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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE ALAGOAS 26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL 26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL / FAZENDA MUNICIPAL DA CAPITAL O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através da 26ª Promotoria de Justiça da Capital (Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde), com espeque nos arts. 127 e 129, II, da Constituição Federal, na Lei nº 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública e, especialmente, no art. 2º, §1°, da Lei nº 8.080/90, que trata da Legislação da Saúde no Brasil, vem, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de tutela antecipada para cumprimento de obrigação de fazer, em face do MUNICÍPIO DE MACEIÓ, pessoa jurídica de direito público interno, representado, na forma das determinações do art. 12, II, do Código de Processo Civil, pela Procuradoria Geral do Município, situada na rua Dr. Pedro Monteiro, nº 291, Centro, nesta Capital, pelos motivos fáticos e jurídicos infra expendidos: 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE ALAGOAS

26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL26ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CAPITAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL / FAZENDA MUNICIPAL DA CAPITAL

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através da 26ª Promotoria de Justiça da Capital (Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde), com espeque nos arts. 127 e 129, II, da Constituição Federal, na Lei nº 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública e, especialmente, no art. 2º, §1°, da Lei nº 8.080/90, que trata da Legislação da Saúde no Brasil, vem, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de tutela antecipada para cumprimento de obrigação de fazer, em face do MUNICÍPIO DE MACEIÓ, pessoa jurídica de direito público interno, representado, na forma das determinações do art. 12, II, do Código de Processo Civil, pela Procuradoria Geral do Município, situada na rua Dr. Pedro Monteiro, nº 291, Centro, nesta Capital, pelos motivos fáticos e jurídicos infra expendidos:

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I - DOS FATOS

Há muito, é patente a problemática envolvendo as ausências de profissio-nais da saúde a seus trabalhos nas unidades de saúde de Maceió. Não raramente, são veiculadas em mídia ocorrências de pacientes que chegaram a Postos de Saúde e não conseguiram atendimento pela falta do médico que deveria estar presente no respectivo horário.

Nesse sentido, o Serviço de Autoria em Alagoas do Departamento Nacional de Auditoria do SUS – DENASUS, encaminhou, em meados de 2014, a esta Promotoria de Justiça Especializada, Relatórios de encerramento de Visitas Técnicas realizadas em Unidades de Saúde de Maceió que detêm substancial importância aos serviços públicos de saúde maceioenses, em razão de suas grandes demandas populacionais, com o objeti-vo de apurar a efetividade e frequência dos recursos humanos, quais sejam: PAM Salga-dinho, João Paulo II, José Araújo Silva, Roland Simon, PAM Bebedouro e Ouro Preto.

Com o fito de ratificar e vislumbrar indutivamente a situação geral de comparecimento e frequências dos profissionais nas Unidades de Maceió, passaremos a minuciar individualmente cada Relatório de encerramento de Visita Técni-ca realizadas nos mencionados estabelecimentos de saúde. Destarte, ressalta-se que, apesar de os relatórios serem relativos apenas a um número limitado de unidades, estes se configuram meramente exemplificativos, tendo em vista que é cediço que as más cir-cunstâncias de controle de frequência dos recursos humanos se reproduzem em todas as demais unidades maceioenses.

Iniciando-se a perscrutação, no que pertine ao Posto de Atendimento Médi-co (PAM) Salgadinho, o Relatório de encerramento da Visita Técnica 4792 (doc. 01), rea-lizada no período de 02 a 03 de junho do transcorrido ano, pontua:

3.2.2 - Constatamos que a maioria dos profissionais da área assistencial,

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de acordo com o CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde), conta com carga horária de 20 horas de trabalho semanal, não co-incidindo com a Relação dos Profissionais do RH do PAM Salgadinho e suas respectivas cargas horárias, cujos horários contratados não vêm sen-do cumpridos pela grande maioria dos profissionais.

3.2.3 - Checando a folha de ponto dos profissionais, verificamos que suas frequências estavam devidamente assinadas até nos dias que os mesmos não se encontravam na Unidade de Saúde, comparando os horários e dias de atendimentos fixados nos setores sem visibilidade para os usuários do SUS, os registrados na relação entregue pelo RH do PAM e os boletins de frequência diária, tem profissionais que nem sequer as-sinam a folha de ponto. (grifo nosso)

