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FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS REPARAÇÃO POR DANOS À SAÚDE Trabalho apresentado como critério de avaliação parcial para a disciplina de “Direito Civil II”, sob a orientação do Professor Adilson Ralf Santos. Turma 2º D 1

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FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS

REPARAÇÃO POR DANOS À SAÚDE

Trabalho apresentado como

critério de avaliação parcial

para a disciplina de “Direito

Civil II”, sob a orientação do

Professor Adilson Ralf Santos.

Turma 2º D

Marcela Prado Leite Praça

Érica Cristina Borges

Fabiana Aparecida da Silva

Karoline dos Santos Pereira

POUSO ALEGRE

2008

1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................04

REPARAÇÃO POR DANOS À SAÚDE...................................................06

Incapacidade permanente para o trabalho...................................................11

Redução permanente para o trabalho..........................................................12

Possibilidade de recebimento das pensões em parcela única......................13

Revisão do pensionamento.........................................................................14

Incapacidade temporária para o trabalho.....................................................14

Redução temporária para o trabalho............................................................15

Deformação permanente..............................................................................15

Deformação temporária...............................................................................17

Projeto de Lei: alteração dos artigos 949 e 950 do código civil..................18

CONCLUSÃO............................................................................................19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................21

2

ANEXO I.....................................................................................................22

JURISPRUDÊNCIAS.................................................................................24

3

INTRODUÇÃO

Os danos à saúde abrangem o bem-estar físico e psíquico da pessoa,

comprometem seu modo de ser. As lesões podem ser resultantes de uma

agressão física, acidente de trânsito, acidente de trabalho, e demais meios

pelos quais se afetam não só a esfera patrimonial do sujeito, mas podem ter

também conseqüências extrapatrimoniais. Há lesões que não resultam em

incapacidades ou reduções da capacidade de trabalho, nem em

deformidades físicas, mas afetam o psiquismo do ofendido.

A lesão à integridade física constitui ilícito previsto tanto no

Código Civil, artigo 949, como no Código Penal, artigo 129, e constitui-se

pelo dano anatômico (escoriação, equimose, ferida, luxação, fratura,

cicatriz, aleijão, mutilação, etc.), que poderá acarretar ou não perturbação

funcional (alteração na sensibilidade, na motricidade, nas funções

vegetativas, na atividade sexual, no psiquismo).

Além do dano físico, ocorrem danos psicológicos, que caracterizam

o dano moral. Este tipo de dano identifica-se no sofrimento pessoal, nos

seus reflexos na ordem psíquica e no próprio estilo de vida do ser humano,

com alterações consideráveis no âmbito do exercício de atividades

profissionais como nas simples relações sociais. O indivíduo deve ser

examinado e protegido na sua integridade corporal e espiritual.

Há cumulações de reparações civis com os seguros previdenciários,

sem qualquer dedução ou compensação. Esses, “apesar da denominação,

não têm natureza jurídica nem conteúdo de seguro propriamente dito. Eles

só garantem aos acidentados um benefício estrito de cunho alimentar. Não

contemplam indenização alguma, nem determinam reparação dos prejuízos

sofridos; apenas são concedidos para garantir a sobrevivência da vítima. Os

4

seguros obrigatórios criam uma obrigação autônoma e distinta da

responsabilidade civil prevista pelos artigos 949 e 950 do Código Civil, de

maneira que o acidentado poderá exigir, cumulativamente, o cumprimento

das duas obrigações.

O estudo jurídico das indenizações pela incapacidade temporária ou

permanente, pela redução temporária ou permanente e pela deformação

temporária ou permanente, sofridas pelo lesado, pode tanto ser conduzido

pelo enfoque previdenciário, como pelo prisma dos seguros privados ou

pelo ângulo da responsabilidade civil. Trataremos do assunto nesse

seminário com enfoque nessa última modalidade: a reparação civil.

