faculdade boa viagem devry brasil centro de pesquisa e pós ... · gestão financeira de micro e...

67
Faculdade Boa Viagem | DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial MPGE Jéssica de Pádua Martins de Arruda Tavares Práticas de gestão financeira em MPEs familiares do município de Santa Cruz do Capibaribe (PE): Mudanças adotadas pela segunda geração de gestores Recife, 2017

Upload: vuongcong

Post on 01-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Faculdade Boa Viagem | DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE

Jéssica de Pádua Martins de Arruda Tavares

Práticas de gestão financeira em MPEs familiares do município de Santa Cruz do

Capibaribe (PE): Mudanças adotadas pela segunda geração de gestores

Recife, 2017

Jéssica de Pádua Martins de Arruda Tavares

Práticas de gestão financeira em MPEs familiares do município de Santa Cruz do

Capibaribe (PE): Mudanças adotadas pela segunda geração de gestores

Recife, 2017

Dissertação apresentada como requisito

complementar para obtenção do grau de Mestre do

curso de Mestrado em Gestão Empresarial da

Faculdade Boa Viagem | DeVry Brasil, sob a

orientação da Prof.ª Amanda Aires Vieira, Dra; e

coorientação do Profº. Olímpio José de Arroxelas

Galvão, PhD.

Catalogação na fonte - Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

T231p Tavares, Jéssica de Pádua Martins de A. Práticas de gestão financeira em MPEs familiares do

município de Santa Cruz do Capibaribe (PE): Mudanças adotadas

pela segunda geração de gestores / Jessica de Pádua Martins de

A Tavares. – Recife : DeVry | UniFBV, 2017.

67 f.

Orientador(a): Amanda Aires Vieira.

Co-orientador: Olímpio José de Arroxelas Galvão

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

1. Empresas familiares. 2. MPEs. 3. Mudanças

realizadas. 4. Segunda geração. I. Título. DISS

658[17.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca.

A Geyza Miriam.

"Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá".

(Sl 37.4-5)

AGRADECIMENTOS

A conclusão desta dissertação é o reflexo da conquista de um sonho que teve início no

primeiro ano da minha graduação em Administração. Para chegar até aqui os caminhos não

foram fáceis, mas eu só tenho o que agradecer a todos aqueles que caminharam junto comigo

durante este período.

Em primeiro lugar quero agradecer a Deus por ter me presenteado com todas as condições

necessárias para a realização deste sonho como a saúde, a inteligência, a persistência e a

coragem. Agradeço aos meus pais pelo apoio, sobretudo à minha mãe, Geyza Miriam, a quem

dedico este trabalho, por todo o suporte financeiro ao longo do curso.

Agradeço ao meu noivo, Marivaldo Júnior, pela parceria ao longo destes dois anos, pela

paciência, pelo apoio e pela motivação para que eu concluísse esta dissertação. Agradeço,

também, a minha irmã e demais familiares que tiveram paciência comigo e compreenderam

minha ausência em determinados momentos para poder estudar.

Agradeço a professora Amanda Aires pela paciência, atenção, orientação e por todas as

contribuições relevantes na condução deste trabalho. Agradeço ao professor Olímpio, pessoa

que admiro muito, pela acolhida, por toda a paciência, pelo carinho, pela atenção, por

acreditar no tema deste estudo e pela disponibilidade em me auxiliar com esta pesquisa.

Minha gratidão a estes dois professores por toda a assistência na realização deste trabalho.

Um agradecimento especial ao professor James pela colaboração a esta pesquisa; minha

gratidão a ele por ter acreditado no tema abordado, por ter contribuído durante o exame de

qualificação com o delineamento da pesquisa, e por ter participado da elaboração do

questionário.

Agradeço ao professor Marcos pelas significativas contribuições a esta pesquisa e pela

disponibilidade em participar da minha banca avaliadora. Por fim, agradeço as minhas amigas

pela compreensão da minha ausência e as minhas colegas de curso, em especial Sandra e

Thays, pela ajuda e amizade construída ao longo destes anos.

RESUMO

O presente estudo tem como base as transformações realizadas pela segunda geração na

gestão financeira de micro e pequenas empresas familiares da cidade de Santa Cruz do

Capibaribe que, juntamente com Caruaru e Toritama, compõem a maior parcela de produção

do Polo de Confecções do agreste pernambucano. O objetivo principal é identificar as

mudanças realizadas pela segunda geração de gestores nas atividades financeiras de micro e

pequenas empresas familiares de Santa Cruz do Capibaribe. Na parte descritiva foi realizado

um levantamento de dados primários com trinta herdeiros atuantes na gestão financeira das

micro e pequenas empresas familiares. A coleta de dados foi realizada através de

questionários impressos e online, e a análise dos dados através das técnicas de estatística

descritiva e correlação de variáveis. Por fim, os dados obtidos mostraram que a segunda

geração possui uma relação de confiança e autonomia perante à primeira geração, além de

começar a trabalhar na empresa desde muito jovem, contribuindo para que a segunda geração

adquirisse interesse em desenvolver a gestão financeira da empresa e em dar continuidade ao

negócio.

PALAVRAS-CHAVE: Empresas familiares; MPEs; Mudanças realizadas; Segunda geração.

ABSTRACT

The present study is based on the transformations carried out by the second generation in the

financial management of micro and small family businesses in the city of Santa Cruz do

Capibaribe which, together with Caruaru and Toritama, make up the largest production

portion of the Polo de Confecções do agreste in Pernambuco. The main objective is to identify

the changes made by the second generation of managers in the financial activities of micro

and small family businesses in Santa Cruz do Capibaribe. In the descriptive part, a survey of

primary data with thirty heirs acting in the financial management of micro and small family

businesses was carried out. Data collection was done through printed and online

questionnaires, and data analysis was done using descriptive and correlation of variables.

Finally, the data obtained showed that the second generation had a relationship of trust and

autonomy vis-à-vis the first generation, in addition to starting to work in the company from a

very young age contributing that the second generation acquired interest in developing the

company's financial management in order to continue business.

KEY WORDS: Family businesses; MPEs; Changes made; Second generation

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quantidade de registros dos termos nos portais de periódicos............ 18

Tabela 2 - Porte das empresas........................................................................... 40

Tabela 3 - Gênero e parentesco dos herdeiros.................................................... 41

Tabela 4 - Idade dos herdeiros e tempo de trabalho na empresa.......................... 42

Tabela 5 - Escolaridade x gênero.......................................................................... 43

Tabela 6 - Evolução profissional dos homens na empresa................................... 43

Tabela 7 - Evolução profissional das mulheres na empresa................................. 44

Tabela 8 - Relação entre escolaridade, tempo de trabalho na empresa e o cargo

de ocupação........................................................................................................... 44

Tabela 9 - Relação entre cargo de ocupação, tempo de trabalho e idade das

mulheres................................................................................................................ 45

Tabela 10 - Relação entre cargo de ocupação, tempo de trabalho e idade dos

homens.............................................................................................................. 45

Tabela 11 - Atividades financeiras realizadas pela segunda geração................... 46

Tabela 12 - Práticas financeiras adotadas pela primeira geração x práticas

adotadas após o ingresso da segunda geração na gestão da empresa.................. 47

Tabela 13 - Técnicas financeiras implantadas pela segunda geração................... 48

Tabela 14 - Grau de importância dos recursos utilizados na tomada de decisão

financeira........................................................................................................... 48

Tabela 15 - Grau de autonomia da segunda geração sobre as técnicas

financeiras......................................................................................................... 49

Tabela 16 - Recursos utilizados para a tomada de decisão financeira................ 49

Tabela 17 - Técnicas que se deseja utilizar nos próximos dois anos................... 50

LISTA DE ELEMENTOS

Quadro 1 - Pontos fortes das empresas familiares....................................................... 15

Quadro 2 - Pontos fracos separados por geração......................................................... 15

Quadro 3 - Classificação das empresas de comércio e serviços.................................. 21

Quadro 4 - Classificação das empresas de indústria................................................... 22

Quadro 5 - Características da gestão das MPEs.......................................................... 23

Quadro 6 - Ferramentas de gestão financeira.............................................................. 26

Quadro 7 - Práticas financeiras em MPEs................................................................... 33

Quadro 8 - Principais motivos que levam o herdeiro a desenvolver a empresa.......... 50

Quadro 9 - Motivação para implantar as mudanças na gestão financeira do

negócio..................................................................................................................... 51

Gráfico 1 - Frequência de aceitação das sugestões dos herdeiros pela primeira

geração........................................................................................................................... 52

Gráfico 2 - Principais dificuldades durante o processo de desenvolvimento da

gestão financeira............................................................................................................ 53

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EPP Empresas de pequeno porte

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LC Lei Complementar

ME Microempresas

MPEs Micro e pequenas empresas

PWC Pricewaterhousecoopers

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 13

1.2 Contextualização do problema...................................................................... 14

1.3 Objetivos....................................................................................................... 17

1.3.1 Objetivo geral............................................................................................ 17

1.3.2 Objetivos específicos................................................................................. 17

1.4 Justificativas.................................................................................................. 18

1.4.1 Justificativa teórica.................................................................................... 18

1.4.2 Justificativa prática.................................................................................... 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................... 21

2.1 Micro e pequenas empresas.......................................................................... 21

2.2 A Administração Financeira e suas ferramentas...........................................

2.3 Evidências empíricas sobre as práticas financeiras adotadas em MPEs.......

25

31

2.4 Empresa familiar........................................................................................... 33

3 METODOLOGIA............................................................................................ 37

3.1 Delineamento da pesquisa............................................................................ 37

3.2 População e amostra..................................................................................... 37

3.3 Instrumentos de Coleta de Dados................................................................. 37

3.4 Análise prévia da amostra e validação do questionário................................ 38

3.5 Limitações da pesquisa................................................................................. 39

3.6 Limites da pesquisa....................................................................................... 39

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS.................................................................... 40

4.1 Porte da empresa e análise do perfil dos herdeiros....................................... 40

4.2 Mudanças realizadas pela segunda geração na gestão financeira................. 47

4.3 Motivos para a realização das mudanças na gestão financeira..................... 50

4.4 Dificuldades encontradas pela segunda geração na adoção de novas

técnicas financeiras............................................................................................. 52

5 CONCLUSÕES............................................................................................... 54

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 56

APÊNDICE I...................................................................................................... 62

APÊNDICE II..................................................................................................... 65

13

1 INTRODUÇÃO

O descontrole financeiro é uma das principais dificuldades enfrentadas pelas micro e

pequenas empresas (MPEs) e tal fato é uma das causas de extinção das MPEs brasileiras,

conforme apresentam as pesquisas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas – SEBRAE (2017; 2014). As MPEs têm um papel importante na economia por

gerarem força de trabalho, porém, essas empresas possuem marcas profundas de desigualdade

de produtividade, de acesso a financiamentos e recursos próprios para investimento e de

capacidades inovativas (IPEA, 2012).

É importante destacar que, nesse tipo de empresa, as decisões sobre a estrutura do capital se

concentram no proprietário-gestor e, dessa forma, os valores pessoais e as perspectivas

individuais do gestor têm impacto nas escolhas financeiras, como a obtenção do

financiamento, a gestão do capital de giro e o fluxo de caixa (PEÑALOZA e FIGUEIREDO,

2010). Padoveze (2011) e Seleme (2012) afirmam que os controles financeiros são o conjunto

de movimentações financeiras decorrentes do pagamento e recebimento dos eventos

econômicos, da captação de recursos e dos investimentos de capital que permitem a análise do

fluxo financeiro nas organizações. Portanto, de acordo com os autores, para que exista um

controle financeiro eficiente é fundamental adotar ferramentas de gestão financeira na rotina

organizacional, as quais quando bem utilizadas, são fundamentais para permitir o sucesso de

uma empresa.

A gestão financeira nas MPEs reflete o perfil organizacional desse tipo de empresa onde, de

acordo com o SEBRAE (2015), 71% das Empresas de Pequeno porte (EPP) e 68% das

Microempresas (ME) são empresas familiares. As empresas familiares têm um papel

significativo no desenvolvimento econômico e social do país e podem ser definidas como

aquelas que são de propriedade de uma família que é a responsável pela estratégia e pela

administração do empreendimento, com a participação de parentes na diretoria da empresa

(GONÇALVES, 2000). Para Lunardi et al. (2017), quando as empresas familiares são

comparadas às empresas não familiares, elas se apresentam menores, possuem poucos

funcionários, tem uma administração fiel a um modelo de gestão patriarcal e tradicional do

proprietário fundador e dedicam maior atenção ao desempenho da empresa.

14

Por sua vez, Muzzio (2013) assinala que as diferenças entre as empresas familiares e não

familiares se deve à própria natureza da empresa familiar, que pode possuir objetivos não

econômicos ou propósitos que levem em consideração a harmonia familiar, o status social ou

a identidade da família controladora. Uma empresa será considerada familiar quando forem

identificadas pelo menos duas gerações com uma mesma família e quando as relações entre a

família e a empresa não se limitarem ao âmbito da gestão (DONNELLEY, 1964; OLIVEIRA

et al., 2013).

1.2 Contextualização do problema

Quando se trata da continuidade do negócio, boa parte das empresas familiares brasileiras

planeja passar a propriedade para a próxima geração, porém, desejam que essa sucessão seja

realizada com uma gestão profissionalizada porque pretendem deixar como legado um

negócio estruturado, sólido e seguro. Contudo, apenas 30% das empresas familiares chegam

até a segunda geração da família e um dos principais obstáculos está na ausência de um

planejamento sucessório e de uma governança corporativa bem estruturada

(PRICEWATERHOUSECOOPERS - PwC, 2014; SEBRAE, 2014; GAZETA DO POVO,

2017).

No início, a empresa é uma fiel representação dos desejos dos fundadores; depois, com a

chegada dos herdeiros, começa a luta pelo poder, tornando o momento da sucessão bastante

arriscado para as empresas familiares. Este momento será sempre uma fase que envolve a

questão emocional e que precisa ser gerenciada de forma profissional. A sucessão costuma

ser um momento que gera muitas dúvidas, principalmente quando os herdeiros chegam à

empresa; é aí que começam os questionamentos e o choque de gerações é inevitável (Muzzio,

2013; PwC, 2014; Gazeta do Povo, 2017). Segundo pesquisa do SEBRAE (2016), as

empresas familiares possuem uma estrutura enxuta, marcada por pontos fortes e fracos que

diferenciam a primeira e a segunda geração na gestão do negócio, conforme apresentados a

seguir:

15

Pontos fortes

Quadro 1 - Pontos fortes das empresas familiares

PONTOS FORTES

Comando único e centralizado, permitindo reações rápidas em emergências;

Estrutura administrativa e operacional "enxuta";

Disponibilidade de recursos financeiros para autofinanciamento;

Importantes relações comerciais decorrentes de um nome respeitado;

Organização interna leal e dedicada;

Grupo interessado e unido em torno do fundador;

Sensibilidade em relação ao bem-estar dos empregados;

Continuidade e integridade de diretrizes administrativas e de atenção da empresa.

Fonte: SEBRAE (2016)

Os pontos fortes das empresas familiares são classificados de uma maneira geral e, de acordo

com o quadro1, a centralização do poder é considerada positiva em empresas desse perfil

porque facilita a agilidade na solução de emergências. Em relação ao aumento da capacidade

produtiva do negócio, os pontos fortes que se destacam são a aplicação dos recursos próprios

para autofinanciamento e as importantes relações comerciais resultantes de um nome

respeitado.

Para classificar os pontos fracos das empresas familiares, foram analisadas pelo SEBRAE

(2016), separadamente, as duas gerações quando presentes na gestão do negócio, de acordo

com o quadro a seguir:

Pontos fracos

Quadro 2 - Pontos fracos separados por geração

PONTOS FRACOS

Primeira Geração

Dificuldades na separação entre o que é emocional/racional;

Postura de autoritarismo e austeridade do fundador;

Atitudes de paternalismo;

Exigência de dedicação exclusiva dos familiares;

Laços afetivos que influenciam nos comportamentos e decisões da empresa;

Valorização da antiguidade;

Expectativa de alta fidelidade dos empregados;

16

Jogos de poder.

Segunda Geração

Falta de comando para gerar uma reação rápida para enfrentar os desafios;

Falta de planejamento para médio e longo prazos;

Falta de preparação/formação profissional dos herdeiros;

Conflitos que surgem entre os interesses da família e os da empresa;

Falta de compromisso, sobretudo com respeito a lucros e desempenho;

Descapitalização da empresa pelos herdeiros em desfrute próprio;

Situações em que prevalece o emprego de parentes sem qualificação.

Fonte: Adaptado de SEBRAE (2016)

Conforme o quadro 2, as dificuldades enfrentadas pela primeira geração para a separação

entre o que é racional e o que é emocional, assim como os conflitos vivenciados pela segunda

geração relacionados aos interesses da família e aos da empresa, caracterizam os pontos

fracos enfrentados pelas empresas familiares. Observa-se, portanto, que ambas as gerações

possuem dúvidas relacionadas à separação entre a empresa e a família. Outro ponto fraco

analisado é a visão das gerações quando o assunto são os parentes empregados no negócio;

tanto a primeira, como a segunda geração, valorizam o emprego dos parentes na empresa,

inclusive a primeira geração exige dedicação exclusiva dos familiares e os laços afetivos

acabam influenciando nos comportamentos e decisões da empresa.

Em relação à gestão financeira, os pontos fracos que mais chamam atenção para a segunda

geração, de acordo a pesquisa do SEBRAE (2016) apresentada no quadro 2, são a ausência de

compromisso, sobretudo com respeito aos lucros e desempenho financeiro do negócio, a

descapitalização da empresa pelos herdeiros para desfrute próprio e a falta de preparação

profissional dos herdeiros. Porém, há exceções a esta realidade e por esta razão, o presente

estudo busca identificar as mudanças adotadas pela segunda geração nas práticas de gestão

financeira em micro e pequenas empresas (MPEs) familiares.

Com base em Santos et al. (2009), Hoji (2010), Trindade et al. (2010), Padoveze (2011) e

Seleme (2012), esta pesquisa leva em consideração os seguintes instrumentos de gestão

financeira: (a) fluxo de caixa; (b) controle de estoques; (c) planejamento de compras; (d)

empréstimos; (e) financiamentos; (f) administração do capital de giro; (g) controle de

pagamentos; (h) controle das contas a receber e (i) orçamento.

17

É importante ressaltar que as ferramentas de gestão financeira permitem que a empresa tenha

decisões assertivas, conhecendo a origem dos recursos financeiros, controlando as

movimentações de caixa e planejando seus investimentos (Seleme, 2012). Diante do exposto

apresenta-se a seguinte pergunta da pesquisa: Quais as principais mudanças adotadas pela

segunda geração ao realizar a administração financeira da micro e pequena empresa

familiar?

As MPEs familiares que serão pesquisadas estão inseridas no município de Santa Cruz do

Capibaribe que faz parte do Polo de Confecções Pernambuco (é o segundo maior do país,

perdendo apenas para o Polo de Confecções de São Paulo). O agreste pernambucano

corresponde a 77% da produção de todo o Polo de Confecções , sendo 38,1% em Santa Cruz

do Capibaribe, 24,1% em Caruaru e 14,8% em Toritama. A cidade tem influência no cenário

de confecções brasileiro e as marcas locais se espalharam pelo país, principalmente no Norte,

Nordeste e Centro-Oeste (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2017).

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Identificar as mudanças realizadas pela segunda geração nas atividades financeiras de micro e

pequenas empresas familiares da cidade de Santa Cruz do Capibaribe.

1.3.2 Objetivos específicos

Identificar as mudanças realizadas pela segunda geração na gestão financeira de micro e

pequenas empresas familiares;

Verificar os motivos das mudanças realizadas na gestão financeira das MPEs familiares;

Conhecer as dificuldades encontradas pela segunda geração para a aplicação de novos

conhecimentos de gestão financeira na empresa familiar.

18

1.4 Justificativas

1.4.1 Justificativa teórica

Um dos fatores que influenciaram esta pesquisa foi a ausência de registros de produções

científicas nos portais de periódicos pesquisados sobre gestão financeira em micro e pequenas

empresas familiares. A pesquisa nos periódicos também apresentou um número pequeno de

produções sobre as práticas financeiras adotadas pelas MPEs. As bases pesquisadas foram

nacional, representada pelo SPELL; internacional, representada pelo EBSCO e um periódico

específico sobre MPEs como a REGEPE, conforme detalha a Tabela 1.

Tabela 1 - Quantidade de registros dos termos nos portais de periódicos

TERMOS PESQUISADOS REGEPE SPELL EBSCO TOTAL

GESTÃO FINANCEIRA

Gestão financeira 3 27 86 116

Instrumentos Financeiros 0 13 36 49

Administração Financeira 2 12 38 52

Controle Financeiro 0 0 8 8

EMPRESA FAMILIAR

Empresas familiares 3 88 329 420

Gestão financeira em empresas familiares 0 0 0 0

Sucessão em empresas familiares 1 7 2 8

Cultura organizacional em empresas familiares 1 0 0 1

Finanças em empresas familiares 0 0 0 0

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

Micro e pequenas empresas 7 153 272 432

Gestão financeira MPEs 0 0 0 0

Finanças em MPEs 0 0 0 0

Fonte: Base nos dados REGEPE, SPELL e EBSCO (2017).

A ausência de estudos relacionados à gestão financeira em empresas familiares, assim como

sobre gestão financeira em micro e pequenas empresas, justifica a escolha do tema desta

pesquisa que procura contribuir com a produção de um material para micro e pequenas

empresas familiares.

19

1.4.2 Justificativa prática

No que se refere às justificativas práticas para a realização do presente estudo, destacam-se as

seguintes:

Fornecer informações sobre as principais técnicas de controle financeiro adotadas

pelas micro e pequenas empresas;

Contribuir para a literatura sobre Gestão Financeira aplicada em empresas familiares

de micro e pequeno porte;

Analisar o perfil da segunda geração quanto às técnicas de gestão financeira adotadas

para dar continuidade ao negócio familiar.

Os resultados da pesquisa contribuem para o desenvolvimento dos estudos sobre a gestão

financeira, a sobrevivência e a sucessão das micro e pequenas empresas familiares, podendo

auxiliar pesquisadores e profissionais da área de negócios, estudantes dos cursos de

Administração e Ciências Contábeis, e órgãos que trabalham com empresas deste perfil.

As empresas analisadas estão situadas na região da cidade de Santa Cruz do Capibaribe –

Pernambuco, que vive quase exclusivamente da produção de confecções e de atividades a ela

correlatas, compondo assim, o Polo de Confecções do Agreste Pernambucano, juntamente

com mais nove cidades da região agreste central e setentrional e do estado (Agrestina, Brejo

da Madre de Deus, Caruaru, Cupira, Riacho das Almas, Surubim, Taquaritinga do Norte,

Toritama e Vertentes).

Em Santa Cruz do Capibaribe, a taxa de sobrevivência das empresas com dois anos,

constituídas em 2012, foi de 73,1%, refletindo o potencial econômico da cidade, que em

conjunto com Caruaru e Toritama, contribuem para o desenvolvimento do estado (SEBRAE,

2016; 2013). Sozinha, Santa Cruz do Capibaribe responde por 30% de tudo o que é produzido

no Polo de Confecções Pernambucano, o que representa R$ 2,4 bilhões por ano do Produto

Interno Bruto (PIB) do estado (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2017).

De acordo com o relatório especial sobre as empresas familiares elaborado pelo SEBRAE

(2015), de todas as micro e pequenas empresas presentes na região Nordeste, 52% são

empresas familiares. Essas empresas normalmente têm uma gestão deficitária porque as

decisões não são embasadas em aspectos técnicos ou racionais, mas em interesses familiares

que influenciam direta ou indiretamente, nas práticas organizacionais (Muzzio, 2012).

20

As micro e pequenas empresas familiares de Santa Cruz do Capibaribe possuem grande

importância para a segunda geração, pois os herdeiros estão presentes no negócio desde muito

jovens e têm grande interesse em dar continuidade, com organização, a empresa dos pais.

Além do desejo de continuar a empresa, a segunda geração pesquisada busca uma melhor

qualificação porque procura aplicar os conhecimentos técnicos para desenvolver o negócio.

Esta realidade confronta os pontos fracos da segunda geração, apresentados na pesquisa do

SEBRAE (2016), e por isso é objeto de estudo do presente trabalho.

Diante do exposto, esta pesquisa contribui para uma melhor compreensão sobre a presença da

segunda geração na gestão financeira de micro e pequenas empresas familiares de Santa Cruz

do Capibaribe, além de apresentar as motivações que levam essa geração a aplicar mudanças

na gestão do negócio familiar.

21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Micro e pequenas empresas

Para definir as micro empresas (ME) e as empresas de pequeno porte (EPP) existem critérios

como, por exemplo, receita bruta, número de empregados, capital social, receita operacional

líquida, grau de sofisticação tecnológica, entre outros, que são adotados por instituições

públicas e privadas brasileiras. No Brasil, as instituições que definem as MEs e EPPs são a

Constituição Federal, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo esta última

instituição,

Não há unanimidade sobre a delimitação do segmento das micro e pequenas

empresas. Observa-se, na prática, uma variedade de critérios para a sua

definição tanto por parte da legislação específica, como por parte de

instituições financeiras oficiais e órgãos representativos do setor, ora

baseando-se no valor do faturamento, ora no número de pessoas ocupadas,

ora em ambos (IBGE, 2003, p. 17).

Em termos legais, os artigos 170 e 179 da Constituição Federal de 1988 asseguram às

microempresas e às empresas de pequeno porte tratamento jurídico diferenciado e

simplificado nos campos administrativo, tributário, previdenciário, trabalhista, creditício e de

desenvolvimento empresarial. Por outro lado, a Lei nº 9.841/1999 que institui o Estatuto da

Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e a Lei Complementar 123/2006 definem as

medidas e ações de apoio às micro e pequenas empresas brasileiras.

Para classificar as empresas em micro e pequenas, os critérios utilizados pelo SEBRAE e pela

Lei Complementar nº 123/06, é que as empresas sejam definidas pelo faturamento bruto

anual, pelas obrigações e pelo número de funcionários, além de separadas pela atividade

exercida.

Quadro 3 - Classificação das empresas de comércio e serviços

CLASSIFICAÇÃO DAS EMPRESAS DE COMÉRCIO E SERVIÇOS

Porte Número de funcionários Faturamento bruto anual

Micro Até 9 empregados Até R$ 360.000,00

Pequena De 10 a 49 empregados De R$ 360.000,01 até R$ 3.600.000,00

Fonte: Adaptado de SEBRAE (2014) e da LC nº 139/06, alterada pela LC nº 139/11.

22

Quadro 4 - Classificação das empresas de indústria

CLASSIFICAÇÃO DAS EMPRESAS DE INDÚSTRIA

Porte Número de funcionários Faturamento bruto anual

Micro Até 19 empregados Até R$ 360.000,00

Pequena De 20 a 99 empregados De R$ 360.000,01 até R$ 3.600.000,00

Fonte: Adaptado de SEBRAE (2014) e da LC nº 139/06, alterada pela LC nº 139/11.

No art.51 da LC n° 123/06, as microempresas e as empresas de pequeno porte são

dispensadas:

Da afixação de quadro de trabalho em suas dependências;

Da anotação das férias dos empregados nos respectivos livros ou fichas de registro;

De empregar e matricular seus aprendizes nos cursos dos Serviços Nacionais de

Aprendizagem;

Da posse do livro intitulado “Inspeção do Trabalho” e

De comunicar ao Ministério do Trabalho e Emprego a concessão de férias coletivas.

Ao longo dos últimos 30 anos as micro e pequenas empresas (MPEs) têm adquirido grande

importância para o Brasil devido à sua contribuição para o crescimento socioeconômico do

país. De acordo com a Confederação Nacional de Comércio, Bens e Serviços (2017), cerca de

93,7% das empresas ativas no Brasil são de micro e pequeno porte. Em 2011, conforme

levantamento do SEBRAE (2014) as MPEs geraram 27% do PIB brasileiro e representaram

44% dos empregos formais no setor de serviços e 70% no comércio. Na continuidade dessa

expansão, em 2016, foram responsáveis por contratar mais de 9 milhões de trabalhadores

(SEBRAE, 2016).

Para Chér (1991, p. 13), “as MPEs possuem características próprias e exclusivas: contribuição

significativa na geração do produto nacional; absorção de mão de obra; flexibilidade

locacional (espalhando - se por todo o território nacional, desempenhando importante papel na

interiorização do desenvolvimento) predominância nacional (nas pequenas empresas, há

absoluta presença do capital nacional privado)”. As empresas de pequeno porte possuem

características particulares e distintas das grandes empresas (Leone, 1999). A gestão das

microempresas e empresas de pequeno porte exige ferramentas de gerenciamento adequadas

23

para levá-las ao sucesso, porém, quando mal executadas podem levar a empresa ao fracasso,

como exposto no quadro abaixo:

Quadro 5 - Características da gestão das MPEs

GESTÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

AUTOR ANO TEORIA

Rebouças 1991

Os fatores de êxito das MPEs estão relacionados com o

ambiente empresarial (fator externo) e com a situação interna

(qualidades e deficiências da empresa, produção, administração

e estrutura financeira).

Mori 1998

Existem três fatores que afetam a sobrevivência das pequenas

empresas: as condições características do meio ambiente da

empresa, as características estruturais e estratégias do negócio

e as características individuais do empreendedor.

Leone 1999 As MPEs necessitam de enfoque distinto quanto à

administração desse porte de empresa, pois têm seus próprios

problemas e são caracterizadas por extrema heterogeneidade.

Matias e Lopes 2002

A falta de disciplina e organização por parte dos proprietários

leva à incapacidade para enfrentar momentos de instabilidade

ou dificuldades na empresa.

Oliveira 2005

Elaboração do manual “Como elaborar controles financeiros”

que descreve o capital de giro, o fluxo de caixa e a apuração

dos resultados como as ferramentas financeiras necessárias

para as MPEs.

Mcchlery, Godfrey e

Meechan 2005

Os sistemas de controle orçamentário nas MPEs não são

robustos, uma vez que muitas delas não elaboraram o

orçamento.

Lacerda 2006

As micro e pequenas empresas têm como característica a quase

total ausência de instrumentos gerenciais, baseando a tomada

de decisão na experiência, intuição e improvisação dos

gestores.

SEBRAE 2007

A carga tributária elevada e a administração de capital de giro,

quando mal gerenciadas, tornam-se os principais fatores de

mortalidade das empresas.

Moura e Oliveira 2007 Não é um hábito característico do gestor da MPEs elaborar um

planejamento financeiro que dê suporte a sua gestão.

Lima 2007

O controle de contas a receber, controle de caixa e controle de

custos e despesas são os mais utilizados nas micro e pequenas

empresas.

Azevedo e Leone 2011

O nível de prosperidade de uma empresa está diretamente

relacionado ao nível de especialização da sua gestão financeira.

A gestão financeira na MPE é conduzida por um sócio sem

capacitação em finanças.

Carvalho e Lima 2011 Os gestores de MPEs utilizam os controles internos para a

tomada de decisões, como o controle de contas a pagar,

controle de caixa e controle de contas a receber.

24

Azevedo e Leone 2011

Os gestores das MPEs conduzem as finanças da empresa de

modo empírico. Como não é realizado um planejamento, não

há definição de orçamento nem a utilização de ferramentas

para monitoramento e previsão de planejamento financeiro. Os

gestores também não dão importância ao fluxo de caixa diário

nos seus controles e não fazem a análise periódica da situação

financeira da empresa.

Santos et al 2011

As MPEs são atrativas do ponto de vista de rentabilidade, mas

devido às deficiências na gestão financeira e operacional,

operam de maneira ineficiente, o que as deixam suscetíveis a

imprevistos comuns à natureza dos negócios.

Batista et al 2012

Os micro empresários desconhecem pontos cruciais para o

sucesso da empresa como a necessidade de planejamento, o

impacto da carga tributária sobre o negócio, o mercado onde

estão inseridos e utilizam-se de capital próprio para gerenciar a

empresa.

Callado e Pinho 2014

O controle das micro e pequenas empresas são difusos e quase

sempre centralizados, com decisões tomadas pelos

proprietários sem a participação de importantes atores do

processo.

Santos et al 2016

A maioria das MPEs não conhece ou não faz uso do

planejamento estratégico e do orçamento, que direcionam as

estratégias e ações organizacionais.

Domingues et al 2017

A correta administração do capital de giro é fundamental à boa

saúde das empresas, principalmente às MPEs. Quando

realizada inadequamente, a administração do capital de giro

pode resultar em graves problemas financeiros, podendo levar

as MPEs a uma situação de insolvência.

Fonte: Elaboração própria (2017)

Com base no Quadro 5, a gestão das micro e pequenas empresas está relacionada a análise do

ambiente externo e do ambiente interno deste tipo de negócio. A maneira como é realizada a

administração influência nas características das MPEs e de acordo com Azevedo e Leone

(2011), a prosperidade da empresa está relacionada ao nível de especialização da sua gestão

financeira. Nas MPEs o controle de contas a pagar, o controle de caixa e o controle de contas

a receber são os controles mais utilizados pelos gestores, mas, a gestão financeira ainda não

está completa nestas empresas, pois não há uso de fluxo de caixa diário, orçamento,

planejamento tributário e planejamento financeiro (LIMA, 2007; MOURA E OLIVEIRA,

2007; AZEVEDO E LEONE, 2011; BATISTA ET AL., 2012; SANTOS ET AL., 2016).

Ainda de acordo com o Quadro 5, a administração do capital do giro e a carga tributária

quando mal gerenciadas contribuem para a mortalidade da empresa. Com base em pesquisas

do SEBRAE (2010) existem, também, outros fatores que contribuem para o fechamento das

MPEs, são eles:

25

a) A ausência de comportamento empreendedor;

b) A ausência de planejamento prévio à abertura do negócio;

c) As deficiências na gestão empresarial (falta de capacitação no processo de gestão);

d) A insuficiência de políticas institucionais de apoio;

e) As variáveis macroeconômicas;

f) Os problemas pessoais e familiares.

Mahamid (2012) destaca que os fatores que levam à mortalidade dos negócios estão ligados a

três aspectos: i) magnitude gerencial e administrativa (mercado e clientes); ii) setor financeiro

(gestão financeira da empresa); e iii) amplitude externa (entendimento sobre economia e

política).

Apesar das dificuldades enfrentadas, as MPEs são importantes para a melhor distribuição de

renda, além de serem flexíveis, dinâmicas, criativas e inovadoras. Uma mudança nas

características das MPEs é o fato de os pequenos empreendedores estarem estudando mais e,

por consequência, estão mais preparados para superar os desafios de manter o próprio

negócio. O número de empreendedores de pequenas empresas com ensino superior completo

cresceu, em 2000, era 3,4% do total e em 2010, passou para 5,3% (ALVARENGA, 2016;

FREIRE, 2016; SEBRAE; DIEESE, 2011).

2.2 A Administração Financeira e suas ferramentas

A falta de recursos financeiros é apontada como uma das maiores dificuldades com que

convivem as MPEs (Braga et al. 2004). Nesse contexto é importante ressaltar que os

proprietários esperam que os investimentos produzam retornos compatíveis, através da

geração de lucro e caixa e que o lucro existe a partir de uma boa gestão dos recursos

financeiros, o que possibilitará uma redução das despesas financeiras e da necessidade de

capital de giro. Dentro dessa perspectiva, Seleme (2012), Padoveze (2011) Trindade et al.

(2010), Hoji (2010) e Santos et al. (2009) definem algumas ferramentas de administração

financeira, sem ordem de importância, para o auxílio da gestão das empresas, conforme

apresentado no quadro abaixo:

26

Quadro 6 - Ferramentas de gestão financeira

FERRAMENTAS DE GESTÃO FINANCEIRA

I. Fluxo de caixa

II. Controle de estoques

III. Planejamento de compras

IV. Empréstimos

V. Financiamentos

VI. Administração do capital de giro

VII. Controle de pagamentos

VIII. Controle de contas a receber

IX. Orçamento

Fonte: Adaptação de Seleme (2012), Padoveze (2011) Trindade et al. (2010), Hoji (2010) e

Santos et al. (2009)

A primeira ferramenta abordada é o fluxo de caixa que é a espinha dorsal da empresa. O fluxo

de caixa é definido por Padoveze (2011) como um conjunto de movimentações financeiras

que resultam de pagamentos e recebimentos, tratando de um instrumento que possibilita o

planejamento, o controle dos recursos financeiros da empresa e relaciona as entradas e saídas

dos recursos monetários.

O fluxo de caixa precisa ser evidenciado por áreas como compras, produção, vendas e

financeiro, pois essas áreas juntas se comprometem com o resultado do caixa. O fluxo de

caixa permite identificar o processo de circulação do dinheiro na empresa por meio da

variação do caixa e a principal vantagem de elabora-lo é que a empresa consegue tomar

decisões financeiras seguras através da análise do caixa. De acordo com Hoji (2010), quando

utilizado corretamente, o fluxo de caixa auxilia o gestor a:

Planejar as entradas e saídas de recursos;

Controlar o capital de giro;

Identificar o volume dos fundos que será procurado em fontes de crédito;

Estudar a viabilidade de um projeto antes de sua execução;

Controlar os eventuais desvios em relação aos planos traçados;

Prever possíveis aplicações para os saldos de caixa;

Identificar possíveis problemas financeiros futuros que a empresa pode enfrentar.

Como assinala Seleme,

27

A administração eficaz do fluxo de caixa faz com o que as transações

diminuam o ciclo compra – produção – estoque para aumentar o giro do

estoque, permite a administração dos custos, despesas e desperdícios na

empresa, possibilita a máxima protelação do pagamento de compras e

despesas, otimiza os sistemas de crédito, cobrança e cadastro e permite a

administração rigorosa do endividamento (SELEME, 2012, p. 35).

O fluxo de caixa divide-se em três áreas, conforme afirmam Silva (2010), Padoveze (2011) e

Hoji (2010): (a) Fluxo de investimentos – aquisição e vendas de ativos fixos; (b) Fluxo de

financiamentos – relação entre a entrada no caixa proveniente do capital próprio e de terceiros

e a saída para pagamentos de empréstimos, financiamentos e distribuição de lucros; (c) Fluxo

operacional – relação entre as saídas de caixa para compra de matéria-prima e estoques,

pagamento de despesas gerais e impostos; e entradas de caixa através das vendas.

Os objetivos das projeções de caixa são informar a capacidade de pagamento da empresa no

curto e longo prazo, auxiliar no planejamento de empréstimos e financiamentos, aumentar o

rendimento das aplicações de sobra de caixa e avaliar o impacto financeiro das variações de

custos e do aumento das vendas (SANTOS, 2010).

A segunda ferramenta de gestão financeira é o controle de estoques. Possuir estoques tem a

importância de tornar o fluxo contínuo. O estoque é base das operações comerciais e é

classificado de acordo com a natureza e finalidade: matéria-prima, material de embalagem,

material de consumo, produtos em elaboração e produtos acabados (Braga, 2008). Os

estoques representam uma parte importante do ativo circulante (bens e direitos do curto prazo)

e representam custos financeiros e despesas operacionais para as empresas. Na administração

financeira o objetivo do controle dos estoques é minimizar as necessidades de investimento

nessa conta.

O controle de estoques implica a empresa a assumir os custos com capital, com instalações,

com serviços e os riscos relativos a furtos, deterioração, obsolescência e queda de preços. As

empresas precisam realizar um controle rígido dos estoques para proteger a capacidade de

pagamento da empresa e expandir o retorno dos investimentos. O controle dos estoques

permite que a empresa mantenha o nível adequado dos produtos e assim consiga ganhar em

escala, contornar problemas com quebra de equipamentos, atraso de fornecedores e reduzir os

custos de produção (BRAGA, 2008).

Para controlar os estoques é preciso tomar as seguintes providências (Sanvicente, 2008):

28

Emissão de relatórios indicando os principais problemas em relação ao

aproveitamento de investimentos;

Movimentar os estoques apenas com requisições dos funcionários;

Dar ênfase aos itens que participam em termos de investimentos;

Preocupar-se com unidades físicas;

Efetuar contagem física periodicamente.

Segundo Gitman (2004), as principais técnicas para administrar o estoque da empresa são: a)

Sistema ABC – divide-se o estoque em A com os produtos de maior investimento em valor

monetário, B com os produtos de maior investimento em seguintes estoques e C com os

produtos de investimento baixo; b) O modelo de lote econômico – técnica que determina a

quantidade ideal a ser pedida para estocagem; c) Sistema just in time – usado para minimizar

o investimento em estoques, os materiais devem chegar exatamente no horário de uso; d)

Sistema de planejamento de necessidades de materiais – determina os materiais a serem

encomendados e quando isso deve ocorrer.

A terceira ferramenta de gestão financeira é o planejamento de compras. O planejamento de

compras impacta no desempenho financeiro da empresa e procura suprir as necessidades dos

compradores e da própria organização por meio de processos de suprimentos de longo prazo,

com uma seleção, gerenciamento e avaliação sistemática de fornecedores que assegurem a

boa qualidade e redução de custos. Comprar de forma estratégica requer compreensão sobre

os ativos negociados, sobre as necessidades do comprador e fornecedor e também sobre a

natureza da relação entre ambos (ELLRAM E LIU, 2002; MONDINI et.al, 2015; MENITA et

al.,2011).

A quarta ferramenta de gestão financeira são os empréstimos. Os empréstimos são

classificados em curto e médio prazo quando são saldados em até três anos e longo prazo

quando são saldados acima desse período, além de receberem um tratamento especial quanto

ao montante e taxa de juros (Mathias e Gomes, 2011). As empresas obtêm capital de terceiros

no curto prazo por meio de bancos ou através da emissão de notas promissórias que são

negociadas e dependem do interesse do gestor financeiro. A taxa de juros de um empréstimo

bancário pode ser fixa ou flutuante baseada na taxa de juros para clientes preferenciais.

(GITMAN, 2004).

A quinta ferramenta de gestão financeira são os financiamentos. Um financiamento pode ser

realizado com capital próprio ou de terceiros e o uso do capital de terceiros é uma prática

29

comum porque permite que a empresa não dependa apenas de capital próprio. Já o

financiamento com capital próprio é obtido através de aumentos de capital e de retenção de

lucros. Para Santos (2010, p. 105) “a justificativa de uma empresa para a necessidade de uso

do capital de terceiros é baseada na alavancagem financeira que indica a relação entre a

rentabilidade do capital próprio e a variação da rentabilidade do investimento”. Esse autor

ressalta que a decisão de um investimento também precisa levar em consideração o custo e as

mudanças da estrutura de capital da empresa. No Brasil, as principais fontes de

financiamentos são: a) Crédito comercial; b) Crédito-automático em conta-corrente; c)

Desconto de duplicatas; d) Factoring; e) Financiamento à exportação e importação; f) Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (SANTOS, 2010).

A sexta ferramenta de gestão financeira é a administração do capital de giro. A administração

do capital de giro envolve um processo de tomada de decisões voltadas para a preservação da

liquidez da empresa e rentabilidade (Braga, 2008). O capital de giro, para muitos gestores, é

relacionado com as vendas que são feitas diariamente e podem oscilar de um momento para

outro, e corresponde aos recursos aplicados no ativo circulante que é formado pelos estoques,

contas a receber e disponibilidades (BRAGA, 2008; SANVICENTE, 2008).

Como sugere Santos (2010), o capital de giro é influenciado pelas incertezas da atividade

empresarial, por isso sendo necessário manter uma reserva financeira a fim de evitar os

seguintes problemas:

a. Sazonalidade das vendas;

b. Ciclo operacional longo;

c. Insuficiência de capital de giro que é influenciada por fatores como:

Redução das vendas;

Crescimento da inadimplência;

Aumento das despesas financeiras;

Aumento dos custos.

Portanto, quanto maior a reserva financeira destinada à manutenção do capital de giro,

menores as chances de crise financeira. O mesmo autor também ressalta que o capital de giro

é tão importante quanto o lucro, pois “sem o lucro a empresa fica estagnada ou encolhe,

porém, sem o capital de giro, ela desaparece” (SANTOS, 2010, p.15).

A sétima ferramenta de gestão financeira é o controle de pagamentos. As contas a pagar

correspondem às obrigações da empresa com terceiros, e, através do controle dos pagamentos,

30

é possível analisar quais foram os compromissos assumidos pela organização, possibilitando

um controle das datas para serem efetuados esses pagamentos (SILVA, 2013).

A oitava ferramenta de gestão financeira é o controle de contas a receber. A venda a prazo

concede crédito ao cliente, porém, além do risco de atraso e prejuízo por falta de pagamento,

essas vendas a prazo causam despesas com cobrança e análise de crédito. Uma boa

administração de contas a receber precisa ter planejamento e controle para que a venda a

prazo não gere prejuízo (BRAGA, 2008; SANTOS, 2010).

A concessão de crédito aumenta o giro de estoques do comércio, permite às empresas que

prestam serviços ampliarem as atividades, e maximiza a rentabilidade. A política de crédito de

uma empresa afeta o seu capital de giro, sua situação de caixa e a rentabilidade (BRAGA,

2008; SANTOS, 2010).

Braga (2008), afirma que oferecer crédito aos clientes representa os seguintes custos e riscos:

Despesas com análise de crédito;

Despesas com cobrança;

Riscos de perdas com os inadimplentes;

Custos com os recursos aplicados nas contas a receber;

Perda do valor aquisitivo do valor dos créditos.

