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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria Metabólica da Ecologia ÁLVARO CARVALHO DE LIMA Orientador: RONALDO ANGELINI Co-orientador: ADRIANO CALIMAN Natal-RN, maio de 2019 Tese de doutorado apresentada ao programa de pós-graduação em Ecologia da UFRN, como requisito para obtenção do grau de doutor em ciências biológicas, área de concentração em Ecologia.

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Page 1: Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da ......Lima, Álvaro Carvalho de. Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN

Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da

Estequiometria Ecológica e da Teoria Metabólica da Ecologia

ÁLVARO CARVALHO DE LIMA

Orientador: RONALDO ANGELINI

Co-orientador: ADRIANO CALIMAN

Natal-RN, maio de 2019

Tese de doutorado apresentada ao

programa de pós-graduação em Ecologia

da UFRN, como requisito para obtenção do

grau de doutor em ciências biológicas, área

de concentração em Ecologia.

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AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas, pela bolsa de

doutorado concedida através do Programa de Bolsas de Pós Graduação em

Instituições fora do estado (edital No. 010/2015).

À Universidade Federal do Amazonas pela liberação integral das minhas

funções enquanto estive realizando o doutorado, em especial aos colegas professores

do Departamento de Ciências Pesqueiras pelo incentivo e apoio material durante o

processamento e armazenagem de amostras.

Ao Programa de Pós Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, pela excelência do quadro docente e pelas facilidades das

instalações.

À coordenação do Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento, onde

armazenei amostras, ao Laboratório de Limnologia do Departamento de Oceanografia

e Limnologia (DOL), onde realizei as análises químicas das amostras. Agradeço

também ao Instituto de Medicina Tropical por fornecer água ultra-destilada que usei

nas análises.

Aos meus orientadores, Ronaldo Angelini e Adriano Caliman, pela atenção e

tempo dedicados a minha orientação, por compartilharem ideias e acima de tudo pelo

incentivo em mergulhar nas águas da Estequiometria Ecológica.

Ao técnico do DOL, Bruno Mattos Silva Wanderley, por ter me ensinado todas

as análises de laboratório, sempre explicando os porquês das coisas. Sem sua ajuda

teria sido impossível construir esta tese.

Ao Guilherme Gerhardt Mazzochini por ter ajudado com a análise estatística de

parte dos dados.

Aos amigos e voluntários que me ajudaram com os trabalhos de campo:

Kleisson Medeiros, Ian Rocha, Jairo Rodrigues, Marcus Girão, Júlio Siqueira, Flávio

Soares, Guilherme Freire, Ronis da Silveira.

Agradecimento especial a Hélio Beltrão e Jansen Zuanon por ajudarem a

identificar os peixes.

Pelo apoio emocional, agradeço a: minha mãe Maria Lúcia Chagas de

Carvalho, minha irmã Raquel Carvalho de Lima, e minha companheira Caroline

Vasconcelos.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de

Financiamento 001.

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ÁLVARO CARVALHO DE LIMA

EXCREÇÕES DE PEIXES AMAZÔNICOS USANDO A ABORDAGEM DA

ESTEQUIOMETRIA ECOLÓGICA E DA TEORIA METABÓLICA DA

ECOLOGIA

Orientador: Dr. Ronaldo Angelini

Co-orientador: Dr. Adriano Caliman

NATAL-RN

2019

Tese de doutorado apresentada ao

programa de pós-graduação em Ecologia

da UFRN, como requisito para obtenção do

grau de doutor em ciências biológicas, área

de concentração em Ecologia.

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Lima, Álvaro Carvalho de.

Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria

Ecológica e da Teoria Metabólica da Ecologia / Álvaro Carvalho de

Lima. - Natal, 2019.

39 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Biociências. Programa de Pós-graduação em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Angelini.

Coorientador: Prof. Dr. Adriano Caliman.

1. Peixes - Tese. 2. Taxa de excreção - Tese. 3. Nitrogênio - Tese.

4. Fósforo - Tese. 5. Ontogenia - Tese. I. Angelini, Ronaldo. II.

Caliman, Adriano. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

IV. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 597.2/.5

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Sumário

1. INTRODUÇÃO GERAL ..................................................................................................... 1

2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 7

2.1. ÁREA DE ESTUDO.................................................................................................... 7

2.2. EXPERIMENTOS PARA MEDIÇÃO DA EXCREÇÃO ......................................... 8

2.3. ANÁLISES PARA DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO E FÓSFORO

EXCRETADOS ....................................................................................................................... 9

2.3.1. DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO EXCRETADO .................................... 9

2.3.2. DETERMINAÇÃO DE FÓSFORO EXCRETADO ....................................... 11

2.3.3. DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO E FÓSFORO NA MASSA

CORPORAL DOS PEIXES ............................................................................................. 13

2.3.4. COMPILAÇÃO DE INFORMAÇÕES SECUNDÁRIAS ............................... 14

2.4. ANÁLISES ESTATÍSTICAS .................................................................................... 14

3. RESULTADOS .................................................................................................................. 16

3.1. Efeitos diretos e indiretos do tamanho do corpo na excreção de nitrogênio e

fósforo por peixes amazônicos ........................................................................................... 16

3.2. Ontogenia e estequiometria da excreção em peixes .......................................... 19

4. DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 27

5. CONCLUSÃO GERAL ..................................................................................................... 31

ANEXOS ................................................................................................................................... 31

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 34

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RESUMO

Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da

Estequiometria Ecológica e da Teoria Metabólica da Ecologia

Os peixes são elos importantes nos processos de sequestro, transferência e

transformação de energia e nutrientes nas cadeias tróficas. Através de suas

excreções os peixes fornecem nutrientes para os produtores primários e, em

alguns sistemas de água doce, podem fornecer a maior parte do nitrogênio e

do fósforo necessários aos organismos autotróficos. Tamanho corporal, hábito

alimentar e características do ambiente influenciam as taxas de excreção dos

peixes. A bacia amazônica possui a maior riqueza de espécies de peixes de

água doce do planeta, sendo que nada se conhece a respeito da ciclagem de

nutrientes mediada por estes organismos neste sistema. O objetivo central

desta tese foi quantificar o aporte de nitrogênio e fósforo pelos peixes ao

ecossistema amazônico, usando medidas diretas de excreção. Estas medidas

foram realizadas através de 153 experimentos de incubação in situ, utilizando-

se de 59 espécies de peixes nativos da Amazônia. Usamos modelos de

equações estruturai para quantificar efeitos diretos e indiretos do tamanho do

corpo nas taxas e razões de excreção. Os resultados mostraram que as taxas

de excreção foram inversamente relacionadas a massa corporal e a

estequiometria do corpo, enquanto a razão N:P excretada aumentou com a

massa corporal. Buscamos identificar efeitos da ontogenia e da estequiometria

do corpo sobre a excreção de N, P e N:P, usando dados secundários para criar

um proxy de crescimento, assumindo que a taxa de crescimento é maior

quanto mais distante do tamanho máximo da espécie o peixe está e assim

comparamos a estequiometria de peixes jovens e adultos. Os resultados

mostraram efeito do crescimento sobre a estequiometria do corpo e da

excreção em indivíduos no início da fase juvenil. Concluímos que o tamanho, a

estequiometria do corpo e ontogenia influenciam na excreção de N e P

realizada por peixes.

Palavras-Chave: taxa de excreção, razão N:P, nitrogênio, fósforo, ontogenia

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Excretions of amazonian fishes using the approach of Ecological

Stoichiometry and Metabolic Theory of Ecology

ABSTRACT

Fish are important in processes of uptake, transfer and transformation of energy

and nutrients in aquatic food webs. Through their excretions, fish supply

nutrients for autotroph organisms, representing the main source of nitrogen and

phosphorous for primary producers in some fresh water systems. Body size,

diet, as well as environment light-nutrient conditions, affect excretion rates and

ratios of nutrient recycled by fish. The Amazon basin encompasses the most

diverse fish fauna in the world, however nutrient recycling by fish in that

ecosystem had never being surveyed so far. The main purpose of this thesis

was to assess nitrogen and phosphorus release by fish, measuring their

excretions in field conditions. One hundred fifty three incubation experiments

were performed using 59 wild caught native species. We used structured

equations models in order to measure direct and indirect effects of body size on

excretion rates and ratio. Results showed that excretion rates were negatively

related to body mass and body stoichiometry, while excreted N:P was positively

related to body mass. We could reveal the indirect effect of body mass on

excretion because body mass also affects body stoichiometry. In order to

identify effects of ontogeny and body stoichiometry on N, P and N:P excretion

we used second hand data to create a proxy to growth rate, assuming the fish

grow faster as smaller they are from their maximum size, than we compared

body stoichiometry and excretion rates and ratios of juvenile in contrast to adult

fishes. Results revealed that growth affects body stoichiometry and excretion

ratios in the beginning of the juvenile phase. Overall, our conclusions point out

that body size, body stoichiometry and growth affect N and P release by fishes.

Key-words: Excretion rate, N:P ratio, nitrogen, phosporous, ontogeny

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1. INTRODUÇÃO GERAL

Peixes são elos importantes nos processos de sequestro, transferência e

transformação de energia e nutrientes nas cadeias alimentares, por que

ocupam diversos níveis tróficos e se constituem muitas vezes na maior

biomassa dos ecossistemas aquáticos (Sterner & Elser, 2002; Vanni, Boros &

McIntyre, 2013; Boros, Takács & Vanni, 2015). Através de seus deslocamentos

(migrações) os peixes transportam nutrientes entre diferentes habitats e

ecossistemas (Durbin et al., 1979; Meyer & Schulz, 1985; Persson, 1997). Além

disso, peixes causam alterações nas comunidades aquáticas por meio de

herbivoria, predação seletiva e bioturbação (Attayde et. al., 2010; Menezes et.

al., 2010; Reissig et. al., 2015), assim como também fornecerem nutrientes

para os produtores primários através de suas excreções.

As excretas dos peixes contêm compostos nitrogenados e fosfatados, que

são liberados pelas vias branquiais e urinárias, podendo ser rapidamente

assimiláveis pelos organismos autotróficos (Persson, 1997; Zimmer, Herwig &

Laurich, 2006). Nitrogênio e fósforo podem ser elementos limitantes para a

produção primária, e aporte de nutrientes oriundos dos peixes pode ser

relevante para ecossistemas marinhos e de água doce (Schaus et al., 1997;

McIntyre et al., 2008; Wheeller, Miller & Crowl, 2015).

A Teoria Metabólica Ecológica (TME) e a Estequiometria Ecológica (EE)

fornecem uma base teórica integrativa para os processos de reciclagem de

nutrientes mediados por consumidores (Vanni & McIntyre, 2016). Estas teorias,

que são fundamentadas em leis da física e da química (Elser et al., 1996;

Sterner & Elser, 2002; Algeier et al., 2015). foram usadas nesta tese para

investigar a ciclagem de nutrientes mediada por peixes amazônicos.

Teoria Metabólica Ecológica (TME)

Segundo a Teoria Metabólica Ecológica, a temperatura ambiente e o

tamanho corporal influenciam o metabolismo por meio de diferentes

mecanismos (Gillooly et al., 2001; Brown et al., 2004). A temperatura afeta o

metabolismo na medida em que reações enzimáticas são aceleradas pelo

aumento da temperatura; em temperaturas próximas a 0 oC a água nas células

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tende a congelar, cessando as reações metabólicas. No extremo oposto, em

temperaturas acima de 40 oC as reações metabólicas se tornam mais lentas

devido ao aumento da influência do catabolismo (Gillooly et. al., 2001).

O tamanho do corpo, por seu turno, também modula a taxa metabólica. De

acordo com a lei da invariância energética, a taxa metabólica do organismo (B)

é função da massa corporal (M) elevada ao expoente de 3/4 (Elser et al., 1996;

West et al., 1999, Gillooly et. al., 2001; Isaac et. al., 2010), isto implica que a

taxa metabólica específica (B/M) é função da massa elevada a -1/4. Esta

alometria é consequência da relação entre superfície e volume corporal, que

limita a superfície de trocas e as redes de transporte de substâncias em

células, órgãos e no organismo como um todo com o aumento do tamanho

(Gillooly et. al., 2001). Esta mesma relação descreve a taxa metabólica basal,

que é a taxa mínima de gasto energético para a simples manutenção das

funções vitais; e a taxa metabólica de metabólica de campo, que inclui a

alocação de energia para o crescimento e reprodução (Brown et. al., 2004).

Em síntese, quanto menor o organismo e maior a temperatura ambiente,

mais acelerado é o metabolismo, refletindo em um aumento na taxa de

excreção por unidade de massa (taxa de excreção específica) do organismo.

Estequiometria Ecológica (EE)

Na Estequiometria Ecológica (EE) a excreção é abordada de forma

qualitativa, olhando as proporções entre os elementos químicos e seus fluxos

entre o alimento e o organismo, e entre o organismo e ambiente. De acordo

com EE a estequiometria da excreção é condicionada pela lei de conservação

das massas (segunda lei de Lavoisier), que diz “nada se perde, nada se cria,

tudo se transforma”. Em termos ecológicos significa que aquilo que o

organismo excreta é o que sobrou de reações químicas mediadas pelo

metabolismo, em que os reagentes iniciais são os elementos químicos

presentes no ambiente (alimento) e o produto final é o organismo em sua

constituição e funcionamento.

Os peixes, assim como a totalidade de organismos heterotróficos

macroscópicos, obtêm os nutrientes de que precisam através dos alimentos

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que ingerem. A matéria ingerida pode seguir dois caminhos: sair do organismo

sem ser aproveitada (egesta) ou ser digerida, formando moléculas menores

que podem ser assimiladas pelo organismo e empregada na forma de energia

e matéria de acordo com a sua demanda metabólica. O alimento é, portanto

um “pacotes” de nutrientes. Desta forma razão estequiométrica da excreção é

resultado da diferença entre balanço de nutrientes entre o alimento digerido

pelo organismo e os nutrientes necessários para sua manutenção, crescimento

e reprodução (Schindler & Eby, 1997; Elser et. al., 2006; Elser & Urabe, 1999;

Sterner & Elser, 2002; Hessen et al., 2013; Moody et al., 2015). A equação

abaixo resume o processo de excreção de um consumidor.

𝐸𝑥 = 𝐴 × [𝑥]𝐴 × 𝐸𝐴𝑥 − (𝐶 × [𝑥]𝑐)

Onde:

Ex é quantidade de um dado elemento x na excreção;

A é a quantidade de alimento ingerido;

[x]A é a concentração do elemento no alimento;

EAx é a eficiência de assimilação do elemento pelo consumidor

C é a massa do consumidor

[x]c é a concentração do elemento no corpo do consumidor

De uma perspectiva estequiométrica a razão de excreção, ou seja, a

proporção entre dois elementos x, y na excreção de um organismo

heterotrófico segue o mesmo princípio:

𝑆𝑥: 𝑦 =𝐴 × [𝑥]𝐴 × 𝐸𝐴𝑥 − (𝐶 × [𝑥]𝑐)

𝐴 × [𝑦]𝐴 × 𝐸𝐴𝑦 − (𝐶 × [𝑦]𝑐)

Portanto, o desbalanceamento nutricional entre a composição do alimento e

a composição do consumidor tende a gerar uma relação inversa entre a

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quantidade excretada de um dado elemento e a concentração deste elemento

no corpo do consumidor.

Nitrogênio e fósforo estão entre os seis elementos mais abundantes

envolvidos na construção e funcionamento dos vertebrados, atrás apenas de H,

O, C e Ca que é ligeiramente mais abundante que P (Sterner & Elser, 2002,

p.3). Contudo as proporções destes elementos diferem entre os órgãos e

tecidos. Nitrogênio toma parte na constituição de proteínas, ácidos nucléicos e

nucleotídeos. Tecido epitelial e muscular são particularmente ricos em N (10% -

16%) e pobres em P (menos de 2%). Cerca de 40% da massa corporal de um

vertebrado corresponde a músculo. Fósforo participa de processos de

transformação energética (ATP-ADP) e síntese proteica (RNA), além de ter

função estrutural na composição da membrana celular (na forma de

fosfolipídios) e tecido ósseo. Ossos são particularmente ricos em P (cerca

12%) e relativamente pobres em N (menos de 4%). O esqueleto corresponde

por 50% a 60% da massa corporal (Sterner & Elser, 2002 p. 170).

Em peixes, a massa seca do corpo contém de 8% a 13% de nitrogênio e de

1,5% a 4,5% de fósforo. Esta maior variação na quantidade de fósforo em

comparação a nitrogênio possivelmente reflete diferenças interespecíficas na

alocação de fósforo em estruturas ósseas (Sterner & Elser, 2002, p.171). Por

consequência dessa demanda diferenciada de P em relação a N para formação

de esqueleto, a razão N:P no corpo diminui à medida em que o animal aumenta

de tamanho (Elser et al., 1996, Pilati & Vanni, 2007), resultando em tendência

inversa na excreção; ou seja, a razão N:P excretada diminui com o aumento de

tamanho.

Hábito alimentar e a estequiometria da excreção

Conforme explicitado nos argumentos e nas equações acima a excreção

resulta do desbalanceamento entre o alimento e o requerimento do

consumidor, sendo que o alimento mais “equilibrado” para um consumidor seria

aquele com a estequiometria mais semelhante àquela sua; nesse sentido um

organismo com hábito canibal possuiria a dieta mais balanceada possível,

enquanto um animal herbívoro teria a dieta mais desequilibrada possível.

Portanto, o hábito alimentar é outra variável a ser considerada em estudos

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sobre a ciclagem de nutrientes mediada por consumidores (Elser & Urabe,

1999; Esterner & Elser, 2002, p. 181). Contudo, este aspecto não deverá ser

abordado nesta tese.

Ontogenia e estequiometria da excreção

A estequiometria dos organismos passa por mudanças vinculadas ao

seu desenvolvimento, portanto é de se esperar que a estequiometria da

excreção seja influenciada pelo crescimento dos organismos.

A partir de evidências para zooplâncton, insetos e bactérias, Sterner &

Elser (2002, p. 142) sugerem haver uma associação entre taxa alta de

crescimento com o aumento da concentração de P, causada pelo aumento na

quantidade de RNA (rico em fósforo) nas células, reduzindo a razão N:P no

corpo na fase inicial do crescimento. Esta hipótese é conhecida como Growth

Rate Hypothesis (GRH) (Elser et al., 2003), entretanto esta relação

(crescimento e estequiometria da excreção) ainda é escassamente

documentada, especialmente para peixes (Vanni & McIntyre, 2016).

Peixes Amazônicos como objetos de estudo da ciclagem de nutrientes mediada

por consumidores

Com cerca de 2.400 espécies descritas, a bacia Amazônica possui a fauna

de peixes mais rica do planeta (Reis et al., 2016). A riqueza de espécies é

refletida em uma ampla variedade de hábitos alimentares, incluindo desde

espécies generalistas, até as altamente especializadas, como por exemplo,

consumidores de sangue ou escamas. A variedade de tamanhos também é

alta, com espécies cujos adultos não ultrapassam poucos centímetros de

comprimento, enquanto outras podem alcançar mais de dois metros (Queiroz et

al., 2013).

As características tróficas dos ambientes aquáticos amazônicos são

influenciadas pela geologia e clima. Assim, os rios provenientes dos escudos

guianense e brasileiro drenam terrenos antigos e bastante lixiviados, resultando

em águas com baixa quantidade de eletrólitos e ácida, devido à alta carga de

ácidos húmicos e fúlvicos. Devido a coloração escura, estes rios são chamados

de “água preta” e suas planícies de inundação são denominadas “igapó”. Em

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contraste, rios que drenam a região andina e terrenos sedimentares são

relativamente mais ricos em nutrientes, com grande quantidade de sólidos em

suspensão e maior concentração de eletrólitos. A cor da água é barrenta

devido à alta carga de argila e silte em suspensão, por isso são chamados de

rios de “água branca” e suas planícies de inundação são chamadas de “várzea”

(Furch, 1984; Sioli, 1984, McClain & Naiman, 2008).

As condições limnológicas nos rios na Amazônia mudam ao longo do ano,

em função do pulso de inundação, em que o nível da água pode variar mais de

dez metros, com alterações cíclicas no aporte de nutrientes, no regime de luz,

na produção primária e na decomposição de matéria orgânica (Furch & Junk,

1997;Junk, 1984; Rai & Hill, 1984; Junk & Howard-Williams, 1984). Os peixes

são integrados nesta dinâmica transferindo os nutrientes entre a planície

inundada e o canal do rio. O entendimento dos fatores que afetam os

processos de troca de nutrientes entre organismos consumidores e o meio tem

aumentado nos últimos anos, mas os dados para a melhor formulação deste

processo são ainda escassos (Algeier et al., 2015; Moody et al., 2015).

O objetivo central desta tese foi entender (quali e quantitativamente) o

aporte de nitrogênio e fósforo de algumas das espécies de peixes da bacia

amazônica. Mais especificamente, este estudo buscou: a) identificar e

quantificar efeitos diretos e indiretos do tamanho do corpo nas taxas e razão de

excreção de N e P; b) avaliar o efeito do crescimento sobre a estequiometria do

corpo e sobre as taxas e razão de excreção de N e P. Para tal, partimos das as

seguintes premissas: 1) a estequiometria da excreção é inversamente

relacionada com a estequiometria do corpo; 2) a estequiometria do corpo varia

com o crescimento devido a alocação de P no RNA para a síntese proteica nos

estágios iniciais de desenvolvimento; 3) a estequiometria do corpo muda com o

aumento de tamanho devido a alocação de P nos ossos.

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2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. ÁREA DE ESTUDO

A coleta de dados foi realizada em um raio de 50 km da cidade de Manaus,

Amazonas, Brasil. Os locais amostrados foram as planícies alagadas do rio

Negro e Solimões. Respectivamente, o maior rio de água preta e o maior rio se

água branca da Amazônia. Coletas também foram feita nos rios Tarumã e

Ariaú, afluentes do rio Negro (Figura 1).

Figura 1. Área de estudo, assinalando os locais de realização dos experimentos.

Comparada com água do rio Negro, a água do Solimões contém dez

vezes mais cátions (Na + K + Mg + Ca) e quatro vezes mais fósforo (Furch,

1984). A transparência de Secchi nos rios de água branca é de no máximo 50

cm, enquanto na água preta a transparência pode chegar até mais de um

metro. A vegetação aquática nos ambientes de várzea (água branca) é de

plantas herbáceas e floresta inundada. A vegetação aquática herbácea nos

ambientes de água preta é menos abundante, em seu lugar predomina uma

vegetação arbustiva, juntamente com floresta de igapó.

O nível da água varia cerca de dez metros ao longo do ano. A estação

de subida das águas na região vai de novembro a maio, de junho a outubro o

nível do rio baixa. O pulso de inundação condiciona mudanças no regime de

nutrientes, luz, e ciclos de produção autotrófica, entre outros processos

ecológicos nas planícies de inundação dos rios Solimões e Negro (os livros

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editados em 1984 por Harald Sioli e por Wolfgang Junk, em 1997, fornecem

muita informação a esse respeito).

2.2. EXPERIMENTOS PARA MEDIÇÃO DA EXCREÇÃO

Os experimentos de medição de excreção consistiram em incubar de um

a cinco indivíduos de mesma espécie, por cerca de uma hora, em bolsas

plásticas contendo água mineral previamente aerada. Os experimentos foram

realizados in situ, com o propósito de manter as mesmas condições de

ambientais existentes onde o peixe foi coletado.

Os peixes usados nos experimentos foram capturados com rede-de-

cerco de tamanho de malha de cinco milímetros, medindo 15 metros de

comprimento por 3 metros de altura. Tarrafa e rede-de-mão (rapixé) foram

usadas em poucas ocasiões em locais onde não foi possível operar a rede-de-

cerco. Estes apetrechos de pesca foram escolhidos por causar menos danos

aos peixes. Imediatamente após a captura, os peixes foram enxaguados com

água mineral e transferidos para as bolsas de incubação contendo de meio litro

a três litros de água dependendo do tamanho dos indivíduos. Peixes não

incubados em até cinco minutos após o momento da captura foram liberados.

Bolsas plásticas contendo apenas água mineral e nenhum peixe foram usadas

como controle do experimento.

Ao final de cada experimento uma amostra da água do tratamento e uma

amostra do controle foram extraídas com seringas de 50 mL. A seguir, a água

era passada por um filtro de seringa de porosidade inferior a 0,8 µm, para

remover quaisquer partículas e foram recolhidas em frascos de plástico de 50

mL, que depois rotulados foram conservados em gelo. Os peixes usados nos

experimentos foram eutanasiados com gelo e em seguida conservados em

gelo. Foram registrados o tempo de duração de cada experimento e a

temperatura da água no local a 20 cm de profundidade.

Ao fim de cada dia de coleta as amostras de água foram congeladas em

freezer e os peixes usados nos experimentos foram trazidos para laboratório,

onde foram identificados ao mais baixo nível taxonômico possível e postos a

secar em estufa até atingirem peso constante. Após secagem, os peixes foram

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macerados manualmente usando graal e pistilo, até resultar em um pó

homogêneo, e em seguida foram armazenados em frascos de vidro e

congelados. Peixes maiores foram triturados usando multiprocessador de

alimentos antes de serem macerados manualmente. Foram registrados o peso

fresco e peso seco dos indivíduos usados nos experimentos. Em casos em que

não foi possível homogeneizar totalmente o peixe durante a trituração, devido a

presença fragmentos de pele e/ou escamas grossas, as frações foram

guardadas em frascos separados. O armazenamento, secagem e pulverização

das amostras foram feitos no Laboratório de Tecnologia do Pescado da

Universidade Federal do Amazonas.

2.3. ANÁLISES PARA DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO E FÓSFORO

EXCRETADOS

2.3.1. DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO EXCRETADO

As amostras congeladas de água foram trazidas para o Laboratório de

Limnologia, no Departamento de Oceanografia e Limnologia (DOL) da UFRN.

Depois de descongeladas e atingirem a temperatura ambiente, alíquotas de 15

mL de cada amostra foram depositadas em frascos de vidro, previamente

lavados em ácido clorídrico a 10%, que depois terem sido enxaguados três

vezes com água miliQ, foram muflados a 450 ̊C por duas horas. Os frascos

contendo as amostras eram imediatamente fechados com parafilme e levados

a um analisador de elementos (modelo TOC-V CPH/CPN, SHIMADZU

CORPORATION, Kyoto, Japão Versão 2.10. O qual daqui pra frente será

chamado de TOC).

A medição de nitrogênio total do TOC é feita por quimiluminescência após

combustão. A amostra é queimada a 720 ̊C, nestas condições o nitrogênio na

amostra se converte em óxido nitroso (N2O), que é transportado em uma

coluna de gás (Ar Sintético 5.0 FID) até o sensor de quimiluminescência. O

sinal de detecção gera um pico cuja área é convertida em concentração de

nitrogênio, por meio de um software próprio do equipamento.

Em cada bateria de análise foram incluídos dois frascos contendo água

miliQ, que serviram como “brancos”, sendo que a média da concentração dos

brancos foi subtraída das leituras dos tratamentos e controles analisados.

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10

A quantidade de nitrogênio excretado foi calculada como sendo a diferença

da concentração do elemento entre o tratamento (bolsa contendo peixe) e o

controle (bolsa contendo apenas água), multiplicado pelo volume de água

usado na incubação, conforme a equação a seguir:

Nexc = ([Nt] − [Nc]) ∗ Vinc equação 1

onde:

Nexc: quantidade de N excretado pelo peixe em mg;

[Nt]: concentração de N no tratamento em mg.L-1;

[Nc]: concentração de N no controle em mg.L-1;

Vinc: volume de água usado na incubação em Litros

A taxa de excreção individual (TEI) foi calculada dividindo Nexc pelo

tempo de incubação em horas:

TEI =Nexc

t∗n equação 2

onde:

TEI: taxa de excreção em mg.h-1

Nexc: quantidade de N excretado em mg;

t: tempo de incubação em horas;

n: número de indivíduos incubados

A taxa de excreção específica (TEE) de nitrogênio foi calculada como segue:

TEE = (Nexc

m∗t) /n equação 3

onde:

TEE: taxa de excreção em mg.g-1.h-1;

Nexc: quantidade de N excretado em mg;

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11

m: soma da massa seca dos indivíduos incubados em g;

t: tempo de incubação em horas;

n: número de indivíduos incubados

2.3.1.1. CALIBRAÇÃO DO TOC

O TOC, foi calibrado usando solução padrão de Nitrato de Sódio (NaNO3)

com concentração de 1g.L-1, que produziu uma curva de calibração com

valores entre 0,02 a 1 mg.L-1, por meio de uma rotina automática de diluições

da solução padrão, programada no aparelho. O processo de calibração do TOC

foi repetido cada vez que se fez troca de gases, de reagentes, ou quando

alguma manutenção foi realizada.

2.3.2. DETERMINAÇÃO DE FÓSFORO EXCRETADO

Foram utilizados frascos plásticos, tipo Falcon, previamente lavados em

ácido clorídrico a 10%, que depois terem sido enxaguados três vezes com

água miliQ, foram enxaguados com cerca de 5 mL da própria amostra. Dez mL

de amostra foram transferidos para cada frasco, usando um pipetador

automático. Em cada bateria de análise, foram incluídos dois frascos contendo

10 mL de água miliQ para servir como branco. Em seguida, em cada frasco,

foram adicionados 2 mL de reagente corante combinado, que é elaborado pela

mistura de 50 mL de Ácido Sulfúrico (H2SO4) 5N, 5 mL de Antimônio Tartarato

de Potássio (K2(C4H2O6Sb)2.3H2O), 15 mL de Molibdato de Amônio

((NH4)6Mo7O24.4H2O) e Ácido Ascórbico (C6H8O6) 0,1M.

O princípio de medição de fósforo consiste em que, no meio ácido, os íons

ortofosfato (PO4-3) combinam com o Molibdato de Amônio, resultando em Ácido

Fosfomonobílico (H3PMo12O40). A reação desenvolve coloração azul, cuja

intensidade e diretamente proporcional à quantidade de fósforo incorporado.

Após cerca de 10 minutos dessa mistura, a reação de cor se completa e as

amostras foram levadas ao espectrofotômetro (Bioespectro, modelo SP 220)

para medir a absorbância na faixa de 885 ɳm. Para cada amostra foram

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12

efetuadas três medidas de absorbância. Entre uma leitura e outra, a cubeta era

lavada três vezes com água miliQ. A média das absorbâncias lidas, subtraída

da média das absorbâncias dos brancos, foi atribuída para cada amostra.

Os valores de absorbância foram convertidos em valores de concentração

(mg.L-1) de fósforo:

𝑋 =𝑌−𝑎

𝑏 equação 4

Onde:

X: concentração de fósforo em (mg.L-1);

Y: absorbância da amostra

a: coeficiente linear (intercepto) da regressão linear entre X e Y

b: coeficiente angular (inclinação) da regressão linear entre X e Y

Os valores dos parâmetros a e b foram obtidos seguindo os passos

descritos na seção 2.4.2.1 abaixo.

A quantidade de fósforo excretado, bem como as taxas de excreção (TEI e

TEE) foram determinadas da mesma maneira descrita para o nitrogênio,

usando as equações 1, 2 e 3, respectivamente.

2.3.2.1. CALIBRAÇÃO DO ESPECTROFOTÔMETRO

Uma solução padrão de Fosfato de Potássio (KH2PO4) contendo 2,5 mg de

P.L-1 foi diluída a fim de obter soluções com concentrações de fósforo de: 0,05;

0,25; 0,50; 0,75; 0,10 (mg.L-1). Depois, foi medida a absorbância na faixa de

885 ɳm de cada uma das soluções e em seguida foram calculados os

parâmetros da equação 4, bem como o coeficiente de determinação da reta de

regressão (R2), sendo considerados satisfatórios valores de R2 maiores que

0,98.

Este processo de calibração foi repetido cada vez que houve troca de

reagentes ou alguma manutenção foi realizada no equipamento.

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13

2.3.3. DETERMINAÇÃO DE NITROGÊNIO E FÓSFORO NA MASSA

CORPORAL DOS PEIXES

As análises de nitrogênio e fósforo na massa corporal dos peixes seguiram

os mesmos princípios e métodos de medição usados nas análises de água

(seção 2.3.1 e seção 2.3.2), sendo que foram precedidas por uma reação de

digestão, na qual o N e P existentes na massa do peixe são convertidos em

nitritos, nitratos e fosfatos.

2.3.3.1. DIGESTÃO DAS AMOSTRAS

Uma alíquota de cerca de 20 mg de amostra foi dissolvida em 30 mL de

MiliQ em frascos autoclaváveis de vidro borosilicato com tampa rosqueada. Em

seguida foram adicionados 8 mL de solução digestora de Persulfato de

Potássio (K2S2O8) 5%. Os frascos foram fechados, porém as tampas

rosqueadas não foram apertadas até o máximo, para que os frascos não

criassem vácuo, o que impediria a reabertura depois. As amostras foram

autoclavadas por duas horas em pressão de 1,2 a 1,4 Kgf.cm-2. Em cada

bateria de autoclavagem foram incluídos dois frascos contendo apenas as

mesmas quantidades de água MiliQ e de Persulfato de Potássio usadas na

digestão das amostras, para servirem como “branco”.

Ao saírem da autoclave, as amostras e “brancos” foram deixadas para

atingirem a temperatura ambiente. Usando um micropipetador transferia-se dali

15 mL de solução da amostra digerida para frascos de vidro previamente

limpos, que depois de tampados com parafilme, foram levados para análise de

nitrogênio total no TOC.

Para análise de fósforo, foram usados frascos tipo Falcon previamente

limpos e enxaguados com a própria amostra, onde foram colocados cinco mL

da solução de amostra digerida mais um mL de reagente corante combinado.

Por causa da massa corporal dos peixes conter tipmuito fósforo, após a reação

de cor se completar, as amostras foram diluídas com adição de 30 mL de água

miliQ, com a finalidade de reduzir a intensidade de azul, fazendo que as

medidas caíssem dentro dos limites de detecção do espectrofotômetro. As

concentrações obtidas foram corrigidas para compensar o efeito da diluição.

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14

2.3.3.2. CÁLCULO DAS CONCENTRAÇÕES DE NITROGÊNIO E

FÓSFORO NA MASSA CORPORAL DOS PEIXES

O cálculo da quantidade de nutriente na massa corporal do peixe (X) é feito

pela razão entre a concentração da massa de amostra diluída [M] e a

concentração de nutriente [x] lida na amostra multiplicada por (m):

𝑋 = {[𝑥]

[𝑀]} ∗ 𝑚 equação 6

2.3.4. COMPILAÇÃO DE INFORMAÇÕES SECUNDÁRIAS

A base de dados Fishbase (www.fishbase.org) foi usada como fonte de

informações para: 1- classificar as espécies amostradas quanto ao hábito

alimentar em três categorias tróficas (onívoro, carnívoro, detritívoro); 2- calcular

um proxy da taxa de crescimento dos indivíduos amostrados, que foi feito da

seguinte forma: a partir dos valores de comprimento máximo e os parâmetros

da relação peso comprimento das espécies amostradas, foi calculada a massa

fresca correspondente ao tamanho máximo da espécie. Em seguida os valores

de massa fresca dos indivíduos amostrados foram transformados em valores

percentuais relativos ao tamanho máximo da espécie e então transformados

em logarítmos decimais para resultar em uma curva assintótica.

2.4. ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Basicamente foram usados modelos gerais lineares e modelos de equações

estruturais. As variáveis resposta foram as taxas e razões de excreção, como

variáveis preditoras foram usadas a massa corporal (peso seco), as

concentrações de N e P no corpo em porcentagem da massa seca e a razão

N:P molar do corpo. Antes das análises foram excluídos dados de

experimentos de excreção que deram resultados negativos (casos em que os

peixes aparentemente absorveram nutrientes da água). Quando aconteceu de

mais de um experimento ter sido realizado com uma mesma espécie em um

mesmo dia e local de coleta foi calculada uma média da excreção por espécie.

Os dados usados nas análises foram transformados em logarítmos decimais

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15

para homogeneizar as variâncias e em seguida padronizamos os dados para

unidades de desvio padrão.

Para quantificar os efeitos do tamanho do corpo na excreção usamos

modelos de equações estruturadas (SEM). Estes permitem explorar hipóteses

sobre a estrutura causal entre variáveis de um sistema. A estrutura causal do

sistema (hipótese) é representada num diagrama de setas ou caminhos

(paths). O diagrama é traduzido em um conjunto de equações lineares

(modelos componentes), que são avaliadas individualmente. Uma vantagem

destes modelos é permitir que uma mesma variável apareça como preditora de

uma relação e como variável resposta em outra relação do mesmo modelo,

permitindo o teste e a quantificação de efeitos indiretos (Lefcheck, 2016).

O ajuste dos parâmetros das equações lineares é feito encontrando os

valores que melhor reproduzem a covariância observada. A adequação do

modelo global (global goodness-of-fit) aos dados observados é avaliada por

meio de um teste Qui-quadrado para comparar a matriz de covariância

estimada com a observada (Grace, 2006). As relações de causa e efeito

(hipóteses) são consideradas consistentes quando é alta a probabilidade da

somatória das significâncias dos modelos individuais, representada pela

estatística C de Fisher, acontecer por acaso (Lefcheck, 2016), ou seja, o

modelo causal é rejeitado se o valor de C é menor que o nível de significância

escolhido (Shipley, 2009). Para estas análises foi usado o pacote

PIECEWISESEM do R (https:// github.com/jslefche/piecewiseSEM).

Para investigar o efeito do crescimento sobre a estequiometria do corpo

e da excreção foram usados modelos de regressão múltipla considerando

como variáveis preditoras das taxas de excreção de N, P e razão N:P

excretada: 1) a massa corporal; 2) a razão N:P do corpo; 3) o proxy de taxa de

crescimento. Usamos o Fator de Inflação da Variância (VIF) para inspecionar o

grau de autocorrelação entre as variáveis preditoras (Dormann et al., 2013).

Avaliação das premissas dos modelos de regressão: linearidade,

normalidade e efeito de pontos extremos foi feita por inspeção visual (ANEXO

2). Para verificar efeito isolado do crescimento na excreção descontando os

efeitos do tamanho e estequiometria do corpo, usamos um exame das parciais

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do modelo de regressão. Os gráficos das parciais mantêm constantes (no valor

da mediana) as demais variáveis preditoras para tentar revelar o efeito de uma

variável preditora isoladamente. Para estas análises foram utilizados os

pacotes ppcor e car do programa R.

Três modelos foram ajustados: 1) com o conjunto de dados completos,

2) com os dados de peixes abaixo de 10% do tamanho máximo, aqui

considerados juvenis; 3) com os dados de peixes acima de 10% do tamanho

máximo, denominados aqui não-juvenis. A ideia foi examinar separadamente a

fase inicial do crescimento, que é onde esperamos ter efeito mais forte da taxa

de crescimento na estequiometria da excreção. O limite de 10% do tamanho

total para separar os dados foi estabelecido por duas razões, uma é biológica,

a outra é estatística: 1) por não termos conhecimento prévio sobre em que

tamanho as espécies saem da fase juvenil, consideramos seguro estabelecer

este limiar de 10% como garantia que todas as espécies abaixo deste tamanho

não são adultos; 2) esta partição dos dados fornece dois subconjuntos com o

mesmo número de réplicas.

3. RESULTADOS

3.1. Efeitos diretos e indiretos do tamanho do corpo na excreção de

nitrogênio e fósforo por peixes amazônicos

. Foram usados dados de 101 experimentos de incubação realizados com

indivíduos de 46 espécies, com tamanhos entre 2,4 miligramas e 108 gramas

de massa seca (Tabela 1). A massa corporal explicou mais de 70% da

variância observada nas taxas de excreção de N e P (p< 0,003; Figs. 1A, 1B) e

cerca de 30% da variação na razão N:P excretada (Fig. 1C), que foi

positivamente relacionada com o tamanho do corpo. Os efeitos diretos do

tamanho do corpo nas taxas de excreção de N e P foram negativos, padrão

que é esperado pela TEM. A variação do tamanho, por outro lado, também

afetou significativamente (p<0,001) a estequiometria do corpo, explicando entre

12% e 17% da variação das concentrações de nitrogênio e fósforo.

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Tabela 1 – Espécies amostradas, número de experimentos e amplitudes de tamanho de corpo por espécie.

Espécie n. experimentos

massa seca (g)

Mín. Máx.

Acarichthys heckelli 10 0,540 13,610

Acaronia nassa 3 0,036 2,766

Aequidens palidus 2 0,080 0,250

Apistograma gephyra 1 0,190

Apistograma sp 1 0,120

Brycon cf. pesu 6 0,091 4,590

Bryconops caudomaculatus 3 0,642 2,463

Chalceus erythrurus 2 8,800 9,600

Cichla ocelaris 1 1,200

Cichlassoma amazonarum 1 0,290

Copela nattereri 1 0,068

Copela sp 1 0,119

Ctenobrycon hauxwellianus 1 0,670

Ctenobrycon spilurus 3 0,062 0,185

Curimatopsis cripticus 1 0,946

Fluviphylax sp 2 0,002 0,007

Geophagus altifrons 5 2,060 18,119

Hemigrammus analis 3 0,159 0,220

Hemigrammus diagonicus 1 0,108

Hemigrammus levis 4 0,032 0,093

Hemiodus atranalis 2 1,490 2,550

Hemiodus goeldii 1 5,220

Hemiodus immaculatus 1 1,910

Hemiodus microlepis 1 4,770

Heros severus 1 6,520

Hoplias malabaricus 5 0,290 108,500

Leporinus fasciatus 1 0,888

Leporinus friderici 1 82,880

Loricariichthys acutus 2 4,030 5,990

Mesonauta festiva 1 2,045

Mesonauta insignis 1 0,221

Moenkhausia intermedia 1 1,390

Moenkhausia lepidura 1 0,330

Mylossoma aureum 1 13,310

Mylossoma sp 1 0,103

Nemadoras elongatus 2 1,480 2,270

Odontostilbe fugitiva 1 0,015

Pseudoplatystoma punctifer 1 16,020

Pterophylum scalarium 4 3,880 6,550

Raphiodon vulpinus 1 12,670

Rivulus sp 1 0,218

Satanoperca acutisseps 1 9,180

Satanoperca jurupari 1 5,720

Semaprochilodus insignis 1 11,470

Sturisoma lyra 1 4,590

Sturisoma sp 1 2,200

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Figura 1- Modelos de equações estruturais explorando as relações entre o tamanho e estequiometria do corpo com a excreção de: (A) nitrogênio N, (B) de fósforo P, (C) razão N:P na excreção. Setas representam relações unidirecionais entre as variáveis. A largura das setas foi baseada na magnitude do efeito das variáveis preditoras sobre as variáveis respostas (coeficientes das regressões são apresentados nas caixas de texto sobre as setas). Os R

2 de

cada modelo componente são mostrados ao lado da ponta de cada seta. Todos os coeficientes foram significativos (p<0,001) exceto quando assinalados com “ns”.

Estes resultados evidenciam que o tamanho do corpo afetou diretamente

a excreção e a estequiometria do corpo. A magnitude do efeito do tamanho foi

maior sobre a excreção de N e P do que para a razão N:P. A razão N:P, em

contraste, foi mais influenciada pela estequiometria do corpo, particularmente

em função da variação na concentração de fósforo, como será visto a seguir.

Analisando os efeitos diretos da estequiometria do corpo nas taxas e

razão de excreção, encontramos que a concentração de fósforo no corpo

explicou 38% da variação na taxa de excreção deste nutriente (Fig. 1B). Por

outro lado, a excreção de N não foi afetada pela concentração de N no corpo

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(Fig. 1A). Os coeficientes dos modelos componentes (valores associados às

setas) mostraram que a variação de fósforo no corpo foi mais determinante da

razão N:P excretada do que a massa corporal (Fig. 1C).

Em síntese, os resultados dos modelos componentes apontam que a

excreção de N é regulada pelo tamanho corporal em si, ao passo que a

excreção de P e a razão N:P excretada são reguladas ao mesmo tempo pelo

tamanho e pela estequiometria do corpo. Os coeficientes dos modelos

componentes podem ser multiplicados para fornecer uma medida do efeito

indireto do tamanho na excreção via estequiometria do corpo. Por exemplo, o

coeficiente linear do efeito indireto do tamanho do corpo na taxa de excreção

de P (Fig. 1B) é –0,25 (-0,62 * 0,41). De igual forma, o efeito indireto do

tamanho na excreção de N:P é 0,23 (-0,38 * -0,62). Este resultado mostra que

a magnitude de efeito total do tamanho do corpo (integrando efeitos diretos e

indiretos) é aumentada em 25% na excreção de P e 74% na razão N:P do que

se apenas o efeito direto do tamanho do corpo é levado em consideração.

Apesar de os modelos componentes terem explicado razoavelmente a

variação observada entre as variáveis, os modelos propostos na hipótese

foram rejeitados (os valores da estatística C de Fisher foram 124, 100 e 18,6

para os modelos de excreção de N, P e razão N:P, respectivamente, em todos

os modelos os valores de p foram menores que 0,005).

3.2. Ontogenia e estequiometria da excreção em peixes

Foram usados dados de 47 experimentos de incubação realizados com

indivíduos de 26 espécies de peixes nativos da bacia amazônica, com

tamanhos entre 0,10 a 408 gramas de massa fresca (Tab. 2). Os modelos

ajustados explicaram entre 56% e 64% da variância na taxa de excreção de N

(Tab. 3), cerca de 70% da variância na taxa de excreção de P (Tab. 4), e entre

34% e 49% da razão N:P excretada (Tab. 5).

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Tabela 2- Espécies usadas na análise. Dados de peso máximo das espécies foram compilados de www.fishbase.org. * tamanho máximo foi emprestado de C. epakros

Espécie peso do peixe amostrado

(g massa fresca)

peso máximo da espécie

(g massa fresca)

Aequidens palidus 1,29 457,6

Aequidens palidus 0,37 457,6

Bryconops caudomaculatus 7,57 35,6

Bryconops caudomaculatus 10,14 35,6

Bryconops caudomaculatus 7,48 35,6

Bryconops caudomaculatus 3,19 35,6

Bryconops caudomaculatus 2,63 35,6

Bryconops giacopinni 19,35 47,3

Chalceus erythrurus * 30,39 243,0

Chalceus erythrurus * 33,15 243,0

Cichla ocelaris 6,00 4.935,7

Ctenobrycon hauxwellianus 2,47 17,7

Geophagus altifrons 86,03 316,0

Geophagus altifrons 27,08 316,0

Geophagus altifrons 47,26 316,0

Geophagus altifrons 55,06 316,0

Geophagus altifrons 10,17 316,0

Hemiodus immaculatus 70,68 245,9

Hemiodus immaculatus 9,12 245,9

Hemiodus microlepis 21,10 277,0

Heros severus 27,61 385,4

Hoplias malabaricus 13,15 3104,5

Hoplias malabaricus 110,60 3104,5

Hoplias malabaricus 408,87 3.104,5

Hoplias malabaricus 1,50 3.104,5

Hoplias malabaricus 2,31 3.104,5

Hoplias malabaricus 84,84 3.104,5

Leporinus friderici 276,71 1.709,5

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O proxy de crescimento foi significativo apenas para a razão N:P

excretada no modelo ajustado com os dados de peixes juvenis (menores que

10% do tamanho máximo), mas não para peixes maiores que 10% do tamanho

máximo (Tab. 5). O efeito do proxy de crescimento teve a mesma magnitude de

efeito da estequiometria do corpo.

Tab. 2 cont.

Espécie

peso do peixe amostrado

(g massa fresca)

peso máximo da espécie

(g massa fresca)

Mesonauta festiva 8,29 101,3

Moenkhausia lepidura 1,33 11,3

Moenkhausia lepidura 1,26 11,3

Mylossoma aureum 61,89 212,6

Mylossoma duriventre 3,18 667,1

Mylossoma sp 0,60 667,1

Odontostilbe fugitiva 0,10 0,8

Pterophylum scalarium 26,17 21,4

Pterophylum scalarium 16,25 21,4

Pterophylum scalarium 22,56 21,4

Raphiodon vulpinus 55,97 3.756,9

Rhytiodus argenteofucus 70,54 466,2

Satanoperca jurupari 24,30 225,0

Schizodon fasciatus 30,39 724,9

Schizodon fasciatus 16,70 724,9

Schizodon fasciatus 10,75 724,9

Semaprochilodus insignis 47,39 631,0

Triportheus albus 15,32 225,1

Triportheus angulatus 11,23 253,2

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Tabela 3. Parâmetros e estatísticas dos modelos de regressão para N excretado. Dados de

entrada nos modelos foram transformados em logaritmos decimais e expressos em unidades

de desvio padrão (*** p<<0,001; ** p < 0,001; * p ≤ 0,05, n.s = p > 0,05)

Tabela 4. Parâmetros e estatísticas dos modelos de regressão para P excretado. Dados de

entrada nos modelos foram transformados em logaritmos decimais e expressos em unidades

de desvio padrão (*** p<<0,001; ** p < 0,001; * p ≤ 0,05, n.s = p > 0,05)

N excretado Todos os tamanhos

Juvenis

massa fresca <10% do

peso máximo

Não juvenis

massa fresca > 10% do

peso máximo

coef.pad. IC 95% coef.pad IC 95% coef.pad IC 95%

Intercepto -8,53e-12

-0,18 0,18 -7,98e-11

-0,29 0,29 -4,17 e-11

-0,28 0,28

crescimento -0,15 -0,37 0,07 -0,24 -0,66 0,18 0,08 -0,24 0,41

massa seca -0,72*** -0,94 -0,50 -0,58** -1,00 -0,16 -0,84*** -1,14 -0,53

N corpo 0,07 -0,12 0,26 0,06 -0,25 0,38 0,14 -0,18 0,46

R2 ajustado 0,64 0,56 0,61

F 26,38 10,02 11,36

g.l. 39 19 17

P 1,7e-9

0,0004 0,0002

P excretado Todos os tamanhos

Juvenis

massa fresca <10% do

peso máximo

Não juvenis

massa fresca > 10% do

peso máximo

coef.pad IC 95% coef.pad IC 95% coef.pad IC 95%

Intercepto -1,84e-11

-0,16 0,16 -1,38e-10

-0,25 0,25 -8,52e-11

-0,25 0,25

crescimento 0,04 -0,15 0,23 0,18 -0,19 0,55 0,09 -0,18 0,35

massa seca -0,76*** -0,95 -0,56 -0,81*** -1,10 -040 -0,76*** -1,04 -0,47

P corpo -0,25** -0,43 -0,08 -0,33 -0,62 -0,04 -0,21 -0,50 0,07

R2 ajustado 0,71 0,69 0,69

F 36,42 16,52 15,81

g.l. 39 18 17

P 2,2e-11

2,08e-5

3,62e-5

Page 30: Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da ......Lima, Álvaro Carvalho de. Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria

23

Tabela 5. Parâmetros e estatísticas dos modelos de regressão para razão N:P excretada.

Dados de entrada nos modelos foram transformados em logaritmos decimais e expressos em

unidades de desvio padrão (*** p<<0,001; ** p < 0,001; * p ≤ 0,05, n.s = p > 0,05)

A dispersão dos resíduos dos modelos (Figs. 2, 3 e 4) mostra que a

variância dos dados não é sempre homogênea. Esta heterogeneidade foi

causada por outliers no conjunto total dos indivíduos (Fig.2), com maior

variância nos tamanhos menores no caso do modelo com indivíduos menores

que 10% (Fig.3) e maior variância nos tamanhos maiores no caso do modelo

com indivíduos maiores que 10% (Fig.4). A exclusão dos outliers não modificou

as tendências observadas, e melhorou pouco o ajuste dos modelos (resultados

não mostrados aqui), por isto optamos por manter os outliers nas análises e

mostrar a variabilidade dos dados. Autocorrelação entre as variáveis preditoras

foi baixa (VIF < 1,5 para todos os pares de variáveis), indicando que a falta de

independência não violou fatalmente as premissas de abordagem por modelos

lineares.

O coeficiente para o proxy de crescimento nos peixes juvenis (menores

que 10% do tamanho máximo) teve magnitude semelhante ao efeito da massa

corporal, mostrando que a razão N:P excretada é influenciada pelo estágio de

N:P

excretado

Todos os tamanhos

Tab 5

Juvenis

massa fresca <10% do

peso máximo

Não juvenis

massa fresca > 10% do

peso máximo

coef.pad. IC 95% coef.pad IC 95% coef.pad IC 95%

Intercepto 1,18e-10

-0,24 0,24 -6,99e-12

-0,36 0,36 1,00 e-10

-0,33 0,33

crescimento -0,35* -0,63 -0,05 -0,63* -1,20 -0,05 -0,21 -0,54 0,13

massa seca 0,38* 0,08 0,66 0,47 -0,05 0,99 0,38* 0,02 0,73

N:P corpo -0,53*** -0,80 -0,26 -0,65* -1,14 -0,16 -0,55** -0,90 -0,20

R2 ajustado 0,39 0,34 0,49

F 10,01 4,56 7,39

g.l. 39 18 17

P 5,05e-5

0,015 0,002

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24

crescimento em igual medida da influência da mudança de massa. O sinal

negativo do proxy de crescimento (Tab. 5) indica que a razão N:P excretada

aumenta quanto mais distante do limiar de 10% do tamanho máximo.

Assumindo que a taxa de crescimento é inversamente relacionada ao tamanho,

quanto maior a taxa esperada de crescimento maior foi a razão N:P excretada.

A razão N:P na excreção foi influenciada negativamente pela razão N:P

no corpo dos peixes (Tab 5). Mudanças na estequiometria do corpo em função

da taxa de crescimento são previstas de acordo com a teoria estequiométrica.

Para investigar isso, nós modelamos a razão N:P do corpo em função da

massa corporal e do proxy de crescimento. O resultado mostrou que razão N:P

no corpo foi afetada negativamente pelo proxy de crescimento nos peixes

juvenis (menores que 10% do tamanho máximo) corroborando um efeito

indireto do crescimento na excreção através da estequiometria do corpo. Em

peixes maiores (acima de 10% do tamanho máximo da espécie) a razão N:P no

corpo não sofreu influência significativa do proxy de crescimento (Tab. 6, Fig.

5). Interessante mencionar que os interceptos dos modelos ajustados com os

dados log-transformados forneceram valores de (1,2 e 1,9) substituindo estes

valores no expoente da base decimal encontramos valores próximos da razão

N:P de Redfield (Tab. 6).

Page 32: Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da ......Lima, Álvaro Carvalho de. Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria

25

Figura 2. Resíduos e parciais do modelo linear da razão N:P excretada (logNPE) em função da

massa seca do corpo (logMS), proxy de crescimento (logW) e N:P corpo (logNPB) ajustado

com todo o conjunto de dados (todos os tamanhos).

Figura 3. Resíduos e parciais do modelo linear da razão N:P excretada (logNPE) em função da

massa seca do corpo (logMS), proxy de crescimento (logW) e N:P corpo (logNPB) ajustado

para peixes menores que 10% do tamanho máximo da espécie.

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26

Figura 4. Resíduos e parciais do modelo linear da razão N:P excretada (logNPE) em função da

massa seca do corpo (logMS), proxy de crescimento (logW) e N:P corpo (logNPB) ajustado

para peixes maiores que 10% do tamanho máximo da espécie.

Tabela 6. Parâmetros e estatísticas dos modelos de regressão de N:P no corpo (*** p<<0,001;

** p < 0,001; * p ≤ 0,05, n.s = p > 0,05).

N:P corpo

Juvenis

(abaixo que 10% do

peso máximo)

Não juvenis

(acima de 10% do

peso máximo)

coef. IC 95% coef. IC 95%

Intercepto 1,21 *** 1,14 1,28 1,19 *** 0,84 1,55

Crescimento -0,12 * -0,24 -0,005 -0,005 ns

- 0,26 0,25

massa seca -0,04 ns

-0,18 0,09 -0,05 ns

-0,14 0,04

R2 ajustado 0,36 0,03

F 7,00 0,657

g.l. 19 18

P 0,005 0,530

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Figura 5. Resíduos e parciais dos modelos de regressão da razão N:P no corpo (logNPB) em

função do proxy de crescimento (logW) e da massa corporal (logMS). (A, B, C) para peixes

juvenis (abaixo de 10% do tamanho máximo da espécie) e (D, E, F) para peixes não juvenis

(acima de 10% do tamanho máximo da espécie).

4. DISCUSSÃO

Para as 46 espécies de peixes amazônicos aqui analisadas, o tamanho

do corpo foi o fator que mais influenciou as taxas de excreção do corpo, além

disso, afetou a excreção de P e N:P indiretamente via estequiometria do corpo.

Isto está de acordo com as teorias do metabolismo e da estequiometria.

Considerando as relações de causa e efeito estabelecidas na hipótese, o

tamanho afeta mais a excreção de N e P do que as concentrações destes

elementos no corpo. Em contraste, a razão N:P na excreção foi afetada

diretamente pelo tamanho, mas principalmente pelo conteúdo de P no corpo. É

importante ressaltar que os modelos de equações estruturais permitiram

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28

identificar a magnificação do efeito do tamanho do corpo na excreção em

função de seus efeitos indiretos na estequiometria do corpo.

Até o quanto sabemos, existem pouquíssimos estudos sobre ciclagem

de nutrientes mediada por peixes de água doce nos neotrópicos, exceções

seriam Vanni et al. (2002) e McIntyre et al. (2008) que estudaram peixes de um

riacho de quarta-ordem. Em comparação, nossos dados provêm de um sistema

de planícies de inundação de dois rios de grande escala. Destaca-se que a

base de dados usada incluiu indivíduos de pequenos tamanhos (2,4 mg a

108,5 g de massa seca), de diferentes espécies, com adultos de espécies

pequenas e juvenis de espécies grandes, e mesmo assim o padrão se manteve

e nossos resultados parecem confirmar a Teoria Metabólica da Ecologia (TME)

em relação à alometria do metabolismo.

Estudos sobre ciclagem de nutrientes mediada por consumidores

aquáticos atestam o tamanho corporal como fator preponderante na excreção

(Algeier et al., 2015; Vanni & McIntyre, 2016). Nossos resultados avançam

além disso, mostrando que a excreção sofre efeitos indiretos do tamanho via

estequiometria do corpo. A teoria em Estequiometria Ecológica (EE) prevê que

o aumento do tamanho provocaria uma diminuição de N:P no corpo de

vertebrados, por causa do aprisionamento de fósforo em estruturas ósseas e

escamas. Em consequência, seria esperado um aumento da razão N:P

excretada (Elser et al., 1996; Sterner & Elser, 2002). Nossos resultados

aparentemente corroboram estas previsões.

Comparando nossas análises com outros trabalhos abordando efeitos da

estequiometria do corpo na excreção notamos algumas conclusões diferentes.

Vanni e McIntyre (2016) e Algeier et al. (2015), por exemplo, encontraram um

fraco efeito da razão N:P do corpo sobre a razão N:P excretada, bem como que

a concentração de N no corpo pouco explica a excreção do próprio N. Em

contraste, nossos resultados não revelaram efeito semelhante para a excreção

de N, mas por outro lado mostraram que o conteúdo de P no corpo explicou a

excreção de P e N:P (Vanni et al,. 2002).

Uma limitação de nossos resultados é a falta de informação sobre a

composição estequiométrica do alimento consumido pelos peixes usados em

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29

nossos experimentos. Porém, é importante observar que a análise de conteúdo

do trato digestório de peixes muito pequenos como os aqui usados, é

trabalhosa e pode ser inútil na medida que o alimento ingerido não é

necessariamente digerido, podendo não se refletir na excreção (Vanni &

McIntyre, 2016). Outro efeito de confusão é que os peixes podem passar por

mudanças na dieta, causadas por ontogenia (Pilati & Vanni, 2007; Boros, Sály

& Vanni, 2015) mas, especialmente em nosso caso, por variações sazonais na

disponibilidade de alimento (Mortillaro et al., 2015). Considerando estas

limitações, o modelo mínimo proposto por Sterner & Elser (2002), parece ser

uma alternativa útil para analisar a excreção mediada por peixes. No entanto,

há evidência de que a incorporação de informação da dieta e qualidade do

alimento incremente o poder de explicação dos modelos de excreção baseados

em EE (Algeier et al., 2015; Vanni & McIntyre, 2016). Assim, ressaltamos este

ponto como um novo passo que pode ser dado nos estudos futuros para

espécies de peixes amazônicas.

De fato, como vimos nos resultados, modelo global foi rejeitado

indicando que é bastante provável que outras variáveis preditoras não incluídas

no modelo devem ser consideradas (temperatura, dieta, guilda trófica,

ontogenia, eficiência de assimilação, etc.). Neste trabalho mostramos a

utilidade de modelos de equações estruturais permitindo desmembrar efeitos

diretos e indiretos da TEM e EE nos processos de ciclagem de nutrientes por

consumidores, assim permitindo ampliar o conhecimento deste processo.

Nossos resultados mostraram que a razão N:P excretada foi influenciada

mais fortemente e negativamente pela estequiometria do corpo mas também

influenciada (positivamente) pela massa corporal. De acordo com a teoria

estequiométrica, a excreção de N:P aumenta com a massa corporal por que os

peixes maiores retêm proporcionalmente mais P, provocando diminuição da

razão N:P no corpo. Por outro lado, peixes que crescem numa velocidade

maior (juvenis) têm menor razão N:P de excreção.

A GRH (Growth Rate Hypothesis) prevê que os organismos em fase de

crescimento acelerado, contêm mais fósforo no corpo em função da maior

quantidade de RNA empregado na síntese protéica e por isto, a razão N:P no

Page 37: Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da ......Lima, Álvaro Carvalho de. Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria

30

corpo tenderia a diminuir nas fases iniciais de crescimento. No entanto, os

resultados que encontramos (Fig. 5B) não mostram isto, ao contrário, nossos

resultados mostram que a razão N:P no corpo dos peixes juvenis tende a

aumentar no início do crescimento, que é a mesma tendência observada nos

peixes estudados por Tanner et al. (2000); Pilati & Vanni (2007) e Boros, Sály e

Vanni (2015).

Tanner et al. (2000) sugeriram que isto seria causado por que espécies

de rápido crescimento aumentam proporcionalmente mais em músculos (tecido

rico em N e pobre em P) do que em ossos e escamas. Por outro lado,

diminuição na razão N:P associada ao crescimento também pode ser explicada

pelo aumento da concentração de P no corpo, decorrente da formação de

ossos e escamas (Pilati & Vanni, 2007; Boros, Sály & Vanni 2015). Nossos

resultados indicam que a variação na razão N:P no corpo são decorrentes mais

da alocação de P em estruturas ósseas do que de processos fisiológicos

previstos pela GRH. Isto por que a proporção de P associada ao RNA é muito

pequena em relação ao conteúdo total de P no corpo dos peixes, o que torna o

efeito da GRH na estequiometria do corpo imperceptível (Tanner et al., 2000).

Contudo, como nossos experimentos não incluíram a fase larval, é impossível

descartar a hipótese de que a GRH não se aplique ao desenvolvimento

ontogenético em peixes.

Estudos em estequiometria ecológica de peixes mostram que mudanças

na composição do corpo durante o crescimento acontecem abruptamente,

tanto por efeitos ontogenéticos, como por mudanças de dieta, fazendo

necessário dividir o espectro de tamanhos para tentar estabelecer relações

monotônicas entre as variáveis. Os trabalhos de Vrede et al. (2011) com Perca

fluviatilis, e Pilati e Vanni (2007) com Dorosoma cepedianum e Danio rerio,

estabeleceram limiares em torno de 20% do tamanho adulto. Em nosso

trabalho dividimos o conjunto dos dados em peixes menores e maiores que

10% do tamanho máximo, obtendo dois subconjuntos com número de amostras

similares, permitindo um delineamento estatístico equilibrado e mais rigoroso

na diferenciação dos grupos que os trabalhos supracitados.

Page 38: Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da ......Lima, Álvaro Carvalho de. Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria

31

Desta forma, estes experimentos nos permitem concluir que: 1) a

estequiometria da excreção foi influenciada pelo tamanho e pela estequiometria

do corpo e que, nos menores tamanhos, também atua um fator adicional,

vinculado ao crescimento; 2) nessa fase a estequiometria do corpo também é

afetada pelo crescimento, entretanto este efeito aparentemente não

corresponde ao mecanismo proposto pela GRH.

5. CONCLUSÃO GERAL

A excreção de nitrogênio (N) e fósforo (P) realizada por 46 espécies de

peixes, de tamanhos entre 2,4 mg e 108,5 g de massa seca, nativas da

Amazônia Central, foi investigada a partir das estruturas conceituais da Teoria

Metabólica Ecológica e da Estequiometria Ecológica. Este é o primeiro estudo

usando estas abordagens em sistemas aquáticos de planícies de inundação

amazônicos. Nossos resultados apontam para as seguintes conclusões:

O tamanho do corpo dos peixes afetou direta e negativamente as taxas de

excreção específicas de N e P.

O tamanho do corpo afetou diretamente e positivamente a estequiometria

da excreção

A razão N:P excretada e a taxa de excreção de fósforo foram afetadas pela

estequiometria do corpo, que por sua vez foi influenciada pelo tamanho

corporal. Portanto a variação do tamanho corporal afetou direta e indiretamente

a excreção realizada pelos peixes.

Em adição aos mecanismos listados acima, a razão N:P excretada foi

afetada por mudanças ontogenéticas na estequiometria do corpo.

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ANEXO 1 Gráficos de dispersão dos dados usados nas análises. Os eixos das ordenadas nos

gráficos D e E são porcentagem de N e P no corpo, respectivamente.

Page 40: Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da ......Lima, Álvaro Carvalho de. Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria

33

ANEXO 2 Gráficos de normalidade e leverage dos modelos ajustados (Tab.3). No topo: todos os tamanhos; no meio: peixes menores que 10%; a baixo: peixes maiores que 10% do tamanho máximo.

Page 41: Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da ......Lima, Álvaro Carvalho de. Excreções de peixes amazônicos usando a abordagem da Estequiometria Ecológica e da Teoria

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