5

REPARAÇÃO POR DANOS À SAÚDE

Os artigos 186 e 9271 do Código Civil, ao prescrever que todo

aquele que violar direito ou causar prejuízo a outrem por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, deve reparar o dano, admite a

reparação civil do dano ao corpo, por constituir um ato ilícito.

Como reparação das lesões sofridas, o ofendido pode pleitear, de

acordo com o caso concreto, o dano material e o dano moral. Dano material

é aquele que tem uma correspondência econômico-financeira imediata:

despesas com hospital, farmácia, etc. nele, conseguimos avaliar exatamente

seu valor, e o lesado, o que sofreu o dano, receberá precisamente o valor

apurado. Por outro lado, o dano moral é uma lesão ao íntimo do lesado ou

dos seus familiares, que pode ser traduzida por uma humilhação, um

sofrimento, um dano estético e por outros prejuízos que o ofendido possa

sofrer.

A apreciação do dano e sua posterior reparação competem

normalmente ao juiz, com base nos informes proporcionados pelos

médicos-legistas sobre o alcance do dano biológico produzido. Isso porque

a prova de algumas alegações exige conhecimento técnico ou científico de

profissionais especializados que atuam em outros ramos do conhecimento,

pois não detém o julgador formação ou experiência na área médica para

avaliar e mensurar todos os efeitos das lesões causadas. Por essa razão deve

valer-se do auxílio de um perito, conforme o artigo 145 do CPC.

“Compete à perícia médica:

1 Como exceção à responsabilidade subjetiva prescrita pelo caput do artigo 927 referente aos artigo 186 do Código Civil, o parágrafo único desse mesmo artigo prevê a exclusão da culpa do agente, para efeitos de responsabilidade civil, em determinados casos.

6

-diagnosticar as lesões e perturbações funcionais;

- examinar a compatibilidade entre as características das lesões e alterações

funcionais diagnosticadas com as causas alegadas;

- avaliar as perdas ou reduções funcionais de órgãos, funções ou segmentos

corporais;

-avaliar percentualmente o prejuízo no patrimônio físico e psíquico;

- indicar a eventual necessidade de tratamentos especializados, próteses e

reabilitação profissional e estimar os respectivos custos.”2

No âmbito da responsabilidade civil não há tabelas ou quadros com

parâmetros oficiais para indicar as perdas parciais da capacidade laborativa,

mas essa matéria tem regulamentação detalhada no campo dos benefícios

previdenciários e dos seguros privados, os quais podem ser aplicados por

analogia na reparação civil. 3

A avaliação da incapacidade deve ser feita fundamentada não

simplesmente em cálculos baseados em tabelas, mas considerando as

especificidades do caso da vítima, tais como: idade, situação do mercado de

trabalho, grau de instrução, deslocamento até o local de trabalho, entre

outras. Em tese, quase todos os acidentados poderiam ser readaptados para

outras atividades, mas não cabe impor ao lesado a busca compulsória de

outra profissão, até porque o serviço de readaptação e reabilitação

profissional no Brasil funciona precariamente.

É necessário consignar que o juiz não fica vinculado ao resultado

do laudo pericial, podendo formar sua convicção com outros elementos ou

fatos provados nos autos, podendo até mesmo determinar a realização de

nova perícia quando a matéria não lhe parecer suficientemente esclarecida.

2 Sebastião Geraldo de Oliveira, pág. 265.3 No anexo I encontra-se a tabela elaborada pela Superintendência de Seguros Privados – SUSEP.

7

Relato das lesões, danos ou perdas sofridas, indicando as

repercussões na sua capacidade de trabalho, todos os fatos alegados

deverão ser devidamente comprovados. Além disso, deve o julgador avaliar

a extensão dos danos; a capacidade residual de trabalho; a possibilidade de

readaptação ou reabilitação profissional; o percentual da invalidez parcial

ou o reconhecimento da invalidez total; as lesões estéticas e seus reflexos

na imagem da vítima; sob a luz dos artigos 949 e 950 do Código Civil, que

serão analisados a seguir:

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o

ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da

convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver

sofrido.

