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BOLSA DE MERCADORIAS E FUTUROS – BM&FFUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO – FIA
FABÍOLA SALANI DE SOUZA
MECANISMOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO E CRÉDITOS DE CARBONO: AS
POTENCIALIDADES DO BRASIL
Monografia apresentada como parte dos requisitos para a conclusão do curso MBA Derivativos e Informações Econômico-Financeiras, Turma 5, sob orientação do Prof. Dr. José Roberto Securato
São PauloAbril - 2007
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
1.1 Situação problema .......................................................... 1
1.1 Objetivo .......................................................................... 3
1.2 Metodologia ................................................................... 4
1.3 Descrição dos capítulos ................................................. 6
2. O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO
2.1 A primeira era da industrialização – 1769 a 1920 ........ 7
2.1 A segunda era da industrialização – 1920 a 1970 ....... 8
2.2 A era pós- industrial ....................................................... 10
2.3 Os problemas ambientais de hoje ................................. 12
2.4 O efeito estufa ............................................................... 15
2.4.1 Problemas ambientais e efeito estufa no Brasil ...... 22
3. AS SOLUÇÕES PARA OS PROBLEMAS AMBIENTAIS
3.1 Antecedentes do Protocolo de Kyoto ............................ 25
3.1.1 Outros acordos de redução de emissão ................ 25
3.1.2 Negociações em torno do clima ........................... 26
3.2 O Protocolo de Kyoto .................................................... 27
3.3 Mecanismos de Desenvolvimento Limpo ...................... 35
3.4 Créditos de carbono ....................................................... 40
3.5 Perspectivas .................................................................... 43
4. AS VANTAGENS COMPETITIVAS DO BRASIL
4.1 Projetos de MDL ............................................................ 46
4.1 A venda de créditos de carbono brasileiros ................... 48
4.2.1 Mercado Brasileiro de Redução de Emissões ....... 49
4.2 Etanol ............................................................................ 50
4.3 Perspectivas ................................................................ 55
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................... 59
ii
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................ 62
LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS
TABELAS
Tabela 1 – Produção mundial de energia, em bilhões de kWh .................................... 9
Tabela 2 – Estrutura da oferta de energia em países da OCDE em 2004 .................... 10
Tabela 3 – Matriz energética mundial ......................................................................... 11
Tabela 4 – Principais gases de efeito estufa afetados pelas atividades humanas ........ 19
Tabela 5 – Anexo B do Protocolo de Kyoto ................................................................. 29
Tabela 6 – Evolução das emissões de CO2 em toneladas ............................................ 34
Tabela 7 – Custo médio de redução gases de efeito estufa por tonelada de carbono ... 36
Tabela 8 – Fluxo de CO2 equivalente na produção e consumo de etanol no Brasil .... 53
Tabela 9 – Total de projetos MDL registrados e redução de carbono .......................... 56
Tabela 10 – Estimativas do mercado de carbono para o período de 2008 a 2012 ........ 57
GRÁFICOS
Gráfico 1 – Matriz elétrica do Brasil em 2006 ............................................................ 23
Gráfico 2 – Compradores de créditos de carbono de janeiro a setembro de 2006 ...... 44
Gráfico 3 – Distribuição geográfica dos projetos de MDL ........................................... 47
Gráfico 4 – Proporção de veículos bicombustíveis no total de vendas de veículos ...... 52
Gráfico 5 – Quem vendeu créditos de carbono de janeiro a setembro de 2006 ............ 57
FIGURAS
Figura 1 – Distribuição das emissões de dióxido de carbono no mundo ....................... 20
Figura 2 – Ciclo de um projeto de MDL ........................................................................ 37
Figura 3 – O caminho para a aprovação de um projeto de MDL ................................... 48
iii
AGRADECIMENTOS
Ao longo do meu trabalho, tive ajuda de várias pessoas que contribuíram de
alguma forma para que eu chegasse a esse resultado. Houve apoio profissional, logístico,
emocional, de todo tipo. Vou procurar mencionar todas.
Ao meu pai, Ivan, pelo incentivo constante, pela infra- estrutura que me deu para
desenvolver o trabalho, pela bronca final, quando impôs limites para a pesquisa, quando
me deu mais material e discutiu o assunto comigo, pelo amor, pelo carinho.
À minha mãe, Yone, por ter me proporcionado também infra- estrutura, além da
habitual compreensão, pelo interesse que demonstrou pelo tema, por não me deixar
desanimar, pelo amor, pela vida que me deu.
À minha irmã Marcela, por ter me agüentado escrevendo horas no quarto sem
reclamar, mesmo quando o fazia de madrugada.
Ao meu sobrinho Bruno, fonte de todas as minhas alegrias e inspirações, por ter
compreendido que havia momentos em que eu não poderia lhe dar atenção, ter
respeitado a maioria das horas em que eu estava concentrada, por seu sorriso, que me
levantou.
Às amigas Cristiani, Cíntia, Marilu, Juliana, Karla e Alessandra, porque
contribuíram com minha sanidade mental quando ela parecia ir embora e ainda deram
dicas úteis para o trabalho e incentivo sempre mais que necessário.
A José Roberto Securato, meu orientador, por ter ensinado como fazer esse
trabalho e clareado quais os temas necessários a desenvolver para que ele ficasse
pronto.
A Daniela Palermo, minha orientadora- “assistente”, que desde o início me ajudou
com fontes de informação, críticas importantes ao trabalho, orientações pertinentes,
teve paciência, leu o texto quando eu já não tinha coragem de fazê- lo, animando- me
quando eu estava sem fôlego.
v
A Rosana Tavares, que nunca se furtou a responder às dúvidas que tive, fosse
pessoalmente ou por e- mail, e deu direcionamento mais preciso à linha a ser adotada.
À BM&F, que me proporcionou a oportunidade de fazer o curso e ainda concedeu
material com o qual consegui dar mais forma o trabalho.
A Werner Kornexl, do Banco Mundial, porque me explicou com clareza coisas
sobre as quais ainda tinha dúvida e foi, assim, fundamental no trabalho.
A Artur Cesar de Oliveira, diretor de Meio Ambiente do grupo Paulista, porque
também explicou mecanismos de funcionamento desse mercado e, com isso, ajudou no
direcionamento mais preciso da pesquisa necessária para esse estudo.
A todos os que me deram alguma dica ou informação importante ou ainda
contribuíram com referências bibliográficas: Glauco Ulisses de Oliveira, Arthur Pereira
Filho, Guilherme Fagundes, da BM&F, Marcelo Theoto Rocha, do Cepea, funcionários do
Ministério de Ciência e Tecnologia, Fabrício Brollo, da Finep, Rafael Marques, da CCX, Edit
Kiss, da EU ETS, Valéria Masson, do Unibanco.
Aos colegas de jornal, que, nos dias em que estive fora para escrever a
monografia, respeitaram meu afastamento, e quando voltei e ainda carecia de
informações e tempo, tiveram tolerância com as horas que usei neste trabalho.
vi
RESUMO
Os possíveis efeitos deletérios do aquecimento global –causado pelo
recrudescimento do efeito estufa- levaram diversas nações a firmar um documento em
que se comprometem a reduzir as emissões dos gases que pioram esse fenômeno. Esse
compromisso, chamado Protocolo de Kyoto, estabelece metas de redução dos gases de
efeito estufa –os GEEs– para o período que vai de 2008 a 2012. Mas somente os países
desenvolvidos, listados no chamado Anexo I, têm de cortar as emissões desses gases no
período.
O principal diferencial do Protocolo de Kyoto é criar os chamados mecanismos de
mercado, que flexibilizam a maneira como as metas serão alcançadas. Além de
reduzirem as emissões dos gases internamente, os países comprometidos têm mais três
alternativas para alcançar seus objetivos: investindo em projetos de redução em outras
nações do Anexo I, comprando créditos de carbono em Bolsas mundiais que
comercializam esse produto ou alocando recursos em projetos de mitigação de poluentes
em países em desenvolvimento, no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, o
MDL.
Brasil, Índia e China são os países que despontam com as maiores possibilidades
de ganhos em projetos de MDL. Os três inclusive aparecem com o maior número de
iniciativas do tipo registradas no organismo da ONU que coordena essas atividades.
Mas, por ter uma matriz elétrica “limpa”, baseada em hidroeletricidade, que não
emite gases nocivos à atmosfera, o Brasil acaba tendo desvantagem em relação aos
outros dois países. Isso porque os projetos de geração de energia limpa são os que
apresentam os melhores resultados no sentido de gerar reduções que sirvam para
ajudar no cumprimento das metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto.
Por esse motivo, o Brasil precisa encontrar alternativas que o tornem mais
eficiente para obter melhores resultados nesse mercado nascente. Porque ele tem um
grande potencial para atrair investimentos estrangeiros no âmbito do MDL. Prova disso é
que seis instituições financeiras estrangeiras estão cadastradas no site da Bolsa de
Mercadorias e Futuros como interessadas em encontrar projetos de desenvolvimento
limpo no país para alocar recursos.
vii
Palavras- chave: Protocolo de Kyoto, créditos de carbono, MDL –Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo, desenvolvimento sustentável.
viii
Capítulo 1 - Introdução
1.1 Situação problema
Os problemas ambientais vêm despertando a atenção das nações há tempos. Na
década de 1960, segundo Lustosa et al. (2003, p. XI), o tema entrou definitivamente na
agenda de pesquisa dos economistas, que passaram a vislumbrar a possibilidade de
recursos naturais até então considerados eternamente renováveis virem a acabar ou
escassear. Em 1976, Liebmann (p.35) dizia que, “atualmente, pode- se afirmar que a cada
ano que passa extingue- se uma de nossas espécies animais”.
Em 1992, foi realizada no Rio de Janeiro a Cúpula Mundial da Terra, conhecida
como Eco- 92, na qual foi aberta para assinaturas a Convenção- Quadro das Nações
Unidas para Mudanças Climáticas –a UNFCCC, na sigla em inglês. Para assessorar o órgão
tecnicamente, foi criado o IPCC –sigla em inglês para Painel Intergovernamental de
Mudanças no Clima- , que produziu quatro relatórios até fevereiro de 2007 com estudos
e previsões sobre a variação da temperatura, do nível do mar e dos efeitos que esses
fatores podem causar sobre o planeta. Como lembra Godoy (2005, p. 1) na introdução de
seu trabalho, a preocupação mundial com o aquecimento global assume nova proporção
quando se percebe que todos, responsáveis ou não pelo problema, serão por ele
afetados.
Durante a terceira Conferência das Partes –a COP3– da UNFCCC, em 1997, em
Kyoto, no Japão, foi firmado um protocolo de intenções com metas de redução de
emissão de gases de efeito estufa a serem observadas por seus signatários. Mas esse
documento, chamado de Protocolo de Kyoto, previa só ter validade quando países
responsáveis por 55% da emissão mundial de gases de efeito estufa fossem dele
participantes de fato, comprometendo- se com suas metas.
Em 16 de fevereiro de 2005, após a adesão da Rússia em novembro do ano
anterior, entrou em vigor efetivamente o Protocolo de Kyoto, cujo propósito é, numa
primeira fase, de 2008 a 2012, reduzir as emissões de poluentes que provocam o efeito
1
estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis verificados em 1990. Esses poluentes são
tecnicamente chamados de gases de efeito estufa, simbolizados pela sigla GEE em
português. Na primeira fase, estão comprometidos com reduções desses gases os
participantes que estão no Anexo I, que são os chamados países desenvolvidos.
Segundo os artigos do Protocolo de Kyoto, os países do Anexo I, além do esforço
para de fato reduzirem internamente suas emissões de GEE nas metas estipuladas,
contam ainda com três mecanismos de “flexibilização” que podem contribuir para que
alcancem suas taxas de redução, a saber:
- reduzir a emissão dos GEEs com a implementação de projetos em outros países
constantes do referido Anexo I;
- investindo em projetos chamados de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, em
países em desenvolvimento ou não Anexo I;
- comprando créditos de carbono, que são quantidades de carbono retiradas do
ar ou que se deixa de emitir por meio de algum projeto ao redor do planeta,
devidamente certificado pelo comitê avaliador do Protocolo e, quando adquiridas de
acordo com as regras do documento, valem como parte da redução ali exigida.
Esses mecanismos de flexibilização são soluções de mercado –termo adotado por
vários autores– para o problema do aquecimento global. A necessidade de uma solução
do tipo se dá pelo fato de não ser fácil convencer todos os atores internacionais do
problema. Opositores não são poucos. Os países produtores de petróleo, especialmente a
Arábia Saudita, colocaram objeções a avanços negociados ao longo de conferências das
partes, com receio de uma futura superação de seus recursos naturais (Marcovitch,
2005, p. 45). Os Estados Unidos se recusaram a assinar o Protocolo de Kyoto alegando
serem ainda “incertezas científicas” as conclusões que dão conta da contribuição das
ações do homem como decisiva para o recrudescimento do aquecimento (Marcovitch, p.
42). Quando da divulgação do último relatório do IPCC, em fevereiro de 2007, noticiou-
se que a AEI –American Enterprise Institute- , instituição financiada petrolífera Exxon,
ofereceu pagamentos individuais de US$ 10 mil para artigos que enfatizassem os defeitos
do documento (Folha Clima, 2007, p. Esp. 5).
2
Por outro lado, no Fórum Econômico Mundial de 2007, em Davos, Suíça, pesquisa
divulgada pela assessoria do evento revelou que os problemas ambientais ocupavam a
segunda posição em uma lista de principais preocupações dos líderes de governo e de
empresas presentes ao encontro, depois do crescimento econômico. O encontro teve 17
sessões dedicadas ao tema da mudança do clima, citada por 20% dos entrevistados como
a maior prioridade do Fórum.
Para incentivar a adoção do Protocolo e de seus mecanismos de implementação,
o Banco Mundial criou em 2000 o PCF –Prototype Carbon Fund–, que visava dar a partida
para a criação do mercado de carbono mundial. Paulatinamente foram surgindo outras
Bolsas de comercialização de créditos de carbono, como a Chicago Climate Exchange, a
European Climate Exchange e a EU ETS –essa última com as regras totalmente
adaptadas ao Protocolo de Kyoto e com comercialização válida para atingir as metas
constantes do documento. Em julho de 2006, a Bolsa de Montreal registrou o início das
negociações de créditos de carbono, em associação com a Bolsa de Chicago. Em
fevereiro de 2007, a China anunciou a criação de um mercado organizado de créditos de
carbono naquele país. No Brasil, a BM&F estuda a implantação de uma Bolsa de Carbono
ainda em 2007, mas, até o momento, sem data definida para entrar em funcionamento,
de acordo com seu site na internet.
O relatório do IPCC divulgado em 2 de fevereiro de 2007 avalia que 61% das
oportunidades de redução de emissões de carbono até 2030 estão concentradas em
países em desenvolvimento, ante 28% nos países- membros da OCDE –Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, os países industrializados– e 11% no Leste
Europeu e ex- URSS.
Dentro desse contexto, o Brasil, a China e a Índia tendem a ser os países mais
beneficiados com a implantação dos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e
com a venda de créditos de carbono deles resultantes, pois são países em que novas
tecnologias podem ser implantadas a um custo menor do que nas nações do Anexo I,
onde o custo médio por tonelada de carbono retirada do ar gira em torno de US$ 82,
conforme estudo da IEA –Agência Internacional de Energia. De acordo com a UNFCCC, dos
632 projetos de MDL registrados até 21 de abril de 2007, 359 estão na Ásia e 252 na
América Latina. Entre os países, o Brasil é o segundo com maior número de projetos: 97,
3
ficando atrás apenas da Índia, que tem 219. O primeiro projeto registrado no mundo,
aliás, está no Brasil –o Novagerar, de tratamento de resíduos sólidos e geração de
energia a partir do gás metano do lixo, em Nova Iguaçu - RJ.
O tema ambiental suscita grande interesse. Meio ambiente aplicado a mercado,
como forma de viabilizar economicamente a proteção à biodiversidade mundial, parece
ser um bom mecanismo de o assunto ser discutido por quem realmente faz as coisas
acontecerem –ou seja, o mercado financeiro mundial. Daí as propostas do Protocolo de
Kyoto, que encontrou a chamada “solução de mercado” para minimizar o problema do
aquecimento global.
Esses os motivos pelos quais esta monografia tem esse objeto de estudo. É um
mercado nascente, com excelentes potencialidades e que tende a crescer muito em um
curto espaço de tempo. E o Brasil é um dos países em desenvolvimento que mais
tendem a ganhar com esses mecanismos.
