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FACULDADE 7 DE SETEMBRO - FA7 CURSO GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA PUBLICIDADE E ARGUMENTAÇÃO COMPRE ESSA IDEIA JOSÉ ELIEUDO NASCIMENTO DE SOUSA FORTALEZA – 2010

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FACULDADE 7 DE SETEMBRO - FA7

CURSO GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

PUBLICIDADE E ARGUMENTAÇÃO COMPRE ESSA IDEIA

JOSÉ ELIEUDO NASCIMENTO DE SOUSA

FORTALEZA – 2010

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JOSÉ ELIEUDO NASCIMENTO DE SOUSA

PUBLICIDADE E ARGUMENTAÇÃO COMPRE ESSA IDEIA

Monografia apresentada à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação Publicidade e Propaganda.

Orientadora: Profa. Ana Paula Rabelo Silva, MSc.

FORTALEZA – 2010

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PUBLICIDADE E ARGUMENTAÇÃO COMPRE ESSA IDEIA

Monografia apresentada à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação Publicidade e Propaganda.

_______________________________________ José Elieudo Nascimento de Sousa

Monografia aprovada em: ______ / ______ / ______

___________________________________ Profa. Ana Paula Rabelo Silva, MSc. (FA7)

1ºExaminador: ______________________________________ Prof. Paulo Germano Barrozo de Albuquerque, DSc. (FA7) 2ºExaminador: _______________________________________ Profª. Juliana Lotif Araújo, MSc. (FA7)

_________________________________________

Profª. Juliana Lotif Araújo, MSc. (FA7) Coordenadora do Curso

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A minha família, a quem devo tudo o que sou.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, por permitir que realizasse esse sonho.

Aos meus pais Lúcia de Fátima N. de Sousa e José Eliésio de Sousa que me ensinaram que

tudo é possível àquele que crê. As minhas irmãs, que não me deixaram desistir quando parecia

não ter mais forças para continuar.

A toda a minha família pelo incentivo e apoio, em especial a tia Rose que me acolheu como

um filho.

A Helainne Machado, Débora Borges e Amanda Maia com as quais dividi muitos momentos

durante os quatro anos e meio de faculdade e sem as quais certamente não teria conseguido.

A todos os meus professores, desde o maternal até a graduação, em especial a Ana Paula

Rabelo, Elisângela Teixeira, Juliana Lotif, Leonardo Paiva e Paulo Germano Albuquerque,

por terem partilhado um mundo de conhecimento comigo.

A todos os meus amigos dos estágios por onde passei, dos quais absorvi muito do que sou

hoje. Não citarei nomes a fim de não cometer injustiça, mas sabem o quanto foram

importantes para a minha formação “social”. Tenho certeza que conheci pessoas maravilhosas

das quais não esquecerei facilmente.

Enfim, minha eterna gratidão a todos aqueles que torceram por mim, essa vitória também os

pertence. Muito obrigado!

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“Saber argumentar não é um luxo, mas uma necessidade.”

Philippe Breton

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RESUMO

O presente trabalho visa analisar estratégias discursivas utilizadas pelas peças publicitárias de

páginas duplas veiculadas na revista Veja, editora Abril. Essa análise surge da necessidade de

compreender tais estratégias utilizadas pela publicidade atual, focando no uso da

argumentação como um recurso estratégico menos agressivo e tão convincente quanto

qualquer outra forma utilizada (seja manipulação ou sedução). A argumentação, advinda da

retórica antiga, se apresenta como uma possibilidade discursiva de impacto tão relevante

quanto qualquer outra forma. Composto por um corpus de 11 peças publicitárias veiculadas

na revista Veja, o presente estudo mostrou que o uso de argumentos vem sendo muito

utilizado na publicidade. Sabemos, porém, que técnicas como a sedução, a manipulação e a

demonstração, por exemplo, não desapareceram do universo publicitário. Elas ainda aparecem

na mensagem destinada a convencer e persuadir, contudo, no corpus analisado, a

argumentação é utilizada com maior frequência.

Palavras-chave: Argumentação. Publicidade e Propaganda. Retórica.

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ABSTRACT

This paper aims to analyze advertising strategies used by facing-page advertisements

broadcast by the magazine Veja, Editora Abril. This analysis arises from the need to

understand the discursive strategies used by current advertising, focusing on the use of

argumentation as a strategic resource and less aggressive as compelling as any other form

used (either manipulation or seduction). The argument, born in the old rhetoric, is presented

as a discursive possibility of impact as relevant as any other form. Consisting of a corpus of

11 advertisements broadcast by the magazine Veja, this study showed that the use of

arguments has been widely used in advertising. But we know that techniques such as

seduction, manipulation and demonstration, for example, have not disappeared from the

advertising universe. They still appear in the message intended to persuade and convince,

however, the corpus analysis, the argument is used with more frequency.

Keywords: Argumentation. Advertising. Rhetoric.

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SUMÁRIO

Lista de figuras ......................................................................................................................... 10

Introdução ................................................................................................................................. 11

1 Publicidade e argumentação .................................................................................................. 13 1.1 A publicidade tem uma história ...................................................................................... 13 1.2 Publicidade e propaganda: 2 em 1? ................................................................................ 15 1.3 A linguagem publicitária ................................................................................................ 17 1.4 A relação entre publicidade e argumentação .................................................................. 19

2 Argumentação: o mapa do tesouro ........................................................................................ 22 2.1 Argumentos de enquadramento do real .......................................................................... 27

2.1.1 Autoridade ............................................................................................................... 28 2.1.2 Valores e Pontos de Vista ........................................................................................ 29 2.1.3 Reenquadramento do real ........................................................................................ 31

2.2 Argumentos de vínculo ................................................................................................... 33 2.2.1 A dedução ................................................................................................................ 34 2.2.1.1 Quase lógico .......................................................... Erro! Indicador não definido.

2.2.1.2 Reciprocidade ....................................................................................................... 36 2.2.1.3 Causal ................................................................................................................... 36

2.2.2 A analogia ................................................................................................................ 37

2.2.2.1 Metáfora ............................................................................................................... 38 2.2.2.2 Comparação .......................................................................................................... 38 2.2.2.3 Exemplo ................................................................................................................ 39

3 Publicidade na Veja: Uma proposta de análise ..................................................................... 40 3.1 O veículo ........................................................................................................................ 40

3.2 O corpus ......................................................................................................................... 41 3.3 A análise ......................................................................................................................... 42

Considerações finais ................................................................................................................. 58

Referências bibliográficas ........................................................................................................ 60

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Perfil dos leitores da revista Veja. ........................................................................... 40 Figura 2 - Peça publicitária do Bradesco. ................................................................................. 43 Figura 3 - Peça publicitária da Porto Seguro Centro Automotivo ............................................ 44 Figura 4 - Anúncio do Unibanco .............................................................................................. 45 Figura 5 - Anúncio da Philips. .................................................................................................. 46 Figura 6 - Peça publicitária da Petrobras. ................................................................................. 48 Figura 7 - Anúncio do Banco Real. .......................................................................................... 49 Figura 8 - Anúncio da Claro. .................................................................................................... 50 Figura 9 - Anúncio do Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento. ........................... 51 Figura 10 - Peça publicitária da Novafapi. ............................................................................... 53 Figura 11 - Anúncio da CVC. ................................................................................................... 54 Figura 12 - Peça publicitária da Brasil Foods. ......................................................................... 56 Figura 13 - Uso da argumentação no corpus ............................................................................ 57

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INTRODUÇÃO

É de conhecimento geral que a comunicação exerce inegável influência sobre as

massas. À publicidade, em especial, é constantemente atribuído o poder de alienar o público,

obrigando-o a comprar produtos de toda a sorte. Sabemos que em parte essa corrente de

pensamento possui razão. Em muitos casos a publicidade utiliza-se da manipulação para obter

um determinado resultado. Entretanto, há formas de vender um produto ou serviço e repassar

uma ideologia sem fazer uso de estratégias tão perigosas. A argumentação é uma dessas

formas.

Esse é justamente o objetivo desse trabalho: estudar a argumentação e fazer uma

análise de sua aplicação, bem como a frequência que essa aparece na publicidade impressa.

Contudo, devido à complexidade e extensão do tema, resolvemos trabalhar apenas os

argumentos de vínculo1 por entender que eles são responsáveis pela consumação do raciocínio

argumentativo, ou seja, são a última e decisiva etapa da arte de argumentar. Essa escolha não

desvaloriza o uso de qualquer outra forma de argumentação, ao contrário, sabemos da

importância dos argumentos de enquadramento do real, sem os quais os de vínculo não fariam

qualquer efeito. Dessa forma, também dedicaremos atenção a estes a fim de propiciar ao leitor

o correto entendimento quanto ao uso dos argumentos de vínculo.

O trabalho foi então dividido em três capítulos e considerações finais.

No primeiro capítulo faremos uma breve explanação sobre o surgimento da

publicidade. Faremos uma concisa distinção entre publicidade e propaganda, falando um

pouco sobre a confusão que a utilização desses termos como sinônimos causa no Brasil.

Falaremos sobre a linguagem publicitária. Veremos que existem diferentes formas de se

construir um texto publicitário. Algumas mais “violentas” e outras menos forçosas.

Discorreremos um pouco sobre linguagem verbal e não-verbal, textos racionais, emocionais e

mistos e finalizaremos o capítulo falando da relação que se estabeleceu entre publicidade e

argumentação.

No capítulo seguinte será mostrado o surgimento da argumentação, incluindo

considerações sobre a retórica antiga. Nessa parte, a retórica e argumentação serão mostradas

pela ótica de diferentes autores. A partir de então, discorreremos sobre a divisão do ato de

argumentar. Veremos que alguns autores dividem a argumentação em grupos e que nem

sempre há um consenso na nomenclatura deles e alocação de alguns argumentos. Esse

1 Veja-se no capítulo 2 a divisão dos argumentos proposta por Breton e que foi utilizada como base para o desenvolvimento deste trabalho.

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capítulo possui fundamental importância, pois nele são apresentadas as variáveis (tipos de

argumento) que são utilizadas na análise dos textos publicitários.

Intitulado “Publicidade na Veja: uma proposta de análise”, o último capítulo iniciará

falando sobre o objeto de estudo. Trata-se de anúncios veiculados na revista Veja. Será

possível encontrar nessa parte informações gerais sobre o veículo em questão, incluindo um

gráfico simples mostrando o perfil dos leitores da revista.

Após delimitação do corpus de estudo, os anúncios foram digitalizados e inseridos no

presente trabalho. Verificou-se, porém, que grande parte dos textos que compunham os

anúncios ficaram ilegíveis. Para solucionar a questão apresentada, transcrevemos a parte

textual que seria analisada. Essa ação teve por finalidade proporcionar ao leitor a correta

compreensão e acompanhamento da análise desenvolvida.

A finalização do trabalho ocorre com as considerações finais, um conjunto de

informações e conclusões que se obteve após a análise dos anúncios selecionados. Saberemos

se a publicidade utiliza ou não a argumentação como meio para atingir suas metas.

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1 PUBLICIDADE E ARGUMENTAÇÃO

1.1 A publicidade tem uma história

O nascimento da propaganda gera controvérsia entre diversos autores. A utilização dos

termos publicidade e propaganda como sinônimos também divide opiniões2. Alguns

defendem que a propaganda data da era das cavernas. Essa corrente de autores afirma que

“quando o homem das cavernas pendurava uma pele de animal na entrada da sua caverna,

esse cidadão pré-histórico já estaria fazendo o seu comercialzinho aos interessados no

produto.” (MARTINS, 1999, p. 35).

Gomes (2001) relata que a publicidade é mais antiga que a propaganda. Para a autora,

a publicidade existiu “desde que o homem, artesanalmente, produziu algum bem de consumo

e tentou persuadir outro homem a adquiri-lo.” (p.115).

Sobre o surgimento da propaganda, Gomes (2001) diz que essa é originária da Igreja

Católica. Segunda a autora, só é possível falar em propaganda a partir da Congregatio

Propaganda Fide, organização criada pelo Papa Gregório XV em 1622. Essa data específica

da história da propaganda é outro ponto que não partilha de unanimidade entre os estudiosos

da área. Martins (1999), fala que a Congregatio Propaganda Fide foi criada por outra

autoridade eclesial, o Papa Urbano VIII, 11 anos depois da data informada por Gomes, em

1633.

Dessa forma, a Igreja Católica Apostólica Romana figura como instituição

importantíssima para se compreender o surgimento da propaganda. Com o intuito de manter

seus fieis e conquistar novos seguidores, ela propagava a fé em Jesus Cristo, alertando para o

arrependimento dos pecadores e a realização de boas ações a fim de obter a salvação eterna.

Com o advento da Revolução Industrial, a publicidade ganhou forças. Antes, o sistema

de produção era artesanal ou manufaturado. Utilizava basicamente a mão de obra artesã.

Como os produtos levavam tempo para ficar prontos, a relação entre oferta e demanda era

harmoniosa. No entanto, esse quadro sofreu alteração a partir do século XVII, inicialmente na

Inglaterra. A Revolução Industrial modificou a forma de produção. Muito do que antes era

produzido manualmente, com a Revolução passou a ser feito por meio de máquinas. Os

trabalhadores tinham então a função de operar os maquinários. Dessa forma, a capacidade de

produção foi aumentada significativamente e estoques começaram a ser gerados. Percebeu-se

2 A diferenciação entre os termos publicidade e propaganda será abordada na próxima seção.

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então, a necessidade de encontrar um método para vender as mercadorias produzidas, agora

em grande escala. Potencializou-se assim, o uso da publicidade objetivando, acima de tudo,

vender tudo o que era produzido.