Em regra, a lesão ao corpo repara-se pela cura, de forma que o

modo de ressarcir previsto pelo artigo 949 do Código Civil estabelece o

dever de indenizar a vítima das despesas com o tratamento (p. ex., gastos

com medicamentos, cirurgia, ortopedia, honorários médicos, exames

clínicos, entre outras) e dos lucros cessantes (rendimentos que deixou de ter

pelo não-exercício de suas atividades) até o final da convalescença, além de

algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. Em sua parte

final, o artigo permite ao lesionado pleitear, também, reparação de dano

moral e de dano estético, que serão fixados em cada caso, conforme as

circunstâncias, segundo prudente arbitramento judicial. No caso de danos

patrimoniais pleiteia-se um ressarcimento, ao contrario da indenização por

danos morais, que tem finalidade reparatória.

A doutrina e a jurisprudência evoluíram para o deferimento de

indenizações distintas quanto ao dano moral e ao dano estético quando

esses danos forem passíveis de apuração em separado, com causas

inconfundíveis. O dano estético está vinculado ao sofrimento pela

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deformação com seqüelas permanentes, facilmente percebidas, enquanto o

dano moral está ligado ao sofrimento e todas as demais conseqüências

nefastas provocadas pelo ato ilícito.

Há algumas lesões que não deformam a vítima fisicamente, mas

afetam seu psiquismo, e outras que atingem o aspecto estético do lesado,

mas este as supera, sem que haja repercussão psíquica. Apesar disso, o

dano estético quase sempre resulta num dano moral ao lesado, não só pelas

dores físicas que vier a sofrer, mas também pelo fato de se sentir atingido

na integridade ou na estética de seu corpo, tendo, por isso, direito a uma

reparação específica.

O Código Civil de 1.916 estabelecia, pelo §1º do artigo 1.538, que o

valor da indenização para o caso de ferimento ou outra ofensa à saúde,

seria duplicado se do ferimento resultasse lesão corporal de natureza grave,

que deixava marcas (“aleijão” ou “deformidade”), como a perda de um

braço, de uma perna, de movimentos ou dos sentidos. E em seu §2º,

dispunha que, se o ofendido, aleijado ou deformado, fosse mulher solteira

ou viúva, ainda capaz de se casar, a indenização consistiria em dotá-la,

segundo as posses do ofensor, as circunstâncias do ofendido e a gravidade

do defeito. O artigo 1.538 do CÓDIGO CIVIL de 1916 também prescrevia

que, além das indenizações relativas aos danos materiais e morais causados

à vítima, o ofensor deveria pagar, como indenização, “a importância da

multa no grau médio da pena criminal correspondente”.

Ao utilizar os termos “aleijão e deformidade”, o Código Civil de

1916 alargou o conceito de dano estético. Porém, o escopo da lei não era a

reparação em si, mas a indenização pecuniária.

O novo Código Civil não faz mais essas distinções, uma vez que até

mesmo o dote foi eliminado. Para que se caracterize deformidade, é

necessário o ofendido sofra um dano estético que cause impressão penosa

ou desagradável.

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Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer

o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a

indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da

convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho

para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização

seja arbitrada e paga de uma só vez.

As despesas de tratamento e os lucros cessantes serão mais elevados

em caso de lesão corporal que resulte em incapacidade permanente ou

redução permanente para o trabalho, tratadas pelo artigo 950 do Código

Civil de 2002, pois abrange despesas médicas e hospitalares como

cirurgias, aparelhos ortopédicos, fisioterapia, etc. Mas será preciso que tais

verbas não se convertam em enriquecimento ilícito. Se as despesas com o

tratamento forem exageradas, incluindo tratamento fora do país, tratamento

por médico renomado, e isto não for indispensável à cura, o ofendido

deverá arcar sozinho com os excessos.

O maior problema da responsabilidade civil é a quantificação dos

danos apurados. Em princípio, o que interessa é a composição do dano,

buscando, sempre que possível, a restauração do status quo ante. Devem-se

observar as condições financeiras do ofensor, pois de nada adiantaria impor

a este uma reparação demasiadamente alta que ele não teria capacidade

financeira de suportar.

Para a estipulação do valor da indenização por danos morais pelo

juiz, a doutrina e a jurisprudência vêm indicando que sempre devem ser

considerados o grau de culpa, o dano em si, as condições econômicas e

sociais do ofensor. Além disso, a fixação do valor deve objetivar

10

compensar a dor, o constrangimento e/ou sofrimento da vítima, e combater

a impunidade. O arbitramento dos danos morais, no entanto, não obedece

ao mesmo critério aplicado aos danos materiais. Em vez do pagamento

mensal na forma de pensionamento, os danos morais normalmente são

fixados para pagamento imediato, em parcela única.

Incapacidade permanente para o trabalho

O Código Civil de 2002, no seu artigo 950, confere o direito à

indenização por incapacidade permanente quando o ofendido não puder

mais exercer o seu exercício ou profissão. Diversamente da Lei de

Benefícios da Previdência Social4, o dispositivo do Código Civil não

menciona a possibilidade de readaptação da vítima para o exercício de

outra função compatível, bastando demonstrar a incapacidade para a

profissão que o acidentado exercia no momento do infortúnio. Assim, o

ofendido que perde um dos braços em acidente sofre inabilitação total se

necessitava de ambos para o exercício de sua profissão, ainda que possa

exercer outra usando apenas um deles.

Quando declarada a incapacidade permanente, como espécie do

dano moral, ocorre um dano à liberdade, que é aquele que incide na

frustração do projeto existencial do sujeito; trata-se de um dano que, a

4 Segundo a Lei de Benefícios da Previdência Social, a aposentadoria por invalidez será devida quando o segurado for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, após comprovação da incapacidade mediante exame médico-pericial. A qualquer tempo, o segurado beneficiado pela aposentadoria por invalidez é obrigado a submeter-se a exame médico periódico a cargo do INSS, sob pena de sustação do pagamento do benefício.

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partir de uma lesão à saúde, impede a pessoa de cumprir com seu projeto

vital. Ex.: um pianista profissional que, a partir de um acidente, perde

dedos da mão, fato que não lhe permite continuar realizando seu projeto de

"ser" pianista, de viver como tal. É um dano que tem em vista o futuro do

sujeito.

Certos acidentes deixam a incapacidade tão evidente que dispensam

maiores indagações, como um motorista ou um cirurgião que perdeu a

visão, um violista que perdeu o braço, o pedreiro que ficou paraplégico.

A reparação dos danos materiais por invalidez permanente, de

acordo com o artigo 950 do Código Civil, abrange as despesas de

tratamento até o fim da convalescença, isto é, até a cura ou a consolidação

das lesões; os lucros cessantes também até o fim da convalescença; além de

uma pensão correspondente à importância do trabalho para que a vítima se

inabilitou (valor da remuneração mensal que a vítima percebia).

O grau de incapacidade é apurado mediante perícia médica. Se

depois da convalescença, o juiz decide pela incapacidade do lesado para o

trabalho, o valor que era devido como reparação dos lucros cessantes passa

a ser pago a título de pensão vitalícia.

Redução permanente para o trabalho

É a redução da capacidade de trabalho, em caráter permanente, que

implique em exigência de maior esforço para o desempenho da mesma

atividade que exercia à época do acidente; ou, em impossibilidade de

desempenho da atividade que exercia à época do acidente, permitindo,

porém, o desempenho de outra.

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Em caso de redução permanente para o trabalho, o ofendido terá

direito a um quantum, a título de pensão, correspondente à diferença entre

o que recebia e o que passou a receber.

Também na redução permanente a indenização abrangerá todas as

despesas de tratamento e pagamento de lucros cessantes de modo integral.

