excelentÍssimo senhor juiz de direto da vara...

37
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIRETO DA VARA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL: O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pelos Promotores de Justiça signatários, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICACIVIL PÚBLICA em face de: FEDERATION INTERNATIONALE DE FOOTBALL ASSOCIATION FIFA, associação de direito privado suíça, com endereço na Strasse 20, CH-8044, Zurich, Suiça, representada no Brasil pelo Sr. Fulvio Danilas, brasileiro, solteiro, economista, CPF: 806.255.047-91, residente na Av. Jornalista Tim Lopes, 255, Bloco 6, Barra da Tijuca, CEP: 22.640-908, Rio de Janeiro/RJ (doc. 12); COPA DO MUNDO FIFA 2014 - COMITÊ ORGANIZADOR BRASILEIRO LTDA., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ: 10.014.746/0001-08, com sede na Avenida Salvador Allende, 6555, Rio Centro, Pavilhão 1, Bairro: Barra da Tijuca, CEP: 22783-127, Rio de Janeiro/RJ; pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. I DOS FATOS: 1. Trata-se da Ação Civil Pública fruto do trabalho efetuado pelo Ministério

Upload: tranphuc

Post on 18-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIRETO DA VARA FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL:

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO, pelos Promotores de Justiça signatários, no exercício de suas atribuições

constitucionais e legais, vem, perante Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICACIVIL PÚBLICA

em face de:

FEDERATION INTERNATIONALE DE FOOTBALL ASSOCIATION – FIFA,

associação de direito privado suíça, com endereço na Strasse 20, CH-8044, Zurich, Suiça,

representada no Brasil pelo Sr. Fulvio Danilas, brasileiro, solteiro, economista, CPF:

806.255.047-91, residente na Av. Jornalista Tim Lopes, 255, Bloco 6, Barra da Tijuca,

CEP: 22.640-908, Rio de Janeiro/RJ (doc. 12);

COPA DO MUNDO FIFA 2014 - COMITÊ ORGANIZADOR BRASILEIRO

LTDA., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ: 10.014.746/0001-08, com sede na

Avenida Salvador Allende, 6555, Rio Centro, Pavilhão 1, Bairro: Barra da Tijuca, CEP:

22783-127, Rio de Janeiro/RJ;

pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I – DOS FATOS:

1. Trata-se da Ação Civil Pública fruto do trabalho efetuado pelo Ministério

Público Federal e pelos Ministérios Públicos dos Estados da Bahia, Ceará, Distrito

Federal, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro no âmbito do “Fórum Nacional de

Articulação das Ações do Ministério Público na Copa” do Conselho Nacional do

Ministério Público (CNMP).

2. Urge destacar que ações semelhantes a esta petição inicial estão sendo

simultaneamente propostas em cada uma das cidades que sediaram a Copa das

Confederações FIFA 2013, vale dizer, nos Municípios de Salvador, Fortaleza, Belo

Horizonte, São Lourenço da Mata, Rio de Janeiro, bem como no Distrito Federal.

3. O pleito é de ressarcimento dos gastos efetuados pelo Poder Público para

fins de instalar nos estádios que sediaram a Copa das Confederações FIFA 2013

estruturas temporárias para o período da competição.

4. O compromisso de custeio das estruturas temporárias pelo Poder Público

foi imposto pela FIFA por meio da assinatura de um aditivo ao Contrato de Estádio

(Stadium Agreement – doc.6) assinado pelos Estados, denominado “First Amendment to

the Stadium Agreement” (doc. 7).

5. Eis o teor da obrigação assumida no aditivo ao contrato de estádio, na

cláusula 2.3 (doc. 7):

“Se espaços suficientes, salas, construções e/ou instalações não puderem ser

providas dentro do Estádio para obedecer totalmente a quaisquer exigências

feitas pela FIFA (i.e. Erigir um voluntário, credenciamento ou centro de bilhetes,

ou para estacionamentos, áreas de hospitalidade e de exibição comercial para os

Afiliados Comerciais e cidades sede), a Autoridade do Estádio assumirá a tarefa

de alugar, desenvolver (se necessário) e prover, à FIFA e ao LOC, de acordo com

os termos e condições deste Acordo, os espaços e áreas requeridos (incluindo

qualquer instalação necessária) nas imediações do Estádio para o Período de Uso

Exclusivo e removê-las, (se necessário), depois de usadas pela FIFA e pelo LOC –

tais provisões e remoções são de total custo da Autoridade do Estádio. Qualquer

espaço adicional e salas providas pela Autoridade do Estádio nos termos desta

cláusula são, para todos os fins e propósitos, parte dos termos da Cláusula 3.1 do

Estádio, no contexto deste Acordo”.

6. Chama-nos atenção que as exigências de custeio das estruturas

temporárias não tenham constado do original do “Contrato de Estádio” – doc.6, o

que denota que, à época da assinatura deste Contrato, tais obrigações não seriam de

responsabilidade do Poder Público, e sim, da proprietária do evento.

7. A nova obrigação foi imposta pela FIFA, por meio de um autêntico

contrato de adesão, padronizado para todas as cidades-sede. (doc. 7)

8. Acrescente a isso o fato de tais exigências de custeio terem sido impostas

pela Fifa em fevereiro de 2009, três meses antes da entidade anunciar as cidades-sedes

escolhidas, o que ocorreu em maio de 20091, sem dispor do detalhamento ou

especificação do vulto das referidas estruturas temporárias.

9. É evidente que aqueles Estados/Municípios que não se comprometessem

em arcar com as despesas relativas às estruturas temporárias seriam excluídos do

processo de escolha. Daí porque podemos afirmar que se tratou de um Termo de Aditivo

imposto pela FIFA sem qualquer possibilidade de discussão pelos signatários.

10. Prova disso é que, conforme se verá, a obrigação assumida pelos

Estados/Municípios não foi precedida de qualquer estudo em relação ao seu impacto

financeiro, tanto que solicitaram ao Governo Federal que arcasse com a despesa,

alegando não terem dimensionado o impacto financeiro do compromisso assumido,

doc. 02.

1 http://www.portal2014.org.br/noticias/307/CIDADESSEDE+JA+ESTAO+ESCOLHIDAS.html

11. Ou seja, as circunstâncias que permearam a assinatura do Contrato de

Estádio e seus Aditivos denotam a inegável prática de abuso de direito pela FIFA

(artigo 187, do Código Civil). Isso porque, além da exigência de reformas e construções

de estádios no país para os eventos de 2013 e 2014, a FIFA, extrapolando os limites

condizentes com a estruturação do País, exigiu de forma autoritária que os Estados

arcassem com milionários valores para as estruturas temporárias, que nenhum legado

trouxe à sociedade.

12. A despeito do abuso de direito perpetrado pela FIFA, há a questão, também

relevante, voltada à ausência de interesse público na assunção destes gastos, que não

trazem nenhum legado à população.