Décadas depois, a sociedade vive outro momento que serviu como base para a

utilização e aperfeiçoamento da propaganda. É de comum acordo entre os estudiosos da

comunicação que a propaganda ganhou grande destaque pelas mãos de Joseph Goebbels3, um

dos principais responsáveis pela ascensão nazista. Estratégias de comunicação desenvolvidas

naquela época levaram a uma considerável aceitação sobre a discussão da chamada raça pura,

dando início assim a um importante e trágico evento da história mundial. O Nazismo

utilizava-se amplamente de estratégias comunicativas para propagar sua visão de mundo.

Foi então depois da Segunda Guerra Mundial que a publicidade se aproximou do que é

hoje. As técnicas evoluíram, foram aprimoradas e ganharam planejamento. O final da década

de 50 proporcionou mais um progresso para a publicidade. A ampliação dos meios de

comunicação, principalmente aqueles que se aproveitaram do desenvolvimento eletrônico da

última guerra, proporcionaram o aperfeiçoamento das técnicas existentes e o surgimento de

novas. A partir de então, a publicidade passa a ser concebida levando em consideração várias

estratagemas de criação. Os textos publicitários passaram a ter mais enfoque nas funções da

linguagem, começaram a explorar diversas maneiras de se construir um discurso, além da

importância da imagem que agora ganhava mais força pela qualidade das cores e sua

facilidade de aplicação.

Nas últimas décadas, a publicidade ganhou novos espaços. Novos meios de

comunicação surgiram. O nascimento da internet revelou novas possibilidades de fazer

publicidade e propaganda. Os recursos audiovisuais foram potencializados. Agora as

propagandas levam em consideração a opinião dos consumidores. Eles podem, por meio da

internet, expor seus pontos de vista sobre determinado produto ou serviço, falar sobre suas

expectativas a respeito do novo modelo de carro da marca X, elogiar o serviço de bordo da

empresa de aviação civil Y, expressar seu descontentamento sobre o sabor do novo

refrigerante de morango da marca Z.

O que antes tinha apenas o papel como meio para chegar aos consumidores, hoje

possui uma infinidade de possibilidades para fazer chegar a sua mensagem persuasiva. Os e-

mails que agora recebem publicidade constantemente e até mesmo os aparelhos de telefone

móveis que recebem mensagem de texto oferecendo um desconto de x% na próxima compra

3 Ministro do Povo e da Propaganda na Alemanha Nazista, Goebbles participou ativamente do governo de Adolf Hitler controlando as instituições de educação e meios de comunicação.

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com o cartão de crédito K, servem como exemplo desse progresso pelo qual passou e vem

passando a publicidade e propaganda.

A história da publicidade não termina com uma simples descrição de função ou de

formatos utilizados através dos tempos, ao contrário, o conhecimento desta história abre as

portas para novas formas de produção textual que transforme os textos em elos essenciais da

interação entre produtor e consumidor. Esse elo tende a ser construído não apenas em

sentindo único, ou seja, os dois elementos desse contexto de comunicação possuem

participação ativa na comunicação estabelecida.

1.2 Publicidade e propaganda: 2 em 1?

No Brasil, na prática, as palavras publicidade e propaganda são usadas como

sinônimos, contudo na teoria, existe diferença. Em que não há discordância é no significado

da palavra propaganda. Há um consenso unânime entre os estudiosos de comunicação que diz

que propaganda se refere à propagação de idéias. Dessa forma, a propaganda é responsável,

basicamente, por disseminar ideologias, repassar pontos de vista e fomentar discussões, sem

ter pretensões comerciais. Por outro lado, quando se fala em publicidade, a lógica mercantil é

predominante. Ela encontra sua centralidade na exploração de características benéficas de

produtos ou serviços, objetivando despertar no cliente o desejo de usufruir daquele objeto

anunciado.

Em outras culturas como a inglesa e alemã essa distinção é fortemente concebida. Há

nessas culturas uma divisão clara do que é propaganda e do que é publicidade, o que evita o

uso dos termos como sinônimo, não só na teoria como também na prática.

Em linhas gerais, a diferença entre publicidade e propaganda se dá pela presença ou

não do viés mercantil.

Enfocando a publicidade na sua concepção atual, podemos observar como, efetivamente, possui três elementos que a identificam e a diferenciam de outros conceitos: a) Capacidade informativa; b) Força persuasiva; c) Caráter comercial. Também se pode analisar na propaganda, numa mesma concepção atual, seus três elementos identificadores e diferenciadores: a) Capacidade informativa; b) Força persuasiva; c) Caráter ideológico. (GOMES, 2001, p. 115, grifo nosso).

Porém, como dito antes, no Brasil isso se reduz a uma mera questão de nomenclatura.

A publicidade permanece no seu papel, mas a propaganda invade o espaço de sua “irmã”.

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Em português publicidade é usado para a venda de produtos ou serviços e propaganda tanto para propagação de ideias como no sentido de publicidade. Propaganda é, portanto, o termo mais abrangente e o que pode ser usado em todos os sentidos. (SANDMANN, 2001, p.10).

Outros autores preferem não se aterem nessa questão da nomenclatura. Predebon

(2004) reforça a idéia de que na atualidade essa diferenciação é apenas de caráter

terminológico. Entramos numa agência de propaganda e encontramos publicitários

trabalhando ali, e não propagandistas.

Ao vermos um comercial na televisão, por exemplo, nos referimos a ele como

propaganda e não como publicidade. Perguntaríamos, sem grandes preocupações, a um amigo

no meio de uma conversa, você viu a nova propaganda do sapato X? Ele poderia responder

que sim ou não, mas entenderia a pergunta. Dessa forma, podemos perceber que o termo

propaganda possui mais destaque que publicidade, e é, então, usado para representar tanto a

propagação de ideologias, como também para divulgar produtos ou serviços de caráter

comercial.

Vale ressaltar ainda, que o termo propagandista refere-se especificamente aos

profissionais que atuam divulgando produtos da indústria farmacêutica. Ou seja, não é

exclusivo de quem faz propaganda, levando o termo pela sua nomenclatura, pois se assim

fosse, poderíamos chamar de propagandistas os profissionais que atuam divulgando

ideologias na política e na igreja, por exemplo.

A questão é um pouco contraditória. Apesar de não haver uma preocupação em se

fazer uma distinção entre publicidade e propaganda no cotidiano, os cursos que formam

profissionais habilitados nessa área do conhecimento trazem os dois termos lado a lado,

reforçando assim a existência de uma diferença entre um termo e outro, que se trata de coisas

distintas.

Há também os autores que defendem o seguimento das terminologias destinadas a

palavra publicidade e propaganda. No XXV Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares (INTERCOM), ocorrido no ano de 1997, debateu-se sobre a necessidade de

se utilizar os termos publicidade e propaganda fazendo referência aos seus respectivos

significados. O intuito desse grupo de estudiosos é fazer com que o país siga o padrão

internacional. Gomes (2001) destaca que

Esta confusão semântica se dá apenas no Brasil, o que vem dificultando o diálogo acadêmico entre brasileiros e estrangeiros. A atuação de profissionais brasileiros no mercado português exemplifica bem esta falta de rigor no uso do vocabulário apropriado por parte dos nossos profissionais. (p.111).

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Se por um lado existe de fato uma distinção entre os dois termos, por outro eles

convivem harmoniosamente no dia-a-dia dos profissionais dessa área, pelo menos no Brasil.

Então, seguindo o exemplo de diversos autores, não nos ateremos à polêmica da divergência

das terminologias em questão. Adotaremos aqui o termo publicidade para designar tanto os

anúncios de caráter mercantil como o de repasse de ideologias, visto que esse último aparece

em menor escala no veículo de comunicação do qual o corpus foi retirado.

1.3 A linguagem publicitária

A forma como a publicidade se apresenta ao receptor sofre variações. Sua linguagem

se ajusta conforme o meio de comunicação o qual será veiculada. No rádio, por exemplo, há a

ausência do recurso visual, dessa forma, recai sobre a linguagem verbal a responsabilidade de

repassar a mensagem, contando apenas com recursos sonoros.

Vestergaard e Schrøder (2000) distinguem a comunicação em duas categorias, a saber:

mensagem verbal e mensagem não-verbal. Eles dizem que

Essa definição refere-se ao uso ou não da linguagem verbal. A linguagem verbal é o nosso veículo de comunicação mais importante, mas, ao dialogarmos, a fala vem acompanhada de gestos e de posturas mediante os quais nos comunicamos de forma não-verbal. O emprego simultâneo da comunicação verbal e não-verbal. O emprego simultâneo da comunicação verbal e não-verbal constitui um elemento extremamente importante da nossa cultura. Encontramos os dois tipos no teatro, cinema, televisão, histórias em quadrinhos e na maior parte dos anúncios. (p.13)

No meio impresso o texto publicitário aparece geralmente ancorada a uma imagem.

Um complementa o outro. Até existem caminhos criativos que trabalham a relação entre texto

e imagem como oposição, mas mesmo nesses casos, a imagem e o texto possuem papeis

determinados e ambos trabalham juntos no repasse da mensagem.

A relação entre texto e imagem possui inegável importância para a publicidade.

Existem ramos da ciência que desenvolvem análises tendo o apelo visual como foco. Nesse

trabalho iremos nos ater especificamente à mensagem verbal.

Segundo Vestergaard e Schrøder (2000), para que haja comunicação é necessário a

existência de pelo menos duas pessoas. Uma delas que emite a mensagem e a outra que

recebe. O objeto que é transmitido entre os dois participante é denominado significado.

Contudo esse significado necessita de um código para ser materializado. Há ainda uma esfera,

denominada canal, por onde a mensagem é comunicada. Tudo isso acontece em um

determinado contexto. Fazem parte desse contexto situações vividas pelos membros que

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participam dessa comunicação, levando em consideração não só as ações ligadas diretamente

ao que é comunicado, como também outras questões pessoais e sociais. Essa fórmula

caracteriza o modelo básico pela qual uma comunicação é estabelecida.

Também na comunicação publicitária é possível identificar cada componente desse

modelo.

O emissor é o anunciante e o receptor é o leitor, o significado transmitido refere-se ao produto [...], o código (no caso do anúncio impresso) é a linguagem [...], o canal consiste em publicações impressas e o contexto inclui aspectos como a situação do leitor [...], a publicação em que o anúncio aparece e [...] o conhecimento de que o texto é um anúncio. (VESTERGAAD; SCHRØDER, 2000, p.15-16).

Para Sandmann (2003) “a linguagem da propaganda se distingue [...] pela criatividade,

pela busca de recursos expressivos que chamem a atenção do leitor, que o façam parar e ler ou

escutar a mensagem que lhe é dirigida.” (p.12).

Há quem classifique a linguagem publicitária como sedutora. Os estudiosos que

defendem essa ideia citam como exemplo do uso da sedução a ampla utilização da imagem

feminina de forma erotizada, com conotação sexual.

Outros a veem como domínio da manipulação. Carvalho (2007) diz que “na realidade,

a linguagem publicitária usa recursos estilísticos e argumentativos da linguagem cotidiana, ela

própria voltada para informar e manipular.” (p.9). O próprio Breton caracteriza a manipulação

como a mensagem arquitetada com a única intenção de obter adesão. Ela difere da

argumentação quando mascara suas técnicas. Enquanto que na argumentação o auditório pode

aderir ou não à tese, na manipulação não há essa liberdade. Pela manipulação o auditório é

levado a esboçar determinada reação que, inclusive, pode até ser contra seus princípios éticos,

por exemplo.

Contudo, há uma unanimidade no que diz respeito a uma característica especifica da

construção textual para anúncios publicitários. É de comum acordo entre os estudiosos e

profissionais da área que o texto publicitário só conseguirá repassar sua mensagem se esse

estiver fundamentado em elementos pertencentes ao repertório do público-alvo.

Dessa forma, o que diferencia a linguagem publicitária das demais, segundo o autor, é

a utilização de forma racional desses recursos estilísticos e argumentativos. Eles estão

presentes em grande parte dos, senão em todos, atos comunicativos do ser humano por meio

da fala. Porém na publicidade, os redatores conduzem esses recursos com uma finalidade pré-

determinada. Eles redigem os textos já tendo um objetivo em vista, vender um produto ou

serviço.

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A construção de um texto publicitário pode ser feita levando em consideração

diferentes caminhos criativos. É possível trabalhar centrado nas funções da linguagem,

explorar a sedução, pegar recursos emprestados de outros universos, entre outros métodos de

redigir um texto para anúncios. Uma das formas mais conhecidas de redação publicitária é a

que consiste em separar os textos em três grandes grupos: o texto racional, texto emocional e

texto misto. Essa divisão se dá levando em consideração a direção que o texto toma. Se ele

constrói um raciocínio fundamentado em fatos concretos, verídicos, geralmente quantitativos,

ele será considerado como racional. Por outro lado, se o texto de um anúncio é repleto de

elementos abstratos, apelando para os sentimentos, utilizando geralmente a narração para

repassar sua mensagem, este será classificado como emocional. E, finalmente, o texto será

considerado misto se houver a mescla de elementos pertencentes aos dois grupos anteriores.

Sabendo disso, vários profissionais elaboram seus textos publicitários tendo em mente

o valor que a linguagem possui. As técnicas criativas podem até variar, mas nas peças

publicitárias em que o texto aparece, ele, geralmente, possui grande importância. Vale aqui

transcrever parte de uma entrevista feita com um redator publicitário e que se encontra no

livro “Publicidade: a linguagem da sedução”, de autoria de Nelly de Carvalho4.

Para pensar uma campanha, a retórica é um recurso importante. No meu caso particular, penso qualquer mensagem como uma macrofigura de linguagem e a primeira escolha é a figura a servir de base para o texto e a imagem. A campanha pode ser pensada em termo de hipérbole, pleonasmo, metonímia ou metáfora. Após a escolha, sigo o caminho traçado: o do exagero ou da repetição, ou da parte pelo todo, ou da simbologia. Quanto à escolha do vocabulário, a nível dos signos, deve ser sempre simples, com termos conhecidos e corriqueiros. O que vai valorizá-los e ampliá-los serão as relações que se estabelecem: a polissemia, a oposição, o duplo sentido para um termo bastante conhecido. (p.29).

