excelentÍssimo senhor juiz federal do 1º juizado … · a prova maior da falsidade da motivação...

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS 2 º OFÍCIO DO NÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE GOIÁS Inquérito Civil Público MPF/PR/GO nº 1.18.000.001038/2009-56 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República signatário, no uso de suas atribuições institucionais, amparado nos artigos 129, inciso III, e 37, § 4º, da Constituição Federal, no artigo 6º, inciso VII, alínea “b”, da Lei Complementar nº 75/93, nas disposições da Lei nº 8.429/92 e à vista do quanto apurado no bojo do anexo Inquérito Civil Público MPF/PR/GO nº 1.18.000.001038/2009-56, vem, à presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL DE RESPONSABILIDADE POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em desfavor de: Página 1/18 Inquérito civil público MPF/PR/GO nº: 1.18.000.001038/2009-56 Natureza do ato processual: petição inicial de ação civil de responsabilidade por ato de improbidade administrativa

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS

2º OFÍCIO DO NÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE GOIÁS

Inquérito Civil Público MPF/PR/GO nº 1.18.000.001038/2009-56

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo

Procurador da República signatário, no uso de suas atribuições institucionais, amparado

nos artigos 129, inciso III, e 37, § 4º, da Constituição Federal, no artigo 6º, inciso VII,

alínea “b”, da Lei Complementar nº 75/93, nas disposições da Lei nº 8.429/92 e à vista

do quanto apurado no bojo do anexo Inquérito Civil Público MPF/PR/GO nº

1.18.000.001038/2009-56, vem, à presença de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL DE RESPONSABILIDADE PORATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em desfavor de:

Página 1/18Inquérito civil público MPF/PR/GO nº: 1.18.000.001038/2009-56Natureza do ato processual: petição inicial de ação civil de responsabilidade por ato de improbidade administrativa

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2º OFÍCIO DO NÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO

1. JOSÉ FRANCISCO DAS NEVES, vulgo

“Juquinha”, Presidente da VALEC – ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E

FERROVIAS S/A, (qualificação suprimida, para fins de divulgação);

2. ULISSES ASSAD, ex-Diretor de Engenharia da

VALEC – ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A, (qualificação

suprimida, para fins de divulgação);

3. JORGE ANTÔNIO MESQUITA PEREIRA DE ALMEIDA, Superintendente de Projetos da VALEC – ENGENHARIA,

CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A, (qualificação suprimida, para fins de divulgação);

4. ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA, Superintendente da

VALEC – ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A, (qualificação

suprimida, para fins de divulgação);

5. CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 61.156.568/0001-90 e sediada na Avenida

Presidente Juscelino Kubitschek, nº 1.830, Torre II, 4º andar, Itaim Bibi, São Paulo/SP;

6. EIT – EMPRESA INDUSTRIAL TÉCNICA S/A,

inscrita no CNPJ sob nº 03.873.492/0001-18, sediada na Rua Geraldo Pereira de Melo, nº

1.020, sala 02, Bairro Juazeiro, Jaguaruana/CE;

7. FLÁVIO BARBOSA LIMA, (qualificação suprimida,

para fins de divulgação); e

8.GIANFRANCO ANTÔNIO VITORIO ARTUR PERASSO, (qualificação suprimida, para fins de divulgação),

9.LUPAMA COMÉRCIO E COSTRUÇÕES LTDA., pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ sob nº 03.873.492/0001-18, a qual

deverá ser citada na pessoa de seus sócios acima qualificados, FLÁVIO BARBOSA LIMA

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ou GIANFRANCO ANTÔNIO VITÓRIO ARTUR PERASSO, nos seus próprios

endereços residenciais;

pelos fatos e fundamentos jurídicos adiante expostos.

I – DOS FATOS

Segundo se apurou, no mês de janeiro de 2006, os réus

JOSÉ FRANCISCO DAS NEVES, no exercício do cargo de Presidente da VALEC –

ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A (sociedade anônima fechada,

concessionária de serviço público controlada pela União e supervisionada pelo Ministério

dos Transportes), e ULISSES ASSAD, no exercício do cargo de Diretor de Engenharia da

VALEC – ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A, contrataram a

demandada CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO, por meio do

Contrato nº 013/2006 (processo nº 165/2004), para a execução de obras de infraestrutura

e superestrutura ferroviárias e obras de arte especiais, em trecho de 105 km (cento e cinco

quilômetros), compreendido entre o Pátio de Santa Isabel e o Pátio de Uruaçu, no Estado

de Goiás (lote 4 da Concorrência nº 008/2004), com sobrepreço da ordem de 29,45% do

valor do contrato.

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Perícia criminal oficial, realizada pelo Instituto Nacional de

Criminalística, constatou preço a maior do que o valor de mercado, que totalizou R$71.775.032,14 (setenta e um milhões, setecentos e setenta e cinco mil, trinta e dois reais e

quatorze centavos), a preços de agosto de 2009 (segundo as regras e índices definidos no

contrato), na proposta apresentada pela ré CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E

COMÉRCIO, aceita e formalizada no contrato pelos réus JOSÉ FRANCISCO DAS

NEVES e ULISSES ASSAD, em prejuízo para o erário.

O réu JORGE ANTÔNIO MESQUITA PEREIRA DE

ALMEIDA, então Gerente de Projetos da VALEC – ENGENHARIA,

CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A, concorreu para a contratação com sobrepreço, porquanto foi o responsável pela elaboração do orçamento de referência da

empresa pública, que integrou o edital e o processo licitatório, no qual a perícia oficial

criminal também constatou sobrepreço de R$48.132.342,69 (quarenta e oito milhões,

cento e trinta e dois mil, trezentos e quarenta e dois reais e sessenta e nove centavos), a

preços de novembro de 2004.

Consoante explicam os peritos oficiais criminais:

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As condutas dos réus JOSÉ FRANCISCO DAS NEVES e

ULISSES ASSAD revestiram-se de especial gravidade e revelaram-se insidiosamente

dolosas, na medida em que esses requeridos fizeram realizar licitação com exigências de qualificação restritivas, sem sustentações técnica e legal, e com proibição de apresentação de proposta para mais de 2 (dois) lotes (eram 7 [sete] em disputa),

igualmente sem respaldo, bem assim com a proibição de formação de consórcio (cujos motivos determinantes eram falsos), que produziram, como único efeito, o

direcionamento do resultado do certame, em favor da ré CONSTRAN S/A –

CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO, em relação ao lote 4, a ela adjudicado.

Coube ao réu ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA, presidente

da Comissão de Licitação, também concorrer para a prática ímproba, ao elaborar e

assinar o edital, fazendo dele constar as exigências e restrições ilícitas, tal como conduzir o

certame licitatório viciado.

Com efeito, quanto à qualificação técnica, as alíneas “c” e “d” do subitem 7.2.5 do edital só permitiram se habilitar para a disputa as licitantes que

comprovassem já haver construído ferrovias com dormentes de concreto, do tipo especificado, fabricado por elas próprias, na quantidade mínima exigida.

Esclarecem os peritos criminais oficiais:

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Tais exigências, aliadas às proibições de concorrerem a

mais de 2 (dois) lotes e formarem consórcios, fizeram com que nenhum lote contasse

com mais de 2 (duas) licitantes habilitadas.

Convém anotar que a divisão do objeto da licitação em

lotes, com a finalidade de aumentar a competitividade (porque permite que um

número maior de empresas possa se qualificar para a disputa), é incentivada e, até mesmo,

exigida pela Lei de Licitações, em seu artigo 23, § 1º.

Ponderam os peritos criminais oficiais:

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A proibição de consórcios, cujos motivos determinantes

são falsos, também restringiu, de modo irregular, a competição, pois impediu que 2 (duas)

ou mais pessoas jurídicas, as quais, individualmente, não satisfizessem todos os requisitos

de qualificação exigidos pelo edital, pudessem somar esforços e requisitos entre si, para,

em conjunto, habilitarem-se à disputa de preços, conforme autoriza o artigo 33, inciso III,

da Lei nº 8.666/93.

Para tentar motivar a vedação de consórcios, o réu

ULISSES ASSAD elaborou “Nota Técnica Relativa ao Edital 088/2004”, na qual tece as

seguintes considerações:

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Ora, eventual impacto negativo (aumento de custos), em

decorrência da duplicidade de estrutura gerencial, seria refletida na proposta do consórcio

licitante (tornando seu preço menos competitivo), e não no orçamento da VALEC –

ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A. Por outro lado, essas pessoas

jurídicas consorciadas tirariam vantagem de outras características particulares, as quais,

porventura, tivessem, para compensar e poderiam apresentar proposta mais competitiva.

Essa questão não se resolve proibindo o consórcio. Ao contrário, quanto mais pessoas

jurídicas competirem, maior a probabilidade de serem obtidos preços mais vantajosos

para a Administração Pública (um dos objetivos legais da licitação), consoante ver-se-á em

quadro adiante reproduzido.

De igual feita, não procede a alegação de riscos de atrasos

nas obras pelo fato de pessoas jurídicas de culturas gerenciais distintas, em ação quase

conjunta, usarem os mesmos acessos e jazidas de materiais. Com efeito, a Lei nº

8.666/93, em seu artigo 33, inciso II, exige a “indicação da empresa responsável pelo consórcio que

deverá atender às condições de liderança, obrigatoriamente fixadas no edital”, de modo que bastaria

haver cláusulas que assegurassem a convivência eficiente das pessoas jurídicas integrantes

do consórcio (em lugar de, pura e simplesmente, proibi-lo) e, assim, tornar a licitação mais

competitiva, assegurando maior participação de interessados e melhor preço para a

Administração Pública.

Certo é que, na falta de um único argumento técnico

consistente, os réus se valeram de motivos falsos para proibir a formação de consórcios.

A prova maior da falsidade da motivação foi dada pela própria Valec, ao publicar o Edital

nº 004/2010, destinado à contratação do trecho Ouro Verde/GO - Estrela do Oeste/SP,

da mesma ferrovia Norte Sul, permitindo a formação de consórcios.

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Contudo, o objetivo dos réus era favorecer a CONSTRAN

S/A – CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO, quanto ao lote 4 (e as demais adjudicatárias,

em relação aos outros lotes), direcionando-lhe a licitação para contratá-la com sobrepreço (a má-fé fica evidente). Para tanto, proibiram que uma mesma pessoa jurídica

disputasse mais de 2 (dois) lotes, proibiram o consórcio entre pessoas jurídicas e

estabeleceram requisitos de qualificação sem justificativa técnica válida.

Não surpreende que as 7 (sete) únicas pessoas jurídicas

habilitadas (embora 17 [dezessete] houvessem retirado o edital) dividissem, entre elas, os 7

(sete) lotes em “disputa”, conforme melhor consultaram seus próprios interesses

privados.

Isto é, houve exatamente 7 (sete) pessoas jurídicas

habilitadas e 7 (sete) vencedoras diferentes para os 7 (sete) lotes disponíveis.

Era de se esperar, portanto, que houvesse sobrepreço,

conforme a perícia criminal oficial constatou no lote 4 (a presente ação tem como único

objeto as obras relativas ao lote 4; os demais lotes deverão ser objeto de investigações e

ações próprias).

No laudo, os peritos criminais oficiais trazem estudo

realizado por técnicos do Tribunal de Contas de Pernambuco, a propósito de ilustrar a

relação entre a baixa competitividade e o preço de obras públicas. Na figura, o eixo

horizontal representa o número de licitantes e o eixo vertical, a relação entre o preço

vencedor e o preço base do órgão:

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Em outras palavras, os réus fizeram deflagrar licitação

propositadamente viciada, que anulou qualquer possibilidade de competição, de maneira a

favorecer a demandada CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO. Ato

contínuo, formalizaram a contratação dessa pessoa jurídica, por preço muito acima do de

mercado, causando enormes prejuízos ao erário.

Mas não é só. Conforme esclareceram os peritos criminais

oficiais:

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A intenção dos réus de favorecer a CONSTRAN S/A –

CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO, em prejuízo do interesse público e do erário, fica mais

flagrante, ainda, ao se considerar que a proposta dessa pessoa jurídica não atendia às

exigências do edital e, portanto, deveria ter sido desclassificada. Todavia, o réu ANDRÉ

LUIZ DE OLIVEIRA, que presidiu a licitação, assim não procedeu. Ao contrário,

sagrou-a vencedora, no que foi referendado pelos réus JOSÉ FRANCISCO DAS NEVES

e ULISSES ASSAD, mediante homologação, adjudicação e assinatura do contrato

direcionado e superfaturado.

A ré CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E

COMÉRCIO concorreu e beneficiou-se, diretamente, dos atos ímprobos acima

descritos, na medida em que participou de licitação sabidamente viciada, apresentou

proposta com enorme sobrepreço, assinou o contrato superfaturado e recebeu pelos

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serviços executados valores indevidos, porque muito acima dos de mercado,

enriquecendo-se, assim, ilicitamente, em prejuízo do erário.

A ré EIT – EMPRESA INDUSTRIAL TÉCNICA S/A e

os réus FLÁVIO BARBOSA LIMA e GIANFRANCO ANTÔNIO VITORIO ARTUR

PERASSO – os 2 (dois) últimos por intermédio de LUPAMA-COMÉRCIO E

CONSTRUÇÕES LTDA. (da qual são os únicos sócios e gerentes) – também se

beneficiaram dos atos ímprobos, porquanto formalizaram consórcio clandestino (não-oficial, vedado expressamente pelo edital) com a CONSTRAN S/A –

CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO, por meio de Termo de Acordo Operacional, pelo

qual assumiram a participação em todos os custos, direitos, obrigações, resultados,

responsabilidades, fianças e garantias de qualquer espécie, nas proporções de 66,70%

(CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO), 16,65% (EIT – EMPRESA

INDUSTRIAL TÉCNICA S/A) e 16,65% (LUPAMA – COMÉRCIO E

CONSTRUÇÕES LTDA.), de modo que auferiram, em conjunto, 33,3% do sobrepreço

constatado pela perícia oficial criminal.

Em razão do referido Termo de Acordo Operacional, a ré

EIT – EMPRESA INDUSTRIAL TÉCNICA S/A e os réus FLÁVIO BARBOSA LIMA

e GIANFRANCO ANTÔNIO VITORIO ARTUR PERASSO, por intermédio da

LUPAMA – COMÉRCIO E CONSTRUÇÕES LTDA., receberam 33,3% dos valores

com sobrepreço que foram pagos à CONSTRAN S/A pelos réus JOSÉ FRANCISCO

DAS NEVES e ULISSES ASSAD.

O Termo de Acordo Operacional em tela, embora faça

alusão a subempreitada, na verdade, formalizou verdadeiro consórcio, tal como restou

claro pelos seus termos, verbis:

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Diálogos monitorados dos réus FLÁVIO BARBOSA

LIMA e GIANFRANCO ANTÔNIO VITORIO ARTUR PERASSO, com prévia

autorização judicial, corroboram, com nitidez, a existência do consórcio clandestino, bem

como denunciam a flagrante má-fé e o intenso dolo com que eles próprios e a EIT

agiram, a saber:

(transcrições de diálogos telefônicos suprimidas para fins de

divulgação)

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Os signatários do Termo de Acordo Operacional

laboraram em fraude à execução da licitação e do contrato, porquanto, conforme dito,

a participação em consórcio foi expressamente proibida pelo Edital nº 008/2004.

