excelentÍssimo senhor desembargador ... conforme se passa a expor em detalhes. cumpre elucidar que...

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Procuradoria-Geral de Justiça Página 1 de 29 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO vem, com espeque no artigo 29, inciso I, da Lei 8.625/93; artigo 30, inciso XVI, da Lei Complementar Estadual 95/97 - Lei Orgânica do Ministério Público; artigo 112, inciso III, da Constituição do Estado do Espírito Santo; e artigo 168 e seguintes do Regimento Interno do Tribunal de Justiça - RITJES, propor a presente AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em face do Anexo I e do Anexo VII da Lei Complementar nº 02/2013 do Município de Apiacá, quanto ao cargo de Procurador Jurídico Especial e a ausência de atribuições dos cargos de provimento em comissão e quanto à vinculação de remuneração, respectivamente; art. 4º, III, “b”, e do Anexo I da Lei Complementar nº 01/2011 do Município de Apiacá, em relação ao cargo de Assessor Jurídico – Defensor Público Municipal, pelos fatos e fundamentos abaixo aduzidos.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Procuradoria-Geral de Justiça

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

vem, com espeque no artigo 29, inciso I, da Lei 8.625/93; artigo 30,

inciso XVI, da Lei Complementar Estadual 95/97 - Lei Orgânica do

Ministério Público; artigo 112, inciso III, da Constituição do Estado do

Espírito Santo; e artigo 168 e seguintes do Regimento Interno do Tribunal

de Justiça - RITJES, propor a presente

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

em face do Anexo I e do Anexo VII da Lei Complementar nº 02/2013

do Município de Apiacá, quanto ao cargo de Procurador Jurídico

Especial e a ausência de atribuições dos cargos de provimento em

comissão e quanto à vinculação de remuneração, respectivamente;

art. 4º, III, “b”, e do Anexo I da Lei Complementar nº 01/2011 do

Município de Apiacá, em relação ao cargo de Assessor Jurídico –

Defensor Público Municipal, pelos fatos e fundamentos abaixo

aduzidos.

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I – DOS DISPOSITIVOS IMPUGNADOS

O Anexo I da Lei Complementar nº 02/2013 do Município de Apiacá

prevê o cargo de Procurador Jurídico Especial, ao qual é atribuída a

representação judicial e extrajudicial do Município, como cargo de

provimento em comissão, o que, consoante será demonstrado, viola o

princípio do concurso público.

Já o Anexo VII da mesma lei disciplina a vinculação de espécies

remuneratórias, o que ofende o disposto no artigo 32, XIV, da

Constituição do Estado do Espírito Santo.

De outro turno, não há na lei suscitada qualquer disposição acerca

das atribuições dos cargos de provimento em comissão, em flagrante

violação ao princípio do concurso público, assim como aos princípios

que norteiam a Administração Pública.

Importa registrar, ainda, que a Lei Complementar nº 01/2011 fez

previsão do cargo de provimento em comissão de Assessor Jurídico –

Defensor Público Municipal, o que excede a competência legislativa

municipal, bem como viola os princípios da Constituição da República.

Veja-se o teor dos dispositivos guerreados:

Lei Complementar nº 01/2011

Art. 4º A estrutura organizacional da Procuradoria Geral

do Município é composta das seguintes unidades:

(...)

III – Assessores Jurídicos

b) 02 (dois) para a Defensoria Pública Municipal.

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Anexo I

TABELA DE VENCIMENTOS

Cargo Assessoria Vencimento R$ Nº Vagas

Assessor Jurídico –

Defensor Público

Municipal

1.500 02

Lei Complementar 02/2013

Anexo I

Quadro dos Cargos de Provimento em Comissão

Grupo de Direção Superior, Assessoramento e Chefia

GDS – GAS – GCH

Denominação

dos Cargos

Código

de

Cargos

Nº de

Cargos

Símbolo de

vencimento

Modalidade

de

Recrutamento

02 – Grupo de Assessoramento Especial Nível I – GASE I

Procurador

Jurídico

Especial

GASE I

04

1 CC - 01 Amplo

Anexo VII

ADMINISTRAÇÃO DIRETA MUNICIPAL

Tabela de Vencimentos

Cargos de Provimento em Comissão

Símbolo de Vencimentos Vencimento

CCSUB - 01 *

CC II - 01

**

CC - 01 ***

** O valor dos vencimentos mensais do Grupo de

Assessoramento Especial Nível II (CC II-01) será igual a 90%

daquele previsto no artigo 1º da Lei 847/2012.

*** O valor dos vencimentos mensais do Grupo de

Assessoramento Especial Nível I (CC-01) será igual a 90%

daquele previsto no artigo 2º da Lei 847/2012.

Como será demonstrado em detalhes adiante, trata-se de dispositivo e

Anexos maculados por vícios de inconstitucionalidade formal e

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material, razão pela qual devem ter sua inconstitucionalidade

declarada, retirando-a do ordenamento jurídico vigente.

II – DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL – DO CARGO DE

PROCURADOR JURÍDICO ESPECIAL – VIOLAÇÃO, POR SIMETRIA, DO

ARTIGO 122, §2º, DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DE 1989

Analisando-se o Anexo I da Lei Complementar nº 02/2013 do Município

de Apiacá, em relação ao cargo de Procurador Jurídico Especial,

previsto dentro dos Cargos de Provimento em Comissão, no Grupo de

Assessoramento Especial Nível I, vislumbra-se vício de

inconstitucionalidade, conforme se passa a expor em detalhes.

Cumpre elucidar que a organização do órgão de representação do

Poder Executivo Estadual é regulada pelo artigo 122 da Constituição

do Estado do Espírito Santo, o qual consagra o princípio do concurso

público para o ingresso nessa carreira, senão vejamos:

Art. 122. A Procuradoria-Geral é o órgão que representa

o Estado, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe,

ainda, nos termos da lei complementar, as atividades

de consultoria e assessoramento jurídico do Poder

Executivo Estadual.