Vale ressaltar que a principal consequência do crédito é o impacto sobre a lucratividade da

empresa que é afetada pela inadimplência e rentabilidade das vendas. Por outro lado, a

cobrança é a principal função de contas a receber e, dessa forma, uma política de crédito ideal

é aquela que consegue incentivar as vendas com o mínimo de perda por inadimplência.

Assim, antes de efetivar a venda para um novo cliente é preciso fazer um levantamento

minucioso dos seus dados cadastrais para evitar que o crédito se torne um “valor não

recebível” (SANTOS, 2010; HOJI, 2012).

Hoji (2012, p. 127) destaca a importância da constante análise de crédito assinalando que “a

situação do cliente, mesmo daqueles antigos, deve ser constantemente monitorada quanto à

pontualidade, capacidade de pagamento e situação financeira”. Esse autor ainda sugere que a

análise de crédito seja feita com base na técnica dos 5Cs – caráter, capacidade, capital,

colateral (palavra inglesa que significa garantia) e condições.

A nona ferramenta de gestão financeira são os orçamentos. Os orçamentos expressam as

políticas de vendas, compras, produção, recursos humanos, qualidade e tecnologia e são

31

considerados a ferramenta mais importante para o sucesso empresarial (Hoji, 2010; 2012). O

orçamento é composto por um orçamento geral, que é constituído por orçamentos específicos,

a saber: a) orçamento de vendas; b) orçamento de produção; c) orçamento de matérias-primas;

d) orçamento de mão-de-obra direta; e) orçamento de custos indiretos; f) orçamento de

despesas gerais; g) orçamento de investimentos; h) orçamento de aplicação financeira e

financiamentos; i) Orçamento de resultados (SELEME, 2012).

Através do orçamento o gestor pode tomar decisões com base em dados concretos, pois um

orçamento expõe hipóteses de receitas e despesas. As principais vantagens de se utilizar um

orçamento é oferecer segurança no processo decisório, anteceder as ações a serem executadas

diante de cenários e condições preestabelecidas e estimar os recursos utilizados para atingir os

objetivos estabelecidos (SELEME, 2012). A seguir é apresentado um estudo empírico sobre

as práticas financeiras nas MPEs.

Diante do exposto, observa-se que a Administração do capital de giro é o maior desafio

gerencial das micro e pequenas empresas, como comprova pesquisa do SEBRAE e Banco

Central – BACEN (2016), onde 61% das microempresas buscam créditos para a compra de

matéria prima ou mercadoria de revenda, pagamentos de impostos, salários e demais

custos/despesas operacionais.

2.3 Evidências empíricas sobre as práticas financeiras adotadas em MPEs

Para 44,5% das empresas pesquisadas pelo SEBRAE (2017), a obtenção de crédito é uma das

principais dificuldades enfrentadas pelas MPEs. A disponibilização de recursos para essas empresas

leva em conta fatores como o tempo de instalação, se existe endividamento com outros bancos e

demais instituições financeiras, a alavancagem, a relação entre seu ativo circulante e o imobilizado, o

faturamento e vendas à vista e a prazo. Cerca de 14,43% das MPEs fecham as portas por causa da

dificuldade no acesso a crédito financeiro e a investimentos, mas, quanto menor for o porte da

empresa, menos acessível será o empréstimo. As MPEs alegam que principais dificuldades na

obtenção de empréstimos e financiamentos são: a) a taxa de juros muito alta (51%); b) a falta de

garantias reais (22%); c) a falta de avalista/fiador (20%); d) nenhuma dificuldade (18%); e) falta de

documentação contábil exigida (14%); f) falta de documentação fiscal exigida (10%) (NETO ET AL.,

2011; IBPT, 2013; SEBRAE, 2016).

32

Os principais fatores que dificultam o processo de gestão do capital de giro nas MPEs são a

inadimplência e a separação entre os prazos de pagamento e de recebimento; e para reduzir a

inadimplência das contas a receber, algumas MPEs adotam estratégias como o cadastro de clientes, a

avaliação do perfil para clientes novos, o processo de cobrança e a ausência de crédito para os

inadimplentes. Considera-se a gestão do capital de giro fundamental para a sobrevivência das MPEs,

pois é apontado por 45,8% das empresas como uma das razões mais significativas para o fechamento

das empresas; mas, observa-se que nas MPEs que muitas falências, concordatas e encerramento de

atividades são consequências da ausência de gestão do capital de giro da empresa (TRINDADE ET

AL., 2010; SEBRAE, 2010; NETO ET AL., 2011).

Entre as dificuldades encontradas na gestão de MPEs, os administradores enfatizam a falta de capital

de giro, a falta de conhecimento gerencial e de mão de obra qualificada. Os recursos alocados para o

capital de giro inicial destas empresas são provenientes de reservas da família, mas, com a expansão

dos negócios, surge a necessidade de captar recursos com terceiros, principalmente bancos.

Normalmente as MPEs recorrem a bancos e/ou financeiras para a obtenção de capital de giro, mas

existem casos em que a falta de capital de giro é apontada pelos próprios empresários como principal

fator para o fechamento das MPEs e a adequada gestão desse recurso é uma prática essencial para

evitar a sua escassez (TEIXEIRA ET AL., 2009; TRINDADE ET AL., 2010; AZEVEDO E LEONE,

2011).

As MPEs buscam empréstimos e financiamentos com os objetivos de adquirirem capital de giro

(53%); comprar mercadorias (36%); reformar ou ampliar o negócio (32%); comprar máquinas ou

equipamentos (32%); e refinanciar uma dívida (21%). O histórico de crédito da empresa e a relação

pessoal com o gerente do banco são as formas mais eficazes de obter os recursos financeiros desejados

por essas empresas (Anjos et al., 2012; SEBRAE, 2016). O SEBRAE em parceria com o BACEN

(2016), lista a seguir principais motivos que levam as MPEs a buscarem crédito:

61% das microempresas busca crédito destinado para Capital de Giro (compra de matéria

prima ou mercadoria de revenda, pagamentos de impostos, salários e de mais custos e

despesas operacionais);

65% das microempresas busca crédito destinado para Investimento (recursos para aquisição de

veículos automotores, bens, financiamento de projeto e arrendamento financeiro (por exemplo,

veículos);

61% das microempresas busca crédito destinado para Giro rotativo (cheque especial e conta

garantida);

58% das microempresas busca crédito destinado para Recebíveis (venda/compra, recebíveis

adquiridos, desconto de duplicatas, desconto de cheques, antecipação de fatura de cartão de

crédito e outros títulos descontados).

33

Ainda de acordo com o SEBRAE (2016), 52% das MPEs utiliza o dinheiro dos empréstimos para

fazer pagamento de fornecedores a prazo, enquanto que 11% usa o dinheiro para fazer desconto de

duplicata e outros títulos. Quando o assunto são os financiamentos, as principais dificuldades para

obtenção desse tipo de crédito, segundo os gestores das MPEs são a burocracia elevada (59%) e os

juros elevados (40,7%). Algumas MPEs a recusam os financiamentos de longo prazo por receio de

endividamento, por a falta de conhecimento financeiro e pela ausência de apoio por parte das

instituições financeiras (SEBRAE, 2000; SANTOS ET AL., 2009).

Cerca de 50% dos empresários de MPEs realizam o controle do fluxo de caixa por meio da

comparação das entradas e saídas da empresa, em geral, por anotações à mão ou software de planilhas

de cálculo. A falta de conhecimentos técnicos por parte dos gestores torna necessário o auxílio de um

profissional especializado para fazer uma análise financeira, econômica e patrimonial mais

aprofundada, pois o hábito de conduzir as MPEs de maneira intuitiva, sem distinguir entre geração de

caixa e acumulação de lucro, compromete as decisões estratégicas (SILVA E CUNHA, 2016;

FERNANDES E GALVÃO, 2016).

2.4 Empresa familiar

No Brasil, mais de 90% das empresas brasileiras são familiares e representam cerca de 65%

do PIB e 75% da força de trabalho (SEBRAE/SC, 2005; Fundação Vanzolini, 2016). São

várias as definições de empresa familiar como apresenta o quadro 7:

Quadro 7 - Conceitos de empresa familiar

Conceitos de empresa familiar

AUTOR ANO TEORIA

Donelley 1964

Uma empresa é considerada familiar quando tem se identificado

com pelo menos duas gerações com uma família e quando essa

ligação tem influenciado a política da companhia e os interesses

da família.

Barry 1975 Uma empresa é considerada familiar quando é, na prática,

controlada pelos membros de uma única família.

Dyer Jr. 1983

A empresa familiar é uma organização na qual as decisões em

relação à propriedade e/ ou gerenciamento são influenciadas

pela ligação com uma família ou famílias.

Bernhoeft 1989 É aquela que possui sua origem e sua história vinculadas a uma

família ou que mantém membros da família na administração

34

dos negócios.

Lodi 1998

A empresa familiar deve possuir valores institucionais que se

identificam com um sobrenome de família ou com a figura do

fundador.

Barnes e Hershon 1994 A empresa familiar é uma propriedade controlada por um

indivíduo ou por membros da família.

Tagiuri e Davis 1996

São empresas nas quais dois ou mais membros da família

influenciam a direção dos negócios por meio de laços de

parentesco, papéis de gerenciamento ou direito de propriedade.

Longenecker; Moore;

Petty 1997

Propriedade ou outro envolvimento de dois ou mais membros de

uma família na vida e funcionamento da empresa. Empresa

familiar é um negócio que passa de uma geração para outra.

Gersick et al 1997 É aquela na qual ocorre a intersecção entre os subsistemas

propriedade, família e gestão.

Chua, Chrisman e

Sharma 1999

É aquela gerida com a intenção de moldar ou persuadir a visão

do controlador por meio da coalisão dominante e controle dos

membros da mesma família ou de um pequeno grupo de

famílias.

Lanzana e Constanzi 1999 Um ou mais membros de uma família exercem controle sobre a

empresa, por possuir a propriedade do capital.

Danes et al. 2002

A transferência da autoridade familiar é fator preponderante para

o sucesso do negócio e está relacionada à natureza da

socialização dos processos entre as gerações.

Suehiro e Wailerdsak 2004

Propriedade e controle estão nas mãos de um grupo com laços

de parentesco, de sangue ou por casamento, ou seja, uma

família.

Brochauss 2004

A persistência de transferência de autoridade na gestão de

empresas familiares entre as gerações é uma característica que

perdura por muitos anos.

Uhlaner 2006

Empresa que tem a maior parte da propriedade nas mãos de uma

família e na qual, pelo menos dois membros da mesma família

ou são proprietários e/ou gerenciam a empresa juntos.

Grzybovski 2007

A expressão familiar deixa implícito o envolvimento de

membros da família no cotidiano da empresa, seja como

proprietário, seja como diretor principal.

Muzzio 2013

A empresa familiar é uma fiel representação dos desejos dos

fundadores, onde sua visão de mundo e suas limitações servem

de parâmetro para moldar a cultura organizacional. Com o

tempo, a perspectiva da chegada da geração dos herdeiros ao

comando, começa a originar problemas de sucessão, geralmente

associados a um aumento do número de potenciais gestores e à

luta pelo poder.

Oliveira, Albuquerque e

Pereira 2013

As empresas familiares podem ser caracterizadas pela existência

de relações entre a família e a empresa que não se limitam ao

âmbito da gestão, mas abrangem especialmente a esfera da

propriedade e da influência da família sobre a condução dos

negócios.

Fonte: Adaptação de CANÇADO et al. (2011)

35

Lira et al. (2010, p. 5) afirmam que

É preciso concentrar esforços para maximizar forças existentes na empresa familiar

e minimizar fraquezas tentando aliar a teoria da nova geração aos conhecimentos

práticos adquiridos no decorrer dos anos pelos pais para que se chegue a linguagem

comum.

Segundo a Fundação Vanzolini (2016), de cada 100 empresas familiares abertas e ativas,

apenas 30 sobrevivem à primeira sucessão e cinco chegam à terceira geração. Para Lodi

(1987) é raro encontrar no Brasil empresas familiares na terceira ou quarta geração. Apesar de

representarem importante papel na economia e na geração de empregos no Brasil, as empresas

familiares deixam de existir ainda na 1ª geração porque adotam modelos de gestão

inapropriados (AGUIAR & PIMENTEL, 2009; OLIVEIRA et al, 2011).

“No início, a empresa é uma fiel representação dos desejos dos fundadores, depois com a

chegada dos herdeiros começa a luta pelo poder” (Muzzio, 2013, p.30). É comum existir

conflitos na empresa familiar (Bernhoeft, 1989) e não raro, inconscientemente, ocorrem

ciúmes e brigas entre pais e filhos dentro das empresas (Moreira Júnior, 2006). Quando ocorre

uma transferência de gerações no comando da empresa existem os desafios do processo

sucessório, como colocado por Leone (2005) como um duelo: a) do sucedido com ele mesmo;

b) do sucedido na escolha do sucessor; e c) entre os sucessores.

A qualidade da relação de trabalho entre pais e filhos dentro do universo da empresa familiar

varia de acordo com a geração de cada um, podendo melhorar ou piorar essa relação. (Davis e

Tagiuri, 1989). Existem várias resistências e conflitos, pela parte do fundador com os

herdeiros ou, ao contrário, uma vez que é encontrado muito potencial de gestão nos mesmos,

e isso pode ocorrer até na hora da gestão ser passada ao sucessor (Dante et al, 2016). A

ausência de capacitação dos herdeiros, a centralização das decisões por parte do fundador, as

brigas dos herdeiros pelo poder e a inexistência de instruções para os objetivos de curto,

médio e longo prazo são os principais desafios no processo de transferência de gerações

(FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2016).

A gestão das empresas familiares é deficiente porque as decisões não são completamente

embasadas na técnica, na meritocracia ou na razão, visto que os interesses e as relações

familiares influenciam nas práticas organizacionais (Muzzio, 2013). Lodi (1986,) por sua vez,

relata conflitos de interesses entre família e empresa, destacando cinco problemas frequentes:

1. Conflitos de interesse entre família e empresa;

36

2. Uso indevido dos recursos da empresa por familiares;

3. Ausência de sistemas para planejamento financeiro e apuração de custos;

4. Resistência à modernização;

5. Emprego e promoção de parentes.

A interferência dos interesses da família e dos interesses da empresa dificulta o processo

gerencial na empresa familiar, como por exemplo, a gestão financeira nesse tipo de empresa.

O caixa da empresa, além de pagar fornecedores, impostos e salários dos colaboradores,

também paga despesas da casa dos donos, cartões de crédito pessoais e investimentos

particulares (LONGENECKER et al., 1997; REVISTA EXAME, 2016).

É possível encontrar familiares trabalhando no empreendimento sem ter salário formal,

compatível com a função executada e, por esse motivo, as despesas pessoais desses familiares

são pagas pelo caixa da empresa. Portanto, para que a empresa tenha continuidade, os

interesses do negócio não podem ser envolvidos na satisfação pessoal da família (REVISTA

EXAME, 2016; LONGENECKER et al., 1997).

Lank (2001) afirma que as empresas familiares enfrentam desafios específicos como: a) a

ausência de vontade da primeira geração em deixar o controle e o poder de administração no

momento adequado; b) a inabilidade de atrair e reter sucessores competentes; e c) a

incapacidade de atrair e reter administradores não-familiares competentes. Diante disso, nota-

se a necessidade de profissionalizar a gestão na empresa familiar (BERNHOEFT, 1989).

(...) profissionalizar não é apenas criar uma estrutura organizacional copiada

de algum manual de administração, nem muito menos simplesmente entregar

a administração dos negócios a um profissional. O processo de

profissionalização tem que se iniciar pela família, pois ela detém, no

momento ou potencialmente, todo o direito sobre a vida ou morte da

empresa (...) o trabalho deve ser feito simultaneamente em três pontos,

família, propriedade e administração. Nesse sentido os sócios familiares

devem ser preparados para ajudar a comandar a empresa, mesmo sem estar

ligada diretamente a gestão (BERNHOEFT, 1989, p. 20-21).

A profissionalização precisa envolver toda a família para que todos desenvolvam visões e

ferramentas indispensáveis para a compreensão da relação família, negócio e gestão. Essa

profissionalização também é possível com a contratação de profissionais para o

gerenciamento do negócio (Oliveira et al., 2012). Uma empresa é considerada profissional

mesmo estando sob uma gestão familiar sem que existam conflitos internos dos familiares,

mas sim conflitos internos organizacionais (DANTE et al., 2016).

37

3 METODOLOGIA

3.1 Delineamento da pesquisa

A abordagem deste estudo é quantitativa, o que significa quantificar opiniões e dados, assim

como o uso de recursos e técnicas estatísticas. A pesquisa classifica-se como descritiva e

exploratória, uma vez que tem como objetivo identificar as mudanças realizadas pela segunda

geração na gestão financeira de micro e pequenas empresas familiares, verificar os motivos

das mudanças realizadas na gestão financeira das MPEs familiares e conhecer as dificuldades

encontradas pela segunda geração para a aplicação dos novos conhecimentos de gestão

financeira na empresa familiar. A condução do estudo é realizada através do método de

survey, a partir da aplicação de questionários impressos e online, junto à segunda geração de

gestores das MPEs familiares de Santa Cruz do Capibaribe, para o levantamento de dados

primários.

3.2 População e amostra

A população do estudo é representada por todos os herdeiros atuantes na gestão de micro e

pequenas empresas familiares inseridas na cidade de Santa Cruz do Capibaribe. Para a busca

dos dados numéricos que quantificam a população, foi contatada a Diretoria de

Desenvolvimento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Agricultura, e o

SEBRAE do município, porém, os números não estavam disponíveis. A amostra da pesquisa

tem o caráter não probabilístico, pois foi levado em consideração o porte das empresas, as

características do negócio e a atuação conjunta dos fundadores e herdeiros na gestão

financeira da empresa, caracterizando assim, uma amostra intencional ou por julgamento. A

amostra contou com 30 (trinta) herdeiros das empresas familiares de micro e pequeno porte

do cidade e “uma das razões para o uso da amostragem não probabilística foi o fato de não

existir outra alternativa viável, visto que a população não está disponível para ser sorteada”

(MATTAR, 1996, p. 157).

3.3 Instrumentos de Coleta de Dados

38

A busca das respostas à questão-problema foi através da aplicação de questionários, durante o

mês novembro de 2017, conforme apresentado no Apêndice I. O questionário contou com 23

perguntas compostas de variáveis qualitativas e quantitativas, divididas em quatro blocos: a) o

primeiro bloco foi formado por doze perguntas e teve como objetivo conhecer o porte da

empresa e o perfil dos herdeiros; b) o segundo bloco foi estruturado com sete perguntas e

buscou identificar as mudanças realizadas pela segunda geração na gestão financeira de micro

e pequenas empresas familiares; c) o terceiro bloco foi composto por duas perguntas cujo

objetivo era verificar os motivos das mudanças realizadas na gestão financeira das MPEs

familiares e; d) o quarto bloco foi elaborado com duas perguntas para conhecer as

dificuldades encontradas pela segunda geração na aplicação de novos conhecimentos de

gestão financeira na empresa familiar.

Foram aplicados 30 (trinta) questionários com a segunda geração de gestores das micro e

pequenas empresas familiares da cidade de Santa Cruz do Capibaribe. A aplicação do

questionário teve a colaboração dos alunos e ex-alunos das graduações em Administração e

Ciências Contábeis das faculdades FACRUZ, FADIRE e UNOPAR, presentes na cidade de

Santa Cruz do Capibaribe.

3.4 Análise prévia do questionário

A análise dos dados iniciou-se a partir de um teste aplicado, no mês de outubro, com a

segunda geração para validar a amostra intencional desta pesquisa. Foi realizado um

levantamento com trinta e um alunos e ex-alunos dos cursos de Administração e Ciências

Contábeis, herdeiros de MPEs e atuantes na gestão do negócio, para verificar o perfil dos

mesmos. O teste contou com cinco questões (ver Apêndice II) que buscavam descobrir a

idade, o tempo de atuação na empresa, o cargo do herdeiro, as atividades financeiras

desenvolvidas e o grau de autonomia dos mesmos.

Com o resultado do levantamento concluiu-se que a segunda geração atua na gestão financeira

do negócio, têm entre 20 e 29 anos e 32,3% dos respondentes trabalha de 5 a 9 anos na

empresa. Sobre as atividades executadas, os herdeiros afirmaram trabalhar com contas a pagar

e receber, com administração do capital de giro, com planejamento de compras, com

39

orçamento e fluxo de caixa, com controle de estoque e com investimentos. Quando

questionados sobre o cargo exercido na empresa, os entrevistados afirmaram trabalhar no

administrativo-financeiro do negócio. Com base nestes resultados, foi aplicado o questionário

final (ver Apêndice I).

A análise dos questionários foi realizada através da técnica de análise descritiva, que

“observa, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los e procura

descobrir, com a previsão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre” (Cervo e

Bervian, 2002, p. 66). Após a coleta de dados realizada pessoalmente, os dados foram

tabulados e compilados no software Microsoft Office Excel - usado para armazenar, organizar e

analisar diferentes tipos de dados - e a análise ocorreu em dois momentos: a) no primeiro

momento de análise dos dados foi utilizada a técnica de análise de tendência central e, b) no

segundo momento, utilizou-se a análise cruzada dos dados.

3.5 Limitações da pesquisa

O presente estudo apresentou limitações quanto à amostra. A princípio foi pensado em

sessenta empresas, porém, no decorrer da pesquisa, verificou-se a necessidade de reduzir este

número pela metade.

3.6 Limites da pesquisa

Esta pesquisa apresenta como limites, as informações relacionadas ao perfil da segunda

geração de gestores das empresas familiares do município de Santa Cruz do Capibaribe,

portanto, estas informações podem divergir de uma região para outra.

40

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Porte da empresa e análise do perfil dos herdeiros

A análise dos dados teve início com o conhecimento sobre o porte das empresas pesquisadas,

classificando-as em micro e pequenas empresas, e com o conhecimento do perfil dos

herdeiros. Para descobrir o porte das empresas foram elaboradas perguntas sobre o

faturamento e a quantidade de funcionários, com base na classificação do SEBRAE; e uma

pergunta sobre a percepção da segunda geração quanto ao porte. Para este estudo as empresas

foram classificadas em duas categorias e cada categoria foi separada pelo faturamento para

verificar o desenvolvimento das empresas.

1ª Categoria - microempresas: As microempresas foram divididas em microempresa I –

empresas que são de micro porte – e microempresas II – empresas que estão mais próximas

do pequeno porte, segundo seu faturamento:

Microempresa I –R$ 60.000,01 a 100.000,00;

Microempresa II - De R$ 100.000,01 a R$ 360.000,00;

2ª Categoria – pequena empresa: As pequenas empresas foram divididas em pequena

empresa I – empresas que são pequenas – e pequena empresa II – empresas em expansão que

estão mais próximas do médio porte, segundo seu faturamento:

Pequena empresa I – De R$ 360.000,01 a R$ 900.000,00

Pequena empresa II - De R$ 900.000,01 a R$ 3.600.000,00

Para melhor compreensão, a Tabela 2 apresenta a percepção da segunda geração sobre o porte

das empresas pesquisadas e a classificação com base na LC nº 139/06, alterada pela LC nº

139/11 e no SEBRAE (2014):

Tabela 2 - Porte das empresas

Classificação

da empresa

Faturamento

anual

Nº de

funcionários

Total de

empresas

classificadas

Empresas

classificadas

corretamente

pela percepção

dos herdeiros

Empresas

classificadas

erradamente

pela percepção

dos herdeiros

Microempresa

De R$

60.000,00 a R$

360.000,00

Até 19

funcionários 17 12 5

41

Microempresa

I

De R$

60.000,01 a

100.000,01

Até 19

funcionários 7 5 2

Microempresa

II

De R$

100.000,01 a

R$ 360.000,00

Até 19

funcionários 10 7 3

Pequena

empresa

De R$

360.000,01 a

R$ 900.000,00

De 20 a 29

Funcionários 13 7 6

Pequena

empresa I

De R$

360.000,01 a

R$ 900.000,00

De 20 a 29

Funcionários 6 3 3

Pequena

empresa II

De R$

900.000,01 a

R$

3.600.000,00

De 20 a 29

Funcionários 7 4 3

Fonte: Pesquisa de campo

De acordo com a Tabela 2, a segunda geração possui dificuldades para classificar a empresa.

Muitos herdeiros classificaram como pequena empresa as que são microempresas e vice-

versa. É possível perceber, também, que as empresas participantes desta pesquisa estão em

processo de crescimento, pois a maioria das microempresas tem um faturamento próximo às

empresas de pequeno porte, e as pequenas empresas faturam próximo às médias empresas.

Esta situação pode ser explicada pela localização das empresas, que estão inseridas na cidade

de Santa Cruz do Capibaribe pertencente ao Polo de Confecções Pernambucano.

Após a compreensão do porte das empresas, buscou-se conhecer em quatro etapas, o perfil da

segunda geração de gestores destas MPEs familiares através do (i) gênero e parentesco; da (ii)

idade e do tempo de trabalho na empresa; da (iii) escolaridade e cargo de ocupação e; (iv) das

atividades executadas na empresa. A primeira etapa de conhecimento do perfil da segunda

geração esteve relacionada ao gênero e ao grau de parentesco com a primeira geração. A

Tabela 3 apresenta informações sobre o gênero e parentesco dos herdeiros.

Tabela 3 - Gênero e parentesco dos herdeiros

Gênero Quantidade de filhos da

primeira geração

Quantidade de

sobrinhos

Feminino 14 1

Masculino 14 1

Fonte: Pesquisa de campo

42

Conforme apresenta a Tabela 3, metade dos entrevistados é do sexo feminino e a outra metade

do sexo masculino. Com relação ao grau de parentesco da segunda geração, 28 entrevistados

são filhos da primeira geração - sendo 14 do sexo feminino e 14 do sexo masculino - enquanto

apenas 2 são sobrinhos - um do sexo masculino e outro do sexo feminino - confirmando a

teoria de Tagiuri e Davis (1996) ao afirmarem que as empresas são consideradas familiares

quando dois ou mais membros da família influenciam a direção dos negócios por meio de

laços de parentesco, papéis de gerenciamento ou direito de propriedade.

A segunda etapa da análise do perfil da segunda geração procurou conhecer a idade, a

escolaridade e o tempo de trabalho na empresa. A Tabela 4 apresenta informações sobre a

idade atual dos herdeiros, a média de idade com o que os mesmos começaram a trabalhar na

empresa e a média do tempo de trabalho de acordo com cada faixa etária.

Tabela 4 - Idade dos herdeiros e tempo de trabalho na empresa

Idade atual da segunda

geração

Média da idade de entrada na

empresa (Idade atual – média de

tempo de trabalho)

Média de tempo de

trabalho na empresa por

idade

39 anos 16 anos 23 anos

37 anos 22 anos 15 anos

34 anos 24 anos 10 anos

33 anos 14 anos 19 anos

31 anos 25 anos 6 anos

29 anos 19 anos (a) 10 anos (a)

28 anos 17 anos 11 anos

27 anos 18 anos (b) 9 anos (b)

26 anos 20 anos (c) 6 anos (c)

25 anos 16 anos (d) 9 anos (d)

24 anos 15 anos (e) 9 anos (e)

23 anos 20 anos 3 anos

21 anos 15 anos (f) 6 anos (f)

20 anos 15 anos (g) 4 anos (g)

19 anos 14 anos (h) 4 anos (h) (a) Média para 3 respostas; (b) Média para 2 respostas; (c) Média para 3 respostas; (d) Média para 3 respostas; (e) Média

para 3 respostas; (f) Média para 4 respostas; (g) Média para 3 respostas; (h) Média para 2 respostas.

Fonte: Pesquisa de campo

“Um dos principais erros dos empresários é pensar que o processo de sucessão deve ser

preparado apenas em momentos pontuais, como antes da aposentadoria ou em caso de

doença” (InfoMoney, 2011). Ao observar a realidade dos herdeiros das MPEs familiares de

Santa Cruz do Capibaribe, percebe-se que os empresários da cidade priorizam a continuidade

43

do negócio, visto que os filhos começam a trabalhar desde cedo na empresa conforme

apresentado na Tabela 4. Isso também justifica a média de tempo de trabalho dos herdeiros

pesquisados, pois, apesar de serem jovens, possuem um bom tempo de atuação na empresa.

A terceira etapa de observação do perfil da segunda geração procurou analisar a escolaridade

e o cargo de ocupação na empresa. A Tabela 5 apresenta a relação entre escolaridade e

gênero:

Tabela 5 - Escolaridade x gênero

Escolaridade Mulheres Homens Total

Ensino médio completo 1 1 2

Superior incompleto em Ciências Contábeis 5 6 11

Superior incompleto em Administração 4 5 9

Superior completo em Administração 5 3 8

Fonte: Pesquisa de campo

De acordo com a Tabela 5, cinco mulheres possuem ensino superior completo em

Administração, enquanto apenas três homens possuem o ensino superior completo neste

curso, gerando um total de oito herdeiros graduados em Administração o que representa

26,7% do total dos entrevistados. Quando analisado os herdeiros que, atualmente, estão

estudando, 36,7% possuem o ensino superior incompleto em Ciências Contábeis – o

equivalente a onze respondentes, sendo cinco mulheres e seis homens – e 30% possuem o

ensino superior incompleto em Administração – o equivalente a nove respondentes, sendo

quatro mulheres e seis homens. As tabelas 6, 7 e 8 apresentam as relações entre gênero,

cargos de ocupação e escolaridade:

Tabela 6 - Evolução profissional dos homens na empresa

Cargo de ocupação dos

homens ao entrar na

empresa*

Cargo de ocupação dos

homens atualmente*

Auxiliar administrativo Administrador

Vendedor Administrador

Auxiliar administrativo Gerente Geral

Atendente Gerente Geral

Controle de estoques Gerente Geral

Vendedor Gerente Geral * Média

Fonte: Pesquisa de campo

44

Tabela 7 - Evolução profissional das mulheres na empresa

Cargo de ocupação das

mulheres ao entrar na

empresa*

Cargo de ocupação das

mulheres atualmente*

Gerente Diretora

Secretária Gerente Geral

Vendedora Gerente Geral

Vendedora Administradora

Auxiliar administrativo Administradora

Marketing Administradora * Média

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 8 - Relação entre escolaridade, tempo de trabalho na empresa e o cargo de ocupação

Escolaridade Média de tempo de

trabalho na empresa Cargo de início Cargo atual

Ensino médio completo 6 anos (a) Secretária (a) Administrador (a)

Ensino superior incompleto em

Administração 10 anos (b) Vendedor (b) Administrador (b)

Ensino superior incompleto em

Ciências Contábeis 6 anos (c) Vendedor (c)

Administrador

financeiro (c)

Ensino superior completo em

Administração 10 anos (d) Auxiliar (d) Administrador (d)

(a) média de 2 respondentes; (b) média para 9 respostas; (c) média de 11 respondentes; (d) média de 9 respondentes

Fonte: Pesquisa de campo

As tabelas 6 e 7 apresentam o crescimento profissional da segunda geração dentro da

empresa. É possível observar que, tanto os homens quanto as mulheres, iniciaram a vida

profissional em cargos operacionais, e com o passar do tempo alcançaram cargos de liderança,

evitando assim, o “peso de ser visto como alguém que está no cargo porque é da família e não

por capacidade e mérito” (BLOCH, 2016).

