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FABIANO LUIS BUENO LOPES MULHERES GUERREIRAS: O SERVIÇO MILITAR FEMININO NAS FORÇAS ARMADAS ISRAELENSES Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de História, Departa- mento de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Profº Drº Dennison de Oliveira CURITIBA 2003

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FABIANO LUIS BUENO LOPES

MULHERES GUERREIRAS: O SERVIÇO MILITAR FEMININO NAS FORÇAS ARMADAS ISRAELENSES

Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de História, Departa-mento de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Profº Drº Dennison de Oliveira

CURITIBA

2003

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................3

1.1 AS MULHERES EM FORÇAS ARMADAS: O CASO ISRAELENSE .....................9

1.2 NOTAS SOBRE ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS................................12

1.3 ANÁLISE DA PRODUÇÃO E DO USO DE IMAGENS FOTOGRÁFICAS............15

2 PERÍODO PRÉ-ESTATAL.........................................................................................18

3 O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE PÓS-ESTATAL.........................................24

4 ATUAÇÃO FEMININA NO EXÉRCITO DE ISRAEL ATUALMENTE..............30

5 CONCLUSÃO................................................................................................................37

LISTA DAS IMAGENS.....................................................................................................39

REFERÊNCIAS ................................................................................................................41

ANEXOS ........................................................................................................................... 45

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1 INTRODUÇÃO O exército representa o símbolo supremo do dever e enquanto as mulheres não forem semelhantes aos homens no cumprimento desta obrigação, elas ainda não terão atingido a real igualdade. Se as filhas de Israel são ausentes do exército, então o caráter do Yishuv* será distorcido.1 (David Ben Gurion)2

Israel é o único país do mundo que mantém o serviço militar compulsório para homens e

mulheres.3 A declaração da epígrafe acima pressupõe a idéia de uma relação direta entre serviço

militar feminino e igualdade entre sexos no cumprimento de um dever cívico nacional. A partir

daí, pode-se inferir a respeito desta peculiaridade presente no exército israelense, à qual

buscaremos compreender. Ao que tudo indica, o Estado de Israel parece ter quebrado um tabu ao

inserir a participação efetiva da mulher em suas forças armadas. A época da criação do Estado -

década de 40, pós-guerra mundial - representou um momento em que o mundo questionava a

respeito de diversos assuntos políticos e militares. Analisaremos nossas fontes procurando

respostas para algumas questões: Por ser obrigatório, como é encarado o serviço militar

feminino? Como o país usa a imagem militar feminina em uma suposta propaganda? Quais os

objetivos desta suposta propaganda ideológica? Existe alguma intenção propagandística neste

sentido que vise atingir o âmbito internacional? Qual a influência interna da atuação feminina, no

que diz respeito à atuação dos soldados masculinos? Quais as experiências vividas pelas mulheres

no cotidiano das guerras ou conflitos armados? Enfim, qual o acréscimo real desses contingentes

no sistema de segurança do país?

A constante situação de hostilidades e de enfrentamentos militares do Oriente Médio,

conhecida como conflito árabe-israelense, tem sido uma das mais longas e complicadas guerras

da História Contemporânea. Diversos motivos e interesses estão envolvidos. Apesar de se tratar

de um conflito em que se generalizaram as lutas entre israelenses e árabes de outros países, um

* Yishuv é uma palavra hebraica que designa a unidade do povo judeu na Palestina no período que

antecedeu a constituição do Estado de Israel 1 GURION, D. B. Epígrafe. In: ISRAEL. IDF Spokesman’s Unit. Information Branch. Chen: the Women´s

Corps. Tel Aviv, 1998. Tradução do autor. 2 David Ben Gurion proclamou o Estado de Israel em 14 de maio de 1948. Tornou-se um grande arquiteto

do Estado de Israel, conduzindo-o por vários anos. Para ver mais, TEVETH, Shabtai. Ben Gurion: the burning ground, 1886-1948. Boston: Houghton Miflin, 1987.

3 ISRAEL. IDF Spokesperson’s Unit Information Branch, Ministry of Defense Publishing House. The Israel Defense Forces: Looking to the Future. [S. l.], 1998.

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dos maiores problemas ocorre devido à questão dos refugiados palestinos4. Além disso, há

envolvimento de outros países árabes da região5, bem como inúmeros interesses internacionais.

Desde as primeiras décadas do século XX a região da Palestina presencia confrontos entre

árabes e judeus recém-imigrados, alguns destes vindos em fuga de perseguições que ocorriam em

diversos lugares na Europa. Houve levantes árabes contra esses deslocamentos, como por

exemplo, os ocorridos na década de 1920, mais especificamente um ocorrido em 1929, na cidade

de Hebrom, em que cerca de setenta judeus são mortos; e em 1936, quando uma nova onda de

hostilidades promovida pelos árabes expulsa os judeus remanescentes da cidade. A este respeito

Abba EBAN6, diplomata e historiador judeu, percebendo a questão de um ponto de vista parcial,

afirma que o período entre guerras representou praticamente o início da organização de uma força

militar formada por judeus que, segundo ele, o objetivo era a defesa de distúrbios a que eram

submetidos. Porém, segundo HOURANI - que apreende a questão de outro ponto de vista,

tendencialmente árabe, o início desses deslocamentos e das conseguintes organizações foi algo

dramático para os habitantes da região - na ocasião, os palestinos7.

Após a Primeira Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas concede à Inglaterra

o mandato da região da Palestina. Esta, em meio aos inúmeros problemas, vê-se muitas vezes

incapaz - ou desinteressada - na realização da contenção das hostilidades entre as partes

conflitantes na região. É nesta primeira metade do século XX que vão surgir as primeiras

organizações militares. Começa a haver por parte dos judeus uma preocupação com a segurança

dos colonos instalados em diversas fazendas comunitárias, conhecidas como kibutz. Em EBAN,

vemos a menção do surgimento, aproximadamente em 1907, de uma organização de defesa

4 Específico sobre o conflito israelo-palestino ver: DUPAS, G.; VIGEVANI, T. Israel-Palestina: a

construção da paz vista de uma perspectiva global. São Paulo: UNESP, 2002. 5 ISRAEL. Centro de Informação de Israel. O conflito árabe-israelense em mapas. Jerusalém: Ahva, 1992.

p. 5. Mostra a região do Oriente Médio e a posição estratégica de Israel (com acesso ao Mar Mediterrâneo e à região de acesso ao Sudoeste da África e países do Extremo Oriente), cercada por diversos países árabes.

6 EBAN, A. A Palestina no período de entreguerras. In: _____. A história do povo de Israel. Tradução Alexandre Lissovsky. Rio de Janeiro, Bloch, 1971. p. 307-328. Logo após a constituição do Estado de Israel, Abba Eban é chamado para atuar como Ministro das Relações Exteriores do país. Busca através da obra citada, justificar historicamente a existência da nação, que segundo ele, esteve presente nos sentimentos dos judeus espalhados pelo mundo, nos períodos anteriores à fixação territorial.

7 A respeito das conseqüências das imigrações judaicas para as populações árabes da região: HOURANI, A . Uma história dos povos árabes. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Cia das Letras,1994. p. 362-5, 367, 387. Albert Hourani nasceu na Inglaterra, descendente de libaneses. Dedica-se a estudar os problemas do Oriente Médio, tornando-se professor em Oxford, Chigago e Beirute. È autor de diversos livros sobre os conflitos do Oriente Médio e sobre as temáticas islâmicas e árabes.

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chamada Bar Guiora, depois chamada de Ha Shomer. O Haganah 8 surgiria em 1920, servindo

como um grupo de resistência às hostilidades ocorridas até 1939. Mais tarde, com a constituição

do Estado, tornar-se-á o Tzavá Haganah Le’Israel, as Forças de Defesa de Israel. Surgem

também organizações paralelas: A IRGUN Zwai Leumi - Organização Militar Nacional, e o

Grupo Stern, também conhecido como LEHI: Lohamei Herut Israel, ou seja, Guerreiros pela

Liberdade de Israel, este também um grupo que se intitulava nacionalista.9 Ambas as

organizações vão ter um aspecto que pode ser entendido como extremista, devido às ações e

posturas de seus efetivos, praticantes de ataques terroristas ou de extrema violência na tentativa

de atingir seus objetivos. Por outro lado, o Haganah, ligado à Agência Judaica, fundada também

em 1920, irá primar - pelo menos na maioria das vezes - pelos caminhos das negociações.

Durante e logo após a Segunda Guerra Mundial, houve intenso aumento das imigrações

judaicas e um significativo fortalecimento da idéia, entre judeus de diversas partes do mundo, de

um Lar Nacional Judaico. Tal idealização é proveniente da doutrina do Sionismo10. Este, tratou

de um movimento judaico que visava, desde o século XIX, a criação de um Estado de Israel

independente, pois os judeus encontravam-se dispersos pelo mundo desde que haviam sido

expulsos da Terra Santa, nos primeiro século da era cristã. A intenção era o retorno dos judeus

para a região da Palestina, promovendo a imigração. O Sionismo político surge em resposta às

perseguições aos judeus na Europa Oriental e como uma espécie de movimento de libertação

nacional em busca de independência política.11 Em 1897 encontra expressão estrutural com o

surgimento da Organização Sionista, no primeiro Congresso Sionista convocado por Theodor

8 Haganah – Palavra hebraica que significa Defesa. 9 IRGUN Zwai Leumi, LEHI: Lohamei Herut Israel. In: Wikipedia. Disponível em:

<http://www.wikipedia.org> Acesso em: 29 out. 2002. Enciclopédia eletrônica.Traduzidas pelo autor. 10 Palavra derivada de Sion, sinônimo, segundo a tradição, de Jerusalém, cidade fundada no Monte Sião.

Ver mais em HIRSH, E. Realidades de Israel. Trad.: Judite Orensztajn. Jerusalém: Centro de Informação de Israel: Ahva, 1999. p. 23; e em ISRAEL. Centro de Informação de Israel. O que é o sionismo. Jerusalém: Old City, 1985. Ambos trazendo a definição e explicações por parte de israelenses para o conceito e numa tentativa de justificar as ações do Sionismo.

11 Sobre o surgimento do Sionismo e sobre sua trajetória até chegar a se tornar uma questão nacional estão expostas no trabalho de PINSKI, J. Origens do nacionalismo judaico. São Paulo: Ática, 1997. p. 143. Segundo o autor, o sionismo é: “um movimento nacional, cunhado na Europa Ocidental por judeus emancipados, para responder a uma problemática da sociedade capitalista explicitada pelos judeus do Império Russo.”

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Herzl, na Suíça. HERZL é o autor de O Estado Judeu, livro no qual traça os objetivos e ideais da

nova nação, relatando inclusive a respeito de como deveria ser o exército12.

No dia 14 de maio de 1948, foi oficialmente proclamada – por David Ben Gurion – a

criação do Estado de Israel, após ter sido aprovada na Organização das Nações Unidas, no mês de

novembro do ano anterior, a partilha da Palestina. Termina assim, oficialmente, o Mandato

Britânico na região da Palestina. No dia seguinte à proclamação, exércitos árabes locais, em

ações conjuntas com exércitos regulares de países árabes vizinhos, invadem a Palestina atacando

Israel e dando início a um conflito armado que foi denominado posteriormente de Guerra da

Independência.13 O Estado surge, dentre outros fatores, da necessidade de estabelecimento dos

judeus perseguidos pelo Nazismo durante a Segunda Guerra Mundial num episódio em que

ocorreram mortes em massa de indivíduos. Este episódio ficou posteriormente – na década de 70

– conhecido como Holocausto14. Acredita-se que aproximadamente 6 milhões de judeus tenham

sido assassinados.

