistimos à passagem à pequena família onde novos valores e

funções sociais são atribuídas a esta instituição (fruto do desenvolvimento/degradação

económica a que se assistiu, das alterações sociais, a emancipação e a entrada da mulher no

mundo do trabalho) (Birou, 1978; Marta Pais 1998 e 1994 e Elza Pais, 1998).

Agora sim, esclarecido o conceito desta grande instituição que é a família, presente

desde o nascimento, prosseguirei ao meu relatório.

3

Page 6: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

“O mito da “família idealizada” leva-nos a pensá-la como o lugar dos afectos e da

expressividade” (Dias, s.d.). O lar nem sempre é aquele “paraíso” de felicidade que muitos

idealizam, aquele local de harmonia, paz e equilíbrio procurados. A ideia de lar/casa

associados a um ventre materno (simbolizando protecção), há muito que foi dissipada.

A história encarregou-se de nos mostrar “... a diversidade dos sistemas familiares ao

longo de todas as épocas e uma época, dando conta de que não existe um sistema familiar

único...” (Elza Pais, 1998: 62). Ideia que nos remete para um cenário de evolução.

Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de

contrato entre as famílias afim de proteger os indivíduos do infortúnio, funcionando como

uma aliança (Elza Pais, 1998).

Esta imposição, especialmente comum entre as comunidades rurais, foi por isso

mesmo “facilitada como condição de sobrevivência” (Phillipe Ariés apud Elza Pais, 1998:62)

Logo, verificamos que o “amor”, o sentimento propriamente dito, não influenciaria em nada

esta decisão, funcionando apenas como um mero “adereço” que poderia (ou não) vir por

acréscimo na relação.

Segundo Elza Pais (1998), a ideia de casamento separado do amor, viria influenciar

toda história da sexualidade ocidental, desenvolvendo a ideia de que a infidelidade do homem

seria tolerada e seria exigido à mulher a sua fidelidade.

Tendo a procriação como principal finalidade, a sexualidade era vista com pudor aos

olhos da igreja, entendendo-se que “... o sexo tornava o espírito prisioneiro do corpo...” (J-L.

Flandrin apud Elza Pais, 1998: 63).

O carácter tradicionalista da igreja e a influência por ela exercida é um facto que nos

acompanha até aos dias de hoje, tendo interferido no passado, através do ensinamento dos

seus dogmas, de forma activa na vida das populações.

Será a partir do século XVIII, que o casamento ganhará uma nova dimensão,

exigindo-se ao casal que se amasse, dando à paixão a primazia como factor essencial numa

relação, deixando-se de lado o tabu que girava em torno da sexualidade (Elza Pais, 1998).

Ao factor social vem juntar-se o factor história. Já Sigmund Freud dizia “a essência da

família é ser um homicídio” (Freud apud Danziger, 2002: 13).

Ora, segundo Claudie Danziger (2002: 14) “Há já muito tempo que as narrativas

bíblicas, os mitos gregos e as tragédias nos avisam: a história da família primitiva é sangrenta.

Nela só se ouve falar de rivalidade, de sexualidade, de assassínio, de incesto, de ciúme, de

devoração.” Esta afirmação tem o seu fundamento, pois de facto, como ele próprio

4

Page 7: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

exemplifica, desde os primórdios da humanidade que casos de “violência” entre a família têm

existido, nem as divindades ou figuras bíblicas “escapam” a esta regra.

É então, a partir deste ponto que passarei para o próximo passo da minha pesquisa,

quando o amor não dá certo tornando-se em “amor de morte”.

1.3. Quando o amor deixa de dar certo

Com o passar do tempo, é normal que o casal passe por mudanças na relação,

mudanças essas que, ou são ultrapassadas de uma forma sensata ou, antes pelo contrário, irão

dar origem a conflitos e tensões que poderão conduzir ao desmoronamento da relação, logo:

ao divórcio “... parte integrante dos novos modelos matrimoniais.” (Elza Pais, 1998: 66).

A partir daí, os verdadeiros problemas começam a surgir, visto que o casal é composto

por dois indivíduos que, primando pela diferença, irão compartilhar um presente e um futuro

comum (Tenenbaum, 2000), estruturando assim a relação que surge aos olhos do leitor como

um processo contínuo.

Há várias maneiras de ver o divórcio: como uma forma de “... procura da felicidade...”

(Elza Pais, 1998: 66), na medida em que existe um acordo mútuo entre o casal de que a

relação já não estará a dar certo; ou ainda como algo prejurativo em que uma das partes não

estará disposta a ceder.

