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  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    1/55

    E X P R E S S E S !Mais que dizer - transmitir. Ed. 08

    B.O.C.A.NO DO BRINCA, DO VERA!!!

    ISSO POESIA?O DESAFIO DAS MSCARASARTE E PROGRESSO EM RO

    JOS DANILO RANGEL

    RAFAEL DE ANDRADEJRIA LIMACTIA CERNOVCSAR AUGUSTODOM LAURO

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    2/55EXPRESSES! Maro 2012 | 02

    EDITOR:Jos Danilo Rangel

    CO-EDITORES:Vanessa Galvo

    Rafael de Andrade

    CRTICA DE TEATROJria Lima

    COLABORADORES:Avener Prado - Foto (Crnica)

    Ronaldo Nina - Foto (Retrato e Poesia)Isabel Almeida - Foto (EXTRA)

    Douglas Digenes - Foto (EXTRA)Luana Lopes - Foto (EXTRA)

    Alyne Dias Reiche - Foto (Poesia)Ctia Cernov - Poesia

    Csar Augusto - PoesiaDom Lauro - Poesia

    B.O.C.A

    e x p e d i e n t e

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    3/55EXPRESSES! Maro 2012 | 03

    NDICE

    Prembulo..................................................................04Tiro na Cabea..................................................................06Arte e Progresso em RO...........................................12Pequenos Pssaros: Arte, Ideologia e Liberdade.................14Oswald de Andrade e os90 Anos da Semana da Arte Moderna.............................................17O Desao da Mscara............................................................2210 Dicas de Leitura Para Uma Vida Saudvel...........................25Rosa Matiz........................................................................................28Luzes do Abismo......................................................................29Abostagens Psico e Lgicas...........................................................30

    Curvas em Linhas Retas..............................................................31Banzeiro......................................................................................32Retrato: B.O.C.A - No do brinca do VERA!!!...............33ISSO POESIA?..........................................................................48Do leitor................................................................................................54Ao leitor...............................................................................55

    N m e r oA n t e r i o r

    OswalddeAndrad

    e

    Eos90anosdas

    emana

    deArteModerna

    RafaeldeAndrad

    e 17ODes

    afodasM

    scaras

    JriaLima 22

    B.O.C.ANOD

    OBRINCA,

    DOVERA!!!

    JosDaniloRang

    el 33

    http://http//pt.scribd.com/doc/80187940/EXPRESSOES-07
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    5/55EXPRESSES! Maro 2012 | 05

    p a r c e i r o s :

    Arte arte, mas um bife um bife...Joe Sacco

    Para acessar s clicar sobre a imagem.

    http://expressoespvh.blogspot.com/http://www.facebook.com/pages/Revista-EXPRESS%C3%B5ES/219207738122421http://dosedeatmosfera.blogspot.com/http://douglasdiogenes.blogspot.com/
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    6/55EXPRESSES! Maro 2012 | 06

    Conto

    PRLOGO.....................................................................

    Por mais que tudo em casa continuamentemude, sempre que voltamos para ela, sentimos comofosse a mesma casa que deixamos ao sair. Todos osdias, seja no trabalho, na escola, na faculdade, tudodentro e fora de ns muda, mas o senhor da mudana,s vezes, muito paciente, vai pondo e retirando,entortando e endireitando tudo de forma to tranquilaque geralmente no se faz perceptvel. A moblianova acrescenta um ar de seriedade sala, umaparede azul melhora o clima e transforma o quartoantigo num novo quarto, mesmo assim, chamamosainda de meu quarto e por mais que percebamos aspequenas alteraes daqui e dali ainda temos como

    o quarto de sempre. Tambm as pessoas ao nossoredor mudam cotidianamente, a cada coisa novaque vivem, a cada novo pensamento, so semprediferentes, adiante, do que eram antes. Contudo, preciso algo brusco, algo imediato e contrastante praque percebamos a transformao de um em outro epara que tal arranque de nossas bocas um nossa!,ou um caramba!, como admisso da diculdade de

    declarar o que h agora como coisa idntica quehouve. Seria uma dessas a exclamao de quemvisse Bob Esponja depois do tiro. Diante do novoBob Esponja, com certeza qualquer um iria largarum grande e estarrecido qu?. E duvidar com forade se tratar da mesma e exata pessoa. Anal, as

    pessoas no mudam de uma hora pra outra.Mudam?

    Tiro na Cabea Jos Danilo Rangel

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    7/55EXPRESSES! Maro 2012 | 07

    1 BOB ESPONJA

    Bob Esponja era mais uma unidadeentre as milhares, mais um dos lotes e mais lotes de

    ninguns que sem serem capazes de encontrar umlugar no mundo, cam com o que sobra. A praa do

    half, naquele tempo, era isso: o que sobrava. Apesarde andar sempre com um skate velho preso ao sovacoe com a vestimenta adequada a um skatista, no sepodia dizer que ele era mais que algum que andavacom um skate velho preso ao sovaco e que se vestiacomo um skatista, embora algumas notcias, muitoraras, zessem circular as suas irrisrias tentativas

    no esporte. Vinte e trs anos de idade, matriculado

    na escola Castelo Branco, mas nunca visto por l,seno da vez em que houve um arraial.

    De sua rotina das cinco da tarde pra trsno se sabia nada na praa; se tinha ou no famlia,do mesmo modo era ignorado. Sabia-se, entretanto,que, com a margem de erro de meia hora, paracima ou para baixo, s dezessete horas de todas astardes, de segunda a segunda, ele visitava a praado half, mantendo tempos de permanncia variados,chegando s vezes, (principalmente, nas noites de

    sexta e sbado) a madrugar por ali. No sem fazernada.

    De tudo o que se podia imaginar que iriaacarretar algum prejuzo a Bob Esponja, seu amorpela bebida e por maconha, os lastimveis hbitoshiginicos e sexuais, a frequncia em lugaresperfeitos prtica de crimes violentos, foi sua maniade fazer brincadeiras sem graa com qualquerpessoa com quem achasse ter intimidade o que lhecausou o maior dano na sua vida at ento.

    2 COISA DE AMIGO

    Os homens de nossa sociedade,vtimas de seus prprios preconceitos machistase por eles impedidos de manifestar afeto de formadireta, encontram maneiras diferentes de externaro sentimento de amizade. A mais comum delas oesculacho elogioso. Quando alcanam certo nvelde intimidade, os homens passam a se ofender,mas carinhosamente. Eis um fantstico artifcio que

    ao mesmo tempo que satisfaz a obrigao de sergrosseiro sana a necessidade de expor carinho.

    Quanto mais ntimos forem os amigos,mais ofensivos sero os termos com que se

    tratam. Ressalto, entanto, que para o esculacho,num dado relacionamento amistoso, passar deofensivo elogioso preciso uma longa fase deinterao, durante o qual os afetos aumentam e aspalavras, antes dedicadas mtua esculhambao,so esvaziadas do contedo pejorativo e, ento,preenchidas com signicados fraternais.

    Bob Esponja no sabia disso.Como todas as quintas-feiras dos ltimos

    trs anos, logo que pisou a praa, sapecou ao ar um

    grande e sonoro palavro. No era sua intenoofender, estava somente cumprimentando, a seumodo, um daqueles que somente ele mesmo achavaser seu chegado. E a, lho da puta, berrou a

    algum que estava do outro lado da praa, ou queele pensou que estava, pois, apesar de o total deolhos do grupo de pessoas do outro lado da praa terse voltado prontamente em direo fonte do grito,nenhuma das mos fez qualquer sinal que indicassereconhecer o gritante. Bob Esponja era insistente e,

    antes de chegar ao coreto, que cava bem no meio

    da praa, j tinha cumprimentado cinco ou seisindivduos. Sempre sem resposta.

    3 EU TENHO UM 38 E VOCS NO TM!

    Titela tinha quinze anos, no mais queisso. No se sabia se estudava, se trabalhava, ondemorava ou com quem. Sabia-se que s vezes ia praa do half fumar maconha e planejar pequenos

    furtos. Comeou roubando bicicletas, o que lherendeu as habilidades e os contatos para comeara invadir casas, atividade na qual tambm se tornoubem sucedido conseguindo realizar um dos maioresobjetivos da sua vida: comprar uma arma. Noqualquer arma, mas um 38. No sabia por que tinhaque ser um 38, tinha tara. Com o 38 ele melhorariao negcio passando dos pequenos furtos einvases, a assalto mo armada, a no precisariade ningum mais pra expandir os negcios, quisessemeter uma ta no precisaria esperar por fulaninho

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    8/55EXPRESSES! Maro 2012 | 08

    nenhum, pegava o bicho e saa pra caa.Como esporadicamente abastecia a

    praa com maconha, outra fonte de renda, conheciaa maior parte dos maconheiros dali e at que

    mantinha uma boa relao com todos, pelo menosat onde quem vende se relaciona bem com quemcompra. Com quase todos, na verdade. Mesmo semnunca ter dado nenhum motivo para aquele tal deBob Esponja, um z buceta, pensar que era seuchegado, Bob Esponja tratava-o como fosse. Mastudo tem limite. E Titela estava decidido a dar um seliga, Man no Bob Esponja. A oportunidade estavachegando.

    - l, o comdia do Bob Esponja. O

    moleque nem se liga, mermo...O pessoal em torno de Titela, concordou,

    rindo aquele riso estpido e convulsivo de quem estcom a cabea cheia de fumaa.

    - E o lho da puta nem se toca...

    - Ih, Titela, te liga, ele ta vindo a, he hehe he...

    - Vai pegar uns tiro... respondeu Titela,logo depois acompanhando a turma na gargalhadaidiota e exagerada.

    - Como que tu vai dar um pipoco nele,tu nem tem uma quadrada nem nada...

    - Tu t por fora disse Titela, arrastandoa voz como as palavras estivessem grudadas nagarganta e no quisessem sair comprei o trs oitodo Peixe, t l o bicho, s ouvindo conversa...

    4 DIA DE AZAR

    Bob Esponja, que estava no coreto

    olhando os skatistas tentarem manobras, ora ououtra vasculhava a pequena quadra deteriorada queera a praa do half, dedicando a mais slida atenos menininhas vindas de todas as escolas daredondeza, do Carmela Dutra, do Duque de Caxias,do Castelo Branco. Um grupo de jovens reunidos emtorno de um garrafo de vinho lhe chamou a ateno,mas o fato de no conhecer ningum deixou-o umtanto receoso. Devia ir at l? - talvez mais tarde,pensou. Mais adiante, um grupo se contorcia rindocom os ossos e exalando muita fumaa e, no meio

    deles, Bob Esponja reconheceu algum e resolveu irl. Bob Esponja era um desses caras que nunca tmdinheiro para nada, e alimentam os prprios vciospedindo dos outros, conhecidos como serres.

    - A, Titelo, como que t muleque? gritou Bob Esponja, sentando-se no banco bem dolado de Titela.

    - Porra mermo, vai te fuder respondeuTitela J vem querer serrar o beque, p te liga,vaza, vaza, vaza...

    - Qual que ? quis saber Bob Esponja,levantando-se e dando um pequeno tapa na cabeade Titela Te liga, s porque t vendendo umbagulhinho a, t se achando o doido?

    O pessoal comeou a bagunar:- H h h, Titela, cad a tua moral?- Porra mermo, vaza, se no quiser

    pegar um balao na cuca, vaza! ameaou Titela.- Que tiro que nada, vai tomar no cu.Titela se ergueu do banco da praa

    e, fazendo a mo de arma, tocou a testa de BobEsponja com ponta do dedo indicador e perguntou:

    - Quer pegar um tiro, mermo? s falar.

