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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUARAPUAVA – PARANÁ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, pela Promotora de Justiça que ao final assina, nas atribuições que lhe são conferidas em lei, vem, perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 129, inciso III e 225 da Constituição da República, na Lei n° 7.347/85, no Código de Defesa do Consumidor e na Lei nº 6.938/1981 propor: AÇÃO CIVIL PÚBLICA de INDENIZAÇÃO POR DANO AO MEIO AMBIENTE, com preceito cominatório de OBRIGAÇÃO DE FAZER e de NÃO FAZER cumulada com REPETIÇÃO DE INDÉBITO em desfavor da COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ - SANEPAR - Sociedade Anônima de Economia Mista inscrita no CGC/MF sob o n.º 76.484.013/0001-45, com sede na Rua Engenheiro Rebouças, n.º 1376, Curitiba-PR, na pessoa de seu Diretor-Presidente, consoante as seguintes razões e fundamentos de fato e de Direito a seguir expendidos:

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUARAPUAVA – PARANÁ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, pela

Promotora de Justiça que ao final assina, nas atribuições que lhe são

conferidas em lei, vem, perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos

129, inciso III e 225 da Constituição da República, na Lei n° 7.347/85, no

Código de Defesa do Consumidor e na Lei nº 6.938/1981 propor:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA de INDENIZAÇÃO POR DANO AO MEIO AMBIENTE, com preceito cominatório de OBRIGAÇÃO DE FAZER e de NÃO FAZER cumulada com REPETIÇÃO DE INDÉBITO em desfavor da

COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ - SANEPAR - Sociedade Anônima de Economia Mista inscrita no CGC/MF sob o n.º

76.484.013/0001-45, com sede na Rua Engenheiro Rebouças, n.º 1376,

Curitiba-PR, na pessoa de seu Diretor-Presidente, consoante as seguintes

razões e fundamentos de fato e de Direito a seguir expendidos:

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DOS FATOS

Em junho de 2009 foi instaurado o Inquérito Civil nº 01/2009

para apurar irregularidades relacionadas com a qualidade da água lançada

pelas Estações de Tratamento de Esgoto no rio Cascavelzinho e Arroio Carro

Quebrado, assim como a disposição final do lodo produzido pelas Estações

de Tratamento de Esgoto ETE Norte e ETE Sul II.

A empresa requerida já havia sido autuada em 2001, segundo

informa o Instituto Ambiental do Paraná através de cópias dos

Procedimentos Administrativos, uma vez que as ETEs operaram com a

Licença de Operação vencida.

O IAP e a Sanepar firmaram Termo de Compromisso buscando

melhorias no sistema de tratamento de efluentes. As licenças de operação

posteriormente emitidas ficaram condicionadas ao cumprimento dos TACs.

Em outubro de 2007 a Associação dos Moradores do Jardim das

América do Município de Guarapuava protocolam pedido de providências

quanto à poluição do rio Cascavelzinho.

A Prefeitura Municipal de Guarapuava manifesta-se em maio de

2008 asseverando que:

“A Administração do Município de Guarapuava, através da

Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Florestal, vem

recebendo sérias denúncias da população acerca de supostas

irregularidades existente no tratamento do esgoto doméstico

produzindo neste Município.

(...)

Os resultados obtidos por análise de amostras de água

encaminhadas ao Laboratório da Universidade Estadual do

Centro Oeste – UNICENTRO, apontam níveis de poluição

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superiores aos estabelecidos como normais pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA”. (destaque nosso)

Do laudo elaborado pelos técnicos da Secretaria Municipal de

Meio Ambiente e Desenvolvimento Florestal de Guarapuava infere-se:

“Ressaltamos também que nas Licenças Ambientais nº 10715

(ETE NORTE) e nº 8697 (ETE SUL II) as concentrações máximas

admissíveis quanto à DQO e DBO que são respectivamente

segundo Conama de 150 e 60 mg/l estão em 874,6 e 108,5 na

ETE Norte, portanto absurdamente fora dos parâmetros e na

ETE Sul II os parâmetros quanto a Coliformes Totais e

Termotolerantes que segundo Conama devem ser no máximo de

200 ml por 100 ml, estão segundo laudo da Unicentro em 2400 ml, valores absurdamente fora dos padrões para rios de classe 2.

(...)

Conforme ofício nº 268/2008 enviado pela Sanepar em resposta

ao ofício enviado pela Semaflor Municipal, quanto à deposição do

lodo produzido pelas ETEs em questão, podemos relatar que

segundo a empresa o ‘o lodo encontra-se armazenado no pátio da ETE Sul II (vila carli)’, sendo que isto pode em tese

estar ocasionando esta poluição nos arroios e rios adjacentes,

pois sem a devida retirada e controle deste lodo as ETEs não tem

a mesma capacidade de controle ambiental a que se destinam,

portanto a empresa já deveria ter construído novas estações para controle do lodo.” (grifo nosso)

A Procuradoria Geral de Guarapuava aponta1, em janeiro de

2009, uma série de irregularidades auferidas em desfavor da Sanepar:

“Muito embora a SANEPAR possua a concessão do serviço de

tratamento de água e esgoto, há fortes indícios que esta não está 1 Ofício nº 05/2009 – fls. 320 do Inquérito.

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fazendo o tratamento adequado do lodo de esgoto gerado na ETE

SUL II (Rodovia PR 170) e ETE NORTE (Rua Francisco Carneiro

Martins, Bairro Vila Carli), e com isso poderá vir a gerar um grave

problema ambiental, em razão da forma como esta sendo

depositado o lodo de esgoto.

Segundo informações da Secretaria de Meio Ambiente do Município de Guarapuava, a empresa SANEPAR, utiliza como depósito o terreno da PR 170, no qual é lançado diretamente no solo em vala comum. Todo o lodo gerado pelas Estações de Tratamento de Esgoto.É importante consignar, que a Companhia de Saneamento efetuou

um pedido junto a esta municipalidade de certidão de uso e

ocupação do solo, referente ao imóvel citado anteriormente, com a

finalidade de gerenciamento do lodo e utilização do lodo na

agricultura. No entanto, o que se destaca é que ela já estava utilizando o terreno como depósito do lodo de esgoto, mesmo antes de ser deferido o pedido de uso e ocupação para

posterior pedido de licença ambiental junto ao órgão competente.

(...)

Outro ponto que merece destaque, e foi constatado pela Secretaria

de Meio Ambiente deste município, é a forma como o lodo de

esgoto é transportado das ETEs, até o depósito do mesmo

localizado a margem da PR 170. Todo esse produto segue em caçambas utilizadas para o carregamento de entulhos, totalmente inadequadas para o transporte de produtos com riscos biológicos, consoante Resolução CONAMA nº 375 de 29/08/2006.Logo após o transporte o lodo é despejado diretamente no solo, a céu aberto e em local inapropriado, desprovidos de qualquer precaução com a contaminação do meio ambiente (...).”

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No Relatório de Processo Fiscalizatório2 elaborado pela Secretaria

Municipal de Meio Ambiente de Guarapuava constatou-se o relatado pelos

moradores da Vila Carli, que há depósito irregular de lodo de esgoto (a céu

aberto), e que a área não é impermeabilizada e situa-se a 5 metros do

córrego ali existente e cercada apenas por um arame farpado.

O Instituto Ambiental do Paraná prestou informações técnicas3

em março de 2009. Sobre a ETE Norte e a ETE Sul atestou o órgão que

ambas as Estações não vem operando dentro dos padrões estabelecidos na

Licença de Operação. Também confirmou que há disposição irregular de lodo

e que o tratamento do material não tinha licença ambiental.

