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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, através da PROMOTORIA DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE DE CURITIBA, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições, vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 129 da Constituição Federal e com fundamento nas Leis Federais n. 6938/81 e 7347/85 e demais leis estaduais e municipais pertinentes a espécie, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL, com pedido de liminar em face do BAR QUINZE ALTA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, cadastrada no CNPJ sob nº. 07.711.918/0001-98, com Inscrição Municipal nº. 12.09.0503774-5 e Indicação Fiscal nº. 34.102.055, localizado na Rua Itupava, nº. 1.020, bairro Alto da Rua XV, Curitiba - Paraná, CEP 80.040-000, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __VARA CÍVEL DO

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

- PARANÁ.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, através

da PROMOTORIA DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE DE CURITIBA, por seu

Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições, vem à presença de

Vossa Excelência, com fulcro no artigo 129 da Constituição Federal e com fundamento

nas Leis Federais n. 6938/81 e 7347/85 e demais leis estaduais e municipais pertinentes

a espécie, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL,

com pedido de liminar

em face do BAR QUINZE ALTA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, cadastrada

no CNPJ sob nº. 07.711.918/0001-98, com Inscrição Municipal nº. 12.09.0503774-5 e

Indicação Fiscal nº. 34.102.055, localizado na Rua Itupava, nº. 1.020, bairro Alto da Rua

XV, Curitiba - Paraná, CEP 80.040-000, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir

expostos:

1. FATOS

Em 01 de setembro de 2011, foi protocolado na Promotoria de Justiça de

Proteção ao Meio Ambiente de Curitiba, sob nº. 1718/2011, reclamação de moradores do

bairro Alto da Rua XV acerca da crescente degradação de um agradável espaço de lazer

criado pelo Município de Curitiba, aos moradores do bairro Alto da Rua XV e

imediação, conhecido como Jardim Ambiental, localizado, na Rua Shiller, provocados

por frequentadores de alguns estabelecimentos comerciais da região. Sendo o BAR

QUINZE ALTA LTDA, conhecido como SNOOKER BAR BOLA ROLA, um dos

principais pontos de encontro destes freqüentadores.

Os moradores, reiteradamente, vem colecionando abaixo-assinados e

direcionando-os às autoridades municipais sem, contudo, alcançarem a segurança e a

tranqüilidade tão almejados, não por mero deleite, quiçá o fosse, mas por terem visto

um direito fundamental sendo-lhes subtraído, por pessoas sem o mínimo de urbanidade

e respeito.

A poluição sonora e a perturbação de sossego alheio relatados são

constantes, bem como as queixas dos moradores do entorno que estão tendo suas vidas

cerceadas por pessoas que, sob influência de álcool e drogas, promovem durante a

madrugada atos de vandalismo e algazarras que ameaçam a segurança e a tranqüilidade

de famílias que tem o direito de desfrutar de seu merecido repouso noturno.

Diante dos fatos apresentados, esta Promotoria de Justiça de Proteção ao

Meio Ambiente de Curitiba oficiou as Secretarias Municipais do Meio Ambiente, do

Urbanismo, da Saúde e à Polícia Militar do Paraná, questionando a regularidade do

referido estabelecimento perante os respectivos órgãos.

Em resposta, a Polícia Militar do Paraná, através da Ação Integrada de

Fiscalização Urbana – AIFU, informou que em fiscalização realizada no dia 31 de agosto

de 2012, o estabelecimento foi notificado (Notif. 69008/2012) pela Secretaria Municipal

do Urbanismo – SMU, por desvirtuamento de ramo, “visto que o processo de solicitação de

Alvará de Localização e Funcionamento foi indeferido”, gerando, na ocasião, a paralisação

imediata das atividades do estabelecimento, o qual também foi notificado (Notif.

39104/2012) pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, por não possuir Licença

Ambiental.