1.2 Objetivo
O objetivo desta monografia é explicar os mecanismos previstos no Protocolo de
Kyoto e discutir as vantagens competitivas do Brasil em termos de energias renováveis e
redução de emissão de carbono e outros GEEs. Também pretende- se mostrar o que está
sendo desenvolvido no país em termos de projetos de comercialização de créditos de
carbono –como o projeto da BM&F e mesmo os projetos que já estão sendo comprados e
vendidos em mercados internacionais, como o de Chicago.
Além disso, outro objeto deste estudo será discutir as potencialidades do país em
termos de recebimento de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e avaliar os
ganhos que o país pode ter, tanto como exportador de combustível renovável quanto
como desenvolvedor de tecnologias para o uso desse tipo de combustível.
4
1.3 Metodologia
Bello (2004) diz que “a metodologia é a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa
e exata de toda a ação desenvolvida no método do trabalho de pesquisa”.
Segundo Tachizawa (2001, p. 114), a parte sobre material e método de uma
monografia deve conter uma descrição completa da metodologia utilizada, permitindo a
compreensão e a interpretação dos resultados.
Em seu trabalho sobre metodologia, Silva & Menezes (2001, p. 14) explicam que o
trabalho científico pode ser elaborado com canais formais, que são permanentes,
públicos e oficiais, e pode ser complementado com canais informais, que são mais ágeis
e permitem troca de informações mais atualizadas. Por isso, foram usadas para elaborar
essa monografia fontes formais –livros, sites, revistas, periódicos, dissertações, teses,
pesquisas de campo– e informais –entrevistas telefônicas, pessoais e por escrito com
pessoal acadêmico e de mercado especializado em projetos de mecanismo de
desenvolvimento limpo e créditos de carbono para poder analisar com maior
discernimento e atualização as informações coletadas nas fontes formais.
Do ponto de vista da natureza, o presente trabalho pode ser qualificado como
uma pesquisa aplicada, pois envolve verdades e interesses locais (Silva e Menezes, p. 20)
–uma vez que serão analisadas as potencialidades específicas do Brasil no mercado de
créditos de carbono e de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Do ponto de vista do objetivo, a pesquisa usada nesse trabalho pode ser definida,
conforme Antonio Carlos Gil (apud Silva e Menezes, p. 22), como exploratória, pois ela
envolve levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram ou têm
envolvimento prático com o tema e análise de exemplos.
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, segundo Gil (apud Silva e Menezes,
p. 22), essa pesquisa poderá ser qualificada como bibliográfica e documental, nesse
último caso porque envolve consulta a documentos sem interpretação, como o Protocolo
de Kyoto original.
5
Para a elaboração deste trabalho, foram usadas fontes bibliográficas primárias –
obras ou textos originais, dados estatísticos etc.– e secundárias, que trouxeram
interpretação dos dados primários necessários à argumentação.
Por se tratar de tema relativamente novo, os principais meios bibliográficos
usados foram sites da Internet, documentos da ONU –Organização das Nações Unidas–
referentes ao Protocolo de Kyoto, o original do Protocolo, base da argumentação, e
documentos, dados do MCT –Ministério de Ciência e Tecnologia– e do MDIC - Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior- , além de dados da BM&F –Bolsa de
Mercadorias e Futuros- , que está desenvolvendo um mercado de créditos de carbono no
Brasil e que já tem disponível um banco de projetos de MDL.
Foram consultados ainda livros, dissertações, pesquisas de campo já elaboradas,
periódicos e revistas, além de notícias de sites e revistas especializados no tema ou em
questões ambientais.
1.4 Descrição dos capítulos
A monografia começa, no capítulo 2, com uma análise da Revolução Industrial,
tendo em vista que a industrialização foi uma das principais molas propulsoras da
aceleração da poluição. O aumento da demanda por energia advindo do funcionamento
das indústrias e até para os produtos nelas fabricados, como trens e, mais tarde,
automóveis, por exemplo, contribuiu sobremaneira para a situação atual, em que se
exige uma redução drástica dos poluentes lançados à atmosfera. O capítulo se encerra
com uma descrição dos problemas ambientais de hoje e com uma definição mais
detalhada do problema do efeito estufa, que é o cerne do trabalho por originar os
mercados analisados.
No capítulo 3, são descritas as soluções acordadas pela Convenção- Quadro das
Nações Unidas para Mudanças Climáticas para o problema do aquecimento global. Essas
soluções partem do compromisso de reduzir as emissões de GEEs assumido pelos
signatários do Protocolo de Kyoto, firmado em 1997, mas somente colocado em prática a
6
partir de 2005. Entre as soluções, estão os chamados projetos de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo e o mercado de redução de emissão de carbono certificada, ou
de créditos de carbono, usados pelos países do Anexo I para auxiliar no cumprimento
das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa.
No capítulo 4, são apresentados os projetos que o Brasil está desenvolvendo no
âmbito de mitigar o aquecimento global, análises sobre suas potencialidades e a
participação que está tendo nos mercados já organizados em torno do tema. Um
subtítulo especial será dedicado ao etanol, combustível alternativo ao petróleo cuja
tecnologia foi desenvolvida pelo Brasil, que se tornou dele referência mundial.
7
Capítulo 2 - O processo de industrialização, a contaminação
ambiental e o efeito estufa
2.1 A primeira era da industrialização – 1769- 1920
No século 17, já eram registrados processos manufatureiros pré- industriais, com
a primeira tentativa de fazer funcionar um tear mecânico em 1678. Mas o que se pode
considerar o marco inicial da chamada Revolução Industrial é a máquina a vapor,
patenteada pelo inglês James Watt em 1769. Pouco aproveitada no início na indústria do
carvão, a invenção de Watt logo se tornou importante, por outro lado, na indústria do
ferro (Ashton, 1987, p. 198- 202). O curioso é que o carvão era a principal fonte de
energia para a máquina a vapor (Branco, 1997, p. 47).
A patente da máquina a vapor foi concedida a Watt e promulgada até 1800 e,
enquanto isso, ele foi desenvolvendo novos maquinários e aperfeiçoando seu invento,
dando- lhe novos usos e aplicações. Em meados do século 19, segundo Hobsbawm (1992,
p. 59), a máquina a vapor era tão importante que o historiador definiu aquele período
como “a era da fumaça e do vapor”. Para Branco (p. 47), a invenção da máquina a vapor
finalmente deu ao homem a possibilidade de usar o calor como fonte de energia, a qual
até então ele tirava apenas de seus próprios músculos, de animais e, em menor escala,
da água e do vento. Ele define a Revolução Industrial como uma revolução nos processos
de uso da energia, “que se tornava mais necessária, em quantidades cada vez maiores”.
E a industrialização avançava. Em 1820, havia cerca de 14 mil teares mecânicos
na Inglaterra; em 1833, esse total já estava em cerca de 100 mil (Ashton, p. 97).
Se no século 18 a indústria têxtil tinha sido a motriz da evolução tecnológica,
com a aplicação da máquina a vapor nos teares e a invenção de novas máquinas mais
leves e menores para tecer, com maior capacidade de produção, como as jenny (Ashton,
p. 94), nos anos 1800 o desenvolvimento maior se deu nas indústrias e ferro e carvão,
8
produtos característicos da era, sendo a estrada de ferro seu maior símbolo ao
combiná- los (Hobsbawm, p. 61).
Por mar, o transporte a vapor, inicialmente rejeitado, também evoluía. Passou de
14% do transporte marítimo mundial em 1840 para 49% em 1870 e finalmente, naquela
década, superou a vela como principal meio (Hobsbawm, p. 74).
As inovações tecnológicas só fizeram disparar. Em 1876, aparecia o motor de
combustão interna (Marcovitch, 2005, p. 32). O ferro então cedia seu lugar ao aço, e o
outrora espantoso vapor passava a ser substituído pela eletricidade e pelo petróleo.
Mas, lado a lado com essa evolução, vinha a conta. Se o modo de produção
agrícola até então vigente só usava fontes de energia renováveis, a aceleração da
produção industrial foi calcada em combustíveis fósseis e não- renováveis (Marcovitch, p.
32).
E Ashton (p. 185) complementa: “Deve-se admitir que algumas conseqüências [da
Revolução Industrial] foram perniciosas. [...] O céu de Manchester e de Birmigham ficou
negro como o fumo” (p. 185).
2.2 A segunda era da industrialização – 1920- 1970
Embora tenha surgido na fase anterior, é nesse período que o motor de explosão
vai se expandir de maneira que os matemáticos definiriam como “progressão
geométrica”. Seu princípio é usar a capacidade que o petróleo tem de produzir
aumentos enormes e súbitos em seu volume ao ser queimado em mistura com certas
proporções de ar para mover máquinas –ou, pelo começo, para mover os pistões que
acionam as máquinas. A descoberta desse mecanismo permitiu a construção de
máquinas menores, mais leves, sem necessidade de uma caldeira –para gerar vapor- ou
de uma fornalha –para queimar o combustível. Além disso, a expansão do gás que move
o pistão é muito mais rápida que a do vapor, permitindo uma velocidade maior de
movimentação do mecanismo (Branco, p. 49).
9
Para Lesourd e Gérard (1966, p. 263- 266), essa fase que se pode chamar de
Segunda Revolução Industrial começou no final do século 19, não só com o advento do
motor a explosão como com a eletricidade. De fato, segundo os autores, a expansão da
eletricidade mudou diversos aspectos do cotidiano: passou a ser usada na iluminação,
como fonte de energia para máquinas, para mover trens, depois nos meios de
comunicação a distância, como o telégrafo elétrico, nas indústrias metalúrgicas e
químicas.
Em 1914, a eletricidade tinha se tornado uma indústria mundial, passando a ser
vantagem relativa para os países que não produziam carvão. Essa fonte de energia
espalhou o poderio econômico, antes concentrado nas mãos de quem detinha o
propulsor do motor a vapor - notadamente a Inglaterra (Lesourd e Gérard, p. 266- 267).
Tão grande importância da eletricidade fez dela um dos pilares nos quais se
sustentou a economia a partir do início século 20. O outro foi o petróleo. Ele fez a
máquina a vapor movida a carvão perder o monopólio, com a vinda do motor de
explosão e o automóvel. Mais tarde, a invenção do motor a diesel foi também muito
importante –especialmente porque rendia quase o triplo do motor a vapor e quase o
dobro do motor a explosão (Lesourd e Gérard, p. 267).
Esses foram, portanto, os dois elementos determinantes da segunda revolução
industrial. Segundo Lesourd e Gérard (p. 268), em 1913, 45% da energia consumida no
mundo tinha o petróleo como fonte e seu desenvolvimento foi paralelo ao da
eletricidade.
A tabela abaixo dá a dimensão da evolução do consumo de petróleo, carvão e de
gás natural na produção mundial de energia em suas formas comerciais:
Tabela 1 – Produção mundial de energia, em bilhões de kWh
equivalentes
Ano Carvão Petróleo Gás natural Total1920 9.540 1.032 854 11.2981930 9.735 2.045 575 13.0531940 10.904 2.037 867 15.8821950 11.632 5.439 2.088 20.556
10
Fonte: CIPPOLA, C.M., “Anais (Economias, Sociedades, Civilizações)”, apud LESOURD E
GÉRARD (p. 251).
Desses dados, pode- se depreender que, ao longo do século 20, desde o pós-
Primeira Guerra Mundial até o pós- Segunda Guerra, a fonte de energia que mais
cresceu foi o petróleo passando de 9% para 26% da produção mundial de energia, mas,
de qualquer forma, as três fontes de energia mais consumidas eram potenciais
causadoras de efeito estufa. E, conforme os dados, a produção de energia quase dobrou
naqueles 30 anos.
O petróleo foi determinante nas duas Grandes Guerras –era o combustível de
tanques, carros e aviões- e na recuperação do mundo no pós- Guerra, fase em que o
capitalismo teve seu maior desenvolvimento na história.
Importante destacar que a matriz da energia elétrica nos países desenvolvidos
não tem a mesma característica da brasileira. Ali, uma parte menor é gerada por
hidrelétricas. A maior parte é gerada por usinas térmicas, com uso de carvão ou óleo
diesel como combustível. Assim, a maior parte da matriz energética desses países é do
tipo “suja”, pois emite poluição e gases de efeito estufa, conforme dados do IEA
reproduzidos abaixo:
Tabela 2 – Estrutura da oferta de energia em países da OCDE em 2004
Fonte de energia Participação do total
Petróleo e derivados 40,7%
Gás natural 21,7%
Carvão mineral e derivados 20,5%
Urânio e derivados 11%
Energia hidráulica e eletricidade 2%
Biomassa 4,1%
Fonte: IEA, apud Brasil, Ministério de Minas e Energia, Empresa de Pesquisa Energética, 2007, p. 21
11
2.3 A era pós- industrial
O mundo fica “viciado em petróleo”, palavras usadas pelo presidente dos EUA,
George W. Bush, em 2006, para definir a própria nação que governa (Dantas, 2006, p.
A12). Os países produtores do óleo percebem, na década de 1970, a importância que têm
para a economia mundial, e por duas vezes naquele período elevam os preços do barril –
bem verdade que para fazer chantagem política, mas o efeito econômico em todas as
nações industrializadas e mesmo nas chamadas “em desenvolvimento”, como o Brasil, é
devastador.
A dependência mundial de petróleo é clara na tabela abaixo, que traz dados da
IEA –Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês- mostrando a matriz
energética em 1973 e 2002:
Tabela 3 – Matriz energética mundial
Combustível 1973 2004
Petróleo 45% 34,3%
Carvão 24,8% 25,1%
Gás natural 16,2% 20,2%
Nuclear 0,9% 6,5%
Hidroeletricidade 1,8% 2,2%
Combustíveis renováveis 11,2% 11%
Outros 0,1% 0,5%
Fonte: IEA (Agência Internacional de Energia), apud Brasil, Ministério de Minas e Energia, Empresa
de Pesquisa Energética
Nesse período, ainda que a dependência de combustíveis fósseis tenha diminuído –
de 86% do total mundial para 79,6%-, ela continuou muito alta, na faixa dos 80%. Fica
evidente que houve uma pequena migração da energia de origem fóssil para a nuclear,
pois a diferença de participação dessas duas matrizes entre 1973 e 2002 é quase igual –
uma sobe na mesma proporção que a outra cai.
12
A conseqüência ambiental dessa dependência em relação ao petróleo e seus
derivados é explicável com a reação química da queima desses combustíveis. Os resíduos
gasosos desse processo são óxidos de nitrogênio e de enxofre. Além desses, a queima
específica da gasolina, combustível mais usado em automóveis em todo o mundo, produz
CO –monóxido de carbono- , gás que pode levar até à morte em ambientes confinados
(BRANCO, p. 48- 49).
Marcovitch (p. 31) aponta que a Revolução Industrial foi uma grande
multiplicadora da emissão de GEE, mas que a questão hoje “não é paralisar o
desenvolvimento tecnológico, e, sim, ampliá- lo, com o propósito de reverter os males
que causou quando incorretamente usado pelo homem”. O autor enfatiza que não se
pode destacar apenas esse aspecto da Revolução Industrial, sem realçar os benefícios
que produziu.
De qualquer maneira, as vozes dizendo que os problemas ambientais se
aproximam de uma “catástrofe” vêm de mais de três décadas. Já em 1976, quando as
forças políticas se dividiam dos dois lados da Guerra Fria, Liebmann (p. 179) alertou:
“Independentemente de sua orientação política, todos os países altamente industrializados da
Terra estão a caminho da catástrofe ecológica. Os rios Volga e Dniéper estão tão poluídos,
devido aos esgotos industriais, como o Reno e o Mississipi. O mar Cáspio e o lago Baical
estão tão ameaçados pela poluição quanto o lago Michigan. O mar Báltico e o mar do Norte
estão tão poluídos como a costa ocidental dos Estados Unidos. Também nos programas de
ajuda e apoio aos países em desenvolvimento, deveria planejar- se, desde o início, o fator
ecológico, pis do contrário a industrialização, a nível elevado, trará como conseqüência a
destruição da estrutura de sua paisagem original”.
2.4 Os problemas ambientais de hoje
Antes de listar os problemas ambientais, é conveniente resumir os principais
setores de atividades que podem causá- los, como o faz Brubaker (1976, p. 41),
ressaltando a necessidade de avaliar a situação atual e futura de cada um deles: o uso
13
da energia, o impacto ambiental da produção de alimentos, as diversas categorias de
atividades industriais e de consumo e as formas pelas quais usamos o espaço, aí
incluído o uso do solo e a disposição dos resíduos que geramos.
A poluição do ar é o problema ambiental mais notado pelas populações das
grandes cidades. A esse respeito, escreve Liebmann (p. 63):
“A vida em nosso planeta está em dependência direta do oxigênio. Por esse motivo, não
devem causar admiração as pesquisas de estatística médica realizadas nos Estados Unidos,
as quais conduziram à conclusão de que a expectativa de vida de um recém- nascido poderia
ser elevada em mais três a cinco anos se fosse possível diminuir pela metade a poluição
atmosférica nas grandes concentrações urbanas”.
Um dos poluentes que mais causam danos diretos à saúde humana, podendo
inclusive ser fatal, é o monóxido de carbono, liberado pelos automóveis na combustão
da gasolina. Segundo Ross (1974, p. 265), esse gás é inodoro e incolor e se combina
“perfeitamente com a hemoglobina do sangue, bloqueando o transporte de oxigênio pelo
corpo”.
A poluição do ar tem relação quase direta com o aumento do efeito estufa, visto
que as fontes de poluentes são as mesmas dos gases de efeito estufa, ainda que os
poluentes que tornam as condições do ar ruins não sejam exatamente os mesmos.
Ainda falando de gases, o efeito dos chamados freons na camada de ozônio é
outro problema ambiental advindo da industrialização. Em 1974, dois pesquisadores –
Molina e Rowland- publicaram estudo na revista científica inglesa “Nature” em que
demonstravam a possibilidade de gases conhecidos como freons –largamente usados
então em sistemas de refrigeração, nas embalagens do tipo aerossol e na indústria de
isopor- estarem destruindo essa camada de ozônio. Mas o estudo não foi levado em
conta pelas autoridades do mundo todo. Somente dez anos depois, com a constatação de
que havia um buraco nessa camada na região que fica sobre a Antártida, foi que o
experimento descrito na “Nature” em 1974 passou a ser a bola- da- vez (Branco, p. 61).
Essa camada de ozônio, que fica numa faixa entre 15 km e 40 km da superfície
da Terra, reflete para o espaço a maior parte dos raios ultravioleta do Sol, prejudiciais
às formas de vida do mundo. Ou seja, essa camada se constitui num poderoso protetor
da vida no planeta. Ela é formada quando a energia solar quebra as moléculas de
14
oxigênio, sendo assim continuamente renovada. O problema é que a ação desses gases
freon –principalmente os clorofluocarbonetos, os CFCs- vem destruindo essa camada em
uma velocidade mais rápida do que ela consegue ser naturalmente reposta (Feldmann,
1998, p. 29).
As conseqüências dessa destruição são várias. Com uma maior quantidade de
raios ultravioleta agindo sobre os seres humanos, há um crescimento estimado dos
casos de câncer de pele, causado por esse tipo de radiação. Há também influência
maléfica sobre as plantações e o fitoplâncton, com decorrentes perdas de rendimento na
agricultura e na pesca. Em 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal, que previa que o
corte da emissão dos freons em 50% até 2000. A urgência do problema fez com que uma
reunião em Londres, em 1990, estabelecesse como meta a interrupção de toda a
produção de CFC até 1995. Porém, mesmo que as emissões desses gases tivessem
terminado naquele ano, os efeitos dos CFCs até então liberados e presentes na
atmosfera ainda degradariam a camada de ozônio até 2050 (Feldmann, p. 30).
O que fazer com o lixo que geramos é outro problema ambiental. Nos biomas
naturais, o solo possui uma dinâmica que recicla e reaproveita os restos orgânicos dos
seres vivos, seu lixo, em ciclos biogeoquímicos. Mas isso não acontece nas cidades. Os
restos ali produzidos, em sua maioria nos domicílios, encontram quatro formas de
tratamento possíveis: aterro, compostagem, reciclagem e incineração (Sariego, 1994, p.
130). E a operação e a compostagem dos resíduos sólidos orgânicos é fonte de geração
do gás metano, um dos mais maléficos entre os causadores de efeito estufa _seu
potencial de geração de efeito estufa é 21 vezes superior ao do CO2 , segundo Araujo
(2006, p. 9).
O crescimento da população também é citado por vários autores como problema
ambiental. Ele já havia sido antevisto por Robert Malthus no final do século 18. Ele
falava do receio de que a população viesse a se sobrepor aos meios de subsistência, pois
“a população tende a aumentar segundo uma progressão geométrica de razão 2,
enquanto a produção dos meios de subsistência crescem apenas segundo uma
progressão aritmética de razão 1”.
Esse crescimento não se dá apenas devido ao aumento da natalidade, mas
principalmente em virtude do decréscimo da mortalidade devido a vários fatores: menor
15
perigo de infecção com uma limpeza pessoal maior e o uso mais freqüente de sabão;
uso de paredes de tijolo em vez de madeira e de pedra ou ardósia em lugar de colmo
nos telhados reduziu o número de epidemias; as cidades mais importantes foram
pavimentadas e dotadas de esgotos e água corrente; houve maior desenvolvimento do
conhecimento da medicina; deu- se maior atenção à destruição dos lixos e ao
conveniente enterramento dos mortos. E pode- se atribuir a maioria desses feitos à
evolução advinda da Revolução Industrial (Ashton, p. 25).
E por que esse é um fato que pode ser classificado como um problema
ambiental, se na verdade é consenso que maior tempo de vida médio representa um
benefício alcançado pela humanidade? A respeito disso, escreve Feldmann (p.30- 31):
“O crescimento da população, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento,
é uma ameaça para o meio ambiente global. O aumento do número de consumidores nas
nações industrializadas e ricas é um problema sério porque cada pessoa a mais usa uma
porção desproporcionalmente grande dos limitados recursos da terra, o que resulta numa
quantidade grande de poluição durante seu período de vida. [...] À medida que o padrão de
vida dos países em desenvolvimento cresce, os danos ao ambiente neles aumentarão em um
ritmo que reflete os efeitos combinados de crescimento da poluição per capita e do
incremento da população”.
O relatório da Convenção- Quadro das Nações Unidas (UNFCCC, 1997) relata outros
problemas ambientais derivados do aumento da população. Segue o comentário:
“Já existem problemas graves para o abastecimento de água potável aos bilhões de
habitantes do mundo. Populações em vias de expansão estão escoando a água de rios e
lagos, de forma que enormes aqüíferos subterrâneos estão sendo esgotados progressivamente.
O que as pessoas vão fazer quando esses tanques ficarem vazios? Há problemas também
quanto à plantação e distribuição do alimento necessário _a fome generalizada em várias
partes do mundo é uma prova disso. Existem outros sinais de perigo. A pesca em nível
mundial foi reduzida bruscamente; tão grandes quanto os oceanos, as espécies mais valiosas
já foram efetivamente pescadas”.
Ainda derivado do problema de aumento da população, mas não só dele, aparece
o desmatamento _que, aliás, não é um problema de hoje, mas vem de outros séculos e
persiste. E ele traz inúmeras conseqüências ambientais. Uma delas é a emissão de
carbono para a atmosfera. A árvore é um depósito do CO2 que ela tirou do ar para
16
transformar em energia e crescer. Ao ser queimada, libera todo esse gás carbônico para
a atmosfera (Branco e Murgel, 1995, p. 19; Helene et al, 1994, p.24- 26; Feldmann, p. 35).
A extinção de espécies, tanto animais quanto vegetais, que vivem nas florestas
desmatadas, é outra conseqüência advinda do desmatamento. Metade de todos os
medicamentos que usamos atualmente derivam de organismos selvagens, e isso pode dar
a dimensão da perda que causa para a humanidade a extinção de espécies ainda
desconhecidas que poderiam ser estudadas pela indústria farmacêutica. O desmatamento
de florestas tropicais pode provocar a perda de enormes quantidades de solo, devido à
conseqüente da erosão que se segue ao desmatamento –pois o solo que sustenta esse
tipo de floresta não agüenta a agricultura por muito tempo, ficando sujeito à
desertificação; a destruição da cultura indígena e do sustento de milhões de pessoas que
vivem dos produtos da floresta; a desertificação de áreas inteiras, pela diminuição das
chuvas que atingem as regiões tropicais; e a modificação do clima mundial, porque as
florestas controlam a transferência de calor para as regiões mais frias do planeta
(Feldmann, p. 35; Helene et al, p. 26).
2.5 O efeito estufa
O efeito estufa é um fenômeno natural decorrente da ação de gases que estão
presentes na atmosfera. Ele foi constatado pela primeira vez por Joseph Fourier, em
1822, baseado na experiência do suíço Horace de Saussure –que colocara várias caixas de
vidro, uma dentro da outra, com termômetros que mostraram temperaturas maiores
quanto mais internamente estivesse a caixa. Estudando os efeitos do calor do Sol sobre
a superfície terrestre e a ação da atmosfera, Fourier concluiu que o calor “encontra
menos obstáculos para penetrar na atmosfera, quando se encontra em estado de luz, do
que para sair, quando já em forma de calor obscuro”. Esse estudo serviu de base para
John Tyndall, em 1861, descobrir que o vapor d’água e o gás carbônico desempenhavam
na atmosfera terrestre o mesmo papel do vidro das caixas de Saussure –paralelamente,
o mesmo papel que o vidro desempenha nas estufas usadas principalmente na Europa
17
desde o século 15 para conservar o calor e proteger plantas frutíferas e ornamentais
durante o inverno, daí o nome usado para batizar o fenômeno: efeito estufa (Branco e
Murgel, p. 53- 55).
O fenômeno ocorre da seguinte maneira: a energia da radiação eletromagnética
emitida pelo sol atinge a atmosfera. A energia solar chega na forma de radiação de
ondas curtas. Uma parcela dessa radiação é refletida pela atmosfera, outra é por ela
absorvida e uma terceira parte atravessa a atmosfera atingindo a superfície terrestre.
Ali, 30% dessa radiação é refletida e 70% é absorvida, transformada em energia e depois
liberada na forma de raios infravermelhos. Esses raios sobem em direção ao espaço,
mas encontram uma camada que impede que saiam da atmosfera terrestre,
contribuindo, estão, para o aquecimento da superfície do planeta (Godoy, p. 12- 13;
Sariego, p. 99- 100; Feldmann, p. 28- 29; UNFCCC, 1997). Essa camada é formada pelos
chamados GEEs, gases de efeito estufa, que são os seguintes, segundo o Anexo A do
Protocolo de Kyoto:
- dióxido de carbono (CO2)
- metano (CH4)
- óxido nitroso (N2O)
- hidrofluocarbonos (HFCs)
- perfluocarbonos (PFCs)
- hexafluoreto de enxofre (SF6).
E é esse aquecimento proporcionado com a retenção do calor liberado pela
superfície que permite a vida na Terra, pois, conforme Helene et al (p.12), sem a
ocorrência desse fenômeno, ou seja, se toda a radiação solar que incide sobre o planeta
fosse integralmente devolvida ao espaço, “a temperatura da Terra seria 30 graus inferior
à de hoje, e o planeta estaria permanentemente coberto por uma camada de gelo”. Ou,
na definição do Ministério de Ciência e Tecnologia: “Se a superfície terrestre pudesse
irradiar energia para o espaço livremente, nosso planeta seria um lugar frio e sem vida,
tão desolado e estéril quanto Marte” (MCT online).
18
Pode- se daí depreender que o efeito estufa não é em si um vilão. O problema é
que ele foi se tornando mais forte do que o necessário para tornar a superfície da Terra
suficientemente aquecida para a conservação da vida. Anualmente, segundo Helene et al
(p. 19), 3 bilhões de toneladas de CO2 adicionais acumulam- se na atmosfera anualmente.
A autora calcula que, se essa quantidade continuar a “sobrar” todos os anos, a
concentração desse gás na atmosfera em 2075 terá dobrado em relação aos níveis
constatados no início da Era Industrial.
O MCT (2007) explica as conseqüências do fenômeno:
“Nossas emissões de gases de efeito estufa estão perturbando a forma com que o clima
mantém esse equilíbrio entre a energia que entra e a energia que sai. Uma duplicação, na
atmosfera, da quantidade de gases de efeito estufa de vida longa (projetada para acontecer
logo no começo do século 21) reduziria em 2%, se nada fosse mudado, a proporção em que o
planeta é capaz de irradiar energia para o espaço”.
A IETA –Associação Internacional de Comércio de Emissões, na sigla em inglês- ,
descreve que “quanto mais combustíveis fósseis são queimados, mais gases de efeito
estufa são liberados; a radiação solar continua entrando na atmosfera sem impedimento,
enquanto o calor refletido pela Terra encontra mais dificuldade para se dispersar no
espaço”. Com isso, a temperatura do planeta se eleva. A essa seqüência de fenômenos, a
IETA –e os cientistas em geral- chamam de “aquecimento global” (IETA online).
Os efeitos dessa “sobra” de CO2 já são sentidos. Se desde a era glacial, há 10 mil
anos, o planeta experimentou um aquecimento médio da ordem de 4°C, a previsão mais
otimista dos cientistas é que, no século 21, essa elevação média atinja 3°C –em 100 anos,
75% do total registrado ao longo de 10 mil anos (IPCC, 2007; Feldmann, p. 28). Segundo
o BNDES (1999), dados obtidos em amostras de árvores, corais, glaciares e outros
métodos indiretos sugerem que as atuais temperaturas da superfície da Terra estão
mais quentes do que em qualquer época dos últimos 600 anos.
A preocupação com o fenômeno começou a surgir no final da década de 1970. O
escritor e cientista Isaac Asimov escreveu, em 1979, um artigo comentando informações
sobre a atmosfera de Vênus, muito quente com seus 95% de CO2 e ponderava se efeito
semelhante ao que ocorrera de maneira natural em nosso “vizinho” galáctico não estaria
acontecendo na Terra em virtude da poluição do ar (Sariego, p. 98).
19
E qual a causa do recrudescimento do efeito estufa, ou do aumento da emissão
de GEEs? Relatório mais recente do IPCC, divulgado em 2 de fevereiro de 2007, aponta
que “é muito provável” que o clima da Terra não teria mudado como vem ocorrendo se
não fosse a ação do homem. Importante frisar que o relatório anterior da entidade, de
2001, qualificava essa alteração por força de ações antrópicas como “provável” –e, em um
relatório desse porte, que envolve cientistas do mundo inteiro e depende da aprovação
de representantes de governos do mundo todo, o acréscimo do “é muito” ao provável faz
a possibilidade de a ação do homem ter efeito decisivo no aquecimento passar de 66%
para mais de 90% de certeza sobre essa má influência (IPCC, 2007; Leite, 2007, p. Esp.
2).
O mesmo relatório do IPCC dá conta de que, mesmo que nenhuma nova emissão
de GEEs fosse feita, a temperatura da Terra se elevaria em 0,1°C por década até 2030.
Os efeitos previstos até o momento –e considerados conservadores por alguns analistas–
são os seguintes: alteração drástica nos regimes de chuvas, acentuando as áreas de seca
e de precipitação exagerada; aumento da força dos furacões, elevando de 15% para 30%
das ocorrências dessa natureza que atinjam a categoria 5, equivalente ao Katrina, que
arrasou Nova Orleans em 2005; elevação do nível do mar de 18 cm a 59 cm até 2010, o
que inundaria algumas ilhas mais baixas do oceano Pacífico (IPCC, online, 2007; VICÁRIA
e MANSUR, 2007, p. 93- 97). Esses locais mais ameaçados, inclusive, já formaram um
bloco de negociação próprio na UNFCCC.
Não por acaso, 11 dos últimos 12 anos foram os mais quentes já registrados na
superfície da Terra desde 1850, segundo a Organização Mundial de Meteorologia e o IPCC
–levando em conta a temperatura média entre superfície terrestre, superfície marítima e
do ar.
Ainda sobre as conseqüências do aquecimento global, ele pode provocar a
mudança do clima característico de algumas regiões do planeta –haja visto o câmbio em
regime de chuvas e o surgimento de áreas desérticas na África em decorrência do El
Niño, fenômeno meteorológico causado por pequenas elevações da temperatura das
águas do oceano Pacífico. E, ao mudar o clima das regiões, o aquecimento prejudica a
flora nativa do local. As plantas têm suas “preferências climáticas”. Elas se desenvolvem
com mais ou menos calor, conforme suas características. É por esse motivo que muitas
20
árvores do hemisfério Norte não se desenvolvem em regiões de clima quente (Branco, p.
60).