3.2.4 - Quando há falta dos profissionais, é elaborado pela Direção, um memorando para a Ouvidoria do Município tomar as devidas providências que constatamos através de documentos que na maioria dos casos a ouvi-doria não dá retorno quanto às providências tomadas. (grifo nosso)(...)4.1.1 – De acordo com a quantidade de profissionais médicos e outros pro-fissionais de nível superior pertencentes ao quadro do PAM Salgadinho e a Produção da Unidade verificamos uma defasagem no atendimento. (grifo nosso)(...)10.4 – Ficaram evidentes na visita à Unidade e nos documentos analisados e entregues pela Direção, o descumprimento da carga horária pelos profissionais, como também, diversos profissionais ociosos sem realizarem procedimentos e profissionais, de acordo com o CNES, lotados na Unidade e não localizados na mesma. (grifo nosso)

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No tocante às Unidades de Saúde João Paulo II e José Araújo Silva, o Relatório de encerramento da Visita Técnica 4794 (doc. 02), realizada no período de 09 a 11 de junho do fin-do ano, constatou:

(Quanto à Unidade de Saúde João Paulo II:)Foram observadas fragilidades nos mecanismos de controle de fre-quência dos profissionais que prestam serviços na Unidade de Saú-de João Paulo II, o que dificulta ações de análise e acompanhamen-to da efetividade e frequência dos recursos humanos. O registro é realizado por meio de folha com preenchimento manual do horário de en-trada, saída e assinatura dos profissionais, sendo verificada, inclusive, ausência de preenchimento do horário de entrada e saída, sem jus-tificativas (especialidades: endocrinologia, pediatria e cardiologia), e an-tecipação de registros de horários e assinaturas de servidores em datas posteriores à da visita da Equipe do SEAUD/MS/DENASUS/AL (especialidade: urologia e profissional auxiliar de enfermagem). (grifo nosso)

Em análise dos registros de frequências e atendimentos dos profissionais de nível superior, técnicos, auxiliares e assistentes de nível intermediário, com cargas horárias de 20, 30 e 40 horas semanais, verificou-se o não cumprimento do horário de trabalho contratado, haja vista a com-provação nos registros de ponto, do quantitativo de horas semanal efeti-vamente registrada a menor que a contratada pela administração munici-pal a exemplo de profissional médico pediatra com carga horária de 20 (vinte) horas que, no registro, consta assinado apenas 09 (nove) horas cumpridas e do profissional auxiliar de enfermagem, com carga horária de 30 (trinta) horas, que cumpriu apenas 25 (vinte e cinco) horas no período verificado. Desta forma encontra-se em desa-cordo com o Art. 44 incisos I e II da Lei 8.112/90 – Regime Jurídico dos

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Servidores Públicos Civil da União, das Autarquias e das Fundações Públi-cas Federais, Art. 49 incisos I e II da Lei nº 5247 de 26 de julho de 1991 – Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civil do Estado de Alagoas, das Autarquias e das Fundações Públicas Estaduais e Art. 57 incisos I e II da Lei nº 4973/2000 – Estatuto dos Servidores Municipais de Maceió, onde estabelecem que o servidor perderá a remuneração do dia em que faltar ao serviço, se motivo justificado e a parcela de remuneração diária, pro-porcional aos atrasos, ausências justificadas e saídas antecipadas, salvo na hipótese de compensação de horário, até o mês subsequente ao da ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata. (grifo nosso)

Verificou-se que os profissionais médicos não mantêm compareci-mento regular para assistência ao usuário, sendo observados, na fre-quência e nos registros de produção diários, comparecimentos intercala-dos ocasionando sobrecarga de atendimentos diários, em desacordo com a capacidade de produção/dia para carga horária de 20h semanais (16 clínicas, Psiquiatria 12 consultas/dia), a exemplo de profissio-nais Dermatologista, Psiquiatra, com carga horária de 20h sema-nais que registraram 36 a 29 consultas/dia respectivamente. (grifo nosso)

Em análise dos Registros Diários de Atendimentos dos profissionais da área de saúde a Equipe constatou que há déficits no quantitativo de con-sultas/dia, as realizadas na data da visita, 09/06/2014, a exemplo do pro-fissional Cardiologista que mesmo sendo contratado com carga horária de 20 (vinte) horas, como indica o documento fornecido pela administração, está produzindo aquém da capacidade/hora. Conforme Capacidade de Produção de Alguns Recursos Humanos na Área da Saúde, Letra G.1 Por-taria MS/GM nº 1.101, de 12 de junho de 2002 que estabelece os parâme-tros de cobertura assistencial no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, o parâmetro recomendado para essa categoria funcional é 16 (de-

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zesseis) consultas/dia para o profissional com carga horária de 20 horas semanais, todavia, o profissional realizou 11 (onze) atendimentos. Vale ressaltar que o fato se confirma no Relatório de Produção Ambulatorial de Procedimento da Tabela Unificada de Saúde João Paulo II, disponível para download no sitio: datasus.saude.gov.br/informaçoes-de-saude/ferramen-tas/tabwin, período abrangente novembro/2013 a abril/2014, em que a mesma especialidade, teve produção inferior ao potencial de produti-vidade: um total de 635 atendimentos enquanto que, conforme parâmetro recomendado, um profissional com 20 (vinte) horas se-manais poderia realizar no mínimo 2.112 (duas mil, cento e doze consultas) no período supracitado. (…) (grifo nosso)

O Relatório demonstra ainda que não houve produção dos profissionais de odontologia no período de abrangência da Visita Técnica.(...)

Os registros de controle de frequência utilizados pela administra-ção da Unidade são frágeis e não garantem a efetividade no cum-primento da carga horária estabelecida nos contratos de trabalho. (grifo nosso)

(Quanto ao Centro de Saúde José Araújo Silva:)Foram observadas fragilidades nos mecanismos de controle de fre-quência dos profissionais que prestam serviços na Unidade de Saú-de da Família José Araújo Silva, o que dificulta ações de análise e acompanhamento da efetividade e frequência dos recursos huma-nos. O registro é realizado por meio de folha com preenchimento manual do horário de entrada, saída e assinatura dos profissionais, sendo verifi-cada inclusive ausência de preenchimento do horário de entrada e saída, sem justificativas, e antecipação de registro de assinatura pelos profissionais. Desta forma encontra-se em desacordo com o Art. 44 incisos I e II da Lei 8.112/90 – Regime Jurídico dos Servidores Públicos

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Civil da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais, Art. 49 incisos I e II da Lei nº 5247 de 26 de julho de 1991 – Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civil do Estado de Alagoas, das Autarquias e das Fun-dações Públicas Estaduais e Art. 57 incisos I e II da Lei nº 4973/2000 – Estatuto dos Servidores Municipais de Maceió, onde estabelecem que o servidor perderá a remuneração do dia em que faltar ao serviço, se moti-vo justificado e a parcela de remuneração diária, proporcional aos atra-sos, ausências justificadas e saídas antecipadas, salvo na hipótese de com-pensação de horário, até o mês subsequente ao da ocorrência, a ser esta-belecida pela chefia imediata. (grifo nosso)

A entrevista com a Coordenação Administrativa revelou que encon-tra dificuldades para o acompanhamento da assiduidade e da efeti-vidade das ações desenvolvidas pelas equipes da ESF (Estratégia Saúde da Família), bem como, no gerenciamento das informações esta-tísticas geradas pelas equipes. Não foram disponibilizados a Equipe de Vi-sita Técnica documentação que comprove a produção realizada e parâme-tros pactuados pelas equipes ESF no período de abrangência da ativida-de, em desacordo com o Art. 11 do Decreto nº 1651, de 28 de setembro de 1995. (grifo nosso)

Em análise dos Registros Diários de Atendimentos dos profissionais da área de saúde a Equipe constatou que há déficits no quantitativo de con-sultas/mês, a exemplo dos profissionais: psicólogo e assistente soci-al com cargas horárias de 30 (trinta) horas semanais, que estão produzindo aquém da capacidade/hora. Conforme Capacidade de Pro-dução em Consulta de Alguns Recursos Humanos na Área da Saúde, Letra G.1 Portaria MS/GM nº 1.101, de 12 de junho de 2002 que estabelece os parâmetros de cobertura assistencial no âmbito do Sistema Único de Saú-de – SUS, o parâmetro recomendado para essas categorias funcionais são 396 (trezentos e noventa e seis) atendimentos respectivamente. Vale res-

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saltar que o fato se confirma no Relatório de Produção Ambulatorial de Procedimento da Tabela Unificada de Saúde João Paulo II, disponível para download no sitio: datasus.saude.gov.br/informaçoes-de-saude/ferramen-tas/tabwin, período abrangente novembro/2013 a abril/2014, em que as mesmas especialidades, tiveram produção inferior ao potencial de produ-tividade: um profissional com 30 (trinta) horas semanais poderia realizar no mínimo 2.376 (duas mil, trezentos e setenta e seis) consultas/mês no período supracitado. […]

Verificou-se que os profissionais médicos não mantém compareci-mento regular para assistência ao usuário, sendo observados, na fre-quência e nos registros de produção diários comparecimentos intercala-dos (faltas), ocasionando sobrecarga de atendimentos diários, em de-sacordo com a capacidade de produção/dia para carga horária de 20h se-manais (16 consultas/dias), a exemplo do profissional clínico, com carga horária de 20h semanais, que registrou 62 (sessenta e duas) consul-tas/dia. (grifo nosso)[…]Os registros de controle de frequência utilizados pela administra-ção da Unidade são frágeis e não garantem a efetividade no cum-primento da carga horária estabelecida nos contatos de trabalho. (grifo nosso)

A produção ambulatorial dos profissionais de saúde não está de acordo com a Capacidade de Produção Recomendada de Alguns Recursos Huma-nos na Área da Saúde, Letra G.1 Portaria MS/GM nº 1.101, de 12 de junho de 2002.

Em seguimento, atinente à Unidade de Saúde Roland Simon, o Rela-tório de encerramento da Visita Técnica 4796 (doc. 03), realizada no período de 09 a 10 de junho do findo ano, asseverou:

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Constatamos um total de 11 (onze) médicos: (03 com 20 horas e 08 com 40 horas de trabalho semanal) 01 Psicólogo, 01 Farmacêutico e 01 Enfer-meiro com contrato de trabalho de 30 horas semanais e a diretora da Uni-dade de Saúde é médica com 40 horas de trabalho semanal. Os médicos são distribuídos em (05) cinco especialidades, a saber: Clínica Geral, Gi-necologia/Obstetrícia, Pediatria, Urologia e Dermatologia e não mantém comparecimento regular na Unidade de Saúde para assistência ao usuário, sendo observados, na frequência e nos registros de produ-ção diários, comparecimentos intercalados (falta), desta forma en-contra-se em desacordo com o Art. 44 incisos I e II da Lei 8.112/90 – Regi-me Jurídico dos Servidores Públicos Civil da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais, Art. 49 incisos I e II da Lei nº 5247 de 26 de julho de 1991 – Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civil do Estado de Alagoas, das Autarquias e das Fundações Públicas Estaduais e Art. 57 incisos I e II da Lei nº 4973/2000 – Estatuto dos Servidores Municipais de Maceió, onde estabelecem que o servidor perderá a remuneração do dia em que faltar ao serviço, se motivo justificado e a parcela de remuneração diária, proporcional aos atrasos, ausências justificadas e saídas antecipa-das, salvo na hipótese de compensação de horário, até o mês subsequente ao da ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata. (grifo nosso)(...)Os atendimentos de consultas em clínica médica e nas especialida-des acontecem abaixo da média descrita na Portaria/GM/MS nº 1.101 de 2002. (grifo nosso)

Produção ambulatorial dos médicos (no período entre novembro/2013 e abril/2014): Meta esperada – 35.910; Meta reali-zada – 10.817; Percentual atingido – 30,12%. (grifo nosso)

Consultas com Psicologia, Assistente Social e Enfermagem (no período

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entre novembro/2013 e abril/2014): Meta esperada – 35.910; Meta re-alizada – 12.097; Percentual atingido – 33,68%. (grifo nosso)(...)A direção da Unidade tem dificuldade em gerenciar o controle da frequência dos servidores, não garantindo a efetividade no cumpri-mento da carga horária. (grifo nosso)

Alfim, no que diz respeito ao Posto de Atendimento Médico (PAM) Bebedouro e à Unidade de Saúde da Família de Ouro Preto, o Relatório de encerramen-to da Visita Técnica nº 4793 (doc. 04), realizada no período de 14 a 18 de junho do transpassado ano, expôs que:

(Quanto ao PAM Bebedouro:)A Unidade de Saúde não disponibilizou as frequências de comparecimen-to dos servidores dos meses anteriores. Foi fornecida a frequência do mês em curso até 18/06/2014, de 75 servidores, onde se constatou a fre-quência de 36 (48%) delas estavam sem assinaturas, 26 (35%) com assinaturas desatualizadas e 13 (17%) com assinatura em dia. Des-ta forma encontra-se em desacordo com o Art. 44 incisos I e II da Lei 8.112/90 – Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civil da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais, Art. 49 incisos I e II da Lei nº 5247 de 26 de julho de 1991 – Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civil do Estado de Alagoas, das Autarquias e das Fundações Públicas Es-taduais e Art. 57 incisos I e II da Lei nº 4973/2000 – Estatuto dos Servido-res Municipais de Maceió, onde estabelecem que o servidor perderá a re-muneração do dia em que faltar ao serviço, se motivo justificado e a par-cela de remuneração diária, proporcional aos atrasos, ausências justifica-das e saídas antecipadas, salvo na hipótese de compensação de horário, até o mês subsequente ao da ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata. (grifo nosso)

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Nos primeiros 15 (quinze) dias do mês de junho foram realizadas 1.045 consultas com médicos, conforme análise dos registros diários de atendimento ambulatorial disponibilizado pela equipe da Direção da Unidade totalizando 24,94% do total a ser realizado no mês segundo os parâmetros preconizados na Portaria GM/MS nº 1.101/2002. (grifo nos-so)(…)

Em análise dos boletins de atendimento constatamos que não tem cumprimento da carga horária dos profissionais de nível superior. (grifo nosso)(…)

