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Faculdade de Ciências da Saúde
Universidade da Beira Interior
LEUCEMIA LINFÁTICA CRÓNICA/LINFOMA NÃO
HODGKIN LINFOCÍTICO DE CÉLULAS PEQUENAS
Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
Marta da Silveira Botelho Grade Mendes
Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina
Junho 2010
Faculdade de Ciências da Saúde
Universidade da Beira Interior
LEUCEMIA LINFÁTICA CRÓNICA/LINFOMA NÃO
HODGKIN LINFOCÍTICO DE CÉLULAS PEQUENAS
Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
Por
Marta da Silveira Botelho Grade Mendes
Orientador
Drª Maria Margarida Veiga da Silveira Botelho da Silveira
Co-Orientador
Professor Doutor António Lourenço Marques
Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina
Junho 2010
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
1
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS .................................................................................................... 6
RESUMO ...................................................................................................................... 7
ABSTRACT ................................................................................................................... 8
LISTA DE SIGLAS ........................................................................................................ 9
ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................. 10
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................. 11
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12
1 OBJECTIVOS ...................................................................................................... 14
2 METODOLOGIA .................................................................................................. 15
3 CAPÍTULO I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................... 16
3.1 Perspectiva histórica da Leucemia linfática crónica/LNH linfocítico ......................... 16
3.2 Definição actual de LLC/LNH linfocítico ..................................................................... 19
3.3 Classificação das neoplasias linfáticas ....................................................................... 19
3.4 Linfocitose monoclonal de células B: o potencial percursor da LLC/LNH linfocítico. 22
3.5 Epidemiologia da LLC/LNH linfocítico ........................................................................ 22
3.6 Etiologia da LLC/LNH linfocítico ................................................................................. 23
3.7 Fisiopatologia da LLC/LNH linfocítico ........................................................................ 24
3.8 Factores de risco da LLC/LNH linfocítico ................................................................... 26
3.8.1 Radiação ionizante e não-ionizante ............................................................ 26
3.8.2 Exposição química ...................................................................................... 28
3.8.3 Condições médicas e tratamentos ............................................................. 28
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
2
3.8.4 Hábitos tabágicos ....................................................................................... 29
3.8.5 Factores genéticos ...................................................................................... 29
3.9 Manifestações clínicas da LLC/LNH linfocítico .......................................................... 29
3.10 Diagnóstico de LLC/linfoma linfocítico de células pequenas .................................... 30
3.11 Diagnóstico hemato-oncológico ................................................................................ 31
3.11.1 Biópsia ...................................................................................................... 31
3.11.2 Estudo morfológico................................................................................... 32
3.11.3 Estudo citogenético .................................................................................. 32
3.11.4 Estudo molecular ...................................................................................... 33
3.11.5 Fenotipagem ............................................................................................. 34
3.12 Diagnóstico hemato-oncológico de LLC/LNH linfocítico ........................................... 36
3.12.1 Biópsia ...................................................................................................... 36
3.12.2 Estudo morfológico................................................................................... 36
3.12.3 Estudo citogenético .................................................................................. 41
3.12.4 Fenotipagem ............................................................................................. 42
3.13 Diagnóstico diferencial .............................................................................................. 42
3.14 Tratamento ................................................................................................................ 44
3.14.1 Tratamento de primeira linha .................................................................. 47
3.14.2 Tratamento de segunda linha ................................................................... 50
3.14.3 Consolidação das remissões ..................................................................... 52
3.14.4 Doentes imunodeprimidos ....................................................................... 53
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
3
3.14.5 Novos agentes terapêuticos ..................................................................... 54
3.15 Complicações ............................................................................................................. 54
3.15.1 Infecções ................................................................................................... 54
3.15.2 Hipogamaglobulinémia ............................................................................. 55
3.15.3 Citopenias ................................................................................................. 55
3.15.4 Síndrome de Richter ................................................................................. 56
3.15.5 Tumores secundários ................................................................................ 57
3.16 Prognóstico e factores preditivos .............................................................................. 57
3.17 Seguimento ................................................................................................................ 59
4 CAPÍTULO II – CASO CLÍNICO ........................................................................... 60
5 CAPÍTULO IV – TESTES LABORATORIAIS ........................................................ 63
5.1 Introdução ................................................................................................................. 63
5.2 Utilidade dos testes ................................................................................................... 64
5.3 Valor Anormal ............................................................................................................ 65
5.4 Que testes são úteis .................................................................................................. 65
5.5 Estratégia do pedido .................................................................................................. 65
6 CAPÍTULO III – REVISÃO DO PONTO DE VISTA LABORATORIAL DE 57
NOVOS CASOS NO ANO DE 2009 ............................................................................ 66
6.1 Estratificação segundo a idade .................................................................................. 66
6.2 Estratificação segundo o sexo dos doentes ............................................................... 67
6.3 Número de leucócitos ............................................................................................... 67
6.4 Número de linfócitos ................................................................................................. 68
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
4
6.5 Valor de hemoglobina ............................................................................................... 68
6.6 Valor de reticulócitos ................................................................................................. 69
6.7 Valor de plaquetas ..................................................................................................... 69
6.8 Função renal .............................................................................................................. 70
6.9 Função hepática......................................................................................................... 70
6.10 Imunoglobulina M ..................................................................................................... 71
6.11 Biópsia óssea ............................................................................................................. 71
6.12 Conclusões ................................................................................................................. 71
7 CAPÍTULO V – CONCLUSÕES ........................................................................... 74
8 CAPÍTULO VI – TEMAS PARA FUTURAS INVESTIGAÇÕES RELACIONADAS
COM O TEMA ABORDADO ........................................................................................ 76
BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS .............................................................................. 77
ANEXOS ..................................................................................................................... 84
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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“O papel da ciência na prática clínica é hoje em dia absolutamente
insubstituível. A publicação permanente de estudos e ensaios clínicos produz
evidência, prova científica, de boa qualidade sobre a qual é possível o médico tomar
decisões sólidas, mesmo que num contexto de incerteza e risco. Para além disso, a
combinação entre a gestão de recursos cada vez mais escassos e dispendiosos por
um lado, com responsabilização dos médicos por parte da sociedade na prestação de
cuidados eficazes mas custo-efectivos, por outro, cria novas exigências de rigor e
racionalização da prática médica. Hoje em dia, a evidência científica proveniente de
estudos clínicos pode caracterizar-se em três pontos: 1) existe muito maior quantidade
de estudos; 2) a qualidade destes é muito melhor; 3) estes podem ser rápido e
eficazmente localizados através dos meios informáticos.”
ANTÓNIO VAZ CARNEIRO, Conferência: “Como avaliar a investigação clínica. O
exemplo da avaliação crítica de um ensaio clínico”.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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AGRADECIMENTOS
Quero expressar aqui os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles
que, directa ou indirectamente, contribuíram para a concretização desta
Dissertação de Mestrado.
À Drª Margarida Silveira, orientadora desta dissertação, agradeço o
empenho, as ideias criativas, a disponibilidade, o entusiasmo com que sempre
me contagiou e o trabalho dispendido.
Ao Professor Doutor Lourenço Marques por ter aceite prontamente ser o
meu co-orientador e por toda a disponibilidade que demonstrou.
Agradeço à minha mãe toda a força, trabalho e apoio incondicional,
sendo o meu grande modelo e inspiração em tudo o que faço.
Agradeço ao meu marido a ajuda em todos os momentos e o facto de
estar sempre disponível para mim.
Agradeço à Faculdade de Ciências da Saúde da Beira Interior, em
especial ao Professor Doutor Miguel Castelo Branco e à Drª Manuela do
Gabinete de Educação Médica, todo o apoio e consideração neste ano
atribulado.
Agradeço à minha prima Sara toda a ajuda, disponibilidade e amizade.
Agradeço em geral ao meu pai, irmãos, sogra, tios, primos, avós e
amigos que, apesar de não terem contribuído directamente para a realização
desta dissertação de mestrado, são imprescindíveis e estão sempre presentes
na minha vida e no meu pensamento.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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RESUMO
Os médicos anseiam por diagnósticos infalíveis que os façam ganhar
tempo face à astúcia das malignidades. Os doentes querem respostas
poderosas, concisas, que os salvem. A medicina deve ser a união da arte ao
engenho e os médicos devem utilizar habilmente todos os reforços que a
Ciência lhes proporciona.
Hoje em dia a prática da Medicina baseada na evidência permite-nos
esta abordagem.
No presente trabalho pretendemos estudar a Leucemia linfática
crónica/linfoma linfocítico de células pequenas (LLC/LNH linfocítico), uma
doença hemato-oncológica, focando a importância de um diagnóstico
pluridisciplinar que nos possibilite diagnosticar, seguir e tratar de forma correcta
um doente. Nesse âmbito foi estudado um caso clínico e foram revistos do
ponto de vista laboratorial, cinquenta e sete novos casos, admitidos no ano de
2009 no Serviço de Patologia Clínica do Instituto Português de Oncologia de
Lisboa Francisco Gentil.
Como o número de testes laboratoriais cresce exponencialmente, ao
longo dos tempos, gostávamos de sensibilizar para a importância da aplicação
dos mesmos de uma forma mais pragmática, em vista da confirmação do
diagnóstico provável.
PALAVRAS CHAVE: Leucemia linfática crónica, diagnóstico hemato-
oncológico, testes laboratoriais, linfócitos, cromossomas
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
8
ABSTRACT
Doctors yearn for infallible diagnoses that make them gain time against
the cunning of malignancies. Patients want answers powerful, concise, to
rescue them. The medicine should be the union of art to the ingenuity and
physicians must skillfully use all the reinforcements that science provides.
Today the practice of evidence-based medicine allows us to approach
this.
In this paper we will study the chronic lymphatic leukemia (CLL), an
oncologic disease, focusing on the importance of a multidisciplinary diagnosis
that enables us to diagnose, track and treat a patient properly. In this
connection a case has been studied and were reviewed from the standpoint of
laboratory, fifty-seven new cases were admitted in 2009 in the Department of
Pathology of the Portuguese Institute of Oncology Francisco Gentil de Lisboa.
As the number of laboratory tests grows exponentially over time, we
would like to raise awareness of the importance of their application to be made
in a more pragmatic way, in order to confirm the diagnosis likely.
KEY WORDS: chronic lymphatic leukemia, hemato-oncological
diagnosis, laboratory tests, lymphocyte, chromosomes
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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LISTA DE SIGLAS
BQ- bioquímica
Del- delecção
EDTA- ácido etilenodiaminotetracético
FMC7- Anticorpo monoclonal
H&E- Corante hematoxicilina e eosina
IGHV- genes das cadeias pesadas das imunoglobulinas
IPOFG- Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil
LNH linfocítico- linfoma não Hodgkin linfocítico de células pequenas
LLC- leucemia linfática crónica
MO- medula óssea
PCR- polymerase chain reaction
ZAP 70- cadeia zeta associada à proteína quinase 70
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Estadiamento de Rai e Binet (6) .......................................... 45
Tabela 2 – Factores importantes de prognóstico (6) (16) (32) (33) (34)
(35) (36) ............................................................................................................ 59
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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ÍNDICE DE FIGURAS
Imagem 1 – Diferenciação B (4)............................................................. 21
Imagem 2 – Técnica de Fish (5) ............................................................. 34
Imagem 3 – Citometria de fluxo (5) ........................................................ 35
Imagem 4 – Esfregaço de sangue periférico (obtido a partir de um caso
real do IPOFG) ................................................................................................. 38
Imagem 5 – Infiltração linfocitária de um gânglio linfático. a) H&E b) CD3
......................................................................................................................... 40
Imagem 6 – Diagnóstico diferencial entre LLC/LNH linfocítico e outros
linfomas de células B (7) .................................................................................. 43
Imagem 7 – Algoritmo de tratamento. AIHA – Anemia hemolítica
autoimune. FCR – Fludarabina + Ciclofosfamida + Rituximab. PCR –
Pentostatina + Ciclofosfamida + Rituximab. FC - Fludarabina + Ciclofosfamida.