    5 NOTCIA

    Na sexta-feira, uma imagem registradapor um celular tornou muito popular o programa deTV Planto de Polcia. Na gravao, um molequemagricelo corre at o coreto da praa do half e,chegando l, tira um revlver calibre 38 das calas,aponta em direo a outro e, sem qualquer hesitao,puxa o gatilho.

    Bang! A imagem foi passada e repassada

    umas quinze vezes. O moleque, conhecido comoTitela, erguia a mo armada em direo cabeado outro, de repente um bang! acontecia e eraimediatamente acompanhado pelo movimento damo do Titela indo pra trs com o baque da arma, e acabea do rapaz identicado como Rodrigo Moraes

    fazia quase o mesmo movimento, mas em sentidocontrrio.

    Bang, bang e bang!Vamos ver de novo!Passa mais uma vez!

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    9/55EXPRESSES! Maro 2012 | 09

    Mais uma vez! A notcia dava conta de que Rodrigo

    Moraes, mais conhecido como Bob Esponja, avtima, estava no Joo Paulo II, e a verso dos

    acontecimentos, alm de revelar que o praticante docrime era menor de idade, dizia tambm que estavaforagido.

    Na praa, a notcia que circulava era a deque, se escapasse, Bob Esponja ou caria aleijado

    ou doido.

    6 VASO RUIM

    Duas semanas depois do acontecido,

    era quinta-feira, e a praa do half funcionavanormalmente. No half-pipe, os skatistas tentavamfazer suas manobras, tambm alguns cross, osnovatos, e rollers. O resto era um pessoal mal vestidosentado em volta de uma garrafa de pinga misturadacom refrigerante, os estudantes em geral e seusuniformes, e a gente de nem sempre matizando comseus rostos desconhecidos a mesmice do lugar.

    - Aquele ali no o tal de Bob Esponja? perguntou um biker ao ver o vulto que subia praa

    pela Duque de Caxias.- T doido? O Bob Esponja uma hora

    dessas deve t abraadim cum diabo, h h h... respondeu outro, rindo sozinho da prpria piada.

    - ele mermo um terceiro sentenciou,entrando na conversa. como minha v dizia, vasoruim num quebra.

    7 SOCORRO

    A me de Rodrigo Moraes, dona SocorroMoraes, evanglica moderada, mas convicta, sentiumuita culpa com o fato de ter experimentado umtipo de alvio quando soube do que acontecera aolho. O pastor j havia feito essa revelao para

    ela. Uma tragdia est prxima, ele falou. Ela,preocupada com isso, levou o lho igreja pra que

    ele conseguisse o livramento, a misericrdia deDeus. De tanto ter trabalho com Rodrigo, Socorrosabia que a profecia de tragdia s podia ser algoque aconteceria a seu lho delinquente. Mas, estava

    ali a soluo: era s ele aceitar Jesus e Deus iria agirna vida dele.

    Mas, em vez de aceitar Jesus,Rodrigo piorou. Comeou a andar com sujeitinhos

    malamanhados e a lhes imitar, a usar roupasrasgadas, a ter modos de vagabundo, e o pior:passou a blasfemar dizendo que Jesus no tinhapoder nenhum e no ia fazer nada na porra da vidade ningum.

    Quando soube do tiro, Socorro sentiu amo de Deus operando em sua vida e na de Rodrigo,anal, se o lho morresse, era deciso de Deus, se

    sobrevivesse, com certeza no ia continuar do jeitoque estava. Era quase prazeroso o pensamento.

    Quase feliz. Por isso, Socorro sentia culpa. Nodevia, como me, estar angustiada com a situaodo lho? Talvez, no, ela pensava, anal, ele foi

    quem procurou chegar at ali, e, o melhor de tudo,tudo caria bem.

    Chegando ao hospital, Socorro no pdever o lho de imediato, teve que esperar enquanto ele

    saa da sala de cirurgia, sem saber mais que o fatode ele ter levado um tiro e estar naquele momentorecebendo atendimento. Ela esperou e esperou e

    esperou. Quando nalmente foi levada ao encontro

    do lho, ele tinha a cabea enfaixada e dormia o

    sono dos dopados por sedativos.No quarto, onde somente um feixe de

    luz passava entre a porta semi-aberta e a parede,Socorro pegou a mo do lho e orou, primeiro

    agradeceu a Deus por haver um leito disponvel paraRodrigo, depois, pela vida do lho e ento, rogou,

    aos soluos, que daquele terrvel acontecimentoderivasse o milagre do renascimento e Rodrigo fossecurado. Tudo pelo bem do lho.

    8 AINDA O MESMO

    Voltando pra casa, Rodrigo estranhouos excessos da me, mas no reclamou. Reclama-se geralmente, do que nos traz um mal, do quenos traz um bem, no. Socorro limpou a casa, fezalmoo, janta e, contrariando a rotina, no passou odia resmungando coisas nada a ver ou mandandoRodrigo deixar de ser um encostado e procurar

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    10/55EXPRESSES! Maro 2012 | 10

    trabalho. Rodrigo no sabia o motivo, a me estavafeliz. Ela varria a casa cantando os hinos da igreja,era como se ela tivesse ganhado qualquer coisa.Rodrigo no sabia o qu. Ela sabia.

    Socorro sentia que agora as coisas iammudar, sentia que o lho ia tomar rumo na vida e

    naquele e nos dias que se seguiram agradeceu aDeus, pelo milagre recebido. Passou a ir igrejacom mais frequncia, a doar com mais fervor. Novia a hora de subir ao plpito para contar o milagrerecebido, antes porm, o lho lhe tirou o sonho:

    - Me, t saindo...- Tua vai aonde, menino?- D uma volta...

    - O qu? quis saber Socorro, realmenteaterrada com a ideia do lho. Tu doido, ? Acabou

    de se estropiar e j quer voltar pra l? Mas de jeitonenhum.

    Socorro no podia acreditar, como queaquele teimoso desgraado no tinha aprendido alio, s podia ser coisa do diabo, porque o trastetinha acabado de levar um tiro na cabea e pareciaque nada tinha acontecido. Nada. Era o mesmovagabundo de sempre, querendo ir pra porcaria de

    praa com os comparsas fazer nada que preste.Como podia? Isso no estava certo. Que diabo eraaquilo?

    Enquanto a me se perdia em suasespeculaes, enquanto ela tentava entender oque estava acontecendo e j ia se despedindo dotestemunho de vitria no plpito, Rodrigo olhava noespelho os pontos no topo da testa e o semicrculofeito ali para receber os pontos. Olhou e riu. Ps umbon sobre os pontos e saiu.

    9 IGUAL, MAS DIFERENTE

    Na praa, Bob Esponja, explicava pelamilsima vez que no tinha morrido, estar ali pareciano ser evidncia suciente para os incrdulos. O

    tiro pegou de raspo, no foi nada srio. O maisperigoso foi a perda de sangue e o local do impacto.Ele dizia t de boa e erguia o bon expondo o altoda testa rapado e costurado. At mesmo quem noia muito com a cara do Bob Esponja se aproximou

    pra olhar. Bob Esponja tornou-se a atrao da praa.Aquele era um momento de paz, os head

    bangers no estavam em confuso com os punks,os bikers se limitavam a brigar nas festas de rock,

    quando havia alguma, no mais, no havia muito quever, da e de, realmente, ser curioso algum ter tantasorte quanto Bob Esponja, ele se tornar uma espciede estrela no lugar.

    Bob esponja, que andava sozinho, vez ououtra sendo tolerado por um grupo qualquer, passoua ter o prprio grupo, fora aceito entre os grunges, queera um bando de adolescentes que curtiam Nirvanae viviam com camises quadriculados, a despeitodo calor de Porto Velho. Agora Bob Esponja no era

    mais um vagabundo qualquer, era um vagabundoque sobrevivera a um tiro na cabea. Continuavacom os mesmos hbitos inconvenientes, entre elesa intimidade forada, mas agora, tinha uma bonitacostura no alto da testa para exibir pra todo mundo.

    10 TIRO NA CABEA

    Em pouco tempo, Bob Esponja era outroBob Esponja. Aceito como no fora em nenhum

    outro lugar, nem mesmo ali, em outros tempos,conquistando o seu lugar entre as guras do rol da

    praa, usufrua da glria de ser um ningum, mas umningum que sobrevivera a um tiro na cabea. Pelomenos ali, entre os seus, os grunges, ele tinha umlugar. Abandonou de vez o skate e cou s com a

    maconha, a bebida e aquela velha e grande vontadede no fazer nada com prstimo.

    No fundo de sua mente, entretanto,algo fervilhava, era uma bomba esperando o click.

    Bob Esponja no cansava de contar a histria etodos se admiravam por ele no estar nem a proque aconteceu. E quanto mais contava, parecia quemenos ele se importava. Ele falava da confusoantes do tiro, falava do Titela (nunca mais visto),falava da me, do hospital. O tempo passava eo acontecimento j fazia parte da mitologia dapraa, era uma das narrativas, j ganhava versesalternativas, tanto quanto aos eventos, quanto osparticipantes dele.

    Ento, algo aconteceu.

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    11/55EXPRESSES! Maro 2012 | 11

    11 CLICK!

    Era uma sexta noite como qualqueroutra na praa do half... Bob Esponja recontava a

    histria da sua quase morte, e, como o contadorde estria que havia se tornado, sempre a cadaoportunidade acrescentava ou subtraia algo danarrativa, melhorava o contado. Ora, era a armaque tinha somente uma bala e o azar de ela estarna agulha, ora, era a confuso que ganhava umadimenso maior e uma causa mais bela, no teriaacontecido por conta de um beque, mas porqueTitela tinha mexido com uma estudante e BobEsponja a foi defender.

    Naquela noite, Bob Esponja recontava ahistria com a ajuda de Cara de Mandi. EnquantoBob Esponja fazia o papel de Bob Esponja, Cara deMandi era o Titela.

    - Ei, mermo, te liga falava Cara deMandi, imitando um maconheiro.

    - Como ? Falava Bob Esponja te ligatu, lho da puta, quebro a tua fua todinha.

    - Mermo, t querendo levar um tiro? falou Cara de Mandi, que era o Titela, fazendo a mo

    de pistola e tocando a testa de Bob Esponja com aponta do indicador.

    Click!Bob Esponja arregalou os olhos e de

    repente sua mente foi inundada por uma srie depensamentos e sensaes atormentadores. Eracomo ele estivesse revivendo o momento do disparo,toma lho da puta gritava Titela antes de puxar

    o gatilho, P! - estrondava o tiro. Isso aconteciadentro da cabea do Bob Esponja, do lado de fora,

    ele voltava bruscamente a cabea para trs comoestivesse levando o tiro de novo. P! Ele ouvia. Ede repente, tudo fez sentido. Ele podia ter cado

    paraltico, podia ter perdido um olho, podia ter cado

    com a cara fudida. Um pouco mais pra baixo e eleestaria morto. Morto!

    Num transe, Bob Esponja de repente,via como podia ser, estar babando, vegetando, sempoder nem limpar a prpria bunda, via-se tambmnuma cadeira de rodas, tendo que subir em nibus,impotente, sem poder chutar ningum, seria terrvel!

    Via-se com a cara deformada, como um monstro. Umolho de vidro! Via-se tambm esticado num caixo,branco branco, e o pessoal em redor comendocalabreza e tomando caf, nem a pra ele, morto.

    Morto!De repente a palavra morto, at ento

    vazia de um sentido, estava recheada at a tampa dematerial signicante. Morto queria dizer m, queria

    dizer nunca mais e era tudo aquilo que a me noqueria que ele estivesse. Bob Esponja se via numquase delrio, via-se com a cabea como um macabrochafariz, esguichando sangue. Morto! Poderia estarmorto! Morte era o m! De repente, viu a cara da

    me com todas as feies j mostradas diante do

    que ele ia aprontando na vida. Morte, morte era isso,algo terrvel! Que sorte estar vivo... Morte era o m,

    o m de tudo! Bob Esponja via o Titela, o agente da

    extino, erguer o revlver apontar, um, dois, trs,fogo! Era o m. O m!

    12 OUTRO!

    Depois desse dia, as notcias que

    circularam pela praa do half no entravam emacordo. Uma dizia que Bob Esponja tinha viradocrente, outra que ele tinha procurado e matado oTitela, ainda outra sustentava que ele estava doido eandava por a dizendo que a vida curta e que novale a pena desperdi-la. A certeza era uma s ele agora era uma outra pessoa.

    ....................................................................

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    12/55EXPRESSES! Maro 2012 | 12

    Crnica

    Como introduo, devemos pensar duasideias. Primeiro, a noo de progresso possui duasperspectivas diferentes, a falsa e a verdadeira. Afalsa arma que o progresso chegar para todos

    quando, na verdade, no isto que ocorre. A nooverdadeira arma que o progresso uma forma deexpanso do capitalismo e que gera, inevitavelmente,mais acmulo de capital nas mos da elite, o queacentuaria, segundo Marx, o empobrecimento da

    classe dos trabalhadores e que deveria gerar a talrevoluo da classe proletria que esperamos athoje.

    Em outras palavras, o discurso do

    progresso para Rondnia que viria das usinas,de fato, apenas gerou mais lucro para a elite,aumentando a pobreza dos que j eram pobres emais - a destruio de suas moradias tradicionais,de suas histrias de vida, de suas artes do cotidiano.

    Arte e Progresso Em RORafael de Andrade foto: Avener PradoCai ngua/Tringulo

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    13/55EXPRESSES! Maro 2012 | 13

    Uma parte da populao fez propaganda a favor dasusinas, sabendo ou ignorando o fato citado acima.

    A segunda ideia diz respeito arte esua comunicao com a sociedade. Nos textos que

    redigi sobre arte (em antologias de crnicas, naRevista EXPRESSES! e em outros meios) procureidiscutir a relao entre arte e sociedade. Ao passoque para muitos a arte uma forma de expressoe representao da realidade, penso que a arte uma forma de revelao e libertao dos homensda matrix. Sendo apenas uma forma de enfeitar avida, a arte se torna um instrumento de dominaode homens.

    Um exemplo prtico vivido atualmente:

    enquanto uma boa parte dos artistas de Rondniaescreve sobre o Rio Madeira, sobre os trilhos daMadeira-Mamor, sobre os botos e tudo mais, o queestes mesmos artistas zeram para salvar os trilhos

    e os moradores do bairro Tringulo da violncia quesofrem agora?

    Obviamente, o movimento que surge parafazer mostrar, diminuir os impactos, exigir possveismudanas que est se organizando em volta dosatingidos no bairro Tringulo bem importante e

    no diminuo a importncia desta ao: mas ela apenas um remdio para uma dor que se iniciou,dizem alguns, no sculo XIV, a terrvel expanso damodernidade e mais recentemente, do capitalismo.

    E alguns escrevem sobre o que estocorrendo. A funo de apresentar o que estocorrendo importante, mas apenas uma funo.Um verso qualquer no mudar a situao daspessoas da beira do rio ela mudar a situao dopoeta em si que se tornar porta voz da destruio,

    no sendo vtima, mas privilegiado.No podemos esquecer que uma das

    funes da arte em Rondnia atualmente tem sidoapenas de imprimir em folhas e telas aquilo quetem sido destrudo pelo avano do capital. O riocheio de mercrio, as orestas trocadas por gado,

    os indgenas violentados pelas diversas foras. Mas,ao invs de apenas registrar o que inevitavelmentedesaparecer como que tomado pela enchente doRio Madeira, por que no participar ativamente deuma tentativa de destruio?

    Isso que dizer que, ao invs de sentar emsuas cadeiras e beber seu vinho em suas confrarias,os poetas locais (ou regionais) deveriam se unir paradefender aquilo sobre o que escrevem. Pois no

    uma forma de demagogia dizer que se ama algoquando se espera a destruio do mesmo e depoisse escreve sobre ele?

    Neste sentido, o regionalismo (segundominha leitura do crtico marxista Sodr) sempre foiuma resistncia ao avano do capital em defesado local mas se em Rondnia temos apenas umsentar e assistir e no uma resistncia, o que temosaqui? Um vinhosmo um esperarismo, ou melhor,um portavozismo? Se por regionalismo temos

    apenas o registro daquilo que foi perdido, temo quemais uma vez o regionalismo no seja o suciente

    para Rondnia.Do que adianta cantar o hino todo nal

    de semana, se o Estado est (e foi) sendo violentadopelo progresso. E foi violentado em seus variadosciclos histricos e o que a massa de artistas fez?Formaram academia, casas de cultura, confrarias,movimentos. Em sua disputa interna por organizao,eles nada zeram por aquilo que adoram representar

    em suas penas.Arte deve ser um grito contra, deve ser

    perigosa, deve apresentar o que est sendo feito emtodo o seu processo e os artistas (tomando comoexemplo os artistas revolucionrios de 1848) devemser os porta-vozes da mudana, da preservaodaquilo que amam ou daquilo que dizem serrepresentantes.

    Este um texto de perguntas. E nalizo

    com mais algumas. At quando nossos artistas sero

    mero representantes do que morre? Quando estesmesmos artistas sero defensores do que aindavive? Espero que as perguntas ajudem a obtermosuma resposta.

    ....................................................................

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    14/55EXPRESSES! Maro 2012 | 14

    D3C0D1F1C4NDO

    Jos Danilo Rangel

    Pequenos Pssarosarte, ideologia e liberdade

    UM PEQUENO PSSARO

    uma histria triste. Havia um pequeno

    pssaro, que antes disso era um peixe, e antes ainda, uma

    minhoca. Tambm no sei como possvel. Importante

    que o pequeno pssaro apesar do esoro, no conseguia

    impressionar ningum com seus pequenos voos. A despeito

    do quanto ele desejava e se debatia e se aplicava, seus

    adejos no causavam seno pequenos oh!, e o resto do queele recebia como elogio era aquela cara ngida que sempre

    vemos quando algum sem sequer prestar ateno no que

    azemos, diz amar o que azemos e complementa, no auge

    do descaro: Lindo!

    O pequeno pssaro sentia que merecia mais,

    e por isso se pusera a procurar. Acredita-se que procurava

    maneiras de voar mais alto, com mais manobras, portanto,

    muito mais impressionantemente. E ele voou, e voou e

    voou. Depois cansado, andou e andou e andou. E oi nessas

    suas andanas que encontrou, no o que procurava, masalgo que talvez osse maior. Encontrou um ovo, um enorme

    ovo. Um ovo que por seu tamanho bem que podia ser de

    guia, ou de avestruz. Podia ser. Ento, o pequeno pssaro

    achou um sentido para a sua penosa existncia - seria o

    guardio do ovo!

    Voltando comunidade de pequenos

    pssaros, exausto por transportar o seu sentido da vida,

    anunciou seu achado e convocou outros pequenos pssaros

    para a guarda da preciosidade. Desde este dia, todos

    que vo foresta encantada, podem ver ao lado da casado Saci, bem na beira do Rio onde a Iara vive e lava os

    cabelos, um pequeno grupo de pequenos pssaros ariscos

    e bicudos resguardando o ovo de todo o mal, gralhando

    muito a respeito do tempo da ecloso enquanto executam

    ritos de guerra. Mas, que os visitantes no se deslumbrem

    com a cena a ponto de ignorar as noites rias, quando os

    pequenos pssaros se renem em torno de ogueiras e se

    ressentem de no mais voar alm do permetro denido

    pelo compromisso de proteger o ovo. Lgrimas saem dos

    seus olhos. Eu disse que era triste.

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    15/55EXPRESSES! Maro 2012 | 15

    O ARTISTA: UM PEQUENO PSSARO?

    Em boa parte do que ouo alar e leio sobre

    arte, a palavra liberdade aparece, antes, porm, h todos

    os verbos e expresses equivalentes ao que quer dizerdeve e o que quer dizer proibir, o no pode. A arte

    no para servir o Estado, a arte deve buscar o novo, apaixo, o vcio, a arte no pode se satisazer, ela uma

    constante insatisao, algo alm, ir alm. A arte

    libertinagem, sim, libertinagem. Isto e muito mais ouopor a, dessa ou de ormas ainda menos sosticadas,

    ou mesmo camufadas por detrs de lgicas absurdas epoliticagem mal assimilada.

    Fico cismado, pois, embora no reconhea

    muitas produes como merecedoras do ttulo de arte, econcorde, com um ou at dois dos conceitos deendidos

    nos discursos j reerenciados como a dierena entre

    arte e mercadoria , no sou capaz de entender comopode passar batida a contradio em deender que

    arte liberdade e, no mesmo discurso, tantos axiomas

    coercitivos. Indago: como os artistas, os livres, podemno perceber a contradio to clara, to explcita, a

    quase gritar eisme aqui!, este paradoxo que brinca e

    corre zombando daqueles mesmos que o deendem?Estes artistas, os que deendem a liberdade

    como uma obrigao e anunciam o novo em velhosdiscursos, repetindo o que j oi dito e eito, so

    pequenos pssaros que, em vez de estarem exercitando

    o voo e experimentando novas maneiras de voar,esto protegendo o ovo, mesmo que j desconem

    proundamente de que l dentro no tenha nadica de

    nada.

    OU ISSO OU AQUILO - ISSO ASSIM?

    Os pequenos pssaros so inantis, so,portanto, incapazes de azer sosticadas classicaes.

    Por isso, so tambm, dicotmicos, ou seja, todas ascoisas no Universo so colocadas em duas categorias:

    isso e aquilo. Uma boa prova para o argumento de que

    a perspectiva com que estas crianas olham para a arte

    inantil e dicotmica est no modelo por elas escolhidopara representlas no conronto contra a detestvel

    arte; para contrariar a arte do civilizado, do popular,do vendvel, elas deendem o modelo do brbaro, do

    impopular, do invendvel. Se o usual a ordem para

    representar, eles deendem que o caos um meio melhor

    de representao. Se os outros dizem que o melhor modode se dizer algo dizendo, eles, os pequenos pssaros,

    vo deender que no, o melhor meio de dizer algo carsem dizer.

    Como crianas birrentas que, apenas para

    no atender vontade dos pais, e tomando a birra pormaior compromisso, nada mais so capazes de azer,

    seno desobedecer, assim os pequenos pssaros azem.Para eles preciso vencer o Instaurado, lutar contra o

    Estabelecido. Tudo o que azem, contudo, atacar. E

    a criao, onde ca? Criar seria ento, o meio termo?J ouvi ou li isso por a. No. O meio termo coisa de

    quem est inseguro. A criao a leitura do mundo, da

    vida e tudo mais, e o uso do erramental disponvel paraexpresslo e mais o desenvolvimento de outros meios e

    modos de expresso.

    O QUE UM ARTISTA?

    No meu entendimento a palavra artista temsido usada de maneira muito equivocada ultimamente.

    Hoje em dia, tem servido at para designar qualquer

    pessoa (s vezes, animal) que aparea na tev ou nainternet e aa todo mundo rir. Para os meus pais e uma

    parentada que tenho no Cear, artista qualquer pessoa

    que az algo sensacional. E por a, j retiramos muitagente da lista. O problema que com essa denio

    podemos chamar de artista aquele cara que, depois de

    passar dezoitos horas bebendo, consegue chegar emcasa. Pois artista quem az arte, e arte, pelo menos, para

    o grupo acima, tem o signicado de coisa enomenal.

    Aplaudamos a capacidade do bebum. No podemos,contudo, chamar de arte o seu eito. Chamemos de sorte.

    O interessante do entendimento de queartista quem az arte, como querem meus pais e outros

    meus parentes, que, com ele, pensase um a partir do

    outro. Se posso chamar de arte o que este aqui e aquele

    ali produzem, logo este ou aquele sero artistas. Assim,ca cil: deno o que arte e pronto, tenho denido o

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    16/55EXPRESSES! Maro 2012 | 16

    artista. Arte a cincia da expresso. Logo, o artista o

    cientista da expresso. Legal, n? Mas s chamo a Arte deCincia para sugerir que um modelo epistemolgico,

    o acmulo de conhecimentos. No co, entretanto, por

    aqui, e armo que a Arte uma cincia especial, baseada,no na pretenso de ser limpa de toda nuana pessoal,

    mas exatamente por aproveitar as cores da pessoalidade

    numa mistura de subjetividade e tambm do que objetivo numa relao dialtica.

    Com a soluo apresentada, incauto leitor,

    eis que um problema surge. Se a Arte a Cincia daExpresso, e o artista um cientista da expresso, o que

    ele expressa? A pergunta seria a mesma se eu dissesse quea Arte um conjunto de mtodos para alar. Qualquer

    um perguntaria: E ela ala de qu? E a resposta a mais

    simples de todas de tudo. Pelo menos teoricamente,pois, de ato, ela transmite, ou tenta assumir a uno

    de transmitir o que o artista tem para transmitir. uma

    ideia? Um sentimento? Uma proposta? Uma perspectiva?A arte um como. Pode ser uma msica, um quadro,

    uma poesia, uma animao, por que no?

    A IDEOLOGIA ANTIIDEOLGICA

    O principal problema na ideologia, sejaqual or, tirar do sujeito a possibilidade de medir o que

    experiencia. A ideologia no oerece medidas, oerece

    juzos. A ideologia da liberdade, na arte, no ornecequestes, oerece respostas, como toda ideologia ela

    um sistema pronto, cabe ao indivduo aceitar ou no.

    o caso dos pequenos pssaros. Um deles some por umtempo e, quando volta, traz consigo uma novidade e

    uma pequena narrativa andando pelo mato, eis o que

    encontrei: um ovo mgico, dentro dele esto os nossossonhos. Como assim? pergunta o mais rabugento dos

    pequenos pssaros e logo repreendido.

    Os demais, dividemse em trs grupos. Noprimeiro grupo esto aqueles que no acreditam no que

    o pequeno pssaro viajante diz. o maior de todos os

    grupos, j que no h motivo para se mover, pois doassento ocupado j d pra ver o show conortavelmente.

    No segundo grupo, esto aqueles que, por no terem umassento assim to bom, preerem arriscar. Por m, no

    terceiro grupo, est aquele pessoal que deende no ser

    possvel determinar se h ou no algo dentro do ovo, ouse bom ou no estar ali, ou no estar, por isso, ainda

    no sabem direito, por isso, ainda no decidiram.

    ARTISTA: A MISSO

    Seja qual or o tipo de artista, ele ser um

    pequeno pssaro se agir de uma das trs maneiras,aceitar, negar ou car nem l nem c, pois de qualquer

    uma estar se posicionando diante do ovo, da oerta de

    guardlo. O artista , ou pelo menos deveria ser, uminterpretador da realidade, se, sua interpretao tem

    um compromisso com uma ideologia, e esta ideologiaseja o mtodo atravs da qual leia o mundo, j se pode

    imaginar as limitaes que a ele sero impostas.

    Ideologia qualquer conjunto de ideiasprontas, tendo em seu contedo normas e valoraes

    que se pretendem universais e atemporais, vlidas para

    todos, se servem ou no para o domnio das massasisso bastante discutvel, o ato que avorecem a

    dominao no apenas de grandes grupos, mas, tambm

    e talvez com mais ora e pessoalidade, de pequenosgrupos. Assim, uma amlia ter um ncleo ideolgico

    protegendo seus lderes das questes que vierem a ser

    levantadas pelos subordinados, os lhos, e ameacema continuidade do poder. Assim, em qualquer grupo

    veremos conceitos interessantes aos lderes seremimpostos sobre os subordinados a m de azer valer a

    manuteno do poder.

    No caso dos pequenos pssaros, o pequenopssaro a encontrar o ovo, ao voltar para a sua

    comunidade, emite certas opinies sobre a importncia

    de se cuidar do achado. Cuidar do ovo, ento, passa aser uma maneira de o pequeno pssaro que o achou

    dominar o grupo que assumiu ser guardio do achado.

    Tire a ideia da metora e voc vai ter um bom modelopara analisar muitos grupos subversivos.

    ....................................................................

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    17/55EXPRESSES! Maro 2012 | 17

    Literatura em Rede

    Oswald de Andradee os 90 anos daSemana de Arte Moderna.

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    18/55EXPRESSES! Maro 2012 | 18

    APRESENTAO

    Dia 11 de Fevereiro foi a data decomemorao dos 90 anos da semana de ArteModerna de 1922. E apesar de ter estudado umtanto bom deste movimento literrio inclusiveesboando uma monografia no sentido, que nodurou mais que quarenta pginas foi abandonada

    de fato, eu me esqueci. E para um pensadorinquieto, esquecer de algo quer dizer muita coisa.

    O projeto de transformao daperspectiva artstica brasileira iniciada por Oswalde os outros malucos no se tornou o que elesdesejavam, uma forma de mudana radical dasestruturas do campo, mas sim uma parte da histriada nao brasileira, que se legitima a partir dahistria de seus heris e vanguardistas.

    A Literatura e seus movimentos seiniciam enquanto projetos de mudana de umaestrutura e tendem a se tornar uma parte da histria

    da nao e da lngua do povo. Os vanguardistas da Arte Moderna Brasileira falharam no projeto demodernizao de nossa arte, do surgimento de umaarte brasileira que supere os vos do localismo edo romantismo (porque o regionalismo pode serentendido enquanto um romantismo local) e quese fundamentaria no confronto com a literaturamundial, da imposio de uma arte brasileira livredo Estado, livre do local, moderna, dinmica, viva.

    Falha. A literatura caminha para o

    localismo ou para a resposta aos grandes Sellersestrangeiros: fala-se de caboclos como se falavade indgenas, fala-se de vampiros e magos comose falava de conquistadores europeus: a literaturabrasileira no se libertou, no se tornou autnoma e caso algum a considere, preciso que este leitorse torne consciente do conceito de autonomia.

    Autonomia representa nas palavras

    mais simples - o quase desprendimento dos

    produtores de arte das amarras do Estado e estedesprendimento se d pelo desenvolvimento dosartistas e das perspectivas prprias, no daquelasapoiadas pela mquina ideolgica. Em outraspalavras, no se torna necessrio escrever sobrea histria ou geografia de um Estado, pois nesteponto a literatura se torna uma outra narrativasobre o Estado.

    E mais, o novo artista pensa que autnomo, mas ele est respondendo a um

    discurso de integrao, de amor, de dedicao aalgo que no devemos amar. No podemos negara influncia da sociedade sobre os indivduos, damdia, das ideologias de grupos. Neste sentido,envolvendo tudo que foi dito, Oswald e amigosfalharam em seu projeto inicial: a LiteraturaBrasileira se torna cada vez mais localista, voltadapara fora e arraigada no Estado, no vestibular, noensino de histria da literatura e cada vez menosde artistas para o desenvolvimento de uma arte

    que enfrente o mundo.No mais, creio que Oswald de

    Andrade, em sua vida e em suas obras, foi um serextremamente violento e mimado. As coisas tinhamque ser da forma que ele queria e ponto final. Noposso dizer que isto uma qualidade ou um defeito,mas uma forma de agir. No mais, a nao foi capazde absorv-lo enquanto heri quando na verdadeele era um fanfarro, amante e um filhinho damame.

    Em todos os seus defeitos, mereceuma breve leitura. Quem sabe, nos 100 anos deSemana de Arte Moderna poderemos pensar algodiferente. Eu poderei pensar diferente. Mas comoafirma Aldous Huxley, no h problemas em falardemais na juventude, so formas de aprender comos erros e acertos. Quando se permanece calado,s h um vazio ao se olhar para trs.

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    19/55EXPRESSES! Maro 2012 | 19

    INTRODUO.

    Oswald de Andrade no s participou,como foi um dos lderes de um dos movimentos

    considerados primordiais para a compreenso dasociedade brasileira. O movimento Modernistacontou com intelectuais e artistas como Mriode Andrade, Tarsila do Amaral, Menotti DelPicchia, Anita Malfatti e outros, mas poucos foramengajados como Oswald, que atuou em diversasfrentes de debate com estruturas sociais quenecessitavam ser revistas.

    Nascido no fim do sculo 19 e violandoo sculo 20, o escritor pode ser contemporneo

    de grandes transformaes. Oswald viveunuma So Paulo escravocrata, ainda iniciandoseu processo de industrializao. As novas

    tecnologias que surgiam no seio da cidade

    foram responsveis por aguar a percepo deOswald. Possua o desejo de atualizar as letrasnacionais apesar de, para tanto, ser precisoimportar ideias nascidas em centros culturaismais avanados no implicava uma renegaodo sentimento brasileiro (Coutinho, p. 04, 1986).

    As reivindicaes do movimentomodernista, assim como de Oswald, logoromperiam a barreira do artstico para atingir asfundamentaes culturais, polticas e econmicasda sociedade brasileira e foram tomadas por

    noes biogrficas e apontaram o futuro daliteratura nacional. Nas palavras dos crticos:

    Todo o nordeste vem depois, com oconhecimento da obra de Oswald, ou pela leitura

    atravs dela atravs de escritores que nela forambuscar ensinamentos Sergio Milliet (Tese deCardoso)

    Toda obra romanesca de Oswald de Andrade pode ser considerada autobiogrfica: J na trilogia do exlio encontramos longostrechos que so antecipaes de Um homem semprofisso; Joo Miramar (Martins, p. 246, 1969).

    Apresento, neste breve trabalho deinformao, uma biografia resumida de Oswald

    de Andrade. Antes de conhecer as obras, vamosao autor.

    BREVE BIOGRAFIA, BREVE.

    Oswald nasceu em 11 de janeiro de1890 na cidade de So Paulo, filho de Jos Oswald

    Nogueira de Andrade e Ins Henriqueta de SouzaAndrade. Da famlia de sua me, descende de umadas famlias fundadoras do Par, estabelecida noporto de bidos. Teve uma infncia confortvelna Rua Baro de Itapetininga e iniciou seusestudos com professores particulares.

    Aos dezenove anos conheceWashigton Lus, membro da comitiva oficial efuturo presidente, de quem se tornaria amigontimo. Neste mesmo ano inicia sua carreira como

    jornalista escrevendo para o Dirio Popular eingressa na Faculdade de Direito do Largo deSo Francisco.

    Em 1911, sai do Dirio Popular, iniciaamizade com o poeta Emlio de Meneses e juntocom Voltolino, Dolor Brito Franco e AntonioDelfine lana o semanrio O Pirralho, junto comseus colegas de redao, cultiva uma vida socialintensa, tendo como amigos Guilherme de

    Almeida, Amadeu Amaral, Julio de Mesquita Filho, Vicente Rao e Pedro Rodrigues de Almeida.