Segundo Conejero (2006, p. 116), o CO2 é responsável por 60% da aceleração do
efeito estufa. O metano vem em seguida, com 20% de participação nesse fenômeno, e o
óxido nitroso, o ozônio e os outros gases, juntos, respondem por 20% da piora das
condições atmosféricas. Por isso é que todos os projetos de mitigação do efeito estufa
passam pelo nome popular de “redução de carbono”, ainda que visem, por exemplo,
cortar a emissão de metano.
O mesmo Anexo A do Protocolo de Kyoto que elenca os GEEs lista os principais
setores econômicos responsáveis pelo aumento da emissão desses gases, por meio da
ação antrópica –do homem. Basicamente, esses setores são: energia, transporte, emissões
fugitivas de combustíveis, combustíveis sólidos, petróleo e gás natural, processos
industriais, produtos minerais, indústria química, produção de halocarbonos e
hexafluoreto de enxofre, consumo de halocarbonos e hexafluoreto de enxofre,
agricultura, uso do solo, mudança no uso do solo e floresta, tratamento de esgoto.
21
Tabela 4 – Principais gases de efeito estufa afetados pelas atividades humanas
Fonte: MCT, adaptada de tabela do IPCC de 1995.
O desmatamento no mundo aparece no último relatório do IPCC como responsável
pela emissão de 1,6 bilhão de toneladas anuais na atmosfera –o que representa 15% do
total das emissões globais (Leite, p. Esp. 2). Em 1988, o “New York Times” fez um
editorial, citado por Sariego (p. 100), em que acusava as queimadas brasileiras de serem
um dos principais responsáveis pelo efeito estufa. Mas Leite informa que o percentual foi
fixado em 15% por pressão do Brasil, visto que o documento colocaria o número em
razões mais imprecisas, podendo chegar a 25%.
Abaixo, o mapa produzido pelo IPCC mostrando as emissões de dióxido de
carbono no mundo. Nele, é possível ver claramente que os Estados Unidos são os
maiores emissores. A China, de acordo com dados mais recentes do IPCC, é a atual
segunda maior emissora do gás. E há uma grande concentração ainda na Europa, na
Rússia e no Japão.
GASES
Época CO2 CH4 N2O CFC-11 HCFC-22 CF4 SF6
Nível pré-industrial
~280 ppmv
~700 ppbv
~275 ppbv Zero Zero zero Zero
Concentração de 1994
358 ppmv 1720 ppbv
312§ppbv 268§pptv 110 pptv 72§pptv 3- 4 pptv
Taxa de aumento*
1,5 ppmv/ano 0,4%/ano
10 ppbv/ano 0,6%/ano
0,8 ppbv/ano 0,25%/ano
0 pptv/ano 0%/ano
5 pptv/ano 5%/ano
1,2 pptv/ano 2%/ano
0,2 pptv/ano ~5%/ano
Tempo de vida (anos)
50- 200 ̧ 12 ̧ ̧ 120 50 12 50.000 3.200
Notas: CO2 (dióxido de carbono), CH4 (metano), N2O (óxido nitroso), SF6 (hexafluoreto de enxofre) e CF4
(um perfluorcarbono ou PFC) são cobertos pelo Protocolo de Kyoto. CFC-11 e HCFC-22 (um substituto de CFC) também são substâncias que destroem o ozônio, sendo, portanto, tratadas pelo Protocolo de Montreal, e não nos acordos relativos à mudança do clima. 1 ppmv = 1 parte por milhão em volume; 1 ppbv = 1 parte por bilhão em volume; 1 pptv = 1 parte por trilhão em volume.
22
Figura 1 – Distribuição das emissões de dióxido de carbono no mundo,
em milhões de toneladas de CO2 por ano
Fonte: IPCC, 2007, online
Ross (1974, p. 35), na década de 70, já listava três categorias de razões para
tomar atitudes efetivas contra a contaminação do ar: razões econômicas, sociais e de
saúde, as três ligadas entre si. Entre as razões econômicas, citava as perdas agrícolas
nos EUA, que na época superavam US$ 500 mil por ano devido à contaminação do ar;
danos produzidos pela corrosão em edifícios e maquinaria; tempo de trabalho perdido
pelos empregados que adoecem vítimas dos efeitos do ar poluído; produtos
desperdiçados que escapam por falta de coletores adequados nas fábricas; hostilidade
pública quanto aos problemas causados por determinada companhia ao ambiente que
23
pode se traduzir em menos vendas. Com todos esses fatores, Ross (p. 35) dizia: “Mesmo
que as razões para diminuir a contaminação do ar sejam evidentes, é surpreendente ver
quantas indústrias se negam a reconhecer seu papel nesta tarefa”.
Hoje, segundo o IPCC (2007), os efeitos concretos do aumento de emissões de CO2
na atmosfera e/ou do conseqüente aquecimento global que ele vem recrudescendo são
muito mais numerosos. Eis alguns deles:
- aumento da acidez dos oceanos, com conseqüente perda de vegetação marinha
- os plânctons- , que ajuda no seqüestro de carbono;
- elevação, já constatada, de 17 cm no nível do mar durante o século 20;
- perda, por parte do continente Ártico, de 2,7% de seu gelo marinho por década,
chegando a 14% de redução do gelo marinho perene somente entre 2004 e 2005,
numa área proporcional à da Turquia;
- várias espécies oceânicas e de ambientes montanhosos deslocaram seus habitats
em direção a latitudes e altitudes maiores, com mudança nos padrões de
crescimento e de hibernação;
- é muito provável, segundo o relatório, que calores extremos, altas ondas e
tempestades mais fortes continuem a se tornar mais freqüentes por conta do
aquecimento;
- uma maior quantidade de vapor d’água é retida na atmosfera devido ao aumento
da temperatura média (IPCC, 2007; Angelo et al, 2007, p. Esp. 6- 7) _e o vapor
d’água é potencializador do efeito estufa, o que acaba por gerar um círculo
vicioso.
Aqui cabe uma citação acerca do efeito estufa e do uso racional de energia. Nos
países mais frios, como os Estados Unidos, o Canadá e a Europa, é de grande utilidade
usar paredes de vidro: essas permitem o aquecimento dos ambientes sem a necessidade
de aparelhos elétricos. Por outro lado, esse tipo de arquitetura não é racionalmente
eficiente do ponto de vista energético em países quentes –caso do Brasil- , onde a
retenção de calor pelas paredes de vidro provoca a necessidade de uso de sistemas de
refrigeração movidos a algum tipo de energia (Branco, p. 59).
24
E a palavra final fica a cargo da reflexão que o MCT (2007) faz em seu
documento preparado para que leigos compreendam a questão do aquecimento global:
“Ironicamente, o êxito notável que nós, humanos, obtivemos como espécie pode nos ter
conduzido a um beco sem saída. O crescimento demográfico alcançou tal ponto que não
haveria espaço para uma migração em grande escala caso isso fosse necessário em
conseqüência de uma mudança drástica do clima. E os produtos dos nossos cérebros
desenvolvidos (indústrias, transporte e outras atividades) geraram uma situação
desconhecida no passado. Anteriormente, o clima mundial mudava os seres humanos. Agora,
parece que os seres humanos estão mudando o clima mundial. Os resultados são incertos,
mas, se as previsões atuais se confirmarem, as mudanças climáticas que acontecerão no
próximo século serão de uma amplitude sem precedentes desde o início da civilização
humana”.
2.5.1 Problemas ambientais e efeito estufa no Brasil
De acordo com dados do WRI –World Resources Institutes- de 2003, o Brasil é o
19° maior emissor de gases de gás carbônico do mundo, com 311,15 milhões de
toneladas métricas de CO2 naquele ano, quando os Estados Unidos lideraram o ranking
mundial com 5,7 bilhões de toneladas métricas de CO2, seguidos por China –3,96 bilhões
de toneladas métricas de CO2– e Rússia –1,6 bilhão de toneladas de CO2. Era o segundo
maior emissor da América Latina –atrás do México- e, entre os chamados BRICs –além de
Brasil, Rússia, Índia e China- , o de menor emissão.
As principais fontes emissoras de gás carbônico do Brasil, de acordo com a
Comunicação Inicial do Brasil à Convenção Quadro das Nações Unidas, são o
desmatamento e a queima de derivados de petróleo por automóveis.
Experimentos empíricos de Diniz (2001, p. 75) mostram que no Brasil a
correlação entre crescimento do PIB e crescimento das emissões de poluentes é
relativamente baixa. Segundo o autor, uma das explicações para isso está na matriz
energética do Brasil, composta em sua maioria por usinas hidrelétricas, que geram luz
sem resíduos poluentes.
25
De acordo com os últimos dados divulgados pelo Ministério das Minas e Energia, a
matriz elétrica do Brasil em 2006 pode ser representada pelo gráfico abaixo, que
demonstra a predominância da energia hidrelétrica, considerada uma fonte limpa de
energia.
Gráfico 1 – Matriz elétrica do Brasil em 2006, em % do total por fonte de
energia
Fonte: Brasil, Ministério de Minas e Energia, Empresa de Pesquisa Energética, 2007, p. 10
As fontes renováveis representaram 44,4% do total de energia consumida no país
em 2006. É um percentual alto, se comparado aos dados do mundo, em que quase 80%
das fontes de energia são advindas do petróleo. Houve, em 2006, uma evolução do uso
de derivados da cana- de- açúcar na matriz energética, que praticamente empataram
com a energia hidráulica _14,4% a 14,6% respectivamente (Brasil, MME, EPE, 2007 p. 8).
Hidráulica75,9%
Nuclear3,0%
Gás natural4,0%
Carvão 1,6%
Biomassa4,2%
Importação8,8%
Derivados de petróleo2,5%
26
No mapa do IPCC, nota- se que as principais concentrações de CO2 estão nos
grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. As duas maiores cidades do país têm
a maior frota de automóveis e, com isso, a maior emissão por queima de gasolina,
embora boa parte da frota nova seja composta por veículos bicombustíveis (Anfavea,
fev.2007).
27
Capítulo 3 - As soluções para os problemas ambientais
3.1 Antecedentes do Protocolo de Kyoto
3.1.1 Outros acordos de redução de emissão
A erupção na camada de ozônio levou a uma reação relativamente rápida da
comunidade internacional. Em 1987, foi firmado o Protocolo de Montreal, no qual os
países signatários comprometiam- se em reduzir suas emissões de CFCs –
clorofluocarbonetos- em 50% até 2000. Em 1990, uma reunião em Londres reavaliou o
problema e ficou definida a meta adicional de paralisar toda a produção desse gás até
1995 (Feldmann, p. 30).
O Programa de Chuva Ácida, elaborado pela EPA –agência ambiental norte-
americana- funciona em moldes parecidos aos estabelecidos depois, em 1997, pelo
Protocolo de Kyoto. Os emissores de gás sulfuroso, que provoca o fenômeno da chuva
ácida, precisam reduzir seus níveis de geração do poluente. Caso não consigam fazê- lo
em suas próprias instalações, devem comprar “créditos de gás sulfuroso”. Esses contratos
são comercializados em Bolsas de Chicago –que, por isso, ganhou o apelido de “Sulfópolis”
cunhado por Nordhaus (apud Rocha, 2003, p. 63). Esse programa é citado por Cánepa
(2003, p. 74) quando explica a teoria dos certificados negociáveis de poluição –princípio
adotado pelo Protocolo de Kyoto– como o maior exemplo, até então, desse tipo de
prática.
Essas negociações, em sua maioria, partem do princípio “pagador- poluidor”,
mas com avanços na teoria tradicional, que previa que os agentes poluidores pagassem
uma taxa para despejarem os resíduos poluidores que produzissem no meio ambiente –a
maioria das transações iniciais era feita no caso de dejetos despejados em mananciais
28
de água doce. Segundo Cánepa (p. 65), esse princípio tem duas funções: a de
incitatividade, que é o fato de o estabelecimento de uma cobrança pelo despejo de
resíduos forçar os agentes poluidores a moderar esse descarte e a achar maneiras de
fazê- lo sem prejudicar o ambiente; e a de financiamento à recuperação e melhoria
qualitativa e quantitativa do que ele chama de corpo receptor –que é o ar, a água, o
solo ou o recurso natural que receba esses dejetos.
3.1.2 Negociações em torno do clima
Quase dez anos antes de serem estabelecidos metas de redução de emissão de
gases de efeito estufa, a ONU, por meio de seu Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e em conjunto com a Organização Mundial de Meteorologia, patrocinou a
criação do IPCC em 1988, durante uma assembléia geral. O objetivo era fazer estudos
científicos mundiais acerca dos efeitos da poluição causada pelo homem, em especial
dos gases de efeito estufa (Marcovitch, p. 40).
Em 1990, o IPCC divulgou seu primeiro relatório, em que propunha o início de
entendimentos multilaterais para um acordo mundial a respeito do tema. Dois anos
depois, foi estabelecida a Convenção- Quadro das Nações Unidas para Mudanças no Clima,
aberta para adesões durante a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, que ficou conhecida
como Eco- 92. (Marcovitch, p. 41).
A partir de 1995, os países que ratificaram a convenção- quadro sobre clima
passaram a fazer reuniões anuais, chamadas de Conferência das Partes. A primeira delas
–COP1– foi realizada em Berlim, e ali começou a ser discutida a idéia de um protocolo
multilateral que fixasse ações e atividades adicionais a serem adotadas para reduzir as
emissões de GEEs. Essas proposições foram descritas no “Mandato de Berlim”, no qual
autoridades dos governos envolvidos propuseram maiores compromissos dos países
desenvolvidos (Marcovitch, p. 41; Godoy, p. 40; UNFCCC online).
No ano seguinte, os países signatários da convenção- quadro reuniram- se
novamente, desta vez em Genebra, e ali foi admitido um conceito de prazos e limites
29
para a emissão de gases de efeito estufa. Na reunião, o IPCC apresentou seu segundo
relatório, no qual elencava as possíveis conseqüências e propunha alternativas para os
problemas causados pelas alterações climáticas (Marcovitch, p. 41; Godoy, p. 41).
Mas a elaboração efetiva de um protocolo multilateral que contivesse
compromissos efetivos de redução na emissão de GEEs, quantificando emissões e
impondo prazos, só veio na reunião seguinte, em dezembro de 1997.
3.2 O Protocolo de Kyoto
Na terceira Conferência das Partes –COP3– da UNFCCC, realizada em 1997 na
cidade japonesa de Kyoto, foi redigido um documento oficial de medidas a serem
tomadas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, que foi chamado de Protocolo
de Kyoto.
Aberto no ano seguinte para assinaturas, o Protocolo foi alvo de inflamadas
discussões entre seus defensores e aqueles que relutavam em assiná- lo. Apesar de os
Estados Unidos, maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, terem ratificado
o Protocolo em 1998, sua efetiva adesão só se daria após aprovação do tratado no
Senado. Em março de 2001, a EPA divulgou que o governo de George W. Bush não estava
interessado em seguir negociando a participação norte- americana nos objetivos do
Protocolo de Kyoto. Em seu encalço, a Austrália também se recusou a assinar o
documento. Essa posição ameaçou a efetivação do Protocolo. Em 2001, a COP7, em
Marrakesh, restabeleceu os termos do documento, reafirmando seus objetivos
(Marcovitch, p. 41- 42; Conejero, p. 134).
De acordo com o artigo 3° do documento, os países signatários constantes do
chamado Anexo I da Convenção Mundial do Clima ou Anexo B do Protocolo, onde foram
listados países desenvolvidos –membros da OCDE, a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico– e os considerados como economias em transição –Leste
Europeu e ex- URSS-, devem reduzir, no período entre 2008 e 2012, as emissões de
30
dióxido de carbono –CO2– em pelo menos 5% em relação às verificadas em 1990 (UNFCCC
online).
A meta geral de 5% para os países desenvolvidos deve ser atingida por meio de
cortes de 8% na União Européia (UE), Suíça e na maioria dos Estados da Europa Central
e Oriental; 7% nos EUA; e 6% no Canadá, Hungria, Japão e Polônia. Nova Zelândia, Rússia
e Ucrânia devem estabilizar suas emissões, enquanto a Noruega pode aumentar suas
emissões em até 1%, a Austrália em até 8% e a Islândia em até 10%.
A UE fez seu próprio acordo interno para atingir sua meta de 8%, distribuindo
taxas diferentes para os seus Estados- membros, exatamente como foi dividida a meta
de 5% de todo o grupo desenvolvido. Essas metas variam de uma redução de 28% em
Luxemburgo e cortes de 21% na Dinamarca e Alemanha a aumentos de 25% na Grécia e
de 27% em Portugal.