Na 2ª Vara Cível da Comarca de Guarapuava tramita ação de

reparação de danos sob o nº 428/2007 proposta por um morador do Vale do

Jordão em Guarapuava, que teve o córrego que corta seu imóvel alargado

pela erosão e também poluído pela empresa requerida, causando a morte de

diversos animais de sua propriedade. Do laudo técnico elaborado para a

ação acima nominada, consta na certidão emitida pelo Poder Judiciário:

“Certifico também que o laudo técnico foi juntado aos autos na data de

15/08/2008, concluindo que os resíduos despejados no córrego extrapolam o

valor máximo permitido (...)”.

O IAP promoveu vistoria técnica nas ETEs Norte e ETE Sul II em

setembro de 2009. Verificou-se que em ambas o DQO está acima do

parâmetro legal assim como nitrogênio amoniacal, e na ETE Sul II, à

jusante, a DBO também está acima.

Por fim, os autos de Inquérito Civil Público nº 01/2009 foram

encaminhados ao Instituto de Criminalística para parecer ou vistoria.

Realizou-se reunião no Centro de Apoio às Promotorias de Proteção ao Meio

Ambiente e concluiu-se que os documentos constantes no Inquérito são

suficiente para a proposição da presente demanda, visto que há prova cabal

de poluição hídrica das Estações de Tratamento da Sanepar.

2 Relatório nº 001/2009.3 Ofício nº 253/2009.

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Pode-se verificar, portanto, que as ETEs referidas estão em

desconformidade com a legislação ambiental, bem como com os parâmetros

recomendados para o tratamento da água.

Além de todo o problema ambiental gerado com o lançamento de

esgoto com tratamento precário em um recurso hídrico, bem como o a

armazenagem do lodo, a companhia de saneamento cobra da população taxa

de tratamento de esgoto, que não está sendo devidamente tratado pelas

ETEs.

Assim sendo, a presente Ação Civil Pública além de objetivar a

paralisação do lançamento de efluentes sem o devido tratamento

diretamente nos rios analisados, também visa conscientizar a SANEPAR

acerca do problema. Não se pode perder de vista que, apesar da combativa

atuação da SANEPAR, direitos dos consumidores estão sendo violados, bem

como danos estão sendo causados ao meio ambiente.

Por conseguinte, os contribuintes cujo esgoto seja encaminhado

para as ETEs Norte e Sul II localizadas na região de Guarapuava devem ser

compensados, pois estão pagando por um serviço que não é prestado,

devendo ser ressarcidos em dobro pelo que pagam, como determina a

legislação adiante citada.

Diante de toda documentação apresentada e dos problemas

decorrentes da atividade poluidora promovida pela SANEPAR, a procedência

da presente ação é medida que se impõe.

DO DIREITO

I. Do Meio Ambiente como Direito e Dever Fundamental

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A Constituição Federal da República de 1988 tratou de cuidar

do tema Meio Ambiente dedicando um Capítulo próprio, devido sua

relevância. Para tanto, cumpre a análise do artigo 225 da Carta Magna.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

A partir do caput do referido dispositivo, o legislador constituinte

tratou de elevar o Meio Ambiente a um direito fundamental. Diz-se que é

direito fundamental, pois o meio ambiente ecologicamente equilibrado

relaciona-se diretamente com o direito à vida e à saúde, além do princípio

que é pilar da Constituição Federal, o da dignidade da pessoa humana.

Portanto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental

inerente a todos os cidadãos não só da região afetada, mas de qualquer

região do país, e deve ser defendido e assegurado a fim de prezar pela sadia

qualidade de vida e mais, pela dignidade da pessoa humana.

Com base no caput do dispositivo supra, o legislador buscou

ainda tratar a proteção ao Meio Ambiente como um Dever Fundamental, não

só da coletividade, mas também do Poder Público. Diante dessa

determinação, a Carta Magna ainda vai além, ditando em seu §1º do art. 225

as incumbências do Poder Público, conforme segue:

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:[...]V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

Em conformidade com o colacionado nos dispositivos acima,

tem-se o fundamento máximo para a presente Ação Civil Pública, bem como

ressaltar a função do Poder Público para a efetivação do direito fundamental

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ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é o que se pretende com a

medida em tela.

II. Da poluição hídrica

Atualmente, o conceito de poluição é extraído da Lei

6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

trazendo em seu art. 3º, inciso III o que segue:

Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por::[...]III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (grifo nosso)

No sentido deste dispositivo, Celso Antônio Pacheco Fiorillo4

leciona que:

As alterações são causadas por lançamento, descarga ou emissão de substâncias em qualquer estado químico, de forma a comprometer, direta ou indiretamente, as propriedades naturais da água.

Dessa forma, pode-se dizer então que a poluição da água:

[…] é a contaminação da água, em virtude do que se torna impura ou nociva ao uso. E essa poluição se mostra o efeito da coisa a ela traduzida, pela qual se alterou em sua pureza. A corrupção da água é o estrago dela, a sua inutilização por vários meios, inclusive pela contaminação.5

Da água disponível no planeta em torno de 97% encontram-se

no mar e somente 3% poderiam ser utilizados para consumo humano.

Destes 3% apenas uma pequena parcela está disponível em rios e lagos,

representando ínfimos 0,02% do total. Estes dados dão a dimensão do

premente controle da qualidade da água.

4 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 205.5 MUSETTI, Rodrigo Andreotti. Da proteção jurídico ambiental dos recursos hídricos. São Paulo: Editora de Direito, 2001. p. 57.

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Neste sentido a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei

9.433/1997) estabelece:

Art 1°. A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: I – a água é um bem de domínio público;II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;Artigo 2° São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:I – assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

A Lei 11.445/2007, por sua vez, estabelece diretrizes nacionais

para o saneamento básico:

Art. 2o Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com base nos seguintes princípios fundamentais: (...)III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente;IV - disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado; (...) XI - segurança, qualidade e regularidade;

Dentre os princípios fundamentais desrespeitados pela

SANEPAR está a inadequação da realização dos serviços com relação ao meio

ambiente e à saúde pública, tanto que a empresa foi autuada pelo órgão

ambiental competente.

Ademais, a Sanepar está desrespeitando bem público (água) e o

patrimônio privado. E a inércia no serviço, que causa tantos danos

ambientais, patrimoniais e à saúde pública, não deve ser definida como de

qualidade.

A proteção das águas é tema recorrente na jurisprudência:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AO MEIO AMBIENTE – ÁGUAS CONTAMINADAS – LANÇAMENTO DE POLUENTES INDUSTRIAIS SEM TRATAMENTO POR EMPRESA – COMPROVAÇÃO ATRAVÉS DE PERÍCIA – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – INDENIZAÇÃO DEVIDA – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO –

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INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DA Lei 6938/81. (Revista dos Tribunais – Vol. 693 – PG. 104)

Cabe então ser demonstrada a incongruência no presente caso,

pelo fato de ser poluidora a empresa responsável pela proteção e

disponibilização dos recursos hídricos, que deveria zelar pela qualidade da

água. Segundo o Estatuto Social da Sanepar:

Art. 1º - A Companhia de Saneamento do Paraná - Sanepar, constituída em 23 de janeiro de 1963, como sociedade por ações, companhia aberta, de economia mista, será regida por este Estatuto e pela legislação aplicável e destina-se a exploração de serviços públicos e de sistemas privados de abastecimento de água, de coleta, remoção e destinação final de efluentes e resíduos sólidos domésticos e industriais e seus subprodutos, de drenagem urbana, serviços relacionados à proteção do meio ambiente e aos recursos hídricos, outros serviços relativos à saúde da população, prestação de consultoria, assistência técnica e certificação nestas áreas de atuação e outros serviços de interesse para a Sanepar e para o Estado do Paraná, dentro ou fora de seus limites territoriais, podendo, para atingir tais fins, participar, majoritária ou minoritariamente, de consórcios ou sociedades com empresas privadas.

Ocorre, no entanto, que a empresa não se prontificou a

solucionar o problema; não há no caso em tela o cumprimento daquilo a que

se destina presente no estatuto social.

Pela análise dos laudos apresentados pela própria Sanepar fica

evidente a presença de esgoto do corpo receptor, o que compromete todas as

utilidades inerentes aos rios em que os efluentes são despejados.

III. Da poluição hídrica frente ao CDC

O Código de Defesa do Consumidor mostra-se um importante

instrumento para a efetividade e cumprimento dos direitos não apenas dos

consumidores em uma relação de consumo, mas também para tutelar os

chamados direitos difusos e coletivos.

No caso em tela, estão presentes duas situações que abrangem a

aplicação dessa legislação.

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A primeira situação é a de se tratar de uma relação de consumo.

A SANEPAR equipara-se ao prestador de serviço, conforme dita o CDC, de

forma que fornece a água para o consumo da população mediante o

pagamento pela proporcional de sua utilização, isso é evidente e indiscutível.

A segunda situação, por sua vez, aplica-se quando se trata de

direito difuso. O cerne da questão aqui suscitada é a preservação do meio

ambiente, e, conforme dita o art. 225 da Carta Magna, o direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado é um direito difuso, cabendo, portanto,

a sua tutela através do CDC.

Pois bem, partindo dessas questões passa-se a analisar os

dispositivos aplicáveis para a presente demanda.

O CDC em seu art. 6º traz os direitos básicos do consumidor:

Art 6°. São direitos básicos do consumidor: I – a proteção à vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;[...]VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;[...]X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

No caso em debate, a própria empresa SANEPAR admite que tais

ETEs não obedecem aos padrões estabelecidos pela legislação.

Ainda consoante o CDC, imprescindível discorrer sobre o art. 22:

Art 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumprí-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Portanto, a SANEPAR, como empresa responsável pelo

saneamento básico no estado do Paraná, deve, além de fornecer água

própria para o consumo, tratá-la de forma adequada após o seu consumo,

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uma vez que tal água será novamente lançada no corpo hídrico, no caso em

tela. Se esse tratamento não está sendo feito de forma adequada, ou

satisfatória, causando danos ao meio ambiente, pode-se dizer que o serviço

não está sendo executado de forma eficiente. A SANEPAR admitiu em seus

pareceres que as ETEs não tratam a água de forma adequada, nos ditames

da legislação ambiental pertinente.

IV. Da promoção de medidas sócio-educativas de cunho ambiental

Tem-se no presente caso a contrariedade à norma constitucional

disposta no art. 225.

No entanto, o dispositivo citado traz em seu § 1º incumbências

muito específicas para o Poder Público, cabendo-nos citar para o pleito

liminar o inciso VI:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:[…]VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

Assim, é previsão constitucional a promoção de medidas sócio-

educativas que visem à proteção do meio ambiente. A população é carente de

informações sobre como colaborar com a proteção do meio ambiente, e, no

caso concreto, da água.

Nesse sentido bem ensina Édis Milaré:

A regra, pois, é buscar-se, por todos os meios razoáveis, ir além da ressarcibilidade (indenização) em sequência ao dano, garantindo-se, ao contrário, a fruição do bem ambiental. Aquela, como já alertamos, não consegue recompor o dano ambiental. O valor econômico não tem o condão – sequer por aproximação ou ficção – de substituir a existência e fruição do meio ambiente ecologicamente equilibrado. O trabalho do legislador, por

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conseguinte, visa a garantir essa possibilidade de fruição e, só excepcionalmente, o ressarcimento monetário da lesão.6

Ademais, torna-se factível a aplicação conjunta do Código de

Defesa do Consumidor, mais especificamente de seu art. 9º, que assim

dispõe:

Art 9°. O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. (grifo nosso)

Este regramento demonstra o direito do consumidor à

informação sobre o produto que se está consumindo, mas não só isso. O

importante, no caso concreto, é a aplicação também da segunda parte do

dispositivo, que dita sobre a adoção de outras medidas. Como se sabe, a

SANEPAR fornece água para a população, que por sua vez a utiliza da

maneira que lhe couber. Nesse ciclo, o usuário deve ser orientado e

informado sobre a correta utilização e tratamento desta água. Orientação

esta que demanda conhecimentos técnicos que a população não possui.

A utilização da água de forma adequada por parte dos usuários

pode facilitar a função da Sanepar no que tange ao seu tratamento, podendo

então fornecer uma água de melhor qualidade para o cidadão, sem impactar

o meio ambiente como ocorre no caso em concreto.

A SANEPAR, como grande empresa dotada de um corpo

especializado, deve adotar medidas mitigadoras de degradação ambiental

além de suas técnicas aplicadas nas Estações de Tratamento de Esgoto. Um

trabalho com a população melhoraria sobremaneira o tratamento da água e,

consequentemente, o meio ambiente ecologicamente equilibrado que tanto se

almeja.

V. Da Responsabilidade Civil Objetiva em matéria ambiental6 MILARÉ, Édis (coord.). Ação Civil Pública: Lei 7.347/1985 – 15 anos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 147.

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Não devem ser aceitos quaisquer argumentos da Companhia de

Saneamento do Paraná que visam o afastamento de sua responsabilidade.

Desde 1934 o Código de Águas – Decreto 24.643/34 já imputava

a responsabilidade pelos danos aos recursos hídricos:

Art. 109. A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros.

Art. 110. Os trabalhos para a salubridade das águas serão executados à custa dos infratores, que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem e pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativos.

A responsabilidade civil objetiva em matéria ambiental foi

instituída pela Lei 6938/81, que preleciona:

Art. 14 – (…)

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

O doutrinador Yussef Said Cahali7 entende que a inclusão das

pessoas jurídicas de direito público na definição de poluidor do artigo acima

“para compelir o Poder Público a ser prudente e cuidadoso no vigiar, orientar e

ordenar a saúde ambiental nos casos em que haja prejuízo para as pessoas,

para a propriedade ou para os recursos naturais, o Poder Público deve

7 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado. 2. ed. ampli., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 405.

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responder como particular”. Assim, a Sanepar deve ser responsabilizada

pelos danos que vem causando.

A responsabilidade objetiva baseia-se na teoria do risco, em que

o agente assume os encargos pelos eventuais danos que causar. Desta

forma, “é irrelevante a demonstração do caso fortuito ou da força maior

como causas excludentes da responsabilidade civil por dano ecológico”8.

Neste sentido posicionou-se o Egrégio Tribunal de Justiça do

Paraná:

Note-se que, tratando-se de danos ambientais, não se aplica a teoria do risco administrativo, mas a do risco integral, onde, além de ser afastada a análise da culpa, são também afastadas as causas excludentes da responsabilidade civil, como o caso fortuito, força maior e do fato de terceiro, restando, tão somente, o dano e o nexo de causalidade para serem analisados; observado esses elementos no caso concreto, exsurge o dever de indenizar. (TJPR - 10ª C.Cível - AC 0529085-5 - Paranaguá - Rel.: Des. Arquelau Araujo Ribas - Unanime - J. 11.12.2008)

Fica evidente, desta forma, a obrigação de reparação do dano por

parte da Sanepar, com relação à qualidade da água, não havendo a

possibilidade de alegar qualquer excludente.

Dessume-se do artigo 196 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Nesse contexto, pode-se afirmar que "as normas constitucionais

assumiram a consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os

demais direitos fundamentais do homem, é que há de orientar todas as

formas de atuação no campo da tutela do meio ambiente".9

8 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 91.9 SILVA José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9° ed.. São Paulo, Malheiros, 1992, p.719.

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Desse modo, resta caracterizada a violação de um Princípio

Constitucional norteador e de fundamental importância no direito ambiental,

assim sendo, de grande relevância ressaltar os ensinamentos do Insigne

Jurista e Professor Celso Antônio Bandeira de Mello a respeito da violação de

princípios:

Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais.

Ademais, a Carta Constitucional de 1988 dispôs em seu artigo

225, §1º, inciso V, que para assegurar o direito a um meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, incumbe ao Poder Público:

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente”.

Nesse mesmo sentido é a Lei Federal nº 6938/81, que trata da

Política Nacional do Meio Ambiente:

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, a melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade humana, atendidos os seguintes princípios: (...)V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;(grifo nosso)

Entenda-se por degradação ambiental toda a alteração adversa

das características do meio ambiente (Art. 3º, inciso II da Lei 6.938/81).

Nesse contexto o lançamento de efluente com parâmetros

totalmente fora do disposto na legislação, como cabalmente demonstrado

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pelos documentos acostados, decorrente de falhas de planejamento da

Companhia de Saneamento do Estado.

Desse modo, diante de todos os fatos apurados, resta

caracterizada a poluição oriunda da degradação da qualidade ambiental

promovida pela inércia da Sanepar, uma vez que, consoante o disposto no

artigo 3º, incisos II e III da Política Nacional do Meio Ambiente, assim é

definido degradação e poluição:

Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:(...);

II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;

III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;”

Assim há o risco de se perpetuar a poluição dos corpos hídricos

exaustivamente analisados, uma vez que não estão sendo atendidas todas as

exigências legais. Todos os padrões técnicos estão fora dos limites

estabelecidos em lei.

A documentação acostada aos autos é clara no que tange ao

lançamento de efluentes sem o devido tratamento, contaminação os corpos

hídricos receptores, o que enseja na responsabilização da Companhia de

Saneamento do Paraná, visto que foi comprovada a emissão de efluentes fora

dos padrões estabelecidos em lei.

VI. Do tributo

A Constituição Federal estabelece em seu art. 145:

Art. 145. A União, Estados, o Distrito Federal e os Municípios

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poderão estabelecer os seguintes tributos:II - Taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos, específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição. (grifo nosso).

A taxa, portanto, é um tributo que tem como fato gerador o

exercício do poder de polícia ou a utilização efetiva ou potencial de serviços

públicos específicos e divisíveis prestados ao contribuinte. É o que dispõe o

artigo 77, do Código Tributário Nacional, in verbis que:

As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

Difere a taxa, do preço público ou tarifa, pelo fato de que a

primeira é decorrente de um serviço público necessário, posto à disposição

ou prestado especificamente ao contribuinte, derivado de uma atividade

tipicamente estatal, sendo compulsório o seu pagamento. O seu regime é de

direito tributário. O preço público ou a tarifa é a contrapartida de uma

prestação contratual voluntária, posto que, somente paga o preço público ou

a tarifa quem efetivamente utiliza-se de serviço público posto à sua

disposição. Ocorre, que esta utilização é facultativa; o serviço é posto à

disposição do indivíduo que o utiliza ou não; caso utilize, paga o preço; caso

não utilize, não paga nada e nem a isto está obrigado (CF/88, art. 5º, II).

O que distingue o preço público da taxa é a natureza do serviço

posto à disposição: se derivado de atividade tipicamente estatal, a

remuneração do serviço far-se-á através de taxa, pois de utilização

compulsória; se contudo, o serviço é público, mas não diz respeito às

atividades estatais propriamente ditas, então sua utilização é facultativa e a

remuneração é feita por preço público por quem efetivamente os utilize.

O uso efetivo ocorre quando o serviço público, mesmo que não

seja de fruição obrigatória, seja utilizado pelo contribuinte. Enquanto que o

uso potencial decorre da simples colocação à disposição do contribuinte, de

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um serviço cuja fruição seja de caráter compulsório, ou seja, cuja utilização

seja obrigatória. Para o já lembrado mestre Aliomar Baleeiro, no caso do

serviço público de potencial utilização:

o contribuinte pede o serviço, ou é obrigado a utilizá-lo, ou o tem a sua disposição" (ob. cit. p. 352). E arremata o tributarista:"O indivíduo racional quer e pede os serviços propícios à higiene, à saúde pública, à incolumidade pública, da família ou de terceiros etc. Mas se irracionalmente os recusa ou os negligencia, a lei pode obrigá-lo ao uso de tais serviços, até no interesse da coletividade. Certos serviços trazem vantagem pela sua existência mesma, na previsão de que possam ser indispensáveis numa emergência, como os de combate a incêndio, o de ambulâncias de pronto socorro etc. Se permanecerem de prontidão, noite e dia, representam vantagem efetiva para quem pode dispor deles numa vicissitude, que pende sobre a cabeça de todos. O custo seria esmagador se fosse cobrado de cada um que a eles tivesse que recorrer. Cobrado pelo uso potencial, assemelha-se a um seguro ou previdência contra o risco certo quanto à sua probabilidade e incerto quanto à pessoa que vá sofrê-lo. (ob. cit., p. 352). Como se vê, no caso da utilização potencial, a compulsoriedade do serviço decorre da Lei, decorre do interesse público, do interesse da coletividade, interesse este respaldado na própria Constituição. Quer significar que, em sendo obrigatória, por lei, a prestação ou a colocação do serviço à disposição do contribuinte (neste caso há o uso potencial), sua remuneração far-se-á por taxa, e não por tarifa (caso do serviço de saneamento).

A taxa deriva de atividade tipicamente estatal, colocada à

disposição do contribuinte e por ele efetivamente usufruída, ou de atividade

estatal cuja fruição seja de caráter compulsório (mesmo que não haja a

efetiva utilização se caso de uso potencial) e derive de lei.

Segundo lição inesquecível de Geraldo Ataliba ("Pedágio Federal",

in Revista de Direito Tributário, Ano 14, n° 53, 1990, RT, p. 90):

O que o Texto Magno quer significar - quando menciona "utilização potencial de serviço público" (ou a circunstância de ser "posto à disposição" do contribuinte) - é que a lei administrativa, por razões, constitucionalmente amparadas, de interesse público, pode tornar obrigatórios certos serviços públicos, como o de esgoto, de sepultamento, de vacinação, etc. Nesses casos, a eventual circunstância de o contribuinte não usar efetivamente o serviço não o eximirá de seu custeio. Mas tais hipóteses são excepcionais.Não significa que a lei tributária possa exigir arbitrariamente de quem não usa serviços públicos em geral, o pagamento de

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taxas. A regra, pois, é a utilização efetiva para exigibilidade de taxa.

Assim, a lei pode e deve obrigar os administrados a fruírem

dentre outros, dos serviços públicos de vacinação, de coleta de esgotos, de

coleta domiciliar de lixo, de fornecimento domiciliar de água potável. Por

quê? Porque, nestes casos, está em jogo a saúde pública, um dos valores que

a Constituição brasileira prestigiou.

Em contrapartida, a lei não pode obrigar os administrados a

fruírem dos serviços públicos de telefone, de gás, de conservação de estradas

de rodagem, etc. É que, embora estes serviços devam ser prestados pelo

Estado (daí serem públicos), não realizam valores constitucionalmente

consagrados. São serviços públicos de fruição facultativa. De fato, ninguém

pode ser compelido a ter telefone em sua residência, a servir-se do gás

canalizado que o poder público coloca à sua disposição, a viajar e assim por

diante.

Apenas a disponibilidade dos serviços públicos de utilização

compulsória autoriza o legislador da pessoa política competente a exigir a

taxa de serviço fruível. Exemplificando, a lei pode obrigar o administrado a

pagar taxa, pelo serviço posto à sua disposição, de coleta domiciliar de lixo,

ainda que ele não o utilize, por se encontrar viajando. A lei, todavia, não

pode compelir os administrados que forem proprietários de veículos

automotores a pagarem pedágio (taxa de serviço), exatamente porque a

Constituição não permite obrigá-los à "utilização de vias conservadas pelo

Poder Público". Só quem efetivamente utilizar a rodovia conservada pelo

Poder Público poderá ser obrigada a pagar o pedágio.

O que o Poder Público não pode é instituir a taxa tendo como

fato gerador a utilização potencial de algo que não seja de utilização

compulsória. Para Hely Lopes Meirelles (in Direito Municipal Brasileiro -

Malheiros Editores, 7ª ed., pp. 262/263):

Serviços compulsórios: são todos aqueles que o Poder Público, reconhecendo a sua essenciabilidade e necessidade em prol da

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segurança, da saúde e da higiene da comunidade, impõe o seu uso pelos administrados nas condições estabelecidas em lei. Tais serviços geralmente são gratuitos ou remunerados por taxas módicas, ao alcance de todos os usuários, mas nunca por tarifa.

Necessário, portanto, para a cobrança de preço público ou tarifa

que o serviço não seja de utilização compulsória, que não decorra de uma

atividade tipicamente estatal, que não decorra do jus imperii. Não será tarifa,

mas sempre taxa, se este serviço for essencial ou necessário em prol da

segurança, da saúde, da higiene ou incolumidade pública.

No caso vertente, o serviço de tratamento de água e esgoto é

atividade tipicamente estatal, pois concernente à higiene, à saúde pública e

à incolumidade própria, da família e de terceiros.

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença, sendo de relevância pública as ações e serviços de saúde" (CF., arts. 196 e 197).

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede

regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizada de

acordo com as diretrizes preconizadas no artigo 198 da Carta Magna. Ainda

de acordo com a Lei Maior, ao SUS compete: "participar da formulação da

política e da execução das ações de saneamento básico" (art. 200, IV).

A Lei Complementar Estadual n° 04/75 (Código Sanitário do

Estado), nos termos do artigo 24, inciso XII, da Constituição Federal, como

forma de proteção e defesa à saúde, estipula em seu artigo 8° a

obrigatoriedade da utilização do serviço de esgoto, onde haja rede, por todo e

qualquer prédio:

Todo prédio destinado a habitação ou para fins comerciais ou industriais, deverá ser ligado às redes de abastecimento de água e de remoção de dejetos, quando a exploração dos sistemas for estadual, municipal ou concedida.

O Decreto Estadual n° 3.641/77, que regulamenta o Código

Sanitário do Estado, reafirma, igualmente, a obrigatoriedade da utilização do

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serviço em seu artigo 7º, da seguinte forma:

Todos os prédios residenciais, comerciais, industriais ou instalações em logradouros públicos, localizados em áreas servidas por sistema de abastecimento de água e coleta de esgotos, serão obrigados a fazer as respectivas ligações aos sistemas, aterrando os poços ou fossas existentes.

Não resta dúvida, portanto, que a utilização do serviço de esgoto

é compulsória, e não facultativa.

Paga-se, deste modo, pela efetivação do serviço público de

saneamento básico, taxa, não tarifa ou preço público, embora, muitas vezes,

os dispositivos legais que regulamentem a matéria façam menção à cobrança

de tarifa ou preço público, por mero equívoco.

Diógenes Gasparini, em sua obra Direito Administrativo (Ed

.Saraiva, 1993, 3° ed. p. 233) ensina que:

Os serviços públicos são remunerados por taxa ou tarifa. São remunerados por taxa sempre que sua utilização pelo administrado for obrigatória, não importando, neste caso, se há, ou não, efetiva utilização. Basta, então, que sejam postos à sua disposição (art. 145, 11, da CF). Assim, os serviços de coleta de esgoto sanitário e os de distribuição de água domiciliar, ambos de fruição compulsória, se postos à disposição dos usuários, serão custeados por taxa, sejam ou não efetivamente utilizados. Por tarifa ou preço público são remunerados os serviços facultativos, ou seja, os oferecidos aos utentes para que estes os utilizem e quando os utilizem se e quando desejarem. Mediante tarifa são custeados os serviços de telefonia, os de distribuição de energia elétrica domiciliar e tantos mais. De sorte que não pode a entidade estatal, titular do serviço, escolher para correspondente remuneração a taxa ou tarifa. Aquela está adstrita aos serviços compulsórios; esta aos facultativos. (RF, 280: 137)

Em sendo taxa de esgoto - e não tarifa de esgoto - a natureza

jurídica da contraprestação feita pelo contribuinte à SANEPAR pelo serviço

de esgoto, por ser um tributo está adstrito aos mandamentos constitucionais

pertinentes à espécie. Assim, sua instituição e cobrança devem ser

autorizadas por lei, nos exatos termos do artigo 150, inciso I, da

Constituição Federal.

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A Lei Federal n° 6.528/78, que dispõe "sobre as tarifas dos

serviços públicos de saneamento básico e dá outras providências" é o

estatuto que disciplina a atuação da SANEPAR. Referido diploma legal está

regulamentado pelo Decreto n° 82.587/78. Os serviços públicos de

saneamento básico estão definidos no aludido decreto de uma maneira

cristalina e de fácil compreensão:

Art. 2º ... [...]§ 2º - Os serviços públicos de saneamento básico compreendem: a) os sistemas de abastecimento de água, definidos como o conjunto de obras, instalações, que tem por finalidade captar, aduzir, tratar e distribuir água;b) o sistema de esgoto, definidos como o conjunto de obras, instalações, equipamento, que tem por finalidade coletar, transportar e dar destino final adequado às águas residuárias ou servidas.

Como já se disse e resta assaz demonstrado, o serviço de esgoto

faz parte do serviço de saneamento básico, que é serviço público por

excelência. Assim sendo, paga-se a taxa pela efetiva ou potencial utilização

do serviço posto à disposição do contribuinte.

O serviço de esgoto, de acordo com a norma acima citada,

compreende a coleta, transporte e destino final adequado às águas

residuárias ou servidas.

As águas residuárias ou servidas simplesmente são despejadas,

desrespeitando padrões estabelecidos em lei, como se infere dos documentos

acostados aos autos. Por esta razão, D. Magistrado, devido a prestação do serviço de

maneira precária, pela não colocação deste serviço necessário à disposição

do contribuinte, não se pode cobrar a taxa de esgoto. Se o serviço não existe,

não se pode cobrar o tributo.

Este também é o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul, manifestado no julgamento de ação ajuizada contra a

Companhia Riograndense de Saneamento - CORSAN:

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CORSAN. COBRANÇA DE TAXA DE ESGOTO.Reconhecida a ausência de prestação do serviço de esgoto, procede o pedido de devolução da cobrança indevida. Sentença reformada em parte. (Rel. Des. Elyas Manssour, 2,5.89, in RJTJRGS 139/269).

A requerida sabia, portanto, de antemão, que tinha o dever de

investir alto, como, aliás, sempre tem procurado fazer. No entanto,

Excelência, o que tem feito não basta. O serviço de esgoto não existe por

completo e não é justo a SANEPAR receber por um serviço que, na prática,

não é executado. Afinal, o artigo 964, do Código Civil dispõe que:

TODO AQUELE QUE RECEBEU O QUE NÃO LHE ERA DEVIDO FICA OBRIGADO A RESTITUIR.

A mesma obrigação vale para a tributação indevida, nos termos

do artigo 165, inciso I, do Código Tributário Nacional:

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade de seu pagamento, ressalvando o disposto no § 4º, do Art. 162 ( aquisição de estampilha), nos seguintes casos:I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido.

Por oportuno, vale frisar, ainda, que os serviços públicos são

também objeto do Código do Consumidor, aplicando-se as regras deste

diploma legal aos referidos serviços, pois na lição de Diógenes Gasparini:

O art. 3º do Código do Consumidor (Lei Federal n.º 8078, de 11-9-1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor) estabelece que fornecedor é 'toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, distribuição, comercialização de produtos ou prestação de serviços'....Vê-se, assim, que a Administração Pública, em qualquer de suas manifestações (federal, estadual, distrital, municipal), sempre que em razão de seu comportamento, puder ser havida como fornecedor, subsume-se inteiramente às disposições do Código. Assim é, se o município, por exemplo for o prestador dos

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serviços dos transportes de passageiros ou o executor dos serviços de captação, tratamento e distribuição de água domiciliar ou explorador dos serviços funerários. Nesse particular a Administração Pública equipara-se ao fornecedor particular. (ob. cit, p. 238).

Frise-se que com o ajuizamento da presente Ação Civil e o

conhecimento de seus termos por parte da requerida SANEPAR, toda e

qualquer eventual cobrança efetuada a título de serviço de esgoto, quer a

título de taxa ou de tarifa, deverá ser restituída aos consumidores (cujo

esgoto é encaminhado para as ETEs em apreço) em dobro, pois decorrente

esta cobrança de propósito deliberado ou de culpa (imprudência ou

negligência) por parte da concessionária ré.

VII. Da indenização por dano moral

O dano moral coletivo, hoje perfeitamente aceito pela nossa

doutrina e jurisprudência, tem como principal aplicação os casos de danos a

bens de interesse difuso ou coletivo.

Em se tratando de direito ambiental e do resguardo à saúde

humana a repercussão dos danos se reflete no cível, no crime e

administrativamente. Trata-se de esferas independentes entre si, mas todas

importantes quanto aos objetivos que visam.

No cível a reparação pode ser não apenas dos danos materiais,

mas também morais, estes são compensáveis e aqueles indenizáveis.

Dizem-se indenizáveis aqueles danos em que a vítima pode ser

restituída ao estado anterior à ocorrência do dano. Já os compensáveis são

aqueles em que a vítima não tem como ser restituída ao estado em que se

encontrava antes, porém, lhe é entregue certa quantia em dinheiro ou coisa

como forma de amenizar o ocorrido.

Na aplicação do dano moral ambiental deve ser considerado e

interpretado de forma sistêmica o artigo 225 da Constituição Federal com o

ordenamento jurídico, pois ocorrendo lesão ao equilíbrio ecológico, este

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afetará a sadia qualidade de vida e à saúde da população. Rompido o

equilíbrio do ecossistema todos correm risco.

Nesta seara é o ensinamento do ilustre jurista Carlos Alberto

Bittar10:

A nosso ver, um dos exemplos mais importantes de dano moral coletivo é o dano ambiental, que consiste não apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, mas também na agressão à qualidade de vida e à saúde. É que esses valores estão intimamente inter-relacionados, de modo que a agressão ao ambiente afeta diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade (CF, art. 225).O dano ambiental é particularmente perverso porque rompe o equilíbrio do ecossistema, pondo em risco todos os elementos deste. Ora, o meio ambiente é caracterizado pela interdependência e pela interação dos vários seres que o formam (Lei Federal nº 6.938/81, art. 3º, I), de sorte que os resultados de cada ação contra a Natureza são agregados a todos os danos ecológicos já causados. O instrumento processual que se presta por excelência à defesa dos valores coletivos em geral, na hipótese de dano, é a ação civil pública, em virtude da regra aberta acolhida pelo artigo 1º, IV, da Lei 7.347/85. Aliás, com a modificação realizada pela Lei Federal 8.884/94, o artigo 1º, caput, da Lei 7.347/85 passou a prever, expressis verbis, a possibilidade de propositura de ações de responsabilidade por danos morais de ordem coletiva. A responsabilidade pela produção do dano ambiental é objetiva – ou seja, independe da prova de culpa – por duas razões fundamentais: a) esse dano tem um caráter moral, decorrendo da própria ação lesiva ao ecossistema; b) no Direito Ambiental, há o princípio do poluidor-pagador, consagrado em nosso ordenamento jurídico (Lei Federal nº 6.938/81, art. 14, § 3º), pelo qual é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

Carlo Castronovo11 preleciona:

“Um dos mais importantes e significativos exemplos de dano moral coletivo é o dano ambiental, pois o 'ambiente', como 'paisagem', como 'habitat', como 'belezas naturais', é categoria relacional que exprime a mútua colocação de uma série de elementos que, em seu conjunto, constituem um valor que transcende a sua mera soma, valor esse que não pode ser traduzido mediante parâmetros econômicos. O dano ambiental não consiste apenas na lesão ao equilíbrio ecológico,

10 Procurador do Estado de São Paulo - Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo. Artigo extraído do site http://www.sitiopaineiravelha.com/2002/fev.

11 CASTRONOVO, Carlo. La Nuova Responsabilità Civile - Regola e Metafora, Milão, Giuffrè, 1991.

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prejudicando também outros valores fundamentais da coletividade a ele vinculados: a qualidade de vida e a saúde. É que esses valores estão profundamente unidos, de maneira que a agressão ao ambiente atinge diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade”.

A jurisprudência por reiteradas vezes tem aceitado e concedido a

compensação por danos morais em matéria ambiental.

É o teor dos artigos da Lei 7347/85 - Lei de Ação Civil Pública:

Art. 3º. A ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

Em comentários ao referido artigo dizem Nelson Nery Júnior e

Rosa Maria de Andrade Nery12:1. Condenação em dinheiro. A aferição do quantum indenizatório nas ações coletivas com a finalidade de reparação do dano difuso ou coletivo é questão de difícil solução. Poderão ser utilizados os critérios de arbitramento ou de fixação da indenização com base no valor do lucro obtido pelo causador do dano com sua atividade. É possível a cumulação da indenização por danos patrimoniais e morais (STJ 37; CDC 6º VI).

Os nossos Tribunais têm se manifestado neste sentido:

POLUIÇÃO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA FORMULADA PELO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. POLUIÇÃO CONSISTENTE EM SUPRESSÃO DA VEGETAÇÃO DO IMÓVEL SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO MUNICIPAL. CORTES DE ÁRVORES E INÍCIO DE CONSTRUÇÃO NÃO LICENCIADA, ENSEJANDO MULTAS E INTERDIÇÃO DO LOCAL. DANO À COLETIVIDADE COM A DESTRUIÇÃO DO ECOSSISTEMA, TRAZENDO CONSEQÜÊNCIAS NOCIVAS AO MEIO AMBIENTE, COM INFRINGÊNCIA, ÀS LEIS AMBIENTAIS, LEI FEDERAL 4.771/65, DECRETO FEDERAL 750/93, ARTIGO 2º, DECRETO FEDERAL 99.274/90, ARTIGO 34 E INCISO XI, E A LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, ARTIGO 477. CONDENAÇÃO A REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS CONSISTENTES NO PLANTIO DE 2.800 ÁRVORES, E AO DESFAZIMENTO DAS OBRAS. REFORMA DA SENTENÇA PARA INCLUSÃO DO DANO MORAL PERPETRADO A COLETIVIDADE. QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL AMBIENTAL RAZOÁVEL E PROPORCIONAL AO PREJUÍZO COLETIVO. A IMPOSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO DO AMBIENTE AO ESTADO ANTERIOR

12 NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação civil extravagante em vigor. 5ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2001, p. 1529.

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JUSTIFICAM A CONDENAÇÃO EM DANO MORAL PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PREJUDICIAL A COLETIVIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO. (TJRJ - 2.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2001.001.14586 - Rel.: Desa. Maria Raimunda T. de Azevedo - J. 07/08/2002)

E mais:

DANO AO MEIO AMBIENTE. DERRAMAMENTO DE ÓLEO NA BAÍA DE GUANABARA. RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. DANO EMERGENTE. LUCRO CESSANTE. DANO MORAL DE PESSOA JURÍDICA. POLUIÇÃO NAS PRAIAS. PREJUÍZO DO COMÉRCIO LOCAL. DESVALORIZAÇÃO DO PONTO COMERCIAL. 1. Comprovado o dano ao meio ambiente, decorrente do vazamento de óleo na baía de Guanabara, proveniente das instalações da empresa, cabe o pedido de reparação dos prejuízos individualmente causados. 2. É da PETROBRÁS o dever de cuidar para que não ocorra qualquer dano ao meio ambiente. 3. Dano é o gênero, do qual são espécies o dano material e o dano moral. 4. N dano material, por seu turno, se subdivide em danos emergentes e lucros cessantes. 5. Dano emergente é o que importa em efetiva diminuição no patrimônio da vítima, em razão do ato ilícito. 6. Lucro cessante é o reflexo futuro no patrimônio da vítima. 7. A honra subjetiva é exclusiva do ser humano e se caracteriza pelo decoro e auto-estima. 8. A honra objetiva é comum à pessoa natural e à pessoa jurídica e se reflete na reputação, no bom nome e na imagem perante a sociedade. 9. Desprovimento dos recursos. (TJRJ - 8.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2002.001.09351 - Rel.: Desa. Letícia Sardas - J. 17/12/2002)

A empresa requerida de maneira reiterada vem desrespeitando

as leis ambientais e do consumidor, conforme atesta a instrução do

presente. Há lançamento irregular de efluentes em corpo hídrico em

desconformidade com as normas pré-estabelecidas, sendo sua condenação a

indenização por danos morais, a ser arbitrada por este Douto Juízo, medida

que se impõe.

VIII. Da inversão do ônus da prova

A inversão do ônus da prova é perfeitamente cabível no caso em

discussão. O artigo 21 da Lei 7.347/85 determina que se aplica à defesa dos

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direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que tenha cabimento,

os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor.

O artigo 6º, inciso VIII, da Lei 8.078/90 é expresso ao admitir a

inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de Defesa do

Consumidor, na medida em que hipossuficiente o autor, segundo as regras

comuns da experiência como bem esclarece o texto legal, in verbis:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:(...)VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência;

Tal dispositivo, certamente, tem aplicação também ao âmbito de

proteção ao meio ambiente, pois o Ministério Público ao ajuizamento de

ações civis públicas está em franca desvantagem perante os demandados.

Assim, cabe a empresa requerida demonstrar que estavam com

suas atividades inteiramente regulares perante os órgãos competentes,

dentre outras, atendem as determinações legais.

Aliás, no sentido de pagamento de honorários periciais pelos

demandados já se manifestou a jurisprudência:

7.3.2. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A ATRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DA PERÍCIA PELO DEMANDADO. Admissibilidade nas demandas que envolvam a proteção ao meio ambiente. Ministério Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas que estão em franca desvantagem perante os demandados.Ementa: Tratando-se de demanda que envolva a proteção ao meio ambiente, é cabível a inversão do ônus da prova e a atribuição dos custos da perícia, pois o Ministério Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas estão em franca desvantagem perante os demandados. Edcl 70002338473 - 4ª Cam. Civ. - TJRS - j. 04.04.2001 - rel. Des Wellington Pacheco Barros.

Conclui-se, portanto, pelo cabimento da inversão do ônus da prova.

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DO PEDIDO LIMINAR

Considerando presente e demonstrado o binômio do fumus boni

juris e do periculum in mora, bem como o disposto no artigo 12 da Lei de

Ação Civil Pública (7.347/85) acredita-se na possibilidade fática e jurídica da

concessão de medida liminar, com ou sem justificação prévia.

I - Da taxa/tarifa de esgoto

Em sede de liminar requer-se, pois, que se digne Vossa

Excelência em conceder a medida, sem justificação prévia, determinando-se

que a SANEPAR se abstenha de cobrar a Taxa/Tarifa de esgoto, enquanto

não forem tratados devidamente os efluentes das ETEs Norte e Sul II

situadas na região de Guarapuava, permitindo-lhe somente a cobrança da

taxa/tarifa pelo fornecimento de água.

O perigo da demora na concessão da medida resulta do fato de

que os consumidores/contribuintes continuam e continuarão a serem

lesados pela ilegal e injusta cobrança do serviço de esgoto por parte da

requerida, quiçá de forma irremediável.

Como se vê, a não concessão da liminar poderia provocar um

maior gravame aos consumidores/contribuintes de vez que o valor das

importâncias pagas a título de contraprestação pelos serviços de esgoto

dificilmente será totalmente reembolsada pela entidade pública, até mesmo

porque, neste caso, eventual execução do indébito deverá ser promovida

individualmente e de forma bastante custosa, já que o Ministério Público

somente tem legitimidade para a ação de conhecimento, cabendo a cada um

dos beneficiados por esta ação executar a sentença, no que lhe for favorável,

posteriormente.

Por outro lado, prejuízo algum redundará à requerida se,

deferida a liminar, vier a ser julgada improcedente a ação. Neste caso,

bastará que o ente público efetue a cobrança dos valores constantes nas

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faturas de água/esgoto, cuja cobrança tenha sido obstada pela medida

liminar postulada.

A concessão da cautela pleiteada em nada afetará o julgamento

final da lide e tampouco caracterizará a antecipação da própria decisão de

mérito.

É preciso ter-se em mente que estamos em sede de proteção de

interesses difusos e coletivos, não inter-subjetivos. Assim sendo, o que

interessa é evitar o dano, até porque, como já se viu, este é insuscetível,

pelas características da lide, de reparação pecuniária a curto prazo e quiçá a

longo, nem de reparação integral ou completa a todos.

Necessária, portanto, diante da aparência do bom direito e do

perigo da demora no julgamento da causa, que seja determinada a suspensão liminar da cobrança do serviço de esgoto pela SANEPAR, determinando-se que doravante, somente seja cobrado dos consumidores/contribuintes (cujo esgoto é encaminhado para as ETEs em apreço) a taxa/tarifa de água, excluindo-se qualquer cobrança a título de esgoto.

II – Da poluição hídrica

No caso em tela, trata-se de providência pública incumbida de

zelar pelo bem-estar social e pelas condições ambientais.

O perigo da demora na concessão também da presente medida

resulta do fato de que ocorreram, ocorrem e ocorrerão danos ao meio

ambiente, cuja reparação muitas vezes é difícil, demorada e quiçá

impossível.

Com o objetivo de fazer cessar a agressão aos recursos hídricos

sob análise - que afeta diretamente qualidade dos recursos ambientais da

comunidade - deve-se demonstrar a presença de dois requisitos essenciais: o

fumus boni iuris e o periculum in mora.

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O fumus boni iuris pode ser definido como a verossimilhança dos

fatos alegados com o direito invocado ou a probabilidade de veracidade dos

elementos apresentados.

Com base nos documentos acostados aos autos e laudos

encaminhados pela própria Companhia de Saneamento, fica evidenciado o

dano ao meio ambiente por parte da Sanepar. Há também a plena

subsunção do fato à norma, no tocante à responsabilidade objetiva de

reparação dos prejuízos causados.

Quanto ao periculum in mora é notória a urgência de se ter uma

solução, ainda que provisória, para o caso apresentado. Não é possível que

se mantenha o lançamento de esgoto in natura, com os padrões de DBO,

DQO, nitrogênio, etc, extrapolados até que a empresa saia da inércia.

Assim, REQUER-SE a concessão da medida liminar consistente

na descontaminação da água por parte da empresa poluidora (Sanepar).

Deve, portanto, a Sanepar ser impelida de promover a reestruturação da ETE Norte e ETE SUL II. Necessária, portanto, diante da aparência do bom direito e do

perigo da demora no julgamento da causa, que seja determinada à SANEPAR

a OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente em ajustar IMEDIATAMENTE, a

partir da citação/intimação, o tratamento de efluentes na ETE Norte e ETE

Sul II, ambas na região de Guarapuava, sob pena do pagamento de uma

multa diária a ser arbitrado por Vossa Excelência.