Por conseguinte, conflitos não solucionados são acumulados, criando um clima de

tensão entre o casal que, por sua vez, irá exteriorizar sentimentos negativos, tais como: a raiva

e a agressão Assim, alguns destes comportamentos tornar-se-ão cada vez mais frequentes e,

portanto, cada vez mais previsíveis (Costa e Duarte, 2000).

A interacção dos parceiros, como afirmam Maria Emília Costa e Cidália Duarte

(2000), apresenta uma série de dificuldades traduzidas pela então falta de mutualidade entre o

casal, pelas necessidades individuais insatisfeitas e pela acumulação de conflitos não

resolvidos.

É então que, partindo deste princípio, os actos de violência, as agressões e os

constantes maus-tratos serão retrato presente no quotidiano de certas mulheres.

5

Page 8: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

1.3.1. Diferentes tipos de violência contra as mulheres

A violência contra as mulheres assume um carácter pessoal tornando-se, por isso, num

assunto bastante complexo, pois entra na intimidade das famílias e dos indivíduos.

De lamentar que em finais de pleno século XIX não existissem leis que proibissem a

um homem espancar a sua mulher, desde que não “extrapolasse” a tal barreira, o tal limite dos

ferimentos ligeiros. Não nos devemos espantar pois, que até bem aos nossos dias (século

XXI) ainda existem muitas pessoas que agem como se vivessem na Idade Média (Martins,

2000).

Verificamos que, infelizmente, a violência doméstica não é um problema dos nossos

dias, atravessando a sua prática os tempos (CIDM, s.d.). Mas só recentemente se tornou num

“... crime considerado público desde 2000” (Otão, 2003: 6), fazendo com que não seja

necessário que a própria vítima denuncie o alegado agressor.

Clarificando conceitos, e segundo o site da CIDM (s.d.), “A violência doméstica é o

tipo de violência que ocorre entre membros de uma mesma família ou que partilham o mesmo

espaço de habitação”. De facto o lar parece ser o espaço privilegiado da violência contra as

mulheres (Elza Pais, 1998).

Assim, dentro deste “território”, são observadas diferentes manifestações de violência

praticadas contra a sexo mais fragilizado, que será o feminino.

Na Europa, o número de vítimas é deveras assustador, “... 1 em cada 5 mulheres, pelo

menos uma vez na vida, é vítima de agressões dentro de casa”, segundo o site da Sic Online

(2003).

A violência é, na maior parte da vezes, silenciada e muitas das vítimas, por vergonha

ou por medo, não denunciam a agressão.

Verificamos pois, que a agressão física não é a única forma de violência, como já

referi anteriormente.

Violência é um acto carregado de intenção que pretende causar dor física ou injúria

numa outra pessoa, afim de a prejudicar exercendo uma espécie de controlo coercivo sobre a

mesma (Sprenkle, 1992 e Straus et al., 1992 apud Costa e Duarte, 2000).

Como o próprio nome indica, o “abuso” é feito de forma deliberada, estando a

intencionalidade ligada a este conceito.

Estando a violência conjugal intimamente ligada à violência doméstica, outros tipos de

violência lhe estão associados:

6

Page 9: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

- Violência Física (agressão, maus-tratos e, em casos extremos, o homicídio);

- Violência Psicológica (ameaças constantes, clima de medo, tensão, insultos,

críticas permanentes abuso emocional. Este tipo de abuso é considerado pelas

mulheres como o mais importante, causador de anseio, despertando sentimentos de

inferioridade e levando ao desespero das vítimas (Alarcão, 2000 ; Costa e Duarte,

2000). Desespero este propício à instauração de um quadro depressivo);

- Violência Económica (total dependência monetária, medo de não conseguir

sustentar os filhos);

- Violência Sexual (“forçar” a relação sexual, obrigar a práticas sexuais) (Costa e

Duarte, 2000; Cruz, Costa e Cunha, 2002 e Ballone e Ortolani, 2003).

A dependência que se faz sentir obriga à vítima a permanecer calada, a não participar

às autoridades o sucedido. É preciso que as mulheres tomem consciência de que os maus-

tratos são puníveis aos olhos da lei.

Muitas das mulheres que pretendem denunciar os maridos são dissuadidas desta

decisão, desencorajadas pelos chamados períodos de “Lua de mel”. Períodos de tentativa de

reconciliação que incutem uma réstia de esperança na não repetição da violência (Costa e

Duarte, 2000; Alarcão, 2000).

Concluímos que o processo de violência obedece a ciclos: primeiramente tem lugar a

agressão, procedida pelo perdão da mulher ou, simplesmente, o marido expia a sua

companheira e, finalmente, surge um período pacífico. Depois desta fase o ciclo retoma o seu

rumo novamente (Alarcão, 2000 e Elza Pais, 1998).