Enquanto 73% dos candidatos a futuros líderes de empresas familiares nacionais procuram

ganhar experiência em outras empresas antes de assumir a companhia familiar (PwC, 2016), a

segunda geração das MPEs familiares de Santa Cruz do Capibaribe adquiriu experiência na

própria empresa desde muito cedo ao lado da primeira geração, conforme Tabelas 4, 6, 7, 8.

Ainda conforme o estudo da PwC, 2016, a primeira geração incentiva os futuros líderes a

trabalharem fora da empresa para adquirir experiência e isso reflete o planejamento da

45

organização, mas é possível perceber que em Santa Cruz do Capibaribe acontece o contrário,

a primeira geração incentiva a segunda desde adolescentes.

Ao analisar a tabela 8 é possível observar que os herdeiros primeiro adquiriram experiência e

conhecimento dentro do negócio, para depois cursar o ensino superior e isto pode ser

explicado pela cultura de Santa Cruz do Capibaribe que, segundo Lira (2016), está localizada

no semiárido nordestino marcado por graves problemas sociais e onde a oportunidade de

trabalho é colocada como importante fator de permanência das pessoas nestas localidades e

como consequência disto, os jovens são inseridos muito cedo na produção de confecção,

influenciados por parentes e pelo contexto socioeconômico da região. A seguir são

apresentadas as tabelas 9 e 10 sobre as relações entre o cargo de ocupação, o tempo de

trabalho na empresa e a idade de cada grupo separada por gênero:

Tabela 9 - Relação entre cargo de ocupação, tempo de trabalho e idade das mulheres

Cargo de ocupação Idade das mulheres Tempo de trabalho na

empresa

Diretora 34 anos 10 anos

Administradora 20 e 24 anos 7 a 12 anos

Administradora financeira 20, 21, 25, 26 e 29 anos 4 a 10 anos

Gerente Geral 25, 26 e 32 anos 6 a 19 anos

Auxiliar de escritório 19 anos 2 anos

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 10 - Relação entre cargo de ocupação, tempo de trabalho e idade dos homens

Cargo de ocupação Idade dos homens Tempo de trabalho na

empresa

Administrador 21, 24, 27, 29 e 37 anos 5 a 10 anos

Gerente Geral 19, 21, 24, 28, 29 e 39 anos 5 a 23 anos

Financeiro 21 anos 5 anos

Auxiliar gerencial 20 e 31 anos 2 a 6 anos

Fonte: Pesquisa de campo

As tabelas 9 e 10 apontam a ligação entre o cargo de ocupação, a idade e o tempo de trabalho

da segunda geração. As mulheres de 34 anos que possuem 10 anos de experiência na empresa

ocupam o cargo de Diretoria, enquanto que homens nesta mesma faixa etária ocupam cargos

de Gerência e Administração da empresa. Tanto as mulheres como os homens com idades

entre 19 e 20 anos, e com pouco tempo de empresa, ocupam cargos de auxiliar gerencial.

46

Observa-se, portanto, que para ocupar cargos de liderança como, administrador, administrador

financeiro e gerente geral, é preciso ter tempo de experiência na empresa, não importando a

idade do herdeiro.

A quarta etapa de conhecimento do perfil da segunda geração está relacionada às atividades

desenvolvidas diariamente. A pesquisa procurou investigar com quais atividades financeiras a

segunda geração trabalha e a pergunta permitiu que o respondente marcasse mais de uma

alternativa e os resultados são apresentados, a seguir, na Tabela 11:

Tabela 11 - Atividades financeiras realizadas pela segunda geração

Atividades financeiras Herdeiros que trabalham com

a atividade

Contas a pagar e receber 27

Orçamento e fluxo de caixa 26

Planejamento de compras 20

Controle de estoques 18

Administração do capital de giro 17

Empréstimos e Financiamentos 8

Fonte: Pesquisa de campo

De acordo com a Tabela 11, é possível observar que a segunda geração trabalha com muitas

ferramentas financeiras ao mesmo tempo no dia-a-dia, sendo apenas os empréstimos e os

financiamentos as ferramentas menos utilizadas pela segunda geração. O controle de contas a

pagar e receber é a ferramenta financeira mais popular entre os entrevistados, enquanto que os

empréstimos e financiamentos são ferramentas menos comuns entre a segunda geração.

Diante do exposto neste tópico, foi comprovado que todas as empresas pesquisadas são

familiares de micro e pequeno porte com a presença da primeira e segunda geração na gestão

do negócio. Com relação ao perfil do herdeiro, sabe-se que os mesmos são jovens e possuem

idades no intervalo de 19 a 39 anos, trabalham desde muito cedo e por isso possuem

experiência de no mínimo 2 anos nas empresas, além de atuarem na gestão da empresa junto

com a primeira geração. No tópico a seguir, serão apresentadas as mudanças realizadas pela

segunda geração na gestão financeira da empresa.

47

4.2 Mudanças realizadas pela segunda geração na gestão financeira

No tópico anterior foi comprovado que a segunda geração das MPEs familiares de Santa Cruz

do Capibaribe trabalha com as ferramentas de gestão financeira. A Tabela 12 mostra as

práticas financeiras adotadas pela primeira geração a partir da percepção dos herdeiros ao

entrarem na empresa e aponta as técnicas financeiras adotadas pela segunda geração ao

ingressar na empresa, esta questão poderia ser respondida com mais de uma alternativa.

Tabela 12 - Práticas financeiras adotadas pela primeira geração x práticas adotadas após o ingresso da

segunda geração à gestão da empresa

Técnicas financeiras

Percentual de empresas que

aplicavam as técnicas

financeiras antes da chegada

da segunda geração à gestão

do negócio

Percentual de empresas

que utilizam a técnica após

o ingresso da segunda

geração

Nenhuma 17% -

Financiamentos 3% 13%

Empréstimos 10% 13%

Orçamento 20% 57%

Administração do capital de giro 23% 80%

Fluxo de caixa 30% 90%

Controle de estoque 33% 77%

Planejamento de compras 40% 70%

Controle de contas a receber 53% 90%

Controle de pagamentos 58% 100%

Fonte: Pesquisa de campo

A Tabela 12 aponta que 17% das empresas, quando geridas apenas pela primeira geração, não

utilizavam nenhuma das técnicas financeiras. O controle de pagamentos e o controle de

contas a receber são as ferramentas financeiras mais populares entre a primeira geração. O

fluxo de caixa e a administração do capital de giro se destacam por serem menos comuns

entre a primeira geração, porém, após o ingresso da segunda geração o uso destas duas

ferramentas tornou-se popular nas empresas. Observa-se, portanto, uma melhora na gestão

financeira das empresas após a chegada da segunda geração à gestão da empresa, mas é

possível perceber que os empréstimos e os financiamentos são ferramentas financeiras pouco

conhecidas, tanto pela primeira, como pela segunda geração de gestores das MPEs familiares

de Santa Cruz do Capibaribe.

48

Para uma melhor compreensão das mudanças adotadas pela segunda geração na gestão

financeira, as tabelas 13 e 14 apresentam as técnicas financeiras implantadas pela segunda

geração e sua importância:

Tabela 13 - Técnicas financeiras implantadas pela segunda geração

Técnicas financeiras Percentual dos herdeiros que

implantaram a técnica

Quantidade de herdeiros que

implantaram a técnica

Fluxo de caixa 70% 21 herdeiros

Controle de estoques 40% 12 herdeiros

Planejamento de compras 40% 12 herdeiros

Administração do capital de giro 40% 12 herdeiros

Controle de contas a receber 33% 10 herdeiros

Orçamento 27% 8 herdeiros

Controle de pagamentos 23% 7 herdeiros

Empréstimos 20% 6 herdeiros

Financiamentos 20% 6 herdeiros

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 14 - Grau de importância dos recursos utilizados na tomada de decisão financeira

Grau de importância Técnica financeira

(1) Muito importante Fluxo de caixa, controle de estoque, planejamento de compras,

orçamento e controle de pagamentos.

(2) Importante Administração do capital de giro e controle de contas a receber

(3) Pouco importante Empréstimos e financiamentos*

(4) Não é importante Empréstimos e financiamentos** *11 respondentes

**6 respondentes

Fonte: Pesquisa de campo

O fluxo de caixa é a ferramenta de gestão financeira mais implantada pela segunda geração

nas MPEs familiares de Santa Cruz do Capibaribe. Cerca de 70% dos herdeiros implantaram

esta técnica e a consideram muito importante para o gerenciamento do negócio, porque trata-

se de um instrumento que possibilita o planejamento e o controle dos recursos financeiros

(Padoveze, 2011). Os empréstimos e financiamentos são classificados como pouco

importantes por onze respondentes e como não importantes por seis respondentes, refletindo o

baixo quantitativo de herdeiros que implantaram esta técnica, apresentado na Tabela 13:

apenas 20% e a ausência de conhecimento sobre a importância das mesmas para o

desenvolvimento das empresas, conforme Tabela 12.

49

Para compreender o grau de autonomia da segunda geração com as técnicas financeiras foi

elaborada uma questão com a escala de autonomia, na qual, (4) Alta, (3) Média, (2) Baixa e

(1) Não tem autonomia, conforme detalhado no Apêndice. Os resultados são apresentados a

seguir:

Tabela 15 - Grau de autonomia da segunda geração sobre as técnicas financeiras

Grau Técnica financeira

(4) Alta Fluxo de caixa, Controle de estoque, Orçamento e Controle de pagamentos

e Controle de contas a receber.

(3) Média Administração do capital de giro, Planejamento de compras, Empréstimos e

financiamentos.

(2) Baixa ----

(1) Não tem

autonomia ----

Fonte: Pesquisa de campo

O grau de autonomia da segunda geração das MPEs familiares de Santa Cruz do Capibaribe

está classificado entre médio e baixo, e isto pode ser explicado pela presença da primeira

geração na administração da empresa. Esta classificação pode ser considerada positiva quando

comparamos a idade dos herdeiros, a escolaridade e a presença da primeira geração na

empresa.

Sobre os recursos utilizados para a tomada de decisões financeiras, os entrevistados

responderam a uma pergunta que possibilitava mais de uma resposta e os resultados são

expressos na Tabela 16:

Tabela 16 - Recursos utilizados para a tomada de decisão financeira

Recursos para tomada de decisão Percentual de empresas que utilizam

1º Experiência dos administradores e Intuição 66,7%

2º Interpretação dos controles financeiros 63,3%

3º Relatórios elaborados pelos gestores 43,3%

4º Informações fornecidas pela contabilidade 33,3%

Fonte: Pesquisa de campo

A tomada de decisão nas MPEs familiares tem como base a experiência dos administradores e

a interpretação dos controles financeiros. Apenas 26,7% dos entrevistados afirmaram utilizar

a intuição para tomar decisões. Quando questionados sobre as técnicas que desejam utilizar

50

nos próximos dois anos, 60% da segunda geração afirmaram que pretendem implantar os

empréstimos e financiamentos, conforme aponta a Tabela 17:

Tabela 17 - Técnicas que se deseja utilizar nos próximos dois anos

Técnicas financeiras que se deseja

implementar em 2 anos

Percentual dos herdeiros que desejam

implantar a técnica no futuro

Empréstimos e financiamentos 60%

Orçamento 17%

Administração do capital de Giro 7%

Fluxo de caixa 7%

Fonte: Pesquisa de campo

Os empréstimos e financiamentos são pouco conhecidos pela segunda geração pesquisada,

mas apesar disto, há um interesse em aprender sobre estas técnicas para implantá-las na gestão

da empresa. Dessa forma, este tópico comprovou que as principais mudanças realizadas pela

segunda geração na gestão financeira das empresas foi a implantação do fluxo de caixa, o

controle de estoques, o planejamento de compras e a administração do capital de giro, bem

como o profissionalismo na tomada de decisões e o interesse em aprender sobre empréstimos

e financiamentos, que são as técnicas menos utilizadas e conhecidas pelas MPEs familiares de

Santa Cruz do Capibaribe. O tópico a seguir apresenta os motivos que levaram à segunda

geração a realizar as mudanças relatadas neste item.

4.3 Motivos para a realização das mudanças na gestão financeira

Para que uma transformação aconteça é preciso motivação. A partir disto, o presente item

expressa os estímulos que levaram à modificação da gestão financeira das empresas pela

segunda geração. Os quadros 9 e 10 expressam os principais motivos que estimulam os

herdeiros a desenvolver e implantar mudanças na gestão financeira da organização familiar:

Quadro 8 - Principais motivos que levam o herdeiro a desenvolver a empresa

Motivação profissional Motivação pessoal

1º Expansão da empresa 1º Melhoria da qualidade de vida da família

2º Reduzir custos e elevar o lucro 2º A liberdade e a autonomia para desenvolver a

empresa

3º Sustentabilidade 3º Principal fonte de renda da família

51

4º Continuidade 4º Identificação com o negócio

5º Melhoria e implantação de novas tecnologias 5º Influência direta da empresa na vida do

herdeiro e da família

6º Tornar a empresa sólida no mercado

Fonte: Pesquisa de campo

Quadro 9 - Motivação para implantar as mudanças na gestão financeira do negócio

Motivação profissional Motivação pessoal

1º Ausência de controle financeiro 1º O desejo do crescimento

2º Desorganização da gestão financeira por ausência

de conhecimento específico dos pais 2º Amor pela empresa

3º Desenvolver a empresa através do conhecimento

adquirido com os estudos e experiência 3º Continuidade

4º Controlar as informações 4º Confiança depositada no herdeiro

5º Gerar resultados

6º Manter-se no mercado

7º Ter uma empresa grande e bem capacitada

8º Segurança nas decisões

9º Visão de futuro: Assumir a Administração Geral

10º Saldo de caixa baixo

Fonte: Pesquisa de campo

A segunda geração tem mais motivação profissional do que pessoal para realizar

transformações na administração financeira da empresa. É possível observar no quadro 10 que

os herdeiros encontraram a empresa desorganizada financeiramente e sem controle financeiro,

situação que é justificada, por eles, pela ausência de conhecimento específico da primeira

geração. Nos quadros 9 e 10 percebe-se que a segunda geração deseja expandir o negócio

através dos conhecimentos adquiridos com a experiência na empresa e dos estudos. A ânsia de

ampliar a empresa justifica-se através dos objetivos de: (i) ter continuidade; (ii) redução dos

custos; (iii) aumento do lucro; (iv) sustentabilidade no mercado; e (v) desejo de assumir a

administração geral.