§ 1° A Procuradoria-Geral tem por chefe o Procurador-

Geral do Estado, de livre nomeação pelo Governador

dentre advogados maiores de trinta e cinco anos, de

notável saber jurídico e reputação ilibada.

§ 2° O ingresso nas classes iniciais da carreira de

Procurador far-se-á mediante concurso público de

provas e títulos.

Em texto idêntico, também dispõe a Constituição da República:

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Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição

que, diretamente ou através de órgão vinculado,

representa a União, judicial e extrajudicialmente,

cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que

dispuser sobre sua organização e funcionamento, as

atividades de consultoria e assessoramento jurídico do

Poder Executivo.

§ 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o

Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo

Presidente da República dentre cidadãos maiores de

trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e

reputação ilibada.

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito

Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso

dependerá de concurso público de provas e títulos,

com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil

em todas as suas fases, exercerão a representação

judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades

federadas.

Diante dos dispositivos, é possível constatar que a regra constitucional

determina que o ingresso na carreira da advocacia pública se dê

mediante concurso público de provas e títulos e que apenas os cargos

de Advogado Geral da União e Procurador Geral do Estado – cargos

de chefia de ambas as instituições – serão providos por cargos em

comissão, de livre nomeação e exoneração.

Salienta-se ainda que, embora as Constituições da República e

Estadual tenham se omitido no que diz respeito à advocacia pública

municipal, deve-se aplicar aos Municípios a mesma regra estabelecida

para a União e os Estados, em razão do princípio da simetria.

Nesse viés, a observância ao princípio da simetria para os Municípios

tem previsão no artigo 20 da Constituição Estadual (norma de

repetição obrigatória) e no artigo 29 da Constituição da República,

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segundo os quais esses entes federados regem-se por lei orgânica,

desde que respeitados os princípios estabelecidos

constitucionalmente:

Art. 20 da CE/89: O Município rege-se por sua lei

orgânica e leis que adotar, observados os princípios da

Constituição Federal e os desta Constituição.

Art. 29 da CF/88: O Município reger-se-á por lei orgânica,

votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez

dias, e aprovada por dois terços dos membros da

Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os

princípios estabelecidos nesta Constituição, na

Constituição do respectivo Estado e os seguintes

preceitos:

Portanto, deve-se ter em mente que a autonomia administrativa e

política dos municípios não autoriza a elaboração de Leis Orgânicas e

Leis Municipais em completo descompasso com a Constituição da

República e com a Constituição Estadual.

Em outros termos, o Município não pode, em total contrassenso ao

determinado pelas Constituições da República e Estadual, criar sua

advocacia pública com servidores comissionados (ressalvado o cargo

de Procurador-Geral), pois estaria adotando um modelo assimétrico

ao constitucionalmente desenhado.

Logo, através da aplicação do princípio da simetria, amplamente

reconhecido na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, e da

interpretação sistemática da Constituição, tem-se que o ingresso na

carreira da advocacia pública ocorre por meio de concurso público

de provas e títulos, o que deve ser reprisado nas leis municipais.

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No caso em análise, contudo, o Município de Apiacá laborou em

flagrante inconstitucionalidade no que diz respeito à organização da

Procuradoria do Município, uma vez que incumbiu a representação

judicial e extrajudicial do Município ao cargo de provimento em

comissão de Procurador Jurídico Especial, o qual deveria ser de

provimento efetivo.

Nesse sentido, posiciona-se o Excelso Supremo Tribunal Federal:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – LEI

ESTADUAL Nº 8.186/2007 (ALTERADA PELAS LEIS nºs

9.332/2011 e 9.350/2011) DO ESTADO DA PARAÍBA: ART.

3º, INCISO I, ALÍNEA “A” (“na elaboração de

documentos jurídicos”) E ANEXO IV, ITENS NS. 2 A 21 (NAS

PARTES QUE CONCERNEM A CARGOS E A FUNÇÕES DE

CONSULTORIA E DE ASSESSORAMENTO JURÍDICOS) –

CARGO DE PROVIMENTO EM COMISSÃO – FUNÇÕES

INERENTES AO CARGO DE PROCURADOR DO ESTADO –

APARENTE USURPAÇÃO DE ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS

RESERVADAS A PROCURADORES DO ESTADO E DO

DISTRITO FEDERAL PELA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA (ART. 132) – PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DA

PRETENSÃO CAUTELAR – MANIFESTAÇÕES FAVORÁVEIS

DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO E DO PROCURADOR-

GERAL DA REPÚBLICA – DECISÃO CONCESSIVA DE

SUSPENSÃO CAUTELAR DE EFICÁCIA DAS NORMAS

IMPUGNADAS INTEIRAMENTE REFERENDADA, NOS

TERMOS DO VOTO DO RELATOR, PREJUDICADO O

RECURSO INTERPOSTO. O SIGNIFICADO E O ALCANCE DA

REGRA INSCRITA NO ART. 132 DA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA: EXCLUSIVIDADE E INTRANSFERIBILIDADE, A

PESSOAS ESTRANHAS AO QUADRO DA ADVOCACIA DE

ESTADO, DAS FUNÇÕES CONSTITUCIONAIS DE

PROCURADOR DO ESTADO E DO DISTRITO FEDERAL.