    Oswald de Andrade nos participou, como foi

    um dos lderes de um dosmovimentos consideradosprimordiais para a

    compreenso da sociedadebrasileira.

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    20/55EXPRESSES! Maro 2012 | 20

    (Oswald de Andrade, p.361, 2003). A vida de Oswald foi marcada por

    muitos envolvimentos sentimentais, o querefletiria diretamente em suas obras. Seu filho

    Rud afirma em uma carta Creio que a obrade Oswald de Andrade no pode ser estudadadesvinculada de sua vida (Schwartz, p. 15, 1988)

    Aos vinte e dois anos de idade, embarca paraa Europa e nesta viagem se encanta por LandaKosbach, uma criana de onze anos. Volta deParis acompanhado de Kami, dessa relaonasce o primeiro filho de Oswald, Non.

    Na poca do nascimento de Non,Landa Kosbach volta da Europa, inspirando

    suas primeiras peas de teatro. Landa marcouprofundamente o autor, tendo sua imagem,

    juntamente com a de outras paixes, descritasna Trilogia do Exlio.

    Quando jovem, a Landa VitriaAgonia, menina de treze anos que exerceu grandefascnio sobre o personagem Jorge dAlvelos, doromance Estrela de Absinto, que Isolado de novo(...) comeou a sentir a perturbao do contato

    virginal e selvtico da menina da ilha e ela tinha

    treze anos de animal livre. (Andrade, p.325-326, 2003). Aos dezesseis anos, Landa pode serassociada Mary Beatriz que volta de Europa emorre em So Paulo.

    Em 1917, conhece o escritor Mriode Andrade, o pintor Di Cavacalnti, Guilherme de

    Almeida e Ribeiro Couto, junto com eles, Oswaldforma o primeiro grupo modernista. Aluga umagaronnire junto com amigos e escrevem oDirio da Garonnire, dirio coletivo das

    experincias da residncia que tambm foichamado de O perfeito cozinheiro das Almasdeste mundo.

    Dois anos depois, casa-se in extremiscom Daisy, hospitalizada devido um aborto malsucedido. Daisy se assemelha personagem

    Alma. Em 1920, conhece o escultor VictorBrecheret e encomenda-lhe um busto de Daisy(Miss Cyclone). Publica em 1921, no CorreioPaulistano, trechos inditos de A trilogia doexlio II e III. Neste mesmo ano, procurando

    adeses ao movimento modernista, viaja comoutros escritores ao Rio de Janeiro, onde mantmcontato com Ribeiro Couto, Ronald de Carvalho,Manuel Bandeira e Srgio Buarque de Holanda.

    Ainda nesta cidade, realiza leitura indita detrechos de Os Condenados, at ento como erachamado o primeiro volume de A Trilogia doExlio.

    Aos 32 anos, Oswald idealizadore participante ativo da Semana de Arte Moderna,realizada de 13 a 17 de fevereiro no TeatroMunicipal de So Paulo, onde l fragmentosinditos de Os Condenados e A Estrela de

    Absinto, volumes I e II de A Trilogia do Exlio.

    No quinto volume da revista Klaxon, divulgauma passagem indita de A estrela de Absintoe ainda neste ano, publica Os Condenados (oprimeiro romance da trilogia, que passou a se

    chamar Alma), com capa de Anita Malfatti, pelacasa editorial de Monteiro Lobato.

    Em 1923, j instalado em Paris, enviaartigos sobre o ambiente intelectual para o

    Correio Paulistano e mantm contato com a vanguarda francesa. Nos dois anos seguintes,so constantes as viagens de retorno ao Brasile Europa, mantendo contatos e militando pelomovimento modernista. No dia 15 de outubro de1925, divulga em carta aberta sua candidatura

    Academia Brasileira de Letras, mas no chegou aoficializar sua inscrio.

    No auge do movimento modernistaOswald se vincula Tarsila do Amaral, com quemse casa em 1926. Juntos formaram na literatura

    Aos 32 anos,Oswald idealizador e

    participante ativo daSemana de Arte Moderna

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    21/55EXPRESSES! Maro 2012 | 21

    e pintura, o Mo vimento Antropfago. Em 1927,publica A Estrela de Absinto, segundo volume de

    A trilogia do Exlio, com capa de Victor Brecheret,pela Editorial Hlios. Recebe meno honrosa

    pela romance A Estrela de Absinto no concursopromovido pela Academia Brasileira de Letras.

    Em 1928, realiza a leitura do manifestoantropofgico e junto com Raul Bopp e Antoniode Alcntara Machado a Revista de Antropofagia,primeira dentio neste ano e a segundadentio em 1929. Neste ano, rompe com osamigos Mrio de Andrade, Paulo Prado e Antniode Alcntara Machado.

    Com a crise internacional de 1929,

    Oswald sofre um abalo financeiro. No incio dadcada de 30, separa-se de Tarsila e filia-se aoPartido Comunista onde conhece Patrcia Galvo,

    conhecida como Pagu. Na pea A escada,ressurge Pagu como a personagem A Mongol.Esta personagem vem mostrar ao heri doromance o verdadeiro sentido para as paixes:O amor no era mais para ele uma divagao

    de desocupado, um divertimento de classe(Andrade, p.348, 2003).

    Em 1931, conhece o ex-lder tenentistaLuis Carlos Prestes em Montevidu. Adere aocomunismo, fato que marcaria profundamentesuas obras. Publica com Pagu e Queirs Lima,o jornal O homem do povo. Em 1934, publica Aescada vermelha, terceiro volume de A trilogiado Exlio, cujo titulo original era A Escada de

    Jac e depois A Escada.Em 1936, casa-se com a poetisa Julieta

    Brbara, tendo como padrinhos Csper Lbero,Cndido Portinari e Clotilde Guerrini, irmda noiva. Em 1940, se candidata academiabrasileira de letras, mas no aceito. Em 1941,

    relana o volume Os Condenados, agoradividido em trs partes: Alma, A estrela de

    Absinto e A escada.Em 1944 conhece Maria Antonieta

    dAlkmin, com quem ter mais dois filhos, Antonieta Marlia e Paulo Marcos. Em 1945,anuncia o nome de Prestes como candidato presidncia. Neste ano, discorda da linha polticade Prestes e rompe com o partido comunista doBrasil.

    Em 1950, candidata-se a deputadofederal pelo Partido Republicano Trabalhistacom o lema Po-teto-roupa-sade-instruo-liberdade. Oswald permanece produzindoartigos, discursos, romances. Militaativamente pelo movimento modernista. Viajaconstantemente e se interna regularmentedevido a sua doena. No dia 22 de outubro de1954, Oswald de Andrade morre com 64 anos.

    FINALIZANDO.

    Esta pode ser considerada uma formade homenagem? Sim. No ao Oswald dos livros,mas ao Oswald namorador e poeta, ao malandroburgus que tentou negar sua ideologia declasse. O modernista tem sido relido e estas

    pginas foram apenas uma gota dentro de todoum mar *ou um rio madeira modernista*.

    No encerra a discusso nem a inicia. Apenas d continuidade. At os cem anos, seestivermos modernos at l.

    ....................................................................

    Oswald e Tarsila doAmaral, Juntos, formaram

    na literatura e pintura, oMovimento Antropfago.

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    22/55EXPRESSES! Maro 2012 | 22

    PordentrodaCena

    O Desafo da MscaraEu creio que o teatro um vai-e-vem entre isso queexiste no mais profundo de ns, ao mais ignorado, e

    sua projeo, sua exteriorizao mxima em direo aopblico. A mscara requer precisamente esta interiorizao

    e esta exteriorizao mximas.1

    Ariane Minouchkine

    A mscara sempre esteve presente na

    histria da humanidade. Ligada a rituais religiosos,

    ou de natureza artstica, ou ainda, como acessrio

    de proteo, fantasia ou disfarce, um dos maiores

    smbolos das artes cnicas. A arte da re-apresentao.

    Como este um espao para iniciados ou no nas

    artes cnicas sempre bom lembrar que se acredita

    que o teatro surgiu no momento em que o primeiro

    homem portou uma mscara para significar algo

    durante um ritual primitivo e que esta lhe atribua umpoder. Pode tambm ter sido numa reunio de amigos

    em torno da fogueira jogando um tipo de master

    pr-histrico? Por que no? Eles poderiam estar se

    divertindo ao invs de celebrando um ritual religioso...

    Vamos l... Afinal, imaginar ainda no paga imposto

    mesmo! Imaginemos a cena: Jane fala: Imita um

    mastodonte! Da o Tarzan da poca, vai l e improvisa

    uma mscara com a cara do animal, duas presas

    enormes de marfim, sabe Deus onde! Ela advinha!

    Fcil pra ela! Ponto pra equipe do peito pelado!

    Brincadeiras parte, tem algo com o que

    todos que j usamos mscara precisamos concordar:ela de fato exerce um misterioso poder sobre quem

    a usa e, quando funciona, sobre quem a v em ao!

    JriaLima

    1 Traduo: Jria Lima

    Mscaradoteatrobalins,oTopeng.Fonted

    afotografia:http://dedotphotography.wordpress.com/2009/02/06

    /tari-topeng-tu/

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    23/55EXPRESSES! Maro 2012 | 23

    Agora j estou me referindo mscara teatral, smscaras expressivas. No se trata de um simples

    acessrio, de fantasia de carnaval ou adereo de baile

    ou de decorao. Curiosamente, a mscara teatral

    revela ao invs de esconder! Ela revela ao ator sua

    prpria identidade, a qual ele mantinha escondida por

    trs de sua expresso cotidiana e gestos mecanizados.

    Ela prope um saboroso desafio que consiste em

    superar seus prprios limites, enfrentar seus medos

    mais ntimos e admitir suas inmeras imperfeies,

    alm de lhe abrir as portas para a infinita imaginaocriativa. E o faz de forma ldica, prazerosa, por

    meio do jogo! (Por isso a brincadeira l atrs).

    O que considero importante ressaltar

    nesta oportunidade, que a mscara representa uma

    ferramenta valiosssima para o trabalho do ator, a partir

    da qual ele vai perceber seu corpo mais intensamente

    e despojar-se de todos os artifcios cotidianos que o

    impedem de criar livremente. Sobre este tema, so

    inmeras as obras que valem a pena ser lidas. Outra

    forma de conhecer a mscara teatral e diga-se, amelhor delas, vivenciando a experincia de participar

    de uma oficina de mscaras. Este um conhecimento

    repassado de gerao a gerao. No Oriente,

    repassado de mestre a discpulos e seu treinamento

    pode durar toda uma vida. Os ocidentais buscaram

    a a fonte do conhecimento, no teatro balins, chins,

    japons. A Commedia DellArte italiana, gnero

    teatral que teve seu apogeu do sc. XV ao XVIII e que

    tem suas razes nas Atelanas da Roma Antiga, tambm

    tem sido fonte de inspirao para os artistas do sculo

    XX e XXI. Os contemporneos descobriram a um

    eficiente mtodo de preparao do ator, atravs de um

    treinamento rduo e constante, que lhe permite estar

    a servio de qualquer teatralidade, pois o resultado

    no se destina somente ao gnero cmico ou farsesco.Como tcnica de preparao do ator, a

    mscara tem demonstrado excelentes resultados e

    utilizada por vrios grupos, dentre eles, o renomado

    Thtre Du Soleil dirigido por Ariane Minouchkine.

    No Brasil, o Grupo Moitar/RJ, desenvolve trabalho

    com mscaras desde 1988. Em Porto Velho, a

    recm fundada Anmade Cia. de Teatro convidou

    recentemente (janeiro/12) o Professor Fernando

    Linares2 para ministrar uma oficina de mscaras

    que contou tambm com a participao de outros

    grupos e artistas convidados. Infelizmente, o

    nmero de participantes bastante limitado por

    ser um ensino individualmente direcionado para

    que haja um melhor aproveitamento, razo pela

    qual pretende-se oferecer outras oficinas em breve.

