expressÕes de humanidade - cenfavos.org.br · lhança de deus (1). “homem e mulher deus os...

32
Pe. Antônio de Lima Brito nds EXPRESSÕES DE HUMANIDADE

Upload: lamdien

Post on 03-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Pe. Antônio de Lima Brito nds

EXPRESSÕES DE HUMANIDADE

Capa Expressões de Humanidade.indd 2 23/08/2016 08:16:34

CENFAVOS significa Centro de Formação de Animadores Vocacionais Sioniense. Trata-se de uma organização especializada em:

• Orientação Vocacional,• Animação Vocacional,• Assessoramento Vocacional,• Capacitação de Animadores

Vocacionais.

POR QUÊ CENFAVOS?

Deus quer a salvação de todos(Cf. 1Tm 2, 4; Jo 6, 38-39; 10, 10).

A Animação Vocacional exige uma boa formação. Os cristãos necessitam de maior conscientização, quanto à sua corresponsabilidade de promover as vocações.Há urgência de maior investimento de recursos humanos e materiais na Promoção Vocacional. Mais racionalização na aplicação dos recursos destinados às vocações.A realidade atual reclama por uma inovação na maneira de animar as vocações. Há falta de centros formadores de agentes. Com mais Animadores competentes e santos, a Igreja intensificará a presença do Reino de Deus no mundo, tornando os humanos mais dóceis ao chamado divino.

Capa Expressões de Humanidade.indd 3 23/08/2016 08:16:35

EXPRESSÕES DE

HUMANIDADE

Pe. Antônio de Lima Brito, nds

Expressões de Humanidade.indd 1 23/08/2016 08:20:59

CENTRO DE FORMAÇÃO DE ANIMADORES VOCACIONAIS SIONIENSE

Rua Lino Coutinho, 436 - Ipiranga - São Paulo - SPFones: (11) 2619-9314 - (11) 97337-7605

[email protected]

BRITO, Antônio de Lima

Expressões de Humanidade,

São Paulo, Ed.Cenfavos, 2016.

Revisão:

Elisabeth Guimarães

Capa e diagramação:

Antonio Carlos Piantino

Impressão:

Edições Loyola

Expressões de Humanidade.indd 2 23/08/2016 08:21:00

3

SUMÁRIO

Introdução ...............................................................5

Expressões de humanidade ..................................7

Tolerância nota dez ..............................................17

A riqueza do perdão .............................................21

Conclusão .............................................................25

Notas bibliográficas ..............................................27

Expressões de Humanidade.indd 3 23/08/2016 08:21:00

4

O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, é

a criatura terrestre predileta do Pai Eterno. (Cf. Gn 1,26; Sl 8,4-7)

Expressões de Humanidade.indd 4 23/08/2016 08:21:00

5

INTRODUÇÃO

A qualidade da vida humana depende fundamentalmente

do respeito à dignidade da pessoa. Esse respeito deve ser expres-

so, sobretudo, nas relações interpessoais e sociais. A grandeza do

ser humano requer sempre reconhecimento à sua prioridade. Nin-

guém pode, pois, minimizá-lo, colocando-o em segundo plano em

favor do dinheiro, carro, TV, rádio, celular etc.

Visando a promoção do ser humano, apresentamos, nesse

livrinho, algumas expressões de humanidade, entre elas, a tole-

rância e o perdão. Com isso, esperamos resgatar alguns valores

éticos, morais e culturais comprometidos por uma nova cultura e

mau uso da tecnologia.

Expressões de Humanidade.indd 5 23/08/2016 08:21:00

6

A melhor maneira de se curtir a vida é vivê-la com os outros

e para os outros no amor. (Cf. 1Cor 12,1-13,13)

Expressões de Humanidade.indd 6 23/08/2016 08:21:00

7

I - SER HUMANO: IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS

Segundo a bíblia, o ser humano é criado à imagem e seme-

lhança de Deus (1). “Homem e mulher Deus os criou” (2). O que sig-

nifica imagem e semelhança? A resposta a essa questão procede do

ser de Deus. Saber, pois, quem é o humano requer o conhecimento

do divino. Sem pretensão de exaustão, apresentamos alguns traços

do perfil de Deus, como pressupostos da antropologia bíblica.