É inconstitucional o diploma normativo editado pelo

Estado-membro, ainda que se trate de emenda à

Constituição estadual, que outorgue a exercente de

cargo em comissão ou de função de confiança,

estranho aos quadros da Advocacia de Estado, o

exercício, no âmbito do Poder Executivo local, de

atribuições inerentes à representação judicial e ao

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desempenho da atividade de consultoria e de

assessoramento jurídicos, pois tais encargos traduzem

prerrogativa institucional outorgada, em caráter de

exclusividade, aos Procuradores do Estado pela própria

Constituição da República. Precedentes do Supremo

Tribunal Federal. Magistério da doutrina. – A extrema

relevância das funções constitucionalmente reservadas

ao Procurador do Estado (e do Distrito Federal, também),

notadamente no plano das atividades de consultoria

jurídica e de exame e fiscalização da legalidade interna

dos atos da Administração Estadual, impõe que tais

atribuições sejam exercidas por agente público

investido, em caráter efetivo, na forma estabelecida

pelo art. 132 da Lei Fundamental da República, em

ordem a que possa agir com independência e sem

temor de ser exonerado “ad libitum” pelo Chefe do

Poder Executivo local pelo fato de haver exercido,

legitimamente e com inteira correção, os encargos

irrenunciáveis inerentes às suas altas funções

institucionais. CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO: A

QUESTÃO DO VALOR JURÍDICO DO ATO

INCONSTITUCIONAL (ADI 2.215-MC/PE, REL. MIN. CELSO

DE MELLO). O “STATUS QUAESTIONIS” NA

JURISPRUDÊNCIA E NA DOUTRINA CONSTITUCIONAIS:

PLURALIDADE DE OPINIÕES DOUTRINÁRIAS EM TORNO

DOS GRAUS DIFERENCIADOS DE INVALIDADE DO ATO

INCONSTITUCIONAL. A POSIÇÃO PREVALECENTE NA

JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A

MODULAÇÃO TEMPORAL COMO TÉCNICA DECISÓRIA DE

ABRANDAMENTO, MEDIANTE JUÍZO DE CONCRETA

PONDERAÇÃO, DO DOGMA DA NULIDADE DO ATO

INCONSTITUCIONAL. DOUTRINA. PRECEDENTES. –

Concessão, “ad referendum” do Plenário, por decisão

monocrática do Relator, de medida cautelar em sede

de fiscalização abstrata. Possibilidade excepcional. A

questão do início da eficácia desse provimento

cautelar. Execução imediata, com todas as

consequências jurídicas a ela inerentes, dessa decisão,

independentemente de ainda não haver sido

referendada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.

Precedentes. – O tríplice conteúdo eficacial das

decisões (tanto as declaratórias de

inconstitucionalidade quanto as concessivas de medida

cautelar) nos processos objetivos de controle abstrato

de constitucionalidade: (a) eficácia vinculante, (b)

eficácia geral (“erga omnes”) e (c) eficácia

repristinatória. Magistério doutrinário. Precedentes. (ADI

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4843 MC-ED-Ref, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,

Tribunal Pleno, julgado em 11/12/2014, PROCESSO

ELETRÔNICO DJe-032 DIVULG 18-02-2015 PUBLIC 19-02-

2015)

Em sede de controle de constitucionalidade quanto ao tema, também

já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - DIREITO

CONSTITUCIONAL - ART. 21 DA LEI COMPLEMENTAR N.º

04/2011, DO MUNICÍPIO DE JERÔNIMO MONTEIRO -

CRIAÇÃO DO CARGO COMISSIONADO DE ASSESSOR

JURÍDICO - ADVOCACIA PÚBLICA QUE EXIGE PRÉVIA

APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO - VIOLAÇÃO AO

ART. 122, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO

ESPÍRITO SANTO (CE) E AOS ARTS. 131, § 1º, E 132 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL (CF) - PEDIDO JULGADO

PROCEDENTE - ATOS NORMATIVOS IMPUGNADOS

DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS COM EFICÁCIA ERGA

OMNES E EFEITOS A PARTIR DA PUBLICAÇÃO DO

ACÓRDÃO. 1. A jurisprudência do e. STF, e também a do

e. TJES, é firme em afirmar que a atividade de

assessoramento jurídico do Poder Executivo dos Estados

[e também dos Municípios] é de ser exercida por

procuradores organizados em carreira, cujo ingresso

depende de concurso público de provas e títulos, com a

participação da Ordem dos Advogados do Brasil em

todas as suas fases, nos termos do art. 132 da

Constituição Federal. Preceito que se destina à

configuração da necessária qualificação técnica e

independência funcional desses especiais agentes

públicos (ADI 4261, Rel. Min. Ayres Britto). 2 A norma

constitucional que institucionaliza a Advocacia Pública

está revestida de eficácia vinculante para todas as

unidades federadas, uma vez que, conforme salienta o

Ministro Celso de Melo, 'no contexto normativo que

emerge o art. 132 da Constituição, e numa análise

preliminar do tema, parece não haver lugar para

nomeações em comissão de servidores públicos que

venham a ser designados, no âmbito do Poder

Executivo, para o exercício de funções de assistência,

de assessoramento ou de consultoria na área jurídica. A

exclusividade dessa função de consultoria remanesce,

agora, na esfera institucional da Advocacia Pública,

exercida [...] por suas respectivas procuradorias-gerais e

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pelos membros que a compõem (TJES, Classe: Arguição

de Inconstitucionalidade na Apelação n.º 07088010074).

3. O art. 21, e o Anexo I, especificamente em relação ao

item Assessor Jurídico, da Lei Complementar n.º 04/11

do Município de Jerônimo Monteiro, devem ser

declarados inconstitucionais em razão de criarem

cargos comissionados, quase que idênticos ao de

Procurador do Município, sem a exigência de prévia

aprovação em concurso público, em flagrante violação

ao art. 122, § 2º, da CE e dos arts. 131, § 1º e 132 da CF. 4

Pedido julgado procedente. Unânime. 5 Atos normativos

impugnados declarados inconstitucionais, com eficácia

erga omnes e efeitos a partir da publicação do

acórdão (por maioria quanto à incidência dos efeitos).

ACÓRDÃO VISTOS, relatados e discutidos estes autos,

em que são partes as acima indicadas, ACORDA a

Primeira Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do

Estado do Espírito Santo, na conformidade da ata e

notas taquigráficas da sessão, que integram este

julgado, em, à unanimidade, julgar procedente o

pedido, com efeito ex nunc, nos termos do voto do

Eminente Relator, divergindo apenas quanto à

modulação o Exmº. Senhor Desembargador Namyr

Carlos de Souza Filho. Vitória, ES, 17 de outubro de 2013.