Já em posterior indagação à Secretaria Municipal do Urbanismo – SMU

quanto à existência ou não de Alvará de Localização e Funcionamento, constatou-se a

emissão do referido documento sob nº. 1.115.076, com Inscrição Municipal 503.774-5,

para o exercício das seguintes atividades comerciais:

“I.56.1.1-2/02-00 – Bares e outros estabelecimentos especializados em servir

bebidas;

R.93.2.9-8/03-00 – Exploração de jogos de sinuca, bilhar e similares”

Vale ressaltar que em consulta à Guia Amarela fornecida pelo Município

de Curitiba, consta a seguinte observação no campo “Informações Complementares”:

“33264/2010UFI - Local com grande incidência de reclamações referentes a

consumo de bebidas alcoólicas na área de abrangência do posto de combustível e

perturbação de sossego público junto à Polícia Militar. Em sendo o entendimento

do CMU, a liberação de consulta comercial para as atividades pleiteadas pelo

estabelecimento, propomos vincular a liberação após ser ouvida a CIOSP.

69 - Atividade de risco ao meio ambiente – ouvir a SMMA

84 - 45650/09UFI3-Notif.53377 (04.04.2009)

Comércio irregular (cumprir o disposto no artigo 1º da Lei 11.582/05)

33264/10FI3-Notif. 67069 (10.03.2010)

Comércio noturno irregular

[...]

115 – Poluição ambiental – atividades de risco ambiental sem possibilidade de

renovação automática de alvará de funcionamento.”

Sendo assim, diante dos fatos apresentados, não se vislumbra outra

alternativa senão a da propositura da presente Ação Civil Pública, para que o

estabelecimento seja interditado, retornando a paz e o sossego dos moradores

circunvizinhos ao estabelecimento.

2. DIREITO

Paulo Afonso de Leme Machado1 ao tratar sobre poluição sonora, esclarece

que “o incômodo ou perturbação é geralmente relacionado aos efeitos diretamente exercidos pelo

ruído sobre certar atividades, por exemplo; perturbação da conversação, da concentração mental,

do repouso e dos lazeres. A existência e a dimensão do incômodo são determinadas pelo grau de

exposição física e por variáveis conexas de ordem psicossocial.”

Estudos sobre o assunto revelam que “como efeitos do ruído sobre a saúde em

geral registram-se sintomas de grande fadiga, lassidão, fraqueza. O ritmo cardíaco acelera-se e a

pressão arterial aumenta. Quanto ao sistema respiratório, pode-se registrar dispnéia e impressão

de asfixia. No concernente ao aparelho digestivo, as glândulas encarregadas de fabricar ou de

regular os elementos químicos fundamentais para o equilíbrio humano são atingidas (supra-

renais, hipófise, etc).”2

Sendo assim, o direito ao silêncio corresponde a uma das manifestações

jurídicas mais atuais da pós-modernidade e da vida em sociedade, em que não se pode

retirar de cada cidadão brasileiro o direito de dormir, sossegar e descansar.

1 MACHADO, Paulo Afonso de Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 11 ed. São Paulo : Malheiros Editores, 2003. 2 Idem.

A cada dia a humanidade busca meios mais adequados para se viver, com

o intuito de preservar o meio ambiente, garantindo dessa forma que futuras gerações

possam usufruir de um meio ambiente sadio, ecologicamente equilibrado, como assim

consagra a Constituição Federal brasileira, no artigo 225:

“Artigo 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

(...)

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de reparar os danos causados. “

No que tange à legislação ambiental, poluição é definida pelo. 3º, III,

alíneas “a”, e “e”, da Lei n. 6.938/1981, como a degradação da qualidade ambiental

resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, segurança e

o bem estar da população e que lancem matérias ou energia em desacordo com os

padrões ambientais estabelecidos, repectivamente. No inciso IV deste mesmo artigo

vislumbra-se o conceito de poluidor, o qual corresponde à pessoa física ou jurídica, de

direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade

causadora de degradação ambiental.

A Resolução n. 001 de 1990 do Conselho Nacional do Meio Ambiente -

CONAMA prevê:

“I - A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais,

comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política, obedecerá no

interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes

estabelecidos nesta Resolução;”

O Estado do Paraná, na edição de sua Constituição, também dedicou

capítulo especial à questão ambiental, garantindo a defesa do meio ambiente e da

qualidade de vida de seus cidadãos, importância esta que se extrai da redação do artigo

207, in verbis:

“Artigo 207 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Estado, aos

Municípios e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as gerações

presentes e futuras, garantindo-se a proteção dos ecossistemas e o uso racional dos

recursos ambientais.

§1º Cabe ao Poder Público, na forma da lei, para assegurar a efetividade deste

direito:

[...];

§2º. As condutas e atividades poluidoras ou consideradas lesivas ao meio ambiente,

na forma da lei, sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas:

I - a obrigação de, além de outras sanções cabíveis, reparar os danos causados; ”

No âmbito Municipal, a Lei nº. 10.625/2002, que dispõe sobre ruídos

urbanos, proteção do bem estar e do sossego público, sai em defesa do meio ambiente

preconizando:

“Art. 1º - É proibido perturbar o sossego e o bem estar público com ruídos,

vibrações, sons excessivos de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma ou

contrariem os níveis máximos de intensidade, fixados por esta lei.

Parágrafo único – As vibrações serão consideradas prejudiciais quando

ocasionarem ou puderem ocasionar danos materiais, à saúde e ao bem estar

público.”(grifo nosso)

E ainda:

“Art. 12– As atividades potencialmente causadoras de poluição sonora,

definidas em regulamento próprio, dependem de prévio licenciamento

ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente para obtenção dos alvarás

de construção e funcionamento.

[...]

Art. 16– As pessoas físicas e jurídicas, de direito público ou privado, que

infringirem qualquer dispositivo desta Lei, seus regulamentos e demais normas

dela decorrentes, ficam sujeitas às seguintes sanções, independente da obrigação de

cessar a transgressão:

I. Notificação por escrito;

II. Multa simples ou diária;

III. Cassação da Licença Ambiental;

IV. Embargo;

V. Interdição parcial ou total;

VI. Perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo

Município.”(grifo nosso)

É relevante mencionar na esfera municipal o disposto na Lei Orgânica do

Município de Curitiba:

“Art. 11 – Compete ao Município prover a tudo quanto respeitas ao seu interesse e

ao bem-estar da população, cabendo-lhe, em especial:

[...]

XII – dispor sobre o controle da poluição ambiental;

[...]”

Desta forma, “por meio do zoneamento, o Poder Público interfere no uso e na

ocupação do espaço, conduzindo o desenvolvimento de atividades e estabelecendo restrições,”3

como medida de controle ambiental sobre os efeitos deletérios provocados por

atividades poluidoras ou potencialmente poluidoras.

Nesse sentido, a Lei Municipal nº. 9.800/2000, que dispõe sobre o

zoneamento, uso e ocupação do solo no Município de Curitiba, proíbe que se

desenvolvam atividades discrepantes com o zoneamento em questão, conforme seus

artigos 36 e 38 dispõem:

“Art. 36 - As atividades urbanas constantes das categorias de uso comercial, de

serviços, e industrial para efeito de aplicação desta lei classificam-se:

[...]

II - quanto à natureza, em:

[...]

incômodas - as que possam produzir ruídos, trepidações, gases, poeiras, exalações

ou conturbações no tráfego que possam causar incômodos à vizinhança;

3 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2 ed. São Paulo : Editora Atlas S.A, 2011.

[...].

Art. 38. De acordo com sua categoria, porte e natureza, em cada zona ou setor as

atividades urbanas serão consideradas como:

[...];

IV - proibidas - compreendem as atividades, que por sua categoria, porte ou

natureza, são nocivas, perigosas, incômodas e incompatíveis com as finalidades

urbanísticas da zona ou setor correspondente.”

Assim, conforme se extrai da Guia Amarela expedida pelo Município de

Curitiba, o réu está localizado em Zona Residencial – ZR3 onde, segundo o Quadro V da

Lei 9.800/2000, permite-se os usos de habitação unifamiliar, habitações unifamiliares em

série, habitação coletiva, habitação institucional, comércio e serviço vicinal 1 e 2 e

indústria tipo 1, tolerando-se o uso comunitário 1.

Isso significa dizer, considerando o Decreto nº 183/2000, que regulamenta

o artigo 54, da Lei 9.800/00, que para o referido zoneamento não é permitido atividades

com serviço de música ao vivo ou mecânica.

Portanto, vale ressaltar que o réu está em desacordo com a Lei Municipal

de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo, uma vez que entre os serviços oferecidos pelo

estabelecimento em tela, encontra-se o de música ao vivo, conforme pode ser verificado

em post de divulgação na página do Facebook do Bar Bola Rola (anexo).

Mesmo assim, ainda que tais atividades fossem permitidas pelo

zoneamento, para que haja o exercício dos serviços de música ao vivo ou mecânica,

deve, necessariamente, haver a Autorização Ambiental de Funcionamento pela

Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SMMA, conforme dispõe o Anexo III do

Decreto Municipal 1.819/2011, bem como ter a previsão dessas atividades no Alvará

Comercial do estabelecimento.

Ainda assim, mesmo que o réu supostamente estivesse regular perante os

órgãos competentes, isso não lhe concederia o direito de cercear o direito ao sossego, à

saúde, à segurança.

Sobre o alvará, o Código de Posturas do Município de Curitiba – Lei nº.

11.095/2004, assim dispõe:

Art. 34. O alvará de localização e funcionamento será expedido mediante

requerimento ao órgão competente, e atendidas as disposições legais.

§ 1º. O alvará terá validade enquanto não se modificar qualquer dos

elementos essenciais nele contidos e condicionados à sua vigência.

§ 2º. Quando ocorrer o previsto no parágrafo anterior, o interessado deverá

requerer outro alvará de licença, com as novas características essenciais. (grifo

nosso)

Entretanto, não é o que acontece no presente caso. Conforme se verifica

através da notificação nº. 69.008 emitida pela Secretaria Municipal do Urbanismo (fls.

39), por desvirtuamento de ramo, bem como do documento às fls. 58, onde se pode

observar apenas a liberação das atividades de “Bares e outros estabelecimentos

especializados em servir bebidas” e “Exploração de jogos de sinuca, bilhar e similares”,

o BAR QUINZE ALTA LTDA não possui liberação para as atividades de música ao vivo

ou mecânica, o que invalida os referidos alvarás, conforme determina o artigo acima

citado.

Além disso, através da notificação nº. 39.104, emitida pela Secretaria

Municipal do Meio Ambiente (fls. 40), em razão de falta de licenciamento ambiental,

percebe-se que o réu vem descumprindo as determinações legais acima mencionadas

para o exercício de suas atividades.

Menciona-se que existe a previsão de imposição de sanção a quem pratica

poluição sonora, conforme Decreto-lei nº. 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais:

“Art. 42 – Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios:

I – com gritaria ou algazarra;

II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições

legais;

III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;

IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que

tem guarda;

Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa.”

Vale ressaltar, que conforme informações contidas na reclamação que

desencadeou a presente, bem como nos fatos relatados, a atividades do réu é incômoda

e nociva à segurança, à saúde e ao bem estar dos moradores da região, por ser um dos

principais pontos de encontro de pessoas que promovem a desordem, vandalismo e

algazarras.

Diante da possibilidade de degradação da qualidade de vida da

população, a prevalência do interesse público sobre o particular é medida que se impõe.

Não é possível privilegiar a continuidade de uma atividade privada, a qual polui

sonoramente o meio ambiente e, indiretamente, incita a desordem e promove a

insegurança, em detrimento da privação de toda a coletividade de ter acesso a uma vida

digna, saudável e segura.

Sendo assim, diante dos fatos e do direito apresentados, requer-se a

imediata paralisação das atividades do réu nos moldes em que se apresenta.

3. DANO MORAL AMBIENTAL

O dano moral coletivo, hoje perfeitamente aceito pela nossa doutrina e

jurisprudência, tem como principal aplicação os casos de danos ambientais.

Isso porque, pessoas como o ora requerido, que promovem continuamente

danos ambientais, banalizando a questão, violam os direitos coletivos e

transindividuais.

Em se tratando de direito ambiental a repercussão dos danos se reflete no

cível, no crime e administrativamente. Trata-se de esferas independentes entre si, mas

todas importantes quanto aos objetivos que visam.

No cível a reparação pode ser não apenas dos danos materiais, mas

também morais, estes são compensáveis e aqueles indenizáveis.

Diz-se indenizáveis aqueles danos em que a vítima pode ser restituída ao

estado anterior à ocorrência do dano. Já os compensáveis são aqueles em que a vítima

não tem como ser restituída ao estado em que se encontrava antes, porém, lhe é

entregue certa quantia em dinheiro ou coisa como forma de amenizar o ocorrido.

Na aplicação do dano moral ambiental deve ser considerado e interpretado

de forma sistêmica o artigo 225 da Constituição Federal com o ordenamento jurídico,

pois ocorrendo lesão ao equilíbrio ecológico, este afetará a sadia qualidade de vida e à

saúde da população. Rompido o equilíbrio do ecossistema todos correm risco.

Nesta seara é o ensinamento do ilustre jurista - Dr. Carlos Alberto Bittar:

“A nosso ver, um dos exemplos mais importantes de dano moral coletivo é o dano

ambiental, que consiste não apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, mas também na

agressão à qualidade de vida e à saúde. É que esses valores estão intimamente inter-

relacionados, de modo que a agressão ao ambiente afeta diretamente a saúde e a

qualidade de vida da comunidade (CF, art. 225).

[...]

O instrumento processual que se presta por excelência à defesa dos valores

coletivos em geral, na hipótese de dano, é a ação civil pública, em virtude da regra

aberta acolhida pelo artigo 1º, IV, da Lei 7.347/85. Aliás, com a modificação

realizada pela Lei Federal 8.884/94, o artigo 1º, caput, da Lei 7.347/85 passou a

prever, expressis verbis, a possibilidade de propositura de ações de responsabilidade

por danos morais de ordem coletiva. A responsabilidade pela produção do dano

ambiental é objetiva – ou seja, independe da prova de culpa – por duas razões

fundamentais: a) esse dano tem um caráter moral, decorrendo da própria ação

lesiva ao ecossistema; b) no Direito Ambiental, há o princípio do poluidor-pagador,

consagrado em nosso ordenamento jurídico (Lei Federal nº 6.938/81, art. 14, § 3º),

pelo qual é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a

indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por

sua atividade.”

A jurisprudência por reiteradas vezes tem aceitado e concedido a

compensação por danos morais em matéria ambiental.

É o teor dos artigos da Lei 7347/85 - Lei de Ação Civil Pública:

“Art. 3º - A ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o

cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.”

Em comentários ao referido artigo dizem Nelson Nery Júnior e Rosa Maria

de Andrade Nery:

“1. Condenação em dinheiro. A aferição do quantum indenizatório nas ações

coletivas com a finalidade de reparação do dano difuso ou coletivo é questão de

difícil solução. Poderão ser utilizados os critérios de arbitramento ou de fixação da

indenização com base no valor do lucro obtido pelo causador do dano com sua

atividade. É possível a cumulação da indenização por danos patrimoniais e morais

(STJ 37; CDC 6º VI).”

Neste diapasão, verifica-se a possibilidade de se impor ao réu o pagamento

pelos danos morais sofridos até então pela coletividade, uma vez que se trata aqui de

direitos difusos e coletivos.

Os Tribunais têm se manifestado no seguinte sentido:

“POLUIÇÃO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA FORMULADA PELO

MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. POLUIÇÃO CONSISTENTE EM

SUPRESSÃO DA VEGETAÇÃO DO IMÓVEL SEM A DEVIDA

AUTORIZAÇÃO MUNICIPAL. CORTES DE ÁRVORES E INÍCIO DE

CONSTRUÇÃO NÃO LICENCIADA, ENSEJANDO MULTAS E

INTERDIÇÃO DO LOCAL. DANO À COLETIVIDADE COM A

DESTRUIÇÃO DO ECOSSISTEMA, TRAZENDO CONSEQÜÊNCIAS

NOCIVAS AO MEIO AMBIENTE, COM INFRINGÊNCIA, ÀS LEIS

AMBIENTAIS, LEI FEDERAL 4.771/65, DECRETO FEDERAL 750/93,

ARTIGO 2º, DECRETO FEDERAL 99.274/90, ARTIGO 34 E INCISO XI, E A

LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, ARTIGO 477.

CONDENAÇÃO A REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS

CONSISTENTES NO PLANTIO DE 2.800 ÁRVORES, E AO

DESFAZIMENTO DAS OBRAS. REFORMA DA SENTENÇA PARA

INCLUSÃO DO DANO MORAL PERPETRADO A COLETIVIDADE.

QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL AMBIENTAL RAZOÁVEL E

PROPORCIONAL AO PREJUÍZO COLETIVO. A IMPOSSIBILIDADE

DE REPOSIÇÃO DO AMBIENTE AO ESTADO ANTERIOR JUSTIFICAM

A CONDENAÇÃO EM DANO MORAL PELA DEGRADAÇÃO

AMBIENTAL PREJUDICIAL A COLETIVIDADE. PROVIMENTO DO

RECURSO.” (TJRJ - 2.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2001.001.14586 - Rel.:

Desa. Maria Raimunda T. de Azevedo - J. 07/08/2002)(grifo nosso).

É claro e evidente o descaso com que o assunto foi tratado para com os

moradores do entorno. O sono perdido, o medo, a insegurança, são fatores irreparáveis,

sendo, portanto, o dano moral ambiental, medida que se impõe.

4. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A inversão do ônus da prova é perfeitamente cabível no caso em discussão.

O artigo 21 da Lei 7.347/85 determina que aplicam-se à defesa dos direitos e interesses

difusos, coletivos e individuais, no que tenha cabimento, os dispositivos do Código de

Defesa do Consumidor.

O artigo 6º, inciso VIII da Lei 8.078/90 é expresso ao admitir a inversão do

ônus da prova em causa fulcrada no Código de Defesa do Consumidor, na medida em

que hipossuficiente o autor, segundo as regras comuns da experiência como bem

esclarece o texto legal, in verbis:

“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

(...)

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da

prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossímil a

alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de

experiência;

(...)”

Tal dispositivo certamente tem aplicação, também, no âmbito de proteção

ao meio ambiente, pois em matéria ambiental a hipossuficiência e a verossimilhança são

requisitos para uma inversão do ônus da prova. Segundo Clóvis da Silveira4, a

hipossuficiência pode se dar sob várias perspectivas:

a) Hipossuficiência econômica: quando em um dos pólos, figuram “pequenas

associações desprovidas de recursos ou o MP, que também não poderia comprometer

seu orçamento institucional com o custeio de dispendiosas perícias” (SILVEIRA, 2004);

b) Hipossuficiência informativa: quando os demandantes em matéria

ambiental “não possuem, em regra, acesso às informações necessárias para comprovar o

nexo de causalidade que permite responsabilizar o poluidor” (SILVEIRA, 2004);

c) Hipossuficiência técnica: “considerando que os autores da ação civil

pública obtivessem acesso aos referidos dados, que não são informados a priori, não

saberiam manipulá-los ou deles obter significado que possa ser traduzido em provas”

(SILVEIRA, 2004);

d) Hipossuficiência decorrente do caráter do interesse tutelado: “a

hipossuficiência decorre, pois, do fato de que o empreendedor recolhe os benefícios da

produção, cirando riscos inerentes à atividade, enquanto o ambiente é degradado,

lesado-se o direito de todos” (SILVEIRA, 2004);

e) Hipossuficiência decorrente de Lei: “A própria Lei reconhece,

implicitamente, a hipossuficiência dos co-legitimados, pelo fato de estarem agindo em

interesse da coletividade, isentando-os do adiantamento de despesas e ônus de

sucumbência” (SILVEIRA, 2004).

Portanto é claro, que o Ministério Público ao ajuizamento de Ações Civis

Públicas, encontra-se em franca desvantagem perante o demandado.

4 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2004.

Assim entende a jurisprudência dominante:

“O instituto da inversão do ônus da prova, independentemente do título em que

esta disposto no Código de Defesa do Consumidor, pode ser aplicado nas ações civis

publicas, desde que as circunstancias fáticas assim o autorizem.” (TJPR, Processo:

334622-7/01, Agravo Regimental Cível, Órgão Julg.: 5ª. Câmara Cível, Relator:

Desembargador Leonel Cunha, 22.05.2006).

No que tange à responsabilidade pelo demandado ao pagamento das

respectivas custas, manifestou-se a jurisprudência:

“7.3.2. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A ATRIBUIÇÃO DOS

CUSTOS DA PERÍCIA PELO DEMANDADO. Admissibilidade nas

demandas que envolvam a proteção ao meio ambiente. Ministério Público

e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas que estão

em franca desvantagem perante os demandados.

Ementa: Tratando-se de demanda que envolva a proteção ao meio ambiente, é

cabível a inversão do ônus da prova e a atribuição dos custos da perícia, pois o

Ministério Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas

estão em franca desvantagem perante os demandados. Edcl 70002338473 - 4ª Cam.

Civil. - TJRS - j. 04.04.2001 - rel. Des Wellington Pacheco Barros.5

E ainda:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. AGRAVO DE

INSTRUMENTO. PROVA PERICIAL. INVERSÃO DO ÔNUS.

ADIANTAMENTO PELO DEMANDADO. DESCABIMENTO.

5 Revista de Direito Ambiental, Coordenação: Antônio Herman V. Benjamin e Édis Milaré. Editora Revista dos Tribunais. Ano 6, n. 23, julho-setembro de 2001.

PRECEDENTES.

I - Em autos de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Estadual

visando apurar dano ambiental, foram deferidos, a perícia e o pedido de inversão do

ônus e das custas respectivas, tendo a parte interposto agravo de instrumento

contra tal decisão.

II - Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de reparar

os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o encargo de provar

que sua conduta não foi lesiva.

III - Cabível, na hipótese, a inversão do ônus da prova que, em verdade, se dá em

prol da sociedade, que detém o direito de ver reparada ou compensada a eventual

prática lesiva ao meio ambiente - art. 6º, VIII, do CDC c/c o art. 18, da lei nº

7.347/85.

IV - Recurso improvido.” (STJ. REsp 1049822/RS. Rel. Min. Francisco Falcão.

Primeira Turma. Julg: 23/04/2009).

Assim, “pertence ao demandado, a partir de então, o ônus da prova, para que

comprove inexistência do nexo de causalidade que se lhe atribui entre ação e dano. Uma vez que o

agente criou as condições (riscos) par que o dano ocorresse, nada mais lógico que a ele pertença tal

encargo”6

Conclui-se, portanto, pelo cabimento da inversão do ônus da prova.

5. PEDIDO LIMINAR

Como acima mencionado, o Réu vem exercendo suas atividades, sem

licença ambiental além de estar desvirtuamento o ramo das atividades liberadas, em

total desrespeito à legislação vigente.

6 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2004.

Conforme autorizado pelo artigo 12 da Lei n. 7347/85 o juiz poderá

conceder liminar com ou sem justificação prévia.

O fumus boni iuris, que é a existência e ocorrência do direito substancial

invocado por quem pretende a segurança, está cabalmente demonstrado pelos

documentos que acompanham a presente e, pela legislação citada.

Por outro lado, se for possibilitado ao Requerido que continue com sua

atividade danosa enquanto perdurar o processo estar-se-á permitindo a continuação de

uma atividade comprovadamente irregular e danosa, em prejuízo da saúde e do bem-

estar de um número indeterminado de pessoas que vivem no entorno do

estabelecimento. Aí reside o periculum in mora.

Disso resulta a necessidade da concessão da medida liminar, inaudita

altera pars, sem necessidade de justificação prévia, determinando-se que o

estabelecimento BAR QUINZE ALTA LTDA, seja totalmente interditado com a

cassação do alvará, com base no Art. 11 da Lei 7.347/85, com a imposição de multa

diária a ser arbitrada por este juízo, pelo descumprimento do preceito; tendo em vista

que o Réu não possui documentação regularizada e principalmente porque produz

poluição sonora de forma indireta, posto que em razão da atividade noturna ora

desenvolvida, seus freqüentadores causam algazarras e perturbações do sossego ao se

deslocarem na entrada e saída do bar.

Requer-se ainda a Vossa Excelência, em concedendo a liminar, que

determine que ao Comando Geral da Polícia Militar do Paraná que fiscalize o

cumprimento da ordem, apontando ao juízo eventuais violações para a apuração de

multa diária e a requisição de força policial, se necessário.

6. DEMAIS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

I - a concessão da liminar nos moldes anteriormente delineados e sua

confirmação;

II - a citação do Réu, na pessoa do seu representante legal, com o

permissivo do artigo 172, parágrafo 2º, do CPC, para querendo, responder e

acompanhar os termos da presente, sob pena de serem considerados como verdadeiros

os fatos nesta alegados;

III – a condenação do Réu em obrigação de não fazer, sob pena de multa

diária em valor a ser arbitrado por Vossa Excelência e devidamente recolhido ao

Fundo Estadual do Meio Ambiente - FEMA - consistente em se abster de desenvolver a

atividade nos moldes atuais, na modalidade de música ao vivo e/ou mecânica, que

provoque a perturbação do sossego público e poluição sonora, no lote de Inscrição

Imobiliária 05.0.0008.0088.00-3 e Indicação Fiscal 34.102.055, principalmente no horário

destinado ao repouso noturno compreendido entre 22h e 7h, com a inclusão de tal

condicionante na Guia Amarela do respectivo lote, a fim de dar publicidade e evitar,

assim, futuros prejuízos tanto aos moradores do entorno, como a possíveis

empreendedores.

V - que todas as intimações do Ministério Público sejam feitas

pessoalmente, na pessoa do Promotor de Justiça em atividade na Promotoria de

Proteção ao Meio Ambiente, na Rua Marechal Deodoro, n. 1028, 10º andar, Centro,

Curitiba - Paraná, conforme dispõe o art. 236, §2º, do CPC;

VI - protesta-se ainda por todos os meios de prova em direito admitidas,

inclusive depoimento pessoal dos representantes legais do Réu, prova pericial,

documental e testemunhal;

VII - a procedência da ação em todos os seus termos, condenando-se o

Réu ao pagamento das despesas processuais e verbas honorárias de sucumbência, cujo

recolhimento deste último deve ser feito ao Fundo Especial do Ministério Público do

Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998 (DOE n.

5302, de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”, parte final,

da Constituição do Estado do Paraná.

VIII - a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, nos termos do artigo 18 da Lei n. 7.347/85.

Atribui-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)

Termos em que, pede deferimento.

Curitiba, 24 de abril de 2013.

Sérgio Luiz Cordoni Promotor de Justiça