Vimos então, que existem várias formas de se construir um texto publicitário. No

presente trabalho analisaremos uma delas: a argumentação.

1.4 A relação entre publicidade e argumentação

A argumentação é encontrada em grande escala nos processos de comunicação do ser

humano. No cotidiano estamos frequentemente utilizando-a para expor nosso ponto de vista

sobre determinado assunto, fazer ou recusar um convite para almoçar fora, convencer alguém

a servir de companhia em um determinado evento etc.

4 Ver referências bibliográficas.

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Na linguagem publicitária não seria diferente. Tendo em mente que um anúncio

publicitário é pensado de forma a convencer e/ou persuadir o público a consumir e a

argumentação é exatamente a arte que trabalha esses dois elementos, não é difícil

compreender porque o discurso publicitário apela aos procedimentos retóricos para atingir

seus objetivos.

A argumentação se caracteriza por oferecer elementos objetivando a adesão do

auditório a tese que lhe é proposta. Se em um anúncio publicitário se encontra uma série de

fatores que levam o auditório a formular sua tese a respeito daquele produto, ele pode ser

caracterizado como argumentativo. Aliás, classificar algo como exclusivamente

argumentativo é tarefa complicada segundo Breton (2003). O autor nos diz que, assim como

grande parte das discussões das ciências humanas, a classificação de uma coisa como

pertencendo exclusivamente a isso ou aquilo não é fácil e quase nunca se encontra um

consenso entre os estudiosos. Com a argumentação não é diferente.

Breton (2003) faz uma divisão sobre as maneiras utilizadas para convencer. Ele as

divide em: manipulação, sedução, propaganda, argumentação e demonstração. Contudo, o

próprio autor diz que essa divisão possui apenas caráter teórico, pois na prática essas maneiras

encontram-se interligadas a tal ponto que dificulta ou até mesmo torna impossível a

classificação precisa de cada uma delas. Ele fala que:

Esta separação dos diferentes meios utilizados para convencer é menos simples do que parece, na prática. Uma das características mais importante das ações humanas é, na realidade, além de sua complexidade, o fato de parecerem sempre mobilizar, de maneira indivisível, toda a riqueza das possibilidades. Assim encontramos raramente situações puras de sedução, de demonstração ou de argumentação. (BRETON, 2003, p.11).

A publicidade trabalha então com os distintos modos de convencimento. O autor

atribui a isso o segredo do sucesso que a publicidade moderna alcançou.

Os anúncios publicitários trazem em seus textos elementos que proporcionam ao

auditório partilhar da ideia vendida. A publicidade moderna deixa que o auditório tire suas

próprias conclusões, contudo essas próprias conclusões não têm nada de próprias, pois todos

os argumentos usados na peça publicitária já indicam o caminho a ser seguido, a conclusão a

ser tomada.

Se nenhum discurso é desprovido de intenção, o publicitário é que não seria mesmo.

Mesmo que uma peça publicitária não seja encerrada com a expressão “compre agora”, ela

pretende concretizar a venda de um produto ou serviço. Dessa forma, ela fornece pistas,

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elementos, argumentos, para que o público-alvo chegue àquela conclusão. Ou seja, ela não

precisa necessariamente exprimir uma ordem para que o público obedeça. Oferecendo os

argumentos certos o auditório tem a falsa impressão de que está tomando a decisão por si só,

quando na verdade foi criado um ambiente propício para que ele tomasse aquela decisão. Ele

é influenciado, geralmente de forma sutil, a tomar aquela postura e praticar determinada ação.

Quando uma marca de produtos de beleza diz em seu anúncio que toda mulher precisa

de cuidados especiais e que seu novo xampu traz em sua fórmula um componente exclusivo,

com óleo de semente de girassol combinado com algas marinhas, que protege os cabelos

contra os raios ultravioletas, ela não precisa encerrar a publicidade expressando uma ordem

direta de compra ao auditório. Esse já fará sua “própria” conclusão: devo comprar esse xampu

para me proteger dos fatores nocivos do sol.

“O intuito da publicidade é aconselhar o público a julgar favoravelmente um

produto/serviço ou uma marca, o que pode resultar numa ação ulterior de compra”

(CARRASCOZA, 2004, p.39).

É dessa forma que a argumentação se faz presente no texto publicitário. Ela evoca

assertivas objetivando uma conclusão já definida.

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2 ARGUMENTAÇÃO: O MAPA DO TESOURO

A argumentação há muito figura como proposta central de inúmeras obras didáticas.

Desde a antiguidade, alguns estudiosos dedicaram extensos escritos sobre a retórica e a

argumentação. Abreu (2007) relata em seu livro “A arte de argumentar. Gerenciando razão e

emoção.” que a retórica surgiu na Grécia antiga, mas precisamente em Atenas, por volta de

427 a. C.. Aristóteles concebia o modo de raciocinar dividindo-o em dois métodos básicos:

por demonstração analítica ou por argumentação dialética. Contudo, com a evolução do

pensamento filosófico, a dialética ganhou descrédito. Perelman (1996) iniciou seus estudos já

tendo em mente esse descrédito. No prefácio à edição brasileira, escrito por Fábio Úlhoa

Coelho, é possível entender melhor esse descrédito.

Relegada ao plano dos sofismas, identificada às técnicas de persuasão sem compromisso ético, aos discursos vazios de oradores hábeis em convencer auditórios, quaisquer que fossem as teses, a dialética não alcançou o estatuto de seriedade e consistência. (PERELMAN, 1996, p.XII).

Na medida em que “a teoria da argumentação, da ação sobre os espíritos por meio do

discurso [...] considerada pelos gregos, com o nome de retórica.” (PERELMAN, 1996, p.9)

ganhava descrédito, a demonstração analítica encontrava força na filosofia e posteriormente

na ciência por se valer de métodos rigorosos para demonstrar de forma racional a verdade

sobre os fatos. A grande importância dada à razão por Descartes encorajou a visão

discriminatória da argumentação dialética.

Os literatos também estudavam a argumentação. Eles não viam a argumentação como

algo danoso, contudo a estudavam com uma conotação tradicionalmente linguista. Foi

somente em 1958, com a publicação do “Tratado da argumentação”, de Chaïm Perelman e

Lucie Olbrechts-Tyteca, que a argumentação ganhou forças novamente.

Este, que tem como subtítulo “A nova retórica”, figura como indispensável ao estudo

dessa forma de perceber o ato argumentativo. O autor retoma os estudos de Aristóteles,

defendendo que determinadas discussões pertenciam a retórica e outras a ciência. O papel

principal dessa obra era romper com a concepção de que a retórica seria algo nocivo, utilizada

apenas para persuadir sem ética ou pudor não se importando com as técnicas utilizadas para

conseguir atingir seus objetivos.

Para Descartes e seus seguidores, a demonstração cientifica era imensamente superior

a dialética, pois esta era pautada em cima de fatos passíveis de verificação. Fatos verídicos,

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racionais e científicos. Com todo esse enfoque dado a razão, os estudos de Aristóteles sobre a

“arte de convencer” ficaram esquecidos por muito tempo, até que Perelman coloca a

argumentação em pauta novamente. Ele a define como sendo o “estudo das técnicas

discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que se lhes

apresentam no assentimento” (PERELMAN, 1996, p.4). Quando argumentamos temos um

propósito. Possuímos um ponto de vista acerca de algo e queremos partilhá-lo com o

auditório5, e para isso utilizamos argumentos. Contudo, não se trata apenas de demonstrar

esse ponto de vista, mas de fazer com que o auditório partilhe da ideia apresentada e a absorva

em sua totalidade ou mesmo em partes especificas. A partir de então, outros autores

explanaram um pouco mais sobre o assunto.

Dessas reflexões vingaram outras ainda mais profícuas, dentre elas a de Breton (2003)

afirma que o convencimento humano se dá por formas distintas. Como vimos, o autor divide

essas formas de convencimento em cinco categorias, a saber: manipulação, propaganda,

sedução, argumentação e demonstração. Pela divisão de Breton fica claro que argumentar é

diferente de demonstrar. Esta última pertence à ciência, estando fincada na razão. A

demonstração é o “conjunto de meios que permitem transformar uma afirmação ou um

enunciado em um fato estabelecido, que ninguém poderá contestar, a menos que se oponha a

ele um outro enunciado mais bem demonstrado”. (BRETON, 2003, p. 9-10). Dessa forma

ninguém duvida da Lei da gravitação universal6, pois se trata de um fato cientifico testado e

demonstrado ao qual não abre espaço para contestação sem outro enunciado mais bem

demonstrado. Por outro lado, a argumentação se vale tanto da razão quanto da emoção. Ela

pertence à retórica e “constitui um meio poderoso para fazer partilhar uma opinião”. (2003,

p.11). Breton diz que “argumentar é mais do que simplesmente conceber um argumento. É

também, mais globalmente comunicar, dirigir-se ao outro, propor-lhe boas razões para ser

convencido a partilhar de uma opinião.” (2003, p.64).

Já Koch (2006) concebe a argumentação por um viés mais social. Para ela,

o ato de argumentar, isto é, de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo. (p.19).

5 Perelman classifica o auditório em universal ou particular. No presente trabalho não iremos nos ater a essa diferenciação. Utilizaremos o termo nos ferindo a indivíduo ou conjunto de pessoas que se deseja influenciar. 6 Postulada por Isaac Newton, físico inglês, segundo o qual dois objetos quaisquer se atraem gravitacionalmente através de uma força que depende das massas desses objetos e da distância existente entre eles.

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Segundo a autora, nenhum discurso é desprovido de intenção, a neutralidade pode ser

considerada um mito. Sempre há algo que o motiva. Por mais que nossa intenção não fique

explícita claramente, haverá sempre um implícito em nossa fala. “Quem fala tem certas

intenções ao comunicar-se. Compreender uma enunciação é, nesse sentido, apreender essas

intenções.” (2006, p.22). A própria escolha dos argumentos a serem utilizados em nossa fala

constitui o nosso ponto de vista, por mais que esse não fique claramente exposto no discurso.

É nesse sentido que a autora vê a argumentação por uma ótica social. Ela defende a ideia da

importância de se analisar o que tem por trás dos atos da fala. Pois “nem sempre a

comunicação se dá de maneira transparente, com a única intenção de informar.” (2006, p.25).

Ao argumentarmos com um auditório queremos que esse pense como nós ou pelo

menos de forma semelhante. Ou seja, quando um orador inicia seu discurso ele já tem claro

em sua mente qual o propósito para tal ação. Ele possui uma conclusão acerca de determinada

coisa e deseja repassar essa ideologia. Dessa forma, utilizará a argumentação pretendendo que

o auditório pense na mesma linha de seu raciocínio.

Vale ainda ressaltar, que consta na introdução de seu livro, escrita por Luís Antônio

Marcuschi, uma profunda preocupação em fazer entender que a função básica da linguagem é

argumentar, e registra:

A autora define o uso dos mesmos explicando que neste caso eles não se inscrevem no contexto lógico-formal com valor de prova, mas no âmbito da retórica. Com isso, o ato de argumentar é visto como o ato de persuadir, que procura ‘atingir a vontade’, envolvendo a subjetividade, os sentimentos, a temporalidade, buscando a adesão e não criando certezas. (p.12)

Essa preocupação fortalece com a argumentação no sentido de que envolvimento é

uma tentativa de sensibilização do outro para a adesão ao seu discurso (ou à sua tese), essa

sensibilização, segundo Marcuschi, também percorre caminhos não-lógicos. O objetivo não é

criar sentido, mas algum tipo de vínculo afetivo.

Abreu, por sua vez, estuda a argumentação partindo do convencimento e da persuasão.

Ele diz que “argumentar é a arte de convencer e persuadir”. (ABREU, 2007, p.25).

Argumentar é repassar uma idéia objetivando a adesão do auditório ao que foi proposto. Não

é desconstruir o discurso do outro e impor o nosso. Breton lembra que a preocupação com o

convencimento se qualifica como uma renúncia a violência física. Quando resolvemos

argumentar com um auditório nos propondo a partilhar determinadas ideologias, estamos de

certa forma abrindo mão de utilizar a força física para que o auditório realize a ação ou tome a

postura que nos queremos que este faça.

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Weston (1994) pensa semelhante a Abreu (2007) e também exalta a importância da

argumentação. Segundo o autor, argumentar é fomentar a formação de conclusões. Um orador

fornece razões para que o auditório aceite seu ponto de vista e formule ele mesmo suas

conclusões.

Diante do exposto acima, podemos concluir que argumentar é oferecer elementos que

façam com que o indivíduo tenha a mesma visão de mundo que nos temos, ou que queremos

que ele tenha, e dessa forma conseguirmos que ele defenda determinada ideia ou pratique

determinadas ações. Fazer um “acordo prévio” com quem se pretende convencer e,

posteriormente, formular nossos argumentos. É, em instância geral, apresentar argumentos

objetivando a adesão ao nosso ponto de vista.

Decidimos trabalhar com a argumentação em seu contexto prático. Estudá-la através

de sua utilização na publicidade, analisando quais as principais estratégias argumentativas

usadas pelos publicitários para repassar sua mensagem e conseguir a “adesão dos espíritos”.

Veremos a argumentação como uma importante ferramenta de persuasão e convicção das

pessoas. A utilização da razão e emoção na arte do bem falar. A forma como os argumentos

são expostos pela publicidade e suas pretensões constituem o cerne desse trabalho.

Analisar um discurso é identificar sua forma de construção, argumentos utilizados,

auditório a quem se destina e sua finalidade. Há varias maneiras de se construir um discurso e

modos de conduzi-lo. Como vimos, ele pode ser do tipo racional, emocional ou misto, por

exemplo.