13. Vejamos.

14. Estruturas temporárias, segundo a FIFA, são adaptações temporárias

para viabilização das partidas de futebol da Copa do Mundo, consistentes em uma série

de estruturas e serviços acessórios aos estádios, destinadas a atender as necessidades

operacionais e comerciais específicas da competição (doc. 1).

15. A FIFA exemplifica que são estruturas temporárias os seguintes

produtos e serviços: Assentos temporários; Tendas; Plataformas; Rampas; Passarelas;

Sinalização específica; Cercas; Iluminação; Cabos; Mobiliário; Divisórias; Preparação de

piso; Instalações elétricas; Instalações hidráulicas; Instalações de Ar Condicionado (doc.

1).

16. Tratam-se, portanto, as estruturas temporárias de facilidades adicionais

concedidas pelo Poder Público à FIFA para fins de bilhetagem, controle de entrada e

saída de torcedores, áreas de lazer e alimentação, suporte à mídia esportiva, transmissão

de TV e rádio, áreas de hospitalidade para patrocinadores e autoridades, segurança,

armazenagem e distribuição de insumos, além de suporte para as equipes de futebol,

árbitros, equipe FIFA e seus parceiros.

17. No documento intitulado de “Projetos Conceituais de Estruturas

Temporárias, FIFA World Cup Brasil”, a FIFA apresenta figuras que ilustram as estruturas

temporárias em eventos da Copa do Mundo: (doc. 1, p: 3)

18. Ilustram também a grandiosidade e a natureza voluptuária das

estruturas temporárias as fotos retiradas pelo MPMG no Estádio do Mineirão, em Belo

Horizonte, por ocasião da Copa das Confederações FIFA 2013, cujas características não

se diferem nas demais sedes:

19. São também ilustrativas as fotos retiradas pelo Ministério Público do

Estado do Ceará na Arena Castelão, na data do dia 26 de junho de 2013, às vésperas da

partida entre Espanha x Itália. Como será visto, as estruturas temporárias foram

padronizadas para todas as sedes:

20. As fotos evidenciam o desvio de finalidade do gasto público, pois se

referem a camarotes vip, tendas para patrocinadores, suporte para a HBS (empresa

exclusiva da FIFA para TV), lojas oficiais da FIFA, além de geladeiras, TV's e outros

equipamentos com logomarca dos próprios parceiros da FIFA. Tais circunstâncias se

repetiram em todas as sedes da Copa das Confederações FIFA 2013.

21. Vale observar que os custos das estruturas temporárias para a

realização da Copa das Confederações FIFA 2103 foram de aproximadamente R$ 230

milhões de reais nas seis cidades de realização do evento (doc. 8):

Gastos – Copa das Confederações FIFA 2013 – Estruturas Temporárias2

Belo Horizonte R$ 46 milhões

Brasília R$ 34 milhões + R$ 14,7 milhões

Rio de Janeiro R$ 33,7 milhões

Fortaleza R$ 33,8 milhões

Recife R$ 36,5 milhões

Salvador R$ 31 milhões

22. No ponto, vale asseverar que o próprio Governador do Estado, em 10

dezembro de 2012, subscreveu, em conjunto com demais Chefes do Executivo Estadual

das sedes do evento, ofício à União solicitando que os custos da contratação das

estruturas temporárias fossem assumidos pelo Governo Federal, pois “não

dimensionaram o real impacto financeiro do compromisso assumido” e que o cenário

2 http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/06/19/ganho-do-turismo-

nao-paga-nem-estrutura-temporaria-da-copa-das-confederacoes.htm;

http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/06/10/governos-gastam-r-

158-milhoes-por-jogo-da-copa-das-confederacoes.htm

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelfc/2013/08/1330665-conta-em-

atraso.shtml

http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/08/09/governo-do-df-paga-

sobra-de-conta-da-copa-das-confederacoes-e-prejuizo-com-evento-cresce-r-15-

milhoes.htm

http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/07/18/estruturas-

temporarias-da-copa-devem-constar-na-conta-oficial-da-copa-recomenda-tcu.htm

http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/01/30/fifa-reduz-exigencia-

e-custo-de-estruturas-temporarias-de-estadios-da-copa.htm

http://www.hojeemdia.com.br/esportes/estrutura-das-copas-custara-ate-r-100-milh-es-ao-governo-de-mg-

1.146714

http://www.espbr.com/noticias/arena-vai-consumir-r-36-5-milhoes-estruturas-

temporarias-copa-confederacoes

era de “estrangulamento de suas receitas e, consequentemente, de sua capacidade de

investir.” (doc. 2)

23. A preocupação do Governador do Estado com relação ao estrangulamento

da capacidade de investir nas Estruturas Temporárias da FIFA é pertinente (doc. 2),

seja (a) pelo alto custo das referidas estruturas, (b) seja pela total ausência de

dimensionamento do porte e do custo das respectivas contratações, pois omisso o

Termo de Aditivo quanto a eventuais valores, o que somente foi conhecido com

encaminhamento dos projetos pela FIFA no limite do prazo para realização das

licitações pelos Estados. (doc. 4)

24. Observe-se que os projetos com as especificações de itens,

equipamentos, etc. das estruturas temporárias não são de autoria dos Estados, mas

sim da FIFA, que no exercício de seu arbítrio, encaminhou o caderno com as exigências

que deveriam ser atendidas pelo Poder Público, para fins de satisfazer as suas exclusivas

necessidades operacionais e comerciais. (doc. 1, p. 5 e doc. 9)

25. Segue prancha exemplificativa (doc. 9):

26. Impugna-se, portanto, nesta ação civil pública, a realização dos gastos

efetuados pelo Poder Público com intuito de atender aos exclusivos interesses da FIFA

durante a Copa das Confederações FIFA 2013, mediante assunção de custos com

estruturas temporárias, que ao final da competição foram desmobilizadas dos estádios,

sem legado para a população. (doc. 1, págs.: 12/13)

II – DO DIREITO:

A – DA INAPLICABILIDADE DA CLÁUSULA ARBITRAL:

27. Para afastar, desde logo, qualquer dúvida quanto à competência do Poder

Judiciário para a causa, o MP esclarece que a cláusula 9.15 do Contrato de Estádio, que

prevê a arbitragem como método de solução de conflitos entre as partes, não se aplica a

este caso. (doc. 6)

28. Embora a doutrina, a jurisprudência e a legislação brasileiras admitam a

possibilidade de submissão à arbitragem de certos litígios envolvendo o Poder Público,3

com o consequente afastamento excepcional da jurisdição estatal,4 a presente demanda

não se sujeita ao juízo arbitral, por duas razões principais: primeiro, a cláusula arbitral

pactuada no Contrato de Estádio não vincula o Ministério Público, que dela não foi parte;

segundo, esta demanda envolve interesse público primário, de natureza indisponível, o

que a torna insuscetível de submissão à arbitragem, segundo o critério de arbitrabilidade

objetiva adotado pela Lei Brasileira de Arbitragem (Lei 9.307/1996).

29. Enquanto a jurisdição estatal deriva diretamente da lei, os poderes

exercidos pelo árbitro têm fundamento na vontade das partes, manifestada no regular

exercício de sua autonomia enquanto sujeito de direitos, por meio da celebração de uma

convenção arbitral.

30. Desse modo, para afastar a jurisdição legal do Poder Judiciário e submeter

o conflito à arbitragem, é preciso que tenha havido o CONSENTIMENTO das partes

litigantes, seja prévio (mediante a chamada cláusula compromissória) ou

contemporâneo ao litígio (por meio de compromisso arbitral), nos termos do artigo

3º da Lei 9.307/1996.

31. No presente caso, como o Ministério Público não figura como parte do

acordo celebrado pelos réus, nem manifestou, de qualquer outra forma, seu

consentimento em submeter-se à jurisdição arbitral – até porque a atuação do MP,

assim como do Poder Judiciário, decorre diretamente da Constituição da República

e da lei –, não está ele obrigado a se sujeitar à arbitragem.

32. Portanto, a cláusula 9.15 do Contrato de Estádio é inoponível ao

3 A possibilidade de utilização de arbitragem para solução de conflitos derivados de contratos com o Poder

Público está prevista, por exemplo, no artigo 11 da Lei 11.079/2004 (Lei de Parceria Público-Privada) e no artigo 23-A

da Lei 8.987/1995, que dispõe sobre a Concessão e Permissão de Serviços Públicos.

4 O artigo 267, inciso VII, do Código de Processo Civil prevê, entre as causas de extinção do processo, sem

resolução de mérito, a existência de convenção arbitral validamente celebrada pelas partes litigantes.

Ministério Público e não representa obstáculo a que o Ministério Público, terceiro

não signatário da convenção arbitral e legitimado a atuar por força da lei, promova

esta ação perante o Poder Judiciário.

33. Além disso, a Lei 9307/1996 restringe a possibilidade de utilização da

arbitragem apenas para solução de litígios relativos a “direitos patrimoniais disponíveis”

(artigo 1º da Lei 9.307/1996).

34. Para demandas envolvendo direitos de natureza extrapatrimonial (não

suscetíveis de avaliação pecuniária) ou indisponível (insuscetíveis de ato voluntário de

disposição), é vedada a adoção da arbitragem, cabendo exclusivamente ao Poder

Judiciário o exercício da jurisdição.

35. Em se tratando de litígios com o Poder Público, diante do princípio da

indisponibilidade do interesse público, a doutrina e a jurisprudência têm discutido os

limites para utilização da arbitragem a partir da distinção entre “interesse público

primário” (também chamado “interesse público propriamente dito” ou “interesse da

coletividade”, consistente no plexo dos interesses dos indivíduos enquanto partícipes da

sociedade) e “interesse público secundário” (também conhecido como “interesse da

Administração”, quando o Poder Público se comporta como simples sujeito de direitos,

praticando meros atos de gestão, em benefício de seus próprios interesses particulares).5

36. Nesse sentido, a arbitragem com o Poder Público somente é admitida para

questões de natureza contratual ou privada relacionadas a atos de gestão do ente público,

que envolvem mero interesse da Administração (cabendo a defesa, nesse caso, à

Advocacia Pública).6

5 DE MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo. 20. ed. rev. e atual. São Paulo:

Malheiros, 2006. p. 234. Vide, ainda, GRAU, Eros Roberto. Arbitragem e contrato administrativo. São Paulo:

Revista da Escola Paulista de Magistratura, v.3, nº. 2, 2002. p. 58.

6 É o que ocorre, por exemplo, em demandas envolvendo sociedades de economia mista, como nos seguintes

precedentes do Superior Tribunal de Justiça: Recurso Especial 606.345/RS. Relator Ministro João Otávio de Noronha.

37. Ao contrário, quando o que está em jogo é o interesse da coletividade –

como nos casos de grave e injustificável prejuízo ao erário –, não há espaço para

arbitragem, pois os direitos envolvidos são indisponíveis e extrapolam a simples

dimensão pecuniária e contratual, cabendo ao Ministério Público, no cumprimento de seu

papel institucional, promover a tutela do patrimônio público perante o Poder Judiciário.

38. Em conclusão, a arbitragem visa atender, de forma legítima, os anseios

daqueles que contratam com a Administração Pública por um instrumento célere e

eficiente para solução dos conflitos contratuais. Contudo, a opção por essa alternativa,

que está amparada exclusivamente na vontade dos contratantes, não pode representar

obstáculo para que os órgãos de controle desempenhem sua função institucional, nem

criar um manto de insindicabilidade pelo Poder Judiciário na proteção do patrimônio

público.

39. Com efeito, a Cláusula 9.15 do Contrato de Estádio, que prevê a

arbitragem como método de solução de conflitos entre as partes, não se aplica à presente

demanda.

B – DO ABUSO DO DIREITO:

40. Como dito ao norte, o compromisso de custeio das estruturas temporárias

pelo Poder Público foi imposto pela FIFA por meio de um aditivo ao Contrato de

Estádio (Stadium Agreement – doc.6) assinado pelos Estados, denominado “First

Amendment to the Stadium Agreement (doc. 7)”.

41. As exigências de custeio das estruturas temporárias não tinham

constado do original do “Contrato de Estádio” – doc.6, tendo sido a nova obrigação

imposta em fevereiro de 2009, três meses antes da entidade anunciar as cidades-sedes

2007; Mandado de Segurança 11.308/DF. Relator Ministro Luiz Fux. 2008.

escolhidas, o que ocorreu em maio de 20097. De toda forma, importante observar que o

aditamento referente às estruturas temporárias não dispunham acerca dos detalhes e

especificações técnicas que as constituiriam, deixando o Poder Público refém da vontade

privada da FIFA, esta sempre com o domínio da situação.

42. É evidente que aqueles Estados que não se comprometessem em arcar com

as despesas relativas às estruturas temporárias seriam excluídos do processo de escolha.

Daí porque podemos afirmar que se tratou de um Termo de Aditivo imposto pela FIFA

sem qualquer possibilidade de discussão pelos signatários.

43. Isso comprova o abuso de direito da FIFA e a ilicitude do ato (artigo

187, CC), que ultrapassou o limite de razoável e da boa-fé ao exigir que o Poder Público

arcasse com valores astronômicos a título de estruturas provisórias, as quais, em razão de

sua natureza voluptuária e por serem apenas ínsitas às exclusivas necessidades

operacionais da FIFA, não trouxeram nenhum legado à sociedade. A média de custos das

estruturas temporárias em cada Estádio, pelo período de 15 dias, foi acima de R$ 30

milhões de reais.

44. O ônus excessivo imposto aos Estados revela a ausência de boa fé objetiva

da FIFA, que apenas se interessa com astronômicos lucros, livrando-se, inclusive, de

despesa ínsitas à própria realização de seu negócio.

