excelentÍssimo senhor desembargador ... conforme se passa a expor em detalhes. cumpre elucidar que...
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Procuradoria-Geral de Justiça
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
vem, com espeque no artigo 29, inciso I, da Lei 8.625/93; artigo 30,
inciso XVI, da Lei Complementar Estadual 95/97 - Lei Orgânica do
Ministério Público; artigo 112, inciso III, da Constituição do Estado do
Espírito Santo; e artigo 168 e seguintes do Regimento Interno do Tribunal
de Justiça - RITJES, propor a presente
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
em face do Anexo I e do Anexo VII da Lei Complementar nº 02/2013
do Município de Apiacá, quanto ao cargo de Procurador Jurídico
Especial e a ausência de atribuições dos cargos de provimento em
comissão e quanto à vinculação de remuneração, respectivamente;
art. 4º, III, “b”, e do Anexo I da Lei Complementar nº 01/2011 do
Município de Apiacá, em relação ao cargo de Assessor Jurídico –
Defensor Público Municipal, pelos fatos e fundamentos abaixo
aduzidos.
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I – DOS DISPOSITIVOS IMPUGNADOS
O Anexo I da Lei Complementar nº 02/2013 do Município de Apiacá
prevê o cargo de Procurador Jurídico Especial, ao qual é atribuída a
representação judicial e extrajudicial do Município, como cargo de
provimento em comissão, o que, consoante será demonstrado, viola o
princípio do concurso público.
Já o Anexo VII da mesma lei disciplina a vinculação de espécies
remuneratórias, o que ofende o disposto no artigo 32, XIV, da
Constituição do Estado do Espírito Santo.
De outro turno, não há na lei suscitada qualquer disposição acerca
das atribuições dos cargos de provimento em comissão, em flagrante
violação ao princípio do concurso público, assim como aos princípios
que norteiam a Administração Pública.
Importa registrar, ainda, que a Lei Complementar nº 01/2011 fez
previsão do cargo de provimento em comissão de Assessor Jurídico –
Defensor Público Municipal, o que excede a competência legislativa
municipal, bem como viola os princípios da Constituição da República.
Veja-se o teor dos dispositivos guerreados:
Lei Complementar nº 01/2011
Art. 4º A estrutura organizacional da Procuradoria Geral
do Município é composta das seguintes unidades:
(...)
III – Assessores Jurídicos
b) 02 (dois) para a Defensoria Pública Municipal.
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Anexo I
TABELA DE VENCIMENTOS
Cargo Assessoria Vencimento R$ Nº Vagas
Assessor Jurídico –
Defensor Público
Municipal
1.500 02
Lei Complementar 02/2013
Anexo I
Quadro dos Cargos de Provimento em Comissão
Grupo de Direção Superior, Assessoramento e Chefia
GDS – GAS – GCH
Denominação
dos Cargos
Código
de
Cargos
Nº de
Cargos
Símbolo de
vencimento
Modalidade
de
Recrutamento
02 – Grupo de Assessoramento Especial Nível I – GASE I
Procurador
Jurídico
Especial
GASE I
04
1 CC - 01 Amplo
Anexo VII
ADMINISTRAÇÃO DIRETA MUNICIPAL
Tabela de Vencimentos
Cargos de Provimento em Comissão
Símbolo de Vencimentos Vencimento
CCSUB - 01 *
CC II - 01
**
CC - 01 ***
** O valor dos vencimentos mensais do Grupo de
Assessoramento Especial Nível II (CC II-01) será igual a 90%
daquele previsto no artigo 1º da Lei 847/2012.
*** O valor dos vencimentos mensais do Grupo de
Assessoramento Especial Nível I (CC-01) será igual a 90%
daquele previsto no artigo 2º da Lei 847/2012.
Como será demonstrado em detalhes adiante, trata-se de dispositivo e
Anexos maculados por vícios de inconstitucionalidade formal e
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material, razão pela qual devem ter sua inconstitucionalidade
declarada, retirando-a do ordenamento jurídico vigente.
II – DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL – DO CARGO DE
PROCURADOR JURÍDICO ESPECIAL – VIOLAÇÃO, POR SIMETRIA, DO
ARTIGO 122, §2º, DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DE 1989
Analisando-se o Anexo I da Lei Complementar nº 02/2013 do Município
de Apiacá, em relação ao cargo de Procurador Jurídico Especial,
previsto dentro dos Cargos de Provimento em Comissão, no Grupo de
Assessoramento Especial Nível I, vislumbra-se vício de
inconstitucionalidade, conforme se passa a expor em detalhes.
Cumpre elucidar que a organização do órgão de representação do
Poder Executivo Estadual é regulada pelo artigo 122 da Constituição
do Estado do Espírito Santo, o qual consagra o princípio do concurso
público para o ingresso nessa carreira, senão vejamos:
Art. 122. A Procuradoria-Geral é o órgão que representa
o Estado, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe,
ainda, nos termos da lei complementar, as atividades
de consultoria e assessoramento jurídico do Poder
Executivo Estadual.
§ 1° A Procuradoria-Geral tem por chefe o Procurador-
Geral do Estado, de livre nomeação pelo Governador
dentre advogados maiores de trinta e cinco anos, de
notável saber jurídico e reputação ilibada.
§ 2° O ingresso nas classes iniciais da carreira de
Procurador far-se-á mediante concurso público de
provas e títulos.
Em texto idêntico, também dispõe a Constituição da República:
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Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição
que, diretamente ou através de órgão vinculado,
representa a União, judicial e extrajudicialmente,
cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que
dispuser sobre sua organização e funcionamento, as
atividades de consultoria e assessoramento jurídico do
Poder Executivo.