Com relação à motivação pessoal para transformar a administração financeira da empresa

nota-se a continuidade da história do negócio, o amor pela empresa, a melhoria da qualidade

de vida da família e a confiança que é depositada na segunda geração através da liberdade

para desenvolver a empresa. Verifica-se, então, que tanto na motivação profissional como na

pessoal, a segunda geração possui o desejo de dar continuidade ao negócio familiar com

profissionalismo e vontade de fazer com o que a empresa cresça cada vez mais. A seguir serão

52

apresentadas as dificuldades encontradas no processo de transformação da gestão financeira

na empresa familiar.

4.4 Dificuldades encontradas pela segunda geração na adoção de novas técnicas

financeiras

As mudanças realizadas pela segunda geração são consideradas como mudança

transformacional que “implica em grandes alterações nos processos da empresa, sendo

reestruturada internamente para atender a uma nova estratégia” e mudança revolucionária que

ocorre “diante da necessidade de uma profunda alteração nos princípios base da empresa, na

sua gestão, na sua atuação e nos produtos, para que a empresa sobreviva e cumpra com sua

missão” (MARQUES, 2016).

Ao observar as mudanças realizadas pela segunda geração nas MPEs de Santa Cruz do

Capibaribe, foram investigadas as dificuldades por eles enfrentadas neste processo. Um dos

pontos analisados foi a aceitação das sugestões dadas pelos herdeiros e o resultado é

apresentado no Gráfico 1:

Gráfico 1 - Frequência de aceitação das sugestões dos herdeiros pela primeira geração

Fonte: Pesquisa de campo

A primeira geração aceita com frequência as sugestões oferecidas pela segunda geração

discordando da afirmação de que “o pai quer que as coisas fiquem como estão e os filhos

querem mudar” (InfoMoney, 2012). Cerca de 76,7% dos herdeiros pesquisados afirmaram ter

alguma proposta aceita todos os meses, enquanto 10% afirmam ter ideias aceitas raramente..

53

Esse resultado pode ser justificado no quadro 10, no terceiro ponto das motivações

profissionais, onde é expressa a situação do desconhecimento sobre gestão financeira por

parte da primeira geração. Apesar de possuírem liberdade para modificar a gestão financeira,

algumas dificuldades são levantadas pela segunda geração, conforme aponta o Gráfico 2:

Gráfico 2 - Principais dificuldades durante o processo de desenvolvimento da gestão financeira

A pergunta permitia mais de uma resposta.

Fonte: Pesquisa de campo

A ausência de mão de obra qualificada foi apontada por 56,7% dos entrevistados como a

maior dificuldade encontrada por eles ao realizar as mudanças de gestão financeira na

empresa. Apesar de ser um bom setor econômico, a produção de confecções sofre com a

carência de mão de obra qualificada (Estadão, 2013). Outras dificuldades apontadas foram as

barreiras internas (40%) e a falta de recursos (30%) que pode ser justificada pelo pouco

conhecimento sobre gestão financeira pela primeira geração (ver quadro 10) . Com relação a

falta de apoio da família, apenas 13,3% dos entrevistados - o equivalente a quatro respostas -

afirmaram ter essa dificuldade para a realização das mudanças na empresa.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

54

5 CONCLUSÕES

Conforme os resultados apresentados, as trinta empresas estudadas estão em processo de

crescimento, e a organização financeira está contribuindo com este processo. Outro ponto de

análise interessante, é o fato da pesquisa apontar uma realidade peculiar nas MPEs familiares

brasileiras: as gerações presentes na gestão dos negócios de Santa Cruz do Capibaribe se

complementam, e juntas são responsáveis pelo desenvolvimento da empresa. Esta realidade

contradiz o comum que é a existência de conflitos entre as gerações que administram a

empresa.

A segunda geração das MPEs familiares de Santa Cruz do Capibaribe é ativa na gestão da

empresa e possui um bom relacionamento com a primeira geração que ainda está presente na

administração geral do negócio. As mudanças realizadas pela maioria dos entrevistados foram

a implementação: (i) do fluxo de caixa; (ii) do controle de estoques; (iii) do planejamento de

compras; e (iv) da administração do capital de giro. O controle de contas a receber e a pagar

são as técnicas mais populares entre a primeira geração, enquanto que os empréstimos e os

financiamentos ainda são pouco conhecidos pelas duas gerações; porém, existe um

planejamento da segunda geração para adquirir conhecimento e implantar estas técnicas nos

próximos dois anos.

A principal motivação profissional da segunda geração para realizar mudanças financeiras

está na aspiração de expandir o negócio com organização, e a principal motivação pessoal está

no desejo de dar continuidade ao negócio para melhorar a qualidade de vida da família.

Percebe-se, portanto, que a entrada dos herdeiros nas empresas, ainda antes dos 18 anos,

contribuiu para que hoje exista o grande desejo de manter a empresa no mercado e a vontade

de assumir a administração geral por parte da segunda geração.

A vontade de gerar resultados, manter a empresa grande e bem capacitada no mercado,

reduzindo custos e aumentando os lucros com base em decisões seguras, estimula a segunda

geração a melhorar cada vez mais a gestão financeira da empresa familiar; e mesmo com a

primeira geração presente na gestão, existe uma relação de confiança. A primeira geração

confia na segunda geração que respeita e honra a oportunidade que é confiada.

Apesar das motivações serem fortes, o processo de mudança organizacional é difícil e as

principais dificuldades encontradas pela segunda geração na aplicação dos novos

55

conhecimentos de gestão financeira estão ligadas a carência de qualificação da mão de obra

local, seguida das barreiras internas e da ausência de recursos, que é justificada pelo baixo

conhecimento sobre acesso à crédito. As dificuldades apontadas pela segunda geração

refletem, mais uma vez, como a realidade das MPEs de Santa Cruz do Capibaribe é diferente

das demais MPEs brasileiras.

Com base na pesquisa de campo, é possível observar o desconhecimento sobre gestão

financeira por parte da primeira geração. A segunda geração, ao implantar melhorias sofreu

com a falta de profissionais qualificados para assumirem funções financeiras, apesar do apoio

da primeira geração. Esta realidade pode ser justificada pela cultura de Santa Cruz do

Capibaribe, na qual as pessoas iniciam a vida profissional trabalhando para após muitos anos

estudarem; porém, muitas pessoas não retornam para a sala de aula e contentam-se com o

segundo grau completo.

Para amenizar este problema, as Associações comerciais e as Instituições de Ensino Superior

frequentemente fazem parcerias com as empresas para oferecerem cursos de capacitação, mas,

estes cursos normalmente possuem uma carga horária pequena sendo, então, insuficientes

para a capacitação da mão de obra da cidade. Apesar da dificuldade com mão de obra

capacitada, as empresas familiares de Santa Cruz do Capibaribe possuem uma cultura de

continuidade, diferenciando-as das demais empresas familiares do país. O espírito

empreendedor, que é nato nos moradores desta região, quando somados a capacitação

gerencial faz com o que as empresas se desenvolvam com inovação, organização e lucro. E

esta realidade é encontrada nas empresas desta cidade, independente do porte.

56

REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

AZEVEDO, J.G; LEONE, R.J.G. Práticas de gestão financeira em micro e pequenas

empresas: um estudo descritivo em indústrias de castanha de caju do Estado do Rio Grande

do Norte. Rev. Ciênc. Admin., Fortaleza, v. 17, n. 1, p. 55-83, jan./abr. 2011.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: 70, 2011.

BATISTA, F. F.; FREITAS, E.C; SANTIAGO, J. S; RÊGO, T.F. Uma Investigação acerca da

Mortalidade das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte da Cidade de Sousa, PB.

REUNIR – Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade – Vol. 2, no 1,

p.56-71, Jan-Abr/2012.

BERNHOEFT, R. Empresa Familiar: sucessão profissionalizada ou sobrevivência

comprometida. São Paulo: Nobel, 1989.

BLOCH, V. Os desafios de ser herdeiro da companhia da família. Disponível em:

<http://www.valor.com.br/carreira/4736613/os-desafios-de-ser-herdeiro-da-companhia-da-

familia>. Acesso em 18 nov. 2017.

BRAGA, Roberto. Fundamentos e técnicas de Administração Financeira. ed. 16. São

Paulo: Atlas, 2008.

CALLADO, A.A.C.; PINHO, M.A.B. Evidências de isomorfismo mimético sobre práticas de

gestão de custos entre micro e pequenas empresas de diferentes setores de atividade.

Contabilidade Vista & Revista, v. 25, n. 2, p. 119-137, 2014.

CANÇADO, V. L; CASTANHEIRA, R. B; LIMA, J. B; MUYLDER, C. F. Ciclo de vida,

sucessão e processo de governança em uma empresa familiar: um estudo de caso no grupo

Seculus. Revista Eletrônica de Administração. Editada pela Escola de Administração da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2011.

CARVALHO, J. R. M.; LIMA, M. D. Práticas gerenciais em MPES do comércio de

confecções da cidade de Souza/PB. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade

(REPEC), v. 5, n. 3, p. 39-65, 2011.

CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luiz Roberto Dias. Matemática financeira

aplicada. 3. ed. Curitiba: IBPEX, 2010.

CHÉR, Rogério. A gerência das pequenas e médias empresas: o que saber para administrá-

las. São Paulo: Maltese, 1991.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE COMÉRCIO, BENS E SERVIÇOS. Tudo sobre MPEs.

Disponível em: < http://empresometro.cnc.org.br/>. Acesso em: 12 de junho de 2017.

CORTES, Soraya M. Vargas. Como fazer análise qualitativa de dados. In: BERNI, Duílio de

Ávila. Técnicas de Pesquisa em Economia. São Paulo: Saraiva, 2002.

57

DANTE, F.S; RODRIGUES, R. M; CREMONEZI, G. G. Os impactos da Gestão Familiar

nos conflitos e cultura organizacional. Revista de carreiras e pessoas. 2016.

DAVIS, John; TAGIURI, Renato. The influence of life stage on father-son work relationships

in family companies. Family Business Review, Boston, v.II, n.1, p.47-74, Spring 1989.

DIARIO DE PERNAMBUCO. Santa Cruz é sinônimo de polo têxtil. Disponível em: < http://www.impresso.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/cadernos/economia/2017/01/14/

interna_economia,161460/santa-cruz-e-sinonimo-de-polo-textil.shtml>. Acesso em 22 out.

2017.

DONNELLEY, R. G. - A empresa familiar. Nota da Redação: Traduzido do inglês por Carlos

Osmar Bertero e publicado mediante autorização da Harvard Business Review, Vol. 42, n.?

4, julho-agosto de 1964, onde foi originalmente publicado.

DOMINGUES, O.G. D; TINOCO, J. E. P; YOSHITAKE, M; PAULO, W.L; CLARO,

J.A.C.S. Gestão de capital de giro e formação do preço de venda praticado pelas micro e

pequenas empresas. Revista Ambiente Contábil – ISSN 2176-9036 - UFRN – Natal-RN. v.

9. n. 1, p. 77 – 96, jan./jun. 2017.

ELLRAM, L. M.; LIU, B. The financial impact of supply management. Supply Chain

Management Review, v.6, n.6, p.30-37, 2002.

FUNDAÇÃO VANZOLINI. 95% das empresas familiares são extintas no processo de

sucessão à segunda ou terceira geração. Disponível em: < http://vanzolini.org.br/noticia/95-

das-empresas-familiares-sao-extintas-no-processo-de-sucessao-segunda-ou-terceira-geracao/>

Acesso em: 12 de junho de 2017.

GAZETA DO POVO. Governança corporativa: pilar fundamental para a longevidade das

empresas. Disponível em: < http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/governanca-

corporativa-pilar-fundamental-para-a-longevidade-das-empresas-

8egfvmrxczajjkh3djtu9oy4g> Acesso em: 22 out. 2017.

GERSICK, Klein E., HAMPTON, DAVIS, John A., HAMPTON, Marion McCollom,

LANSBERG, Ivan. Generation to generation: life cycles of the family business. Boston:

Harvard Business School Press, 1997.

GIL, A.C. Como elaborar projeto de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GITMAN, L. J. Princípios da Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson

Addison Wesley, 2004.

GODOI, C.K.; BALSANI, C.P.V. A pesquisa qualitativa nos estudos organizacionais

brasileiros: uma análise bibliométrica. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.;

SILVA de, A. B. (Org.). Pesquisa Qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas,

estratégias e métodos. 2.ed., São Paulo: Saraiva, 2010. cap. 3, p. 89-112.

GONÇALVES, J. S. R. C. (2000). As empresas familiares no Brasil. Revista de

Administração de empresas, v.40, n. 1, p. 7-12.

HOJI, MASAKASU. Administração financeira e orçamentária. São Paulo: Atlas, 2010.

58

_________________. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira

aplicada, estratégias financeiras e orçamento empresarial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

INFOMONEY. Todo dia é dia para começar a discutir sucessão na empresa familiar.

Disponível em < http://www.infomoney.com.br/negocios/noticia/2081966/todo-dia-dia-para-

comecar-discutir-sucessao-empresa-familiar> Acesso em 19 nov. 2017.

________________ . Empresa familiar: como ter sucesso na relação com o pai e com os

funcionários? Disponível em < http://www.infomoney.com.br/carreira/noticia/2398364/empresa-familiar-como-ter-sucesso-

relacao-com-pai-com-funcionarios> Acesso em 19 nov 2017

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Às micro e pequenas

empresa comerciais e prestadoras de serviços no Brasil 2001. Estudos & Pesquisas

Informação Econômica n. 1. Rio de Janeiro, 2003.

IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Micro e pequenas empresas: mercado de

trabalho e implicação para o desenvolvimento / Organizadores: Anselmo Luís dos Santos,

José Dari Krein, Andre Bojikian Calixtre: organizadores. – Rio de Janeiro: Ipea, 2012. 232 p.

KASSAI, S. As empresas de pequeno porte e a contabilidade. Caderno de Estudos Fipecafi,

São Paulo, Fipecafi, v.9, n.15, p.60-74, jan./jun. 1997.

LAKATOS, M. Eva; MARCONI, A. Marina. Técnicas de Pesquisa. São Paulo, 6ª Ed:

ATLAS, 2007.

_________________________ Fundamentos de Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo:

Atlas, 2001.

LANK, A. G. Como evitar que a dinastia vire um episódio de Dallas. In: BIRLEY, S. e

MUZYKA, D. F. Dominando os desafios do empreendedor. São Paulo: Makron Books,

2001. P.130-135.

LEI COMPLEMENTAR 123/2006. Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de

Pequeno Porte. Brasília: Congresso Nacional, 2006.

LEI COMPLEMENTAR Nº 127/2007. Altera a Lei Complementar nº123/2006. Disponível

em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp127.htm> Acesso em: 02 Jun. 2017.

LEI Nº 9.841, de 5 de outubro de 1999. Institui o Estatuto da Microempresa e da Empresa

de Pequeno Porte, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e

favorecido previsto nos arts. 170 e 179 da Constituição Federal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9841.htm>. Acesso em: 02 Jun. 2017.

LEONE, N. M. de C. P. G. As especificidades das pequenas e médias empresas. RAUSP. São

Paulo, n. 2, p. 91-94, vol. 34, abr/jun., 1999.

______________________Sucessão na empresa familiar: preparando as mudanças para

garantir sobrevivência no mercado globalizado. São Paulo: Atlas, 2005.

LIRA, S. M. O jovem trabalhador no aglomerado produtivo de confecções e as políticas

educacionais do ensino superior: um casamento improvável. V Colóquio Brasileiro

Educação na Sociedade Contemporânea. UFCG, 2016.