Vários factores condicionam o possível abandono ou não de uma relação abusiva. E é,

Strube (2000) que nos apresenta quatro modelos explicativos desta decisão. Razões de foro

psicológico; abandono “aprendido” (a vítima adopta uma atitude de passividade,

reconhecendo o perigo ao qual está exposta, mas adoptando uma atitude de positivismo espera

por um milagre, por uma mudança “radical” no comportamento do companheiro); a “teoria da

troca” (continuar na relação ou ser colocada à margem, sem apoio algum) e, por fim, a “teoria

do comportamento planeado” (abandonar a relação a seu tempo, ponderando a situação)

(Strube apud Costa e Duarte, 2000).

O que acontece é que, enquanto é pensado, este processo não parará as agressões nem

os maus-tratos a que a mulher está sujeita.

Mesmo quando a vítima se consegue libertar do seu companheiro, esta aparente

“liberdade” não passa disso: aparente. Agora é que começa o verdadeiro inferno.

7

Page 10: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

Após a separação, os maridos continuam a aterrorizar as suas mulheres. Começam as

ameaças, os telefonemas anónimos, o controle que originam um clima de tensão, de angústia e

de medo.

É neste contexto que surgem casos de homicídio conjugal

1.4. Homicídio conjugal

O cenário apresenta-se da seguinte maneira: as mulheres vivem aterrorizadas, mesmo

após a separação. Esta sensação de “... inversão do tradicional desequilíbrio de poder na

relação” (Costa e Duarte, 2000), leva ao homem a recorrer à irracionalidade cometendo o

assassínio da companheira: medida extrema.

Como reverso da medalha, a mulher poderá passar de vítima a agressora, pois cansada

das ameaças e dos abusos a que é regularmente submetida, procura pôr um ponto final a tanto

sofrimento e acaba por ser ela a fazer justiça pelas próprias mãos. Se não for pelo homicídio

do agressor será pelo próprio suicídio.

Temos assim, “... a morte violenta a aparecer como (...) a libertação do cônjuge...”

(Elza Pais, 1998: 57-58).

Segundo Elza Pais (1998), grande parte dos homicídios tiveram lugar nas grandes

cidades e áreas metropolitanas, nomeadamente Lisboa e Porto. Se pensarmos um pouco, é na

cidade que a mulher inicia a sua emancipação, que dá entrada no mundo do trabalho, que está

aberta a novas influências.

Contudo, falar em homicídio é sempre muito delicado, mas:

- Será justo condenar esta decisão? Aliás, se não fosse a mulher a praticar este acto

acabaria por ser o homem a fazê-lo.

Mas adoptando esta medida não estará a mulher a ser igual ou até pior que o agressor,

a quem tanto condenou?

Uma coisa é certa, ninguém tem o direito de agredir seja quem e de que forma for.

8

Page 11: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

1.5. Estratégias de apoio às vítimas de violência

A violência doméstica é um tema que é sensível à maior parte das pessoas, tendo

suscitado especial interesse, nos últimos tempos, por parte das instituições legais.

A estas vêm juntar-se as organizações de apoio às vítimas, que tudo fazem para pôr

cobro a esta situação.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV, s.d.) é um exemplo de uma

organização sem fins lucrativos, empenhada em ajudar quem mais precisa. Nesta área, tem

desenvolvido alguns projectos, entre os quais, o Projecto Penélope, o qual visa desenvolver

um relatório sobre o estado da violência doméstica contra as mulheres e crianças (em

especial), nos países do Sul da Europa, avaliando a sua intensidade, duração e consequências

pessoais, profissionais e sociais para as vítimas (APAV, s.d. e APAV Notícias, 2003). Outra organização será a Comissão para a Igualdade e para os Direitos da Mulher

(CIDM), que igualmente dá especial atenção aos temas relacionados com os direitos das

mulheres. Neste âmbito, um Segundo Plano contra a Violência Doméstica (2003-2006) foi

criado, dando a conhecer ao leitor as medidas que vêm a ser tomadas ao longo dos tempos e

informando-o acerca do assunto de forma clara. De salientar neste plano, a importância cedida

à violência exercida sobre as mulheres. Embora a violência doméstica afecte na sua maioria

mulheres, as crianças, idosos e deficientes também sofrem deste tipo de violência.

A par destas organizações, várias iniciativas são tomadas. Foi o que aconteceu no dia

25 de Novembro de 2003, dia em que foi celebrado o Dia Internacional para a Eliminação da

Violência contra as Mulheres, onde figuras públicas vieram à praça pública dar a cara e o seu

parecer sobre este assunto. Foi o caso de Morais Sarmento, Ministro da Presidência, que diz

registrar-se uma evolução positiva neste âmbito, visto as vítimas recorrerem cada vez mais às

forças de segurança e instituições de ajuda para denunciarem os maus-tratos sofridos

(Sarmento, 2003).

