fabricaÇÃo de derivados do leite como uma

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FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA ALTERNATIVA DE RENDA AO PRODUTOR RURAL 1 Josimara Simão Reis 1 Eliane Sayuri Miyagi 1 Roberta Alcântara Chandelier 1 Alessandra Fabíola Bergamasco 2 Verônica Lobato 3 Celso José de Moura 1 INTRODUÇÃO O leite produzido na propriedade rural representa, em muitos casos, não só uma alternativa de alimento de alto valor nutricional, mas também uma alternativa de incremento para a renda familiar. Desde a ordenha até a sua utilização na forma natural ou na forma de derivados, o leite necessita ser manipulado e processado com muito cuidado e higiene para a manutenção da sua qualidade nutricional, sanitária e tecnológica. O leite é um produto da secreção da glândula mamária das fêmeas no período de lactação, liberado pelo processo da ordenha. Durante o processo de obtenção, vários fatores 1 - Alunas do 10º período do Curso de Zootecnia da UFLA 2 - Professora do Departamento de Ciência dos Alimentos da UFLA 3 - Doutorando do Departamento de Ciência dos Alimentos da UFLA

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Page 1: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA ALTERNATIVA DE RENDA AO PRODUTOR RURAL

1Josimara Simão Reis 1 Eliane Sayuri Miyagi

1 Roberta Alcântara Chandelier 1 Alessandra Fabíola Bergamasco 2 Verônica Lobato 3 Celso José de Moura

1 INTRODUÇÃO

O leite produzido na propriedade rural representa, em

muitos casos, não só uma alternativa de alimento de alto valor

nutricional, mas também uma alternativa de incremento para a

renda familiar.

Desde a ordenha até a sua utilização na forma natural ou

na forma de derivados, o leite necessita ser manipulado e

processado com muito cuidado e higiene para a manutenção da

sua qualidade nutricional, sanitária e tecnológica.

O leite é um produto da secreção da glândula mamária

das fêmeas no período de lactação, liberado pelo processo da

ordenha. Durante o processo de obtenção, vários fatores

1 - Alunas do 10º período do Curso de Zootecnia da UFLA 2 - Professora do Departamento de Ciência dos Alimentos da UFLA 3 - Doutorando do Departamento de Ciência dos Alimentos da UFLA

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contribuem para otimizar o produto, garantindo derivados de boa

qualidade sanitária e tecnológica, sendo que o estado sanitário das

fêmeas, o estado clínico da glândula mamária e a higiene na

obtenção, manipulação e transporte do leite são os que mais

diretamente influenciam no produto final.

Pretende-se, através desse boletim, levar aos produtores

rurais algumas técnicas de obtenção do leite de forma higiênica e

algumas técnicas de produção de derivados que possam

maximizar os lucros e minimizar os riscos de contaminação tanto

do leite como de seus derivados, de forma que o processamento

ocorra de forma segura e que seus produtos sejam de qualidade

higiênica e tecnológica. Serão aqui abordados a matéria-prima, o

uso de aditivos e os tipos de derivados do leite. Maiores

informações podem ser obtidas através do Departamento de

Ciência dos Alimentos da UFLA com os professores Verônica

Lobato e Celso José de Moura.

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MATÉRIA-PRIMA

2.1 Conceito

Leite é a secreção das glândulas mamárias das fêmeas

mamíferas na época do processo de lactação desencadeado pela

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gestação. É um produto normal, fresco e integral, oriundo da

ordenha completa e ininterrupta de vacas sadias.

2.2 Composição

O leite é um alimento composto de uma mistura dos

elementos essenciais para a manutenção do recém-nascido. Esta

mistura contém proteína, carboidratos, lipídeos, minerais e

vitaminas dissolvidos na água, resultando em um produto de

grande valor energético. Meio litro de leite na dieta de um adulto

fornece cerca de 320 Kcal, calorias que são resultantes do

aproveitamento destes elementos. Além do aspecto energético,

ocorre o fornecimento de elementos essenciais à manutenção do

equilíbrio orgânico e a possibilidade de reposição de elementos

minerais essenciais ao bom funcionamento metabólico e estrutural

do organismos, como ocorre na reposição mineral.

Em relação à composição protéica, a caseína, a principal

proteína presente no leite, apresenta boa qualidade nutricional,

fornecendo uma quantidade e qualidade de aminoácidos que

possui uma boa digestibilidade, de cerca de 97%. Além disso, tem

uma forma de apresentação no leite que permite os processos

tecnológicos para sua transformação, principalmente na fabricação

de queijos.

Page 4: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

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Quanto ao grupo dos carboidratos, o açúcar do leite é

representado pela lactose, uma das principais responsáveis pelo

acidez e sabor agradável que os produtos lácteos desenvolvem.

Ela não fermenta rapidamente no organismo, portanto, não

provoca alterações digestivas, como acontece com outros tipos de

açúcares. A lactose apresenta uma digestibilidade de 98% no

organismo.

O grupo lipídico do leite apresenta uma digestibilidade de

cerca de 95%. Este material gorduroso tem a forma de emulsão na

mistura que compõe o leite e contribui muito para o resultado

energético final. A gordura do leite também é muito importante para

obtenção de sabor e odor do leite e seus derivados, além de ser a

base para fabricação do creme de leite e manteiga.

Em relação ao grupo dos minerais do leite, deve-se

ressaltar a sua grande importância nutricional, tornando o leite

uma fonte prontamente disponível de cálcio e fósforo, essenciais

para a estrutura dos ossos, dos dentes e de todo o funcionamento

do organismo. Alguns elementos não são tão abundantes no leite,

como o ferro, cuja quantidade existente é pequena, mas está na

forma prontamente disponível.