    Nesta oficina foram utilizadas as

    mscaras neutras, mscaras larvrias e as mscaras

    inteiras de ancios, confeccionadas pelo prprio

    Linares. E ele que vai falar um pouco sobre cada

    uma delas a partir de trechos de sua dissertao de

    mestrado3 que agora passo a reproduzir in verbis :

    O quarto captulo dedicado mscaraneutra, mostrando, porm, que antes de vesti-la, osestudantes desenvolvem, a partir dos jogos de regras esem as mscaras, as suas habilidades para o jogo cnicosilencioso. Pela necessidade de entender a mscaraneutra em seus aspectos prticos, so descritos, apenas

    para exemplificar, alguns exerccios especficos para

    que se tenha uma ideia mais clara dos objetivos a atingir.Por ser a primeira mscara com a qual oestudante entra em contato, so abordadas, neste primeiroencontro, as questes relativas ao contato fsico e relaoque ele estabelece com este objeto como mediador dasua comunicao com o espectador. Neste momento, deuma importncia fundamental para o desenvolvimento dotrabalho, salientada a responsabilidade desta mscaracomo introdutora de um tratamento codificado que,

    posteriormente, se manter com todas as mscaras.

    Mscara larvria, em papel col, confeccionada por Fernando

    Linares.

    2 O professor Fernando Linares Ator e Diretor teatral. Professor de Interpretao Teatral. Mestre em Artes pela Escola de Belas Artes da Universidade

    Federal de Minas Gerais e Licenciado em Desenho e Plsticas pela Escola de Belas Artes da UFMG.

    3 A mscara como segunda natureza do ator: o treinamento do ator como uma tcnica em ao / Fernando Joaquin Javier Linares. 2011. 180 f. : il .

    Orientador: Antonio Barreto Hildebrando Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Belas Artes, 2010.

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    24/55EXPRESSES! Maro 2012 | 24

    Esta primeira relao com uma mscara um momentoimportante e nele que nos decidimos a mudar a nsmesmos para entrar numa esfera do trabalho na qual aceitaras suas regras o contrrio de uma atitude de submisso.Portanto, firmam-se, nessa fase, os princpios fundamentaisdo compromisso tico com o trabalho sobre si mesmo.

    Trata-se de assumir o comprometimento com um recuoa um ponto zero fsico-mental, de partir rumo ao novo eao desconhecido que se encontra escondido dentro de nsmesmos como um potencial a ser descoberto e, ainda, deenfrentar os riscos dos possveis erros, sem perder o mpetonecessrio para edificar um novo corpo. Com esta mscara sedesenvolve a escuta de si, na qual se intensifica a relao comos cinco sentidos. Esta relao necessria para o estudante/ator se colocar ao servio de um estado fsico-mental decalma, para agir no aqui/agora, o que exige a manuteno deum absoluto controle de cada ao que se realiza. Guiado

    por uma atitude neutra, ele deve descobrir as dinmicasdas situaes sem nenhum psicologismo e, assim, se buscao ideal: a construo de uma primeira segunda naturezaorgnica, que age como se fosse um personagem neutro.

    O captulo final constitudo pela abordagemdas mscaras larvrias e das mscaras inteiras de anciosde olhos pintados. Com estas duas mscaras, entramos

    progressivamente no terreno da expressividade, no qualso amalgamados os conhecimentos e as prticas realizadasnas etapas anteriores. Esta etapa do trabalho se caracteriza

    pela conquista dos eixos corporais das mscaras, para osquais a plasticidade do olhar da imaginao e a respiraotm um papel preponderante para a construo de corposartificiais que deem a impresso de organicidade. assim que o estudante mergulha no terreno da esttica, deuma teatralidade que se tornar o seu meio de expresso.O desenvolvimento de uma inteligncia cnica para

    jogar com todo tipo de situaes, a partir do despertarde novas urgncias e de intensos estado intuitivos fazemo estudante pensar com o seu corpo e, ainda, encontraros gestos essenciais para um tipo de comunicao

    aberta participao do espectador, o que, por sinal,caracteriza esta proposta de atuao com mscaras.

    As mscaras inteiras de ancios de olhos pintados encerram o percurso das mscaras de base.Durante todo o trajeto foi criada uma urdidura de conceitose de exerccios prticos que devem possibilitar ao estudante/ator, ao vestir esta ltima mscara, vivenciar estados justos.Nestes, a mscara se conforma como uma segunda natureza,a partir da qual podem ser experimentadas situaes que

    permitam explorar possibilidades dramticas cuja extensopropicia ao estudante experimentar dinmicas corporais e

    so estas que podem conduzir o gesto do melodramticoao trgico. Finalmente, proponho uma das possibilidadesde utilizao da capacidade de domnio das aes fsicas

    orgnicas, conquistadas com o aprendizado do uso das

    mscaras, no mbito da construo da personagem deum texto dramtico, no qual o ator no utiliza mscaras.Trata-se do emprego da mscara numa extenso que vaido pr-expressivo ao expressivo tornando-se uma valiosaferramenta que opera a favor do ator e do seu papel. Oitinerrio percorrido com as mscaras neutra, larvrias eexpressivas de ancios de olhos pintados, e o treinamento

    pr-expressivo, se mostra eficaz num nvel operativo noqual a tcnica serve ao ofcio do ator de forma abrangente e,

    portanto, est ao servio da arte teatral, sem riscos de pautaros atores como especialistas de um estilo nico de teatro.

    Espero que esta matria tenha servido

    para despertar o interesse de alguns leitores com

    relao ao estudo das mscaras e do teatro como

    um todo. At o prximo Por dentro da cena!

    ....................................................................

    Mscara expressiva inteira de ancio de olhos pintados,

    confeccionada em papel col, por Fernando Linares.

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    25/55EXPRESSES! Maro 2012 | 25dez 2011 | 25

    Minha pretenso foi de escrever estas dicas de memria, sem consultaros livros que esto todos ao meu redor, no meu quarto. No por preguia ou por

    qualquer outro motivo, mas pelo fato de querer passar ao leitoruma impresso mais crua de tudo que me lembro destes textos e

    no referncias encontradas em suas pginas ou em seus prefcios,mas o que de fato me marcou em sua leitura, tornando assim estas dicas da

    boa memria, daquilo que me marca mesmo aps a vida moderna

    e lquida que somos forados a levar. Uma boa leitura a todos.

    1. A Metamorfose, de Franz Kaa.

    Confesso que um velho clich apontar a leitura deKaa. Mas tenho um porm: ele considerado um dos

    leitores da modernidade, junto com Camus, Baudelaire

    e poucos outros. Poucos autores so mais analisadospela academia cientica ou pela crtica literria quanto

    Kaa, esta estatstica aponta que o orelhudo um

    revelador e uma interrogao ao mesmo tempo, pormais que seja lido, no completamente interpretado.A Metamorfose uma novela de apresentao e deveser lida junto com Carta ao Pai para se dar o primeiropasso na interpretao do autor. Para os leitores maiscasuais, Kaa opressor e maravilhoso ao mesmo

    tempo: ele revela e ldico, caractersticas da arte que

    sobrevive.

    2. A Trilogia do Exlio, de Oswald de Andrade.

    Considerado um dos primeiros romances urbanosdo Brasil, na verdade composto por 03 romancesmenores. Trazendo para o leitor tipos brasileiros, como

    o migrante nordestino, o malandro, as prostitutas,os artistas modernos e tendo como cenrio de fundoas ruas de So Paulo (e no um stio qualquer), estesromances so uma nova forma de falar o Brasil. Nopodemos esquecer os amores revolucionrios efranceses do mestre Oswald presentes na trama internado romance. possvel acompanhar sua vida a partirda leitura deste romance, o que o torna ainda maisinteressante para o estudioso da literatura brasileira.

    RAFAEL DE ANDRADE

    10 DICAS

    DE LEITURAPARA UMA VIDA

    SAUDVEL

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    26/55EXPRESSES! Maro 2012 | 26

    3. O Capote, de Nicolai Gogol.

    Quantos homens no nascem sobre uma pssima luae esto marcados para viver sobre a perspectiva dotrabalho burocrtico e nunca, nunca enxergar o que h

    alm do trabalho repetitivo das instituies pblicas?Este o destino do heri da novela do autor de AlmasMortas (outro grande texto, de leitura recomendada).Gogol faz uma reexo sobre a vida levada pelo trabalho

    e para o trabalho at o seu ultimo m e de como as

    pessoas podem se acostumar, e at gostar, desta nica

    perspectiva. uma crtica ao sistema burocrtico russoe a uma nova forma de pensar o trabalho que pode sertrazido at nossa realidade.

    4. O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire.

    Um conjunto de pro- sas poticas do poeta maldito.Elas descrevem os mais variados temas e no possuemum tema central. Seus temas chaves (que so alguns)so a multido, o desenvolvimento, a diferena quesurge entre os ricos e os pobres, os amores, a posiodas artes elevadas e malditas, etc. O leitor far uma viagem pela forma de ver o mundo daquele poetaque foi considerado o ultimo romntico e o primeiro

    moderno o primeiro a se propor enquanto reveladore analista deste mundo novo que surge com amodernizao das relaes sociais.

    5. Primeiro Amor, de Turgueniev.

    Um grupo de homens se reuniu para contar suasexperincias de amor que falharam, que foramdolorosas. A personagem principal da novela do russoreal-naturalista Ivan Turgueniev comea a relatar sua

    paixo de infncia. Assim se inicia uma das narrativasmais interessantes com a qual me confrontei, com umdesfecho interessante e profundas reexes sobre a

    aproximao entre duas ou mais pessoas.

    6. O Anatomista, de Andreazzi.

    Este romance traz tona uma discusso que ns,ocidentais metidos a moderninhos, podemos no tratarcom tanta veemncia. Ele discute uma perspectiva doprazer feminino a partir da descoberta (na idade mdia)

    do prazer obtido pela frico do clitris. Trazendo, apartir de suas personagens, vrias suposies sobrea cura, sobre a inuncia do pecado, sobre a traio,

    libertao e priso das mulheres ao desejo do homem

    que dominar a arte de lhe dar prazer. Este texto podeexagerar, ou no, em alguns aspectos a relao entrea mulher e a dominao pelo sexo. E tudo isso com aparticipao especial de Ferdinando, o corvo, que atudo assiste.

    7. A Menina dos Olhos de Ouro, de Balzac.

    Narra a estria de um jovem gal de Paris o Don JuanBalzaquiano Henri de Marsay, que mesmo sendo umexpert na capacidade de viver bem dentro da estruturaaristocrtica de Paris, sendo sedutor, persuasivo, se

    Baudelaire

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    27/55EXPRESSES! Maro 2012 | 27

    apaixona pela pequena Paquita, a menina dos olhosde ouro. Para obter a ateno de sua amada, Henriconta com a ajuda dos Devoradores, um grupo deamigos que sem escrpulo algum realiza aes que tem

    como objetivo a satisfao dos desejos dos membrosdeste grupo. O desfecho do romance surpreendente,levando ao leitor a enfrentar uma perspectiva queconsideraria anacrnica, mas que Balzac j enfrentaem seu tempo.

    8. Como e Porque sou Romancista, de Jos de

    Alencar.

    O que pode interessar ao estudante de literatura,acadmico ou no, neste texto como se deu a formaodeste escritor Brasileiro, analisando as suas relaessociais e suas paixes, nesta autobiograa literria de

    Alencar. Apresenta sua infncia e as relaes de seuspais, sua formao na educao bsica, os homens que

    o inuenciaram nos caminhos das letras, as impresses

    sobre suas obras e a crtica que sofreram, homenagense referencias famlia. uma forma de diminuir o doloe trazer o homem para a frente da leitura, tornando-o

    to gigantesco em seu ego e diminuto no turbilhoda histria quanto qualquer outro. Para aqueles queamam a literatura brasileira, se torna um ponto centralde interpretao.

    9. Sonho de um Homem Ridculo, de

    Dostoivski.

    Esta minha narrativa preferida do russo. Quando

    um homem que no tem nenhuma perspectiva devida e pensa no suicdio. Quando o comete, levadoa uma viagem distante pelo universo para conheceroutra terra, semelhante a nossa. Esta nova terra no infectada com as nossas estruturas e formas de pensar,mas a simples presena do viajante os leva a criar leis,morais, estabelecer contratos, religies, etc. O viajantecorrompe aquela terra pura com tudo aquilo que considerado corrupto em nossa terra. uma profundareexo sobre nossas estruturas sociais modernas e

    uma leitura quase obrigatria para aqueles que desejamconhecer nossa perspectiva de vida e literatura.

    10. Um Estudo em Vermelho, de Conan Doyle.

    O primeiro romance do conhecido Sherlock Holmes,apresentado pelo seu el amigo, o mdico dispensado

    do servio militar, o Dr. Watson. Esta apresentao esoluo do seu primeiro caso uma porta a ser abertapor aquele que deseja compreender os lmes lanados

    recentemente ou mesmo embarcar nas aventuras deHolmes nos livros, que maior e mais interessante queos lmes. O poder de deduo, a dedicao arte de

    interpretar, a leitura, o vcio, o amante de msica, tudo

    est presente neste livro de apresentao.

    Dostoivski

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    28/55EXPRESSES! Maro 2012 | 28

    Rosa Matiz

    Se no disse certa vez, tempo,

    Que ainda brilhava o verniz do sorriso

    No queria dizer que desbotava, denso

    No queria dizer, no, preciso...

    Se outrora no fixei o olhar, vento,

    Naquela bela fachada de felicidade

    No quer dizer, reforma, penso

    No quer dizer, no, saudade...

    E outras vezes tantas, vendo

    Todas as tbuas gastas de rotina

    No quer falar, refaz, adendo

    No quer falar, queima, porfia...

    Em memrias minhas, dentro,

    Das lascas que caiam, em lils

    No quer parecer, sem cor, lembro

    No quer parecer, desmerecer, alis

    Como contemplo, na real vertente

    Abaixo da epiderme, no epicentro

    No faz mostrar, sem cor, cedenteNo faz mostrar, tbua rasa ao tempo

    E quando vi a rosa vermelha ultima

    Aconchegada, naquilo, dito, gasto

    No fez degrad, no lils prpura,

    No fez degrad, ou perfume astro

    A rosa, lembro bem, de idias nuas

    Cheirava mares e campos molhados

    No fez minha fachada sem pinturaNo fez minha fachada, nem sobrados

    O lils do meu destino, sem cuidado

    As lascas de meus sonhos, sem verniz

    A rosa no era tinta, nem reparo

    A rosa no era cor, era matiz.

    Csar Augusto

    Foto: Alyne Dias Reiche

    p o e s i a

    http://sempropositodeproposito.blogspot.com/
  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    29/55EXPRESSES! Maro 2012 | 29

    p o e s i a

    Luzes do Abismo

    Tudo que bvio enruga minha peleIrrita minha ndoleAs vrias variveis do mesmoContaminam-me as veiasCausam febre e tremores.

    Eu vi sedas e granadas nas estradasArranquei os cravos do no-pecadorQuebrei os vitrais da grande quedaE com os cacos rasguei meus pulsos.

    Quis eu a morte dignaA vida intensicada.

    Disse-me meu corao:Encerra os livrosEsquea as escriturasE ponha-se no caminho!Foi l que aprendi a sangrar e gozarCom insupervel intensidade.Singrei tantos mares selvagensTantos continentes imaginriosQue me tornei borboleta

    Morcego e fera.

    Com mandbulas de prataCorro as vertigens da leiCom o fogo da lnguaSubmeti as serpentes encantadas.Os nons no mais me seduzem:So apenas gases nobres em tubos pr-fabricadospor mo-de-obra miservel!

    Tudo que vazio me atrai: terreno livrePlancie desertaque espera ser preenchida.E eu tenho sementes, minhas mesmas,germinadas com chuvas interiores!

    Sei amar minha solidoNo temer meus ossos expostos,Aprendi a costurar meu prprio joelhoQuando me arrebento nestes abismos de ecos profundos...

    Ctia Cernov

    http://catiacernov.blogspot.com/
  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    30/55EXPRESSES! Maro 2012 | 30

    Juro que no queriaTorna-me a mim mesmoUm morto que palavra

    Um calado sem palavraDeixar de ser eu jovem

    J fui jovem e crenteHoje em nada creio, nada

    Na cama, ser que vivo?Ser que respiro como ele?

    Aquele artista feliz da praaQue cr em raa, em paraso

    Que tudo mais que o vistoQue vo nos receber

    Que vou abraar meus mortos

    Vo me sorrir e dizerTudo passou: no creio...

    Aquele poeta da praa felizE se reclama das contas que paga

    Que ama a famliaQue tem amigos;

    Quando eu era criana,Na rede, eu tinha medoDe no acordar e pedia

    Perdo pelos pecadinhos de crianaQue cometia: comia demais, de menos

    Nunca senti medo maior

    No queria deixar de existirExistir era to bom!E vejam s como invejo o poeta da praa

    s pedir pecado, s no crer em pecadoAs coisas so to fceis, no crer...

    Pior no querer respirarNo querer estar com eles

    No gostar de praasNo sentir gosto das comidas

    No rir do futebol ou do carnavalNo gostar da poesia que todos gostam

    Nem de prosa nenhuma deles;

    O velho Vazio

    E aquele poeta rindoPorque a me boa, porque o serto

    Porque o velho que escreve Exemplo para todos ns

    Porque o fumo nos faz ler melhorEscrever como Kafka, Rimbald,

    Na cama, no sou deste mundoNo sou lho dele

    No mamo em suas tetasNo bebo seu excremento

    Mundo imundo, santo demagogoNo cheiro suas partes e nem pareo

    No cheirar aqueles poetas velhos

    Enlamados deste mundinhoParecem somente parecem No beber desta fonte que amam

    Odeio, desprezo, ridicularizo.

    Toda fonte que aquele poeta da praaAli da pracinha perto de casaBebe, embriaga, fuma...

    Os lsofos no brigam maisEles cantam o hino do ball

    Os anarquistas amam a nao eOs poetas amam ser o que so;

    Bunito da moda, no ser igual

    Mas o bunito tudo legalDescobri que no sirvo para

    Lidar com gente, falar com genteVeja aquela criana ela foi

    Ela ser devorada por

    Aquele velho do saco na praaPorque ele poeta

    Ele sabe de tudoE to nada quanto eu

    To vazio to saco de carneTo saco de merda

    Quanto todos nsQue somos saco de esperma

    Receptculo de esperma feio ou bunitoAquilo que se solta no vaso

    Uma planta ou um nadaQue se maquia com orgulho

    Imagina uma planta maquiada

    Com orgulho de estar no vaso aquele poeta da praa;

    Juro que no queriaNem quero tenho medo

    Deixar de crer nas coisasOlho para os barulhos

    Sinto medo de minha posioDe ser contra o mundo

    Sozinho contra tudoFico impressionado com aquele poeta

    Que contra o mundo e riDe embriaguez de futebol

    Junto com os amiguinhos bbados

    De novela, de cortios, de confrariasEu sozinho co com medo

    Pego meu dedo e escrevoContra tudo e a favor de nada

    A tinta meu dio.

    Rafael de Andrade

    Abostagens Psico e Lgicas

    p o e s i a

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    31/55EXPRESSES! Maro 2012 | 31

    Curvas em linhas retas

    Desaguam as curvasEm linhas retas.Nas furnas das turbinasFinge ficar as guas que eram parceiras das

    curvas.Antes das barreiras, das barragens.Morta a mata,Nascente claro na redondeza da regio.

    Um urro diurno em clamor: a ona pintada na parede da sala.Nada na mesa pra jantar das caadas,Nas caladas descalo,Nas sombras dos postes que cobrem a regio,Descobertos, os mendigos no tm o poder dodisjuntorPra desligar e queimar uma pestana,Da treva do claro da vida da morteEm p no p da sorte.

    Dom Lauro

    p o e s i a

    Foto : Ronaldo Nina

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    32/55EXPRESSES! Maro 2012 | 32

    p o e s i a

    Olhando o Madeira, que corre,

    Hoje mais rpido que h tempos atrs,Penso que o tempo um rio,

    Sei, j pensaram isso, j disseram isso,No disseram, entanto, que esse rio, que corre,Que sempre corre, que sempre est correndo,

    S preocupa quando forte a correntezaE quando a tudo arrasta,

    Quando seu arrastoAlgo nos traz, ou algo nos leva.

    O Madeira, que corre, que sempre correu,Arrasta paus e troncos e galhos e lixo,

    E no sei o que mais que esconde

    Nas guas profundas e tingidas de barro,Sob a superfcie amarela e impenetrvel,O que traz, de onde traz, para onde leva?

    Para quem traz, por que traz, a quem leva?

    gua mineral, Skol bem geladinha...

    O complexo da Estrada de Ferro est bonito, um bom lugar para olhar o Rio que corre.

    De l, olhamos o Rio, que corre,Que sempre corre, que sempre est correndo,

    E s nossas costas a cidade se inunda,De carros, de crimes, de pessoas,

    De esperanas, de desiluses, de mortes,

    De fraudes, de boas e ms notcias,E outra correnteza a tudo arrasta,

    Outra correnteza, que a tudo isto arrasta,Est no asfalto, pelos prdios, nas reparties,

    Nos bairros, nos becos, nas cabeas e nas[ apreenses,

    Seu movimento, sua fome, sua sede,Os braos fortes com que transporta as coisas,

    Tudo isto assusta.

    Olhamos o rio por muito tempo,E agora, porque um monstro de concreto

    Acocorou-se sobre ele, ele mordisca a cidade,

    Furioso, faminto, revoltado, natural...At aqueles que rogavam por mudana,

    Pelo prximo passo, temem o prximo passo,E comeam a rogar pela manuteno de tudo...

    Um barco de madeira fora subir a correnteza,Que luta, que linda luta, o motor contra

    As guas, o barco que vence o rio,Mas no o vence, pra, espera, cede,

    Teima, e enm, retorna, ca para prxima.Um barco menor tenta a travessia,

    Estanca, avana um pouco, vai devagar,E a constatao feita:

    Hoje est mais difcil que ontem!

    As pessoas se renem e muitas delas

    No entendem que no se pode parar o rio,O rio, que corre, tem pernas que no se pode deter,

    O rio que corre, no est nem a,Todos os dias, coloca algum na rua,

    Todos os dias, toma o emprego de algum,Todos os dias, mexe um tanto na cidade,

    Tem pressa, tem nsias, tem cobias e ambies.

    Olhar a amplido nos faz sentir pequenos,O cu, o rio, a mata sob a linha do rio,

    O monstro de concreto sobre o rio, os barcosQue lutam contra a correnteza,

    H quem possa contra a Natureza?

    Olhar a amplido nos faz sentir pequenos,O trnsito, as escolas, a migrao,

    As greves, as altas de preo, as leis,A enorme correnteza das coisas urbanas,

    H quem possa contra o Progresso?

