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EXISTÊNCIA DE SISTEMAS EROSIVOS LAMINARES NO ENTORNO DE ANALÂNDIA-SP, COMO RESULTADO DA FALTA DE VEGETAÇÃO EM LOCAIS DE GRANDES DECLIVIDADES. Ivan Carlos ZAMPIN 1 ; Sidnei Lopes RIBEIRO 2 ; RESUMO A erosão acelerada que ocorre nos arredores da cidade de Analândia-SP é uma amostra dos impactos causados pelo intenso e desordenado uso predatório do solo. Nesse sentido é observável que o processo erosivo mais importante e generalizado é a erosão laminar ocorrente por ação do escoamento pluvial anastomosado em várias áreas principalmente as mais altas no entorno do município. Nesse sentido são vistas várias áreas com acentuação dos problemas erosivos devido a falta de vegetação, as quais foram retiradas para uso dos fazendeiros na formação de pastagens e plantações dentre as quais a silvicultura. Em muitos casos o pisoteio é o principal acelerador da erosão nos pastos, intensificando e concentrando o escoamento superficial, chegando a favorecer a formação de ravinas. Portanto, esse trabalho tem por premissa analisar as condições em que se encontra essa região frágil tendo como eixo principal a posição do “Morro do Camelo” e seu entorno. Na questão do uso e ocupação do solo pela falta de técnicas de conservação ambiental e as ações antrópicas, pauta-se para isso nas propriedades dos solos que são o fator condicionante de movimentos de massa e fenômenos de erosão subterrânea que são nesse caso observadas no terço inferior das encostas das Cuestas. Palavras – chave: Solos, Geografia, Sistemas Erosivos e Vegetação. INTRODUÇÃO Esse estudo ocorre na bacia do rio Corumbataí que representa aproximadamente 1/6 da bacia do rio Piracicaba, localizada em região do território paulista de grande importância econômica, tanto dos pontos de vista do povoamento, do agronegócio e industrial. Originalmente a bacia era coberta principalmente por floresta estacional semidecidual e áreas menores com cerrado (KOFFLER, 1993). Particularmente, o norte da bacia insere-se na Depressão Periférica Paulista com destaque para a formação das Cuestas, com paredões de arenito com desníveis no terreno de até 90 m de altura, em alguns pontos. Nesse contexto ocorrem vários processos de degradação do solo, e um dos mais importantes é o da substituição da vegetação natural por pastagens mal cuidadas, constituídas principalmente por Paspalum notatum (grama batatais), Brachiaria (B. 1 Prof. Dr. Geografia, Centro Universitário de Araras – UNAR e Educação Estado de São Paulo – SP- [email protected]; 2 Prof. Dr. Geociências, Educação Estado de São Paulo – SP - Sidnei Ribeiro- [email protected];

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EXISTÊNCIA DE SISTEMAS EROSIVOS LAMINARES NO ENTORNO DE ANALÂNDIA-SP, COMO RESULTADO DA FALTA DE VEGETAÇÃO EM LOCAIS

DE GRANDES DECLIVIDADES.

Ivan Carlos ZAMPIN1; Sidnei Lopes RIBEIRO2;

RESUMO

A erosão acelerada que ocorre nos arredores da cidade de Analândia-SP é uma amostra dos impactos causados pelo intenso e desordenado uso predatório do solo. Nesse sentido é observável que o processo erosivo mais importante e generalizado é a erosão laminar ocorrente por ação do escoamento pluvial anastomosado em várias áreas principalmente as mais altas no entorno do município. Nesse sentido são vistas várias áreas com acentuação dos problemas erosivos devido a falta de vegetação, as quais foram retiradas para uso dos fazendeiros na formação de pastagens e plantações dentre as quais a silvicultura. Em muitos casos o pisoteio é o principal acelerador da erosão nos pastos, intensificando e concentrando o escoamento superficial, chegando a favorecer a formação de ravinas. Portanto, esse trabalho tem por premissa analisar as condições em que se encontra essa região frágil tendo como eixo principal a posição do “Morro do Camelo” e seu entorno. Na questão do uso e ocupação do solo pela falta de técnicas de conservação ambiental e as ações antrópicas, pauta-se para isso nas propriedades dos solos que são o fator condicionante de movimentos de massa e fenômenos de erosão subterrânea que são nesse caso observadas no terço inferior das encostas das Cuestas.

Palavras – chave: Solos, Geografia, Sistemas Erosivos e Vegetação.

INTRODUÇÃO

Esse estudo ocorre na bacia do rio Corumbataí que representa aproximadamente 1/6

da bacia do rio Piracicaba, localizada em região do território paulista de grande importância

econômica, tanto dos pontos de vista do povoamento, do agronegócio e industrial.

Originalmente a bacia era coberta principalmente por floresta estacional semidecidual e

áreas menores com cerrado (KOFFLER, 1993). Particularmente, o norte da bacia insere-se

na Depressão Periférica Paulista com destaque para a formação das Cuestas, com

paredões de arenito com desníveis no terreno de até 90 m de altura, em alguns pontos.

Nesse contexto ocorrem vários processos de degradação do solo, e um dos mais

importantes é o da substituição da vegetação natural por pastagens mal cuidadas,

constituídas principalmente por Paspalum notatum (grama batatais), Brachiaria (B.

1 Prof. Dr. Geografia, Centro Universitário de Araras – UNAR e Educação Estado de São Paulo – SP- [email protected]; 2 Prof. Dr. Geociências, Educação Estado de São Paulo – SP - Sidnei Ribeiro- [email protected];

decumbens, B. humidicola e B. ruziensis), Cyperus compressus (Capim-barba-de-bode) e

Melinis minutifolia (capim gordura). Tais gramíneas adaptam-se a áreas de solos pouco

férteis e apresentam crescimento acelerado e agressivo e, além disso, a região é tradicional

cultivadora da monocultura da cana-de-açúcar, o que produz realidades diversas quanto ao

uso e ocupação do solo. A cobertura vegetal de uma região apresenta características

fisionômicas que são a maior expressão de reconhecimento dessa própria região, assim

como sua ausência pode ser considerada um dos fatos que mais nos impressiona (VIDAL

DE LA BLACHE, 1956, p. 30). O mesmo autor, em suas definições aborda que:

Quando tentamos evocar uma paisagem, já esfumada nas nossas recordações, não é a imagem de uma planta em particular, de uma palmeira ou de uma oliveira, que nos representa na memória; é antes o conjunto dos diversos vegetais que revestem o solo, que lhe sublinham as ondulações e os contornos, imprimindo-lhe pelo desenho das formas, cores, espaçamentos ou massas, um caráter de individualidade (VIDAL DE LA BLACHE, 1956, p. 30).

Na região do alto curso do rio Corumbataí, delimitada pelas Cuestas no extremo

norte da Bacia, ocorrem fortes degradações e as análises ambientais constataram falta da

cobertura do solo nestes ambientes. Nas encostas das Cuestas foi possível notar pelas

análises ambientais que apresentam melhor estado de conservação porque as mesmas não

são utilizadas pelas atividades agropastoris, mas, ao contrário, nas áreas de sopé ocorre a

substituição das paisagens naturais por agricultura. Inicialmente a monocultura da cana-de-

açúcar predominou nessas áreas, porém, atualmente os pomares de citros começam a

dominar e já atingem as margens dos tributários do rio Corumbataí e as partes planas e

altas das Cuestas.

Outro fator a descrever refere-se à situação dos solos que, por falta de cobertura

vegetal, apresentam-se com ação acentuada da erosão laminar em várias áreas da região,

e com agravamento do problema com a evolução para erosões profundas, com ravinas e

até mesmo voçorocas. Os levantamentos aqui apresentados referem-se ao entorno da

cidade de Analândia, que, no decorrer de algumas décadas, transformou-se em um

município que atrai pessoas de todo o Estado de São Paulo e até do Brasil pela sua

capacidade turística (paisagens cênicas), condizendo com muitos lugares de visitação e

prática de esportes radicais.

Segundo Brady e Weil (2013), [...] "os solos são cruciais para a vida na Terra. Desde

a destruição da camada de ozônio e o aquecimento global até o desmatamento das

florestas tropicais e a poluição da água, os ecossistemas terrestres são impactados de

maneira diversificada por processos que acontecem no solo.” [...] “A qualidade dos solos

determina, de forma significativa, a natureza dos ecossistemas das plantas e a capacidade

da terra em sustentar a vida animal e a dos seres humanos.” [...] “A verdade é que, no

futuro, nosso grau de dependência do solo tende a aumentar, e não a diminuir.

O trabalho de análise referente à erosão acelerada foi executado, portanto, no alto

da bacia hidrográfica do rio Corumbataí, buscando definir os tipos de sedimentos que são

arrastados pela enxurrada para os tributários e, consequentemente, chegam à calha do rio

Corumbataí, levados e depositados nas planícies de inundação desse mesmo rio, dezenas

de quilômetros abaixo.

(1) (2)

Figuras 1 e 2: Local próximo ao “Morro do Camelo”, em processo erosivo dinâmico e constante. Nota-se que a vegetação original foi retirada para dar lugar à pastagem para o gado bovino que, em trânsito, cria trilhas no terreno denominadas “terracetes” que originam os processos erosivos aqui abordados. São notórios os ravinamentos em ambas as imagens (Fonte: Ivan Carlos Zampin, 03/2009).

(3) (4)

Figuras 3 e 4: Detalhes de uso e ocupação do solo onde percebe-se a falta de vegetação original substituída por reflorestamentos, agricultura, urbanização e, principalmente, pastagens destinadas ao gado bovino (Fonte: Ivan Carlos Zampin, 03/2009).

(5) (6) Figuras 5 e 6: Note a devastação da vegetação original e a presença de gramíneas e arbustos em ambas as fotografias, inclusive na área de grande declividade à direita da fotografia 5, mostrada com detalhes na fotografia 6. Note-se na fotografia 6 a ausência de qualquer tipo de vegetação devido à associação de desmatamento, declividade, regime pluvial e de circulação atmosférica das massas de ar, além do pisoteio pelo gado bovino (Fonte: Ivan Carlos Zampin, 03/2009).

(7) (8)

Figuras 7 e 8: Topo do “Morro do Camelo”, um refúgio de mata (capoeira formada por árvores de cerrado, nesse local foram encontradas apenas uma espécie de orquídea e duas de bromélia que são peculiares dessa região). Nesse sentido o índice de biodiversidade é alto neste local que funciona como refúgio de espécies, assim observa-se que os elementos ali existentes podem um dia, repovoarem áreas em seu entorno que voltem a ser propícias à reconstrução do espaço destruído.

OBJETIVOS

• Analisar e demonstrar a situação em que se encontram variadas áreas no entorno do

município de Analândia-SP e próximas as Cuestas;

• Analisar e definir as formas que compõem os horizontes superficiais dos solos nessa

região, e problematizar o arraste de materiais sedimentares para as calhas dos

tributários e do rio Corumbataí;

• Demonstrar a vegetação às margens do rio Corumbataí e amostra de paisagem

cênica.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudos, o entorno do município de Analândia-SP, insere-se na bacia do

rio Corumbataí (Figura 9), com área aproximada de 1.710 km2 (171.000 ha). Localiza-se na

Depressão Periférica Paulista, entre 22º 05' S e 22º 30' S; 47º 30' e 47º 50' W. A altimetria

da Bacia do Rio Corumbataí varia de 470m no encontro com o rio Piracicaba, em Santa

Terezinha (município de Piracicaba) e 1.058m na Serra do Cuscuzeiro, próximo a Analândia.

Figura 9 - Localização da Bacia no Estado de São Paulo (Fonte: CEAPLA, 2008).

Em relação à geologia da região, de acordo com Perinotto e Lino (2010), a bacia do

rio Corumbataí situa-se no nordeste da Bacia Sedimentar do Paraná, na Depressão

Periférica Paulista, no centro-leste do Estado de São Paulo. Aí afloram rochas paleozóicas

(Grupo Itararé, Formação Tatuí e Grupo Passa Dois – formações Irati e Corumbataí),

mesozóicas (Formação Pirambóia, Grupo São Bento – formações Botucatu e Serra Geral,

rochas magmáticas intrusivas – diques e soleiras e Formação Itaqueri) e cenozóicas

(Formação Rio Claro). O rio Corumbataí percorre, desde sua nascente em Analândia até sua

foz no rio Piracicaba, diversas litologias, que se identificam com as unidades estratigráficas

citadas (Figura 12). Devido à estruturação causada pelo Domo de Pitanga, as unidades

estratigráficas do alto curso (formações Botucatu, Pirambóia e Corumbataí) e do baixo curso

(Formação Corumbataí) são mais jovens que as do médio curso (Grupo Itararé e Formação

Tatuí).

Figura 10: Na imagem é possível identificar o sentido em que as vertentes estão sofrendo ravinamento e pode-se ainda notar o afloramento de areia quartzosa na superfície, esse local é chamado de “Morro do Camelo”.

Figura 11: Aqui é possível identificar uma pequena nascente formando um córrego de primeira ordem, que está totalmente sem vegetação em seu entorno formando dois canais de ravinamento e logo abaixo o mesmo deságua no rio Corumbataí em seu alto curso ainda em Analândia e é notório o assoreamento e abertura da calha do rio, por falta de vegetação e enquadramento da lei florestal.

Figura 12: Sistema erosivo no entorno de Analândia – SP, variados ravinamentos em evolução para a existência de uma voçoroca de grandes proporções territoriais, em área com falta de cobertura vegetacional.

METODOLOGIA

Os levantamentos de dados foram realizados por meio de estudos bibliográficos para

entendimento dos fenômenos erosivos e seguidos dos trabalhos de campo com

amostragem e descrição de perfis geológicos encontrados. Partindo da ação de retirada da

vegetação típica deste local, são analisados alguns fatores de ordem regional que fazem

surgir para a região os processos erosivos e de princípios de voçorocamento.

ANÁLISE DOS SISTEMAS DOS SOLOS NA REGIÃO E NO ALTO DA BACIA.

A Geomorfologia compreende, de acordo com UNESP (2010), a Depressão

Periférica Paulista (DPP), localizada entre os rebordos pré-cambrianos do Planalto Cristalino

e escarpas das Cuestas dos derrames basálticos do Planalto Ocidental Paulista. Estende-se

por mais de 470 km de norte a sul do estado, descrevendo um arco de circunferência externa

e apresentando em média 90 km de largura. A DPP tem três zonas distintas: Médio Tietê,

Paranapanema e Mogi-Guaçu. A sub-bacia do Rio Corumbataí insere-se na primeira, do

médio Tietê, com morfologia de comportamento interplanáltico, suavemente ondulado,

altitude de 550 m a 650 m ao nível das várzeas estreitas e descontínuas de 600 m a 650 m,

correspondentes aos interflúvios tabuliformes. A área apresenta desnível de 200 m a 300 m

em relação aos primeiros alinhamentos das escarpas arenítico-basálticas, limiares ao norte,

noroeste e oeste. Estas escarpas denominam-se: Serra do Atalaia, Morro Grande, Serra do

Cuscuzeiro, Serra de Sant’ana, Serra de Itaqueri e Serra de São Pedro, niveladas entre 800

m e 1.000 m.

Os alinhamentos de Cuestas compõem um anfiteatro característico do setor-ocidental

da DPP, onde estão as cabeceiras do rio Corumbataí e afluentes (Ribeirão Claro e Passa

Cinco). Estes rios nascem nas encostas da Cuesta, deslocam-se para o sul até o rio

Piracicaba, que, correndo em sentido oeste, deságua no rio Tietê. O Rio Corumbataí é

considerado como “recente-subsequente”, com seu traçado que obedece à tectônica de

falhamento pós-cretácica, que teria afetado a região, concordantes com a direção das

camadas permo-triássicas. Na recente evolução geomorfológica da bacia, a intensidade de

chuvas de verão, que coincide com o fim da atividade agrícola e campos sem cobertura

vegetal provocam desgaste do solo. O Rio Corumbataí surgiu tardiamente no cenário da

evolução geomorfológica da região, pois é o único da DPP a percorrer cerca de 100 km no

sentido norte-sul. Predominam extensas áreas pouco onduladas na paisagem regional,

apenas interrompidas no contato das escarpas arenítico-basálticas e cortadas pela rede

hidrográfica com padronagem dendrítica. As vertentes desprotegidas pelos desmatamentos

processam-se de forma acelerada e contribuem para aprofundar os vales fluviais.

Entre os patrimônios naturais da região da bacia do rio Corumbataí, de acordo com

Zaine e Perinotto (1996), merecem destaque em relação ao relevo: Cuestas e morros

testemunhos, cavernas, recursos hídricos, quedas de água, formações geológicas de

interesse econômico (jazidas minerais), jazigos fossilíferos, sítios arqueológicos e os

remanescentes de vegetação nativa. As Cuestas e os morros testemunhos são considerados

patrimônios naturais pela beleza cênica, pelo conjunto de elementos da biota que encerram,

pelo potencial hídrico com vários mananciais de superfície, inclusive com área de recarga do

aqüífero Botucatu-Pirambóia para o oeste paulista, entre outros. Estas características

motivaram a criação das APAs Corumbataí e Piracicaba.

Figura 13: Mapa geológico da bacia do rio Corumbataí (fonte: UNESP, 2004).

Zaine (1996) catalogou 12 cavernas na área da bacia do rio Corumbataí dentro do

Distrito Espeleológico Arenítico de Rio Claro, inserido na Província Espeleológica Arenítica

que se estende do Rio Grande do Sul até São Paulo. Merecem destaque: Gruta do

Fazendão (22º 24' 37” S, 47º 47' 34” W) em Ipeúna; Gruta do Paredão, em frente à Gruta

do Fazendão; Gruta da Boca do Sapo (22º 24' 05” S, 47º 47' 41” W), em Ipeúna; abrigo do

Alvo (22º 07' 03” S, 47º 39' 05”, 950 m) com pinturas rupestres, o abrigo Roncador (22º 07'

25” S, 47º 42' 25”), em Analândia e o abrigo Santo Urbano (22º 11' 01”, 47º 33' 17”, 680 m).

Em relação às quedas de água, de acordo com Zaine (1996), a Serra de Itaqueri

possui quedas de água de até 100 m de altura, corredeiras e cachoeiras, formadas nos rios

quando transpõem barreiras de rochas mais resistentes, como em Analândia (rio

Corumbataí), Wiechmann (rio Cabeça) e da Usina da CESP (rio Corumbatai), em Rio Claro.

O autor encontrou cultivos anuais na região, tais como milho e cana-de-açúcar, além de

pastagens e propôs a implantação de um projeto turístico para a área devido à sua “grande

beleza cênica.” Segundo o autor, o proprietário da área já havia submetido um projeto

turístico ao Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais – DEPRN, órgão

ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo. Zaine (1996) afirmou que o

potencial turístico é grande, devendo ser melhor aproveitado para contribuir com o

desenvolvimento regional da área, que faz parte do núcleo estadual de Turismo das Serras.

Imaginava-se uma modalidade de turismo ambiental para a região, orientado para manter o

equilíbrio do ecossistema e contribuir com atividades de Educação Ambiental nos alunos.

De acordo com Oliveira e Prado (1984), a Bacia do Rio Corumbataí possui 54

unidades de solo pertencentes aos grandes grupos: Latossolos (LR, LE e LV); Podzólicos

(PV e PE); Terra Roxa Estruturada (TE); Areias Quartzosas (AQ); Brunizem Avermelhado

(BV); Solos Litólicos (Li); e Solos Hidromórficos (Hi). A Bacia tem 43,46% de sua área

ocupada com Podzólico Vermelho-Amarelo e 21,58% com Latossolo Vermelho-Amarelo, que

constituem os grupos de solos predominantes (figura 13).

No alto curso onde essa pesquisa se desenvolve, tem-se a predominância de

latossolos e o afloramento de areias quartzozas por todos os arredores de Analândia, que

por essa condição de preservação dos espaços turísticos deve tender a ampliação das

atividades de conservação e preservação da vegetação, pois os rios e córregos que se

formam nessa região são de importância impar na sustentação de água para milhares de

habitantes no decorrer do curso do rio Corumbataí.

Figura 14: Grupos de solos da Bacia do Rio Corumbataí (Fonte: Valente, 2001, p. 32).

Em relação à vegetação, Zaine e Perinotto (1996) afirmaram que a Mata Atlântica

recobria 8.360 ha (4,9%) e os cerrados 2.090 ha (1,2%) da bacia do Rio Corumbataí. Uma

das reservas de mata atlântica é a fazenda São José, a nordeste de Rio Claro, com 580 ha

divididos em três fragmentos (230 ha, 185 ha e 165 ha), onde há o maior índice de

diversidade do Estado de São Paulo (PAGANO, 1985). Outra reserva do bioma está próxima

à nascente do rio Passa Cinco em Itirapina.

Figura 15: Vegetação típica das margens do rio Corumbataí próximo de Analândia - SP

Na área do espigão, onde estão a cidade e o Distrito Industrial de Rio Claro, havia

cerrado que ocupava o trecho norte rumo a Corumbataí, Analândia e Itirapina e também

campo sujo. Em Corumbataí havia cerradão e o cerrado surgia em Analândia e Itirapina

(PAGANO et al 1989).

Figura 16: Cachoeira “Major Levy” paisagem cênica no perímetro urbano de Analândia – SP.

A APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá foi instituída pelo Decreto Estadual n.°

20.960/1983 e criada para conservar as Cuestas arenítico-basálticas com os objetivos de:

proteger beleza cênica, cerrado e matas de encostas, banhados como biota endêmica,

diversas fontes hidrominerais e hidrotermais, afloramentos do estratégico Aqüífero Botucatu,

importante divisor de águas no Estado de São Paulo (TOFFOLI, 1997). De acordo com

SEMAE (2002) há um plano diretor para conservação dos recursos hídricos, com

zoneamento ambiental da região. A abrangência territorial da APA da bacia do rio

Corumbataí consta da figura 14 e nele pode-se notar que toda a área do município de

Analândia encontra-se nesta unidade de conservação. Zaine e Perinotto (1996) constataram

que há um flagrante desrespeito da legislação de Meio Ambiente no plantio de cana-de-

açúcar e de pastagens, com a total ausência de mata ciliar.

Figura 17: Área dos municípios na APA Corumbataí (Fonte: SEMAE, 2002)

Quanto à fauna, Rozelli e Shinya Abe (1994) encontraram grande número de

mastofauna, tais como: gambá, guaquiça-cinza, mão-pelada, quati, suçuarana, gato

mourisco, gato-do-mato, jaguatirica, cachorro-do-mato, lobo-guará, furão, irara, lontra,

macaco prego, sagüi, serelepe, rato-do-mato, rato-do-arroz, rato-do-chão, ouriço-cacheiro,

paca, cutia, preá, veado, tatu-galinha, tatu-de-rabo-mole, tatupeba, tamanduá-mirim e tapiti.

Viadana (1992) verificou que a ação antrópica interferia na variabilidade horizontal das

comunidades de peixes. Tilápias e carpas, espécies exóticas, foram encontradas

ocasionalmente nos cursos de água, provindas de tanques existentes nas propriedades

rurais.

Quanto ao uso do solo, as figuras 15 e 16 demonstram tal fato. O autor do mapa de

uso do solo de 1990 na bacia do rio Corumbataí considerou a monocultura da cana-de-

açúcar como cultivo perene, pois na verdade, a planta tem um ciclo de duração semi-perene

de cinco anos, em média. Assim, as áreas em laranja no mapa da figura 15 (1990)

correspondem à cana-de-açúcar que, no mapa da figura 16 (ano 2000) está representada na

cor verde claro.

Figura 18: Uso do solo na região (Fonte: UNESP, 1990).

Figura 19: Uso do solo na região (Fonte: UNESP, 2000).

Nota-se um alastramento ainda maior do cultivo de cana-de-açúcar na região da

bacia do rio Corumbataí no ano 2000. De acordo com Ribeiro (2006, p. 68), em 1990 as

terras que apresentaram os maiores índices de erosão estavam submetidas aos cultivos de

cana-de-açúcar, pasto, reflorestamento, outros, anual e fruticultura. Notou-se que 78,9% da

área da bacia geraram 80,60% da erosão e que o uso do solo com cana-de-açúcar foi o que

provocou os maiores índices de erosão na área de estudo em questão. Estes resultados

evidenciaram poucas mudanças no uso do solo e nos níveis de erosão. No ano 2000 o uso

do solo na região ainda apresentou os cultivos de cana-de-açúcar e pastagens como os

maiores responsáveis pela ocupação (69,25% da área total) e pela erosão (67,65%). O

mesmo autor afirma que aumentaram as áreas utilizadas para culturas anuais, mata nativa,

outros, fruticultura e reflorestamento. O grande aumento na área de mineração pode ser

explicado pela subestimação – ou não inclusão – destes dados nos cálculos efetuados em

1990, por autor diferente do que foi consultado para os dados de 2000.

As perdas de solo diminuíram 0,8% na bacia hidrográfica do Corumbataí entre 1990

e 2000 (Tabela 1), pouco mais que a mudança do uso do solo. A tendência manifestou-se

nas pastagens (área 6,56% menor e erosão 7,4% menor) e cana-de-açúcar (-19,32% de

área e -19,96% de erosão). A modificação das proporções entre cultivos na área da bacia do

rio Corumbataí indicou que o grande desequilíbrio no uso do solo seria corrigido

gradativamente se não fosse o novo boom do Proálcool com o advento dos automóveis

bicombustíveis (flex fuel) que mudou o uso do solo ao proliferar novamente os canaviais por

todo o interior do Estado de São Paulo (RIBEIRO, 2006, p. 69).

Tabela 1. Mudanças no uso do solo na bacia do rio Corumbataí (1990/2000)

Classe de uso do solo

Uso do solo Mudanças no uso do Solo 1990-2000

1990 2000 Variação na Área Variação na Erosão

(ha) (ha) (ha) (%) (t) (%)

Pastagem 80.550 74.592 -5.958 -7,40 -62.564 -7,40

Cana-de-açúcar 54.550 43.663 -10.887 -19,96 -493.174 -19,96

Mata nativa 8.360 18.969 10.609 126,90 16.975 126,91

Reflorestamento 11.830 12.517 687 5,81 22.060 5,81

Fruticultura 3.670 4.817 1.147 31,25 37.614 31,25

Cerrado 2.090 2.131 41 1,96 66 1,97

Cultura Anual 660 1.741 1.081 163,79 220.351 163,74

Mineração 1 156 155 sd 62.605 15.158,60

Outros 3.530 7.458 3.928 111,27 163.009 111,27

Variações -375 -0,22 -33.058 -0,80 Fonte: Ribeiro, 2006, p. 70

Valente (2001) dividiu a bacia do rio Corumbataí em cinco sub-regiões (figura 20): I-

Passa-Cinco, II – Alto Corumbataí, III – Médio Corumbataí, IV- Ribeirão Claro e V – Baixo

Corumbataí. Analândia incluí-se na região II – Alto Corumbataí. De acordo com o mesmo

autor (p. 69), a presença de outros usos e coberturas do solo, além da cana-de-açúcar

(14,13%) e da pastagem (51,72%), é outra característica do Alto Corumbataí, visto a

ocupação de 7,10% de sua área por fruticultura e 9,59% por floresta plantada que, por sua

vez, contribuem para que sua matriz não tenha o predomínio da classe floresta natural

(figura 21).