Contudo, na realidade constata-se que a vítima, para provar o quanto é maltratada,

passa por inúmeras humilhações. Dirige-se à polícia onde, para fazer queixa, tem que relatar

em pormenor todo o sofrimento e actos de violência de que foi vítima, tem que se submeter a

exames médicos, para comprovar a veracidade do seu depoimento. Aí mais uma vez se sente

humilhada, tanto nos hospitais como na polícia, pois nem sempre há pessoal especializado

para tomar conta deste tipo de ocorrências, o que dificulta muito a vida da vítima. A queixa,

9

Page 12: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

muitas das vezes, não é por isso uma hipótese a ponderar (Costa e Duarte, 2000 e CIDM,

s.d.).

1.6. Afinal as mulheres também são violentas

As mulheres agredidas também cometeram, pelo menos uma vez, um acto violento

contra o companheiro, quer seja ofensivo ou de natureza defensiva (Costa e Duarte, 2000).

Apesar de constituir a minoria, existem homens que também são vítimas de maus-

tratos.

A mulher é agredida e, da qualidade de vítima, passa a agressora, pois também agride.

Este é um facto que, apesar de menos comum, não deixa de ser por isso menos

importante.

Podemo-nos perguntar: “Como é que a mulher, sendo por estatura mais frágil que o

homem, o poderá agredir?”. Mas de facto, é que muitas das vezes, após uma discussão mais

acesa com o companheiro, a mulher recorre à célebre bofetada. Outra forma de agressão será

então o uso da violência verbal, onde vêm as ofensas, as palavras menos bonitas. Para afectar

o homem, recorre à provocação de ciúmes, à prática de infidelidade, pois são actos que

afectam o “ego” dos homens (Costa e Duarte, 2000).

Concluindo...

Em jeito de conclusão, poderia dizer que muito mais havia para ser explorado acerca

deste tema. Embora tenha a certeza de que quanto mais profunda vai a investigação, mais

assustadores são os números das vítimas deste fenómeno que cada vez menos tende a ser

tolerado.

É preciso estarmos cientes que existem variados mecanismos de orientação e de apoio

às mulheres agredidas. Não basta apenas tratar as agressões físicas, pois são as feridas de foro

psicológico que mais custam a sarar (se é que alguma vez o são definitivamente).

10

Page 13: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

O que é certo, é que enquanto o leitor está a ler este relatório, dezenas de pessoas

estão, em todo o mundo, a ser vítimas de toda a espécie de maus-tratos.

É por tudo isto que esforços não devem ser medidos no que cabe a responsabilizar o

agressor por este acto criminoso.

Há que lutar para mudar esta situação. Como? Desenvolvendo esforços no que toca à

prevenção, apostando em programas de educação conjugal.

11

Page 14: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

2. Desenvolvimento da pesquisa

O processo de pesquisa das fontes bibliográficas, teve como principal ponto de partida

a escolha do tema deste trabalho que foi A Violência Doméstica. Assim sendo, a minha

recolha de informação limitou-se às áreas por mim exploradas na realização deste relatório.

Nesse sentido, comecei por consultar a base de dados da biblioteca da FEUC, recorrendo à

literatura científica que aborda esta temática. Aqui, pude optar pelos livros existentes (apesar

de escassos) que constituíssem uma mais valia na minha análise. Nesta ordem, utilizei os

livros “Homicídio Conjugal em Portugal”, de Elza Pais (1998) que se revelou um instrumento

muito importante no meu trabalho, pois aborda esta temática de forma aprofundada e

estabelece comparações entre passado e presente dando a entender ao leitor a evolução

(contínua) deste tema. “Violência Conjugal na Ilha da Madeira”, de Carla Cruz, Dália Costa e

Maria João Cunha (2002) foi outro dos livros ao qual recorri. Este constituí uma investigação

sociológica dos maus-tratos sobre a mulher, tendo como amostra específica a Ilha da Madeira,

como o próprio título do livro indica. Aqui, confinei a utilização apenas a um capítulo, o qual

irá constituir objecto principal na ficha de leitura. Na biblioteca da faculdade consultei ainda o

livro “Violência das Famílias: Mal de Amor”, de Claudie Danziger (2002), que faz uma

perspectiva desde a mitologia, recorrendo até a passagens bíblicas de casos de violência entre

as famílias, dando-nos a conhecer o tal lado “sangrento” da família (como ele próprio nos diz

“Infinitamente vermelha e violenta me parece a família...”, 2002: 9).

Na biblioteca do meu local de residência, nomeadamente na Biblioteca Municipal de

Aveiro, igualmente escassos foram os livros que encontrei relativamente a este assunto.

Foram esses “Violência Familiar”, de Maria Emília Costa e de Cidália Duarte (2000), no qual

são apresentados dados inerentes a esta temática (violência doméstica) incidindo no tema

Violência Conjugal. As autoras propõem causas que poderão levar aos comportamentos

violentos por parte dos agressores, identificando os vários tipos de violência praticados contra

as vítimas e salientando a carácter cíclico das agressões. Dentro do mesmo parâmetro existe o

livro “(des) Equilíbrios Familiares”, de Madalena Alarcão (2000), com a diferença de se tratar

de uma perspectiva psicológica.

12

Para uma melhor clarificação de alguns conceitos fiz uso de um “Dicionário de

Ciências Sociais” de Alain Birou (1978) e da “Nova Enciclopédia Portuguesa” de Luís de

Menezes Nazaré et al. (1992).

Page 15: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

Como fonte de informação tive também o jornal diário Jornal de Notícias de 25 de

Novembro de 2003, onde muito oportunamente, se falava sobre violência doméstica. Tema

que mereceu especial interesse por ter sido comemorado, nesse mesmo dia, o Dia

Internacional da Violência contra as Mulheres.

Finalmente, em relação à pesquisa on-line, recorri a dois motores de busca em

especial: o Google e o Alta Vista, devido à sua eficácia e rapidez.

Sabemos que muita da informação encontrada na Internet é pouco fiável e esta até

pode ser vista como “um caixote de lixo”, pois toda a gente pode ter um página net. Por isso

mesmo tentei, o mais que possível recorrer a ficheiros pdf, os quais se verificaram escassos.

Utilizando então o Google, e tendo em conta as palavras violência doméstica muitos

foram os registos encontrados (76.800), e o mesmo se passou com o motor de busca Alta

Vista, cujos resultados encontrados (embora significativamente menos numerosos que o

anterior) foram de 10.654. Com vista a diminuir estes números fiz uso das aspas nesta mesma

expressão tendo obtido 58.600 (Google) e 2.129 (Alta Vista) respectivamente. Neste mesmo

sentido, considerei algumas palavras como sendo palavras chaves que me foram muito úteis

na minha pesquisa. Foi o caso de Agressão contra as Mulheres cujo resultados foram de

11.900, no Google e ao acrescentarmos “... + Portugal” à expressão reduz este número para

3.050.

Como optei pelo uso de dois motores de busca, verifiquei que o Alta Vista apresenta

sempre menos registos que o Google. Tomemos como exemplo a expressão violência

doméstica + Portugal, onde o Google apresenta um resultado de 6.600 registos contra 1.520

do Alta Vista.

No decorrer da pesquisa verifiquei que seria mais produtivo se me cingisse apenas a

um motor de busca e, como tal, optei pelo Alta Vista, pois a maior parte dos registos

encontrados neste motor de busca, se encontravam igualmente no Google.

Assim sendo, e continuando a busca, 83 registos são apontados com introduzimos s

palavras Homicídio Conjugal em Portugal e apenas 3 quando esta expressão é colocada entre

aspas “Homicídio Conjugal em Portugal”.

Efectuando uma pesquisa booleana onde é utilizado violência doméstica and medo

and vergonha 463 são os dados que obtemos. Relativamente à violência doméstica +

denúncia, 1.315 são os registos que o motor de busca nos fornece.

13

Page 16: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

3. Ficha de Leitura

A presente ficha de leitura reporta-se a um capítulo do livro “Violência Conjugal na

Ilha da Madeira” de Carla Cruz, Dália Costa e Maria João Cunha (2002). Cujo capítulo

“Caracterização de comportamentos” (anexo I) será pertinente no âmbito da trabalho

realizado, na medida em que servirá como uma espécie de complemento do mesmo.

A Violência doméstica “...um sinal dos tempos (...) apresenta-se de diversos modos e

são muitas as suas causas...” (Martins, 2000).

Este tema é estudado no âmbito da Sociologia da Família. Contudo, não será de fácil

investigação, pois constitui um fenómeno “... transversal em termos sociais, culturais e

económicos...” (Cruz, Costa e Cunha, 2002: 25).

No desenrolar de uma “Campanha Contra os Maus Tratos sobre as Mulheres na

Região Autónoma da Madeira”, desde Novembro de 1998 (dinamizada pela Comissão de

Mulheres da CDU), foi assumida a responsabilidade pela realização do estudo aos maus-tratos

sobre as mulheres desta ilha. Neste estudo sociológico foram tomados em consideração

factores como: pessoas envolvidas/que tiveram conhecimento das agressões, a identificação

dos abusos, sua periodicidade e frequência, local da ocorrência dos maus tratos e

comportamentos indicadores da violência.

Mais de metade das mulheres entrevistadas afirmam ter conhecimento de amigas ou de

familiares maltratadas e, mesmo assim, a maioria mantém o silêncio. Como causa deste

silêncio é apontado o sofrimento emocional, o desgaste emocional a que estão sujeitas.

Quando se trata da identificação de maus-tratos, 31.2% das inquiridas afirmam já ter

sido vítimas de abusos por parte dos maridos. Apesar de já significativamente elevado este

número, á ainda que ter em conta que esta percentagem apenas engloba as mulheres que

assumem que são vítimas de agressões. Muitas são aquelas, que por medo ou vergonha,

omitem este facto.

A violência conjugal funciona como uma espécie de ciclo a nível da sua periodicidade

e frequência. Os intervalos podem ser definidos em função dos períodos do ano (nenhuma,

poucas vezes, uma vez por semana, uma vez por mês, uma vez por dia e mais que uma vez ao

dia ...). Assim, verifica-se que é no intervalo de ocorrência dos maus-tratos mensal que a

14

Page 17: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

maioria das mulheres se encontra (31%). Seguem-se o semanal (19%) e o anual (13%).

Apenas 7% das mulheres afirmam nunca terem sido maltratadas.

É no lar que a violência tem lugar. A casa é o local prioritário e “favorito” dos

agressores, já que ninguém se pode meter no que diz respeito àquilo que se passa dentro das

“quatro paredes”. Apenas 5% das inquiridas dizem ter sido submetidas a agressões fora de

casa.

Ser agredida já é uma situação bastante difícil. Se juntarmos a este facto a presença de

testemunhas (quando apercebida) aquando da agressão consegue ser duplamente

constrangedor. O pior é que daquelas que assistem aos maus-tratos, os filhos são os mais

referidos pelas mulheres, seguidos pelos outros familiares e ainda pelos pais/sogros. A

reacção da maioria das testemunhas é ir em auxílio da vítima mas, infelizmente, cerca de 40%

não o fazem adoptando a filosofia de que “entre marido e mulher não se mete a colher”.

O consumo de álcool e de outras substâncias tóxicas é apontado como uma das

principais causas de abuso por parte dos maridos. A percepção que as mulheres maltratadas

têm em relação à condição do companheiro na altura dos maus-tratos, é de que este está sob o

efeito de alguma destas substâncias. Mas nem sempre a bebida é apontada como causa da

agressão.

Outros aspectos a ter em consideração são os comportamentos indicadores de

violência conjugal que se dividem em quatro tipos distintos: a violência física, a violência

psicológica (verbal e não verbal), a violência económica ou financeira e, por fim, a violência

sexual. Da intenção de causar danos físicos, passa-se à ameaça, à “tortura” psicológica, não

esquecendo a negação de sustento (a dependência face ao agressor) e obrigação do parceiro à

prática sexual.

A violência física é a categoria predominante, seguindo-se a violência psicológica.

Esta última terá um peso maior, pois a violência emocional é apontada pelas mulheres como a

causadora de mais sofrimento e consternação. Os filhos, mais uma vez, são os principais

“espectadores” destas cenas. A elevada presença dos filhos perante as diferenciadas formas de

violência merecem especial destaque, inclusive no que diz respeito aos comportamentos

indicadores de violência sexual.

O medo e a vergonha condicionam a vítima na prática da denúncia, sendo por isso que

mais de metade nunca contou o que lhe aconteceu. As poucas capazes de o fazer, escolhem os

familiares e as amigas mais próximas como confidentes. Claro que a tentativa de

reconciliação entre o casal, o arrependimento por parte do marido, o amor que dizem sentir

15

Page 18: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

pelo cônjuge são outros factores que conduzem a vítima a não apresentar queixa às

autoridades.

No que concerne à distribuição dos tipos de violência por concelho, verificamos que é

no concelho do Funchal que se encontram a maioria das mulheres vítimas de maus-tratos,

sendo clara a sua distinção entre os outros. Assim, as suas freguesias merecem igual destaque

no decorrer do estudo.

O estudo sociológico desenvolvido por Carla Cruz, Dália Costa e Maria João Cunha

(2002) é de grande precisão e levado ao pormenor. Denotando-se um grande esforço e

empenho na realização deste relatório.

Através de tabelas e gráficos bastante ilusidativos e de fácil compreensão, pretendem

dar a conhecer a realidade das mulheres residentes na Ilha da Madeira. Embora, devido à

elevada informação que contêm, certas tabelas e certos gráficos, nomeadamente os que

ilustram os comportamentos indicadores de violência por testemunhas, tornam-se um pouco

confusos, fazendo com que nos percamos na análise.

Explorando quase até à “exaustão” esta temática, diferenciam todas as possíveis

situações que decorrem da prática da violência, fazendo a caracterização da mesma o dos

comportamentos indicadores decorrentes deste tipo de violência.

16

Page 19: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

4. Avaliação da página da Web

A página da Web seleccionada será importante como complemento no decorrer do

trabalho, estando associada à temática por mim escolhida. Como tal, a página da Associação

Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV, s.d.) reúne informações bastante pertinentes no que

diz respeito à violência exercida sobre as mulheres.

No momento da consulta (15 de Dezembro de 2003) e, relativamente aos conteúdos

veiculados, verificamos o quanto a informação é diversificada. Os vários conteúdos exploram,

de forma apropriada, várias vertentes, em torno desta “... questão da violência contra as

mulheres tendo merecido nos últimos anos uma atenção muito especial por parte de inúmeros

Governos, bem como por organismos internacionais...” (Marta Pais, 1998).

Tendo essencialmente como público alvo as vítimas de todo o tipo de agressões, esta

página debruça-se em torno de todos os meios possíveis na prestação de apoio às mesmas,

tendo o cuidado de colocar à disposição os contactos necessários.

Como qualquer página, terá um ícone referente ao historial desta associação. Na

qualidade de organização sem fins lucrativos disponibilizará ainda vários ícones no que

respeita ao voluntariado, donativos e mecenato.

Os links disponibilizados constituem uma mais valia no aprofundamento deste tema,

assim como as estatísticas, publicações, projectos e newsletters que nos ajudam a ter uma

maior percepção desta realidade.

O site chamará a atenção pela sua boa apresentação gráfica e pelo seu slogan de

abertura, dando especial destaque ao número de telefone da linha de apoio e respectivo

horário de funcionamento e ao endereço de correio electrónico da APAV que estará à

disposição.

Os principais responsáveis pela criação do site não foram esquecidos, sendo os seus

nomes referidos na página inicial.

De fácil navegabilidade, este site tem a particularidade de apresentar ainda uma versão

inglesa, permitindo assim o seu acesso por um maior número de pessoas.

Para finalizar, resta acrescentar que toda a informação é gratuita e de carregamento

rápido.

17

Page 20: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

Conclusão

É de forma bem clara que constatamos que, infelizmente, a violência sobre as

mulheres tem sido “algo de trivial”, sobretudo se nos confinarmos a determinadas culturas. A

sua dimensão é tal, que a transforma num problema crucial da violência familiar (Costa e

Duarte, 2000). Os números deste tipo de crime considerado público, somente desde 2000, são

deveras assustadores. Note-se que cerca de cinco mulheres morrem por mês vítimas de

violência e maus-tratos no nosso país. De lamentar ainda, que morrem mais mulheres vítimas

de maus-tratos do que com cancro (uma das principais causas de morte no nosso país).

A violência doméstica assume vários tipos de abuso: abuso físico, abuso emocional,

abuso sexual, recorrendo até ao “abuso” económico.

Mas nem sempre são homens os responsáveis pelas agressões. Existem mulheres que

agridem os seus companheiros. Por exemplo, às vezes, ao discutirem recorrem à célebre

bofetada. Estas fazem mais uso da violência verbal e emocional do que propriamente da física

pois possuem uma estatura inferior ao homem.

Infelizmente, a violência doméstica não se restringe só às mulheres, afectando

igualmente as crianças, por motivos semelhantes acrescentando o facto de estas constituírem

alvos fáceis.

Muitos dos agressores não são castigados devidamente pois o medo, factor

condicionante, faz com que a maioria das vítimas retirem as suas queixas.

Felizmente, existem meios e estratégias de apoio às mulheres agredidas. Cada vez

mais são as organizações e iniciativas realizadas neste âmbito, embora a chave esteja na

prevenção. Contudo, prevalece o “Sentimento, também, de um certo desapontamento face à

ineficácia ou insuficiência das acções desenvolvidas em favor da situação da mulher que

explicam a persistência de violações dos seus direitos.” (Marta Pais, 1998).

18

Page 21: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

Referências Bibliográficas

• Alarcão, Madalena (2000), (des)Equilíbrios Familiares. Coimbra: Quarteto.

• APAV Notícias (2003), “Projecto PENÉLOPE”, Boletim Informativo da APAV, Abril

2003, n.º 10/11, 8. Página consultada a 15 de Dezembro de 2003. Disponível em:

<http://www.apav.pt/pdf/apavn.pdf>. • Assembleia da República (2001).“Medidas de protecção das Vítimas de Violência

Doméstica”, Resolução da Assembleia da República n.º 7/2000 (2001). Página

consultada em 15 de Dezembro de 2003. Disponível em:

<http://www.giea.net/legislacao.net/violencia_domestica/medidas_protecao_vitimas_v

iolencia_domestica.html>.

• Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV, s.d.). Página consultada em 15 de

Dezembro de 2003. Disponível em: <http://www.apav.pt/home.html>. • Ballone GJ, Ortolani IV (2003), “Violência Doméstica” in PsiqWeb. Página

consultada em 15 de Dezembro de 2003. Disponível em:

<http://www.psiqweb.med.br/infantil/violdome.html>.

• Birou, Alain (1978), Dicionário das ciências sociais. Lisboa: Dom Quixote.

• Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM, s.d.). “II Plano

Nacional Contra a Violência Doméstica 2003-2006”. Página consultada em 15 de

Dezembro de 2003. Disponível em: <http://www.cidm.pt>.

• Costa, Maria Emília e Duarte, Cidália (2000), Violência Familiar. Porto: Ambar

• Cruz, Carla; Costa, Dália e Cunha, Maria João (orgs.), (2002), “Caracterização de

comportamentos”, in idem (orgs.), Violência conjugal na Ilha da Madeira. Lisboa:

Avante, 53-75.

• Danziger, Claudie (2002), Violência das famílias. Mal de amor. Lisboa: Climepsi

editores.

• Dias, Isabel Sá (s.d.), “A violência doméstica em Portugal: contributos para a sua

visibilidade”. Actas do IV Congresso Português de Sociologia. Página consultada em

15 de Dezembro de 2003. Disponível em: <http://www.aps.pt/ivcong-actas/Acta168.PDF>.

19

Page 22: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Violência Doméstica

• Martins, Maria Helena (2000). “Violência doméstica”. Página consultada em 15 de

Dezembro de 2003. Disponível em: <http://astrologia.sapo.pt/X8Q26/369439.html>.

• Marzal, António (1999), Derechos humanos del migrante, de la mujer en el Islam de

injerencia internacional y complejidad del sujeto. Saragoça: Cometa, S.A.

• Nazaré, Luís de Menezes et al. (1992), Nova enciclopédia portuguesa, Volume 10.

Lisboa: Ediclube. • Notícias Lusófonas (2003), “Violência doméstica mata 60 mulheres em Portugal a

cada ano”, 24 de Novembro. Página consultada em 15 de Dezembro de 2003.

Disponível em:

<http://www.desarme.org/publique/cgi/cgilua.exe/sys/tart.htm?sid=16&infoid=2558>.

• Otão, Susana (2003), “Cinco mulheres morrem por mês vítimas de violência”. Jornal

de Notícias, 25 de Novembro, pp. 6.

• Pais, Elza Maria Henriques Deus (1998), Homicídio conjugal em Portugal. Rupturas

violentas da conjugalidade. Lisboa: Hugin Editores Limitada.

• Pais, Marta Santos (1998), “Violência contra as mulheres”, Seminário organizado, em

18 de Março de 1994, pela Universidade Católica, em colaboração com a Secretaria

de Estado da Justiça, a Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres e

o Clube Seroptimista Internacional de Lisboa. Página consultada em 15 de Dezembro

de 2003. Disponível em: <http://gddc.pt/actividade-editoral/pdfs-publicacoes/7374-b.pdf>.

• Sapo, (2002), “Violência Doméstica”. Página consultada em 15 de Dezembro de 2003.

Disponível em: <http://www.violencia00.no.sapo.pt/violenciadomestica.html>. • Sarmento, Morais (2003), “Violência doméstica: Números em Portugal são

«intoleráveis»”, in Notícias Lusa. Página consultada em 15 de Dezembro de 2004.

Disponível em: <http://www.ministrodapresidencia.pt>.

• SIC Online (2003), Página consultada em 15 de Dezembro de 2003. Disponível em:

<http://www.sic.sapo.pt/article27360visual4.html>.

20

Page 23: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Capítulo “Caracterização de comportamentos” do livro Violência Conjugal na Ilha da

Madeira, de Carla Cruz, Dália Costa e Maria João Cunha (2002).

Page 24: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra · Nas sociedades tradicionais, o casamento não seria mais do que uma espécie de contrato entre as famílias afim de proteger os

Página da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima