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  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    1/54

    E X P R E S S E S !Mais que dizer - transmitir. Ed. 11

    A Profecia do SertoNardiane Balbino da Silva

    Orgulho e PreconceitoLaisa Winter

    Sobre Heris e TumbasCtia Cernov

    Bruno Honorato

    Gabi Amadio

    QUAL A GRAA DA POESIA?Nem Deus, Nem Diabo Ferrovia da Passividade

    Rafael de Andrade e Camila Felisberto Sousa

    1 Ano De Estdio 1/4Fotos de Mari Azuelos eMaria Teresa Castelo Branco

    Jos Danilo Rangel e Csar Augusto

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    2/54EXPRESSES! Junho 2012 | 02

    EDITORJos Danilo Rangel

    CO-EDITOR:

    Rafael de Andrade

    COLABORADORES:

    Nardiane Balbino da Silva - Conto

    Csar Augusto- Crnica

    Ctia Cernov - Decofidicando

    Maria Teresa Castelo Branco - Fotos

    Mari Azuelos - FotosSrgio P. Cruz - Fotos

    Douglas Digenes - Fotos

    Bruno Honorato - Poesia

    Gabrieli Amadio - Poesia

    Capa: Meme Questionador

    e x p e d i e n t e

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    3/54EXPRESSES! Junho 2012 | 03

    NDICE

    Prembulo..................................................................04A Profecia do Serto..................................................................06Ironia em CAPS LOCK...........................................09Sobre Heris e Tumbas..............................................................12Nem Deus, Nem Diabo, Ferrovia da Passividade........................1510 Dicas Para No Ser Considerado Louco.........................................18Vises Poticas - Poeira..............................22Ele Andava Pelos Bares.............................................23Respirar...............................................................................................24D.R. ......................................................25Orgulho e Preconceito..........................................27

    Extra: 1 Ano de Estdio 1/4..................................................29Especial: Qual a Graa da Poesia?..........................................36Do leitor................................................................................................51Ao leitor....................................................................................52Um Agradecimento...............................................................................53

    N m e r o

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    http://http//pt.scribd.com/doc/93172962/EXPRESSOES-10
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    4/54EXPRESSES! Junho 2012 | 04

    PREMBULO................................

    Abrindo o 11 nmero da EXPRESSES!, temos um conto de Nardiane Balbinoda Silva, de Vilhena, A Proecia do Serto. O conto, com aquele alegorismopersonicador comum a produes nordestinas, onde todos e tudo so pessoas,descreve a luta cotidiana daqueles a quem o Sol achou de imolar e o governode oprimir. Em seguida, mudando o clima, temos Ironia em CAPS LOCK, de

    Csar Augusto. Um texto divertido, onde o tema se mistura com a linguagem,resultando num todo divertido. Chega a vez de Ctia Cernov, em Sobre Herise umbas, dentre outras coisas, ela reete sobre a necessidade de salvadores.Raael de Andrade e Camila Felisberto tomam a voz de todos aqueles oprimidospelos hbitos culturais rondonienses e em Nem Deus, Nem Diabo, Ferrovia daPassividade, alam sobre haver uma cultura incapaz de enxergar acima, ou abaixo,ou ao lado, com os olhos xos num ponto, e por ele hipnotizada.

    O 10 dicas traz um monte de coisas, eu escrevi pensando em ajudar o pessoalque rotulado assim s porque entende um pouco de muita coisa. Em seguida,em Vises Poticas, Poeira, de Csar Augusto, com versos regulares, trabalho onosso hbito de desencaixotar cacarecos e lembranas. Gabi Amadio, um doce,

    na poesia Ele Andava Pelos Bares, utiliza-se da sua acilidade em descrever deorma sucinta e delicada para alar (acredito) de um bon vivant, ou de um bomio.O resultado um lindo texto! Bruno Honorato, autor de Walter: Sem Sorriso,apresenta Respirar, poema com versos de mtrica variada, tendo com tema osonho de um outro lugar, um outro ar. Em seguida, D.R., escrita por mim paraalar um pouco sobre minha conturbada relao com a Poesia, essa injusta.

    Duas novidades. Primeira novidade: Laisa Winter estreia a seo Quadro aQuadro, apresentando-nos o lme Orgulho e Preconceito. Segunda novidade:o entre sees neste nmero conta com o adorno do trabalho de duassensibilssimas otgraas, Maria eresa Castelo Brando e Mari Azuelos. Depois,

    uma pequena matria sobre a esta cultura promovida pelo Estdio 1/4, emcomemorao ao seu primeiro ano de atividade. Por m, em Qual a Graa daPoesia?, eu e o Csar Augusto apresentamos parte do material apresentado noevento que realizamos no Bistr da Floresta, acho que em maio.

    Espero que gostem.

    Porto Velho - Junho de 2012Jos Danilo Rangel

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    5/54EXPRESSES! Junho 2012 | 05

    p a r c e i r o s :

    Fixai com pensamentos perdurveis oque futua sobre vagas aparncias

    Goethe, em Fausto

    Para acessar s clicar sobre a imagem.

    http://www.expressoespvh.blogspot.com/http://www.facebook.com/pages/Revista-EXPRESS%C3%B5ES/219207738122421http://dosedeatmosfera.blogspot.com/http://douglasdiogenes.blogspot.com/
  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    6/54EXPRESSES! Junho 2012 | 06

    Conto

    Era um tempo em que a terra era seca,no se sabe se mais do que os coraes dos sertanejosque viviam ali. O ar denso, pesado, quase irrespirvel,transormava as coisas mais simples em sacriciosdirios. No se via cores naquele lugar, alm da cormarrom, que to solitria, no coloria nada.

    Dizem por l, que at a excelentssimaMorte, quando passava pelo serto, vestia-se de

    marrom em respeito tamanha dor dos homens daterra. oda orgulhosa, ela se intitulava sertanista,aquela que a nica grande conhecedora do povosertanejo e de seus costumes. Mas, tambm, quem,alm dessa Diaba passava por ali?

    Ela era quase de casa, no havia um mssequer, que a sertanista no desse uma passadinhano serto para trabalhar. Mas, isso no quer dizerque ela era querida. Ao contrrio, o sentimento queo povo sertanejo nutria por ela, no mximo podemoschamar de respeito. s vezes, alguns deles at gemiamo seu nome. Chamavam a Diaba ao encontro deles,desejavam antes a morte, do que o sorer lentamente.

    No incio, muitos sculos atrs, a jovemMorte, recm-ormada na aculdade da escurido,carregava com ela toda a arrogncia do conhecimentocientco, pronto e acabado. Presunosa, achava-semuito esperta, detentora de todo o conhecimento que

    A profecia do SertoNardiane Balbino da Silva

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    7/54EXPRESSES! Junho 2012 | 07

    precisava para ser a melhor buscadora de todos ostempos.

    Possuidora de um humor-negro, comoningum, preparou uma pea para caoar os inelizesno seu primeiro dia de trabalho. Ela sabia que os

    homens a imaginavam bastante caricata. Ento,vestiu-se com um longo vestido preto com capuz,arranjou uma oice, e se oi com um sorriso largo.

    Chegando terra rachada, os seus olhosouscaram-se com a claridade. Com tantos anosna sombra, aquele lugar devolveu a ela, novamente,a viso. Reza a lenda que oi a que a Diaba, pelaprimeira vez, chorou. No se sabe se oi pela orteclaridade, ou pela dor quando enxergou pela primeira

    vez, a imagem amarronzada do serto.

    Ainda zonza, esregou os olhos com asmos, uma, duas, trs vezes. Xingou em pensamentoo seu chee, que no s no nome era A Besta. Era eleo responsvel pela lotao das buscadoras.

    No acreditava, na imagem que estavadiante dos seus olhos. De que utilidade serviria umabuscadora, em um lugar que no tem vida? Quem elairia buscar?

    Olhou em volta... erra rachada. Algunsbichos magros. Mandacaru, xiquexique e palmas.

    A claridade tornava a viso embaada. ADiaba apertada os olhos, na tentativa quase intil dese proteger da luz. O tempo quente parecia ainda maisescaldante, quando olhava o cho, distorcido com oeeito da miragem.

    - em sertanejo em p aqui. em sertanejomorto nesse cho! odo esse p marrom. udo isso eito dessa gente! - disse a Diaba.

    Para a jovem buscadora, aquela terratinha sido amaldioada. E ela junto, no momento emque pisou pela primeira vez no serto.

    Depois de vagar por muito tempo, cansou-se de carregar a oice, deixando-a no cho. E o vestidopreto, agora estava marrom, coberto pela solido emp.

    Chegou a uma cidade chamada Canudos.Alegrou-se. Havia homens vivos. Compridos, magros,abatidos. Ser que enm a buscadora cumpriria o seupapel?

    Ningum notava a sua presena.Insignicante, ela no aterrorizada aquele povo. Eles

    j viram bichos, muito mais eios que aquela Diaba.Ao longe, ela enxergou uma pequena

    multido. Conduzindo a romaria, um homem alto,

    muito magro, com cabelo comprido, vestido comum camiso azul. Destacou-se na imensido opaca.As misturas de vozes compunham um canto triste emstico. O maestro era Antnio. Antnio Conselheiro.

    A Diaba oi coberta pela inveja. Ela

    desejava ser respeitada igual aquele homem. Otempo passou. Muitas almas ela buscou. A invejatransormou-se em compaixo. Como pode a Mortesentir to admirvel sentimento? Ora, carssimo leitor,s h um caminho: o sorimento.

    A buscadora viu todo o sorimentodaquele lugar. A ome, a sede, a seca deu a ela orespeito que ela desejava. ornou-se aquela que levavamais almas. Mas, esse ttulo para a sertanista, j noera to querido assim.

    Pensou em uma orma de ajudar o serto.Falou com Antnio Conselheiro, o beato que no sesabe se era doido ou santo. Ele proclamava a proecia,que um dia o serto iria virar mar. A Diaba sorriu, noacreditava que um dilvio com No osse sair de umaterra que s brota mandacaru.

    odo sorimento que a buscadora tinhapresenciado, no era nada perto do que se aproximava.No ms de maro, em 1897, aconteceu o maiorconito que a caantiga j viu. A guerra de Canudos.Pilhas e pilhas de cadveres se acumulavam no cho.A Diaba no conseguia levar tanta alma sozinha. Epela primeira vez, o cho rachado estava encharcado,mas era de sangue.

    Antnio Conselheiro, lutou at a mortepelo serto, morreu como um santo. E para o povosertanejo ele era divino. Um lder, um mito. Proeta deDeus, e amigo da Morte.

    A Diaba conseguiu o que queria quandose ormou. ornou-se a mais conhecida buscadora.Sustentou um ttulo, que agora no queria maisamparar.

    Nos braos, ela carregava o herisertanejo. E sem saber, realizou o prenncio deAntnio Conselheiro.

    Foi preciso o proeta morrer, para suamaior proecia se cumprir. Naquele dia, o serto viroumar. Um enorme aude de lgrimas brotou aondeo beato morreu. E diz a lenda, que essa oi ento asegunda vez, que a excelentssima Morte chorou.

    .....................................................................

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    8/54EXPRESSES! Junho 2012 | 08Foto : Maria Teresa Castelo Branco

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    9/54EXPRESSES! Junho 2012 | 09

    Por que deveria ser diferente, se a gente vive o tempo todocercado de ironia? Por que as ironias daquela mocinhaa fariam mais brilhante que um lme de um nal bem

    bolado? Eu no andava mais feliz que o normal, nem mais eu lrico que onormal, acreditava estar justo na medida dos homens e ainda assim aquelegostinho de sangue na boca aps aquela ironia bem colocada ainda mefazia imitar o mocinho acertado por um golpe fraco, obrigado a revidar namesma medida no importando a quantidade ou a qualidade dos inimigos,lmes demais, o roteiro daquela pessoinha exclamativa deveria com

    certeza ser analisado por um bom diretor, tanto soube disso que sequertentei rimar escrnios onde simplesmente no eram cabveis.

    Da mesma forma que no iria rimar amores, nem admirao,era uma coisa diferente, inquieta como aquela vontade que ela inspiravanos coleguinhas de escola no primrio Me, ele quer me bater! hoje

    no tem me que escute, ela sabe tambm que se fosse pega a maioriano saberia o que fazer, assim como os cachorros que ladram para oscarros no saberiam o que fazer com eles se o pegassem, ela tem umaprepotncia to irritante que sequer deve se dar ao trabalho de imaginarum belo dia em que aquele moo vai saber o que fazer quando conseguir

    Crnica

    Ironia em

    CAPS LOCKCsar Augusto

    Ironia em

    CAPS LOCKCsar Augusto

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    10/54

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    11/54EXPRESSES! Junho 2012 | 11Foto : Mari Azuelos

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    12/54EXPRESSES! Junho 2012 | 12

    D3C0D1F1C4NDO

    A EXPRESSES! n 06, em Decodicando,traz artigo de Jos Danilo Rangel sobre heris, o heriBatman mais especicamente. Uma excelente anliseda moral do heri, o Cavaleiro das revas que traz

    luz para a supercie, cando bem colocada a questodo bem e do mal inerente s pessoas, e cujas tabelasmorais no lhe cabem. Mas sempre teve uma coisa queme incomoda muito meu esprito: a necessidade deheris. Principalmente pelos heris criados para ns(os americanos Superman, Spiderman, Batman...).Sempre descono das alcias que eles representam.H uma rede de ideologia por detrs deles. Elescombatem os agressores da paz e da ordem, mas existemesmo essa paz e ordem (paz e ordem mantida

    por oras, leis, exrcitos) ou essa paz e ordem umainveno, uma simulao? Uma paz e ordem dosamericanos, dos senhores, dos patres, das empresas.

    Criam heris que protegem o sistema de leis deles, odiscurso civilizatrio de seu imprio, os cidados bonspagadores de impostos, os que choram pela bandeira...

    E quanto ao outro? O brbro?

    (Duas-Caras, Curinga...). Estes, classicados comoantagonistas, so representaes de tudo aquilo queo sistema no quer - qualquer possibilidade de caos naordem deles. H uma tentativa de limpar a sociedade,um excesso de assepsia, quase hospitalar. negar a partemaldita que inerente a qualquer realidade. O ImprioRomano, no seu pice cristo, combateu os brbarosa tal ponto que acabaram por destruir a Bibliotecade Alexandria e tudo aquilo que hoje ilegtimo!

    Sempre que assisto lmes americanos

    (raramente os vejo, j entendo as armadilhas deles),observo uma coisa: tudo gira em torno de vingana.O policial se vinga da morte do parceiro, o heri se

    Sobre Heris e TumbasCtia Cernov

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    13/54EXPRESSES! Junho 2012 | 13

    vinga dos algozes do passado, a mulher se vinga doex-companheiro. A mentalidade to enraizada como termo vingana, um eixo conclui de alguma orma?

    Enm, vingana o que os impulsiona, tudo que ereo orgulho deles. vingana em cima de vingana emais vingana... nunca pra a roda crmica disso!!!E vingana uma coisa do ego, que se irradia parao social. Os heris acabam deendendo a ordemdepois de consumadas suas vinganas, e quase porprosso, conorme requer os interesses do imprioque canalizam suas virtudes. Eu sempre desconoquando me oerecem heris, pois eles nos salvam,esperamos algo deles em vez de ns mesmos. Achei

    oras em mim mesma quando rompi com eles.Restitui minha sensibilidade quando desliguei a V!

    E assim vo nossas crianas seespelhando neles, nos heris deles, esperando que eles(representantes do poder divino na terra, com suamisso de civilizar os povos, destino maniesto) venhamter por ns. E assim permaneceremos submissosa eles. Eles simulam o caos (um Duas-Caras) e nosmostram quem vai repor a ordem (o Batman): achoisso uma armadilha terrvel. As mdias esto ocadas

    nos conitos que nos do a sensao de caos, e issorequer que algum venha instalar a ordem, algo nos apresentado como restituidor dessa ordem (os tiras,os heris, os veteranos de guerra, os rasnormers).

    A introduo do arqutipo do heri seinstala na construo de um mito. Muitos mitoscaram para trs, superamos-lhes? Ou oramsubstituidos por outros mitos? Quebramos osmitos e passamos a inventar mitos? Medo de nossanudez? Medo de termos ns mesmos de encarar

    tais conitos? Nos alta algum pra alar por ns?No, no nos alta, mas azem que

    acrediteamos que alta, j que vivemos numademocracia representativa, e vivemos tanto temposob o jugo de algum senhor que dicil imaginarazermos alguma coisa ns mesmos. E quandoimaginamos que podemos alguma coisa, acabamospor ceder tal liberdade aos anti-herois. Como umasubverso instintiva de cada cidado que, no undo,se sabe usurpado e manipulado por oras alheiasaos seus interesses. Ento, nascem paralelamente osanti-heris. Destaques pra atuao do Curinga nolme! (pra mim o Curinga sempre roubou a cena!).

    Shrek, Chapolin, Simpsons... E tudo se irradia paratodos os cantos do mundo. Anti-heris criadospelo brazilian way o lie Cidade de Deus e

    Dadinho; e heris contra esses anti-heris ropade Elite e o Capito Nascimento... Sempre umadvida seguida de uma resposta pronta. Armadilhas!

    Mas vivemos agora num mundo que,apesar de ainda brilharem heris e anti-heris reinamos piratas! Piratas na rede, piratas de sofware,piratas no rdio, piratas nas ruas, piratas libertandoinormaes, hackers lanando satlites, camels eseus genricos ugindo e rindo da cara da polcia...Os piratas ganham uma dimenso espetacular, lutam

    abertamente por seu espao e sua signicao. Serque estamos cansandos dos heris e seus antagonistas?Ser que tudo se tornou to previsvel - quem j noenxerga o roteiro programado por detras das tramasde Hollywood? que esperamos algo de novo dospiratas? O sistema de ordem se saturou at tal pontoque agora tudo o que desejamos o caos, um naviopirata abordando um porta-avies, roubando ossignos do imprio, se apropriando das imagens etransgurando para dar outro sentido. As guerras

    que acontecem pelo domnio do ciberespao soexemplos disso. H hoje uma legitmidade possvelno que antes era pirata. Viva Te Pirate Bay!!Os piratas esto vivos, prximos, cruzam nossasrotinas em cinrcunsstncias reais, e no so apenasimagens e simulaes dos heris, distantes do real.

    Independente dessa minha desconanapelos heris, o que Jos Danilo Rangel escreveu sobrea moral do Batman bem acertada, ele no perdeseus mritos por isso (nem Rangel, nem Batman).

    Amo as dualidades que eles buscam conciliar, seentender, a moral como um jogo de sobrevivncia. Eo que respondo s alimenta as outras possibilidadesde ver as coisas. Desconar daquilo que est tobem estabelecido que se simula invencvel. Enxergaro que h por detras das imagens, e principalmenteo modo como tais imagens nos so colocadas.

    Mas... ser que os piratas se tornarocorsrios? Saqueadores autorizados em nome dealgum rei? Fiquemos atentos!

    .....................................................................

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    14/54EXPRESSES! Junho 2012 | 14Foto : Maria Teresa Castelo Branco

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    15/54EXPRESSES! Junho 2012 | 15

    1. Acadmica do curso de Histria. Acadmico do Programa

    de Ps Graduao em Educao. Ambos estudantes da

    Universidade Federal de Rondnia.

    Muito mais importante doque os problemas sociais que abarcam esteEstado se iremos tratar a Estrada de FerroMadeira-Mamor de errovia do diabo ouerrovia de Deus. Porque os milhares decidados em condio miservel, os pedintes,os usurios de drogas, os jovens em contatocom o mundo violento do trco, a educaoe a sade sempre reciclada pelos governantesdevem esperar que Excelentssimos artistas

    reunidos no Encontro das Fronteiras (e j o 2!) decidam se a errovia celestial ouabissal. Porque estas diculdades sociais noso abarcadas por esta arte regional? Que deregional no tem nada.

    Literatura em Rede

    Nem Deus, nem Diabo,Ferrovia da passividade:Relato de Dois Jovens em Rondnia.

    Camila Felisberto Sousa e Rafael Ademir Oliveira de Andrade1

    Foto : Mari Azuelos

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    16/54EXPRESSES! Junho 2012 | 16

    Pois uma arte regional poderiaat mesmo tratar destes assuntos, mas sepreocuparia com os seres que esto (aps)nos espaos geogrcos e os monumentosculturais, cultuados acima de tudo comopilares e deuses do progresso, que Rondniaest aqum, pois indgena e ultrapassada.Os povos tradicionais devem ser lidos apenascomo heris, sacricados em nome doprogresso e como so preguiosos aquelesque insistem em se chamar indgenas visandomamar nas tetas do governo.

    Esta orma de arte local,preocupada em criar seus heris, em pintarRondnia para o Brasil e o mundo, pouco sepreocupa com Rondnia. Se ela discute quem o dono da Casa de Cultura ou do MercadoCultural, se bendita ou maldita a Ferrovia, seela canta odes ao progresso que chegou coma cincia atrasada e primitiva Rondnia,se Deus, o Deus cristo e no o deus dasdiversidades, est com eles ou no, comopresidentes americanos em suas cadeiras,dominando o mundo que antes era sem cor.Estes artistas locais no do cor Rondnia,eles a deixam atrs da ala do Estado e dopositivismo gritante de nossa sociedadeexcludente e alienante.

    O pensador Foot Hardman japonta que importante no cultuar a Estradade Ferro como de interesse destes artistas

    reunidos neste encontro das ronteiras,mas sim olhar para o passado e azer umareerncia direta ao presente. Coisa que noazem nossos grandes artistas, e olha que eles

    viveram suas vidas para pensar Rondnia.L, reunido no calor das compras de GuajarMirim, esqueceram das mortes que ocorreramnas obras da Ferrovia do DEABO.

    No sabem que duas justicativasoram decisivas para a construo de uma

    estrada de erro no meio do inerno verde:primeiro, propiciar a todos um meio detransporte mais moderno (com maiorrapidez, menor custo), segundo o que subjaza esse discurso, estava implcita a acilitao

    das relaes comerciais. Assim o essencialna construo, inaugurao e ativao daslinhas errovirias era o desenvolvimentoeconmico (lograr uma orma de comrciomundial que osse ecaz).

    E como desenvolvimentoeconmico, voltado para o progresso, (comopor exemplo, as usinas) ele visa melhoraro processo de acmulo de capital por partede alguns, matando os animais e pessoasque orem necessrios para o m sagradodesta tarea. E toda tarea sagrada temseus bardos, seus poetas e tem seus mortos,injustiados. E por trs da tarea sagrada hum porco burgus enriquecendo e o cidadosendo oprimido.

    Ns poderamos esperar que osbardos e escribas de Rondnia partissemem deesa dos homens que morreram, doshomens que vivem, mas isso utopia. Elesdeendem a caracterstica sagrada da missodo progresso, chamando a Ferrovia de deDeus. Assim como eles se calaram quandoas Usinas vieram e poucos, alguns maisprogressistas, oram registrar os erros jcometidos por todos ns.

    Daqui uns anos, se curvempara esta viso protica, estaro osExcelentssimos Acadmicos e Poetas deRondnia cultuando o progresso das Usinasde Deus, e no do Deabo, enquanto outros

    milhares de Rondonienses continuam a serexplorados pelos lhos das elites. Os lhosdos poetas bajulam os lhos da burguesia, eno m, todos acabam por eder!

    ...........................................................

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    17/54EXPRESSES! Junho 2012 | 17Foto : Mari Azuelos

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    18/54EXPRESSES! Junho 2012 | 18

    10dicas

    paranoserconsideradolouco

    eoutromontedecoisas

    1. Filosoe Com Moderao

    Nem consigo calcular de quantosconstrangimentos eu seria poupa caso algumdissesse ao jovem Jos Danilo: meu lho, muitobonito tudo isso que voc ala, contudo, no entendeque para o resto do mundo tudo bobagem? - oque aprendi, com o tempo e alguns chutes na cara.Discorrer sobre assuntos que exigem um certo nvelintelectual nem sempre bem visto pelos outros,talvez porque eles temam no ter poder sobre voc,por voc no compartilhar preceitos, valores e outrasdas suas ideias cotidianas. Funciona assim, quandoassimilo um valor geral, admito e passo a obedec-lo, no m, o que ganho com isso o poder coneridopela obviedade desse valor para controlar o outro.alvez, seja mesmo estranho ouvir algum alar sobredeterminadas questes... Em todo caso: vigiai!

    2. Debater Tem Hora e Lugar

    Por alta de lugar onde expor minhasideias, para test-las, para exp-las a crticas, e ouvirargumentos, acabei disseminando-as em vrioscrculos: besteira! O que tem de mais belo em DomCasmurro a tese apresentada por Machado de Assissobre tomarmos decises baseados em indcios ehumores e nunca exatamente sobre aquilo que nosapresenta a realidade? Fernando Pessoa assume um deseus heternimos como platonista e mstico, em certosentido, metasicista? Cames talvez tivesse sidobipolar? Gonzalez no sei de qu resolve a questodo pensamento e da razo assumindo a dualidadecognitivista congurao/operao? Ningum estnem a para isso. Quer alar sobre essas coisas: V paraa aculdade! Brincadeira, l como todo outro lugar.A manha achar gente que se importe com esse tipo

    Meu solitrio andar por entre a gente, na praa do half, quando a frequentava, entre

    amigos e, especialmente, na escola, sempre foi marcado por uma fama: a de que euera louco. Talvez seja, no gosto de eliminar hipteses no experimentadas, mas nose trata disso, trata-se de viver em sociedade e, para isso, aprendi a abrir mo dealgumas coisas em prol de outras. Pensando, entretanto, naqueles poucos cujo andarpor entre a gente est sempre colorido por uma reputao semelhante, s porque temgostos e pensamentos e interesses distintos daqueles preceituados pelos discursoscomunais - anal, a gente tem um critrio muito abrangente para diagnosticarloucura: no foi igual, louco - decidi escrever essas modestas dicas. Por m, umparnteses, pois se me deixei escapar o escopo, no fui de todo desleal sua inteno.

    Jos Danilo Rangel

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    19/54EXPRESSES! Junho 2012 | 19

    de tema, de outro, modo, alars s paredes. O que,em todo caso, um pouco triste, mas no chega a serdeprimente.

    3. No Blasemai o Dinheiro!

    Pergunta: Danilo, o que voc pretendecom a sua poesia? Resposta: Dizer algumas coisasque penso, que sinto, expressar. O que gera uma novapergunta: e os concursos pblicos, t azendo? Novaresposta: No. Nova pergunta(acompanhada por umgesto de espanto e recriminao): Por que no? Dealguma orma, estabeleceu-se que o Dinheiro (com Dmaisculo) o m de todas as coisas. Nunca entendidireito esse teleologismo capitalista, mas, como disseacima, preciso andar por entre a gente. Se tens

    pretenses que no so claramente direcionadas aoacmulo de riquezas, seja qual or, acrescente ao nalda rase em que exp-la: e car milionrio, claro!Exemplo: Danilo, por que tu l tanto? Resposta: parasaber... (cara de desconana do inquiridor e ento o

    gran fnale) e car milionrio, claro! Outro exemplo:Danilo, por que tu escreve poesias? Resposta: Paradizer algumas coisas que penso, que sinto, expressar...(cara de desconana e ento) e car milionrio,claro! Dizer que dinheiro no tudo, at bonito!

    Outra coisa viver dentro do que recomenda estepreceito, se voc vive, j tem trabalho suciente, no?Ento, por que perder tempo tentando explicar quecar milionrio no tudo? Embora, de minha parte,eu tenha como objetivo principal da minha existnciacar milionrio, claro!

    4. No Lute Contra a Obviedade

    Quer entrar numa batalha perdida? enteconvencer uma pessoa acostumada ao por que simdogmtico de todas as ideias sedimentadas de queesse por que sim no resposta. Pior, tente convencerum bando dessas pessoas. Sim, eu sei, divertido, mas racasso indubitvel! Acontece assim, as vivnciasem comunidade nos vo azendo assumir ideias comobvias, como se elas estivessem a desde a criaodo mundo, no se oge disso, h, contudo, aquelesonde o nvel de assuno menor, e, a maioria, sobre

    quem as ideias assimiladas so bem mais numerosas eresistentes. Entenda que essas ideias ou esto em cima,ou embaixo, ou ao lado daquela parte do crebro ondecam as habilidades raciocnicas, de todo modo, ora

    do alcance racional. Entendeu? Vai perder tempo praqu? V ler outro livro novo!

    5. Nada de Panelas e Intolerncia

    Sabe aquele pessoal detestvel que nunca

    muda, nunca cresce, e que, provavelmente vai passara vida toda numa tentativa contnua e desesperadade manter tudo como est? Fazer panelas, grupinhosechados e ser intolerante com toda a imensa coleode pessoas distintas que h pelo mundo a orma maiseciente de imit-lo, de arrecadar o seu destino. Sei,

    voc inteligente e acaba de perceber que estou sendocontraditrio pois, logo acima, alo para encontrarpessoas certas com quem compartilhar esses gostos epensamentos estranhos. Falei, por acaso, para undar

    um clube secreto? Acho que no. Encontrar pessoascom quem compartilhar e se limitar a andar com elasso coisas dierentes.

    6. No Se Esconda.

    De novo, contradio, no ? Sim Danilo,ali na dica voc diz para no perder tempo lutandocontra a obviedade. E agora vem com essa de no

    se esconda? Calma. A contradio s aparente. Jte alei que a Vida um carnaval de circunstncias?No? Pois : a Vida um carnaval de circunstncias,mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-seo ser, muda-se a conana, todo o mundo compostode mudana, tomando sempre novas qualidades.Entendeu j? Certo, vamos tentar de novo: a Vida um carnaval de circunstncias e preciso reconheceros momentos que nos so apresentados, uma hora preciso alar, outra hora, preciso calar, uma hora

    preciso azer, outra hora preciso se aquietar. Se vocacatar o que dita aquela conjuntura que az com que

    voc tenha vontade de no mais tentar ser quem epassar a tom-la como plano geral da existncia, vaiacabar desaparecendo, tornando-se outra pessoa.

    Acho que ui claro...

    7. No Assuma o Rtulo

    J me chamaram de prncipe e me quiseramimpecvel como um e, por isso, me recriminavamquando eu no lavava o cabelo, ou arrotava depoisde uma boa reeio. ambm j me trataram como

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    20/54EXPRESSES! Junho 2012 | 20

    vagabundo e, por isso, me recriminavam, quando euassumia uma postura responsvel. Com muitas outraspersonalidades me rotularam, normal, deve ser umdispositivo sociolgico e psicolgico de organizaodo mundo percebido. O problema aparece quando

    voc az ora para caber nas expectativas alheias,quando as assume e passa a dedicar energia ao

    correspond-las, especialmente, quando custam umaboa parcela do que voc . Aqui cabe uma ressalva:tentando convencer algum que voc como esperamque seja, ou, azendo exatamente o contrrio, voc vaiestar respondendo ao rtulo, ento, duplo cuidado.

    8. Livre-se da Presuno.

    Voc, capaz de decirar complexas

    charadas matemticas, dominador de vrias lnguas,orgulhoso por ter aprendido ingls sozinho porcausa dos RPGs que joga, que sabe o que signicaidiossincrasia, hermenutica, e outros mais verbetesdesusados, amador da histria, da losoa e de muitosoutros exerccios mentais, no se aparte da realidade.Com o tempo, a orma com que pessoas como vocencontram para resistir ao esmeril que a vida social valorizar-se alm da medida, construir um pedestalpara si, e passar a considerar todos os outros de cima

    dele, deni-los como massa, multido, ignorantes enominaes equivalentes. A, quem se torna ignorante voc, por ignorar a grande mirade de possibilidadesexistentes nessa aparente gosma de ninguns que estacostumado a ver.

    9. Experimente, Teste, Aplique.

    Conhecimento enquanto conhecimento

    nada. imprescindvel lhe dar braos e pernas ebocas, para agir, para andar, para alar. Sabe todasaquelas lindssimas conceituaes que voc apreendeno decurso da vida acadmica, pense comigo, quantasdelas voc transorma em movimento? Sabe todasaquelas concepes que voc desenvolve diante domundo ainda conceitual que este mundo aprendidoem livros e aulas e palestras? Quantas delas estodisponveis ao usuruto? E no estou alando emconvert-las em ormas de car rico, como preceitua o

    utilitarismo capitalista, mas em serem, todas as ideiase todos os lampejos, transormadas em erramentascom as quais lidar com o mundo e a gente nele. omai-as, irmos, entre os dedos desacostumados escultura,

    e tratai de esculpi-las e apresent-las ao rigor dostemporais, pois, de tal modo, observareis seu desgaste,e aprendereis a dispor o que or resto como coisade vosso uso pessoal, que sero elas vossas amigas.Dizendo de outro jeito: experimente, teste, apliquesuas grandes concepes na construo de si, na lidacotidiana e, cedo ou tarde, voc vai perceber que no

    sabe tanto assim e exatamente a, que encontrarou um bom motivo para queimar todos os livros daestante, ou de persistir na senda tortuosa daqueles quemais que pensam - azem. Muita gente j disse voctransorma o mundo, o mundo transorma voc.

    10. Ame a Bno Recebida

    J passei por tanta coisa por gostar de

    ler e por ter certos pensamentos, coisas que vo deidas diretoria sob acusao de arrogncia e algoque era como desrespeito autoridade proessoral,at uma porrada de oras que sempre oram mais oumenos assim: Danilo, tu s sabe conversar sobre essasbesteiras? Ainda tem as diculdades nos trabalhos porquais passei, no atual tambm. Enm... A ponto de mesentir muito s e muito besta. Contudo, hoje, sei queno vai ser todo mundo que ser capaz de conversarsobre essas besteiras. Sabe aquele livro que voc

    leu e o amou? Pouca gente vai passar por isso. Sabeaquele momento mgico quando voc resolve umaequao e ca contente por nalmente ter entendido?Aquele dia, quando voc aprende algo novo? Aquela

    vez, quando deendeu um valor no com verbos, mascom atos e no m, sentiu que valeu a pena? Aqueleinstante quando voc entendeu algo e isso contribuiupara a sua liberdade? Quando voc resolveu umproblema cil cil porque tinha disponvel umgrande erramental de ideias? Pense e logo logo vai

    encontrar depois de todas essas pequenas diculdadesa maravilha de ter persistido. Pouca gente, rara gente,passar por isso. Entendeu? No, ainda no entendeu.Quando entender vai se sentir bem, vai se sentir livre,e, no que vai deixar de se importar com o que aspessoas pensam, vai aprender, entanto, a se importarcom o que pensam somente quelas com quem vale apena se importar.

    ....................................................................

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    21/54EXPRESSES! Junho 2012 | 21Foto : Maria Teresa Castelo Branco

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    22/54EXPRESSES! Junho 2012 | 22

    Vises Poticas

    poeiratexto: Csar augusto

    Fotos: Henderson baena

    Embaixo da cama, recolhi uns versos,

    Empoeirados, amassados e descartados,Tal como fcam sentimentos abusadosTal como espreitam, tal como esperam

    Linhas irreconhecveis de um tal amorSubstitudo, amassado entre verbos

    Tal como fcam estes poetas cegosTal como tateiam tais slabas de dor.

    Versos banidos do mundo emero,Transitrios desejos eternos sem paiTal como morrem de aspas os imortaisTal como raquejam, tal poder supremo

    Virgulas ignoradas e remetentes estrangeirosPaisagens apagadas nas reticncias diurnas

    Tal como fcam debaixo de um leito de brumasTal como maldizem o que carregam no seio

    Em baixo da cama recolhi umas promessas,Pstumas, unestas, canalhas e ciganas

    Tal como enlouquecem, tal como enganamTal como sabemos, tal como essas.

    E meu desejo transportou para a poeiraPara o calabouo ldico de outrora

    Tal como consomem, tal como isolam,Tal como quem, tal como queira,Tal como moram.Poeira.

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    23/54EXPRESSES! Junho 2012 | 23

    P o e s i a Ele andava pelos bares

    E a sua risada, falavam algunsEra a que mais fervilhava os coraes.As mulheres simpticas, lhe lanavamAlguns gestos permissivosE os copos sempre cheiosLhe mantinham alegre;

    A msica eufrica, assim comoTodos os homens daquele local.

    A noite segue quenteE o corpo j pede outro

    Para se lanar.L vai ele danando pacato

    Apurando seu charmeDesejando algo que o satisfaa.(No precisa alcanar seu ntimo)Logo aparece uma sutilezaUm pouco de conversa

    A inteno j est concordadaUm novo corpo,

    Algum que tenha calorMesmo que no chegue a esquentar(Daquele jeito, naquele som).De manh, j novo dia,

    Volta aos livros,Passeia pela tarde,

    J chega uma nova cartaO endereo para chegar,Mas...Ele andava pelos bares

    E a sua risada, falavam algunsEra a que mais fervilhava os coraes...

    Gabi Amadio

    Curta a fanpage da Gabi Amadio....

    https://www.facebook.com/gabiiamadio
  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    24/54EXPRESSES! Junho 2012 | 24

    P o e s i a Respirar

    Em algum lugar fora desse arQue aqui corta os asfaltosRodoviasLatas de lixo orgnico vazias

    Penso eu, quem sabe,Haver um ar estranho.Bem alm mesmo,

    Depois que a rua esqueceu-se de si mesma.

    Um vento estranho, talvez solene.Quem sabe cheio de marra e autoridade.Um ar que pulmes sadios da realidade respiram.Ou no.

    Fresca brisa que refresca seres pequenos, nunca caadosEspritos livres, ecossistemas melindrosos.Esse ar que, priori, senti sair de pginas cansadas,

    Mas no sei por qu,Temo pensar que h de soprar, nalgum lugar,

    Um frio gostoso de fim de noiteCom orquestras de saposPercusses de seixos vitorianosE o respirar de galhos gordos como pano de fundo.

    Um ar de uma alegria magra e escondida entre papisCarimbos e pranchetas.

    Gostaria sentir, ainda em vida, pudera eu,Esse ar que parece vida, parece vivo.

    Esse ar de sonho.

    Bruno Honorato

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    25/54EXPRESSES! Junho 2012 | 25

    P o e s i a

    D.R.

    Precisamos conversar?

    Precisamos conversar sobre o qu?O qu? Srio mesmo? Tem certeza?Sobre eu no ter mais tempo pra voc?Eu no tenho mais tempo pra voc, n?Tempo nenhum, momento algum, n?

    Ah, Poesia, t de brincadeira comigo?

    J est todo mundo reparando,Eu vivo cansado, vivo com sono,Bocejo mais que falo!E tudo isso, porque vocNo sabe o que convenincia.

    Aparece quando quer. E fica.

    No trabalho, na faculdade,No nibus, no almoo,Quando estou andando na rua,Quando estou numa festa,Toda hora hora, pra voc!

    No, no quero dar um tempo,T vendo? Ou do seu jeito, ou no !

    Acha que eu quero que suma de novo?No, no quero...No entende? No isso!S preciso dormir depois das 23,Pelo menos depois das 23.Custa me deixar dormir?

    Como assim eu mudei?Como assim eu no te amo mais?Que outra? Que outras?T bom, tudo bem... Esquece!Finge que no toquei no assunto...Que cara essa? O que foi?Tudo bem, estou calmo. O que foi?

    Como assim NADA, NO?

    Jos Danilo Rangel

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    26/54EXPRESSES! Junho 2012 | 26Foto : Mari Azuelos

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    27/54EXPRESSES! Junho 2012 | 27

    O lme, de 2006, baseado em umdos maiores romances da escritora inglesa

    Jane Austen, Pride and Prejudice, (Orgulho ePreconceito). Publicado pela primeira vez em1813, terminado, porm, em 1797, antes que

    Austen completasse 21 anos.A histria nos mostra a protagonistaElizabeth Bennet, Lizzy para os mais ntimos, esua maneira de lidar com as limitaes de umamulher vivendo no sculo XIX, quando a essas

    no era permitida a educao.Das mulheres da alta sociedade s

    plebeias, restava apenas o casamento comoforma de mudar de vida. Para muitas mulheresque viveram naquela poca, a maior preocupao

    era conquistar um marido rico e no trabalharmais. E no era toa. No sculo XIX a heranano era direito de nenhuma mulher. Comoprimeira opo, os bens de uma famlia sem umherdeiro iriam para o parente mais prximo, a

    Orgulho ePreconceito

    uadrouadro

    a

    Laisa Winter

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    28/54EXPRESSES! Junho 2012 | 28

    segunda era o governo. Nada mais sobraria parauma mulher, alm da misria.

    Nos primeiros minutos do lme ,somos apresentados s animadas e empolgantesirms Bennet, Jane, Elizabeth, Mary, Kitty eLydia. Todas na sala da aconchegante casa dosBennet, onde logo o espectador se sente bem-

    vindo, no s pela simplicidade e (verdadeira)simpatia dos Bennet, que se contrasta com boaparte de outros personagens que surgiro aolongo do lme. Como Sr. Darcy, sempre comseu olhar desconado, a arrogante irm de seusimptico e tmido amigo Sr. Bingley, CarolineBingley. A procedncia dessa sensao dehospitalidade deve ser creditada direo deWright, que passeia as camras por cmodosmostrando vrios personagens.

    Olhando com ateno e, s vezes,apenas, olhando, podemos perceber, bem diantede nossos olhos, amores secretos, esmagadosdiante da grande responsabilidade de eternizaro nome e os costumes de suas famlias,impostas a pessoas que desde muito jovens soabenoadas com grandes obrigaes.

    Sendo Elizabeth a segunda de cincolhas, mesmo contrariada, ela sabe que logoter que arrumar um pretendente, at por sua

    segurana, e na casa dos Bennet no se fala emoutra coisa alm de casamento.

    Sr. Bingley, que est procurandouma propriedade no campo, decide dar um

    baile para conhecer os moradores de Meryton.Uma oportunidade que a Sra. Bennet no podeperder para procurar maridos para suas lhas.A partir da comeam as vrias reviravoltasque envolvem Elizabeth e Sr. Darcy, cada umrepresentando seu orgulho e preconceito. Ela oacha intratvel, e ele apenas v a sua condio

    nanceira.A delidade ao livro respeitvel, h

    dilogos inteiros transferidos do livro, elmentetranspostos, algo importantssimo e raro. Quem

    j viu seu livro ou gibi favorito virar lmesabe do que eu estou falando. Vale destacar atima fotograa, a atuao de Keira Knightley,com 27 anos e com a experincia de mais de 20lmes, indicada ao Oscar de melhor atriz. E aexplndida trilha sonora composta por Dario

    Marianelli (Desejo e Reparao, Os Irmos Grimm,Comer, Rezar, Amare O Solista), tambm indicadopela academia.

    Aps o trmino do lme vocdicilmente no ter vontade de sair procurandopelo livro em busca de mais detalhes sobre osmoradores de Meryton. Foi o que eu z, masno parei no livro, tambm fui atrs de obter assries e as primeiras verses do lme.

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  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    29/54EXPRESSES! Junho 2012 | 29

    Um dos problemas enrentados

    pelos artistas locais a alta de apoio e

    incentivo, por isso, tanta gente de mal com as

    instituies esto todos esperando que deuma hora para outra tudo mude, enquanto

    isso, um outro pessoal vai agindo no grande

    espao ora dos limites instituicionais e,

    apesar da alta de apoio e tempo e dinheiro

    para equipamento, gasolina e muitos outros

    obstculos, esto a, azendo, produzindo.

    O Estdio 1/4 um pereito

    exemplo. um estdio independente que

    usa a mdia alternativa para incentivar

    produes artsticas locais, disponibilizandomaterial de qualidade na internet. Isso h j

    um ano. E oi sob esse pretexto que aconteceu

    a comemorao no dia 26 de maio, anal,

    um ano de atividade independente, lutando

    1 Ano de Estdio 1/4

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    30/54EXPRESSES! Junho 2012 | 30

    contra a alta de tempo, de equipamento,

    de incentivo e tudo mais, algo que se deve

    comemorar e tambm motivo para dizer

    estamos a, h um ano, t ligado?

    A esta cultural aconteceu na

    sede do estdio 1/4, a casa da Michele, no

    sbado dia 26 de maio, e sua programao

    contou com eira de trocas, apresentao de

    bandas, varal de otograas, e apresentaode vrios poetas. A primeira banda a se

    apresentar oi a Ltus, ela ocupou o ambiente

    montado para as bandas no alpendre da

    rente e tocaram vrias msicas do Nirvana.

    Enquanto isso, no segundo ambiente, nos

    undos, estruturado beira da piscina

    acontecia a deejayagem com Leo, que

    mandou um sonzinho relax pra galera.

    Mais tarde o vocalista da banda

    Orbe, Mrcio Marques, ez uma apresentaosolo com voz e violo, tocando msicas

    conhecidas e algumas verses prprias.

    Depois, ainda ocuparam o palco a Overdose

    DS, rs Acordes, Gilberto Lobo e Leonel

    Almeida e Orbe.

    No ambiente montando na

    prgula da piscina o pessoal da Manoa,

    grupo de rap, mandou ver. Logo depois, o

    primeiro momento da Poesia. Eu e o Csar

    alamos um pouco sobre a Poesia e recitamosum material. No segundo momento, Elias

    Balthazar, Elizeu Braga e Ctia Cernov,

    acompanhados pelas estemunhas de

    Giovani e Nino Amorim, trouxeram Joo

    Cabral de Melo Neto de volta vida com o

    acompanhamento, numa perormance cheia

    de Msica e Poesia. Para nalizar, Binho,

    violo e Msica e Poesia no peito, assenhorou-

    se com propriedade do microone.

    Ns da revista EXPRESSES!

    parabenizamos por ter conseguido reunir

    tanta gente e tantas expresses num mesmo

    lugar, tanto como a iniciativa e a manutenodo projeto Estdio 1/4. E torcemos para mais

    outros muitos anos de produes e de estas

    culturais como a que aconteceu, repleta das

    diversidades artsticas por aqui encontradas.

    .....................................................................