FR – Fludarabina + Rituximab (29). .................................................................. 50
Imagem 8 – Síndrome de Richter (5) ..................................................... 57
Imagem 9 – Situação ideal vs situação real no âmbito das características
de desempenho dos testes laboratoriais (44) ................................................... 64
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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INTRODUÇÃO
A Leucemia linfática crónica/linfoma linfocítico de células pequenas é o
tipo de leucemia mais frequente nos adultos e afecta cerca de sete mil novos
indivíduos por ano em Portugal. É o tipo de leucemia mais comum no mundo
Ocidental, abrangendo cerca de 40% de todas as leucemias em indivíduos com
mais de sessenta e cinco anos de idade. A sua incidência mundial é cerca de
aproximadamente 3 casos por 100000 por ano.
É uma doença neoplásica linfática, caracterizada pela infiltração de
células B monoclonais maduras na medula óssea e no sangue periférico.
Quando atinge os gânglios linfáticos, adopta a denominação de linfoma
linfocítico de células pequenas. As duas entidades são assim consideradas
diferentes manifestações da mesma doença.
A Leucemia linfática crónica foi reconhecida como entidade nosológica
independente no final da década de sessenta e os estudos epidemiológicos e
ensaios clínicos, acerca da mesma, só tiveram início a partir de 1970. Durante
a última década um considerável progresso tem sido conseguido, no sentido de
se terem definido novos marcadores de prognóstico, parâmetros diagnósticos e
opções terapêuticas. Alguns modelos etiológicos têm sido propostos e vários
estudos têm sido feitos com o intuito de clarificar a patogenia da doença.
Para o diagnóstico desta doença é fundamental a existência de uma
linfocitose absoluta, um estudo morfológico, através da realização de um
hemograma e mielograma e um estudo do imunofenótipo, através da citometria
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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de fluxo, dos linfócitos B intervenientes. Todavia, é fundamental para a
caracterização da doença, seguimento da sua evolução, instituição de
terapêutica, acompanhamento da resposta ao tratamento e avaliação da
progressão ou remissão da mesma, um diagnóstico hemato-oncológico
completo. Neste contexto, além das já mencionadas, são utilizadas várias
técnicas. Entre elas, a biopsia, através da qual se consegue avaliar a alteração
estrutural de um dado órgão infiltrado por células malignas, as técnicas de
citogenética que permitem o estudo dos cromossomas, sua estrutura e sua
herança e detectam alterações e técnicas de biologia molecular que detectam
mutações.
Em relação ao tratamento, o transplante alogénico é o único
potencialmente curativo, no entanto, apenas uma minoria pode ser sujeito a
este tipo de tratamento. Deste modo, face à heterogeneidade da doença,
muitos tratamentos são propostos, entre eles, a utilização de análogos de
purina, corticoesteróides, imunoquimioterapia e transplante autólogo.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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1 OBJECTIVOS
A presente dissertação pretende constituir uma pesquisa alargada da
literatura científica acerca da Leucemia linfática crónica/ linfoma linfocítico de
células pequenas, tendo como base um caso clínico do Serviço de Patologia
Clínica do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil,
admitido em Dezembro de 2009 em particular e uma amostra de cinquenta e
sete doentes, registados no mesmo serviço e no mesmo ano em geral.
Pretendemos realizar um levantamento dos aspectos históricos
relacionados com a Leucemia linfática crónica/linfoma linfocítico de células
pequenas e abordar os aspectos epidemiológicos, clínicos e os exames
complementares relevantes à investigação diagnóstica desta patologia. A
pesquisa realizada tem ainda por objectivo investigar as hipóteses
fisiopatológicas possivelmente subjacentes à LLC/LNH linfocítico, as opções
terapêuticas actualmente disponíveis para o tratamento e as perspectivas
futuras de investigação nesta área.
Temos também como objectivo abordar a temática do valor dos testes
laboratoriais e reflectir sobre a sua verdadeira função enquanto instrumentos
de investigação clínica.
Partindo da investigação alargada da literatura científica acerca da
Leucemia linfática crónica/linfoma linfocítico de células pequenas e da
investigação do caso clínico exemplificativo da doença, das dificuldades
diagnósticas e terapêuticas associadas a esta patologia, pretende-se tirar
conclusões quanto à forma de diagnosticar e tratar esta doença.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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2 METODOLOGIA
Como metodologia para este trabalho de investigação bibliográfica,
utilizámos o motor de busca “PubMed” (disponível em www.pubmed.gov). A
pesquisa foi efectuada utilizando a seguinte palavra-chave: “chronic lynfocytic
leukemia”. Não foram utilizadas quaisquer limitações na pesquisa e
posteriormente, procedeu-se a uma selecção dos artigos mais relevantes para
cada uma das vertentes do trabalho.
Recorremos ainda a literatura pertinente e a livros publicados no âmbito
da temática abordada.
Consultámos os processos dos doentes in loco, através dos registos
informáticos do Serviço de patologia Clínica do IPOLFG e elaborámos os
gráficos exemplificativos no programa Microsoft Office 2007. Recolhemos a
história clínica abordada com base no processo do doente e analisámo-la e
discutimo-la à luz da investigação bibliográfica anteriormente realizada.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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3 CAPÍTULO I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Perspectiva histórica da Leucemia linfática crónica/LNH
linfocítico
A leucemia foi reconhecida como nova entidade mórbida em 1845 por
Virchow que anos mais tarde identificou um segundo tipo, diferente da
leucemia “esplénica”original, com gânglios linfáticos superficiais e profundos
menores, baço de menor tamanho e coloração do sangue circulante mais
homogénea. O sangue apresentava um grande número de glóbulos não
granulosos pequenos e incolores, semelhantes aos que podiam ser obtidos
raspando-se os gânglios linfáticos (1).
Nas décadas seguintes foram reconhecidas variantes da leucemia
“esplénica” e a ocorrência de leucemia aguda, mas houve pouco progresso nos
conhecimentos sobre a LLC. Em 1893 Kundrat introduziu o nome de
linfossarcoma para descrever um distúrbio crónico que afectava os gânglios
linfáticos de modo algo similar à LLC. O comprometimento ganglionar, porém,
tendía a ser mais localizado, sendo localmente invasivo, mas não produzindo
quadro sanguíneo leucémico. Em 1903 Turk, revendo problemas nosológicos
relativos a linfomatoses, chamou a atenção para a semelhança entre
linfossarcomas e LLC, especialmente, a variedade subleucémica e julgou haver
transições entre as duas entidades. No ano seguinte, Sternberg introduziu a
denominação de leucossarcoma, que foi depois abandonada (1).
A primeira descrição minuciosa da LLC comparada com a de outros
cancros hematológicos foi feita por Minot e Isaacs em 1924. Estes, baseando-
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
17
se numa série de noventa e oito doentes, registaram a incidência em idade e
sexo, elementos clínicos e hematológicos relacionados com o prognóstico,
sobrevivência global e os efeitos com o tratamento de Raios X e rádio. A
hipertrofia dos gânglios e do baço podia ser controlada mas, o
comprometimento da função da medula óssea devido ao aparecimento de
anemia, trombocitopenia e/ou neutropenia resultantes da doença ou da
terapêutica com irradiação, posteriormente, tornaram-se um grande problema
clínico. Alguns anos depois, quando os medulogramas se tornaram usuais, foi
possível verificar que a infiltração da medula óssea e a substituição por
linfócitos anormais era uma característica da LLC, que podia ocorrer mais cedo
ou mais tarde no curso da doença (1).
O agente terapêutico mais utilizado era o fósforo 32 (32P), no entanto,
surgiam consequentes efeitos adversos como citopenias. As perspectivas
terapêuticas melhoraram com a introdução em 1949 e 1954 de derivados da
mostarda nitrogenada administrados por via oral e com a utilização da hormona
adrenocorticotrópica e esteróides adrenais após 1950. O desenvolvimento da
reacção de antiglobulina de Coombs em 1945, foi um grande progresso que
facilitou o reconhecimento de auto-anticorpos na LLC. No fim da década de
1940, quando os métodos isotópicos para medição da sobrevivência dos
eritrócitos se tornaram mais acessíveis, muitos pesquisadores verificaram que
essa sobrevivência estava diminuída nos doentes anémicos (1).
Na década de 50-60, assistiu-se a uma mudança de significado dos
pequenos linfócitos constituintes da LLC. Antes eram considerados um “tipo
deficiente de célula” pequena, frágil e terminal, e passaram a ser
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
18
caracterizados como elemento celular pluripotencial altamente organizado, mas
com respostas imunológicas deficientes. A doença era descrita como “doença
de acumulação de linfócitos imunologicamente incompetentes” (1).
Apenas no final da década de 60, com a adopção da Classificação
internacional de doenças (International classification of diseases ICD), se
distinguiram as duas formas da Leucemia linfática, a aguda e a crónica. Os
estudos epidemiológicos e os ensaios clínicos, acerca desta doença, só
tiveram início a partir de 1970. As propostas de estadiamento por Rai e Binet
em 1975 e 1977, seguidas pela instituição de recomendações baseadas no
estudo de casos clínicos, facilitaram os avanços no tratamento e compreensão
da doença. As investigações clínicas e epidemiológicas também beneficiaram
da implementação da classificação “French-American-British” (FAB) de
leucemias crónicas B e T, que incorporaram morfologia e fenótipo com a
classificação de Kiel que, baseando-se no grau de diferenciação, agrupou a
LLC nos linfomas de células B de baixo grau. O maior conhecimento da
diferenciação de células B e T e das alterações genéticas, levou ao
aparecimento da “Revised European and Americam Lymphoma classification”
na década de 90, seguida pela “WHO classification” de todas as doenças
linfoproliferativas e hematopoiéticas. A ICD tinha algumas limitações porque
não incorporava as características imunofenotípicas, citogenéticas e
moleculares de cada doença. Em contraste surgiu a meio da década de 70,
sendo revista em 1990 e 2000 a “ICD for Oncology” (ICD-O), incluindo
informação sobre a linhagem das células, imunofenótipo, citogenética e
características clínicas. Actualmente já existe a ICD-O-3, actualizada
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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considerando todavia, a LLC e o Linfoma linfocítico de células pequenas como
duas entidades separadas, como o faziam as versões anteriores (2).
A classificação WHO é a mais utilizada hoje em dia, revista pela última
vez em 2008 e classifica a LLC e o linfoma linfocítico de células pequenas
como manifestações diferentes da mesma patologia, baseando-se na sua
idêntica citologia, histopatologia, imunofenótipo e características citogenéticas
(2).
3.2 Definição actual de LLC/LNH linfocítico
A LLC é uma neoplasia linfática, caracterizada pela infiltração de
linfócitos B monoclonais, pequenos e redondos na medula óssea e no sangue
periférico, misturados com prolinfócitos e paraimunoblastos (3).
O LNH linfocítico partilha características patológicas e clínicas com a
LLC, sendo indistinguíveis morfológica e imunofenotipicamente, no entanto, a
infiltração linfocitária, neste caso, predomina nos gânglios linfáticos (3).
3.3 Classificação das neoplasias linfáticas
No córtex do gânglio linfático existem folículos linfóides; estes são
constituídos por células B, com um componente pequeno de células T e células
dendríticas. Os folículos primários são constituídos por linfócitos maduros,
pequenos, redondos e com escasso citoplasma. A exposição a algum antigénio
resulta na formação de folículos secundários, caracterizados por terem
centralmente um centro germinativo que contém linfócitos, macrófagos e
células dendríticas, todos activados. Ambos os folículos, primários e
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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secundários, são rodeados, perifericamente, por uma camada, pequena e
compacta, de linfócitos B, designada por zona do manto. Os linfócitos B do
centro germinativo formam outra área periférica à zona do manto, designada
por zona marginal. Estes linfócitos são células distintas, com citoplasma
proeminente e núcleo oval ou dentado (4).
A zona paracortical situa-se na área entre os folículos e estende-se até à
medula ou centro do gânglio linfático. Aqui as células são predominantemente
células T com interdigitações de células dendríticas e vénulas endoteliais (4).
Os cordões medulares situam-se no hilo do gânglio linfático e contêm
uma mistura de células, incluindo linfócitos, imunoblastos e células plasmáticas
(4).