(TJES, Classe: Direta de Inconstitucionalidade,

100130014341, Relator : WILLIAM COUTO GONÇALVES,

Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, Data de Julgamento:

17/10/2013, Data da Publicação no Diário: 14/11/2013)

À luz do que fora exposto, verifica-se que o disposto no Anexo I da Lei

Complementar nº 02/2013, ao criar cargo de provimento em comissão

de Procurador Jurídico Especial, viola o mandamento constitucional

expresso no artigo 122, §2º, da Constituição Estadual, de que a

advocacia pública constitui atividade exclusiva de advogados

públicos efetivos, razão pela qual deve ser declarada a sua

inconstitucionalidade material/nomoestática.

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III – DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL – DA AUSÊNCIA DE

ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO – OFENSA

AO PRINCÍPIO DO CONCURSO PÚBLICO E AOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ARTIGO 32, CAPUT, E INCISOS II E V DA

CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO DE 1989

No que tange aos cargos de provimento em comissão, previstos no

Anexo I da Lei Complementar nº 02/2013 do Município de Apiacá,

percebe-se que sua inconstitucionalidade reside no fato de que suas

atribuições não se encontram discriminadas, não se podendo aferir se

são funções atinentes aos cargos de provimento em comissão –

chefia, direção e assessoramento –, o que legitimaria a exceção ao

princípio do concurso público.

Tanto a Constituição Estadual quanto a Carta da República

contemplam dispositivos regentes do tema.

Assim preleciona a Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

II - a investidura em cargo ou emprego público

depende de aprovação prévia em concurso público de

provas ou de provas e títulos, de acordo com a

natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na

forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para

cargo em comissão declarado em lei de livre

nomeação e exoneração;

(...)

V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente

por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos

em comissão, a serem preenchidos por servidores de

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carreira nos casos, condições e percentuais mínimos

previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de

direção, chefia e assessoramento;

No mesmo sentido, em enunciado quase idêntico, o texto estadual:

Art. 32. As administrações públicas direta e indireta de

quaisquer dos Poderes do Estado e dos Municípios

obedecerão aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,

finalidade, interesse público, razoabilidade,

proporcionalidade e motivação, e também aos

seguintes:

II - a investidura em cargo ou emprego público

depende de aprovação prévia em concurso público de

provas ou de provas e títulos, de acordo com a

natureza e a complexibilidade do cargo ou emprego,

na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações

para cargo em comissão declarado em lei de livre

nomeação e exoneração;

V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente

por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos

em comissão, a serem preenchidos por servidores de

carreira nos casos, condições e percentuais mínimos

previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de

direção, chefia e assessoramento;

Com efeito, conforme mencionado no item anterior, em matéria de

acesso ao serviço público, a regra constitucional é a de que o ingresso

nas carreiras públicas somente pode se dar após aprovação em

concurso público de provas ou de provas e títulos. Após aprovação,

ocorre a investidura do então candidato em cargo de provimento

efetivo.

Ocorre que a própria Constituição traz as hipóteses em que o concurso

público é prescindível: para as nomeações para cargos de provimento

em comissão, declarados em lei de livre nomeação e exoneração e

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para contratação temporária para o atendimento de necessidade

efêmera de excepcional interesse público.

Interessa, para o deslinde do problema inserto neste tópico, a

interpretação da primeira exceção, a nomeação para cargos em

comissão.

Justamente por serem exceções ao princípio do concurso público,

essas nomeações devem atender a uma baliza teleológica imposta

pelo texto constitucional, a saber, destinarem-se somente às

atribuições de direção, chefia e assessoramento.

Para tanto, exige-se que a lei que cria o cargo comissionado explicite

detalhadamente qual a hipótese apta a ensejar a sua criação, com

força de dispensar a realização do regular concurso público.

Ora, tal mister somente se atinge se a lei contemplar as atribuições

concretas cometidas ao cargo criado. Do contrário, não há como

saber se a atribuição é ou não própria de diretor, chefe ou assessor. Se

assim não fosse, não se poderia aferir se as funções a serem

desempenhadas pelo “comissionado” não seriam afetas a servidor

cujo ingresso há que se dar por meio de concurso público.

Dada a natureza excepcional dessa forma de provimento, cujos

requisitos objetivos estão adrede fixados na Constituição Estadual (e

que os tornam passíveis de indicação por confiança), é evidente que

não basta que o nome deste ou daquele cargo se relacione com o

que alude o permissivo constitucional. Devem conter,

necessariamente, as atribuições que lhe garantam

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constitucionalidade, vale dizer, que permitam se aquilatar a

adequação entre o cargo e a norma constitucional.

Nesse sentido, tem-se que o Anexo I da Lei em questão viola

substancialmente os preceitos constitucionais insertos no artigo 32,

caput e incisos II e V, da Constituição do Estado do Espírito Santo,

acima transcritos, tratando-se, portanto, de inconstitucionalidade

material/nomoestática.

A referida norma vai de encontro à Lei Fundamental Estadual, na

medida em que cria cargos de provimento em comissão sem prever

suas atribuições, de forma a não se poder aferir a compatibilidade

com a forma de investidura.

Isso porque o Anexo I ora guerreado confere aos cargos previstos

nomenclatura que sugere pertinência às funções de direção,

assessoramento e chefia, sem que possa ser observado, no entanto, se

aos cargos efetivamente são atribuídas atividades de direção,

assessoria e chefia.

A jurisprudência caminha no sentido da declaração de

inconstitucionalidade das normas em apreço, senão vejamos:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 37, II E

V. CRIAÇÃO DE CARGO EM COMISSÃO. LEI 15.224/2005

DO ESTADO DE GOIÁS. INCONSTITUCIONALIDADE. É

inconstitucional a criação de cargos em comissão que

não possuem caráter de assessoramento, chefia ou

direção e que não demandam relação de confiança

entre o servidor nomeado e o seu superior hierárquico,

tais como os cargos de Perito Médico-Psiquiátrico, Perito

Médico-Clínico, Auditor de Controle Interno, Produtor

Jornalístico, Repórter Fotográfico, Perito Psicológico,

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Enfermeiro e Motorista de Representação. Ofensa ao

artigo 37, II e V da Constituição federal. Ação julgada

procedente para declarar a inconstitucionalidade dos

incisos XI, XII, XIII, XVIII, XIX, XX, XXIV e XXV do art. 16-A da

lei 15.224/2005 do Estado de Goiás, bem como do

Anexo I da mesma lei, na parte em que cria os cargos

em comissão mencionados. (ADI 3602, Relator(a): Min.

JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em

14/04/2011, DJe-108 DIVULG 06-06-2011 PUBLIC 07-06-

2011 EMENT VOL-02538-01 PP-00027 RIP v. 13, n. 68, 2011,

p. 425-427)

É válido ressaltar que, embora o Presidente da Câmara Municipal de

Apiacá tenha afirmado que as atribuições dos cargos de provimento

em comissão se encontram nas Leis nº 607/2003, 781/2009 e 840/2012

(documento em anexo), constatou-se, mediante análise das mesmas,

que a discriminação diz respeito tão somente às atividades dos órgãos,

o que difere das atividades de cada cargo.

Portanto, resta clarividente que o Anexo I da Lei Complementar

02/2013, ora impugnado, viola substancialmente o princípio do

concurso público e os princípios que regem a Administração Pública,

devendo ter a sua inconstitucionalidade material/nomoestática

declarada.

IV - DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL - VIOLAÇÃO AO ARTIGO

32, INCISO XIV, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO:

Consoante se constata da leitura do Anexo VII da Lei Complementar

nº 02/2013, houve vinculação dos vencimentos do Grupo de

Assessoramento Especial Nível II (CC II-01) e do Grupo de

Assessoramento Especial Nível I (CC-01) aos vencimentos da Lei

847/2012, sendo assegurado para o primeiro, o valor de 90% do

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previsto no artigo 1º da lei e, para o segundo, o valor de 90% do

previsto no artigo 2º.

Deste modo, ao instituir essa modalidade de vinculação dos

vencimentos, o legislador municipal promoveu a vinculação de

espécies remuneratórias, incorrendo, claramente, na vedação contida

no inciso XIV, do artigo 32 da Constituição do Estado do Espírito Santo,

in verbis:

Art. 32. As administrações públicas direta e indireta de

quaisquer dos Poderes do Estado e dos Municípios

obedecerão aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,

finalidade e interesse público, e também aos seguintes:

[...]

XIV - é vedada a vinculação ou equiparação de

quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de

remuneração de pessoal do serviço público;

Nesse sentido, vale transcrever a seguinte lição de Maria Sylvia Zanella

Di Pietro:

O inciso XIII do artigo 37, com a nova redação dada

pela Emenda nº 19, veda a vinculação ou

equiparação para quaisquer espécies remuneratórias

para o efeito de remuneração de pessoal do serviço

público. O que se visa impedir, com esse dispositivo,

são os reajustes automáticos de vencimentos, o que

ocorreria se, para fins de remuneração, um cargo

ficasse vinculado ao outro, de modo que qualquer

acréscimo concedido a um beneficiaria a ambos

automaticamente; isso também ocorreria se os

reajustes de salário ficassem vinculados a

determinados índices, como o de aumento de salário

mínimo, o de aumento de arrecadação, o de títulos

de dívida pública ou qualquer outro. A justificativa

para a proibição é clara, pois a Administração pública,

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para pagar seus servidores, além de depender da

existência de recursos orçamentários, sofre limitações.1

Portanto, a ilustre doutrinadora deixa claro que o intento da vedação

contida no artigo 37, inciso XIII da Constituição da República (norma

repetida pelo artigo 32, inciso XIV da Constituição Estadual) é obstar

que ocorram reajustes automáticos de remuneração de uma classe

sempre que a outra classe, a qual aquela se vincula, reajustasse seus

vencimentos.

Ora, é exatamente nesta situação que se enquadra a legislação ora

impugnada, haja vista que a Lei Complementar nº 02/2013

estabeleceu, para fins de vencimento, a vinculação aqueles

estabelecidos na Lei nº 847/2012.

Portanto, resta clarividente que o Anexo VII ora impugnado viola

substancialmente o disposto no artigo 32, inciso XIV, da Constituição

Estadual, devendo ser declarada a sua inconstitucionalidade

material/nomoestática.

V – DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL – DO CARGO DE ASSESSOR

JURÍDICO: DEFENSOR PÚBLICO – VIOLAÇÃO OS PRINCÍPIOS DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A CONSEQUENTE AFRONTA AO ARTIGO 20 DA

CONSTITUIÇÃO ESTADUAL

Analisando-se o disposto acerca do cargo de Assessor Jurídico –

Defensor Público Municipal, com previsão no artigo 4º, III, “b”, e no

Anexo I da Lei nº 01/11 do Município de Apiacá, notam-se vícios de

1 In: Direito Administrativo, 12, ed. Atlas, 2000. P. 430.

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inconstitucionalidade material, conforme se passa a expor

detalhadamente.

Cumpre elucidar que a Constituição do Estado do Espírito Santo prevê

que a Defensoria Pública se trata de instituição essencial à função

jurisdicional do Estado, senão vejamos:

Art. 123. A Defensoria Pública é instituição essencial à

função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a

orientação jurídica e, em todos os graus, a defesa dos

que comprovarem insuficiência de recursos.

Diante da essencialidade de sua função para a prestação

jurisdicional, nota-se não ser razoável que a mesma seja estabelecida

na esfera municipal, haja vista que a Justiça somente se encontra

estruturada a nível estadual e federal.

Portanto, infere-se que a previsão de Defensoria Pública municipal não

observa a estrutura organizacional da Justiça, uma vez que o

Município se trata de unidade de federação em que a mesma não se

situa.

Importa registrar que o artigo 20 da Constituição do Estado do Espírito

Santo dispõe que o Município, ao instituir sua lei orgânica e as demais

leis, deve se atentar para os princípios da Constituição da República e

da Constituição Estadual.

Art. 20. O Município rege-se por sua lei orgânica e leis

que adotar, observados os princípios da Constituição

Federal e os desta Constituição.

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Nesse sentido, infere-se que a Constituição da República, ao disciplinar

acerca da Defensoria Pública em seu artigo 134, somente se refere à

instituição no âmbito da União, dos Territórios, do Distrito Federal e dos

Estados.

Isso significa que foi opção legislativa do constituinte originário não

estipular o referido órgão no âmbito municipal, seguindo-se a estrutura

organizacional estipulada ao Poder Judiciário e ao Ministério Público.

É válido ressaltar que foi proposta a PEC nº 12/2007, de autoria da

Deputada Federal Solange Amaral e outros, com o objetivo de criar a

Defensoria Pública municipal. Porém, esta obteve parecer

desfavorável por meio do controle prévio realizado pela Comissão de

Constituição e Justiça e de Cidadania2.

Salientou-se que a instituição deste órgão no Município afrontaria os

preceitos constitucionais da forma federativa de Estado, da

separação dos poderes e criaria uma obrigação para os Municípios

colidente com o princípio da simetria constitucional, uma vez que não

há Poder Judiciário municipal, Ministério Público municipal, nem

mesmo previsão de Defensoria Pública para este âmbito.

Nesse viés, o Deputado Relator apresentou a seguinte

fundamentação:

Na verdade, falta ao legislador constituinte derivado a

autonomia material para alterar a organização político-

2 Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania: proposta de emenda à

Constituição nº 12, de 2007. Relator Deputado Valtenir Pereira. 16 jul. 2008. Disponível

em: < http://www.camara.gov.br/sileg/integras/588084.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016.

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administrativa quando transfere as obrigações das

Defensorias Públicas, órgão administrativo autônomo de

competência da União, Estado-membro e Distrito

Federal para os Municípios, instituindo mais um ônus aos

minguados orçamentos municipais3.

Diante do exposto, constata-se que não cabe ao legislador derivado a

alteração da estrutura organizacional conferida constitucionalmente

com o objetivo de se transferir as obrigações da Defensoria Pública da

União e dos Estados para os Municípios.

A Constituição da República, ao estipular Poder Judiciário, Ministério

Público e Defensoria Pública somente no âmbito da União, Estados-

membros e Distrito Federal, optou por conferir autonomia política

limitada aos Municípios.

Dessa maneira, a Constituição do Estado do Espírito Santo, baseando-

se no princípio da simetria4, dispôs que é de inciativa privativa do

3 Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania: proposta de emenda à

Constituição nº 12, de 2007. Relator Deputado Valtenir Pereira. 16 jul. 2008. Disponível

em: < http://www.camara.gov.br/sileg/integras/588084.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016.

p. 3. 4 Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime

democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos

humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais

e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV

do art. 5º desta Constituição Federal.

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal

e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em

cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas

e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o

exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou

Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso

Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais

Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos

previstos nesta Constituição.

§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre:

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Governador do Estado as leis que façam previsão acerca da

organização da Defensoria Pública, não havendo, portanto, qualquer

menção ao Chefe do Poder Executivo municipal, senão vejamos:

Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou

comissão da Assembleia Legislativa, ao Governador do

Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e

aos cidadãos, satisfeitos os requisitos estabelecidos

nesta Constituição.

Parágrafo único. São de iniciativa privativa do

Governador do Estado as leis que disponham sobre:

V - organização do Ministério Público, da Procuradoria

Geral do Estado e da Defensoria Pública;

Em sede de controle de constitucionalidade quanto ao tema, já

decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ARTIGO 9º

DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS E TRANSITÓRIAS DA

LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE CASTELO, LEIS

MUNICIPAIS 1.284⁄91 E 1.391⁄91, E, POR ARRASTAMENTO,

ARTIGO 120, VI, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI MUNICIPAL

2.507⁄2007 - CRIAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DE ÓRGÃO

DE DEFENSORIA PÚBLICA MUNICIPAL - PRELIMINAR -

PREJUDICIALIDADE - VACÂNCIA DO CARGO DE

DEFENSOR QUE NÃO EQUIVALE À SUA EXTINÇÃO -

PRELIMINAR REJEITADA - MÉRITO - VÍCIO DE INICIATIVA -

LEIS MUNICIPAIS QUE OFENDEM A INICIATIVA PRIVATIVA

DO CHEFE DO EXECUTIVO ESTADUAL -

INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL RECONHECIDA -

INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL - IMPOSSIBILIDADE

DE CRIAÇÃO DE DEFENSORIA PÚBLICA NO ÂMBITO

MUNICIPAL - MATÉRIA RESTRITA AOS ENTES ESTADUAL E

FEDERAL E QUE TRANSCENDE O INTERESSE LOCAL -

OFENSA AOS ARTIGOS 123 E SEU PARÁGRAFO ÚNICO DA

CONSTITUIÇÃO ESTADUAL, E 24, XIII, DA CF⁄88 - AÇÃO

DIRETA JULGADA PROCEDENTE.

d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como

normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos

Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;

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1 - Não prejudica o julgamento meritório de Ação Direta

de Inconstitucionalidade movida em face de artigos da

legislação Municipal que preveem a criação e

organização de órgão municipal de Defensoria Pública,

a superveniência de Lei Ordinária Municipal que coloca

referido órgão em vacância, vez que, até que esta

ocorra, as normas atacadas continuarão a produzir

efeitos. Preliminar rejeitada.

2 - Determina o artigo 63, parágrafo único, V, da

Constituição Estadual, a iniciativa privativa do Chefe do

Poder Executivo Estadual quanto às leis que disponham

sobre organização do Ministério Público, da

Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública.

Tendo a legislação atacada sido produzida em âmbito

municipal, patente sua inconstitucionalidade formal em

virtude do vício de iniciativa. Precedente do órgão

plenário deste Egrégio Tribunal de Justiça (ADI

100990006874, Rel. Des. Amim Abiguenem, j. 24.08.2000,

DJ 14.09.2000).

3 - O artigo 24, XIII, da Constituição Federal, estabelece

a competência concorrente entre União e Estados para

legislar acerca de assistência jurídica e defensoria

pública, norma esta materializada, em nosso Estado,

pelo artigo 123, parágrafo único, da Constituição

Estadual, que prevê a necessidade de Lei

Complementar Estadual para organização da

Defensoria em órgãos de carreira, providos mediante

concurso público.

4 - Promoção da atividade jurídica que transcende o

âmbito do interesse local, impedindo a criação, no

âmbito municipal, de órgãos de defensoria pública, da

mesma forma como não existem Poder Judiciário ou

Ministério Público municipais. Precedentes doutrinários.

5 - Ação Direta julgada procedente para declarar a

inconstitucionalidade formal e material dos artigos 9º,

das Disposições Constitucionais e Transitórias da Lei

Orgânica do Município de Castelo (que previu a

existência de órgão de defensoria pública municipal),

bem como, na íntegra, das Leis Municipais 1.284⁄91 e

1.391⁄92 (que a organizaram) e, por arrastamento, do

art. 120, VI, parágrafo único, da Lei Municipal 2.507⁄2007

(que pôs o cargo de Defensor Municipal em vacância).

(TJES, Classe: Procedimento Ordinário, 100090021302,

Relator : CARLOS SIMÕES FONSECA, Órgão julgador:

TRIBUNAL PLENO, Data de Julgamento: 08/07/2010, Data

da Publicação no Diário: 14/10/2010)

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Nesse sentido também decidiram os Tribunais de Justiça dos Estados

de Minas Gerais e da Bahia, como pode ser observado a seguinte:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI

MUNICIPAL - CONTRATO TEMPORÁRIO - FUNÇÕES -

EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO - AUSÊNCIA - CARÁTER

ESSENCIAL E PERMANENTE - CLÁUSULA ABERTA E

GENÉRICA - IMPOSSIBILIDADE - INCONSTITUCIONALIDADE

- LEI MUNICIPAL - CRIAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA

MUNICIPAL - COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE

DA UNIÃO E DOS ESTADOS - OFENSA AO ART. 165, § 1º,

DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL - PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.

Não se admite a manutenção no ordenamento jurídico

municipal de dispositivos de lei que contenham

cláusulas abertas e genéricas, quando estas possam

implicar ofensa à Constituição Estadual. São

inconstitucionais os dispositivos de Lei Municipal que

autorizam a celebração de contratos temporários para

funções de caráter essencial e permanente na

Administração Pública, ofendendo o disposto no art. 22,

da Constituição do Estado. Incabível a interpretação

conforme a Constituição quando a técnica enseja a

criação de norma jurídica, atividade própria do Poder

Legislativo. É inconstitucional por ofensa ao art. 165, § 1º,

da Constituição do Estado de Minas Gerais, Lei

Municipal que dispõe sobre a criação da Defensoria

Pública Municipal, prevendo inclusive a contratação

temporária para o cargo de Defensor Público Municipal,

já que compete concorrentemente à União e aos

Estados legislar sobre tal matéria. Julgada procedente a

ação (TJ-MG - Ação Direta Inconst: 10000110753712000

MG, Relator: Kildare Carvalho, Data de Julgamento:

10/04/2013, Órgão Especial / ÓRGÃO ESPECIAL, Data

de Publicação: 23/08/2013)

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL Nº 2.114/2009

INSTITUIU NA SUA ESTRUTURA BÁSICA A DEFENSORIA

PÚBLICA MUNICIPAL - IMPOSSIBILIDADE - VIOLAÇÃO QUE

IMPORTA EM VÍCIO DE INCONSTITUCIONALIDADE –

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA BAHIA. ATO

NORMATIVO IMPUGNADO - INCONSTITUCIONALIDADE.

AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. (TJ-BA - ADI:

03123848720128050000 BA 0312384-87.2012.8.05.0000,

Relator: Maria da Graça Osório Pimentel Leal, Data de

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Julgamento: 09/10/2013, Tribunal Pleno, Data de

Publicação: 23/10/2013)

Portanto, deve-se ter em mente que a autonomia administrativa e

política dos Municípios não autoriza a elaboração de Leis Orgânicas e

Leis Municipais em completo descompasso com a Constituição da

República e com a Constituição Estadual.

Em outros termos, o Município não pode, em total contrassenso ao

determinado pelas Constituições da República e Estadual, criar a sua

própria Defensoria Pública, pois estaria adotando um modelo

assimétrico ao constitucionalmente desenhado.

Logo, através da aplicação do princípio da simetria, amplamente

reconhecido na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, e da

interpretação sistemática da Constituição, tem-se que a Defensoria

Pública é instituição que somente pode existir no âmbito da União, do

Distrito Federal e dos Estados.

No caso em análise, contudo, o Município de Apiacá laborou em

flagrante inconstitucionalidade ao regular o cargo de Assessor Jurídico

- Defensor Público Municipal, uma vez que incumbiu a assistência

jurídica integral e gratuita dos necessitados a órgão que não tem

amparo constitucional.