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    31/54EXPRESSES! Junho 2012 | 31

    Fotorama

    1 ano deEstdio 1/4

    Overdose DS

    Gilberto Lobo e Leonel Almeida

    Ltus

    Foto:DouglasDigenes

    Fotos:DouglasDigenes

    Fotos:DouglasDigenes

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    32/54EXPRESSES! Junho 2012 | 32

    Mrcio Marques Trs Acordes

    Foto:DouglasDigen

    es

    Csar Augusto

    Leo Jos Danilo Rangel

    Foto:DouglasDigenes

    F

    oto:DouglasDigenes

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    33/54EXPRESSES! Junho 2012 | 33

    Foto:S

    rgioP.

    Cruz

    Foto:S

    rgioP.

    Cruz

    Foto:SrgioP.

    Cruz

    Foto:DouglasDigenes

    Ctia Cernov Elias Balthazar

    Elizeu Braga Nino Amorim

    F

    oto:DouglasDigenes

    Manoa

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    34/54EXPRESSES! Junho 2012 | 34

    Fotos:DouglasDigenes

    Testemunhas de Giovani

    Binho

    Foto:DouglasDigenes

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    35/54EXPRESSES! Junho 2012 | 35

    Msica de Cabeceira: Hereditrio / Orbe

    Entrevista com Binho

    Msica de Cabeceira - Luto/ Theoria das Cordas

    Clique nas imagens para ver os vdeos:

    http://www.youtube.com/watch?v=Nj0ooKba1S0http://www.youtube.com/watch?v=cPnt4C24krYhttp://www.youtube.com/watch?v=aSY65tIHAxU
  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    36/54EXPRESSES! Junho 2012 | 36

    Especial

    QUAL A GRAA DA POESIA?

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    37/54EXPRESSES! Junho 2012 | 37

    Estamos to envolvidos com a sensao dobvio, que perguntar sobre o que est a, estabelecidoningum sabe exatamente como, parece coisa de idiotae aquele que pergunta, geralmente tratado como tal.Contudo, romper essa camada do todo mundo sabee quem no sabe burro, ou doido, ou idiota, jum primeiro passo para o advento de entendimentos

    baseados em algo, seno pereitamente seguro, pelomenos, mais sosticado do que toda a impresso desaber coletivo sendimentado sobre o por que sim epor que no.

    oda mudana, se no antecedida pelaadio de um elemento estranho coleo de atoressustentadores de uma determinada dinmica, precedida pela transormao de um destes atoresessenciais. No caso da nossa Porto Velho, o primeirocaso verdadeiro e aplicvel. Apesar de vrios outroseventos acrescentados nossa realidade e nelatransmutados, a implementao das usinas, de ato,est se mostrando o ator determinante de muitas dastransormaes ocorridas por aqui nos mais variadosaspectos de nossas vidas, passando pela economia,pela poltica, e chegando cultura.

    Diante da expectativa da transormao,temos vrias disposies, as daqueles que estoansiosos por alguma dose orte e quase insuportvelde qualquer coisa, as dos esperanosos, que estosentados agora mesmo em suas cadeiras de balano,

    sorrindo com a espera da sua merecida parcela de umuturo bem melhor para todos, contudo, as que agorame interessam reerem-se literatura e so, primeiro:a dos mantenedores, estes que esto azendo de tudopara carregar para o uturo aquilo que se consolidouem tempos diversos, segundo: a dos oportunistas,ou transormadores (para ser eumico), para estes omomento o certo para se inserir no contexto cultural. evidente que me ponho no segundo grupo, contudo,

    a verdade que no sou imbecil para abrir mo doque aqueles que me antecederam oram capazes deconquistar, muito menos de lhes tirar o mrito daconquista.

    A realidade literria local tem essadialtica e embora o dialetismo taosta empobreaas possibilidades de anlise, reduzindo o crater

    multiatorial do analisado a duas acetas conitantes,aqui, cai muito bem, por sintetizar as oras principais.O ponto essencial, todavia, no aproveitar o momentoatual de assdio crtico a tantos valores, conceitose conceituaes para lhes tomar o lugar. Acreditoque o que realmente preciso reavivar discusses,espritos, humores, acordar os mais velhos, pr osmais novos para trabalhar, e ver no que vai dar.

    Foi a partir destes e de outros pensamentose nimos, que montamos o qual a graa da Poesia?,tema que, pelo menos, nos encontros sociais maisdiversos pensamos ser de conhecimento de todos.Exatamente, por no ser um conhecimento to detodos assim.

    Agradecemos de antemo Margot Paiva,por ter cedido seu maravilhoso Bistr da Floresta,lugar pereitamente adequado a eventos dessa espcie.ambm, a Elizeu Braga, Elias Balthazar e CtiaCernov, por adicionarem seus matizes quela noite deperguntas, risos, desconana e poesias, e a todos osque oram nos prestigiar.

    A seguir, apresentamos, eu e o CsarAugusto, nossos primeiros trabalhos com a temtica.

    Jos Danilo Rangel

    Perguntar Preciso!

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    38/54EXPRESSES! Junho 2012 | 38

    A Graa da Poesia

    Ai daquele que ousado procurarA lgica-graa na linha que dizia

    Que o compor haveria de animarQue haveria alguma graa na Poesia

    Ai daquele que redigir explicandoO objeto-fim-meio dessa fbrica

    Que no tem de realidade ou fbulaQue no tem do cu, nem do mundano

    Ai daqueles, que rirem da desgraaQue calarem seus dedos inexpressivos

    Que animarem calados, ausentes e passivosAi daqueles que descobrirem a graa.

    Se existe uma graa em vocs, e nelesAi daquele que trovar tentando!

    Ai de ns, ai de Deus, ai de quandoA graa se for s com eles.

    Ai de mim, que no acho, que no souQue no tenho a graa, que no tenho a fibra

    Ai de ns, ai de Deus, Ai da vida!Ai da morte, Animou.

    Ai daquele que por descuido descobrir

    Segredo to bem amarrado nas costasAi daquele exilado, ai de suas obras!Que s os iniciados ho de sentir!

    Ai daquele que descobrir,A graa da Poesia se ela existir!

    Csar Augusto

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    39/54EXPRESSES! Junho 2012 | 39

    Qual a graa da Poesia? O que ela temde to bom e notvel para ser melhor ou pior que um

    che che che e do chu cha cha chu chu cha?S porque ela no musicada? Mas por que entoela canta? Porque tantas vezes echamos os olhos naslinhas? A graa da Poesia ser na e entrar nos olhos?Ou no nariz? A Poesia um grande espirro? Daquelesdesconortantes no meio de uma reunio ou quando

    voc est com a boca cheia?A graa da Poesia te pegar desprevenido

    sempre, mesmo quando voc acha que esta armadoat os dentes de insensibilidade, e cheio de oral b

    sem trocadilhos sexuais por avor.Mas continuando, qual a graa daPoesia? Esses poetas malucos, esses caras estranhoscom seus chapus, com seus cachimbos, com seus

    verbos intransitivos, instransigentes, em uma anlise

    morolgica e sinttica sem graa, mas onde estrealmente a graa da Poesia? Onde ela est escondida,

    quo enterrada ela permanece, ser mais cilacharmos petrleo? Ou chegarmos ao Japo antes desaber realmente onde esta questo se esconde?.

    Simpliquemos ento, qual seria a graados poetas? Elias Balthazar disse que somos todoscanibais, mas tenho certeza que nunca provou dacarne de outro poeta at sentir o sangue na boca assim espero, e de modo nenhum sou voluntrio!Disse ainda algo sobre os mortos da humanidade,mas tenho certeza que nunca viu um zumbi to perto

    seno assistindo a noite dos mortos vivos, e eu nodigo um seriado recente de zumbis porque os poetasno gostam destas modernidades, no, de ormanenhuma, muito embora o senhor Balthazar tenhaescrito sobre nossas penas online, nossos notebooks.

    Mas Qual A Graa da Poesia?Por Csar Augusto

    Bistr da Floresta, foto : Michele Saraiva

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    40/54EXPRESSES! Junho 2012 | 40

    A graa da Poesia sempre oicompartilhada sem acebook, ou i Likes, ela nuncaprecisou enriquecer ningum e muito menos

    voltando aos zumbis zumbicar nossos crebrosque no conseguem chegar em um lugar e tentar

    visualizar a plaquinha de wi- como se ela signicasseEste estabelecimento possui um banker contra

    ataques nucleares para a sua comodidade, no twiteisso por avor, se a Poesia tivesse alguma graa, hojeem dia, compartilhamentos a ariam criar uma granderisada coletiva ou no, hoje em dia as redes sociais so

    um grande dirio compartilhado, voc vai encontraras coisas mais bizarras da sua vida, como algumpostando que comi uma eijoada ontem e passei umanoite de rei e algum curtindo e comentando oino Cantina do Porto que voc comeu? Nossa velhotambm me deu um piriri. Voc j viram as pessoasque postam a hora? Agora so 20:20. WF?.

    Sabe, a minha irm praticamente

    psicloga, e a cada dia com o crescimento das redessociais eu vejo que ser advogado no oi uma opoto boa assim, anal de contas para voc ter umaao de algum, essa pessoa tem que te conhecerou algum indicar voc, ora que o problema pode,e na maioria das vezes, comea e acaba e ninguemca sabendo, por segredo de justia por exemplo,mas os clientes que ela vai ter, esses no! em umplaca na testa deles alando Preciso de ajuda, todomundo aqui precisa de ajuda, cara olha pra vocs!

    Hoje segunda o que vocs esto azendo aqui, nessedia depressivo, que no esto vendo o CQC? Bem,eu alei de psiclogas, justamente porque a graa daPoesia est intrinsecamente ligada aos poetas, e estescomo disse, so uns tipos geralmente estranhos que

    da mesma orma tem a plaquinha na testa, ela achaat hoje que as caronas, as ajudas com psicologia

    jurdica era porque eu era um bom irmo, conversaada vocs no sabem como d trabalho conseguirprescrio para alguns medicamentos! Mas, voltandoao assunto, a graa da Poesia no esta no compostodo rivotril, gardenal ou do xtase, a graa da Poesia

    no poderia ser indicada nem mesmo pelos poetas,embora sempre exista contraindicao de uma parceladas pessoas ao nosso redor, por que ser que ler, ouescrever, ou gostar de quem o aa causa tanta revoltanas pessoas? Ser que di tanto assim ver algumlendo um livro de Poesia? No tenho nada contra as

    vrias ormas de literatura, j uma vitria gostar deler, mas mandar a gente ler 10 dicas de pessoas desucesso no lugar de Pessoa, ou lvares ou Caio orados meus padres de compreenso. Vocs que gostamde Poesia e da arte esto aqui com a desculpa dissoaqui ser um bar! J pensou o que todos iriam dizer se

    voc osse marcada no erceiro Encontro de PoesiaRibeirinha - Eita, t querendo ser Cult agora ?. Quetipo de recalque esse? Por acaso algum reclamaquando a pessoa vai pro show do mister Catra alando:eita, quer virar unkeira ? Ou vai pro tantos muitossertanejos universitrios indagando: mas voc nemgosta daqueles caras de bota,chapu e vela de prato.Que interdito existe em gostar de Poesia? A graa daPoesia ento pouca, no d pra todo mundo?

    Falando um pouco mais sobre nossas redessociais, voc percebem que existe uma grande guerrade ideologias e de poder como antes no percebamos,temos pessoas compartilhando salmos, temosagnsticos, compartilhando gaes bblicas, temos agalera underground e seus eventos ucking crazy,temos o povo baladinha com sua vibes topssimas,temos os viciados em concursos que s postam queesto estudando, temos os realmente preguiososque pregam o garled lie-stile, e hoje temos poetas

    e artistas, ambgues, paradoxos de si mesmos e aindaassim no meio dessa diversidade no encontramosningum alando da graa da Poesia. Quem seria eupra tentar encarar um pedreira de assunto desses?.

    Vou contar uma coisa pra vocs, antes dos

    A graa da Poesia ento pouca,no d pra todo mundo?

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    41/54EXPRESSES! Junho 2012 | 41

    celulares se tornarem um rgo vital do nosso sistemamotor, locomotor e reprodutor, as canetas dos poetas,pasmem! As canetas e as penas j eram wirelless assimcomo as mquinas de escrever, parece que s hoje,diante dessa graa que procuramos estamos todoswired, temos autonomia muito limitada bateriados nossos celulares, computadores, gasolina dos

    carros, isso tem alguma graa? Um belo dia vocs iroesquecer que possuem pernas, como os Jetsons! Mase a Poesia? Qual a graa dela no meio de tudo isso?Parece que antes mesmo do inicio do evento todomundo j tinha lido o tema e pensado: trollace essecara vai se estrepar!

    Vocs vo me perdoar, ou no vo, tantoaz, vou continuar alando, como eu posso alar dagraa da Poesia se o senhor Danilo j havia comentadooutrora de um tipo de otimismo criado por Murphy?Isso mesmo, por Murphy, Minhas senhores e seussenhores, como posso procurar a graa da Poesia seele j havia raticado a lei mais perversa, o humormais negro? Ele disse, com todas as letras, verbos eexclamaes que s vezes o desagradvel deve serpensado como possvel recompensa! Ele senhores,essa pessoa que vos ta com o olhar maquiavlico

    j ousou perguntar Pra Que Poesia? e me joga seras agora e umas muito bem aeioadas diga-se depassagem - tentando extrair essa graa que haveriade ter a Poesia. Mas como? Somos menos zumbis ou

    menos otimistas ao inverso porque no sabemos quegraa ela tem? E preciso ter graa pra algum sorrir?.

    Ento, de uma orma mais complexaacabei de dizer que a Poesia deixa as pessoas elizes?Vocs nunca iro ouvir isso da minha boca! Ou dasminhas linhas, no assino! E se me perguntaremalgum dia, nunca disse uma barbaridade dessas! como alar que o BBB no um programa instrutivo eprazeroso de ser decirado. Eureka! A graa da Poesiadeve ser a graa que as pessoas veem nos programas e

    nas novelas, agora cou cil n?, no cou no.Citei meus dois amigos pela simples

    impossibilidade de vocs conhecerem os meusescritos, eu era enrustido sabe? Anos e anos, desde os

    tempos de malhao e lagoa azul da Sesso da ardena vida de vocs, eu escrevia, empilhava, classicadae escondia! E, hoje, observo que a graa da Poesiano um cartzinho e aquelas rosas que murcham,lembre da msica as ores de plstico no morrem,mas o que no morre mesmo a Poesia, ou a graadela, muito embora, dentro de minhas limitaes no

    consiga descrev-la da maneira cientica que todosvocs esto acostumados a ver no Jornal Nacional se algum assiste mas sem Dalton de Franco por

    avor. Ningum duvidaria se em um belo dia um caraalasse com um jaleco branco que os cientistas deHarvad University descobriram que a graa da Poesia criada pelo gameta eminino, histrico e ooqueiro,em conjunto com o masculino, bgamo e preguioso,em uma epiania sexual. Eles disseram meus amigos

    no domingo que antecedeu esta segunda alcolicacultural, que ns, carnvoros dirios, temos menosexpectativa de vida! Qual seria ento as expectativasde vida do poetas que so canibais? O que ser de nsElias? Me reservei o direito de no saber mais destasdescobertas, hoje em dia, no sei se vocs perceberam,mas viver causar doenas do corao ou cncer! Bebercerveja aos domingos causa, a mistura gargalhadasprolongadas com o piscar dos olhos motivo, azersexo apenas trs vezes na semana quase atal! Ouvir

    Restart morte sbita! se acomodem e respirem, emalguns anos os notveis cientistas iro perceber queo acebook causa dependncia! Mas no para por a,mais 10 anos e eles iro concluir, em um estudo eitocom cerca de 10 milhes de jovens virgens que ace

    um grande tabuqual a graa da Poesia, oi

    mais cil ler a Sandy alar emprazer anal do que os flsoos

    ou os poetas chegarem a umaconcluso...

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    42/54EXPRESSES! Junho 2012 | 42

    causa o que!? Advinha? Altos ndices de masturbao?No, cncer! Sinixxxxxxxtro!.

    Mas a Poesia, no d no gente, a Poesiaaz outras coisas que quando todos nos ormosgrandinhos vamos entender! Quer explicao maiscientca do que esta dita tantas e tantas vezes pornosso pais? Mas nunca eles alaram qual era a graa

    da Poesia, assim como no alaram qual a nossagraa. um grande tabu qual a graa da Poesia, oimais cil ler a Sandy alar em prazer anal do que oslsoos ou os poetas chegarem a uma concluso, ealo de grandes nomes, com grande vivncia e obras

    de envergadura inimaginvel, no esses caras queazem stand-up poetry.

    J pensou se a moda pega? Do mesmojeito que tudo na msica hoje tem que terminar com

    Universitrio todas as ormas de expresso tendem aser aplicadas no Stand-up, ento vamos criar Stand-uppoetry universitrio, j que est to dicil conseguirdelimitar qual a graa da Poesia, pelo menos ca cilachar uma risada da expresso, sabia que existemstand-up com os apresentadores sentados? Como?.

    Mas a concluso cientca da graada Poesia poderia no convencer alguns, ento eupoderia trazer at vocs a sua santidade com suascostas racas, dizer que a graa da Poesia a mesma

    graa da Bblia, uma questo de , mas, poravor, meus amigos, como tudo na vida das pessoasnormais, no exagerem, demais no cheira bem!No tentem da mesma orma quanticar e padronizaressa parte diminuta da vida que realmente livre, a

    graa da Poesia no pensar que 98% das pessoas noiro entender, alis, interpretar... bom: ler! Assimcomo desnecessrio pensar que a chance de umora daquela mocinha linda de 98%, ou ainda, quea chance do cara no perceber o brinco novo, o cortede cabelo de 98%, enquanto o de no ver o decote de 2%.

    Mas perguntem-se, reutem-se e, por m,acordem ouvindo o carro do sorvete: passando aquina sua rua, chama o papai chama a mame Qual agraa da Poesia? Qual a graa que eu tenho? Quem esse cara tentando ser descolado? A dislexia que o az

    vagar por tantos temas sem concluir o engraado?Voc esto rindo de um deciente! Punam-se! Nsos poetas temos muletas, aparelhos de marca-passo emarca-letra, e cadeiras de rodas e de balano! Algum,a, pelo menos j leu alguma coisa que esse caraescreveu? No respondam!, algum aqui j leu grandespoemas de poetas baixinhos? Ou teceu pensamentosem letras de poetas carecas ou quase ou viu belezanesses moos e moas ordinrios que iro vos alarmuitas coisas, Algum de vocs pelo menos descobriuqual a graa da Poesia pra me contar? Quem so vocse o que eu estou azendo aqui?

    Ento, parem de se perguntar e no meperguntem tambm, qual a graa da Poesia? Algum

    viu aPoesia passar por aqui? Ela tava sozinha? Comoestava vestida aquela saadinha, todo mundo j pegou

    e tem uns que sequer se lembram! Ningum aquirecitou batatinha quando nasce? Ningum ouviu alarna maldita pedra no caminho? Nunca oram um clichdizendo que o amor ogo que arde sem se ver?. Masno importa, Poesia no isso, outra coisa!

    No preciso citar aqueles caras quetiveram que morrer para algum dar ouvidos ouolhos aos seus escritos, um desses grandes disse uma

    vez que todas as pessoas tem algo em comum. Sotodas dierentes. Ento quo intil seria tentar achar

    alguma equao? Mas vou continuar tentando; sechiar resolvesse alguma coisa sal de ruta no morriaaogado!.

    A graa da Poesia no ser ingrata! Osalicerces da Poesia so movedios por natureza e se a

    Talvez em busca da graa daPoesia sejamos cachorroscorrendo atrs de carros, se

    algum dia conseguirmos alcan-los no saberemos o que azercom eles.

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    43/54EXPRESSES! Junho 2012 | 43

    Poesia tem realmente alguma graa ela est aqui! Nointervalo de um sorriso e um gole de cerveja, entre umsuspiro perplexo, uma cantada de mau gosto um ertedescarado, entre os coraes partidos, os trincados e orosados e onhos que nunca experimentaram o que a vida na selva.

    A graa da Poesia pode estar nesse

    microone, ou nessa caixa de som que az tum-tum-tum nestes belos decotes e peitorais denidos, existePoesia nas panicats, nos go-go-boys, nos nerds, nasrgidas - mas qual a graa da Poesia? Ela pode at notem barriga tanquinho, cochas torneadas, bumbumdurinho e um boquinha pequena, ou braos grossose ombros largos, culos undos de garraa, aparelho,cinta-liga, o dental ou escova de dentes. No ser

    viciada em coca-cola, wiskhey, goma de mascar,lmes do tarantino pode at no ser, inelizmente,ninomanaca, a graa da Poesia no nada disso,mas ela pode estar em tudo isso, ou ela simplesmenteno existe como as armas de destruio em massa doaeganisto, talvez a graa seja ningum saber.

    alvez em busca da graa da Poesiasejamos cachorros correndo atrs de carros, se algumdia conseguirmos alcan-los no saberemos o queazer com eles. E talvez vocs se perguntem, porquedepois de racassar em expor qual a graa da Poesia,eu ainda esteja rindo, no ? simples, j sei em quempr a culpa! Vocs! Exatamente! E nem me venham

    com o velho ditado: Se voc no puder ajudar,atrapalhe, anal o mais importante participar. Eurealmente esperava uma resposta de vocs. E no meolhem assim, s porque estou com o microone noquer dizer que sou o dono da verdade, s quer dizerque eu alo mais alto e vocs no conseguiro serescutados.

    alvez seja mais cil explicar a graada Poesia como mgica. Para os que no sabem, ostruques de mgica consistem em trs etapas simples:

    A primeira, pode ser denominada A promessa - quando o mgico mostra um objeto ordinrio, comoum mao de cartas, uma chapu ou uma assistente depalco muito gostosa toda amarrada, a segunda etapa A virada - consiste no enmeno extraordinrio

    que acontece com o objeto, as cartas desaparecem, aassistente cai em um tanque de gua. E a terceira eltima etapa, aps uma tenso, consiste no Granderuque quando as cartas aparecem, a assistenteressurge ilesa e com a escova intacta e voc ca comcara de como esse cara ez isso?.

    A graa da Poesia consiste praticamente

    nisso, primeiro o poeta, com seus trajes e jeitosbem menos distintos que o Mr. M, pega um atocomum, uma coisa ordinria na qual todo mundotopa ou topou na vida, ele comea a descrev-la e

    voc comea a se identicar com as linhas, a vem

    a segunda ase, ele mostra um ngulo daquela coisaque voc no esperava, ele usa palavras que caemcomo uma luva, palavras que voc sabia, mas nousaria ordinariamente, essa a parte em que vocpensa como esse cara ez isso?, mas, espera a! Noeram trs etapas? Exatamente! A terceira o Granderuque ele nada mais do que a graa da Poesia.

    A Poesia meus amigos, no precisamostrar que uncionou, ela pode simplesmentedesmontar e deixar altando parausos, ela pode scomear e no ter meio nem m, pode acabar semcomear, a Poesia e a sua graa so simples assim,como a lei da relatividade. Vocs conhecem, n? aquela mxima que diz que um minuto passa rpidoou devagar dependendo do lado da porta do banheiroque voc esta.

    .....................................................................

    Talvez seja mais cil explicar agraa da Poesia como mgica.

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

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    Duas Formas de Fazer No Pensar

    H muitas ormas de se promover aalienao. Os meios de comunicao em massa seutilizam do maior nmero deles. Contudo, h duasormas muito ecientes de imbecilizar pessoas que na

    verdade, consistem no que se pode chamar de opostosdiscursivos pereitos. Gosto de cham-las de as duasmais belas ormas de imbecilizao.

    A primeira consiste em deender axiomas

    sem sustentao maior que a ostentao, silogismossem premissas, s concluses. Aqui, todo o deendido alicerado sobre uma impresso de obviedade, comotodo mundo soubesse o que se est sendo alado equem no soubesse osse um idiota. Armaes do

    tipo: isso assim, isso no assim, isso pra isso,

    sempre azem parte desse discurso, sem base maiorque a sensao j citada de que assim e sempre oidesde que Deus criou o mundo, desde o Big Bang,estava tudo escrito e sempre esteve, todo mundosabe disso. A outra orma exatamente o contrrio,ou seja, enquanto a primeira resolve a ausncia deundamento com modos e pose, essa outra sustentacom tanto rebuscamento e reerncias a ponto de odeendido s ser entendido por especialistas, talvez,nem por eles. alvez, nem mesmo o autor seja capaz

    de se entender.Muitos temas so tratados assim, de ummodo, ou de outro, a Poesia, inclusive. De um ladotemos aqueles que querem estabelecer verdadespoticas a partir da insistncia e da presuno, da

    Poesia Tem Graa?Por Jos Danilo Rangel

    Bistr da Floresta, foto : Michele Saraiva

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    45/54EXPRESSES! Junho 2012 | 45

    impresso, da pose, o outro tipo pretende dominaras conceituaes a partir da gratuita exibio deconhecimento e sosticao, pedantismo.

    Imaginemos um debate. Iniciemos com oprimeiro tipo de deesa. Ela no iria muito distante,um dos debatedores comearia, claro, com umaarmao, um dogma, que poderia ser: Poesia para

    idiotas. O segundo debatedor ento, retrucariacom a negao, que no undo seria a mesmo rasecom um no no meio, ou no comeo, ou nos doislugares: No, Poesia no para idiotas!. E a, a coisa

    vai esquentando: sim, acrescenta aquele, sim,para idiotas, o que causaria um no, no no, paraidiotas no rival, em pouco, estaramos ouvindo, sim,no, sim, no, sim, no... at os humores chegaremnum grau de azer os dois rolarem no caroo. Poetasbrigam, nem sempre, mas brigam.

    Agora, imaginemos um debate acontecidosegundo os parmetros do segundo modelo dealienao, ele comearia assim, Pessoa, nos revelaque segundo as caractersticas da modernidade, o quese pode azer em relao ao neo-platonismo alienantenas questes concernentes poemtica classicista esua temtica, toda a Poesia nunca. Ao que o outroretrucaria: Elementar, contudo, um autor maisatual, deenderia que nunca tradicional demais eque elementos do discurso marxista acabariam porrepresentar um sempre dialtico e contnuo em

    relao Poesia, que se estenderia at o nal dostempos. Pode ser, retomaria o primeiro, mas no isso o que nos diria Goethe, e em pouco teramosum debate mais ou menos assim: Freud, Jung,Nietsche, Machado de Assis, Marx, Proust, o queseria, na verdade, apenas uma orma mais complexado primeiro debate.

    Nos dois casos, como se posicionar? Naverdade, s o que se pode azer isso, se posicionar.Concordar ou discordar, pensar que bom - neca!

    Por isso importante conversar, debater, exporpensamentos, no para que ele prepondere comodogma, mas exatamente para interagir com outrosconceitos e, a partir dessa interao, serem passveisde melhoria. pra isso que estamos aqui.

    Esboo para uma teoria da leitura

    Uma parte de mim s vertigem

    Outra parteLinguagem

    raduzir (se)Uma parte na outra parte

    - Questo de vida ou morte -Ser Arte?

    Ferreira Gullar

    Para Gullar, expressar, azer Arte, e porextenso, escrever, traduzir o que vertigem parao que linguagem. Parece-me que temos muitasoutras teorias a respeito do expressar, do escrever, porextenso, mas, e do ler? alvez tenhamos tambm, no

    sei... Acontece que parei para pensar sobre o escrever,passei ento para o ler e cheguei a uma concluso.Acredito que ler o movimento exatamente inversoao escrever. Quero dizer com isso que: se escrever traduzir a vertigem para a linguagem, ler traduzir oque linguagem para o que vertigem. Considerando,claro, uma boa leitura. Na verdade, no qualquerleitura assim. Com a ressalva de que nem toda leituranos alcana seno a parte t de sacanagem comigo?.

    Partindo deste entendimento, ser mesmo

    possvel alar com um pblico que no tem a partelinguagem sucientemente desenvolvida? Sim. Poiso desenvolvimento da parte linguagem ca a cargodo poeta. E se alo de desenvolvimento, no alo,entretanto, em sosticao gratuita, ou rebuscamento.No digo, tambm que sosticao e rebuscamentono sejam importantes na Poesia, so sim, mas de ummodo especial. Na Poesia preciso sosticar tanto,rebuscar tanto, aprumar, premeditar ao ponto extremode parecer simples e espontneo. Como o ourivesbilaquiano, em Prosso de F, preciso, minucioso,delicado, senhor do prprio ocio. Cabe ao leitor,estar de olhos e ouvidos atentos para entender sobreo relevo da jia que lhe exposta e a desconanaessencial de que o ouro nem sempre legtimo. Uma

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

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    boa poesia, um bom poema, alcana a todos, capazde lhes alar! Chega s cordas ntimas de cada um elhes tange, bem ou mal, mas tange. Pode ser comouma pedra jogada sobre um lago, pode ser como um

    vento.Realmente, estou poeta hoje!Para haver a verdadeira relao entre poeta

    e pblico, aquela quando eles se comunicam, contudo,no se pode prescindir de intimidade. Estou alandode intimidade na acepo no donruanesca do termo.Falo daquela sensao de proximidade entre pessoasque se conhecem h tempos, entre irmos, entre lhose pais, que mesmo naquela poca que no se bicam,reconhecem-se, sabem quem so uns aos outros, seumodo de ver e pensar o mundo, seu modo de senti-lo e de reagir a ele. Falar sobre temas, sobre valores,sobre ideias e ideais, compartilhar isso, o que nosaproxima das pessoas e nos torna capaz de entend-las. E desse entendimento que tanto precisa a Poesia.

    Um dia recitei Augusto dos Anjos parauma amiga: Eu, lho do carbono e do amonaco,monstro de escurido de rutilncia, soro, desde aepigneses da inncia, a inuncia m dos signos dozodaco... Ao que ela disse: Eca! E passou a discorrersobre esses poetas sempre tristes, sempre de mal como mundo. Claro. Faltava o contexto. Ela no sabia porque passou o paraibano magrelo para escrever do jeitoque ele escreveu. No podia portanto saber autntico

    o que ele expressa, muito dierente de um grandenmero de poetas que inventam dores e que s sabemescrever como aqueles que sorem.

    No sei se estou sendo entendido. Voudizer de outra orma: preciso dar ao pblico dicas,motivos, intenes, anseios, pois com essas outrasinormaes que a comunicao vai acontecer, quea intimidade vai se estabelecer e a Poesia vai deixarde ser resultado de nada e ser produto de algum,expresso de algum. Sempre alo um pouco sobre as

    minhas poesias antes de declam-las por isso. Apesardas crticas que recebo, por no deixar o leitor decirarpor si mesmo do que estou alando, a maior parte dagente que me ouvi no acha ruim. At gosta quandoexponho os motivos e os interesses de uma poesia.

    Por Que No Tem Graa Na Escola?

    Na escola, somos obrigados, de ormamuito sutil, e s vezes nem tanto, a aceitar o trabalhode pessoas mais diplomadas do que ns, pelo simplesato de serem elas mais diplomadas do que ns. Nome entendam mal, eu cresci e hoje, compreendo

    quase pereitamente o valor que deve ser atribudo aesses homens e mulheres que se dedicam aos estudose que, de tanto carem sobre suas escrivaninhas,acabam por batiz-las e a trat-las com grande aeto.Contudo, entretanto, todavia, o que eles pensaram e anecessidade de conormao intelectual, no pode nostirar o direito de pensar, o pouco que seja, sobre aquiloque aprendemos, que lemos, que vemos. Anal, no isso que ainda nos garante um tanto de liberdade?

    Na escola, a literatura no tem graanenhuma, como muitas outras matrias, porqueno se pode pensar sobre elas, esto todas prontase acabadas, cabe ao aluno, aceitar, de outro modo,no vai passar no vestibular e da para o mundo dasdrogas, prostituio e tudo mais um passo. Ao lerum livro, quem no tem uma opinio? Quem noabsorve alguma coisa, uma rase que seja? Ao ler umapoesia que traduz um sentimento, um pensamento,que sintetiza aquele momento de dor ou de alegria,quem no quer ter o direito de opinar?

    Retomando a linha de pensamento

    anterior ( escrever converter a vertigem em linguageme ler o contrrio), como algum vai realmente gostarde Poesia se no pode ter sobre ela posse alguma, seno pode se identicar com ela, entend-la de ummodo seu? Como esse algum vai poder ser atingidoem sua parte vetigem se a parte linguagem estiverde todo desamparada de recursos? Cabe ao leitor,sentar e esperar que aam tudo por ele? - no issoque digo. Contudo, se a Poesia sempre coisa dosoutros, como apenas para os iniciados, encaixotada

    dentro dos limites para ela estabelecida por gente queningum conhece direito, no pode, portanto, tornar-se parte da vida de um leitor, porque tirar seu papelativo na leitura lhe pedir para no ler. O esoro departir dos dois dos, de quem escreve e de quem l.

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    47/54EXPRESSES! Junho 2012 | 47

    Tipos de Poetas

    Mostra-me o que escreves e eu te direiquem s. at comum certa cegueira entre aquelesque, por si mesmos, aprenderam sobre tudo isso quealo e, rompendo as amarras acadmicas, acabarampor se apropriar da Poesia, tanto quanto que cada um

    tome a Poesia para si e depois de a preencher com ascaractersticas que no so dela, mas de si mesmo,tente chamar a sua poesia a Poesia de todos. Isso muito mais simples do que parece.

    Imaginemos um adolescente idealistaque acabou de ler Karl Marx e cou maravilhado. Eletem um corao sensvel e muita hostilidade contrao mundo tal qual o suportamos? Sim? Ento, temosmais um revolucionrio. Aquele cara que participade protestos a ponto de no poder ver uma reuniode pessoas que j pensa que ou discurso socialista,ou uma mobilizao, uma greve. Ele v quatro oucinco pessoas agrupadas e chega j dizendo: issomesmo irmos, rebelar-se justo, vamos l, abaixoo capitalismo, melhor morrer em p, que viver de

    joelhos ou quase isso. Esse passional escrever sobreo qu? Escrever como, escrever por qu? Entendem,meus amigos?

    Outro exemplo, o cara depressivo, aquelea quem a tudo triste, ou dramtico, para esse caraa Poesia no vai aparecer como a possibilidade de

    anunciar dias melhores e as pequenas maravilhasde uma vida dedicada contemplao da beleza domundo. Uma pessoa que tenha uma espiritualidadedesenvolvida, que se acredita em contato ou em buscapelo contato com as oras do alm, e sobre o terceiroolho e mistrios congneres, escrever (sim ou no?)sobre os enmenos naturais segundo a perspectivacientca? Nunca!