As neoplasias das células B são tumores clonais de células B imaturas e
maduras, em vários estadios de evolução, que parecem recapitular a sua
normal diferenciação. Esta inicia-se com o precursor de células B, progenitor
das células B/ linfoblastos B, que sofre maturação na medula óssea e se
diferencia em imunoglobulinas maduras e imaturas de superfície e linfócitos
nativos recirculantes , CD5+, que circulam no sangue periférico e se encontram
nos folículos linfóides primários e zona do manto. Quando se deparam com o
seu antigénio específico, estes linfócitos sofrem uma transformação e
proliferação, diferenciando-se em células plasmáticas de vida curta ou entrando
no centro germinativo do folículo. No centro germinativo, mediante
hipermutação somática e translocação de cadeias pesadas, ocorre uma
transformação dos linfócitos em centroblastos. Estes podem sofrer apoptose ou
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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diferenciarem-se em centrócitos. Na zona marginal, os centrócitos diferenciam-
se em células B de memória e células plasmáticas de vida longa
(Imunoglobulinas G, A, E, M e D). Assim, fundamentalmente, os tumores
linfóides podem aparecer nestes quatro estadios de evolução linfóide,
ocorrendo cronologicamente, na medula óssea, na zona paracortical, na área
folicular ou na zona marginal. Consoante a etapa evolutiva onde têm origem,
são caracterizados por células imaturas ou maduras (4).
A LLC/LNH linfocítico surge na área do manto, pós centro germinativo, o
que caracteriza as suas células como sendo linfócitos maduros. Estas células
não sofrem mais mutações e possuem a habilidade de regressar aos tecidos
onde sofreram a exposição antigénica (4).
Imagem 1 – Diferenciação B (4)
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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3.4 Linfocitose monoclonal de células B: o potencial
percursor da LLC/LNH linfocítico
Alguns investigadores identificaram muitos clones de células B
circulantes, pequenos, com o fenótipo de superfície similar à LLC/LNH
linfocítico em algumas pessoas saudáveis. Surgiu assim a definição de LMB
(linfocitose monoclonal de células B), “presença de uma população monoclonal
de células B detectada por citometria de fluxo em pessoas que não têm
critérios de diagnóstico para outras doenças linfoproliferativas B” (2). A
frequência da LMB na população geral é de cerca de 3% mas, é
significativamente superior ou igual a 17%, em familiares próximos de doentes
com LLC. (5) Os factores de risco para a LMB são desconhecidos e a sua
história natural ainda não foi sistematicamente examinada. Apesar desta
situação, têm sido propostos modelos que relacionam a LMB e a LLC. Neste
âmbito, o surgimento da LMB pode ter quatro consequências como sendo,
progressão para LLC/LNH linfocítico ou para outras doenças linfoproliferativas
e hematológicas; persistência de LMB sem progressão; resolução gradual da
LMB com manifestações de senescência imune ou regressão da LMB sem
aparente evidência de um declínio associado da resposta imune (2).
3.5 Epidemiologia da LLC/LNH linfocítico
A LLC/LNH linfocítico é o tipo de leucemia mais comum no mundo
Ocidental, abrangendo cerca de 40% de todas as leucemias em indivíduos com
mais de sessenta e cinco anos de idade (6).
O rácio masculino-feminino em todas as populações é cerca de 2:1 (6).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
23
A média de idade no diagnóstico é cerca de setenta anos para o sexo
masculino e setenta e quatro anos para o sexo feminino. (7) Uma idade mais
avançada na altura do diagnóstico relaciona-se com uma taxa de sobrevivência
mais baixa (8).
A sua incidência é de aproximadamente 3 casos por 100000 por ano, a
nível mundial e tem vindo a diminuir (6).
É cerca de 20 a 30 vezes mais comum na Europa, Áustralia e América
do Norte do que na Índia, China e Japão. Constitui cerca de 30% da totalidade
de doenças malignas de células B maduras. É mais prevalente na raça
caucasiana, do que nas outras raças (6).
A probabilidade de invasão da medula óssea é de 72% e a
percentagem de sobrevivência aos 5 anos é de 51%.
O fenómeno de antecipação, no qual a doença se apresenta
previamente e numa forma mais severa ao longo das diferentes gerações, é
constatado em muitas famílias com esta doença (6).
3.6 Etiologia da LLC/LNH linfocítico
Agentes infecciosos, como o vírus Epstein Barr , foram mencionados
muitas vezes no passado, como possíveis agentes etiológicos no âmbito de
muitos linfomas de células B maduras, afectando, sobretudo, indivíduos
imunodeprimidos. Contudo, têm surgido muitos estudos que refutam esta teoria
por haver pouca evidência comprovada nesse sentido (16).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
24
O que tem sido sugerido recentemente como possível factor etiológico é
a ocorrência de uma lesão genética inicial numa célula B imatura da medula
óssea. A estimulação antigénica subsequente repetitiva leva provavelmente a
lesões genéticas adicionais que resultam na transformação neoplásica que leva
à ocorrência de leucemia. Esta lesão inicial pode também ocorrer em células B
imaturas que circulam no sangue periférico ou noutras, maduras, que
retornaram aos gânglios linfáticos ou ao baço (2).
3.7 Fisiopatologia da LLC/LNH linfocítico
Existem três tópicos fundamentais para a compreensão da fisiopatologia
da LLC/LNH linfocítico: O receptor das células B, as anomalias genéticas
reveladas na interfase citogenética e o balanço entre a proliferação e a
apoptose (7).
O receptor das células B é um complexo multimérico formado por uma
imunoglobulina de superfície homodímera e a sua ligação não covalente
heterodímera Igα/Igβ (CD79A/CD79B). A baixa expressão destes receptores é
a grande alteração que caracteriza os linfócitos da LLC/LNH linfocítico. Essa
baixa expressão relaciona-se com a actividade diminuída da tirosina quinase e
a consequente falha a nível da mobilização do cálcio e fosforilação da tirosina
devido a uma mutação no CD79B (7).
Existe um defeito adquirido no CD79A relacionado com a fraca
expressão da molécula CD22 no contexto desta doença (7).
Podemos diferenciar dois subtipos da LLC/LNH linfocítico, baseando-nos
na ocorrência de mutações a nível das IGHV dos receptores de células B. A
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
25
doença indolente com mutações somáticas associadas ao gene IGHV, e a
doença agressiva, sem essa mutação. No caso em que esta mutação está
ausente, as células expressam anticorpos fortemente polirreactivos e CD38,
estando associados a um pior prognóstico, pois favorecem a proliferação dos
linfócitos. Neste caso, a molécula sinalizadora ZAP-70 é expressa
anomalamente nestas células, o que aumenta o sinal aquando da activação
deste receptor. No entanto, todas as formas de LLC/LNH linfocítico partilham
uma expressão genética comum, o que sugere uma origem celular e um
mecanismo de transformação comum (7,12).
Em relação às anomalias genéticas, sugere-se que estas sejam mais
importantes do que os factores ambientais na patogenia da LLC/LNH linfocítico.
Nesta doença são frequentes mutações, delecções ou trissomias. As delecções
do braço curto do cromossoma 17 (del17p13) observada em 7% dos doentes,
que codifica o gene supressor tumoral TP53 e as do braço comprido do
cromossoma 11 (del11q23), observadas em 16% dos doentes, que codificam o
gene da telangiectasia atáxica mutada (ATM), constituem factores preditivos de
resistência ao tratamento clássico da LLC. As alterações na via ATM/TP53,
fazem com que o TP53, factor de transcrição activado, perca a sua função de
manter a integridade do genoma, e, prevenir a progressão clonal. Os
mecanismos de apoptose são impedidos e o ciclo celular mantém-se (7,9,10).
No que diz respeito aos defeitos na apoptose e proliferação, estes vão
fazer com que haja uma acumulação de células B maduras na fase G0/G1 do
ciclo celular. A LLC/LNH linfocítico é assim uma doença dinâmica que resulta
fundamentalmente de um mecanismo cumulativo, onde a maioria das células
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
26
não são proliferativas, mas exibem anomalias a nível dos fenómenos
apoptóticos. São expressas proteínas anti-apoptóticas como as proteínas da
família da bcl-2, factor básico do crescimento dos fibroblastos, ciclina D2 e a
sintase de óxido nítrico. (13)
Alguns modelos animais têm sido utilizados para elucidar a patogénese,
clarificar os mecanismos genéticos e identificar o efeito de agentes genéticos e
exógenos que iniciam ou promovem a LLC/LNH linfocítico. Nomeadamente os
modelos de ratos providenciam a evidência da desregulação de três vias
genéticas importantes, a via Tcl-1-Akt, a via do factor de necrose tumoral-
factor nuclear (NF)-κB e a via anti-apoptótica mediada pelo bcl2 na LLC. Foi
reportada recentemente que a expressão alterada de micro-RNAs (na 13q14
região cromossómica) em humanos, parece ser a lesão molecular que ocorre
na LLC. O rato transgénico TCL1 desenvolve uma doença linfoproliferativa que
serve de modelo para as formas agressivas da LLC/LNH linfocítico, mas não
para a forma mais frequente da doença, a indolente. (7) Outro modelo é o rato
transgénico April, que desenvolve tumores linfóides CD5+. Neste contexto, o
April, ligando indutor da proliferação, foi considerado protector da célula B em
relação aos fenómenos de apoptose. (11)
3.8 Factores de risco da LLC/LNH linfocítico
3.8.1 Radiação ionizante e não-ionizante
Tem sido praticamente axiomático pressupor que a LLC/LNH linfocítico
não é causada por radiação ionizante. No entanto, surgem cada vez mais
estudos que vêm refutar esta suposição. Um estudo realizado em Chernobyl,
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
27
comparou as formas da LLC/LNH linfocítico nas pessoas que limparam os
destroços eram mais agressivas do que nas que não tiveram contacto com os
mesmos (14,15).
Alguns estudos de radioterapia médica, inclusive aqueles de doentes
com Espondilite anquilosante (Weiss et al, 1995; Wick et al, 1999) e os de
mulheres tratadas devido à ocorrência de hemorragia uterina (Inskip et al,
1990, 1993) reportaram riscos elevados de LLC/LNH linfocítico ou leucemia
linfática inespecífica, apesar de nem todos demonstrarem relações dose-
resposta e alguns serem limitados por números pequenos e incompleta
especificação dos subtipos de leucemia. “Foi feita apenas uma investigação
relacionada com a relação entre a radiação ultravioleta e a LLC/LNH linfocítico.
Esta encontrou efeitos protectores e uma relação inversa de dose-resposta
(Smedby et al, 2005)” (2).
Contudo, apesar de haver alguns estudos nesta área, existem muitas
dificuldades biológicas, epidemiológicas e metodológicas inerentes à realização
destes (2).
No que diz respeito às radiações não-ionizantes, a informação é ainda
mais limitada. Recentemente foi publicado um estudo caso-controlo acerca da
incidência de leucemia num grupo de mineiros de urânio, cujas conclusões
reflectiram uma associação positiva entre uma exposição cumulativa e a
ocorrência de LLC/LNH linfocítico. (Rericha et al, 2006) (2,14).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
28
3.8.2 Exposição química
Diversos estudos têm sido realizados nesta área e, apesar de não haver
ainda conclusões definitivas tem sido sugerida a possível relação entre a
exposição a químicos, pesticidas e solventes orgânicos e a ocorrência de
LLC/LNH linfocítico. Existem estudos que relacionam esta doença com
químicos específicos utilizados na agricultura (Brown et al, 1990; Nanni et al,
1996; Miligi et al, 2003), mas a maioria não avalia as exposições químicas
específicas. (2)
3.8.3 Condições médicas e tratamentos
Recentes estudos escandinavos (Landgren et al, 2007b) e americanos
(Landgren et al, 2007a) sugerem que a ocorrência de um ou mais episódios de
pneumonia nos cinco anos que antecedem o diagnóstico de LLC/LNH
linfocítico serve como catalisador do seu desenvolvimento, embora a
pneumonia seja uma possível consequência da deficiência imune, pode ser
vista como uma manifestação pré-diagnóstica da doença. É também de
sublinhar que estes estudos concluem que existe um risco reduzido de
aparecimento de LLC/LNH linfocítico entre indivíduos que têm antecedentes
pessoais de doença cardíaca valvular não reumática ou doença cardíaca
reumática crónica, ambas com profilaxia antibiótica (2). Outro estudo veio
provar que existe um risco aumentado de desenvolver LLC/LNH linfocítico nos
indivíduos que têm um polimorfismo a nível dos dois alelos do gene que
codifica a flavoproteína NQO1. Este torna os indivíduos mais resistentes ao
tratamento, aumentando a taxa de mortalidade e morbilidade (13).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
29
3.8.4 Hábitos tabágicos
Os efeitos carcinogénicos do fumo do cigarro são reconhecidos há
décadas, no entanto, a sua ligação à LLC/LNH linfocítico é apenas
documentada desde 1986. Alguns estudos coorte (Kinlen & Rogot, 1988;
Garfinkel & Boffetta,1990; Linet et al, 1991) confirmam uma associação entre o
fumo do cigarro e a LLC/LNH linfocítico, mas nem todos (Friedman, 1993;
Adam et al, 1998). O mesmo se observou nalguns estudos caso-controlo
(Brown et al,1990). No estudo caso-controlo (Stagnaro et al,2001) não foi
confirmada esta associação. Alguns investigadores concluíram que quanto
maior a duração dos hábitos tabágicos, maior o risco de ocorrência de
LLC/LNH linfocítico (2).
3.8.5 Factores genéticos
Tendo como base as investigações reportadas nos passados sessenta
anos, a história familiar de LLC/LNH linfocítico e de outras doenças
linfoproliferativas e hematológicas, é um dos maiores factores de risco para
esta doença (Videbaek, 1947; Gunz et al, 1975; Linet et al, 1989; Goldin et al,
2004) (2).
3.9 Manifestações clínicas da LLC/LNH linfocítico
A maior parte das vezes, em 70 a 80% dos doentes, esta é uma doença
assintomática, cuja primeira manifestação consiste na alteração dos
parâmetros analíticos, no contexto de um hemograma e análises bioquímicas
de rotina (6).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
30
Na sua fase sintomática, podem surgir sintomas como linfadenopatias,
astenia, os intitulados sintomas B (febre, fadiga, sudorese nocturna, perda de
peso e prurido), trombocitopenia, hipogamaglobulinemia, infecções recorrentes
ou persistentes, equimoses, palidez ou icterícia associada a anemia, edema ou
tromboflebite por obstrução ganglionar e aumento da dor óssea à palpação.
Pode surgir uma diarreia persistente, como sinal de infiltração intestinal e
nalguns doentes pode surgir anemia hemolítica auto-imune, com aparecimento
de auto-anticorpos (6,17,18).
3.10 Diagnóstico de LLC/linfoma linfocítico de células
pequenas
O diagnóstico de LLC é definido por uma linfocitose absoluta,
caracterizada por uma contagem de linfócitos igual ou superior a 5x109/L,
constituída por linfócitos B maduros, caracterizados por um imunofenótipo
específico (6). Se a contagem de linfócitos for inferior a esse valor, o
diagnóstico pode ser baseado na morfologia e imunofenótipo típicos dos
linfócitos circulantes ou na presença de citopenia causada por um infiltrado
típico na medula óssea.
O diagnóstico de LNH linfocítico pode ser estabelecido histologicamente
na ausência de um envolvimento da medula óssea e sangue periférico. É
necessária a presença de linfadenopatias e a ausência de citopenias causadas
pela invasão clonal da medula óssea. O número de linfócitos B no sangue
periférico não deve exceder os 5 x 109/L e o diagnóstico deve ser confirmado
por uma avaliação histopatológica da biopsia de gânglios linfáticos (7).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
31
Como avaliação adicional, útil na apresentação da doença ou durante o
seu curso, podem ser utilizados, o teste de antiglobulinas directo (DAT), a
contagem de reticulócitos, análises bioquímicas renais e hepáticas,
imunoglobulinas séricas e radiografia torácica (6).
3.11 Diagnóstico hemato-oncológico
O diagnóstico hemato-oncológico consiste num conjunto de
procedimentos que leva à caracterização de determinada doença, seguimento
da sua evolução, instituição de terapêutica, acompanhamento da resposta ao
tratamento e avaliação da progressão ou remissão da doença. Neste contexto
são utilizadas várias técnicas que, apesar da sua totalidade não ser
imprescindível ao diagnóstico, no seu todo são necessárias para o
conhecimento da doença e cuidado do doente (19).
3.11.1 Biópsia
Nos casos em que a manifestação primária consiste na existência de
linfadenopatias, faz-se uma biopsia do gânglio. Não se utilizam substâncias
fixadoras e os cortes devem ter espessura de 1-2mm. Observa-se o exterior e
o interior do gânglio, assim como áreas de necrose e hemorrágicas. Utilizam-se
montagens em lâminas de vidro. Para uma observação morfológica utiliza-se a
coloração Wright-Giemsa. A fixação com formalina é a indicada para observar
a arquitectura do gânglio e para estudos imunohistoquímicos, e a fixação com
mercúrio B5 é utilizada quando se pretende a preservação do detalhe nuclear.
A infiltração de células pode ser difusa ou não difusa (19).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
32
3.11.2 Estudo morfológico
Consiste na realização de um mielograma e hemograma com
observação de um esfregaço de sangue periférico. O mielograma é um exame
importante para o diagnóstico, avaliação da resposta ao tratamento e
seguimento. A identificação das células malignas e a avaliação da reserva
hematopoiética da medula óssea são o objectivo deste exame. É feito sob
anestesia local e consiste na aspiração de medula óssea seguida da execução
de esfregaços em lâminas de vidro, para exame ao microscópio óptico. O local
preferencial para a aspiração é a crista póstero-superior do osso ilíaco (19).
3.11.3 Estudo citogenético
Os tecidos utilizados para a análise cromossómica podem ser células
da medula óssea ou linfócitos do sangue periférico. Mitógenios, como a
fitohematoglutinina são adicionados à cultura de sangue periférico e vão
estimular a divisão das células. O crescimento celular é prolongado durante a
metafase, pela adição de colchicina. A cultura celular é depois tratada com uma
solução hipotónica para dilatar as células, seguindo-se a imersão numa
solução fixadora de metanol e ácido acético para endurece-las e remover as
proteínas. As células são depois colocadas num ambiente frio para se
conseguir a dispersão dos cromossomas. As amostras são montadas em
lâminas de vidro e observadas no microscópio óptico. Primeiro é analisado o
número de cromossomas e depois cada cromossoma é estudado
individualmente. Pelo menos vinte células em metafase são analisadas de cada
cultura de leucócitos. As técnicas fotográficas são utilizadas para confirmar e
gravar a análise microscópica (19).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
33
3.11.4 Estudo molecular
As técnicas moleculares iniciam-se com o isolamento do DNA e RNA da
amostra do doente. O DNA é preferível ao RNA devido à sua maior
estabilidade. As amostras para o isolamento de DNA incluem sangue periférico,
medula óssea, biopsia tecidular e aspirado ganglionar. Todas as células
nucleadas normais contêm um DNA idêntico. A diferenciação celular resulta do
tipo de genes activos no DNA (19).
O Isolamento do DNA de uma amostra de sangue periférico
anticoagulado com EDTA, obtém-se separando os glóbulos brancos das outras
células. Uma solução de lise vai provocar a ruptura dos glóbulos brancos e a
precipitação da solução visa remover as proteínas, deixando o DNA em
solução. A adição de isopropanol precipita o DNA. Depois lava-se com etanol e
coloca-se o DNA numa solução tampão, estando este agora preparado para o
teste molecular. Para amplificar a sequência de DNA utiliza-se a PCR que vai
produzir biliões de cópias. Para detectar o DNA amplificado podem utilizar-se
diversos métodos: electroforese em gel, o uso de enzimas endonucleases
restritivas ou a técnica de hibridização de Southern Blot. Actualmente a técnica
de Fish (uso de probes que detectam especificamente as alterações
cromossómicas) substitui a citogenética convencional, dado que as neoplasias
de baixo grau e particularmente a LLC/LNH linfocítico, têm um baixo índice
mitótico, o que torna difícil este exame. A LLC/LNH linfocítico não tem uma
assinatura genética em termos de anomalias cromossómicas. O Fish investiga
neste caso a presença de translocações, sendo as mais comuns: del13q14.3;
trissomia 12, e ainda as delecções 11q22-23; 17p13.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
34
Imagem 2 – Técnica de Fish (5)
3.11.5 Fenotipagem
Caracteriza o imunofenotipo das células, que consiste em antigénios de
superfície celular, citoplasmáticos e nucleares. Tem várias vantagens como
uma rápida execução, uma elevada precisão e exactidão, permite a
quantificação das células e a avaliação simultânea de vários antigénios na
mesma célula. É um método fundamental para a confirmação do diagnóstico
morfológico e indicação do prognóstico. A análise dos imunofenotipos é feita
com o auxílio da técnica de citometria de fluxo. Esta utiliza, através de uma
fonte de laser, com árgon, hélio ou néon, anticorpos monoclonais marcados
com fluorocromos para caracterizar os antigénios de superfície celular de uma
dada célula. Consiste no encadeamento de quatro tipos de sistemas de
transporte, sistema de transporte do fluido celular, sistema óptico, sistema
electrónico e sistema computorizado. A suspensão de células é assim
encaminhada através de um conjunto de tubos, até uma fonte luminosa que
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
35
provoca alterações na resistência eléctrica do fluido sendo gerados sinais
ópticos consequentes. São então originados fotões de luz que passando por
um sistema de filtros e lentes, são captados por detectores que os convertem
em electrões. Finalmente, estes são analisados electronicamente sob a forma
de gráficos de cor ilustrativa(19-21).
Imagem 3 – Citometria de fluxo (5)
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
36
3.12 Diagnóstico hemato-oncológico de LLC/LNH linfocítico
3.12.1 Biópsia
3.12.1.1 Medula óssea
Ao diagnóstico o padrão de infiltração da medula óssea pode ser
nodular, intersticial ou difuso, no entanto, o padrão mais comum é o nodular
associado a um componente intersticial. Os nódulos podem ter colecções
centrais de prolinfócitos ou paraimunoblastos, formando centros de proliferação
ou infiltrados predominantemente compostos por pequenos linfócitos B. Podem
também estar presentes clusters de células eritroides e mieloides residuais. É
possível a existência de megacariócitos, misturados no infiltrado celular
neoplásico. Durante o tratamento, o componente intersticial desaparece e a
doença torna-se confinada aos nódulos intertrabeculares. Estes
frequentemente associam-se à quantidade aumentada de reticulina, o que
resulta na ausência destas células do aspirado celular. A biopsia pode ter
outros papéis adicionais como o cálculo da estimativa da hematopoiese
residual no estádio C de Binet e o de auxílio na etiologia das citopenias (22-23).
3.12.1.2 Gânglio linfático
A biopsia neste caso é utilizada para investigação da linfocitose no
contexto da LLC/LNH linfocítico e em doentes com linfadenopatias sem
linfocitose significativa, como no caso de um linfoma linfocítico de células
pequenas. É também extremamente importante para a confirmação do
síndrome de Richter (5).
3.12.2 Estudo morfológico
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
37
Os linfócitos que caracterizam esta doença são linfócitos B maduros,
pequenos, monomórficos, redondos, organizados em característicos centros de
proliferação pseudofoliculares, designados por pseudofolículos, em várias
secções tecidulares (5,16).
3.12.2.1 Medula óssea
Na infiltração da medula óssea os pseudofolículos são menos comuns.
Pode ocorrer uma transformação para um linfoma de grandes células
(Síndrome de Richter), no qual, morfologicamente, se observam um grande
aglomerado de grandes células confluentes. Quando há uma associação entra
a leucemia linfática crónica e o linfoma de Hodgkin, são visíveis células de
Reed-Sternberg. (5)
Podem distinguir-se neste contexto dois tipos de LLC/LNH linfocítico:
Com morfologia típica ou atípica.
3.12.2.2 LLC Típica
Neste caso, o mais comum, a maioria das células tem um tamanho
reduzido a médio, com citoplasma escasso e núcleo regular com cromatina
condensada.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
38
Imagem 4 – Esfregaço de sangue periférico (obtido a partir de um caso real do IPOFG)
3.12.2.3 LLC Atípica
Neste tipo, podem distinguir-se dois subtipos:
No primeiro subtipo, para além dos linfócitos, estão presentes mais de
10% de prolinfócitos e paraimunoblastos no sangue periférico, que são células
de grandes dimensões nucleadas, o que vai dar origem a uma transformação
prolinfocítica da LLC (LLC/PL). Os critérios diagnósticos de LLC/PL são a
presença de um número superior a 10% de prolinfócitos e inferior a 55%, cujas
manifestações clínicas são linfocitose, esplenomegalia e a expressão do Ki-67,
marcador proliferativo (5).
No segundo subtipo, tipo celular misto de LLC/LNH linfocítico ou atípico,
estão presentes células atípicas, com citoplasma basofílico e irregularidades
nucleares, com características morfológicas sugestivas de diferenciação
linfoplasmocitária e células clivadas (5).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
39
A LLC/PL e a LLC/LNH linfocítico atípica progridem mais rapidamente
do que a LLC/LNH linfocítico típica e necessitam sempre de tratamento. Por
outro lado, estão associadas mais frequentemente à trissomia 12 e à não
mutação da região variável da imunoglobulina, o que confere uma menor
sobrevivência e têm uma taxa de proliferação maior. A delecção 13q14 é rara
na LLC atípica (5).
Por ser o caso mais frequente, incidiremos na LLC/LNH linfocítico de
morfologia típica. Esta doença caracteriza-se por uma infiltração clonal de
linfócitos B a vários níveis, havendo características morfológicas específicas de
acordo com a zona infiltrada.
3.12.2.4 Gânglios linfáticos
Quando a infiltração de linfócitos ocorre nos gânglios linfáticos, estes
apresentam-se com um tamanho aumentado com padrão pseudo-folicular, com
áreas pálidas embebidas num fundo escuro constituído por pequenos e
redondos linfócitos. Podem estar presentes no infiltrado prolinfócitos e
paraimunoblastos, formando centros de proliferação. Nalguns casos os
linfócitos podem apresentar uma moderada irregularidade nuclear, podendo ser
confundidos com linfoma do manto. No entanto, o diagnóstico mantém-se se
estiverem presentes os pseudofolículos. 95% das células têm origem em
células B, os restantes têm origem em células T (5,16).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
40
Imagem 5 – Infiltração linfocitária de um gânglio linfático. a) H&E b) CD3
3.12.2.5 Baço
Se a infiltração ocorre no baço, afecta ambas as polpas, branca e
vermelha, sendo visíveis os centros de proliferação ao nível da polpa branca
(5,16).
3.12.2.6 Sangue periférico
Quando há infiltração do sangue periférico, os linfócitos, responsáveis
pela mesma, são maduros, pequenos de morfologia banal e escasso
citoplasma. São células frágeis, destruídas facilmente na realização do
esfregaço sanguíneo, o que origina artefactos designados por sombras
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
41
nucleares de Gumprecht . Estas células podem estar misturadas com células
maiores ou atípicas, células clivadas ou prolinfocitos (16).
3.12.2.7 Mielograma
Cerca de 70 a 75% dos doentes apresentam comprometimento da
medula óssea e há um predomínio de linfócitos B monoclonais circulantes (19).
3.12.2.8 Hemograma
O diagnóstico de uma leucemia linfática crónica baseia-se numa
linfocitose (contagem de linfócitos superior ou igual a 5x109/L) presente,
durante pelo menos três meses, com envolvimento da medula óssea e sangue
periférico. A percentagem de leucócitos é muito elevada, com grande
proporção de células maduras (23).
3.12.3 Estudo citogenético
Neste âmbito existem dois tipos distintos de leucemia linfática crónica,
relacionados com a existência ou não de mutações somáticas, ao nível dos
genes das cadeias das imunoglobulinas. 40 a 50 % não sofrem mutações
somáticas, o que é consistente com os linfócitos B nativos. 50 a 60 %
demonstram mutações somáticas, consistentes com a diferenciação das
células B pós centro germinativo (24).
No que diz respeito a anomalias citogenéticas, a trissomia do
cromossoma12 pode estar presente em cerca de 25 a 30 % dos doentes.
Também se observam delecções do cromossoma13 (del13q14) em 50% dos
casos e delecções a nível do cromossoma 11(del11q23), que codifica o gene
da telangiectasia atáxica (ATM), quinase reguladora da TP53, que ocorrem em
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
42
cerca de 16% dos doentes. A delecção a nível do cromossoma 17p (del17p13),
que codifica a proteína TP53, gene supressor tumoral, é mais rara, afectando
apenas 7% dos doentes (4,5,16,23).
3.12.4 Fenotipagem
Imunofenotipicamente as células tumorais da medula óssea ou do
sangue periférico expressam imunoglobulinas de superfície fracas Ig M com ou
sem Ig D, com cadeias λ e κ, CD5, CD19, CD20, CD23, CD79b, FMC7 e
ZAP70. O CD79b e o CD23 são marcadores de agudização e o FMC7 e ZAP70
são marcadores de prognóstico. O FMC7 reconhece um epítopo particular de
complexo CD20 multimérico.
As células dos gânglios linfáticos expressam CD20+, CD79a+ e
coexpressam bcl-2. Expressam também fracamente o CD5+ (4,5,16,23).
3.13 Diagnóstico diferencial
É muito importante, através de um diagnóstico hemato-oncológico
correcto, diferenciar a LLC/LNH linfocítico de outras doenças linfoproliferativas.
No caso de linfomas, nomeadamente, na tricoleucemia, linfoma
do manto ou linfoma folicular, é indispensável o estudo do imunofenótipo, para
o diagnóstico diferencial com a LLC/LNH linfocítico (7). Especificamente, em
relação ao linfoma do manto está a ser estudado um novo marcador, CD200,
que está presente na LLC/LNH linfocítico e não no linfoma do manto. Este é útil
porque vai tornar mais rápido e preciso o diagnóstico (25).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
43
Imagem 6 – Diagnóstico diferencial entre LLC/LNH linfocítico e outros linfomas de células B (7)
A distinção entre a LLC/LNH linfocítico e as patologias de células T é, à
semelhança dos anteriores, facilmente instituída pela imunofenotipagem
(5,16,23).
Considerando as leucemias de células B, é necessário distinguir entre
LLC/LNH linfocítico, LLC/PL (transformação prolinfocítica) e B-PLL (leucemia
prolinfocítica de células B). Para isso, podemos utilizar maioritariamente
estudos morfológicos. A LLC/PL é caracterizada por ter uma população de
pequenos linfócitos e prolinfócitos, contrariamente à B-PLL cujo componente de
células pequenas é pouco evidente, sendo a grande maioria de células
presentes prolinfócitos com cromatina condensada e um único nucléolo
proeminente (5,16,23).
Se a taxa absoluta de linfócitos estiver abaixo de 5000/L e as células
forem relativamente normais e maduras ou definidamente pleomórficas, devem
ser consideradas, outras hipóteses de diagnóstico como viroses e outras
infecções. Neste contexto, pode também ocorrer uma duplicação do número de
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
44
linfócitos que além de uma característica da LLC/LNH linfocítico, também é
frequente depois da vacinação ou mediante tratamento com corticoterapia
(5,16,23).
Os pacientes com micose fungóide apresentam, com frequência,
grandes gânglios linfáticos com leucocitose e linfócitos imaturos no sangue
periférico. O Síndrome de Sézary é uma eritrodermatite pigmentada esfoliativa
crónica, possivelmente uma variante de micose fungóide ou de tumor
linforreticular, caracterizada por linfócitos atípicos no sangue periférico não
patognomónicos (5,16,23).
Como outras causas possíveis de linfocitose, existe uma panóplia de
doenças que podemos referir: as infecções agudas, nomeadamente, a
mononucleose infecciosa, as doenças exantemáticas como o sarampo,
rubéola, varicela, brucelose, febre tifóide e paratifóide; as infecções crónicas;
as reacções alérgicas e medicamentosas; as doenças auto-imunes; a
tireotoxicose e a insuficiência renal (5,16,23).
3.14 Tratamento
As formas de tratamento existentes no âmbito da LLC/LNH linfocítico
geralmente induzem remissão, no entanto, a maioria dos doentes tem recaídas
e esta doença continua a ser incurável. Actualmente o transplante alogénico
(dador compatível) é a única forma de tratamento potencialmente curativa,
contudo, face à heterogeneidade da LLC/LNH linfocítico, existem muitas
estratégias paliativas de tratamento para esta doença (6,7).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
45
ESTADIOS DE BINET CARACTERÍSTICAS
A < 3 ÁREAS LINFÓIDES
B > 3 ÁREAS LINFÓIDES
C HEMOGLOBINA<10g/dL OU PLAQUETAS <
100X10⁹/L
ESTADIOS DE RAI
0 APENAS LINFOCITOSE
I LINFADENOPATIAS
II HEPATO OU ESPLENOMEGALIA+/-
LINFADENOPATIA
III HEMOGLOBINA< 11 g/dL
IV PLAQUETAS< 100x10⁹/L
Tabela 1 – Estadiamento de Rai e Binet (6)
As cinco áreas linfóides do estadiamento segundo Binet consistem em
área cervical unilateral ou bilateral, linfadenopatias axilares e inguinais,
hepatomegalia e esplenomegalia. O estádio 0 e I de Rai são considerados de
baixo risco, o estádio II de risco intermédio e o III e IV de alto risco.
Geralmente, os doentes recentemente diagnosticados, com doença
assintomática, no estádio Rai 0 e Binet A, devem ser monitorizados sem
instituição de terapêutica, se não evidenciarem progressão da doença.
“Estudos realizados nesse âmbito, como o estudo do French Cooperative
Group on CLL, the Cancer and Leukemia Group B, The Spanish Group
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
46
Pethema e estudos realizados pelo Medical Research Council no Reino Unido,
em doentes num estádio prévio de doença, confirmam que o uso de agentes
alquilantes, nestes casos, não prolongam a sobrevivência dos mesmos. Este
resultado foi confirmado por uma meta-análise (23).
Os doentes num estádio intermédio da doença, estádio Rai II e aqueles
que estão num estádio avançado da mesma, estádio Rai III e IV, ou no estádio
B ou C de Binet, usualmente beneficiam da introdução de tratamento (23).
As indicações para o tratamento de doentes com LLC/LNH linfocítico são
as seguintes: progressiva falência da medula óssea ou agravamento da anemia
e/ou da trombocitopenia; linfadenopatias massivas, superiores a 10 cm, ou
progressivas; esplenomegalia massiva, superior a seis centímetros, ou
progressiva; presença de linfocitose progressiva, aumento de 50% do número
de linfócitos em dois meses ou tempo de duplicação linfocitária inferior a seis
meses; presença de sintomas sistémicos como perda de peso superior a 10%
em seis meses, febre superior a 38ºC durante duas ou mais semanas, sem
evidência de outra infecção, fadiga extrema, suores nocturnos, durante mais de
um mês, sem evidência de outra infecção e, finalmente, citopenias autoimunes,
que respondem fracamente a terapêutica corticoesteróide ou outra. Os doentes
que desenvolvem anemia hemolítica auto-imune ou púrpura trombocitopénica
imune, devem ser tratados devido à sua citopenia auto-imune mas, muitas
vezes, não necessitam terapêutica anti-leucémica (6).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
47
3.14.1 Tratamento de primeira linha
3.14.1.1 Agentes alquilantes
O Clorambucil é um derivado da mostarda e é muito utilizado neste
contexto, podendo ser utilizado num esquema terapêutico contínuo ou
intermitente. Os doentes intolerantes podem responder a baixas doses diárias
de Ciclofosfamida, agente nitrogenado do grupo das oxazoforinas. Como
efeitos tóxicos do Clorambucil podemos referir valores de neutrófilos inferiores
a 1x109/L, e ocorrência de diarreia (6,7,26).
Vários estudos compararam o uso do Clorambucil a outros esquemas
terapêuticos, como por exemplo o COP (Ciclofosfamida, Vincristine e
Prednisolona), concluindo que este último, resultava em respostas maiores e
mais rápidas, por parte dos doentes, com uma taxa de sobrevivência idêntica
aos doentes tratados com Clorambucil. Outro regime modificado em oposição
ao Clorambucil foi o CHOP (Ciclofosfamida, Adriamicina, Vincristine e
Prednisolona), mas não foi confirmado um aumento da taxa de sobrevivência.