45. A propósito, a Procuradoria-Geral da República, por meio do Oficio

PGR/GAB/Nº 1795 (doc. 3), questionou à FIFA acerca de qual a entidade (se pública ou

privada) arcou com as despesas referentes às estruturas temporárias dos estádios na Copa

do Mundo na Alemanha e na África do Sul. Foi solicitado também o encaminhamento

de contratos de estádios (Stadium Agreements) dos eventos de 2006 e 2010.

46. Em resposta, a FIFA negou o encaminhamento dos contratos. Apenas

7 http://www.portal2014.org.br/noticias/307/CIDADESSEDE+JA+ESTAO+ESCOLHIDAS.html

disse que as exigências são efetuadas para todos os eventos FIFA e quem deve arcar com

as estruturas temporárias é o proprietário do estádio, ocorrendo no Brasil a coincidência

de ser o Poder Público. Salientou, ainda, que as Competições FIFA da Alemanha e África

do Sul não podem ser comparadas com a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do

Mundo de 2014. (doc. 3)

“(...) Informamos, respeitosamente, que os Stadium Agreements celebrados

nas Copas do Mundo FIFA realizadas na Alemanha e na África do Sul

possuem cláusula de confidencialidade e são sujeitos à legislação estrangeira, e

a FIFA está, portanto, impedida de encaminhar cópias ou divulgar seu conteúdo.

Ainda que pudessem ser compartilhados, acreditamos que tais contratos

seriam de pouca utilidade para o Ministério Público Federal, tendo em

vista as diferenças na organização administrativa do Poder Público e na

estrutura jurídica da propriedade em cada um destes países, bem como as

inúmeras peculiaridades que cercam a montagem de cada estádio para sediar

partidas da Copa das Confederações FIFA e da Copa do Mundo FI FA

("Competições FIFA").

(….) Para que a realização das Competições FIFA seja viável, a FIFA exige que

os estádios possuam determinada configuração como, por exemplo, no que

diz respeito aos espaços de hospitalidade, à capacidade de espectadores, aos

padrões de acessibilidade e às instalações técnicas para a transmissão das

partidas. Os requisitos relativos à configuração dos estádios são conhecidos

e aceitos pelos proprietários dos estádios antes de se candidatarem para

sediar partidas das Competições FIFA.

(…) O investimento nos estádios para a realização destas competições depende

de uma série de fatores, incluindo as características individuais de cada estádio.

Já a quantidade de recursos públicos destinada a este fim depende de quem

são os proprietários dos estádios e, conforme o caso, de eventuais acordos

entre os proprietários e o Poder Público. Por este motivo, no que diz

respeito à reforma e construção de estádios ou à montagem de estruturas

complementares, as diferentes edições das Competições FIFA - e mesmo os

diversos estádios que sediam uma mesma competição - não são

comparáveis entre si.

47. Todavia, na contramão da resposta da entidade, na Copa do Mundo FIFA

África do Sul 2010, os gastos com as estruturas temporárias, como não poderia ter

sido diferente, foram suportados pelo Comitê Organizador Local. A informação

pública consta do Relatório Financeiro da FIFA da Copa de 2010 (FIFA Financial Report

2010)8 (doc.5, fls. 38), bem como do Relatório do Ministério do Esporte e Lazer da

República da África do Sul9 (doc. 10, fls. 172):

“A quantidade de despesas operacionais do Comitê Organizador é estimada

num total de 516 milhões de dólares. Uma vez que os custos totais excederam

o orçamento original, os custos excedentes foram cobertos pelo aumento do

fluxo de receitas da venda de bilhetes, resultando num lucro antecipado de 10

milhões de dólares. Em outras palavras, a FIFA cobriu todas as despesas

operacionais do Comitê Organizador.

A maioria dos custos foram atribuídos ao funcionamento dos estádios (260

milhões de dólares), custos pessoais (58 milhões de dólares), transporte (34

milhões de dólares) e tecnologia de informação (26 milhões de dólares). O

funcionamento do Estádio incluiu os custos de estruturas temporárias (89

milhões de dólares), fornecimento de energia (87 milhões de dólares),

segurança (22 milhões de dólares) e voluntários (14 milhões de dólares), bem

como pagamentos feitos ao governo, aos estados e aos locais para aluguel dos

estádios, totalizando 23 milhões de dólares.” (grifos nossos)

“The Organising Committee’s operational expenses amounted to a total of

8

http://www.fifa.com/mm/document/affederation/administration/01/39/20/45/web_fifa_fr2010_eng

%5B1%5D.pdf acessado em 10 de outubro de 2013.

9 http://www.srsa.gov.za/MediaLib/Home/DocumentLibrary/SRSACountryReport2013-withcover.pdf,

acessado em 10 de outubro de 2013.

USD 516 million. While the overall costs exceeded the original budget, these

were covered by higher revenue from ticket sales, resulting in an anticipated

profi t of USD 10 million. In other words, FIFA covered all of the Organising

Committee’s operational expenses.

The majority of the costs were attributable to stadium operation (USD 260

million), personnel costs (USD 58 million), transport (USD 34 million) and

information technology (USD 26 million). Stadium operation includes the costs

for temporary structures (USD 89 million), power supply (USD 87 million),

security (USD 22 million) and volunteers (USD 14 million), as well as

payments totalling USD 23 million made to the government, the provinces and

the venues for the rental of the stadiums.”

48. Ora, não há que se falar na impossibilidade de comparação das

Competições FIFA da Alemanha e África do Sul com os eventos similares no Brasil. Na

verdade, se deduz notoriamente o objetivo da FIFA de maximizar seus lucros, impondo ao

Poder Público brasileiro gastos que não atendem ao interesse público.

49. Acrescente-se também ser falso o alegado pela FIFA ao dizer que os

Estados já sabiam o que iriam gastar com estruturas temporárias. Como apontado alhures,

a obrigação assumida pelos Estados não foi precedida de qualquer estudo em

relação ao seu impacto financeiro, tanto que solicitaram, como já dito, ao Governo

Federal que arcasse com a despesa, alegando que não dimensionaram o impacto

financeiro do compromisso assumido. (doc. 02)

50. Também comprova esse fato, de forma exemplificativa, a irresignação do

Estado de Minas Gerais com a postura da FIFA em (1) atrasar o envio das especificações

das estruturas temporárias para que fosse efetuada a licitação, (2) alterar itens na

undécima hora, bem como (3) sugerir a inobservância das leis que vigoram no pais (docs.

4 e 11). Repita-se que, embora a citação seja relacionada ao Estado de Minas Gerais,

a conduta da FIFA foi equivalente em todas as sedes.

51. Vejamos, portanto, as ponderações do Estado de Minas Gerais (doc . 4):

(…) A contratação das estruturas temporárias pode, inequivocamente, ser

qualificada como sui generis. Trata-se de um objeto extremamente vasto e

complexo, mas que, ao mesmo tempo, está ancorado em uma planilha de

quantidades fornecida pela FIFA, que é composta por itens cujos níveis de

detalhamento são parcos. ( . . . )

(…) o encaminhamento da planilha só veio a acontecer muito depois

e, ainda assim, em qualidade inservível, para fins de abertura de

processo licitatório, o que representou a necessidade de aguardar ainda

mais tempo para o encaminhamento de informações mais precisas que

tornassem o material apto à instauração de certame. O envio tardio das

especificações técnicas daquilo que a FIFA entendia representarem as

estruturas temporárias da Copa das Confederações foi o grande

gargalo para que o Governo do Estado de Minas Gerais conseguisse realizar o

planejamento para o qual estava preparado para realizar, caso o

cronograma das entregas não tivesse sido desrespeitado pela referida

entidade.

(…) Como se não bastassem as incongruências e inconsistências que

orbitavam essa contratação, considerando as várias inclusões

extemporâneas de novos quantitativos e itens que o COL insistia em

encaminhar, munido do acordo firmado com os Governos Estaduais que

o habilitavam para tal, (...)

(…) Faltando cerca de cinco meses para a Copa das Confederações

da FIFA Brasil 2013, no dia 15 fevereiro de 2013, o COL

encaminhou a este Gabinete um pedido de inclusão de itens e

alterações de quantidades nos editais/processo de temporárias, via

correspondência eletrônica {Anexo 15), tendo sido essa tônica

constante ao longo desse período, exigindo que os órgãos públicos

de todo o país intercedessem junto ao COL no convencimento das

nossas limitações, face ao ordenamento jurídico vigente. (doc. 4)

52. O desrespeito da FIFA e do COL com as leis nacionais é gritante.

Corrobora esse fato também o posicionamento do COL encaminhado ao Estado de Minas

Gerais, conforme se colhe da Nota Técnica 051/2012: (doc. 11)

“(...) após nova reunião na sede do COL, no Rio de Janeiro, o mesmo servidor

Rodrigo Reis de Oliveira enviou ao Dr. Arq. Carlos de La Corte, da Arena

Estádio, empresa contratada pelo COL, a solicitação da lista de itens. (doc. 4)

O Gerente Geral de Estádios e Instalações, Roberto Siviero, foi quem direcionou

o pleito, de cuja resposta, extraímos a seguinte passagem:

“Infelizmente não temos como entregar nada antes. (…) Se pararmos

para atender a vocês, perderemos o prazo, que já está muito, muito

complicado de conseguir atingir pois há mudanças constantes, como

mencionei. Vocês precisam encarar esta contratação como algo

diferenciado. (…) precisamos pensar fora da caixa, não adianta

ficarmos presos nas amarras públicas de prazos e escopo neste caso

(grifo nosso), na minhão opinião” (SIC)” (doc. 11)

53. Ora, a FIFA se considera supra estatal e pratica inegáveis excessos nas

exigências para a realização de suas competições. No Brasil, ela sumariamente exigiu

as estruturas temporárias, sendo indiferente se o ordenamento jurídico pátrio impede

gastos públicos que não se harmonizam com o interesse público. O Estado Brasileiro

deve se adequar à FIFA, ou é a FIFA quem deve se adequar ao ordenamento pátrio? Eis

um questionamento que merece reflexão.

54. Ora, se no Brasil a propriedade dos Estádios, nas sedes da Copa das

Confederações FIFA 2013, é do Poder Público, então caberia a FIFA se readequar e arcar

com os custos das estruturas temporárias ou, por outro lado, buscar o apoio de seus

patrocinadores. Não poderia, portanto, atribuir essa conta ao Poder Público

brasileiro.

55. Com efeito, nítida a prática de abuso de direito por parte da FIFA por

meio de exigências excessivas que extrapolam os limites da razoabilidade (art. 187,

CC), consubstanciada, no caso concreto, na imposição aos Estados de arcarem com as

estruturas temporárias na Copa das Confederações FIFA 2013.

C - DA AUSÊNCIA DE INTERESSE PÚBLICO

56. Relembre-se que a Copa das Confederações FIFA 2013 e a Copa do

Mundo FIFA 2014 são eventos privados, cujos direitos são exclusivos da FIFA,

associação de direito privado com sede na Suíça.

57. Dito isso, indaga-se: houve interesse público apto a justificar a assunção

pelo Poder Público de custos de operacionalização da Copa das Confederações que

deveriam ter sido suportados pelo seu proprietário?

58. Busca-se, portanto, à luz do interesse público, demonstrar a ilegalidade

dos custos assumidos pelo Poder Público.

59. O interesse público deve ser avaliado no caso concreto e, diante das

especificidades deste, será possível aferir o único sentido possível em que pode ser

tomado, e por isso, a hipótese é entendida como caso de vinculação (ou regulação

direta) e não campo de exercício de discricionariedade.10

60. Ou seja, na análise do caso concreto apenas um sentido será o mais

adequado para preenchimento do interesse público.

61. Partindo-se para a avaliação do fato em foco (Copa das Confederações

FIFA 2013), não se vislumbraram justificativas para a contratação das estruturas

10 Ver STJ AGRG 4053, 2ª T, DJ 12/11/2001

temporárias pelo Poder Público em favor da FIFA, diante da ausência do interesse

público e de benefício à população.

62. A hipótese é completamente diversa dos gastos com mobilidade urbana,

portos e aeroportos.

63. Nestes últimos casos, ainda que os investimentos e projetos tenham sido

idealizados, incentivados ou otimizados em virtude da realização dos Eventos FIFA no

país, há inegável investimento em infraestrutura e legado para a população.

64. Situação ilustrativa é o caso das obras de infraestrutura que, a despeito

do atraso nos cronogramas, mesmo que concluídas ao final da Copa do Mundo FIFA

2014, gerarão benefícios a toda a população.

65. Ou seja, ainda que tenham sido germinadas e iniciadas tendo por mote a

realização do evento esportivo, o ganho nos investimentos em aeroportos, portos,

mobilidade urbana, na verdade, será da sociedade que contará com a prestação de

um serviço público melhor estruturado e com qualidade superior ao atual.

66. Outrossim, o mesmo não se diz com relação ao custo das estruturas

temporárias, que inclusive foram desmobilizadas ao final da competição. (doc. 1,

págs.: 12/13)

67. Houve interesse público na contratação de estruturas temporárias para fins

de bilhetagem, controle de entrada e saída de torcedores, se a FIFA comercializou os

ingressos e com eles obteve lucros?

68. Houve interesse público na contratação de estruturas temporárias para fins

de transmissão de TV e rádio, se a FIFA foi/é a única detentora dos direitos de

transmissão do evento e os comercializou a preços milionários?

69. Houve interesse público na contratação de estruturas temporárias para

patrocinadores e autoridades, se a FIFA arrecadou vultosos valores de seus

patrocinadores, os quais objetivaram o lucro com a exposição no evento?

70. Para todas essas perguntas, a resposta é indubitavelmente negativa.

71. O fato de a Copa das Confederações FIFA 2013 ter sido um evento

reconhecidamente de enorme importância mundial, não justificou a responsabilidade

imposta ao Poder Público em arcar com elevados custos que deveriam ser assumidos pelo

ente privado e que não trouxeram legado para a população.

72. E mais, os compromissos ilegais assumidos com a FIFA não possuíram o

condão de se sobrepor à Constituição Federal e leis em vigor no país, a pretexto de serem

necessários para realização do evento esportivo.

73. Nem se argumente que a assunção destes custos pelo Poder Público

tiveram o condão de melhorar a imagem da cidade ou do próprio país.

74. A propósito, para preservar e melhorar a imagem do país perante os

demais países do mundo e turistas, necessário será garantir uma boa mobilidade

urbana, segurança pública, tarifas hoteleiras a preços justos, serviços de boa

qualidade, cujo legado, este sim, irá beneficiar a população local.

75. Em suma, sob todos os ângulos, percebe-se que os custos das estruturas

temporárias da Copa das Confederações não se harmonizaram com o interesse

público, e, por isso, devem ser ressarcidos pela FIFA.

76. A tese que sustenta a pretensão em exame é muito simples: qualquer gasto

público, para encontrar amparo no ordenamento pátrio, deve ser direcionado para

obras/serviços que proporcionem retorno para a população. Investimentos em mobilidade

urbana e aeroportos atendem ao requisito apontado.

77. Em sentido oposto, e aqui reside o problema, é claramente

inconstitucional/ilegal a realização de investimento público em serviços temporários que

tiveram como único beneficiário um ente privado, no caso a FIFA.

78. Somente a FIFA lucrou com a venda de ingressos, souvenirs e transmissão

do evento.

79. Ora, nessa linha, é a FIFA quem deveria ter arcado, como ocorrido na

Copa do Mundo da África do Sul 2010 (doc.5, fls. 38 e doc. 10, fls. 172), com a

montagem da estrutura temporária.

80. Com efeito, há desvio de finalidade no gasto público:

“Finalidade é o elemento pelo qual todo ato administrativo deve estar dirigido ao

interesse público. Realmente não se pode conceber que o administrador, como

gestor de bens e interesses da coletividade possa estar voltado a interesses

privados. O intuito de sua atividade deve ser o bem comum, o atendimento aos

reclamos da comunidade, porque essa de fato é sua função.”11

81. Corroborando que o distanciamento da tutela do interesse público em

prol de interesse privado da FIFA configura desvio de finalidade (desvio de poder), tem-

se a doutrina de Carvalho Filho:

“(...) o desvio de poder é a modalidade de abuso em que o agente busca alcançar

fim diverso daquele que a lei lhe permitiu, como bem assinala LAUBADÈRE. A

finalidade da lei está sempre voltada para o interesse público. Se o agente atua em

descompasso com esse fim, desvia-se de seu poder e pratica, assim, conduta ilegítima.

Por isso é também que tal vício é também denominado de desvio de finalidade,

denominação, alás, adotada na lei que disciplina a ação popular (Lei nº 4.717, de

29.6.1965, art. 2º, parágrafo único, “e”).12

82. E prossegue Carvalho Filho:

“(...) o desrespeito ao interesse público constitui abuso de poder sob a forma de

desvio de finalidade. Não se pode esquecer também que a conduta desse tipo

11 Carvalho Filho, Manual de Direito Administrativo, 25ª edição, Editora Atlas, 2012, pág. 118

12 Manual de Direito Administrativo, 25ª edição, Editora Atlas, 2012, pág. 47

ofende os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa, porque

no primeiro caso, enseja tratamento diferenciado aos administrados na mesma

situação jurídica, e, no segundo, porque relega os preceitos éticos que devem nortear a

Administração. Tais princípios estão expressos no art. 37, caput, da Constituição

Federal.”13

83. Em suma, o desvio de finalidade traz como consequência a ilegalidade e

nulidade da despesa, que se distanciou do interesse público para tutelar interesse

exclusivamente privado, sem qualquer benefício ou legado para a população. O

ordenamento jurídico repudia, com a pecha de nulidade, a prática de condutas

administrativas que, por não atender o interesse público, desviam-se da legalidade e da

finalidade, como se colhe do artigo 2° da Lei 4.717/65:

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades

mencionadas no artigo anterior, nos casos de: (...)

c) ilegalidade do objeto; (...)

e) desvio de finalidade.

84. Ademais, a tutela do interesse privado da FIFA em detrimento do

interesse público vulnera também o princípio da impessoalidade (artigo 37, caput,

CF) e da igualdade (artigo 5º, CF).

85. Ao discorrer sobre o princípio da impessoalidade aponta Celso Antônio

Bandeira de Mello:

“[O princípio da impessoalidade] traduz a ideia de que a Administração tem que

tratar a todos os administrados, sem discriminações, benéficas ou detrimentosas.

Nem favoritismos nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou

animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação

13 Op. cit., pág. 118;

administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de

qualquer espécie. O princípio em causa não é senão o próprio princípio da

igualdade ou isonomia, sendo vedado a este buscar outro objetivo no

interesse próprio ou de terceiros.14

86. Ou seja, para que haja observância ao princípio da impessoalidade, a

atividade administrativa deve ser destinada a todos os administrados, sem discriminação,

nem favoritismo, constituindo um desdobramento do princípio da igualdade. As pessoas

jurídicas que integram a Administração Pública, direta ou indireta, devem perseguir o

interesse público, permanecendo numa posição de neutralidade em relação aos interesses

das pessoas privadas.

87. No caso concreto, a assunção pelo Poder Público com os custos das

estruturas temporárias, que não trouxeram nenhum legado para a população, vulnera

os princípios da igualdade (artigo 5º, CF) e da impessoalidade (artigo 37, caput, CF).

88. O gasto indevido de dinheiro público também atenta contra o princípio da

moralidade, pois tem por intuito favorecer interesses particulares de uma associação

privada (FIFA) em detrimento do interesse público, situação que consubstancia desvio do

padrão ético de conduta. A Constituição da República repudia as condutas que confundem

o espaço público com a dimensão pessoal do governante e seus favorecidos, justamente

por ferir o princípio da moralidade.

89. Acrescente-se também a violação ao princípio da eficiência, pois o

Estado, ao atender interesses privados da FIFA em detrimento do interesse público e sem

qualquer legado para a população, consagra o desvio de finalidade na Administração

Pública.

14 Melllo, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 21. ed., São Paulo, Malheiros

Editores, 2006, p. 110.

90. A propósito, ressalta Alexandre de Moraes:

“Princípio da eficiência é aquele que impõe à Administração Pública direta e

indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício

de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa,

eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção

dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos

recursos públicos, de maneira a se evitar desperdícios e garantir-se uma

maior rentabilidade social”.15

91. Por fim, pertinente a menção ao voto do Ministro Celso de Mello na Ação

Declaratória nº 12 julgada pelo Supremo Tribunal Federal que tinha por objeto a vedação

ao nepotismo. Em sua decisão, o Ministro Celso de Mello faz importantes

considerações sobre a dicotomia do espaço público e privado, bem como da violação

aos princípios da igualdade, da impessoalidade e da moralidade administrativa nos

casos de confusão entre estes espaços:

“Tenho para mim, analisada a questão sob essa perspectiva, que se impõe fazer

essencial distinção entre o espaço público, de um lado, e o espaço privado,

de outro, em ordem a obstar que os indivíduos, mediante ilegítima apropriação,

culminem por incorporar, ao âmbito de seus interesses particulares, a

esfera de domínio institucional do Estado, marginalizando, como

conseqüência desse gesto de indevida patrimonialização, o concurso dos

demais cidadãos na edificação da "res publica".

Daí a reflexão doutrinária, impregnada de acentuado componente filosófico, que

examina o pensamento democrático à luz das grandes dicotomias, como, por

exemplo, aquela pertinente à dualidade público/privado, subjacente à ideia

mesma de que o respeito, pelos indivíduos, aos limites que definem o

domínio público de atuação do Estado, separando-o, de modo nítido, do

15 Moares, Alexandre de., Direito Constitucional. 5 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 1999. P. 294.

espaço meramente privado, qualifica-se como pressuposto necessário ao

exercício da cidadania e do pluralismo político, que representam, enquanto

categorias essenciais que são (pois dão ênfase à prática da igualdade, do

diálogo, da tolerância e da liberdade), alguns dos fundamentos em que se

estrutura, em nosso sistema institucional, o Estado republicano e democrático

(CF, art. lº, incisos II e V).

Cabe preservar, desse modo, as relações que os conceitos de espaço público

e de espaço privado guardam entre si, para que tais noções não se

deformem nem provoquem a subversão dos fins ético-jurídicos visados pelo

legislador constituinte.

(…)

O fato é um só, Senhor Presidente: quem tem o poder e a força do Estado, em

suas mãos, não tem o direito de exercer, em seu próprio benefício, a autoridade

que lhe é conferida pelas leis da República. (…) E esta Suprema Corte, Senhor

Presidente, não pode permanecer indiferente a tão graves transgressões da

ordem constitucional.” (Voto Min. Celso de Mello - ADC 12, DJE 18/12/2009,

Pleno, Rel. Min. Carlos Britto)

92. Assim, em virtude da lesão ao patrimônio público, almeja-se nos pedidos

dessa Ação Civil Pública, a condenação da FIFA e do Comitê Organizador Local ao

ressarcimento dos gastos que beneficiaram interesses privados da FIFA, sem qualquer

legado para a população, tendo por fundamento o desvio de finalidade e a violação dos

princípios da legalidade, igualdade, impessoalidade, moralidade e eficiência (art. 37,

caput, CF e artigo 2º da Lei 4.717/65).

IV – DO RECONHECIMENTO INCIDENTAL DE NULIDADE:

93. Para fins de ser prestada a tutela jurisdicional de ressarcimento dos valores

do custo das estruturas temporárias da Copa das Confederações FIFA 2013, impõe-se o

reconhecimento incidental de nulidade do Contrato de Estádio (Stadium Agreement –

doc. 6) e seu aditivo, denominado “First Amendment to the Stadium Agreement (doc. 7),

no que toca à imposição de que o Poder Público assumisse o custo das estruturas

temporárias.

94. Eis o teor da obrigação assumida no aditivo ao contrato de estádio, na

cláusula 2.3 (doc. 7):

“Se espaços suficientes, salas, construções e/ou instalações não puderem ser providas

dentro do Estádio para obedecer totalmente a quaisquer exigências feitas pela FIFA

(i.e. Erigir um voluntário, credenciamento ou centro de bilhetes, ou para

estacionamentos, áreas de hospitalidade e de exibição comercial para os Afiliados

Comerciais e cidades sede), a Autoridade do Estádio assumirá a tarefa de alugar,

desenvolver (se necessário) e prover, à FIFA e ao LOC, de acordo com os termos e

condições deste Acordo, os espaços e áreas requeridos (incluindo qualquer

instalação necessária) nas imediações do Estádio para o Período de Uso Exclusivo e

removê-las, (se necessário), depois de usadas pela FIFA e pelo LOC – tais provisões e

remoções são de total custo da Autoridade do Estádio. Qualquer espaço adicional e

salas providas pela Autoridade do Estádio nos termos desta cláusula são, para todos

os fins e propósitos, parte dos termos da Cláusula 3.1 do Estádio, no contexto deste

Acordo”.

95. Com efeito, a nulidade decorre expressamente da lei, (1) seja pela prática

de abuso de direito (artigo 187, CC), (2) seja pelo desvio de finalidade do gasto que não

tutela o interesse público (artigo 2° da Lei 4.717/65), (3) seja pela lesão aos princípios da

legalidade, igualdade, impessoalidade, moralidade e eficiência (art. 37, caput, CF), como

vastamente exposto ao norte desta petição inicial.

96. Assim, requer o autor o reconhecimento incidental da nulidade das

disposições previstas na Cláusula 2.3, Parágrafo 2º do Contrato de Estádio, objeto do

Termo Aditivo celebrado com a FIFA, bem como, por arrastamento, de outras

disposições decorrentes daquela Cláusula que impôs ao Poder Público a obrigação de

arcar com despesas relacionadas às estruturas temporárias16

para a Copa das

Confederações FIFA 2013.

V – DO VALOR DO DANO:

97. No caso dos autos, o valor a ser ressarcido pela FIFA e pelo Comitê

Organizador Local aos cofres públicos atinge a quantia de R$ 33.650.000,00 (trinte e três

milhões, seiscentos e cinquenta mil reais).

98. A comprovação decorre do valor da contratação das estruturas temporárias

suportada pelo Estado para a realização da Copa das Confederações FIFA 2013, conforme

se colhe do instrumento de contrato em anexo. (doc.13)

VI – DAS CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS:

99. Prevê o artigo 53 da Lei 12.663/2012 (Lei Geral da Copa):

Art. 53. A FIFA, as Subsidiárias FIFA no Brasil, seus representantes legais,

consultores e empregados são isentos do adiantamento de custas, emolumentos,

caução, honorários periciais e quaisquer outras despesas devidas aos órgãos da Justiça

Federal, da Justiça do Trabalho, da Justiça Militar da União, da Justiça Eleitoral e da

Justiça do Distrito Federal e Territórios, em qualquer instância, e aos tribunais

superiores, assim como não serão condenados em custas e despesas processuais, salvo

comprovada má-fé.”