O leite, embora contenha quase todas as vitaminas, só é

boa fonte das vitaminas A, riboflavina e cianocobalamina, não

sendo considerado boa fonte das vitaminas C e D.

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2.3 Características físico-químicas

Para a obtenção de derivados de boa qualidade, além de

boas condições de manejo e higiene durante a sua produção, o

leite deve apresentar algumas características físico-químicas que

vão conferir ao produto final sabor, odor, textura e qualidade

desejáveis. Para melhor rendimento na fabricação dos derivados,

prefere-se o leite que apresente um maior teor de gordura e dos

outros sólidos, o que resultará em maior quantidade de extrato

seco total.

A acidez do leite é um parâmetro químico muito

importante para a avaliação da sua qualidade para o

processamento tecnológico, uma vez que reflete a resistência do

leite a tratamentos térmicos e à sua transformação em produtos de

boa qualidade. Sendo assim, é de suma importância determinar o

grau de acidez do leite destinado ao processamento, pois seus

produtos podem ser afetados profundamente na sua formação e

conversibilidade.

Uma maneira rotineira e rápida de avaliar a acidez do

leite é o teste do alizarol, executado nas plataformas de recepção.

Este teste avalia o desenvolvimento de cor indicativa do grau de

acidez do leite, sendo muito rápido e prático, bastando uma mistura

de partes iguais de leite com uma solução alcóolica de alizarina.

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Outra opção de avaliação de acidez do leite é o método de

Dornic, que baseia-se em uma titulação, a fim de verificar o grau

de metabolização da lactose a ácido láctico, com solução básica do

ácido láctico da amostra, na presença de uma substância

indicadora do pH do meio, desenvolvendo uma coloração rósea. A

acidez do leite varia de 12 a 20ºD (graus Dornic), sendo aceitável

na faixa de 15 a 18ºD. Fora desse limite, a acidez denuncia um

leite oriundo de vacas ordenhadas na fase colostral, vacas com

algum problema sanitário ou nutricional, vacas com processo

inflamatório e/ou infeccioso na glândula mamária que refletirá em

alteração do pH do leite produzido. As infecções da glândula, a

falta de higiene e a má conservação do leite são as causas mais

comuns do processo de acidificação do leite, que acarretará em

perda de qualidade do leite e dos seus derivados.

A densidade é outro parâmetro avaliado no controle de

qualidade do leite e deve estar entre 1,028 e 1,032, à temperatura

de 15ºC, o que significa que um litro de leite deve pesar entre 1028

e 1.032 gramas. Leites de composição diferente podem apresentar

o mesmo grau de densidade. Para determinar a densidade utiliza-

se um instrumento laboratorial denominado termolactodensímetro.

Este teste é usualmente mais adequado em laboratório.

Outro aspecto a ser considerado na composição do leite é

o extrato seco desengordurado (ESD) que é a parte sólida do leite

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exceto a gordura. O seu valor mínimo deve ser de 8,5%, ou seja,

retirando-se a gordura dos sólidos do leite obtêm-se 8,5% de

sólidos não gordurosos (proteína, lactose, sais minerais e

vitaminas).

2.4 Aspectos relacionados à obtenção e manutenção da

matéria-prima com boa qualidade.

O leite é obtido da glândula mamária mediante a

ordenha, que é uma operação bastante delicada, e de sua correta

execução dependem a quantidade e qualidade obtidas.

(TRONCO, VÂNIA MARIA, 1996).

É muito importante também a higiene na hora da

ordenha. De uma matéria-prima contaminada jamais se poderá

obter um produto de boa qualidade. Devem, pois, ser observados

alguns cuidados, relacionados a seguir, para que o leite não seja

contaminado. O ordenhador deve gozar de boa saúde, deve lavar

cuidadosamente as mãos antes da ordenha e estar vestido de

maneira adequada. O animal deve estar limpo e contido, com a

cauda presa e a região perineal higienizada e sem parasitas. O

úbere também deve ser muito bem higienizado com uma solução

anti-séptica, como, por exemplo, as soluções à base de iodo, e

com um pano limpo ou toalha de papel. A ordenha deve ser

realizada em ambiente limpo e livre de esterco. Os vasilhames que

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entrarão em contato com o leite devem ser muito bem limpos com

soluções detergentes e anti-sépticas, principalmente os clorados,

enxaguados com água limpa e abundante depois postos para

secar.

3 CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUNS ADITIVOS ADICIONADOS AO LEITE NA FABRICAÇÃO DE PRODUTOS LÁCTEOS 3.1 Fermentos lácticos

Nas indústrias, o leite é pasteurizado com a finalidade de

eliminar todos os microorganismos que possam causar doenças

ao homem e prejudicar a fabricação de seus derivados. Este

processo, porém, apresenta o inconveniente de eliminar também

os microorganismos presentes normalmente no leite e que

produzem as características peculiares aos seus produtos. Assim,

a utilização do leite pasteurizado na elaboração de derivados

provavelmente produzirá no caso do queijo, uma massa sem sabor

e com uma série de outros problemas e defeitos decorrentes da

ausência desta flora própria, isto porque a pasteurização elimina

também os microorganismos benéficos que dão ao produto gosto e

cheiro desejáveis.

Para resolver esta questão devem ser utilizados os

fermentos, que têm como finalidade produzir ácido láctico,

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melhorando os aspectos organolépticos (cor, sabor, aroma, etc.) e

a conservação dos produtos. Estes fermentos lácticos são também

conhecidos por culturas lácticas, fermentos iniciadores, starters ou

iscas, que podem ser encontradas no comércio e, dependendo do

tipo de produto que se deseja elaborar, deve-se fazer uma escolha

correta do tipo, ou seja, cada produto derivado do leite tem seu

fermento específico, como, por exemplo, fermento para iogurte,

fermento para coalhada, fermento para queijo prato, fermento para

queijo parmesão, etc..