    Esta tarde tudo se montou to auspiciosamente!O cenrio que se montou, hoje tarde,Queria dizer algo? Quis o rio dizer algo?

    No cu enorme, sobre o monstro de concreto,As nuvens acinzavam o cu, mais para c

    E mais para l, sol, o sol daqui,Dando seu ltimo oi, antes da noite,

    Seu orgulhoso oi de sol daqui...

    engraado, preciso olhar o rio,Agora, imprescindvel que se olhe o rio,

    Para entender o que h na cidadeQue se inunda s nossas costas,

    preciso entender seus movimentos, preciso observar suas revoltas,

    Entender sobre o monstro que o capturou.

    A cidade s nossas costas se inunda,E preciso olhar o enorme rio, que corre,

    Que sobre ela corre, que sempre corre,

    Que sempre est correndo, que tem pressa, preciso lutar contra o rio, preciso enfrentar esse rio,

    Esse rio que desabita, que altera, que contamina,Esse rio que corrompe, que submete,

    Esse rio que a tudo quer arrastar.

    Hoje tarde, olhando o Madeira,Natural, que natural, que rio,

    Pensei neste enorme rio, que rio de outro modo,Que dizem natural, que chamam natural,

    E que inunda a cidade s nossas costas.

    Jos Danilo Rangel

    Banzeiro

  • 8/2/2019 EXPRESSOES_08

    33/55EXPRESSES! Maro 2012 | 33

    Retrato

    kilas Batista nasceu no dia 14 de

    dezembro(num domingo de manh), na cidade de Bocado Acre - Amazonas (na beira do rio Purus), lho de

    dona Maria Corra e seu Oliveira. Com a doena da av,dona Divina Alfaia, que j morava por aqui, veio com os

    pais e outros familiares, na maioria Acreanos, para Porto

    Velho. No comeo de 1983, comeou a estudar na escolaJuscelino Kubitschek, onde a me era professora: Minha

    me se tornou professora pra me ensinar a ler, j

    que, nas palavras dela: num daria essa honra

    pra mais ningum.

    Pelo bairro, o Nova Porto Velho de anos

    atrs, brincava com os primos, todos muito avoados:

    soltava papagaio e dava decumfora na peteca.Desenhando antes mesmo de aprender a escrever;

    rabiscar os desenhos que via na TV era uma atividadeque tomava boa parte do seu tempo de criana e nunca

    perdeu a noo de que a escrita um tipo de desenho

    com letras.Depois de dois anos estudando na mesma

    escola, e sendo muito cobrado pela me, pois ele tinhaque dar o exemplo, foi transferido para a escola do SESC.

    Essa transferncia lhe exps a uma nova realidade. At

    ento, seus colegas de escola e de bairro eram os mesmos,todos lhos de um mesmo contexto social. Na nova escola,

    kilas se depara com o contraste at ali desconhecido.

    Seus colegas no local de estudo agora so lhos de outronicho, so de uma classe econmica mais elevada, com

    outro nvel educacional, partilham de outra realidade. E

    ele, entre as duas.

    Em 1987, outra transferncia acentua aindamais o contraste percebido. Pois agora estudava numa

    escola de elite e no via nada daquela abastanaperto de casa... A escola de elite era o Colgio Dom

    BOCANo do brinca, do VERA!!!

    por Jos Danilo Rangel

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    alma data de 10 de dezembro de 1994, e trata desse

    assunto. Com dio, kilas ainda pensa em se vingar, mas

    acaba tomando uma deciso maior: vai seguir adiante. o que faz: ser bra quer dizer, transmutar dio

    em amor!!! Dura lio. Dita e superada.

    Em 2001, j escrevendo letras de rap h seis

    anos e tambm j h um bom tempo fazendo um somcom os chegados do Nova Porto Velho, encontrou o (ou foiencontrado pelo...) MH2O-RO - MOVIMENTO HIP HOP

    ORGANIZADO DE RONDNIA. Como prtica entre os

    rappers ter um codinome, kilas se lembra do apelidode infncia, e como tambm seria uma referncia a sua

    cidade natal, torna-se Boca. Foi um tempo de muita

    aprendizagem e de grandes amizades, de onde tirou

    vrias lies,principalmente que poltica partidria

    uma porcaria, que s serve pra perverter a alma

    dos caboco... mal completamente desnecessrio,

    maquiavlico e diablico! Ser esclarecido

    politicamente diferente de ser politizado! E

    que o querer artstico criador e mantenedor

    de pessoas psicologicamente saudveis e podeestreitar laos duradouros entre mentes desejosas

    de liberdade e justia potica, cotidiana e divina!

    Um pouco mais tarde, pungido por aquele

    antigo senso de liberdade expressiva, acaba entendendoque ao rap que tem praticado, cujo enfoque estava na

    periferia, escapam alguns matizes da realidade em que

    vive e isso, no seu entendimento, estava fazendo comque o seu passado, as suas razes fossem negligenciadas:

    Reeti sobre meu passado (e meus antepassados),

    meu presente (o que meus contemporneosestavam fazendo) e resolvi apontar uma echa

    pro futuro (cego, no escrito - uma tabula rasa)...

    Uma aposta! Um ato de f! e um alvo...

    Resolve montar um trabalho que sintetizasse

    tudo isso: o amor pela arte, as memrias, o gosto musical,o amor por essas terras, e o que mais pudesse ser colocado

    em pauta... Assim, da reunio de Boca, Radar e Samuel,

    todos do Hip-Hop, mestre Xoroquinho (percusso), TinoAlves (percusso), Flammareon Jackson (guitarra),

    Laureano (bateria), Foca, Adriano, foi montada aQuilomboclada! - nome que vem da juno deQuilombo (resistncia) e caboclada (habitante local), a

    unio desses dois termos signica algo como resistncia da

    Lanando a echa pro futuro!Foto:Rona

    ldoNina

    (Festiva

    lBera

    deiros)

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    cultura local (cabocla)... e nossa cultura local ainda

    so as pessoas.

    Era o ano de 2004. O grupo, que fez sua

    primeira apresentao num baile da terceira idade,em um dos mirantes, logo estava sendo cogitado para

    apresentaes em palcos de maior expresso, como aAmostra de Msica do SESC, e agora tinha uma proposta

    denida - assumir a beraderice:Um dia conversando com um amigo de

    som, Boca sugeriu que explorassem uma questo

    chamada beraderos... Lembra-se at hoje quando oamigo riu e disse: que isso, boca? Os caras daqui nunca

    vo querer se chamados de beraderos... pelo menos no

    entre a galera mais jovem!... j que esse era um assuntoabordado basicamente entre pessoas mais velhas e

    regionalistas em suas msicas. Eu havia comentado isso

    com ele, porque me toquei que o sistema sempre

    joga fora aquilo que presta, e abraa aquilo que

    perfeitamente descartvel! Ento, raciocinei...

    se tivssemos que abraar um emblema aqui em

    Porto Velho/ Rondnia/ Norte... qual seria? E me

    lembrei de ter eu mesmo passado vrias vezes por

    esse suposto xingamento: seu bera! Isso era dito

    toda vez que algum queria rebaixar o outro e

    cham-lo de atrasado, matuto, tirado... Ento

    o suposto xingamento deveria se tornar o nosso

    maior orgulho, porque a casa grande burra

    (pensando que esperta) e tem valores invertidos

    e duvidosos... e aquilo que ela joga fora, deve

    valer alguma coisa... Uma idiaatraente!

    A juno de ritmos como o bumba-meu-

    boi, o batuque africano, maracatu, cantigas de roda,

    coco de embolada e ainda o hip-hop resultou no grupo

    Quilomboclada, que tem como principal proposta

    resgatar e valorizar o caboclo amaznida e os ribeirinhos

    que habitam este rinco do Brasil(Dirio da Amaznia,

    Porto Velho, 01 de maio de 2004).A banda que ningum sabia classicar

    direito, uns chamavam de grupo de HIP-HOP, outros

    grupo de Rap, e que em seu som sintetizava umcomplexo mosaico de expresses musicais, falando

    a lngua local, logo se tornou referncia de msica doNorte e fez apresentaes em importantes festivais locais,

    como o Madeira Festival, o Rock Jipa - onde ganharam o

    primeiro lugar e passagens para um festival no sul, masa falta de patrocnio no os deixou ir. A banda tocou

    ainda em Rio Branco (AC), Cuiab (MT) e fez umaparticipao em uma coletnea de msica do SESC(RO), o CD Correnteza.

    Em 2007, por conta de um desencontro

    de expectativas, Boca se retira da Quilomboclada.Mantendo-se, no entanto, el aos seus primeiros interesses,

    Soul Quilomboclada(Samuel)

    Eu me apresento sou negro e caboclo

    Afro-indgena daqueles bem loucos

    Se voc gosta de tudo que poucoEu e voc somos apenas o oposto

    J ca, j chorei, j sofri

    Pelo meu corpo tenho as marcas de caim

    Eu sigo em frente, minha aldeia diferente

    J quebramos a corrente que voc me colocou

    Paulo freire me ensinou

    Hoje eu sei a diferena do oprimido e do opressor

    Eu t de boa

    Eu t na proSe vacilar eu viro essa canoa (repete)

    Soul quilomboclada...

    Arrudeia(Rafael Altomar, Carlos Serro, kilas Moreira e Giovani Viecili)

    Arrudeia, arrudeia, arrudeia,

    Que esta ideia no pra na aldeia

    Arrudeira, arrudeia, arrudeia

    Que melhor respeitar os da beira

    Uma ideia de outro planeta

    Na cabea do cometa

    Esperana de f e alegria

    No planeta beradelia

    Chame toda a cabocladaPro centro da roda, na roda

    Espalha energia batendo palma

    E leva contigo a semente

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    a sua busca.

    Com o m da Quilomboclada, em 2008,

    participa do Projeto Famlia Somzala, que tinha emsua formao, alm dele, Anzia, mestre Xoroquinho,

    MC Giovani e Flvio Nascimento. A banda encabeava

    o que na verdade era um ambicioso projeto artstico ecultural, com a predominncia da temtica afroindgena.

    Sobre o escopo desta iniciativa temos o excerto retiradodo blog Famlia Somzala: a Famlia Somzala abrange

    uma gama de segmentos artsticos, como artistas de rua,arte circense, poesia, grate, dana de rua, artesanato,

    artes plsticas, artes visuais, artes cnicas, desenhos

    underground, e atitudes anarcopacistas; tudo isso a ser

    demonstrado atravs de todas as formas de expresses

    artsticas. um imenso caldeiro no meio da oresta, que

    aponta sua echa na fuso, na diversidade de elementos

    variados para chegar a uma proposta maior. A Famlia

    Somzala tem como papel principal dar continuidade,

    a essa jornada da procura da edicao de uma

    proposta verdadeiramente beradera, ou seja, que possarepresentar o norte a onde quer que v. Vrios artistas

    da cidade participaram do contexto de artes integradas:

    Hely Chateaubrind, Andra Melo, To Nascimento,Paola Maeda e Nega do Leite Artesanato.

    Em 2009, diculdades operacionais aca-baram tornando o projeto invivel. E seus participantes

    tomaram rumos diferentes. Nesse perodo, Boca se

    concentra na atividade literria e no desenvolvimentode quadrinhos.

    Em 2010, ainda concentrado nas atividadesliterrias e quadrinistas , convidado por Rafael Altomar,a participar da banda Beradelia, cujo nome deriva de uma

    msica da Famlia Somzala: ... manisfetao da mente,

    Beradelia.... A banda foi a juno do