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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMGINSTITUTO DE CIENCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE POS-GRADUACAO EM MATEMATICA
Existencia e Multiplicidade de solucoes para problemas elıpticos
pelo metodo da variedade de Nehari
Leandro da Luz Vieira
Belo Horizonte - MGSetembro/2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMGINSTITUTO DE CIENCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE POS-GRADUACAO EM MATEMATICA
Leandro da Luz Vieira
Orientador: Hamilton Prado BuenoCoorientador: Helder Candido Rodrigues
Existencia e Multiplicidade de solucoes para problemas elıpticos
pelo metodo da variedade de Nehari
Dissertacao apresentada ao Programade Pos-Graduacao em Matematica doInstituto de Ciencias Exatas (ICEX) daUniversidade Federal de Minas Gerais,como requisito parcial para obtencaodo tıtulo de Mestre em Matematica.
Belo Horizonte - MGSetembro/2015
Agradecimentos
A Deus por tudo.
A minha famılia pelo apoio e amor de sempre.
Ao meu orientador pelo exemplo de ser humano e de professor que e, e pelo quanto foi im-
portante para a conclusao deste trabalho.
Ao meu coorientador Helder Candido Rodrigues, ao colega Leandro Correa Paes Leme e ao
professor Grey Ercole pelos momentos de discussao.
A todos os meus professores, das series iniciais aqueles das disciplinas ja cursadas por mim
no doutorado, pela importancia, principalmente, em minha formacao intelectual.
As secretarias do programa de pos graduacao em Matematica da UFMG, Andrea e Kelly,
pelo auxılio que prestaram e ainda prestam a mim, com total profissionalismo, dedicacao e
carisma. Saibam que sem o trabalho de voces, tudo seria mais difıcil.
As pessoas que, de uma forma ou de outra, contribuıram e/ou contribuem para meu cresci-
mento pessoal.
Aos colegas Renato Rodrigues, Daniel Oliveira e Leandro Gonzaga pelos momentos de es-
tudo e descontracao.
Aos colegas da UFMG, Gilberto de Assis, Joel Cruz, Julio Matute e Carlos Guzman, pelos
constantes auxılios. Cada ajuda de voces foi extremamente importante para a conclusao
deste trabalho.
Ao Ireu e ao Etevaldo, companheiros de casa, obrigado pelo apoio.
Aos professores Narciso da Hora Lisboa, Ezequiel Rodrigues Barbosa, Helder Candido Ro-
drigues e Luiz Gustavo Farah por terem sido membros da banca de avaliacao deste trabalho,
contribuindo de forma significativa.
A Fraternidade Espırita Chico Xavier pelas palestras esclarecedoras e pelos tratamentos es-
pirituais.
A psicologa Carina Ribeiro de Aquino pelos auxılios psicologicos prestados em meio as pre-
ocupacoes advindas da vida academica, profissional e pessoal.
A CAPES pelo auxılio financeiro.
A todos, muito obrigado!
1
“Competencia, planejamento, deter-
minacao, espırito de equipe e amor sao
qualidades essenciais para ser dono do
futuro. Mas tambem e preciso ter fe,
acreditar.”
Roberto Shinyasshiki
Notacoes e sımbolos
E Espaco de Banach
H Espaco de Hilbert
Ω Aberto do RN
C1(Ω) Espaco das funcoes u : Ω→ R com derivadas contınuas
L1loc(Ω) Espaco das funcoes u : Ω → R integraveis em cada
subconjunto compacto K ⊂ Ω
W 1,p(Ω) Espaco de Sobolev
‖ ‖1,p Norma em W 1,p(Ω)
W 1,p0 (Ω) Fecho de C∞0 (Ω) com relacao a norma ‖ · ‖1,p
N = u ∈ E : Φ′(u)u = 0 Variedade de Nehari
Φ, I, I0, I1, I2 Funcionais, sendo Φ funcional “energia”
Convergencia fraca
→ Convergencia forte
→ Imersao de espacos
∆pu := div(|∇u|p−1∇u) Operador p-laplaciano
u+ = maxu, 0 Parte positiva da funcao u : Ω→ R
u− = minu, 0 Parte negativa da funcao u : Ω→ R
p∗ Expoente crıtico da imersao de Sobolev H1(Ω) → Lp(Ω)
o(1) Denota um funcao ou sequencia que tende a 0
f(x, u) = o(|u|p−1) Denota uma funcao f que e muito pequena comparada
a |u|p−1
I ′(u) = o(‖u‖) Denota a derivada de um funcional que e muito pequena
comparada a ‖u‖
3
Resumo
Neste trabalho usaremos o metodo da Variedade de Nehari para mostrar a existencia de
estados fundamentais e multiplas solucoes para os seguintes problemas de fronteira elıpticos
nao lineares: −∆u− λu = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω(1)
e
−∆pu− λ|u|p−2u = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω,(2)
do qual (1) passa a ser um caso particular, uma generalizacao para p-laplaciano, definido
por ∆pu := div(|∇u|p−1∇u) para todo p ∈ (1,∞). Tanto em (1) quanto em (2), Ω e um
aberto limitado do RN , λ < λ1, sendo λ1 o primeiro autovalor de −∆ em Ω e , em (1),
f ∈ C(Ω× R,R) e uma funcao satisfazendo a restricao de crescimento
|f(x, u)| ≤ a(1 + |u|q−1) (3)
para algum a > 0 e 2 < q < 2∗, sendo que 2∗ representa aqui o expoente crıtico da imersao
de Sobolev H1(Ω) → Lp(Ω), e tem valor
2∗ =
2N
N − 2, se N ≥ 3
∞, se N = 1 ou N = 2
e, em (2), f precisa satisfazer a restricao de crescimento (3) com 2 substituıdo por p e 2∗
substituıdo por
p∗ :=
Np
N − p, se N > p
∞, se N ≤ p.
4
Usaremos o metodo da variedade de Nehari tambem para provarmos a existencia de
solucoes de menor energia com sinais trocados para (1) e (2), ou seja, uma solucao u ∈ Nsccom Φ(u) = csc ≥ 2c, em que Φ e o funcional “Energia” associado a (1) e (2), respectiva-
mente, Nsc := u ∈ E : u± ∈ N, csc = infu∈Nsc
Φ(u), com u+ = maxu, 0 e u− = minu, 0
denotando, sucessivamente, as parte positiva e negativa de u.
1
1Palavras-chave: variedade de Nehari, multiplas solucoes, estados fundamentais, problemas de fronteiraelıpticos nao lineares, p-laplaciano, solucoes de menor energia.
5
Abstract
In this work we will use the method of Nehari manifold to show the existence of ground
states and multiple solutions to the following elliptical boundary problems nonlinear: −∆u− λu = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω(4)
and
−∆pu− λ|u|p−2u = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω,(5)
which (4) becomes a particular case, a generalization for the p-laplacian, defined as ∆pu :=
div(|∇u|p−1∇u) for all p ∈ (1,∞). At (4) and (5), Ω is a bounded domain RN , λ < λ1,
being λ1 the fist Dirichlet eigenvalue of −∆ in Ω and , at (4), f ∈ C(Ω×R,R) is a function
satisfying the growth restrition
|f(x, u)| ≤ a(1 + |u|q−1) (6)
for some a > 0 e 2 < q < 2∗, wherein 2∗ here denotes the critical exponent of the Sobolev
embedding H1(Ω) → Lp(Ω), and has value
2∗ =
2N
N − 2, if N ≥ 3
∞, if N = 1 or N = 2
and, at (5), f need to satisfy the growth restriction (6) wuith 2 replaced by p e 2∗ replaced
by
p∗ :=
Np
N − p, if N > p
∞, if N ≤ p.
6
we will use the method of Nehari manifold also to show the existence of least energy sign-
changing solutions for (4) and (5), i.e, a solution u ∈ Nsc with Φ(u) = csc ≥ 2c, wherein Φ is
the funcional “Energy” associated with (4) and (5), respectively, Nsc := u ∈ E : u± ∈ N,
csc = infu∈Nsc Φ(u), with u+ = maxu, 0 and u− = minu, 0 denoting, successively, the
positive and negative part of u.
2
2key words: Nehari manifold, multiple solutions , ground states,nonlinear elliptic boundary value pro-blems, p-laplacian, least energy solution.
7
Sumario
Introducao 9
1 Preliminares 15
1.1 Um problema nao linear para o Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Um problema nao linear para o p-Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2 A Variedade de Nehari 26
2.1 Definicao e principais propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3 Aplicacoes 45
3.1 O problema para o Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.2 O problema para o p-Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
A Teoria de ponto crıtico 56
B O princıpio variacional de Ekeland 59
C Espacos de Sobolev 61
D Operador de Superposicao 64
E A aplicacao de dualidade 69
F Lema da deformacao quantitativa 72
G Grau Topologico 73
8
Introducao
Sabemos que, pelo Princıpio de Dirichlet, as solucao de uma equacao diferencial junta-
mente com uma condicao de fronteira pode ser obtida como minimizador de um funcional
apropriado.
A ideia principal embutida no Princıpio de Dirichlet e a interpretacao de um problema
diferencial, escrito abstratamente como F (u) = 0, como Φ′(u) = 0, sendo Φ um funcional
adequado definido em um conjunto de funcoes, e Φ′ a diferencial de Φ. Em outras palavras,
zeros de F sao vistos como pontos crıticos (nao necessariamente mınimos) de Φ. A equacao
Φ′(u) = 0 e equacao de Euler ou equacao de Euler-Lagrange associada a Φ.
Muitas vezes, verifica-se que e muito mais facil encontrar um ponto crıtico de Φ do
que trabalhar diretamente com a equacao F (u) = 0. Alem disso, em inumeras aplicacoes, o
funcional Φ tem um significado fısico por ser , em alguns casos, a integral de um Lagrangeano,
sendo esta integral conhecida por muitos autores como Funcional Acao. Portanto, encontrar
um ponto de mınimo de Φ significa nao so resolver a equacao diferencial, mas encontrar a
solucao de acao mınima, frequentemente de particular relevancia em problemas concretos.
A interpretacao de Φ como uma energia e tao frequente que os funcionais associados a
problemas diferenciais sao normalmente chamado funcionais de energia, mesmo quando o
problema nao tem aplicacoes fısicas diretas.
Acontece, muitas vezes, que o funcional Φ associado ao problema de valor de fronteira
e ilimitado inferiormente. Portanto, nenhuma minimizacao e possıvel no espaco inteiro,
sendo necessario, entao, a restricao de Φ a um conjunto onde ele seja, de fato, limitado
inferiormente, o que possibilita, em alguns casos, sob algumas hipoteses, resolver o problema,
uma vez que um ponto crıtico de Φ nesse conjunto sera um ponto crıtico de Φ no espaco
inteiro. A variedade de Nehari e um exemplo de conjunto onde esta minimizacao pode ser
realizada.
Na sequencia, consideraremos o problema−∆u− λu = |u|p−2u, x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω(7)
que pode ser encontrado em [18], e que ilustra a utilizacao da variedade de Nehari em um
caso concreto. Em (7) Ω e um domınio limitado do RN , λ > −λ1, onde λ1 denota o primeiro
autovalor de −∆ em Ω e 2 < p < 2∗, sendo que 2∗ representa aqui o expoente crıtico da
9
imersao de Sobolev H1(Ω) → Lq(Ω), e tem valor
2∗ =
2N
N − 2, se N ≥ 3
∞, se N = 1 ou N = 2.
Ressaltamos que, no capıtulo 2 deste trabalho, faremos algumas hipoteses que nos possi-
bilitarao aplicar o metodo da variedade a problemas onde o espaco ambiente e um espaco
abstrato. A saber, consideraremos E um espaco de Banach uniformemente convexo tal que
(A1) Existe uma funcao de normalizacao ϕ tal que
u 7→ ψ(u) =
∫ ‖u‖0
ϕ(t) dt ∈ C1(E \ 0,R),
sendo que J := ψ′ e limitado em conjuntos limitados e J(w)w = 1 para todo w ∈ S =
w ∈ E : ‖w‖ = 1;
(A2) Para cada w ∈ E \ 0 existe sw tal que se αw(s) := Φ(sw), entao α′w(s) > 0 para
0 < s < sw e α′w(s) < 0 para s > sw;
(A3) Existe δ > 0 tal que se sw ≥ δ para todo w ∈ S e, para cada subconjunto compacto
K ⊂ S, existe uma constante CK tal que sw ≤ CK para todo w ∈ K.
Considere, agora, o funcional “Energia” Φ : H10 (Ω)→ R associado ao problema (7), dado
por
Φ(u) :=1
2
∫Ω
(|∇u|2 + λu2) dx− 1
p
∫Ω
|u|p dx
=1
2‖u‖2
λ −1
p|u|pp
em que
‖ · ‖λ :=
(∫Ω
(|∇u|2 + λu2) dx
) 12
denota aqui uma norma equivalente a norma usual em H1(Ω).
A desigualdade de Poincare assegura que este funcional esta bem definido e sua relacao
com o problema (7) e dada pelo seguinte fato: Φ e de classe C2 e
Φ′(u)v =
∫Ω
∇u · ∇v dx+ λ
∫Ω
uv dx−∫
Ω
|u|p−2uv dx ∀ u, v ∈ H10 (Ω).
Em consequencia, u e uma solucao fraca do problema (7) se e so u e um ponto crıtico de Φ.
Para estudar os pontos crıticos de Φ convem analisar seu grafico. Para isto, fixemos uma
direcao u ∈ H10 (Ω), u 6= 0, e observamos como e o grafico de Φ sobre a reta gerada por u.
Isto e, consideremos a funcao αu : R→ R dada por
αu(s) := Φ(su) =
(1
2‖u‖2
λ
)s2 −
(1
p|u|pp)|s|p.
10
A hipotese A2 acima garantira a mesma analise para uma situacao mais geral (veja o capıtulo
2).
Pela hipotese p > 2, o grafico desta funcao tem a seguinte forma:
Figura 1: Desenho do grafico de Φ.
Pode-se confirmar a afirmacao anterior encontrando os pontos crıticos e os valores crıticos
da funcao f : R→ R dada por
f(s) = as2 − b|s|p
sendo a, b > 0 numeros reais e p > 2.
Observamos que Φ nao e limitada inferiormente e que tem um mınimo local em 0. Note
que 0 e uma solucao do problema (7). Nos interessa saber se este problema tem uma solucao
nao trivial. O fato de ser Φ ilimitada inferiormente impossibilita a aplicacao de qualquer
metodo direto da teoria de minimizacao.
Denotemos por su o unico maximo de αu em (0,∞). Ressaltamos, tambem aqui, que a
hipotese A2 garantira a existencia de um unico maximo de αu em (0,∞) (veja capıtulo 2)
Os pontos crıticos de Φ estao contidos no conjunto suu : u ∈ H10 (Ω), ‖u‖λ = 1. Tal
conjunto se chama a variedade de Nehari.
O conjunto
N = u ∈ H10 (Ω) : u 6= 0,Φ′(u)u = 0
= u ∈ H10 (Ω) : u 6= 0, ‖u‖2
λ = |u|pp
contem obviamente todos os pontos crıticos nao triviais de Φ. Tem-se as seguintes proprie-
dades, que tambem se cumprirao na situacao de nosso trabalho.
i) Existe δ > 0 tal que ‖u‖λ ≥ δ para todo u ∈ N . Em consequencia N e um conjunto
fechado de H10 (Ω).
ii) N e uma subvariedade de classe C2 de H10 (Ω).
iii) u /∈ TuN
iv) Para cada u ∈ H10 (Ω), u 6= 0, existe um unico su > 0 tal que suu ∈ N . su e o unico
ponto em (0,∞) para o qual se cumpre
maxs≥0
Φ(su) = Φ(suu).
11
Das propriedades anteriores concluımos os seguintes fatos:
i) infu∈N
Φ(u) > 0.
ii) Se u ∈ N e um ponto crıtico de Φ sobre N , entao u e um ponto crıtico nao trivial de
Φ : H10 (Ω)→ R e, como consequencia, uma solucao nao trivial do problema (7).
Por outro lado, estes fatos nos sugerem investigar se Φ alcanca seu mınimo em N . Se Nfor compacta a resposta seria claramente afirmativa, ja que toda funcao contınua em um
conjunto compacto alcanca seus valores extremos. Porem N nao e compacta. De fato, Ne homeomorfo a esfera unitaria em H1
0 (Ω) e a esfera unitaria em um espaco de dimensao
infinita nunca e compacta.
Se p < 2∗ entao Φ alcanca seu mınimo em N . Entao, este fato somado a alguns resultados
anteriores nos diz que o problema (7) tem ao menos uma solucao nao trivial. Por fim, por
um resultado devido a Benci-Cerami(1991), que nos diz que se u ∈ N e um ponto crıtico de
Φ tal que
Φ(u) < 2 infv∈N
Φ(v)
entao, ou bem u ≥ 0, ou bem u ≤ 0 q.t.p em Ω, garantimos, em particular, que as solucoes
de (7) nao mudam de sinal.
O metodo da Variedade de Nehari se tornou muito util na teoria de ponto crıtico e
remonta aos trabalhos de Nehari [28] e [29]. Nesses trabalhos ele considerou um problema
de valor de fronteira para uma certa equacao diferencial parcial em um intervalo (a,b) e
mostrou que ela tem uma solucao nao trivial que pode ser obtida por minimizacao restrita
do funcional de Euler-Lagrange correspondente ao problema.
Para descrever o metodo de Nehari em um conjunto abstrato, considere E um espaco de
Banach real e Φ ∈ C1(E,R) um funcional. A derivada de Frechet de Φ em u, Φ′(u), e um
elemento do espaco dual E∗, e denotamos Φ′(u) calculada em v ∈ E por Φ′(u)v. Suponha
que u 6= 0 seja um ponto crıtico de Φ, isto e, Φ′(u) = 0. Entao, necessariamente u esta
contido no conjunto
N = u ∈ E\0 : Φ′(u)u = 0.
Assim, N e uma restricao natural para o problema de encontrar pontos crıticos nao-triviais
(isto e, u 6= 0) de Φ. O conjunto N e chamado a Varidade de Nehari embora em geral ela
pode nao ser uma variedade.
Em nosso trabalho suporemos apenas que Φ ∈ C1(E,R), de modo que a verificacao de
queN e uma variedade nao pode ser feita seguindo a Observacao 2.2 adiante. Contornaremos
essa dificuldade ao provarmos, com hipoteses adicionais posteriormente descritas, a existencia
de um homeomorfismo radial entre N e a esfera unitaria S do espaco E.
As proximas consideracoes descrevem a situacao usual em que pontos crıticos para um
funcional Φ sao obtidos pelo metodo da variedade de Nehari.
Assuma, sem perda de generalidade que Φ(0) = 0. Assuma tambem que, para cada
w ∈ S = w ∈ E : ‖w‖ = 1, a funcao αw(s) := Φ(sw) atinja um unico maximo sw ∈ (0,∞)
tal que α′w(s) > 0 sempre que 0 < s < sw, α′w(s) < 0 sempre que s > sw e sw ≥ δ para algum
12
δ > 0, independente de w ∈ S (veja figura 2 abaixo). Entao, α′w(sw) = Φ′(sww)w = 0, o que
implica que Φ′(sww)sww = swΦ′(sww)w = 0. Logo sww e o unico ponto no raio s 7→ sw,
s > 0, que intersecta N . Ou seja, a variedade de Nehari e descrita como o conjunto dos
pontos de maximo do funcional αw(s) = Φ(sw), para cada w ∈ S. Como consequencia,
para cada direcao w ∈ S fixada, o metodo da variedade de Nehari obtem pontos crıticos
simplesmente ao analisar a funcao real αw : [0,∞)→ R.
Figura 2: O grafico de αw(s) = Φ(sw) e exibido para s > 0 e w ∈ S fixado e ressaltando ounico maximo sw ∈ (0,∞) tal que α′w(s) > 0 sempre que 0 < s < sw, α′w(s) < 0 sempre ques > sw.