4 DERIVADOS DO LEITE

4.1 CONCEITO E TIPOS DE DERIVADOS DO LEITE

São considerados derivados do leite aqueles produtos

obtidos mediante a sua transformação ou de um dos seus

componentes em um outro produto, com características

organolépticas e físicas próprias. Esta transformação pode ser

decorrente da fermentação (iogurte), da coagulação (queijos), do

tratamento térmico com ou sem adição de outros elementos (doce

de leite, leite condensado) ou da utilização de um dos seus

componentes, como o creme de leite e manteiga.

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Neste boletim serão descritos os processos de fabricação

de alguns derivados como: iogurte, queijos, requeijão, ricota,

manteiga e doce de leite.

5 ELABORAÇÃO DE ALGUNS DERIVADOS DO LEITE

5.1 IOGURTE

5.1.1 Conceito e tipos de iogurte

Iogurte é um tipo de leite fermentado, cuja produção é

decorrente do processo de fermentação do leite por

microorganismos lácticos específicos, podendo ser adicionado ou

não de frutas, açúcar, mel, cereais, corantes e outros ingredientes

que melhorem sua apresentação e modifiquem seu sabor. O leite

utilizado na fabricação do iogurte é fermentado e, posteriormente,

sofre um processo de coagulação a partir da utilização de um

fermento próprio composto de dois microorganismos, que são o

Lactobacillus bulgaricus e Streptococcus thermophilus que,

após fermentarem o leite, fornecem uma melhor digestão prévia

dos seus principais componentes, favorecendo uma melhor

assimilação, pelo organismo de certos componentes do leite,

principalmente a lactose e proteínas (Brandão, 1995).

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O consumo de leite fermentado no Brasil, apesar de ter

apresentado taxa excepcional de crescimento nos últimos anos,

ainda é pequeno se comparado ao dos países mais desenvolvidos.

A tendência para os próximos anos é de um aumento significativo

do consumo desse produto devido à sua imagem positiva de

alimento saudável e nutritivo (Renner, 1986) e também às suas

variações como iogurte congelado tipo sorvete, em forma de

bebidas, com os mais diversos sabores etc.

Nesta última década, houve uma expansão muito grande

na produção de iogurte líquido e de bebidas lácteas, sendo que

estas são produzidas com custo baixo, a partir do aproveitamento

do soro que normalmente seria desprezado, mas que apresenta

um bom valor nutricional.

Existem, hoje no mercado, vários tipos de iogurte,

classificados de acordo com o processo de elaboração, adição de

ingredientes, composição, consistência e textura (Brandão, 1987).

São eles:

• iogurte tradicional: o processo de fermentação ocorre

dentro da própria embalagem; não sofre homogeneização e seu

resultado é um produto firme, mais ou menos consistente;

• iogurte batido: o processo de fermentação ocorre em

fermentadeiras ou incubadoras com posterior quebra do coágulo;

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• iogurte líquido: o processo de fermentação é realizado

em tanques e é comercializado em embalagens plásticas, tipo

garrafa ou tipo “longa vida”;

• bebidas lácteas: além de iogurte, contém soro de queijo

e por isso não podem ser denominadas iogurtes, pois o teor de

sólidos não gordurosos do leite não atende à especificação

mínima.

5.1.2 – Valor nutricional do iogurte

O iogurte é uma excelente fonte de proteína, superior a

do leite, devido a adição de extrato seco lácteo e por ser

concentrado. Além disso, essas proteínas apresentam elevada

digestibilidade e já se encontram coaguladas antes da ingestão

(Tamine e Robinson, 1991).

A matéria-prima para fabricação do iogurte (o leite) deve

ser padronizada quanto ao teor de gordura. Tradicionalmente, ela

contém de 3 a 4% de gordura e a sua padronização antes do

processo de fermentação resulta em um produto uniforme, além de

influenciar na consistência e textura do iogurte. Além disso, faz

parte de uma dieta equilibrada.

O iogurte possui uma maior concentração de minerais

que o leite, sendo uma ótima fonte de cálcio, contudo, possui

valores mais baixos de vitaminas devido ao processamento, daí a

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necessidade de um método de enriquecimento. A adição de polpa

de fruta, rica em vitaminas, é uma maneira de repor estas perdas

(Deeth e Tamine, 1981).

Os produtos fermentados também ajudam a prevenir

desordens gastrintestinais, tais como diarréia, constipação e

gastroenterite, além de apresentarem a vantagem de reduzir a

alergia às proteínas do leite apresentada por certos indivíduos

sensíveis e de aumentar a longevidade, uma vez que ajuda a

reduzir os radicais livres originados pelo metabolismo que são

prejudiciais à saúde.

5.1.3 Técnica de fabricação do iogurte

5.1.3.1 Preparo da matéria-prima

O leite para fabricação de iogurte não deve ser congelado

para que não ocorra defeitos de textura, mas deve ser resfriado.

Para um produto mais consistente deve-se aumentar a matéria

seca do leite através da adição de 2 a 4% de leite em pó. No caso

de utilizar açúcar, este deve ser adicionado ao leite antes do

aquecimento, normalmente de 8 a 12%. A homogeneização do

leite não é obrigatória ficando quase que restrita às grandes

indústrias, pois exige um equipamento relativamente caro.

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5.1.3.2 Tratamento da matéria-prima

Esse tratamento tem como objetivo destruir os germes

patogênicos e outros que possam competir com o fermento do

iogurte que será inoculado, além de promover a desnaturação das

proteínas do soro e de favorecer o crescimento das bactérias do

iogurte.