59

LODI, João Bosco. A empresa familiar. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1987.

LONGENECKER, J. G; MOORE, C. W; PETTY, J. W. Administração de pequenas

empresas: Ênfase na gerência empresarial. São Paulo: Makron Books, 1997.

LUNARDI, M.A; BARBOSA, E. T; JUNIOR, M.M.R; SILVA, T. P; NAKAMURA, W. T.

Criação de Valor no Desempenho Econômico de Empresas Familiares e não Familiares

Brasileiras. Revista Evidenciação Contábil & Finanças, v. 5, n. 1, p. 94-112, Janeiro-Abril,

2017. 19 página(s).

MAHAMID, I. Factors affecting contractor’s business failure: contractors’ perspective.

Engineering, Construction and Architectural Management, v. 19 n. 3, p. 269-285, 2012

MARQUES, J.R. Qual o conceito e os tipos de mudanças organizacionais. Disponível em

< http://www.ibccoaching.com.br/portal/rh-gestao-pessoas/qual-conceito-tipos-mudancas-

organizacionais/> Acesso em 19 nov. 2017.

MARTENS, C. D. P. A tecnologia da informação (TI) em pequenas empresas industriais do

vale do Taquari/RS. Dissertação. UFRGS, 2001. 139 p.

MENITA, P. R.; VANALLE, R. M.; SALLES, J. A. A.; OLIVEIRA, R. D. Análise das

estruturas de governança como instrumento de gestão de compras estratégicas. Revista

Científica Indexada Linkania Master, v.1, n. 1, 2011.

MATIAS, Alberto B.; LOPES, Fábio J. Administração financeira nas empresas de

pequeno porte. São Paulo: Manole, 2002.

MCCHLERY, S.; GODFREY, A.D.; MEECHAN, L. Barriers and catalysts to sound financial

management systems in small sized enterprises. Journal of Applied Accounting Research,

v. 7, n. 3, p. 1-26, 2005.

MONDINI, L.C; MACHADO, D.D.P.N; SCARPIN, M.R.S; MONDINI, V.E.D. Impacto do

planejamento de compras no desempenho financeiro da indústria de transformação do Brasil.

Revista Eletrônica de Administração, v. 21, n. 1, p. 113-140, Janeiro-Abril, 2015.

MOURA, Renata Gama e Guimaro; OLIVEIRA, Osmar Francisco de. Planejamento

financeiro como estratégia para a obtenção de resultados nas pequenas empresas: um estudo

de caso. In: Seminários em Administração, 10., 2007, São Paulo. Anais... São Paulo:

FEA/USP, 2007.

MUZZIO, H. A Consolidação da Profissionalização da Empresa Familiar e o Legado do

Fundador: concepções teóricas e implicações práticas. Teoria e prática em Administração.

v. 3. n. 2. P. 27-43, 2013.

OLIVEIRA, D.C. Manual como elaborar controles financeiros. Belo Horizonte.

SEBRAE/MG, 2005.

OLIVEIRA, J. L; ALBUQUERQUE, A. L; PEREIRA, R. D. De “filho do dono” a dirigente

ilustre: caminhos e descaminhos no processo de construção da legitimidade de sucessores em

organizações familiares. RAUSP. São Paulo, 2012.

OLIVEIRA, E. L.; TOLEDO FILHO, J. R.; SPESSATTO, G. Fluxo de caixa como

instrumento de controle gerencial para tomada de decisão: um estudo realizado em

60

microempresas. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ,

v. 15, n. 2, art. 6, p. 75-88, 2010.

OLIVEIRA, S. L. de. Tratado de Metodologia Cientifica. São Paulo: Pioneira Thomson

Leaming, 2001.

PADOVEZE, C. L. Introdução à administração financeira. 2. ed. São Paulo: Cengage

Learning LV, 2011.

POLO, Edison Fernandes. Engenharia das operações financeiras. São Paulo: Atlas, 1996.

PRICEWATERHOUSECOOPERS – PwC. Empresa familiar: o desafio da governança.

Pesquisa global sobre empresas familiares, 2014. 28p.

REBOUÇAS, D. P. O. Estratégia Empresarial – Uma Abordagem Empreendendora. São

Paulo: Editora Atlas, segunda edição, 1991.

REVISTA EXAME. Como planejar as finanças da empresa familiar – e não quebrar.

Disponível em: <http://exame.abril.com.br/pme/como-planejar-as-financas-da-empresa-

familiar-e-nao-quebrar/> Acesso em: 12 de junho de 2017.

REZENDE, T. C. Os sistemas de amortização nas operações de crédito imobiliário: a

falácia da capitalização de juros e da inversão do momento de deduzir a quota de

amortização. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, set. 2003. 166 p.

Acesso em: <http://portal.ufrrj.br/>Acesso em: 19 nov. 2017.

SANTOS, E. O. Administração financeira da pequena e média empresa. 2.ed. São Paulo:

Atlas, 2010.

SANTOS, L.M; SILVA, G.M; NEVES, J.A.B. Risco de Sobrevivência de Micro e Pequenas

Empresas Comerciais. Revista de Contabilidade e Organizações, vol. 5 n. 11 (2011) p. 107-

124.

SANTOS, V; DOROW, D.R; BEUREN, I.M. práticas gerenciais de micro e pequenas

empresas. Revista Ambiente Contábil – ISSN 2176-9036 - UFRN – Natal-RN. v. 8. n. 1, p.

153 – 186, jan./jun. 2016.

SANVICENTE, A.Z. Administração Financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Mais de 90% das

empresas brasileiras são familiares. Londrina, 2005. Disponível em: <

http://www.SEBRAE-sc.com.br/newart/mostrar_materia.asp?cd_noticia=10410>. Acesso em:

20 de maio de 2017.

____________________Relatório especial (*) – “Empresas familiares”. Setembro/2015

____________________Participação das Micro e Pequenas Empresas na Economia

Brasileira. Unidade de Gestão Estratégica. Distrito Federal, 2014.

____________________ As características de negócios familiares. Distrito Federal, 2016.

Disponível em: <https://www.SEBRAE.com.br/sites/PortalSEBRAE/artigos/as-

caracteristicas-de-negocios-familiares,48e89e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD>.

Acesso em: 20 de maio 2017.

61

___________________Sobrevivência das empresas no Brasil. Relatório 2016. Disponível

em: <http://www.SEBRAE.com.br/SEBRAE/Portal%20SEBRAE/Anexos/sobrevivencia-das-

empresas-no-brasil-relatorio-2016.pdf >Acesso em: 27 de junho de 2017.

___________________Boletim estatístico de micro e pequenas empresas. Brasília: 2007.

Disponível em:

<http://201.2.114.147/bds/BDS.nsf/03DE0485DB219CDE0325701B004CBD01/$File/NT000

A8E66.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.

___________________ Trabalhar em família é a realidade na maioria dos pequenos

negócios brasileiros. Disponível em <

http://www.agenciaSEBRAE.com.br/sites/asn/uf/NA/trabalhar-em-familia-e-a-realidade-na-

maioria-dos-pequenos-negocios-

brasileiros,cfbac2b389778510VgnVCM1000004c00210aRCRD > Acesso em 19 nov. 2017.

__________________ Os desafios da empresa familiar: gestão e sucessão. Disponível em <https://www.SEBRAE.com.br/sites/PortalSEBRAE/ufs/pe/artigos/os-desafios-da-empresa-

familiar-gestao-e-sucessao,fae9eabb60719510VgnVCM1000004c00210aRCRD> Acesso em

19 nov. 2017.

SELEME, L. D. B. Finanças sem complicação. Curitiba: Intersaberes, 2012.

SILVA, K.F.M. Análise de controle interno: estudo de caso no contas a pagar e receber das

empresas Visaluz e escola Shekinah. Monografia. UTFPR, 2013.

TASHAKKONI, Abbas; CRESWELL, J. W. The new era of mixed methods. Journal of

mixed methods research. London, p. 3-7, 2007.

TEIXEIRA, K. (2012). Controles Financeiros em Micro, Pequenas e Médias Empresas. In:

BARROS NETO, J. P. e SOUZA, G. Manual do Empreendedor de Micro e Pequenas

Empresas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2011. p. 335-350.

ZENTGRAF, W. Matemática financeira: com emprego de funções e planilhas, modelo

Excel. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

62

APÊNDICE I – Questionário para a segunda geração de gestores das empresas

familiares

1. Qual o faturamento anual da empresa?

( ) De R$ 60.000,01 a 100.000,00

( ) De R$ 100.000,01 a R$ 360.000,00

( ) De R$ 360.000,01 a R$ 900.000,00

( ) De R$ 900.000,01 a R$ 3.600.000,00

( ) Superior a R$ 3.600.000,01

2. Quantos funcionários possui a empresa?

( ) Até 19 funcionários

( ) De 20 a 99 funcionários

( ) De 100 a 499 funcionários

( ) Acima de 500 funcionários

3. Na sua concepção, qual o porte da

empresa?

( ) Microempresa ( ) Pequena empresa

( ) Média empresa

4. Qual o ano do seu

nascimento?________

5. Qual seu gênero?

( ) feminino ( ) masculino

6. Qual o seu parentesco com o

proprietário da empresa?

( ) Filho (a) ( ) Irmão (a)

( ) Sobrinho (a) ( ) Outros.

Cite:_______

7. Qual a sua escolaridade?

Ensino médio completo

Ensino superior incompleto em

Administração

Ensino superior completo em

Administração

Ensino superior incompleto em

Ciências Contábeis

Ensino superior completo em

Ciências Contábeis

Pós-Graduação

Outro. Cite__________________

8. Se já cursou o ensino superior, qual a

sua formação?_____________________

9. A quanto tempo você trabalha na

empresa?__________________________

10. Qual o cargo que você exercia quando

começou a trabalhar na

empresa?__________________________

11. Qual seu cargo atual?

__________________________________

12. Com qual destas atividades você

trabalha? (Marque quantas alternativas

achar necessário)

Controle de estoques

Planejamento de compras

Financeiro: investimentos

(empréstimos e financiamentos)

Financeiro: Contas a pagar e

receber

Financeiro: Orçamento e fluxo de

caixa

Financeiro: Administração do

capital de giro

Outro. Cite __________________

13. Quando você assumiu sua função na

empresa, quais destas ferramentas de

OE 1 - Identificar as mudanças

realizadas pela segunda geração na

gestão financeira de micro e pequenas

empresas familiares.

Sobre o porte da empresa e perfil do

herdeiro

gestão financeira eram adotadas? (Marque

quantas achar necessário)

Fluxo de caixa

Controle de estoque

Planejamento de compras

Empréstimos

Financiamentos

Administração do capital de giro

Controle de pagamentos

Controle de contas a receber

Orçamento

Nenhuma

Outros. Cite________________

14. Quais as mudanças que você realizou

na gestão financeira da empresa através

dos conhecimentos adquiridos ao longo de

sua vida profissional?

__________________________________

__________________________________

__________________________________

15. Quais destas técnicas financeiras são

adotadas, atualmente, pela empresa?

(Marque quantas achar necessário)

Fluxo de caixa

Controle de estoque

Planejamento de compras

Empréstimos

Financiamentos

Administração do capital de giro

Controle de pagamentos

Controle de contas a receber

Orçamento

Outra. Cite ___________________

Nenhuma

16. Qual o grau de importância dos

recursos mais utilizados na tomada de

decisão financeira?

Legenda 1: Grau de importância:

1 = Muito importante

2 = Importante

3 = Pouco importante

4 = Não é importante

Prática Financeira Grau de

importância

Fluxo de Caixa ( )

Controle de Estoque ( )

Planejamento de compras ( )

Empréstimos ( )

Financiamentos ( )

Adm. do Capital de Giro ( )

Controle de Pagamentos ( )

Controle de Contas a Receber( )

Orçamento ( )

17. Atualmente, qual o seu grau de

autonomia sobre as práticas de

administração financeira da empresa?

Utilizar a legenda 1 para responder o grau

de autonomia.

Legenda 1- Grau de Autonomia:

1 = Não tem autonomia

2 = Baixo

3 = Médio

4 = Alto

Prática Financeira Grau de

autonomia

Todas as práticas financeiras ( )

Fluxo de Caixa ( )

Controle de Estoque ( )

Planejamento de compras ( )

Empréstimos ( )

Financiamentos ( )

Adm. do Capital de Giro ( )

Controle de Pagamentos ( )

Controle de Contas a Receber( )

Orçamento ( )

Outros. Cite:__________ ( )

18. Quais os recursos que são mais

utilizados para a tomada de decisão

financeira? (Marque as alternativas que se

aplicam).

Experiência dos administradores

Relatórios elaborados pelos

gestores

Interpretação dos controles

financeiros

63

Informações fornecidas pela

contabilidade

Intuição

Outros. Cite _________________

Nenhum

19. Quais as técnicas financeiras que você

não usa, mas que planeja usar pelos

próximos dois anos para desenvolver a

empresa?

__________________________________

__________________________________

20. Quais os motivos que levam você a

querer desenvolver a gestão financeira na

empresa dos seus pais/avós/tios?

__________________________________

__________________________________

__________________________________

21. O que levou você a realizar as

mudanças apontadas na questão anterior?

__________________________________

__________________________________

__________________________________

22. Com qual frequência seu

pai/mãe/avô/tio aceita suas sugestões de

melhoria para a empresa?

Frequentemente (todos os meses)

Com pouca frequência (a cada seis

meses)

Muito Raramente.

Nunca aceita nenhuma sugestão

minha.

23. Quais as principais dificuldades que

você percebe durante o processo da gestão

financeira da empresa? (Marque todas que

se aplicam)

Falta de recursos financeiros

Planejamento financeiro

Barreiras internas

Falta de apoio do proprietário (pai,

mãe, tios)

Falta de pessoal qualificado

Outros. Cite _________________

OE 2 - Verificar os motivos das

mudanças realizadas na gestão

financeira das MPEs familiares.

OE 3 - Conhecer as dificuldades

encontradas pela segunda geração para a

aplicação de novos conhecimentos de

gestão financeira na empresa familiar.

64

APÊNDICE II – Questionário para validação da amostra

1. Qual o ano do seu nascimento?

□ Antes de 1977

□ 1977 a 1981

□ 1982 a 1987

□ 1988 a 1991

□ 1992 a 1999

□ Depois de 1999

2. A quanto tempo você trabalha na

empresa?

□ Menos de 1 ano

□ De 2 a 4 anos

□ De 5 a 9 anos

□ De 10 a 15 anos

□ Acima de 15 anos

3. Com qual destas atividades você

trabalha? (Marque quantas alternativas

achar necessário).

□ Controle de estoques

□ Planejamento de compras

□ Financeiro: investimentos

(empréstimos e financiamentos)

□ Financeiro: Contas a pagar e

receber

□ Financeiro: Orçamento e fluxo de

caixa

□ Financeiro: Administração do

capital de giro

□ Em outra área.

Se na questão anterior, você marcou a

opção "em outra área", cite sua

responsabilidade atual na empresa.

__________________________________

______________________________

4. Qual o cargo que você exerce na

empresa?

__________________________________

__________________________________

____________________________

5. Você tem espaço para oferecer ideias de

melhoria direcionadas a sua função?

□ Sim

□ Na maioria das vezes

□ Em poucas oportunidades

□ Não

65