100. Há inconstitucionalidade no dispositivo que deve ser reconhecida em

sede de controle difuso.

16 As estruturas temporárias são aquelas previstas no DOC 09, anexo à inicial.

101. A isenção dada à FIFA, às suas subsidiárias, aos seus representantes legais,

aos seus consultores e aos seus empregados (art. 53 da Lei Geral da Copa) viola

manifestamente o princípio da isonomia tributária (art. 150, II, da CR)17

.

102. Trata-se de garantia fundamental do contribuinte de não se ver prejudicado

ante outros que desfrutem de situação idêntica. Em outras palavras, o legislador não pode

favorecer um contribuinte em detrimento de outro, mas somente identificar situações em

que há diferenças que justificam o tratamento diferenciado. Diz Luciano Amaro:

“Assim, nem pode o aplicador, diante da lei, discriminar, nem se autoriza o

legislador, ao ditar a lei, a fazer discriminações. Visa o princípio à garantia do

indivíduo, evitando perseguições e favoritismos.

Tem-se de ver, agora, outra face do princípio, segundo a lição clássica de que a

igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais,

na medida de sua desigualdade. (...)

O problema, parece-nos, deve ser abordado em termos mais amplos: além de saber

qual a desigualdade que faculta, é imperioso perquirir a desigualdade que obriga

a discriminação, pois o tratamento diferenciado de situações que apresentam

certo grau de dessemelhança, sobre decorrer do próprio enunciado do princípio

da isonomia, pode ser exigido de outros postulados constitucionais, como se dá,

no campo dos tributos, à vista do princípio da capacidade contributiva, com o

qual se entrelaça o enunciado constitucional da igualdade.”18

103. Retornando às lições de Celso Antônio Bandeira de Mello, verifica-se que

discriminações em relação ao princípio da isonomia possuem natureza teleológica, ou

seja, sempre se vinculam à efetivação de um fim constitucionalmente protegido que é

17 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,

ao Distrito Federal e aos Municípios: […]

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida

qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente

da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

18 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 158-159.

compatibilizado com o valor da igualdade. Mesmo quando a desequiparação seja

determinada com base em condições individuais singulares de um contribuinte em

questão – como no caso da imunidade recíproca entre os entes federativos –, tem-se no

plano de fundo da desequiparação um fim específico – no exemplo, trata-se da proteção

do pacto federativo, do reforço da autonomia administrativa (pela não confusão entre

patrimônios) e da simplificação das contas públicas.

104. Poucas são as razões constitucionalmente adequadas para a existência de

uma discriminação fiscal. A matriz tributária nacional se fundamenta na justiça tributária,

prevalecendo o direito da Administração Pública recolher a parcela, exceto quando seja

injusta a realização da cobrança. A isenção daqueles que podem pagar somente se dá ante

interesses constitucionais relevantes.

105. Até em questões de política tributária, nas hipóteses em que o legislador

busca favorecer determinado comportamento, deve “haver um critério válido de

discrímen para justificar a isenção, a fim de harmonizá-la com o preceito constitucional

da isonomia”19

. Nesse sentido, a ADI 4.033, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 7.2.2011.

106. No caso, não é possível vislumbrar nenhuma razão que justifique o

tratamento diferenciado da FIFA e de seus relacionados. A única alegação possível, de que

a medida tem um interesse logístico na facilitação da organização da Copa do Mundo não

é motivo constitucionalmente relevante.

107. Nesse sentido, a isenção concedida não se qualifica como um benefício

constitucionalmente adequado, mas como um verdadeiro favorecimento ilegítimo.

108. Por isso, havendo sucumbência da FIFA e do Comitê Organizador

Brasileiro Ltda., impõe-se a condenação em custas, despesas e demais ônus de

sucumbência, na forma prevista pelo Código de Processo Civil, reconhecendo-se, em

19 Idem. pp. 306-307

sede de controle difuso, a inconstitucionalidade do artigo 53 da Lei 12.663/2012.

VII – DOS PEDIDOS:

109. Pelo exposto, requer o Ministério Público:

a) a intimação do Estado para que manifeste interesse em compor o polo ativo da

demanda, nos termos do Artigo 6, § 3º da Lei 4.717/65 c/c Artigo 5, § 2º da Lei 7.347/85,

bem como para que forneça cópia dos comprovantes de pagamento;

b) a citação da FIFA e do Comitê Organizador Brasileiro Ltda. para apresentarem

resposta, caso queiram;

c) ao final, seja julgado procedente o pedido para condenar, solidariamente, a FIFA e o

Comitê Organizador Brasileiro Ltda. ao ressarcimento dos recursos públicos expendidos

pelo Estado na contratação das estruturas temporárias da Copa das Confederações FIFA

2013, no valor de R$ 33.650.000,00 (trinte e três milhões, seiscentos e cinquenta mil

reais) devidamente atualizado com juros e correção monetária, desde a data do evento;

d) a condenação da FIFA e do Comitê Organizador Brasileiro Ltda. em custas, despesas e

demais ônus, nos termos do Código de Processo Civil pátrio, reconhecendo-se

incidentalmente a inconstitucionalidade, em sede de controle difuso, do artigo 53 da Lei

12.663/2012;

e) para fins de prequestionamento, requer a análise expressa do artigo 2° da Lei 4.717/65,

artigo 187 do Código Civil e dos artigos 5º, caput (princípio da igualdade) e 37, caput

(princípios da impessoalidade, igualdade, moralidade e eficiência) da Constituição

Federal;

f) a produção de prova por todos os meios em direito admitidos, notadamente, prova

documental, testemunhal, pericial e outras mais que se fizerem necessárias.

Dá se a causa o valor de R$ R$ 33.650.000,00 (trinte e três milhões,

seiscentos e cinquenta mil reais).

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2013.

Flávio Bonazza de Assis Patrícia do Couto Villela

Promotor de Justiça Promotor de Justiça

Matrícula 2294 Matrícula 2127

Documentos que acompanham a petição inicial

Documento 01: Projetos Conceituais de Estruturas Temporárias

Documento 02: Solicitação dos Estados para a União arcar com os custos

Documento 03: Oficio PGR/GAB/Nº 1795 e Resposta FIFA

Documento 04: Of. Gab SECOPA Nº 502/2013

Documento 05: Relatório Financeiro da FIFA da Copa de 2010

Documento 06: Modelo padrão de Stadium Agreement

Documento 07: Modelo padrão de Aditivo do Stadium Agreement

Documento 08: Notícias sobre os valores das Estruturas Temporárias relativas a Copa das

Confederações 2013.

Documento 09: Mídia com projeto de estruturas temporárias FIFA

Documento 10: Relatório COL África do Sul

Documento 11: Oficio SECOPA 778/2012 e Nota Técnica 051/2102

Documento 12: Procuração da FIFA para o Sr. Fulvio Danilas

Documento 13: Contrato das Estruturas Temporárias