Devem ser rigorosamente observados no aquecimento a

temperatura e o tempo que a matéria-prima deve permanecer sob

essa temperatura sendo recomendados os seguintes: 95°C por 1,5

minutos; 90°C por 3,5 minutos; 85°C por 8,5 minutos ou 80°C por

30 minutos. O tipo de aquecimento mais indicado é através de

banho-maria, evitando-se o contato direto da fonte térmica com o

leite.

5.1.3.3 Diminuição da temperatura

Após o leite ter sido aquecido, deve ser resfriado a 42-

45°C, resfriamento este que pode ser feito através da substituição

da água quente do banho-maria por água fria e, para não haver

contaminação nessa fase, o recipiente deve estar sempre fechado,

abrindo apenas para controlar a temperatura.

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5.1.3.4 Inoculação do fermento

Após o leite ser resfriado (42-45°C) adiciona-se de 1 a 2%

de fermento (cultura ou isca) apropriado, bem homogeneizado,

quebrando-se todos os grumos e, após a adição do fermento, ele

deve ser homogeneizado novamente por cerca de 2 minutos, para

a sua distribuição completa.

O fermento láctico deve ser adicionado somente em leite

tratado termicamente, como citado anteriormente.

5.1.3.5 Resfriamento

Após a adição do fermento, o leite deve permanecer em

completo repouso por aproximadamente 4-6 horas, mantido a uma

temperatura de 42 a 45°C (até atingir o ponto ideal). Ao final da

fermentação, o coágulo deve apresentar pH ente 4,5 e 4,7 ou

acidez de 70° a 72°D. O gel formado deve ser liso, brilhante, sem

desprendimento de soro ou gases, com cheiro e sabor próprios.

O objetivo do resfriamento é inibir o desenvolvimento das

bactérias e, conseqüentemente, interromper a produção de ácido; é

recomendado que se faça em duas etapas para evitar o choque

térmico, o que provoca um encolhimento da massa.

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- Etapas do resfriamento

A primeira etapa consiste em abaixar a temperatura a 18-

20°C em, no máximo, 30 minutos, o que pode ser feito com água a

temperatura ambiente. No caso do iogurte batido, pode-se fazer a

essa mesma temperatura a adição de ingredientes como frutas,

corantes, etc., que devem ser homogeneizados na massa.

Na segunda etapa deve-se fazer o resfriamento a 10°C.

O aparecimento do sabor característico ocorre durante as 12 horas

após o resfriamento, proporcionando as características finais de um

bom iogurte.

O próximo passo, no caso de iogurte batido, será a

quebra da coalhada com agitação, visando obter uma massa de

textura homogênea.

O iogurte tradicional é incubado dentro da própria

embalagem e não sofre o processo de agitação.

5.1.3.6 Envase e armazenamento

No caso do iogurte batido, a fermentação é feita num

tanque com posterior embalagem, sendo é envasado depois de

resfriado e mantido sob refrigeração por um período superior a 24

horas antes de ser comercializado. A embalagem deve seguir

alguns critérios como: ser impermeável aos sabores, corantes,

odores do ambiente, oxigênio e contaminações externas; resistir à

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acidez do iogurte, a golpes e umidade, ao transporte e

armazenamento e não permitir exposição do produto à luz. Uma

boa opção para produção em pequena escala é a embalagem de

polietileno que possui também facilidade para o fechamento

térmico.

A temperatura de armazenamento deve ser de 2 a 5°C

para conservar e melhorar a consistência do iogurte, que deve ser

consumido a temperatura de 10 a 12°C, na qual o sabor torna-se

mais apreciável.

5.1.3.7 Transporte e comercialização

O transporte da fábrica ao comércio deve ser o mais

rápido possível, principalmente no verão; quando o percurso é

longo, deve ser feito em caminhões refrigerados.

5.1.3.8 Aditivos empregados na fabricação do iogurte

A - Edulcorantes

O edulcorante mais utilizado é o açúcar, que pode ser

refinado ou cristal, isento de impurezas. Para produtos “light” ou

dietéticos são usados outros edulcorantes como a sacarina,

aspartame, estévia e ciclamato.

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B - Aromas e corantes

Existem aromas naturais e artificiais que levam ao sabor

desejado e devem ser adicionados ao leite após a fermentação. O

corante tem a finalidade de lembrar o sabor escolhido,

relacionando-o com a fruta. Os corantes naturais mais utilizados

são a beterraba, carmim de cochonilha, carotenóides e urucum; e

os artificiais são o amarelo crepúsculo, bordeaux, laranja GGN,

tartazina e vermelho 40. Devem ser utilizados, ambos, na

proporção de 0,02 a 0,15%.

C - Polpa de frutas

As polpas devem possuir pH e viscosidade próximos ao

do iogurte, na proporção de 0,5 a 5,0%. Podem ser aproveitadas

também, as geléias de frutas, tomando-se cuidado pois estas já

possuem açúcar.

D - Conservante

O uso de conservantes em iogurtes não é permitido pela

legislação, restringindo-se ao preparo de polpas, sucos e pastas de

frutas quando empregados como ingredientes na elaboração do

iogurte, num limite máximo de 0,1% de ácido sórbico.

E - Espessante:

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Tem o objetivo de melhorar a consistência, viscosidade e

aparência do produto final, além de prevenir a sinérese (separação

do soro) (Nielsen, 1975). Como exemplo temos o amido

modificado, carragena, agar-agar, alginatos, goma xantana, entre

outros. Devem ter sabor neutro, fácil solubilidade em água e leite,

estabilidade em pH ácido e não apresentar cor (Rasic e Kurman,

1978). Sua adição pode ser feita ao leite frio ou morno antes da

pasteurização, no leite quente logo após a pasteurização ou no

leite inoculado antes da incubação.

F - Outros Ingredientes

Como mel, cereais e legumes também podem ser adicionados

ao iogurte para melhorar seu valor nutricional mas sempre

tomando-se todo o cuidado na qualidade microbiológica de

qualquer elemento a ser adicionado ao iogurte.

5.2 – QUEIJOS

5.2.1 - Conceito e Classificação dos tipos de queijo

Queijo é o produto obtido pela coagulação do leite, seguida de

uma desidratação da coalhada, podendo ser de massa fresca ou

de massa maturada.

O valor nutritivo do queijo o coloca entre os alimentos mais

completos e recomendáveis para a dieta de um indivíduo, pois

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apresenta alta concentração de proteínas, gordura, sais minerais e

vitaminas. Comparando-o com a carne, seu valor nutritivo é

semelhante, sendo que o do queijo é mais concentrado. Ele

também favorece o fortalecimento dos dentes e ossos devido ao

alto teor da cálcio e fósforo.

Existem diversas maneiras de se classificar um queijo,

apresentaremos três critérios de classificação:

Classificação quanto à maneira de obtenção da massa: -

Massa obtida por coalho: são aqueles queijos onde a precipitação

da massa é obtida pela coagulação enzimática do leite. Entre eles

temos o queijo Prato, Minas, Parmesão, Mussarela, etc.;

- Massa obtida por fermentação ácida: a precipitação do leite é

obtida pela fermentação ácida do leite, reduzindo o pH do mesmo

até o ponto isoelétrico do leite quando então ocorre a precipitação,

como o queijo Cottage-cheese;

- Massa extraída do soro: a precipitação da massa é obtida pela

aplicação do calor, ajudado pela adição de uma solução ácida,

como o queijo Ricota;

- Massa obtida por fusão: esta massa é obtida pela ação do calor

com os sais fundentes, como os queijos fundidos ou pasteurizados.

Classificação quanto ao tratamento da massa:

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- Massa crua: são os queijos cuja massa não sofre nenhum

aquecimento, além daquele do leite para que se processe a

coagulação;

- Massa semi-cozida: são os queijos cuja massa sofre um

aquecimento em torno de 41-42ºC;

- Massa cozida: são aqueles queijos cuja massa sofre um

aquecimento superior a 45ºC,podendo chegar a 51ºC.

Classificação dos queijos quanto ao teor de gordura:

- Queijo gordo: teor de gordura superior a 40%;

- Queijo meio gordo: teor de gordura entre 25 e 40%;

- Queijo magro: teor de gordura entre 15 e 25%;

- Queijo desnatado: teor de gordura inferior a 15%.

5.2.2 – Fabricação do queijo Minas Frescal

- Ordenhar o animal em condições sanitárias adequadas;

- Aquecer o leite a 65ºC sob agitação constante, mantê-lo a esta

temperatura por 30 minutos, sem agitação a fim de pasteurizá-lo;

- Resfriar o leite a 35ºC, através de imersão do recipiente em água

fria corrente ou banho-maria. Adição de fermento láctico (1,5%) é

opcional para este queijo;

- Dissolver o coalho em um pequeno volume de água filtrada;

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- Adicionar esta solução ao leite, seguido por agitação por um a

dois minutos. A quantidade do coalho é especificada na

embalagem do produto;

- Deixar o leite em absoluto repouso. A coalhada se formará num

período de 50 a 70 minutos, ficando com uma aparência de

gelatina;

- Cortar a coalhada em diversos sentidos procurando obter cubos

de aproximadamente 1,5 cm de lado, havendo formação de soro

amarelo-esverdeado;

- Após o corte, iniciar uma mexedura suave usando uma colher ou

pá, por 20 a 40 minutos, dependendo da consistência desejada no

queijo, quanto mais firmes maior o período de mexedura;

- Coletar a massa no recipiente e transportá-la para formas

plásticas, com ou sem fundo, perfuradas lateralmente para

escoamento do soro. Deverão ser colocadas sobre uma mesa

limpa, de preferência com tampo metálico;

- Após 15 minutos, grande parte do soro terá se escoado e os

queijos poderão ser virados dentro das formas. Na parte superior

lisa, salpicar sal de cozinha e espalhar com as mãos. Aguardar

mais 30 minutos e virar os queijos novamente, salgando a outra

face;

- Os queijos poderão ficar à temperatura ambiente no mesmo local

até o dia seguinte, quando poderão ser consumidos.

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5.2.3 – Fabricação de queijo Mussarela

- Aquecer o leite sob constante agitação a 65ºC, mantendo-o em

repouso por 30 minutos;

- Esfriar o leite a 35ºC, por meio de banho-maria com água

corrente;

- Adicionar 15% de fermento láctico;

- Dissolver em um pequeno volume de água fervida e resfriada, à

temperatura ambiente, uma dose de coalho, adicionando-o ao leite

e agitando-o por um a dois minutos;

- Deixar o leite em repouso por mais ou menos 50 minutos, para

que se processe a coagulação;

- Cortar a coalhada nos diversos sentidos. A distância entre um

corte e outro deverá ser de um centímetro;

- Iniciar a mexedura da coalhada que deverá ser lenta. Deve-se

agitar por cinco minutos deixando a massa em repouso por 3

minutos; novamente inicia-se a agitação e com intervalo de

repouso essa deverá durar cerca de 60 minutos;

- Após 20 minutos do corte, fazer um aquecimento até 40ºC;

- Ao fim desse período a massa deverá apresentar-se levemente

consistente. O soro escoado poderá ser guardado para ser

utilizado na fabricação de ricota. Para que ocorra a fermentação a

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23

massa obtida deverá ser deixada à temperatura ambiente até o dia

seguinte;

- No dia seguinte proceder ao teste de filagem. Neste teste a

massa deverá ser cortada em pedaços de 2 cm e colocada em

uma vasilha com água a 75 - 80ºC. Agitar esses pedaços com uma

espátula por 5 minutos. Remover alguns pedaços tentando ajuntá-

los formando um pequeno bloco, colocá-los novamente na água

por cerca de um minuto e após remoção da água, tentar esticar a

massa. Repetir essa operação algumas vezes. Se a água se

apresentar leitosa e a massa ao invés de esticar, arrebentar, esta

ainda não tem acidez suficiente para ser filada. A massa deve ser

deixada em repouso por mais tempo. Decorrido esse tempo

proceder a um novo teste, se a massa esticar bem, proceder então

a filagem. Agora, numa vasilha maior, cortar toda a massa em

cubos e repetir a operação anteriormente descrita. A massa é

trabalhada até que sua aparência seja plástica e de grande

elasticidade. Uma vez que a massa esteja bem filada, esta será

moldada e enformada;

- Após resfriamento, a massa deverá ser colocada em salmoura a

20% por um período de 24 horas para cada quilo de mussarela;

- Após a salga, a mussarela estará em condições de ser

consumida;

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24

- Para uma melhor conservação, a mussarela deverá ser

conservada em temperatura entre 0 e 5ºC.

5.2.4 – Fabricação de Ricota

- Pode-se utilizar soro proveniente de qualquer tipo de queijo,

desde que o soro não esteja ácido (azedo);

- Colocar o soro em um recipiente de alumínio após coá-lo em

pano;

- Levar ao fogo em constante agitação com uma colher até que a

temperatura atinja 65ºC (medida com um termômetro);

- Adicionar então leite ao soro. Utilizar para cada 3 litros de soro, ¼

de leite (um copo grande);

- Continuar aquecendo até 85ºC e adicionar então 4% de fermento

láctico ou vinagre branco (20 ml para 10 litros de leite) lentamente

até que se inicie a coagulação da mistura; neste ponto deve-se

parar a agitação e continuar o aquecimento até 95ºC;

- Na superfície do soro deverá se formar uma camada

esbranquiçada e grossa que deve ser deixada em repouso por

aproximadamente 20 minutos;

- Coletar com uma espumadeira esta camada e transportá-la para

um recipiente forrado com um pano de algodão. Este recipiente

deve ser perfurado para permitir o escoamento do soro;

Page 26: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

25

- Deixar algumas horas escorrendo e depois colocar em geladeira

para uma melhor conservação.

A durabilidade da ricota é curta. Em geladeira dura

aproximadamente uma semana. Ela pode ser consumida pura,

com sal ou açúcar.

5.2.5 - Fabricação de Queijo Condimentado

- Coar o leite e aquecê-lo a 65ºC durante 30 minutos. Utilizar este

aquecimento somente quando o leite não for pasteurizado;

- Após 30 minutos proceder ao resfriamento do leite para a

temperatura ambiente que é aproximadamente 25ºC;

- Adicionar 0,3 ml de coalho líquido para cada 10 litros de leite

tendo-se o cuidado de antes, diluí-lo em água previamente fervida.

Este volume é de mais ou menos meio copo;

- Adicionar em seguida 100ml de fermento láctico para cada 10

litros de leite. Mexer por mais ou menos 2 minutos e deixar em

absoluto repouso até o dia seguinte;

- Transportar a massa obtida para um tecido de malha não muito

fina com o auxilio de uma concha;

- Unir os pontos, fazer um saco e dependurá-lo em um local limpo e

livre de insetos. O saco deverá ficar neste local por cerca de 20

horas;

- A massa então obtida será condimentada com frutas ou

condimentos picantes conforme o gosto, como por exemplo:

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26

cebola, alho, azeitona, extrato de tomate, polpas de frutas, ervas

diversas. Os condimentos deverão ser devidamente esterilizados

em panelas de pressão antes de serem incorporados à massa.

Além disso, deverão ser picados e eventualmente moídos em

máquina própria ou batidos no liqüidificador.

Trata-se de um produto perecível que, portanto, deverá ser

guardado em geladeira. Poderá ser envasado em copos plásticos

ou de vidro, devendo ser hermeticamente fechados.

5.2.6 - Requeijão

O requeijão tradicional é um produto lácteo tipicamente

brasileiro, obtido em pequenas instalações e na fazenda, visando o

aproveitamento do leite desclassificado ou

excedente(CAVALCANTE, 1991).

São muitas as variedades de requeijão, obtidas por acidificação

direta ou controlada. Não há padrão para o produto comercializado

com esse nome. Seu teor de umidade é muito variável, podendo

ser duro, como o requeijão do nordeste, ou macio, quase pastoso,

como o requeijão mineiro ou comum.

O requeijão mineiro é um produto ligeiramente salgado, obtido

pela coagulação espontânea do leite, geralmente desnatado,

seguido de dessoramento e lavagem da massa. A massa protéica

Page 28: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

27

é dispersa a quente, com o creme. O produto deve ser isento de

olhaduras, compacto, porém macio.

O aproveitamento do leite ácido resultante da atividade de

bactérias acidificantes, por falta de condições de preservação pelo

frio ou pelo transporte demorado, pode contribuir para o aumento

da rentabilidade dos laticínios, que contam assim, com um produto

a mais na sua linha de produção. E sob o ponto de vista higiênico-

sanitário, não há necessidade de pasteurização da matéria-prima,

pois o requeijão é submetido a um processo térmico drástico.