Por outro lado, vemos o problema que as imigrações judaicas causaram para as

comunidades árabes palestinas. Havia também uma consciência nacional palestina calcada numa

espécie de pan-arabismo. “Fato é que, tanto no caso sionista quanto no palestino, a essência da

comunidade foi vinculada à posse exclusiva de determinado território.”15 Intensifica-se, desde a

Declaração de Independência, um verdadeiro estado de guerra, pois Israel precisa lutar, com os

poucos homens (e mulheres) e armas que possui, para manter a existência de seu Estado. As

12 HERZL, T. O Exército. In: _____. O Estado Judeu. Edição comemorativa ao 49o. aniversário do estado

de Israel. São Paulo: Consulado geral de Israel em São Paulo, 1997. p. 106. Sobre o exército, Herzl escreveria: “O Estado judeu é concebido como Estado neutro. Necessita tão somente um exército profissional – dotado, certamente, de todos os instrumentos de guerra modernos – para a manutenção da ordem, tanto no exterior como no interior.”

13 Sobre esta guerra LAPIERRE, D. ; COLLINS, L . Ó Jerusalém. Tradução: José Luis Luna. São Paulo: Círculo do Livro, 1971. Os autores são jornalistas e o livro é uma narrativa jornalística dos principais fatos da chamada Guerra da Independência de 1948. Para execução deste trabalho foi realizada uma densa pesquisa documental e de campo, sendo analisados os principais jornais da época e contendo entrevistas com inúmeros envolvidos no conflito. Outro excelente trabalho é URIS, Leon. Exodus. Tradução: Vera Pedroso. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 1958. Neste o autor reproduz os fatos históricos referentes à Segunda Guerra Mundial, à imigração judaica e à guerra da Independência em Israel através de um romance histórico. Uris é romancista, porém aborda questões judaicas em vários dos seus livros. Está por ser feito um trabalho científico que sintetize os relatos com caráter jornalísticos e que problematize este primeiro conflito.

14 Ver ABRAHAN, Ben. Holocausto: o massacre de 6 milhões. 29. ed., São Paulo: WG Comunicações e Produções, 1997. MAGALHÃES, M. B. de. Campo de Concentração: experiência limite. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 18, n. 35, p. 61-79, jul./dez. 2001

15 DEMANT, P. Identidades israelenses e palestinas: questões ideológicas. In: DUPAS, G.; VIGEVANI, T. Israel-Palestina: a construção da paz vista de uma perspectiva global. São Paulo: UNESP, 2002. p. 206.

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forças árabes consistiam basicamente de grupos formados para combater em períodos anteriores à

constituição do Estado. Um grupo denominado Al Fatah16, fundado por jovens árabes em

Damasco com o intuito de libertar os árabes da tutela turca, será responsável pelo início de um

nacionalismo militar árabe17, ao mesmo tempo em que o nacionalismo judaico era propagado

através dos movimentos sionistas18. Havia um grupo chamado Combatentes da Guerra Santa,

idealizado por Said Hadj Amin El Husseini, posteriormente mufti de Jerusalém durante o

Mandato Britânico. Alguns autores afirmam que este tornara-se simpatizante do nazismo, pois o

extermínio de judeus diminuiria a imigração judaica para a Palestina. Dedica-se por preparar o

povo árabe para a guerra da mesma forma que Ben Gurion preparava os judeus. Outros grupos

eram o Exército da Libertação, organizado com voluntários, estrangeiros árabes e remanescentes

da Legião Árabe, formada anteriormente. Somadas a essas organizações, a luta será contra ações

conjuntas de exércitos de cinco países árabes, a saber: Egito, Transjordânia, Síria, Iraque e

Líbano.19

Israel se vê diante desta guerra tendo um Estado recém criado e que precisa sobreviver.

Utiliza, portanto, todas as suas forças.20 Promove campanhas internacionais de apoio e recorre

aos países cujas comunidades judaicas podiam ser úteis, principalmente através da ajuda

monetária. Alguns líderes sionistas percorreram o mundo em busca de dinheiro e armas para a

sobrevivência do Estado de Israel, como foi o caso específico de nomes como Yehuda Arazi, um

dos pioneiros em compra de armas na Polônia; Chaim Slavine, que viaja pelos Estados Unidos

por três anos procurando peças e máquinas, que depois serviriam para a instalação de uma

indústria clandestina de armas; Ehud Evriel, comprador de armas na Tchecoslováquia; e Golda

16 Tradução do árabe: A Vitória. 17 LAPIERRE ; COLLINS, op. cit., p. 56. 18 PINSKI, J. Origens do nacionalismo judaico. São Paulo: Ática, 1997. 19 Acerca do conflito árabe-israelense ver alguns manuais como o de AKCELRUD, I. O Oriente Médio.

São Paulo: Atual, 1993 e MASSOULIÉ, F. Os conflitos do Oriente Médio: Século XX. Tradução: Isa Mara Lando e Mauro Lando. 5. ed. São Paulo: Ática, 1997 e BRENER, J. Ferida aberta. São Paulo: Atual, 1993. Os trabalhos tratam dos problemas referentes às complexidades da região, mostrando um panorama geral do conflito. Ou ainda a obra de MARGULIES, M. Origem de uma crise. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967. A respeito ainda do envolvimento de diversas nações no conflito, ver o filme Guerra e Paz no Oriente Médio. Publifolha. Vídeolar Multimídia Ltda, [19--]. Outro importante trabalho é o de SCALERCIO, M. Oriente Médio: uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

20 Acerca da precariedade do exército israelense no início da constituição do Estado, ver outro trabalho do autor em: LOPES, F. L. B. Forças Armadas e Estados Nacionais nos anos de 1940 numa perspectiva comparada: o caso de Israel. Academia Montese. Disponível em: <http:// www.geocities.com/academiamontese> Acesso em: 8 dez. 2000.

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Meir,21 que durante uma viajem para os Estados Unidos em janeiro de 1948, recolheu 50 milhões

de dólares, tornando-se posteriormente, por este motivo, uma das principais dirigentes da

Comunidade Judaica na Palestina. Sua proeza foi marcante de tal forma que quando voltou, Ben

Gurion, primeiro líder do Estado de Israel, declararia: “Um dia se dirá que foi uma mulher que

permitiu ao Estado judeu ver o dia”.22 Este apoio internacional torna-se vital para definir a

formação do exército. Sem isto dificilmente haveria possibilidades de Israel sobreviver à guerra.

Tal afirmação pode ser vista como dotada de um significado especial para o tema a que nos

propomos estudar, pois a participação feminina ocorrerá em inúmeras instâncias da sociedade na

tentativa de estruturação da nação recém-criada e principalmente tendo em vista o papel

fundamental específico desta mulher, que se tornou um símbolo na luta feminina em favor da

nação. Da mesma forma que “uma mulher permitiu ao Estado ver o dia”, outras seriam, conforme

veremos, impelidas e convidadas a dar continuidade à luta pela sobrevivência desse Estado.

Coube então ao Haganah, exército nascido da clandestinidade e que agora se tornava

oficial, a defesa do Estado recém criado. A organização consegue agregar em seus efetivos

grande parte das organizações judaicas militares paralelas, sob a justificativa de que combateria

toda e qualquer ação militar que não fosse designada por um exército com um comando único,

uniformizado, disciplinado e com reconhecimento internacional. Foi possível perceber através da

análise de algumas fontes que a participação das mulheres torna-se imprescindível neste

momento. O Estado, após sua independência, mais do que nunca revigora suas forças e adquire

simpatizantes – e verbas - em quase todo o mundo. Porém, quais seriam as razões para a

manutenção de tais efetivos militares. Necessidade? Utilidade? Reforço? Princípios ideológicos?

O sucesso da atuação nos primeiros anos? O pioneirismo? Podemos supor que a soma de diversos

destes motivos seria a explicação mais plausível, mas conhecendo a precariedade do Estado de

Israel nos primeiros anos de sua existência e as conseqüências do após guerra da Independência,

pode-se perceber que tal atitude por parte do Estado é necessária e, como vimos, já fazia parte de

uma política pública do período pré-estatal.23

21 Dentre outras publicações, Golda Meir escreveu um livro a respeito de diversos momentos importantes do

conflito: MEIR, G. A luta pela paz. Trad.: Elias Davidovich. Rio de Janeiro: Delta, 1965. 22 LAPIERRE ; COLLINS, op cit., p. 403. 23 Cf. nota 1 da p. 3.

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1.1 AS MULHERES EM FORÇAS ARMADAS: O CASO ISRAELENSE

A literatura indica que, desde há muito tempo, mulheres acompanharam exércitos, mas em

atividades limitadas. “Até o início do século XIX, as mulheres participavam normalmente da vida

dos exércitos, trabalhando como lavadeiras, remendeiras, cozinheiras, prostitutas.” 24 Porém,

raramente foram designadas para exercerem atividades como força efetivamente de combate

militar. No século XIX, diversos exércitos proibiram a participação das mulheres, vistas como

inúteis ou simplesmente como tendo uma postura frágil, perigosa para as guerras. Porém, o

século XX vai presenciar a retomada da utilização do potencial humano feminino. O exército

americano, por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, somava 140 mil mulheres.25

Veremos que no caso israelense houve tal atuação.

A tradição cultural judaica sempre reservou para as mulheres determinados papéis sociais

e atuações. Desde os tempos bíblicos e durante a dispersão do povo judeu no início da era cristã,

os preceitos religiosos e culturais do judaísmo prosseguiram, na maioria das vezes, sendo

observados26. A guerra parece ter sido para essa tradição, ao longo dos anos, uma das atividades

destinadas aos homens.27 Por outro lado, é neste tempo mítico que o exército de Israel irá de

alguma forma buscar uma espécie de justificativa para o uso de mulheres em seus contingentes.

Heroínas bíblicas como Jael e Débora serão lembradas e até mesmo citadas em uma das fontes

que analisamos: o documento intitulado Women’s Service in the IDF – The New Chen (Women’s)

Corps. Vemos no item denominado História a afirmação de que “o papel das mulheres na defesa

24 LORIGA, S. Experiência militar. In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, J. C. História dos jovens: a Época

Contemporânea. Trad. Paulo Neves, Nilson Moulin, Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 23; HACKER, B. C. Women and military instituctions in Early Modern Europe: a reconnaissance. [S. l.]: [S. n.], 1981.

25 EARLEY, A. On woman’s army: a black officer remembers the WAC. [S. l.]: College Station Texas, 1989. apud. LORIGA, op. cit., n. 40, p. 43.

26 Cf. GREEN, N. L. A formação da mulher judia in: DUBY, G.; PERROT, M. História das mulheres: o século XIX. Vol. 4, Porto (Portugal), Ed. Afrontamentos, 1991. p. 257 - 275.

27 BÍBLIA, A. T. Deuteronômio. Português. Bíblia Sagrada. Tradução: João Ferreira de Almeida. Ed. cor. e ver. fiel ao texto original. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana, 1994. Cap. 20, vers. 5 - 7. Acerca das leis de

guerra verificar no livro de Deuteronômio em todo o momento a lei refere-se aos homens, por exemplo: “Então os oficiais falarão ao povo, dizendo: Qual é o homem que edificou casa nova e ainda não a consagrou? Vá, e torne-se à sua casa para que porventura não morra na peleja e algum outro a consagre. E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro a desfrute. E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda não a recebeu? Vá e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro homem a receba.”