Depois da convalescença, os lucros cessantes passarão a ser pagos a título

de pensão vitalícia, porém, com a redução fixada em razão da parcial

incapacidade. No mais, cabe o deferimento da reparação dos danos

materiais, morais e estéticos, conforme o caso.

Possibilidade de recebimento das pensões em parcela única

Segundo o artigo 950, parágrafo único, nos casos passíveis de

indenização por pensão (incapacidade permanente e redução permanente

para o trabalho), o lesado poderá exigir pagamento da indenização de uma

só vez, mediante arbitramento do valor pelo juiz, atendido ao disposto nos

artigos 944 e 9455 e à possibilidade econômica do ofensor. Feita essa opção

pelo lesado, o ofensor deverá pagar de uma vez as verbas alusivas às

despesas com o tratamento, lucros cessantes, pensão, etc.

Segundo o entendimento mais aceito, a opção depende, apenas, da

vontade do prejudicado.

5 Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

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Revisão do pensionamento

Há possibilidade de revisão do pensionamento nos casos em que a

vítima que teve pensão vitalícia deferida em razão de redução permanente

para o trabalho, com o passar do tempo, constata que sua redução para o

trabalho foi agravada. Nessa situação, ela poderá pedir revisão para

aumentar o valor arbitrado. Assim como também poderá haver revisão do

pensionamento nos casos em que a recuperação inesperada da vítima fez

desaparecer ou reduzir o prejuízo proveniente da antiga lesão. Nesse

segundo caso, o réu poderá pedir a redução do valor do pensionamento.

Incapacidade temporária para o trabalho

Ocorre a incapacidade temporária quando o lesado, após o período

de tratamento, recebe alta médica e retorna ao trabalho sem qualquer

seqüela, perda ou redução da capacidade laborativa. É regida pelo artigo

949 e de acordo com ele durante a convalescença a vítima deverá ser

indenizada de todas as despesas necessárias para o tratamento, bem como

dos lucros cessantes.6

6 O empregado segurado da Previdência Social será remunerado pelo seu empregador durante os primeiros 15 dias de afastamento e, após esse período, terá direito ao benefício cabível pelo INSS. Ao segurado incapaz de recuperar-se para o exercício de sua atividade habitual, deverá submeter-se a reabilitação profissional para o desempenho de outra atividade que lhe garanta subsistência, quando considerado irrecuperável, ser-lhe-á concedida a aposentadoria por invalidez. Desta forma, o auxílio–doença acidentário perdurará até a constatação de sua habilitação, ou for considerado irrecuperável.

14

Também é cabível a indenização por danos morais. Pois embora

nem sempre a lesão corporal de natureza leve justifique pedido dessa

natureza, há casos em que tal pretensão torna-se pertinente.

Redução temporária para o trabalho

É a diminuição da capacidade para o trabalho por um período de

tempo limitado. Nesse caso o lesado não se afasta do trabalho, mas o

exerce com menor rendimento e maior esforço. São devidas as possíveis

despesas obtidas em razão do tratamento até ao fim da convalescença, ou

seja, até a vítima recobrar totalmente a saúde, e ainda os lucros cessantes.

Também são cabíveis danos morais, como dispõe o artigo 949 do Código

Civil.

Deformação permanente

Deformação ou deformidade é uma lesão corporal que tem como

resultado a alteração da forma física da vítima, entende-se como a quebra

da estética individual na forma normal e própria da pessoa, que cause uma

impressão de mal-estar, de desagrado. No caso da deformação permanente,

a lesão corporal caracteriza-se pela permanência ou irreparabilidade do

dano. Para a configuração da deformidade permanente é fundamental o

dano estético.

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Ex.: uma cicatriz permanente no rosto da vítima, visível à distância,

que impressione desde logo o observador e seja irreparável em condições

normais – ocasionando dano estético. Mas não deve a lesão ser

necessariamente no rosto, pode ser em qualquer parte do corpo. Via de

regra, a deformidade só existe quando há ruptura da harmonia, que atente,

de modo sensível, contra a estética do indivíduo.

Toda deformidade ou defeito físico permanente, irreparável,

induzindo a existência de um dano estético, resultaria uma natural

presunção de sofrimento psíquico que identifica desde logo o dano moral.

A simples deformação pode representar uma seqüela extremamente

dolorosa que frustra a expectativa de vida da vítima, torna mais difíceis

suas condições de trabalho, diminui suas probabilidades de colocação ou de

exercício da atividade a que se dedica.

Se o dano estético puder ser reparado mediante técnica cirúrgico-

plástica, como o órgão judicante fixaria a indenização? O juiz deverá atuar

prudentemente. Apesar do progresso da cirurgia plástica, nem todas as

lesões estéticas admitem uma reparação ideal. P. ex.: o olho de vidro não

tem o brilho e a expressão do olho primitivo. Além de que não se pode

obrigar a vítima a se submeter a qualquer intervenção cirúrgica, mesmo

com o objetivo de reparar dano estético. Logo, não deixa de ser

deformidade permanente a que permite dissimulação.

Na maioria das vezes, a lesão estética pode determinar prejuízo

material, repercutindo nas possibilidades econômicas da vítima, p. ex., se

fosse uma bailarina, uma modelo publicitária, uma cantora, que, para

exercerem sua profissão, têm necessidade de aparecer em público. Nessas

hipóteses terá um dano patrimonial indireto.

Pode haver cumulação de dano moral com dano estético. Ex. uma

mão amputada, uma prótese eliminaria o dano estético, pois restabeleceria

a aparência de normalidade do membro afetado. Não tem razão dizer que o

16

dano moral (consistente no constrangimento, humilhação e sentimento de

inferioridade ligados ao aleijão) estaria também reparado. Por mais perfeita

que seja a prótese, não será bastante para simular com perfeição a

aparência, os movimentos e as mutações naturais do tecido humano vivo. O

autor não conseguiria cumprimentar outra pessoa com um aperto de mão

sem que esse percebesse que sua mão é artificial. O emprego da prótese

não eliminaria o dano moral, pois o ofendido estaria sempre consciente da

artificialidade e tal consciência representa sofrimento, perda de auto-estima

e confiança próprias.

O magistrado, na fixação do quantum indenizatório do dano moral

em caso de deformidade permanente, avaliará o laudo pericial, que deverá

vir fundamentado e instruído com fotografias da vítima, pois a convicção

do juiz deve ter como substrato a observação imediata das lesões havidas

como deformantes.

Deformação temporária

A deformação temporária é aquela reparável. Neste tipo de lesão é

possível o retorno ao statu quo ante, embora haja, temporariamente, a

alteração da forma habitual do físico de uma pessoa. Após o período de

convalescença, o lesado encontra-se em perfeita cura. Dessa forma, os

danos materiais devidos se restringem àqueles do tempo de tratamento.

Esta deformação traz também efeitos de sofrimento psíquico ao ofendido,

cabendo reparação por danos morais, pois, durante o tempo do tratamento,

o lesado passou por situações de constrangimento devido à lesão.

17

Projeto de Lei: alterações dos artigos 949 e 950 do Código Civil

O Projeto de Lei n. 276/2007 propõe a alteração da redação do

artigo 949, alegando que há um equívoco no artigo 949 ao mencionar a

prova dos outros danos, uma vez que os danos morais dispensam a prova

do prejuízo em concreto, sua existência é presumida. A grande dificuldade

da reparação do dano moral sempre foi essa prova, a rigor impossível,

porque não há como adentrar na subjetividade do lesado.

O mesmo Projeto visa acrescentar dois parágrafos ao Artigo 950, de

modo a corrigir sua omissão aos danos morais e estéticos. Como o dano

moral sempre é devido, poder-se-ia acrescentar, como no artigo 949, a

expressão “sem excluir outro prejuízo que o ofendido haja sofrido”. O

artigo 950 não prevê a reparação dos danos morais oriundos de ofensa que

acarrete defeito físico permanente.

Enfatiza Carlos Alberto Bittar que “não se cogita em prova de dor,

ou de aflição, ou de constrangimento, porque são fenômenos ínsitos na

alma humana como reações naturais a agressões do meio social.

Dispensam, pois, comprovação, bastando, no caso concreto, a

demonstração do resultado lesivo e a conexão com o fato causador, para

responsabilização do agente”.

Os danos morais apesar de não se exigir prova para a sua

identificação, podem ter o valor de sua indenização dosado por elementos

importantes colhidos na instrução processual.

18

CONCLUSÃO

A integridade física é um bem suscetível de apreciação pecuniária e

sua perda deverá ser reparada levando-se em conta o reflexo que produz

tanto na esfera patrimonial quanto na esfera extra patrimonial do lesado.

Não só todas as manifestações atuais e repercussões futuras devem ser

avaliadas, como também as circunstâncias relativas àqueles que pleiteiam a

indenização.

É importante que se averigúe a real existência do dano para que se

faça jus à indenização, uma vez que o direito civil somente se refere ao

dano a bem alheio. Dessa forma, aquele que lesa sua própria saúde ou

agrava as conseqüências da doença, com o escopo de receber indenização

ou valor de seguro, não se configura um autor legítimo para o pedido da

reparação civil. Esta deve cumprir sua função de ressarcimento e de

indenização, e de forma alguma ser meio para o locupletamento.

Na fixação do valor indenizatório o juiz formula seu convencimento

através do auxílio de médicos-perito, mas sua decisão não se vincula ao

laudo pericial. O julgador deve avaliar as especificidades de cada indivíduo

lesado, de forma a alcançar uma quantificação justa da indenização.

A obrigação do civilmente responsável de ressarcir as despesas

relativas à recuperação da vítima, aos ganhos que ela perdeu em razão do

prejuízo que lhe foi causado e à dor física e psíquica, ao constrangimento e

à exposição ao ridículo pela qual possa ter passado encontra-se positivada

no artigo 949 do Código Civil de 2002. Tal dispositivo regula a

incapacidade, a redução e a deformação, que após o período de

convalescença, não geram incapacidade ou redução para o trabalho ao

ofendido. Complementando o artigo 949, o artigo 950 prescreve a

19

incapacidade, a redução e a deformação que produzem reflexos negativos

na capacidade laborativa, reduzindo-a ou destruindo-a. Apesar de não

trazer em sua redação o disposto no artigo 949: “além de algum outro

prejuízo que o ofendido prove houver sofrido”, tal expressão se estende ao

artigo 950, legitimando as indenizações referentes aos danos morais e/ou

estéticos. Diante dessa omissão, justifica-se o Projeto de Lei n. 276/2007,

que também critica a suposta requisição de prova pelo artigo 949 para o

deferimento do dano moral.

O dano moral não tem caráter de ressarcimento, mas de

indenização. Outras de suas peculiaridades são: a sua identificação apenas

pela constatação do dano e do nexo causal, e a sua exigibilidade total e

imediata.

As indenizações previstas pelo artigo 950, segundo o parágrafo

único deste, também poderão ser cobradas de uma vez só de acordo com a

preferência da vítima, mas deverá respeitar certos dispositivos legais e as

condições econômicas e sociais do ofensor.

Por fim, concluímos que o dano à saúde atinge um direito da

personalidade e a isso se deve a grande dificuldade, por mais integral que

seja a sua reparação, de retornar a vítima ao seu statu quo ante.

20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4990&p=2> Acesso em: 20

set. 2008.

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caso de acidente de trabalho. Disponível em:

<http://www.advocaciapasold.com.br/novidades/responsabilidade_civil_da

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2008.

CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2005.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º volume:

Responsabilidade Civil. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Vol. IV:

Responsabilidade Civil. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho

ou doença ocupacional. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2006.

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