A direção da Unidade tem dificuldade em gerenciar o controle da frequência dos servidores, não garantindo a efetividade no cumpri-mento da carga horária atribuída à falta de condições de trabalho que a Unidade oferece para o desempenho das atividades e do exercício profissional. (grifo nosso)

(Quanto à Unidade de Saúde da Família de Ouro Preto:)Constataram um total de 02 (dois) médicos com 40 horas de trabalho se-manal, que pertencem ao Programa Saúde da Família e outro médico Gi-necologista que dá apoio às duas equipes, 01 Psicólogo, 01 Farmacêutico e 02 Enfermeiros com contratos de trabalho de 40 horas semanais, 12 Agentes Comunitários de Saúde, e 03 Auxiliares de Enfermagem todos pertencentes às equipes; sendo observados, na frequência e nos re-gistros de produção diários comparecimentos intercalados (faltas) não controle pela direção a frequência é assinada quando o servi-dor vem à Unidade de Saúde, desta forma encontra-se em desacordo com o Art. 44 incisos I e II da Lei 8.112/90 – Regime Jurídico dos Servido-res Públicos Civil da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Fe-derais, Art. 49 incisos I e II da Lei nº 5247 de 26 de julho de 1991 – Regi-

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me Jurídico dos Servidores Públicos Civil do Estado de Alagoas, das Au-tarquias e das Fundações Públicas Estaduais e Art. 57 incisos I e II da Lei nº 4973/2000 – Estatuto dos Servidores Municipais de Maceió, onde esta-belecem que o servidor perderá a remuneração do dia em que faltar ao serviço, se motivo justificado e a parcela de remuneração diária, proporci-onal aos atrasos, ausências justificadas e saídas antecipadas, salvo na hi-pótese de compensação de horário, até o mês subsequente ao da ocorrên-cia, a ser estabelecida pela chefia imediata. (grifo nosso)(…)A direção da Unidade tem dificuldade em gerenciar o controle da frequência dos servidores, não garantindo a efetividade no cumpri-mento da carga horária. (grifo nosso)

Ante todo o expendido, é insofismável que o atual sistema de controle de frequência é plenamente frívolo, não contendo a mínima eficácia em sua aplicação real. Desta feita, resta claro como o sol que há a corriqueira burla do cumprimento da carga horária, restando intolerável essa destreza na conduta de profissionais que exercem, diuturnamente, os serviços de saúde imprescindíveis ao salvamento de vidas, motivo pelo qual ressalta-se que a presente demanda judicial é direcionada a todos os servidores públicos, médicos ou não, envolvidos no funcionamento das Unida-des sob gestão municipal, isonomicamente, independente do vínculo, quer se-jam efetivos, prestadores de serviço, terceirizados e, inclusive, acadêmicos, lo-tados nas unidades municipais, inclusive na sede administrativa da Secretaria Municipal de Saúde. (doc. 05)

Por derradeiro, resta hialino que, enquanto persiste a vulnerabilidade do sistema de controle de assiduidade em vigor, são os cidadãos, principalmente os susde-pendentes, que têm lacerados os seus direitos basilares à saúde e à vida, sem direito a um atendimento digno e eficiente, maculando a possibilidade de uma existência digna, sem falar no ordenamento jurídico pátrio e no erário que são constantemente lesados

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por iterativos atos e condutas de improbidade.II – DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Constituição Federal estatui, em seu artigo 127, que “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Outrossim, no artigo 129, inciso II, nossa Carta Magna dispõe que é função institucional do Ministério Público “zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados pela Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia”.

Ulteriormente, em seu artigo 197, a própria Carta Constitucional define que são serviços de relevância pública “as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física e jurídica de direito privado”.

Desta forma, infere-se dos artigos acima citados que é inegável a legitimação do Ministério Público no que concerne à propositura de ações que obrigam os Poderes Públicos a prestarem atendimento universal e igualitário à saúde, pois são serviços erigidos, por norma constitucional, à condição de relevância pública.

Além disso, a Lei nº 7.347/85, que disciplina a ação civil pública, é taxativa, afirmando, em seu art. 5º, que a ação poderá ser proposta “pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que (...)”.

Vejamos decisão do Supremo Tribunal Federal, proferindo a pacificidade do entendimento de ser legítimo o Ministério Público para ajuizar medidas judiciais em

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defesa de direitos difusos, coletivos e homogêneos:

CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO. DEFESA DE DIREITOS COLETIVOS. CF/88, ARTS. 127, 129, III. 1. O Ministério Público detém legitimidade para propor ação civil pública na defesa de interesses difusos, coletivos e homogêneos (CF/88, arts. 127, caput, e 129, II e III). Precedente do Plenário: RE 163.231/SP, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 29.06.2001. 2. O art. 557, caput, do Código de Processo Civil permite ao relator, em decisão monocrática, negar seguimento a recurso manifestamente intempestivo, incabível ou improcedente e, ainda, quando contrariar a jurisprudência predominante do Tribunal. 3. Agravo regimental improvido.(STF - AI: 507297 MG , Relator: Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe-145 EMENT VOL-0240906PP-01433)

Portanto, irrefutável é o fato deste Parquet deter plena legitimidade para propor a presente Ação Civil Pública com o fim de pleitear a concretização dos direitos basilares à saúde e à vida que são violados reiteradamente, com o difícil acesso à assis-tência à saúde, desta feita, em razão da ausência de servidores públicos, profissionais da saúde, que deveriam se fazer efetivamente presentes nas Unidades de Maceió e cum-prindo plenamente a carga horária pela qual foram contratados e são devidamente re-munerados pelo erário.

III - DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO DE MACEIÓ.

A Constituição Federal, em seu artigo 23, inciso II, estabelece que “é competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios cuidar da saúde e assistência pública (...)”.

Neste desiderato, a Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal nº 8.080/90), em seu artigo 4º, versa que “o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos

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e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde”, seguindo em seu artigo 6º, inciso I, alínea d, “estão incluídas ainda no campo de atuação do SUS, a execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”.

Ademais, o objeto da presente demanda são as Unidades sob gestão do Município de Maceió, inclusive a unidade administrativa da Secretaria Municipal de Saúde, não restando qualquer ínfimo jaez de dúvida quanto ao ingresso do ente municipal, como réu, na relação jurídica ora em testilha.

IV – DO DIREITO

Dispõe nossa contemporânea Carta Constitucional, em seu artigo 196:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

A Lei Maior, continua, em seu artigo 197, definindo que são serviços de relevância pública “as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física e jurídica de direito privado”.

Outrossim, a Constituição da República, em seu art. 37, assim como a Carta Constitucional do Estado de Alagoas, em seu art. 42, dispõem que a Administração Pública de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios deve obedecer, dentre outros, aos princípios da legalidade, da

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impessoalidade, e da eficiência. E, nesse mesmo diapasão, a axiomática Lei da Improbidade Administrativa (Lei Federal nº 8.429, de 2 de junho de 1992) e o Estatuto dos Servidores Municipais de Maceió (Lei Municipal nº 4.973, de 31 de março de 2000) cristalina e respectivamente, determinam:

Lei nº 8.429/92:

Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”

Lei nº 4.973/00:

“Art. 146. São deveres do servidor: I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; II - ser leal às instituições a que servir; III - observar as normas legais e regulamentares; (...) VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração; (Redação dada pela Lei nº 12.527, de 2011) (...) IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa; X - ser assíduo e pontual ao serviço;”

Art. 147. Ao servidor é proibido: I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe imediato; (...) XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; (grifos nossos)

No mesmo sentido, o referido Estatuto versa acerca da inassiduidade dos servidores públicos municipais em seu art. 164: “Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao serviço sem causa justificada, por 30 (trinta) dias, interpoladamente, durante o período de 12 (doze) meses.”

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Continuando no orbe da assiduidade, dispõe o Código de Ética Médica, em seu Capítulo III, atinente à Responsabilidade Profissional:

Capítulo III – Responsabilidade Profissional:

Art. 36 – Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamen-te, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus pacientes em estado grave.

Art. 37 – Deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por motivo de força mai-or.” (grifos nossos)

No mesmo passo, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, esta-tui as seguintes proibições que envolvem a prática da burla à carga horária:

Art. 35 – Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada.

Art. 80 – Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de enfermagem ou de saúde, que não seja enfermeiro.

Art. 56 – Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e às demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.

Art. 73 – Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou jurí-dicas que desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profis-sional de enfermagem.

Nesse universo fraudulento, convencido da notória fragilidade quanto ao registro de frequência pelas vias manual ou mecânica, o legislador federal sabiamente deliberou acerca do melhor instrumento de controle de assiduidade e pontualidade, de-terminando que todos os servidores públicos federais terão sua frequência registrada obrigatoriamente através de CONTROLE ELETRÔNICO DE PONTO, consoante o deter-minado pelo Decreto nº 1.867, de 17 de abril de 1996, em seu art. 1º:

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“Art. 1° O registro de assiduidade e pontualidade dos servidores públicos fede-rais da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional será reali-zado mediante controle eletrônico de ponto.”

Sob este viés, perfaz-se elucidado que o ordenamento jurídico pátrio esta-belece que, para o liso e reto exercício dos serviços públicos, é irrefragavelmente neces-sário um meio idôneo de controle de assiduidade daqueles que o desempenham, sendo crucial e imprescindível a adoção de sistema eletrônico de controle de ponto para o preenchimento da lacuna que ocasiona e oportuniza a prática reiterada de atos de des-lealdade e improbidade contra a administração pública e desrespeito contra o cidadão.

V – DO SISTEMA ELETRÔNICO DE CONTROLE DE PONTO POR RECONHECI-MENTO BIOMÉTRICO E DE SUAS VERTENTES

Não obstante os parâmetros e as razões exaustivamente acima expendidas acerca da irrefutável necessidade da implantação do sistema eletrônico de controle de frequência nas unidades de saúde municipais, vale ressaltar a importância da implanta-ção de um sistema eletrônico plenamente eficaz ao fim que se destina, sendo ele, o pa-tente Registro de Ponto por Biometria.

A impressão digital é a técnica de identificação biométrica mais antiga e tem sido utilizada com sucesso em inúmeras aplicações, como por exemplo o Registro Geral (RG) ou identidade, utilizadas pelas Secretarias de Segurança Pública em todo o Brasil. A identificação biométrica por impressão digital é definida como segura pelo princípio da unicidade, no qual é estimado que a possibilidade de duas pessoas, incluin-do gêmeos, terem a mesma impressão digital é menor que uma em um bilhão. Essa se-gurança é ratificada pelo meio científico desde 1823, quando o cientista tcheco, Jan Evangelista Purkinje, durante suas pesquisas sobre glândulas sudoríparas, constatou que a pele dos dedos possuía desenhos formados por sulcos e ranhuras únicos para cada

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indivíduo.1

Sendo notoriamente comprovada a eficácia do sistema em tela, verifica-se, consoante notícia veiculada no site da Secretaria Estadual de Saúde (doc. 06), que em abril de 2010, o Hospital Geral do Estado de Alagoas promoveu o cadastramento biomé-trico de servidores efetivos, prestadores de serviço, terceirizados e acadêmicos, visando combater as fraudes, já existentes desde à época, no controle de frequência manual.

Todavia, chegou ao conhecimento deste Parquet que surgiram danificados, subitamente, a aparelhagem responsável pelo funcionamento do sistema de ponto bio-métrico, tendo, o modo de registro de frequência do HGE regredido às falhas modalida-des manuais, motivo pelo qual o controle de frequência dos servidores do referido noso-cômio e das unidades de saúde sob gestão estadual já são objeto da Ação Civil Pública nº 0710899-94.2014.8.02.0001, tramitante na 17ª Vara Cível / Fazenda Estadual da Ca-pital, restando agora a evolução das Unidades de Saúde sob gestão municipal para o efi-caz método de controle de assiduidade em tela, devendo ser tal medida estendida à sede administrativa da Secretária Municipal de Saúde de Maceió.

Destarte, a despeito de ser o sistema biométrico de controle de ponto o mais eficaz e pertinente à necessária prestação eficiente dos serviços públicos, deve-se ressaltar que não só há a necessidade da implantação desse método em todas as unida-des sob gestão do governo municipal, mas também a da efetiva fiscalização da utilização do mesmo, sendo devido o provimento concomitante de todos os meios imprescindíveis à segurança, manutenção e pleno funcionamento do sistema, assim como, devem ser adotadas, pela respectiva administração de cada unidade, as providências necessárias à operativa fiscalização do procedimento de justificativa adotado aos servidores para as eventuais saídas/faltas ao trabalho, bem como ser esse tópico objeto de auditorias perió-dicas pela Secretaria Municipal de Saúde, sob pena de ser jogado fora todos recursos públicos despendidos com o sistema de registro biométrico.

1 SANCHEZ, M. P. Registro de frequência de discentes por meio de biometria. 2011. 70 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade de Taubaté, Taubaté-SP. 2011.

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VI – DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA INAUDITA ALTERA PARS

A concessão antecipada da tutela está prevista no artigo 273, do Código de Processo Civil, que estatui que “o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação”.

Nos termos dos artigos 11 e 12, caput, da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), o juiz pode conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, impondo multa diária ao réu e fixando prazo razoável para o cumprimento da obrigação.

No caso em tela, a detença enfrentada por eventual indeferimento do pleito ou, ainda, pelas consequências do atual falho sistema de controle de assiduidade, causa incontestavelmente danos irreversíveis a toda a população maceioense que ne-cessita diariamente do já fragilizado Sistema Único de Saúde. Desse modo, caso não seja concedida a tutela antecipada, a demora ainda será bastante estendida em razão dos largos prazos de que goza o Estado para contestar, sendo o longo decurso do tempo desmedidamente prejudicial, acarretando indiscutivelmente danos irreparáveis à saúde e à vida de todos os pacientes em decorrência da desassistência causada pela ausência de profissionais da saúde que executem o devido atendimento e acompanhamento imprescindíveis à manutenção e à recuperação da saúde dos usuários do SUS.

VII - DO PEDIDO

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por intermédio de sua agente infra-assinada, REQUER, CONSIDERANDO A RELEVÂNCIA DA

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PRESENTE DEMANDA:

I - A concessão da tutela antecipada, a fim de determinar que o Município de Maceió implante, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, o sistema de controle eletrônico BIOMÉTRICO de carga horária, para todos os servidores públicos, independente do vínculo, quer sejam efetivos, prestadores de serviço, terceirizados e, inclusive, acadêmicos, envolvidos no funcionamento das Unidades de Saúde sob gestão do Município de Maceió, inclusive na sede administrativa da Secretaria Municipal de Saúde (doc. 05), em conjunto com a implementação de todas as ações de fiscalização, manutenção e segurança ou de diversa natureza que sejam necessárias à efetividade do sistema, inclusive a adoção, pela respectiva administração de cada unidade, das providências necessárias à operativa fiscalização do procedimento de justificativa adotado aos servidores para as eventuais saídas/faltas ao trabalho, bem como que seja esse tópico objeto de auditorias periódicas pela Secretaria Municipal de Saúde, a fim de garantir o real cumprimento da jornada de trabalho pela qual todos os servidores são devidamente remunerados pelos cofres públicos, e, por conseguinte, sejam tutelados os direitos à saúde e à vida dos usuários do Sistema Único de Saúde que necessitam nimiamente dos serviços prestados pelo Município de Maceió.

II - Que se comunique à Secretária de Saúde de Maceió, na qualidade de autoridade diretamente responsável pelos atos a serem cumpridos em razão das ordens judiciais expedidas decorrentes da tutela liminar ora pleiteada, bem como a cada um dos eventuais sucessores deste durante o período em que tramitar a presente demanda, que o descumprimento das providências acima mencionadas e ordenadas pelo Juízo implicará na incidência, por parte dos agentes responsáveis pela implementação das medidas judiciais, na incursão pessoal pelo cometimento das sanções legais cabíveis

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pela desobediência;III - A cominação de astreintes em desfavor do Réu, a incidir em caso de

descumprimento da decisão antecipatória em tela, nos termos do art. 11, da Lei nº 7.347/85, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), a ser debitado dentre as verbas de contingência, as destinadas ao âmbito de publicidade e marketing do município, e as de gabinete, assim como, caso sejam estas insuficientes, debite-se da Conta Única do Tesouro Municipal. Concomitantemente, proscreva-se a veiculação, pelo mesmo ente federativo, de propagandas de todas as espécies, enquanto não sanadas e cumpridas as pendências administrativas e judiciais atinentes à efetivação da prestação obrigatória dos essenciais serviços públicos de saúde, tendo em vista que se há exiguidade de recursos para a concretização do primário e fulcral direito à vida, não deve haver, então, numerários disponíveis às prescindíveis atividades do gênero publicitário. Outrossim, requer, ainda, que os referidos valores, a caso debitados, venham a ser depositados em conta específica do Fundo Municipal de Saúde com o fim de serem revertidos à aquisição, implantação e manutenção do Sistema Eletrônico de Registro de Ponto Biométrico ora altercado, bem como dos meios de fiscalização do funcionamento deste.

IV - A citação do réu, na pessoa de seus representantes legais, para, querendo, responder aos termos da presente ação, no prazo legal, sob pena de confissão e revelia;

V – Que seja este Ministério Público Estadual intimado, pessoalmente, dos atos processuais, no endereço da 26ª Promotoria de Justiça da Capital, localizada no edifício da Escola Superior do Ministério Público, Centro de Defesa da Cidadania – Av. Dep. Humberto Mendes, 636, Poço, Maceió/AL – CEP 57.025-275.

VI - Que sejam julgadas procedentes as pretensões ora deduzidas,

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confirmando-se, em definitivo, todos os pedidos requeridos em sede de tutela antecipada, condenando-se o Município de Maceió nas obrigações ali descritas e determinando que a antecipação da tutela, de início deferida, continue produzindo seus efeitos até o trânsito em julgado da sentença de procedência.

Protesta por todo gênero de provas em direito admitidas.

Dá-se à causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Termos em que pede, e espera, deferimento.

Maceió, 01 de Junho de 2015.

MICHELINE LAURINDO TENÓRIO SILVEIRA DOS ANJOS Promotora de Justiça Titular da 26ª Promotora de Justiça da Capital

H.L.

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