§ 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o
Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo
Presidente da República dentre cidadãos maiores de
trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e
reputação ilibada.
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito
Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso
dependerá de concurso público de provas e títulos,
com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil
em todas as suas fases, exercerão a representação
judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades
federadas.
Diante dos dispositivos, é possível constatar que a regra constitucional
determina que o ingresso na carreira da advocacia pública se dê
mediante concurso público de provas e títulos e que apenas os cargos
de Advogado Geral da União e Procurador Geral do Estado – cargos
de chefia de ambas as instituições – serão providos por cargos em
comissão, de livre nomeação e exoneração.
Salienta-se ainda que, embora as Constituições da República e
Estadual tenham se omitido no que diz respeito à advocacia pública
municipal, deve-se aplicar aos Municípios a mesma regra estabelecida
para a União e os Estados, em razão do princípio da simetria.
Nesse viés, a observância ao princípio da simetria para os Municípios
tem previsão no artigo 20 da Constituição Estadual (norma de
repetição obrigatória) e no artigo 29 da Constituição da República,
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segundo os quais esses entes federados regem-se por lei orgânica,
desde que respeitados os princípios estabelecidos
constitucionalmente:
Art. 20 da CE/89: O Município rege-se por sua lei
orgânica e leis que adotar, observados os princípios da
Constituição Federal e os desta Constituição.
Art. 29 da CF/88: O Município reger-se-á por lei orgânica,
votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez
dias, e aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os
princípios estabelecidos nesta Constituição, na
Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:
Portanto, deve-se ter em mente que a autonomia administrativa e
política dos municípios não autoriza a elaboração de Leis Orgânicas e
Leis Municipais em completo descompasso com a Constituição da
República e com a Constituição Estadual.
Em outros termos, o Município não pode, em total contrassenso ao
determinado pelas Constituições da República e Estadual, criar sua
advocacia pública com servidores comissionados (ressalvado o cargo
de Procurador-Geral), pois estaria adotando um modelo assimétrico
ao constitucionalmente desenhado.
Logo, através da aplicação do princípio da simetria, amplamente
reconhecido na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, e da
interpretação sistemática da Constituição, tem-se que o ingresso na
carreira da advocacia pública ocorre por meio de concurso público
de provas e títulos, o que deve ser reprisado nas leis municipais.
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No caso em análise, contudo, o Município de Apiacá laborou em
flagrante inconstitucionalidade no que diz respeito à organização da
Procuradoria do Município, uma vez que incumbiu a representação
judicial e extrajudicial do Município ao cargo de provimento em
comissão de Procurador Jurídico Especial, o qual deveria ser de
provimento efetivo.
Nesse sentido, posiciona-se o Excelso Supremo Tribunal Federal:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – LEI
ESTADUAL Nº 8.186/2007 (ALTERADA PELAS LEIS nºs
9.332/2011 e 9.350/2011) DO ESTADO DA PARAÍBA: ART.
3º, INCISO I, ALÍNEA “A” (“na elaboração de
documentos jurídicos”) E ANEXO IV, ITENS NS. 2 A 21 (NAS
PARTES QUE CONCERNEM A CARGOS E A FUNÇÕES DE
CONSULTORIA E DE ASSESSORAMENTO JURÍDICOS) –
CARGO DE PROVIMENTO EM COMISSÃO – FUNÇÕES
INERENTES AO CARGO DE PROCURADOR DO ESTADO –
APARENTE USURPAÇÃO DE ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS
RESERVADAS A PROCURADORES DO ESTADO E DO
DISTRITO FEDERAL PELA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA (ART. 132) – PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DA
PRETENSÃO CAUTELAR – MANIFESTAÇÕES FAVORÁVEIS
DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO E DO PROCURADOR-
GERAL DA REPÚBLICA – DECISÃO CONCESSIVA DE
SUSPENSÃO CAUTELAR DE EFICÁCIA DAS NORMAS
IMPUGNADAS INTEIRAMENTE REFERENDADA, NOS
TERMOS DO VOTO DO RELATOR, PREJUDICADO O
RECURSO INTERPOSTO. O SIGNIFICADO E O ALCANCE DA
REGRA INSCRITA NO ART. 132 DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA: EXCLUSIVIDADE E INTRANSFERIBILIDADE, A
PESSOAS ESTRANHAS AO QUADRO DA ADVOCACIA DE
ESTADO, DAS FUNÇÕES CONSTITUCIONAIS DE
PROCURADOR DO ESTADO E DO DISTRITO FEDERAL.
É inconstitucional o diploma normativo editado pelo
Estado-membro, ainda que se trate de emenda à
Constituição estadual, que outorgue a exercente de
cargo em comissão ou de função de confiança,
estranho aos quadros da Advocacia de Estado, o
exercício, no âmbito do Poder Executivo local, de
atribuições inerentes à representação judicial e ao
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desempenho da atividade de consultoria e de
assessoramento jurídicos, pois tais encargos traduzem
prerrogativa institucional outorgada, em caráter de
exclusividade, aos Procuradores do Estado pela própria
Constituição da República. Precedentes do Supremo
Tribunal Federal. Magistério da doutrina. – A extrema
relevância das funções constitucionalmente reservadas
ao Procurador do Estado (e do Distrito Federal, também),
notadamente no plano das atividades de consultoria
jurídica e de exame e fiscalização da legalidade interna
dos atos da Administração Estadual, impõe que tais
atribuições sejam exercidas por agente público
investido, em caráter efetivo, na forma estabelecida
pelo art. 132 da Lei Fundamental da República, em
ordem a que possa agir com independência e sem
temor de ser exonerado “ad libitum” pelo Chefe do
Poder Executivo local pelo fato de haver exercido,
legitimamente e com inteira correção, os encargos
irrenunciáveis inerentes às suas altas funções
institucionais. CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO: A
QUESTÃO DO VALOR JURÍDICO DO ATO
INCONSTITUCIONAL (ADI 2.215-MC/PE, REL. MIN. CELSO
DE MELLO). O “STATUS QUAESTIONIS” NA
JURISPRUDÊNCIA E NA DOUTRINA CONSTITUCIONAIS:
PLURALIDADE DE OPINIÕES DOUTRINÁRIAS EM TORNO
DOS GRAUS DIFERENCIADOS DE INVALIDADE DO ATO
INCONSTITUCIONAL. A POSIÇÃO PREVALECENTE NA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A
MODULAÇÃO TEMPORAL COMO TÉCNICA DECISÓRIA DE
ABRANDAMENTO, MEDIANTE JUÍZO DE CONCRETA
PONDERAÇÃO, DO DOGMA DA NULIDADE DO ATO
INCONSTITUCIONAL. DOUTRINA. PRECEDENTES. –
Concessão, “ad referendum” do Plenário, por decisão
monocrática do Relator, de medida cautelar em sede
de fiscalização abstrata. Possibilidade excepcional. A
questão do início da eficácia desse provimento
cautelar. Execução imediata, com todas as
consequências jurídicas a ela inerentes, dessa decisão,
independentemente de ainda não haver sido
referendada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.
Precedentes. – O tríplice conteúdo eficacial das
decisões (tanto as declaratórias de
inconstitucionalidade quanto as concessivas de medida
cautelar) nos processos objetivos de controle abstrato
de constitucionalidade: (a) eficácia vinculante, (b)
eficácia geral (“erga omnes”) e (c) eficácia
repristinatória. Magistério doutrinário. Precedentes. (ADI
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4843 MC-ED-Ref, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, julgado em 11/12/2014, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-032 DIVULG 18-02-2015 PUBLIC 19-02-
2015)
Em sede de controle de constitucionalidade quanto ao tema, também
já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - DIREITO
CONSTITUCIONAL - ART. 21 DA LEI COMPLEMENTAR N.º
04/2011, DO MUNICÍPIO DE JERÔNIMO MONTEIRO -
CRIAÇÃO DO CARGO COMISSIONADO DE ASSESSOR
JURÍDICO - ADVOCACIA PÚBLICA QUE EXIGE PRÉVIA
APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO - VIOLAÇÃO AO
ART. 122, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO (CE) E AOS ARTS. 131, § 1º, E 132 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (CF) - PEDIDO JULGADO
PROCEDENTE - ATOS NORMATIVOS IMPUGNADOS
DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS COM EFICÁCIA ERGA
OMNES E EFEITOS A PARTIR DA PUBLICAÇÃO DO
ACÓRDÃO. 1. A jurisprudência do e. STF, e também a do
e. TJES, é firme em afirmar que a atividade de
assessoramento jurídico do Poder Executivo dos Estados
[e também dos Municípios] é de ser exercida por
procuradores organizados em carreira, cujo ingresso
depende de concurso público de provas e títulos, com a
participação da Ordem dos Advogados do Brasil em
todas as suas fases, nos termos do art. 132 da
Constituição Federal. Preceito que se destina à
configuração da necessária qualificação técnica e
independência funcional desses especiais agentes
públicos (ADI 4261, Rel. Min. Ayres Britto). 2 A norma
constitucional que institucionaliza a Advocacia Pública
está revestida de eficácia vinculante para todas as
unidades federadas, uma vez que, conforme salienta o
Ministro Celso de Melo, 'no contexto normativo que
emerge o art. 132 da Constituição, e numa análise
preliminar do tema, parece não haver lugar para
nomeações em comissão de servidores públicos que
venham a ser designados, no âmbito do Poder
Executivo, para o exercício de funções de assistência,
de assessoramento ou de consultoria na área jurídica. A
exclusividade dessa função de consultoria remanesce,
agora, na esfera institucional da Advocacia Pública,
exercida [...] por suas respectivas procuradorias-gerais e
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pelos membros que a compõem (TJES, Classe: Arguição
de Inconstitucionalidade na Apelação n.º 07088010074).
3. O art. 21, e o Anexo I, especificamente em relação ao
item Assessor Jurídico, da Lei Complementar n.º 04/11
do Município de Jerônimo Monteiro, devem ser
declarados inconstitucionais em razão de criarem
cargos comissionados, quase que idênticos ao de
Procurador do Município, sem a exigência de prévia
aprovação em concurso público, em flagrante violação
ao art. 122, § 2º, da CE e dos arts. 131, § 1º e 132 da CF. 4
Pedido julgado procedente. Unânime. 5 Atos normativos
impugnados declarados inconstitucionais, com eficácia
erga omnes e efeitos a partir da publicação do
acórdão (por maioria quanto à incidência dos efeitos).
ACÓRDÃO VISTOS, relatados e discutidos estes autos,
em que são partes as acima indicadas, ACORDA a
Primeira Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do
Estado do Espírito Santo, na conformidade da ata e
notas taquigráficas da sessão, que integram este
julgado, em, à unanimidade, julgar procedente o
pedido, com efeito ex nunc, nos termos do voto do
Eminente Relator, divergindo apenas quanto à
modulação o Exmº. Senhor Desembargador Namyr
Carlos de Souza Filho. Vitória, ES, 17 de outubro de 2013.
(TJES, Classe: Direta de Inconstitucionalidade,
100130014341, Relator : WILLIAM COUTO GONÇALVES,
Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, Data de Julgamento:
17/10/2013, Data da Publicação no Diário: 14/11/2013)
À luz do que fora exposto, verifica-se que o disposto no Anexo I da Lei
Complementar nº 02/2013, ao criar cargo de provimento em comissão
de Procurador Jurídico Especial, viola o mandamento constitucional
expresso no artigo 122, §2º, da Constituição Estadual, de que a
advocacia pública constitui atividade exclusiva de advogados
públicos efetivos, razão pela qual deve ser declarada a sua
inconstitucionalidade material/nomoestática.
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III – DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL – DA AUSÊNCIA DE
ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO – OFENSA
AO PRINCÍPIO DO CONCURSO PÚBLICO E AOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – ARTIGO 32, CAPUT, E INCISOS II E V DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO DE 1989
No que tange aos cargos de provimento em comissão, previstos no
Anexo I da Lei Complementar nº 02/2013 do Município de Apiacá,
percebe-se que sua inconstitucionalidade reside no fato de que suas
atribuições não se encontram discriminadas, não se podendo aferir se
são funções atinentes aos cargos de provimento em comissão –
chefia, direção e assessoramento –, o que legitimaria a exceção ao
princípio do concurso público.
Tanto a Constituição Estadual quanto a Carta da República
contemplam dispositivos regentes do tema.
Assim preleciona a Constituição Federal:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
II - a investidura em cargo ou emprego público
depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para
cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;
(...)
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente
por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos
em comissão, a serem preenchidos por servidores de
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carreira nos casos, condições e percentuais mínimos
previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de
direção, chefia e assessoramento;
No mesmo sentido, em enunciado quase idêntico, o texto estadual:
Art. 32. As administrações públicas direta e indireta de
quaisquer dos Poderes do Estado e dos Municípios
obedecerão aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,
finalidade, interesse público, razoabilidade,
proporcionalidade e motivação, e também aos
seguintes:
II - a investidura em cargo ou emprego público
depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexibilidade do cargo ou emprego,
na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações
para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente
por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos
em comissão, a serem preenchidos por servidores de
carreira nos casos, condições e percentuais mínimos
previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de
direção, chefia e assessoramento;
Com efeito, conforme mencionado no item anterior, em matéria de
acesso ao serviço público, a regra constitucional é a de que o ingresso
nas carreiras públicas somente pode se dar após aprovação em
concurso público de provas ou de provas e títulos. Após aprovação,
ocorre a investidura do então candidato em cargo de provimento
efetivo.
Ocorre que a própria Constituição traz as hipóteses em que o concurso
público é prescindível: para as nomeações para cargos de provimento
em comissão, declarados em lei de livre nomeação e exoneração e
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para contratação temporária para o atendimento de necessidade
efêmera de excepcional interesse público.
Interessa, para o deslinde do problema inserto neste tópico, a
interpretação da primeira exceção, a nomeação para cargos em
comissão.
Justamente por serem exceções ao princípio do concurso público,
essas nomeações devem atender a uma baliza teleológica imposta
pelo texto constitucional, a saber, destinarem-se somente às
atribuições de direção, chefia e assessoramento.
Para tanto, exige-se que a lei que cria o cargo comissionado explicite
detalhadamente qual a hipótese apta a ensejar a sua criação, com
força de dispensar a realização do regular concurso público.
Ora, tal mister somente se atinge se a lei contemplar as atribuições
concretas cometidas ao cargo criado. Do contrário, não há como
saber se a atribuição é ou não própria de diretor, chefe ou assessor. Se
assim não fosse, não se poderia aferir se as funções a serem
desempenhadas pelo “comissionado” não seriam afetas a servidor
cujo ingresso há que se dar por meio de concurso público.
Dada a natureza excepcional dessa forma de provimento, cujos
requisitos objetivos estão adrede fixados na Constituição Estadual (e
que os tornam passíveis de indicação por confiança), é evidente que
não basta que o nome deste ou daquele cargo se relacione com o
que alude o permissivo constitucional. Devem conter,
necessariamente, as atribuições que lhe garantam
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constitucionalidade, vale dizer, que permitam se aquilatar a
adequação entre o cargo e a norma constitucional.
Nesse sentido, tem-se que o Anexo I da Lei em questão viola
substancialmente os preceitos constitucionais insertos no artigo 32,
caput e incisos II e V, da Constituição do Estado do Espírito Santo,
acima transcritos, tratando-se, portanto, de inconstitucionalidade
material/nomoestática.
A referida norma vai de encontro à Lei Fundamental Estadual, na
medida em que cria cargos de provimento em comissão sem prever
suas atribuições, de forma a não se poder aferir a compatibilidade
com a forma de investidura.
Isso porque o Anexo I ora guerreado confere aos cargos previstos
nomenclatura que sugere pertinência às funções de direção,
assessoramento e chefia, sem que possa ser observado, no entanto, se
aos cargos efetivamente são atribuídas atividades de direção,
assessoria e chefia.
A jurisprudência caminha no sentido da declaração de
inconstitucionalidade das normas em apreço, senão vejamos:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 37, II E
V. CRIAÇÃO DE CARGO EM COMISSÃO. LEI 15.224/2005
DO ESTADO DE GOIÁS. INCONSTITUCIONALIDADE. É
inconstitucional a criação de cargos em comissão que
não possuem caráter de assessoramento, chefia ou
direção e que não demandam relação de confiança
entre o servidor nomeado e o seu superior hierárquico,
tais como os cargos de Perito Médico-Psiquiátrico, Perito
Médico-Clínico, Auditor de Controle Interno, Produtor
Jornalístico, Repórter Fotográfico, Perito Psicológico,
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Enfermeiro e Motorista de Representação. Ofensa ao
artigo 37, II e V da Constituição federal. Ação julgada
procedente para declarar a inconstitucionalidade dos
incisos XI, XII, XIII, XVIII, XIX, XX, XXIV e XXV do art. 16-A da
lei 15.224/2005 do Estado de Goiás, bem como do
Anexo I da mesma lei, na parte em que cria os cargos
em comissão mencionados. (ADI 3602, Relator(a): Min.
JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em
14/04/2011, DJe-108 DIVULG 06-06-2011 PUBLIC 07-06-
2011 EMENT VOL-02538-01 PP-00027 RIP v. 13, n. 68, 2011,
p. 425-427)
É válido ressaltar que, embora o Presidente da Câmara Municipal de
Apiacá tenha afirmado que as atribuições dos cargos de provimento
em comissão se encontram nas Leis nº 607/2003, 781/2009 e 840/2012
(documento em anexo), constatou-se, mediante análise das mesmas,
que a discriminação diz respeito tão somente às atividades dos órgãos,
o que difere das atividades de cada cargo.
Portanto, resta clarividente que o Anexo I da Lei Complementar
02/2013, ora impugnado, viola substancialmente o princípio do
concurso público e os princípios que regem a Administração Pública,
devendo ter a sua inconstitucionalidade material/nomoestática
declarada.
IV - DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL - VIOLAÇÃO AO ARTIGO
32, INCISO XIV, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO:
Consoante se constata da leitura do Anexo VII da Lei Complementar
nº 02/2013, houve vinculação dos vencimentos do Grupo de
Assessoramento Especial Nível II (CC II-01) e do Grupo de
Assessoramento Especial Nível I (CC-01) aos vencimentos da Lei
847/2012, sendo assegurado para o primeiro, o valor de 90% do
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previsto no artigo 1º da lei e, para o segundo, o valor de 90% do
previsto no artigo 2º.
Deste modo, ao instituir essa modalidade de vinculação dos
vencimentos, o legislador municipal promoveu a vinculação de
espécies remuneratórias, incorrendo, claramente, na vedação contida
no inciso XIV, do artigo 32 da Constituição do Estado do Espírito Santo,
in verbis:
Art. 32. As administrações públicas direta e indireta de
quaisquer dos Poderes do Estado e dos Municípios
obedecerão aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,
finalidade e interesse público, e também aos seguintes:
[...]
XIV - é vedada a vinculação ou equiparação de
quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público;
Nesse sentido, vale transcrever a seguinte lição de Maria Sylvia Zanella
Di Pietro:
O inciso XIII do artigo 37, com a nova redação dada
pela Emenda nº 19, veda a vinculação ou
equiparação para quaisquer espécies remuneratórias
para o efeito de remuneração de pessoal do serviço
público. O que se visa impedir, com esse dispositivo,
são os reajustes automáticos de vencimentos, o que
ocorreria se, para fins de remuneração, um cargo
ficasse vinculado ao outro, de modo que qualquer
acréscimo concedido a um beneficiaria a ambos
automaticamente; isso também ocorreria se os
reajustes de salário ficassem vinculados a
determinados índices, como o de aumento de salário
mínimo, o de aumento de arrecadação, o de títulos
de dívida pública ou qualquer outro. A justificativa
para a proibição é clara, pois a Administração pública,
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para pagar seus servidores, além de depender da
existência de recursos orçamentários, sofre limitações.1
Portanto, a ilustre doutrinadora deixa claro que o intento da vedação
contida no artigo 37, inciso XIII da Constituição da República (norma
repetida pelo artigo 32, inciso XIV da Constituição Estadual) é obstar
que ocorram reajustes automáticos de remuneração de uma classe
sempre que a outra classe, a qual aquela se vincula, reajustasse seus
vencimentos.
Ora, é exatamente nesta situação que se enquadra a legislação ora
impugnada, haja vista que a Lei Complementar nº 02/2013
estabeleceu, para fins de vencimento, a vinculação aqueles
estabelecidos na Lei nº 847/2012.
Portanto, resta clarividente que o Anexo VII ora impugnado viola
substancialmente o disposto no artigo 32, inciso XIV, da Constituição
Estadual, devendo ser declarada a sua inconstitucionalidade
material/nomoestática.
V – DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL – DO CARGO DE ASSESSOR
JURÍDICO: DEFENSOR PÚBLICO – VIOLAÇÃO OS PRINCÍPIOS DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A CONSEQUENTE AFRONTA AO ARTIGO 20 DA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
Analisando-se o disposto acerca do cargo de Assessor Jurídico –
Defensor Público Municipal, com previsão no artigo 4º, III, “b”, e no
Anexo I da Lei nº 01/11 do Município de Apiacá, notam-se vícios de
1 In: Direito Administrativo, 12, ed. Atlas, 2000. P. 430.
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inconstitucionalidade material, conforme se passa a expor
detalhadamente.
Cumpre elucidar que a Constituição do Estado do Espírito Santo prevê
que a Defensoria Pública se trata de instituição essencial à função
jurisdicional do Estado, senão vejamos:
Art. 123. A Defensoria Pública é instituição essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
orientação jurídica e, em todos os graus, a defesa dos
que comprovarem insuficiência de recursos.
Diante da essencialidade de sua função para a prestação
jurisdicional, nota-se não ser razoável que a mesma seja estabelecida
na esfera municipal, haja vista que a Justiça somente se encontra
estruturada a nível estadual e federal.
Portanto, infere-se que a previsão de Defensoria Pública municipal não
observa a estrutura organizacional da Justiça, uma vez que o
Município se trata de unidade de federação em que a mesma não se
situa.
Importa registrar que o artigo 20 da Constituição do Estado do Espírito
Santo dispõe que o Município, ao instituir sua lei orgânica e as demais
leis, deve se atentar para os princípios da Constituição da República e
da Constituição Estadual.
Art. 20. O Município rege-se por sua lei orgânica e leis
que adotar, observados os princípios da Constituição
Federal e os desta Constituição.
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Nesse sentido, infere-se que a Constituição da República, ao disciplinar
acerca da Defensoria Pública em seu artigo 134, somente se refere à
instituição no âmbito da União, dos Territórios, do Distrito Federal e dos
Estados.
Isso significa que foi opção legislativa do constituinte originário não
estipular o referido órgão no âmbito municipal, seguindo-se a estrutura
organizacional estipulada ao Poder Judiciário e ao Ministério Público.
É válido ressaltar que foi proposta a PEC nº 12/2007, de autoria da
Deputada Federal Solange Amaral e outros, com o objetivo de criar a
Defensoria Pública municipal. Porém, esta obteve parecer
desfavorável por meio do controle prévio realizado pela Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania2.
Salientou-se que a instituição deste órgão no Município afrontaria os
preceitos constitucionais da forma federativa de Estado, da
separação dos poderes e criaria uma obrigação para os Municípios
colidente com o princípio da simetria constitucional, uma vez que não
há Poder Judiciário municipal, Ministério Público municipal, nem
mesmo previsão de Defensoria Pública para este âmbito.
Nesse viés, o Deputado Relator apresentou a seguinte
fundamentação:
Na verdade, falta ao legislador constituinte derivado a
autonomia material para alterar a organização político-
2 Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania: proposta de emenda à
Constituição nº 12, de 2007. Relator Deputado Valtenir Pereira. 16 jul. 2008. Disponível
em: < http://www.camara.gov.br/sileg/integras/588084.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016.
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administrativa quando transfere as obrigações das
Defensorias Públicas, órgão administrativo autônomo de
competência da União, Estado-membro e Distrito
Federal para os Municípios, instituindo mais um ônus aos
minguados orçamentos municipais3.
Diante do exposto, constata-se que não cabe ao legislador derivado a
alteração da estrutura organizacional conferida constitucionalmente
com o objetivo de se transferir as obrigações da Defensoria Pública da
União e dos Estados para os Municípios.
A Constituição da República, ao estipular Poder Judiciário, Ministério
Público e Defensoria Pública somente no âmbito da União, Estados-
membros e Distrito Federal, optou por conferir autonomia política
limitada aos Municípios.
Dessa maneira, a Constituição do Estado do Espírito Santo, baseando-
se no princípio da simetria4, dispôs que é de inciativa privativa do
3 Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania: proposta de emenda à
Constituição nº 12, de 2007. Relator Deputado Valtenir Pereira. 16 jul. 2008. Disponível
em: < http://www.camara.gov.br/sileg/integras/588084.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2016.
p. 3. 4 Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime
democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos
humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais
e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV
do art. 5º desta Constituição Federal.
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal
e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em
cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas
e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o
exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou
Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso
Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais
Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
previstos nesta Constituição.
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre:
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Governador do Estado as leis que façam previsão acerca da
organização da Defensoria Pública, não havendo, portanto, qualquer
menção ao Chefe do Poder Executivo municipal, senão vejamos:
Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou
comissão da Assembleia Legislativa, ao Governador do
Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e
aos cidadãos, satisfeitos os requisitos estabelecidos
nesta Constituição.
Parágrafo único. São de iniciativa privativa do
Governador do Estado as leis que disponham sobre:
V - organização do Ministério Público, da Procuradoria
Geral do Estado e da Defensoria Pública;
Em sede de controle de constitucionalidade quanto ao tema, já
decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ARTIGO 9º
DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS E TRANSITÓRIAS DA
LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE CASTELO, LEIS
MUNICIPAIS 1.284⁄91 E 1.391⁄91, E, POR ARRASTAMENTO,
ARTIGO 120, VI, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI MUNICIPAL
2.507⁄2007 - CRIAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DE ÓRGÃO
DE DEFENSORIA PÚBLICA MUNICIPAL - PRELIMINAR -
PREJUDICIALIDADE - VACÂNCIA DO CARGO DE
DEFENSOR QUE NÃO EQUIVALE À SUA EXTINÇÃO -
PRELIMINAR REJEITADA - MÉRITO - VÍCIO DE INICIATIVA -
LEIS MUNICIPAIS QUE OFENDEM A INICIATIVA PRIVATIVA
DO CHEFE DO EXECUTIVO ESTADUAL -
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL RECONHECIDA -
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL - IMPOSSIBILIDADE
DE CRIAÇÃO DE DEFENSORIA PÚBLICA NO ÂMBITO
MUNICIPAL - MATÉRIA RESTRITA AOS ENTES ESTADUAL E
FEDERAL E QUE TRANSCENDE O INTERESSE LOCAL -
OFENSA AOS ARTIGOS 123 E SEU PARÁGRAFO ÚNICO DA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL, E 24, XIII, DA CF⁄88 - AÇÃO
DIRETA JULGADA PROCEDENTE.
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como
normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
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1 - Não prejudica o julgamento meritório de Ação Direta
de Inconstitucionalidade movida em face de artigos da
legislação Municipal que preveem a criação e
organização de órgão municipal de Defensoria Pública,
a superveniência de Lei Ordinária Municipal que coloca
referido órgão em vacância, vez que, até que esta
ocorra, as normas atacadas continuarão a produzir
efeitos. Preliminar rejeitada.
2 - Determina o artigo 63, parágrafo único, V, da
Constituição Estadual, a iniciativa privativa do Chefe do
Poder Executivo Estadual quanto às leis que disponham
sobre organização do Ministério Público, da
Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública.
Tendo a legislação atacada sido produzida em âmbito
municipal, patente sua inconstitucionalidade formal em
virtude do vício de iniciativa. Precedente do órgão
plenário deste Egrégio Tribunal de Justiça (ADI
100990006874, Rel. Des. Amim Abiguenem, j. 24.08.2000,
DJ 14.09.2000).
3 - O artigo 24, XIII, da Constituição Federal, estabelece
a competência concorrente entre União e Estados para
legislar acerca de assistência jurídica e defensoria
pública, norma esta materializada, em nosso Estado,
pelo artigo 123, parágrafo único, da Constituição
Estadual, que prevê a necessidade de Lei
Complementar Estadual para organização da
Defensoria em órgãos de carreira, providos mediante
concurso público.
4 - Promoção da atividade jurídica que transcende o
âmbito do interesse local, impedindo a criação, no
âmbito municipal, de órgãos de defensoria pública, da
mesma forma como não existem Poder Judiciário ou
Ministério Público municipais. Precedentes doutrinários.
5 - Ação Direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade formal e material dos artigos 9º,
das Disposições Constitucionais e Transitórias da Lei
Orgânica do Município de Castelo (que previu a
existência de órgão de defensoria pública municipal),
bem como, na íntegra, das Leis Municipais 1.284⁄91 e
1.391⁄92 (que a organizaram) e, por arrastamento, do
art. 120, VI, parágrafo único, da Lei Municipal 2.507⁄2007
(que pôs o cargo de Defensor Municipal em vacância).
(TJES, Classe: Procedimento Ordinário, 100090021302,
Relator : CARLOS SIMÕES FONSECA, Órgão julgador:
TRIBUNAL PLENO, Data de Julgamento: 08/07/2010, Data
da Publicação no Diário: 14/10/2010)
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Nesse sentido também decidiram os Tribunais de Justiça dos Estados
de Minas Gerais e da Bahia, como pode ser observado a seguinte:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI
MUNICIPAL - CONTRATO TEMPORÁRIO - FUNÇÕES -
EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO - AUSÊNCIA - CARÁTER
ESSENCIAL E PERMANENTE - CLÁUSULA ABERTA E
GENÉRICA - IMPOSSIBILIDADE - INCONSTITUCIONALIDADE
- LEI MUNICIPAL - CRIAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA
MUNICIPAL - COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE
DA UNIÃO E DOS ESTADOS - OFENSA AO ART. 165, § 1º,
DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL - PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
Não se admite a manutenção no ordenamento jurídico
municipal de dispositivos de lei que contenham
cláusulas abertas e genéricas, quando estas possam
implicar ofensa à Constituição Estadual. São
inconstitucionais os dispositivos de Lei Municipal que
autorizam a celebração de contratos temporários para
funções de caráter essencial e permanente na
Administração Pública, ofendendo o disposto no art. 22,
da Constituição do Estado. Incabível a interpretação
conforme a Constituição quando a técnica enseja a
criação de norma jurídica, atividade própria do Poder
Legislativo. É inconstitucional por ofensa ao art. 165, § 1º,
da Constituição do Estado de Minas Gerais, Lei
Municipal que dispõe sobre a criação da Defensoria
Pública Municipal, prevendo inclusive a contratação
temporária para o cargo de Defensor Público Municipal,
já que compete concorrentemente à União e aos
Estados legislar sobre tal matéria. Julgada procedente a
ação (TJ-MG - Ação Direta Inconst: 10000110753712000
MG, Relator: Kildare Carvalho, Data de Julgamento:
10/04/2013, Órgão Especial / ÓRGÃO ESPECIAL, Data
de Publicação: 23/08/2013)
ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL Nº 2.114/2009
INSTITUIU NA SUA ESTRUTURA BÁSICA A DEFENSORIA
PÚBLICA MUNICIPAL - IMPOSSIBILIDADE - VIOLAÇÃO QUE
IMPORTA EM VÍCIO DE INCONSTITUCIONALIDADE –
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA BAHIA. ATO
NORMATIVO IMPUGNADO - INCONSTITUCIONALIDADE.
AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. (TJ-BA - ADI:
03123848720128050000 BA 0312384-87.2012.8.05.0000,
Relator: Maria da Graça Osório Pimentel Leal, Data de
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Julgamento: 09/10/2013, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: 23/10/2013)
Portanto, deve-se ter em mente que a autonomia administrativa e
política dos Municípios não autoriza a elaboração de Leis Orgânicas e
Leis Municipais em completo descompasso com a Constituição da
República e com a Constituição Estadual.
Em outros termos, o Município não pode, em total contrassenso ao
determinado pelas Constituições da República e Estadual, criar a sua
própria Defensoria Pública, pois estaria adotando um modelo
assimétrico ao constitucionalmente desenhado.
Logo, através da aplicação do princípio da simetria, amplamente
reconhecido na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, e da
interpretação sistemática da Constituição, tem-se que a Defensoria
Pública é instituição que somente pode existir no âmbito da União, do
Distrito Federal e dos Estados.
No caso em análise, contudo, o Município de Apiacá laborou em
flagrante inconstitucionalidade ao regular o cargo de Assessor Jurídico
- Defensor Público Municipal, uma vez que incumbiu a assistência
jurídica integral e gratuita dos necessitados a órgão que não tem
amparo constitucional.
É válido ressaltar também que, além disso, a o cargo é disciplinado
dentro do quadro de servidores do Poder Executivo, o que jamais
pode ocorrer, tendo em vista que a Defensoria Pública se trata de
órgão primário (ou independente), que não se sujeita a qualquer
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subordinação hierárquica ou funcional e nem integra a Tripartição de
Poderes.
Com base no exposto acima, verifica-se que o disposto no artigo 4º, III,
“b”, e no Anexo I da Lei nº 01/11 do Município de Apiacá viola o
mandamento constitucional expresso no artigo 20 da Constituição
Estadual, razão pela qual deve ser declarada a sua
inconstitucionalidade material/nomoestática.
VI – NORMA QUE EXCEDE A COMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL.
VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 19, IV, 20 E 28, I, DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
Conforme já citado, o artigo 4º, III, “b”, e o Anexo I da Lei nº 01/11 do
Município de Apiacá disciplinam acerca do cargo de Assessor Jurídico
- Defensor Público Municipal.
Tal disposição, por sua vez, contraria norma federal sobre o assunto,
bem como norma estadual que prevê a necessidade de os Municípios
observarem os princípios da Constituição da República.
Para exata compreensão da matéria, cumpre ressaltar a princípio que
a Defensoria Pública foi elencada pela Constituição da República
como matéria cuja competência legislativa é concorrente entre a
União, os Estados e o Distrito Federal5.
5 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
(...)
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
(...)
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A Constituição Estadual do Espírito Santo, consoante os termos da
Constituição da República, dispôs que:
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Art. 19. Compete ao Estado, respeitados os princípios
estabelecidos na Constituição Federal:
(...)
IV - exercer, no âmbito da legislação concorrente, a
competente legislação suplementar e, quando couber,
a plena, para atender às suas peculiaridades;
Art. 20. O Município rege-se por sua lei orgânica e leis
que adotar, observados os princípios da Constituição
Federal e os desta Constituição.
Art. 28. Compete ao Município:
I - legislar sobre assunto de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e estadual no que
couber;
Compete, assim, à União e aos Estados legislar concorrentemente
sobre a assistência jurídica e a Defensoria Pública: enquanto a primeira
estabelece normas gerais, os Estados complementam a legislação
federal.
Os Municípios, por sua vez, não poderão suplementar a legislação
federal e estadual quanto ao tema, como será detalhado adiante.
O Município não possui competência legislativa para instituir ou
organizar Defensoria Pública, visto que não se trata de norma de
interesse local, em razão de a existência de Defensoria Pública
Municipal não ser compatível com a estrutura organizacional da
Justiça, conforme visto no Tópico anterior.
§1º- No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais.
§ 2º- A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
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Além disso, infere-se que o Município, ao estabelecer sua lei orgânica
e demais leis, deve observar os princípios consagrados na Constituição
da República.
Nesse aspecto, cumpre ressaltar que a Constituição da República
disciplina que somente a União, os Estados e o Distrito Federal podem
legislar, concorrentemente, acerca da Defensoria Pública.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
Soma-se a esse dispositivo a previsão de que somente os Estados
possuem competência legislativa residual6, restando vedada,
portanto, a criação de Defensorias pelos Municípios.
Ademais, para se legislar acerca da organização do referido órgão se
faz necessária Lei Complementar, tendo a Constituição da República
previsto iniciativa privativa do Presidente da República7 pata tanto e a
6 Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que
adotarem, observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição. 7 Art. 134. (...)
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal
e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em
cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas
e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o
exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.
Art. 61. (...)
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre:
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como
normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
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Constituição do Estado do Espírito Santo, por simetria, previsto iniciativa
privativa do Governador do Estado8.
Diante do exposto, resta claro que o legislador municipal excedeu a
competência legislativa do Município ao disciplinar sobre o cargo de
Assessor Jurídico - Defensor Público Municipal, devendo ser decretada
a inconstitucionalidade do artigo 4º, III, “b”, e do Anexo I da Lei nº
01/11 do Município de Apiacá, por violação aos artigos 19, IV, 20 e 28,
II da Constituição do Estado do Espírito Santo.
IV – DOS PEDIDOS
Ex positis, requer:
a) A notificação do Prefeito Municipal de Bom Jesus do Norte e do
Presidente da Câmara Municipal de Bom Jesus do Norte, para os
fins previstos no artigo 169, alínea a, do Regimento Interno deste
Egrégio Tribunal de Justiça;
b) Seja a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada
procedente, declarando-se a inconstitucionalidade material do
Anexo I e do Anexo VII da Lei Complementar nº 02/2013 do
Município de Apiacá, quanto ao cargo de Procurador Jurídico
8 Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou comissão da
Assembleia Legislativa, ao Governador do Estado, ao Tribunal de
Justiça, ao Ministério Público e aos cidadãos, satisfeitos os requisitos
estabelecidos nesta Constituição.
Parágrafo único. São de iniciativa privativa do Governador do Estado
as leis que disponham sobre: V - organização do Ministério Público, da Procuradoria Geral do Estado e da
Defensoria Pública.
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Especial e a ausência de atribuições dos cargos de provimento
em comissão e quanto à vinculação de remuneração,
respectivamente, e a inconstitucionalidade material e formal do
art. 4º, III, “b”, e do Anexo I da Lei Complementar nº 01/2011 do
Município de Apiacá, em relação ao cargo de Assessor Jurídico
– Defensor Público Municipal, adotando-se as providências
necessárias para que cessem, ex nunc, todos os seus efeitos.
V – DO VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa, por força de expressa disposição legal, o valor de
R$100,00 (cem reais).
Termos em que,
Pede deferimento.
Vitória, 15 de fevereiro de 2016.
EDER PONTES DA SILVA
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA