excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da vara cÍvel da comarca ... · assim, após o...
TRANSCRIPT
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
1
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA
DE PIRAÍ DO SUL, ESTADO DO PARANÁ.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu
agente que adiante assina, no uso de suas atribuições legais, com base no incluso Inquérito
Civil nº MPPR-0110.11.000012-9, vem, perante Vossa Excelência, com fundamento nos art.
127, caput, 129, inciso III, art. 37, caput e § 4º, todos da Constituição Federal; art. 25, inciso IV,
alíneas “a” e “b”, da Lei nº. 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); art. 68,
inciso VI, da Lei Complementar nº. 85/99 (Lei Orgânica do Ministério Público do Paraná); art. 1º
e 5º, da Lei nº. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública); e Lei nº. 8.429/92 (Lei da Improbidade
Administrativa) propor o presente pedido de provimento jurisdicional de:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO DE DANO AO
PATRIMÔNIO PÚBLICO E IMPOSIÇÃO DE SANÇÕES POR
ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, em desfavor de:
ANTÔNIO EL ACHKAR, brasileiro, casado, Prefeito do Município
de Piraí do Sul, Estado do Paraná, portador da Cédula de Identidade/RG: 1.083.030-3, inscrito
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
2
no CPF/MF nº. 339.990.669-20, residente e domiciliado na Avenida Manoel Ribas, nº. 884,
centro, neste município e comarca de Piraí do Sul (PR);
JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS,
sociedade de advogados inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil/Paraná sob o nº. 572, e
no CNPJ sob o nº. 03.175.509/0001-63, com sede na Rua Juvenal Mesquita, nº. 950, Edifício
Antônio Dias, 1º andar, centro, município e comarca de Bandeirantes/PR; representado por seu
sócio-administrador JOSÉ CARLOS DIAS NETO, brasileiro, casado, advogado, inscrito na
OAB/PR sob o nº. 16.663-A, portador do RG: 1.931.136-8 SSP/PR e inscrito no CPF sob o nº.
021.609.568-99; e
JOSÉ CARLOS DIAS NETO, brasileiro, casado, advogado,
inscrito na OAB/PR sob o nº. 16.663-A, portador do RG: 1.931.136-8 SSP/PR e inscrito no CPF
sob o nº. 021.609.568-99, domiciliado na Rua Juvenal Mesquita, nº. 950, Edifício Antônio Dias,
1º andar, centro, município e comarca de Bandeirantes/PR.
I – DA LEGITIMIDADE ATIVA
Quanto à legitimidade do Ministério Público na promoção de
Ação Civil Pública, trata-se de questão bastante sedimentada na doutrina e na jurisprudência.
Senão vejamos: Súmula nº. 329 (STJ): O Ministério Público tem legitimidade para propor ação
civil pública em defesa do patrimônio público.
Portanto, a matéria não guarda segredos, o que torna
prescindível tecer outros comentários a respeito.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
3
II – LEGITIMIDADE PASSIVA
Os art. 1º e 2º, da Lei nº. 8.429/92 prelecionam o seguinte:
Art. 1º - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa
incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita
anual, serão punidos na forma desta Lei.
Art. 2º - Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei,
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 3° - As disposições desta lei são aplicáveis, no que
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do
ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Da mesma forma, tem-se que a pessoa jurídica JOSÉ CARLOS
DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS, bem como seu sócio-administrador JOSÉ
CARLOS DIAS NETO ao contratar de forma irregular com o Município de Piraí do Sul/PR
estão sujeitos às sanções da Lei de Improbidade Administrativa, conforme leitura dos art. 3º e
5º deste diploma legal, que preceitua:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
4
Art. 3º. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber,
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Art. 5º. Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou
omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do
dano.
III – RETROSPECTO FÁTICO
A Promotoria de Justiça de Proteção do Patrimônio Público desta
Comarca instaurou o Inquérito Civil autuado sob o nº. MPPR-0110.11.000012-9, que instrui a
presente inicial, visando a apurar possíveis ilícitos praticados em detrimento do patrimônio
público do Município de Piraí do Sul, em razão da contratação de escritórios de advocacia para
a prestação de serviços à Prefeitura Municipal, com inexigibilidade de licitação, as quais teriam
ocorrido com afronta à lei e aos princípios constitucionais que regem a Administração Pública,
sobretudo o art. 25 da Lei 8666/96 e o art. 37, inciso XXI, da Constituição. Por ocasião da
instauração do Inquérito Civil o objeto da investigação dizia respeito a contratos mantidos com
os escritórios Nei Luis Marques e José Carlos Dias Neto e Associados.
Concluídas as investigações, constatou-se que apesar de ambos
os contratos dizerem respeito a serviços de advocacia, o objeto de cada contrato e os motivos
alegados para a dispensa/inexigibilidade de licitação não são suficientes para caracterizar
conexão. É que, cada uma das contratações possui peculiaridades que indicam conclusões
diversas, inclusive no que tange à legalidade ou ilegalidade dos procedimentos. Assim,
deliberou-se por cindir os objetos do procedimento investigatório.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
5
Portanto, a presente demanda versa apenas sobre o Contrato nº
027/2010, instrumento pelo qual o Município de Piraí do Sul contratou os serviços do escritório
de advocacia JOSÉ CARLOS DIAS NETO & ADVOGADOS ASSOCIADOS (fls. 108/111),
conforme passaremos a expor.
Por meio do Inquérito Civil autuado sob o nº. MPPR-
0110.11.000012-9 (02 volumes) consta que o Município de Piraí do sul/PR contratou a
sociedade de advogados JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS através
de certame de dispensa de licitação, sem atender para tanto aos requisitos exigidos em lei.
Consta dos autos que a primeira contratação do referido
escritório pela Prefeitura de Piraí do Sul ocorreu pelo processo licitatório Carta Convite nº.
001/2009, com vencimento em 31.12.2009. O contrato foi prorrogado, através do termo aditivo
018/2009, até o período de 02.03.2010. Sobre esse contrato há nos autos em anexo cópia
integral de todo o procedimento licitatório, na modalidade de carta convite, valendo registrar
que nenhum vício formal foi diagnosticado. Assim, no que se refere à contratação do segundo
requerido, através do procedimento nº 001/2009, nada há que se questionar da sua
regularidade.
Porém, a leitura do procedimento revela dados interessantes e
importantes sobre as condições em que a segunda contratação, agora com inexigibilidade de
licitação foi realizada. É que na época da carta convite nº 001/2009 foi invocado como
fundamento principal da contratação a falta de advogados vinculados à Prefeitura, haja vista
que dois dos causídicos que trabalhavam para o ente público obtiveram a aposentadoria
(Jurandir Cecílio Sandrini e Victor Miguel Milléo) e o terceiro foi exonerado (Rolandi Horácio
Dornelles), restando apenas um profissional que acumulava todo o trabalho, conforme deixam
claros os documentos de fls. 354/378 do ICP. Frise-se que a contratação era para a realização
de atividades rotineiras da administração pública, tais como assessoramento ao Prefeito e aos
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
6
Secretários, controle interno dos atos administrativos, defesa do Município em ações judiciais
ativa e passivamente etc.
Assim, visando a suprir essa falta momentânea de profissionais
da advocacia, e até que fosse realizado o devido concurso público para a contratação de
outros advogados para os quadros da Prefeitura, foi realizada a licitação que culminou com a
primeira contração do escritório José Carlos Dias Neto e Associados, o qual teve vigência entre
19/03/2009, com prorrogação até 02/03/2010.
Nesse período, no entanto, que se estendeu por mais de um ano,
a Prefeitura Municipal de Piraí do Sul não iniciou o concurso público para suprir a falta de
advogados, essenciais para o regular andamento da administração municipal, deixando de
cumprir com o dever de contratar os referidos profissionais através da forma
constitucionalmente prevista no art. 37, inc. II, da Magna Carta, sem qualquer justificativa
plausível. Houve, portanto, omissão da administração pública municipal, encabeçada pelo
primeiro requerido Antonio El Achkar, em não promover o concurso público para a contratação
de advogados, mesmo diante da flagrante necessidade desses profissionais, o que foi
reconhecido tanto pelo Sr. Prefeito quanto pelo Secretário de Negócios Jurídicos nos
documentos de fls.354 e 355.
Assim, após o término do contrato nº 018/2009 (fls.537/543),
permanecendo a falta de profissionais da advocacia ligados ao Município para a realização das
tarefas ordinárias desta pasta, e tendo em conta ainda a inviabilidade de se realizar nova
prorrogação do contrato, o Sr. Prefeito Municipal determinou a realização de novo contrato
com o mesmo escritório, agora como inexigibilidade de licitação, da seguinte forma:
Consta, de fl. 44, correspondência mantida entre o sócio
administrador do escritório e o Secretário Municipal de Administração, datada de 25/03/2010,
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
7
onde consta proposta pela sociedade advocatícia no valor de R$ 7.650,00 (sete mil seiscentos
e cinqüenta reais) mensais para continuar a atender o município.
Em 05.04.2010, houve solicitação da Secretaria Municipal de
Negócios Jurídicos para a continuidade da contratação (fl. 39/44) por meio de inexigibilidade
de licitação, considerando a suposta “notória especialização e experiência em prestação de
serviços jurídicos de natureza pública”.
No mesmo dia da solicitação (05.04.2010), houve autorização
para o processo de contratação através da ”dispensa” de licitação (rectius: inexigibilidadde),
pelo prefeito ANTÔNIO EL ACHKAR (fl. 45). Ainda nessa data foi apresentado parecer da
secretaria Municipal de Negócios Jurídicos pela inexigibilidade na contratação de serviços de
advocacia (fl. 46/57).
Às fl. 59/105 encontra-se ofício datado também de 05.04.2010,
de JOSÉ CARLOS DIAS NETO, sócio-administrador da sociedade JOSÉ CARLOS DIAS
NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS, encaminhando a documentação com a finalidade de
instruir a contratação.
Igualmente em 05.04.2010, o prefeito ANTÔNIO EL ACHKAR
ratificou o parecer exarado pela assessoria jurídica do Município e publicou-o no Diário Oficial
local. No mesmo dia (05.04.2010) foi assinado o contrato de prestação de serviços
advocatícios e técnicos de natureza jurídica nº. 027/2010 (fl. 108/113), com término em
31.12.2010.
Através do 1º Termo Aditivo, em 22.12.2010 o contrato foi
prorrogado até 02.03.2011 (fl. 118/119).
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
8
Em seu pedido encaminhado ao Prefeito Municipal Antonio El
Achkar, visando à contratação direta do referido escritório de advocacia, com inexigibilidade de
licitação, o Secretário Municipal de Negócios Jurídicos afirmou (fls. 039 a 040 do ICP):
“Neste primeiro ano de gestão desta administração, a frente
da Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos, detectou-se
que há uma demanda de inúmeros processos em trâmite em
que este município figura tanto no pólo passivo quanto ativo.
Sendo impossível que, dentro de uma estrutura logística,
apenas, um advogado possa conduzi-los.
Apenas para ilustrar no final do ano de 2009 além de todos
os processos em andamento, foram ajuizadas inúmeras
novas execuções fiscais e os prazos estão em diversas
diligências a serem cumpridas pelo departamento jurídico.”
E mais à frente, conclui o Sr. Secretário Municipal:
“Diante do acúmulo de serviço retro explanado, da necessidade
de uma assessoria técnica especializada em especial na
prestação de serviços jurídicos de direito público municipal, esta
Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos requer seja
autorizado efetuar a continuidade de se ter esse respaldo e apoio
técnico e jurídico com a contratação de sociedade de advogados
regularmente constituída, com notória especialização e
experiência em prestação de serviços jurídicos de natureza
pública para Municípios brasileiros, com o escopo de tutelar os
interesses do Município de Piraí do Sul, em especial na
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
9
assessoria administrativa e preventiva ao Poder Executivo
Municipal.” (grifamos)
No despacho de fl. 45 do ICP o Prefeito Municipal Antonio El
Achkar acolhe o parecer do Secretário de Negócios Jurídicos e determina a contratação de
sociedade de advogados para a prestação de serviços jurídicos de assessoria administrativa e
preventiva ao Poder Executivo Municipal, bem como para o patrocínio de ações onde o
Município de Piraí do Sul figure como autor ou réu.
Com base nessa autorização, o Secretário Municipal de
Negócios Jurídicos emitiu o Parecer nº 216/2010, de fls. 46/57 do ICP, recomendando a
contratação da Sociedade de Advogados José Carlos Dias Neto & Advogados Associados,
com inexigibilidade de licitação, mantendo-se assim contrato já existente, sob o fundamento de
que “nos últimos doze meses a sociedade de advogados José Carlos Dias Neto & Advogados
Associados prestou serviços de notória especialização e excelência a este Município,
atendendo com presteza e eficiência todas as demandas que lhe forem submetidas, e que
referida sociedade de advogados possui notória especialização em direito público”.
Na mesma data, 05.04.2010, o responsável pela sociedade de
advogados encaminhou toda a documentação necessária, conforme fls. 59/105 do ICP, sendo
ratificada a “dispensa” (rectius: inexigibilidade) de licitação pelo Prefeito Municipal por meio do
Termo de fl. 106 do ICP, no qual se fez constar o valor mensal da contratação, fixado em R$
7.650,00 (sete mil seiscentos e cinqüenta reais), totalizando o valor global de R$ 68.850,00
(sessenta e oito mil oitocentos e cinqüenta reais).
Consta dos autos em anexo, ainda, o Contrato nº 027/2010,
datado igualmente de 05 de abril de 2010, firmado entre a Prefeitura Municipal e a referida
Sociedade de Advogados, onde em sua Clausula 1ª consta o seguinte:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
10
“Clausula 1ª: Constitui objeto do presente contrato a
prestação pela CONTRATADA ao CONTRATANTE, de serviços advocatícios e técnicos
de natureza jurídica a ser exercido pelos profissionais da CONRATADA, sem
exclusividade e sem vínculo empregatício, para tutelar os interesses do Município de
Piraí do Sul, em especial na assessoria administrativa e preventiva ao Poder Executivo
Municipal, patrocínio de ação onde o município figure como autor ou réu,
acompanhamento de processos perante o Tribunal de Contas do Estado do Paraná,
também, com o escopo de patrocínio nos autos nº 026/2010 de Ação de Nulidade
cumulada com Pedido de Antecipação de Tutela proposta por Câmara Municipal – Piraí
do Sul em face deste Município.”
Importa deixar claro, assim, que este contrato firmado por meio
de inexigibilidade de licitação visava assim à prestação de serviços corriqueiros de advocacia,
concernentes ao dia-a-dia da administração municipal, sem qualquer traço de singularidade ou
especialidade.
Resta claro, ainda, que a administração utilizou-se do argumento
de que o referido escritório tinha a notória especialização exigida pela Lei 8666/93 pois já vinha
prestando serviços advocatícios para a Prefeitura, ou seja, utilizou-se do anterior contrato
como justificativa para manter a contratação, agora sob bases ilegais.
Feitas essas observações, passa-se à análise dos diplomas
legislativos aplicáveis à espécie.
IV – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
No presente caso é gritante que a contratação de prestação de
serviços de advocacia realizadas pelo Município de Piraí do Sul, através do Contrato nº
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
11
027/2010 (fl. 108/112 do IC anexo) vai contra os princípios elementares que devem pautar a
Administração Pública, em especial o art. 37 da Constituição da República e as disposições
tocantes à lei de Licitações. Esse tipo de prestação de serviços jurídicos deve levar em
consideração a possibilidade de contratação de serviços de advocacia quando há no ente
público Procuradoria Jurídica, bem como a compatibilidade da contratação de serviços de
advocacia com o instituto da licitação, uma vez que, no caso concreto, a contratação poderia
ser levada a efeito, desde que através do devido procedimento licitatório.
Inicialmente cumpre tecer alguns comentários acerca da
desnecessidade das contratações levadas a efeito pelo Município, sem o certame licitatório,
referente aos serviços de advocacia, uma vez que há na Administração local uma Procuradoria
Jurídica própria. A lei Complementar Municipal nº 001/2009, que trata de reforma
administrativa no Município dispões expressamente:
Art. 9º. O assessoramento do prefeito será feito pelos seguintes
órgãos:
a) – Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos:
À Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos competirá a
coordenação de todo o serviço técnico jurídico do Município
e entre este: a representação e defesa judicial e extrajudicial
dos interesses do município, em qualquer foro ou instância,
além de outras atividades jurídicas delegadas pelo Prefeito.
Compete-a, ainda, o assessoramento às unidades do município
em assuntos de natureza jurídica; a preparação de contratos,
convênios e acordos, nos quais o município seja parte; a
instauração de sindicâncias e de processos administrativos,
quando assim determinado pelo Prefeito; enfim, o exercício de
todas as atividades concernentes ao assessoramento jurídico e à
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
12
emissão de pareceres sobre funções que lhe forem submetidos,
com possibilidade de delegação. (destaquei).
Ou seja, a legislação municipal prevê a existência de órgão para
exercer as atividades de Procuradoria, nesse caso, exercidas pelo Secretário Municipal de
Negócios Jurídicos. Os serviços prestados por outros profissionais, além do Secretário,
deveriam ocorrer por agentes providos em cargos através de concurso público ou, na hipótese
de impossibilidade de sua realização, da contratação através de procedimento que possibilite a
concorrência entre profissionais do Direito, com objetivo certo, bem como por lapso temporal
razoável à prestação do serviço, contudo com tempo determinado.
Nesse sentido, são a lições de LEONARDO SILVA LIMA
FERNANDES: “Pela leitura do texto da Constituição, observa-se que o constituinte quis atribuir
a um órgão específico (no caso da União, à AGU e, no caso dos Estados, às Procuradorias
Estaduais) a exclusividade na representação judicial e consultoria jurídica dos entes
federativos ali relacionados, quais sejam, União e Estados-membros.
Interpretando esse dispositivo, o Supremo Tribunal Federal já havia decidido que:
‘[...] Nele contém-se norma que, revestida de eficácia vinculante, cogente para as unidades
federadas locais, não permite conferir a terceiros – senão aos próprios Procuradores do Estado
e do Distrito Federal, selecionados em concurso público de provas e títulos – o exercício
intransferível e indisponível das funções de representação estatal [...]’ (Adin-MC 881-1/ES,
Acórdão, Rel. Celso de Melo, DJ 25.04.1997).
Sendo assim, qualquer contratação de advogados privados para patrocinar causas repetitivas
e comuns de interesse da União ou dos Estados-membros, mesmo que se respeitando o
procedimento licitatório, poderia ser taxada de inconstitucional na ordem vigente” 1.
1 LEONARDO SILVA LIMA FERNANDES, O Estado e a Contratação de Serviços Advocatícios, in: Revista IOB de Direito Administrativo nº 23, novembro de 2007, p. 29. (In consulta ao CAOP – MPPR).
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
13
Considerando o Princípio da Simetria na Federação, as mesmas
regras constitucionais incidentes para a União e Estados-membros se estendem para os
Municípios que têm Procuradoria Jurídica própria. Nesse aspecto, analisando os motivos que
ensejaram a celebração do contrato com sociedade de advocacia JOSÉ CARLOS DIAS NETO
e ADVOGADOS ASSOCIADOS, verifica-se que não havia motivos para a contratação direta.
A primeira contratação ocorreu pelo processo licitatório Carta
Convite nº. 001/2009, com vencimento em 31.12.2009. O contrato foi prorrogado, através do
termo aditivo 018/2009, até o período de 02.03.2010. O Motivo para este contrato foi a
ausência de profissionais da advocacia nos quadros da Prefeitura, após a aposentadoria de
dois deles e a exoneração do terceiro, de maneira que se mantivesse o serviço até que fosse
realizado o devido concurso público para provimento dessas vagas. Porém, durante todo o
tempo de vigência do contrato nenhuma providência foi tomada pelo Sr, Prefeito Municipal
para a realização do concurso público.
Em 05.04.2010, houve solicitação da Secretaria Municipal de
Negócios Jurídicos para continuidade da contratação, com a justificativa de que haveria no
Município uma demanda excessiva de processos em trâmite, além da necessidade de
pareceres jurídicos por parte do Executivo quanto aos projetos de lei de sua autoria. Ora, isso
já havia sido diagnosticado mais de uma no antes!
Assim, argumentando que todo o trabalho jurídico da
Administração era realizado por um único profissional, ou seja, o Secretário de Negócios
Jurídicos, a pasta solicitou nova contratação da referida sociedade de advogados (fl. 39/44),
através de procedimento de “dispensa” de licitação (inexigibilidade).
Com efeito, é razoável que tais argumentos fossem invocados na
primeira contratação no início de 2009, eis que há notícia de que os profissionais concursados
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
14
da área jurídica do Município já estavam aposentados. No entanto, a Administração Municipal
teve um ano e três meses para prover tais cargos através de concurso público e não o fez.
Teve tempo hábil, na pior das hipóteses, caso justificativa para a falta de concurso houvesse,
para a contratação de profissionais através da devida concorrência licitatória.
É evidente que a inexigibilidade de licitação tinha um único
propósito: a contratação direta de JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS
ASSOCIADOS sem a possibilidade de concorrência. Tanto é que, na mesma data da
solicitação da Secretaria de Negócios Jurídicos, ou seja, em 05 de abril de 2010, protocolado
às 16h00min (fl. 39), quase no final do dia, houve autorização para o processo de contratação
através da dispensa de licitação, pelo Prefeito ANTÔNIO EL ACHKAR (fl. 45).
Nessa mesma data foi apresentado parecer da Secretaria
Municipal de Negócios Jurídicos opinando pela dispensa na contratação de serviços de
advocacia (fl. 46/57); também foi juntado ofício de JOSÉ CARLOS DIAS NETO, sócio-
administrador da sociedade JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS,
encaminhando a documentação com finalidade de instruir a contratação (fl. 59/105); houve
ainda a ratificação pelo prefeito ANTÔNIO EL ACHKAR do parecer exarado pela assessoria
jurídica do Município e publicação no Diário Oficial local.
Mais ainda, no mesmo dia (05.04.2010) foi assinado o contrato
de prestação de serviços advocatícios e técnicos de natureza jurídica nº. 027/2010 (fl.
108/113), com término em 31.12.2010.
É gritante, portanto, o objetivo fraudulento perpetrado pelo
prefeito municipal na qualidade de agente público, bem como da sociedade de advogados,
através de seu sócio-administrador, eis que a inexigibilidade do certame licitatório, que deveria
ocorrer com cautela, analisando-se a possibilidade e necessidade, ocorreu em poucas horas,
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
15
em um único dia. Dessa situação conclui-se que ambos os requeridos, tanto o prefeito
ANTÔNIO EL ACHKAR como JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS,
através de seu representante legal JOSÉ CARLOS DIAS NETO agiram com a intenção de
burlar possível concorrência pública, uma vez que é notório que a contratação já havia sido
acertada anteriormente aos trâmites da dispensa. E isso era algo certo, tanto que não foi
realizado o concurso público que, mais de um ano antes, já tinham como necessário.
O Administrativista LEONARDO SILVA LIMA FERNANDES,
fazendo referência a decisão do Supremo Tribunal Federal2, se posiciona de forma mais
branda ao tratar do assunto, afirmando que é possível a contratação de serviços de advocacia
ou assessoria jurídica, desde que para atender situações excepcionais3. No entanto, no
presente caso, não se observa situação excepcional alguma, senão a intenção de dar
continuidade à contratação, agora de forma irregular, de um mesmo profissional e sua
sociedade que já vinham prestando seus serviços à Administração Municipal (e recebendo
para isso). Pois quando ocorreu o procedimento sem exigência de licitação para a contratação
de JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS já havia se passado mais de
02 (dois) anos do início da gestão de ANTÔNIO EL ACHKAR, sem que se procedesse à
realização de concurso público ou, ao menos, à abertura de concorrência licitatória para a
contratação de advogado. Ou seja, sem que se demonstrasse interesse no correto provimento
dos cargos jurídicos existentes no quadro de servidores.
Nem se argumente que tais contratações ocorreram de forma
urgente, eis que é óbvio que houve tempo suficiente para se seguir os trâmites legais de um
correto provimento de cargo de advogado. É nesse aspecto que JOEL DE MENEZES
NIEBUHR aponta:
2 STF, Reclamação 3766/SP, Relator Joaquim Barbosa, DJ 2/9/2005. 3 LEONARDO SILVA LIMA FERNANDES, O Estado e a Contratação de Serviços Advocatícios, in: Revista IOB de Direito Administrativo nº 23, novembro de 2007, p. 30.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
16
“Então, para o deslinde da problemática relativa à contratação de
serviços jurídicos, deve-se, inicialmente, apartar as entidades que possuem corpo jurídico
próprio das que não o possuem. Por ordem:
Se há corpo jurídico próprio, somente é lícito contratar serviços
jurídicos de terceiros em casos excepcionais, verdadeiramente singulares, que fogem do
padrão normal das causas e assuntos tratados ordinariamente por seus procuradores. A
contratação de novos advogados estranhos ao corpo jurídico da entidade pressupõe o
reconhecimento da incapacidade ou inadequação dos presentes para aportar aos fins visados
pela Administração Pública. Se os mesmos fossem capazes ou adequados para prestarem o
serviço, seria um disparate fazer com que a Administração Pública arcasse com os custos da
contratação de novos profissionais.
(...)
Cumpre observar, ainda, a possibilidade de contratar advogados
estranhos ao quadro da entidade, mesmo para situações ordinárias, desde que se configure a
insuficiência para atender a demanda existente. Ou seja, nas hipóteses de sobrecarga, que
compromete a qualidade do serviço prestado, é forçoso reconhecer justificativa para a
contratação de novos advogados. Melhor seria que se criassem novas vagas e se procedesse
a concurso público. Entretanto, isso depende de lei, e o fato é que os reclames públicos não se
dispõem a esperá-la. Nessas hipóteses, não tem cabimento sequer cogitar de inexigibilidade
de licitação pública, porquanto o objeto do serviço não é singular. Tais contratos devem ser
precedidos de licitação pública ou realizados por tempo determinado, para atender
situações de excepcional interesse público, com fulcro no inciso IX do artigo 37 da
Constituição Federal e legislação ordinária que toca à espécie. Ademais, também há a
possibilidade de que os advogados da Administração sejam interessados e, pois, envolvidos,
em demanda judicial contra ela, como, por exemplo, ocorre em disputas trabalhistas. Nesses
casos, a contratação de terceiros é perfeitamente lícita, devendo em tudo ser regida pela Lei
nº. 8.666/93 e, em regra, precedida de licitação.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
17
Noutro delta, no tocante às entidades administrativas que não
dispõem de corpo jurídico próprio, dado que os respectivos cargos não foram criados por lei,
não se deve objetar a contratação de terceiros para a prestação de serviços jurídicos. Como
não há quem represente os interesses dessas entidades, é imperativo que elas contratem
terceiros, estranhos aos seus quadros, sob pena de prejuízos ao interesse público.” (grifou-se
e destacou-se) 4.
Nenhuma das situações descritas pelo autor se observa no
contrato de prestação de serviços advocatícios e técnicos de natureza jurídica nº. 027/2010.
Portanto, em regra, os serviços jurídicos de JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS
ASSOCIADOS contratados pela Administração local através do prefeito ANTÔNIO EL
ACHKAR poderiam ser desenvolvidos por sua própria Procuradoria, pois não houve situações
excepcionais, justificadas, mais especificamente ainda de serviços de natureza singular, para
ocorrer a contratação de terceiro dispensando-se o processo licitatório.
Por outro lado, o contrato firmado entre o Município e JOSÉ
CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS, parece estar sendo usada como forma
de contornar ato de investidura no serviço público, considerando que a sociedade, através de
seu sócio-administrador JOSÉ CARLOS DIAS NETO presta serviços ao Município de Piraí do
Sul/PR desde o início de 2009.
Por isso é necessário verificar que, sendo o caso de contratos de
prestação de serviços, não podem estar presentes os elementos que caracterizam relação
funcional, já que ocorrendo isso haverá ofensa ao artigo 37, II, da Constituição Federal. Pois é
preciso distinguir bem a possibilidade da contratação de prestação de serviços de um ato de
investidura de servidor público. 4 JOEL DE MENEZES NIEBUHR, Dispensa e Inexigibilidade de Licitação Pública, São Paulo: Ed. Dialética, 2003, p. 198-200. In consulta ao CAOP – MPPR.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
18
Primeiramente o contrato de prestação de serviços não admite
vínculo de subordinação entre o contratado e agentes públicos, pois se isso ocorrer,
caracteriza-se relação de trabalho e, então, por imposição constitucional, é necessário o
anterior sucesso em concurso público. Em que pese o contrato (27/2010) conter cláusula de
não exclusividade e sem vínculos empregatícios, na tutela dos interesses da municipalidade,
não é o que demonstra o período em que a mesma sociedade de advogados é contratada
diretamente pelo Município. Ou seja, desde que a atual gestão do prefeito ANTÔNIO EL
ACHKAR tomou posse (há mais de dois anos e meio), o mesmo profissional realiza os
serviços jurídicos da municipalidade.
Somente no último contrato que se tem notícia entre os réus, de
nº 095/2011, firmado em 07/06/2011, também com inexigibilidade de licitação, é que se teve a
cautela de especificar o objeto dos serviços a serem prestados. Frise-se que este último
contrato, constante de fls. 321/325, foi firmado para que fossem tomadas providências
administrativas e judiciais visando ao aumento do índice do Município de Piraí do Sul no Fundo
de Participação dos Municípios, que teve sensível queda no último ano. Este contrato, todavia,
em que pese demonstrar estreita ligação entre a administração pública municipal e o escritório
de advocacia requerido, a princípio não traz ilegalidades flagrantes, razão pela qual se deixou
de incluí-lo no objeto da presente demanda, conforme despacho ministerial de fl. 595.
Em que pese isto, é certo que uma nova contratação do segundo
requerido, mais uma vez com inexigibilidade de licitação, mostra o estreito relacionamento
entre os réus, que certamente ultrapassa as raias do interesse público.
Voltando ao contrato nº 018/2009 aqui analisado, importa
mostrar que o serviço a ser desempenhado pelo contratado deveria ser determinado, preciso,
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
19
delimitado, o não ocorre no contrato 27/2010. Pois se não houver a determinação do serviço,
haverá obviamente a necessidade de que alguém ordene qual a tarefa a ser executada, ainda
mais em um período superior a 02 (dois) anos, com o objetivo de atuar em “inúmeras
demandas”. Nesta hipótese, é imprescindível subordinação, o que caracteriza uma relação
funcional ou empregatícia, não mais um contrato de prestação de serviços, o que exigiria,
então, a prévia aprovação em concurso público.
Por outro lado o serviço deveria ser temporário, ao contrário do
que demonstra a insistência em novas contratações sem licitação, bem como os termos
aditivos dos contratos firmados ao longo dos últimos três anos. Portanto, para contratação de
prestação de serviços, o objeto deve ser temporário e determinado, uma vez que não pode
ocorrer subordinação entre o contratado e os agentes públicos, a fim de que não se caracterize
relação de trabalho e ocorra infração ao disposto no artigo 37, II, da Constituição da República.
É cristalinamente possível a contração de prestação de serviços
jurídicos, quando o profissional é contratado para fazer certo e determinado parecer ou propor
determinada ação ou defesa judicial ou administrativa, desde que disponha de formação
qualificada e singular na área. Mas não é possível a contratação para o profissional ficar à
disposição da Administração Municipal para qualquer tarefa jurídica que aparecer, conforme se
pode perceber pela interpretação das cláusulas do contrato firmado em 05.04.2010 (fl.
108/113).
Feitas essas observações iniciais, cumpre ressaltar a ilegalidade
cometida na celebração do contrato através de procedimento de inexigibilidade de licitação
(27/2010), a fim de dar ensejo à responsabilização e conseqüentes sanções ao prefeito
ANTÔNIO EL ACHKAR, à empresa JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS
ASSOCIADOS, bem como ao seu sócio-administrador JOSÉ CARLOS DIAS NETO.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
20
DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS ATINENTES À LICITAÇÃO
E DA LEI N.º 8.666/93:
A licitação é, nada mais, nada menos, do que um processo de
seleção onde a Administração oferta iguais oportunidades aos eventuais interessados em
contratar com ela, com a finalidade de obter propostas mais vantajosas, sempre tendo em vista
o interesse público e a impessoalidade. A contratação direta, por seu turno, embora isenta de
algumas formalidades, não exclui a realização de um procedimento, que é mais simplificado e
restrito.
Sustenta o renomado MARÇAL JUSTEN FILHO, que “os casos
de dispensa de licitação envolvem, na verdade, um procedimento especial e simplificado para
seleção do contrato mais vantajoso para a Administração Pública. Há uma série ordenada de
atos, colimando selecionar a melhor proposta e o contratante mais adequado. ‘Ausência de
licitação’ não significa desnecessidade de observar formalidades prévias (tais como verificação
da necessidade e conveniência da contratação, disponibilidade de recursos etc.). Devem ser
observados os princípios fundamentais da atividade administrativa, buscando selecionar a
melhor contratação possível, segundo os princípios da licitação (...) Em suma, os casos de
ausência de licitação não se destinam a selecionar qualquer proposta. Nem autorizam
contratação desastrosa ou desvantajosa. Deve-se respeitar o princípio da isonomia, o que não
significa inviabilidade de decisões discricionárias.”5
O administrador público não pode simplesmente ignorar os
princípios que norteiam os procedimentos licitatórios ou de dispensa ou inexigibilidade de
5 Justen Filho, Marçal Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 7ª ed. Pág. 295/297. São Paulo: Dialética,2000.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
21
licitação, que constituem exceção, para beneficiar apaniguados, uma vez que o fim precípuo
da licitação é a obtenção de negócios mais vantajosos para a Administração e assegurar
obediência aos princípios da isonomia e da indisponibilidade do interesse público.
A Constituição Cidadã de 1988 determina que a administração
pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, obedecerá aos princípios da legalidade (na lei estão o
fundamento e o limite das ações da administração), impessoalidade (segundo o qual devem
ser evitados quaisquer favoritismos ou discriminações impertinentes), moralidade (que exige
do administrador comportamento escorreito e honesto), publicidade (impondo que os atos e
termos emanados do Poder Público sejam efetivamente expostos ao conhecimento de
quaisquer interessados) e eficiência (a atuação dos agentes públicos deve ser sempre
direcionada à efetivação de benefícios à coletividade), ou seja, dada sua importância, a
licitação foi recepcionada pelo mandamento constitucional vigente:
Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:
(...)
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as
obras, serviços, compras e alienações serão contratados
mediante processo de licitação pública que assegure igualdade
de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá
as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
22
Infere-se, pois, que o procedimento licitatório é preceito
constitucional de caráter indeclinável para o gestor público, admitindo-se apenas as ressalvas
disciplinadas pelo ordenamento jurídico. A regra mãe nos contratos da Administração Pública é
a realização da competição, sendo que os casos de dispensa e inexigibilidade devem ser
interpretados de forma restritiva.
Como se vê, a licitação se reveste de duplo contorno: propicia a
realização de um vantajoso ajuste para a Administração e assegura aos administrados a
oportunidade de contratar com os entes públicos, incorporando, em sua estrutura, o princípio
de indisponibilidade do interesse público (art. 37, XXI, CF).
Também no plano constitucional, o art. 22, inciso XXVII,
estabelece que é competência privativa da União legislar sobre “normas gerais de licitação e
contratação, em todas as modalidades, para a administração pública direta, autárquicas e
fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37,
XXI, (...)”.
No patamar infraconstitucional, a Lei n.º 8.666/93 (que é a citada
norma geral) estabelece as normas gerais sobre licitações e contratos administrativos
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações
no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art.
1.º), e dispõe em seu art. 2.º, caput:
Art. 2° - As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras,
alienações, concessões, permissões e locações da
Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão
necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as
hipóteses previstas nesta lei.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
23
E, conquanto a inexigibilidade e a dispensa de licitação sejam
exceções, também estão adstritas aos mandamentos legais, eis que a norma visa à garantia do
interesse público, não se traduzindo em possibilidade legal do administrador efetuar
contratações diretas impróprias ou prejudiciais ao ente que governa.
Objetiva-se, também, através da realização das pesquisas de
mercado (dispensáveis somente quando se tratar de situações emergenciais ou calamitosas, o
que não é o caso), além da situação mais vantajosa para o Poder Público, dispensar aos
administrados um tratamento igualitário e acautelar o princípio da moralidade administrativa,
“na medida em que, por tal via, forceja-se por empecer conluios entre agentes administradores
e terceiros”.6 Senão veja:
Art. 3º - A licitação destina-se a garantir a observância do
princípio constitucional da isonomia e a selecionar a
proposta mais vantajosa para a Administração e será
processada e julgada em conformidade com os princípios
básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da
igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da
vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento
objetivo e dos que lhes são correlatos.
Com efeito, a legislação pátria aclamou a licitação como regra
para contratação de particulares pela Administração direta ou indireta. Daí se extrai que, em
se tratando de contratos administrativos, a inexigibilidade e a dispensa devem ser exceção e,
como tal, se destinam tão-somente aos restritos casos autorizados e previstos na Lei.
MARÇAL JUSTEN FILHO explica:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
24
“A supremacia do interesse público fundamenta a exigência,
como regra geral, de licitação para contratações da Administração Pública. No entanto,
existem hipóteses em que a licitação formal seria impossível ou frustraria a própria
consecução dos interesses públicos. (...) Por isso, autoriza-se a Administração a adotar um
outro procedimento, em que formalidades são suprimidas ou substituídas por outras. Essa
flexibilidade não foi adornada de discricionariedade. O próprio legislador determinou as
hipóteses em que se aplicam os procedimentos licitatórios simplificados. Por igual, definiu os
casos de não-incidência do regime formal de licitação. A contratação direta não significa
inaplicação dos princípios básicos que orientam a atuação administrativa. Nem se
caracteriza uma livre atuação administrativa. O administrador está obrigado a seguir um
procedimento administrativo determinado, destinado a assegurar (ainda nesses casos) a
prevalência dos princípios jurídicos fundamentais. Permanece o dever de realizar a melhor
contratação possível, dando tratamento igualitário a todos os possíveis contratantes.
Portanto, a contratação direta não significa eliminação de dois
postulados consagrados a propósito da licitação. O primeiro é a existência de um
procedimento administrativo. O segundo é a prevalência dos princípios da supremacia e
indisponibilidade do interesse público.”7
A Administração Pública não pode, em nenhum momento,
afastar-se dos princípios constitucionais (principalmente os da legalidade, isonomia,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência) e infraconstitucionais (em especial
aqueles elencados na Lei n.º 8.666/93) que devem, obrigatoriamente, reger sua atuação, quer
por questão de moralidade, quer por questão de legalidade, sob pena de emergirem nulos os
atos e contratos dela decorrentes.
7 FILHO, Marçal Justen, Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 9ª Ed., São Paulo: Ed. Dialética, 2002, p. 280. o8
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
25
Ademais, a licitação deriva do princípio da indisponibilidade
do interesse público, o qual se traduz numa verdadeira condicionante à liberdade da
Administração Pública na eleição do contratante, uma vez que esta deverá, obrigatoriamente,
contratar com aquele cuja proposta melhor atenda ao interesse público.
Isto também se aplica aos casos de dispensa e
inexigibilidade de licitação, pois a supremacia e indisponibilidade do interesse público
jamais poderão ser postergadas pelo administrador público. Ao contrário, ele deve ter
como finalidade primordial a consecução dos interesses da comunidade, que devem
prevalecer sobre os interesses particulares e eventualmente escusos.
A contratação de serviços de advocacia é plenamente compatível
com o instituto da licitação, ou seja, a dispensa/inexigibilidade do procedimento licitatório pelo
simples fato de se tratar de serviços de advocacia, independente de qualquer outra
consideração, configura a to de improbidade administrativa que causa lesão ao patrimônio
público (art. 10, VIII da Lei 8.429/92).
A contratação de serviços jurídicos, por si só, não é suficiente
para caracterizar inexigibilidade de licitação. É que o artigo 13 da Lei nº. 8.666/93 não pode ser
interpretado isoladamente, pois o ordenamento jurídico não é composto de compartimentos
estanques, mas constitui um sistema harmônico e hierarquizado de regras e princípios, no qual
a Constituição está no degrau mais elevado, direcionando a interpretação das normas
infraconstitucionais, de forma que se deve lançar mão da interpretação sistemática, pois o
sentido de cada norma somente pode ser obtido analisando-a no contexto deste sistema. Por
isso, deve-se levar em conta o artigo 25, II, do mesmo Diploma Legal, o qual requer para a
caracterização da inexigibilidade de licitação na contratação de serviços técnicos
especializados que exista singularidade do serviço e notória especialização do contratado.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
26
Com relação ao processo nº. 698/2010, que levou à contratação
direta do escritório de advocacia com a assinatura do contrato nº. 027/2010 (fl. 108/113), o
parecer pela dispensa de licitação foi embasado equivocadamente no art. 25, inciso II, §1º da
Lei 8.666/93, trancrito in verbis:
Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de
competição, em especial:
(...)
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art.
13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização,
vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;
(...)
§ 1º Considera-se de notória especialização o profissional ou
empresa cujo conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior,
estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros
requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e
indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato.
Contudo, não há no procedimento licitatório em questão (fls.
38/119) qualquer justificativa que atenda aos quesitos exigidos em lei. Senão vejamos:
A sociedade de advogados não demonstrou no
procedimento qualquer notória especialização ou outro requisito técnico que justificasse
sua contratação direta, ou seja, não há notória especialização do escritório JOSÉ CARLOS
DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS. O único argumento é o fato de ter prestado
serviços anteriores à municipalidade, ou seja, a própria administração pública criou o fato
anterior para justificar a notória especialização.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
27
Por outro lado, também não ficou esclarecido o requisito da
inviabilidade de competição, eis que o contrato firmado é superficial e a sociedade de
advogados se obrigou a prestar os serviços jurídicos “para tutelar os interesses do Município
de Piraí do Sul, em especial na assessoria administrativa e preventiva ao poder Executivo
Municipal, patrocínio de ação onde o município figure como autor ou réu, acompanhamento de
processos perante o tribunal de Contas do Estado do Paraná, também, com o escopo de
patrocínio jurídico nos autos nº. 026/2010 de Ação de Nulidade cumulada com Pedido de
Antecipação de Tutela proposta por Câmara Municipal – Piraí do Sul em face deste Município”
(fl. 108, cláusula 1ª). Tais serviços advocatícios podem ser prestados por qualquer profissional
legalmente habilitado, seja atuante em escritório contratado por meio de licitação, seja após
regular aprovação em concurso público. Não há, evidentemente, necessidade de que este
profissional possua um aprimoramento técnico que supere o conhecimento médio daqueles
que atuam na seara da advocacia.
A contratação, portanto, foi para serviços advocatícios genéricos,
e não especializados!
Com o devido respeito ao posicionamento da secretaria jurídica
municipal, mas a cláusula primeira do contrato demonstra que havia realmente a
possibilidade de competição, eis que o teor da obrigação tomada pela sociedade nada mais
é do que a atividade advocatícia rotineira. Nesse aspecto, não se pode dar credibilidade ao
entendimento de que qualquer serviço de advocacia tem natureza singular e que a notória
especialização tem como critério o perfil da profissão da advocacia, sendo impossível de ser
aferido em processo licitatório, tornando inviável a competição. Caso assim o fosse, inviável
também seria o concurso público para carreiras jurídicas, especialmente de Procuradores do
Estado ou Municípios, pois o concurso público também não seria apto para medir o trabalho
intelectual desses profissionais, não haveria parâmetros de comparação entre os profissionais
do Direito, na medida em que o trabalho de cada um seria especial.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
28
Data vênia, subsume-se que tal procedimento de dispensa de
licitação considerou como notória especialização da sociedade de advogados o simples fato de
esta já ter prestado serviços jurídicos ao Município no decorrer de 2009. Mesmo assim, a
confiança nos advogados que compõem a sociedade não poderia ser invocada como causa de
impossibilidade de competição, eis que, pelo Princípio da Impessoalidade, os atos e ações da
Administração Pública são imputáveis ao órgão ou à entidade que os realiza e não à pessoa
do agente público que os determina. Dessa forma, a confiança exigida para a prestação de
serviços de advocacia – bem como para qualquer serviço – não é a confiança pessoal do
administrador, pois o serviço não é prestado para ele, mas para a Administração Pública e,
indiretamente, para toda a sociedade.
Assim, é certo que nem todos os serviços de advocacia são
singulares e nem todos os advogados possuem notória especialização em todos os ramos do
Direito, em nada se diferenciando de outras profissões técnicas. Portanto, a contratação de
serviços de advocacia que não sejam singulares ou que os contratados não detenham notória
especialização, não podem ser realizadas diretamente, pois em tais hipóteses é perfeitamente
possível a competição.
Novamente ressaltando a necessidade dos requisitos de
singularidade do serviço e notória especialização do contrato para caracterizar a inexigibilidade
de licitação em contratações de serviços de advocacia, trazemos os seguintes excertos da
lição do mestre CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO:
“Parece-nos certo que, para compor-se a inexigibilidade
concernente aos serviços arrolados no art. 13, cumpre tratar-se de serviço cuja singularidade
seja relevante para a Administração (e que o contratado possua notória especialização). Se
assim não fosse, inexistiria razão para a lei haver mencionado ‘de natureza singular’, logo após
a referência feita aos serviços arrolados no art. 13.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
29
Se o serviço pretendido for banal, corriqueiro, singelo e, por isso,
irrelevante que seja prestado por ‘A’ ou ‘B’, não haveria razão alguma para postergar-se o
instituto da licitação. Pois é claro que a singularidade só terá ressonância para o tema na
medida em que seja necessária, isto é, em que por força dela caiba esperar melhor satisfação
do interesse administrativo a ser provido.
Veja-se: o patrocínio de uma causa em juízo está arrolado entre
os serviços técnico-especializados previstos no art. 13. Entretanto, para mover simples
executivos fiscais a Administração não terá necessidade alguma de contratar – e diretamente –
um profissional de notória especialização. Seria um absurdo que o fizesse. Assim também,
haverá perícias, avaliações ou projetos de tal modo singelos e às vezes até mesmo
padronizados que, ou não haveria espaço para ingresso de componente pessoal do autor, ou
manifestar-se-ia em aspectos irrelevantes e por isso incapazes de interferir no resultado do
serviço.
(...)
Assim, o entendimento correto perante a primeira questão
suscitável pelo art. 25, II, é o de que para configurar-se a hipótese de ‘inexigibilidade’ de
licitação não basta que se esteja perante um dos serviços arrolados no art. 13. É preciso,
além disso, que, tendo natureza singular, a singularidade nele reconhecível seja
necessária para o bom atendimento do interesse administrativo posto em causa. Donde,
é preciso que seu desempenho demande uma qualificação incomum.”.
Portanto, não restam dúvidas de que a contratação através da
inexigibilidade dos serviços jurídicos deve sujeitar-se às mesmas regras dos demais casos de
serviços técnicos de natureza singular, isto é, através de concorrência entre os interessados.
Nesse sentido há manifestação jurisprudencial:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
30
“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATO PARA
REALIZAÇÃO DE SERVIÇOS TÉCNICOS ESPECIALIZADOS, MAS NÃO
SINGULARES. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. LICITAÇÃO. DISPENSA.
1. Os serviços descritos no art. 13 da Lei n. 8.666/93, para que sejam
contratados sem licitação, devem ter natureza singular e ser prestados por
profissional notoriamente especializado, cuja escolha está adstrita à
discricionariedade administrativa.
2. Estando comprovado que os serviços jurídicos de que necessita o
ente público são importantes, mas não apresentam singularidade,
porque afetos a ramo do direito bastante disseminado entre os
profissionais da área, e não demonstrada a notoriedade dos
advogados – em relação aos diversos outros, também notórios, e
com a mesma especialidade – que compõem o escritório de
advocacia contratado, decorre ilegal contratação que tenha
prescindido da respectiva licitação.
3. Recurso Especial não-provido.” (grifou-se – STJ, REsp 436869, 2ª
Turma, Relator João Otávio de Noronha, DJU 1/2/2006, p. 477)
“DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO POPULAR.
CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSESSORIA
JURÍDICA. AUSÊNCIA DE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.
INEXIGIBILIDADE. NÃO CABIMENTO. SERVIÇOS PROFISSIONAIS
NÃO ESPECIALIZADOS. ATOS LESIVOS. VÍCIO DE FORMA. ART. 2º
DA LEI Nº 4717/65. ANULAÇÃO DO ATO E CONDENAÇÃO DOS
BENEFICIÁRIOS. PERDAS E DANOS.
A) A ação popular é ação constitucional de natureza preponderantemente
declaratória negativa de atos ilegais e lesivos, e subsidiariamente
condenatória. Portanto, uma vez demonstrado que a contratação de
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
31
advogado pelo município de Planaltina do Paraná se deu sem o devido
procedimento licitatório, compete aos beneficiários do ato promoverem o
pagamento das respectivas perdas e danos.
B) Em que pese os serviços de advogado sejam técnicos, não se
pode qualificá-los como especializados se desempenhados sem
qualquer grau de dificuldade e passível de execução por qualquer
outro colega de profissão. Assim, o presente caso não se enquadra
dentre as hipóteses de inexigibilidade de licitação, previstas no artigo
25 da Lei nº. 8.666/93, ante a singeleza da atividade objeto do contrato.
C) ante a ofensa a procedimento formal próprio da espécie, o contrato que
deixa de observar a forma exigida em Lei é considerado ilegal e lesivo nos
termos do artigo 2º da Lei da ação popular (4717/65).
2) apelo a que se nega provimento; sentença mantida ...”
(grifou-se – TJPR, ApCvReex 0412900-4, 5ª Câmara Cível, Relator
Leonel Cunha, DJPR 18/04/2008, p. 46)
“ADMINISTRATIVO - CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO - LICITAÇÃO -
DISPENSA - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DE NATUREZA SINGULAR
DO SERVIÇO E NECESSIDADE DE NOTÓRIA ESPECIALIZAÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE - INAPLICABILIDADE DO ART. 25, II, DA LEI N.
8.666/93 - ATO DE IMPROBIDADE - CONFIGURAÇÃO - ART. 10, VIII,
DA LEI 8.429/92 - PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
1. A higidez do erário municipal enquadra-se na categoria dos interesses
difusos, legitimando o Ministério Público para promover o inquérito civil e
a ação civil pública com o objetivo de defender o patrimônio pertencente a
toda a sociedade. A Constituição Federal (art. 129, inc. III) ampliou a
legitimação ativa do Ministério Público para autorizá-lo a propor Ação Civil
Pública na defesa desses interesses.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
32
2. Não há qualquer óbice legal à utilização da ação civil pública como
meio processual para as demandas aforadas com substrato na Lei n.
8.429/92. Além de o rito estabelecido no art. 17 dessa norma ser o mesmo
observado na Lei n. 7.347/85 (a partir da contestação), há perfeita sintonia
entre o objeto tutelado por uma e por outra.
3. A contratação de advogado sem licitação somente se justifica quando
em razão da alta complexidade do serviço a ser executado impõe-se a
escolha de profissional de alto nível e de notória especialização. Não
preenche os requisitos definidos na Lei n. 8.666/93 (art. 25, II, § 2º, e 13) a
contratação de escritório de advocacia para ajuizar simples execuções
fiscais.
4. Na aplicação das sanções inscritas na Lei n. 8.429/92 o juiz deve
louvar-se no princípio da proporcionalidade, ...
5. Ao decidir pela aplicação isolada ou conjunta das penalidades
estatuídas na Lei 8.492/92, art. 12, I, II e III, o juiz, independentemente da
estima pecuniária, deve estar atento à intensidade da ofensa ...” (grifou-
se,TJSC, ACP 2004.001338-8, Rel. Luiz Cézar Medeiros, j 12/4/2005)[24]
“ADMINISTRATIVO - CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO - LICITAÇÃO -
DISPENSA - AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DE NATUREZA SINGULAR
DO SERVIÇO E NECESSIDADE DE NOTÓRIA ESPECIALIZAÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE - INAPLICABILIDADE DO ART. 25, II, DA LEI N.
8.666/93 - ATO DE IMPROBIDADE - CONFIGURAÇÃO - ART. 10, VIII,
DA LEI 8.429/92 - PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
1. A higidez do erário municipal enquadra-se na categoria dos interesses
difusos, legitimando o Ministério Público para promover o inquérito civil e
a ação civil pública com o objetivo de defender o patrimônio pertencente a
toda a sociedade. A Constituição Federal (art. 129, inc. III) ampliou a
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
33
legitimação ativa do Ministério Público para autorizá-lo a propor Ação Civil
Pública na defesa desses interesses.
2. Não há qualquer óbice legal à utilização da ação civil pública como
meio processual para as demandas aforadas com substrato na Lei n.
8.429/92. Além de o rito estabelecido no art. 17 dessa norma ser o mesmo
observado na Lei n. 7.347/85 (a partir da contestação), há perfeita sintonia
entre o objeto tutelado por uma e por outra.
3. A contratação de advogado sem licitação somente se justifica quando
em razão da alta complexidade do serviço a ser executado impõe-se a
escolha de profissional de alto nível e de notória especialização. Não
preenche os requisitos definidos na Lei n. 8.666/93 (art. 25, II, § 2º, e 13) a
contratação de escritório de advocacia para ajuizar simples execuções
fiscais.
4. Na aplicação das sanções inscritas na Lei n. 8.429/92 o juiz deve
louvar-se no princípio da proporcionalidade, ...
5. Ao decidir pela aplicação isolada ou conjunta das penalidades
estatuídas na Lei 8.492/92, art. 12, I, II e III, o juiz, independentemente da
estima pecuniária, deve estar atento à intensidade da ofensa ...” (grifou-
se,TJSC, ACP 2004.001338-8, Rel. Luiz Cézar Medeiros, j 12/4/2005)
Ademais, findo o contrato supracitado, recentemente o Município
decidiu contratar novamente a sociedade JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS
ASSOCIADOS, agora para serviço que, a princípio, seria singular. Tal fato, a par de
apresentar-se formalmente possível, revela o ânimo dos requeridos em permanecer
vinculados, de tal maneira que, enquanto o primeiro requerido estiver à frente da administração
pública, a segunda requerida, sociedade de advogados, também estará prestando serviços de
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
34
alguma maneira, e recebendo por isso do erário municipal. Tal contrato, no entanto, não é
objeto do presente Inquérito Civil Público, mas demonstra o vínculo entre os requeridos.
Destarte, no que diz respeito ao contrato objeto da presente
ação, o pleito assumido pela sociedade eram serviços ordinários, rotineiros, sem
excepcionalidades, que não exigiam fossem desempenhados por certa ou determinada pessoa
ou sociedade de advogados específica.
Deve-se concluir, portanto, que não havendo a comprovação da
notória especialização do contratado, a contratação com inexigibilidade de licitação é nula,
conforme assenta a jurisprudência:
“CONTRATO ADMINISTRATIVO – ADVOGADO – SERVIÇO DE
NATUREZA SINGULAR E NOTÓRIA ESPECIALIZAÇÃO DO
PROFISSIONAL – DEMONSTRAÇÃO – AUSÊNCIA –
NULIDADE DO CONTRATO – DEVOLUÇÃO DA QUANTIA
RECEBIDA INDEVIDAMENTE – ADMISSIBILIDADE.
Honorários profissionais. Advogado. Prefeitura Municipal.
Contrato de prestação de serviços técnicos especializados.
Notoriedade e prestação dos serviços não demonstradas.
Licitação inexistente. Ilegitimidade da contratação.
Devolução da quantia recebida indevidamente.
Admissibilidade. O valor cobrado resulta de obrigação
assumida pela municipalidade, de contrato de prestação de
serviços, pelo qual a licitação foi dispensada, sem justificação.
Nulo é o contrato porque não respeitadas as formalidades
legais (licitação), de modo que a municipalidade não está
obrigada a cumpri-lo. Recurso oficial acolhido, para julgar
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
35
improcedente a ação. Remessa de cópias do processo ao
Ministério Público, nos termos do art. 40 do Código de Processo
Penal, para, a seu critério, requerer a instauração de
procedimento de natureza penal pública incondicionada, ante o
contorno de ilícito penal (art. 89 da Lei nº 8.666, de 1993) e para
reaver, aos cofres da municipalidade, os valores pagos em
decorrência do contrato, nulo de pleno direito.”
(grifou-se – 2º TACSP – REO 664.128-00/2, 8ª Câmara, Relator
Renzo Leonardi, DOESP 30/3/2001).
AGRAVO RETIDO. JUÍZO DE PRELIBAÇÃO REALIZADO
ANTES DA MANIFESTAÇÃO PRÉVIA DE UM DOS
REQUERIDOS. ALEGAÇÃO DE NULIDADE. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS
FORMAS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Embora
tenha sido recebida a ação civil pública antes da apresentação
da manifestação prévia pelo agravante, tal fato não acarretou
qualquer prejuízo à parte, pois sua defesa prévia foi devidamente
apreciada, bem como tal peça não trouxe qualquer argumento
novo que pudesse implicar no não recebimento da inicial.
APELAÇÕES CÍVEIS 1 E 2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE
SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS SEM O DEVIDO PROCEDIMENTO
LICITATÓRIO. INOCORRÊNCIA DE HIPÓTESE DE DISPENSA
OU INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA CONFIGURADO. RECURSOS
CONHECIDOS E DESPROVIDOS. (MAIORIA) Restou
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
36
configurada a prática de ato de improbidade administrativa,
vez que houve a contratação de serviços advocatícios sem a
realização do devido procedimento licitatório, sendo que não
se trata de caso de dispensa ou inexigibilidade de licitação,
haja vista a ausência de situação emergencial ou de
comprovada notória especialização. APELAÇÃO CÍVEL 3.
PENALIDADES APLICADAS. RESSARCIMENTO INTEGRAL
DO DANO E MULTA CIVIL. REFORMA PARCIAL DA
SENTENÇA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO
PARCIALMENTE. (MAIORIA) Recurso parcialmente provido
apenas para reconhecer a solidariedade dos requeridos ao
pagamento do ressarcimento integral do dano. (TJPR - 5ª
C.Cível - AC 425894-6 - Arapoti - Rel.: Luiz Mateus de Lima - Por
maioria - J. 12.02.2008)
Isto posto, e caracterizada a ilicitude das contratações feitas sem
licitação, resta saber quais seriam as conseqüências.
Primeiramente há a nulidade do ato de contratação, fulcrada
na expressa disposição do artigo 49, §§ 2º e 4º, da Lei de Licitações.
A segunda é a necessidade de ressarcimento de danos.
Nessa linha de pensamento, calcada no princípio da estrita legalidade e na impossibilidade de
atos administrativos nulos produzirem efeitos, sustenta-se que nas hipóteses de contratos
nulos, ainda que o serviço tenha sido prestado em prol da Administração Pública, estaria
caracterizado o prejuízo ao patrimônio público, pois os pagamentos despendidos pelo Poder
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
37
Público representariam efeitos de atos nulos que, por tal qualidade, não poderiam obrigar a
Administração Pública89.
Considerando o Princípio da Legalidade, o administrador público
somente pode fazer o que a lei expressamente autorize, de maneira que não pode realizar
pagamentos sem previsão legal, pois tais dispêndios não teriam base jurídica alguma,
constituindo verbas indevidas e caracterizaria prejuízo ao Erário, razão pela qual, anulado o
contrato administrativo, não há razão a sustentar o pagamento dos serviços, pois atos
administrativos nulos não geram efeitos.
Dessa forma, o parágrafo único do artigo 59, da Lei nº. 8.666/93,
apesar de proteger a boa-fé do contratado, expressamente, determina a promoção da
responsabilidade de quem deu causa à nulidade.
Ademais, o artigo 10, VIII, da Lei nº. 8.429/92, caracteriza como
ato de improbidade administrativa que causa dano ao erário frustrar a licitude de processo
licitatório ou dispensá-lo indevidamente, sem consignar qualquer consideração quanto ao
correto cumprimento do contrato que venha a ser firmado, de forma que presume o prejuízo ao
erário tão somente com a frustração ou dispensa indevida da licitação. Encontra-se claro que o
ressarcimento deste dano deve ser arcado tanto pelo administrador público que deu causa à
nulidade, como pelo contratado, desde que não de boa-fé, protegida inclusive pelo parágrafo
único do artigo 59 da Lei nº. 8.666/93.
No caso em tela, a sociedade de advogados, participou do
certame para a dispensa e inexigibilidade da licitação, como bem pode ser observado na
primeira dispensa onde todo o procedimento para a sua contratação foi realizado em único dia,
9 Neste sentido: HUGO NIGRO MAZZILLI, A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 7ª ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1995, p. 156-164.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
38
ou seja, já estava previamente acertado. Com efeito, o Sr, Prefeito Municipal, Antonio El
Achkar tinha plena ciência de que havia a premente necessidade de realizar concurso público
para a regularização dos quadros de advogados do município, tanto que foi realizado processo
licitatório para a contratação de escritório de advocacia destinado a prestar os serviços desses
profissionais até que fosse realizado o concurso, conforme consta dos documentos de fls. ,
subscritos tanto pelo Prefeito Municipal quanto pelo Secretário de Negócios Jurídicos da
Prefeitura.
Isso significa que, tanto o Prefeito Municipal de Piraí do Sul,
quanto o responsável pela Sociedade de Advogados José Carlos Dias Neto sabiam desde o
ano de 2009 da necessidade de realização de concurso público para os quadros de advogado
do município, bem como que o contrato de prestação de serviços era temporário, destinado a
suprir a situação urgente na qual se encontrava a administração municipal. Não podem assim
alegar boa-fé na segunda contratação, com inexigibilidade de licitação, para desempenhar as
mesas tarefas ordinárias.
Fica a pergunta: se havia necessidade de tamanha urgência
que justificava a contratação sem licitação, porque o primeiro contrato foi feito mediante
procedimento licitatório?
O que há é evidente ilegalidade e má fé. Assim:
“... quem gastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo por sua
conta, risco e perigos. Pois impugnada a despesa, a quantia gasta irregularmente terá de
retornar ao Erário Público”10.
10 SÉRGIO FERRAZ e LÚCIA VALLE FIGUEIREDO, Posição das Cortes de Contas no Controle dos Contratos, in: Dispensa e Inexigibilidade de Licitação, 3ª ed., São Paulo, Malheiros, 1994, p. 93
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
39
Portanto, realizada uma contratação direta por inexigibilidade
ou dispensa de licitação, quando esta era exigível, o contrato é nulo e seu cumprimento
gera prejuízo ao Erário, que deve ser ressarcido tanto por quem deu causa à contratação
direta, como do contratado que participou fraudulentamente no procedimento.
A terceira conseqüência do contrato eivado de nulidade é a
caracterização dos atos de improbidade administrativa previstos no artigo 10, caput e
inciso VIII, e, no artigo 11, caput e inciso I, da Lei nº. 8.429/92, cometidos pelos responsáveis
pela contratação direta:
Nesse aspecto é a jurisprudência:
“APELAÇÕES CÍVEIS 1 E 2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS
ADVOCATÍCIOS SEM O DEVIDO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.
INOCORRÊNCIA DE HIPÓTESE DE DISPENSA OU
INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA CONFIGURADO. RECURSOS CONHECIDOS E
DESPROVIDOS.
Restou configurada a prática de ato de improbidade administrativa, vez
que houve a contratação de serviços advocatícios sem a realização do
devido procedimento licitatório, sendo que não se trata de caso de
dispensa ou inexigibilidade de licitação, haja vista a ausência de
situação emergencial ou de comprovada notória especialização. (...)”
(TJPR, AC 425894-6, 5ª Câmara Cível, Relator Luiz Mateus de Lima, j.
12/2/2008).
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
40
“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO
POR NOTÓRIA ESPECIALIZAÇÃO. ART. 25 DA LEI N.º 8.666/93.
INOBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO DE FORMALIZAÇÃO DA
DISPENSA. ART. 26 DA LEI DE LICITAÇÕES. OFENSA AO
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. FIXAÇÃO DAS SANÇÕES.
PROPORCIONALIDADE. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE MULTA.
1 - Mostrando-se incontroverso que o Presidente da Câmara Municipal
promoveu a contratação de advogado por notória especialização (art.
25, inc. II, da Lei n.º 8.666/93), sem que fosse observado o
indispensável processo de inexigibilidade (art. 26) - a qual, por não se
confundir com a dispensabilidade, independe do fato de ser reduzido o
valor do objeto -, resta configurada a prática de improbidade
administrativa por violação ao princípio da legalidade.
2 - Nos termos do parágrafo único do art. 12 da Lei n.º 8.429/92, a
fixação das sanções deve observar a extensão da lesão causada e o
proveito patrimonial do agente, revelando-se desproporcionais no caso
concreto as penas disciplinares (perda da função pública e suspensão
dos direitos políticos), as proibitivas de contratação e vedatórias de
recebimento de benefícios fiscais, já que o ato ilegal provocou danos à
moralidade administrativa, mas não diretamente ao erário.
3 - Recurso parcialmente provido.” (TJMG, AC 1.0188.03.016148-
6/001, 8ª Câmara Cível, Relator Edgard Penna Amorim, DJMG
01/11/2006)
“AÇÃO CIVIL PUBLICA. CONTRATO ADMINISTRATIVO.
INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO DE
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
41
SERVIÇOS TÉCNICOS ESPECIALIZADOS, DE NATUREZA
SINGULAR. IMPOSSÍVEL AFASTAR LICITAÇÃO EM CASO DE
SERVIÇO QUE POSSA SER INDISTINTAMENTE PRESTADO POR
DIVERSOS PROFISSIONAIS. REGRA DEVE SER SEMPRE A DE
REALIZAÇÃO DE CERTAME LICITATÓRIO, DE FORMA A ATENDER
O INTERESSE PÚBLICO. NULIDADE DE CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS, CONFORME ARTS. 26, 60 E 61 DA LEI Nº
8.666/93. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
Dispensa imprópria de licitação, em caso que não corresponde às
hipóteses de inexigibilidade de certame, por ausência de serviço
singular. Art. 10, III, da Lei nº 8.429/93. Sanção de ressarcimento ao
erário, com correção monetária e juros de mora. Afastamento de
sanções em obediência ao princípio da proporcionalidade. Recurso
parcialmente provido” (grifou-se - TJSP, APL-Rev 680.204.5/0, Ac.
2636593, 6ª Câmara de Direito Público, Relator Carlos Eduardo Pachi,
DJESP 10/9/2008);
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
CUMULADA COM PENALIDADES POLÍTICAS - DISPENSA DE
LICITAÇÃO - AUSÊNCIA DE PRÉVIA JUSTIFICAÇÃO - VALOR
ÍNFIMO NÃO CARACTERIZADO - DESNECESSIDADE DE
CONTRATAÇÃO DE PROFISSIONAL DE NOTÓRIA
ESPECIALIZAÇÃO - VINCULAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
ESTRITA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 10, I E XI DA LEI 8429/92 - IMPOSIÇÃO DA PENA
PREVISTA NO ARTIGO 12, II, DA MESMA LEI - RECURSO NÃO
PROVIDO - DECISÃO UNÂNIME. - NÃO HÁ POSSIBILIDADE DE
DISPENSA DE LICITAÇÃO QUANDO NÃO CARACTERIZADO O
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
42
VALOR ÍNFIMO OU QUANDO É DESNECESSÁRIA A
CONTRATAÇÃO DE PROFISSIONAL DE NOTÓRIA
ESPECIALIZAÇÃO. E SE FOSSE CASO DE DISPENSA DO
PROCEDIMENTO LICITATÓRIO, DEVERIA A MESMA SER
PRECEDIDA DE ADEQUADA JUSTIFICAÇÃO.” (TJPR, AC
111921300, Acórdão nº. 10075, 6ª Câmara Cível, Relator Antônio
Lopes de Noronha, j. 4/12/2002).
O processo nº 698/2010 (fl. 38 e ss) não visava a serviços
excepcionais, do prisma da Procuradoria Jurídica do Município, que desse ensejo à
contratação de terceiros, bem como não eram singulares a ponto de inviabilizar a competição,
pois no caso em exame seria indiferente que tivessem sido prestados por outro profissional da
área. Resta a conclusão pela ilicitude do contrato firmado entre a sociedade JOSÉ CARLOS
DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS, através de seu sócio-administrador JOSÉ
CARLOS DIAS NETO, e o Município de Piraí do Sul/PR, através do prefeito ANTÔNIO EL
ACHKAR.
Portanto, em razão da ilicitude das contratações diretas,
caracterizou-se a nulidade dos contratos, o dano ao patrimônio público, a prática de atos de
improbidade administrativa previstos no artigo 10, caput e inciso VIII, e, artigo 11, caput e inciso
I, da Lei nº. 8.429/92, bem como o crime previsto no artigo 89 da Lei nº. 8.666/93.
Não é por outro motivo que a omissão estampada nos autos
constitui, inclusive, crime:
Art. 89 - Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em
lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à
inexigibilidade:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
43
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo
comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade,
beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar
contrato com o Poder Público.
É evidente também o desrespeito aos Princípios basilares que
regem a Administração Pública, alicerces do Estado Democrático de Direito, que impõem aos
agentes públicos a completa submissão às leis. Infere-se, portanto, que administrar um ente
público é nada mais nada menos do que realizar atos que atendam o interesse público assim
caracterizado em lei, fazendo-o na conformidade dos meios e formas estabelecidos na
legislação. Os requeridos agiram em total arrepio aos ditames da Lei de Licitações, além da
própria Constituição Federal.
Os contratos administrativos levados a cabo pelo Município de
Piraí do Sul/PR caracterizam ainda ofensa aos princípios da moralidade e impessoalidade.
Para JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO 11:
“O princípio da moralidade impõe que o administrador público não
dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua
conduta. Deve não só averiguar os critérios de conveniência,
oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é
honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta
deve existir não somente nas relações entre a Administração e os
administrados em geral, como também internamente, ou seja, na
relação entre a Administração e os agentes públicos que a integram”
11 CARVALHO FILHO, José dos Santos; Manual de Direito Administrativo; 21ª ed., Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2009, p. 20.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
44
Não há como desconsiderar que, in casu, a moralidade
administraria foi arranhada. Esta obriga os gestores do interesse público e demais agentes
públicos ou terceiros que venham a relacionar-se com a Administração Pública a somente
praticar atos que carreguem o indispensável elemento moral e segundo a ordem ética
harmonizada com o interesse público e social e, obviamente, com a lei. Portanto, estando
configurada a improbidade administrativa perpetrada pelos requeridos, estes estão sujeitos às
sanções da Lei nº. 8.429/92. É o que decorre da exegese dos art. 1º e 3º, da referida Lei
Federal:
Art. 1° - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de
empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, serão punidos na forma desta lei.
[...]
Art. 3° - As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Não se pode ter como corretas ou éticas as condutas descritas
acima, vale dizer, não há nenhuma correlação entre as ilícitas atitudes dos requeridos e a
preservação ou consecução do interesse público.
A respeito:
“(...) não é preciso penetrar na intenção do agente, porque do
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
45
próprio objeto resulta a imoralidade. Isto ocorre quando o conteúdo de determinado ato
contrariar o senso comum de honestidade, retidão, equilíbrio, justiça, respeito à dignidade do
ser humano, à boa fé, ao trabalho, à ética das instituições. A moralidade exige
proporcionalidade entre os meios e os fins a atingir; entre os sacrifícios impostos à coletividade
e os benefícios por ela auferidos; entre as vantagens usufruídas pelas autoridades públicas e
os encargos impostos à maioria dos cidadãos.”12
Usar o cargo para desviar dinheiro público, dispensar licitação
fora das hipóteses legais e omitir-se gravemente no exercício de suas funções causa aversão a
qualquer cidadão, ferindo o conceito de probidade e honestidade, os bons costumes, as regras
de boa administração, os princípios de justiça e equidade, e a idéia comum de decoro.
Ao optarem por proceder desta forma, os requeridos agiram em
total desconformidade com a exigência moral e social de probidade ao tratar da coisa pública:
“O princípio da moralidade impõe que o administrador público
não dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Deve não só
averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também
distinguir o que é honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta deve
existir não somente nas relações entre a Administração e os administrados em geral, como
também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e os agentes públicos que a
integram.”13
Ao tecer comentários a respeito dos deveres dos administradores
públicos, o insigne jurista JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO obtempera: 12 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Discricionariedade Administrativa na Constituição de 1988. São Paulo: Atlas, 1991, p. 111.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
46
“É o primeiro e talvez o mais importante dos deveres do
administrador público. Sua atuação deve, em qualquer hipótese, pautar-se pelos princípios da
honestidade e moralidade, quer em face dos administrados, quer em face da própria
Administração.
Não deve cometer favorecimento nem nepotismo, cabendo-lhe
optar sempre pelo que melhor servir à Administração. O administrador probo há de escolher,
por exemplo, o particular que melhores condições oferece para contratação; ou o indivíduo que
maior mérito tiver para exercer a função pública. Enfim, deverá ser honesto, conceito extraído
do cidadão médio.
A improbidade acarreta vários efeitos para o administrador. Além
de ter suspensos seus direitos políticos, submete-se à perda da função pública, à
indisponibilidade de seus bens e à obrigação de ressarcir o erário público pelos danos que
cometeu, sem contar a ação penal que terá de responder. Tais efeitos estão expressos no art.
37, §4.º, da Constituição.”14
Restou também patenteado no caso vertente que, tendo sido
escolhida de antemão a sociedade que iria contratar com a Administração, sem qualquer
prévia cotação de preços, houve violação aos princípios da impessoalidade e publicidade,
uma vez que o procedimento de inexigibilidade foi especialmente direcionado para
proporcionar vantagens a JOSÉ CARLOS DIAS NETO & ADVOGADOS ASSOCIADOS, em
detrimento da Administração e, por conseguinte, do interesse público.
A propósito, o eminente jurista JOSÉ DOS SANTOS
CARVALHO FILHO leciona: 13 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, Lúmen Juris, 2000, 11ª ed. Revista, ampliada e atualizada, p. 15/16
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
47
“Princípio da Impessoalidade
(...)
O princípio objetiva a igualdade de tratamento que a
Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação
jurídica. Nesse ponto representa uma faceta do princípio da isonomia. Por outro lado, para que
haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o
interesse público, e não para o privado, vedando-se, em consequência, sejam favorecidos
alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de
outros.15
Os requeridos atuaram com a finalidade única de lograr a sua
ilícita locupletação pessoal, divorciados das determinações legais e constitucionais, que
regulavam a hipótese. É esse o magistério dos professores MARCELO ALEXANDRINO e
VICENTE PAULO16, instrutores da Escola da Administração Fazendária do Ministério da
Fazenda (ESAF):
“[...] toda atuação da Administração deve visar ao interesse
público, deve ter como finalidade a satisfação do interesse público. A impessoalidade da
atuação administrativa impede, portanto, que o ato administrativo seja praticado visando a
interesses do agente ou de terceiros, devendo ater-se à vontade da lei, comando geral e
abstrato em essência. Dessa forma ele impede perseguições ou favorecimentos,
discriminações benéficas ou prejudiciais aos administrados. Qualquer ato praticado com
objetivo diverso da satisfação do interesse público será nulo por desvio de finalidade”
14 Ob. cit., p. 15. 15 Obra já cita16 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente; Direito Administrativo Descomplicado; 17ª Ed, São Paulo: Método, 2009; p. 200.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
48
Nesse conceito, encontram-se inseridos tanto o requerido
ANTÔNIO EL ACHKAR, atuando na qualidade de Prefeito Municipal de Piraí do Sul,
autorizando a contratação ilegal de serviços de advocacia, da sociedade JOSÉ CARLOS DIAS
NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS, beneficiária da contratação ilegal, bem como de seu
sócio-administrador, que teve participação decisiva na aludida ilicitude, o qual, além de ser
beneficiário direto de práticas ímprobas, contribui de forma evidente no acerto para a
contratação da sociedade da qual faz parte.
V – SANÇÕES
No caso, os requeridos, sob a máscara de contratação de
serviços jurídicos através de ilegais procedimentos de dispensa e inexigibilidade de licitação,
causaram prejuízo ao erário, bem como se locupletando ilicitamente em prejuízo ao bem
público.
Dessa feita, vê-se, conforme já exposto, que em seu atuar incorreu
o requerido ANTÔNIO EL ACHKAR nos termos do art. 10, incisos I e VIII, e art. 11, incisos I e V da
Lei de Improbidade Administrativa, na medida em que autorizou as dispensas de licitação sem
observar as formalidades legais, facilitando a incorporação ao patrimônio particular da sociedade de
advogados JOSÉ CARLOS DIAS NETO e ADVOGADOS ASSOCIADOS, através de seu sócio
administrador JOSÉ CARLOS DIAS NETO, além de proceder de forma a burlar os princípios da
Administração Pública.
Quanto à sociedade de advogados JOSÉ CARLOS DIAS NETO e
ADVOGADOS ASSOCIADOS, através de seu sócio administrador JOSÉ CARLOS DIAS NETO
praticaram atos de improbidade administrativa prevista nos art. 9 e 10 da Lei de Improbidade, na
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
49
medida em que auferiram vantagem econômica ao celebrar contrato ilegal, bem como contribuíram
para burlar o certame licitatório.
No que se refere ao elemento subjetivo das condutas, é certo
que agiram de má-fé, visando à contratação manifestamente ilegal e imoral, com o intuito de
locupletarem-se do erário. Isso fica evidente ao se observar que já por ocasião do
procedimento licitatório nº 001/2009, ambos os requeridos tinham a ciência de que os serviços
de advocacia deveriam ser temporários, subsistindo apenas por período determinado, até que
a administração concluísse o concurso público para o restabelecimento de seus quadros de
Procuradores Municipais, cumprindo o que dispõe o art. 37 da Carta Magna. No entanto,
mesmo após a prorrogação daquele contrato, que passou a viger por um ano e três meses,
utilizaram do expediente ilegal acima descrito para manter o vínculo da sociedade de
advogados com a Prefeitura, e conseqüentemente os pagamentos mensais, mesmo que para
isso fosse necessário fazer tábula rasa da Constituição da República, solapando a ordem
jurídica através de uma contratação sem licitação, em claro desrespeito ao art. 25 da lei
8666/93.
Restando sopesada de forma contundente a prática de atos de
improbidade administrativa cometidos, merecem, dessa forma, condenação nas sanções do
art. 12, incisos I, II e III, todos da Lei nº. 8429/92, as quais deverão ser aplicadas mediante
critérios de razoabilidade e proporcionalidade.
No mais, quanto aos critérios de proporcionalidade, deve ser
levado em conta por este r. Juízo a gravidade da infração cometida, o benefício auferido em
prejuízo da coletividade, a ofensa à dignidade da função pública e mormente por tratar-se de
prática envolvendo agentes políticos, os quais, por definição, ocupam os mais altos escalões
do Poder Público, incumbindo-lhes, assim, maior responsabilidade e zelo na administração
pública.
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
50
Cabe consignar, ainda, que, na aplicação das sanções previstas
na Lei de Improbidade Administrativa, o Magistrado não pode perder de vista que a incidência
das penas tem um caráter pedagógico, devendo ser capaz de configurar um fator inibidor da
perpetuação dos atos de improbidade administrativa.
Daí, como conseqüência dessa ilação, decorre a imprescindibilidade
da punição dos agentes ímprobos, bem como daqueles que se locupletam indevidamente em
deterioração do bem público, em especial por considerar que a sociedade anseia por gestores
públicos efetivamente preocupados em promover o bem comum e a salvaguarda do interesse
social.
Com efeito, esta é a hipótese da presente demanda. No caso aqui
guerreado, observou-se uma total renitência de todos os requeridos em se portar de acordo com os
preceitos legais e os mais elementares e inarredáveis princípios do direito administrativo, devendo,
dessa forma, ser punidos pelos seus atos, até mesmo para servir de exemplo, impedindo que outros
se animem e passem a trilhar idêntico caminho, utilizando-se deste tipo de prática nociva à
administração pública.
VI – PEDIDOS FINAIS
Diante de todo o exposto e por tudo mais que dos autos consta, o
Ministério Público do Estado do Paraná requer:
1 – Seja a presente registrada e autuada (juntamente com os
documentos que a acompanham – (04 (quatro) volumes do Inquérito Civil n.º MPPR-
0110.11.000012-9) e recebida como AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO DE DANO
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
51
AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E IMPOSIÇÃO DE SANÇÕES POR ATOS DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA, notificando-se previamente os requeridos para se manifestar sobre a
inicial antes do seu recebimento (art. 17 § § 7º e 8º da Lei n.º 8.429/92), processando-se o
presente feito, sob o rito ordinário.
2 – A citação dos requeridos para que ofereçam resposta à
presente ação, com as cautelas dos artigos 285 e 172, § 2º, do Código de Processo Civil, sob
pena de revelia.
3 – A notificação do Município de Piraí do Sul (PR) para integrar
a lide (17, § 3º, da Lei n° 8.429/92 c/c art. 6º, § 3º da Lei n° 4.717/65).
4 – A produção de todas as provas permitidas, especialmente
documentais, periciais, testemunhais, cujo rol será oportunamente apresentado e os
depoimentos pessoais dos requeridos na audiência de instrução e julgamento, sob pena de
confissão.
5 – Seja certificado pelos Cartórios Cível e Criminal desta
Comarca sobre eventuais inquéritos policiais, ações ou condenações por improbidade e de
antecedentes criminais dos requeridos.
6 – Seja oficiado à Vara de Execuções Penais de Ponta Grossa,
à Justiça Federal de Ponta Grossa e ao Instituto de Identificação do Paraná, para que
forneçam certidões de antecedentes criminais dos requeridos.
7 – Finalmente, seja julgada procedente a presente demanda, a
fim de que:
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
52
7.1 – sejam condenados o requerido ANTÔNIO EL ACHKAR, a
sociedade de advogados JOSÉ CARLOS DIAS NETO e AVOGADOS ASSOCIADOS, bem
como seu sócio-administrador JOSÉ CARLOS DIAS NETO de forma solidária no montante
pago em razão do contrato nº 027/2010.
7.2 – sejam condenados os requeridos, nas sanções do artigo 12,
incisos II e III, da Lei de Improbidade Administrativa, por terem cometido os atos ímprobos
supramencionados, os quais subsumem-se nas figuras descritas nos artigos 10 e 11, da Lei
8.429/92;
8 – Sejam os requeridos condenados ao ônus de sucumbência e
demais cominações legais.
9 – Sejam enviadas cópias desta lide ao Tribunal de Contas do
Estado do Paraná e à Câmara Municipal de Piraí do Sul (PR) para ciência e a tomada de
providências que entenderem necessárias.
VII – VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ 86.063,00 (oitenta e seis mil e
sessenta e três reais).
Piraí do Sul, 06 de fevereiro de 2011.
ANTONIO JULIANO SOUZA ALBANEZ
PROMOTOR DE JUSTIÇA
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PIRAÍ DO SUL
53
DOCUMENTOS ANEXOS:
AUTOS DE ICP Nº MPPR-0110.11.000012-9