    No h problema nenhum em usar a Poesiapara se expressar, para expressar as prprias crenas,

    entendimentos, esperanas, tristezas e tudo mais. Isso at uma das coisas que torna a Poesia atraente a estesespritos cheios de vontade de dizer algo. O problema haver quem no entenda a Poesia como meio dedizer que pode ser usada para qualquer m. Porque

    exatamente a, que se inicia a supresso das outraspossibilidades, das outras perspectivas. O mundo um grande carnaval de circunstncias onde muitasmsicas dierentes so tocadas ao mesmo tempo, impossvel, portanto, que todos dancemos do mesmomodo.

    Funes da Poesia

    No dicil concordar comigo que cadaum vai atribuir a uno que mais lhe parecer cabvel Poesia. O revolucionrio vai dizer que a Poesia servepara rebelar, para denunciar o Estado opressor e quese no or assim, no Poesia. Da mesma orma odepressivo vai denunciar os males da verdade e doamor, deender que Poesia para lamentar a vida,se no tem lamento, no Poesia. Escrevia a Poesia aseguir pensando nisso:

    O que da Poesia?

    No prprio da PoesiaNem iluminar,Nem abrir portas,Nem denunciar,Nem ensinar- Como j ouvi dizer.

    Ela no lmpadaNem chaveNem jornal,Nem livro didtico.

    Prprio da Poesia expressar.E a cada expressoQue se deve caracterizar.Se o que uma PoesiaExpressa luz: iluminar,Se chave: abrir portas...

    Acho que ui claro.

    A Poesia para expressar, como, quando,onde, por qu, pra que e pra quem so questes comas quais cada poeta vai ter que lidar. De novo, deixo

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    48/54EXPRESSES! Junho 2012 | 48

    claro no haver problema em usar a Poesia para umdeterminado m. Por isso que nos apropriamosdela, para tornar possvel a ala que no se alacotidianamente, o registro do que bom, ou mal, adeesa de uma ideia e qualquer que sejam os anseiosque procurem orma. Problema limitar a Poesiasegundo os prprios pressupostos e querer que ela

    seja sua imagem e semelhana em todos, aindamais considerando que todos tem uma imagem esemelhana bem dessemelhantes.

    Sobre isso posso alar como leitor e comoescritor. Eu era como todo bom idiota diante da Poesia,ou seja, acreditava que ou ela alava de amor, ou alavade tormento. Simples assim. O resto, se existia, eu nosabia e nem queria saber. Quando ela comeou a azersentido para mim, ela surgiu como a possibilidade dedizer o que de outra orma no podia ser dito (era isso oque aziam os poetas que eu lia). udo o mais, era lixo.Ou o poema continha um entendimento sobre algo,uma mensagem, um recado, ou eu no consideravaPoesia, era extravagncia bem verbalizada. Frvolo dizer as minhas preerncias naquele primeiro tempode leitura, mas vou diz-las: Cames, Bocage, Bilac,Goethe, dentre outros. Fui conhecendo, entanto,outros autores, lendo a seu respeito, sobre o seutempo (queria de verdade, entender do que queeles estavam alando) e assim, acabei me ligando naparada: cada um tem a sua prpria busca potica, a

    sua vibe. Assim, z as pazes com Pessoa, Drummond,Gullar, Ginsberg, dentre outros.

    Como escritor, oi mais cil. Quandocheguei na Poesia e disse: t am? E ela respondeu:claro, por que no?, tomei-a em meus braos e,porque ela era ainda muito dura, metricada, tinhaum ritmo muito regular, clssico, e a cintura de umrob, quebrei-a, sem delicadeza, transormei-a nobarro primacial, passando a model-la como queria,como ansiava, para alar de tudo o que me tornava

    ridculo em determinados crculos e genial, emoutros, para corresponder s minhas nsias, paraazer transitar o que de outra orma no transitaria.Com isso, a concluso veio de graa: Espera a! Se eupeguei a Poesia e z dela o que eu queria, por que acho

    que esse um direito apenas e todo meu? A, umaverdadezinha surgiu muito simples e bonita e dissecomo uma criana diz: No !

    No ! entendem?

    Modo Poeta de Ser?

    Outra coisa muito negativa caracterizara pessoa pelo ocio que ela exerce. O cidado trabalhanuma borracharia (reparem no ), portanto,borracheiro, da mesma orma, aquele que trabalhacom Poesia poeta, notemos que o uso da lnguacarrega signicados. Se armamos que algum e no que trabalha com isso ou aquilo, estamosdescaracterizando a pessoa para caracterizar o papeldesempenhado na sociedade. Quem quer ser vistocomo o estudante? O roqueiro? O emo? udo bem,algumas pessoas querem, mas acredito que a maioriaquer ser vista em suas curvas e retas com o mais altograu de delidade. Quando eu digo que sou poeta,no estou apenas dizendo que escrevo Poesia. Pelomenos, no assim que se entende. Ser poeta tersensibilidade aguada, ser um pouco desligadodas coisas do mundo, ser louco e livre, ser triste edesbocado, e por a vai. Poeta sore preconceitos. Umanoite dessas, encontrei amigos de outros tempos e umdeles me alou:

    - Z, tu poeta agora? Que boiolagem essa?

    H uma personalidade atribuda ao poeta,isso reduz a leitura da pessoa, do algum que estusando a Poesia para se expressar, empobrece, porconseguinte, o entendimento do que ala. Rtulosso assim. Basta, entanto, uma pequena olhada entreos poetas que temos aqui, eles tm personalidadescompletamente dierentes. Se algum a, estiver amde ser poeta, no esquente em caber dentro da caixa

    preconceitual, mire em escrever Poesia. No existeum modo poeta de ser, existem pessoas com seusmodos de vida onde se inclui a produo de Poesia.Pessoas com anseios diversos que, dentre eles, estorespondendo ao de expresso.

  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    49/54EXPRESSES! Junho 2012 | 49

    Poesia, Modo de Falar e de Ser

    Passei por tanta coisa na vida, que acabeipor me tornar muito echado, merecedor at daalcunha de homem de lata. Acontece que quando voce sua amlia chegam ao momento de comemorar terdois reais para comprar um quilo de arroz, voc tem

    que tomar uma deciso. A deciso que tomei oi serorte. Desculpem a indiscrio, mas este ato sintetizapereitamente uma poca da minha vida e explica porque acabei me tornando o homem de lata. Um dia,muito tempo depois, alis, encontrei uma menina,ela tinha 15 ou 16 anos, ou 17 (nunca lembro dessascoisas de idade), e passei a requentar a casa dela.Passvamos horas conversando. Eu gostava tanto deestar com ela, que uma vez ui andando do bairroJardim Ipanema at a casa dela, no Nova Esperana.Acabamos namorando. Falei com os pais dela e tudo.

    Como j ouvi Lulu Santos cantar ela meaz to bem, que eu tambm quero azer isso por ela,era exatamente isso que eu sentia. inha que ser algoespecial. Sabendo que ela gostava de sonetos, anal,ela que me emprestou o primeiro livro do Cames,decidi que escreveria um para ela, e escrevi, depoisde ler at a exausto os sonetos do grande caolholusitano o que explica muita coisa sobre a linguagemutilizada, a metricao e o resto. A verdade que elano entendeu direito do que eu estava alando e eu

    ainda lutei uns dois anos com esse soneto tentandoazer caber nos 14 versos tudo o que eu queria lhedizer, tudo o que eu sentia por ela, quanto bem ela meazia. Sem entender o que eu dizia, mas gostando dogesto, seus olhos brilharam daquele modo do cinema.Somente muito mais tarde eu entenderia que so osgestos os verdadeiros indicativos do aeto, o estar

    junto todo dia, o prprio azer de todo dia o quemelhor diz sobre nossas emoes.

    Mudam-se os tempos, mudam-se as

    vontades: o tempo mudou, as vontades mudaram,muitas delas, mas no todas. Daquela experinciacou o entendimento de que eu podia alar atravsda Poesia, e alei muito tempo, apenas atravs dela.O ponto que, at hoje, quando me sento diante do

    computador, ou pego um caderno e um lpis, paracomear uma poesia, encontro uma orma de serinteiro. Entendem?

    O processo se d em duas etapas.Primeiro, h um momento onde me encontro comoum realizador, como um inventor. Quando pequeno,tentei construir um megazord ( o rob gigante dos

    Power Rangers), no consegui, evidente, Outromonte de cacarecos, contudo, eu ui capaz de construir.Na Poesia, o mesmo prazer, embora a composiotenha uma engenharia e disponha de mecanismose de um erramental bem diversos daquela outraengenharia que eu praticava, sempre que vou escreveruma poesia, sempre que a vou estruturar, sinto omesmo gosto - desenvolvo algo.

    A segunda etapa tem mais a ver como expressar. Durante muito tempo, me echei de talmaneira a ponto de no conseguir transmitir aeto,to envolto com o cotidiano e de lutar com ele todosos dias, acabei perdendo habilidades de comunicao.Na Poesia reencontrei essa possibilidade. Da, que,depois de apresentar uma poesia a algum e sentir queos versos de alguma maneira o tocaram, algo que meleva a continuar escrevendo.

    De alguma orma, o azer Poesia,ultrapassou o azer Poesia e acabou por inuir emmuitas das minhas caractersticas, pois a Poesia exigeque eu pense, que organize, que desenvolva, eis a

    outra grande graa dela. alvez no que muito claro,espero que a Poesia a seguir esclarea um pouco maisas coisas.

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  • 7/31/2019 EXPRESSOES_11

    50/54EXPRESSES! Junho 2012 | 50

    Com Poesia no se compra po,Com Poesia no se compra carne,Nem sapato, nem camisa, nem nada.

    Nunca ouvi alar de uma promoo assim:raga uma Poesia bem bonita

    E ganhe dez por cento de desconto!

    Nunca ouvi da boca de um taxista,Ou de um garom, ou no caixa dosupermercado: a dinheiro, carto, ou Poesia?

    No conheo ningum que tenha abonadoA alta no trabalho dizendo:Chee, ontem no pude vir,Estava escrevendo uma Poesia,Mas t aqui, t pronta.

    No sei de nenhum proessorQue tenha aliviado depois de ouvir:Proessor, eu at tentei, mas a PoesiaNo me deixou terminar a tempo.Ela cou e ainda est me puxandoPelas orelhas...

    No sei de ningum que tenhaomado uma Poesia para dor de cabea,Ou para insnia, ou para outro mal qualquer,No sei de ningum que tenhaMatado a sede ou a ome com Poesia,Nem de algum que tenha consertadoO carro, a bicicleta ou qualquer outra coisaCom uma Poesia.Nunca ouvi rases assim:Calma, vou ali buscar uma Poesia.Calma, ainda temos a Poesia.No h motivo para pnicoEu sempre trago uma Poesia comigo.

    Contudo, uma boa PoesiaPode nos alar de qualquer coisaE quando queremos ouvir,Isso tem importncia.

    Uma boa Poesia aconselha

    E quando estamos perdidos,Isso importante.

    Uma boa Poesia capaz de nos mostrarQue no somos os nicos a pelejar pelos diasE quando soremos,Saber disso importante.

    Uma boa Poesia tem o poder de inquietar,De consolar, de sossegar, de desassossegar,De indagar, de descrever, colorir, descobrir,

    De trazer para ora, ou levar para dentro,O que por outro meio no transitaria.

    A Poesia capaz de dizerO que de outra orma no seria dito,Ela revela o que de outra ormaFicaria escondido,

    Proclama o que outra orma seria silncio.

    Mas eu entendo a pergunta,Se a Poesia s capaz disso,De alar ao sujeito, de alcanar o sujeito,Qual mesmo a sua serventiaNum mundo cada vez mais prtico,Ca