Os países do Anexo B estão abaixo listados, com as respectivas porcentagens de
emissões de dióxido de carbono que poderão emitir em 2012 em relação ao que foi
emitido por eles em 1990.
31
Tabela 5 – Anexo B do Protocolo de Kyoto
País Emissão de CO2 (Gg)/ 1990 Meta 2012 em %
Alemanha 1.012.443 92
Austrália 288.965 108
Áustria 59.200 92
Bélgica 113.405 92
Bulgária 82.990 92
Canadá 451.441 94
Dinamarca 52.100 92
Eslováquia 58.278 92
Espanha 260.654 92
Estados Unidos 4.957.022 93
Estônia 37.797 92
Federação Russa 2.388.720 100
Finlândia 53.900 92
França 366.536 92
Grécia 82.100 92
Hungria 71.673 94
Irlanda 30.719 92
Islândia 2.172 110
Itália 428.941 92
Japão 1.173.360 94
Letônia 22.976 92
Liechtenstein 208 92
Luxemburgo 11.343 92
Mônaco 71 92
Noruega 35.533 101
Nova Zelândia 25.530 100
Países Baixos 167.600 92
Polônia 414.930 94
Portugal 42.148 92
Reino Unido 584.078 92
Rep. Checa 169.514 92
Romênia 171.503 92
Suécia 61.256 92
Suíça 43.600 92
Total 13.728.306
32
Fonte: Protocolo de Kyoto
É importante ressaltar, como o fazem Wemaere e Streck (2005, p. 44- 45), que o
Protocolo de Kyoto não criou, com seus mecanismos, direitos de emissão de GEEs. O
documento criou o direito a emitir uma quantidade limitada de poluição dentro de um
determinado parâmetro. E que todas as autorizações ou direitos de emissão criados
dentro do espectro do Protocolo são pertencentes em última instância aos governos
nacionais. Para que entidades privadas sejam proprietárias de, por exemplo, créditos de
carbono, elas precisam de autorização específica –inclusive porque o Protocolo não traz
nenhuma obrigação de redução de emissão a nenhuma pessoa, física ou jurídica, do
setor privado.
Projetos de florestamento e reflorestamento tendem a atrair menos os
investidores interessados na comercialização de créditos de carbono na primeira fase de
Kyoto, que vai de 2008 a 2012. Isso porque, como argumenta Bosquet (2005, p. 291), esse
tipo de projeto demora mais para produzir benefícios do ponto de vista ambiental –
especificamente, de seqüestro de carbono- do que os projetos de energia limpa, embora
o faça por um tempo maior. Segundo ele, um projeto de energia começa a gerar
créditos de redução de emissão logo em seu primeiro ano de implementação. Como
resultado, diz Bosquet (p. 291), os mecanismos de incentivo de financiamento de
carbono não produzem o mesmo incentivo financeiro para projetos de reflorestamento e
de energia, sendo que esses últimos acabam sendo mais interessantes do ponto de vista
de comercialização de créditos.
Se não são tão atrativos do ponto de vista financeiro, os projetos chamados de
LULUCFs –Land Use, Land Use Changer and Forestry, ou Florestas, Uso e Mudança do Uso
do Solo– afetam muito mais pessoas e extensões territoriais, além de terem seus
benefícios sendo gerados por muito mais tempo do que os projetos relacionados a
energia (Bosquet, p. 290). O autor destaca que esse tipo de projeto atrai muito poucos
investidores, à exceção das áreas ditas “comerciais” de um projeto de florestamento.
Além disso, há dúvidas sobre se esse tipo de projeto contém a “adicionalidade” exigida no
Protocolo de Kyoto para validar um projeto como de seqüestro de carbono.
33
Há quem argumente que não há energia renovável suficiente no mundo para
abastecer as demandas crescentes. Esse fato é lembrado por Cameron (2005, p. 31), que
contra- argumenta com o seguinte histórico: perto da Segunda Guerra, Winston Churchill
retomou um plano de seu antecessor, Lord Selbourne, de substituir o carvão pelo
petróleo como combustível para a Marinha inglesa dados os maiores rendimento e
potência do “ouro negro”. Isso levando em conta, como disse Churchill, que não havia
óleo suficiente para ser usado com combustível no Reino Unido, mas havia o melhor
carvão em suas reservas. Lord Selbourne havia dito: “A substituição de carvão por
petróleo é impossível porque não há óleo no mundo em quantidade suficiente para isso”.
Churchill, em contrapartida, afirmou: “Se eu der a ordem, ela terá de ser cumprida”.
Cameron (p. 31) conclui dizendo que a humanidade ainda vai usar combustíveis
fósseis por algum tempo, até que as energias alternativas sejam ofertadas de maneira
maciça e com confiabilidade. E que os combustíveis fósseis terão de ser queimados de
uma maneira que restrinja fortemente, ou talvez até elimine, os danos que eles causam
à nossa atmosfera emitindo GEEs.
No dia 20 de fevereiro de 2007, a União Européia anunciou a decisão de cortar
em 20% as emissões de dióxido de carbono do bloco até 2020 e seus países- membros se
disseram dispostos a adotar uma redução de até 30% no mesmo período se forem
acompanhados em seus esforços para conter o aquecimento global por outras nações
industrializadas, num claro recado aos Estados Unidos, que se recusam a assinar o
Protocolo de Kyoto ou a se comprometer com metas de redução de GEE (Folha de S.
Paulo, 21.fev.2007, p. A8).
Para substituir os combustíveis fósseis, o que deve ser feito “logo no início do
século 21”, Helene et al (p. 43- 45) sugerem uma lista de alternativas: aproveitamento da
energia produzida pelos ventos; maior uso da energia advinda da radiação solar;
utilização das energias obtidas de biomassas. O uso dessas alternativas renováveis,
segundo a autora, apresenta vantagens em relação à energia nuclear, inclusive
econômicas, visto que elas podem substituir todos os usos dos combustíveis fósseis,
como no abastecimento de veículos, por exemplo.
Embora menos atrativos do ponto de vista econômico, os projetos de
florestamento e reflorestamento são os mais eficientes do ponto de vista de limpar a
34
atmosfera. Como lembram Helene et al (p. 47) e Marcovitch (p. 36), uma árvore cresce
na medida em que retira carbono do ar, tornando- se uma reserva desse material
enquanto estiver viva.
Antes de quantificar a redução da emissão de gases de efeito estufa que vai
solicitar a seus signatários, o Protocolo de Kyoto, no artigo 2, elenca atitudes a serem
tomadas pelos países do Anexo I no sentido de conseguirem efetivamente diminuir essas
emissões. Tais itens são, em linhas gerais: aumento da eficiência energética em setores
relevantes da economia de cada país; proteção e aumento dos sumidouros de GEEs,
incluindo a promoção de práticas sustentáveis de manejo florestal, florestamento e
reflorestamento; promoção de formas sustentáveis de agricultura; pesquisa, promoção e
desenvolvimento e o aumento do uso de formas novas e renováveis de energia e de
tecnologias de seqüestro de dióxido de carbono; redução gradual ou eliminação de
incentivos fiscais, isenções tributárias e subsídios às atividades que não estejam de
acordo com os objetivos de redução de emissão de GEE; adoção de medidas para limitar
e/ou reduzir as emissões do setor de transportes; limitação e/ou redução da emissão de
metano por meio de sua recuperação e utilização no tratamento de resíduos e de
geração e distribuição de energia (UNFCCC 1997 online).
Além disso, no mesmo artigo, é previsto que as tecnologias limpas sejam
compartilhadas entre todas as partes do Protocolo, para que o conjunto dos signatários
alcance o objetivo comum de dirimir os efeitos do aquecimento global. (UNFCCC 1997
online).
E esse é um fator importante: o Protocolo de Kyoto não é estanque. Ele
possibilita e incentiva a troca de tecnologias, de energias renováveis, tecnologia e
possibilidades de ganhos às várias nações. Seus mecanismos de flexibilização são muito
importantes, pois permitem aos países que têm metas de redução de emissão a cumprir
que o façam internamente, com processos mais eficientes, e por meio de investimento
em outros países, trazendo ganhos a diferentes populações simultaneamente. Além disso,
suas regras oferecem incentivos econômicos para a redução de emissão de GEEs. Esse
cenário deu origem a um novo tipo de ambientalismo, que incorpora as forças de
mercado e faz surgir o “empreendedorismo sustentável” (Godoy , p. 88; Conejero, p. 131-
133; Marcovitch, p. 10).
35
Sordieck (2002, p. 38- 40) diz que as ações propostas pelos países signatários da
UNFCCC nas Conferências das Partes a partir da realizada em Kyoto deram ênfase à
utilização de mecanismos de mercado para a redução de custos da mitigação dos GEEs,
além de promover o desenvolvimento sustentável nos países menos ricos. É o principal
diferencial do tratado: usar mecanismos de mercado para tornar mais factíveis as metas
de redução de emissão de gases de efeito estufa.
São três os mecanismos de flexibilização, que visam uma maior cooperação entre
nações e auxiliar os países do Anexo I a cumprirem as metas acordadas no documento
elaborado na COP3. Deve- se salientar que são mecanismos de flexibilização e, sendo
assim, não podem ser a única forma de cumprimento das metas, mas sim adicionais a
medidas tomadas internamente em cada país. Abaixo, uma definição resumida de cada
um deles.
a) Implementação conjunta de processos (art. 6): países do Anexo I podem
adquirir de outras nações que tenham meta a cumprir unidades de
redução de emissões, desde elas não sejam necessárias para a parte que
as está vendendo alcançar seus objetivos, ou seja, essas unidades de
redução de emissão devem estar “sobrando”, além da meta que deve ser
atingida. Podem, outrossim, investir em projetos de mitigação do
aquecimento global naquelas nações que também tenham metas dentro
do Protocolo.
b) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (art. 12): países do Anexo I podem
investir em projetos que contribuam para o desenvolvimento sustentável
em nações que não são do Anexo I. Esses projetos devem conter
“adicionalidade”, ou seja, devem ter níveis de emissões de GEEs em um
nível inferior ao existente sem sua implementação.
c) Comércio de reduções certificadas de emissões (art. 17): mais conhecido
como “comércio de créditos de carbono”, esse mecanismo visa a compra
de unidades de redução de emissão que estejam devidamente
certificadas e disponíveis, a partir de projetos de implementação
conjunta –somente entre países do Anexo I. Já há Bolsas comercializando
esses contratos no mundo. As principais são a Chicago Climate Exchange
36
e a EU Emission Trade Scheme. O Banco Mundial também participa desse
comércio, com o objetivo de estimular ações que diminuam os gases que
provocam o efeito estufa e, assim, contribuir para amenizar os efeitos
do aquecimento global. (UNFCCC, 1997).
Há ainda a comercialização de emissões reduzidas a partir de projetos manejados
em países em desenvolvimento, que funciona nos mesmos moldes do comércio de
créditos de carbono. Essas reduções certificadas são comercializadas hoje em boa parte
das Bolsas de carbono mundiais.
Para que os cálculos de emissão e redução de emissão possam ser feitos, todos
os países signatários devem fazer periodicamente sua comunicação nacional, na qual
devem detalhar as políticas e os programas que vêm adotando sobre mudança do clima
e apresentando inventários anuais de suas emissões de GEEs, incluindo as emissões
separadamente por fonte, além de mostrar como está sendo feito o uso de energia –por
fonte também (UNFCCC 1997 online). Como exemplo, essa tabela mostra a evolução das
emissões de CO2 de alguns dos países do Anexo I no início da década de 1990 e em 2004.
Tabela 6 – Evolução das emissões de CO2 em toneladas
País 1990 2004 Variação em % Assinou Kyoto?
EUA 4.094.882 5.207.890 27,2 Não
Japão 1.069.336 1.190.889 11,4 Sim
Alemanha 1.001.616 849.602 - 15,2 Sim
Canadá 372.936 651.956 74,8 Sim
Reino Unido 593.235 560.418 - 5,5 Sim
Itália 354.575 383.670 8,2 Sim
França 367.983 362.925 - 1,4 Sim
Espanha 205.535 324.020 57,6 Sim
Holanda 161.781 183.300 13,3 Sim
Austrália 356.938 378.694 6,1 Não
Rússia 2.578.794 1.417.864 - 45 Sim
Obs.: inclui emissões e remoções de LULUCFs Fonte: UNFCCC, 2006
37
Essa tabela pode mostrar aos críticos de metas tão tímidas do Protocolo que elas
são maiores do que parecem: afinal, a tendência é de as emissões aumentarem, como
ocorrido na maioria dos países listados. Então, uma redução de 5% é vista pela ONU
como um bom resultado (UNFCCC online).
Mas, apesar de tantas regras e tantas flexibilizações, há quem diga que o
Protocolo de Kyoto não servirá aos propósitos a que se destina. Uma voz dessa corrente
é Alain Belda, presidente mundial da Alcoa. A empresa que dirige reduziu,
voluntariamente, suas emissões de gás carbônico no mundo em 25% entre 1990 e 2005.
Segundo Belda, a companhia tomou essa atitude enquanto tinha “o controle do processo”,
pois é mais fácil e mais barato tentar corrigir causas do que efeito. Com essa bagagem,
Belda diz que é preciso um compromisso mais forte dos governos, inclusive dos EUA,
que, em sua visão, não deveriam assinar Kyoto, pois ele vê o tratado como morto. Em
entrevista à Veja, Belda disse (SCHELP, 2007, p. 15):
“Olhe os resultados do Tratado de Kyoto. Apesar de tudo ter sido assinado bonitinho, o
tratado não foi regulamentado em lugar nenhum. [...] O Tratado de Kyoto já está morto. Um
novo pacote de medidas para reduzir as emissões globais terá de ser desenvolvido”.
3.3 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Durante as duas primeiras Conferências das Partes, a missão brasileira propôs a
criação de um Fundo de Desenvolvimento Limpo, a ser constituído pelo aporte financeiro
dos países desenvolvidos que não cumprissem suas metas de redução de emissão de
GEEs. A idéia contemplava multas para essas nações, que seriam usadas para compor o
fundo. A negociação em Kyoto não levou adiante a proposta da criação do fundo ou da
imposição das multas, mas adotou a sugestão de investimento em países em
desenvolvimento para que tenham acesso a mecanismos limpos e contribuam assim para
a mitigação do aquecimento global. Nasceu assim o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (Godoy, p. 55, Conejero, p. 136; BNDES online, p. 15).
O artigo 12 do Protocolo de Kyoto instituiu o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo como uma das formas de flexibilização para que os países do Anexo B consigam
38
alcançar suas metas de redução de emissão. Segundo o documento, o objetivo desse
mecanismo é o seguinte (UNFCCC 1997 online):
“Assistir as partes não incluídas no Anexo I para que atinjam o desenvolvimento sustentável
e contribuam para o objetivo final da convenção e assistir as partes incluídas no Anexo I
para que cumpram seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões
assumidos no artigo 3”.
Importante frisar que um projeto só é validado como Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo se obedece às seguintes condições:
a) as partes envolvidas devem ter participação voluntária no projeto;
b) ele deve trazer benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo relacionados
com a mitigação da mudança do clima;
c) reduções de emissões dele decorrentes devem ser adicionais às que
ocorreriam na ausência da atividade certificada de projeto (UNFCCC, 1997).
No caso da primeira condição prevista, participação voluntária significa que o
projeto não pode estar sendo desenvolvido em obediência a nenhuma lei do país
hospedeiro. Um exemplo é a adição de etanol à gasolina no Brasil: é parte de uma lei,
de uma norma, portanto não é voluntário (MCT online).
O chamado critério de adicionalidade é talvez o de mais difícil comprovação na
elaboração do projeto. A avaliação deve considerar a situação anterior ao projeto, a
atual e a posterior à implementação do mecanismo, utilizando projeções e tendências,
se necessário, mas estabelecendo as informações do modo mais preciso possível, para
provar que ele de fato reduz emissões de gases de efeito estufa em relação aos níveis
anteriores à sua efetivação (Godoy, p. 57- 58).
Outro importante tópico referente ao MDL é ele estar diretamente associado com
o desenvolvimento sustentável do país hospedeiro. Sem essa condição, ele não é elegível
a ser considerado como iniciativa dentro dos parâmetros do MDL. O entendimento de
desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer as suas próprias, inter-
relacionando os aspectos econômicos, sociais e ambientais” (Frangetto , 2002, p. 50).