Na comunicação, retórica e argumentação são as bases para que se possa compreender

as formas de construção de um discurso. Perelman nos explica a importância em distinguir o

termo persuadir do termo convencer. Ele fala que:

Para quem se preocupa com o resultado, persuadir é mais do que convencer, pois a convicção não passa da primeira fase que leva à ação. (...) Em contrapartida, para quem está preocupado com o caráter racional da adesão, convencer é mais do que persuadir. (PERELMAN, 1996, p. 30)

Carrascoza se utiliza da definição de Perelman e nos explica melhor essa diferença.

Em seu livro “A Evolução do Texto Publicitário” diz que:

Um discurso que deseja convencer é dirigido à razão por meio de raciocínio lógico e provas objetivas, podendo atingir um auditório universal. O discurso que deseja persuadir tem um caráter mais ideológico, subjetivo e intemporal: busca atingir a vontade e o sentimento do interlocutor por meio de argumentos plausíveis ou verossímeis, visando obter a sua adesão, dirigindo-se assim mais para um auditório particular. (CARRASCOZA, 1999, p. 17)

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Percebe-se que a sutil diferença entre persuadir e convencer está na escolha dos

argumentos utilizados para compor o discurso. Quando se apela para a razão deve-se

empregar o termo convencer. Já quando se dirige a emoção fala-se em persuadir.

No entanto, para que se possa utilizar técnicas de persuasão ou de convencimento é

necessário a existência de um auditório. Ele é o público a quem se destina a mensagem. O

orador se dirigirá a ele e empregará argumentos para repassar seus valores e ideologias.

Contudo o auditório não se prende somente ao papel de sujeito passivo. Ele tem função ativa

importantíssima, pois para que o orador formule as técnicas que empregará bem como a

abordagem que utilizará para influenciá-lo, deve ter conhecimento do repertório7 do auditório

em questão. O próprio auditório influencia o comportamento e a argumentação do orador.

Breton (2003) e Abreu (2007) apesar de utilizarem Perelman (1996) como principio,

em algumas ocasiões, classificam as famílias de argumentos de forma diferente. As definições

permanecem em consonância com Perelman, o que ocorre é uma pequena mudança na forma

de classificar, de alocar os tipos de argumento. Abreu concebe seus estudos dividindo as

técnicas argumentativas em tese de adesão inicial e tese principal, o que encontraremos em

Breton com a nomenclatura de argumentos de enquadramento do real e argumentos de

vínculo. Seguiremos então, o raciocínio de Breton, porém quando avaliarmos que Abreu

defini melhor um tipo de argumento, faremos utilização dessa definição para termos uma

clara compreensão da maneira de concebermos esse argumento específico.

Após fazer a divisão das formas de convencimento humano (manipulação, sedução,

demonstração, entre outras), o que, aliás, tem caráter mais teórico do que prático, segundo o

próprio autor, Breton (2003) classifica a argumentação como uma forma a parte. Ele diz que a

argumentação não se insere totalmente nem na demonstração científica, nem na violência

persuasiva ou uso da sedução. O autor divide o ato argumentativo em duas etapas: o

enquadramento do real e o vínculo. Ele diz que para que a argumentação obtenha o resultado

esperado é necessário que se construa um “acordo prévio” com o auditório. Os argumentos de

enquadramento do real são responsáveis por estabelecer esse acordo. Eles preparam o terreno

para que a segunda etapa.

A segunda etapa consiste em ligar o real ao nosso ponto de vista por meio dos

argumentos de vínculo. É aqui que se partilha de argumentos visando o convencimento. Cada

uma dessas etapas é constituída por famílias de argumentos, contudo as duas são intimamente

7 Conjunto de conhecimento prévio que os indivíduos possuem sobre determinado assunto

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ligadas, pois não se convence usando apenas uma delas. Os argumentos de vinculo pedem,

necessariamente, que haja uma interação anterior. Da mesma forma, os argumentos de

enquadramento do real estabelecem um “acordo prévio”, mas não são suficientes para

partilhar o nosso ponto de vista e indicarem uma ação com o propósito de obter o

convencimento ou a persuasão do auditório determinado. Vale ressaltar que:

Inicialmente é muito difícil de separar tecnicamente os dois níveis da argumentação, pois o enquadramento do real pode desembocar rapidamente em um vinculo com a tese. A instantaneidade deste encadeamento pode ser um fator de eficiência na argumentação, pois o enunciado parecerá formar um todo indissociável e coerente. (BRETON, 2003, p. 68).

Apesar de o presente trabalho ter a proposta de verificar a forma e frequência da

utilização dos argumentos que constituem a segunda etapa do “duplo gatilho argumentativo”,

devido a esse “todo indissociável”, faz-se necessário explanar os argumentos que compõe a

primeira etapa da arte de argumentar. Entendemos que essa explanação será de grande

importância inclusive para tornar melhor a compreensão das variáveis escolhidas para a

análise do corpus.

Os argumentos do enquadramento do real, que constituem a primeira etapa do ato

argumentativo, são classificados como: autoridade, valores e ponto de vista e

reenquadramento. Já os argumentos de vínculo, que representam as variáveis escolhidas para

o desenvolvimento desse trabalho, são classificados como: dedutivo e analógico.

2.1 Argumentos de enquadramento do real

Os argumentos de enquadramento do real têm como papel fundamental construir um

“acordo prévio” com o auditório. Constituem a primeira etapa do ato argumentativo. Eles

servem como cenário onde o ato de argumentar se concretiza, ou nas palavras de Breton “o

enquadramento do real constitui o fundo no qual a opinião proposta encontrará

harmoniosamente seu lugar.” (2003, p. 75). Dessa forma, enquadrar o real caracteriza-se

como parte indispensável ao processo argumentativo. O estabelecimento desse “acordo

prévio” se dá principalmente por três maneiras, segundo o autor. Ele divide os argumentos de

enquadramento do real em: autoridade, valores e pontos de vista e reenquadramento.

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2.1.1 Autoridade

A primeira categoria de argumentos que constituem o enquadramento do real, a

autoridade, é subdivida em outras três categorias, a saber: competência, experiência e

testemunho.

O argumento de autoridade centrado na competência diz respeito ao conhecimento que

determinado individuo possui a cerca daquela proposição. Contudo, esse conhecimento não

pode ter sido adquirido de qualquer forma, é necessário que o orador que enuncia esse

argumento possua de fato uma autoridade para o fazê-lo. “O argumento de competência supõe

que haja previamente uma competência cientifica, técnica, moral ou profissional que vai

legitimar o olhar sobre o real que deriva dela.” (BRETON, 2003, p. 81). Nessa categoria de

argumentos de autoridade encontra-se a utilização de dados divulgados por institutos, órgãos

especializados em determinados assuntos e etc. Como exemplo, podemos citar a necessidade

de se criar milhares de postos de vagas de emprego, pois, segundo dados do SINE/IDT, uma

grande percentagem da população brasileira encontra-se desempregada. Aqui se usou a

autoridade de dois institutos que tem competência para falar sobre o assunto, pois são

especializados no tema e desenvolvem estudos e pesquisas relacionadas à empregabilidade em

âmbito nacional.

A segunda classe de argumentos de autoridade é conhecida como experiência. Esse

argumento não necessita que haja perícia por parte do enunciador, contudo é indispensável

que este possua experiência sobre o fato enunciado. Breton (2003) relata a história de um

advogado, que defendendo um cliente que colocava escutas telefônicas, relatou que ele

próprio, o advogado, já tivera seu telefone grampeado. O fato dava ao advogado a experiência

e, portanto, a autoridade para versar sobre o assunto.

O último componente do argumento de autoridade é denominado testemunho. Um

indivíduo que presencia um fato, um acontecimento, ganha automaticamente autoridade para

falar sobre ele. Alguém que sobreviveu a um naufrágio poderá expor a tragédia melhor que

um indivíduo que não esteve presente em tal acontecimento. Contudo convém fazer uma

breve distinção entre argumento de experiência e de testemunho, a fim de evitar qualquer

confusão. “Os dois se servem de uma prática concreta, mas a experiência implica em uma

duração e uma acumulação enquanto a testemunho é pontual.” (BRETON, 2003, p.83).

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2.1.2 Valores e Pontos de Vista

A segunda categoria que constitui os argumentos de enquadramento do real é

denominada valores e pontos de vista. Os “pressupostos comuns” são amplamente utilizados

na argumentação com o objetivo de se conseguir um “efeito de comunidade” com o auditório.

Trata-se de intensificar um valor comum. A opinião comum é caracterizada, principalmente,

por provérbios e ditados populares. É algo internalizado que ainda mantém certa influência

sobre as decisões que o auditório toma. Os valores comuns, por sua vez, pautam-se em

valores como o belo, o verdadeiro, e o bem, por exemplo. Contudo a utilização desses valores

nos obriga a um estudo prévio sobre a cultura a qual se insere nosso auditório. O que

simboliza um valor em uma determinada cultura pode não corresponder a um valor em outra.

Breton (2003) lembra que para o cristianismo a virtude era o valor central, enquanto que o

domínio de si, a civilidade, o gosto pela beleza e a curiosidade constituíam a ideia de valor

renascentista.

Os valores podem ainda, segundo Perelman, serem divididos em valores concretos e

valores abstratos. “A argumentação se baseia, conforme as circunstâncias, ora em valores

concretos, ora em valores abstratos.” (PERELMAN, 1996, p.88). Os valores abstratos podem

ser compreendidos como sendo algo internalizado, que carregamos dentro de nós como, por

exemplo, a justiça e a verdade. Os valores concretos são, por sua vez, valores edificados sobre

algo externo ao corpo individual, mas que mantém vínculo com o indivíduo. A Igreja e a

pátria podem exemplificar os valores concretos. No âmbito dos valores concretos encontra-se

a ideia do único. Valorizar o que é raro, único, incomum é uma boa estratégia de

argumentação. A pátria é única, por isso devemos cultivar um amor incondicional por ela.

Entretanto outra questão circunda a argumentação perante os valores. Saber a ordem,

ou a importância que cada auditório dá aos seus valores constitui um passo muito importante

para estabelecer o “acordo prévio”. As chamadas hierarquias de valores reclamam para si

certa atenção no ato argumentativo. Abreu nos diz que “fatores culturais, históricos e

ideológicos influem na elaboração dos valores e hierarquias.” (ABREU, 2007, p.80). O autor

cita como exemplo o questionamento a ser feito para uma determinada garota acerca de qual

seria o homem ideal para casar. Esta citaria uma pessoa que contivesse valores como beleza,

riqueza, cultura, lealdade, entre outros. Se o entrevistador perguntasse então se ela preferiria

casar-se com um homem muito bonito e com um patrimônio financeiro invejável, mas infiel

ou com um menos rico e bonito, contudo muito fiel e esta mudasse de ideia e ficasse com a

segunda opção ficaria claramente exposto um processo de hierarquia estabelecida.

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“Re-hierarquizar” os valores pode ser útil em várias situações de argumentação.

Contamos então para essa tarefa com a ajuda dos “lugares da argumentação”. Os lugares eram

usados pelos gregos para representar depósitos de argumentos que poderiam ser consultados

em momentos de necessidade. Por definição “são premissas de ordem geral utilizadas para

reforçar a adesão a determinados valores.” (2007, p.81). Os lugares mais conhecidos são os de

quantidade e de qualidade. Entretanto, existem outros lugares: ordem, essência, pessoa e

existente.

O lugar de quantidade gira sob argumentos que mostram uma coisa como sendo

melhor que outra por razões quantitativas. A democracia fundamenta-se justamente no lugar

de quantidade, segundo Abreu. É o número de votos recebidos por um candidato que vai dizer

se ele é ou não o novo governante. A estratégia argumentativa que utiliza o lugar de

quantidade ganhou bastante destaque na publicidade. Dizer que 1988 pessoas já compraram o

novo modelo de carro da marca “X” faz aflorar na cabeça de potenciais consumidores o

desejo de fazer parte daquele grupo, de também ser um proprietário daquela novidade.

Fomenta a ideia de que aquele produto é bom, é bem aceito.

Opondo-se ao lugar de quantidade encontra-se o lugar de qualidade. Esse, por sua vez,

fundamenta-se em dizer que algo é melhor que outro por ser raro, único, original. No lugar de

qualidade exploram-se características peculiares de cada objeto de argumentação. Constrói-se

com o auditório a ideia do único. O indivíduo “deve aproveitar o frescor da mocidade para

amar, porque esse momento é único, antes da velhice inevitável.” (2007. p.85). O lugar de

qualidade, assim como o de quantidade, encontro grande utilização na publicidade atual. Se a

intenção de venda do mesmo automóvel do exemplo acima fosse pautada em cima do “acordo

prévio” construído sobre o argumento que dizia ser esse carro o único equipado com sensor de

movimento para manobras perfeitas, teríamos então um exemplo de utilização do lugar de

qualidade.

O lugar de ordem caracteriza-se por utilizar argumentos que mostram a ordem com

que as coisas são concebidas. Nele exalta-se o primeiro, o pioneiro, o anterior. “O primeiro

sutiã a gente nunca esquece!” figura entre uma das propagandas mais conhecidas no país e

que recorre ao lugar de ordem. Abreu nos lembra ainda que a direita tem mais prestígio em

relação a esquerda em um pódio, por exemplo. Assim como a direita e a esquerda também

figuram entre o lugar de ordem o ouro, a prata e o bronze e outros elementos que indicam uma

sequência com pelo menos duas posições. “O primeiro carro produzido no Brasil” poderia ser

utilizado pelo exemplo supracitado resultando assim no emprego do lugar de ordem.

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“O lugar de essência valoriza os indivíduos como representantes bem caracterizados

de uma essência.” (ABREU, 2007. p.90). O autor nos cita como exemplo os concursos de

miss. Segundo ele, o que os jurados querem naquela ocasião é escolher a representante que

contém a essência da mulher bonita. Essa representante se distinguirá das demais por englobar

o maior número possíveis de elementos característicos da beleza. Na publicidade o lugar de

essência encontra-se na ideia de que um bom carro é um Mercedez, um Ferrari ou um Jaguar,

por exemplo.

Os argumentos que utilizam o lugar de pessoa dizem respeito a apontar a

superioridade das pessoas sobre outras coisas. O indivíduo é mais importante que o objeto,

que o trabalho, que a ideologia e etc. Abreu relata um argumento utilizado por um candidato a

governador que prometeria construir mais escolas para melhorar o nível de educação. O

concorrente poderia utilizar o argumento de que não seria necessário construir mais escolas e

sim investir nos professores. Dessa forma fica evidente que a superioridade da pessoa em

relação às coisas constitui um forte argumento, argumento esse denominado lugar de pessoa.

O lugar do existente eleva o que já existe destacando assim sua dominação sobre o que

ainda se encontra em planejamento. Argumentar usando o lugar do existente significa utilizar

argumentos do real em detrimento ao quê ainda não o é.

2.1.3 Reenquadramento do real

A terceira categoria de argumentos que forma a primeira etapa do “duplo gatilho

argumentativo” é denominada como reenquadramento do real. Este tipo de argumento está

fundamentado na ideia do novo.

Esta categoria de argumentos implica em uma novidade para o auditório. Eles o colocam em um mundo no qual, espontaneamente o auditório não pensara e onde seus pontos de referência habituais não funcionam, mesmo que os ‘elementos’ que compõe este novo mundo lhe sejam conhecidos separadamente. (BRETON, 2003, p.95).

Ou seja, reenquadrar o real pode se dá tanto pela apresentação de algo novo ao

auditório, quanto em usar partes separadas de um contexto já conhecido pelo auditório. Esse

artifício encontra sua eficiência em não bater de frente com o problema. O sucesso da

utilização do reenquadramento do real deve-se, principalmente, pelo seu poder de contornar a

situação problemática ao qual se procura combater ou formular nova concepção a respeito da

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mesma. Breton (2003) classifica o argumento de reenquadramente em três conjuntos:

definição, apresentação e associação-dissociação.

O argumento de definição, por sua vez, sofre subdivisões segundo Abreu (2007). Este

autor diz que a definição por ser encontrada de quatro maneiras distintas, a saber: definições

lógicas, definições expressivas, definições normativas e definições etimológicas. As

definições lógicas dizem respeito a características próprias do objeto a ser definido. Quanto

mais bem caracterizarmos o objeto destacando suas diferenças, mais bem definido

logicamente ele será. Já as definições expressivas nada têm a ver com a lógica. Nesse tipo de

definição as características físicas do objeto dão lugar às emocionais. Cada indivíduo defini o

objeto do seu ponto de vista. Essa estratégia é amplamente utilizada na poesia, por exemplo.

As definições normativas como o próprio nome diz são aquelas que têm sua

centralidade em uma norma. Essa norma origina-se de um acordo feito por um determinado

grupo de pessoas a fim de sustentar uma definição sobre um objeto. Finalizando a subdivisão

do argumento de definição temos as definições etimológicas. Essas giram em torno da origem

das palavras. Têm como base o “sentido primário” dos vocábulos. Esses argumentos

conferem ao orador a ideia de letramento, de status. “As definições expressivas e etimológicas

são as mais utilizadas como técnicas argumentativas, uma vez que permitem a fixação de

pontos de vista como teses de adesão inicial.” (ABREU, 2007, p. 57 – 58).

O segundo conjunto de argumento de reenquadramento do real é composto pela

apresentação. Breton nos diz que se pode apresentar um raciocínio por meio de sua descrição,

qualificação, amplificação ou expolição. Pela descrição pode-se convencer um auditório a

apresentar determinado comportamento. “Poderíamos, assim convencer uma pessoa a pegar

um guarda-chuva ao descrever-lhe o céu como nublado. [...] O real proposto se apóia na

probabilidade que associa a presença de nuvens à chuva.” (BRETON, 2003, p.101). A

qualificação, por sua vez, implica em desconjuntar um ato para se trabalhar com apenas

alguns de seus atributos. Como exemplo do argumento de qualificação temos a nomeação.

Apresentar um novo nome a um objeto, em muitos casos, atribui-lhe uma nova

qualidade, ou seja, requalifica-o. Outra forma de apresentar um argumento de

reenquadramento do real é por meio da amplificação. Esta é classificada por Perelman (1996)

como parte das figuras da presença. Segundo ele, a amplificação consiste em enumerar as

partes de um todo, para dessa forma amplificá-lo. Quando enumeramos longamente vários

componentes de um todo, seja por meio da repetição, acumulação de particularidades ou

conferindo ênfase, estamos utilizando da amplificação para construir o “acordo prévio” com o

auditório. Insistir em partes confiáveis de um conjunto conferi muito mais crédito a este ao

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invés de falarmos dele logo de início. A expolição é mais uma das formas de se apresentar

algo. Essa, por sua vez, elege um ponto importante que constitui um argumento e detém-se

sobre ele. A expolição esmiúça continuamente o mesmo ponto, mas sempre exprimindo ideias

diferentes que conduzem ao mesmo fim. Breton nos diz que esse tipo de argumento tem uma

certa dimensão pedagógica, já que se configura como a repetição do mesmo sentido sob

formas diferentes, permitindo assim que a compreensão ocorra de maneira melhor e sem

provocar cansaço.

A terceira maneira de se argumentar usando o reenquadramento do real é por meio da

associação ou dissociação. A associação consiste em estabelecer conexões entre informações

preexistentes. Agrupar as coisas faz parte do íntimo humano. Essa técnica de agrupamento

existe há muito tempo e está presente em diversas áreas do conhecimento. Alguns estudiosos

defendem o método de associação como ferramenta para o aprendizado escolar, outros para

tratar indivíduos que têm problemas com esquecimento e assim sucessivamente. Já a

dissociação trabalha com a quebra de um universo exclusivo. Ela busca quebrá-lo gerando

assim dois universos distintos, para, dessa forma, encontrar espaço para sua opinião. Com

duas óticas de mundo distintas, a opinião proposta encontrará com mais facilidade uma que

permita a sua introdução no contexto. Esse argumento é geralmente utilizado em situações

onde a visão de mundo que se pretende quebrar tem sua centralidade em dogmas, dificultando

assim certa flexibilidade para se aderir a um ponto de vista que difere do tradicional para

aquele auditório especifico.

2.2 Argumentos de vínculo

A segunda etapa do “duplo gatilho argumentativo”, e objeto de estudo do presente

trabalho, é constituída pelos argumentos de vínculo. Essa macrofamília de argumentos utiliza

o “acordo prévio” produzido na etapa anterior (enquadramento do real) para lançar a tese que

se deseja partilhar com o auditório.

Os argumentos de vínculo servem para ligar o enquadramento do real à ideia proposta.

Para que se compreenda melhor, a referida macrofamília é dividida em dois conjuntos: os

argumentos centrados na dedução e os argumentos de domínio da analogia.

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2.2.1 A dedução

Segundo Breton (2003), a retórica clássica é repleta de passagens que se utilizam da

dedução para influenciar a decisão do auditório. A dedução encontra força na argumentação

na medida em que passa elementos de um mundo a outro. “Trata-se de se construir uma

cadeia que será contínua e, de certa maneira, lógica”. (p.117). Ela é, por sua vez, subdividida

em três elementos, a saber: quase lógico, reciprocidade e causal.

2.2.1.1 Quase lógicos

Os argumentos quase lógicos fazem uso de um raciocínio similar ao raciocínio

científico. Esses argumentos situam-se no limiar da demonstração cientifica, pois sua forma

de convencimento apela para alguns elementos que pertencem a própria lógica, causando

assim dificuldade para distingui-lo da demonstração.

O silogismo, por exemplo, constitui um elemento amplamente utilizado na

argumentação quase lógica. O raciocínio que busca convencer por meio do silogismo centra-

se essencialmente na transitividade. Nesse método dedutivo transita-se “do geral para o

particular, da generalidade para a especificação, do desconhecido para o conhecido. [...] da

causa para o efeito.” (GARCIA, 2003, p.309).

O silogismo consiste em se chegar a uma conclusão utilizando termos antecessores

ligados entre si. Esses termos antecessores recebem o nome de premissas. A utilização do

argumento mediante silogismo gira em torno de proposições. Estas, são divididas entre

premissas e conclusão. O silogismo consiste então em se chegar a uma conclusão utilizando

premissas antecessoras. Essas premissas não funcionam de forma isolada, é preciso que haja

um elo entre elas. Essas proposições iniciais são dividas em premissa maior e premissa

menor. A primeira é tida como maior por sempre encabeçar um raciocínio mediante

silogismo, mesmo que inconscientemente. Dela depende a eficácia do argumento que se

deseja expor ao auditório. A premissa maior precisa ser universal (veremos adiante que ela

inicia-se, impreterivelmente, pelos termos “todo” ou “nenhum”). A premissa menor encontra

forças na premissa maior. Ela toma como referencia algo expresso na premissa anterior e

profere seu ponto de vista. É dessa forma que se faz necessário a existência de uma ideia

comum entre as duas premissas. A conclusão, por sua vez, é o que queremos conduzir ao

auditório. Se quisermos convencer uma jovem garota a não continuar namorando um

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determinado indivíduo — suporemos que esse indivíduo trabalha dirigindo caminhões —

poderíamos argumentar, utilizando o silogismo, dizendo:

Todo caminhoneiro é sem vergonha;

Ora, seu namorado (pode-se inclusive utilizar o nome do indivíduo para conferir mais

força ao raciocínio) é caminhoneiro;

Logo, ele é sem vergonha e você não deve namorá-lo.

Nesse exemplo acima, fica claro a aproximação que esse tipo de argumento tem com a

lógica. É por isso que são classificados como quase lógicos. A premissa maior do exemplo

acima é a primeira proposição, iniciada pela palavra “todo”, ou seja, ela fundamenta-se na

universalidade. A premissa menor é a segunda proposição no exemplo. Ela faz um enunciado

que tem alguma ligação com a premissa maior. No nosso exemplo, o termo caminhoneiro é

comum às duas premissas. A conclusão, então, encarrega-se de fechar o raciocínio

conferindo-o sentido. É na conclusão que se expõe a ideia que se deseja repassar.

Entretanto, convém dedicar especial atenção a argumentação via silogismo. Ela pode

nos levar a acreditar em fatos falaciosos. Quando se parte de premissas fiáveis, a conclusão

não oferece grande risco ao auditório. Explicando melhor, quando se parte de proposições

constadas, verídicas, que não admite contestação, a conclusão será confiável. Se as duas

premissas anteriores forem verdadeiras a conclusão também o será. Se por outro lado, a

premissa maior for falsa a conclusão não será verídica.

O raciocínio dedutivo está mais presente em nosso cotidiano do que imaginamos. O

“silogismo truncado” serve como exemplo dessa maciça utilização da dedução. Denominado

entimema, esse tipo de silogismo torna a argumentação em algo tão natural que

constantemente abstemos parte do raciocínio via silogismo e vamos direto para a conclusão.

Algumas etapas do silogismo são omitidas. Na verdade, elas ainda se fazem presente no

raciocínio, só que apenas em pensamento não necessitando assim serem proferidas. A própria

terminologia da palavra entimema deixa isso claro (en = em, thymos = espírito, pensamento).

“Não é preciso dizer com todas as letras que os mentirosos não merecem crédito para não dar

ouvidos ao que nos diz um mentiroso notório.” (GARCIA, 2003, p.314).

A divisão é outro elemento da argumentação quase lógica. Nela, as qualidades de um

conjunto são transferidas aos elementos que o constituinte. Ou seja, as qualidades do grupo

são transferidas para os indivíduos que o compõe. “Deste modo, certa árvore terá

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provavelmente folhas verdes, pois as árvores, em geral, têm folhas verdes.” (BRETON, 2003,

p.122).

2.2.1.2 Reciprocidade

Esse tipo de argumento encontra sua utilização na ideia do recíproco. “O que é bom é

pra mim, é bom para você” é a máxima da reciprocidade. Abreu nos fala em regra da justiça.

Ela equilibra o convívio social, já que “fundamenta-se no tratamento idêntico a seres e

situações em uma mesma categoria.” (ABREU, 2007, p.52). É se utilizando da regra da

justiça que, por exemplo, um filho exige de seu pai um automóvel de presente por sua

aprovação no vestibular, já que seus irmãos mais velhos ganharam tal recompensa pelo

mesmo feito. Dessa forma, é justo que esse último irmão aprovado receba o mesmo presente

que os antecessores.

O contrário também pode ocorrer nessa regra. Pode-se argumentar que tal

procedimento é injusto, pois pune não só os “infratores” como também àqueles que não

descumprem uma ordem, por exemplo. Abreu (2007) ilustra falando sobre as lombadas no

trânsito. O autor exemplifica falando que as lombadas podem ser consideradas injustas, pois

punem não só os que andam em alta velocidade como também os que conduzem seus veículos

de acordo com o estabelecido pelas autoridades rodoviárias, já que geram desconforto e, em

muitos casos, desgastes em partes mecânicas dos carros.

2.2.1.3 Causal

“Consiste em transformar a opinião que se quer sustentar em uma causa ou em um

efeito de alguma coisa sobre a qual exista um acordo.” (BRETON, 2003, p.127). Ou seja, um

orador que deseja utilizar esse tipo de argumento deve formular sua ideia com base na causa

ou efeito que a mesma apresentará e que implicará em algo reforçador da mensagem que se

quer transmitir. Um fator importante na argumentação mediante causa é o uso da

racionalidade. É raciocinando que o indivíduo chega à conclusão, depois de dadas as pistas

certas, que determinado acontecimento é efeito de uma ação anterior ou o contrário.

