exegese 1 - mateus 5.8
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8/16/2019 Exegese 1 - Mateus 5.8
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SAULO VILELA
JEFFERSON ANDRADE
EXEGESE DE MATEUS 5.8
Recife
2016
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Sumário
Contexto Histórico ................................................................................................................... 3
Esboço Geral do Evangelho .................................................................................................. 5
Delimitação de Perícope ......................................................................................................... 7
Tradução Literal ........................................................................................................................ 8
Análise Gramatical ................................................................................................................... 8
Análise Léxica ........................................................................................................................... 9
Análise Sinótica ...................................................................................................................... 21
Contexto Teológico ............................................................................................................... 21
Comparação de Versões ...................................................................................................... 24
Paráfrase................................................................................................................................... 25
Esboço Homilético ................................................................................................................. 25
Tradução Final ........................................................................................................................ 26
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Contexto Histórico
Pano de Fundo Histórico
Quando Jesus nasceu, Herodes o Grande era o monarca da Judéia eSamaria. Herodes morreu no ano 4 d.C., e seu reino passou para o seu filho
Arquelau (Mt 2.19-22). Arquelau foi acusado de mau governo e por isso foi
banido no ano 6 d.C. Como resultado, Judéia e Samaria ficam diretamente sob
a administração romana através de uma série de governadores e prefeitos, que
mais tarde foram conhecidos como procuradores. Pôncio Pilatos foi o procurador
da Judéia durante o ministério de Jesus.
A província da Galiléia, onde Jesus vivia, havia sido dada por Herodes oGrande para um outro de seus filhos, Herodes Antipas (Mt 14.1-12; Lc 23.6-15).
No ano 39 d.C., a Galiléia passou para as mãos de Herodes Agripa, um neto de
Herodes o Grande. Um amigo de infância de Agripa era agora o imperador
romano Cláudio. Este declarou Agripa como rei da Judéia e de Samaria também.
A popularidade de Agripa era grande entre os judeus; mas o seu reinado foi
curto. Ele perseguiu os apóstolos e, quando não recusou ser adorado como se
fosse um deus, foi castigado com uma doença e morreu (44 d.C.; At 12.1-4, 19-23).
O território de Agripa voltou a ser dos governantes romanos, embora uma
pequena porção de terra tenha sido dada a Agripa II (At 25.13-26.32). A tensão
entre judeus e romanos aumentou durante este período que levou a uma revolta
no ano 66 d.C. O resultado da guerra foi desastroso para a nação judaica. No
ano 70 d.C. Jerusalém foi destruída depois de terrível sofrimento.
Autor ia
Apesar deste Evangelho não indicar o seu autor, alguns manuscritos
primitivos incluem a inscrição: “Segundo Mateus”. Eusébio (c. 260-340 d.C.) nos
conta que Papias (c. 60-130 d.C.), um dos Pais da Igreja primitiva, falava de
Mateus como tendo disposto os “oráculos” acerca de Jesus. A tradição posterior
é unânime em que o discípulo Mateus, também chamado Levi (9.9-13; Mc 2.13-
17), foi o autor deste Evangelho, e até o século XVIII não havia dúvidas acerca
dessa tradição.
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O fato do autor não ter se identificado demonstra que ele provavelmente
achava que conhecer o seu nome não era essencial para os seus leitores.
Trabalhando através do autor humano, havia o Autor primário, o Espírito Santo.
Data e Ocasião
A referência mais antiga ao Evangelho de Mateus é provavelmente
encontrada na Epístola aos Esmirnneanos, de Inácio de Antioquia (c. 110 d.C.).
Dificilmente se poderia datar esse livro como sendo posterior a 100 d.C. Alguns
estudiosos o têm datado até 50 d.C. Mas muitos críticos o datam depois da
destruição de Jerusalém, geralmente entre os anos 80 e 100.
O escritor deste Evangelho provavelmente utilizou o Evangelho de
Marcos. Supondo-se que Marcos tenha sido escrito com a ajuda do apóstolo
Pedro em Roma, uma data apropriada para Mateus seria entre 64 e 70 d.C.
O local mais provável para escrita do Evangelho é a Antioquia na Síria,
que também é o provável destinatário dela. Inácio, o mais antigo escritor a citar
Mateus, era bispo de Antioquia. A congregação em Antioquia era de origem
mista judaica e gentia (At 15), e isto explicaria os problemas de legalismo e
antinomismo dos quais Mateus trata de maneira especial.
Mensagem
O propósito de Mateus é o de transmitir os ensinos autoritativos de Jesus
e de sua pessoa, cuja vinda marca o cumprimento das promessas de Deus e a
presença do reino de Deus.
Mateus faz uso intenso das referências de “cumprimento” do Antigo
Testamento. Suas citações não são apresentadas como predições e
cumprimentos isolados, mas como prova do cumprimento de todas a promessas
do Antigo Testamento.
É importante destacar que encontramos em Mateus sua apresentação
dos ensinos de Jesus, divididos em cinco discursos principais: ética, discipuladoe missão, o reino dos céus, a Igreja, e o fim dos tempos. A maioria dos estudiosos
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hoje reconhece as cinco divisões de ensino como sendo a chave do modelo
básico de Mateus, especialmente devido ao fato de cada discurso terminar com
uma expressão como: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras” (7.28).
Esboço Geral do Evangelho
I. Prólogo (caps. 1; 2)
A. A Genealogia do Rei (1.1-17)
B. O Nascimento do Rei (1.18—2.23)
1. Anúncio a José e Nascimento de Jesus (1.18-25)
2. Adoração dos Magos (2.1-12)
3. "Do Egito Chamei o Meu Filho" (2.13-23)
II. A Vinda do Reino (caps. 3—7)
A. A Iniciação do Reino em Jesus (3.1—4.11)
1. Jesus é Batizado por João (cap. 3)
2. A Tentação no Deserto (4.1-11)
B. O Anúncio do Reino (4.12-25)
C. O Primeiro Discurso: O Sermão do Monte (caps. 5-7)
1. As bem-aventuranças (5.1-12)
2. Interpretando a Lei para o Reino (5.13-48)
3. A Piedade no Reino: Caridade, Oração, Jejum (6.1-18)
4. Um Coração para o Reino (6.19-34)
5. Os Padrões de Julgamento no Reino (cap. 7)
III. As Obras do Reino (caps. 8-10)
A. Cura de Enfermos e o Chamado dos Discípulos (8;9)
B. O Segundo Discurso: A Missão do Reino (cap. 10)
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IV. A Natureza do Reino (caps. 11—13)
A. A Identidade de João e de Jesus (caps. 11; 12)
1. Correspondendo às Obras de Jesus e de João (cap. 11)
2. Jesus, O Senhor do Sábado (12.1-13)
3. O Começo da Oposição a Jesus (12.14-50)
B. O Terceiro Discurso: As Parábolas do Reino (cap. 13)
V. A Autoridade do Reino (caps. 14—18)
A. O Caráter e a Autoridade de Jesus (caps. 14—17)
1. A Morte de João Batista (14.1-12)
2. Alimentando as Multidões e o Fermento dos Fariseus (14.13—
16.12)
3. Revelando o Filho de Deus e Sua Missão (16.13—17.27)
B. O Quarto Discurso: O Caráter e a Autoridade da Igreja (cap. 18)
VI. As Bênçãos e os Julgamentos do Reino (caps. 19—25)
A. Da Galiléia a Jerusalém (caps. 19;20)
1. A Vida familiar no Reino (19.1-15)
2. A Entrada no Reino (19.16—20.16)
3. Abrindo os olhos dos cegos espirituais e físicos (20.17-34)
B. O Rei Entra em Jerusalém (caps. 21—23)
1. Entrada Triunfal e a Purificação do Templo (21.1-22)
2. Parábolas a Respeito da Resistência ao Rei (21.23—22.14)
3. Conflito com os Fariseus e Saduceus (22.15—23.39)
C. O Quinto Discurso: O Julgamento do Reino (caps.24; 25)
1. Sinais do Fim dos Tempos (24.1-31)
2. Parábolas Aconselhando Vigilância (24.32—25.46)
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VII. Paixão e Ressurreição (caps. 26—28)
A. Traição e aprisionamento (26.1-56)
1. Preparação para a Morte de Jesus (26.1-16)
2. A Última Ceia e Getsêmani (26.17-56)
B. O Julgamento e Execução do Rei (26.57—27.56)
1. Julgamento Religioso Diante do Sinédrio (26.57-75)
2. Julgamento Civil Perante Pilatos (27.1-26)
3. A Crucificação (27.27-56)
C. Sepultamento e Ressurreição (27.57—28.20)
1. Guardando o Túmulo (27.57-66)
2. A Ressurreição (28.1-15)
3. A Grande Comissão (28.16-20)
Delimitação de Perícope
Como sabemos que uma perícope é uma sentença de sentido completo
que, independente do contexto anterior ou posterior tem um sentido em si
mesma, quando olhamos o discurso de Jesus das “Bem- Aventuranças” ou “Os
Ditos de Jesus”, percebemos que cada uma delas tem sentido em si mesma,
sem depender das outras.
O versículo 8 maka,rioi oi ̀ kaqaroi. th/ | kardi, a|( o[ti auvtoi. to.n qeo.n
o;yontai, portanto, tem sentido completo pois aborda um assunto próprio, sendo
diferenciado do versículo, tanto anterior, quanto posterior.
Nesta perícope, o autor trata de uma característica do verdadeiro
discípulo de Jesus, daquele que, de fato, pertence ao Reino de Deus.
Ela está inserida na estrutura de narrativa de Mateus, mas na linguagem
discursiva, já que é feita durante o discurso de Jesus.
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Tradução Literal
Mateus 5:8
Μακάριοι οἱ καθαροὶ τῇ καρδίᾳ,
Benditos
Abençoados
Bem-
aventurados
Parabéns a
os puros
limpos
no coração
Benditos os limpos de coração,
ὅτι αὐτοι τὸν θεὸν ὄψονται.
porque eles a Deus verão
contemplarão
Porque eles verão a Deus.
Mt 5:8- Benditos os limpos de coração, Porque eles verão a Deus.
Análise Gramatical
Morfologia
maka,rioi oi ̀kaqaroi. th/ | kardi, a|( o[ti auvtoi. to.n qeo.n o;yontaiÅ
maka,rioiAdjetivo Nominativo masculino plural sem grau (Felizes; Abençoados; Bem-
Aventurados)
oi`
Artigo definido nominativo masculino plural (Os)
kaqaroi
Adjetivo Nominativo masculino plural sem grau (Puros)th/ |
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Artigo Definido Dativo feminino singular (no)
kardi, a
Substantivo Dativo feminino singular comum (Coração)
o[ti
Conjunção subordinada (Pois)
auvtoi.
Pronome pessoal nominativo masculino plural (eles)
to.n
Artigo Definido Acusativo Masculino Singular (o)
qeo.n
Substantivo Acusativo masculino singular comum (Deus) o;yontaiÅ
Verbo no futuro médio do indicativo 3ª Pessoa plural (Verão)
Sintaxe
maka,rioi – Predicativo do Sujeito
oi` kaqaroi – Sujeito
th/ | kardi, a – Adjunto Adnominal
o[ti – Conjunção subordinada (Ligando a primeira e a segunda oração)
auvtoi. – Sujeito
to.n qeo.n – Objeto Indireto
o;yontai – Verbo Transitivo Indireto
Análise Léxica
Em nossa pesquisa, tencionamos abordar na análise léxica três palavras
encontradas no texto de Mt 5:8, a saber: Μακάριos, καθαροι e καρδίᾳ. Essas
palavras por possuir uma riqueza de sentidos, podem nos ajudar a entender
melhor o texto em apreço. Para tanto, veremos seu uso (quando possível) no
grego clássico, na LXX (Septuaginta) e no NT.
Iniciemos pela palavra Μακάριos. A princípio, verificamos que a palavra
grega Μακάριos é a tradução da palavra hebraica encontrada no início doאש י
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Salmo 1º. Curiosamente, Franz Delitzsch em sua tradução do Novo Testamento
Grego para o hebraico traduziu Μακάριos porאש י
. A versão Peshita usa palavra
(Tevaihon) para traduzir a palavraטוביהון Μακάριos.
Seja como for, isso é importante, pois evidencia a continuidade no uso da
palavra. Vejamos agora o que DITNT, Lown/Nida, Kittel, Gringish/Danker tem a
dizer sobre o uso dessa palavra no transcurso do tempo. Iniciaremos com a
palavra Μακάριos, em seguida καθαρος, e por fim καρδίᾳ.
Sentidos Léxicos para Μακάριos e cognatos: Bem-Aventurado, afortunado,
fe-aventurado, feliz, benção, abençoado, bendito.
Μακάριos no Grego Clássico
Μακάριos era originalmente uma forma paralela de Μακαρ. Esse termo
aprece pela primeira vez nos escritos do poeta Píndaro, e literalmente significa:
“Livre dos cuidados e preocupações de todos os dias”. Na literatura poética
também descrevia condição dos deuses e daqueles que compartilhavam uma
existência feliz. Com passar do tempo, o sentido foi se perdendo aponto de
Μακάριos passar a ser usado como sinônimo de feliz.
Nesse período Μακάριos era utilizado bem mais na linguagem formal. O
emprego da palavra tinha por objetivo parabenizar uma pessoa devido um
evento feliz. Ex: os pais eram parabenizados por casa dos filhos, os ricos por
causa das riquezas, os sãos pela saúde, etc.
Μακάριos na LXX/Antigo testamento Massorético
Na LXX (Septuaginta) o termo Μακάριos é a tradução dos termos
hebraicos: “eser ” (felicidade/bem-estar), “asar ” (bem-aventurado), e “asrê” (bem-
estar para). Em suma, o conceito prevalecente é “felicidade”.
No tratamento que o AT dispensa a história antiga, bênçãos estilizadas
(como as supra aludidas) não aparecem. Sua primeira ocorrência verifica-se na
literatura sapiencial. Por exemplo: nos Salmos. Vários Salmos apontavam como
Bem-aventurados aqueles que: “confiam no senhor ” (84:12); “os que se refugiamno Senhor ” (2:12; 34:8-9); “aqueles cuja iniquidade o Senhor apaga” (32:1-2).
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Por toda a literatura sapiencial, a bem-aventurança está ligada ao favor de Deus,
o que redunda na felicidade terrena.
No período israelita posterior, tais pronunciamentos aprecem na literatura
prot-apocalpítica (Dn 12:12; Tob 103:14-15). Nesse período, pronunciamentos
como as Bem-aventuranças aparecem mescladas com uma série de “Ais”. Mas
deve-se ressaltar que tal uso apontava para a esperança escatológica, antes de
expressar a confiança em Deus.
Já no período do helenismo, o emprego de Μακάριos exerceu uma
influência grandiosa em Filo e a partir dele. Na concepção de Filo, apenas os
Deuses gozavam da condição de Μακάριos. Os homens vivenciam tal condição
por participação. A medida que os Deuses penetravam a criação, seu estado de
Bem-aventurança era compartilhado com os mortais. Conquanto Filo fosse
influente e o uso de Μακάριos usado por ele fosse amplamente disseminado, o
Judaísmo rabínico seguiu o uso do AT, conforme se vê nos Salmos e na
Literatura Sapiencial.
Μακάριos no Novo Testamento
O uso da palavra Μακάριos no Novo Testamento é frequente.
Geralmente, seu emprego compota os sentido de declarar bendito alguém ou
alguma coisa. No NT Μακάριos aparece cerca de 50 vezes. 13 e 15 se
encontram nos evangelhos de Mateus e Lucas, 7 vezes nos escritos paulinos,
apenas 2 nos vários escritos Joaninos, 1 em Pedro e Tiago, e 7 em Apocalipse.
Já o verbo MAKARIZÔ aparece no NT apenas duas vezes (Lc 1:48; Tg 5:11). O
substantivo MAKARISMOS aparece apenas 3 vezes (Rm 4:6, 9; Gl 4:15).
Deve-se ser observado que nos evangelho, Jesus utiliza Μακάριos na 3ªpessoa. Tal uso sempre vem acompanhado com a descrição de uma condição
indelével. Também deve ser observado que o uso de Μακάριos empregado por
Jesus segue mais de perto o apocalipticismo. Tal uso aponta para uma
consciência escatológica de tais pronunciamentos. Expressões tais como:
“Verão a Deus”, “deles é o Reino dos Céus” confirmam tal perspectiva. Há quem
defenda que “as Bem-aventuranças” e os “ Ais” encontrados nos evangelhos
sejam o background para seu emprego no Apocalipse de João.
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Ainda cabe mencionar que o emprego de Μακάριos no Sermão da
Montanha domina todo o uso no Novo Testamento. Mas há apenas uma única
discrepância entre a perspectiva escatológica de MT 5-7 e o Sermão da Planície
(Lc 6:20-24): o uso da palavra agora (νῦν) em Lc 6:21. Embora tal discrepância
apreça, seu uso aqui é intencional e sublinha a tensão escatológica pretendida
por Jesus acerca do Reino de Deus. Alguns estudiosos tem sugerido que tal uso
aponte para a tensão Já/Ainda não na pregação do Reino de Deus. O que faz
sentido a luz dos contextos.
Sentidos Léxicos para καθαρόs e cognatos: Limpo, puro, limpar, tornar limpo,
despejar para limpar, purificar, limpeza, pureza, ato de limpar, purificação.
καθαρόs no Grego Clássico
O tronco de palavras que compõe a palavra καθαρόs abrange o sentido de
pureza em vários níveis: físico, ritual e ético.
O adjetivo καθαρόs cuja origem é obscura parece manter algum elo com a
palavra latina “Castus”. Essa palavra é comum desde os tempos Homéricos e
significa: Limpo em sentido físico; Limpo no sentido de estar livre (vazio). Ex:
podemos dizer denotativamente que o quarto de uma casa está limpo ou vazio
quando ele não comporta nada em seu interior; Limpo (puro) em contraste com
impureza; Limpo em sentido religioso como sinônimo de moralmente puro.
O verbo kathairo significava originalmente: Limpar, varrer, limpar. Este
último sentido é compartilhado pelo Koinê. No período helenístico posterior
prevaleceu o verbo Katharizô, cujo emprego ocorre de forma duplo: físico,
ritual/religioso.O substantivo Katharotes remonta ao grego clássico e literalmente significa
limpeza em sentido literal e figurado.
καθαρόs na LXX/Antigo testamento Massorético
Na LXX, καθαρόs operacional a tradução de 18 equivalentes hebraicos,
sendo o mais comum o termo Tahor no sentido de pureza ritual. Ocasionalmente,
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a LXX também traduz o termo καθαρόs pelo hebraico “naqi” (puro, inocente), e
“Zakak” (ser brilhante, puro inocente).
No Antigo Testamento, os conceitos de pureza e impureza estão
diretamente ligados ao âmbito do culto e a participação no mesmo. Isso em
relação aos sacerdotes que oficiavam o culto, bem como aqueles que
participavam dele. De sorte que tal pureza era requerida de forma prescritiva e
não optativa. E se por ventura, alguma impureza fosse detectada, conforme Lv
7:19-20 tal impureza deveria ser purgada por ser abominação aos olhos do
Senhor.
Outra questão relacionada ao uso de καθαρόs no Antigo Testamento é sua
relação com as doenças, especialmente a lepra. Tal enfermidade tornava as
pessoas impuras. Um dos deveres dos sacerdotes é pronunciar “pura” ou
“impura” a pessoa que contraiu a lepra, mediante as fórmulas declarativas (e.g.
Lv 13:17, 44) conforme eram chamadas.
No livro de Levítico cap. 11 verificamos outro exemplo de utilização desse
termo. Ali é apresentado um catálogo de animais puros e impuros que são
proibidos de serem consumidos. Tal prescrição tinha como objetivo resguardar
o povo contra a adoração de animais (prática ocasional no Reino do Norte, 1 Rs
12:28). Isso demonstraria que Israel não comungava das práticas presentes nas
religiões pagãs. Religiões que tinham animais como seus símbolos (ex: o porco
no culto a Adônis-Tumuz), e afim de preservar a saúde.
Se atentarmos para os profetas, com as ocasionais polêmicas contra o
ritual, perceberemos que eles não abandonam a distinção entre esses dois polos
(“puro” e “impuro”). Eles ampliam e espiritualizam os conceitos presentes no
ritual, pois, ao criticarem os abusos do ritual, introduzem um conceito de pureza
que está diretamente ligado às pessoas e seus comportamentos (Jr 2:23; Is 6:5).Nesse sentido, o conceito da pureza aproxima-se daquele, da culpa e do pecado
(Jr 33:8; Ez 39:24; c f SI 51).
Tais prescrições alcançaram ao longo do tempo um grau de legalismo que
não era o pretendido pelo Senhor. Merecem destaque aqui os Fariseus e os
Essênios. Ambos eram terrivelmente legalistas com relação ao conceito de
pureza. Em relação aos fariseus, eles cercaram as leis de purificação de tantos
outros mandamentos eu tornou-se um fardo pesado. Os Essênios eram aindamais radicais. Por se considerarem a comunidade redentora e sacerdotal do
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tempo do fim, impunham as prescrições de assepsia prescritas para os
sacerdotes para todo o povo.
καθαρόs no Novo Testamento
Ao consultarmos o Novo Testamento perceberemos que καθαρόs e os
seus cognatos, percebemos o largo uso empregado. Quase todos os escritos os
utilizam. As principais ocorrências se dão nos Evangelhos Sinóticos, na carta
aos Hebreus e nas Epístolas Pastorais. Mais o termo ocorre em outros escritos.
O apóstolo Paulo emprega raras vezes a palavra.
Não é possível, sem preconceito, falar de um conceito unificador da
pureza no NT. Neste, também achamos o adjetivo καθαρόs nos mesmo sentidos
abordados no AT: físico (e.g. Ap 15:6). ritual (e.g. Mt 8:2-4; Lc 17:14) e espiritual
(e.g. Mt 5:8). Porém, deve-se notar que o conceito da pureza realmente adquiriu
um novo caráter mediante a pregação e a Pessoa de Jesus. Como ocorre com
vários conceitos e palavras.
A doutrina da pureza desenvolvida por Jesus tinha como característica sua
luta contra o farisaísmo. Em Mt 23:25-26, rejeita a observância dos regulamentos
rituais por ser meramente externo este tipo de pureza. Por detrás das prática dos
fariseus estava a noção mal orientada de que a impureza, vindo de fora em forma
concreta, pode contaminar uma pessoa (Mt 15:11, 16-17 par. Mc 7:15,18). É o
contrário que é a verdade: “O que sai do homem é o que o contamina” (Mc 7:15,
20 par.). Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus
desígnios, a prostituição, os homicídios, as malícias, a lascívia, a loucura , etc.
(Mc 7:21-23).
Jesus enfrentou a ênfase farisaica dada à purificação das mãos com umaexigência quanto à pureza do coração, conforme se expressa na sexta Bem-
aventurança: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt
5 :8). No Sl 24:3-4, o acesso à presença de Deus durante o culto no Templo é
para aquele que ‘é limpo de mãos e puro de coração. São estes os
espiritualmente ‘puros, e não aqueles que são ritual ou cerimonialmente limpos.
Ver a Deus é uma expressão figurativa que indica a grande felicidade da
comunhão com Deus no Reino (cf. Sl 17:15; 42:3; 4 Esdras 7:98 — ‘poisapressam-se para contemplar a face daquele a quem serviam durante a vida, e
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de quem devem receber o seu galardão ao serem glorificados). Jesus sentava-
Se à mesa com publicanos e pecadores (Mc 2:13-17). Não repelia os leprosos;
pelo contrário, curava-os (Lc 17:1149). Falava com samaritanos (Lc 17:19c) e
até mesmo com gentios (Mt 8:5-13; 15:21-28; Grego= λαὸς ).
Não se quer dizer com isto que Jesus anulou os regulamentos da Torá a
respeito da pureza (cf. e.g. Lc 17:14-17). Mesmo assim, ao remover as barreiras
divisórias da lei cerimonial, e ao fazer uma reviravolta no conceito farisaico da
pureza, ao exigir a pureza do coração e do caráter, irrompeu pela essência íntima
do judaísmo, deixando-a para trás dele.
Nos escritos apostólicos podemos perceber que apóstolo Paulo foi o
primeiro a reconhecer claramente que Cristo levou a efeito o fim da Lei, e, que
em decorrência disto, tornaram-se obsoletas todas as distinções rituais e
cerimoniais.na ocasião da controvérsia entre os irmãos “fortes e fracos” que
eram distinguidos pela atitude para o comer de carne que haveria sido usada em
ocasiões de sacrifícios pagãos, Paulo fica de modo resoluto do lado dos fortes:
“Todas as coisas são limpas” (Rm 4l: 20. Também Tt 1:15 se pode ler: “Todas
as coisas são puras para os puros (mediante a fé). Para o apóstolo Paulo, a
única razão para observar qualquer tipo de regra legalística é a consideração
pelo irmão mais fraco. Já não há questão de elas terem validez absoluta.
Nos escritos joaninos, a pureza se coloca em relacionamento estreitocom
a morte salvífica de Jesus. Em outras palavras, tal enfoque recebe um
fundamento cristológico explícito: “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de
todo o pecado” (1 Jo 1:7; 1:9). A narrativa da lavagem dos pés dos discípulos
demonstra que aqueles que permitem que sejam servidos por Jesus (como no
batismo) são limpos (Jo 13:10; Ef 5:26). A pureza é intermediada pela palavra
de Jesus (Jo 15:3) no pensamento de João. Portanto, a pureza não é umaqualidade ética em prol da qual o homem deve labutar, mas sim, a operação e
concretização do fato de a igreja pertencer a Cristo
A Epístola aos Hebreus interpreta a morte de Jesus com a ajuda de
conceitos rituais do AT, a fim de demonstrar a qualidade superior da nova aliança
sobre a antiga (Hb 9:13-14). Em contraste com a purificação do templo vétero-
testamentário mediante o sacrifício, repetido ano após ano, que o escritor
interpreta como lembrança anual do pecado (10:1-4), a purificação feita pelosangue de Cristo é válida de uma vez por todas. Além disto, serve não somente
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para trazer a purificação externa, como também, e muito mais, a purificação de
todo o pecado (1:3; 10:22). Hebreus, como 1 João, liga o conceito da pureza com
o do perdão (Hb 9:22).
Apenas nas Epístolas Pastorais e Universais em especial a de Tiago e 1
Pedro que o conceito da pureza ganhou caráter parcialmente ético. As Epístolas
a Timóteo, em linguagem formalmente semelhante à pregação de Jesus,
exortam à pureza do coração e da consciência (1 Tm 1:5; 3:9; 2 Tm 2:22). Quanto
ao conteúdo, no entanto, o enfoque muda da Pessoa de Jesus para a instrução
didática: “Ora, o intuito da presente admoestação visa o amor que procede de
coração puro e de consciência boa e de fé sem hipocrisia” (1 Tm 1:5; cf. 1 Pe
1:22).
A Epístola de Tiago demonstra uma certa tendência para voltar a um
conceito de pureza que Paulo e João já descartaram, por descrever a renúncia
diante de um mundo pecaminoso como “religião pura e sem mácula” (Tg 1:27).
O ponto mais próximo que os escritos do Novo Testamento chega ao p e n s am
e n to judaico tradicional está no Apocalipse, que se alude à pureza em termos
de vestes de linho fisicamente limpas (15:6; 19:8,14) e da nova Jerusalém de
ouro puro (21:18,21). Ao nos depararmos com a história destes termos
demonstra quão variado foi o modo de entender, até mesmo no NT, a pureza
que Jesus exigia e que Ele mesmo outorgava. Paulo e João se aproximam mais
a uma demonstração do seu escopo universal e caráter libertador; nos escritos
posteriores, revela-se uma tendência mais estreita e moralidade.
Sentidos Léxicos para καρδίᾳ e cognatos: Coração, conhecedor de corações,
mente, personalidade, caráter, paixões, desejos, apetites, afetos, propósitos,
esforços, estado emotivo, intelecto, vontade, intenção, ser interior.
καρδίᾳ no grego clássico
No grego clássico a palavra καρδίᾳ era utilizado num duplo sentido: Literal
e metafórico. De modo denotativo, significava o coração (como órgão corporal e
centro da vida física). Esses sentidos ocorrem no célebre Aristóteles. Outros
sentidos encontrados no uso do termo καρδίᾳ são: sede das emoções, fonte da
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vida espiritual, âmago da madeira, semente das plantas. Num sentido mais geral
falava: do centro (a parte interior do homem).
Em Homero, o termo καρδίᾳ também recebeu alguns sentidos: sede das
emoções, centro intelectual, sede dos instintos/paixões, centro da vontade. Ou
seja, ao todo, Homero atribuiu pelo menos 4 sentidos ao termo καρδίᾳ.
καρδίᾳ na LXX/Antigo Testamento Massorético
No Antigo Testamento encontramos as seguintes expressões leb e lebab
para “coração”. leb ocorre nas partes mais antigas, e lebab aparece até Isaías.
Assim como no grego antigo, o Antigo Testamento emprega o “coração” nos dois
sentidos também: literal e o metafórico. A LXX traduz leb predominantemente
por kardia. Raramente ela traduz por dianoia (“mente”) ou psyche Malma”). As
nuanças do conceito são tão claramente reconhecíveis aqui como no Texto
Massorético. Nesse contexto kardia ocorre predominantemente num sentido
geral, referindo-se a pessoa como um todo.
No Antigo Testamento a expressão para coração denota os dois sentidos
(físico e metafórico). No sentido físico ele se refere ao cuidado pessoal do
homem desse órgão que é a sede da vida física (SI 38: 10-11; Is 1:5). De modo
que quando o coração é alimentado o homem é fortalecido (Gn 18:5; Jz 19:5; 1
Rs 21:7). Ao olharmos para o sentido metafórico, leb é a sede da vida espiritual
e intelectual do homem, a natureza intima da pessoa. Aqui se vê com clareza
especial a conexão estreita entre os processos espirituais e intelectuais, e as
reações funcionais da atividade do coração. Isso pode apontar para a estreita
relação entre leb e de nepel (Alma) como termos intercambiáveis (Js 22:5; 1 Sm
2:35; Dt 6:5).No Antigo Testamento, leb também e a sede do sentir, pensar e desejar
do homem:
a) O coração é a sede das mais variadas emoções: alegria (Dt 28:47), dor (Jr
4:19), tranquilidade (Pv 14:30), e excitação (Dt 19:6).
b) O coração é a sede do entendimento/conhecimento, das forças e poderes
racionais (1 Rs 3:12; 4:29),de fantasias e visões (Jr 14:14), da estultice (Pv
10:20-21) e os maus pensamentos.
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c) A vontade tem sua origem no coração, como também a intenção bem
ponderada (1 Rs 8:17), e a decisão que está pronta a ser colocada em vigor (Ex
36:2).
A expressão utilizada no Antigo Testamento “leb” no entanto, significa
menos uma função isolada do que o homem com todos os seus impulsos - em
resumo, a pessoa na sua totalidade (SI 22:26-27; 73:26; 84:2-3). W. Eichrodt,
em sua Teologia do Antigo Testamento Vol.II, 1967,143 afirma que “Leb” “é “um
termo compreensivo para a personalidade como um todo, sua vida interior, seu
caráter.
É a atividade consciente e deliberada do ego humano, contido em si
mesmo”. Aqui, o uso vetero-testamentário se contrasta com aquele do Grego
secular, uma vez que ali o coração, por mais diferenciações de significado que
ele tenha, tem uma só função dentro do sistema de processos espirituais e
intelectuais. Sendo que a ideia da responsabilidade se relaciona especialmente
com o coração, aquilo que procede do coração e bem distintivamente a
propriedade da totalidade do homem interior, e, portanto, faz com que ele, como
ego que opera conscientemente, seja responsável por ele” (W. Eichrodt, op. cit.,
144).
No AT, o único corretivo para esta responsabilidade do homem se acha em
Yahweh, o coração também e o órgão do qual o homem, ou como ímpio ou como
desobediente, tem um encontro com a palavra e os atos de Deus. E a sede da
reverencia e da adoração (1 Sm 12:24; Jr 32:40); o coração dos fiéis se inclina
em fidelidade a lei de Deus (Is 51:7), o dos ímpios e endurecido e longe de Deus
(Is 29:13). E no coração que se realiza a conversão a Deus (SI 51:10,17 12, 19;
J1 2:12).
καρδίᾳ no Novo Testamento
No Novo Testamento percebermos que o emprego de καρδίᾳ coincide com
o modo vetero-testamentário de entender o termo, tanto quanto difere do
significado de “coração” como sendo a vida interior, o centro da personalidade e
o lugar onde Deus se revela aos homens se expressa ainda mais claramente no
Novo Testamento do que no Antigo Testamento, Em passagens onde o AntigoTestamento teria empregado “coração” no sentido de “pessoa”, o Novo
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Testamento frequentemente emprega o pronome pessoal (Mt 9:3; 16:7; 21:25,
38; 2 Co 2:1).
καρδίᾳ não obstante, ocorre em 148 passagens no NT: em Paulo 52 vezes:
nos Sinóticos 47; em Atos 17; nas Epistolas Gerais 13; em Hebreus 10; em João
6; e no Apocalipse 3 vezes.
καρδίᾳ como centro da vida física e da constituição psicológica do homem.
καρδίᾳ ocorre com relativa raridade no sentido do órgão físico, a sede da vida
natural (Lc 21:34; At 14:17; Tg 5:5). Por contraste, denota mais frequentemente
a sede da vida intelectual e espiritual, a vida interior, em contraste com as
aparências externas (2 Co 5:12; 1 Ts 2:17; cf. 1 Sm 16:7). Os poderes do espirito,
da razão e da vontade se centralizam no coração bem como as moções da alma,
os sentimentos, as paixões e os instintos. O coração representa o ego do
homem. E, simplesmente, a pessoa (“a pessoa interior do coração”. (1 Pe 3:4).
καρδίᾳ como o centro da vida espiritual. As instancias mais significantes de
καρδίᾳ no NT ocorrem naquelas passagens que falam do estado do homem
diante de Deus. O coração é aquilo no homem ao qual Deus Se dirige. E a sede
da dúvida e da dureza, além de ser a da fé e da obediência; Nesse sentido um
dos aspectos marcantes do NT e a aproximação essencial de καρδίᾳ ao conceito
de nous, “mente”, nous pode também ter os significados de “pessoa”, o “ego” do
homem, O coração e a mente (noemata, lit. “pensamentos”) podem se empregar
em paralelo (2 Co 3:14-15), ou como sinônimos (Fp 4:7).
O ato de pecar é devastador não somente no que se refere ao aspecto
físico do homem natural, não somente seu pensar, desejar, sentir e esforço como
elementos físicos, mas também a fonte dos mesmos, a parte mais intima da
existência humana, seu coração. Se, porém, o coração ficou escravizado pelo
pecado, a totalidade está em escravidão. Os pensamentos maus vem do coração(Mc 7:21 par. Mt 15:19). Desejos vergonhosos habitam no coração (Rm 1:24). O
coração e desobediente e impenitente (Rm 2:5; 2 Co 3:14-15), duro e infiel (Hb
3:12), embotado e escurecido (Rm 1:21; Ef 4:18). Jesus, referindo-Se aos Seus
oponentes, citou o profeta Isaias: “vosso coração está longe de mim” (Mc 7:6;
par. Mt 15:8). De igual modo, repreendeu Seus discípulos pela sua falta de fé e
sua dureza de coração (Mc 16:14; cf. 24:25, 32). Os gentios não se podem
desculpar diante de Deus, tampouco, porque levam no coração o conhecimentodaquilo que e justo e reto aos Seus olhos (Rm 2:15).
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Em Jeremias a queixa de Jeremias 17:9 “Enganoso e o coração, mais do
que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, o conhecera?”. Da
expressão aquilo que também e o ponto de vista do NT. Ninguém pode entender
seu próprio coração, muito menos muda-lo. homem sem Deus vive sob o poder
do pecado, que fez sua habitação no seu coração, posição favorável, escraviza
o homem inteiro.
Somente Deus pode revelar as coisas escondidas no coracao do homem
(1 Co 4:5), examina-las (Rm 8:27) e testa-las (1 Ts 2:4). E porque a corrupção
brota do coração que começa ali Sua obra de renovação, kardia e “o lugar onde
Deus trata com o homem ... parte do homem ... onde, em primeira instancia, se
decide a questão pro ou contra Deus". Assim como o coração e a sede da
fidelidade, também e a sede da fé 10:6-10). A conversão ocorre no coraçãoe é,
portanto, questão do homem inteiro. A palavra de Deus não prende
simplesmente o entendimento ou as emoções, como também penetra no
coração (At 2:37; 5:33; 7:54).
Diante dessas observações, podemos ponderar que o coração do homem,
no entanto, não somente e o lugar onde Deus desperta e cria a fé. Aqui, a fé
comprova a sua realidade mediante a obediência e a paciência (Rm 6:17;2 Ts
3:5). Aqui, guarda-se a palavra de Deus (Lc 8:15). É aqui que a paz de Cristo
começa seu império (Cl 3:15). A graça de Deus fortalece e estabelece o coração
(Hb 13:9). 0 NT descreve um coração que se dirige sem reservas a Deus como
“coração puro” (Mt 5:8;1 Tm 1:5). Esta pureza de coração se baseia
exclusivamente no fato de que o sangue de o purifica (Hb 10:22; cf. 1 Jo 1:7), e
Cristo nele habita mediante a fé (Ef 3:17).
Devem-se mencionar aqui duas palavras correlatas que ocorrem no Novo
Testamento. Podemos observar kardiognostes e desconhecido no Gr. secular ena LXX, e ocorre no Novo Testamento somente At 1:24 e 15:8, e, mais tarde,
nos escritos patrísticos. Descreve Deus como “Conhecedor corações”. O fato de
que Deus testa e sonda as profundidades escondidas do coração humano se
declara comumente tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento
(1Sm 16:7; Jr 11:20; 17:9-10; 16:15; Rm 8:27; 1 Ts 2:4; Ap 2:23).
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Análise Sinót ica
Os estudiosos do Novo Testamento têm sugerido que toda leitura dos
evangelhos seja feita de forma horizontal para fins de maiores esclarecimentos
no que diz respeito a nuances do texto bíblico. Em se tratando das bem-
aventuranças, o leitor deve observar que conquanto dois dos evangelhos
sinóticos (Mateus 5:3-11 e Lucas6:20-23) as incluam em suas narrativas, apenas
Mateus registra a bem-aventurança referente aos puros de coração.
Além do mais, a narrativa de Mateus inclui 9 bem-aventuranças, enquanto
que Lucas registra apenas 4. Isso demonstra que em termos quantitativos, a
narrativa de Mateus é mais abrangente em conteúdo. No evangelho de Mateus,
a bem-aventurança dos puros de coração é a 6ª bem-aventurança. Ela vem logo
após a bem-aventurança dos misericordiosos, e antes da bem-aventurança dos
pacificadores.
Contexto Teológico
Do ponto de vista teológico estamos em pleno acordo com a conhecida
afirmação de Rudolf Bultmnan: “Não é possível uma exegese destituída de
premissas”. Com isso queremos expressar nossa anuência com os pressupostos
(Método Histórico/Gramatical) da tradição reformada, e a luz deles iremos buscar
o sentido teológico do texto em apreço (Mt 5:8).
A fim de empreender tal tarefa, teremos que situar a perícope em apreço
(Mt 5:8) no seu contexto maior. Uma rápida olhada nos 7 primeiros capítulo de
Mateus nos dão o seguinte vislumbre:
Cap.1: A genealogia e o nascimento de Jesus.
Cap.2: Temos a visita dos magos, a fuga para o Egito, e o retorno para Nazaré.
Cap.3: A pregação de João Batista, seu testemunho acerca de Jesus, e o
batismo de Jesus.
Cap.4: A tentação no deserto, a ida a Galiléia, e a vocação dos discípulos.
Cap.5-7: Sermão da Montanha.
Feito isso, podemos prosseguir na nossa tarefa. Em Mt 4:22 lemos que
após Jesus vocacionar alguns discípulos, estes o seguiram. O versículo 23 dizque Jesus percorria a região da Galiléia. No versículo 25 fica claro que, a partir
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de então não somente os discípulos o seguiam, mas toda uma multidão. Por
sinal, o versículo encerra com a seguinte expressão: “numerosas multidões o
seguiam”.
O 5º capítulo de Mateus inicia dizendo que tanto as multidões quanto os
discípulos cercavam Jesus e ele passou a ensiná-los. Esse corpo de ensinos
tem sido chamado pelos estudiosos de o “Sermão do Monte”.
Em ordem sequencial, a bem-aventurança que trata dos puros de coração
é a 8ª. A pergunta que surge diante desta bem-aventurança é a seguinte: quem
são os limpos de coração? Certamente muitos ao se depararem com este texto
se fazem esse questionamento. E tal postura não ocorre apenas com leigos.
Teólogos também se veem nesse embate.
De início, devemos reconhecer que “pureza de coração” está associada
com a santidade. Pois a promessa para os puros de coração é que “eles verão
a Deus”. Em Hb 12:14 lemos: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a
qual ninguém verá o Senhor ”. Como se depr eende, a pureza é algo requerido
daqueles que haverão de comparecer perante Deus e o verão pessoalmente. Tal
prescrição fundamenta-se no fato de que Deus é puro e santo, e que, portanto,
aquele que o verão devem desfrutar da mesma condição.
Tal imagem ecoa sem dúvida do Antigo testamento. Textos como o Sl 15:1-
2; 24:3-4. Vejamos o quadro abaixo a fim de que as semelhanças apareçam:
Salmo 15:1-2 Salmo 24:3-4 Mateus 5:8
Quem, Senhor, habitará
no teu tabernáculo?
Quem há de morar no
teu Santo monte? O quevive com integridade, e
pratica a justiça, e, de
coração, fala a verdade;
Quem subirá ao monte
do Senhor? Quem há de
permanecer no teu
santo lugar? O que élimpo de mão e puro de
coração, que não
entrega a sua alma à
falsidade, nem jura
dolosamente.
Bem-aventurados os
puros de coração,
porque verão a Deus.
Como se depreende do quadro, as expressões: “habitará”, “morar”, “subirá”e “permanecer”, todas são sinônimos de ver ou contemplar a Deus
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pessoalmente. E em todos os textos supracitados, a condição requerida para
que tal benécia seja experimentada é a pureza de coração.
Aqui surge uma pergunta: Como ter um coração puro? Tal pergunta nos é
respondida no Sl 51:2, 10 quando Davi após ter pecado suplicou ao Senhor
dizendo: “Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu
pecado... Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um
espírito inabalável”. O Salmo é claro: É Deus quem opera essa purificação. É
aquilo que a teologia reformada tem chamado de “regeneração monegística”.
Em outras palavras, é o agir soberano da graça de Deus incidindo sobre a vida
do pecador e o purificando dos seus pecados.
Curiosamente, o Senhor Jesus Cristo vai tratar dessa questão em Jo 15.
Pouco tempo antes da sua paixão, Jesus expôs aos seus discípulos a metáfora
da videira, na qual ele é a própria videira e seus discípulos os ramos. No final do
Verso 4º, Jesus diz que o ramo que frutifica, esse é podado para que frutifique
mais. E no Verso 5º ele diz: “Vós já estais limpos pela Palavra que eu vos
tenho falado”. Ou seja, a limpeza/pureza desfrutada pelos discípulos não
emanava deles, mas do próprio Cristo. Isso nos induz a responder a pergunta
anteriormente levantada: quem são os limpos de coração? Os regenerados.
Aqui cabe levantar a seguinte observação: o sentido primordial de tal
pureza de coração consiste em ela ser de natureza interior. Não se requer mais
apenas a pureza ritualística. Agora, a pureza deve emanar do centro do ser, do
mais íntimo do homem. Entretanto, isso não invalida a necessidade da
santificação. Is 59:2 diz que o pecado separa Deus do homem. E tal separação
só pode ser rompida pela remoção do pecado na vida do homem. A luz da
teologia reformada entendemos que isso só pode ser desfrutado por aqueles que
foram regenerados, passaram pelo chamado eficaz, foram justificados,redimidos e por fim adotados como filhos de Deus.
Embora essa temática tenha recebido pouquíssima atenção, é bem
verdade que as Escrituras a salientem com grande ênfase. O Sl 73:1 exalta a
pureza de coração e diz que Deus trata com fidelidade os que assim procedem.
Em 1Tm 1:5 Paulo diz que o amor (o supremo dom) procede de um coração
puro. Em 2Tm 2:22 Paulo diz que aqueles que seguem o Senhor possuem um
coração puro. E por fim, em 1Pd 1:22 Pedro fala que a pureza da alma (cognato
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para coração) ocorre por meio da obediência. Em suma, as escrituras estimulam
os servos de Deus a buscarem a pureza como virtude da alma.
Um breve comentário sobre a palavra coração é que em Mt 5:8 Jesus não
estava falando do órgão do corpo, cuja responsabilidade é bombear o sangue.
Antes, ele se referia a sede emotiva, intelectual e volitiva do homem. Ou seja,
ele falava do homem na sua totalidade. Falava do homem com todas as suas
faculdades. Isso apontava para uma busca por Deus sem reservas.
Mas o texto da Bem-Aventurança faça a prescrição de que o sevo de Deus
deve ter pureza de coração, ela também faz uma promessa: “eles verão a Deus”.
Ou seja, o Deus que requer uma conduta e uma vida interior carregada de pureza
é om mesmo que promete a benção da sua presença contínua. Isso nos faz
recordar Enoque. Embora o texto sagrado não faça nenhuma menção das
motivações de Enoque, certamente seu coração (seu Ser) estava tão voltado
para Deus que lemos em Gn 5:24 “Andou Enoque com Deus e já não era, porque
Deus o tomou para si”.
Paulo diz que em 1Co 15:58 que “nosso labor não é vão no Senhor ”. Hb
11:6 diz que o Senhor é “galardoador daqueles que seriamente o buscam”. Não
pensemos em buscar a pureza para gozar as bênçãos que Deus tem para nós.
Tê-lo como disse o salmista no Sl 16:2 “... outro bem não possuo, senão a ti
somente” é a nossa maior benção. Mas estejamos certos, apenas os puros o
verão. Se a nossa vida não evidencia essa convicção, é hora de repensar nosso
modo de vida até o presente.
Comparação de Versões
Almeida Corrigida e Fiel – Bem-aventurados os limpos de coração, porque elesverão a Deus;
Almeida Revista e Atualizada – Bem-aventurados os limpos de coração, porqueverão a Deus.
Almeida Revista e Corrigida – bem-aventurados os limpos de coração, porqueeles verão a Deus;
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Nova Versão Internacional – Bem-aventurados os puros de coração, pois verãoa Deus.
American Standard Version – Blessed are the pure in heart: for they shall seeGod.
King James Version – Blessed are the pure in heart: for they shall see God.
New American Standard – Blessed are the pure in heart, for they shall see God.
Comentário da Comparação
Não há nenhuma diferença significativa entre nenhuma das versões,
tanto as em português, quanto as em inglês, concordam com a tradução de
todos os termos da perícope.
Paráfrase
Adotamos como paráfrase a tradução suferida por William Barclay em seu
comentário ao evangelho de Mateus. O texto de Mt 5:8 é assim parafraseado no
referido comentário:
Mt 5:8 “Bem-aventurado é o homem cujas motivações são sempre
integras e sem mescla de mal algum, porque este é o homem que verá a
Deus.”.
Esboço Homilético
Texto: Mateus 5:8
Introdução: O discipulado cristão é semelhante a uma escada. Cada degrau
que subimos representa uma virtude requerida pela ética do Reino. E, uma das
virtudes requeridas é a pureza de coração conforme prescrita por Jesus em seus
ensinamentos.
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Elucidação: O texto de Mt 5:8 pode nos ajudar a entender um pouco a questão.
Esse texto está localizado no início do Sermão do Monte que inicia em Mt 5:1 e
vai até Mt 7:29. Todo esse Sermão constitui-se na ética do Reino. Isso nos leva
a concluir que a pureza de coração não pode está distanciada da nossa prática
de vida.
Tema: Elementos do Discipulado Cristão
1º A dádiva: Ser bem-aventurado (abençoado).
2º A prescr ição: A necessidade da pureza de coração.
3º A promessa: A recompensa de ver a Deus.
Conclusão: Ser puro de coração é um imperativo do Reino de Deus, e nós como
seus súditos devemos busca-la com ímpeto e esmero.
Tradução Final
Sugerimos a seguinte tradução como tradução final para o texto de Mt 5:8:
Mt 5:8 “Benditos os puros de coração, pois eles verão a Deus”.
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Bibliografia
1. Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e
Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
2. BibleWorks, LLC Version 7.0.005f. 2011.3. GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 2 ed. São Paulo:
Vida Nova, 1998.
4. SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Coinê: Pequena Gramática do Grego
Neotestamentário. 5 ed. Patrocínio, MG: CEIBEL, 1989.
5. COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento. 2 ed. São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Vida Nova,
2000.6. GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento Grego / Português.
São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,1984.
7. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Mateus 1.
São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
8. Noções do Grego Bíblico. Lourenço Stélio Rega. 3ª edição. São Paulo:
Vida nova. 2009.
9. Johannes Lown e Eugene Nida. Léxico Grego-Português do NT. SBB.
São Paulo: SBB.2013.
10. W.C.Taylor. Dicionário do NT Grego. Rio de Janeiro: JUERP. 1991.