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de Israel tem uma longa tradição que remonta os dias bíblicos de Jael e Débora.”28 Jael era uma

hebréia que havia defendido sua nação, auxiliando o exército de seu povo ao matar Sísera, um

capitão do exército adversário.29 Débora, a segunda mulher citada no documento, teria julgado o

povo de Israel durante o período denominado dos juízes30, tornando-se uma liderança política,

jurídica e militar do período.31

Às mulheres incluídas nas tradições das comunidades judaicas cabia o cuidar e ensinar os

filhos e as tarefas domésticas32. As instituições militares, não somente na sociedade judaica,

foram geralmente apreendidas como atividades que possuíam um cunho representativo da

masculinidade, da juventude em sua expressão de maturidade, “como um divisor de águas

existencial, que assegura a emancipação econômica, afetiva e sexual do jovem.”33

Entretanto, no caso do exército israelense, a necessidade fez com que se justificasse a uso

de mulheres no exército para diversas tarefas, sendo que atitudes diferenciadas foram tomadas em

relação aos efetivos militares. Inúmeros textos jornalísticos e documentos oficiais nos mostram

que o aproveitamento de mulheres nos quadros militares foi uma realidade desde os primeiros

momentos de necessidade organizacional por parte das forças israelenses.

Nossa pesquisa fundamenta-se essencialmente em dois aspectos principais: a atuação,

propriamente dita, de efetivos femininos nas organizações militares femininas e suas implicações;

e na análise da produção e do uso de imagens fotográficas, de mulheres servindo nas corporações

militares. O tema prima pela originalidade, tendo sido pouco estudado até mesmo pela

historiografia militar israelense, com raríssimas exceções de publicações de curta duração, que

abordam o tema quase sempre com sensacionalismo, colaborando com a transmissão de uma

imagem oficial e acrítica. Objetivamos analisar que fatores fizeram com que Israel fosse pioneiro

na utilização efetiva de mulheres em suas Forças de Defesa, porque isso acontece e se existem

implicações ocasionadas por tais atitudes ao longo do conflito com os árabes.

28 Tradução do Autor. 29 BÍBLIA, A. T. Juízes, op. cit., Cap. 4 vers. 18-24. 30 Período de 1230 a. C. à 1023 a. C. que separaram a conquista de Canaã e o estabelecimento da

monarquia. 31 BÍBLIA, A. T. Juízes, op. cit., Cap. 4 e 5. 32 BÍBLIA, A. T. Provérbios, op. cit., Cap. 31 vers. 10 -31. Tais menções justificam-se pelo fato da

formação e educação judaicas ao longo dos anos, geralmente seguirem os ensinamentos bíblicos e/ou talmúdicos. 33 LORIGA, op. cit., p. 17 - 18.

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Ao tratar do conflito israelo-palestino, percebe-se que existem elementos que contribuíram

para a construção de ideologias particulares, que segundo DEMANT, “podem ser entendidas

como a história legitimizante que uma sociedade ou grupo conta a si mesma em determinado

estágio de desenvolvimento não só para entender o mundo, mas também para articular desejos,

sonhos e eventualmente programas de ação.”34 A formação de identidades coletivas fez com que

existissem determinadas ênfases a certos elementos em diferentes períodos da História do país.

Internamente, pelo fato de ser um serviço compulsório desde os primeiros anos do Estado de

Israel, podemos ver a inserção de mulheres no exército como uma política que acabou por

tornar-se um elemento constitutivo de uma identidade coletiva do país.

34 DEMANT, op. cit, p. 203. O autor, nesta obra, realiza um minucioso e exaustivo estudo sobre a formação e modificações das identidades coletivas israelenses e palestinas, buscando pontos em comum entre elas que possam ser úteis sob algumas condições, para facilitar as reconciliações e a busca por uma solução pacífica para o conflito. Seu artigo foi apresentado no seminário “O conflito Israel-Palestina”, na USP, em abril de 2000, e publicado na obra supracitada em 2002.

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1.2 NOTAS SOBRE ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS.

Para melhor analisar o tema, nosso trabalho fica dividido basicamente em três partes

principais. A primeira abrangendo o período pré-estatal do país, em que percebemos a efetiva

atuação das mulheres em diversos combates e em atuações clandestinas das organizações que

posteriormente serviriam de base para a formação do exército de Israel. Na segunda parte

analisaremos atuações isoladas ao longo dos enfrentamentos em que o Estado se envolve - ou em

serviços de natureza assistencial - e consistirá na sustentação da hipótese concernente ao uso da

imagem feminina, pelo Estado de Israel, para uma suposta intenção propagandística ou

incentivadora, interna ou externamente. Tais suposições poderão ser sustentadas pelo fato de que

este é o período em que a maioria das imagens, iconográficas ou não, são produzidas. Por fim,

analisaremos alguns aspectos da atualidade dos conflitos e das participações femininas e suas

implicações no presente momento, considerando também a produção e a utilização iconográfica

pelos órgãos oficiais do país e pela imprensa.

Algumas fontes serão analisadas a partir de estabelecimento de uma crítica no sentido de

abranger respostas para perguntas como: Por quem e porquê foram produzidas tais fontes? A

quem se destina e quais as intenções dos autores? Deverá haver uma atenção especial no que diz

respeito aos aspectos referentes à imagem feminina ligada aos assuntos militares em Israel. Na

análise das fotografias selecionadas35 haverá fundamental contribuição para que se problematize,

por exemplo, a existência de uma espécie de propaganda, interna e/ou externa, aplicada pelo

Estado de Israel, fosse para justificar a presença de contingentes femininos, fosse para atrair

aceitação para a obrigatoriedade do serviço militar feminino no país.

A documentação escrita utilizada consiste em relatos jornalísticos sobre as diversas guerras,

bem como documentos oficiais do Estado de Israel, como o Código de Ética do Estado de

35 Os registros fotográficos utilizados são de diversas publicações, periódicos nacionais e internacionais. A

maioria delas são publicações vinculadas ao Estado de Israel, mas algumas delas ilustram diversos livros sobre os conflitos ocorridos. Dentre elas, duas obras se destacam por serem livros com intenção principal de servirem como registros fotográficos: FAIANS, D. War and peace. Tel Aviv: Amihai, [19--]; ROTHENBERG, B. Our finest year. English Translation: Kohansky & Hoffman. Tel Aviv: Am Oved, 1968. Outras imagens foram reproduzidas de informativos de caráter jornalístico ou de cunho oficial de iniciativa do Estado de Israel. Ver reprodução desta documentação em ANEXOS.

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Israel36, que retrata aspectos respeitantes aos princípios e valores militares, bem como algumas

peculiaridades desta força. Outros documentos pertinentes para a análise a que nos propomos

efetuar são textos produzidos pelo Departamento de Informação das Forças de Defesa de Israel,

referentes ao Exército, Marinha e Aeronáutica37, além de uma documentação específica sobre a

atuação feminina nas Forças do país, também produzido e fornecido por órgãos da mesma

natureza.38 Outra documentação utilizada são reportagens produzidas a respeito da utilização de

mulheres no exército israelense, tanto as produzidas por órgãos ligados direta ou indiretamente ao

Estado de Israel, quanto às reportagens produzidas por órgãos, judaicos ou não, de cunho

jornalístico descompromissado com o Estado. Sentimos, de alguma forma, a escassez de

documentação respeitante à formação do Exército de Israel. Um dos motivos pode ter sido o de

que se tratavam de organizações com um caráter secreto nos seus fundamentos39. Apesar de

realizarmos ao longo do trabalho algumas menções à determinados conflitos específicos, não

haverá como nos estendermos demasiadamente para a análise devida das mudanças ocorridas na

política israelense respeitante ao serviço feminino ao longo das diversas guerras em que o país se

envolveu. Apesar de usarmos muitas menções sobre a guerra da Independência, não estudaremos

com a mesma profundidade, pelo menos nesta monografia, as ocorrências e modificações da

36 ISRAEL. IDF Spokesman’s Unit. Information Branch. The spirit of the IDF: The Ethical Code of the

Israel Defense Forces. Tel Aviv, 1998. 37 ISRAEL. IDF Spokesperson. Information Branch. Israel Navy. [S. l.], 1998 e ISRAEL. IDF

Spokesperson, Information Branch. The Israel Air Force: Metting the Challenge. [S. l.], 1999. 38 ISRAEL. IDF Spokesman’s Unit. Information Branch. Chen: the Women´s Corps. Tel Aviv, 1998; e

WOMEN’S service in the IDF: The New Chen (Women’s ) Corps In: IDF Official Website: IDF Spokesperson. Disponível em: <http://www.idf.il/english/organization/chen/chen.stm> Acesso em 28 nov. 2000.

39 Vemos um claro relato deste caráter: “A regra da Haganah era o silêncio. Não se tiravam fotografias e os arquivos estavam reduzidos ao mínimo. Os seus centros de instrução encontravam-se nos subsolos de instituições judias, em geral escolas ou clubes de organizações sindicais. Os membros do exército secreto reuniam-se ali uma vez por semana, protegidos por um cordão triplo de vigilância, para praticar o judô, aprender a desmontar armas ou tratar de feridos, subir por uma corda, arrombar uma casa ou saltar de um automóvel em movimento. O menor sinal de alerta transformava-os instantaneamente em aplicados estudantes ou operários jogando cartas. Sujeitavam-se em seguida a um treino prático que consistia, a maior parte das vezes, em entregar mensagens ou espiar as deslocações de personalidades árabes ou inglesas. Finalmente, duas ou três vezes por mês, iam treinar no campo, geralmente em qualquer longínquo barranco ao qual chegavam após uma marcha forçada ao sol. Laranjas e batatas estufadas com detonadores serviam de granadas de treino. [...] No verão, alguns grupos iam para os kibutzim, disfarçados em trabalhadores agrícolas, aprender a manejar morteiros e metralhadoras. A guerrilha e o combate noturno, que os árabes tanto temiam, tornaram-se a sua especialidade. A Haganah até conseguiu, enganando a vigilância britânica , organizar cursos de oficiais numa estação experimental agrícola do vale de Jezreal e formar cento e cinqüenta homens em dois meses. O ensino dispensado provinha de pequenos livros vermelhos que eram pacientemente roubados nos aquartelamentos da potência mandatária. Eram os manuais de instrução do Exército britânico.” LAPIERRE; COLLINS, op. cit., p. 90. [grifos meus]

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Guerra do Sinai em 1956, Guerra dos Seis dias em 1967, da Guerra do Yom Kippur em 1973, dos

conflitos no Líbano em 1982 e dos demais. Outro motivo para tal omissão seria a falta de

documentação fotográfica alusiva ao serviço militar feminino nas décadas de 70 e 80.

Reconhecemos a abundância de análises que tais estudos sistemáticos nos legariam, mas faltar-

nos-ía espaço e recursos para aqui concluirmos de modo satisfatório, de modo que trataremos

mais exaustivamente dos anos iniciais do Estado israelense e dos tempos mais recentes, em que a

divulgação das imagens femininas se torna mais freqüente e sistemática.

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1.3 ANÁLISE DA PRODUÇÃO E DO USO DE IMAGENS FOTOGRÁFICAS

Ao estudarmos as fotografias supra mencionadas, torna-se imprescindível a utilização de

conceitos teóricos de especialistas em análises de imagens fotográficas, que em seus trabalhos

analisam a utilização da fotografia como documentação para a história. É o caso de Boris Kossoy,

que trabalha com as problemáticas existentes entre Fotografia e História, além da análise das

produções reais e fictícias das tramas fotográficas. Kossoy entende “ser o estudo das imagens

uma necessidade; um caminho a mais para a elucidação do passado humano.”40 Outro importante

autor que utiliza-se de conceitos específicos sobre o uso de fotografias em trabalhos

historiográficos foi Roland Barthes, cujas análises nos auxiliam no sentido de perceber em que

medida a intervenção pessoal do observador, - que pode perceber mais do que o registro realista –

tornam a fotografia um elemento que não é limitado em sua natureza de registro documental.41

Alguns cuidados, propostos pelos autores citados, deverão ser tomados ao utilizarmos

fotografias como documentos históricos, tendo em vista aspectos como intencionalidade e

produção, no qual, tais procedimentos buscarão obedecer alguns pontos, como: verificação da

existência de algum tipo de manipulação técnica; avaliação dos elementos de composição das

imagens (se as imagens produzidas são espontâneas ou arranjadas); para quais tipos de veículos

de informação foram produzidas e quais foram os órgãos produtores das mesmas; como tais

imagens são recebidas e que impactos podem ter produzido. A partir das fotografias, produzidas

ou não pelo Estado de Israel, buscamos estabelecer uma crítica para saber a respeito do órgão

produtor das imagens e a que se destinavam, o que não nos exclui a idéia da inserção da fonte,

nestes casos fotográficas, na conjuntura em que foi produzida, na tradicional análise crítica que se

torna necessária para fontes de quaisquer naturezas.

Ao final do trabalho, em Anexos e Lista das imagens, estão algumas fotografias

selecionadas para nossa pesquisa. Em um levantamento inicial foram selecionadas mais de cem

fotografias contendo imagens de mulheres pertencentes ao exército de Israel. Desta centena de

fotografias selecionamos algumas, principalmente as que se repetiam nos seus assuntos e aquelas

que julgamos como mais relevantes para as análises a serem feitas. Restaram desta seleção 31

40 KOSSOY, B. Fotografia e História. 2. ed. rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p.32. 41 BARTHES, R. A câmara clara: nota sobre a Fotografia. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

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(trinta e uma) imagens com as quais trabalharemos ao longo do texto. Por se tratarem de

reproduções, seguimos a sugestão de Kossoy ao afirmar que “uma reprodução fotográfica –

qualquer que seja seu conteúdo – remete a um objeto-imagem de segunda geração. (...) Uma

reprodução é pois uma fonte secundária.”42 Para constar neste trabalho as imagens foram

reproduzidas através de digitalização. Porém, sem sofrerem alterações nos seus conteúdos. Por se

tratarem de imagens veiculadas a partir de publicações diversas, cabe observar que “a reprodução

sob os mais diferentes meios – é, em função da multiplicação do conteúdo (particularmente

quando publicado), fundamentalmente um instrumento de disseminação da informação histórico-

cultural.”43

Verificamos tratar-se de um conflito que envolve questões diversificadas e fatores

territoriais, políticos, econômicos, religiosos, dentre outros. Para Kossoy,

as diferentes ideologias, onde quer que atuem, sempre tiveram na imagem fotográfica um poderoso instrumento para a veiculação das idéias e da conseqüente formação e manipulação da opinião pública, particularmente, a partir do momento em que os avanços tecnológicos da indústria gráfica possibilitaram a multiplicação massiva de imagens através dos meios de informação e divulgação. E tal manipulação tem sido possível justamente em função da mencionada credibilidade que as imagens têm junto à massa, para quem, seus conteúdos são aceitos e assimilados com a expressão da verdade.44

Isso compreendido, buscaremos identificar se a produção e utilização de algumas imagens

que selecionamos tem como objetivo algum tipo de formação de opinião e como são

recepcionados pelos públicos alvos. Buscaremos, de alguma forma, seguindo a sugestão do

referido autor, “perceber as ambigüidades das informações contidas nas representações

fotográficas.” 45 Buscaremos contextualizar as informações contidas nas fotografias com a trama

histórica a que nos propomos desvendar, confrontando com os demais dados documentais

utilizados.

Kossoy ainda percebe aspectos gerais para os estudos deste gênero que coincidem

plenamente com os nossos objetivos na pesquisa:

Não raro nos defrontamos com imagens que a história oficial, a imprensa, ou grupos interessados se encarregaram de atribuir um determinado significado com o propósito de criarem realidades e verdades. Cabe aos historiadores e especialistas no estudo das imagens, a tarefa de desmontagem de construções ideológicas materializadas em testemunhos fotográficos. Decifrar a realidade interior das representações

42 KOSSOY, Fotografia..., op. cit., p. 42. 43 Id. 44 KOSSOY, B. Realidades e ficções na trama fotográfica. 3. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002. p. 20. 45 Id.

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fotográficas, seus significados ocultos, suas tramas, realidades e ficções, as finalidades para as quais foram produzidas é a tarefa fundamental a ser empreendida. 46

À luz de tais afirmações, percebemos a necessidade de entendermos os significados

atribuídos e as “realidades e verdades” que foram criadas pela imprensa e pelo Estado de Israel

nas produções fotográficas. Tomamos a interpretação das tentativas de formação ideológica e a

observação do real e do ficcional através das imagens, como trabalhos fundamentais para

elaboração de nossa pesquisa.

46 Ibid. p. 22-23.

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2 PERÍODO PRÉ-ESTATAL.

Em decorrência da perseguição anti-semitista na Europa e na Ásia, judeus passam a se

deslocar com freqüência em busca de melhores condições de vida. Preservando sua tradição, se

colocam em busca de territórios para se estabelecerem. O Sionismo político, discutido

anteriormente, fez com que as imigrações para regiões da Palestina aumentassem. Os judeus

passam a se organizar para sobreviverem em meio à difícil situação econômica do país e devido

ao início das hostilidades dos árabes, advindas de revoltas contra a administração inglesa e contra

os aumentos populacionais das colônias judaicas. Acredita-se que durante a Primeira Guerra

Mundial havia aproximadamente 55.000 pessoas pertencentes à comunidade judaica na região.47

É neste período pré-estatal, situado entre o início das migrações judaicas maciças do final

do século XIX até a Proclamação do Estado de Israel em 1948, que surgem as primeiras

organizações militares como o Haganah, a Irgun Zwai Leumi: Organização Militar Nacional e o

Grupo Stern, também conhecido como Lehi – Lohamei Herut Israel: Guerreiros pela Liberdade

de Israel, ambos citados anteriormente. Essas organizações adotarão em seus quadros

contingentes femininos. Pode-se supor que tenha ocorrido o ingresso de mulheres nas

organizações devido à necessidade de contingentes para integração das fileiras, mas pode-se

inferir também sobre a voluntariedade com que se dispunham homens e mulheres em busca da

construção da nova nação, tendo em vista que neste primeiro momento o serviço militar não era

obrigatório para mulheres. Lembramos que podem ser considerados exércitos clandestinos, ou

seja, sem um reconhecimento interno ou internacional e com um caráter secreto.48 Pelo que se

percebe, a atuação feminina neste período não se limitou apenas às atividades paralelas aos

combates. Alguns relatos jornalísticos e memorialistas revelam participações ativas em levantes e

atividades bélicas em favor dos rudimentares efetivos da Haganah. Numa ocasião, por exemplo

Zihad Khatib, o jovem contador árabe, teve uma decepção de um gênero diferente. Quando chegou ao seu escritório os seus colegas judeus estavam em plena festa. Entre eles encontravam-se a encantadora Elisa, uma jovem romena loura por quem estava secretamente apaixonado. Falaram-se. Em seguida, Elisa trouxe-lhe um pedaço de bolo e segurando-o pela mão arrastou-o para a festa. Khatib tentou fazer boa figura, mas não se sentia à vontade. Deixou o escritório alguns minutos mais tarde, tristemente consciente de os acontecimentos da noite tinham cavado entre eles um abismo que nada podia remediar. Voltaria a vê-la, no

47 EBAN, op. cit., p. 308. 48 Cf. nota 37 da p. 12.

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mês de abril seguinte, apontando uma espingarda no bairro de Montefiore por ocasião de um levante da Haganah.49

O relato mostra uma dupla decepção. Além de ter suas esperanças de conquista da figura

feminina frustradas pelas questões racial ou ideológica, o árabe depara-se com uma jovem

integrante de forças paramilitares de um exército clandestino, lutando contra seu povo.

Outra importante atividade, existente desde os primeiros momentos de existência da

Haganah, é o uso de mulheres em serviços secretos ou de inteligência. Neste caso, tratava-se de

um serviço secreto muitas vezes clandestino e sem um amparo legal e institucional para os

serviços de espionagem, trabalhos estes essenciais para algumas vitórias em favor da formação da

nação. As mulheres, em certa medida, trariam um comportamento menos suspeito para este tipo

de trabalho, sendo muitas vezes utilizadas nos serviços de informação.50

Vemos a participação deste tipo de contingente freqüentemente usado para facilitar o

transporte de armas, tendo em vista a proibição instituída pelos britânicos: “Havia muito mais

soldados do que armas, e estas contavam com quase tantos modelos como eventuais atiradores,

só circulando na cidade devidamente desmontadas e escondidas debaixo da roupa íntima das

mulheres da Haganah.” Há menções de mulheres do Haganah que “tinham sido encarcerados em

Jerusalém durante os dois meses que se seguiram à divisão, sob a mera inculpação de porte de

armas.”51 Ou ainda na constatação de que “casais, de mãos dadas como inocentes namorados,

patrulhavam as ruas com uma pistola ou uma granada escondida debaixo da camisa da moça.”

Outra mulher pertencente à Haganah constrange seu marido para que também se aliste, apesar de

recém chegado em Israel:

Havia uma pequena pistola escondida na sala sob uma pilha de roupa; era a prova de que a jovem judia pertencia àquela organização que agora o chamava. Fitou os olhos suplicantes de Leah e compreendeu que não poderia assistir, como simples espectador, a uma guerra em que a sua mulher estava envolvida. “Está bem, aceito”, suspirou. 52

A ocasião acima mencionada nos revela o significado e a influência deste contingente em

uma sociedade como a de Israel, principalmente em momentos críticos. Devido à constante

49 LAPIERRE; COLLINS, op.cit., p. 46. 50 STRAUCH, E. Serviço Secreto de Israel. Tradução: Lia Strauch. São Paulo: Summus, 1976. THOMAS,

G. Mossad: la historia secreta. Traducción: Gerardo Gambolini. Madrid: Suma de Letras, 2001. 51 LAPIERRE; COLLINS, op. cit., p. 162. 52 Ibid., p. 86-8.

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situação bélica, podemos supor que a situação acima possa ter se repetido ao longo dos anos em

diversos lares do país.

Pode-se questionar ainda: a diferenciação de gênero ocasionava alguma espécie de

desconforto para os homens no exército? É provável, pois dificilmente titubeariam frente ao

inimigo tendo ao seu lado uma mulher demonstrando uma coragem superior à que tinham.

Buscariam, de alguma forma, impressioná-las, fazendo com que isso fosse um ponto positivo

para o exército, numa espécie de encorajamento psicológico mútuo existente entre os membros.