O argumento pragmático, por exemplo, centra-se nas “transferências de valor entre

elementos da cadeia causal [...] indo da causa ao efeito, do efeito à causa.” (PERELMAN,

1996, p.302). É fácil transferir elementos da causa para a consequência. Esse raciocínio

acontece quase que automaticamente. Quando um motorista consome grande quantidade de

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bebida alcoólica antes de dirigir sabemos que, possivelmente, ele provocará um acidente de

trânsito. A causa do acidente, nesse caso, foi a grande ingestão de bebida. Abreu nos lembra

que as superstições fundamentam-se nesse tipo de argumento. Um indivíduo que acredita em

superstições poderá atribuir a sua não aprovação no vestibular ao fato de que no dia da prova

ele, por descuido, havia quebrado o espelho que ficava em seu quarto. O motivo de sua

reprovação foi então a quebra do espelho.

Os hindus também se utilizam do argumento pragmático para explicar fatos

importantes que ocorrem com seus seguidores. A própria lei do carma é fundamentada nesse

tipo de argumento. “Dizem eles que os males que as pessoas sofrem na vida presente, sem

razão aparente, são justificados por faltas cometidas em existência anteriores. A causa, que

não é visível nesta vida, estaria em vida passada. Trata-se do carma da pessoa.” (ABREU,

2007, p.61).

2.2.2 A analogia

Outro componente dos argumentos de vínculo, a analogia difere da dedução quando

procura apoio em ligações com outras realidades. Esta “consiste em estabelecer uma

correspondência entre duas zonas do real até então separadas. Esta correspondência vai

permitir que se transfira a uma das zonas, as qualidades reconhecidas na outra zona.”

(BRETTON, 2003, p.114). Ou seja, construir um argumento perante analogia é fazer um

vínculo entre o “domínio fonte” e o “domínio alvo”. Pegar emprestado elementos que, até

então, aparentemente nada tinham a ver com a situação atual, e trazê-los para o nosso real,

encontrar uma utilidade para esses elementos nesse novo cenário que serão inseridos.

Garcia (2003) nos diz que “a analogia é uma semelhança parcial que sugere uma

semelhança oculta, mais completa.” (p.232).

O autor nos traz ainda uma bem explicada definição de analogia:

Analogia é um fenômeno de ordem psicológica, que consiste na tendência para nivelar palavras ou construções que de certo modo se aproxima pela forma ou pelo sentido, levando uma delas a se modelar pela outra. Quando uma criança diz fazi e cabeu, conjuga essas formas verbais por outras já conhecidas, como dormi e correu. (LIMA, 1956, p.94 apud GARCIA, 2003, p.235).

Perelman nos lembra que a escolha dos termos a serem usados constituem parte

essencial para se construir a ponte que será empregada para fazer a argumentação mediante

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analogia. A escolha lexical, tão estudada pelos linguistas, encontra aqui grande importância.

Escolher as palavras certas para não distanciar o auditório da tese que se deseja convencer.

Nas palavras de Carrascoza, “optar por este ou aquele termo não é uma atitude arbitrária, mas

sim ideológica.” (CARRASCOZA, 1999, p.33).

A analogia, de acordo com Breton, pode tomar corpo por meio da metáfora,

comparação ou exemplo.

2.2.2.1 Metáfora

A metáfora é a abreviação de uma comparação.

consiste em utilizar uma palavra, ou expressão, em lugar de outra, por haver entre elas uma relação de semelhança, de similaridade. Toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece. (TERRA; NICOLA, 2004, p.349).

Ela se presta a sustentar um argumento por analogia na medida em que é enunciada

para convencer um auditório. Breton nos diz que ela “está longe de ser sempre um

argumento” (2003, p.135). Essa poderosa figura de estilo, tão bem utilizada pelos linguistas,

só deve ser classificada como argumento quando saí do campo literário. Daí é importante

atentarmos para a diferenciação que o autor nos encoraja a fazer entre o “universo literário” e

o “universo da argumentação”, quando se trabalha com a metáfora. Dessa forma quando se

enuncia “a noite da vida” abreviando que “a velhice é para a vida o que a noite é para o dia”,

estamos diante de uma bela metáfora, sem dúvida, contudo explicitamente literal, pois não

objetiva defender nenhuma tese ou opinião.

A metáfora aparece muitas vezes em forma de clichês. O chamado clichê metafórico

se caracteriza pelo uso de expressões utilizadas demasiadamente. A publicidade há muito se

utiliza de clichês para repassar sua mensagem, o que ressalta a ampla utilização da metáfora

nessa habilitação da comunicação social.

2.2.2.2 Comparação

Uma das formas mais usadas pelo ser humano para tentar convencer sobre algo é a

comparação. O senso comum utiliza bastante esse tipo de argumento, muitas vezes em

perceber.

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A comparação possui estrutura gramatical própria. Palavras do tipo como, quanto, tal

qual, entre outras, caracterizam o uso da comparação.

Segundo Breton (2003), “Comparar consiste em tecer um vínculo entre duas

realidades, colocando-as em relação de maneira aceitável e produzindo através deste fato uma

transferência de qualidade de uma realidade para a outra.” (p.135-136).

Se desejássemos convencer o auditório que o Ceará é uma grande potência na

produção agrícola, poderíamos usar a comparação como um dos argumentos descrevendo-o

como tendo grande extensão territorial dizendo que sua faixa de terra é equivalente a soma de

vários países europeus.

As parábolas são de certa forma uma espécie de comparação. Garcia nos diz que os

antigos estudiosos da retórica usavam os termos comparação e parábola como sinônimos.

O uso do superlativo também é bem característico da comparação. Perelman (1996)

nos lembra que “a própria ideia de escolha, de boa escolha, implica sempre uma comparação.”

(p.280).

2.2.2.3 Exemplo

Argumentar mediante exemplo tem sua centralidade em trabalhar um caso particular

transformando-o em “caso exemplar”. Quando se consegue estabelecer essa convenção, o

caso particular pode ser aplicado a qualquer outra situação argumentativa visando convencer.

O exemplo constitui um estratagema amplamente utilizado na comunicação. Seu uso é

constante a tal ponto que se torna algo próximo ao natural, o que é visto com bons olhos pela

publicidade, já que essa procura se aproximar, construir um vínculo natural com o público-

alvo.

Em muitos casos o uso do argumento fundado no exemplo se dá bem mais como algo

espontâneo do fundado em uma reflexão. Breton (2003) relata a afirmação que alguém,

querendo fundamentar sua argumentação, profere “Tomemos por exemplo...”, e daí passa a

buscar um exemplo que até então na se tinha em mente. Essa situação comprova o corrente

uso do exemplo, que se apresenta como espontâneo. O orador se pega dizendo a expressão

“como exemplo” até mesmo involuntariamente.

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3 PUBLICIDADE NA VEJA: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE

3.1 O veículo

Pertencente ao Grupo Abril de Comunicação, a revista Veja possui grande

importância, tanto em âmbito nacional quanto internacional. Dados do Instituto Verificador de

Circulação (IVC) colocam a revista como líder em circulação da categoria, alcançando um

total de 1.092.588 exemplares por mês8. Segundo o FIPP - World Magazine Trends

2008/2009 / IVC - volume médio - jan a dez 2008, a revista figura em terceiro lugar no

ranking mundial de publicação9.

Veja é uma publicação semanal de interesse geral. Tem sessões que abordam temas

como política, internacional, economia, arte e cultura, entre outros.

O público-alvo da revista é composto principalmente por mulheres solteiras,

pertencentes à classe A e B com idade entre 20 e 29 anos, conforme mostra o gráfico a seguir:

Figura 1 - Perfil dos leitores da revista Veja10.

8 Dados referentes ao volume médio de circulação do mês de junho de 2009. 9 Segundo informações colhidas no dia 10 de maio de 2010 em http://veja.abril.com.br/idade/publiabril/midiakit/veja_circulacao_importancia.shtml. 10 Gráfico disponível em http://veja.abril.com.br/idade/publiabril/midiakit/veja_perfil_perfildoleitor.shtml, acesso em 11 de maio de 2010.

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O fato de a publicação chegar a uma grande quantidade de consumidores atrai um

considerável número de anunciantes interessados em veicular suas propagandas nela. Eis aqui

um dos fatores que orientou a escolha de análise da citada revista.

Por se tratar de um veículo impresso, a revista possui anúncios com maior incidência

de textos. Diferentemente da televisão ou do rádio, nos quais a mensagem tem um tempo

limitado para alcançar o público, a revista tem maior liberdade para trabalhar textos com um

maior número de caracteres. Essa característica facilitará a identificação e compreensão dos

tipos de argumentos utilizados, que é o propósito do presente trabalho.

3.2 O corpus

O corpus é composto por anúncios veiculados na revista Veja. Essa escolha não foi

aleatória, ela se deu pelo fato de ser essa a revista de maior circulação em território nacional.

Como já dito antes, a revista Veja possui grande importância dentro e fora do país.

Devido a isso é que ela foi escolhida e mais especificamente o mês de junho de 2009,

justamente o mês que o IVC tomou como referência para divulgar a superioridade desse

veículo de comunicação em relação aos demais do mesmo segmento.

Observando as quatro edições que compõem o mês em questão, notou-se a presença de

um maior número de anúncios publicitários na edição do dia 3 de junho, ou seja, a primeira

edição da revista Veja no referido mês. A análise mostrou que na citada edição, que traz como

capa Os loucos Atômicos, encontra-se 59 anúncios, contra 55 da edição do dia 10, 48 da

edição do dia 17 e 56 anúncios da edição do dia 24.

Dos 59 anúncios encontrados na edição em questão, foram escolhidos os de página

dupla inteira, por entender que nesses anúncios há a possibilidade de se explorar mais texto do

que nos demais, resultando assim num total de 21 peças publicitárias. Dessas 21 peças

observou-se que em algumas o texto era mínimo, ou seja, a mensagem possuía maior apelo

visual que textual. Observou-se também que em outros anúncios, o texto era disposto em

forma de tópicos, não se concretizando em parágrafos ou construções frasais encadeadas,

sendo esses tópicos de caráter mais informativo que argumentativo. Dessa forma, estabeleceu-

se o seguinte critério para a delimitação do corpus: anúncio de página dupla inteira com a

presença de título e corpo de texto, sendo que o corpo de texto deve está disposto em forma de

parágrafos e esses devem ter cinco ou mais linhas escritas. Feito esse recorte, o corpus para

análise fica então constituído de 11 anúncios publicitários.

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3.3 A análise

O presente trabalho objetiva detectar a utilização ou não dos argumentos de vínculo,

bem como sua frequência, em anúncios publicitários. Não é nossa proposta identificar e

elencar todos os argumentos de vínculo utilizados na peças escolhidas, já que essa tarefa

exigiria um estudo aprofundado e um tempo consideravelmente grande.

Vale ressaltar também que, como nos diz Breton, um argumento pode ser classificado

como vínculo por um estudioso e ser classificado como pertencente à outra família por outro

estudioso. Alguns textos podem ser considerados argumentativos por uns e informativos por

outros. Dessa forma, não pretendemos mostrar a verdade absoluta. Pode inclusive acontecer

de classificarmos nesse trabalho, levando em consideração as ideias de Breton, um anúncio

publicitário como argumentativo e outro estudioso não enxergar nele argumentação e sim

sedução, informação ou outra forma de convencimento. O próprio autor nos fala que é raro a

existência de um texto puramente argumentativo e que dessa forma devemos falar em

predomínio da argumentação ou da sedução etc.

Identificaremos, portanto o principal argumento de vínculo que por ventura venha

aparecer nos anúncios publicitários. Contudo, quando os argumentos de vínculo forem

construídos com base em notáveis argumentos de enquadramento do real faremos referência a

esses também.

Os argumentos de vínculo, como especificado anteriormente, são classificados em dois

tipos: os dedutivos e os analógicos. Os dedutivos centram-se em oferecer argumentos de tal

forma que o auditório formule uma dedução. Ou seja, ele constrói todo um caminho que leva

a um resultado, porém esse resultado tende a parecer natural e não premeditado. A analogia,

por sua vez, é construída partindo de um outro mundo. Ela pega elementos até então alheios

ao universo em questão e transporta-os de maneira que eles agora façam sentido e sustentem a

tese defendida.

A primeira peça publicitária (figura 2) a ser analisada é um anúncio do Bradesco. A

parte textual do anúncio é constituída pelo seguinte título: ALÉM DE VOCÊ, TEM O

BRADESCO ACREDITANDO NOS SEUS SONHOS e pelo seguinte corpo: O Bradesco

ampliou os prazos para você financiar a casa própria e o carro novo. Assim, as parcelas

ficam menores e cabem no seu bolso. Com o crédito Imobiliário Bradesco, você tem até 30

anos para pagar sua casa e conta com taxas competitivas, aprovação rápida e documentação

simplificada. Com o Financiamento de Veículos, tem até 80 meses para pagar seu carro novo

e ainda aproveita as melhores taxas do mercado. Fale com seu gerente. No anúncio ainda se

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encontra as informações: 80 meses e 30 anos, além de dados específicos como telefone de

contato, endereço eletrônico e outras informações de cunho burocrático, além de uma

construção textual que funciona como slogan da campanha: Crédito Bradesco. Ao seu

alcance.

Figura 2 - Peça publicitária do Bradesco.

Analisando essa peça, podemos encontrar a dedução na forma de um argumento quase

lógico. O consumidor fará em sua cabeça a seguinte sequência: Se o banco ampliou os prazos,

consequentemente as parcelas ficaram menores, e dessa forma poderei financiar, sem

preocupação, a aquisição de uma casa nova ou um carro novo. A conclusão aqui flui de forma

natural. Reforçando a construção estabelecida, o anúncio encerra com um Fale com seu

gerente, deixando clara a ação que se deseja que o cliente faça.