39
Mas, apesar de constar do Protocolo de Kyoto, de 1997, a regulamentação do MDL,
os detalhes operacionais e os sistemas de medição de avaliação só foram desenvolvidos
durante a COP7, no Marrocos, em 2001 (Conejero, p. 130).
Esse mecanismo tem a sensível vantagem de permitir aos países do Anexo I que
cumpram suas metas de maneira mais econômica, pois projetos de mitigação de
emissões tendem a ser muito caros quando realizados dentro do território das nações
desenvolvidas, como mostra Rocha (2003, p. 35) citando Ellerman et al. (1998), e a
inclusão da possibilidade de desenvolver esse tipo de prática em nações em
desenvolvimento reduziu sobremaneira a média do preço da tonelada de carbono
reduzida em relação à média apurada se fossem possíveis apenas os mecanismos de
flexibilização intra- países Anexo I, conforme estudo da IEA citado por Conejero (p. 138):
Tabela 7 – Custo médio de redução de gases de efeito estufa por tonelada
de carbono
País CustoJapão US$ 584União Européia US$ 273Estados Unidos US$ 186Somente com países do Anexo I US$ 82Incluindo países não Anexo I US$ 28
Fontes: Ellerman et. al apud Rocha, 2003, para Japão, UE e EUA, IEA apud Conejero, 2006, para média de países do Anexo I e com inclusão dos países não Anexo I
E esse é um ponto abordado com preocupação por Meijer e Werksman (2005, p.
192- 193), que alertam para o perigo de a implementação de um projeto de MDL ser
feita focando a redução de custos no cumprimento das metas de Kyoto em lugar de ter
a real intenção de mitigação dos problemas de aquecimento global. Mas eles
argumentam que os mecanismos de desenvolvimento limpo, ao promover investimento e
transferência de tecnologia a países em desenvolvimento, terá impactos positivos de
longo prazo.
Talvez esse temor seja em parte mitigado pelo complicado processo de aprovação
como projeto de MDL certificado, conforme esquema representado abaixo:
40
Figura 2 – Ciclo de um projeto de MDL
Fonte: Meijer e Werksman 2005, p. 198, adaptado
Meijer e Werksman (p. 194- 211) vêem nesse arcabouço um conjunto de regras
muito mais sofisticadas do que as que permeiam projetos ambientais típicos. Mas
entendem que, por se tratar de mecanismo novo e passível de muitos questionamentos,
os formuladores do Protocolo de Kyoto resolveram construir um ciclo para os MDLs
repleto de salvaguardas, desenhado para assegurar padrões claros e coerentes para
calcular a adicionalidade dos projetos, além de permitir transparência e escrutínio
público das operações dos projetos e ainda mecanismos para descontar ou rejeitar
créditos certificados em caso de aparecerem problemas e/ ou questionamentos.
Por sua vez, Huq e Reid (2005, p. 232) dão um exemplo de por que é necessária a
aprovação dos projetos por um comitê nacional: um projeto de florestamento que
aparentemente siga todos os requisitos previstos no protocolo e consiga mostrar sua
Desenvolvedor Certificadora Conselho executivo
Preparação do projeto
Documento de Concepção do Projeto Validação
Registro
Monitoramento
Verificação da certificação
Validação dos créditos de carbono
41
adicionalidade e seu potencial de seqüestro de carbono. Mas, em consulta ao órgão que
gerencia as florestas do país, esse constata que a área onde se prevê implantar o
projeto não tem reservas hídricas que suportem o total de florestamento previsto.
Citando estudo da IEA, Conejero (p. 139) informa que a transferência de recursos
de países desenvolvidos para países em desenvolvimento em projetos de MDL pode chegar
a US$ 9 bilhões por ano. De acordo com ele, a Cepal estima que 8% a 12% do montante
das reduções de emissão de GEEs anuais será via mecanismos de flexibilização –o que
totalizaria 400 milhões de tCO2e a 900 milhões de tCO2e– e que a América Latina deve
hospedar iniciativas com redução de 100 milhões de tCO2e.
As principais dúvidas estão no que concerne talvez aos projetos mais
importantes, os de remoção de carbono da atmosfera por meio de manejo e uso da
terra. Eles são chamados de LULUCFs. Nessa categoria se enquadram, por exemplo,
projetos de reflorestamento. Mas, porque é difícil mensurar a quantidade de carbono
retirada do ar por determinado projeto, há ainda hoje muitas dúvidas sobre a
aplicabilidade e à medição do benefício trazido por essas iniciativas (Conejero, p. 137;
Godoy, p. 56). A fim de tentar dirimir as dúvidas mais prementes, a decisão 11 da
sétima Conferência das Partes, realizada no Marrocos, apresenta as seguintes definições:
a) florestamento é a conversão, induzida diretamente pelo homem, de
terra que não foi florestada por um período de pelo menos 50 anos,
em terra florestada, por meio de plantio, semeadura e/ou a promoção
induzida pelo homem de fontes naturais de sementes;
b) reflorestamento é a conversão, induzida diretamente pelo homem, de
terra não florestada em terra florestada, por meio de plantio,
semeadura e/ou a promoção induzida pelo homem de fontes naturais
de sementes, em área que foi florestada, mas acabou convertida para
não- florestada (UNFCCC online).
As COPs 9 e 10 voltaram a tratar do assunto, devido exatamente aos itens
expostos mais acima: dificuldade de mensurar os benefícios que esse tipo de projeto
pode proporcionar (Godoy, p. 57).
42
Na verdade, a inclusão desse tipo de projeto já foi uma batalha longa, como
descrevem Scholz e Noble (2005, p. 265- 266). Primeiramente, alguns países e ONGs –
organizações não governamentais- queriam excluir as iniciativas de florestamento em
geral –denominadas sinks no corpo do Protocolo- do documento que acordaria as metas
de redução de emissões. Os motivos: dificuldades nas mensurações das quantidades de
carbono equivalente efetivamente retiradas da atmosfera. Defensores da idéia usaram o
argumento contrário: os benefícios adicionais de projetos do tipo ao retirar grandes
quantidades de carbono do ar no desenvolvimento das plantas envolvidas.
Então, um novo round: segundo Scholz e Noble (p. 266- 267), a não- inlcusão de
uma nota de rodapé explicando que os sinks eram passíveis de serem aceitos enquanto
MDLs os exclui desse mecanismo de flexibilização. Os defensores dessa idéia
argumentavam que os projetos de criação de sumidouros só estavam convenientemente
descritos no artigo 2 –que lista as atitudes que as partes têm de tomar internamente– e
no 6° –que trata da implementação conjunta de projetos entre partes pertencentes ao
Anexo I.
Foi preciso novas discussões e decisões nas Conferências das Partes –COPs-
posteriores para que projetos dessa natureza fossem, enfim, aceitos como possibilidade
de mecanismo de desenvolvimento limpo (Scholz e Noble, p. 267- 268).
Mesmo com essas discussões e dificuldades para a inclusão de projetos de
florestamento e reflorestamento no âmbito dos MDL, Niesten et al (online, p. 1)
consideram que as regras ainda foram tímidas. Em sua visão, ao deixar de fora das
possibilidades de Kyoto os projetos de conservação de florestas desse tipo de iniciativa,
os signatários do Protocolo provocaram dois efeitos deletérios: o de incentivar a
degradação das matas e o desflorestamento nos países em desenvolvimento; e um
possível “abandono” de projetos de conservação de matas nos países em desenvolvimento
financiados pelas nações industrializadas, pois esse tipo de projeto rende créditos de
carbono quando implementado em países do Anexo I e não rende quando em partes
não- Anexo I.
3.4 Mercados de créditos de carbono
43
O mais famoso e popular mecanismo de flexibilização criado pelas partes
reunidas em Kyoto é o comércio de créditos de carbono. Como ele funciona, de acordo
com o artigo 17, que o institui: um projeto definido como de Implementação Conjunta é
aprovado, registrado e monitorado. A cada avaliação, ele gera uma quantidade de
carbono que deixou de ser emitida. Essa quantidade retirada ou reduzida se constitui
num crédito de carbono. Caso o projeto não tenha sido financiado por instituição que
desejasse usar esses créditos no cumprimento de metas de seu país –e portanto já
tivesse essa redução ou eliminação de carbono comprometida- , eles podem ser vendidos
a outros interessados em cumprir suas metas de Kyoto (UNFCCC 1997 online; Godoy, p.
62- 63).
Apesar de terem surgido na esteira do Protocolo de Kyoto, nem todos os
mercados de crédito de carbono existentes seguem exatamente os preceitos daquele
documento. Por isso, há os chamados Kyoto compliance –em acordo com todos os artigos
do Protocolo- e os non- Kyoto compliance – que aplicam algumas regras próprias. Melhor
exemplo deste último é a Chicago Climate Exchange –conhecida pela sigla CCX-, formada
pela associação de empresas norte- americanas que se comprometem com metas de
redução diferentes das de Kyoto e, para atingi- las, usam o mercado que formaram
(Godoy, p. 62, CCX online).
A Chicago Climate Exchange anunciou que bateu seu recorde de comercialização
de créditos de carbono em fevereiro de 2007: foram 3.712.100 toneladas métricas de CO2
equivalente, o maior volume mensal registrado por essa Bolsa desde o início de suas
atividades, em dezembro de 2003. Note- se que é uma Bolsa em que as comercializações
ocorrem de forma quase voluntária, visto que os EUA não são signatários de Kyoto. A
Bolsa é resultado de uma associação de mais de cem empresas de diversos setores,
entre os quais o químico, o de serviços, o automobilístico e o de papel e celulose. Entre
as 56 instituições –públicas e privadas- listadas como membros em fevereiro de 2007,
encontramos cinco companhias brasileiras: a Aracruz, a Cenibra Nipo- Brasileira, a
Suzano, a Rhodia Energy Brasil e a Klabin. Na CCX é transacionado o Carbon Financial
Instrument , que equivale a 100 toneladas métricas de carbono equivalente (CCX online,
2007).
44
Não há ainda um contrato padrão para todos os mercados, como o encontramos
no caso da comercialização de outros produtos nas Bolsas mundiais. O que há é uma
padronização quando à medida: uma tonelada métrica de carbono –a BM&F, em seu site,
define a tonelada de carbono métrica como uma medida métrica utilizada para
comparar as emissões de vários gases de efeito estufa com base no potencial de
aquecimento global de cada um. O dióxido de carbono equivalente é o resultado da
multiplicação das toneladas de GEE emitidas por seu potencial de aquecimento global. O
gás carbônico é o GEE em maior quantidade na atmosfera, mas não é o único causador
do efeito estufa. Tendo isso em vista, optou- se por padronizar as medidas em
quantidade de carbono equivalente. Assim, se um projeto reduz emissão de metano, por
exemplo, cálculos químicos são feitos para converter aquele corte em quantidade
equivalente de carbono –CO2 (BM&F online, 2007; MCT online, 2007).
Para dar um incentivo maior ao início das transações do mercado de carbono,
especialmente nos países mais pobres, o Banco Mundial criou, em parceria com 17
empresas e 6 governos, o PCF –Prototype Carbon Fund–, que começou a operar em abril
de 2000, com capital total de US$ 180 milhões. Sua missão é “ser pioneiro no mercado
de projetos de redução de gases de efeito estufa, promover desenvolvimento sustentável
e oferecer aos participantes um aprendizado pela ação” (Carbon Finance [a] online). Há
três projetos brasileiros atualmente com financiamento do PCF: um de seqüestro de
carbono, o Plantar, que atua por meio de florestamento em Curvelo (MG), e dois de co-
geração de energia, o Lages, que usa os gases do lixo para produzir eletricidade, e o Alta
Mogiana, com uso de bagaço de cana- de- açúcar (Carbon Finance [c] online, Conejero, p.
172; 189; 200).
O Banco Mundial mantém mais dois fundos gerais: o CDCF –Fundo de Carbono
para Comunidades em Desenvolvimento, em inglês- , que entrou e operação em junho de
2003, e o BioCarbon Fund, que iniciou suas atividades em junho de 2004. O primeiro visa
financiar pequenos projetos em países mais pobres, que não conseguiriam entrar no
espectro do mercado global de carbono por não terem nem os recursos para certificá-
los internacionalmente. O segundo, mais complexo, tem como objetivo demonstrar os
benefícios de projetos chamados de seqüestro de carbono –os LULUCFs- e financiá- los. É
uma área controversa, sobre a qual a nona Conferência das Partes (COP9), realizada em
45
Milão em 2003, tentou dirimir os questionamentos mais graves (Freestone, 2005, p. 23;
Carbon Finance [a] online).
Há ainda outros fundos mantidos pela entidade, mas são todos voltados a países
específicos –Itália, Dinamarca, Holanda e Espanha, além do fundo europeu e do fundo
para os chamados “países guarda- chuva” –Austrália e Japão entre eles (Carbon Finance
[a], online).
A EU ETS –European Union Emission Trade Scheme- é talvez o mais importante
mercado de créditos de carbono atual. Ela é Kyoto compliance e tem uma vantagem:
apresenta, desde novembro de 2004, um mecanismo chamado de linking directive, uma
linha reguladora que determina a ligação entre a Bolsa e o Protocolo de Kyoto. Com
isso, as instituições incluídas no EU ETS podem usar certificados ali comercializados
para atender ao cumprimento de suas metas- Kyoto desde 2005. Essa particularidade fez
a Bolsa ser mais procurada pelas companhias européias, que poderiam assim cumprir
suas metas mais facilmente (Godoy, p. 74; Conejero, p. 159; Araujo, p. 17).
O Reino Unido desenvolveu seu próprio mercado, o UK ETS. Um leilão foi realizado
nos dias 11 e 12 de março de 2002 e ali foram vendidos 4.028.176 tCO2e. Ele teve a
participação de 34 empresas que agora podem comercializar as allowances entre si com
o objetivo de alcançarem as metas estabelecidas (Rocha, p. 173).
O governo holandês criou dois instrumentos de negociação de créditos de
carbono: o CERUPT –Certified Emission Reduction Unit Procurement Tender- , que visa ao
investimento em projetos de MDL, e o ERUPT –Emission Reduction Unit Procurement
Tender–, voltado para projetos de implementação conjunta (Rocha, p. 162- 165).
3.5 Perspectivas
A preocupação com as mudanças do clima tende a aumentar. E isso inclusive
entre os empresários. Uma demonstração disso é o relatório do Lehman Brothers Inc.,
quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, datado de 1° de fevereiro de
46
2007. Nesse documento, a instituição pondera que “as mudanças climáticas representam
uma oportunidade para empresas do mundo todo, que fracassarão ou prosperarão
dependendo das decisões que tomarem para mitigar os efeitos dessas alterações”. O
autor do relatório, John Llewellyn, consultor- sênior de política econômica do Lehman
Brothers, escreve que as empresas deveriam considerar os impactos diretos que as
mudanças do clima terão sobre suas operações, além das regulamentações potenciais
que serão impostas pelos governos. E coloca a pergunta que deve estar na cabeça dos
executivos do mundo: “Devo investir em instalações poluidoras agora e correr o risco de
enfrentar uma possível mudança das normas ambientais, o que me impossibilitará de
utilizar essas instalações caso eu não invista um monte de dinheiro para convertê- las
no futuro, ou devo investir em instalações não- poluidoras agora, mesmo que isso não
seja exigido, o que me custará muito mais e pode ser algo que não agrade o conselho
administrativo de minha empresa?”. E o relatório prossegue com uma reflexão: “É
sempre útil que governos tenham a possibilidade de indicar regras do jogo bastante
abrangentes com a maior antecedência possível” (Llewellyn, J., 2007, p. 4, 48- 50).
Outro exemplo corporativo da intenção firme de investimento em tecnologias
limpas é a Alcoa. Seu presidente, o brasileiro Alain Belda, afirma que “não se trata de
ser bonzinho. A redução das emissões é urgente e, quanto antes começarmos, melhor
para os negócios”. A Alcoa e outras nove empresas –entre elas a GE e a British
Petroleum– pediram providências concretas do governo americano no sentido de reduzir
suas emissões de gás carbônico. Belda diz que a atitude foi tomada porque “o mundo
todo tem a perder com o aquecimento global”. O executivo pede, na entrevista que
concedeu à revista “Veja” sobre o assunto, que sejam estabelecidas regras claras acerca
de como se vai solucionar o problema do efeito estufa, para que as empresas possam
investir adequadamente, como no exemplo que cita: “uma companhia com planos de
construir uma fábrica não sabe se deve comprar um forno a gás, a óleo combustível ou
a eletricidade” (Schelp, 2007, p. 11).
Belda diz ainda que, se as reduções de emissão nos EUA começassem agora, seria
possível chegar a 2016 com um corte de 15% - ou seja, seria possível cumprir as metas
de Kyoto. Para o presidente da Alcoa, os investimentos nessa área ambiental criam
empregos, pesquisas em universidades e possibilidade de novos negócios lucrativos, em
47
sendo usada tecnologia de ponta para as soluções. Ele cita o exemplo da empresa que
preside para justificar sua posição: entre 1990 e 2005, a Alcoa reduziu suas emissões de
gás carbônico no mundo em 25%. Segundo Alain Belda, essa decisão foi tomada porque a
companhia sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de fazê- lo –e resolveu tomar as
medidas necessárias enquanto tinha “o controle do processo na mão”, ou seja, antes de
ser obrigada a cortar suas emissões e, então, ter de recorrer a tecnologias mais caras
(Schelp, 2007, p. 14).
Segundo o Banco Mundial, de janeiro a setembro de 2006 o comércio mundial de
créditos de carbono alcançou US$ 22 bilhões, o dobro do total de 2005, quando foram
movimentados US$ 11 bilhões nesse tipo de negócio. As perspectivas, com a chegada do
período de cumprimento de metas do Protocolo de Kyoto, a partir de 2008, são de
aumentos mais significativos nesse comércio (Carbon Finance [b] online).
Em 2005, o Japão tinha sido o maior comprador mundial de créditos de carbono.
O Reino Unido tomou a liderança no ano passado, seguido pela Itália. O gráfico abaixo
mostra todos os compradores de créditos de carbono no ano passado, até setembro,
quando o volume mundial alcançara 234,1 milhões de CO2e:
Gráfico 2 – Compradores de créditos de carbono, jan- set/06, em % do total
45
19
10
8
5
5
4
3
1
Reino Unido
Itália
Europa - outros
Japão
Países bálticos
Outros
Holanda
Espanha
EUA
Fonte: IBEF News, nº 105, p. 8
48
A terceira Carbon Expo, realizada em 2006 pelo Banco Mundial em Colônia, na
Alemanha, reuniu 2.050 participantes de 94 diferentes países. A área de exibição cresceu
50% em relação à do ano anterior. Mais de 200 projetos de MDL foram apresentados no
evento (Carbon Finance [b] online).
No documento de avaliação do Banco Mundial, Yvo de Boer, secretário- executivo
da UNFCCC, prevê que há um potencial “de gerar US$ 100 bilhões por ano em
investimento ‘verde’ nos países em desenvolvimento" (Carbon Finance [b] online).
No caso de lixo, as alternativas que vêm sendo experimentadas visam
reaproveitar os resíduos produzidos para que eles não sejam simplesmente aterrados.
Essas alternativas passam pela separação entre lixo orgânico e não- orgânico, pela
reciclagem de materiais que possam ser reaproveitados –caso do papel/papelão, do
metal, do vidro e do plástico- e do uso do material orgânico como matéria- prima para
a elaboração de fertilizantes e outros produtos usados na agricultura para tornar o solo
mais fértil. Os efeitos podem ser medidos na natureza: cada tonelada de papel reciclado
preserva 19 árvores que seriam derrubadas para produzi- lo (Sariego, p. 130).
Mas os principais receios são de como vai ficar esse mercado após 2012. Ainda
não há definição sobre metas, os países desenvolvidos insistem em que as nações em
desenvolvimento sejam incluídas nas obrigatoriedades, coisa que elas não aceitam
(Marcovitch, p. 49). Os relatórios do IPCC têm alertado sobre a necessidade urgente de
frear a emissão de GEEs e das conseqüências de prosseguir no ritmo atual (IPCC online).
Tanto é assim que os valores dos créditos de carbono que estarão disponíveis após 2012
são menores do que aqueles que são válidos para o período de Kyoto (EU ETS online).
49
Capítulo 4 - As vantagens competitivas do Brasil
4.1 Projetos de MDL
O primeiro projeto de mecanismo de desenvolvimento limpo registrado no mundo
é o Novagerar, que visa produz energia a partir de gás metano do lixo, em Nova Iguaçu
(RJ). Atualmente, ele reduz a emissão de metano, quebrando esse gás em CO2, muito
menos poluente. A expectativa é que o tratamento de lixo gere metano suficiente para
obter energia para abastecer os prédios públicos de Nova Iguaçu (Araujo, p. 33).
A iniciativa, que mereceu em 2005 o prêmio de melhor projeto de MDL do mundo,
foi tão bem- sucedida que se desdobrou na criação de uma empresa especializada em
desenvolvimento de projetos de MDL para o grupo ou para terceiros –a Novagerar
Ecoenergia (Araujo, p. 34).
Segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia, até fevereiro de 2007, 118 projetos
de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo haviam sido aprovados no país. No site da
UNFCCC (2007), até 21 de abril de 2007, havia 632 projetos de MDL registrados no órgão
em todo o mundo. A Índia aparece em primeiro lugar, com 219, e a seguir vem o Brasil,
com 97 projetos de MDL. Abaixo, reproduz- se o gráfico que mostra a distribuição
mundial de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo em todo o mundo:
50
Gráfico 3 – Distribuição geográfica dos projetos de MDL
Fonte: UNFCCC online, 2007 – dados de 21.abr.2007
De acordo com o Cepea (apud Conejero, 154), os setores econômicos que
apresentaram metodologia e/ou projetos de MDL em 2005 estão distribuídos em diversas
áreas, a saber: co- geração de energia com biomassa; hidrelétricas e PCHs –pequenas
centrais hidrelétricas, projeto para o qual há inclusive financiamento disponível do
BNDES–, eficiência energética, troca de combustíveis e processos industriais; aterros
sanitários e tratamento e disposição de resíduos; agricultura; pecuária; transporte;
florestamento e reflorestamento.
Em dezembro de 2006, a Finep –Financiadora de Estudos e Projetos– lançou o
Programa de Apoio a Projetos do MDL, que financia o desenvolvimento de soluções e
estudos. É mais uma alternativa para ajudar empresários brasileiros interessados em
montar projetos de desenvolvimento sustentável no país. Até fevereiro de 2007, esse
mecanismo só havia sido procurado por uma empresa de porte médio, talvez por
desconhecimento, na avaliação da instituição (Bocato, 2007, p. Negócios 2).
E essa é uma contribuição importante, pois as etapas que levam o projeto a ser
certificado como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo acabam por encarecê- lo e
torna- se fundamental para sua aplicação a ajuda financeira. Cálculo feito por Marcelo
Rocha, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, para a mesma reportagem
Índia34,65%
Brasil15,35%
México12,34%
China11,08%
Chile2,69%
Malásia2,37%
Coréia do Sul1,90%
Outros19,62%
51
(Bocato, p. 2), dá conta que um projeto pode custar até US$ 155 mil para ser validado e
certificado como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, conforme a figura que segue,
mostrando as etapas para a validação de uma iniciativa do tipo.
Figura 3 – O caminho para a aprovação de um projeto de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo
Fonte: Marcelo Rocha, apud BOCATO, Folha de S. Paulo, 11.fev.2007.
4.2 A venda de créditos de carbono brasileiros
Apesar de ainda não ter um mercado organizado de comercialização de créditos
de carbono, o Brasil é, por sua natureza e vocação ambiental, um potencial emissor de
1) Elaboração de documento de concepção de projetoCusto: até US$ 50 mil
2) Validação por Entidade Operacional DesignadaCusto: de US$ 10 mil a US$ 40 mil
3) Avaliação pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, após avaliação sobre distribuição de renda, sustentabilidade ambiental local, entre outros temasCusto: não há
4) Submissão ao Conselho Executivo de GestãoCusto: de US$ 5.000 a US$ 30 mil
5) Monitoramento, que inclui coleta de dados para calcular as reduções de emissão Custo: US$ 5.000 a US$ 10 mil/ano
6) Verificação / certificação, que é um processo de auditoria periódico para revisar cálculos de redução de emissão de GEE ou de remoção de CO2
Custo: de US$ 15 mil a US$ 25 mil
52
reduções certificadas de carbono, conforme Guilherme Fagundes, da BM&F, declarou à
revista IBEF News (n° 105, abr.2007, p. 15).
Em dezembro do ano passado, foi anunciado que o grupo financeiro Sumitomo
Mitsui Financial (SMFG) será o intermediário no Japão para a negociação sobre os
direitos da emissão de 1,5 milhão de toneladas de dióxido de carbono vendidas por
empresas do Brasil. De acordo com reportagem da agência Efe, em Tóquio, os créditos,
de cerca de dez projetos de redução de emissões no Brasil, serão comprados pela
energética Chugoku Electric Power. Cada tonelada de gás será vendida por 7 euros a 8
euros, segundo o jornal "Nihon Keizai". O valor total chegaria a 2 bilhões de ienes (US$
17 milhões). O texto informava ainda que o projeto brasileiro, aprovado pelo Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo, da ONU, é de pequena escala e foi selecionado pelo Banco
Sumitomo Mitsui Brasileiro S.A., filial do grupo no país (EFE, online, dez.2006).
Na CCX –Bolsa de Clima de Chicago- , a presença do Brasil, segundo Salani (2007a,
p. B8), é “pequena, mas crescente”. Não há uma quantificação ainda dos créditos
brasileiros ali comercializados.
A posição é semelhante em relação à EU ETS. Apesar de não ser especificamente
mensurada, há créditos de carbono gerados no Brasil sendo comercializados nessa Bolsa
tanto diretamente quanto pelas empresas estrangeiras que investem em projetos no país
e recebem esses créditos como pagamento, segundo Salani (2007a, p. B8).
Os bancos Real e Unibanco já dispõem de um setor que estuda e prospecta
negócios envolvendo créditos de carbono no Brasil (Salani [a], p. B8). O Banco Real,
inclusive, produz uma newsletter quinzenal sobre o assunto, analisando o
comportamento dos mercados mundiais e trazendo perspectivas do negócio no mundo e
no Brasil.
4.2.1 Mercado Brasileiro de Redução de Emissões
53
Em setembro de 2005, a BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) lançou, em
conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, o projeto do Mercado Brasileiro de
Redução de Emissões. O objetivo final é estabelecer um balcão de negociações de
créditos de carbono, mas, para isso, a Bolsa está estruturando projetos, contratos e
contatos (BM&F, online, 2007).
Na atual fase do projeto, está funcionando o chamado Banco de Projetos BM&F. O
site da Bolsa funciona como uma vitrine: projetos com potencial para gerar créditos de
carbono são expostos, depois de passarem pelo crivo inicial do grupo do Centro Clima
Coppe UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro- que avalia se têm realmente
potencial para atenderem aos requisitos previstos no Protocolo de Kyoto. Com isso, o
investidor interessado já vai ter à disposição somente projetos com efetiva chance de
serem homologados pela Autoridade Nacional Designada, que no Brasil é a Comissão
Interministerial de Mudança Global do Clima (BM&F online, 2007).
Na vitrine da Bolsa, então, são colocados principalmente projetos com viabilidade
técnica, mas que precisam de investidores. E há o outro lado do balcão também:
investidores com interesse de comprar créditos ou de aplicar recursos em projetos
dentro do âmbito de Kyoto também se cadastram. Há, atualmente, seis instituições
interessadas inscritas na BM&F como potenciais investidoras: o Banco Sumitomo Mitsui
Brasileiro; a CM Capital Markets Holding; a Galica Serviços e Participações; o Icecap; a
RNK Capital e o holandês Fortis Bank. Cada um deles, além de manifestar sua intenção
de compra, também indica quais áreas –por exemplo, energia, transportes etc.- são de
seu interesse investir (BM&F online, 2007).
A segunda fase do projeto, que a BM&F planeja colocar em operação em 2007,
será o leilão eletrônico de créditos de carbono. O sistema deve possibilitar a negociação
no mercado à vista de créditos de carbono já gerados por projetos de MDL. Os leilões
serão agendados pela BM&F e, via Internet, os interessados –investidores qualificados no
mercado de carbono global– poderão participar, dando suas ofertas. De acordo com as
informações da Bolsa, o leilão será estruturado de acordo com as práticas internacionais
desse mercado (BM&F, online, 2007).
54
4.3 Etanol
Na década de 1970, os países- membros da Opep –Organização dos Países
Produtores de Petróleo– resolveram elevar substancialmente os preços do petróleo que
produziam, provocando uma recessão mundial, pois aquela já era então a principal fonte
de energia de todo o mundo. No Brasil, os efeitos superaram o simples aumento de
custos e a decisão teve impacto profundo nas contas externas do país (Miguez, 2004, p.
171).
Para fazer face a esse problema, foi criado o Programa Nacional do Álcool –
conhecido como ProÁlcool– em 14 de novembro de 1975 pelo decreto 76.593. Com
incentivo financeiro do governo, foi pesquisada tecnologia para fazer que automóveis
fossem movidos com álcool hidratado produzido a partir da cana- de- açúcar. A intenção
era diminuir o consumo de gasolina e petróleo, que impactavam fortemente na balança
comercial brasileira. Como à época, segundo Miguez (p. 172), os preços internacionais do
açúcar estavam baixos, optou- se por extrair o álcool da cana.
Na fase inicial, o álcool anidro era usado como aditivo na gasolina à razão de
1,1%. Mas o segundo choque do petróleo, entre 1979 e 1980, triplicou os preços do barril
do combustível fóssil e levou o governo a intensificar as medidas de plena implantação
do ProÁlcool. O resultado pode ser traduzido por números da Anfavea –Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores: a proporção de carros movidos a
etanol no país subiu de 0,46% do total em 1979 para 26,8% em 1980, alcançando 76,1%
em 1986 (Miguez, p.172).
O programa acabou prejudicado por dois fatores fundamentais: queda do preço do
petróleo a partir de 1986, aliada a um descompasso entre oferta e demanda de etanol –a
produção do combustível “verde” não acompanhava o consumo crescente. Some- se a
essas condições uma falta de recursos do governo para incentivar a produção de álcool
e o cenário acabou sendo de desabastecimento em 1988, com a queda da confiança dos
consumidores brasileiros no álcool e até a necessidade de importações pontuais de
etanol e metanol ao longo da década de 1990 (Miguez, p. 173).
55
Mas ele foi retomado com novo impulso e maior confiabilidade com o
desenvolvimento da tecnologia bicombustível –carros movidos por álcool ou gasolina, na
proporção desejada pelo consumidor. Essa tecnologia teve a vantagem de aumentar a
competição saudável entre gasolina e álcool –na medida em que o proprietário de
automóvel opta pelo combustível que lhe for mais conveniente do ponto de vista de
custo/benefício– e de garantir o abastecimento dos carros, pois se há falta de um dos
produtos o consumidor usa o outro para encher o tanque. Segundo a Bosch, uma das
desenvolvedoras dessa tecnologia, o consumidor pode fazer o abastecimento de seu
veículo com qualquer proporção entre álcool e gasolina, ou com apenas um dos dois
combustíveis, sem perda da eficiência ou outro prejuízo ao carro.