Graças a isso, manifestações de solidariedade tornaram esse convívio original e confortante em

alguns casos, como quando se “viu um moribundo agarrar-se a uma moça e acariciá-la, como se o

calor do corpo dela fosse a própria vida. Ouviu a moça dizer quando ele morreu: - Era tudo que

eu podia fazer por ele.”53

A atuação, porém, vai além do serviço de encorajamento ou amparo. Vemos formações

de equipes militares especiais, como segmentos do Palmach54

formadas com rapazes e moças,

com uma efetiva participação de ambos em missões de combate. Uma das imagens selecionadas

relaciona-se ao Palmach.55 Nela verificamos a imagem de membros destas tropas de elite, dentre

eles mulheres fortemente armadas. Verificamos nesta imagem a falta de uniformes para estas

tropas, de modo que podemos inferir sobre a difícil identificação das mulheres como força militar

por parte do adversário. Qualquer jovem pedestre ou uma suposta dona de casa poderia de um

momento para outro transformar-se em uma soldada fortemente armada e abater um inimigo

árabe sem aviso prévio. A data da imagem é do primeiro trimestre de 1948, e trata-se de um

momento em que as tropas chegam à Jerusalém com o intuito de proteger um comboio que

chegaria para abastecer a cidade. Percebemos na produção fotográfica uma tentativa de

aproximação de soldados femininos com um soldado masculino, para demonstrar claramente a

atividade mista do exército. Pode-se perceber, assim como em outras imagens analisadas, que

“existe uma motivação, (...) profissional, para a criação da fotografia,” em que o fotógrafo

“seleciona o assunto em função de uma determinada finalidade/intencionalidade.”56 Neste caso,

vemos a clara tentativa de retratar as mulheres em posição de evidência na situação, para que

53 Ibid., p. 269. 54 O Palmach era uma denominação para uma espécie de tropas de elite da Haganah.

55 Cf. em Anexos foto n º 4 Imagem reproduzida de ROTHENBERG, B. op. cit. photo 64. 56 KOSSOY, B. Realidades e ficções... p.27.

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fossem representadas em plena atividade. Aparecem sorrindo, olhando para a lente da câmera

com a naturalidade de quem tira um retrato em qualquer situação, menos em uma situação de

guerra. Vemos outros homens e crianças que parecem também estar esperando alguma coisa

chegar. O riso e a descontração presentes na cena fazem-nos duvidar de que se tratava de um

momento crítico e de apreensão, relatados em outras fontes de forma dramática, pois tratava-se

de uma cidade que dependia do abastecimento diário de víveres, devido aos bloqueios impostos

pela guerra. Teria o fotógrafo solicitado tais atitudes, manipulando desta forma a produção da

imagem? Supomos que é bastante provável.

No ano de 1947, marcante do ponto de vista da explosão de tensões entre árabes e judeus,

encontramos inúmeros relatos respeitantes a outras atuações femininas, como por exemplo

quando um soldado chamado Mishka Rabinovitch monta uma metralhadora na janela de um

edifício e confia a posição a sua noiva Dina. Em determinado momento, de outra posição, dá a

ordem para que disparasse.

A jovem premiu o gatilho até esvaziar um carregador completo. Meia dúzia de pessoas caíram no meio da multidão. Rabinovitch e Dina, alguns minutos mais tarde, depois de terem desmontado a metralhadora, saíram do edifício com esta escondida e de braços dados, como uma casal de namorados. (...) A Haganah reprovou firmemente este ato.57

Porém, no caso das organizações paralelas, como a Irgun, por exemplo, os ataques

terroristas são freqüentemente realizados tanto por homens quanto por mulheres. Encontramos

menção de casais da Irgun que roubavam armas de soldados ingleses:

Os terroristas da Irgun, constrangidos também pela falta de armas, prepararam as suas próprias táticas para as arranjar. Rapazes e moças deambulavam pelas ruas de Jerusalém de mãos dadas à procura de soldados ingleses ou de policiais isolados. Quando um desses casais detectava uma presa, aproximava-se inocentemente e sob ameaça de uma pistola tirava-lhe a arma. Os namorados da Irgun apoderaram-se deste modo de oitenta revólveres durante apenas o mês de janeiro.58

Além disso, as atividades consideradas terroristas chamam-nos a atenção pela intensidade

e pela natureza. Grupos militares judaicos, em ataques brutais coordenados a uma colônia árabe

chamada Deir Yassin, praticaram ações em que “os pormenores dados pelos sobreviventes

informaram que as mulheres que faziam parte dos comandos rivalizavam em selvageria com os

homens.” Neste mesmo episódio

57 LAPIERRE; COLLINS, op. cit., p. 129. 58 Ibid., p. 168.

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Rapazes e moças muito novos corriam em todas as direções armados até os dentes com pistolas, metralhadoras, granadas e até com grandes facas. (...) ‘Uma bela moça com olhos de criminosa mostrou-me o seu facão, ainda cheio de sangue, que ela transportava como um troféu’. Era a equipe de limpeza que cumpria muito inconscientemente o seu dever. (...) Reyner contaria ainda no seu diário ter presenciado um homem e uma mulher serem apunhalados a sangue frio por uma moça.59

Os relatos acima citados fazem parte de depoimentos de habitantes de Deir Yassin e

provêm de interrogatórios feitos pela polícia britânica aos sobreviventes logo após a tragédia em

que a colônia sofreu com estas e outras atrocidades em 9 de abril de 1948. O Estado de Israel

surgiria pouco mais de um mês depois, tornando visível os pormenores geradores de rancores que

precederiam as dificuldades do estabelecimento de um processo de paz.

Apesar dos diversos relatos que mencionamos, de atos de crueldade, bravura ou intrepidez

por parte de mulheres, tidos pelo senso comum como sexo frágil, vemos relatos em que o

despreparo era presente. Um comandante ao entrar em contato com sua companhia, revelou que

pareciam um “grupo de escoteiros: - Aqueles rapazes e moças de ar romântico, segurando malas

e embrulhos, pareciam ir para uma excursão.”60 A insistência com que evidenciamos situações

componentes de relatos jornalísticos e de textos memorialistas em que são mencionadas

participações femininas, pode ser explicada pelo fato de consistirem em fontes substanciais para

percebermos a presença intensa de mulheres nestes embriões do exército de Israel. As atuações

femininas em combate são claramente evidenciadas através de diversas fontes oficiais

israelenses, que textualmente revelam apenas sinteticamente que “mulheres tiveram um papel

vital nos subterrâneos para a Independência de Israel, incluindo participações nas comunicações e

desempenhos em combates nas organizações militares do pré-Estado: Haganah, Etzel, and

Lechi.”,61 de modo que os relatos por nós encontrados são assim confirmados, além de

possuírem o caráter detalhista em alguns acontecimentos.

Outra imagem que pode ser analisada, reproduzida em Anexos sob o nº 2, mostra uma

fotografia produzida com uma intenção fortemente ideológica e com uma natureza ficcional que

pode ser evidenciada: são três mulheres com condecorações de sargento e em posição de

formação militar. O fotógrafo optou por registrá-las em perfil e sorrindo. Ao verificarmos a

imagem, vemos tratar-se do momento em que receberam a promoção para sargento.(evidenciado

59 Ibid., p.321-3. 60 Ibid., p. 280.

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pela inscrição das insígnias no braço). Perguntamo-nos em que medida seria esta uma imagem

propagandística, expondo as possibilidades que poderiam estar sendo abertas para as mulheres

logo no início da formação do exército de Israel. Apesar de produzida nos primeiros meses de

1948, a imagem foi por nós reproduzida a partir de uma publicação do ano de 196862. Por certo,

muitos foram os receptores desta imagem nos anos que seguiram o de sua produção inicial em

1948, de forma que o incentivo à participação de outras mulheres no exército parece ter sido uma

de suas principais intenções, pelo menos nestes primeiros anos de existência dos embriões do

exército israelense.

61 ISRAEL. IDF Spokesman’s Unit. Information Branch. Chen: the Women´s Corps. Tel Aviv, 1998. 62 ROTHENBERG, op. cit., photo 105.

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3 O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE PÓS-ESTATAL

A proclamação da Independência do Estado de Israel no dia 14 de maio de 1948 fez com

que a insatisfação dos árabes fizesse do conflito, já iniciado, uma realidade oficial e generalizada.

A guerra que se previa é declarada e intensificam-se os combates. No caso israelense,

percebemos que algumas situações fizeram com que as mulheres lutassem, principalmente na

gênese, pela sobrevivência de seu Estado, que neste início apresentava fragilidades, tornando

necessário que esforços femininos fossem somar às forças militares. As mulheres eram vistas, e

muitas vezes tratadas, como um outro soldado qualquer. Sendo a Haganah anterior à 1948,

muitas das características das “Forças de Defesa de Israel” podem ser vistas como provenientes

dos primeiros anos de atuação, inclusive a participação prática de mulheres. A necessidade de

utilização de tais contingentes, que fazemos menção, pode ser percebida ao analisarmos relatos

sobre o caráter do Haganah que

consciente da superioridade numérica dos árabes, nunca fizera distinção entre homens e mulheres, e formara o seu próprio movimento de juventude, o Gadna, que, a título de praticar escotismo, preparava militarmente rapazes e moças. Assim, no momento em que as Nações Unidas dividiam a Palestina, a maior parte da juventude judia, possuía já alguns rudimentos de formação militar.63

Vemos claramente, em certa medida, a inexistência de uma distinção entre homens e

mulheres. Isto se confirma pela análise de uma das fontes que utilizamos, cujo texto informa que

“Durante a luta pela independência, o Palmach – organização pára-militar do movimento

clandestino Haganah – já havia estabelecido a igualdade entre as mulheres e os homens,

concedendo-lhes os mesmos direitos e deveres, incluindo a participação nas batalhas.” 64 Houve,

porém, sérias críticas por parte dos rabinos, líderes religiosos do judaísmo, principalmente por

parte das alas mais conservadores da religiosidade judaica, sobre a atuação dos seus discípulos ao

lado de mulheres no exército. Essas críticas chegam ao ponto de haver necessidade de

providências por parte das primeiras autoridades militares:

Natanael Lorch foi enviado com vinte rapazes e seis moças para o bairro ultra religioso de Mea Shearim, e dividiu as moças segundo a importância da arma que a sua figura lhes permitia esconder. “Uma delas”

63 LAPIERRE; COLLINS, op. cit., p. 88. 64 YAAKOBY, R. (org.) Mulheres nas Forças de Defesa de Israel In: Só em Israel. São Paulo: Consulado

Geral de Israel em São Paulo, 2001. p. 29

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pensou, “é tão grande que poderia esconder um canhão de campanha”- se ele tivesse a sorte de possuir tal engenho. O convívio dessas moças com uma vintena de rapazes, provocou a indignação da austera comunidade religiosa do bairro, e Lorch teve de pôr em prática um serviço de guarda duplo – um contra os policiais da esquadra

65 britânica vizinha e outro contra a fúria dos rabinos de Mea Shearim 66.

Estes treinamentos do Gadna, à medida que o conflito foi se tornando mais complexo,

foram intensificados e passavam a figurar campos de exercícios permanentes. Há menção de um

deles ter acolhido “duzentos rapazes e moças em meados de março”67 do ano de 1948, meses

antes da Proclamação do Estado de Israel e do início efetivo da Guerra da Independência.

No primeiro desfile oficial das Forças de Defesa de Israel que se tem notícia, vemos a

participação de homens e mulheres: “O exército das sombras agia, pela primeira vez, às claras.

Homens e mulheres, hirtos e marciais, [...] passavam sob as ovações dos seus compatriotas.” 68

Vemos que apesar de se tratar do início da organização do exército de Israel, já há menções de

grupos de veteranos sendo homenageados neste primeiro desfile, como é possível perceber na

imagem n º 1 em Anexos. Esta fotografia mostra os contingentes femininos desfilando ao centro

da formação, com uma postura semelhante à dos homens e portando armas. A imagem data de

1948, meses após o estabelecimento do Estado em maio. Tanto as mulheres quanto os homens

que aparecem na imagem aparentam ter idade superior aos quarenta anos. Tendo elas ingressado

no exército aos aproximados vinte anos de idade, como podemos supor, seriam soldados que

provavelmente ingressaram na Haganah nos anos 20, portanto no início da organização.

A menção de tal fotografia não serve apenas para ilustrar a evidência da fonte escrita: uma

análise mais minuciosa pode nos fazer refletir sobre a importância de tal desfile para os

espectadores presentes. Os jovens estavam tendo, apesar de se tratar de um exército de formação

extremamente recente, referenciais para motivá-los na participação militar do país. Parecia

necessário a produção de referências históricas. Percebemos portanto, que tanto a idealização de

tal desfile de veteranos, quanto a produção da fotografia possuem um caráter semelhante.

Aqueles homens e mulheres que estavam desfilando eram as pessoas que haviam permitido a

existência da nação, que agora rogava a participação do jovem. Assim como eles dependeram da

atuação destes agora veteranos para sua subsistência, os filhos destes jovens dependeriam de um

65 Apesar de constar esquadra no original, a denominação correta para o termo seria possivelmente tropa. 66 LAPIERRE; COLLINS, op. cit., p. 87- 8. 67 Ibid., p. 247. 68 Ibid., p. 381.

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empenho por parte deles. Esta talvez possa ser uma das mensagens que esta formação imponente

procurava transmitir. Uma busca de referencial no passado para incentivar um próspero futuro.

Sobre a participação feminina no exército, vemos que cada vez mais as atuações foram

sendo ampliadas e desenvolvidas, chegando a ponto de mulheres serem usadas para chefiarem

pontos estratégicos.69 As fontes oficiais do Estado de Israel, ao explicarem sobre a atuação

feminina durante o conflito árabe-israelense, procuram mostrar que nestes primeiros momentos

de existência do exército oficial já havia sido formado o chamado CHEN, que traduzido para o

inglês, no documento original, seria Women’s Corps, ou Forças Femininas. Teria sido, segundo o

texto, fundada em 16 de maio de 1948. Portanto, um dia após a Proclamação do Estado de Israel.

Ao mesmo tempo em que se oficializava todo o restante do exército, tornavam-se legalizadas as

Forças Femininas.

Chegaria um momento em que os dirigentes do Exército exigiriam que os grupos militares

não oficiais tomassem uma posição legal perante as determinações do novo Estado, que

procurava não descartá-los enquanto efetivos militares, mas obrigava-os a adequarem-se a

determinadas normas. Ben Gurion defende sua posição sobre o assunto em um discurso no

Conselho de Estado:

Somente um exército unido, leal a um governo, obedecendo a um alto-comando unificado, pode resistir a um invasor estrangeiro. [...] Há bons motivos para recear, para recear muito...Com que finalidade ou função está armada, no interesse de quem? Não é para exibição. Armas são para matar, para matar mesmo, e nada mais. Ai da humanidade que tem de fabricar armas de destruição! E, por isso, os povos civilizados restringem rigorosamente o porte de armas, e os que manejam os instrumentos de morte são colocados sob severa disciplina e sob as ordens de oficiais superiores. Ficam distintivamente uniformizados, e segregados em alojamentos especiais, com toda espécie de subordinações e restrições. Tudo isso para que portadores de armas, o Exército, não venham a usa-las conforme lhes aprouver. [...] se o Irgun parar, e parar primeiro, e não apenas assinando um segundo e inútil pedaço de papel. Ele tem que entregar as armas e o equipamento militar, e seus membros devem apresentar-se para servir ao Exército como qualquer outra pessoa. [...] Se pudermos agora resistir como um só homem, pelo menos enquanto ainda estivermos em guerra, sob uma única autoridade e com um exército unido, seremos os salvadores da posteridade em Israel.70

Tal determinação parece ter sido atendida, garantindo assim uma unidade ao exército.

Porém, é possível levantar a hipótese de que uma mentalidade permanecia. Terroristas não

deixam de sê-lo pelo simples fato de ingressarem em um exército regular oficializado, de forma

que um estudo detalhado poderá revelar a continuidade de atrocidades e atitudes radicais

cometidas - não como uma prática generalizada, mas ações isoladas talvez - por parte de

69 Ibid., p. 377. 70 LISSOVSKY, A. Israel e seus vizinhos. 1a. ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1968. p. 73 - 76.

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membros das Forças de Defesa de Israel na continuidade do longo conflito árabe-israelense.

Segundo uma das reportagens analisadas, um decreto, logo no início do Estado israelense em

1948, “determinou que as mulheres fossem afastadas das frentes de combate visando evitar o

risco de se tornarem prisioneiras de guerra.”71 O mesmo pode ser evidenciado a partir da

documentação oficial, também do mesmo ano, que divulga a respeito do serviço militar feminino:

“Ainda que mulheres puderam servir como suporte e em papéis de suporte de combate nas FDI,

elas tiveram, até recentemente, sendo proibidas de engajar nos atuais combates. A razão para esta

política era que se uma mulher fosse capturada pelo inimigo, a efeito na moral da nação poderia

ser devastador.”72 Atualmente, conforme veremos no próximo capítulo, esta situação tem sofrido

mudanças, seguindo uma recente regra da Suprema Corte.

Porém, algumas evidências tornam a questão um pouco mais complexa, pois vemos que

mulheres geralmente receberam treinamento no manuseio de armas, segundo alguns documentos

e conforme podemos perceber ao analisarmos algumas das fotos selecionadas: As fotografias de

nº 8 e nº 9, por exemplo, fazem parte de uma publicação referente ao conflito de 1956 entre Israel

e Egito, conhecido como Guerra do Sinai. Na imagem n º 8 percebemos uma tentativa de

demonstração da força do efetivo feminino durante a guerra. Trata-se de uma moça, localizada

próxima a um grupo de rapazes. Todos estão sorrindo e somente a mulher está séria. Todos estão

tranqüilos e apenas ela está apreensiva e preocupada. Todos estão descontraídos e sem armas nas

mãos e somente ela está armada. Trata-se de um instante nada natural registrado para compor os

arquivos da guerra. A intenção parece ter sido a de mostrar a atuação feminina nesta guerra. Na

publicação, tal imagem faz parte de um conjunto de quatro imagens da guerra. No texto da

legenda das fotos vemos a seguinte afirmação: “Elas pegaram em armas e enfrentaram os

desconfortos nos fronts. As mulheres de Israel não podiam ficar de lado, pois se tratava de uma

batalha de vida ou morte pela sobrevivência do país.”73

Tal declaração, vai de encontro totalmente às afirmações das fontes supracitadas, em que

as mulheres aparecem como proibidas de combater. O conflito de 1956 foi a primeira vez, após

1949 com o fim da guerra da Independência, em que Israel se envolve em uma ofensiva maciça

militar. Tratou-se da prática do conceito de guerra-relâmpago, em que de maneira rápida e

71 YAAKOBY, op. cit., p. 29. 72 ISRAEL. IDF Spokesman’s Unit. Information Branch. Chen: the Women´s Corps. Tel Aviv, 1998.

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eficiente, o povo israelense converte-se em soldados em busca da sobrevivência do Estado. A

obrigatoriedade do serviço militar feminino, faz com o número de reservistas aumente

significativamente, e nos momentos críticos, como foi o caso de 1956, tanto homens como

mulheres são rapidamente convocados.

Nas imagens nº 10, nº 11 e nº 12 em Anexos, estão reproduzidas algumas fotografias

retiradas das obras de Uri PAZ, intitulada Guerra Relâmpago e da obra de Flávio Alcazar

GOMES, Morrer por Israel, ambas referentes à Guerra dos Seis Dias. Vemos, na imagem nº 12,

uma moça, portando uma arma e com as mãos ao volante de um veículo74; nas demais

observamos uma soldada manipulando uma arma e outra sentada entre os soldados de Israel. O

texto da legenda destas últimas fotografias afirma que “A mulher teve participação decisiva na

vitória de Israel, alinhando-se com os jovens guerreiros judeus, conforme testemunham as fotos

desta montagem.”75 A complexidade está em aceitar sem uma crítica adequada o fato de que as

mulheres não poderiam participar dos combates, pois se tratava de uma guerra que sabemos ter

exigido mobilizações de todo o país, numa das mais complicadas situações do conflito árabe-

israelense76. O fato de uma mulher estar dirigindo um veículo, no estado de alerta em que o país

se encontrava e portando uma arma, faz-nos refletir sobre a hipótese de que se esta soldada fosse

requisitada ou se ocorresse uma situação de emergência, entraria ou não efetivamente em

combate. Acreditamos que sim. Outra hipótese para explicar a situação pode ser a de que estas

imagens foram forjadas tecnicamente, principalmente do ponto de vista ideológico, através de

fotógrafos contratados para produzirem tais imagens com o intuito de sensibilizar e incentivar o

receptor no sentido de formação de uma identidade relativa ao serviço militar feminino do país.

Nas imagens veiculadas através do trabalho de Gomes, pode-se perceber também a falta de

naturalidade das ações que as imagens tentam retratar, sobretudo na foto n º 11, em que a mulher

está posicionada totalmente alheia à situação, com seus olhos mirando ao longe e em total

desintegração com os outros elementos da imagem. A intencionalidade parece estar clara no

73 DAYAN, M. A Guerra do Sinai. Trad.: Caio de Freitas. 2a ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1968. 74 PAZ, U. Guerra relâmpago: antecedentes e conseqüências. São Paulo: V.G.T., 1967. p. 108. 75 GOMEZ, F. A. Morrer por Israel. Porto Alegre: Globo, 1967. p. 60-1. 76 Além das obras já citadas, sobre este conflito cf. também CHURCHILL, R.; CHURCHILL, W. Seis dias

de uma guerra milenar. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército: Expressão e Cultura, 1968; além do trabalho de BARKER, A. J. A guerra dos seis dias. Rio de Janeiro: Renes, 1974. (História ilustrada do século de violência, 13).

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sentido de que a divulgação de tais imagens visavam atingir determinados públicos alvos: a

sociedade israelense em geral e a imprensa mundial.

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4 ATUAÇÃO FEMININA NO EXÉRCITO DE ISRAEL ATUALMENTE

A charge acima77 mostra uma situação interessante se realizada a crítica necessária.

Mafalda, a menina de cabelos negros, é de autoria de Quino, cartunista argentino que a criou em

1962. Somente surge no Brasil em 1970. Contestadora, insatisfeita, feminista e crítica da

sociedade latino-americana, a criança desenhada por Quino retrata, dentre outros, um pensamento

anti-militarista, sobretudo o praticado pelos países mais poderosos. Um dos temas presentemente

criticado é o da Guerra do Vietnã, e portanto, das atitudes dos Estados Unidos. Susanita, que

aparece no último quadro da tira acima recusando integrar-se numa realidade social como a que

estamos discutindo, é uma burguesa com intenções restritas de constituição de sua família e com

o ideal de ser uma conservadora e bem sucedida dona-de-casa. Esta e outras tiras deste

personagem mostram as informações sobre acontecimentos e aspectos peculiares do Oriente

Médio, de modo que o fato de mulheres serem obrigadas a integrarem o exército, torna a questão

um assunto a ser discutido e comparado com realidades de outros países. Mafalda mostra um

conhecimento específico de uma realidade – de um país em que mulheres são obrigadas a prestar

serviço militar - que segundo seus conceitos seriam absolutamente naturais, mas que causam

indignação e repúdio no outro personagem com conceitos opostos ao seu, de forma que pode-se

de alguma forma comparar tal situação com a multiplicidade de opiniões internacionais que tal

prática pode ocasionar.

77 Extraída de QUINO. Toda a Mafalda. Trad.: Andrea Stahel M. da Silva...et. al. . São Paulo: M. Fontes, 1993.

p.52.

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Por motivo do pioneirismo e da peculiaridade da obrigatoriedade do serviço militar

feminino no país e da comparação que se faz com exércitos de outros países, é que podemos

inferir sobre a charge acima como sendo um demonstrativo de duas impressões opostas sobre o

assunto. Por um lado, um personagem age com naturalidade, como sendo algo aceitável, e por

outro há uma recusa preconceituosa para a idéia. Por se tratarem de dois personagens do sexo

feminino, podemos entender que seriam visões sobre a questão das funções sociais atribuídas à

mulher dentro de determinada sociedade e aceitação ou não destas funções. O caráter

conservador de Susanita demonstra uma reação contra alguns conceitos revistos na sociedade dos

anos pós-Segunda Guerra Mundial, como por exemplo o da divisão sexual do trabalho. Vemos

ainda o uso da expressão anti-semita com uma naturalidade irônica que nos conduz a pensarmos

sobre a forma como foram ou são vistas as práticas e atitudes, inovadoras ou peculiares, do

Estado de Israel perante suas necessidades político-militares.

Ao haver atualmente, em pequena medida, uma padronização nos conceitos sobre os

papéis sócio-profissionais da mulher, verificar-se-á uma possível existência de uma tentativa de

justificativa por parte de Israel para tal política militar. Como vimos, trata-se do único país do

mundo a tornar obrigatório o serviço militar feminino, isto desde 1948, com o surgimento do

Estado. Segundo a legislação atual, as mulheres devem servir dois anos, enquanto o serviço

masculino é de três anos.78 A idade para ingressar é dezoito anos e inúmeras são as atividades e

funções para as quais são destinados os contingentes femininos.

Com o passar do tempo, uma busca por igualdades entre os gêneros tem sido foco de

inúmeras discussões em todo o mundo, e em Israel, apesar da ampla tradição cultural e religiosa,

não deixa de ser diferente. Isso fez e vem fazendo com que a mulher tenha cada vez mais

conquistas. O exemplo a seguir mostra-nos de que forma elas podem ocorrer em Israel:

O mundo dos pilotos ainda é um mundo essencialmente masculino, apesar da igualdade de direitos entre homens e mulheres em Israel estar garantida. Em protesto a esta situação, em 1994, Alice Miller recorreu à Suprema Corte de Israel para garantir o seu direito de fazer os exames para participar de cursos para pilotos. A moça ganhou a causa na justiça, mas foi reprovada nos testes. Este precedente abriu as portas para o sexo feminino e várias já foram aceitas em cursos desde então, mas nenhuma conseguiu se formar.79

78 YAAKOBY, op. cit., p..29 e ISRAEL. IDF Spokesman’s Unit. Information Branch. Chen: the Women´s

Corps. Tel Aviv, 1998. 79 Artigo em revista virtual. Heróis dos céus. Morasha. Disponível em:

<<http://www.morasha.com.br/conteudo/ed29/herois3/htm>> Acesso em: 22 de abril de 2002.

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Abriu-se um campo a mais para a atuação militar feminina em Israel, mas vemos que não

pode ainda ser concretizada essa conquista de forma efetiva. Porém, percebemos que o uso de

contingentes femininos não se trata apenas da conquista de mais um espaço para a mulher, mas

sim - e talvez principalmente, - de um benefício para o Estado de Israel. Isso não se dá apenas

devido às necessidades atuais, pois vemos que durante praticamente toda a existência do país

houve constantes tensões e uma permanente situação belicosa, havendo necessidades

permanentes de recrutamento e preenchimento dos quadros militares. O uso efetivo de

contingentes militares femininos em atividades paralelas como administração, comunicações,

etc.. libera outros soldados para atuarem diretamente nas frentes de batalha.

Para melhor esclarecer esse assunto, utilizamo-nos de algumas reportagens. Uma delas,

publicada sob responsabilidade de Shirley Nigri, brasileira que em viagem à Israel, constatou

através de um artigo alguns aspectos sobre a atualidade do serviço militar feminino. A

reportagem, apesar de um tanto entusiasta e publicada em uma revista dirigida à comunidade

judaica no Brasil80, mostra-nos algumas questões que se tornam presentes nesta realidade da

juventude judaica. Há na reportagem uma certa ênfase dada para os assuntos relativos à

sexualidade e às questões de gênero, tanto no sentido da vaidade feminina, que segunda a autora,

torna-se um pouco retraída devido ao serviço militar, quanto no sentido dos relacionamentos

entre rapazes e moças, pois em algumas ocasiões as mulheres servem como instrutoras dos

homens, conforme é possível perceber nas imagens n º 17 e n º 26 em Anexos. Na imagem de n º

26, publicada em outubro de 2000 na revista O Hebreu, é possível perceber algo mais do que uma

simples instrutora ensinando seus alunos. Vemos que trata-se de uma fotografia produzida em um

dos campos de treinamento do país.

O fotógrafo fez questão de localizar a imagem de forma que o fundo pudesse fazer parte

de seu produto final. Dois personagens de extremo simbolismo ficam no segundo plano da

fotografia: trata-se de Theodor Herzl, figura mais importante do Sionismo, e de David Ben

Gurion, arquiteto político e militar e um dos primeiros dirigentes do Estado de Israel. Além disso

a imagem parece buscar evidenciar a diversidade étnica na composição do povo judeu - por terem

sido dispersados pelo mundo - e a possibilidade de integração desta diversidade num único povo,

pelo fato dos soldados mostrados na imagem serem negros. Esta foto foi publicada em alguns

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veículos de informação do exército e aproveitada para ilustrar a reportagem de Shirley Nigri.

Durante o período da diáspora, os judeus espalharam-se pelo mundo. Durante as primeiras

aliyahs - sinônimo para imigração - na década de 40, vemos a busca por elementos judeus que

desenvolveram comunidades em países africanos para comporem a nação.81 Porém, alguns

mestiços considerados judeus podem ter vindo de outros países em que a presença de negros

tenha sido ou seja marcante. A afirmação da identidade nacional, em vista da variedade de locais

de onde vinham, era buscada através da tradição religiosa judaica e do ideal sionista.

Percebemos a repetição de determinadas imagens em diferentes publicações pode ser vista

como uma evidência da criação de certos símbolos nacionais através da divulgação sistemática

das imagens de mulheres no exército. Na fotografia de nº 17 também é possível verificar na

produção da imagem que trata-se de um instante em que se fez questão de mostrar o ato do

ensino, do aluno sendo orientado. A formação diagonal ocasionada pelo ângulo do fotógrafo faz

com que a instrutora se posicione acima do aluno, que deitado escuta e executa sua tarefa de

modo concentrado, submisso e atencioso.

Em outras fotografias recentes - imagens sob os nº 16, 18, 19, 20 e 24, reproduzidas em

Anexos, foram produzidas em campos de treinamentos em Israel. Vemos que a intenção principal

das obras em que essas imagens foram veiculadas82 é a de ilustrar reportagens ou textos relativos

a participação feminina no exército, sendo todas elas reportagens tendenciosas do ponto de vista

ideológico e formador de opinião. São imagens com características comuns: as mesmas

fotografias fazem parte de diversos veículos de informação. Tornam-se dessa forma ícones

demonstrativos da atuação feminina no exército. Além disso, são imagens que buscam transmitir

aos receptores o cotidiano do jovem do país, buscando a formação de uma mentalidade comum,

de que o exército faz parte da vida do jovem e a guerra é uma constante realidade de Israel, que

deve ser enfrentada e encarada por todos. Tais idéias confirmam-se pelo extrato de uma das

80 NIGRI, S. Tzavá: as meninas vão à luta. O Hebreu, São Paulo, Ano XX, nº 245, p. 34-5, out. 2000. 81 URIS, op. cit. p.563-606. Vemos neste livro o relato romanceado de um episódio em que o piloto Stretch

Thompson aceita a proposta de ir até o Iêmen buscar membros de uma comunidade ali existente que haviam migrado para lá nos tempos do rei Salomão, aproximadamente 3000 anos antes. Conta-se que acreditavam em uma promessa bíblica do livro de Isaías que dizia: “Aqueles que servem ao Senhor retemperão suas forças, subirão com asas como águias”. Quando vieram, foram fretados por um C-47, o que deu início ao que ficou conhecido como Operação Tapete Mágico: “Vieram dos mellahs da Argélia, do Marrocos, do Egito e da Tunísia. A poderosa comunidade judaica e os mais ardorosos sionistas do mundo deixaram a África do Sul para ir a Israel”. Idem, p. 578.

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reportagens analisadas, em que a autora transcreve a fala de uma jovem ao ser entrevistada, que

afirma: “Você não pode se tornar um adulto em Israel sem passar pelo exército”83. Para o

israelense, talvez essas imagens façam parte do senso comum – não deixando de fazer parte do

orgulho nacional – de tal forma que não lhes é permitido refletir mais profundamente sobre seus

significados. Somado a isso, essa banalização parece ocorrer devido à constante necessidade de

mobilização bélica com a qual o país se depara ao longo de sua existência.

Analisamos outras figuras femininas reproduzidas em diferentes publicações e sob

diferentes circunstâncias produzidas fotograficamente. Trata-se dos conjuntos de imagens

formados pelas imagens nº 21 e nº 22; e imagens nº 28 e nº 29. A primeira delas, no 21 foi

publicada junto à reportagem de uma revista veiculada pelo Consulado Geral de Israel em São

Paulo, denominada Só em Israel,84 e em um guia de turismo internacional da cidade de

Jerusalém.85 Na de no 22, trata-se da mesma pessoa, retratada com as cores da nação ao fundo

(azul e branco) e em uma pose de serenidade. Do mesmo modo que na imagem destacam-se a

harmonia e a beleza feminina, o militarismo é marca profunda presente na composição. O

segundo conjunto, imagens nº 28 e nº 29, mostram um sentido iconográfico semelhante: A

imagem de uma mesma personagem sendo retratada em duas fotografias com fundos diferentes

que, apesar de publicada na mesma revista, denominada Menorah - cujo público a ser atingido é

o de judeus - torna clarividente a prática da manipulação da imagem feminina, conforme

observado por Kossoy, em que “toda fotografia houve uma intenção para que ela existisse; esta

pode ter partido do próprio fotógrafo que se viu motivado a registrar determinado tema do real ou

de um terceiro que o incumbiu da tarefa.”86 No caso de ambos os conjuntos citados, pode-se

inferir sobre a segunda opção, a da contratação de profissionais para aquisição de tais imagens,

visando determinadas intenções. A segunda moça a que nos referimos (imagens nº 28 e nº 29)

aparenta idade próxima dos vinte anos, cabelos e olhos claros, apresentando-se sorrindo. Ao

fundo de uma das imagens vemos a bandeira do Estado de Israel e em suas mãos um fuzil, com

82 NIGRI, op. cit.p. 34-5.; ISRAEL. The Israel Defense Forces: Looking to the Future. IDF Spokesperson’s

Unit Information Branch, Ministry of Defense Publishing House, 1998. 83 NIGRI, op. cit, p. 35. Os nomes das pessoas entrevistadas não são divulgados na publicação, segundo a autora

por motivo de segurança. 84 YAAKOBY, R. op. cit. p. 29. 85 JERUSALEM Insight Guides. Houghton Mifflin Company. APA (HK), 1995. p. 50. 86 KOSSOY, op. cit., p.45.

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os cabelos totalmente à mostra. A outra imagem, com inscrições militares em inglês e hebraico ao

fundo, trata-se de um close do rosto da moça, realçando seus olhos e seus traços juvenis e

evidenciando seu boné com um símbolo da divisão de infantaria blindada das forças armadas do

país. A pose faz-nos perceber a produção manipulada numa tentativa de realce da beleza estética

e divulgação da imagem feminina em armas. Na mesma revista, Menorah, abaixo da fotografia

nº 28, foi veiculado o seguinte texto:

Os soldados de Israel são tão adolescentes quanto os ‘civis’ palestinos e suas crianças que jogam pedras. Moças e rapazes, casais de namorados, gente no início da vida, enfim, apenas jovens. Tão jovens quanto palestinos. Uniformizados e armados para a guerra. Para o que der e vier. A pátria em primeiro lugar. Em Israel o soldado sabe que, se ele cair, seus pais, seus irmãos, seus primos serão os próximos. O país é pequeno, os vizinhos são inimigos e os perigos, monstruosos.87

Há nestas frases algumas questões a serem analisadas. Uma clara tentativa de justificar os

ataques realizados pelo exército de Israel às populações palestinas pode ser constatada, além da

comparação que é feita entre as crianças civis palestinas e os jovens do exército de Israel. A

afirmação de que “os soldados... são tão adolescentes quanto às crianças que jogam pedras”,

publicada no ano 2000, está veiculada logo abaixo de uma imagem de uma jovem portanto um

armamento moderno e considerado pesado, usado pelas tropas regulares do exército israelense. A

data de publicação é significativa devido ao retorno, neste mesmo ano, das chamadas intifadas,

que foram movimentos palestinos contra a política israelense, que culminam em combates entre

palestinos civis e militares israelenses. Intifada quer dizer levante, e iniciaram-se com maiores

conseqüências nos anos 80 inflamando o conflito árabe-israelense.

Pode-se inferir sobre uma suposta intenção da veiculação desta e de outras imagens como

uma forma de sensibilização da opinião pública numa real tentativa de comparação, como a que

foi feita pelo autor do artigo, que justifique ações militares contra civis. Atualmente vê-se

reportagens que têm dado ênfase sobre a prática palestina de usar as crianças como escudos

humanos, seja no sentido ideológico ou na prática do campo de batalha. Será que, de alguma

forma, podemos entender que a afirmação acima analisada pode ser vista como uma evidência de

que Israel faz algo semelhante através da insistência na divulgação de imagens de jovens

armadas, supostamente lutando pelo Estado, como as que vemos nas fotos analisadas? Não

87 GOMLEVSKY, R. Soldados: A juventude em armas. Menorah. Rio de Janeiro, Ano 40, nº 497, p.38, dez. 2000.

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podemos entender que tal prática se assemelha ao uso de crianças como escudos humanos nos

confrontos, devido ao fato de que as mulheres não participam atualmente dos combates, mas o

fator ideológico e a tentativa de sensibilização parecem claras nas afirmações de Ronaldo

Gomlevsky. Trata-se do Diretor-editor geral da revista Menorah, informativo divulgador de

informações para a comunidade judaica no Brasil. Apesar de afirmar trabalhar com neutralidade

e equilíbrio88, é possível perceber a intencionalidade parcialmente judaica ao tratar do conflito.

Algumas fontes informam sobre alguns campos de atuação das mulheres atualmente no

exército israelense. Alguns exemplos iconográficos são os mostrados nas imagens nº 6, 7, 15, 30

em Anexos. Nas imagens vemos representações de mulheres servindo como operadora de radar e

como rádio-operadora, ambas associadas aos setores de tele e rádio comunicações. Ambas as

fotografias fazem parte de publicações para divulgação das atividades do exército.89 Analisando

tais reproduções podemos inferir sobre a intenção dessas imagens. Uma das hipóteses pode ser a

de que esse tipo de informação serve para incentivar àquelas jovens que porventura temem, de

alguma forma, o serviço militar. O medo dos confrontos diretos ou do perigo das guerras podem

ser comuns em uma sociedade como a israelense. Através dessas imagens e da maneira como são

divulgadas, a jovem sabra passa a saber que existem setores no exército no qual ela pode fazer

parte, sem correr muitos riscos diretos de vida. Verifica-se em ambas as fotografias a presença do

riso e da beleza física estética, contribuintes para a intenção que se propõe. Além disso, vemos

um apelo incentivador ao uso, por mulheres, das novas tecnologias. Torna-se necessário uma

formação técnica específica para a operação de certos instrumentos, o que torna o exército um

vasto campo a mais de trabalho no país, com inúmeras possibilidades para diversificadas

atividades profissionais.

88 Id. , p. 3 89ISRAEL. The Israel Defense Forces: Looking to the Future. IDF Spokesperson’s Unit Information Branch,

Ministry of Defense, 1998.

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5 CONCLUSÃO

Este trabalho tratou justamente de lançar a questão: existem mesmo múltiplas intenções na

divulgação das imagens de mulheres servindo o exército? Somente a análise das imagens seria

fonte de inúmeras outras interpretações e até de trabalhos com outros temas. Encontramos como

eixo interpretativo principal o fato de haver por trás das imagens uma tentativa por parte dos

produtores das imagens de justificar o uso de mulheres no exército, sensibilizar a nação e os

interlocutores internacionais para a realidade do país, divulgar uma imagem positiva da atuação

feminina no exército no sentido de conquistar novos recrutamentos, impressionar e mitificar a

imagem feminina como uma figura totalmente presente e integrada à realidade militar do Estado

e do povo de Israel.

A divulgação por parte de Israel de algumas imagens para organismos internacionais

através de publicações destinadas a diversos países pode conter em si dois aspectos principais:

Um deles, o sionismo prático atual, em que pessoas de descendência judaica do mundo todo são

incentivadas para imigrarem para Israel. Isso ocorre desde as primeiras aliyahs, de modo que

parece haver uma necessidade de despertar o interesse do jovem para as atividades profissionais

do país. Além disso, no caso estudado vemos a necessidade de apresentar para este jovem a

possibilidade de segurança vivendo em um país em guerra.90 A imagem de belas jovens, fardadas

impecavelmente e atuando em serviços aparentemente sem risco de vida parece ser uma das

práticas. Por outro lado, parece haver uma tentativa de mostrar ao mundo que a tradição histórica

das constantes guerras em que o país se envolveu tornou necessária a participação obrigatória e

efetiva de mulheres no exército.

São nas atitudes em tal sentido tomadas pelo Estado de Israel que percebemos as

modificações no uso da imagem ao longo da História militar do país. Inicialmente parece ter sido

uma política para recrutamento de pessoal para compor os quadros militares extremamente

defasados pelas baixas da primeira guerra do país e pela própria falta de efetivos. Ao longo das

guerras, parece ter-se iniciado um processo gradativo de uso das imagens interna e externamente

90 Há, inclusive, um programa intitulado Marvá, em que pode-se permanecer durante 10 meses em treinamento militar no exército de Israel. O programa é coordenado pela Agência Judaica, o mesmo órgão responsável pelas imigrações. O programa pode ser feito por pessoas de ambos os sexos.

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para divulgação propagandística da peculiaridade do país no que diz respeito ao uso compulsório

de mulheres no exército associado à necessidade de justificativa para as atitudes geopolíticas e

militares. Finalmente, analisando publicações e imagens mais recentes, percebemos a divulgação

insistente e sistemática de imagens de mulheres guerreiras que culmina com comparações

justificadora de atrocidades e banalizadoras da violência em que o país se encontra.

O estudo realizado abre caminhos para novas investigações que infelizmente não puderam

ser contempladas nesta monografia. Com maior espaço e como continuidade desta pesquisa

buscaríamos responder a outras instigações que insurgem a partir deste trabalho: buscaríamos

entender como se deu atuação das mulheres no exército israelense ao longo de cada uma das

fases da História militar de Israel tendo em vista os freqüentes conflitos no Oriente Médio. Ou

ainda, perceber mais proximamente qual a opinião pública à respeito das convocações femininas.

Para tais intentos, um trabalho com entrevistas com ex-combatentes e com pessoas da

comunidade judaica nos ajudaria na resposta para as questões.

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LISTA DAS IMAGENS:

Foto 1 – Publicada em ROTHENBERG, B. Our finest year. English Translation: Kohansky & Hoffman. Tel Aviv: Am Oved Publishers Ltd, 1968. photo 201 Foto 2 – Idem, photo 105 Foto 3 – Idem, photo 35 Foto 4 – Idem, photo 64 Foto 5 – Idem, photo 82 Foto 6 – Idem, photo 213 Foto 7 – Capa da revista “He Aleph”, no. 5, veiculada em 1949. Título da fotografia: In the

control tower. A revista era veiculada pelos órgãos oficiais de informação do Exército de Israel. Foto 8 – Publicada em DAYAN, M. A guerra do Sinai. Trad.: Caio de Freitas. 2. ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1968. p. 142-3.Referente à Guerra do Sinai (1956). Foto 9 – Idem. Foto 10 – Publicada em GOMEZ, F. A. Morrer por Israel. Porto Alegre: Globo, 1967. p. 60-1. Referente à Guerra dos Seis Dias. Foto 11 – Idem. Foto 12 – Publicada em PAZ, U. Guerra relâmpago: antecedentes e conseqüências. São Paulo: V.G.T., 1967. p. 108. Guerra dos Seis Dias. Foto 13 – Publicada em ISRAEL. IDF Spokesperson’s Unit Information Branch. The Israel Defense Forces: looking to the future. [S l.]: Ministry of Defense Publishing House, 1998. p. 5 Foto 14 – Publicada em NIGRI, S. Tzavá: as meninas vão à luta. In: O hebreu, São Paulo, ano 20, n. 245, p. 34, out. 2000. Foto 15 – Publicada em ISRAEL. IDF Spokesperson’s Unit Information Branch. The Israel Defense Forces: looking to the future. [S l.]: Ministry of Defense Publishing House, 1998. p. 11. Foto 16 – Idem. p. 14. Foto 17 – Publicada em NIGRI, S. Tzavá: as meninas vão à luta. In: O hebreu, São Paulo, ano 20, n. 245, p. 35, out. 2000.

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Foto 18 – Idem. Foto 19 – Idem. Foto 20 – Publicada em HERZL, T. O Exército. In: _____. O Estado judeu. Edição comemorativa ao 49o. aniversário do estado de Israel. São Paulo: Consulado Geral de Israel em São Paulo, 1997.p. 106 e em NIGRI, S. Tzavá: as meninas vão à luta. In: O hebreu, São Paulo, ano 20, n. 245, p. 34-5, out. 2000. Foto 21 – Publicada em JERUSALEM Insight Guides. [S. l.]: APA: Houghton Mifflin, 1995. p. 50. Foto 22 – Publicada em YAAKOBY, R. (Org.) Mulheres nas forças de defesa de Israel. In: _____. Só em Israel. São Paulo: Consulado Geral de Israel em São Paulo, 2001. p. 29. Foto 23 – Idem Foto 24 – Publicada em Revista eletrônica disponível em <http://www.idf.il> Acesso em 5 nov. 2002. Trata-se de Laura Rosenberg, uma instrutora de infantaria , com um rifle Barnet, em um campo de treinamento ao sul de Israel. A imagem foi publicada em 20 fev. 2000. Foto 25 – Publicada em EPHRON, D. Women warriors. Newsweek. September 11, 2000. p. 37. Foto 26 – Publicada em NIGRI, S. Tzavá: as meninas vão à luta. In: O hebreu, São Paulo, ano 20, n. 245, p. 34-5, out. 2000. Foto 27 – Publicada em GOMLEVSKY, R. Soldados: A juventude em armas. Menorah, Rio de Janeiro, ano 40, n. 497, p. 41, dez. 2000. Foto 28 – Idem, p. 38. Foto 29 – Idem, p. 78. Foto 30 - Publicada em ISRAEL. IDF Spokesperson’s Unit Information Branch. The Israel Defense Forces: looking to the future. [S l.]: Ministry of Defense Publishing House, 1998. p. 12. Foto 31 – Idem, p. 14.

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