Deus é Pai, Filho, Espírito Santo, Comunidade (3); Pessoa

(4), Criador (5), Único (6), Universal (7), Santo, Perfeito (8), Eterno

(9), Infinito (10), Bom (11), Verdadeiro (12), Justo (13), Sábio (14) ,

Bom Pastor (15), Mestre (16), Luz (17), Caminho (18), Servo (19),

Alimento (20), Cordeiro (21), Paz (22), Vida (22ª), Imutável (23).

Como o grão de milho tem tudo para ser um pé de milho,

coisa parecida ocorre com o ser humano que possui todos os atri-

butos divinos em nível finito, segundo sua condição de criatura.

EXPRESSÕES DE HUMANIDADE

Expressões de Humanidade.indd 7 23/08/2016 08:21:00

8

E X P R E S S Õ E S D E H U M A N I D A D E

Apesar de suas limitações, ele tem fome de todos os atributos di-

vinos, é faminto de plenitude. A dignidade humana provém des-

sa semelhança com Deus. Viver de acordo com essa dignidade é

realizar o plano do Criador, ser santo (24). Mesmo não vivendo se-

gundo sua semelhança com Deus, pecando, a pessoa não a perde,

continua humana, mas insatisfeita, frustrada. É como o grão de

milho carunchado. Mesmo assim é milho, ainda que não possa re-

produzir nem alimentar. A realização plena do grão de milho é mul-

tiplicar-se e/ou alimentar; a do ser humano é viver plenamente em

si, enquanto criatura, as qualidades divinas, presentes nele desde

o nascimento, servir com perfeição seus semelhantes, reproduzir e

gozar a glória eterna (25).

1 - Pai

Deus partilha seu poder de “paternidade-maternidade”,

conferindo aos mortais a alegria de comunicarem aos filhos a vida

e o amor.

2 - Filho

O jeito amoroso do ser de Deus o levou a gerar seu Filho a

quem ama e por quem é amado perfeitamente (26).

3 - Espírito Santo

O amor mútuo entre Pai e Filho é tão perfeito, tão pleno que

Expressões de Humanidade.indd 8 23/08/2016 08:21:00

9

se identifica com o próprio Deus, o Espírito Santo (27). Deus é puro

espírito. Embora haja, na criatura humana, coesão e articulação

entre espírito e corporeidade, deve haver supremacia do espírito

sobre a matéria. Ainda que faça parte integrante da pessoa, o

corpo é efêmero e o espírito imortal.

4 - Comunidade

Pai, Filho e Espírito Santo constituem uma família trinitária,

paradigma para todas as famílias cristãs, sobretudo para os religiosos

consagrados, vocacionados a serem sinais escatológicos. Chamado à

santidade, o ser humano só se realiza vivendo em comunidade que é

um agrupamento de pessoas inter-relacionadas, vivenciando um es-

tado de comunhão. A vida comunitária objetiva o aprimoramento de

seus membros e o cumprimento de uma missão específica. São essas

as razões de sua existência. A vida em comum revela fraquezas e

grandezas. A constatação de limitações deve ser encarada com realis-

mo e esperança. Sabe-se que a vida partilhada não é feita com pessoas

perfeitas, mas para aperfeiçoá-las. Cabe, entretanto, ressaltar que a

comunidade tem o direito de estabelecer um nível mínimo de exigên-

cia comportamental para a permanência de seus membros. Em contra-

partida, os valores pessoais, boas ações e progressos merecem reco-

nhecimento, que age como reforço, estímulo para sua continuidade. É

bom lembrar que as qualidades dos fortes devem suprir a limitação dos

fracos, os bens dos aquinhoados, a penúria dos desprovidos.

Expressões de Humanidade.indd 9 23/08/2016 08:21:00

10

E X P R E S S Õ E S D E H U M A N I D A D E

A vida comunitária restrita tem por fim a realização de seus

membros, tornando-os construtores de uma sociedade semelhante à

Trindade. As regras de convivência e relações interpessoais decorrem

da dignidade humana, da vocação à santidade, da cultura e nível de

educação. Tais normas denominam-se “boas maneiras”. Correspon-

dem às exigências do relacionamento interpessoal. Agir com “boas

maneiras” é tratar os outros como gente, com dignidade; é reconhecer

o valor da pessoa com quem se relaciona. Constata-se, entretanto,

uma diminuição generalizada dessa prática tão necessária à vida so-

cial. Lembramos aqui alguns gestos mais comuns de “boas maneiras.”

II - BOAS MANEIRAS

1 - Muito obrigado

Ao receber um copo d’água ou outro benefício, devo di-

zer muito obrigado. Ao fazê-lo, reconheço-me devedor de gratidão

pelo bem recebido e a obrigação de reproduzi-lo em favor do ben-

feitor ou de alguém necessitado. Todo bem recebido é dívida ética

e moralmente contraída. Além disso, meu agradecimento estimu-

la quem fez a boa ação a continuar fazendo o bem (28).

2 - Desculpe-me

Essa expressão é própria de quem prima pela verdade e

o bem. Tem coragem de encarar o prejudicado como credor de sa-

Expressões de Humanidade.indd 10 23/08/2016 08:21:00

11

tisfação e reparação. Pedir desculpa é inclinar-se diante do direito

do ofendido, da verdade e do bem. Suplicar perdão é respeitar o

direito do outro. Quem pede desculpa restaura as saudáveis rela-

ções. Desculpe-me é linguagem dos humildes que reconhecem o

mal praticado ou o bem omitido (29).

3 - Por favor

Essas duas palavras expressam o reconhecimento da não

obrigatoriedade do atendimento, por parte da pessoa a quem se pede.

Por favor diz mais, respeita a liberdade, eliminando o perigo de au-

toritarismo, imposição e motiva o outro a corresponder à solicitação.

Quem assim procede quase sempre consegue o desejado. Por favor é o

modo dos educados que sabem abrir portas, angariar simpatia, aque-

cer relações. Por favor contém uma delicadeza que encanta a todos.

Ele é tão eficaz que transforma a súplica em convencimento, o supli-

cante em credor. Quando bem expresso, o por favor sensibiliza de tal

modo que não deixa nenhuma saída a não ser o pronto atendimento.

4 - Cumprimento

Bom dia, boa tarde, boa noite demonstram que os cum-

primentados são percebidos como pessoas. Sim, cumprimentar é

perceber e pela percepção valorizar. Passar por alguém e não cum-

primentá-lo é ignorá-lo, reduzí-lo a nada. Há indelicadeza maior

que chamar o outro de nada? Nada é o não ser. Não é uma injustiça

Expressões de Humanidade.indd 11 23/08/2016 08:21:00

12

E X P R E S S Õ E S D E H U M A N I D A D E

tratar quem é como não sendo? Não é um gesto grandioso manifes-

tar a percepção da presença de alguém, com um fraterno cumpri-

mento, fazendo-o sentir-se gente? Só quem é grande no ser perce-

be a maravilha humana, até mesmo quando submersa na miséria.

O cumprimento não é apenas percepção do ser. Ele é um caminho

para “ser-mais”. (30). Em razão disso, percebida a aproximação de

alguém, deve-se ficar em posição adequada ao cumprimento. Nun-

ca dar as costas a quem passa, ignorando-o, priorizando o celular.

5 - Bem-vindo

Bem-vindo manifesta alegria e ternura a quem chega.

Sua presença é motivo de felicidade para todos que o acolhem. Di-

zer bem-vindo é abrir-se ao outro e tê-lo como um bem. É demons-

trar contentamento com sua pessoa e presença. Bem-vindo é uma

expressão festiva de inserção do visitante no recinto, evento, grupo

etc. Só quem se sente bem acolhido tem prazer de chegar e perma-

necer. O bem-vindo sincero confere ao visitante tal prazer (31).

6 - Até logo

Dizer até logo é uma maneira delicada de pedir permis-

são para sair. Por que isso? Porque sem permissão, sair é abando-

nar quem fica, ignorar o outro, é fugir, é desrespeito, humilhação.

Ao dizer até logo, dou satisfação à pessoa com quem estou e co-

munico a ela o anseio de reencontrá-la em breve.

Expressões de Humanidade.indd 12 23/08/2016 08:21:00

13

7 - Com licença

Há inúmeras circunstâncias em que a educação exige

dizer com licença. Exemplos: passar entre pessoas; interferir numa

conversa; levantar-se de uma mesa; retirar-se de um grupo; fechar

uma porta diante de alguém; sentar-se entre duas pessoas; inter-

romper uma aula ou palestra etc. O pedido de licença emerge do

reconhecimento do direito do outro. É uma solicitação de conces-

são. Respeitar o direito de alguém é um valor a ser cultivado; é

uma atitude adequada às relações humanas. Quem respeita sem-

pre acerta.

8 - Solidariedade

Ela é uma das maiores virtudes; um dos fatores mais efi-

cazes para o relacionamento humano. Ao identificar-se com o outro

e sua situação, o solidário entra em comunhão com ele de manei-

ra mais comprometida, partilhando seu ser, seu saber, seu tempo,

seus bens. Nunca deixa o outro só. Com sua ação solidária constrói

fraternidade, qualidade de quem é profundamente humano (32).

9 - Dar preferência

Preferir os outros a si mesmo significa conferir-lhes a pre-

cedência no bem. Exemplos: ao entrar no elevador, em um banco,

numa loja; esperar que o pedestre ou um veículo passe; ao entrar

no ônibus ou carro; ao sentar-se à mesa de refeição; ao servir-se

Expressões de Humanidade.indd 13 23/08/2016 08:21:00

14

E X P R E S S Õ E S D E H U M A N I D A D E

etc. É necessária muita vigilância para não condicionar o dar pre-

ferência a fatores inconsistentes como: aparência, “status”, fama,

etc. Não é fácil preferir os outros a si mesmo gratuitamente. Só

quem ama é capaz de tamanha façanha (33).

10 - Equilíbrio

O equilíbrio é a medida certa com que se deve agir; é a

virtude da moderação, ponderação tão necessária ao relacionamen-

to humano. O equilíbrio resulta do autocontrole frente às adversida-

des da vida. Como as coisas nem sempre ocorrem segundo nossos

desejos, temos que enfrentar forças antagônicas, contrariedades da

existência, o antagonismo do sim e do não. Mesmo diante de gra-

ves desafios, urge preservar a estabilidade emocional, responsável

pelo autocontrole. Emocional estável não permite compulsão, his-

teria, precipitação, causas de comportamento irrefletido, danoso. O

equilibrado tem visão ampla; não se deixa prender a ninharias; ele

busca o bem maior, sabe ponderar, esperar. “O homem paciente é

cheio de entendimento, o impulsivo exalta a estultícia” (34).

11 - Alegria

A alegria é indispensável ao acolhimento, sobretudo, em

se tratando do primeiro contato. É uma chave mágica que abre

toda porta humana. É uma ordem de comando que desarma todos.

O alegre é um conquistador de simpatia. Relaciona-se, quase sem-

Expressões de Humanidade.indd 14 23/08/2016 08:21:00

15

pre, com facilidade e êxito. Qual é a razão da força da alegria? Ela

indica harmonia, felicidade, desejo de todos, homens e mulheres.

Ao depararmos com alguém alegre, percebemos que a felicidade é

possível. Sentimo-nos acolhidos e amados por ele. O alegre valori-

za-nos tanto que faz do encontro conosco uma festa. Ser alegre é

ver os outros como motivo de festejo (35).

Expressões de Humanidade.indd 15 23/08/2016 08:21:00

16

Só o amor é capaz de qualificar positivamente as relações humanas.(Cf Rm 13, 8-10; 1Cor 13, 1-13)

Expressões de Humanidade.indd 16 23/08/2016 08:21:00

17

Tolerância é o poder de absorção de adversidades. O to-

lerante suporta a contrariedade, porque é superior a ela. É indul-

gente com os fracos. Encontra razão para desculpá-los. Oferece-

lhes sempre nova chance. Em sua mente, é certa a conversão do

faltoso. A condescendência e o perdão são virtudes de quem vê o

fraco acima de sua fragilidade. Longe de conivência, tolerância é

um amortecedor emergente do amor, que se entrepõe às partes,

evitando atrito entre elas.

Fora Deus, nada no universo é igual ou superior ao ser humano.

Criados à imagem e semelhança do Divino, homem e mulher são o ápi-

ce da criação. Em função deles, devem girar as demais criaturas (mi-

nerais, vegetais, animais etc ). Não obstante sua grandeza, o humano é

frágil. Está sujeito a variáveis que extrapolam seu controle. Carrega em

si a possibilidade paradoxal do bem e do mal. Os binomes antônimos

bondade/maldade, amor/ódio, liberdade/opressão, altruísmo/ egoísmo,

perdão/vingança, paciência/impaciência são algumas de suas marcas

indeléveis. Quando o polo negativo desses binomes predomina, o de-

sarranjo é resolvido, em grande parte, com a indulgência.

TOLERÂNCIA NOTA DEZ

Expressões de Humanidade.indd 17 23/08/2016 08:21:00

18

E X P R E S S Õ E S D E H U M A N I D A D E

Em virtude de sua dignidade de filho de Deus e fragilidade,

o ser humano merece, de antemão, respeito. Em caso de falta grave,

deverá ser corrigido adequadamente, com pena terapêutica, e res-

sarcir o dano causado, se possível. Correção, pena e ressarcimento

só se justificam em vista da extinção do mal e não do malfeitor.

Há, porém, deslizes que a simples transigência resolve.

Basta, para tanto, o amor que gera compreensão, paciência, per-

dão e reconciliação. É o que ocorre, quase sempre, com os espo-

sos, pais e filhos. Ainda hoje, muitos casais celebram suas bodas

de casamento. Por que isso? Porque ciúmes, divergências na edu-

cação dos filhos, conflitos econômicos, atraso em eventos, vaida-

de, comida sem ou com muito sal, barulho, omissões, grosseria etc

são neutralizados pelo “amor-compassivo”. A relação dos pais com

os filhos não deixa por menos.

A saúde da sociedade depende, entre outros fatores, da

qualidade da convivência social. Com frequência, o convívio é com-

prometido por atitudes inconvenientes. Em muitos casos, a relevân-

cia é a melhor solução. Demais, ela enseja uma reflexão sobre a falta,

oportunizando ao malfeitor espaço para sua conversão.

A vida em São Paulo, por exemplo, seria bem mais difícil

e violenta, se o paulistano não suportasse as buzinadas desneces-

sárias; se motorista e pedestre não se perdoassem, em razão de

suas imprudências; se os passageiros não tolerassem os empurrões

e pisadas; se os condutores de ônibus não relevassem os insultos

Expressões de Humanidade.indd 18 23/08/2016 08:21:00

19

dos usuários; se estes não desculpassem as bruscas freadas; se os

transeuntes se vingassem das trombadas nos lugares mais apinha-

dos; se no trânsito, os “apressadinhos” não fossem poupados; se nas

colisões, os envolvidos não contemporizassem; se os moradores do

prédio não admitissem o barulho da festa de aniversário; se o padre

não compreendesse o choro de criança na missa e o atraso da noiva.

Isso é pouco. A vida apresenta muito mais. Contudo, constata-se

que alguns, por não terem querido engolir um mosquitinho sequer,

largaram o cônjuge, abandonaram a família, demitiram-se do em-

prego, desistiram do estudo; outros, por motivos injustificáveis, fú-

teis, cumprem 10, 20, 30 anos de prisão. Tudo isso é lamentável.

Como é necessária a tolerância, a condescendência em nossa vida!

Desejar que o outro seja perfeito, sim; mas supor que ele já o

seja, não. Logo, presumir, excelência máxima de alguém não predis-

põe à tolerância. Se, entretanto, cada um exigir de si mesmo o máxi-

mo possível, todos tornar-se-ão mais transigentes com as fraquezas

alheias. Ademais, mede-se a maturidade do indivíduo pelo grau de

sua exigência de perfeição feito a outrem. Quem menos exige mais

tolera; quem mais tolera mais ama; quem mais ama mais gente é.

Aos que praticam o “amor-tolerância” nota 10 (1).

Expressões de Humanidade.indd 19 23/08/2016 08:21:00

20

Perdoa sempre quem considera o pecador maior que seu pecado.

(Cf. . Gn 1,26; Sl 8,4-7; Mt 18, 21-22; 25, 31-46)

Expressões de Humanidade.indd 20 23/08/2016 08:21:00

21

Rubens, dez anos: -“Papai, por que o senhor pediu perdão

à mamãe”? - “Filho, fui estúpido com ela; devo reparar o estrago de

meu desamor. O perdão cura o agressor e o agredido. Pedindo des-

culpa, reconheço meu erro. Se ela me absolve, saro a ferida aberta

em sua mãe, por minha estupidez. Além disso, fico feliz”.

Dorival está certo. Pedir e conceder perdão resultam,

de fato, em reconciliação. Sempre, pois, que houver negação de

amor nas relações interpessoais, a solução está no apelo humilde

de absolvição e no generoso indulto (1).

A súplica de remissão, humilde e contrita, comove,

quase sempre, o credor e o motiva a suprimir a dívida. Se o supli-

cante tem firme propósito de regeneração, aumenta a possibilida-

de de anistia (2). Usar, porém, subterfúgio, como pedir um objeto

emprestado, para se reconciliar, não é um bom caminho. Essa es-

tratégia insinua pouca humildade e contrição. O pedido de descul-

pa ideal é explícito, direto, oportuno.

Perdoar é absolver o culpado de um dano cometido. É

desculpá-lo. Não é esquecimento do mal sofrido. Como ferimento

A RIQUEZA DO PERDÃO

Expressões de Humanidade.indd 21 23/08/2016 08:21:00

22

E X P R E S S Õ E S D E H U M A N I D A D E

curado, a ofensa perdoada deixa, sim, cicatriz. Essa, se bem cuida-

da, mesmo arquivada na memória, não interferirá na relação com o

absolvido.

Em virtude de seu valor e serventia, conserta-se carro

enguiçado, geladeira danificada, roupa rasgada. Chama-se o agrô-

nomo para sanar a plantação praguejada; leva-se ao veterinário o

cão enfermo. Se todas essas providências são louváveis e necessá-

rias, com maior razão, os cuidados reparadores dos humanos (3).

Esses não podem, consequentemente, jamais ser descartados em

virtude de eventuais deslizes (4). Criada à imagem e semelhança

divinas (5), a pessoa é de tão grande valor (6) que o Pai sacrificou

seu Filho para salvá-la (7).

Essa grandeza humana merece o perdão (8), que so-

brepõe a pessoa à sua falta; reconstrói a unidade dilacerada; rea-

ta amizade e fraternidade; resgata segurança perdida; melhora o

estado psicossomático; devolve a paz; santifica, salva.Vingar-se,

entretanto, é negar o bem, ceder ao mal, experimentar o nada, a

mentira, a frustração, condenação (9).

Em fidelidade à sua missão, Jesus ensina e vive a

misericórdia (10). Ordena a busca da ovelha perdida (11); festeja

a volta do filho pródigo (12); acolhe Zaqueu e hospeda-se em sua

casa (13); em refeição com um fariseu, defende e perdoa a pecado-

ra arrependida (14); livra e absolve a mulher adúltera ameaçada de

apedrejamento (15); interrogado por Pedro, quanto ao número de

Expressões de Humanidade.indd 22 23/08/2016 08:21:00

23

vezes que se deve perdoar, o Nazareno responde: “setenta vezes

sete” ou seja, sempre (16).

A convicção da eficácia do amor justifica todo tipo

de perdão (I7). Esse, embora parecendo fraqueza aos olhos insen-

satos, é uma das maiores expressões da gratuidade do amor. Ele

é próprio dos fortes, que não se cansam de amar nem se curvam

ao falacioso prazer da omissão ou vingança (18). O misericordioso

tem Deus como primeira riqueza e o próximo como segunda (19);

comporta-se conforme sua vocação à santidade; segue Jesus, “Ca-

minho, Verdade e Vida” (20); enquanto discípulo, busca asseme-

lhar-se ao Mestre; por isso, não nega seu “amor-perdão”; dedica-se

à plenitude da lei: o amor, única via de salvação (21).

Expressões de Humanidade.indd 23 23/08/2016 08:21:00

24

MANDAMENTO DE JESUS CRISTO SOBRE O AMOR

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem

em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito.

Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto

e vos torneis meus discípulos.

Como o Pai me ama, assim também eu vos amo.

Perseverai no meu amor.

Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes

no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de

meu Pai e persisto no seu amor.

Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em

vós, e a vossa alegria seja completa.

Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo.

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua

vida por seus amigos.

Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando.

Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor.

Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto

ouvi de meu Pai.

Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí

para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça.

Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao

Pai em meu nome, ele vos conceda.

O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”

(Jo 15, 7-17).

Expressões de Humanidade.indd 24 23/08/2016 08:21:01

25

A bíblia apresenta o homem e a mulher como criaturas di-

ferenciadas pela sua altíssima dignidade. No livro do gênesis, ela

diz que eles foram criados “à imagem e semelhança de Deus” (1).

Em Mateus, Jesus se identifica com o ser humano (2). O salmista

assim se expressa: “... que é um mortal para dele te lembrares e

um filho de Adão, que venhas visitá-lo? E o fizeste pouco menos

que um deus, coroando-o de glória e beleza” (3).

Percebe-se, nesses textos bíblicos, o destaque relevante

conferido aos seres humanos. Trata-se de uma dignidade confe-

rida por Deus e a ser respeitada por todos. Não há, portanto, ne-

nhuma razão que justifique o desrespeito à dignidade do homem

e da mulher.

Embora sejam desafios, a defesa e promoção da dignidade

humana, fraternidade, justiça e paz são tarefas de todos. O cami-

nho para sua consecução é o amor concreto, manifesto na solida-

riedade e convivência fraterna.

C O N C L U S Ã O

Expressões de Humanidade.indd 25 23/08/2016 08:21:01

SEM O AMOR NADA TEM VALOR“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver

caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os

mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de

transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou.

Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos

pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,

se não tiver caridade, de nada valeria!

A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja.

A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante.

Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses,

não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.

Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão,

o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará.

A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita.

Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como

criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem,

eliminei as coisas de criança.

Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então

veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei

totalmente, como eu sou conhecido.

Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três.

Porém, a maior delas é a caridade”

(1Cor 13, 1-13).

Expressões de Humanidade.indd 26 23/08/2016 08:21:01

27

EXPRESSÕES DE HUMANIDADE

(1) Cf. Gn 1, 26. (2) Cf. Gn 1, 17. (3) Cf. Mt 28, 19; 11, 25; Jo 1, 1. (4)

Cf. Mt 28, 19. (5) Cf. Gn 1, 1-27. (6) Cf. Mt 12, 19; Jo 17, 3; Dt 6, 4. (7)

Cf. Dt 6, 4. (8) Live 19, 2; 11, 44; Mt 5, 49; 1Pd 1,16; Jo 6, 68-69; Tg 1,4.

(9) Cf. Gn 21, 33. (10) Cf. Sl 145, 3; 147, 5. (11) Cf. Ex 33, 19; Mc 10,

18; Jo 10,18 ;Tg 3, 4. (12) Cf. Jo 14, 16. (13) Cf. Is 20, 22; 46, 12-13; Sb.

12, 15. (14) Cf. Rm 16, 27. (15) Cf. Sl 22; Jo, 10,11. (16) Cf. Mt 8, 19.

(17) Cf. Jo 8, 12. (18) Cf. Jo 14, 6. (19) Cf. Mt 20, 26-28. (20) Cf. Jo 6,

51; 6,35. (21) Cf. Jo 1, 29. (22) Cf. Is 11, 1-9. (22a) Cf. Jo 14, 6 (23) Cf.

Tg 1, 17. (24) Cf. Rm 8, 28-30; Ef 1, 3 -14. (25) Cf. Jo 6, 38; Ef 1, 3-14;

Rm 8, 28-30. (26) Cf. Jo 3, 16-17; 6, 38. (27) Cf. 1Jo 4, 7-8.16). (28) Cf.

Lc 17, 11-19. (29) Cf. Mt 6, 12-14; 18, 23-35. (30) Cf. Rm 16, 16. (31)

Cf. Rm 12, 13; 15, 17. (32) Cf. Mt 25, 31-46; Lc 10, 29-37. (33) Cf. Mt

19, 30; 20, 24-28. (34) Pr 14, 29. (35) Cf. Jo 16, 22-24.

NOTASBIBLIOGRÁFICAS

Expressões de Humanidade.indd 27 23/08/2016 08:21:01

28

E X P R E S S Õ E S D E H U M A N I D A D E

TOLERÂNCIA NOTA 10

(1) Cf. Jo 15, 12-17; 1Cor 13, 1-13; 2Cor 11, 19-20.

A RIQUEZA DO PERDÃO

(1) Cf. Gal 6, 1. (2) Cf. Lc 18, 9-14. (3) Cf. Jo, 6, 38-39. (4) Cf. Mt 18,

21-35. (5) Cf. Gn 1, 26. (6) Cf. Sl 8, 4-6; Mt, 25, 40.45. (7) Cf. Gal 4, 4-5;

Jo 6, 38-39; 10, 10. (8) Cf. Mt 6, 12; 18, 21-35. (9) Cf. Live 19, 17-18; 4,

1-5,20. (10) Cf. Mt 10, 9-13. (11) Cf. Lc 15, 4-7. (12) Cf. Lc 15, 11-32.

(13) Cf. Lc 19, 1-10. (14) Cf. Lc 7, 36-50. (15) Cf. Jo 8, 1-11. (16) Cf.

Mt 18, 21-22. (17) Cf. 1Cor 12, 31-13, 13. (18) Cf. Mt. 5, 20-48. (19) Cf.

Dt 6, 4-5; Mt 22, 34-40; Hb 10, 38; 11, 4. (20) Cf. Jo 14, 6. (21) Cf. Rm

13, 8-10.

CONCLUSÃO

(1) Cf. Gn 1, 29. (2) Cf. Mt 25, 31-46. (3) Sl 8, 5-6.

Bíblia de Jerusalém (Revista), 9ª ed., Paulus, São Paulo, 1973

Expressões de Humanidade.indd 28 23/08/2016 08:21:01

Pe. Antônio de Lima Brito nds

Nasceu em Camocim, Ceará, em 1941. É membro da Congregação dos Religiosos de Nossa Senhora de Sion desde 1965. Foi ordenado Presbítero em 1975.Formado em Filosofia pela Faculdade Nossa Senhora Medianeira, São Paulo, e em Teologia pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo. É pós-graduado em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.Desde 1969, estuda animação vocacional e trabalha nessa área. Tem prestado relevantes serviços a dioceses e congregações religiosas brasileiras na organização e dinamização dessa pastoral. Atua também junto a educadores e alunos de escolas públicas e particulares. Foi pároco da Igreja São José do Ipiranga, São Paulo, por mais de 10 anos. Atualmente, coordena o Centro de Formação de Animadores Vocacionais Sioniense - CENFAVOS

Capa Expressões de Humanidade.indd 4 23/08/2016 08:16:36

CENTRO DE FORMAÇÃO DE ANIMADORES VOCACIONAIS SIONIENSE

Rua Lino Coutinho, 436 - Ipiranga - São Paulo - SPFone: (11) 2619-9314 - (11) 97337-7605

[email protected] - www.cenfavos.org.br

EXPRESSÕES DE HUMANIDADE

A alegria é indispensável ao acolhimento, sobretudo, em

se tratando do primeiro contato. É uma chave mágica

que abre toda porta humana. É uma ordem de coman-

do que desarma todos. O alegre é um conquistador de

simpatia. Relaciona-se, quase sempre, com facilidade e

êxito. Qual é a razão da força da alegria? Ela indica har-

monia, felicidade, desejo de todos, homens e mulheres.

Ao depararmos com alguém alegre, percebemos que a

felicidade é possível. Sentimo-nos acolhidos e amados

por ele. O alegre valoriza-nos tanto que faz do encontro

conosco uma festa. Ser alegre é ver os outros como mo-

tivo de festejo (35).

Capa Expressões de Humanidade.indd 1 23/08/2016 08:16:34