A resposta do consumidor foi rápida. Em menos de cinco anos, os veículos
bicombustíveis passaram a ser a maioria dos vendidos. Há modelos que são fabricados
apenas na versão que permite abastecimento com gasolina ou álcool. Abaixo, gráfico
mostra o desempenho de vendas dos veículos bicombustíveis, com dados da Anfavea:
Gráfico 4 – Proporção de veículos bicombustíveis no total de vendas de automóveis novos
Fonte: Anfavea, fev.07
Na Comunicação Inicial à Convenção- Quadro da ONU, o Brasil destaca os
seguintes impactos ambientais da adoção, pelo país, do etanol como combustível
27,5
34,8
54,2
66,172,8
76,8 76,679,9 82,7 83,5
20
30
40
50
60
70
80
90
jan.05 abr jul out jan.06 abr jul out jan.07 fev
56
alternativo ou aditivo à gasolina: eliminação do chumbo tetraetila, tendo sido o primeiro
país do mundo a conseguir o feito devido à adição de álcool anidro à gasolina; redução
na poluição atmosférica dos centros urbanos, aí incluída não só a emissão de CO como a
de SOx, poluente esse que não é emitido na queima de etanol; redução de gases de efeito
estufa, pois a cana- de- açúcar absorve, na fotossíntese, o CO2 emitido na queima do
etanol. Ainda que para a produção e o transporte do etanol haja emissão desse tipo de
poluente, o balanço final é positivo, pois deve ser considerada a quantidade de CO2 que
não foi emitido pela substituição da gasolina. (Miguez, p 175). A tabela abaixo mostra o
fluxo de CO2 em todas as etapas de produção e consumo do etanol no Brasil:
Tabela 8 – Fluxo de CO2 equivalente na produção e consumo de etanol no Brasil
Gases Fluxo em t CO2 / m3 de
etanol
CO2 reduzido total - 2,71
- reduzido com substituição da gasolina - 2,44
- reduzido com substituição de óleo combustível - 0,27
57
CO2 liberado na produção de cana / etanol 0,25
Total líquido - 2,46
Fonte: Comunicação Inicial do Brasil à Convenção- Quadro da ONU
Como pioneiro no uso dessa tecnologia, o Brasil passou a ser dela referência
mundial. Em agosto de 2006, por exemplo, o presidente da Opep - Organização dos
Países Exportadores de Petróleo- , o nigeriano Edmund Daukoru, visitou o Brasil
interessado em aprender mais sobre o etanol. Presidente do Comitê de Implantação de
etanol de seu país, ele buscava informações para orientar um projeto semelhante de
energia renovável na Nigéria –que é grande produtora de petróleo. Deu declarações
dando conta de que acha que uma adição “discreta e moderada” do álcool pode ser feita
à gasolina em todo o mundo e visitou o CTC –Centro de Tecnologia Canavieira–, em
Piracicaba- SP, onde conheceu processos de produção do etanol e a tecnologia de
pesquisas e desenvolvimento (Simionato, 2006, p. B8).
Em março de 2007, o presidente dos EUA, George W. Bush, visitou o Brasil
trazendo o pedido de que o país transfira tecnologia para os vizinhos da América Latina
em produção de etanol a fim de garantir abastecimento do combustível para o mercado
norte- americano (ISTOÉ, ed. 1.949, p. 30- 31). Os Estados Unidos produzem etanol –são
inclusive os maiores produtores mundiais- , mas a partir de milho. Esse é um processo
mais caro do que a produção a partir da cana- de- açúcar –tanto que os EUA sobretaxam
o álcool brasileiro em US$ 0,54 por galão que entra naquele país, incentivo que Bush
não veio ao Brasil disposto a retirar (ISTOÉ, p. 31) –e, além disso, segundo informa
Miguez (p. 175), com uso de combustíveis fósseis para a geração da energia necessária à
transformação do grão em metanol.
Já o etanol brasileiro é praticamente auto- suficiente: sua produção usa energia
gerada com a queima do bagaço da cana e já há até excedentes de eletricidade que
foram repassados –vendidos- ao sistema elétrico nacional. Miguez (p. 175) ressalta, com
os dados da época da comunicação inicial, que, considerando a produção de cana
nacional –300 milhões de toneladas- , o potencial de co- geração e energia a partir do
bagaço desse produto é de 7.000 MW, ou mais da metade do potencial então instalado na
usina hidrelétrica de Itaipu, que somava 12.600 MW.
58
Hoje, EUA e Brasil produzem juntos 72% do etanol fabricado em todo o mundo. De
olho nesse potencial, Bush trouxe ao Brasil em sua visita a proposta de criar uma “Opep
do etanol”. O presidente norte- americano, bombardeado pelos oposicionistas democratas
por não ter assinado o Protocolo de Kyoto, lançou um plano de substituir 10% da
gasolina usada atualmente nos EUA por álcool _e, para isso, a criação de um mercado
mundial do combustível “verde” e a formação de mais produtores para abastecerem os
carros norte- americanos é fundamental (ISTOÉ, p. 31).
Os estudiosos e analistas reconhecem a liderança brasileira no assunto. O
economista Tom Trebat, vice- diretor do Instituto de Estudos Latino- Americanos da
Universidade de Columbia (EUA), disse que o Brasil será “a Arábia Saudita do etanol”. Em
sua visão, não há no mundo país com tão avançadas condições tecnológicas em termos
de etanol quanto o Brasil. E isso é um ganho inestimável, pois, segundo Trebat, o etanol
passou a ter “importância política capital por conta do relatório do IPCC, que eliminou
quaisquer dúvidas a respeito da responsabilidade humana pelo aquecimento global”
(Doria, 2007, p. J4).
Segundo Conejero (p. 10), a IEA aponta o Brasil como um dos países com maior
competitividade no mundo na produção de biocombustíveis. Aí estão incluídos não só o
etanol como também as diversas modalidades de biodiesel –diesel a partir de óleos
vegetais– que estão sendo desenvolvidas no país. E mais: a IEA projeta que, até 2020, 30%
dos combustíveis usados pelos meios de transporte serão biocombustíveis.
E, exatamente por isso, Cortez (2007, online) fez uma análise sob outro ponto de
vista: o temor de que, com essa súbita valorização do etanol, o Brasil possa vir a ser o
“novo Iraque”. Ele baseia seu raciocínio no fato de que o acordo que os EUA querem
fazer com o Brasil é da modalidade oferta firme, ou seja, o país vendedor garante a
oferta e a entrega dos bilhões de litros de etanol em determinados prazo e fluxo sem
levar em contra “qualquer dificuldade de produção, de quebra de safra ou de problemas
climáticos”. E assim conclui seu argumento: “Se alguém não compreendeu os riscos de
frustrar a expectativa de compra e abastecimento de combustíveis pelos norte-
americanos, basta lembrar do Iraque”.
59
4.4 Perspectivas
Em sua tese, Rocha (p. 129- 130) calcula uma baixa participação brasileira em
um provável mercado de CER (Certificados de Emissão de Redução) e isso devido a dois
fatores primordiais, de acordo com suas conclusões:
- como a eletricidade usada no Brasil é quase 80% advinda de hidrelétricas, é
muito mais difícil e oneroso no Brasil do que na China ou na Índia, por exemplo,
implementar projetos que reduzam a emissão de poluentes com geração de
energia limpa, pois aqui a característica já é de energia limpa;
- o modelo usado por Rocha não leva em conta as atividades de florestamento e
reflorestamento, tecnicamente enquadradas nas LULUCFs, setor em que o Brasil
tem bom potencial de geração de créditos de carbono.
A conclusão de Rocha em sua tese é que o governo brasileiro precisa criar um
ambiente institucional que dê segurança aos investidores e que permita um baixo custo
de transação –objetivo esse perseguido, ao menos pela BM&F. Tese compartilhada pelo
especialista em projetos ambientais Marco Antonio Fujihara em entrevista à revista IBEF
News (p. 15). O pesquisador Rocha diz ainda que outra alternativa para o Brasil é
investir em projetos diferenciados –ele não menciona quais- para buscar nichos de
mercado em que o preço do CER seja mais elevado.
Um segmento que pode render esse tipo de ganho maior é a geração de energia
com a queima de metano, como já é feito no Aterro Bandeirantes, em São Paulo, e deve
começar a ser implementado em 2007 no aterro de Nova Iguaçu- RJ dentro do
Novagerar, o primeiro projeto de MDL registrado no mundo. O projeto tem financiamento
do Banco Mundial, que vai receber como pagamento 2,5 milhões de toneladas de CO2
equivalente, a serem repassadas ao governo da Holanda. A intenção é que ele seja um
“modelo de gerenciamento de resíduos sólidos”, segundo a afirmação de Werner Kornexl,
do Banco Mundial (Salani, 2007 b, p. B8).
Outra área que pode ser beneficiada é a de florestamento. Diniz (p. 128) chama a
atenção para o fato de que as atividades de florestamento costumam dar resultados
melhores em curto prazo no que tange à qualidade atmosférica, embora impactem
60
negativamente no PIB. Mas, mesmo assim, têm um efeito menor do que a adoção geral
de tecnologias mais limpas, e dão resultados melhores se o horizonte de planejamento
do gestor público for menor do que sete anos, o que, em sua visão, “pode estar presente
no Brasil, onde o presidente da República exerce no máximo dois mandatos”.
E achar esses segmentos novos deve ser, provavelmente, o caminho para o Brasil
se firmar no mercado de carbono, segundo analistas. Apesar de ser o segundo país com
maior número de projetos de MDL registrados na UNFCCC (até 21 de abril de 2007), ele
cai para o terceiro lugar, e bem atrás de China e Índia, quando a medição é por
quantidade de créditos de carbono esperada (UNFCCC online), conforme os gráficos
abaixo:
Tabela 9 – Total de projetos MDL registrados e de redução de carbono
equivalente esperada
Projetos registrados Redução de emissão esperada, em toneladas de carbono equivalente
País Total de projetos % do total dos
3 países
País Redução de
emissão
% do total
dos 3 países
Índia 219 56,7% China 58.747.503 61%
Brasil 97 25,1% Índia 21.231.015 22%
China 70 18,2% Brasil 16.271.186 17%
Fonte: UNFCCC online, dados de 21.abr.2007.
O dado é destacado por Kornexl, do Banco Mundial: “O Brasil tem muitos projetos,
mas são de pequeno porte porque a matriz elétrica [do país] é limpa. Um só projeto da
China é capaz de alcançar quase todo o volume de redução [de carbono] dos projetos
brasileiros” (Salani, 2007c, p. B8).
61
A análise é quase unânime por todos os especialistas. Fala Marco Antonio
Fujihara, especialista no assunto do Instituto Totum: “Nós já temos uma matriz limpa.
Então, é preciso muito mais criatividade para montar um projeto aqui do que na China”
(IBEF News, p. 15). No mesmo texto, o chefe do Departamento de Projetos Especiais da
BM&F, Guilherme Fagundes, ressalta: “A limitação do Brasil - relativamente ao potencial
de países como a China, por exemplo- decorre, entre outros fatores, do perfil limpo de
nossa matriz energética”.
Do ponto de vista prático, os dados do Banco Mundial e do Ieta –Associação
Internacional de Comércio de Emissões, na sigla em inglês- mostram que o Brasil,
sozinho, está com apenas 4% do comércio mundial de créditos de carbono, conforme
gráfico abaixo:
Gráfico 5 – Quem vendeu créditos de carbono, jan- set/06, em % do total
60
15
9
7
5
4
China
Índia
Ás ia - outros
África
América Latina - outros
Bras il
Fonte: IBEF News, n° 105, p. 8
Com dados do Ministério da Agricultura e da Embrapa, Araujo (p. 28) elaborou a
seguinte tabela com a estimativa do potencial do Brasil –e do agronegócio brasileiro– no
mercado de créditos de carbono para o período de compromisso de redução estabelecido
pelo Protocolo de Kyoto, de 2008 a 2012:
62
Tabela 10 – Estimativas do mercado de carbono para o período 2008 a 2012
Item / participação Emissões / mercado
Emissão dos países desenvolvidos (1990) 13,7 bilhões de t de CO2
Redução comprometida (5,2% do total) 714 milhões de tCO2 / ano
Preço da tonelada de carbono (US$ 5,62) US$ 4 bilhões / ano
Estimativa da participação do MDL (40%) US$ 1,6 bilhão / ano
Expect. part. do Brasil no MDL (25%) US$ 400 milhões / ano
Potencial do agronegócio no MDL brasileiro US$ 160 milhões / ano
Fonte: Mapa / Embrapa, apud Araujo, p. 28
Embora não tenha estimativa do quanto foi investido no país devido a projetos de
MDL, o MCT informa que há iniciativas em andamento com recursos dos seguintes países:
Reino Unido, Holanda, Japão e França (Salani [a], p. B8).
Mas, segundo Fabrício Brollo, da Finep, há intenção de desenvolver os projetos
internamente para que depois os brasileiros possam comercializar diretamente seus
créditos no exterior pois, segundo ele, “os investidores internacionais que financiam
esses programas amarram o investimento a esses créditos e os avaliam com deságio”
(Salani, 2007c, p. B8).
63
Capítulo 5 - Considerações finais
Após mais de dois séculos de Revolução Industrial, as emissões de gases
adicionais às que eram feitas antes do modo de produção industrial recrudesceram o
efeito estufa, causando o que se tem chamado de “aquecimento global”, com efeitos
perniciosos sobre todo o planeta. O problema entrou na pauta dos governantes de todo
o mundo, levando à criação de organismos multinacionais para estudar suas causas e
efeitos. A possibilidade de que a ação do homem tenha provocado um aumento médio da
temperatura da Terra maior do que o que seria natural é hoje dada como certa pela
comunidade científica internacional. Os efeitos desse aquecimento global já podem ser
sentidos e tendem a piorar, com o derretimento das geleiras do Ártico, mudança no
regime de chuvas, evaporação de parte da água doce disponível, entre outros problemas.
Tendo isso em vista, várias nações assinaram um documento em 1997, chamado
Protocolo de Kyoto, em que assumiam o compromisso de reduzir as emissões dos gases
de efeito estufa. Apesar de lançado naquele ano, foi somente em 2005, com a adesão da
Rússia, que ele entrou em vigor. Sob Kyoto, os países desenvolvidos se comprometeram a
reduzir em ao menos 5% as emissões dos GEEs em relação aos níveis de 1990, no
período entre 2008 e 2012. No último dado disponível, de 2004, é possível verificar que
grande parte daquelas nações não conseguiu ainda uma redução efetiva –pelo contrário,
até elevou suas emissões.
A criação de mecanismos de mercado para a redução de emissões de gases de
efeito estufa foi o diferencial que tornou o Protocolo de Kyoto mais factível. Ao permitir
que a redução de emissão seja feita em projetos em países em desenvolvimento, o
Protocolo barateou o custo para alcançar essas metas.
Esses mecanismos originaram a criação de um novo tipo de negócio mundial, a
comercialização de créditos de carbono.
64
Por sua grande extensão territorial e pioneirismo em estudos de maior eficiência
energética, o Brasil desponta com grande potencial de receber investimentos para
projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. No entanto, o fato de a matriz
elétrica do país ser calcada em hidroeletricidade, que não gera poluição, acaba por
obrigá- lo a procurar iniciativas de maior criatividade para conseguir aplicar as
metodologias do MDL. Isso porque, como foi constatado em consulta aos projetos
registrados existentes, a área de energia tem sido a que apresenta melhores resultados
de geração de créditos de carbono e redução de emissão de GEEs Essa é uma das
principais conclusões desse estudo, após a leitura dos relatórios atualizados e das
notícias sobre o mercado de carbono e de MDL.
Dados mais atualizados são colocados diariamente na internet. Por isso, e por ser
um tema relativamente novo, as notícias encontradas online formaram grande parte
desse trabalho. Inclusive porque a proposta era exatamente verificar quais as
possibilidades do Brasil no mercado criado com a adoção dos mecanismos de
flexibilização previstos no Protocolo de Kyoto.
Uma das principais limitações da pesquisa foi exatamente o fato de os dados
serem atualizados com grande velocidade. O período em que o trabalho foi realizado
coincidiu com os meses que antecedem a entrada do Protocolo de Kyoto em vigor de
fato, que é 2008. Por isso, projetos estavam sendo registrados quase que diariamente na
UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change- , organismo da ONU
que coordena e monitora os projetos de redução de emissão de GEEs.
Outro fator que limitou a análise do potencial do Brasil foi que as principais
Bolsas internacionais de carbono não dispunham de informações precisas acerca da
participação de créditos de carbono brasileiros em suas transações. E, ainda, o
Ministério da Ciência e Tecnologia, que centraliza os dados sobre os projetos de MDL no
país, não soube precisar quanto em investimento estrangeiro o país já recebeu no
âmbito desse novo mercado.
Um fato a ser destacado é que o pioneirismo leva o Brasil a ser muito procurado
agora por interessados na tecnologia do etanol. Ao longo do período em que a pesquisa
foi conduzida, dirigentes de outras nações visitaram o país em busca de mais
65
informações sobre o tema. O rol de visitantes incluiu até o presidente dos EUA, George
W. Bush.
Mas essa vantagem comparativa e competitiva do Brasil não poderá ser incluída
também no âmbito do Protocolo de Kyoto, ao menos com as regras atuais, porque a
adição de álcool à gasolina faz parte de uma portaria governamental, o que impede que
a iniciativa seja considerada como redução de emissão para fins de cumprimento de
metas, que devem ser alcançadas com projetos voluntários, sem uma obrigatoriedade
legal.
Indica- se como objeto para estudos futuros: a participação de empresas
brasileiras em mercados mundiais de carbono; investimento feito e prospectado no
Brasil no âmbito do MDL; as áreas brasileiras em que o MDL pode render mais créditos
de carbono; arcabouço legal da implementação de projetos ligados à redução de emissão
de gases de efeito estufa.
66
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