Aliás, sobre o tema, importante colacionar decisão liminar

recente proferida pelo D. Juíza de Direito da Vara Cível da Comarca de

Colombo em ação civil pública (autos nº 0006427-59.2010.8.16.0028), em

29 de julho de 2010, similar à presente:

[...] os consumidores estão sendo lesados mensalmente com a cobrança em questão, sendo certa a necessidade de suspensão imediata desta, sob pena de difícil repetição de indébito futuramente.Portanto, DETERMINO que a requerida suspensa imediatamente a cobrança da taxa referente ao esgoto

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em relação às unidades consumidoras do Jardim Palmas.No que diz respeito ao pedido liminar para que a Sanepar promova a reestruturação da rede coletora de esgoto o mesmo também merece deferimento, isto porque não é possível admitir que a requerida continue jogando esgoto sem tratamento no Rio Palmital, contrariando as leis de proteção ambiental. Por outro lado, há fortes indícios referentes a veraciadade dos fatos alegados pelo Ministério Público, ante a documentação juntada com a inicial.

Diante disso, fica clara a necessidade e possibilidade da

concessão da presente medida liminar.

III – Das medidas sócio-educativas para a população

Diante dos entendimentos acima expostos e do direito e dever

fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pede-se

liminarmente a promoção, por parte da SANEPAR, de medidas sócio-

educativas para a população do Estado do Paraná, com a finalidade de

informar e educar os usuários sobre a correta utilização, economia e

preservação da água. Tais medidas devem dar-se através de:

a) Propagandas em rádio, TV e jornais quinzenalmente;

b) Cartilhas a serem enviadas junto à conta da água;

c) Educação ambiental junto às escolas da rede pública e

particular semestralmente;

d) Visitas às comunidades de menor infra-estrutura, a fim de

orientá-los sobre o despejo de esgoto e lixo nos corpos hídricos, e informá-los

corretamente em relação aos processos de saneamento e sua utilização -

mensalmente;

Para a concessão da liminar, presente está o periculum in mora.

O perigo da demora na concessão deste pedido pode ocasionar maiores

danos ao meio ambiente, que, por sua vez, são na maioria das vezes

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irreversíveis. Com a concessão deste pleito liminar, estar-se-ia ainda

respeitando o princípio ambiental da Precaução. Se tomadas as medidas de

educação e precaução, vários danos ao meio ambiente podem ser evitados,

ou ao menos minimizados, haja vista que a água é um bem essencial, e

seu uso é contínuo pela população.

O fumus boni iuris, por sua vez, configura-se com a previsão

legal para a tutela em conjunto com a verossimilhança dos fatos aqui

alegados e comprovados.

Assim, ante a relevância do meio ambiente ecologicamente

equilibrado para todos os cidadãos, entende-se plenamente cabível a

concessão do pleito liminar, em consonância com o art. 84, §3º do CDC, aqui

também aplicável.

Desta forma, REQUER-SE a concessão da medida liminar a fim

de determinar, desde já, que a SANEPAR promova programas e medidas sócio-educativas junto à população/usuários para a proteção e

conservação do meio ambiente, respeitando, inclusive, o princípio do

Desenvolvimento Sustentável.

DOS DEMAIS PEDIDOS:

Diante de todo o exposto e com base na legislação colacionada,

requer-se de Vossa Excelência:

I - a isenção de custas e emolumentos nos termos do artigo 18

da Lei 7.347/85;

II - a confirmação dos pedidos liminares anteriormente expostos;

III - a procedência da ação em todos os seus termos,

condenando-se a requerida ao pagamento das despesas processuais e verba

honorária de sucumbência, cujo recolhimento deste último deve ser feito ao

Fundo Especial do Ministério Público do Estado do Paraná, criado pela Lei

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Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998 (DOE n. 5302, de 29 de julho de

1.998), nos termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”, parte final da

Constituição do Estado do Paraná;

IV - a condenação da Sanepar na obrigação fazer, consistente na

descontaminação dos corpos hídricos receptores do efluentes lançados;

V - a condenação da Sanepar na obrigação fazer, consistente na

adequação das ETEs: Norte e Sul II, no Município de Guarapuava;

VI - a cominação de multa diária, consoante o disposto no artigo

11 da Lei 7.347/85, em caso de descumprimento por parte da Sanepar das

adequações necessárias;

VII - a citação da Requerida Sanepar, nos termos do artigo 221,

inciso II do Código de Processo Civil Brasileiro, para responder aos termos

da presente ação, com as advertências da revelia, devendo o pedido ser

julgado procedente, condenando os réus ao ônus de sucumbência,

honorários periciais e demais cominações legais;

VIII - a notificação da SANEPAR, no caso de indeferimento da

liminar de suspensão da cobrança da taxa/tarifa de esgoto, a fazer a juntada

de demonstrativo mensal dos valores arrecadados com a cobrança do serviço

de esgoto a partir da propositura da presente demanda;

IX - para prevenir futura alegação de nulidade, requer-se que

seja publicado edital no órgão oficial, nos termos do artigo 94 do Código de

Defesa do Consumidor, dando conta do ajuizamento da presente medida, a

fim de que os eventuais interessados possam intervir como litisconsortes;

X - a notificação do Município de Guarapuava, na pessoa de seu

representante legal, para, no prazo legal, que se manifeste sobre habilitação

nos autos, nos termos do artigo 5º, § 2º, da Lei 7.347/85, combinado com o

artigo 94, do Código de Defesa do Consumidor e, por aplicação analógica dos

artigos 50 e seguintes do Código de Processo Civil, sob pena de preclusão ou

revelia;

XI - condenar-se a SANEPAR na OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER,

consistente na cessação de toda e qualquer cobrança pelo serviço de esgoto,

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seja a título de taxa ou a título de tarifa, dos consumidores cujos efluentes

domésticos sejam encaminhados às ETEs Norte e Sul II, até que as

condicionantes legais sejam cumpridas, e assim passe a se dar o destino

final adequado às águas lançadas, prestando-se, efetivamente o serviço de

esgoto;

XII - condenar-se a SANEPAR à devolução, a cada um dos

consumidores/contribuintes (cujo esgoto doméstico seja destinado às ETEs

Norte e Sul II, em dobro dos valores percebidos a título de remuneração

pelos serviços de tratamento esgoto, a contar da propositura da presente

medida;

XIII - requer-se, ainda, a condenação da SANEPAR na

OBRIGAÇÃO DE FAZER consistente em ajustar, num prazo máximo fixado

por este D. Juízo, os emissários de efluentes nos corpos hídricos receptores,

adaptando-os à legislação ambiental vigente, sob pena de pagamento de uma

multa diária a ser fixada por este D. Juízo;

XIV - a condenação da requerida ao pagamento de indenização

pelos danos causados ao meio ambiente apurados no transcorrer dos autos,

a ser revertida em favor do fundo previsto no artigo 13 da Lei n.º 7.347/85;

XV - a condenação da empresa requerida ao pagamento de

indenização pelo dano moral ambiental, a ser liquidada em processo de

execução, valor destinado ao Fundo Estadual do Meio Ambiente, instituído

pela Lei Estadual nº 12.945, de 05 de setembro de 2000;

XVI – a condenação da empresa requerida na OBRIGAÇÃO DE

FAZER consistente na promoção de programas e medidas sócio-educativas

junto à população/usuários para a proteção e conservação do meio

ambiente, em específico da água, nos termos do art. 225, § 1º, inciso VI,

conforme detalhado no item relacionado;

XVII - a produção de todo gênero de prova em direito admitido,

mormente a documental, pericial e testemunhal;

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Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), para fins

fiscais.

Nesses Termos,

Pede Deferimento.

Guarapuava, 25 de outubro de 2010.

MARCIA FRANCINE BROIETTIPromotora de Justiça

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