Foi também constatado que com uma dose diária alta de Clorambucil, 15
mg/dia, se consegue uma taxa de sobrevivência maior, do que com uma dose
intermitente, 75 mg de quatro em quatro semanas (6,7,26).
3.14.1.2 Análogos de Purina
A Fludarabina produz uma taxa de resposta de 70-80%, das quais 30%
atingem uma resposta completa. Quando é administrada em monodoses de 25
mg/m², intravenosamente, durante cinco dias, mensalmente, o índice de
sobrevivência é de cerca de 73 meses. Os efeitos adversos deste fármaco são
o risco de infecções severas, mielotoxicidade e o síndrome de lise tumoral. As
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
48
contra-indicações absolutas são a insuficiência renal grave e a citopenia auto-
imune. Pode utilizar-se Fludarabina com Ciclofosfamida, agente nitrogenado do
grupo das oxaforinas, combinação que se comprovou resultar em taxas de
resposta completa e maior sobrevivência livre de progressão da doença. É
também possível a utilização de Mitoxantrone com Fludarabina e
Ciclofosfamida, na LLC/LNH linfocítico resistente ou na qual houve uma
recaída (6,7,26).
A Cladribina produz uma taxa de resposta de aproximadamente 75%
com 38% de respostas completas. A duração de resposta é de cerca de dois
anos. Foi realizado um estudo comparativo entre a utilização de um esquema
composto de Cladribina associada a Prednisona e Clorambucil e Prednisolona,
cujos resultados demonstraram uma maior taxa de resposta, maior frequência
de ocorrência de remissão completa e maior sobrevivência livre de progressão
de doença para os doentes que utilizaram o primeiro esquema terapêutico
(6,7,26).
A Pentostatina é usualmente combinada com Ciclofosfamida e
Rituximab em doentes nunca tratados com LLC/LNH linfocítico. Existem
estudos que confirmam ser um esquema menos tóxico do que a combinação
entre Fludarabina , Ciclofosfamida e Rituximab (6,7,26).
3.14.1.3 Corticoesteróides
Não existe evidência estatística em relação ao benefício para o
tratamento inicial da LLC/LNH linfocítico, da utilização de doses pequenas,
intermédias ou elevadas de corticosteróides. No entanto, é recomendado que
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
49
os doentes no estádio C da doença recebam uma pequena dose de
Prednisolona antes do tratamento com Clorambucil (7). A Metilprednisolona é
mais eficaz em doentes que sejam ZAP 70 +, induzindo mecanismos de
apoptose mais rapidamente (27).
3.14.1.4 Anticorpos monoclonais
Alemtuzumab é o mais utilizado. A terapêutica com este fármaco resulta
numa elevada taxa de resposta, mas num curto tempo de seguimento. Ainda
não foi comprovada a existência de um maior benefício desta terapêutica em
relação à convencional (7) porque o mecanismo de citotoxicidade do
Alemtuzumab ainda não é bem compreendido (27).Todavia, parece ser o único
agente capaz de matar as células leucémicas com mutações ou delecções a
nível do gene TP53. O uso de factores de crescimento pode beneficiar os
doentes com citopenias consequentes do tratamento com este fármaco
(6,7,26,28).
Rituximab é outro anticorpo monoclonal, o quimérico monoclonal anti-
CD20 e é moderadamente efectivo apenas se utilizado na 1ª linha de
tratamento, cuja utilização induz respostas parciais breves, não sendo por isso
recomendado em monoterapia na LLC/LNH linfocítico. Normalmente é utilizado
com Fludarabina ou Fludarabina e Ciclofosfamida (6,7,26,28).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
50
Imagem 7 – Algoritmo de tratamento. AIHA – Anemia hemolítica autoimune. FCR –
Fludarabina + Ciclofosfamida + Rituximab. PCR – Pentostatina + Ciclofosfamida + Rituximab.
FC - Fludarabina + Ciclofosfamida. FR – Fludarabina + Rituximab (29).
3.14.2 Tratamento de segunda linha
Os doentes com doença resistente, com progressão da doença num
curto espaço de tempo depois do primeiro tratamento e com células leucémicas
portadoras da del17p, normalmente não respondem à quimioterapia usual e
têm uma pequena taxa de sobrevivência. Para estes doentes devem ser
propostas outras alternativas de tratamento ou repetição do tratamento
anterior.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
51
Doentes que têm uma recaída depois de um tratamento inicial com
Clorambucil devem ser tratados com um segundo ciclo do mesmo fármaco. Os
doentes refractários às doses de Clorambucil devem ser tratados com
Fludarabina. Se esta estiver contra-indicada devem utilizar o esquema CHOP.
Os doentes com doença progressiva após um ano de terapêutica com
Fludarabina, mas cuja resposta inicial ao fármaco tiver sido favorável, devem
receber um segundo ciclo de Fludarabina. Os doentes ainda refractários devem
ser tratados com Fludarabina e Ciclofosfamida (6,7,26).
Os doentes resistentes à Fludarabina têm pior prognóstico e outras
opções de tratamento devem ser instituídas: Uma delas consiste na utilização
de altas doses de metil prednisolona, cujas contra-indicações absolutas são a
existência de úlceras gástricas ou duodenais activas e as contra-indicações
relativas são a presença de Diabetes Mellitus ou insuficiência cardíaca. Este
tratamento é muito eficaz nos casos em que existe linfadenopatias e anomalias
do p53. Se não houver linfadenopatias, o Alemtuzumab é recomendado,
principalmente nos doentes previamente tratados com agentes alquilantes
(6,7,26). Outra alternativa baseia-se no transplante.
3.14.2.1 Transplante de células estaminais
Esta opção justifica-se apenas para doentes mais jovens, com idade
inferior a sessenta e cinco anos, cujo tratamento com agentes alquilantes e
análogos das purinas não se revelou eficaz. Existem duas formas de
transplante: autólogo e alogénico.
3.14.2.1.1 Transplante autólogo
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
52
Em relação ao primeiro tipo, os doentes são transplantados após
obtenção de uma taxa de resposta favorável ao tratamento com quimioterapia,
usualmente Ciclofosfamida e irradiação corporal total, e a fonte de células
tronco é a medula óssea manipulada “in vivo” com os anticorpos monoclonais
B5, anti CD-10 e anti CD20. Diversos estudos têm sido realizados neste âmbito
mostrando taxas de mortalidade de 4-10% e cerca de 65-94% dos doentes
estão vivos quatro anos após o transplante. A evidência do benefício desta
alternativa terapêutica comparativamente ao obtido com outros tratamentos de
2ª linha, consiste na observação de remissões mais duradouras após o
transplante autólogo. No entanto, é ainda desconhecida a melhor altura para o
realizar e origina ainda uma grande quantidade de síndromes mielodisplásicos
secundários (6,7).
3.14.2.1.2 Transplante alogénico
Em relação ao segundo tipo de transplante, o transplante alogénico, este
é o único procedimento potencialmente curativo, com a maior taxa de
sobrevivência, imunologicamente mediada e obtenção de remissão completa. É
utilizado nas LLC/LNH linfocítico de alto risco, cuja doença é refractária à
terapêutica com análogos de purina ou ao transplante autólogo de células
tronco. Neste procedimento as células estaminais são obtidas através do
antigénio leucocitário humano (HLA) compatível (6,7).
3.14.3 Consolidação das remissões
É habitualmente realizada através de altas doses de quimioterapia,
nomeadamente Alemtuzumab subcutâneo em doses de 10mg e por vezes
recorrência ao transplante autólogo de células estaminais (7).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
53
Pode ainda ser considerada esplenectomia para o alívio sintomático e
melhoria das citopenias periféricas secundárias ao hiperesplenismo ou
presença de autoanticorpos (7).
3.14.4 Doentes imunodeprimidos
Deve-se ter em atenção as infecções concomitantes dos doentes com
LLC/LNH linfocítico, antes de ser administrado o tratamento. Os doentes
infectados com VIH têm um risco muito aumentado de desenvolver supressão
imune, ao serem utilizadas terapêuticas anti-leucémicas. Da mesma forma, têm
uma maior probabilidade de apresentar mielotoxicidade, durante o tratamento
anti-retroviral.
Os doentes infectados com CMV têm uma probabilidade aumentada de
sofrer reactivação da infecção, se forem utilizados agentes terapêuticos como o
Alemtuzumab ou o transplante alogénico. No entanto, esta seropositividade
não representa uma contra-indicação aos tratamentos acima referidos, impõe
sim uma monitorização contínua destes doentes. Uma PCR aumentada
constitui a indicação para o tratamento concomitante da infecção por CMV,
pressupondo reactivação da mesma.
De modo semelhante, os doentes com infecções por vírus da hepatite B
e vírus da hepatite C podem sofrer reactivação das mesmas durante a
terapêutica com fármacos mielossupressivos ou imunossupressivos. Os
doentes portadores de uma infecção por HBV crónica, durante o tratamento
com agentes quimioterápicos, devem receber terapêutica profilática com
análogos de nucleósidos (23).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
54
3.14.5 Novos agentes terapêuticos
Muitos outros agentes terapêuticos têm surgido, entre eles,
Lenalidomida que pode interferir na relação entre o tumor e o estroma;
Ofatumumab que é um anticorpo monoclonal CD20; Lumiliximab, um anti-
CD23. As delecções 11q23 têm se mostrado sensíveis ao inibidor polimerásico
oral 4-amino-1,8-naftalamida e a resistência ao tratamento mediada pela
delecção ATM pode ser diminuída pelo Nutlin3a (7). Linfócitos T efectores
geneticamente manipulados, podem ser utilizados no tratamento da LLC/LNH
linfocítico, devido ao facto de expressarem receptores antigénicos de
superfície, específicos das células B (30).
3.15 Complicações
3.15.1 Infecções
A ocorrência de infecções decorrentes da LLC/LNH linfocítico, é uma
das suas maiores complicações, tendo uma incidência de 0,26 a 0,47 por
doente por ano, ocupando 50% das causas de morte relacionadas com a
doença. A susceptibilidade aumentada à infecção resulta de inúmeros factores,
entre eles, hipogamaglobulinemia, neutropenia, função alterada das células
“Natural Killer” e sistema complemento defeituoso. A maioria das infecções são
bacterianas, por pneumococcus, haemophilus influenzae, staphylococcus,
sendo as mais frequentes, as infecções respiratórias, septicemia, pielonefrite e
infecções urológicas. As infecções fúngicas, virais e oportunistas, antes raras,
são agora cada vez mais frequentes, devido à introdução de terapêutica com
análogos de purina, Alemtuzumab e transplante (6).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
55
3.15.2 Hipogamaglobulinémia
A Hipogamaglobulinémia é outra complicação da LLC/LNH linfocítico, e
ocorre em cerca de 20-70% dos doentes e é mais frequente naqueles com
doença avançada ou prolongada (6).
Os doentes com hipogamaglobulinémia e infecções bacterianas
recorrentes, especialmente aquelas que se mostraram resistentes à
antibioterapia profilática, devem ser tratadas com imunoglobulina intravenosa
profilática(6).
3.15.3 Citopenias
A incidência de citopenias (neutropenia, anemia ou trombocitopenia) é
também significativamente maior nos doentes com LLC/LNH linfocítico do que
na população em geral (6). Quando ocorre uma anemia esta é usualmente
normocrómica e normocítica com contagem de reticulócitos diminuída ou sem
alteração. Durante o tratamento podem ocorrer como efeito secundário do
mesmo ou até três meses após o tratamento, documentadas por uma
diminuição do nível de hemoglobina, entre 10 e 2 g/dL, ou diminuição do valor
das plaquetas, mais de 50% ou valor absoluto inferior a 100 x 10⁹/L. Estas
citopenias definem uma doença progressiva se houver infiltração por células
clonais da medula óssea demonstrada por biopsia. Normalmente estas
citopenias são corrigidas por uma terapêutica antileucémica eficiente, no
entanto, doentes com anemia podem beneficiar da utilização de factores
estimuladores da eritropoiese (23).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
56
3.15.3.1 Citopenias autoimunes
A ocorrência de citopenias autoimunes, com o aparecimento de
anticorpos autoimunes, é também frequente nos doentes com LLC/LNH
linfocítico. A púrpura trombocitopénica autoimune e a anemia hemolítica
autoimune, exemplos destas, devem ser tratadas inicialmente com
glicocorticóides e não com quimioterapia. O tratamento de segunda linha da
anemia hemolítica autoimune inclui opções como esplenectomia,
imunoglobulinas intravenosas ou terapêutica imunossupressora com agentes
como Ciclosporina A, Azatioprina ou baixas doses de Ciclofosfamida. Também
podem ser utilizados anticorpos monoclonais como o Alemtuzumab ou
Rituximab. As citopenias autoimunes refractárias são uma indicação para
terapêutica com quimioterapia ou quimioimunoterapia (23).
3.15.4 Síndrome de Richter
A transformação linfomatosa ou síndrome de Richter, pode ocorrer em
cerca de 5 a 10% dos doentes com LLC e foi originalmente descrita por Richter
(1928). Numa minoria dos doentes este diagnóstico é paralelo ao de LLC, mas
na grande maioria dos doentes, a transformação linfomatosa é uma
complicação decorrente da LLC. O síndrome de Richter é caracterizado pela
transformação da leucemia linfóide crónica num linfoma não-Hodgkin de alto
grau de malignidade, leucemia prolinfocítica, doença de Hodgkin, mieloma
múltiplo ou leucemia linfoblástica. Ocorre em 2%-6% dos casos de LLC e pode
ser induzida por processos virais ou alterações genéticas. Estas células
tumorais demonstram uma alta taxa de proliferação e maior probabilidade de
terem uma anomalia ao nível do gene supressor tumoral P53. Neste contexto,
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
57
os doentes podem ter linfadenopatias progressivas, massas abdominais
sintomáticas, envolvimento extra-ganglionar, febre, perda de peso ou elevação
da LDH. Para a confirmação da transformação é necessário o estudo
histológico de um gânglio linfático. Tem uma taxa de sobrevivência de cinco
meses, mesmo com tratamento baseados em esquemas quimioterápicos. Os
esquemas mais frequentes são aqueles que incluem antraciclina, como, por
exemplo, o CHOP (6, 31).
Imagem 8 – Síndrome de Richter (5)
3.15.5 Tumores secundários
Finalmente, a ocorrência de tumores secundários é muito frequente, na
doença tratada e não tratada (6).
3.16 Prognóstico e factores preditivos
O curso clínico é indolente mas, a doença não tem ainda cura
terapêutica. Um terço dos doentes nunca necessita de tratamento, o outro terço
tem uma doença inicial indolente que progride e o último terço exibe de início
uma doença agressiva que requer tratamento imediato. A sobrevivência média
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
58
é de cerca de 5 anos, após o diagnóstico, no entanto, este factor tem muito
pouca relevância na heterogeneidade da história natural da doença. Os
doentes mais novos tendem a morrer de doenças consequentes da LLC/LNH
linfocítico, e os doentes mais velhos, morrem mais frequentemente de doenças
não relacionadas com esta. (6,16).
A presença das delecções a nível do cromossoma 17p e 11q
relacionam-se com um pior prognóstico e predominam nos estádios mais
avançados de LLC e nos doentes com genes IGHV não mutados. A delecção
13q14 ou um cariótipo normal associam-se a um bom prognóstico.
A molécula sinalizadora ZAP-70 das células T normais e células NK é
expressa anomalamente na LLC/LNH linfocítico quando esta não tem os genes
IGVH mutados, sendo, um factor preditivo de mau prognóstico.
FACTOR BAIXO RISCO ALTO RISCO
Sexo do doente Feminino Masculino
Estadio clínico Binet A; Rai O, I Binet B ou C; Rai I, II
ou III
Morfologia linfocitária Típica Atípica
Padrão de infiltração medular Não difuso Difuso
Duplicação da contagem lifocitária >12meses <12 meses
Marcadores serológicos (β2 microglobulina,
LDH, timidina quinase) Normais Aumentados
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
59
Anomalias genéticas Mutação dos
genes IGHV
Delecção 11q23;
Perda ou mutação no
p53
Não mutação dos
genes IGHV
Imunofenótipo
Expressão do CD38
Expressão da ZAP70
Tabela 2 – Factores importantes de prognóstico (6) (16) (32) (33) (34) (35) (36)
3.17 Seguimento
O seguimento dos doentes com LLC/LNH linfocítico requer uma
colaboração estrita entre os cuidados de saúde primários e os secundários,
nomeadamente, o Serviço de Hematologia (6).
As situações que impõem uma referenciação do doente ao Serviço de
Hematologia são: doença sintomática, presença de linfadenopatias ou
hepatoesplenomegalia, presença de linfocitose absoluta, no contexto de
anemia ou trombocitopenia. Os doentes assintomáticos, apenas com uma
linfocitose ligeira, podem ser seguidos pelos Cuidados de saúde primários (6).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
60
4 CAPÍTULO II – CASO CLÍNICO
J.F., sexo feminino de setenta e cinco anos, natural e residente em Faro.
O início dos sintomas verificou-se em Agosto de 2009, sob a forma de
um quadro de astenia que se foi agravando progressivamente.
Como antecedentes pessoais tem Diabetes tipo II e não tem
antecedentes familiares relevantes.
No dia 1 de Dezembro de 2009 recorreu ao Serviço de urgência do
Hospital de Faro EPE devido ao aparecimento de equimoses dispersas na
superfície corporal, algumas de desaparecimento espontâneo. Foi mandada
para casa com terapêutica sintomática analgésica e anti-inflamatória. (poder-
se-ía pensar em eritema nodoso, mas frequentemente este atinge mulheres
entre 30-40 anos; pode ser uma manifestação de uma infecção estreptocócica,
tuberculose, sarcoidose, reacção a sulfonamidas ou anticoncepcionais orais)
Voltou ao Serviço de urgências uma semana depois com dor na região
sagrada, acompanhada de febre alta, 39,9ºC, e calafrios, tendo sido medicada
nessa altura com uma isoxazolpenicilina, Flucloxacilina. Foi internada para
estudo e realizou um hemograma e análises bioquímicas que evidenciaram
uma pancitopenia, marcadores da função renal e marcadores de fase aguda
aumentados. No dia 16 de Dezembro de 2009 foi transferida para o Instituto
Português de Oncologia de Lisboa sem suporte transfusional por
incompatibilidade de tipagem.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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No estudo analítico de entrada a doente apresentou alterações a nível
do hemograma como, uma anemia grave, hematócrito baixo, linfocitose,
trombocitopenia (segue em anexo). Evidenciou alteração da função renal, por
aumento dos parâmetros. As proteínas de fase aguda como o fibrinogénio e a
proteína C reactiva estavam elevados, assim como os D-Dímeros, ferritina e a
fosfatase alcalina (poder-se-ía pensar numa leucemia aguda). A observação
do esfregaço de sangue periférico revelou a existência de linfocitose (90% de
linfócitos pequenos de morfologia banal, muitas sombras nucleares). (LLC/LNH
linfocítico??? Falta a fenotipagem!)
No dia seguinte foram repetidos os parâmetros de rotina (segue em
anexo). Perante o resultado da imunofenotipagem foi confirmado o diagnóstico
de LLC: 73% de células B que expressam o fenótipo CD19+/CD20+
(intensidade moderada)/CD5- (distribuição heterogénea)/CD10-/CD23-
/CD79b+/CD200+/CD43+ (fraca intensidade)/CD11c+/IgM-/CD103-/CD22+
(intensidade moderada)/monoclonalidade Kappa com intensidade moderada.
Estes resultados são compatíveis com expressão periférica de Síndrome
Linfoproliferativo B, sugestivo de Leucemia linfocítica crónica de linfócitos
B/linfoma linfocítico de células pequenas.
Realizou também um estudo imunológico com doseamento de
imunoglobulinas, as quais estavam diminuídas (IgM baixa), anticorpos anti-
nucleares, anti LKM, anti SSA, anti SSB, anti citoplasma neutr.ANCA, anti RNP
cujos resultados foram todos negativos. No que diz respeito ao estudo
virológico, foi averiguada a existência de infecção vírica pela hepatite A, B e C
e VIH, tendo sido todos os resultados negativos. A doente também não tinha
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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carga viral respeitante à leucemia células T do adulto, Parvovírus B19,
Citomegalovírus e vírus Herpes Humano tipo 6 e tipo 8. Em relação aos
parâmetros endocrinológicos, T4, T3 e TSH encontravam-se diminuídos.
Constatámos que o pedido exaustivo de exames laboratoriais não trouxe
nenhum benefício em termos de confirmação do diagnóstico. Nomeadamente,
o estudo da coagulação, que uma história clínica bem feita torna estes testes
obsoletos, estudo este que foi repetido no seguimento.
A LDH é tão inespecífica que há poucas situações que a tornem
esclarecedora, mesmo assim foi pedida à entrada e no seguimento.
A haptoglobina baixa sugere uma anemia hemolítica por existência de
auto-anticorpos, o que torna desnecessário o pedido de ferro e transferrina que
não são esclarecedores para a etiologia da anemia.
O RA teste e o Waller Rose são muito inespecíficos e inconclusivos.
Para avaliar a função tiróideia basta-nos a TSH, cujo valor normal
permite excluir doença funcional da tiróide, visto que tem um alto valor preditivo
negativo.
Face ao quadro agudo da doente é inútil avaliar a ficha lipídica.
Em relação à função hepática, no seguimento não valia a pena repetir as
determinações porque não havia resultados discrepantes à entrada.
Conclui-se que só para o diagnóstico foram suficientes dois exames:
hemograma e fenotipagem.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
63
5 CAPÍTULO IV – TESTES LABORATORIAIS
5.1 Introdução
O uso dos testes laboratoriais é um assunto que merece reflexão. Os
testes têm um impacto muito significativo na qualidade do serviço prestado ao
doente, e também na totalidade dos custos com a saúde.
O objectivo dos testes diagnósticos é avaliar a probabilidade de haver
doença. O poder de um teste para conseguir este objectivo reflecte-se nas
suas características de desempenho. A interpretação dos testes diagnósticos
faz-se com base em raciocínios probabilísticos.
Os valores que os testes diagnósticos apresentam nas várias situações
clínicas a investigar são a base para a sua interpretação. A partir deles, é
possível estimar um conjunto de parâmetros, que definem as suas
características de desempenho.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
64
Imagem 9 – Situação ideal vs situação real no âmbito das características de desempenho dos
testes laboratoriais (44)
Não existe o teste ideal, vamos ter sempre que lidar com falsos positivos e
falsos negativos.
O uso inapropriado dos testes tem consequências a vários níveis: aumento
de custos, desconforto do doente, ineficiência, preocupação e perigo de falsos
positivos.
5.2 Utilidade dos testes
1. Rastreio de doença em indivíduos de uma população
2. Diagnóstico de uma patologia em indivíduos doentes
3. Confirmação de um diagnóstico provisório
4. Monitorização de terapêutica
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
65
5.3 Valor Anormal
Reconhece-se um valor anormal quando comparamos o valor obtido
com um intervalo de referência (Valores de Referência).
Níveis de decisão são importantes para tomar uma atitude terapêutica e
não para detectar uma patologia.
Níveis terapêuticos baseiam-se em concentração terapêutica máxima
sem risco de toxicidade e na mínima concentração com eficácia terapêutica.
5.4 Que testes são úteis
1. Para esclarecimento do diagnóstico, de acordo com a sintomatologia e o
contexto epidemiológico?
2. Qual a hierarquia dos testes a requisitar?
5.5 Estratégia do pedido
TESTE SENSÍVEL ( vp- , FN) TESTE ESPECÍFICO ( vp+ , FP)
- Rastreio de doença
- Suspeita clínica
- Exclusão de patologia
- Monitorização terapêutica
- Evolução da doença
- Determinação do prognóstico
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
66
6 CAPÍTULO III – REVISÃO DO PONTO DE VISTA
LABORATORIAL DE 57 NOVOS CASOS NO ANO DE
2009
6.1 Estratificação segundo a idade
Dos 57 doentes seguidos constatou-se que tinham idades
compreendidas entre os 40 e os 90 anos, segundo as seguintes percentagens:
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
67
6.2 Estratificação segundo o sexo dos doentes
Quanto ao sexo dos doentes, constatamos uma maior prevalência no
sexo masculino como o encontrado na literatura.
6.3 Número de leucócitos
O nº de Leucócitos encontrado variou entre 3,5 x103/µL e 162 x103/µL
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
68
6.4 Número de linfócitos
Os Linfócitos variaram entre 420 e 162000 x103/µL
6.5 Valor de hemoglobina
Os valores de hemoglobina variaram entre 7 e 16 g/L
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
69
6.6 Valor de reticulócitos
O valor de reticulócitos variou entre 50 e 120.
6.7 Valor de plaquetas
O valor de plaquetas variou entre 5 e 312 x10^3/uL
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
70
6.8 Função renal
6.9 Função hepática
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
71
6.10 Imunoglobulina M
6.11 Biópsia óssea
6.12 Conclusões
Da casuística analisada nos 57 doentes:
1. Idades compreendidas entre os 40 e os 90 anos, tendo uma prevalência
no sexo masculino ,o que está de acordo com a literatura.
2. No hemograma há que realçar:
� 10% com anemia grave (7-10 g/dL) e 37% com anemia (10-13g/dL).
Destes só 18% com reticulocitose (respondendo ao tratamento da
anemia)
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
72
� 77% com leucocitose dos quais 80% à custa dos linfocitos (
linfocitose)
� 45,6% apresentam trombocitopénia (<150 x103 µL)
3. Nos parâmetros da BQ
� 46% hipogamaglobuilinémia M
� As funções renal e hepática não apresentaram alterações
assinaláveis.
4. Mielograma – todos os doentes com linfocitos > 30% na MO
(indispensável para sustentar o diagnóstico de LLC)
5. Biópsia óssea efectuada em 56% dos doentes dos quais 38% com
infiltração difusa sendo nos restantes o exame inconclusivo.
6. Citometria de fluxo
� O fenotipo característico CD19+; CD20+;CD5+;CD23+;CD79b+;
ZAP70-; FMC7- foi observado em 85% dos doentes
� Este fenotipo CD19+; CD20+;CD5+;CD 23+;CD79b-; ZAP70+;
FMC7+ foi observado em 15% dos doentes.
� Não foram observados fenotipos aberrantes
� Cerca de 13% com CD79 negativo (doentes que irão responder mal a
terapêutica convencional).
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
73
7. Citogenética
Observou-se del11q22-negativa; Trissomia 12 Negativa; del 13q14
negativa; del17q13.1negativa em 90% dos doentes.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
74
7 CAPÍTULO V – CONCLUSÕES
Escolhemos a LLC por ser uma das doenças hemato-oncológicas mais
prevalentes, numa população que cada vez é mais idosa, com início insidioso e
curso clínico indolente, que se suspeita face a um achado de linfocitose num
hemograma de rotina.
Do exposto concluímos que face a uma história clínica bem estruturada
e contundente e um exame objectivo bem feito, é fundamental que o pedido de
exames complementares de diagnóstico seja usado para confirmar suspeitas
clínicas, para esclarecimento do diagnóstico, de acordo com a sintomatologia e
o contexto epidemiológico.
Qual a hierarquia dos testes a requisitar? Cada vez mais é necessário
sermos cirúrgicos nos pedidos que efectuamos, no sentido de obtermos as
melhores respostas às dúvidas e suspeições suscitadas pela clínica.
Neste caso clínico o diagnóstico foi rapidamente confirmado a partir da
análise do hemograma e observação do sangue periférico e do imunofenótipo.
Na revisão dos casos laboratoriais todos os dados encontrados estão de
acordo com a revisão bibliográfica efectuada. Em todos os casos constatou-se:
• linfocitose superior a 5x109/L
• o fenótipo característico CD19+; CD20+;CD5+;CD23+.
• Hipogamaglobulinemia
• Infiltração linfocitária na medula óssea superior a 30%
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
75
Não queremos deixar de realçar que perante uma doença hemato-
oncológica é obrigatório o diagnóstico assente na Morfologia, Histologia,
Citometria de Fluxo; Citogenética e Biologia molecular que permitem
diagnosticar, tratar, seguir e estabelecer o prognóstico do doente com LLC à
luz do conhecimento actual.
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76
8 CAPÍTULO VI – TEMAS PARA FUTURAS
INVESTIGAÇÕES RELACIONADAS COM O TEMA
ABORDADO
Estudar o potencial benefício, se algum, de uma terapêutica com fármacos
antileucémicos, isolada ou combinada com anticorpos monoclonais, instituída
numa fase prévia da doença.
Estudar a relação entre a exposição a químicos e a agentes infecciosos e
LLC.
Estudar a relação dos efeitos da radioterapia médica, radiações UV e
radiações não-ionizantes na eclusão de uma LLC.
Realização de uma meta-análise de doentes com pneumonia e estudar se
houve evolução para LLC.
Monitorizar a terapêutica com os novos fármacos da LLC.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
77
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LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
84
ANEXOS
A. DEFINIÇÕES
Remissão completa: Os critérios que a definem devem se manter
constantes durante pelo menos três meses após o tratamento, sendo eles, a
ausência de linfócitos clonais no sangue periférico; ausência de linfadenopatia
significativa, o que pressupõe gânglios linfáticos com diâmetro superior a
1,5cm; ausência de hepatomegalia ou esplenomegalia ao exame físico;
ausência de sintomas constitucionais; contagem de leucócitos
polimorfonucleares superior a 1,5 x 109/L, contagem de plaquetas superior a
100 x 109/L e valor de hemoglobina superior a 11,0 g/dL.
Remissão parcial: é caracterizada pela diminuição inferior a 50% do
número de linfócitos; redução da linfadenopatia; diminuição superior ou igual a
50% da hepatomegalia e esplenomegalia; contagem de leucócitos
polimorfonucleares igual ou superior a 1,5 x 109/L ou uma melhoria superior a
50% do valor de base, contagem de plaquetas superior a 100 x 109/L ou 50%
de melhoria e valor de hemoglobina superior a 11g/dL ou 50% de melhoria, em
relação ao valor base, sem transfusões sanguíneas ou utilização de
eritropoietina.
Doença progressiva: Caracterizada por pelo menos um dos seguintes:
- Linfadenopatia, caracterizada por aparecimento de uma nova lesão,
como aumento de gânglios linfáticos (>1,5 cm), esplenomegalia, hepatomegalia
ou infiltração de outro órgão, aumento de 50% ou superior no diâmetro de
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
85
alguma estrutura, anteriormente de configuração normal; aumento de 50% ou
superior na totalidade dos diâmetros dos múltiplos gânglios linfáticos.
- Aumento de 50% ou superior do tamanho do baço ou hepatomegalia
ou esplenomegalia recorrentes.
- Aumento de 50% ou superior do número de linfócitos circulantes no
sangue periférico, com existência de pelo menos 5000 linfócitos B por
microlitro.
- Transformação histológica agressiva (por exemplo, ocorrência de
Síndrome de Richter). Quando possível, o diagnóstico deve ser estabelecido
por biopsia dos gânglios linfáticos.
- Ocorrência de citopenias (neutropenia, anemia, trombocitopenia)
atribuíveis à LLC/LNH linfocítico.
Doença estável: Doentes que não atingiram uma remissão parcial ou
completa e não exibem progressão da doença. (é equivalente a não resposta)
Respostas benéficas: As que incluem uma remissão completa ou
parcial (todas as outras, como doença estável, não resposta, doença
progressiva ou morte, devem ser rotuladas como falhas de tratamento)
Duração da resposta: Deve ser medida desde o final do último
tratamento até evidência de progressão da doença.
Sobrevivência livre de progressão da doença: É definida como o
intervalo entre o primeiro dia de tratamento e o primeiro sinal de progressão de
doença, ou tratamento por recaída, ou morte.
Duração de sobrevivência: Definida como o intervalo entre o primeiro
dia de tratamento e a ocorrência de morte.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
86
Recaída: É a situação que ocorre quando um doente que já tinha
atingido uma remissão completa ou parcial demonstra evidências de
progressão da doença após um período igual ou superior a seis meses.
Doença refractária: É definida como falha de tratamento ou progressão
de doença num espaço de seis meses desde a última terapêutica anti-
leucémica.
Doença residual mínima: Quantificação do número de células que
expressa o fenótipo maligno.
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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B. ESTUDO ANALÍTICO DO CASO CLÍNICO APRESENTADO
a) Hemograma e análises bioquímicas da doente à entrada
ERITRÓCITOS 2.01 109/uL HGB 6.1 g/dL HTC 18.5 % VGM 92.0 fL HGM 30.3 pg
CHCM 33.0 g/dL RDW-SD 12.8 %
LEUCÓCITOS 8.660 109/L NEUTRÓFILOS 520 x 109/L
LINF 8.140x 109/L
PLAQUETAS 5 x109/L VPM 11.3 fL PDW 40.3 %
RETICULÓCITOS 5.40 109/L TEMPO PROTROBINA 13.6 seg
T. TROMBOPLASTINA PARCIAL-APTT 21.00 seg FIBRINOGÉNIO 9.56 g/L
D-DIMEROS 866.0 ng/mL ANTITROMBINA 98.00 %
GLICOSE 266 mg/dL UREIA 184 mg/dL
CREATININA 2.3 mg/dL SÓDIO 139 mmol/L
POTÁSSIO 4.4 mEq/L CLORO 114 mmol/L CÁLCIO 8.5 mg/dL
FÓSFORO 5.1 mg/dL MAGNÉSIO 2.5 mg/dL
ÁCIDO ÚRICO 7.4 mg/dL FOSFATASE ALCALINA 249 Ul/L
GAMA GLUTAMIL TRANSFERASE 275 Ul/L ASPARTATO AMINOTRANSFERASE (AST) 16 Ul/L
ALANINA AMINOTRANSFERASE (ALT) 65 Ul/L LDH-DESIDROGENASE LÁCTICA 96 Ul/L
PROTEÍNA C REACTIVA 41.23 mg/dL HAPTOGLOBINA 452.0 mg/dL ÁCIDO FÓLICO 8.6 ng/mL VITAMINA B12 675 /mL
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b) Hemograma e análises bioquímicas da doente no seguimento
ERITRÓCITOS 2.76 109/uL HGB 8.1 g/dL HTC 24.4 % VGM 88.4 fL HGM 29.3 pg
CHCM 33.2 g/dL RDW-SD 14.1 %
LEUCÓCITOS 9.600 x109/L NEUTRÓFILOS 450x 109/L
LINF 9.150 x 109/L PLAQUETAS 53 x10³/uL
VPM 8.7 fL PDW 59.8 %
RETICULÓCITOS 8.90 x 109/L TEMPO PROTROBINA 13.6 seg
T. TROMBOPLASTINA PARCIAL-APTT 20.70 seg FIBRINOGÉNIO 7.24 g/L
D-DIMEROS 647.0 ng/mL GLICOSE 355 mg/dL
UREIA 213 mg/dL CREATININA 2.2 mg/dL
SÓDIO 139 mmol/L POTÁSSIO 4.6 mEq/L
CLORO 114 mmol/L CÁLCIO 8.3 mg/dL
FÓSFORO 6.3 mg/dL MAGNÉSIO 2.5 mg/dL
ÁCIDO ÚRICO 7.9 mg/dL COLESTEROL TOTAL 138 mg/dL
COLESTEROL HDL 13 mg/dL COLESTEROL LDL 49 mg/dL TRIGLICÉRIDOS 213 mg/dL
BILIRRUBINA TOTAL 1.62 mg/dL BILIRRUBINA DIRECTA 0.96 mg/dL FOSFATASE ALCALINA 214 Ul/L
GAMA GLUTAMIL TRANSFERASE 262 Ul/L ASPARTATO AMINOTRANSFERASE (AST) 48 Ul/L
ALANINA AMINOTRANSFERASE (ALT) 89 Ul/L LDH-DESIDROGENASE LÁCTICA 127 Ul/L
FERRO 125 µg/dL TRANSFERINA 92 mg/dL
PROTEÍNA C REACTIVA 33.16 mg/dL lg A 64 mg/dL lg G 636 mg/dL
LLC/LNH linfocítico – Um caso clínico: diagnóstico hemato-oncológico e revisão laboratorial
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