Ainda que se considere ter havido subempreita ou

subcontratação (e não consórcio), a fraude igualmente ocorreu, vez que agiram de modo

clandestino e oculto, sem autorização oficial da VALEC – ENGENHARIA,

CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A, como exigido pelo edital.

Por sua vez, a LUPAMA – COMÉRCIO E

CONSTRUÇÕES LTDA., apurou-se ainda, aderiu ao consórcio como pessoa jurídica de

fachada, apenas para dar forma jurídica, contábil e fiscal ao desvio do butim. Foram

colhidas evidências de que a pessoa jurídica não existe de fato, seu endereço formal é uma

residência, que não possui estrutura técnica e nem financeira compatível com o vulto do

contrato que assumiu (o que foi admitido pelos sócios FLÁVIO BARBOSA LIMA e

GIANFRANCO ANTÔNIO VITORIO ARTUR PERASSO, em diálogos telefônicos

acima transcritos).

Aliás, nem a LUPAMA nem a E.I.T. satisfaziam as

exigências de qualificação técnica e econômica previstas no edital, daí porque não

poderiam ser oficialmente admitidas à executar a obra. Nada obstante, o monitoramento

telefônico dos réus revelou, claramente, que ULISSES ASSAD tinha pleno conhecimento

da existência do consórcio oculto, que operou sob sua “benção”.

A bem da verdade, segundo restou apurado, os réus

FLÁVIO BARBOSA LIMA e GIANFRANCO ANTÔNIO VITÓRIO ARTUR

PERASSO integram organização criminosa que detém grande influência política nos

escalões superiores do Estado brasileiro (inclusive na administração central da VALEC –

ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E FERROVIAS S/A), junto aos quais operam

usando pessoas jurídicas de fachada, como a LUPAMA – COMÉRCIO E

CONSTRUÇÕES LTDA., para acobertar desvios de recursos públicos.

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Porém, o organograma da organização criminosa não pode

ser desvendado, por 2 (dois) razões: primeiro, o investigado Fernando Sarney, com

autorização do Superior Tribunal de Justiça (H.C. nº 97.622), teve acesso aos autos da

investigação que se conduzia sob o mais absoluto sigilo, antes que as diligências sigilosas

fossem efetivamente concluídas; segundo, interceptação de diálogo telefônico mantido

entre Fernando Sarney e seu pai, José Sarney (em 17/04/2008), revela que a ABIN –

Agência Brasileira de Inteligência e o Banco da Amazônia (destinatário de requisições

protegidas pelo segredo de Justiça) alertaram indevidamente os suspeitos para a existência

da investigação sigilosa. Em razão disso, provas desapareceram e a identificação e

individualização das condutas dos demais membros da organização criminosa (inclusive

possível participação de Fernando Sarney) não pôde ser realizada, razão pela qual não

foram incluídos nesta ação.

II – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

Por terem promovido a realização de licitação direcionada

e viciada, a qual referendaram e contratado obra com sobrepreço, dando causa a

pagamentos superfaturados em favor da CONSTRAN S/A, da EIT, de FLÁVIO

BARBOSA LIMA e de GIANFRANCO PERASSO, os réus JOSÉ FRANCISCO DAS

NEVES, no exercício da Presidência da Valec, e ULISSES ASSAD, no exercício da

Diretoria de Engenharia da Valec, praticaram atos de improbidade administrativa que

causaram dano ao erário e violaram os princípios da moralidade, impessoalidade,

legalidade e os deveres de honestidade e lealdade, tipificados nos artigos 10, V e VIII, e

11, caput, da Lei 8.429/92, razão pela qual ficaram sujeitos às sanções estabelecidas pelo

artigo 12, incisos II e III, sucessivamente, do mesmo diploma legal.

Por promover a elaboração de orçamento para a licitação

com valores muito superiores aos de mercado, concorrendo para a contratação da obra

com sobrepreço e dando causa a pagamentos superfaturados em favor da CONSTRAN

S/A, da EIT, de FLÁVIO LIMA e de GIANFRANCO PERASSO, o réu JORGE

ANTÔNIO MESQUITA PEREIRA DE ALMEIDA, no exercício do cargo de Gerente

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de Projetos da Valec, concorreu para a prática de ato de improbidade administrativa que

causaram dano ao erário e violaram os princípios da moralidade, legalidade e os deveres

de honestidade e lealdade, tipificados nos artigos 10, V e VIII, e 11, caput, da Lei

8.429/92, razão pela qual ficou sujeito às sanções estabelecidas pelo artigo 12, incisos II e

III, sucessivamente, do mesmo diploma legal

Por elaborar e assinar o edital fazendo dele constar

exigências e restrições ilícitas, bem como conduzir o certame licitatório propositadamente

viciado, além de não desclassificar a proposta da CONSTRAN S/A (que não atendia às

exigências do edital) o réu ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA, então presidente da

Comissão de Licitação, concorreu para a prática de atos de improbidade administrativa

que causaram dano ao erário e violaram os princípios da moralidade, legalidade e

imparcialidade e os deveres de honestidade e lealdade, tipificados nos artigos 10, V e VIII,

e 11, caput, da Lei 8.429/92, razão pela qual ficou sujeito às sanções estabelecidas pelo

artigo 12, incisos II e III, sucessivamente, do mesmo diploma legal.

Convém anotar que os réus JOSÉ FRANCISCO DAS

NEVES, ULISSES ASSAD, ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA e JORGE ANTÔNIO

MESQUITA PEREIRA DE ALMEIDA agiram em comunhão do propósito de favorecer

e beneficiar a Constran S/A.

Os Réus CONSTRAN S/A – CONSTRUÇÕES E

COMÉRCIO, EIT – EMPRESA INDUSTRIAL TÉCNICA S/A, FLÁVIO BARBOSA

LIMA e GIANFRANCO ANTÔNIO VITORIO ARTUR PERASSO e LUPAMA –

COMÉRCIO E CONSTRUÇÕES LTDA. , por concorrerem e se beneficiarem da prática

dos atos ímprobos praticados pelos demais réus, estão sujeitos às mesmas penalidades, as

quais forem compatíveis com suas condições jurídicas, por força do que dispõe o artigo 3º

da sobredita lei.

III – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

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Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL:

a) a autuação desta, juntamente com a cópia digitalizada do

Inquérito Civil Público MPF/PR/GO nº 1.18.000.001038/2009-56, mídia anexa (art. 365,

VI, do CPC), bem como o processamento do feito segundo o rito ordinário previsto no

Código de Processo Civil, ao teor do disposto no artigo 17, caput, da Lei nº 8.429/92;

b) a notificação, via postal, dos réus, nos endereços supra,

para apresentarem manifestação por escrito, na forma preconizada pelo artigo 17, § 7º, da

Lei nº 8.429/92;

c) o recebimento desta inicial e, ato contínuo, a citação dos

demandados para, caso queiram, responderem aos termos desta ação, conforme o artigo

17, § 9º, da Lei nº 8.429/92, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria de fato;

d) a intimação da União e da VALEC, para o fim do que

dispõe a atual redação do artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92;

e) a procedência dos pedidos, a fim de que sejam aplicadas

aos requeridos as sanções previstas no artigo 12, incisos II e III, sucessivamente, da Lei nº

8.429/92;

f) a condenação dos demandados a arcarem com os ônus

da sucumbência; e

g) para provar o alegado:

g.1) a oitiva de testemunhas a serem oportunamente

arroladas;

g.2) os depoimentos pessoais dos requeridos; e

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS

2º OFÍCIO DO NÚCLEO DE COMBATE À CORRUPÇÃO

g.3) a juntada de outros documentos e provas que

produzidas em outras esferas processuais, inclusive criminal;

Dá-se à causa o valor de R$92.076.415,11

Goiânia, 1º de abril de 2011.

Helio Telho Corrêa Filho

PROCURADOR DA REPÚBLICA

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