É possível que haja a presença de outros argumentos nessa peça, contudo a de maior

destaque, sem dúvida, é a do vínculo por dedução.

Analisando agora a publicidade da Porto Seguro Centro Automotivo (figura 3)

encontramos a presença da metáfora logo no título. A peça é constituída por uma imagem

grande tomando toda uma folha do anúncio de um homem fazendo reparos na parte da frente

de um automóvel e outro homem acompanhado de uma mulher examinando algo na parte

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traseira do mesmo veículo. Na segunda folha que compreende o anúncio é possível ver outras

imagens de pequeno porte mostrando o cotidiano em uma empresa que trabalha fazendo

reparos em carros. No canto inferior direito da peça encontra-se uma placa com a logomarca

da empresa.

Figura 3 - Peça publicitária da Porto Seguro Centro Automotivo

A parte textual do anúncio é iniciada pelo seguinte título: Você pode fazer seguro com

a gente de olhos fechados. Mas seria um pecado não abrir para ver um centro automotivo

como esse. E segue com o corpo: Quem tem o Porto Seguro Auto tem uma rede com mais de

70 Centros Automotivos para cuidar do carro. Neles, você conta com profissionais

experientes, equipamentos avançados e peças com garantia de fábrica. Tudo para fazer a

manutenção e os reparos que seu carro mais precisa. O pagamento pode ser parcelado em

até 4 vezes sem juros, e utilizando o cartão Porto seguro Visa você ainda acumula pontos que

podem gerar desconto na renovação do seu seguro. Assim você cuida da sua segurança, sem

descuidar do seu bolso.

Há ainda mais informações logo abaixo ao corpo do texto, contudo elas não serão

levadas em consideração, pois cumprem papel de caráter mais informativo trazendo

especificações técnicas e informações de contato.

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Como já especificado, a presença da metáfora caracteriza o uso da argumentação via

analogia. Quando o anúncio utiliza a expressão de olhos fechados desperta no consumidor a

ideia de segurança, certeza, comprometimento da empresa para com ele. Dessa forma, a

conclusão é clara: não há o que temer em fazer reparos no meu carro com essa empresa. Posso

confiar nela de olhos fechados. Esse é o principal argumento utilizado nesse exemplo. Nessa

peça encontramos a metáfora em forma de clichê.

Analisado agora o anúncio do Unibanco (figura 4) podemos perceber que ele é

composto pela foto de um pai e um filho deitados sobre um tapete em uma sala. O pai usa um

notebook segurando em uma das mãos um cartão do Unibanco. A expressão no rosto dos

personagens da foto é de despreocupação. O texto, por sua vez, reforça essa ideia. Como título

tem-se: Você pode nem perceber, mas o Unibanco está com você 30 horas por dia. 6 nas

agências e mais 24 onde você estiver.

Figura 4 - Anúncio do Unibanco

Nessa peça publicitária é possível identificar como técnica principal o argumento de

vínculo mediante causa, o chamado argumento causal. Nesse tipo de argumento o uso da

racionalidade é fator importantíssimo. O caso aqui analisado mostra a utilização da expressão

30 horas para conferir validade ao raciocínio, pois diante dessa informação o leitor chegará à

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conclusão que o Unibanco é melhor que os demais pelo fato de ter mais disponibilidade. As

30 horas disponíveis será a causa de ter um ótimo banco como efeito.

No corpo de texto encontramos o seguinte texto: Se você nunca parou para pensar que

o Unibanco está com você o tempo inteiro, não é por acaso. Nós queremos isso mesmo, que

você não tenha nada com o que se preocupar. Quando precisar do Unibanco, ele vai estar

ali, pronto para resolver o seu problema, a qualquer hora do dia. Todas as 30 horas: 6 horas

nas agências e mais 24 onde você estiver.

O corpo do texto reforça o argumento de causa na seguinte expressão: ele vai estar ali,

pronto para resolver o seu problema, a qualquer hora do dia. Podemos concluir que, dessa

forma o argumento de vínculo utilizado aqui, se caracteriza principalmente pela presença da

dedução.

Outro anúncio analisado foi o da Philips (figura 5). Objetivando promover seu MP4

Player, a Philips traz um anúncio mostrando uma imagem do referido aparelho com a foto de

Ivete Sangalo11 dentro e a expressão Desafio Philips acima dela.

Figura 5 - Anúncio da Philips.

11 Uma das cantoras baianas mais conhecidas do país. Suas músicas pertencem ao estilo axé e fazem enorme sucesso não só no Brasil como também em alguns países da América e outros continentes.

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A mensagem verbal é composta pelo seguinte título: MP4 Philips Go Gear. A melhor

qualidade de som do mercado* e corpo de texto: A Philips solicitou ao IBOPE, um dos

institutos de pesquisa mais qualificados do Brasil, uma pesquisa comparativa entre as

marcas mais vendidas de MP4 Player**. Mais de 300 consumidores compararam a Philips

com a primeira e a segunda marca mais vendida*. Todos os MP4 Players eram equivalentes,

tirados da caixa e com capacidade de 8 GB. Todo o processo teve auditoria e consultoria

técnicas independentes. A avaliação geral da qualidade de som pelos entrevistados,

utilizando fones de ouvido com isonomia ergonométrica auricular em todos os testes, levou

em consideração os critérios: clareza dos instrumentos da voz, qualidade dos sons graves,

qualidade dos sons agudos e pureza do som. E o resultado deu uma ampla vantagem à

Philips, a melhor qualidade de som na opinião de consumidores como você. Saiba mais em

www.desafiophilipis.com.br, além de outras informações como: Pesquisa comparativa do

IBOPE entre as três marcas mais vendidas e notas de rodapé explicando os asteriscos

utilizado no título e corpo do anúncio: *Teste realizado pelo IBOPE Inteligência de 1 a 7 de

Abril/2009 com 304 consumidores na cidade de São Paulo de acordo com a pergunta de

preferência geral.**Marcas mais vendidas do segmento de Portable Media Player (Fonte:

GFK Marketing Services, Painel Varejista, Portable Media Player de Fev/08-jan/09).

Consulte o site www.desafiophilipis.com.br para mais informações.

Analisando o anúncio em questão podemos identificar a utilização do argumento de

reciprocidade. Nesse exemplo convém destacar o notório argumento de autoridade utilizado

para enquadrar o real. A marca utiliza-se de uma autoridade, no caso o IBOPE, para conferir

força ao argumento. É a partir de então que ela convence o consumidor a preferir o seu

produto ao invés do da concorrência. Ela argumenta usando a autoridade do IBOPE,

entretanto esses dados divulgados pelo instituto vêm de uma pesquisa onde foram

entrevistados consumidores. Dessa forma é possível perceber a utilização do argumento de

reciprocidade como vínculo gerado com o enquadramento. Há aqui a utilização do argumento

de vínculo dedutivo mediante reciprocidade, pois se é bom para 60% e 76% dos consumidores

será igualmente bom para mim, conclui o consumidor.

Destacamos ainda, a utilização da imagem da cantora baiana Ivete Sangalo como

forma de enquadrar o real e chamar atenção para a peça publicitária, além de fazer referência

diretamente com o título do anúncio quando do uso da expressão a melhor qualidade de som.

Um caso interessante trata-se dos anúncios da Petrobras (figura 6) e do Banco Real

(figura 7). Ambos fazem parte de um projeto apoiado pela própria editora Abril, chamado

Planeta Sustentável.

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Com essa temática a Petrobras traz um anúncio intitulado Desafios da cidadania. A

peça possui também o seguinte texto introdutório: Valorizar a cultura e a história das

comunidades. Investir em esporte, preservação ambiental e desenvolvimento local. A

Petrobras coloca sua energia nesses objetivos. A mensagem verbal continua com vários

subtítulos e respectivos textos. Transcrevemos aqui apenas os subtítulos, já que os textos

pertencentes a eles possuem caráter mais informativo, além de serem extensos. Os subtítulos

são: Cidadania e desenvolvimento social; valorização da cultura; Incentivo ao esporte;

Preservação ambiental.

Inicialmente o texto aparenta ter como função principal informar e não argumentar,

entretanto analisando o conjunto de título e subtítulos percebe-se a sutil construção de um

argumento.

Figura 6 - Peça publicitária da Petrobras.

A dedução aparece nesse anúncio, pois com as pistas fornecidas, o auditório deduz que

a empresa demonstra preocupação com as referidas questões. O texto introdutório que aparece

logo abaixo do título e antes dos subtítulos serve como resumo. Nele fica claro a posição da

empresa quanto às questões tratadas nos subtítulo e seus respectivos textos. Concluímos,

dessa forma, que aparece nessa publicidade o argumento de vínculo mediante dedução.

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O caso do Banco Real é diferente. Apesar de fazer parte do mesmo projeto que a

Petrobras, o banco decidiu construir seu anúncio de outra forma. Na peça em questão

encontramos o uso do argumento de enquadramento do real mediante autoridade. Essa

autoridade é conferida não por competência como no caso da Philips analisado anteriormente,

mas por experiência. O anúncio mostra quatros personagens da terceira idade que

participaram de uma edição passada do concurso promovido pelo banco e foram campeões.

A mensagem verbal é constituída pelo seguinte título: 11° Concurso Talentos da

Maturidade. Inscrições abertas. Aparece também o depoimento dos personagens vitoriosos e

o seguinte texto: A história do Sandoval com o concurso é bonita como a da Suzana, que é

emocionante como a da Tereza, que é alegre como a do Domenico. Participe ou incentive

alguém a participar! Com a união do Banco Real e Santander, o Talentos da Maturidade

ficou ainda melhor: são mais de 3.500 agencias para você se inscrever.

A imagem e a declaração de cada personagem incentivam o auditório a participar

dessa edição do concurso, pois assim como eles ganharam o prêmio o auditório também

poderá ter êxito. Nesse tocante encontra-se aqui o argumento de vínculo mediante analogia.

Esses senhores e senhoras da terceira idade servem como exemplo aos demais.

Figura 7 - Anúncio do Banco Real.

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Seguindo com a análise do corpus chegamos à peça publicitária que promove a

empresa de telefonia móvel Claro (figura 8). O código verbal desse anúncio é formado por

título e corpo de texto, além de informações de contato, logomarca e slogan da empresa. O

título é composto por duas construções textuais separadas. Na verdade, a forma como essas

construções estão dispostas na peça fazem com que se tornem uma só, repassem uma

mensagem em conjunto. A primeira delas diz: SUAS ESCOLHAS FAZEM VOCÊ. Já a

segunda é composta apenas pela palavra IGUAL.

A forma como o título está exibido fará com que o leitor leia: suas escolhas fazem

você igual. O corpo de texto contém o seguinte: Escolhas podem definir um momento, mudar

um caminho ou transformar a sua vida. A Claro valoriza seu poder de escolha. Afinal, ela

sabe que você faz suas escolhas, e são elas que escolhem você.

Figura 8 - Anúncio da Claro.

Analisando a mensagem verbal desse anúncio podemos perceber que ela gira em torno

da palavra escolha, palavra essa que aparece inclusive abaixo da logomarca da empresa. É

possível identificar aqui o uso de argumentos de vínculo via dedução. Deduz-se, a partir desse

anúncio, que escolhendo a Claro o auditório mudará seu caminho, mudará seu momento e

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mudará sua vida. O texto confere mais valor à dedução deixando claro que a empresa valoriza

seu poder de escolha, pois você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você.

Vale ressaltar que a estratégia aqui utilizada visa persuadir o auditório, pois nota-se

claramente o uso da emoção na redação do anúncio. A própria escolha lexical denota a força

da emoção sobre a razão. Palavras como escolhas, momento, caminho e vida pertencem, nesse

contexto, ao domínio da persuasão.

O próximo anúncio a ser analisado busca promover o consumo do café no país. A

peça, assinada pelo Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (figura 9), possui

texto dividido em três partes e a imagem de um atleta moreno em posição inicial de uma

prova de atletismo tendo ao lado a ilustração de um bonequinho com roupa de super-herói

simbolizando o café brasileiro.

Figura 9 - Anúncio do Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento.

A parte 1 do texto, disposta em cor branca e fonte estilo bold, possui maior destaque e

diz o seguinte: Ele tem o poder de melhorar o desempenho. Tá explicado por que o Brasil

bate recordes de produção a cada ano. A segunda parte, exibida na cor amarela e fonte em

estilo bold, traz a seguinte construção: Conte com o herói que ajuda você a ajudar o Brasil.

Beba café. A parte 3 do texto do anúncio é composta por três parágrafos e diz: O Brasil conta

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com um super-herói. Ele exportou 29,5 milhões de sacas, com faturamento de USS 4,7

bilhões no ano passado e gera nada menos que 8,4 milhões de empregos diretos e indiretos. E

quer saber mais o que ele faz? Pode prevenir doenças, como asma e depressão, dá mais

disposição, melhora a concentração e até o desempenho dos atletas. Com uma ajuda dessas,

quem não constrói um grande país? Pois é, Brasil, continue contando com ele. Beba café.

O referido anúncio possui uma construção de significado interessante. A imagem

confere força ao texto assim como na maioria das peças publicitárias, contudo nessa peça ela

possui utilidade especial. Pois é somente o conjunto — imagem e texto — que fará o

auditório chegar à conclusão pretendida pelo anúncio.

O anúncio visa convencer usando a analogia como argumento principal. São dois

mundos diferentes: o mundo do super-herói e o mundo real, digamos assim. Logo na parte 1

encontramos uma construção que inicia falando em melhorar o desempenho se referindo ao

desempenho do atleta da imagem que será aperfeiçoado com o consumo diário do café; e

bater recordes de produção se referindo ao crescimento econômico do país proporcionado

pela exportação do grão.