5.2.6.1. - Técnica geral de fabricação do Requeijão

- Obtenção da massa

Para obtenção da massa, o leite desnatado deve ser aquecido a

32°C e mantido em repouso por aproximadamente 20 horas, até a

coagulação natural da caseína, acidez de 60-65°D e pH 4,5.

A coalhada deve ser aquecida a 55°C, com agitação, em um

tanque de fundo duplo, e após a coagulação segue-se a

dessoragem(retirada do soro).

- Lavagem da massa

A massa dessorada deve ser lavada três a quatro vezes com

água fria, até a acidez da água de lavagem ser reduzida para 4°D e

o pH para 4,37, sendo que os volumes de água de cada lavagem

Page 29: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

28

correspondem a aproximadamente, o dobro do volume de massa

dessorada.

- Elaboração do requeijão

A massa deve ser transferida para um tacho de fundo duplo,

onde será adicionado bicarbonato de sódio e cloreto de sódio nas

proporções de 0,8%. Após dispersão da massa, o creme é

adicionado mantendo-se a mistura aquecida a 85-90°C, até

completa incorporação da gordura, tornando o produto macio e

filante. Atingida a concentração desejada, o produto é transferido

ainda quente, para embalagens que pode ser sacos de polietileno e

estocado a 2-4°C.

5.3 – Manteiga

5.3 1 – Matéria Prima

A matéria prima utilizada para a fabricação da manteiga é o

creme, também chamado de nata. Este creme apresenta uma

coloração branca-amarelada e se forma na superfície do leite em

repouso em razão da sua menor densidade.

Do ponto de vista químico o creme é composto, em sua maior

parte, de triglicérides, mas também possui glicerina livre e ácidos

voláteis de outras glicérides, colesterol, fosfolipídeos e outros tipos

de lipídeos. Estas glicérides de ácidos voláteis não existem em

Page 30: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

29

nenhuma outra gordura, senão na do leite, por isso a caracterizam,

emprestando à manteiga um sabor peculiar.

5.3.2 – Técnica de fabricação da Manteiga

- Obtenção do creme

Para se obter o creme, o leite deve sofrer desnate; este pode ser

feito de duas formas:

- Desnate artificial ou em equipamentos apropriados

- Desnate natural

No desnate artificial o leite é submetido a uma força centrífuga

fazendo-o girar rapidamente. Devido á diferença de

densidade(peso) o creme é separado dos demais componentes.

Este em razão da sua menor densidade se aproxima do eixo e o

leite desnatado é projetado nas paredes da desnatadeira.

Os vários tipos de desnatadeiras não diferem muito entre si já

que todas são constituídas do princípio de força centrífuga que se

imprime a uma turbina onde se faz chegar o leite. Quando este leite

é separado os produtos são eliminados por dois sifões: um para o

creme e outro para o leite desnatado.

O desnate natural consiste em deixar o leite em repouso por

aproximadamente 12 horas. A gravidade, agindo lentamente, faz

com que os glóbulos de gordura que têm menor densidade subam

para a superfície do leite. O creme deve ser retirado com uma

Page 31: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

30

espumadeira tomando-se o cuidado de não agitar o leite. Este

creme retirado deve conter o mínimo de leite possível.

Para que o desnate seja bem feito é muito importante que o

leite fique a uma temperatura baixa, e que antes o mesmo seja

previamente filtrado, afim de que a manteiga produzida seja de

qualidade.

- Pasteurização do creme

A pasteurização tem como finalidade matar todos os

microorganismos existentes para que estes não prejudiquem a

maturação, sendo que esta é realizada pelos micróbios do

fermento.

Esta pasteurização é realizada porque o creme recém obtido

pode conter uma grande quantidade de micróbios indesejáveis

para a manteiga, principalmente se o leite foi obtido em más

condições de higiene, ou se o recipiente onde foi feito o desnate,

ou a desnatadeira, não estavam bem limpos.

Para eliminar-se os microorganismos sem prejudicar o valor

nutritivo do creme, este é submetido a uma temperatura de 75ºC,

mantendo-a por 10 a 20 minutos. Esta operação deve ser feita em

banho-maria para evitar que o creme queime.

- Maturação do creme

Page 32: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

31

Após a pasteurização o creme é resfriado a 25ºC, sendo muito

importante a manutenção desta temperatura já que ela é a que os

microrganismos do fermento crescem. Acrescenta-se 2% de

fermento láctico específico para manteiga e espera-se por 10 a 15

horas, até que o creme tenha um sabor ácido. Depois de maturado

baixar a temperatura do creme para 12ºC.

- Bateção do creme

É uma operação que consiste na transformação do creme em

manteiga. Deve-se bater o creme contra uma superfície, de modo

que os glóbulos de gordura se rompam e se juntem formando uma

massa compacta, que é a manteiga.

Inicialmente se formam pequenos grânulos, do tamanho de um

grão de milho, que flutuam num líquido branco denominado soro ou

leitelho.

Durante o batido é que o creme se torna espesso, em seguida

esponjoso e finalmente aparecem os glóbulos de manteiga. Neste

ponto se retira o leitelho tomando bastante cuidado para não se

perder a manteiga. É recomendável fazer o soro passar através de

uma peneira para recuperar os grãos de manteiga. A seguir

continua-se batendo até que a manteiga se junte.

- Lavagem da manteiga com água

Page 33: FABRICAÇÃO DE DERIVADOS DO LEITE COMO UMA

32

Para retirar o restante do soro que possa ter ficado depois da

batedura, lava-se a manteiga com água fria em torno de 10 a 12ºC.

Esta operação deve ser repetida três vezes no mínimo para que se

retire todo o soro, que é ácido. Deve-se lavar até que a água da

lavagem saia bem límpida. Uma manteiga sem restos de soro tem

um tempo de conservação maior.

A este soro ácido ou leitelho atribuem-se qualidades

terapêuticas e alimentícias, sendo muito utilizado na criação de

suínos e aves. Pode também servir para fermentar cremes doces.

- Salga

A manteiga deve receber de 2 a 3% de sal para melhorar o

sabor, aumentar a sua conservação e ajudar a retirar a água que

tenha ficado após a lavagem.

Existem dois tipos de salga:

- salga seca

- salga úmida

A salga úmida consiste em utilizar sal grosso diluído em água

e se faz na última água de lavagem. A salga a seco é realizada

durante a operação de malaxagem ou amassamento(apresentada

a seguir) da manteiga. Neste caso deve-se utilizar um sal fino e

limpo que esteja na forma de pó, para evitar que grãos

demasiadamente grandes não se misturem bem com a manteiga

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33

fazendo com que partes fiquem muito salgadas enquanto outras

fiquem sem sal.

- Malaxagem ou amassamento

A finalidade deste amassamento é retirar a água de lavagem

que ficou no interior da manteiga. Se esta etapa não é realizada o

produto fica com umidade excessiva. O amassado manual se faz

estendendo a manteiga sobre uma mesa e passando um rolo sobre

a massa ou apertando com as mãos. Neste momento é que se

adiciona o sal. Após a adição de sal se deixa 24 horas em repouso

e torna a amassá-la. Desta maneira o sal ajudou a retirar a água

restante.

- Moldagem e embalagem

A manteiga caseira, para posterior comércio, pode ser moldada

em blocos de ¼ e ½ quilo, utilizando para isso marcos de madeira

onde a manteiga é comprimida com o auxílio de uma faca e depois

retirado com um empurrador também de madeira.

A embalagem pode ser feita com papel manteiga ou papel

aluminizado, com a finalidade de evitar que a luz incida sobre a

manteiga provocando a sua rancificação.

A conservação é em temperatura de 4 a 6ºC, que é em média a

temperatura de geladeira.

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5.4 – Doce de leite

5.4.1 – Conceito e tipos de doce de leite

É o produto resultante da cocção da mistura de leite e açúcar,

adicionando ou não outras substâncias, como côco, amendoim,

ameixa, etc., até alcançar uma concentração conveniente.

Existem dois tipos de doce de leite: em pasta e em tabletes, a

diferença entre eles está na concentração que o produto atinge no

ponto final.

O doce de leite é um produto de alto valor nutritivo, aliado ao

excelente sabor, podendo contribuir com significativa porcentagem

de proteínas, vitaminas e minerais.

5.4.2 – Técnica de fabricação do Doce de Leite

O leite não deve apresentar odor, cor ou sabor diferentes do

normal. A acidez não pode ser elevada para evitar a precipitação

das proteínas, dando um produto com pequenas porções

coaguladas, o que prejudicaria a qualidade do produto. A acidez do

leite, logo depois de ordenhado, fica entre 15 e18ºD, que deve ser

abaixada para 13ºD através da adição de bicarbonato de sódio na

proporção de uma colherinha de café para um litro e meio de leite.

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35

Quanto à gordura, o leite deve ser parcialmente desnatado,

sendo o ideal de 2%. É uma fração muito importante para a textura

e o rendimento do doce.

Para a fabricação de doce de leite do tipo pastoso, colocar 1,5

litros de leite em uma panela onde é adicionado o bicarbonato de

sódio dissolvido em água. Levar ao fogo até iniciar a fervura pelo

tempo de 5 minutos. Adicionar 300 gramas de açúcar cristalizado,

mexendo com vigor para que o açúcar dissolva completamente.

Manter a fervura, mexendo constantemente pelo tempo suficiente

para que o leite fique cada vez mais grosso, até chegar no ponto de

formar um “fio” quando a colher for levantada. O ponto final se

observa colocando uma gota de doce em um copo com água fria. A

gota deve atingir o fundo do copo sem desmanchar.

6.- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha do derivado a ser produzido deve ser feita mediante

uma pesquisa de mercado da região onde é produzido o leite.

É importante saber que tipo de derivado é consumido pela

população da região antes de produzi-lo para não correr o risco de

fabricar um produto que não tem aceitação pelos consumidores.

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7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

_CAVALCANTE, ANTÔNIO BELFORTE DANTAS. Universidade

Federal de Viçosa. Desenvolvimento e Padronização de

Formulações para o Processamento de Requeijão Tradicional.

Viçosa UFV, 1991, 104p.

_HOSKEN, F. Samuel. Tecnologia da Fabricação de Queijos. 3a

Edição, jan. 1983, EPAMIG, p.209

_MENDONÇA, A.T. Fabricação de Iogurte e Bebidas Lácteas.

Boletim Técnico. Ano VII no 15. Lavras. 1998.

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_NETO, J.P. de M.; MUNCK, A.V.; FURTADO, M.M.

Aproveitamento Racional de Leite em Fazenda. EPAMIG –

CEPE – ILCT, outubro 1984. 36p.

_Processamento de Leite de Consumo. Adão José Rezende

Pinheiro, Professor Titular UFV. Maria Cristina Alvarenga Viana Mosquim,

Professora Adjunta Viçosa UFV, 1991, 340p.

_ROCHA FILHO, POLICARPO. Manteiga 3a Edição. Rio de Janeiro FIA,

1941, 60p.

_TRONCO, Vânia Maria. Aproveitamento do Leite e Elaboração de seus

Derivados na Propriedade Rural. GUAIBA: Agropecuária, 1996. 146p.