Figura 20: Bacia do rio Corumbataí: divisão em sub-bacias (Fonte: Valente, 2001, p. 26).

Figura 21: Bacia do Rio Corumbataí: divisão em sub-bacias, representação de uso e ocupação do solo do alto da bacia (Fonte: Valente, 2001, p. 68).

RESULTADOS DE DISCUSSÕES

O solo que cobre a Terra apresenta em sua formação ou composição a junção de

variados solos, os quais nesta junção permitem a fixação dos variados tipos de vegetação

que cobrem a superfície de pequenas ou grandes áreas ou localidades, espacializadas e

especificamente adaptadas a partir do sistema climático, ou seja, para a região de Analândia

trata-se de uma situação dominada pela atuação dos Cerrados e de Mata Atlântica.

É importante dentre as propriedades dos solos as associadas com as camadas

(horizontes) que são encontradas em um determinado perfil do solo e característicos de

dada região, portanto esses horizontes determinam a existência de determinados

processos, os quais se tratam dos físicos, químicos e biológicos que tratam-se do

desenvolvimento desses solos a partir da rocha mãe. Desta maneira define-se para cada

região as possibilidades de uso e ocupação dos solos, os quais na bacia do Corumbataí

favorecem a plantação de cana-de-açúcar e de citros.

De maneira geral pode-se ver na região norte ou alta da bacia do rio Corumbataí,

que as relações determinadas pelas propriedades físicas dos solos e a erosão laminar

tornam-se menos evidentes. Por assim dizer a erosão laminar é intensa, particularmente nos

latossolos, cujas propriedades definem relativa resistência a erosão. Essa relação é

observada pelas formas de uso e ocupação dos solos nessa região, assim com a retirada da

vegetação dos locais de maior declividade há o prevalecimento de características de

friabilidade e de baixa coesão, ocorrendo alteração de seu comportamento com relação a

erosão superficial. Nesse sentido a falta de vegetação proporciona um relacionamento direto

da distribuição e escoamento das águas pluviais nessas áreas mais altas, pois, o fluxo das

águas acaba se subdividindo em diversidade de canais rasos, formando um lençol

anastomosado entre as touceiras de capim e as variadas espécies rasteiras e contínuas de

grama batatais.

Nessa área também é visto que a vegetação é um fator a ser considerado, pois a

mesma pode determinar o tipo de intensidade do escoamento superficial e portanto, da

erosão laminar, assim o que se pode ver é que com a retirada da vegetação para

efetivamente a criação de pastagens e do plantio de citros e cana-de-açúcar, os solos dessa

área e principalmente de trechos de grande declividade no entorno de Analândia-SP, estão

sendo carregados com forte intensidade para as calhas dos afluentes e finalmente para o

próprio rio Corumbataí.

ABSTRACT

The accelerated erosion occurring on the outskirts of Analândia-SP is a sample of the impacts caused by the intense and disordered overutilization soil. In this sense it is observable that the erosion is most important and widespread erosion occurring laminar flow per share anastomosed rain in many areas especially the highest in the vicinity of the city. In this sense are seen several areas with accentuation of erosion problems due to lack of vegetation, which were removed for use in the training of farmers pastures and fields among which forestry. In many cases, the primary accelerator is trampling erosion in pastures, intensifying and concentrating runoff, coming to favor the formation of gullies. Therefore, this work is premised examine the conditions under which is this fragile region having as axis the position of the "Morro do Camelo" and its surroundings. On the issue of the use and occupation of land by the lack of techniques for environmental conservation and human actions, is guided to it in the properties of soils that are the determinant of mass movements and phenomena of underground erosion that are observed in this case third lower slopes of Cuesta.

Keywords - Keywords: Soil, Geography, Erosion Systems and Vegetation.

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