A parte 2 segue reforçando o uso da analogia quando se refere ao mundo do super-

herói, conferindo assim super poderes ao café: o poder de melhorar o desempenho do atleta e

de impulsionar o crescimento do Brasil economicamente. Ou seja, é um super herói, algo que

sabemos não existir realmente, que ajuda o atletismo e o país.

Na parte 3 do texto fica mais bem explicitada a utilização de dois objetos de enfoque:

o econômico, que diz respeito a exportações e aspectos financeiros, e o atletismo, que diz

respeito à força e disposição para as competições esportivas. Daí concluímos que o uso da

analogia no texto se caracteriza pela utilização de dois mundos: o real e o fictício, sendo que o

real é dividido em dois: o atleta e o econômico.

Analisando agora a peça publicitária do Centro Universitário Novafapi (figura 10)

percebemos que ela é constituída por textos e imagens de profissionais da área dos cursos

ofertados pela instituição. Cada profissional aparece caracterizado ao lado do nome do curso

de origem. A parte textual do anúncio é composta pelo seguinte título: A Faculdade que você

quer. Vestibular 2009.2; e pelo corpo: A Faculdade Novafapi está com as inscrições abertas

para o Vestibular 2009.2 no período de 25 de maio a 5 de junho. As provas acontecem no dia

7 de junho. A Novafapi conta com excelente estrutura para os seus cursos de graduação e

pós-graduação, com biblioteca informatizada e acervo em constante atualização, auditórios,

Centro Integrado de Saúde, Núcleo de Prática Jurídica, laboratórios modernos, onde os

alunos têm contato real com a profissão, além de uma equipe de professores com a melhor

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formação e comprometidos com ensino de referência, além de informações de localização,

telefone e endereço eletrônico.

Figura 10 - Peça publicitária da Novafapi.

Observando o anúncio concluímos, à primeira vista, que ele possui mais elementos de

caráter informativo que argumentativo. Entretanto, analisando-o com mais atenção

percebemos a construção de um raciocínio via argumentação. Essa conclusão só fica aparente

se o auditório fizer um link com as imagens utilizadas na peça. Percebemos que apesar de ser

um centro universitário a instituição coloca no título a palavra faculdade, dando dessa forma

uma dúbia interpretação, pois pode fazer referência tanto ao curso como a instituição como

um todo.

O anúncio coloca estrategicamente a imagem de profissionais ao lado do nome

indicativo de cada curso. Apresenta assim, os personagens não como universitários, mas sim

como profissionais. Dessa forma, confere força e exalta a qualidade de ensino da instituição,

qualidade essa que será apresentada no corpo do texto. Com essa tática fica claro que se uma

pessoa fizer um curso naquela instituição de ensino, ela terá um lugar no mercado de trabalho.

Deduz-se então que a com todas as qualidades da instituição descritas no texto aliadas as

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imagens de profissionais, a faculdade que você quer é a Novafapi. Ou seja, aparece aqui a

dedução caracterizando assim o uso da argumentação como estratégia de convencimento.

A próxima peça publicitária a ser analisada é de propriedade da CVC agência de

viagem e turismo (figura 11). O anúncio em questão é composto por texto e imagem. Na

verdade, mais texto que imagem. A imagem aqui fica em segundo plano, sendo o texto

facilmente compreendido sem o auxílio dela.

Figura 11 - Anúncio da CVC.

O anúncio tem como título: MegaPromo CVC em parceria com a Associação Resorts

Brasil e corpo de texto: Pela primeira vez no Brasil uma associação de hotéis uniu-se a uma

operadora de turismo para vender, em plenas férias de junho, pacotes em resorts por preço

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de baixa temporada. Isso mesmo: os melhores resorts do Brasil, em junho, por preço de baixa

temporada.E você ainda pode pagar em até 10 vezes sem juros e sem entrada. Promoção

válida para compras de 30 de maio a 4 de junho.Quer pagar barato por passagens aérea e

hotel? Vá aos melhores agentes de viagens ou a uma loja CVC. Acesse nosso site e saiba qual

agente de viagem ou loja mais perto de você.

Analisando o anúncio percebemos que ele faz uso de uma linguagem corriqueiramente

utilizada por empresas que trabalham com o público popular, pessoas que pertencem a classe

C e D. Percebemos também que ele se pauta primeiramente em informar sobre o serviço

disponibilizado pela empresa. Somente quase no final do texto é que se encontra uma

pergunta, que, aliás, já vem acompanhada por uma resposta. É possível concluir então que o

anúncio pretende impor, comandar uma ação. Dessa forma se compreende que o anúncio em

questão não é de predomínio da argumentação. Ele até aparenta ser, mas nota-se um maior

enfoque em elencar, informar os benefícios que a promoção trará ao leitor e não em

argumentar. O auditório não tem o direito de formular sua conclusão, ela já vem explicitada.

Já que argumentar, segundo os autores estudados, não é convencer a qualquer custo e sim

fornecer pistas para que o público formule a solução, não classificaremos esse anúncio como

de domínio da argumentação.

Finalizando a análise do corpus temos o anúncio da BRF – Brasil Foods (figura 12). A

referida peça publicitária é composta por uma foto de página inteira, retratando uma alvorada,

com logomarca da empresa em cima da imagem e uma foto pequena de uma filha abraçando

sua mãe, título, corpo de texto e assinatura das marcas anunciantes na outra página.

Vale fazer algumas considerações sobre a foto da alvorada utilizada nessa peça

publicitária. O anúncio está apresentando uma nova empresa que surgiu com a fusão da Sadia

com a Perdigão. Essa mega fusão deu origem a uma das maiores empresas do ramo

alimentício da America latina. A foto da alvorada simboliza justamente esse nascimento. Uma

empresa que nasce grandiosamente como o próprio sol.

Tendo em mente que o anúncio pretende informar o público sobre esse nascimento

temos o seguinte título: O MUNDO COM MAIS SABOR e corpo de texto: A cada dia, o

mundo precisa de mais alimentos. É nesse cenário que está nascendo a BRF – Brasil Foods,

formada pela união de Perdigão e Sadia. Uma nova empresa global brasileira, que confirma

a vocação do nosso país para alimentar o mundo, com qualidade e sabor. Provados e

aprovados em mais de 100 países, nossos produtos fazem bem para as pessoas mundo afora.

E também beneficiam a economia brasileira, com a geração de milhares de empregos e de

divisa para o país. Além de investimentos em pesquisa, inovação e práticas sustentáveis. O

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Brasil é hoje uma referência mundial na produção de alimentos: poucos países conseguem

produzir tanto, com tanta qualidade e aprovação de tantos consumidores. A BRF se orgulha

por contribuir decisivamente para esse sucesso brasileiro. Estamos prontos para levar o

nome do Brasil e o sabor dos nossos produtos para o mundo inteiro. Nosso país merece uma

empresa como a BRF.

Figura 12 - Peça publicitária da Brasil Foods.

Como dito anteriormente, o anúncio acima busca informar o auditório sobre o

nascimento dessa mega empresa. Não conseguimos identificar nele recursos que o caracterize

como de domínio da argumentação. Ele é mais explicativo, informativo que propriamente

argumentativo. A peça publicitária informa sobre o surgimento da companhia e finaliza a

ideia dizendo que o país merece uma empresa como essa. É possível que haja vestígios de

argumentação no texto da referida peça, entretanto ele não foi feito tendo a argumentação

como principal estratégia criativa.

Os dados apontam que as estratégias argumentativas recorrentes nas propagandas

encontradas estão relacionadas àquelas que nos propomos analisar.

Do total de 11 peças analisadas, 6 delas construíram sua mensagem utilizando

principalmente argumentos de dedução. Os anúncios do Bradesco, Unibanco, Philips,

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Petrobras, Claro e Novafapi edificaram suas mensagens fazendo uso dessa forma de

argumento. Esses anúncios representam 55% do corpus analisado.

A analogia, por sua vez, apareceu como destaque em 3 anúncios. A Porto Seguro, o

Banco Real e o Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento fizeram uso desse tipo de

argumento como forma para repassar suas mensagens, correspondendo assim a 27% do

corpus.

Percebemos ainda, que 2 dos anúncios selecionados para o corpus não fizeram uso da

argumentação como principal meio de convencimento. A CVC e a BR Foods não tentaram

convencer ou persuadir o auditório usando estratégias argumentativas. Dessa forma, 18% do

total de anúncios que compuseram o corpus de análise não se utilizaram da argumentação.

Figura 13 - Uso da argumentação no corpus

Como demonstrado no gráfico acima, a argumentação apareceu como principal forma

de convencimento ou persuasão em 82% do corpus analisado, o que mostra que a ela é uma

das estratégias mais utilizadas na construção do texto publicitário. Identificamos,

especificamente, que a redação publicitária faz mais uso da dedução (55%) do que da analogia

(27%). Dessa forma se denota que ativar um raciocínio mediante dedução é a estratégia

preferida pelos publicitários que trabalham a argumentação em seus textos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como percebemos, a argumentação participa da vida humana desde muito tempo. Ela

se faz presente em grande parte das situações de comunicação do homem. Argumentamos

quando queremos convencer alguém que o nosso ponto de vista é o correto, quando queremos

persuadir um indivíduo a ir ao cinema conosco e em muitas outras situações comunicativas. A

argumentação permanece presente em nosso dia-a-dia. Às vezes a utilizamos sem termos

consciência disso, daí se percebe a sua força e naturalidade. Podemos até não conhecer as

técnicas eficientes que exímios retóricos conhecem, contudo a utilizamos nem que seja de

acordo com o conhecimento de senso comum que possuímos.

No próprio espaço acadêmico também estamos constantemente fazendo uso de

técnicas argumentativas. Quando, por exemplo, se usa a citação do autor em um trabalho

acadêmico, procura-se conferir força ao raciocínio. Por mais que a visão daquele autor não

seja a única e encontre resistências, coisa que nós sabemos que nas ciências humanas não é

difícil de acontecer, esse recurso não perde força e continua a ser amplamente utilizado.

Poderíamos então dizer, nesse caso, que estamos fazendo uso do argumento de autoridade

mediante competência. Nesse trabalho, por exemplo, Breton é constantemente citado, pois ele

é um grande estudioso sobre a argumentação e possui várias obras lançadas falando sobre o

tema e outros assuntos similares.

Se a comunicação como um todo faz uso da argumentação, com a publicidade não

seria diferente. Com esse trabalho podemos concluir que a publicidade realmente faz uso da

argumentação no repasse de suas ideias. Destacamos, porém que essa técnica de construção

textual muitas vezes não aparece de forma isolada. Há por vezes a utilização da sedução, da

manipulação e outras formas de convencimento humano. No presente trabalho, constatou-se

que a comunicação publicitária, quando faz uso da argumentação, utiliza-se bastante de

argumentos dedutivos, tendo esses, maior incidência que os analógicos.

A dedução encontra maior uso por ativar um raciocínio quase que natural. Sabendo

que a publicidade pretende convencer da forma mais imperceptível possível (dada a sua

naturalidade), sem parecer invadir o espaço ou a intimidade do público-alvo, essa técnica é

bem indicada para tal finalidade.

Não podemos dizer, entretanto, que a publicidade, de forma geral, faz mais uso da

argumentação do que de outra técnica de convencimento ou persuasão. No corpus analisado

essa afirmativa até pode ser feita, contudo ele não corresponde a uma amostra estatisticamente

calculada que nos possibilite afirmar que o uso da argumentação supera o uso da sedução, da

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manipulação e outras mais, com relação aos anúncios de revista como um todo. Para que tal

afirmação fosse feita seria necessário um estudo mais aprofundado não só das técnicas

argumentativas como também dos métodos usados pela sedução, demonstração, manipulação

e demais meios de convencimento humano.

Sabemos que o meio publicitário ainda faz bastante uso da sedução, ainda explora a

imagem feminina ligando-a diretamente a erotização e ainda faz uso de muitos estereótipos,

contudo o uso da argumentação funciona como uma alternativa ao uso dessas técnicas. Nos

dias atuais o auditório parece não ser tão alienado como antigamente. Talvez esse fato venha

contribuir para o crescimento do uso de argumentos da publicidade atual.

Utilizando-se a argumentação pode se conseguir a adesão da ideia apresentada sem

invadir insensivelmente o espaço privado do ser humano. As pessoas podem partilhar de uma

ideia e realizar uma ação por meio de argumentos bem colocados sem se sentirem tão

passivas.

É sabido que o caminho percorrido pela publicidade não é mais de sentido único. A

sociedade agora participa de forma ativa tirando suas próprias conclusões sobre os produtos

anunciados. Ou seja, as ideias repassadas pela comunicação publicitária não caem mais sobre

um terreno virgem, elas irão se juntar ao repertório do auditório e a partir dessa junção sairá

uma conclusão.

Essa observação nos leva a concluir que os argumentos dedutivos são mais utilizados

que os analógicos por proporcionarem ao público-alvo que deduza. Ou seja, a conclusão cada

vez vem menos exposta com todas as letras, o auditório é quem deduz o que se deve fazer.

Como o ser humano preza o poder de escolha, gosta de tomar decisões, de ser independente,

ao se construir um discurso publicitário utilizando a dedução constitui uma tática eficaz, pois

se está justamente oferecendo a esse público essa oportunidade. Desse modo ele se realiza,

pois foi capaz de tirar suas próprias conclusões acerca daquilo que foi anunciado, o que o faz

se sentir atuante no processo de comunicação. Ninguém disse o que ele tinha que fazer, foi ele

próprio que chegou a essa ou àquela conclusão. Esse fator significativo diferencia a

argumentação de outras formas de convencimento. Argumentar se torna assim uma boa e

bastante utilizada opção para se construir um texto publicitário, pois diante desse encanto que

o público tem em tomar suas próprias decisões, a sedução e a manipulação podem encontrar

resistência, já que são menos democráticas.

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