fabiano santos - primavera brasileira ou outono democrático

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INTELIGÊNCIA INSIGHT 32 32 AUTUMN LEAVES

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  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    3232 aUTUMN lEavES

  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    33julhoagostosetembro 2013

    primAverA brAsileirA oU oUTono

    DemocrTico?

    aafirmao, muitas vezes

    repetida, de se encontra-

    rem hoje as instituies

    da democracia represen-

    tativa em uma situao de

    descrdito at certo ponto irnica.

    Tento me lembrar de um momento

    desde que leio jornais e acompanho a

    poltica no qual Congresso e partidos

    estivessem em situao de crdito.

    Uma reflexo mais cuidadosa me

    leva a crer que devemos distinguir

    dois planos de anlise em torno de

    escndalos envolvendo as institui-

    es representativas, isto , os epi-

    sdios responsveis por esse difuso

    sentimento de niilismo poltico. Um

    fAbiAno sAnTos

    deles seria o terreno propriamente

    poltico. Atores polticos, represen-

    tantes e partidos, so portadores de

    vises de mundo e defensores de in-

    teresses conflitantes. Em torno de

    tais ideias e interesses tambm se en-

    contram organizados os cidados, de

    uma forma geral, alm de formadores

    de opinio, analistas de imprensa,

    acadmicos e a mdia.

    Trata-se de propenso natural a

    ns seres humanos, falveis que so-

    mos, imputar m-f queles que se

    orientam por valores e aspiraes

    em conflito com nossos ideais e nos-

    sas expectativas. Por isso, a poltica

    envolve tanta paixo. Por isso, tam-

    bm a democracia uma engenharia

    institucional to delicada, sendo seu

    desafio mais fundamental moderar o

    exerccio do contraditrio na poltica

    e, ao mesmo tempo, definir a orien-

    tao majoritria a ser dada para as

    decises de governo.

    Mas para alm do imaginrio das

    paixes, e aqui entra nosso segundo e

    principal plano de anlise, o histrico

    recente de escndalos congressuais

    possui um substrato real, trata-se de

    fato inegvel. A questo passa a ser

    como enquadr-lo e como evitar o

    perigoso efeito de despolitizao que

    uma sistemtica onda de escnda-

    los pode causar.

    cienTisTA polTico

  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    34

    oS enSaioS de aproximao

    daS ruaS com o faSciSmo acabaram

    aSSuStando baStante

    A caracterizao do sistema po-

    ltico como basicamente corrupto,

    na verdade, encontra-se h muito

    presente e at certo ponto dispersa

    na conversa do dia a dia do cidado

    comum brasileiro, caracterizao

    sempre feita em meio a consideraes

    sobre a complexidade do fenmeno

    poltico e sempre em meio a frmu-

    las mgicas de saneamento e soluo.

    Contudo, por ocasio do julgamento

    do assim chamado Mensalo, em

    meados de 2012, ministros do Supre-

    mo Tribunal Federal, instncia m-

    xima do Poder Judicirio brasileiro,

    vocalizam aquilo que era apenas juzo

    mal formulado e genrico do nosso

    common man sobre o funcionamento

    das instituies.

    As falas e narrativas sobre a po-

    ltica brasileira emanadas de alguns

    ministros quando do julgamento

    do processo 347, o assim chamado

    Mensalo, so, de fato, assustado-

    ras. Aqui no se trata exatamente de

    opinar sobre o contedo das decises

    judiciais, de resto adequadamente

    comentado pelo recm-empossado

    ministro da Corte, o jurista Luiz Ro-

    berto Barroso, como um ponto fora

    da curva, tendo em vista a tradio

    garantista do STF, a escassez de

    provas para comprovar a culpabili-

    dade de vrios dos rus e a utilizao

    no criteriosa da teoria do domnio

    do fato como embasamento das sen-

    tenas. O que de mais grave ficou foi

    o modo degradante e distorcido por

    meio do qual as instituies partid-

    rias foram tratadas em diversos mo-

    mentos do processo. A cobertura, em

    tempo real, transmitida para milhes

    de espectadores no apenas corrobo-

    rou diagnstico estilizado e distorci-

    do que segmentos da elite brasileira

    tm promovido sobre as instituies

    de nossa democracia. Conferiu res-

    peitabilidade e despudor s vises

    segundo as quais os polticos eleitos

    seriam criminosos, quadrilheiros,

    membros de organizaes mafiosas

    dotadas do nico intuito de assal-

    tar os cofres pblicos e o bolso dos

    contribuintes. No surpreende que

    pouco tempo depois milhares de ma-

    nifestantes tenham sado s ruas em

    protestos cuja escala e diversidade de

    pautas ningum nunca havia visto em

    solo ptrio.

