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57ª e 78ª Promotorias de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público ______________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora de Justiça que a presente subscreve, com fundamento nos artigos 37, caput e §4º, e 129, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil, na Lei nº 7.347/85, nas Leis nº 8.625/93 e Lei nº 8.429/92 e com base no Inquérito Civil Público nº 13/2014 anexo (Atena nº 201400058869), vem ajuizar a presente Ação Civil Pública POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/ C Pedido de Medida Cautelar em desfavor de: 1. MAURÍCIO BORGES SAMPAIO, brasileiro, casado, tabelião afastado judicialmente, portador do RG nº 392934-SSPGO, inscrito no CPF sob o nº 212.854.201-44, nascido em 27/11/1958, filho de Hilda Borges Sampaio, residente e domiciliado na Rua 01, nº 390, apt. 200, Ed. Solar dos Buritis, Setor Oeste, nesta capital; __________________________________________________________________________ Edifício Sede do Ministério Público Rua 23 com Av. B, Qd. 06, Lt. 15/24, 1º Andar, Ala A, Sala 148, St. Jardim Goiás. 1

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Page 1: EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE ... · 4. MAURÍCIO BORGES SAMPAIO FILHO, brasileiro, estado civil ignorado, profissão ignorada, portador do R.G. Nº 4651684-SSPGO,

57ª e 78ª Promotorias de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público______________________________________________________________

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ª

VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua

Promotora de Justiça que a presente subscreve, com fundamento nos artigos 37, caput

e §4º, e 129, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil, na Lei nº

7.347/85, nas Leis nº 8.625/93 e Lei nº 8.429/92 e com base no Inquérito Civil Público

nº 13/2014 anexo (Atena nº 201400058869), vem ajuizar a presente

Ação Civil Pública POR ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA C/ C Pedido de Medida Cautelar

em desfavor de:

1. MAURÍCIO BORGES SAMPAIO, brasileiro, casado, tabelião

afastado judicialmente, portador do RG nº 392934-SSPGO, inscrito no CPF sob o nº

212.854.201-44, nascido em 27/11/1958, filho de Hilda Borges Sampaio, residente e

domiciliado na Rua 01, nº 390, apt. 200, Ed. Solar dos Buritis, Setor Oeste, nesta

capital;

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2. CEJANNA CÂMARA SAMPAIO, brasileira, estado civil

ignorado, médica, portadora do R.G. nº 4837723-SSPGO, inscrita no CPF sob o nº

706.201.561-04, nascida em 04/01/1988, filha de Maurício Borges Sampaio e Maria

Cândida Câmara Sampaio, residente e domiciliada na Rua 01, nº 390, apt. 200, Ed.

Solar dos Buritis, Setor Oeste, nesta capital;

3. THIAGO CÂMARA SAMPAIO, brasileiro, estado civil ignorado,

profissão ignorada, inscrito no CPF sob o nº 932.895.371-53, nascido em 08/05/1981,

filho de Maurício Borges Sampaio e Maria Cândida Câmara Sampaio, residente e

domiciliado na Rua 01, nº 390, apt. 200, Ed. Solar dos Buritis, Setor Oeste, nesta

capital;

4. MAURÍCIO BORGES SAMPAIO FILHO, brasileiro, estado

civil ignorado, profissão ignorada, portador do R.G. Nº 4651684-SSPGO, inscrito no

CPF sob o nº 723.616.461-53, nascido em 23/08/1985, filho de Maurício Borges

Sampaio e Maria Cândida Câmara Sampaio, residente e domiciliado na Rua 01, nº

390, apt. 200, Ed. Solar dos Buritis, Setor Oeste, nesta capital;

pelas razões de fato e direito a seguir expostas:

I – DOS FATOS:

O Ministério Público do Estado de Goiás instaurou o Inquérito Civil

Público nº 13/2014 para apurar irregularidades praticadas por Maurício Borges

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Sampaio e seus três filhos no 1º Tabelionato de Protestos e Registro de Pessoas

Jurídicas, Títulos e Documentos de Goiânia (“Cartório W. Sampaio”), especificamente

pelos últimos terem sido contratados pelo primeiro com vultuosos salários sem

prestarem nenhum tipo de serviço.

O procedimento investigatório foi instaurado a partir de representação

anônima noticiando que a requerida Cejanna Câmara Sampaio estaria cursando

medicina na cidade de Ribeirão Preto/SP e, mesmo assim, recebia do Poder Público

pelo contrato de trabalho (CLT) que tinha com o Cartório em que seu pai era Tabelião.

No curso das investigações, apurou-se que Cejanna Câmara

Sampaio iniciou o curso de medicina na faculdade UNAERP naquela cidade do

interior de São Paulo no primeiro semestre de 2008 e o concluiu no segundo semestre

do ano de 2013. Nesse período, mesmo estando mais de 600km de Goiânia, Cejanna

recebeu dos cofres públicos o valor exorbitante de R$ 672.023,27 (fls. 25/26).

Apurou-se ainda que os requeridos Thiago Câmara Sampaio e

Maurício Borges Sampaio Filho, também foram contratados pelo pai Maurício

Borges Sampaio para prestarem serviços no Cartório, regime celetista, só que não

compareciam regulamente e, quando compareciam, ficavam pouco tempo e não

prestavam nenhum serviço. Entre os meses de fevereiro de 2008 a janeiro de 2014,

Thiago Câmara Sampaio e Maurício Borges Sampaio Filho receberam R$

764.725,34 e R$ 732.708,21, respectivamente dos cofres públicos (fls. 29/32).

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Insta lembrar que o requerido Maurício Borges Sampaio foi afastado

do cargo de Tabelião do 1º Tabelionato de Protesto e Oficial de Registro de Títulos e

Documentos de Goiânia por decisão judicial proferida pelo Juízo da 2ª Vara da

Fazenda Pública Estadual e, em seu lugar, foi nomeado Irismar Dantas de Sousa como

interventor.

O afastamento de Maurício Borges Sampaio fora prolatado pelo

Juízo da 2ª Vara da Fazenda Pública, atendendo pedido do Ministério Público que

recebera representação do Conselho Nacional de Justiça noticiando irregularidades no

cartório.

Após sua nomeação como interventor do “Cartório W. Sampaio”,

Irismar foi recepcionado pelo requerido Maurício Borges Sampaio Filho e, a partir

de então, este não compareceu mais para trabalhar. Posteriormente, o requerido

Maurício Filho apresentou um atestado médico tentando justificar suas faltas.

Incrivelmente, os outros dois filhos de Maurício Sampaio, Thiago e

Cejanna, também “resolveram” adoecer na mesma época e nenhum compareceu ao

Cartório para trabalhar e posteriormente apresentaram atestados médicos. Óbvio que

esta foi uma manobra para justificar as faltas, principalmente por Cejanna que ainda

estava cursando medicina na cidade de Ribeirão Preto/SP.

No mês de agosto/2013, por não comparecerem ao Cartório para

trabalharem, o interventor Irismar deu aviso prévio para Thiago, Maurício Filho,

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Cejanna, sendo que há informação de que Thiago trabalhava mais no Colégio Classe

de propriedade de sua família.

Requisitou-se informação à UNAERP – Universidade de Ribeirão

Preto que assentiu acerca da aluna Cejanna Câmara Sampaio, bem como remeteu os

documentos pertinentes ao curso de medicina, inclusive consta informação de que

Cejanna formou-se ou colou grau em dezembro de 2013.

Além dessa providência, procedeu-se à oitiva do Sr. Irismar Dantas,

das Sras. Maria Ramos e Maria Carvalho, ambas servidoras do Tabelionato.

Requisitou-se ao interventor o valor recebidos pelos três últimos

requeridos no período de 05 (cinco) ano, até janeiro de 2014. Juntou-se aos autos os

cálculos dos salários conforme solicitado.

Solicitou-se ao médico que concedeu o atestado médico cópia do

prontuário médico de Cejanna Sampaio, mas ele se negou a fornecê-lo.

II - DO DIREITO

2.1) DOS SUJEITOS ATIVOS DOS ATOS DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA E DA LEGITIMIDADE PASSIVA:

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No microssistema instituído pela Lei no 8.429/92, os atos de

improbidade somente podem ser praticados por agentes públicos, com ou sem o

auxílio de terceiros. Sobre o alcance desse designativo, assim dispõe o art. 2º do

referido diploma legal, verbis:

Art. 2º Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Para os fins da Lei de Improbidade Administrativa, considera-se

agente público todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem

remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer vínculo,

mandato, cargo, emprego ou função em qualquer entidade pública ou mesmo privada

desde que o Estado concorra com mais da metade de seu patrimônio. Nesse conceito

estão inseridos todos os requeridos.

De forma correlata à extensão conferida ao conceito de agente público

dado pelo art. 2º da Lei nº 8.429/92, também o terceiro que concorrer ou beneficiar da

prática ilícita estará sujeito às sanções cominadas ao ímprobo. Assim dispõe o art. 3º

da Lei nº 8.429/92:

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

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A análise do dispositivo demonstra que o particular poderá estar

sujeito às sanções cominadas “no que couber” pela Lei de Improbidade. Assim,

embora os filhos de Maurício Borges Sampaio não sejam legalmente considerados

agentes públicos por não ocuparem cargo público eles ainda são alcançados pela Lei

na qualidade de “terceiros” beneficiados ou que concorreram para a prática do ato.

Assim, por se enquadrarem nos conceitos de agentes públicos e/ou

terceiros dados pela Lei nº 8.429/92, não há dúvidas que todos os requeridos podem

ser sujeitos ativos dos atos de improbidade administrativa e, consequentemente,

poderão suportarem as sanções cominadas.

Visto que todos os requeridos podem ser sujeitos ativos dos atos de

improbidade administrativa, cumpre agora discorrer acerca da legitimidade passiva de

cada um.

Como já adiantado na disposição fática, o requerido Maurício Borges

Sampaio contratou seus três filhos Thiago, Maurício Filho e Cejanna para

trabalharem no Cartório em que era tabelião com vultuosos salários pelo regime da

CLT. Entretanto, os dois primeiros não compareciam ao trabalho e, quando iam,

ficavam pouco tempo no local e nada faziam. Já a última, Cejanna, nem sequer

comparecia ao local de trabalho, pois estava residindo na cidade de Ribeirão Preto/SP

e cursando medicina, curso que exige dedicação integral.

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Posto isso, não há dúvidas quanto a autoria dos atos de improbidade

administrativa ora tratados, bem como da legitimidade passiva de todos os requeridos.

2.2) DA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PELOS

REQUERIDOS:

A probidade administrativa, considerada uma forma de moralidade

administrativa, consiste no dever de servir à Administração com honestidade,

procedendo no exercício das suas funções, sem aproveitar os poderes ou facilidades

deles decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer.

(Marcelo Caetano, apud José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional

Positivo. 9ª ed., São Paulo: Malheiros, p. 571).

A Constituição Federal, considerando a gravidade dos atos de

improbidade administrativa, estabeleceu no seu art. 37, § 4º, severas sanções

destinadas a impedir e coibir condutas dessa natureza. Segundo o referido dispositivo

legal os atos de improbidade administrativa importarão à suspensão dos direitos

políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento

ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Atualmente a matéria é regida pela Lei nº 8.429/92, que reafirma os

princípios administrativos previstos no caput do art. 37 da CF e especifica os atos de

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improbidade administrativa, cominando as sanções aplicáveis aos mesmos.

Basicamente, a referida lei contempla três modalidades de atos de improbidade

administrativa, são eles: 1) atos que importam enriquecimento ilícito (art. 9º); 2) atos

que causam prejuízo ao erário (art. 10); 3) atos que atentam contra os princípios da

administração pública (art. 11).

Ao contratar seus filhos para prestarem serviço no cartório em que era

tabelião e permitir que eles não prestassem nenhum serviço e mesmo assim recebendo

vultuosos salários, o requerido Maurício Borges Sampaio acarretou o enriquecimento

ilícito de terceiros, ou dele próprio; lesou o erário e violou os princípios da

administração pública.

Igualmente, os requeridos Thiago, Maurício Filho e Cejanna, se

juntaram ao seu pai para fraudarem contratos de emprego, enriquecendo-se

ilicitamente as custas do Poder Público em ato ardiloso e contrário aos princípios

constitucionais regentes da atividade administrativa.

Assim, todos os requeridos encontram-se incursos nas três

modalidades de atos de improbidade administrativa descritos pela Lei nº 8.429/92, por

terem infringido os artigos 9º, caput e inciso I; 10 caput e incisos I, XII; e 11 caput e

inciso I, todos da Lei nº 8 .429/92 .

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2.2.1) Dos Atos de Improbidade Administrativa que

Importaram Enriquecimento Ilícito:

A fraudulenta contratação de seus filhos para prestarem serviços no

“Cartório W. Sampaio” pelo requerido Maurício Borges Sampaio tinha um único

objetivo, desviar dinheiro público em benefício de todos eles.

Maurício Borges Sampaio, por ser o titular do cartório, foi quem

articulou todo o “esquema”, contratando seus filhos e permitindo que eles recebessem

do Poder Público sem trabalharem, permitindo que eles nem mesmo comparecessem

ao local de trabalho.

A requerida Cejanna Câmara Sampaio, no período de

fevereiro/2008 a janeiro/2014 recebeu do Poder Público R$ 672.023,27 (seiscentos e

setenta e dois mil, vinte e três reais e vinte e sete centavos) conforme consta da

planilha de salários e encargos de fls. 25/26. Nesse mesmo período, Cejanna estava

cursando medicina na cidade de Ribeirão Preto/SP, de modo que não compareceu no

cartório para trabalhar e não prestou nenhum serviço.

O documento de fls. 13/18 encaminhado ao Ministério Público pela

Universidade em que Cejanna estava matriculada comprova que ela, por 06 (seis)

anos, esteve na cidade de Ribeirão Preto/SP, cursando medicina em período integral,

de modo que ela não poderia exercer suas atribuições como funcionária do Cartório.

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Já os requeridos Thiago e Maurício Filho, por vezes compareciam no

cartório, mas não era regularmente e lá não prestavam nenhum serviço. No mesmo

período mencionado, cada um deles recebeu R$764.725,34 (setecentos e sessenta e

quatro mil, setecentos e vinte e cinco reais e trinta e quatro centavos) e R$ 732.708,21

(setecentos e trinta e dois mil, setecentos e oito reais e vinte e um centavos),

respectivamente. (Planilhas de salários e encargos às fls. 31/32 e 29/30).

As declarações do Sr. Irismar Dantas de Souza, interventor do

“Cartório W. Sampaio”, prestadas nesta Promotoria de Justiça, apontam que realmente

os requeridos Thiago e Maurício Filho não prestavam nenhuma atividade no cartório

e que lá iam apenas a passeio, com a empáfia de se acharem “filhos do dono”.

O Sr. Irismar também declarou que à época em que Maurício Borges

Sampaio esteve a frente do Tabelionato, não havia nenhum controle das receitas e

despesas, podendo-se, assim, afirmar que ele se considerava o “dono” do cartório e

que geria algo particular, sem nenhum tipo de controle e fiscalização.

Confira-se alguns trechos das declarações de interventor na

Promotoria de Justiça que vão ao encontro do que foi dito:

“Que quando assumiu em julho Maurício Filho recepcionou o declarante, porém não retornou mais para trabalhar no mês de julho; Que posteriormente Maurício Filho juntou Atestado Médico; Que em agosto o declarante percebendo que eles não trabalhavam normalmente deu aviso prévio para os quatro; Que em janeiro Thiago e Maurício Filho começaram a ir ao cartório todos os dias, mas o declarante não sabe se trabalhavam regularmente, já que ficavam trancados na sala do pai, Maurício Sampaio; Que percebeu que

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Maurício Sampaio não tinha controle das receitas e despesas do Tabelionato ...”

E mais, a forma abusiva, ou até mesmo criminosa, com que Maurício

Borges Sampaio conduzia o “Cartório W. Sampaio” já foi constatada pelo CNJ que,

em inspeção, apurou, dentre outras irregularidades, a cobrança a maior de

emolumentos pelo ex-Tabelião, bem como utilização de nota fiscal falsa. Tais

irregularidades já são alvo de ação civil pública proposta pelo Ministério Público

registrada sob o nº 201301325690.

Nesse contexto, ainda que subsista alguma dúvida e ainda não se

encontre nenhum dado concreto de que os requeridos Thiago e Maurício Filho não

trabalhavam de fato no cartório, as declarações do interventor e o histórico de fraudes

e irregularidades praticadas por seu pai, são indícios suficientes para que se ponha em

dúvida seus contratos de trabalho e permita a propositura da presente ação.

Quanto a Cejanna Câmara Sampaio, não há dúvidas de que nos

últimos 05 (cinco) anos não trabalhou no cartório, porquanto encontrava-se cursando

medicina na cidade de Ribeirão Preto/SP conforme comprova os documentos

remetidos pela UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto (fls. 13/18).

Registra-se que a jurisprudência admite o ajuizamento de ação civil

pública por ato de improbidade administrativa somente amparada em indícios, ficando

a sua comprovação ou não postergada para a fase probatória. Nesse sentido, confira-se

dois recentes acórdãos do TJGO que retratam a sua jurisprudência:

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AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA EXORDIAL. OFENSA AO DISPOSTO NO ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE FATOS NOVOS. 1. Com o objetivo de afastar as lides temerárias e injustas, o legislador estabeleceu um fase prévia ao recebimento da petição inicial, a fim de proteger a reputação do agente público. Inteligência do art. 17, § 6º, da Lei federal nº 8.429, de 2 de junho de 1992. 2. No caso em apreço, a magistrada apresentou todas as razões fáticas e jurídicas que a convenceram a não encerrar o procedimento nessa fase inicial, daí ser incomportável a alegação de nulidade. De fato, a fundamentação do juiz nesse momento deve ser concisa, até para que não haja um indevido prejulgamento do réu num momento que se contenta com a presença de indícios. 3. Logo, não há que se falar em nulidade da decisão por falta de fundamentação, quando o julgador, ainda que de forma sucinta, discute e analisa as questões fáticas e jurídicas apresentadas pelas partes, indicando os motivos que lhe formaram o seu convencimento. 4. É de se negar provimento ao agravo regimental interposto contra a decisão monocrática que desproveu o recurso de agravo de instrumento quando o agravante, além de não apresentar fato novo suscetível de justificar a reconsideração do julgado, também não demonstra que os fundamentos utilizados no decisum são contrários à jurisprudência predominante desta egrégia Corte e do colendo Superior Tribunal de Justiça. 5. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E DESPROVIDO. DECISÃO MANTIDA.(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 97852-13.2014.8.09.0000, Rel. DES. ELIZABETH MARIA DA SILVA, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 24/04/2014, DJe 1532 de 30/04/2014). Grifou-se.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA INICIAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. PRESCRIÇÃO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTOS NOVOS. MANUTENÇÃO DO DECISUM. 1 - Não afronta o art. 93, inciso IX, da Constituição Federal a decisão que, embora sucinta, decide todos os pontos discutidos no recurso, dirimindo por completo e com amparo da jurisprudência a matéria sub examine. 2 - Os agentes políticos também se submetem às penas da

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Lei nº 8.429/92 quando evidenciada a prática de ato de improbidade, o que não se confunde com os crimes de responsabilidade previstos no Decreto-Lei nº 201/67. 3 - O prazo quinquenal previsto no art. 23 da Lei nº 8.429/1992 leva em consideração o término do mandato e não a data do suposto ato de improbidade. 4 - A demora na realização da citação não configura a prescrição quando decorre do retardo exclusivo da máquina judiciária, sem desídia do proponente. 5 - O recebimento da petição inicial da ação de improbidade administrativa, por si só, não importa pré julgamento, principalmente quando há indícios suficientes para demonstrar a prática de ato de improbidade. Recurso conhecido e desprovido.(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 368062-42.2013.8.09.0000, Rel. DR(A). SERGIO MENDONCA DE ARAUJO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 10/04/2014, DJe 1531 de 29/04/2014). Grifou-se.

Assim, por terem firmado contratos de trabalho irregularmente com o

desígnio de enriquecerem ilicitamente, os requeridos encontram-se incursos nas

condutas descritas no artigo 9, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92, que dispõem, in

verbis:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

Observa-se que esta modalidade de ato de improbidade administrativa

– enriquecimento ilícito – exige o dolo na conduta do agente para sua configuração. In

casu, o dolo exsurge dos próprios atos dos requeridos que se associaram para

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fraudarem contratos de trabalho e enriquecerem ilicitamente às expensas do Poder

Público.

Visto isso, não há dúvidas que os requeridos encontram-se incursos

nas condutas descritas no artigo 9º, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92, razão pela qual

merecem ser apenados nos termos do artigo 12, inciso I, da mesma Lei.

2.2.2) Dos Atos de Improbidade Administrativa que

Causaram Prejuízo ao Erário (art.10).

Os atos que causaram prejuízos ao erário são a segunda modalidade de

atos de improbidade administrativa previstos no artigo 10 da Lei nº 8.429/92.

Os requeridos ao se associarem firmando contratos de trabalho

fraudulentos causaram um dano ao patrimônio público na ordem de R$ 2.169.456,82

(dois milhões, cento e sessenta e nove mil, quatrocentos e cinquenta e seis reais e

oitenta e dois centavos), valor este recebidos a título de salários e encargos no período

de fevereiro/2008 a janeiro/2014.

Diante das irregularidades apontadas, os requeridos encontram-se

incursos nas condutas descritas no artigo 10, caput, e incisos I e XII, da Lei nº

8.429/92, verbis:

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Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;(...)XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

A doutrina ensina que para as condutas descritas no artigo 10 da Lei

de Improbidade Administrativa não se exige o dolo dos envolvidos no ato para a sua

caracterização, basta o elemento culpa.

Nesse sentido, os consagrados Emerson Garcia e Rogério Pacheco

Alves ensinam que:

“A Lei nº 8.429/92 agrupou a tipologia dos atos de improbidade administrativa em três dispositivos distintos. O art. 9º versa sobre os atos que importam em enriquecimento ilícito, o art. 10 sobre aqueles que causam prejuízo ao erário (rectius: patrimônio público) e o art. 11 sobre os atos que atentam contra os princípios administrativos. Somente o art. 10 se refere ao elemento subjetivo do agente, sendo expresso ao falar em 'qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa', enquanto os dois outros preceitos nada dispõem a respeito.

Partindo-se da premissa de que a responsabilidade objetiva pressupõe normatização expressa neste sentido, constata-se que: a) a prática dos atos de improbidade previstos nos arts. 9º e 11 exige o dolo do agente; b) a tipologia inserida no art. 10 admite que o ato seja praticado com dolo ou com culpa. (In. Improbidade Administrativa, 3ª ed., p. 280/281).

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Complementando, o Ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal

de Justiça, reforçando a existência de precedentes da Corte Superior assinala que basta

a presença do dolo genérico para configuração do ato de improbidade administrativa,

que se “reflete na simples vontade consciente de aderir à conduta descrita no tipo,

produzindo os resultados vedados pela norma jurídica - ou, ainda, a simples

anuência aos resultados contrários ao Direito quando o agente público ou privado

deveria saber que a conduta praticada a eles levaria -, sendo despiciendo perquirir

acerca de finalidades específicas” .

In casu, embora não haja dúvidas que os requeridos agiram livres e

conscientemente para obterem vantagens indevidas do Poder Público, é de bom alvitre

ressaltar que os atos que causam lesão ao erário admitem para sua configuração a

modalidade culposa, de modo que os requeridos podem ser responsabilizados seja a

título de dolo ou culpa, caso assim se entenda.

Assim, por terem acarretado um prejuízo aos cofres públicos no

importe de R$ 2.169.456,82 (dois milhões, cento e sessenta e nove mil, quatrocentos e

cinquenta e seis reais e oitenta e dois centavos), os requeridos merecem serem

submetidos às sanções estatuídas no artigo 12, inciso II, da Lei nº 8.429/92.

II.3.4) Da violação dos princípios constitucionais (art.

37, caput):

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Finalmente, a terceira classe dos atos de improbidade administrativa

contempla os atos que atentam contra os princípios da administração pública. Esta

classe encontra previsão no artigo 11 da Lei nº 8.429/92.

É clássica a advertência de Celso A. B. de Mello, citado por Marcelo

Figueiredo: "violar um princípio é muito mais grave do que violar uma norma

isolada, porque as consequências do ataque são, sem dúvida, muito maiores, devido

à generalidade e raio de ação dos princípios".

Por descumprirem os princípios regentes da atividade administrativa

insculpidos no art. 37, caput, da Constituição Federal, notadamente os princípios da

legalidade, moralidade e eficiência, os requeridos também incorreram na prática de

ato de improbidade administrativa tipificado no art. 11, caput, e inciso I, da Lei

8.429/92, verbis:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

O princípio da legalidade, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello,

“É o princípio basilar do regime jurídico-administrativo (...). É o fruto da submissão do

Estado à lei. É em suma: a consagração da ideia de que a Administração Pública só

pode ser exercida na conformidade da lei e que, de conseguinte, a atividade

administrativa é atividade sublegal, infralegal, consistente na expedição de comandos

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complementares à lei. (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São

Paulo: Malheiros, 1997, p. 58 e 59).

Hely Lopes Meirelles ao abordar o tema lembra que “A eficácia de

toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei. (...) As leis

administrativas são, normalmente, de ordem pública e seus preceitos não podem ser

descumpridos, nem mesmo por acordo ou vontade conjunta de seus aplicadores e

destinatários, uma vez que contêm verdadeiros poderes-deveres, irrelegáveis pelos

agentes públicos. Por outras palavras, a natureza da função pública e a finalidade do

Estado impedem que seus agentes deixem de exercitar os poderes e de cumprir os

deveres que a lei lhes impõem”. (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22. ed. São

Paulo: Malheiros, 1997. p. 82).

Assim, com amparo nos ensinamentos da melhor doutrina, não há

dúvidas que os requeridos violaram o princípio da legalidade, pois, geriram um “bem

público” como se donos fossem e o requerido Maurício Borges Sampaio permitiu e

seus filhos consentiram em receber do Poder Público sem a devida contraprestação.

O princípio da moralidade administrativa também não foi

respeitado. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, de acordo com o principio da

moralidade administrativa, a Administração e seus agentes têm de atuar na

conformidade de princípios óticos. Violá-los implicará violação ao próprio Direito,

configurando ilicitude que assujeita a conduta viciada a invalidação, porquanto tal

princípio assumiu foros de pauta jurídica, na conformidade do art 37 da Constituição.

Compreendem-se em seu âmbito, como é evidente, os chamados princípios da lealdade e

boa-fé. (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 72 e 73.).

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Hely Lopes Meirelles preleciona que a moralidade administrativa

tornou-se, juntamente com o principio da legalidade e da finalidade, pressuposto de

validade de todo ato da Administração Pública. Ele, conforme os ensinamentos de

Hauriu, a moral comum da moral administrativa, sendo esta "imposta ao agente público

para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e a

finalidade de sua ação: o bem comum”. (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22ª ed.

São Paulo: Malheiros, 1997.p. 83.)

Os requeridos agentes públicos agiram contrários aos interesses da

Instituição que representavam, causando-lhe prejuízos financeiros. A violação da

moralidade administrativa redunda de suas ineficiências e dolo de lesá-la.

O principio da eficiência foi inserido como princípio da Administração

Pública, no art 37 da Constituição Federal através da Emenda Constitucional n°. 19, de

04.06.1998, que tratou da reforma administrativa. Para Hely Lopes Meirelles:

Dever de eficiência é o que se impõe a toda agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno principio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.(MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 1997.p. 90.)

Assim, por tudo o que foi dito ao longo dessa inicial e ancorado no

ensinamento doutrinário acima, não há como deixar de reconhecer que os requeridos

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não desempenharam suas funções e que foram ineficientes no exercício das funções

que lhes foram confiadas, agindo com abuso e extrema má-fé.

Com efeito, pelos atos que atentaram contra os princípios da

administração pública, estão os requeridos sujeitos às penalidades do art. 12, inciso

III, da Lei 8.429/92.

Ressalta-se que, independente do enquadramento dado à conduta de

cada um dos requeridos, que pode não ser perfeito, deve-se destacar que a defesa

deverá versar sobre os fatos a eles imputados e não sobre a classificação, que será

especificada, ao final, na sentença.

III. DA MEDIDA CAUTELAR:

Como é cediço, a Lei 7.347/85 prevê expressamente no seu art. 12 a

possibilidade de concessão de liminar com ou sem justificação prévia para evitar dano

irreparável ou de difícil reparação, presentes os requisitos do “fumus boni juris” e do

“periculum in mora”.

Sobre a concessão de liminar, preceitua o art. 12, da Lei 7.347/85:

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.(…)§ 2º. A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que houver configurado o descumprimento.

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Para concretização de parte da providência jurisdicional pedida –

ressarcimento do dano causado ao patrimônio do Poder Judiciário – afigura-se

imperiosa a concessão de liminar/cautelar consistente no bloqueio de bens dos

requeridos, nos termos que dispõem os arts. 12 e 19 da Lei nº 7.347/85, 7 e 16 da

Lei 8.429/92 c/c art. 273, § 7º, do Código de Processo Civil.

De início, ressalte-se a plena possibilidade de adoção de medidas

cautelares nos próprios autos da ação principal, eis que “uma vez definida a incidência

da técnica de tutela prevista na Lei da Ação Civil Pública também ao campo da

improbidade, tem-se como certa a possibilidade de deferimento de todas as medidas

cautelares previstas na Lei nº 8.429/92 nos autos do processo dito principal,

prescindindo-se de pedido e decisão apartados”1.

Consoante demonstrado, a contratação dos requeridos Thiago,

Maurício Filho e Cejanna por seu pai Maurício Borges Sampaio para nada fazerem,

tinha por único desiderato desviarem dinheiro público, tendo, inclusive, chegado ao

ponto de realizarem altos pagamentos à Cejanna que nem em Goiânia estava

residindo. A fumaça do bom direito é, pois, nítida.

À demonstrar o fumus boni iuris, tem-se a declaração do interventor

do “Cartório W. Sampaio”, Sr. Irismar Dantas de Souza (fls. 42/45), as planilhas de

pagamentos de salários e encargos (fls. 25/32) e o histórico de irregularidades

1 GARCIA, Emerson e ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006,p.742.

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praticadas por Maurício Borges Sampaio na gestão do cartório e em sua vida pessoal,

já tendo sido contra ele propostas diversas ações judiciais.

Por sua vez, o periculum in mora também está consubstanciado no

caso, haja vista que, há fundado receio de dano ao patrimônio público. Trata-se de

uma operação que resultou no pagamento ilegal de R$ 2.169.456,82 (dois milhões,

cento e sessenta e nove mil, quatrocentos e cinquenta e seis reais e oitenta e dois

centavos) aos requeridos, sem nenhum tipo de contraprestação.

Ademais, em razão do periculum in mora, a constrição de bens dos

requeridos é medida que se impõe inaudita altera pars, sob pena de se mostrar

ineficaz e frustrar o futuro sucesso da presente demanda, com a dilapidação do

patrimônio pelos requeridos com o propósito de impedir ou pelo menos dificultar

sobremaneira o integral ressarcimento.

Os arts. 7 e 16 da Lei nº 8.429/92 dispõem, in verbis:

Art. 7º. Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegure o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Público ou à Procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens

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do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

§ 1º. O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil.

O emérito Professor FÁBIO MEDINA OSÓRIO2, ao comentar os

artigos 7 e 16 da Lei nº 8.429/92, ensinou com bastante propriedade que:

“É certo que se deverá buscar a individualização do patrimônio em quantidade suficiente, apenas, ao ressarcimento ao erário, mas isso necessita de prévia indisponibilidade patrimonial, preservando-se, desta forma, a essência do próprio processo.(…)não se mostra crível aguardar que o agente público comece a dilapidar seu patrimônio para, só então, promover o ajuizamento de medida cautelar autônoma de sequestro dos bens. Tal exigência traduziria concreta perspectiva de impunidade e de esvaziamento do sentido rigoroso da legislação. O periculum in mora emerge, via de regrados próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário.

A indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz consequência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal.

Esperar a dilapidação do patrimonial, quando se trata de improbidade administrativa, com todo respeito às posições contrárias, é equivalente a autorizar tal ato, na medida em que o ajuizamento de ação de sequestro assumiria dimensão de 'justiça tardia', o que poderia se equiparar a denegação de justiça.(...)”

Por oportuno, vale registrar que a jurisprudência do E. Tribunal de

Justiça do Estado de Goiás sufraga a tese ora defendida, veja-se:

2 Improbidade Administrativa, 2ª ed., Porto Alegre: Síntese, 1988, p. 239 e ss.

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DECISÃO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. POSSIBILIDADE. I – A decisão devidamente fundamentada, mesmo que de forma sucinta, com a exposição das razões do convencimento do julgador, não pode ser inquinada de nula. II – Diante das provas e da fundamentação da inicial, bem como dos pressupostos legais necessários, deve ser confirmada a medida liminar de indisponibilidade de bens do réu. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJGO, 2ª Câm. Cív., AI 48649-7/180, Rel. Des. Alan Sebastião de Sena Conceição, j. 18/04/2006, DJ 14760 de 18/05/2006).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO MUNICIPAL. DEFERIMENTO INITIO LITIS DE INDISPONIBILIDADE DOS BENS. A ação civil pública é adequada para defesa do patrimônio público, sendo competente o juízo de primeiro grau para deferimento liminar de indisponibilidade de bens de Prefeito Municipal. Face aos elementos indiciários coligidos nos autos a medida objetiva assegurar, na hipótese de procedência da ação, a execução do julgado com a devida reparação ao erário. Agravo conhecido e improvido. (TJGO. 4ª Câm. Cív., AI 46089-0/180, Rel. Des. STENKA ISSAC NETO, j. 27/10/2005, DJD 14657 de 16/12/2005).

Bem por isso, afigura-se imprescindível a concessão de medida

liminar inaudita altera pars decretando-se o bloqueio de bens dos requeridos visando

ao integral ressarcimento do erário.

Os bens a serem não disponibilizados são:

I. R$ 672.023,27 (seiscentos e setenta e dois mil, vinte e três reais e vinte e sete

centavos) em contas bancárias e/ou aplicações financeiras dos requeridos

Maurício Borges Sampaio e Cejanna Câmara Sampaio;

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II. R$ 764.725,34 (setecentos e sessenta e quatro mil, setecentos e vinte e cinco

reais e trinta e quatro centavos) em contas bancárias e ou aplicações financeiras

dos requeridos Maurício Borges Sampaio e Thiago Câmara Sampaio;

III. R$ 732.708,21 (setecentos e trinta e dois mil, setecentos e oito reais e vinte e

um centavos) em contas bancárias e ou aplicações financeiras dos requeridos

Maurício Borges Sampaio e Maurício Borges Sampaio Filho;

A constrição deve ser realizada por meio do sistema BacenJud 2.0, eis

que possível o uso de penhora on line de forma cautelar e não somente na fase de

execução, o que inegavelmente geraria efetividade ao processo, evitando-se a

dilapidação do patrimônio dos requeridos e garantindo-se o ressarcimento ao erário;

Se o bloqueio dos valores acima referidos não alcançar a cifra

referendada, requer seja decretada a indisponibilidade de bens imóveis e veículos dos

requeridos, com expedição de ofícios aos quatro cartórios de registro de imóveis de

Goiânia/GO, para averbação na matrícula dos imóveis cuja propriedade seja dos

requeridos, bem como a expedição de ofícios ao DETRAN/GO para registrar a

indisponibilidade nos cadastros dos veículos de propriedade dos requeridos.

Diante dos fatos e fundamentos aduzidos, e demonstrada a presença

dos requisitos legais, o Ministério Público do Estado de Goiás requer a concessão de

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MEDIDA CAUTELAR, sem oitiva da parte interessada, para determinar o

bloqueio de bens dos requeridos visando o integral ressarcimento do erário.

Estes argumentos importam, ainda, se rejeitada a liminar prevista

na Lei da Ação Civil Pública, na aceitação dos requisitos descritos no art. 273, do

Código de Processo Civil, relacionados com a antecipação de tutela, igualmente

possível neste caso.

IV - DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO requer a Vossa

Excelência:

1. Seja a presente ação autuada e processada na forma do rito

preconizado pelo artigo 17, da Lei n.º 8.429/92, notificando-se o Município de

Goiânia, para, caso queira, integrar a lide;

2. A concessão de medida liminar/cautelar inaudita altera pars

decretando-se o bloqueio de bens dos requeridos visando ao integral ressarcimento ao

erário, com fundamento nos arts. 12 e 19 da Lei nº 7.347/85, arts. 7, caput e parágrafo

único, 16, § 1º, da Lei 8.429/92 e art. 273,§ 7º, do Código de Processo Civil;

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3. Seja determinada a notificação dos requeridos Maurício Borges

Sampaio, Thiago Câmara Sampaio, Maurício Borges Sampaio Filho e Cejanna

Borges Sampaio para oferecerem, caso queiram, manifestação preliminar, conforme

art. 17, § 7º, da Lei n.º 8.429/92;

4. Seja recebida a petição inicial, determinada a citação dos

requeridos, via mandado, para, caso queiram, contestarem os termos da presente ação,

facultado ao Oficial de Justiça a permissão estampada no art. 172, § 2º, do Código de

Processo Civil;

5. Seja julgado procedente o pedido em todos os seus aspectos para

condenar os requeridos Maurício Borges Sampaio, Thiago Câmara Sampaio,

Maurício Borges Sampaio Filho e Cejanna Borges Sampaio incursos nas sanções

do art. 12, inciso I, II e III, e por consequência, a saber:

a) seja ressarcido integralmente o dano, se houver;

b) seja determinado a perda da função pública, daqueles

que ainda a ocupa;

c) suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco)

anos;

d) pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor

da remuneração percebida pelo agente;

e) proibição de contratar com o Poder Público ou receber

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

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indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica

da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.

6. Requer a produção de todos os meios de provas admitidos em

direito, notadamente a juntada posterior de documentos e prova testemunhal;

7. A condenação dos requeridos ao pagamento das custas,

emolumentos processuais e ônus de sucumbência;

8. A juntada do Inquérito Civil Público nº 13/2014 (201400058869);

Dá-se à causa o valor de R$ 2.169.456,82 (dois milhões, cento e

sessenta e nove mil, quatrocentos e cinquenta e seis reais e oitenta e dois centavos)

Goiânia, 12 de maio de 2014.

VILLIS MARRA FERNANDO AURVALLE KREBS Promotora de Justiça Promotor de Justiça78ª Promotoria de Justiça 57ª Promotoria de Justiça

RODRIGO CÉSAR BOLELLI FARIA JUAN BORGES DE ABREUPromotor de Justiça Promotor de Justiça

Coordenador do CAOPPS

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