Defina
c := infu∈N
Φ(u).
Sob condicoes apropriadas de Φ espera-se que c seja atingido em algum u0 ∈ N e que
u0 seja um ponto crıtico de Φ em E (expressamos este notavel fato dizendo que N e uma
restricao natural para Φ) e, portanto, uma solucao dos problemas (1.1) e (1.5)(veja capıtulo
3). Neste trabalho, provamos que u0 ∈ N e um ponto crıtico sempre que Φ(u0) = c.
Seguindo M. Willem [20, p. 71], definimos o que chamamos de Estado Fundamental ou
solucao de estado fundamental ou ponto crıtico de menor energia: Seja Φ ∈ C1(E,R) um
funcional. Um ponto crıtico u 6= 0 de Φ tal que Φ(u) = c e chamado estado fundamental
ou solucao de estado fundamental ou ponto crıtico de menor energia.
Este trabalho foi desenvolvido tendo [1] como principal referencia e tem como principal
objetivo utilizar o metodo da Variedade de Nehari para mostrar a existencia de estados
fundamentais e multiplas solucoes para os seguintes problemas de fronteira elıpticos nao
lineares: −∆u− λu = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω(8)
e
−∆pu− λ|u|p−2u = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω,(9)
do qual (8) passa a ser um caso particular, uma generalizacao para o p-laplaciano, definido
13
por ∆pu := div(|∇u|p−1∇u) para todo p ∈ (1,∞). Tanto em (8) quanto em (9), Ω e um
aberto limitado do RN , λ < λ1, sendo λ1 o primeiro autovalor de −∆ em Ω e, em (8),
f ∈ C(Ω× R,R) e uma funcao satisfazendo a restricao de crescimento
|f(x, u)| ≤ a(1 + |u|q−1) (10)
para algum a > 0 e 2 < q < 2∗, sendo que 2∗ representa aqui o expoente crıtico da imersao
de Sobolev H1(Ω) → Lp(Ω), e tem valor
2∗ =
2N
N − 2, se N ≥ 3
∞, se N = 1 ou N = 2
e, em (9), f precisa satisfazer a restricao de crescimento (10) com 2 substituıdo por p e 2∗
substituıdo por
p∗ :=
Np
N − p, se N > p
∞, se N ≤ p.
Alem disso, usaremos o metodo da variedade de Nehari tambem para provarmos a
existencia de solucoes de menor energia com sinais trocados para (8) e (9), ou seja, uma
solucao u ∈ Nsc com Φ(u) = csc ≥ 2c, em que Φ e o funcional “Energia” associado a (8) e
(9), respectivamente, Nsc := u ∈ E : u± ∈ N, csc = infu∈Nsc Φ(u), com u+ = maxu, 0 e
u− = minu, 0 denotando, sucessivamente, as parte positiva e negativa de u.
14
Capıtulo 1
Preliminares
Na primeira secao deste capıtulo apresentaremos alguns resultados basicos sobre um
problema nao linear para o Laplaciano, problema esse que sera tratado, em outro capıtulo,
utilizando o metodo da variedade de Nehari.
Na segunda secao, consideraremos uma versao mais geral do mesmo problema, substi-
tuindo o operador Laplaciano pelo p-laplaciano. Como antes, o metodo da variedade de
Nehari sera aplicado posteriormente.
A apresentacao em duas diferentes secoes justifica-se pela utilizacao de espacos distintos:
no caso do Laplaciano, podemos considerar o problema em um espaco de Hilbert, o que nao
sera possıvel no caso mais geral do p-laplaciano.
1.1 Um problema nao linear para o Laplaciano
Seja Ω ⊂ RN um domınio limitado. Consideremos o problema de Dirichlet−∆u− λu = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω,(1.1)
em que λ e um parametro real e f ∈ C(Ω× R,R) satisfaz a restricao de crescimento
|f(x, u)| ≤ a(1 + |u|q−1) (1.2)
para algum a > 0 e 2 < q < 2∗.
O expoente crıtico da imersao de Sobolev H1(Ω) → Lp(Ω), denotado aqui por 2∗, tem
valor
2∗ =
2N
N − 2, se N ≥ 3,
∞, se N = 1 ou N = 2.
Vamos procurar por solucoes do problema (1.1) definidas no espaco de Hilbert H10 (Ω).
Definicao 1.1 (Solucao fraca). Uma funcao u ∈ H10 (Ω) satisfazendo a igualdade∫
Ω
∇u · ∇v dx− λ∫
Ω
uv dx =
∫Ω
fv dx ∀ v ∈ H10 (Ω)
15
e chamada solucao fraca do problema (1.1), com
∇u · ∇v = ∇u(x) · ∇v(x) =N∑i=1
∂u
∂xi(x)
∂v
∂xi(x)
denotando o produto interno usual do espaco RN .
Como sabemos (veja o Apendice C), a norma usual do espaco H10 (Ω) e equivalente a
norma
‖u‖ =
(∫Ω
|∇u|2 dx
)1/2
,
que e gerada pelo produto interno
〈u, v〉 =
∫Ω
∇u · ∇v dx.
O espaco H10 (Ω) sera considerado com essa norma. Denotaremos, respectivamente, por ‖ · ‖2
e 〈·, ·〉2 a norma e o produto interno usuais do espaco L2(Ω). Mais geralmente, denotaremos
por ‖ · ‖p a norma usual do espaco Lp(Ω). A notacao ‖ · ‖ tambem sera utilizada para
denotar normas usuais de alguns espacos; por exemplo, a norma do espaco dual de algum
espaco considerado.
Consideremos o funcional “energia” Φ: H10 (Ω)→ R dado por
Φ(u) :=1
2
∫Ω
|∇u|2dx− 1
2
∫Ω
λu2 dx−∫
Ω
F (x, u) dx ≡ 1
2‖u‖2 − I1(u)− I(u),
em que
F (x, u) =
∫ u
0
f(x, s)ds. (1.3)
Afirmamos que Φ esta bem definido. De fato, a funcao I0, dada por I0(u) = 12‖u‖2 =
12〈u, u〉 esta bem definida para todo u ∈ H1
0 (Ω). Por sua vez, o mesmo acontece com a funcao
I1, dada por I1(u) = λ2‖u‖2
2.
Assim, basta verificar que a funcao I esta bem definida. Isto e uma consequencia da
restricao de crescimento (1.2). De fato, temos que
|F (x, u)| =∣∣∣∣∫ u
0
f(x, s)ds
∣∣∣∣ ≤ ∫ |u|0
|f(x, s)|ds
≤∫ |u|
0
a(1 + |s|q−1)ds = a
(|u|+ |u|
q
q
).
Uma vez que H10 (Ω) → Lq(Ω), nossas hipoteses garantem que |u|, |u|q ∈ L1(Ω). Conse-
quentemente, ∫Ω
a
(|u|+ |u|
q
q
)dx <∞,
mostrando que a funcao I esta bem definida e concluindo a demonstracao de nossa afirmacao.
Observacao 1.2. A condicao (1.2) e essencial para que o funcional energia Φ esteja bem
16
definido em H10 (Ω), isto e, devemos ter 2 < q < 2∗. De fato, se f(x, u) crescer mais rapido
que |u|2∗−1, entao F (x, u) crescera mais rapido do que |u|2∗ . De acordo com o Teorema C.9,
H10 (Ω) nao esta imerso em Lq(Ω) quando q > 2∗. Como consequencia, a integral de F (x, u)
pode divergir para algum u ∈ H10 (Ω).
Em algumas passagens utilizaremos o Corolario (D.5), o que impoe a condicao q− 1 ≥ 1,
mas permitiria q = 2. Contudo, so podemos garantir que o funcional Φ seja ilimitado
inferiormente no caso em que q > 2: veja [17, p. 56]. Esse fato sera importante em nossa
abordagem utilizando a variedade de Nehari. C
Lema 1.3 (Diferenciabilidade de Φ). O funcional energia Φ e de classe C1 e
Φ′(u)v =
∫Ω
∇u · ∇v dx− λ∫
Ω
uv dx−∫
Ω
f(x, u)v dx.
Demonstracao. Uma vez que I0(u) = 12‖u‖2 = 1
2〈u, u〉 e I1(u) = λ
2‖u‖2
2 = λ2〈u, u〉2, vemos
que ambos funcionais sao de classe1 C1, com
I ′0(u)v =
∫Ω
∇u · ∇v dx e I ′1(u)v = λ
∫Ω
uv dx.
Basta, portanto, considerar a diferenciabilidade de I(u) =∫
ΩF (x, u) dx.
Afirmamos que existe a derivada de Gateaux de I. De fato, sejam u, v ∈ H10 (Ω). Entao
I(u+ tv)− I(u)
t=
1
t
(∫Ω
F (x, u+ tv) dx−∫
Ω
F (x, u) dx
)=
∫Ω
F (x, u+ tv)− F (x, u)
tdx.
Para x ∈ Ω fixo, temos que F e uma funcao real (veja a equacao (1.3)). Assim, o Teorema
do Valor Medio garante a existencia de θ ∈ R, satisfazendo 0 < θ < 1, tal que
F (x, u(x) + tv(x))− F (x, u(x))
t=D2F (x, u+ θtv) tv
t= f (x, u+ θtv) v,
de modo queI(u+ tv)− I(u)
t=
∫Ω
f (x, u(x) + θtv(x)) v(x) dx. (1.4)
Vamos mostrar que a integral em (1.4) e finita. Para isso, notamos que
|f (x, u(x) + θtv(x)) v(x)| ≤ a(1 + |u(x) + θtv(x)|q−1
)|v(x)|
≤ a(1 + (|u(x)|+ |v(x)|)q−1
)|v(x)|
≤ a(1 + 2q−2(|u(x)|q−1 + |v(x)|q−1)
)|v(x)|,
≤ C(|v(x)|+ |u(x)|q−1|v(x)|+ |v(x)|q
)de acordo com a desigualdade mostrada no Corolario D.5. (Note que a limitacao inferior
q > 2 assumida em (1.2) e utilizada tambem aqui: para aplicar o Corolario D.5, precisamos
que q − 1 ≥ 1, ou seja, q ≥ 2.)
1Os funcionais I0 e I1 sao de classe C∞.
17
Afirmamos que (|v|+ |u|q−1|v)|+ |v|q
)∈ L1(Ω).
De fato, como u, v ∈ H10 (Ω), temos que u, v ∈ Lq(Ω), implicando que |u|q, |v|q ∈ L1(Ω). Como
|v| ∈ Lq(Ω) e |u|q−1 ∈ Lq
q−1 (Ω), a desigualdade de Holder garante que |u|q−1|v| ∈ L1(Ω), poisqq−1
e o expoente conjugado de q, concluindo a prova de nossa afirmacao.
Decorre entao do Teorema da Convergencia Dominada que
limt→0
I(u+ tv)− I(u)
t=
∫Ω
limt→0
f(x, u+ λtv)v dx =
∫Ω
f(x, u)v dx,
que define uma aplicacao linear contınua (como funcao de v ∈ H10 (Ω)).
Para completarmos a demonstracao, mostraremos que a derivada de Gateaux
I ′ : H10 (Ω)→ H1
0 (Ω)∗
e contınua.
Suponhamos que un → u em H10 (Ω). Entao un → u em Lp(Ω), 1 ≤ p < 2∗. Decorre do
Teorema D.6 que f(x, un)→ f(x, u) em Lq, com q := p/p− 1.
Assim, denotando por cp uma constante que depende de p, as desigualdades de Holder e
Poincare implicam
|I ′(un)v − I ′(u)v| =∣∣∣∣∫
Ω
(f(x, un)− f(x, u)) v dx
∣∣∣∣ ≤ ∫Ω
|f(x, un − f(x, u)| |v| dx
≤ ‖f(x, un)− f(x, u)‖q‖v‖p≤ cp‖f(x, un)− f(x, u)‖q‖v‖,
de onde obtemos
‖I ′(un)− I ′(u)‖ ≤ cp‖f(x, un)− f(x, u)‖q → 0, n→∞,
o que mostra que I e de classe C1 e conclui a prova do lema.
No proximo resultado coletamos algumas propriedades basicas do funcional energia Φ:
Teorema 1.4. Suponhamos que f seja contınua e satisfaca (1.2). Entao:
(i) Φ ∈ C1(H10 (Ω),R)) e Φ′(u) = 0 se, e somente se, u ∈ H1
0 (Ω) for uma solucao fraca de
(1.1);
(ii) Os funcionais I e I1 sao (sequencialmente) fracamente contınuos, isto e, se un u
entao I(un)→ I(u) e I1(un)→ I1(u);
(iii) Os operadores I ′ e I ′1 sao completamente contınuos, isto e, se un u entao I ′(un)→I ′(u) e I ′1(un)→ I ′1(u);
(iv) Se f(x, u) = o(u) uniformemente em x quando u→ 0, entao I ′(u) = o(‖u‖) e I(u) =
o(‖u‖2) quando u→ 0 em H10 (Ω);
18
(v) Se N = 1, entao f nao precisa satisfazer a restricao de crescimento (1.2).
Demonstracao. Ja vimos que Φ e de classe C1. Utilizando a expressao de Φ′(u), calculada
no Lema 1.3, temos imediatamente que Φ′(u) = 0 se, e somente se, u ∈ H10 (Ω) for solucao
fraca de (1.1).
Vamos agora mostrar que I e fracamente (sequencialmente) contınuo e que I ′ e comple-
tamente contınuo. Suponhamos que un u em H10 (Ω). Os teoremas de imersao de Sobolev
garantem entao que un → u em Lq(Ω). Assim, quando n→∞ obtemos que
|F (x, u)− F (x, un)| ≤∣∣∣∣∫ u
un
f(x, s)ds
∣∣∣∣ ≤ ∣∣∣∣∫ u
un
a(1 + |s|q−1)ds
∣∣∣∣≤ a
(|s|+ |s|
q
q
)∣∣∣∣uun
= a
(|u| − |un|+
|u|q
q− |un|
q
q
)→ 0,
o que implica que
I(u)− I(u) =
∫Ω
(F (x, u)− F (x, un)) dx→ 0 quando n→∞.
Por sua vez, decorre das desigualdades de Holder e Poincare que
|(I ′(un)− I ′(u)) v| =∣∣∣∣∫
Ω
(f(x, un)v − f(x, u)v) dx
∣∣∣∣ ≤ ∫Ω
|(f(x, un)− f(x, u)| |v| dx
≤(∫
Ω
∣∣(f(x, un)− f(x, u)∣∣ pp−1 dx
) p−1p(∫
Ω
|v|p dx
) 1p
= ‖f(x, un)− f(x, u)‖ pp−1‖v‖p
≤ cp‖f(x, un)− f(x, u)‖ pp−1‖v‖
Como ‖f(x, un)− f(x, u)‖L
pp−1→ 0, concluımos que ‖I ′(un)− I ′(u)‖ → 0.
Agora vamos mostrar que I1 e fracamente sequencialmente contınuo e I ′1 e completamente
contınuo. Como antes, de un u em H10 (Ω) decorre un → u em Lp(Ω) e, portanto, un → u
em L2(Ω).
Portanto,
|I1(un)− I1(u)| =∣∣∣∣12∫
Ω
λ(u2n − u2)dx
∣∣∣∣ ≤ |λ|2∫
Ω
|(u2n − u2)|dx
=|λ|2‖(u2
n − u2)‖1,
provando que I1(un)→ I1(u).
19
Por sua vez, decorre da desigualdade de Holder e Poincare que
|(I ′1(un)v − I ′1(u)v)| =∣∣∣∣λ∫
Ω
(un − u)v dx
∣∣∣∣ ≤ |λ|∫Ω
|(un − u)v| dx
≤ |λ|(∫
Ω
|un − u|2) 1
2(∫
Ω
|v|2) 1
2
= |λ| ‖un − u‖2‖v‖2
≤ cp‖un − u‖2‖v‖
Como ‖un − u‖2 → 0, completamos a prova de (ii) e (iii).
Da hipotese f(x, u) = o(u) decorre que, dado ε > 0, existe Cε tal que 0 < |u| < Cε
implica |f(x, u)| < ε|u|.Mostraremos, primeiramente, que I ′(u) = o(‖u‖). Decorre das desigualdades de Holder
e Poincare que
|I ′(u)v| =∣∣∣∣∫
Ω
f(x, u)v dx
∣∣∣∣ ≤ ∫Ω
|f(x, u)| |v| dx
≤∫
Ω
ε|u| |v| dx ≤ ε‖u‖2‖v‖2 ≤ εcp‖u‖ ‖v‖,
o que implica que
‖I ′(u)‖ ≤ εcp‖u‖
e prova que I ′(u) = o(‖u‖).Mostramos agora que I(u) = o(‖u2‖). De fato,
|I(u)| =∣∣∣∣∫
Ω
F (x, u) dx
∣∣∣∣ =
∣∣∣∣∫Ω
∫ u
0
f(x, s) ds dx
∣∣∣∣ ≤ ∫Ω
∫ |u|0
|f(x, s)| ds dx
≤∫
Ω
∫ |u|0
ε|s| ds dx ≤ ε
2
∫Ω
|u|2 dx =ε
2‖u‖2
2 ≤cpε
2‖u‖2,
mostrando que I(u) = o(‖u2‖).Decorre da compacidade da imersao H1
0 (Ω) → C(Ω) a afirmacao (v).
1.2 Um problema nao linear para o p-Laplaciano
Para generalizar os resultados preliminares obtidos na Secao 1.1, consideraremos o ope-
rador p-laplaciano, definido por ∆pu := div(|∇u|p−2∇u) para todo p ∈ (1,∞). O problema
correspondente a (1.1) e−∆pu− λ|u|p−2u = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω,(1.5)
20
do qual (1.1) passa a ser um caso particular. Neste contexto mais geral, o espaco adequado
para considerarmos o problema e W 1,p0 (Ω), cuja norma usual e equivalente a norma
‖u‖ =
(∫Ω
|∇u|p dx
) 1p
.
Consideraremos W 1,p0 (Ω) com essa norma. (Note que, diferentemente da primeira secao, nao
estamos lidando com um espaco de Hilbert.)
O coeficiente crıtico para a imersao de Sobolev W 1,p0 (Ω) → Lq(Ω) e dado por
p∗ =
Np
N − p, se N > p,
∞, se N ≤ p
e uma solucao fraca de (1.5) e definida por∫Ω
|∇u|p−2∇u · ∇v dx− λ∫
Ω
|u|p−2uv dx =
∫Ω
f(x, u)v dx, ∀ v ∈ W 1,p0 (Ω).
Como na Secao 1.1, consideramos o funcional “energia”, definido em nosso caso por
Φ(u) :=1
p
∫Ω
|∇u|p dx− λ
p
∫Ω
|u|pdx−∫
Ω
F (x, u) dx ≡ I0(u)− I1(u)− I(u),
para todo u ∈ W 1,p0 (Ω).
Para obtermos que o funcional energia esta bem definido, precisamos alterar a restricao
de crescimento utilizada na 1.1. Vamos supor que
|f(x, u)| ≤ a(1 + |u|q−1) (1.6)
com a > 0 e p < q < p∗. Note que essa restricao e a mesma que (1.2), com 2 e 2∗
substituıdos por p e p∗, respectivamente. Com essa restricao de crescimento, e facil verificar
que o funcional energia esta bem definido.
Observacao 1.5. A justificativa para o intervalo p < q < p∗ na condicao (1.6) e analoga a
apresentada na Secao 1.1. C
Lema 1.6. O funcional I0 : W 1,p0 (Ω)→ R, dado por
I0(u) =1
p
∫Ω
|∇u|pdx
e de classe C1 e
I ′0(u)v =
∫Ω
|∇u|p−2∇u · ∇v dx.
Demonstracao. Consideremos a funcao η : RN → R dada por η(x) = |x|p. Entao, para todo
21
x 6= 0, temos ∇η(x) = p|x|p−1 12|x|2x = p|x|p−2x, de modo que
limt→0
η(x+ ty)− η(x)
t= p|x|p−2x · y.
Portanto,
limt→0
|∇u(x) + t∇v(x)|p − |∇u(x)|p
t= p|∇u(x)|p−2∇u(x) · ∇v(x) q.t.p. em Ω.
Contudo, para aplicarmos o limite dentro da integral, precisamos verificar que o Teorema
da Convergencia Dominada pode ser aplicado. Aplicando o Teorema do Valor Medio temos,
de acordo com o mostrado anteriormente e o Lema D.5,∣∣∣∣ |∇u+ t∇v|p − |∇u|p
t
∣∣∣∣ = p∣∣∣|∇u+ θt∇v|p−2(∇u+ θt∇v)∇v
∣∣∣= p|∇u+ θt∇v|p−2 · |(∇u+ θt∇v)| · |∇v|
= p|∇u+ θt∇v|p−1|∇v|
= p · 2p−2(|∇u|p−1 + |θt|p−1|∇v|p−1
)· |∇v|
≤ C(|∇u|p−1|∇v|+ |∇v|pe
),
em que t foi suposto suficientemente pequeno, 0 < θ < 1 e C = p · 2p−2.
De modo semelhante ao caso do Laplaciano, verificamos facilmente que o lado direito
dessa desigualdade esta em L1(Ω), mostrando que as condicoes do Teorema da Convergencia
Dominada estao satisfeitas. Assim
limt→0
1
p
∫Ω
|∇u(x) + tv(x)|p − |∇u(x)|p
tdx =
∫Ω
|∇u|p−2∇u · ∇v dx,
mostrando que I0 e Gateaux diferenciavel.
Agora vamos mostrar que I ′0 : W 1,p0 (Ω) → W 1,p
0 (Ω)∗ e contınua. Para isso, consideremos
uma sequencia (un) tal que un → u em W 1,p0 (Ω). Passando a subsequencias (veja a demons-
tracao do Lema D.3), podemos supor que ∇un → ∇u em (Lp(Ω))N , ∇un(x)→ ∇u(x) q.t.p.
em Ω e |∇un(x)|p ≤ g(x) q.t.p. em Ω, com g(x) ∈ L1(Ω).
Entao temos, aplicando as desigualdades de Holder,
|(I ′0(un)− I ′0(u)) v| =∣∣∣∣∫
Ω
(|∇un|p−2∇un − |∇u|p−2∇u
)· ∇v dx
∣∣∣∣≤(∫
Ω
∣∣|∇un|p−2∇un − |∇u|p−2∇u∣∣ pp−1 dx
) p−1p(∫
Ω
|∇v|p dx
) 1p
=
(∫Ω
∣∣|∇un|p−2∇un − |∇u|p−2∇u∣∣ pp−1 dx
) p−1p
‖v‖.
22
Portanto,
‖I ′0(un)− I ′0(u)‖ ≤(∫
Ω
∣∣|∇un|p−2∇un − |∇u|p−2∇u∣∣ pp−1 dx
) p−1p
.
Para mostrar que a integral na desigualdade anterior e finita, basta notarmos que
∣∣|∇un|p−2∇un − |∇u|p−2∇u∣∣ pp−1 ≤ C (|∇un|p + |∇u|p) ≤ C(g + |∇u|p) ∈ L1(Ω),
De acordo com o que assumimos sobre a sequencia (un), temos que
|∇un(x)|p−2∇un(x)→ |∇u(x)|p−2∇u(x) q.t.p. em Ω.
Como consequencia, podemos aplicar o Teorema da Convergencia Dominada e concluir que
‖I ′0(un)− I ′0(u)‖ → 0 quando n→∞.
(Esse resultado foi mostrado para uma subsequencia da sequencia original (un); contudo,
como sequencias convergentes sao de Cauchy, o resultado tambem vale para a sequencia
original (un).)
Proposicao 1.7. O funcional energia Φ e de classe C1 e
Φ′(u)v =
∫Ω
|∇u|p−2∇u · ∇v dx− λ∫
Ω
|u|p−2uv dx−∫
Ω
f(x, u)v dx
para todo v ∈ W 1,p0 (Ω).
Demonstracao. Ja vimos que I0(u) = 1p
∫Ω
|∇u|pdx e de classe C1. Utilizando a imersao
canonica W 1,p0 (Ω) → Lp(Ω), a demonstracao que I1(u) = 1
p
∫Ω
λ|u|pdx e de classe C1 e
completamente analoga ao que foi feito no Lema 1.3, com o espaco H10 (Ω) substituıdo pelo
espaco W 1,p0 (Ω).
A demonstracao de que o funcional I(u) =
∫Ω
F (x, u) dx e de classe C1 tambem e analoga
aquela apresentada no Lema 1.3, uma vez considerada a restricao de crescimento (1.6).
Teorema 1.8. Suponha que f seja contınua e satisfaca (1.6). Entao:
(i) Φ ∈ C1(W 1,p0 (Ω),R) e Φ′(u) = 0 se, e somente se, u ∈ W 1,p
0 (Ω) for uma solucao fraca
de (1.5);
(ii) Os funcionais I e I1 sao (sequencialmente) fracamente contınuos, isto e, se un u,
entao I(un)→ I(u) e I1(un)→ I1(u);
(iii) Os operadores I ′ e I ′1 sao completamente contınuos, isto e, se un u, entao I ′(un)→I ′(u) e I ′1(un)→ I ′1(u).
23
(iv) Se f(x, u) = o(|u|p−1) uniformemente em x quando u → 0, entao I ′(u) = o(‖u‖p−1) e
I(u) = o(‖u‖p) quando u→ 0 em W 1,p0 (Ω);
(v) Se N < p, entao f nao precisa satisfazer qualquer restricao de crescimento.
Demonstracao. Ja vimos que Φ ∈ C1(W 1,p0 (Ω),R). Utilizando a expressao de Φ′(u), calculada
na Proposicao 1.7, temos que Φ′(u) = 0 se, e somente se, u ∈ W 1,p0 (Ω) for solucao fraca de
(1.5).
Vamos agora mostrar que I e I1 sao fracamente (sequencialmente) contınuos e que I ′
e I ′1 sao completamente contınuos. Suponhamos que un u em W 1,p0 (Ω). Como no caso
do laplaciano, os teoremas de imersao de Sobolev garantem entao que un → u em Lq(Ω).
Assim, tambem de forma analoga ao caso do Laplaciano, obtemos que
I(u)− I(u) =
∫Ω
(F (x, u)− F (x, un)) dx→ 0 quando n→∞.
Por sua vez, decorre das desigualdades de Holder e Poincare,
|(I ′(un)− I ′(u)) v| =∣∣∣∣∫
Ω
(f(x, un)v − f(x, u)v) dx
∣∣∣∣ ≤ ∫Ω
|(f(x, un)− f(x, u)| |v| dx
≤(∫
Ω
∣∣(f(x, un)− f(x, u)∣∣ pp−1 dx
) p−1p(∫
Ω
|v|p dx
) 1p
= ‖f(x, un)− f(x, u)‖ pp−1‖v‖p
≤ cp‖f(x, un)− f(x, u)‖ pp−1‖v‖
Como ‖f(x, un)− f(x, u)‖ pp−1→ 0, concluımos que ‖I ′(un)− I ′(u)‖ → 0.
Agora vamos mostrar que I1 e fracamente sequencialmente contınuo e I ′1 e completamente
contınuo. Como antes, de un u em W 1,p0 (Ω) decorre un → u em Lp(Ω) e, portanto,
|un|p → |u|p em L1(Ω). Logo,
|I1(un)− I1(u)| =∣∣∣∣1p∫
Ω
λ(|un|p − |u|p)dx∣∣∣∣ ≤ |λ|p
∫Ω
|(|un|p − |u|p)| dx
=|λ|p‖(|un|p − |u|p)‖1 ,
provando que I1(un)→ I1(u).
Antes de provarmos (ii) e (iii), notemos que |un|p−2un, |u|p−2u ∈ Lp
p−1 (Ω). De fato, como
(un) ⊂ Lp(Ω), segue-se∫Ω
∣∣|un|p−2un∣∣ pp−1 dx =
∫Ω
(|un|p−2|un|
) pp−1 dx =
∫Ω
(|un|p−1
) pp−1
dx =
∫Ω
|un|p dx <∞.
Da mesma forma, mostramos que |u|p−2u ∈ Lp
p−1 (Ω).
24
Decorre,entao, das desigualdades de Holder e Poincare que
|(I ′1(un)v − I ′1(u)v)| =∣∣∣∣λ∫
Ω
(|un|p−2un − |u|p−2u)v dx
∣∣∣∣ ≤ |λ|∫Ω
∣∣(|un|p−2un − |u|p−2u)v∣∣ dx
≤ |λ|(∫
Ω
∣∣|un|p−2un − |u|p−2u∣∣ p−1
p dx
) p−1p(∫
Ω
|v|p dx
) 1p
= |λ|∥∥|un|p−2 − |u|p−2u
∥∥p
p−1
‖v‖p
≤ cp∥∥|un|p−2un − |u|p−2u
∥∥p
p−1
‖v‖.
Pelo Teorema (D.6) temos que ‖|un|p−2un−|u|p−2u‖ pp−1→ 0, completando assim a prova
de (ii) e (iii).
Mostraremos agora (iv). Da hipotese f(x, u) = o(|u|p−1) decorre que, dado ε > 0, existe
Cε tal que 0 < |u| < Cε implica que |f(x, u)| < ε|u|p−1. Mostraremos, primeiramente, que
I ′(u) = o(‖u‖p−1). As desigualdades de Holder e Poincare implicam que
|I ′(u)v| =∣∣∣∣∫
Ω
f(x, u)v dx
∣∣∣∣ ≤ ∫Ω
|f(x, u)| |v| dx ≤∫
Ω
ε|u|p−1 |v| dx
≤ ε‖up−1‖ pp−1‖v‖p = ε‖u‖p−1
p ‖v‖p
≤ εcp‖u‖p−1 ‖v‖
o que garante que
‖I ′(u)‖ ≤ εcp‖u‖p−1
e prova que I ′(u) = o(‖u‖p−1).
Mostramos agora que I(u) = o(‖u‖p). De fato,
|I(u)| =∣∣∣∣∫
Ω
F (x, u) dx
∣∣∣∣ =
∣∣∣∣∫Ω
∫ u
0
f(x, s) ds dx
∣∣∣∣ ≤ ∫Ω
∫ |u|0
|f(x, s)| ds dx
≤∫
Ω
∫ |u|0
ε|s|p−1 ds dx ≤ ε
p
∫Ω
|u|p dx =ε
p‖u‖pp
≤ cpε
p‖u‖p,
mostrando que I(u) = o(‖u‖p).Finalmente, (v) segue da compacidade da imersao W 1,p
0 → C(Ω).
25
Capıtulo 2
A Variedade de Nehari
2.1 Definicao e principais propriedades
Definicao 2.1. Sejam E um espaco de Banach real e Φ ∈ C1(E,R) um funcional. O
conjunto
N = u ∈ E \ 0 : Φ′(u)u = 0
e chamado variedade de Nehari.
Note que, se u 6= 0 for um ponto crıtico de Φ, isto e, se Φ′(u) = 0, entao necessariamente
u pertence a N . Assim, N e uma restricao natural para o problema de encontrar pontos
crıticos nao triviais (isto e, u 6= 0) de Φ. A abordagem de um problema de minimizacao
utilizando a variedade de Nehari transforma esse problema em um problema de minimizacao
com vınculo.
Observacao 2.2. Embora N seja chamado de variedade de Nehari, N pode nao ser uma
variedade. Lembramos que 0 ∈ R e um valor regular da funcao diferenciavel g : U ⊂ E → Rse, para todo u ∈ U tal que g(u) = 0, tivermos g′(u) 6= 0. Satisfeita essa exigencia, temos
que g−1(0) e uma variedade em E.
Em nosso caso, o aberto U e dado por E \ 0 e, definindo g(u) = Φ′(u)u e supondo
Φ ∈ C2, temos u ∈ N se, e somente se, g(u) = 0. Uma vez que g′(u)h = Φ′′(u)(h, u)+Φ′(u)h,
temos g′(u) 6= 0 se, e somente se, para todo u ∈ E \ 0 existir h ∈ E \ 0 tal que
Φ′′(u)(h, u)+Φ′(u)h 6= 0. Se tivermos Φ′′(u)(u, u) 6= 0, como g′(u)u = Φ′′(u)(u, u)+Φ′(u)u =
Φ′′(u)(u, u), entao N e uma variedade de codimensao 1. C
Em nosso trabalho suporemos apenas que Φ ∈ C1(E,R), de modo que a verificacao de
que N e uma variedade nao pode ser feita seguindo a Observacao 2.2. Contornaremos essa
dificuldade ao provarmos, com hipoteses adicionais posteriormente descritas, a existencia de
um homeomorfismo radial entre N e a esfera unitaria S do espaco E.
As proximas consideracoes descrevem a situacao usual em que pontos crıticos para um
funcional Φ sao obtidos pelo metodo da variedade de Nehari.
Assuma, sem perda de generalidade que Φ(0) = 0. Assuma tambem que, para cada
w ∈ S = w ∈ E : ‖w‖ = 1, a funcao αw(s) := Φ(sw) atinja um unico maximo sw ∈ (0,∞)
26
tal que α′w(s) > 0 sempre que 0 < s < sw, α′w(s) < 0 sempre que s > sw e sw ≥ δ para
algum δ > 0, independente de w ∈ S. Entao, α′w(sw) = Φ′(sww)w = 0, o que implica que
Φ′(sww)sww = swΦ′(sww)w = 0. Logo sww e o unico ponto no raio s 7→ sw, s > 0, que
intersecta N . Ou seja, a variedade de Nehari e descrita como o conjunto dos pontos de
maximo do funcional αw(s) = Φ(sw), para cada w ∈ S. Como consequencia, para cada
direcao w ∈ S fixada, o metodo da variedade de Nehari obtem pontos crıticos simplesmente
ao analisar a funcao real αw : [0,∞)→ R.
O proximo resultado garante que a variedade de Nehari e um conjunto fechado do espaco
de Banach E:
Proposicao 2.3. Assuma que, para cada w ∈ S = w ∈ E : ‖w‖ = 1, a funcao αw(s) =
Φ(sw) atinja um unico maximo sw ∈ (0,∞) tal que α′w(s) > 0 sempre que 0 < s < sw,
α′w(s) < 0 sempre que s > sw e sw ≥ δ para algum δ > 0 independente de w ∈ S. Entao Ne um subconjunto fechado do espaco de Banach E.
Demonstracao. Como Φ e diferenciavel, Φ−1(0) ⊂ E e um subconjunto fechado. Nossas
hipoteses garantem a existencia de δ > 0, independente de w ∈ S, tal que sw ≥ δ. Ou seja,
se u ∈ N , entao ‖u‖ ≥ δ. Assim, 0 nao e ponto de acumulacao de elementos de N , o que
garante que Φ−1(0) = N .
Nossas suposicoes estabelecem uma bijecao entre S e N . Veremos posteriormente que,
se sw for limitado em subconjuntos compactos de S, entao essa bijecao e, de fato, um
homeomorfismo.
Defina
c = infu∈N
Φ(u). (2.1)
Sob condicoes apropriadas, espera-se que c seja atingido em algum u0 ∈ N e que u0 seja
um ponto crıtico de Φ considerado no espaco inteiro e, portanto, como vimos no capıtulo
1, uma solucao dos problemas considerados. Na verdade, veremos que u0 ∈ N e um ponto
crıtico sempre que Φ(u0) = c. Note que sendo s 7→ αw(s) crescente para todo w ∈ S e
0 < s < δ, 0 e um mınimo local, consequentemente, um ponto crıtico de Φ.
Seguindo M. Willem [20, p. 71], definimos:
Definicao 2.4 (Estado fundamental ou ponto crıtico de menor energia). Seja Φ ∈ C1(E,R)
um funcional. Um ponto crıtico u 6= 0 de Φ tal que Φ(u) = c e chamado estado funda-
mental ou ponto crıtico de menor energia. Se u0 ∈ N for tal que Φ(u0) = c, entao u0
e chamada solucao de estado fundamental.
De agora em diante, vamos supor que o espaco E seja uniformemente convexo. Mantemos
a suposicao que Φ(0) = 0, com Φ ∈ C1.
Definicao 2.5. Uma funcao ϕ ∈ C(R+,R+) e uma funcao de normalizacao se ϕ for
estritamente crescente, ϕ(0) = 0 e ϕ(t)→∞ quando t→∞.
27
Descrevemos nossas hipoteses: seja E um espaco de Banach uniformemente convexo tal
que
(A1) Existe uma funcao de normalizacao ϕ tal que
u 7→ ψ(u) =
∫ ‖u‖0
ϕ(t) dt ∈ C1(E \ 0,R),
sendo que J := ψ′ e limitado em conjuntos limitados e J(w)w = 1 para todo w ∈ S =
w ∈ E : ‖w‖ = 1;
(A2) Para cada w ∈ E \ 0 existe sw tal que se αw(s) := Φ(sw), entao α′w(s) > 0 para
0 < s < sw e α′w(s) < 0 para s > sw;
(A3) Existe δ > 0 tal que se sw ≥ δ para todo w ∈ S e, para cada subconjunto compacto
K ⊂ S, existe uma constante CK tal que sw ≤ CK para todo w ∈ K.
A aplicacao J definida em (A1) e chamada aplicacao de dualidade correspondente a
ϕ. Veja [11] para uma discussao detalhada desta nocao e algumas observacoes sobre essa
aplicacao no Apendice E. Note que a hipotese (A2) garante a unicidade de sw.
Lema 2.6. Suponhamos que a hipotese (A1) seja satisfeita. Entao a esfera S ⊂ E e subva-
riedade de classe C1 de codimensao 1 e o espaco tangente a S no ponto w e dado por
Tw(S) = z ∈ E : J(w)z = 0.
Em particular, para todo w ∈ S, vale a decomposicao
E = Tw(S)⊕ Rw.
Demonstracao. Por hipotese, ψ : E\0 → R e uma funcao de classe C1 e J = ψ′. Afirmamos
que
S = ψ−1
(∫ 1
0
ϕ(t)dt
).
De fato,
ψ−1
(∫ 1
0
ϕ(t)dt
)=
u ∈ E \ 0 : ψ(u) =
∫ 1
0
ϕ(t)dt
=
u ∈ E \ 0 :
∫ ‖u‖0
ϕ(t)dt =
∫ 1
0
ϕ(t)dt
= S.
Notamos tambem que, se w ∈ ψ−1
(∫ 1
0
ϕ(t) dt
)= S, decorre de (A1) que J(w)w = 1
para todo w ∈ S, o que implica que J(w) 6= 0, provando que∫ 1
0ϕ(t) dt e um valor regular
de ψ.
28
Assim, S e uma subvariedade de classe C1 e codimensao 1 em E. Dado w ∈ S, o espaco
tangente a S em w, denotado por Tw(S), e o nucleo do funcional ψ′(w) (veja [23, Proposition
4.3.33]). Ou seja,
Tw(S) = z ∈ E : J(w)z = 0.
A ultima afirmacao e imediata, pois o nucleo do funcional linear J(w) = ψ′(w) tem
codimensao 1 e w ∈ S nao pertence a Tw(S).
Observacao 2.7. Aqui estaremos principalmente interessados em dois casos: quando E = Hfor um espaco de Hilbert e quando E for o espaco de Sobolev W 1,p
0 (Ω) com Ω ⊂ Rn limitado
e p > 1. (Note que W 1,p0 (Ω) e um espaco uniformemente convexo.)
No primeiro caso, ao considerarmos ϕ(t) = t, entao J e a aplicacao de dualidade usual
entre E e E∗. De fato, como
ψ(u) =
∫ ‖u‖0
t dt =‖u‖2
2,
temos ψ′(u) = 〈u, ·〉, ou seja, J(u)v = ψ′(u)v = 〈u, v〉 para todo v ∈ E.
No segundo caso, colocamos ϕ(t) := tp−1. O funcional ψ associado e dado por
ψ(u) =1
p‖u‖p =
1
p
∫Ω
|∇u|pdx
e a aplicacao de dualidade J = ψ′ : E → E∗ e dada por
J(u)v =
∫Ω
|∇u|p−2∇u · ∇v dx.
Verificamos que J e contınua e limitada em conjuntos compactos. De fato, considere
u, v ∈ W 1,p0 (Ω), ‖v‖ = 1. Pela desigualdade de Holder temos
|J(u)v| =∣∣∣ ∫
Ω
|∇u|p−2∇u · ∇v dx∣∣∣ ≤ ∫
Ω
∣∣∣|∇u|p−2∇u · ∇v∣∣∣ dx
=
∫Ω
|∇u|p−1 · |∇v| dx
≤(∫
Ω
|∇u|p dx
) p−1p
·(∫
Ω
|∇v|p dx
) 1p
o que mostra que J(u) e limitado se u estiver em um conjunto limitado. C
Por outro lado, o fato de termos ψ ∈ C1(W 1,p0 (Ω),R) (veja Lema (1.6)) nos diz que J e
contınua.
Como foi mostrado, segue de (A2) que sw ∈ N se e somente se s = sw. Alem disso, pela
primeira parte de A3, N e fechado em E e e um conjunto afastado de 0.
Defina as aplicacoes m : E \ 0 → N e m : S → N por
m(w) := sww e m := m|S.
29
Proposicao 2.8. Suponha que Φ satisfaca (A2) e (A3). Entao:
(i) a aplicacao m e contınua;
(ii) a aplicacao m e um homeomorfismo entre S e N e a inversa de m e dada por
m−1(u) =u
‖u‖.
Demonstracao. Seja (wn) uma sequencia em E \ 0 e suponha que wn → w 6= 0. Devido a
(A2), temos que m(tw) = m(w) para cada t > 0. Assim, podemos assumir que wn ∈ S para
todo n. Queremos mostrar que m(wn)→ m(w).
Denotemos m(wn) = snwn. Por (A2) e (A3), temos δ ≤ sn ≤ CS para todo n. Dessa
forma, passando a uma subsequencia, podemos supor que sn → s > 0. Como N e fechado
e w(wn) → sw, concluımos que sw ∈ N . Logo, sw = sww = m(w), mostrando o afirmado
para uma subsequencia da sequencia original. Como a sequencia original e de Cauchy, o
resultado vale para toda a sequencia, o que conclui a prova de (i).
Como a aplicacao m e contınua, segue que m e contınua por ser restricao de uma aplicacao
contınua. Alem disso, a aplicacao
µ : N → S
u 7→ u
‖u‖
tambem e contınua.
Uma vez que temos
S → N → S
w 7→ sww 7→ sww
‖sww‖=
w
‖w‖= w
eN → S → Nw 7→ w
‖w‖7→ s w
‖w‖w‖w‖ = w,
(pois, pela unicidade de s tal que sww ∈ N , temos que 1‖w‖s w
‖w‖= 1) provamos assim que
µ e a inversa de m e, portanto, que m e um homeomorfismo entre S e N com inversa dada
por m−1(u) =u
‖u‖.
Consideremos agora os funcionais Ψ : E \ 0 → R e Ψ: S → R definidos por
Ψ(w) = Φ(m(w)) e Ψ = Ψ|S.
Nao podemos garantir que N seja uma variedade de classe C1, mas mostraremos que Ψ
e de classe C1 e que existe uma correspondencia injetiva entre os pontos crıticos de Ψ e os
pontos crıticos nao triviais de Φ.
30
Proposicao 2.9. Suponha que o espaco de Banach E satisfaca (A1). Se Φ satisfizer (A2) e
(A3), entao Ψ ∈ C1(E \ 0,R) e
Ψ′(w)z =‖m(w)‖‖w‖
Φ′(m(w))z, ∀ w, z ∈ E, w 6= 0.
Demonstracao. Sejam w ∈ E \0 e z ∈ E. Usando a propriedade da maximalidade de sww
e o Teorema do Valor Medio, obtemos, para |t| suficientemente pequeno:
Ψ(w + tz)− Ψ(w) = Φ(m(w + tz))− Φ(m(w)) = Φ(sw+tz(w + tz))− Φ(sww)
≤ Φ(sw+tz(w + tz))− Φ(sw+tzw)
= Φ′(sw+tz(w + τttz))sw+tztz,
em que τt ∈ (0, 1). Analogamente,
Ψ(w + tz)− Ψ(w) = Φ(sw+tz(w + tz))− Φ(sww)
≥ Φ(sw(w + tz))− Φ(sww))
= Φ′(sw(w + ηttz))swtz,
com ηt ∈ (0, 1), de modo que
Φ′(sw(w + ηttz))swtz ≤ Ψ(w + tz)− Ψ(w) ≤ Φ′(sw+tz(w + τttz))sw+tztz.
Portanto,
limt→0
Ψ(w + tz)− Ψ(w)
t= swΦ′(sww)z =
‖m(w)‖‖w‖
Φ′(m(w))z.
Uma vez que Φ ∈ C1 e a Proposicao 2.8 garante a continuidade da funcao w 7→ sww,
concluımos que a derivada de Gateaux de Ψ e limitada em z, dependendo continuamente de
w, mostrando que Ψ e de classe C1.
Corolario 2.10. Suponha que E seja um espaco de Banach uniformemente convexo satis-
fazendo (A1). Se Φ satisfizer (A2) e (A3), entao:
(i) Ψ ∈ C1(S,R) e, para w ∈ S, vale
Ψ′(w)z = ‖m(w)‖Φ′(m(w))z, ∀ z ∈ Tw(S);
(ii) Se (wn) for uma sequencia de Palais-Smale para Ψ, entao (m(wn)) e uma sequencia
de Palais-Smale para Φ. Se un ⊂ N for uma sequencia de Palais-Smale limitada para
Φ, entao (m−1(un)) e uma sequencia de Palais-Smale para Ψ;
(iii) w e um ponto crıtico de Ψ se e somente se m(w) for um ponto crıtico nao trivial de Φ
e Φ(m(w)) = Ψ(w). Em particular, infS Ψ = infN Φ;
31
(iv) Se Φ for par, entao Ψ tambem e.
Demonstracao. Se w ∈ S, entao ‖w‖ = 1 e m(w) = m(w). Assim, decorre da Proposicao 2.9
que Ψ′(w)z = ‖m(w)‖Φ′(m(w))z para todo z ∈ Tw(S). Portanto, (i) esta provado.
Para mostrar (ii), notamos inicialmente que, de acordo com a definicao de Ψ temos que
Ψ(wn) e limitada se, e somente se, Φ(m(wn)) o for.
Afirmamos que, definindo u = m(w) ∈ N para todo w ∈ S, temos
‖Ψ′(w)‖ ≤ ‖u‖ ‖Φ′(u)‖ ≤ (C + 1)‖Ψ′(w)‖, (2.2)
em que C > 0 e uma constante.
Suponhamos provado (2.2) e que (wn) ⊂ S seja uma sequencia de Palais-Smale para Ψ.
A segunda desigualdade em (2.2) implica que ‖un‖‖Φ′(un)‖ → 0 quando n → ∞. Uma
vez N esta afastada do zero, nao podemos ter ‖un‖ → 0. Assim, podemos concluir que
‖Φ′(un)‖ → 0. Deste fato decorre que (un) = m(wn)) e uma sequencia de Palais-Smale para
Φ.
Da mesma forma, seja (un) ⊂ N uma sequencia limitada de Palais-Smale para Φ. Sendo
(un) limitada, a primeira desigualdade em (2.2) implica que, para wn := m−1(un)), temos
‖Ψ′(wn)‖ ≤ M‖Φ′(un)‖. Assim, Φ′(un) → 0 implica Ψ′(wn) → 0. Isso completa a prova de
(ii).
A afirmacao (iii) e consequencia imediata de (2.2).
Para provar nossa afirmacao, utilizamos a decomposicao E = Tw(S) ⊕ Rw (provada no
Lema 2.6) e hipotese (A1), que garante que J e limitada em conjuntos limitados. Uma vez
que J(w)(z+ tw) = t para w ∈ S e z+ tw ∈ Tw(S) +Rw, concluımos que |t| = ‖J(w)‖ ≤ C
para alguma constante C > 0, ao supormos que ‖z + tw‖ = 1.
Uma vez que∣∣‖z‖ − ‖tw‖∣∣ =
∣∣‖z‖ − |t|∣∣ ≤ ‖z + tw‖, obtemos
‖z‖ ≤ 1 + |t| ≤ (C + 1)‖z + tw‖ (2.3)
Assim, decorre de (i) que, para u = m(w), temos
‖Ψ′(w)‖ = supz∈Tw(S)
‖z‖=1
|Ψ′(w)z| = supz∈Tw(S)
‖z‖=1
‖m(w)‖ |Φ′(m(w))z| = ‖u‖ supz∈Tw(S)
‖z‖=1
|Φ′(u)z|. (2.4)
Mas, como m(w) = u, aplicando m−1 a essa igualdade, da Proposicao 2.8 decorre que
w = m−1(m(w)) = m−1(u) = u‖u‖ e Φ′(u)
(u‖u‖
)= 1‖u‖Φ
′(u)u = 0, pois u ∈ N . Daı decorre
que
‖Φ′(u)‖ = supz+tw∈Tw(S)⊕Rw‖z+tw‖=1
|Φ′(u)(z + tw)| = supz+tw∈Tw(S)⊕Rw‖z+tw‖=1
|Φ′(u)z| ≥ supz∈Tw(S)
‖z‖=1
|Φ′(u)z|. (2.5)
Combinando (2.4) e (2.5) obtemos a primeira desigualdade em (2.2).
32
Uma vez que
‖Φ′(u)‖ = supz+tw∈Tw(S)⊕Rw
z+tw 6=0
∣∣∣∣Φ′(u)(z + tw)
‖z + tw‖
∣∣∣∣ = supz∈Tw(S)
z+tw 6=0
∣∣∣∣Φ′(u)z
‖z + tw‖
∣∣∣∣ ,aplicando a desigualdade (2.3) em (2.4) obtemos
‖u‖ supz∈Tw(S)
‖z‖=1
|Φ′(u)z| ≤ ‖u‖ supz∈Tw(S)
z+tw 6=0
∣∣∣∣Φ′(u)z
‖z + tw‖
∣∣∣∣ ≤ (C + 1)‖u‖ supz∈Tw(S)\0
|Φ′(u)z|‖z‖
= (C + 1)‖Ψ′(w)‖,
completando a demonstracao de (2.2).
Finalmente, se Φ for par, entao Φ(sw) = Φ(−sw) e, assim, s−w = sw. Consequentemente,
m(−w) = −m(w) e a definicao mostra que Ψ e par, provando (iv).
Observacao 2.11. Notamos que o ınfimo de φ sobre N tem a seguinte caracterizacao
minimax:
c = infu∈N
Φ(u) = infw∈E\0
maxs>0
Φ(sw) = infw∈S
maxs>0
Φ(sw).
C
Os proximos teoremas deste capıtulo fornecem condicoes suficientes para a existencia de
um estado fundamental e de infinitos pares de pontos crıticos de Φ. Em suas demonstracoes
utilizaremos o teorema A.9 que nos diz que se E e um espaco de Banach de dimensao infinita,
Φ ∈ C1(S,R) e limitado inferiormente e satisfaz a condicao de Palais-Smale, entao Φ tem
infinitos pares de pontos crıticos.
Definicao 2.12. Dizemos que Φ satisfaz a condicao de Palais-Smale em N se toda sequencia
de Palais-Smale (un) para Φ com un ∈ N para todo n contem uma subsequencia convergente.
Teorema 2.13. Seja E um espaco de Hilbert e suponha que Φ(u) = 12‖u‖2 − I(u), sendo
(i) I ′(u) = o(‖u‖) quando u→ 0;
(ii) s 7→ I′(su)us
e estritamente crescente para todo u 6= 0 e s > 0;
(iii) I(su)s2→ ∞ uniformemente para u em subconjuntos fracamente compactos de E \ 0
quando s→∞;
(iv) I ′ e completamente contınuo.
Entao a equacao Φ′(u) = 0 tem uma solucao de estado fundamental. Alem disso, se I e par,
entao esta equacao tem infinitos pares de solucoes.
Demonstracao. Primeiramente verificamos que (A2) e (A3) sao satisfeitas. Por (i) e por (iii),
αw(s) > 0 para s > 0 pequeno e αw(s) < 0 para s > 0 grande. De fato, por (i) segue-se
que, para todo w ∈ S, I ′(sw) = o(‖sw‖) = o(s) quando sw → 0. Logo, I(sw) = o(s2).
Suponhamos, por absurdo que exista s > 0 pequeno tal que αw(s) ≤ 0. Como
αw(s) = Φ(sw) =1
2s2 − I(sw), (2.6)
33
temos1
2s2 ≤ I(sw).
Dividindo ambos os membros da desigualdade anterior por s2 temos
1
2≤ I(sw)
s2.
Assim, como vale (i) e s > 0 pequeno, fazendo s→ 0 temos que
1
2≤ 0,
um absurdo. Suponhamos agora que exista s > 0 grande tal que αw(s) ≥ 0. Como, neste
caso,1
2s2 ≥ I(sw),
dividindo ambos os membros da desigualdade anterior por s2 temos
1
2≥ I(sw)
s2.
Pretendemos, aqui, utilizar a hipotese (iii) do teorema que estamos demonstrando. Como
E e um espaco de Hilbert, segue-se que E e reflexivo. Consequentemente,a esfera unitaria
S e um subconjunto fracamente compacto de E \ 0 e entao, como s > 0 grande, fazendo
s→∞ na desigualdade anterior, segue-se por (iii) que
1
2≥ ∞,
novamente um absurdo. Portanto, αw(s) > 0 para s > 0 pequeno e αw(s) < 0 para s > 0
grande.
Segue-se de (ii) que existe um unico sw com α′w(sw) = 0. De fato, suponha que existam
s1 < s2, tais que α′w(s1) = α′w(s2) = 0. Como vale (ii) temos
I ′(s1w)w
s1
≤ I ′(s2w)w
s2
.
Pelo fato de termos
α′w(s) =d
dsΦ(sw) = s‖w‖2 − I ′(sw)w = s
(‖w‖2 − I ′(sw)w
s
),
segue-se que α′w(s) = 0 ⇔ s(‖w‖2 − I′(sw)w
s
)= 0 ⇔ ‖w‖2 − I′(sw)w
s= 0 ⇔ I′(sw)w
s= ‖w‖2.
Ou seja, se vale α′w(s1) = α′w(s2) = 0, teremos
I ′(s1w)w
s1
=I ′(s2w)w
s2
,
um absurdo. Portanto, existe um unico sw com α′w(sw) = 0.
34
Afirmamos agora a existencia de δ > 0 tal que sw ≥ δ para todo w ∈ S. De fato, caso
contrario, existiria uma sequencia δn = 1/n e wn ∈ S tais que sn = swn < 1/n. Mas entao,
como
0 = α(sn) = sn‖wn‖2 − I ′(snwn)wn = sn − I ′(snwn)wn,
terıamos
1 =I ′(snwn)wn
sn,
o que contradiz a hipotese (i). Portanto, existe δ > 0 tal que sw ≥ δ para todo w ∈ S.Seja K ⊂ S um compacto. Afirmamos que existe uma constante CK > 0 tal que sw ≤ CK
para todo w ∈ K. Caso contrario, existiria uma sequencia (wn) ⊂ K tal que sn = swn > n
para todo n ∈ N. Como antes, terıamos
0 = α′(sn) = sn‖wn‖2 − I ′(snwn)wn = sn − I ′(snwn)wn,
o que implica
1 =I ′(snwn)wn
sn.
Aplicando o Teorema do Valor Medio a funcao s 7→ I(swn), concluımos que
I(snwn)
sn= I ′(snwn)wn,
em que 0 < sn < sn. Mas, de acordo com a hipotese (ii), temos
I ′(snwn)wnsn
<I ′(snwn)wn
sn,
de modo queI(snwn)
s2n
≤ I(snwn)
snsn=I ′(snwn)wn
sn≤ I ′(snwn)wn
sn= 1.
o que contradiz a hipotese (iii). Portanto, sw ≤ CW para todo w em um subconjunto
compacto W ⊂ S.
Vamos demonstrar na Proposicao (2.17) que Φ satisfaz a condicao de Palais-
Smale em N . Assumindo isto, seja (wn) uma sequencia de Palais-Smale para Ψ e coloque
un =: m(wn) ∈ N . Entao, pelo item (ii) do Corolario 2.10, (un) e uma sequencia de Palais-
Smale para Φ e, como Φ satisfaz a condicao de Palais-Smale em N , segue-se un → u depois
de passar a uma subsequencia, de onde obtemos wn → m−1(u). Logo Ψ satisfaz a condicao
de Palais-Smale.
Seja wn uma sequencia minimizante para Ψ. Pelo princıpio variacional de Ekeland (veja o
Teorema (B.3)) podemos assumir que Ψ′(wn)→ 0 e pela condicao de Palais-Smale, wn → w
depois de passar a uma subsequencia. Logo w e um minimizador para Ψ, ou seja, Ψ(w) =
Φ(m(w) = Φ(u) = infu∈S Ψ(u), e Ψ′(w) = 0 (veja o Teorema (A.8)). Isso implica que u e
uma solucao de estado fundamental para a equacao Φ′(u) = 0, uma vez que, pelo item (iii)
do Corolario 2.10, m(w) = u e um ponto crıtico nao trivial de Φ.
35
Assuma agora que I e par. Segue-se, entao, que Φ tambem e, e, consequentemente, Ψ.
De fato, por definicao
I(u) =1
2‖u‖2 − Φ(u) = I(−u) =
1
2‖u‖2 − Φ(−u)⇒ Φ(u) = Φ(−u),
ou seja, Φ e par. Logo, pelo item (v) do Corolario 2.10 segue-se que Ψ tambem e.
Pelo item (iii) do Corolario 2.10, temos infS Ψ = infN Φ. Daı, segue-se que infS Ψ > 0
e, consequentemente, Ψ e limitada inferiormente. Dessa forma, como E e um espaco de
dimensao infinita, Ψ ∈ C1(S,R) e limitada inferiormente e satisfaz a condicao de Palais-
Smale, entao, pelo Teorema A.9, Ψ tem infinitos pares de pontos crıticos e, novamente, pela
primeira parte do item (iii) do Corolario 2.10, a equacao I ′(u) = 0 tem infinitos pares de
solucoes.
Observacao 2.14. Note que nao usamos a hipotese (iv) diretamente. A mesma sera uti-
lizada na demonstracao de que Φ satisfaz a condicao de Palais-Smale em N . Da mesma
forma, acontecera no teorema abaixo. C
Em um dos problemas que trabalharemos precisaremos de uma extensao do resultado
acima a espacos de Banach. Sendo assim, seja I0 ∈ C1(E,R) par, positivamente homogeneo
de grau p > 1 (i.e., I0(su) = spI0(u), s > 0) e tal que
c0‖u‖p ≤ I0(u) ≤ c−10 ‖u‖p (2.7)
para alguma constante c0 > 0.
Teorema 2.15. Seja E um espaco de Banach uniformemente convexo satisfazendo (A1) e
suponha que φ(u) = I0(u)− I(u), onde,
(i) I ′(u) = o(‖u‖p−1) quando u→ 0;
(ii) s 7→ I ′(su)u
sp−1e estritamente crescente para todo u 6= 0 e s > 0;
(iii)I(su)
sp→ ∞ uniformemente para u em subconjuntos de E \ 0 fracamente compactos
quando s→∞;
(iv) I’ e completamente contınuo;
(v) I0 e fracamente semicontınuo, positivamente homogeneo de grau p, satisfaz (2.7) e
(I ′0(v)− I ′0(w))(v − w) ≥ c1(‖v‖p−1 − ‖w‖p−1)(‖v‖ − ‖w‖)
para algum c1 > 0 e todo v,w ∈ E.Entao a equacao Φ′(u) = 0 tem uma uma solucao de estado fundamental. Alem disso, se I
e par, entao esta equacao tem infinitos pares de solucoes.
Demonstracao. Como no teorema 2.13, vamos mostrar que (A2) e (A3) sao satisfeitas. Pela
definicao de Φ e pela homogeneidade de I0 temos
αw(s) = Φ(sw) = I0(sw)− I(sw) = spI0(w)− I(sw).
36
Por (i) e por (iii), αw(s) > 0 para s > 0 pequeno e αw(s) < 0 para s > 0 grande. De fato,
por (i) temos que, para todo w ∈ S, I ′(sw) = o(‖sw‖p−1) = o(sp−1), logo, I(sw) = o(sp)
quando sw → 0. Suponha que para s > 0 pequeno temos αw(s) ≤ 0, ou seja,
spI0(w) ≤ I(sw).
Segue-se por 2.7 que
c0sp ≤ spI0(w) ≤ I(sw).
Daı, dividindo toda a desigualdade anterior por sp temos
c0 ≤I(sw)
sp.
Como s > 0 e pequeno, fazendo s→ 0, segue que
c0 ≤ 0,
contradizendo o fato de ser c0 > 0. Portanto, αw(s) > 0 para s > 0 pequeno.
Suponha, agora, que para s > 0 grande temos αw(s) ≥ 0, ou seja, spI0(w) ≥ I(sw).
Novamente por 2.7 temos
c−10 sp ≥ spI0(w) ≥ I(sw).
Da mesma forma, dividindo toda a desigualdade anterior por sp temos
c−10 ≥
I(sw)
sp.
Pretendemos, aqui, utilizar a hipotese (iii) do teorema que estamos demonstrando. Como
E um espaco de Banach uniformemente Convexo(em particular, reflexivo), segue-se que S e
um subconjunto fracamente compacto de E\0. Daı, como s > 0 e grande, fazendo s→∞,segue-se por (iii) que
c−10 ≥ ∞.
Novamente, um absurdo. Portanto, αw(s) < 0 para s > 0 grande.
Afirmamos, agora, a existencia de um unico sw satisfazendo α′(sw) = 0. Note, primeira-
mente, que
α′w(s) =d
dsΦ(sw) = psp−1I0(w)− I ′(sw)w = sp−1
(pI0(w − I ′(sw)
sp−1
).
Suponhamos que existam 0 < s1 < s2 tal que α′w(s1) = α′w(s2) = 0. Entao, temos
sp−11
(pI0(w)− I ′(s1w)w
sp−11
)= sp−1
2
(pI0(w)− I ′(s2w)w
sp−12
)= 0.
37
Como sp−11 , sp−1
2 6= 0 segue-se que
pI0(w)− I ′(s1w)w
sp−11
= pI0(w)− I ′(s2w)w
sp−12
,
consequentemente,I ′(s1w)w
sp−11
=I ′(s2w)w
sp−12
.
Absurdo, uma vez que, por (ii), devemos ter
I ′(s1w)w
sp−11
<I ′(s2w)w
sp−12
.
Portanto, existe um unico sw satisfazendo α′(sw) = 0.
Afirmamos agora a existencia de δ > 0 tal que sw ≥ δ para todo w ∈ S. De fato, caso
contrario, existiria uma sequencia δn = 1/n e wn ∈ S tais que sn = swn < 1/n. Mas entao,
como
α′w(sn) = psp−1n I0(wn)− I ′(snwn)wn = 0,
temos
pI0(wn) =I ′(snwn)wn
sp−1n
.
Por (2.7) segue-se que
pc0 ≤I ′(snwn)wn
sp−1n
= pI0(wn)
e como vale (i) segue-se que
pc0 ≤ 0,
um absurdo , uma vez que, por hipotese, p > 1 e c0 > 0. Portanto, existe δ > 0 tal que
sw ≥ δ para todo w ∈ S.Seja K ⊂ S um compacto. Afirmamos que existe uma constante CK > 0 tal que sw ≤ CK
para todo w ∈ K. Caso contrario, existiria uma sequencia (wn) ⊂ K tal que sn = swn > n
para todo n ∈ N. Como antes, temos
α′w(sn) = psp−1n I0(wn)− I ′(snwn)wn = 0,
o que implica
pI0(wn) =I ′(snwn)wn
sp−1n
.
Aplicando o Teorema do Valor Medio a funcao s 7→ I(swn), concluımos que
I(snwn)
sn= I ′(snwn)wn,
38
em que 0 < sn < sn. Mas, de acordo com a hipotese (ii), temos
I ′(snwn)wn
sp−1n
<I ′(snwn)wn
sp−1n
,
de modo que
I(snwn)
spn≤ I(snwn)
sp−1n sn
=I ′(snwn)wn
sp−1n
≤ I ′(snwn)wn
sp−1n
= pI0(wn) ≤ pc−10 .
o que contradiz a hipotese (iii). Portanto, sw ≤ CW para todo w em um subconjunto
compacto W ⊂ S.
Daqui em diante, a demonstracao e identica a demonstracao do teorema anterior. Note
que para utilizar o Teorema A.8 precisamos garantir, dentre outros, que S e uma subvariedade
de classe C1, fato garantido pela hipotese (A1).
Observacao 2.16. Enquanto no Teorema 2.13, por ser E um espaco de Hilbert, a esfera S e
uma C∞-variedade, no teorema 2.15 S pode ser de classe C1 apenas. Portanto e importante
ter uma versao do Teorema A.9 que acontece para tal S. No proximo capıtulo trabalharemos
com um problema onde S ∈ C1 mas S 6∈ C1,1. C
Para completar as provas dos Teoremas 2.13 e 2.15 ainda devemos mostrar que Φ satisfaz
a condicao de Palais-Smale em N . Como (v) do Teorema 2.15 e automaticamente satisfeita
se E e um espaco de Hilbert e I0(u) = 12‖u‖2, e suficiente mostrar isto para o teorema 2.13.
Proposicao 2.17. Assuma as hipoteses do teorema 2.15. Entao:
(i) Se un ⊂ N e uma sequencia tal que supn∈N Φ(un) < ∞, entao, passando a uma sub-
sequencia, temos un u 6= 0 quando n→∞, e existe su > 0 tal que suu ∈ N e
Φ(suu) ≤ lim infn→∞
Φ(un) <∞;
(ii) Φ|N e coercivo, isto e, Φ(un)→∞ quando un ∈ N , ‖un‖ → ∞;
(iii) Φ satisfaz a condicao de Palais-Smale em N .
Demonstracao. (a) Seja (un) ⊂ N uma sequencia tal que Φ(un) ≤ d ∀ n. Primeiramente
afirmamos que un e limitada. De fato, se un nao e limitada, entao, ‖un‖ → ∞ e, definindo,
vn := un‖un‖ temos que (vn) ∈ S. Como (vn) e uma sequencia limitada em um espaco reflexivo,
entao (vn) admite uma subsequencia (vnk) que converge fracamente. Consequentemente,
vn := un‖un‖ v em E depois de passar a uma subsequencia.Suponha v = 0. Como (un) ∈ N ,
para cada s > 0 temos:
d ≥ Φ(un) = Φ(‖un‖vn) = Φ(svnvn) ≥ Φ(svn), (2.8)
39
uma vez que sw ∈ N ⇔ s = sw e svn e o maximo da funcao αvn(s) =: Φ(svn). Por definicao
Φ(svn) = I0(svn)− I(svn).
Pela p-homogeneidade de I0 temos
I0(svn) = spI0(vn).
Por (2.7), segue-se que
I0(vn) ≥ c0‖vn‖p = c0,
uma vez que vn ∈ S. Isto implica que
spI0(svn) ≥ spc0,
consequentemente,
Φ(svn) ≥ spc0 − I0(svn)),
o que implica que
d ≥ Φ(un) = Φ(‖un‖vn) = Φ(svnvn) ≥ Φ(svn) ≥ spc0 − I0(svn).
Note que assumindo (iv) do Teorema 2.15 temos que I e fracamente contınuo, ou seja,
I(svn)→ I(sv) = I(0) = 0.
Consequentemente,
d ≥ Φ(un) = Φ(‖un‖vn) = Φ(svnvn) ≥ Φ(svn) ≥ spc0 − I0(svn)→ c0sp. (2.9)
Isto produz uma contradicao ao tomar s >(dco
) 1p. De fato,
s >
(d
co
) 1p
⇒ sp >d
c0
⇒ c0sp > c0
d
c0
= d.
Entao v 6= 0, o que garante que I(vn) 9 0, uma vez que vn v ⇒ I(vn)→ I(v). Note que,
por hipotese, Φ(0) = 0 e, por (2.7), I0(0) = 0, o que implica que I(0) = 0. Logo,
0 ≤ Φ(un)
‖un‖p=I0(un)
‖un‖p− I(un)
‖un‖p≤ 1
c0
− I(‖un‖vn)
‖un‖p→ −∞ (2.10)
quando n→∞ por (iii) do teorema 2.15 e pelo fato que, por (2.7),
c0 ≤I0(un)
‖un‖p≤ c−1
0 .
Novamente,temos uma contradicao. Segue-se que (un) e limitada e, entao, pela reflexividade
40
de E, segue-se que un u depois de passar a uma subsequencia. Se u = 0, vemos como em
(2.9) que
d ≥ Φ(un) ≥ Φ(sun) ≥ d0sp − I(sun)→ d0s
p
para todo s > 0, sendo d0 = c0 infN ‖u‖ > 0. Novamente temos uma contradicao.Logo,
u 6= 0.
Vamos mostrar que Φ(suu) ≤ lim infn→∞
Φ(un).De fato, como I e sequencialmente fracamente
contınuo, temos que
I(suun)→ I(suu),
em particular,
lim supn→∞
I(suun) = I(suu). (2.11)
Como, por hipotese, I0 e fracamente semicontınuo inferiormente, temos que
I0(suu) ≤ lim infn→∞
I0(suun). (2.12)
Dai, como
Φ(suu) = Io(suu)− I(suu),
segue-se por (2.11) , (2.12) e do fato que se un ∈ N implica que Φ(suun) ≤ Φ(un), que
Φ(suu) ≤ lim infn→∞
I0(suun)− lim supn→∞
I(suun)
= lim infn→∞
I0(suun) + lim infn→∞
−I(suun)
≤ lim infn→∞
(I0(u)sun)− I(suun))
= lim infn→∞
Φ(suun)
≤ lim infn→∞
Φ(un)
Assim, provamos (i).
Suponha, por absurdo, que Φ(un) 9∞ quando un ∈ N e ‖un‖ → ∞. Entao, temos que
supn∈N < ∞. Provamos acima que, nesse caso, (un) e limitada. Mas entao ‖un‖ 9 ∞, um
absurdo. Portanto, (ii) tambem esta provado.
Finalmente, seja (un) ⊂ N uma sequencia de Palais-Smale para Φ. Vamos mostrar que
(un) possui uma subsequencia convergente. Por definicao de sequencias de Palais-Smale,
temos que Φ(un) e limitada e
Φ′(un)→ 0. (2.13)
Pelo item (i), un u depois de passar a uma subsequencia. Alem disso, pela definicao de
41
Φ temos que
Φ′(un) = I ′0(un)− I ′(un)→ 0 (2.14)
e, por ser I completamente contınuo, segue-se que
I ′(un)→ I ′(u) quando n→∞,
logo, por (5) do teorema 2.15,
[I ′0(un)− I ′0(u)](un − u) ≥ c1(‖un‖p−1 − ‖u‖p−1)(‖un‖ − ‖u‖).
Note que o segundo membro da desigualdade anterior e maior ou igual a 0. Vamos provar
que [I ′0(un) − I ′0(u)](un − u) = o(1). De fato, por (2.13) temos que I ′0(un) → I ′(un) e como
I ′(un) → I ′(u), segue, por transitividade, que I ′0(un) → I ′(u). Como un u, temos que
un − u 0. Portanto, un − u e uma sequencia limitada em E e, como E e um espaco
de Banach uniformemente convexo(em particular, reflexivo), passando a uma subsequencia
(un − u) converge fortemente em E, consequentemente, un → u. Temos que
[I ′0(un)−I ′0(u)](un−u) = [I ′0(un)−I ′(un)](un−u)+[I ′(un)−I ′(u)](un−u)+[I ′(u)−I ′0(u)](un−u).
Por definicao de convergencia fraca, como un − u 0 e I ′ − I ′0 ∈ E∗, temos que [I ′(u) −I ′0(u)](un − u) 0. Portanto,
[I ′0(un)− I ′0(u)](un − u) = o(1).
Segue-se que ‖un‖ → ‖u‖ e, portanto, un → u pela convexidade uniforme de E. Segue-se,
entao, que Φ satisfaz a condicao de Palais-Smale em N , o que prova (iii).
O uso da observacao seguinte sera conveniente no proximo capıtulo.
Observacao 2.18. A prova da Proposicao 2.17 ainda continua valida se a condicao (v) do
Teorema 2.15 for substituıda por uma condicao mais geral: a de que I0 = I1 + I2, com I1
satisfazendo (v) e I2 sendo um funcional com derivada completamente contınua. Ou seja,
estamos tomando Φ(u) na forma Φ(u) = I1(u)+I2(u)−I(u). De fato, Seja (un) ⊂ N tal que
Φ(un) ≤ d para todo n. Como na demonstracao da Proposicao 2.17 e sem nenhuma diferenca
mostra-se que (un) e limitada e, logo, un → u 6= 0 depois de passar a uma subsequencia.
Como na Proposicao 2.17, sendo I sequencialmente fracamente contınuo, temos que
I(suun)→ I(suu),
em particular,
lim supn→∞
I(suun) = I(suu). (2.15)
42
Como, por hipotese, I1 e fracamente semicontınuo inferiormente, temos que
I1(suu) ≤ lim infn→∞
I1(suun). (2.16)
Dai, como
Φ(suu) = I1(suu) + I2(suu)− I(suu)
segue-se por (2.15) ,(2.16) e, como antes, pelo fato que un ∈ N implica que Φ(suun) ≤ Φ(un),
que
Φ(suu) ≤ lim infn→∞
I1(suun) + lim infn→∞
I2(suun)− lim supn→∞
I(suun)
= lim infn→∞
I1(suun) + lim infn→∞
I2(suun) + lim infn→∞
−I(suun)
≤ lim infn→∞
(I1(suun) + I2(suun)− I(suun)
)= lim inf
n→∞Φ(suun)
≤ lim infn→∞
Φ(un)
A demonstracao do item (ii) continua identica a demonstracao que fornecemos na Proposicao
2.17. Para mostrar (iii) agora, adotemos um raciocınio analogo ao adotado na demonstracao
da proposicao do mesmo item na Proposicao 2.17.
Seja (un) ⊂ N uma sequencia de Palais-Smale para Φ. Vamos mostrar que (un) possui
uma subsequencia convergente. Por definicao de sequencias de Palais-Smale, temos que
Φ(un) e limitada e
Φ′(un)→ 0. (2.17)
Por (i) un u depois de passar a uma subsequencia. Alem disso, pela definicao de Φ temos
que
Φ′(un) = I ′1(un) + I ′2(un)− I ′(un)→ 0 (2.18)
e, por ser I completamente contınuo, temos que
I ′(un)→ I ′(u) quando n→∞.
Por (v) do teorema 2.15,
[I ′1(un)− I ′1(u)](un − u) ≥ c1(‖un‖p−1 − ‖u‖p−1)(‖un‖ − ‖u‖).
Note que, como antes, o segundo membro da desigualdade anterior e maior ou igual a 0.
Vamos provar que [I ′1(un) − I ′1(u)](un − u) = o(1). De fato, por (2.17) temos que I ′1(un) +
I ′2(un) − I ′(un) → 0. Por hipotese, temos que I ′2(un) → I ′2(u) e que I ′(un) → I ′(u) quando
n→∞. Defina o funcional J = I2 − I. Entao,
43
J ′(un)→ J ′(u) e I ′1(un)→ I ′(un)− I2(un) = −J(un)→ −J(u) quando n→∞.Note que
(I ′1(un)− J ′(u))(un − u) = (I ′1(un)− J ′(un))(un − u) + (J ′(un)− J ′(u))(un − u)) + (J ′(u)−I ′1(un))(un − u).
Como un u, temos que un−u 0. Portanto, un−u e uma sequencia limitada em E, e como
E e um espaco de Banach uniformemente convexo(em particular, reflexivo)passando a uma
subsequencia (un− u) converge fortemente em E, consequentemente, un → u. Por definicao
de convergencia fraca, como un−u 0 e I ′1−J ′ ∈ E∗, temos que [I ′1(un)−J ′(un)](un−u) 0.
Portanto,
[I ′1(un)− I ′1(u)](un − u) = o(1).
Segue-se que ‖un‖ → ‖u‖ e, consequentemente, un → u pela convexidade uniforme de E.
Portanto, Φ satisfaz a condicao de Palais-Smale em N . C
44
Capıtulo 3
Aplicacoes
Os proximos problemas descrevem situacoes em que o metodo da variedade de Nehari
pode ser aplicado para encontrar estados fundamentais e solucoes multiplas de problemas de
fronteira elıptico nao lineares. Usaremos esse metodo tambem para provarmos a existecia de
solucoes de menor energia com sinais trocados para nossos problemas, ou seja, uma solucao
u ∈ Nsc com Φ(u) = csc ≥ 2c, em que Nsc := u ∈ E : u± ∈ N, csc = infu∈Nsc Φ(u), com
u+ = maxu, 0 e u− = minu, 0 denotando as parte positiva e negativa de u, respectiva-
mente.
3.1 O problema para o Laplaciano
Consideremos inicialmente o problema (1.1):−∆u− λu = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω,(3.1)
em que λ e um parametro real e f ∈ C(Ω× R,R) satisfaz a restricao de crescimento
|f(x, u)| ≤ a(1 + |u|q−1) (3.2)
para algum a > 0 e 2 < q < 2∗. Um exemplo simples de funcao satisfazendo a condicao (3.2)
e dado por
f : Ω× R→ R
(x , u) 7→ |u|q−2u
sendo 2 < q < 2∗.
Vamos supor que λ < λ1, sendo que λ1 denota o primeiro autovalor de −∆ em Ω. Como
λ < λ1, podemos introduzir em H10 (Ω) uma norma equivalente aquela utilizada na Secao 1.1:
‖u‖ =
(∫Ω
(|∇u|2 − λu2
)dx
)1/2
.
45
Definimos entao
Φ(u) =1
2
∫Ω
(|∇u|2 − λu2
)dx−
∫Ω
F (x, u)dx =1
2‖u‖2 − I(u),
em que, como antes, F (x, u) =∫ u
0f(x, s) ds.
Pelo Teorema 1.4, Φ ∈ C1(E,R), I ′ e completamente contınuo e os pontos crıticos de Φ
sao solucoes de (1.1).
Na demonstracao do proximo resultado aplicaremos o Teorema 2.13.
Teorema 3.1. Suponha que λ < λ1. Se a funcao f satisfizer a restricao de crescimento
(3.2) e
(i) f(x, u) = o(u) uniformemente em x quando u→ 0;
(ii) u→ f(x, u)
|u|for estritamente crescente em (−∞, 0) e (0,∞);
(iii)F (x, u)
u2→∞ uniformemente em x quando |u| → ∞,
entao a equacao (3.1) tem uma solucao de estado fundamental. Alem disso, se f for ımpar
em u, entao (3.1) tem infinitos pares de solucoes.
Lembramos que c = infu∈N Φ(u) e que uma solucao u0 ∈ N de estado fundamental
satisfaz Φ(u0) = c.
Demonstracao. Decorre de (i) e do Teorema 1.4 que I ′(u) = o(‖u‖) quando u→ 0. Assim,
a hipotese (i) do Teorema 2.13 esta satisfeita.
Afirmamos que (ii) implica que s 7→ I ′(su)u/s e estritamente crescente para u 6= 0 e
s > 0. De fato, de acordo com o Lema 1.3, temos
I ′(u)v =
∫Ω
f(x, u)v dx ∀ v ∈ H10 (Ω).
Consequentemente, denotando
Ω+ = x ∈ Ω : u(x) > 0 e Ω− = x ∈ Ω : u(x) < 0,
para 0 < s1 < s2 e x tal que u(x) 6= 0, temos
I ′(s1u)u
s1
− I ′(s1u)u
s2
=
∫Ω
f(x, s1u)u
s1
dx−∫
Ω
f(x, s2u)u
s2
dx
=
∫Ω
(f(x, s1u)
|s1u|− f(x, s2u)
|s2u|
)u|u| dx
=
∫Ω+
(f(x, s1u)
s1u− f(x, s2u)
s2u
)u2 dx
+
∫Ω−−(f(x, s1u)
s1u− f(x, s2u)
s2u
)(−u2) dx
< 0,
46
uma vez que, por (ii), se 0 < s1 < s2 temos
f(x, s1)
s1
<f(x, s2)
s2
.
Isso mostra que a hipotese (ii) do Teorema 2.13 esta satisfeita.
Para verificarmos a hipotese (iii) do Teorema 2.13, sejam W ⊂ E \ 0 um conjunto
fracamente compacto e (un) ⊂ W . Note que e suficiente mostrar que, se sn → ∞ quando
n→∞, entao o mesmo acontece com uma subsequencia de I(snun)/s2n.
Podemos supor, passando a uma subsequencia, que un u ∈ E \ 0 e un(x) → u(x)
q.t.p. Como |snun(x)| → ∞ sempre que u(x) 6= 0, definindo a funcao gj para tais pontos
x por gj(x) = F (x, snuj)u2j/(snuj)
2 = F (x, snuj)/s2n, temos que gj e contınua e, portanto,
mensuravel.
Afirmamos que gj ≥ 0. Para mostrar nossa afirmacao basta verificar que F ≥ 0. A
hipotese (ii) garante que f(x, u)/|u| e sempre crescente para u 6= 0. Pela hipotese (i) temos
h(x, u) = limu→0
f(x, u)
|u|= 0 ∀ x ∈ Ω,
o que implica que podemos definir h(x, 0) = 0. A hipotese (ii) entao implica que f(x, u)
deve ser negativo para u < 0 e positivo para u > 0. Assim, o integrando na definicao de F
e positivo, se u > 0, e negativo, se u < 0. Isso nos mostra que F sempre e nao negativa.
Logo, pelo Lema de Fatou segue-se que∫Ω
lim inf gj dx ≤∫
Ω
gj dx para todo j,
o que implica, em particular, que∫Ω
F (x, snu)u2
(snu)2dx ≤
∫Ω
F (x, snun)u2n
(snun)2dx.
Mas, de acordo com (iii),∫Ω
F (x, snu)u2
(snu)2dx→∞ quando n→∞,
concluımos que ∫Ω
F (x, snun)u2n
(snun)2dx→∞ quando n→∞,
ou seja,
I(snun)
s2n
=
∫Ω
F (x, snun)u2n
(snun)2dx quando n→∞,
uniformemente para u ∈ K.
Por fim, (iv) do Teorema 2.13 e assegurada pelo Teorema A.8.
Agora, pelo Teorema 2.13 a equacao (3.1) tem uma solucao de estado fundamental. Se
f e ımpar em u, temos que F e par em u e, consequentemente, I tambem e par em u. Logo,
47
pelo, Teorema 2.13, segue-se que (3.1) tem infinitos pares de solucoes.
Na sequencia, mostraremos que cada solucao de estado fundamental u0 e positiva ou
negativa. Denotemos por u+ := maxu, 0 e por u− := minu, 0 as partes positiva e
negativa de u, respectivamente.
Observacao 3.2. Se u ∈ H10 (Ω), entao u+, u− ∈ H1
0 (Ω). C
Lema 3.3. Seja u uma solucao de sinais trocados, ou seja, uma solucao que assume tanto
valores positivos quanto negativos. Entao u± ∈ N .
Demonstracao. Vamos mostrar apenas que u+ ∈ N , pois a outra demonstracao e inteira-
mente analoga.
Afirmamos que ∫Ω
∇u · ∇u+ dx =
∫Ω
∇u+ · ∇u+ dx (3.3)
implica
Φ′(u)u+ = Φ′(u+)u+,
o que garante que u+ ∈ N , pois Φ′(u)u+ = 0.
Para provar nossa afirmacao, basta notar que, para todo v ∈ H10 (Ω), temos
Φ′(u)v =
∫Ω
∇u · ∇v dx− λ∫
Ω
uv dx−∫
Ω
f(x, u)v dx
e entao tomar v = u+ .
Na sequencia, considere o lema abaixo. Embora seja muito simples, o mesmo sera muito
util no restante do trabalho.
Lema 3.4. Φ(u) = Φ(u+) + Φ(u−).
Demonstracao. De fato, uma vez que u+ e nula quando u− e positiva e vice-versa, resulta
I(u+ + u−
)=
∫ u++u−
0
f(x, s) ds =
∫ u+
0
f(x, s) ds+
∫ u−
0
f(x, s) ds,
o que implica
F (x, u+ + u−) = F (x, u+) + F (x, u−).
Daı,
I(u+ + u−
)=
∫Ω
F (x, u+ + u−) dx =
∫Ω
F (x, u+) dx+
∫Ω
F (x, u−) dx = I(u+) + I(u−).
48
Consequentemente, temos
Φ(u) = Φ(u+ + u−) =1
2‖u+ + u−‖2 − I(u+ + u−)
=1
2‖u+‖2 + (u+ · u−) +
1
2‖u−‖2 − I(u+)− I(u−)
=1
2‖u+‖2 +
1
2‖u−‖2 − I(u+)− I(u−)
=
(1
2‖u+‖2 − I(u+)
)+
(1
2‖u−‖2 − I(u−)
)= Φ(u+) + Φ(u−)
Proposicao 3.5. Seja u0 uma solucao de estado fundamental. Entao
u0 ≥ 0 ou u0 ≤ 0.
Demonstracao. Suponha que u0 tenha partes positiva e negativa. Como u±0 ∈ N , pelo Lema
(3.4) temos:
c = Φ(u0) = Φ(u+0 ) + Φ(u−0 ) ≥ 2c,
um absurdo.
Note que, aplicando a desigualdade de Harnack, podemos concluir que u0 > 0 ou u0 < 0
em Ω.
Observacao 3.6. Um resultado conhecido (veja [5]) garante que se f satisfizer a condicao
de crescimento (3.2), a hipotese (i) do Teorema 3.1, bem como a condicao de Ambrosetti-
Rabinowitz dada por
(AR) Existem µ > 2 e R > 0 tais que
0 < µF (x, u) ≤ f(x, u)u ∀ |u| > R
entao o problema (1.1) possui uma solucao positiva. Mais do que isso, se f for ımpar em u,
entao (3.1) possui infinitas solucoes
Um exemplo tıpico de funcao f que satisfaz nao apenas essas condicoes, mas todas as
hipoteses do Teorema 3.1 e dado por
f(x, u) = |u|q−2u,
para 2 < q < 2∗. Por outro lado, se tomarmos f(x, u) = u|g(u)| e escolhermos adequa-
damente a funcao g, teremos exemplos satisfazendo as hipoteses do Teorema 3.1 mas nao
satisfazem a hipotese (AR): veja [1, Remark 17]. C
49
O nosso proximo resultado aborda a existencia de solucoes com sinais trocados e e devido
a Liu e Wang [31]. Para isto, definimos
Nsc = u ∈ E : u± ∈ N e csc := infu∈Nsc
Φ(u).
Como u± ∈ N , vemos que toda solucao de sinais trocados de (3.1) pertence a Nsc.
Teorema 3.7. Sob as hipoteses do Teorema 2.13, o problema (3.1) admite uma solucao de
menor energia com sinais trocados, isto e, uma solucao u ∈ Nsc satisfazendo Φ(u) = csc ≥ 2c.
Demonstracao. Seja (un) ⊂ Nsc uma sequencia minimizante, isto e,
Φ(un)→ csc quando n→∞.
Como Φ(un) = Φ(u+n ) + Φ(u−n ) e Φ(u±n ) ≥ c > 0 para todo n, podemos concluir que
Φ(u±n ) e limitada. De fato, como Φ(u±n ) > 0, temos Φ(u+n ) = Φ(un)−Φ(u−n ) > 0, mostrando
que Φ(un) > Φ(u−n ). Como Φ(un) e limitada, temos que Φ(u−n ) e limitada. Analogamente
para Φ(u+n ).
Logo, pela Proposicao 2.17, u+n u1 6= 0 e u−n u2 6= 0. Definindo u = u1 + u2, temos
un u quando n → ∞. Passando a uma subsequencia, se necessario, podemos assumir
convergencia em quase todo ponto. Daı decorre que u1u2 ≡ 0. Alem disso, definindo
u = su1u1 + su2u2 = u+ + u−, pelo Lema 3.4 temos:
2c ≤ Φ(u) = Φ(su1u1) + Φ(su2u2)
≤ lim infn→∞
Φ(u+n ) + lim inf
n→∞Φ(u−n )
≤ lim infn→∞
(Φ(u+n ) + Φ(u−n )) = lim inf
n→∞Φ(un) = csc,
a penultima desigualdade sendo consequencia da Proposicao 2.17 (i), enquanto a ultima
igualdade decorre da escolha da sequencia (un).
Dessa forma,
2c ≤ Φ(u) ≤ csc. (3.4)
Alem disso, por definicao, temos
csc ≤ Φ(u). (3.5)
De (3.4) e (3.5) decorre que
Φ(u) = csc ≥ 2c.
Mostraremos agora que Φ′(u) = 0. Para tal usaremos o Lema da Deformacao (veja o
Apendice F) com S = Bδ(u) em que δ > 0. Essa escolha de S determina que S2δ = B3δ(u).
Escolhemos entao c = csc. Para mostrar que Φ′(u) = 0, apresentaremos o seguinte resultado,
que demonstraremos posteriormente:
Lema 3.8. Se s, t forem numeros reais maiores do que 0 e ao menos um deles for diferente
50
de 1, entao temos
Φ(su+ + tu−) = Φ(su+) + Φ(tu−) < Φ(u+) + Φ(u−) = csc.
Suponhamos entao Φ′(u) 6= 0. Pela continuidade da aplicacao Φ′ : H10 (Ω) → (H1
0 (Ω))∗,
existem δ > 0 e µ > 0 tais que
v ∈ B3δ(u) ⇒ ‖Φ′(v)‖ ≥ µ. (3.6)
Seja D = [12, 3
2] × [1
2, 3
2] e g(s, t) = su+ + tu−. Segue-se do Lema 3.8 que Φ(g(s, t)) = csc
se, e somente se, s = t = 1, com Φ(g(s, t)) < csc caso contrario. Logo,
β := max∂D
(Φ g) < csc (3.7)
uma vez que (1, 1) /∈ ∂D.
Seja ε = mincsc−β
4, µδ
8
. (Essa escolha de ε vai ser justificada na sequencia-veja Ob-
servacao 3.9 logo abaixo) Note que a definicao de ε imediatamente nos da, como consequencia
de (3.6),
‖Φ′(v)‖ ≥ µ ≥ 8ε
δ, ∀ v ∈ B3δ(u).
Entao, para este ε, o Lema da deformacao implica a existencia de uma deformacao η tal que
(i) η(1, v) = v se v /∈ Φ−1([csc − 2ε, csc + 2ε]) ∩ S2δ.
(ii) Φ(η(1, v)) ≤ csc − ε para todo v ∈ E com ‖v − u‖ ≤ δ e Φ(v) ≤ csc + ε;
(iii) Φ(η(1, v)) ≤ Φ(v) para todo v ∈ E.
Pelo item iii)
Φ(η(1, g(s, t))) ≤ Φ(g(s, t)) < csc se (s, t) 6= (1, 1),
onde a desigualdade anterior se deve ao Lema 3.8. Se (s, t) = (1, 1), entao
g(s, t) = u
e ii) se aplica (com v = u). Portanto,
max(s,t)∈D
Φ(η(1, g(s, t))) < csc (3.8)
Observacao 3.9. Desejamos que η(1, g(s, t)) = g(s, t) para todo (s, t) ∈ ∂D e por (i) isto
acontecera se provarmos que g(s, t) nao pertence a Φ−1([csc − 2ε, csc + 2ε]. Entao, se ε for
como definido acima, teremos que ε ≤ csc−β4
e, como vale Φ(g(s, t)) < β < csc para todo
(s, t) ∈ ∂D (veja (3.7)), concluımos que Φ(g(s, t)) < csc − 2ε e segue-se o resultado. C
Vamos provar que η(1, g(D)) ∩ Nsc 6= ∅. (Note que isto produzira uma contradicao: De
fato, suponha a existencia de u0 ∈ E tal que u0 ∈ η(1, g(D))∩Nsc. Entao, existe (s0, t0) ∈ D
51
tal que
η(1, g(s0, t0)) = u0.
Por (3.8) temos
Φ(uo) = Φ(η(1, g(s0, t0))) ≤ max(s,t)∈D
Φ(η(1, g(s, t))) ≤ csc,
fato que contradiz a definicao de csc.)
Definamos as aplicacoes
h(s, t) := η(1, g(s, t)),
Ψ0(s, t) := (Φ′(su+)u+,Φ′(tu−)u−),
Ψ1(s, t) :=
(1
sΦ′(h+(s, t))h+(s, t),
1
tΦ′(h−(s, t))h−(s, t))
).
Considere
α(s) = Φ(su+).
Como u+ ∈ N segue-se que
α′(s) = Φ′(su+)u+ = 0⇔ s = 1
e
α′(s) = Φ′(su+)u+ > 0
para 0 < s < 1, isto e, antes de su+ intersectar N e
α′(s) = Φ′(su+)u+ < 0
para s > 1, isto e, depois da interseccao de su+ com N (veja a condicao (A2). De forma
similar, o mesmo acontece com u−. (Este fato garante que 0 /∈ ∂Ψ0(D)).
Consequentemente, a formula produto para o grau (veja Proposicao (G.4)) fornece
deg(Ψ0, int D, 0)) = 1.
Segue-se de (3.7) e da propriedade i) de η que
g = h em ∂D.
(veja Observacao (3.9)). Consequentemente,
Ψ1 = Ψ0 em ∂(int D)
e
deg(Ψ1, int D, 0) = deg(Ψ0, int D, 0) = 1.
52
Portanto,
Ψ1(s, t) = 0
para algum (s, t) ∈ int D.(veja Proposicao (G.3)(iv)). Logo,
η(1, g(s, t)) = h(s, t) ∈ Nsc.
Concluımos, entao, que u e um ponto crıtico de Φ.
Demonstracao do Lema 3.8. Note, primeiramente que todas as igualdades ja foram verifica-
das anteriormente, restando-nos somente mostrar a desigualdade estrita.
O fato que u± pertence a N nos diz que, para s 6= 1 temos
Φ(su±) ≤ Φ(u±).
Relembre-se que
Φ(suu) = maxs>0
Φ(su)
e que
u ∈ N ⇔ su = 1.
Portanto, e suficiente mostrar que se s 6= 1, entao Φ(su±) 6= Φ(u±). Vamos mostrar para
o caso u = u+. (O caso u = u− e analogo).
Suponhamos, por absurdo, que e valida a igualdade
Φ(su+) =1
2‖su+‖2 − I(su+) =
1
2‖u+‖2 − I(u+) = Φ(u+) (3.9)
para algum s > 0, que suporemos maior do que 1. (O caso 0 < s < 1 e analogo.)
Como u = u+ segue-se que u+ > 0 e, consequentemente,
1
2‖su+‖2 >
1
2‖u+‖2.
Dessa forma, para mantermos a igualdade em (3.9) devemos ter
I(su+) < I(u+),
e vamos mostrar que, pela hipotese (ii) do Teorema (3.1) isto nao pode acontecer. De fato,
como u+ > 0 e s > 1, segue-se que
su+ > u+.
Entao, por (ii) do Teorema (3.1) resulta que
f(x, u+) <f(x, su+)
s.
53
Consequentemente,∫ u+
0
f(x, t) dt <
∫ u+
0
f(x, st)
sdt =
∫ su+
0
f(x,w)
s2dw
Dessa forma,
I(u+) =
∫Ω
∫ u+
0
f(x, t) dt dx <
∫Ω
∫ su+
0
f(x,w)
s2dw dx =
1
s2I(su+).
Como s > 1, temos1
s2< 1
e, consequentemente,
I(u+) < I(su+),
contradizendo, assim, nossa suposicao anterior.
3.2 O problema para o p-Laplaciano
Consideremos agora o problema (1.5):−4pu− λ|u|p−2u = f(x, u), x ∈ Ω
u = 0, x ∈ ∂Ω.(3.10)
Seja Ω um domınio limitado. Sabemos, entao, que
λ1 := infw∈W 1,p
0 (Ω)
u6=0
∫Ω
|∇u|p dx∫Ω
|u|p dx
e atingido e e o primeiro autovalor de Dirichlet do p-laplaciano.(Para mais detalhes, veja,
por exemplo, [11] ou secao 7.5A em [23].)
Considere
I0(u) :=1
p
∫Ω
(|∇u|p − λ|u|p) dx ≡ 1
p‖u‖p − I1(u).
Lema 3.10. Se λ < λ1, entao I0 e positivamente p-homogeneo e satisfaz (2.7).
Demonstracao. Segue da definicao de I0 e da hipotese λ < λ1.
O seguinte resultado abaixo e uma generalizacao do Teorema (3.1).
Teorema 3.11. Suponha que λ < λ1 e f ∈ C(Ω × R,R) satisfaz (3.2) com 2∗ substituıdo
por p∗ e 2 por p. Suponha alem disso que
(i) f(x, u) = o(|u|p−1)uniformemente em x quando u→ 0;
54
(ii) u 7→ f(x,u)|u|p−1 e estritamente crescente em (−∞, 0) e (0,∞);
(iii) F (x,u)|u|p →∞ uniformemente em x quando |u| → ∞.
Entao a equacao (1.5) tem uma solucao de estado fundamental. Alem disso, se f e ımpar em
u, entao (1.5) tem infinitos pares de solucoes.
Demonstracao. Vamos aplicar o Teorema 2.15 ao funcional
Φ(u) :=1
p
∫Ω
|∇u|p − λ
p
∫Ω
|u|pdx−∫
Ω
F (x, u) dx ≡ I0(u)− I(u),
em que
I0(u) =1
p‖u‖p − 1
p
∫Ω
λ|u|p dx ≡ Ψ(u)− I1(u)
e
I(u) =
∫Ω
F (x, u) dx.
E imediato que (A1) acontece com ψ(u) = 1p‖u‖p e J = ψ′ dado por
J : E → E∗, J(u)v =
∫Ω
|∇u|p−2∇u · ∇v dx.
De forma muito similar a prova do Teorema (3.1) obtemos que as hipoteses (i) a (iii) do
Teorema (2.15) sao satisfeitas. Alem disso, ambos I ′ e I ′1 sao completamente contınuos pelo
Teorema (1.8) e, entao, (iv) tambem e satisfeita. Em vista da Observacao 2.2 e, portanto,
suficiente mostrar que J satisfaz
(J(v)− J(w))(v − w) ≥ (‖v‖p−1 − ‖w‖p−1)(‖v‖ − ‖w‖) ∀ v, w ∈ E.
Mas esta propriedade e conhecida e pode ser encontrada em [23],d, p.501, e em [11].
Portanto, pelo Teorema 2.15 segue-se o resultado.
Utilizando a P-homogeneidade I0 pode ser mostrado tambem aqui, de forma quase
analoga ao caso do Laplaciano, que existe uma solucao de menor energia com sinais tro-
cados satisfazendo csc ≥ 2c e cada solucao de estado fundamental satisfaz u0 ≥ 0 ou u0 ≤ 0.
55
Apendice A
Teoria de ponto crıtico
Neste apendice sintetizaremos alguns resultados da Teoria de ponto crıtico que foram
utilizados na elaboracao do trabalho. Maiores detalhes podem ser encontrados, por exemplo,
em [3], [14], [19], [20], [21], [23] e [27].
Definicao A.1 (Ponto crıtico). Seja E um espaco de Banach e Φ ∈ C1(E,R) um funcional.
Um ponto u ∈ E e chamado ponto crıtico se Φ′(u) = 0. O correspondente valor c = Φ(u) e
um valor crıtico ou um nıvel crıtico.
Definicao A.2 (Sequencia de Palais-Smale e (PS)c-sequencia). Seja E um espaco de Banach
e Φ ∈ C1(E,R) um funcional.Uma sequencia (un) ⊂ E e chamada uma sequencia de Palais-
Smale se (Φ(un)) e limitada e φ′(un) → 0. Se φ(un) → c ∈ R e Φ′(un) → 0 , entao (un) e
dita ser uma (PS)c-sequencia, ou sequencia de Palais-Smale no nıvel c relacionada a Φ.
Exemplo A.3. Considere a funcao real f(x) = xe1−x. A sequencia xn = 1 − 1n
e uma
sequencia de Palais-Smale para f no nıvel 1. Ela converge para o ponto crıtico x=1. A
sequencia xn = n e uma sequencia de Palais-Smale para f no nıvel zero. Ela diverge para
∞.
Definicao A.4 (Condicao de Palais-Smale e (PS)c condicao). Seja E um espaco de Banach e
Φ ∈ C1(E,R) um funcional. Φ e dito satisfazer a condicao de Palais-Smale ((PS)c condicao)
se cada sequencia de Palais-Smale((PS)c sequencia) tem uma subsequencia convergente.
Exemplo A.5. A funcao f(x) = xe1−x satisfaz a (PS)1 condicao, mas nao (PS)0 condicao.
Notamos que um funcional Φ satisfaz a condicao de Palais-Smale em um certo nıvel ainda
que nao exista sequencia de Palais-Smale neste nıvel. Com este argumento, f(x) = xe1−x
satisfaz (PS)c se e somente se c 6= 0.
Proposicao A.6. Se uma (subsequencia de) uma sequencia de Palais-Smale converge a u,
entao u e um ponto crıtico.
Demonstracao. De fato, considere E um espaco de Banach, φ ∈ C1(E,R), (un) ∈ E uma
sequencia de Palais-Smale, ou seja, φ(un) e limitada e φ′(un) → 0. Por hipotese un → u e,
da continuidade de φ′, temos que φ′(un)→ φ′(u). Logo, pela unicidade do limite, seque que
φ′(u) = 0. Note que uma subsequencia de uma sequencia de Palais-Smale e tambem uma
sequencia de Palais-Smale.
56
precisaremos, agora, a nocao de genero.
Definicao A.7 (Genero). Seja A um subconjunto fechado de E\0 tal que A = −A. O
genero de A, denotado por γ(A), e o menor inteiro k tal que existe uma aplicacao ımpar
h ∈ C(A,Rk\0). Colocamos γ(∅) = 0 e γ(A) =∞ se nao existe h para qualquer k finito.
Pode ser mostrado que se A e homeomorfo a esfera unitaria em Rk por um homeo-
morfismo ımpar, entao, γ(A) = k. Isto implica que a esfera unitaria S em um espaco de
Banach de dimensao infinita contem conjuntos compactos de qualquer genero k ≥ 1 e sendo
γ(A) ≤ γ(B) quando A ⊂ B, segue que γ(S) =∞.
Seja E um espaco de Banach tal que a esfera unitaria S em E e uma subvariedade de
classe (ao menos) C1 e considere Φ ∈ C1(S,R).
Teorema A.8. Se Φ e limitado inferiormente e satisfaz a condicao de Palais-Smale entao
c = infS Φ e atingido e e um valor crıtico de Φ.
Demonstracao. Seja (un) ⊂ S uma sequencia minimizante para Φ, ou seja, uma sequencia
tal que Φ(un) → c sendo c := infu∈S
Φ(u). Pelo princıpio variacional de Ekeland podemos
assumir que Φ′(un) → 0. Dessa forma, (un) e uma sequencia de Palais-Smale e como Φ
satisfaz a condicao de Palais-Smale,temos que un → u depois de passar a uma subsequencia.
Como Φ ∈ C1(S,R), implica que
Φ(u) = c e Φ′(u) = 0.
Portanto, c = infS Φ e atingido e e um valor crıtico de Φ.
Considere
Γj := A ⊂ A : A = −A, A e compacto e γ(A) ≥ j
e
cj := infA∈Γj
supu∈A
Φ(u), j = 1, 2 . . .
Se E e tem dimensao infinita, entao γ(S) = ∞ e Γj 6= para qualquer j. Se Φ e limitado
inferiormente, entao temos c1 ≤ c2 ≤ . . . e cj < ∞ para todo j uma vez que os conjuntos
A ∈ Γj sao compactos. O seguinte acontece:
Teorema A.9. Se E e um espaco de Banach de dimensao infinita, Φ ∈ C1(S,R) e limitado
inferiormente e satisfaz a condicao de Palais-Smale, entao Φ tem infinitos pares de pontos
crıticos.
Este resultado pode ser encontrado em [19] e [21] para S respectivamente em um espaco
de Hilbert e em um espaco de Banach tal que S e de classe C1,1 e em [6] para S em um
espaco de Banach tal que S ∈ C1. Podemos, de fato, remover a exigencia de compacidade
na definicao de Γj; esta exigencia foi e essencial para o argumento em [6].
57
A prova deste resultado mostra que todos os cj sao nıveis crıticos e se cj = . . . = cj+p
para algum p ≥ 0, entao γ(Kcj) ≥ p+ 1, sendo
Kcj := u ∈ S : Φ(u) = cj e Φ′(u) = 0.
Logo, o numero de pontos crıticos e infinito independente de ser o numero de c′js distintos
finito ou nao.
58
Apendice B
O princıpio variacional de Ekeland
Neste apendice enunciaremos algumas versoes do princıpio variacional de Ekeland. Mai-
ores detalhes, podem ser encontrados, por exemplo, em [13], [14] e [21].
O princıpio variacional de Ekeland e uma condicao necessaria e sufiente para a completeza
de um espaco metrico.(veja, por exemplo, [25].)
Teorema B.1 (Prıncıpio variacional de Ekeland- Forma fraca). Seja M um espaco metrico
completo e Φ : M −→ R ∪ +∞ um funcional semicontınuo inferiormente, limitado infe-
riormente e nao identicamente +∞.Entao, existe v ∈M tal que
Φ(v) ≤ Φ(u) + d(u, v)
para todo u 6= v ∈ X.
Teorema B.2 (Prıncıpio variacional de Ekeland- Forma forte). Seja M um espaco metrico
completo e Φ : M −→ R ∪ +∞ um funcional semicontınuo inferiormente, limitado infe-
riormente e nao identicamente +∞. Seja ε > 0 dado e u ∈M tal que
Φ(u) ≤ infM
Φ + ε.
Entao, para todo γ > 0 , existe v ∈M tal que
Φ(v) ≤ φ(u) (B.1)
d(u, v) ≤ γ (B.2)
e, para todo w 6= v em M,
Φ(w) ≥ φ(v)− (ε/γ)d(v, w). (B.3)
Teorema B.3 (Ekeland, 1974). Seja X um espaco de Banach, Φ ∈ C1(X,R), limitado
inferiormente, v ∈ X e ε, δ > 0. Se
Φ(v) ≤ infX
Φ + 2ε
59
existe u ∈ X tal que
Φ(u) ≤ infXφ+ 2ε , ‖Φ′(u)‖ < 8ε/δ , ‖u− v‖ ≤ 2δ.
60
Apendice C
Espacos de Sobolev
Os pre-requisitos desse apendice sao resultados de um curso basico de medida e integracao.
Provaremos poucos dos resultados enunciados.
Sejam Ω um aberto do RN e u ∈ L1loc(Ω). (Quer dizer, para todo K ⊂ Ω compacto,∫
Ku dx <∞.)
Definicao C.1. Dizemos que v ∈ L1loc(Ω) e a derivada parcial fraca de u com relacao a xi,
se ∫Ω
u(∂iφ) dx =
∫Ω
viφ dx, ∀ φ ∈ C∞0 (Ω).
E facil verificar que a derivada parcial fraca de u, se existir, e unica (a menos de con-
juntos de medida nula). Nesse caso, a denotaremos por ∂iu. Diremos que u e fracamente
diferenciavel se existirem as derivadas ∂iu para todo 1 ≤ i ≤ n. Decorre da formula de inte-
gracao por partes que toda funcao u ∈ C1(Ω) possui derivadas parciais fracas, que coincidem
com as derivadas parciais tradicionais.
Definicao C.2. Para todo p ≥ 1 definimos o espaco de Sobolev W 1,p(Ω) por
W 1,p(Ω) = u ∈ Lp(Ω) : ∂iu ∈ Lp(Ω), ∀ i = 1, . . . , n.
Em W 1,p(Ω) definimos a norma
‖u‖1,p =n∑i=0
(∫Ω
|∂iu|pdx)1/p
=n∑i=0
‖∂iu‖p,
em que ∂0u = u e ‖ · ‖p denota a norma em Lp(Ω).
E facil verificar que ‖ · ‖1,p e uma norma, que e equivalente a norma
(n∑i=0
∫Ω
|∂iu|p dx
)1/p
.
Definicao C.3. Definimos o espaco de Sobolev W 1,p0 (Ω) como sendo o fecho de C∞0 (Ω)
com relacao a norma ‖ · ‖1,p.
61
Assim, por definicao, W 1,p0 (Ω) e um subespaco fechado de W 1,p(Ω). Esses espacos sao
distintos, como consequencia da desigualdade de Poincare, que enunciaremos posteriormente.
Teorema C.4. W 1,p(Ω) e um espaco de Banach separavel para todo 1 ≤ p ≤ ∞. Se
1 ≤ p <∞, entao W 1,p(Ω) e reflexivo e uniformemente convexo.
A demonstracao do Teorema C.4 e simples e pode ser encontrada, por exemplo, em [8].
Note que, uma vez que W 1,p0 (Ω) e um subespaco fechado de W 1,p(Ω), o enunciado do Teorema
C.4 tambem e valido para o espaco W 1,p0 (Ω).
Proposicao C.5 (Regra do produto). Seja φ ∈ C∞0 (Ω) e u ∈ W 1,p(Ω), entao φu ∈ W 1,p(Ω)
e
∂i(φu) = (∂iφ)u+ φ(∂iu).
Demonstracao. Seja ψ ∈ C∞0 (Ω). Entao temos∫Ω
(φu)∂iψ dx =
∫Ω
u[φ∂iψ] dx =
∫Ω
u[∂i(φψ)− ψ∂iφ] dx = −∫
Ω
(∂iu)φψ dx−∫
Ω
uψ∂iφ dx
= −∫
Ω
[(∂iu)φ+ u(∂iφ)]ψ dx.
Para os proximos resultados, lembramos que estamos utilizando
u+(x) = maxu(x), 0 e u−(x) = minu(x), 0.
Proposicao C.6. Se u ∈ W 1,p0 (Ω), entao |u|, u+ e u− pertencem a W 1,p
0 (Ω). Alem disso,
vale ∫Ω
|∇|u||p dx =
∫Ω
|∇u|pdx.
Teorema C.7 (Desigualdade de Poincare). Seja Ω ⊂ RN um aberto limitado. Entao existe
uma constante C > 0 tal que ∫Ω
|u|pdx ≤ C
∫Ω
|∇u|pdx.
Como consequencia da desigualdade de Poincare, temos que
‖u‖ =
∫Ω
|∇u|pdx
e uma norma em W 1,p(Ω) equivalente a norma usual.
O proximo resultado coleta as principais imersoes de Sobolev que utilizaremos dos espacos
W 1,p(Ω):
Teorema C.8. Seja Ω ⊂ RN um aberto limitado com fronteira suave e N ≥ 3. Entao vale:
(i) Se 1 ≤ p < N , entao a imersao W 1,p(Ω) → Lq(Ω) e contınua para todo q ∈ [1, p∗] e
compacta para todo q ∈ [1, p∗), em que p∗ = NpN−p ;
62
(ii) Se p = N , entao W 1,p(Ω) → Lq(Ω) e compacta para todo q <∞;
(iii) Se p > N , entao W 1,p(Ω) → L∞(Ω) e compacta.
No caso especial do espaco W 1,p0 (Ω), o seguinte resultado que utilizaremos repetidamente
e valido:
Teorema C.9. Seja Ω ⊂ RN um aberto limitado. Entao, para todo p ∈ (1, N) vale:
W 1,p0 (Ω) → Lq(Ω),
desde que q ∈ [1, p∗).
O proximo resultado sera utilizado repetidamente. Para conveniencia do leitor, recorda-
mos o
Teorema C.10 (Banach-Alaoglu). Seja X um espaco de Banach reflexivo. Se B ⊂ X for
limitado, entao B e relativamente compacto na topologia fraca de X.
Exemplo C.11. Seja Ω ⊂ RN um aberto limitado. Suponha que uma sequencia (un) ⊂W 1,p
0 (Ω) satisfaca ∫Ω
|∇un|pdx ≤ C,
em que C > 0 independe de n. Como consequencia da Desigualdade de Poincare, temos que
(un) e limitada em W 1,p0 (Ω).
Como W 1,p0 (Ω) e reflexivo, podemos aplicar o Teorema de Banach-Alaoglu e concluir que
(un) e relativamente compacta em W 1,p0 (Ω) com a topologia fraca. Assim, existe u ∈ W 1,p
0 (Ω)
tal que un u em W 1,p0 (Ω). De acordo com o Teorema C.9, temos que un → u em Lq(Ω),
para todo q ∈ [1, p∗].
Passando a uma subsequencia, se necessario, podemos supor que un(x)→ u(x) q.t.p. em
Ω.
Sintetizando, toda sequencia (un) em W 1,p0 (Ω) que satisfaca ‖un‖ ≤ C para todo n
satisfaz, apos passagem a subsequencia,
(i) Existe u ∈ W 1,p0 (Ω) tal que un → u em W 1,p
0 (Ω);
(ii) un → u em Lq(Ω) para todo q ∈ [1, p∗];
(iii) un(x)→ u(x) q.t.p. em Ω.
Novamente, pelo Teorema C.9, existe g ∈ Lp(Ω) tal que |un(x)| ≤ g(x) q.t.p em Ω para
todo n. C
63
Apendice D
Operador de Superposicao
Neste apendice mostraremos a continuidade do operador de superposicao
A : Lp(Ω) → Lq(Ω)
u 7→ f(x, u).
Nossa principal referencia para este apendice e o livro de Willem [19]. Outras informacoes
relevantes podem ser encontradas em [10] e [11] , tambem utilizadas neste apendice.
Definicao D.1. Uma funcao f : Ω× R→ R e de Caratheodory se
(i) a funcao
x 7→ f(x, s)
for mensuravel em Ω, para todo s ∈ R fixo;
(ii) a funcao
s 7→ f(x, s)
for contınua para quase todo ponto x ∈ Ω fixo.
Lema D.2. Sejam u : Ω → R uma funcao mensuravel e f : Ω × R → R uma funcao de
Caratheodory. Entao
x 7→ f(x, u(x))
e mensuravel.
Demonstracao. Seja (un) uma sequencia de funcoes simples tal que un(x) → u(x) q.t.p.
em Ω. Como x 7→ f(x, s) e mensuravel para todo s ∈ R, temos que x 7→ f(x, un(x)) e
mensuravel, para todo n ∈ N. Como s 7→ f(x, s) e contınua para quase todo x ∈ Ω, temos
que f(x, un(x))→ f(x, u(x)) quando n→∞. Isso mostra o afirmado.
Assim, denotando por M o conjunto das funcoes u : Ω → R (Lebesgue) mensuraveis,
cada funcao de Caratheodory f : Ω × R → R define um operador Nf : M → M, chamado
operador de Nemytskii.
64
Lema D.3. Sejam Ω um subconjunto aberto do RN e 1 ≤ p < ∞. Se un → u em Lp(Ω),
existem uma subsequencia (unj) de (un) e g ∈ Lp(Ω) tais que unj
→ u em Lp(Ω) e
|u(x)|, |unj(x)| ≤ g(x)
em quase todo ponto x ∈ Ω.
Demonstracao. Passando, se necessario, a uma subsequencia, podemos supor que
un(x)→ u(x) q.t.p. em Ω.
Tomando outra subsequencia, podemos supor que ‖un+1 − un‖p ≤ 2−j, ∀ n ≥ 1.
Definimos entao
g(x) := |u1(x)|+∞∑j=1
|uj+1(x)− uj(x)|.
Afirmamos que g ∈ Lp(Ω). De fato, seja
gn(x) = |u1(x)|+ |u2(x)− u1(x)|+ . . .+ |un(x)− un−1(x)|.
Temos que gn ∈ Lp(Ω) pois, de acordo com a desigualdade de Minkowski, temos
‖gn‖p ≤ ‖u1‖p +n∑i=1
‖ui+1 − ui‖p ≤ ‖u1‖p +∞∑i=1
1
2i< ‖u1‖p + 1,
o que implica, em particular, a existencia de C > 0 tal que ‖gn‖p ≤ C para todo n ∈ N.
Uma vez que a funcao |x|p e contınua e gn(x)→ g(x), concluımos que |gn(x)|p → |g(x)|p
q.t.p. em Ω quando n→∞. Decorre entao do Lema de Fatou que∫Ω
|g(x)|p dx ≤ lim infn→∞
∫Ω
|gn(x)|p dx < C,
provando nossa afirmacao.
Agora definimos
f(x) = u1(x) +∞∑i=1
(ui+1(x)− ui(x)) .
Para todo n ∈ N, n ≥ 2, podemos escrever un(x) = u1(x) +n−1∑i=1
(ui+1(x)− ui(x)), o que
implica que un(x)→ f(x) q.t.p. em Ω. Alem disso, como
|f(x)| =
∣∣∣∣∣u1(x) +∞∑j=1
(ui+1(x)− ui(x))
∣∣∣∣∣ ≤ |u1(x)|+∞∑j=1
|ui+1(x)− ui(x)) = g(x), (D.1)
concluımos que f ∈ Lp(Ω).
65
Decorre entao da desigualdade triangular que
|un(x)| =
∣∣∣∣∣u1(x) +n−1∑j=1
(ui+1(x)− ui(x))
∣∣∣∣∣ ≤ |u1(x)|+∞∑j=1
|ui+1(x)− ui(x)| = g(x).
Como |un(x)| ≤ g(x) e |f(x)| ≤ g(x), temos entao que |un(x)−f(x)| ≤ |un(x)|+ |f(x)| ≤2g(x) e, portanto, |un − f |p ≤ (2g)p. Dessa forma, o Teorema da Convergencia Dominada
garante que
limn→∞
∫Ω
|un − f |p = 0,
provando que ‖un − f‖p → 0.
Uma vez que, por hipotese, un → u em Lp(Ω), concluımos que f = u em Lp(Ω) e
‖un − u‖p → 0 quando n→∞. Como (D.1) garante que |f(x)| ≤ g(x), temos |u(x)| ≤ g(x)
q.t.p. em Ω, finalizando nossa demonstracao.
Lema D.4 (Forma finita da desigualdade de Jensen). Seja ϕ uma funcao convexa e a1, . . . , an >
0. Se x1, . . . , xn estao no domınio de ϕ, vale
ϕ
n∑i=1
aixi
n∑i=1
ai
≤n∑i=1
aiϕ(xi)
n∑i=1
ai
.
Demonstracao. Suponhamos que λ1, λ2 ≥ 0 satisfacam λ1 + λ2 = 1. A convexidade de ϕ
implica entao
ϕ(λ1x1 + λ2x2) ≤ λ1ϕ(x1) + λ2ϕ(x2).
Essa desigualdade pode ser facilmente generalizada: se λi ≥ 0 para todo i sao tais que
λ1 + . . .+ λn = 1, entao obtemos, por inducao1
ϕ
(n∑i=1
λixi
)≤
n∑i=1
λiϕ(xi).
Daı decorre o afirmado.
Corolario D.5. Para r ≥ 1 vale
|α + β|r ≤ 2r−1 (|α|r + |β|r) .
Demonstracao. A desigualdade dada e equivalente a∣∣∣∣α + β
2
∣∣∣∣r ≤ ( |α|+ |β|2
)r.
1Supondo verdadeiro o caso n = k, escreva ϕ
(k+1∑i=1
λixi
)= ϕ
(λ1x1 + (1− λ1)
k+1∑i=2
λi1− λ1
xi
)e aplique
o caso n = 2.
66
Sem perda de generalidade, podemos supor α 6= 0 6= β.
Uma vez que, para x > 0, a funcao ϕ(x) = xr satisfaz ϕ′′(x) = r(r − 1)xr−2 ≥ 0, vemos
que xr e convexa. Para α1 = 1 = α2, decorre entao da desigualdade de Jensen (Lema D.4)
que ∣∣∣∣α + β
2
∣∣∣∣r ≤ ( |α|+ |β|2
)r≤ |α|
r + |β|r
2.
Teorema D.6. Assuma que |Ω| <∞. Se 1 ≤ p, r <∞ e f ∈ C(Ω× R) satisfizer
|f(x, u)| ≤ c(1 + |u|
pr
), (D.2)
entao, para todo u ∈ Lp(Ω) vale:
(i) f(·, u) ∈ Lr(Ω);
(ii) o operador
A : Lp(Ω) → Lr(Ω)
u 7→ f(x, u)
e contınuo.
Demonstracao. Assuma que u ∈ Lp(Ω). Decorre da desigualdade de Jensen (Lema D.4) que∫Ω
|f(x, u)|r dx ≤∫
Ω
(c(1+|u|
pr
))rdx ≤
∫Ω
cr2r−1(1+|u|p) ≤∫
Ω
cr2r−1+cr2r−1
∫Ω
|u|p dx <∞,
mostrando que |f(x, u)|r ∈ L1(Ω).
Suponhamos que un → u em Lp(Ω). De acordo com o Lema D.3, existe g ∈ LP (Ω) tal
que, passando a uma subsequencia, |u(x)| < g(x) e |un(x)| ≤ g(x) q.t.p. em Ω para todo n.
Decorre de (D.2), da desigualdade triangular e da desigualdade de Jensen que
|f(x, un)− f(x, u)|r ≤ (|f(x, un)|+ |f(x, u)|)r ≤(c(
1 + |un|pr
)+ c(
1 + |u|pr
))r≤(c(
1 + |g|pr
)+ c(
1 + |g|pr
))r=(
2c(
1 + |g|pr
))r= 2rcr
(1 + |g|
pr
)r.
Uma vez que∫Ω
2rcr(
1 + |g|pr
)rdx ≤
∫Ω
22r−1cr dx+
∫Ω
22r−21cr|g|p dx <∞,
concluımos que
|f(x, un)− f(x, u)|r ∈ L1(Ω).
Uma vez que f ∈ C(Ω×R), temos que un(x)→ u(x) implica que f(x, un(x))→ f(x, u(x))
q.t.p. em Ω. Decorre entao do Teorema da Convergencia Dominada que
f(x, un)→ f(x, u) em Lr(Ω).
67
Isso quer dizer que A(un)→ A(u) em Lr(Ω). Note que a passagem a uma subsequencia nao
interfere: foi provado acima que A(unj) → A(u) em Lr(Ω). Como (un) e de Cauchy, daı
decorre que A(un)→ A(u) em Lr(Ω) para toda a sequencia (un).
Observacao D.7. A utilizacao da desigualdade de Jensen nao e necessaria na demonstracao
do Teorema D.6: uma desigualdade mais simples e suficiente:
|a+ b| ≤ (|a|+ |b|) ≤ 2 max|a|, |b|.
Daı decorre imediatamente que
|a+ b|r ≤ 2r(|a|r + |b|r).
Essa desigualdade conduz a uma outra desigualdade interessante: se p, q sao expoentes con-
jugados, e a, b ≥ 0, entao
(a+ b)r ≤ par + qbr.
Em particular, podemos tomar o coeficiente de ar bem proximo de 1, pagando o preco ter
termos um coeficiente bem grande para br.
A prova e obtida ao se verificar que ou a+ b ≤ pa ou a+ b ≤ qb. De fato, caso contrario,
terıamos a+b > pa e a+b > qb, de onde decorre(
1p
+ 1q
)(a+b) > (a+b), uma contradicao.
68
Apendice E
A aplicacao de dualidade
Neste apendice, faremos algumas obervacoes sobre a aplicacao de dualidade correspon-
dente a uma funcao de normalizacao ϕ. Admitiremos quase todos os resultados aqui sem
demonstracao. Para uma discussao detalhada, veja [11].
Sejam X um espaco de Banach real, X∗ seu dual e 〈·, ·〉 a aplicacao de dualidade entre
X e X∗. Aqui a norma em X e X∗ sera denotada por ‖ ‖.Consideremos um operador A : X → P(X∗) que associa a cada elemento x ∈ X um
subconjunto Ax ∈ P(X∗). Definimos o domınio D(A) de A por D(A) = x ∈ X : Ax 6= ∅e a imagem de A, R(A), por R(A) =
⋃x∈D(A) Ax.
Definicao E.1. A aplicacao A : D(A)→ R(A) e monotona se
〈x∗1 − x∗2, x1 − x2〉 ≥ 0 ∀ x1, x2 ∈ D(A), x∗1 ∈ Ax1, x∗2 ∈ Ax2.
Exemplo E.2. Sejam H um espaco de Hilbert e 〈·, ·〉 o produto interno em H. Entao
A : H → H∗ definida por A(x)(·) = 〈·, x〉 e uma aplicacao monotona.
De fato, dados x, y ∈ H, entao A(y − x)(·) = 〈·, y − x〉, de modo que
A(y − x)(y − x) = 〈y − x, y − x〉 = ‖y − x‖2 ≥ 0.C
Definicao E.3. Uma funcao contınua ϕ : [0,∞) → [0,∞) e uma funcao de norma-
lizacao, se ϕ for estritamente crescente, ϕ(0) =)0 e limr→∞
ϕ(r) =∞.
Definicao E.4. Uma aplicacao de dualidade correspondente a funcao de normalizacao
ϕ e a aplicacao Jϕ : X → P(X∗) definida por
Jϕx = x∗ ∈ X∗ : 〈x∗, x〉 = ϕ(‖x‖)‖x‖, ‖x∗‖ = ϕ(‖x‖).
Lema E.5. Temos que D(Jϕ) = X.
Demonstracao. Para x ∈ X fixo, defina o funcional linear f(λx) = ϕ(‖x‖)λ‖x‖. O resultado
decorre entao da aplicacao do Teorema de Hahn-Banach ao funcional linear f .
Note que, para cada x ∈ X, nao podemos garantir unicidade de x∗ ∈ Jϕx. (O Teorema
de Hahn-Banach nao garante unicidade.)
69
O proximo resultado, que nao sera demonstrado, relaciona as principais propriedades de
uma aplicacao de dualidade.
Teorema E.6. Se ϕ e uma funcao de normalizacao, entao:
(i) Para cada x ∈ X, Jϕx e um conjunto limitado, fechado e convexo de X∗;
(ii) Jϕx e monotona:
〈x∗1 − x∗2, x1 − x2〉 ≥(ϕ(‖x1‖)− ϕ(‖x2‖)
)(‖x1‖ − ‖x2‖) ≥ 0
para todos x1, x2 ∈ X e x∗1 ∈ Jϕx1, x∗2 ∈ Jϕx2;
(iii) para cada x ∈ X, Jϕx = ∂ψ(x), em que
ψ(x) =
∫ ‖x‖0
ϕ(t)dt
e ∂ψ : X → P(X∗) e a subdiferencial de ψ no sentido de analise convexa, isto e,
∂ψ(x) = x∗ ∈ X∗ : ψ(y)− ψ(x) ≥ 〈x∗, y − x〉, ∀ y ∈ X.
Observacao E.7. Um funcional f : X → R e Gateaux diferenciavel em x ∈ X se existir
f ′(x) ∈ X∗ tal que
limt→0
f(x+ th)− f(x)
t= 〈f ′(x), h〉 ∀ h ∈ X.
E facil verificar que, se uma funcao convexa f : X → R for Gateaux diferenciavel em
x ∈ X, entao ∂f(x) consiste de um unico elemento, qual seja, x∗ = f ′(x). C
Definicao E.8. X e dito ser:
a) Uniformemente convexo se para cada ε ∈ (0, 2], existe δ(ε) tal que se ‖x‖ = ‖y‖ = 1 e
‖x− y‖ ≥ ε entao ‖x+ y‖ ≤ 2(1− δ(ε));
b) Localmente uniformemente convexa se a partir de ‖x‖ = ‖xn‖ = 1 e ‖xn + x‖ → 2
com n→∞, resulta que xn →∞ (fortemente em X);
c) Estritamente convexo se para cada x, y ∈ X com ‖x‖ = ‖y‖ = 1, x 6= y e λ ∈ (0, 1),
‖(λx+ (1− x)y‖ < 1.
Teorema E.9. X uniformememente convexo ⇒ X localmente uniformemente convexo ⇒ X
estritamente convexo.
Teorema E.10 (Pettis–Milman). Se X e uniformemente convexo entao X e reflexivo.
Na sequencia, consideraremos ϕ uma funcao de normalizacao.
Proposicao E.11. Seja ϕ uma funcao de normalizacao. Entao:
70
i) Se X e convexo, entao Jϕ e estritamente monotona:
〈x∗1 − x∗2, x1 − x2〉 > 0 ∀ x1, x2 ∈ X, x1 6= x2 e x∗1 ∈ Jϕx1, x∗2 ∈ Jϕx2.
Em particular, Jϕx1 ∩ Jϕx2 = ∅ se x1 6= x2.
ii) Se X∗ e estritamente convexo, entao card(Jϕx) = 1 ∀ x ∈ X.
Proposicao E.12. Se X e localmente uniformemente convexo e Jϕ : X → X∗, entao Jϕ
satisfaz a (S+) condicao: se xn x e limn→∞〈Jϕxn, xn − x〉 ≤ 0 entao xn → x.
Proposicao E.13. Se X e reflexivo e Jϕ : X → X∗ entao Jϕ e demicontınuo: Se xn → x
em X entao Jϕxn → Jϕx em X∗.
Teorema E.14. Seja X reflexivo e Jϕ : X → X∗. Entao R(Jϕ) = X∗
Teorema E.15. Seja X reflexivo, localmente uniformemente convexo e Jϕ : X → X∗. Entao
Jϕ e bijetivo com inversa J−1ϕ limitado, contınuo e monotono. Alem disso,
J−1ϕ = χ−1JϕJ
∗ϕ−1
onde χ : X → X∗∗ e o isomorfismo canonico entre X e X∗∗ e J∗ϕ−1 : X∗ → X∗∗ e a aplicacao
de dualidade em X∗ correspondente a funcao de normalizacao ϕ−1.
Teorema E.16. O espaco W 1,p com a norma ‖ ‖1,p e separavel, reflexivo e uniformemente
convexo.
Teorema E.17. O espaco W 1,p0 (Ω) com a norma ‖ ‖1,p e uniformemente convexo.
Teorema E.18. O operador −4p : W 1,p0 (Ω) → W−1,p′(Ω) e um operador potencial. Mais
precisamente, seu potencial e o funcional Ψ : W 1,p0 (Ω)→ R, dado por
Ψ(u) =1
p‖u‖p1,p
e
Ψ′ = −4p = Jϕ
onde Jϕ : W 1,p0 (Ω)→ W−1,p′(Ω)→ R e a aplicacao de dualidade correspondente a funcao de
normalizacao ϕ(t) = tp−1.
Teorema E.19. O operador −4p define uma correspondencia injetiva entre W 1,p0 (Ω) e
W−1,p′(Ω), com inverso (−4p)−1 monotono, limitado e contınuo.
Teorema E.20. O funcional ψ e continuamente Frechet diferenciavel em W 1,p0 (Ω).
Observacao E.21. Naturalmente, vamos denotar a diferencial de Frechet de Ψ em u ∈W 1,p
0 (Ω) por Ψ′(u) e Ψ′(u) = −4pu. C
Teorema E.22. O operador −4p satisfaz a condicao (S+): se un u em W 1,p0 (Ω) e
lim supn→∞
〈−4pun, un − u〉 ≤ 0, entao un → u em W 1,p0 (Ω).
71
Apendice F
Lema da deformacao quantitativa
Neste apendice, forneceremos uma versao do Lema da deformacao quantitativa. Para
melhores entendimentos, recomendamos, principalmente, [23].
Lema F.1. Seja X um espaco de Banach e considere Φ : X → R, Φ ∈ C1(X,R) S ⊂ X,
S 6= ∅, c ∈ R, ε, δ tal que para qualquer u ∈ Φ−1([c− 2ε, c+ 2ε]) ∩ S2δ temos1
‖Φ′(u)‖X∗ ≥8ε
δ.
Entao, existe η ∈ C([0, 1]×X,X) tal que
(i) η(t, u) = u se t = 0 ou se u /∈ Φ−1([c− 2ε, c+ 2ε]) ∩ S2δ;
(ii) η(1,Φc+ε ∩ S) ⊂ Φc−ε,2
(iii) Para qualquer t ∈ [0, 1], η(t, .) e um homeomorfismo de X,
(iv) Para qualquer u ∈ X e qualquer t ∈ [0, 1], ‖η(t, u)− u‖ ≤ δ,
(v) Para qualquer u ∈ X, Φ(η(., u)) e decrescente,
(vi) Para qualquer u ∈ Φc ∩ Sδ e qualquer t ∈ (0, 1], Φ(η(t, u)) < c.
1S2δ := u ∈ X : dist(u, S) ≤ 2δ2Φc±ε := Φ−1((−∞, c± ε]).
72
Apendice G
Grau Topologico
Neste apendice, seguindo [23], enfatizaremos as propriedades basicas do Grau de Brouwer
de uma uma aplicacao contınua em um espaco de dimensao finita. Existe tambem uma teoria
do grau no caso de dimensao infinita, devida a Leray e Schauder,porem nao entraremos em
detalhes aqui.
Definicao G.1. Seja Ω um subconjunto aberto e limitado do RN e F ∈ C(Ω,RN) ∩C1(Ω,RN). Assuma que y0 ∈ RN\F (∂Ω) e y0 e um valor regular de F . Entao definimos
o Grau de Brouwer de F como
deg(F,Ω, y0) =∑
x∈F−1(y0)∩Ω
sgnJF (x)1 (G.1)
onde JF (x) denota aqui o determinante da matriz jacobiana de F em x e
sgnJF (x) =
1 se , JF (x) > 0
0 se JF (x) < 0.
Observacao G.2. Como consequencia do Teorema se Stone-Weierstrass, temos que para a
definicao do grau deg(F,Ω, y0) nao e necessario assumir que F ∈ C1(Ω,RN) uma vez que
qualquer F ∈ C(Ω,RN) pode ser aproximada por aplicacoes suaves.
Enfatizamos que a soma em (G.1) e finita. De fato, Caso contrario o conjunto
F−1(y0) ∩ Ω := x ∈ Ω : F (x) = y0
tem um ponto de acumulacao x ∈ Ω. Pela continuidade de F, F (x) = y0, e como y0 /∈ F (∂Ω, )
x ∈ Ω. Pelo Teorema da Funcao Inversa, F e injetiva em uma vizinhanca U de x. Mas Ucontem pontos de F−1(y0) diferentes de x, uma contradicao. Note que neste argumento
usamos todas as hipoteses da definicao (G.1).
Proposicao G.3. Seja Ω um subconjunto aberto do RN . O grau definido na Definicao (G.1)
tem as seguintes propriedades:
73
(i) deg(I,Ω, y0) =
1 se y0 ∈ Ω,
0 se y0 /∈ Ω.sendo I a aplicacao identidade.
Suponha que F ∈ C(Ω,RN) ∩C1(Ω,RN) e y0 ∈ RN\F (∂Ω) e um valor regular de F. Entao:
(ii) deg(F,Ω, y0) ∈ Z;
(iii) deg(F,Ω, y0) = deg(F − y0,Ω, o);
(iv) Se deg(F,Ω, y0) 6= 0, entao a equacao
F (x) = y0
tem uma solucao em Ω;
(v) Se Ω1 e um subconjunto aberto de Ω e y0 /∈ F (Ω\Ω1), entao
deg(F,Ω, y0) = deg(F,Ω1, y0).
Mais geralmente, se Ω1, . . . ,Ωk sao subconjuntos abertos de Ω dois a dois disjuntos e y0 ∈
F
(Ω\
k⋃j=1
Ωj
), entao
deg(F,Ω, y0) =k∑j=1
deg(F,Ωj, y0).
(vi) Para todo y ∈ RN suficientemente proximos de y0,
deg(F,Ω, y) = deg(F,Ω, y0)
acontece.
(vii) Para toda G ∈ C(Ω,RN) ∩ C1(Ω,RN) que sao suficientemente proximas a F na
C1-topologia,2
deg(G,Ω, y0) = deg(F,Ω, y0)
e valido.
(viii) se f = g em ∂Ω, entao
deg(f,Ω, y0) = deg(g,Ω, y0)
O teorema de Sard nos diz que se Ω e um subconjunto aberto de RN e F ∈ C(Ω,RN),
entao a medida de Lebesgue do conjunto de valores crıticos de F e zero. Um corolario deste
teorema e o seguinte: Sobre as hipoteses do Teorema de Sard o conjunto de valores regulares
de F : Ω → RN e denso em RN .(Veja [23].) Portanto, podemos, agora definir deg(F,Ω, y0)
onde y0 ∈ RN\F (∂Ω) e um valor crıtico de F. De acordo com o corolario anterior, existe
uma sequencia yn de valores regulares de F tal que
limn→∞
yn = y0, yn /∈ F (∂Ω).
2Isto e, existe ε > 0 tal que ‖F −G‖C1(Ω,RN ) := supx∈Ω
‖F (x)−G(x)‖RN + supx∈Ω‖F ′(x)−G′(x)‖L(RN ) < ε
74
Em particular, deg(F,Ω, yn) esta bem definido pela Definicao (G.1). A parte (vi) da pro-
posicao (G.3) permite-nos supor que a sequencia deg(F,Ω, yn)∞n=1 e eventualmente constante
e ela nao depende da escolha da sequencia yn∞n=1 de valores regulares. Para ver isto, extende-
mos a Proposicao (G.3)(vi) para garantir que deg(F,Ω, y) e constante em qualquer conjunto
conexo
U ⊂ RN\F (∂Ω ∪ S)
(veja [23].)
Por fim, mais geralmente, definimos, entao
deg(F,Ω, y0) = limn→∞
deg(F,Ω, yn)
e todas as propriedades da Proposicao (G.3) continuam validas.
Proposicao G.4 (Formula Produto para o grau).
deg(g,Ω, y0) = deg(f1,Ω1, y1,0) · deg(f2,Ω2, y2,0)
onde g = (f1, f2) : Ω → RN1+N2 , Ω = Ω1 × Ω2, y0 = (y1,0, y2,0), Ωi ⊂ RNi , fi ∈ C(Ωi,RNi),
yi,0 /∈ fi(∂Ωi), i = 1, 2.
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