    E as manifestaes de junho de

    2013 marcaro para sempre a consci-

    ncia cvica e socializao poltica dos

    brasileiros. Os manifestantes foram

    s ruas para protestar, inicialmen-

    te em So Paulo, contra o aumento

    no preo das passagens de nibus. A

    inabilidade das autoridades locais no

    trato da questo, sobretudo pela su-

    bestimao do potencial de conflito

    que lhe era inerente, alm da violn-

    cia policial com a qual foram tratados

    estudantes e jornalistas que cobriam

    os primeiros eventos, tornaram algo

    que tudo tinha de tpico e passagei-

    ro em fenmeno poltico de grandes

    propores. A sequncia dos aconte-

    cimentos tem sido repetida exaus-

    to: estudantes e ativistas, por meio

    dessa nova tecnologia de mobilizao

    da ao coletiva, chamada de redes

    sociais, passaram a conclamar segui-

    dores para protestar contra, alm do

    reajuste no custo do transporte, a tru-

    culncia do aparato repressivo pau-

    lista, sem deixar de sugerir, ao mes-

    mo tempo, eventual incorporao de

    novas bandeiras nas manifestaes.

    Os seguidores atingidos passaram a

    estimular mais amigos, os quais,

    por sua vez, agregavam novas pautas

    e justificativas para a expresso de

    inconformismo e revolta. A grande

    imprensa, aturdida, de incio denun-

    aUTUMN lEavES

  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    35julhoagostosetembro 2013

    ciou aquilo que lhe pareceu obra dos

    jovens revolucionrios de sempre,

    acrescidos de um sem-nmero de re-

    beldes sem causa. Em pouco tempo,

    muda o discurso e passa a cobrir os

    protestos como rito de passagem cvi-

    co quase que obrigatrio.

    No foi surpreendente a incluso

    do tema da corrupo na pauta dos

    protestos. Em algum momento have-

    ria de aparecer, sobretudo pelo fato

    de o pas estar sediando a Copa das

    Confederaes, evento organizado

    pela FIFA, alvo de investigaes de

    suborno a envolver at ento respei-

    tveis homens pblicos brasileiros.

    Inusitada acabou sendo a coalizo

    social formada de maneira, por assim

    dizer, espontnea, nas ruas. Uma

    coalizo a congregar militantes do

    Movimento pelo Passe Livre (MPL);

    jovens e no to jovens radicais de

    esquerda, filiados a partidos como

    PSOL e PSTU; ativistas de causas so-

    ciais as mais diversas (ndios, GLS,

    Negros, etc.); segmentos das classes

    alta e mdia alta e da nova classe m-

    dia; rfos de alternativas partidrias

    consistentes direita do espectro po-

    ltico; anarquistas e ativistas conecta-

    dos a movimentos internacionais de

    protesto; alm de neonazistas e fas-

    cistas assumidos, adeptos da violn-

    cia e da intolerncia como meios le-

    gtimos de manifestao e expresso

    de preferncias e valores. Desprovi-

    dos de uma reivindicao especfica,

    como nos episdios das Diretas J

    ou do impeachment do presidente

    Fernando Collor, encontravam-se

    todos ligados numa mesma emoo:

    participar, protestar, se expressar,

    eventualmente de forma violenta, gri-

    tar palavras de ordem, portar cartazes

    e vestir mscaras; enfim, sentir a eu-

    foria de fazer parte de um movimento

    de massas de indita proporo.

    A estratgia dos ativistas iniciais,

    conjunto formado pelo MPL, mem-

    bros dos partidos da esquerda radical

    e ativistas profissionais, conectados

    aos movimentos de protesto interna-

    cionais, acabou sendo extremamente

    bem-sucedida. O timing da Copa das

    Confederaes garantiu cobertura

    ampla da imprensa nacional e inter-

    nacional aos eventos. Obra de gnio

    poltico, por certo, foi a associao,

    como se houvesse um trade-off, entre

    os gastos realizados para a renovao

    dos estdios e da infraestrutura mni-

    ma necessria viabilizao dos jogos

    e a secular dificuldade no fornecimen-

    to de servios pblicos de qualidade

    em reas vitais como educao e sa-

    de. Ativar o tema da corrupo como

    tela de fundo acabou por completar o

    servio. Simples, primrio e eficaz.

    Mas se a ativao do tema da

    corrupo no foi surpreendente, os

    ensaios de aproximao das ruas com

    o fascismo, sim, acabaram assustan-

    do bastante, e no apenas os espec-

    tadores das manifestaes, aqueles

    que acabaram optando por no mu-

    dar o Brasil mediante a imposio de

    transtornos na vida alheia (em tom ao

    mesmo tempo autocrtico e triunfalis-

    ta, um dos cartazes mais interessan-

    tes dos protestos dizia, Desculpem o

    transtorno, estamos mudando o Bra-

    sil...). Boa parte dos manifestantes,

    principalmente aqueles vinculados a

    partidos polticos, em geral de orien-

    tao esquerdista, sofreram duro re-

    vs ao se perceberem lado a lado com

    cartazes a expor dizeres do tipo Di-

    tadura J, Vocs no me Represen-

    tam e assemelhados. No dia 20 de

    junho, uma quinta-feira, militantes

    de partidos polticos e sindicatos ten-

    taram participar de manifestaes.

    Tiveram suas bandeiras e cartazes

    destrudos, alm de terem sido fisica-

    mente agredidos.

    notem que quela altura,

    vrios governos estaduais

    e prefeituras, incluindo-se

    os de So Paulo, nasce-

    douro da crise, j haviam

    decidido cancelar os aumentos nas

    tarifas de nibus. Por bvio, o fen-

    meno extrapolava em muito a inten-

    o inicial dos manifestantes. Perce-

    bido o problema pelo ncleo inicial

    de manifestantes, tratar-se-ia agora

    de uma questo de disputar o signi-

    ficado das ruas. A palavra de ordem

    dos entusiastas das manifestaes

    tornou-se ento no permitir que os

    fascistas dominassem a cena, no

    permitir que a direita poltica preva-

    lecesse na traduo do sentimento di-

    fuso de insatisfao e inconformismo

    e canalizao da nova energia societal

    brasileira. Tarde demais; o estrago j

    estava feito. A equao fascista, antes

    apenas recndita nas mentes de seg-

    mentos da elite, leitores de dirios

    cariocas e paulistas, agora clara e

    despudoradamente verbalizada em

    nossa common parlance.

  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    36

    A equao fascista brasileira

    muito simples, to simples e primria

    quanto dizer que educao e sade

    no Brasil vo mal porque o governo

    gastou muito nas obras dos estdios

    onde sero realizadas as partidas da

    Copa do Mundo de 2014. Segundo o

    argumento, o problema brasileiro

    poltico, ou melhor, a poltica ou

    so os polticos. No Brasil, os diri-

    gentes eleitos, os partidos, candida-

    tos, governantes, responsveis pela

    chefia dos Poderes Executivos nos

    mbitos municipal, estadual e fede-

    ral, seriam todos corruptos. Evidente-

    mente, mais grave seria a situao do

    Congresso Nacional, das Assembleias

    Legislativas e das Cmaras Munici-

    pais. Tratar-se-iam de verdadeiras

    quadrilhas organizadas para assaltar

    os cofres pblicos.

    As instituies formais de con-

    trole, sobretudo o Poder Judicirio

    e o Ministrio Pblico, embora em

    geral compostos por homens prepa-

    rados e de bem, encontrar-se-iam

    desprovidos dos instrumentos neces-

    srios para evitar a permanente prti-

    ca de crimes contra o errio e a boa-f

    do cidado comum. Mecanismo cls-

    sico da democracia e de regulao da

    conduta dos agentes pblicos, o voto,

    em terra brasileira, nada mais seria

    do que fator determinante a ensejar

    um cenrio de decadncia e degrada-

    o institucional. Dado que a esma-

    gadora maioria da populao pobre

    e ignorante, beneficiria de rendas e

    servios transferidos pelo governo,

    pela mquina pblica, corrupta em

    sua origem, o eleitor, na verdade, se-

    ria, em ltima instncia, cmplice da

    engrenagem. Na equao fascista, em

    outras palavras, o voto popular en-

    contrar-se-ia na raiz mesma do nosso

    problema poltico.

    No fundo, e os idos dos anos 1960

    do sculo passado no me deixam

    mentir, direita e esquerda radicais

    sempre cultivaram enorme pessi-

    mismo com relao ao instrumento

    voto e sua massificao como me-

    canismos centrais de formao e con-

    trole dos governantes. E basicamente

    pelo mesmo motivo: descrena na ca-

    pacidade dos pobres em promover a

    boa escolha no momento da deciso.

    A primeira, por se considerar, por

    uma questo de nascimento, classe

    superior e, em alguns casos mais gra-

    ves, cor superior; a segunda, essen-

    cialmente pela iluminao adquirida

    por meio do doutrinamento. Ambas,

    quando na direo do processo hist-

    rico, levam ao desastre social, econ-

    mico e poltico das naes.

    A resposta do governo onda de

    protestos consistiu basicamente na

    apresentao de cinco pactos ao

    pas, ao quais versam sobre responsa-

    bilidade fiscal, reforma poltica, mo-

    bilidade urbana, sade e educao.

    De certa maneira, sem o desejar, o

    assessoramento poltico presidencial

    acabou por endossar a viso pouco

    lisonjeira sobre nossas instituies

    representativas, cultivada tanto na

    common parlance quanto nas cortes

    do Supremo. Falemos inicialmen-

    te dos pactos. Em verdade, apenas

    o tema da mobilidade urbana surge

    como novidade no cenrio de polticas

    em torno das quais o estado brasilei-

    ro instado a criar alternativas con-

    sensuais e consistentes. Todo o resto

    faz parte de um conjunto de pontos,

    em alguma medida, j pactuados pela

    sociedade. A lei de responsabilidade

    fiscal foi aprovada e tem sido a nco-

    ra institucional do consenso em torno

    da necessidade de se governar tendo

    o equilbrio nas contas pblicas como

    parmetro bsico de comportamento

    do agente pblico.

    oSUS, assim como os dife-

    rentes fundos de financia-

    mento dos ensinos bsico

    e mdio, expressa o desejo

    coletivo de avanar no que

    tange ao acesso de todos os brasilei-

    ros aos direitos fundamentais sa-

    de e educao. Avanar mais nesses

    itens uma questo de se governar

    bem. No sendo boa a avaliao do

    governo em reas consideradas vitais,

    reza o processo democrtico consa-

    grado em nossa Carta Constitucional

    de 1988, alternativas polticas so

    apresentadas e o eleitor opta por no

    reconduzir ao governo o partido ou

    coalizo de partidos responsvel pela

    administrao do pas.

    A reforma poltica, por seu turno,

    e aqui entramos mais diretamente

    no ponto de nossa seo, tambm

    em boa medida objeto de um pacto.

    O pacto de no promov-la de forma

    aodada. Sim, no mexer nas institui-

    es, a no ser de modo prudencial

    e por tentativa e erro, tem sido a so-

    luo de equilbrio dada a intensida-

    de do conflito em torno da questo,

    aUTUMN lEavES

  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    37julhoagostosetembro 2013

    tratar-Se-iam de verdadeiraS

    quadrilhaS organizadaS

    para aSSaltar oS cofreS pblicoS

    alm, sobretudo, da enorme incerteza

    proveniente de eventuais mudanas

    nas regras que regem nosso processo

    eleitoral. Vejam bem: tal equilbrio

    no advm do receio de parlamenta-

    res de mudarem as regras pelas quais

    se elegeram e das quais, portanto,

    supostamente se beneficiaram. O ra-

    ciocnio to simples e claro quanto

    falso. As taxas de renovao parla-

    mentar no Brasil so relativamente

    altas, donde decorre que nenhum po-

    ltico se sente seguro em sua cadeira

    de congressista. O problema de mu-

    dar outro e mais profundo.

    Em primeiro lugar, os parlamen-

    tares sabem que nenhuma reforma

    ser capaz de preencher a expectativa

    existente em torno do tema. No exis-

    te exemplo de reforma do sistema elei-

    toral que tenha reduzido taxas de cor-

    rupo no interior do sistema poltico.

    Assim, eleva-se o risco de no mdio

    prazo, e no suposto da aprovao de

    uma reforma qualquer, aprofundar-se

    o descrdito popular nas instituies

    democrticas e confirmar ainda mais

    na mente de segmentos das elites o

    acerto da opo protofascista. Em

    segundo lugar, e talvez mais impor-

    tante no horizonte de clculo dos po-

    lticos, qualquer mudana de sistema

    produzir efeitos incertos sobre suas

    condies de sobrevivncia eleitoral.

    Sabe-se que mudanas de regimes

    majoritrios para regimes proporcio-

    nais tendem a aumentar o pluralismo

    de partidos e, inversamente, a adoo

    de mecanismos majoritrios acabam

    por reduzir a competitividade entre as

    agremiaes. Todavia, os parlamenta-

    res, tomados individualmente, princi-

    palmente os do chamado baixo clero,

    no conhecem ex ante se suas chances

    de vitria aumentam ou diminuem na

    transio de um sistema para outro,

    dado que estas dependem de diversos

    outros fatores associados mudana e

    que se encontram fora de seu controle

    imediato.

    No deve surpreender, portanto,

    a resistncia encontrada pelo gover-

    no ideia de submeter a plebiscito

    decises que dizem respeito ao dese-

    nho do sistema eleitoral. importan-

    te chamar a ateno para a falha no

    assessoramento poltico presidencial

    nesse episdio em particular e no

    apenas pelo erro elementar de clculo

    de timing e probabilidade de absor-

    o pelo Congresso Nacional de ideia

    to estapafrdia. tambm relevan-

    te notar que no poderia existir alvo

    mais equivocado para tratar de uma

    crise que se diz de representatividade.

    Se algo na poltica brasileira

    existe de representativo, esse algo

    consiste na combinao de eleies

    presidenciais diretas e mtodo pro-

    porcional para alocao de cadeiras

    na Cmara dos Deputados. exa-

    tamente essa combinao que tem

    permitido algum avano na cidadania

    desde o retorno democracia com

    a Constituinte de 1987. Por bvio,

    aperfeioamentos podem ser obtidos

    na questo do financiamento de cam-

    panhas e em alguns pontos tcnicos

    ligados possibilidade de coligaes

    e mecanismos de distribuio de so-

    bras eleitorais. Todos esses itens j

    so objeto de debate e deliberao na

    Cmara e, no seu devido tempo, de-

    vem amadurecer e chegar ao plenrio

    de maneira consensual. O resulta-

    do lquido, contudo, de se enviar ao

    Congresso e anunciar Nao sobre a

    convocao de uma consulta em torno

    das instituies representativas cor-

    roborar a viso segundo a qual a crise

    que se manifesta nas ruas tem origem

    no sistema de representao, quando

    na verdade o que se v encontra-se

    claramente relacionado dimenso

    participativa da democracia.

  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    38

    O autor professor do Instituto de Estudos Sociais e Polticos (IESP) da UERJ.

    [email protected]

    Nada mais legtimo numa demo-

    cracia do que a existncia de protes-

    tos e manifestaes de desagrado. O

    problema colocado no Brasil na atual

    conjuntura o de sua intensidade,

    magnitude e reiterao, a ponto de

    se colocar sob-risco valores democr-

    ticos importantes, como da tolern-

    cia, da no violncia e das liberdades

    mtuas. Trata-se, portanto, de uma

    questo de se repensarem os canais

    de interlocuo entre setores, que por

    algum motivo no se sentem repre-

    sentados em suas preocupaes b-

    sicas pela coalizo predominante no

    governo, e as entidades do estado res-

    ponsveis pela elaborao e efetivi-

    dade de polticas pblicas fundamen-

    tais. Mais criatividade e imaginao

    institucional no mbito participati-

    vo e menos chavo institucionalista

    no mbito representativo deve ser o

    mote da resposta poltica do governo

    crise. Uma resposta cujo ponto de

    partida esteja assentado na defesa da

    solidez de nossas instituies repre-

    sentativas e democrticas.

    uma leitura atenta da estra-

    tgia poltica de parte da

    esquerda brasileira tende-

    r a mostrar que se vive a

    iluso de que o Brasil pode

    estar passando por um momento bo-

    livariano. Em pases como Bolvia,

    Venezuela e Equador, referendos,

    plebiscitos e novas constituies tm

    sido utilizados como instrumento

    de resoluo de impasses polticos

    entre uma nova elite que se forma a

    partir da incluso de grupos secular-

    mente excludos do processo social e

    tradicionais proprietrios dos recur-

    sos econmicos e de poder. Talvez

    seja essa a origem da nfase dada ao

    plebiscito e convocao de Assem-

    bleias Constituintes Exclusivas como

    meio de encaminhar a soluo para a

    onde de protestos. Ora, o rico expe-

    rimentalismo institucional vivencia-

    do por esses pases radica em causas

    histricas muito concretas, relacio-

    nadas, sobretudo, a economias muito

    pouco sofisticadas e concentradas, a

    um tecido social relativamente pouco

    complexo e a um sistema partidrio

    at pouco tempo baseado num pacto

    de elites que exclua o tema da redis-

    tribuio dos horizontes de preocupa-

    o do Estado. No devemos perder

    tempo insistindo no abismo existente

    entre a trajetria do capitalismo bra-

    sileiro e a evoluo econmica e social

    dessas naes.

    O que vale a pena sim comentar

    o fato simples de ter sido o voto po-

    pular a origem das transformaes

    sociais, econmicas e polticas pelas

    quais passam as diversas das naes

    mais pobres de nosso continente.

    Foi a partir da eleio de presiden-

    tes e parlamentares comprometi-

    dos claramente com uma agenda

    de incluso e redistribuio que a

    poltica na Bolvia, Equador e Vene-

    zuela tem passado por tantas e to

    admirveis modificaes. Reformar

    a Carta Constitucional, conferindo-

    -lhe um perfil mais inclusivo, tem

    sido o encaminhamento possvel

    para se avanar nesse desiderato. No

    caso brasileiro, alternncia de poder

    e eleio de presidentes com perfis

    distintos das elites tradicionalmen-

    te dominantes j uma realidade.

    Alm disso, a Constituio de 1988

    j manifesta um contrato social cla-

    ramente voltado para a incluso. Em

    acrscimo, diversas modificaes na

    legislao infraconstitucional foram

    introduzidas e continuam a s-lo,

    tendo em vista aprimorar os instru-

    mentos com os quais o governo con-

    ta para tratar do tema da educao,

    sade e assistncia social.

    At no mbito participativo, a

    atual Carta Constitucional extre-

    mamente inovadora e flexvel no

    sentido da capacidade de absorver

    novos contedos, novas pautas e no-

    vos conflitos sociais a exigir alguma

    forma de acomodao no mbito da

    agenda pblica. A trajetria brasilei-

    ra, em suma, inteiramente diversa

    daquela que se observa em vizinhos

    no continente sul-americano, sobre-

    tudo, dos pases andinos. Sendo dis-

    tinta a trajetria, diferente h de ser

    a agenda necessria para se avanar

    nos valores fundamentais de quem

    nasceu para a vida em um estado

    ditatorial e numa sociedade profun-

    damente injusta. O pacto inicial deve

    ser o de manter e fortalecer aquilo

    que tem servido de mola propulsora

    do contnuo processo de redistribui-

    o: as instituies representativas

    democrticas consagradas na Cons-

    tituio de 1988.

    aUTUMN lEavES

  • INTELIGNCIAI N S I G H T

    39julhoagostosetembro 2013

  • A presente Instituio aderiu ao Cdigo ANBIMA de Regulao e Melhores Prticas para a Atividade de Private Banking no Mercado Domstico.

    Equipe altamente especializada Solues financeiras estruturadas Gesto de riscos eficiente Mxima qualidade em produtos e servios

    Rio de Janeiro visto da Ilha das Cobras (Newton Smith Fielding, sculo XIX)

    na gesto de patrimnio

    TRADIO E EFICCIA

    Vista da Baa de Todos os Santos (Joseph Leon Righini, sculo XIX)

    Vista geral da cidade de So Paulo (Debret, sculo XIX)

    Rio de JaneiroTel: +55 (21) [email protected]

    So PauloTel: +55 (11) [email protected]

    www.bancobbm.com.br

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