É válido ressaltar também que, além disso, a o cargo é disciplinado

dentro do quadro de servidores do Poder Executivo, o que jamais

pode ocorrer, tendo em vista que a Defensoria Pública se trata de

órgão primário (ou independente), que não se sujeita a qualquer

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subordinação hierárquica ou funcional e nem integra a Tripartição de

Poderes.

Com base no exposto acima, verifica-se que o disposto no artigo 4º, III,

“b”, e no Anexo I da Lei nº 01/11 do Município de Apiacá viola o

mandamento constitucional expresso no artigo 20 da Constituição

Estadual, razão pela qual deve ser declarada a sua

inconstitucionalidade material/nomoestática.

VI – NORMA QUE EXCEDE A COMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL.

VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 19, IV, 20 E 28, I, DA CONSTITUIÇÃO DO

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

Conforme já citado, o artigo 4º, III, “b”, e o Anexo I da Lei nº 01/11 do

Município de Apiacá disciplinam acerca do cargo de Assessor Jurídico

- Defensor Público Municipal.

Tal disposição, por sua vez, contraria norma federal sobre o assunto,

bem como norma estadual que prevê a necessidade de os Municípios

observarem os princípios da Constituição da República.

Para exata compreensão da matéria, cumpre ressaltar a princípio que

a Defensoria Pública foi elencada pela Constituição da República

como matéria cuja competência legislativa é concorrente entre a

União, os Estados e o Distrito Federal5.

5 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar

concorrentemente sobre:

(...)

XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;

(...)

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A Constituição Estadual do Espírito Santo, consoante os termos da

Constituição da República, dispôs que:

Constituição do Estado do Espírito Santo

Art. 19. Compete ao Estado, respeitados os princípios

estabelecidos na Constituição Federal:

(...)

IV - exercer, no âmbito da legislação concorrente, a

competente legislação suplementar e, quando couber,

a plena, para atender às suas peculiaridades;

Art. 20. O Município rege-se por sua lei orgânica e leis

que adotar, observados os princípios da Constituição

Federal e os desta Constituição.

Art. 28. Compete ao Município:

I - legislar sobre assunto de interesse local;

II - suplementar a legislação federal e estadual no que

couber;

Compete, assim, à União e aos Estados legislar concorrentemente

sobre a assistência jurídica e a Defensoria Pública: enquanto a primeira

estabelece normas gerais, os Estados complementam a legislação

federal.

Os Municípios, por sua vez, não poderão suplementar a legislação

federal e estadual quanto ao tema, como será detalhado adiante.

O Município não possui competência legislativa para instituir ou

organizar Defensoria Pública, visto que não se trata de norma de

interesse local, em razão de a existência de Defensoria Pública

Municipal não ser compatível com a estrutura organizacional da

Justiça, conforme visto no Tópico anterior.

§1º- No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a

estabelecer normas gerais.

§ 2º- A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a

competência suplementar dos Estados.

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Além disso, infere-se que o Município, ao estabelecer sua lei orgânica

e demais leis, deve observar os princípios consagrados na Constituição

da República.

Nesse aspecto, cumpre ressaltar que a Constituição da República

disciplina que somente a União, os Estados e o Distrito Federal podem

legislar, concorrentemente, acerca da Defensoria Pública.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito

Federal legislar concorrentemente sobre:

(...)

XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;

Soma-se a esse dispositivo a previsão de que somente os Estados

possuem competência legislativa residual6, restando vedada,

portanto, a criação de Defensorias pelos Municípios.

Ademais, para se legislar acerca da organização do referido órgão se

faz necessária Lei Complementar, tendo a Constituição da República

previsto iniciativa privativa do Presidente da República7 pata tanto e a

6 Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que

adotarem, observados os princípios desta Constituição.

§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam

vedadas por esta Constituição. 7 Art. 134. (...)

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal

e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em

cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas

e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o

exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

Art. 61. (...)

§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre:

d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como

normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos

Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;

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Constituição do Estado do Espírito Santo, por simetria, previsto iniciativa

privativa do Governador do Estado8.

Diante do exposto, resta claro que o legislador municipal excedeu a

competência legislativa do Município ao disciplinar sobre o cargo de

Assessor Jurídico - Defensor Público Municipal, devendo ser decretada

a inconstitucionalidade do artigo 4º, III, “b”, e do Anexo I da Lei nº

01/11 do Município de Apiacá, por violação aos artigos 19, IV, 20 e 28,

II da Constituição do Estado do Espírito Santo.

IV – DOS PEDIDOS

Ex positis, requer:

a) A notificação do Prefeito Municipal de Bom Jesus do Norte e do

Presidente da Câmara Municipal de Bom Jesus do Norte, para os

fins previstos no artigo 169, alínea a, do Regimento Interno deste

Egrégio Tribunal de Justiça;

b) Seja a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada

procedente, declarando-se a inconstitucionalidade material do

Anexo I e do Anexo VII da Lei Complementar nº 02/2013 do

Município de Apiacá, quanto ao cargo de Procurador Jurídico

8 Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou comissão da

Assembleia Legislativa, ao Governador do Estado, ao Tribunal de

Justiça, ao Ministério Público e aos cidadãos, satisfeitos os requisitos

estabelecidos nesta Constituição.

Parágrafo único. São de iniciativa privativa do Governador do Estado

as leis que disponham sobre: V - organização do Ministério Público, da Procuradoria Geral do Estado e da

Defensoria Pública.

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Especial e a ausência de atribuições dos cargos de provimento

em comissão e quanto à vinculação de remuneração,

respectivamente, e a inconstitucionalidade material e formal do

art. 4º, III, “b”, e do Anexo I da Lei Complementar nº 01/2011 do

Município de Apiacá, em relação ao cargo de Assessor Jurídico

– Defensor Público Municipal, adotando-se as providências

necessárias para que cessem, ex nunc, todos os seus efeitos.

V – DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa, por força de expressa disposição legal, o valor de

R$100,00 (cem reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

Vitória, 15 de fevereiro de 2016.

EDER PONTES DA SILVA

PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA