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Page 1: EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS … · de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), situada no Jardim Maria Inês (gráficos 1-2-3, anexos). Ainda em relação ao deficiente

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS4ª Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia

EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA ____VARA CÍVEL DA COMARCA DE

APARECIDA DE GOIÂNIA-GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, através da 4ª

Promotoria de Justiça, no uso de suas atribuições legais, nos termos dos arts. 129, III e 225,

caput, da Constituição Federal e com fundamento na lei federal n.º 7347/85, vem, diante desse

juízo propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL, em desfavor do

SANEAGO – Saneamento de Goiás S/A, CNPJ n. 01.616.929/0001-02, empresa

pública, com sede na Av. Fued Sebba nº 570 - Jardim Goiás - Goiânia - GO / Fone: (62)

243-3300,

pelos fatos e fundamentos de Direito a seguir expostos:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS4ª Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia

DOS FATOS

Às margens do Córrego Almeida, sub-afluente do córrego Santo Antônio, que por

sua vez deságua na bacia do Meia Ponte, a SANEAGO construiu uma Estação de Tratamento

de Esgoto – ETE, Cruzeiro do Sul, que entrou em funcionamento no ano de 1988.

O córrego Almeida é o eixo principal dessa microbacia, cuja drenagem é

estritamente urbana.

A ETE Cruzeiro do Sul está construída dentro dos limites da área de preservação

permanente do Córrego Almeida e está incomodando os moradores vizinhos com o odor

fétido e com a poluição da água do córrego à jusante da ETE. A população vizinha da ETE,

essencialmente residencial, reclama problemas de saúde decorrentes da poluição gerada pela

ETE.

Em maio de 2001, o Ministério Público recebeu denúncia de agressões ao córrego

Almeida, por ocupações de particulares na APP do córrego, erosões, bem como da poluição

da ETE Cruzeiro do Sul.

Foi obtida então, por ocasião das investigações, uma monografia de graduação,

com o título “Caracterização Sócio-Ambiental da Microbacia do Córrego Almeida em

Aparecida de Goiânia”, elaborada por Sílvia de Freitas Alves, de março de 1999, na

Universidade Federal de Goiás.

Nessa monografia, a geógrafa descrevendo a situação da ocupação da microbacia

do Córrego Almeida, traz o problema trazido pela ETE Cruzeiro do Sul, à população vizinha.

Transcrevemos parte do texto:

Dentre os problemas identificados durante a realização das entrevistas, os

mais ressaltados pelos moradores da área objeto foram: a questão da falta de

infra-estrutura (água, esgoto etc.) e o mal cheiro ocasionado pela existência

de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), situada no Jardim Maria

Inês (gráficos 1-2-3, anexos).

Ainda em relação ao deficiente sistema de esgoto, dos dezesseis bairros que

compreendem a microbacia apenas seis contam cm o tratamento de esgoto.

São eles: Setor dos Afonsos, Vila Brasília, Jardim Maria Inês, Jardim Luz,

Conjunto Cruzeiro do Sul e Vila São Tomaz.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS4ª Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia

Segundo a população, é impossível conviver com o mau cheiro exalado pela

estação. Uma moradora demonstra muito bem a gravidade do problema “não

há como suportar o mau cheiro, nem dá para a gente comer direito. E

quando o vento sopra nessa direção a coisa fica pior. Já fui ao médico

porque eu tinha dores de cabe;a todos os dias, mas não adiantou nada, o

problema está nesta estação”.

Em 18 de maio de 2001, o Secretário Municipal do Meio Ambiente de Aparecida

de Goiânia, Jório Coelho Rios, envia ofício ao Ministério Público providências quanto à

degradação da microbacia do Córrego Almeida, com a seguinte narrativa:

Esclarecemos ainda que toda a microbacia do Córrego Almeida está

comprometida pela estação de tratamento de esgoto da Saneago, sendo que a

mesma joga seus efluentes no córrego e pelos chacareiros circunvizinhos,

que possuem criação de porcos e nenhum cuidado com o manancial.

No Jornal semanal de Aparecida de Goiânia, dos dias 7 a 12 de setembro de 2004, Jornal

O Parlamento, foi veiculada uma matéria com o título: DESCASO DA SANEAGO. Parte dessa

reportagem diz a respeito da ETE Cruzeiro do Sul. Transcrevemos:

Além da falta de água, os moradores denunciam a empresa de poluir o leito

do Córrego do Almeida e proporcionar o mau cheiro nas mediações de uma

das estações de tratamento de esgoto.

(...)

Juliano Cardoso, comandante da Anjos Verdes, organização não

governamental que luta pela preservação da natureza em Goiás, denunciou a

Saneago por poluir o leito do Córrego do Almeida com esgoto.

Acompanhando a reportagem, ele mostrou o leito do córrego com a água

transparente antes de entrar na estação de tratamento de esgotos localizada

na região do Jardim Maria Inês e da Vila Brasília. Logo após, o comandante

Cardoso mostrou a cor e o cheiro da água quando o Córrego deixa a área da

estação. “Acima da estação a água é transparente e sem cheiro. Abaixo da

estação a água é suja e com um cheiro insuportável. Alem disso, esta estação

de tratamento de esgoto esta instalada em local impróprio, em uma região

residencial. Os moradores não estão suportando a fedentina, nem os

criatórios de mosquitos transmissores de doenças. É um contra-senso, a

Saneago está fazendo campanhas para despoluir o Rio Meia Ponte e, ao

mesmo tempo, polui um de seus afluentes”.

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(...)

João Lucas Pereira, de 57 anos, mora em frente à estação de tratamento de

esgotos da Saneago localizada na Região do Jardim Maria Inês. Ele revela

que o odor é insuportável em certas horas do dia. “Na época do calor até os

estudantes do colégio não suportam o odor. Existem dias que minha família

é obrigada a lacrar a casa para almoçar. Os mosquitos também aumentam

com o calor. A situação não atinge somente meu bairro, todos os setores da

região sofrem cm este descaso”, desabafou João Lucas.

A ETE Cruzeiro do Sul em questão, faz parte do sistema de coleta e tratamento de esgoto

em Goiânia que atualmente é atendido por três ETEs: Aruanã, Parque Atheneu e Cruzeiro do Sul.

Essas estações tratam apenas 7% do esgoto de Goiânia1.

Em Aparecida de Goiânia existem apenas duas ETEs: essa em questão – ETE Cruzeiro do

Sul, que atende parcialmente nossa cidade, e ainda produz impactos ambientais negativos, e a ETE

Lajes, que entrou em funcionamento a cerca de dois anos.

No sistema de coleta e tratamento de esgotos de Goiânia, encontra-se em obras o Sistema

Anicuns, ETE Dr. Hélio de Brito Seixas, constituído do Interceptor Anicuns, estação Elevatória

Anicuns, Estação Elevatória João Leite e Estação de Tratamento de Esgotos. A execução destas obras

elevará o índice de tratamento de esgotos coletados na capital para cerca de 75%. A conclusão está

prevista para o ano 2002.

O processo de tratamento a ser implantado será o de Lodos Ativados com Precipitação

Química, cuja previsão de implantação da 2ª etapa é para o ano 2010, com tempo de alcance do

projeto por mais 15 anos (ano 2025).

No website da SANEAGO, obteve-se dados sobre a ETE Cruzeiro do Sul, quais sejam:

E.T.E - CRUZEIRO DO SUL

Bairros Atendidos Conjunto Cruzeiro do sul, Jardim Luz, Setor dos Afonsos,

Jardim Nova Era, Vila Brasília, Vila São Thomas, Jardim

Maria Inês.População Atendida 40.892 habitantesProcesso de Tratamento 2 lagoas facultativas aeradas e uma lagoa de sedimentação em

sérieEficiência 88%Inicio de Operação Setembro de 1988

1 www.saneago.com.br

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Essa possibilidade de implantar uma ETE para atender Goiânia e parte de Aparecida de

Goiânia se dá pelo fato de serem municípios conurbados e fazer parte da região metropolitana, como

mostra o mapa abaixo:

DO DIREITO

O direito ambiental se ocupa da defesa jurídica da vida.

O direito à vida em todas as suas formas, estabelecido pelo art. 225, da

Constituição Federal, deve ser ecologicamente equilibrado, ou seja, restou assegurado o

direito à vida relacionado com o meio, com o recinto, com o espaço em que se vive. O meio

ambiente ecologicamente equilibrado envolve para a pessoa humana – principal destinatário

do direito constitucional. Assim, a definição jurídica, no plano constitucional, de meio

ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito à tutela da pessoa humana, assim como de

outras formas de organismos, com o local onde se vive.

A falta de implementação e, portanto, de cumprimento das normas ambientais põe

em risco a pessoa humana, todas as outras formas de vida (flora e fauna) e o lugar onde essas

vivem.

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Daí a importância do cumprimento de tais normais, devendo ser identificadas as

causas do problema para buscar as soluções para esse problema, pois o objeto que se tutela é a

própria vida.

O art. 225, “caput”, da Constituição Federal estatui:

Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações.

(...)

§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e

administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados.

A Lei Federal, avançado diploma jurídico de 1981, que instituiu a Política

Nacional de Meio Ambiental, n. 6.938/81, traz definições sobre meio ambiente, poluição e

poluidor:

Art. 3º. Para os fins previstos neta lei, entende-se por:

I – meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de

ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas

as suas formas;

II – degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das

características do meio ambiente;

III – poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades

que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente.” – grifo

nosso.

IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,

responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação

ambiental”.

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V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e

subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos

da biosfera, a fauna e a flora.

Tendo em vista esses conceitos legais, pode-se afirmar que a SANEAGO é

poluidora, pois a Estação de Tratamento de Esgoto Cruzeiro do Sul está provocando

degradação da qualidade ambiental. A comunidade vizinha está sofrendo mal-estar, tendo a

saúde ameaçada pelo funcionamento da ETE e essa está causando alteração no Córrego

Almeida, poluindo suas águas, além de estar instalada dentro da área de preservação

permanente desse curso hídrico.

A ETE é uma fonte poluidora e está sujeita ao licenciamento ambiental, inclusive

com realização de EIA/RIMA. A portaria n. 01/2002, da Agência Ambiental do Estado, diz

que esse tipo de empreendimento deve estar a uma distância de 200 m (duzentos metros), da

cota de inundação de qualquer manancial no Estado.

No entanto, a ETE Cruzeiro do Sul está dentro da área de preservação desse

córrego.

A referida Portaria dispõe:

Art.1º - Adotar as seguintes exigências de ordem técnica para os

empreendimentos que se sujeitam por força de lei ao licenciamento

ambiental, assim como novos empreendimentos que venham a se instalar nas

proximidades a qualquer manancial do Estado de Goiás, como

seguem:

1. Afastamento mínimo da cota máxima de inundação, de 200 (duzentos)

metros do leito de qualquer manancial no Estado de Goiás.

A conduta da SANEAGO, instalando a ETE em área de preservação permanente,

poluindo as águas do Córrego Almeida, trata-se de ilícito civil e penal.

Área de Preservação Permanente é a área coberta ou não por vegetação nativa,

com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade e a

fertilidade do solo, a biodiversidade, assim como, de proteger a fauna e a flora e assegurar o

bem-estar das populações humanas. A área de preservação permanente é intocável e a

supressão parcial ou total da sua vegetação só será autorizada em caso de utilidade pública ou

de interesse social. Quando tratar-se de área de preservação permanente em propriedade rural,

a sua supressão dependerá de autorização do órgão ambiental competente.

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Nos termos da Lei Complementar Municipal n. 05, de 30 de janeiro de 2002,

artigo 50, parágrafo único, inciso I, considera-se como Área de Preservação Permanente, I - as faixas bilaterais contíguas aos cursos d’água permanentes e

temporários, com largura mínima de 50 (cinqüenta) metros, a partir das

margens ou cota de inundação para todos os córregos; de 100 (cem) metros

para o Rio Meia Ponte e os ribeirões das Lajes e Dourados, desde que tais

dimensões propiciem a preservação de suas planícies de inundação ou

várzeas.

II – as áreas circundantes das nascentes permanente e temporárias, de

córrego, ribeirão e rio, com um raio de mínimo 100 (cem) metros podendo o

órgão municipal competente ampliar esses limites, visando proteger a faixa

de afloramento do lençol freático.

O Código Florestal Federal, lei 4771/65, diz que constitui Área de Preservação

Permanente a área situada:

I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção

horizontal, com largura mínima, de:

a) trinta metros, para o curso d`água com menos de dez metros de largura;

(...)

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água",

qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50

(cinquenta) metros de largura (Redação dada pela Lei nº 7.803 de

18.7.1989).

O Código Florestal Estadual, lei 12.596, de 14 de março de 1995, dispõe sobre

o que vem a ser área de preservação permanente, em seu artigo 5º:

Art. 5º - Consideram-se de preservação permanente, em todo o território do

Estado de Goiás, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

(...)

II - ao longo dos rios ou qualquer curso d'água, desde seu nível mais alto,

cuja largura mínima, em cada margem, seja de:

a) 30m (trinta metros), para curso d'água com menos de 10m (dez metros) de

largura;

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b) 50m (cinqüenta metros), para o curso d'água de 10m a 50m (dez a

cinqüenta Metros) de largura;

(...)

IV - nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados "olhos d'água",

qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50m

(cinqüenta metros) de largura;

A lei de crimes ambientais – lei federal 9.605/98 identifica tipos penais, adequados em

tese, à conduta, da SANEAGO, no presente caso:

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,

mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou

possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de

animais ou a destruição significativa da flora:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

DA LIMINAR

A fumaça do “bom direito” cinge-se à legislação municipal, estadual, federal,

acrescido da alusão a dispositivos da Constituição Federal acima mencionadas.

O “perigo da demora” reside na característica de fragilidade do ambiente –

microbacia do Córrego Almeida frente às agressões da ETE Cruzeiro do Sul há vários anos, e

aos prejuízos à população vizinha.

A situação é bastante grave e providências urgentes devem ser tomadas para

paralisar essa agressão continuada ao Córrego Almeida, nesse município, bem como colher os

dados, o mais rápido possível da extensão do dano ambiental já verificado na área atingida.

O Ministério Público requer como medida liminar que seja determinado à

SANEAGO:

I – que apresente nos autos no prazo de 10 (dez) dias:

a) relatórios de monitoramento da qualidade da água do Córrego Almeida,

realizados pela SANEAGO, desde a sua entrada em funcionamento – ano de 1988, a montante

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e a jusante da ETE Cruzeiro do Sul, situada no Setor Jardim Maria Inês, apresentando dados

anuais;

b) licença ambiental atualizada da ETE;

c) o RIMA (relatório de impacto ambiental) desse empreendimento, feito por

ocasião do licenciamento ambiental.

II – que realize auditoria ambiental interna (conduzida por profissionais da

SANEAGO) e independente (terceiros contratados), cuja empresa ou profissionais

competentes, que deverão ser indicados por esse juízo, sobre o desempenho da ETE, no prazo

de 20 (vinte) dias e junte os resultados, nos autos.

Requer-se, ainda, seja oficiada a Agência Ambiental do Estado de Goiás, para que

essa:

I – realize uma auditoria ambiental no empreendimento de responsabilidade da

SANEAGO – ETE Cruzeiro do Sul, situada às margens do córrego Almeida, para verificar

seu comportamento em relação ao meio ambiente;

II – que analise a viabilidade de atendimento pela SANEAGO, em relação à ETE

Cruzeiro do Sul, da portaria n. 01/2002, da Agência Ambiental do Estado, indicando

alternativa de adequação.

Finalmente, requer-se ainda seja determinada a cominação de multa pecuniária

diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), em havendo descumprimento da ordem judicial,

ora pleiteada.

DO PEDIDO

Ante o exposto, o Ministério Público requer:

1. o deferimento initio litis da medida liminar, após a oitiva do réu, nos termos

da legislação vigente;

2. a citação do representante legal da SANEAGO – Saneamento de Goiás S/A,

para querendo, responder à presente ação, sob pena de revelia;

3. a procedência, in totum, da presente ação, ora proposta, com a condenação da

requerida

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3.1 na OBRIGAÇÃO DE FAZER consistente em:

• retirar as construções e quaisquer benfeitorias da ETE Cruzeiro do Sul, da área

de preservação do Córrego Almeida nesse município, nos termos da legislação

ambiental, no prazo de 02 (dois) meses;

• recuperar a APP (solo e vegetação nativa), nos termos da legislação ambiental

vigente, no prazo de 04 (quatro) meses;

• atendimento ao disposto na portaria n. 01/2002, da Agência Ambiental do

Estado de Goiás, de acordo com o parecer técnico desse órgão, a ser elaborado

no curso do processo.

3.2 Na OBRIGACAO DE NÃO FAZER consistente na proibição de poluir as

águas do córrego Almeida, através do lançamento de seus efluentes nesse

manancial, nos termos da legislação vigente.

3.3 No pagamento de INDENIZAÇÃO, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil

reais), a serem revertido ao Fundo Municipal do Meio Ambiente, como

ressarcimento aos danos de ordem ambiental causados à coletividade e ao

meio ambiente até o presente momento.

4. Protesta provar o alegado, por intermédio de toda prova em Direito admitida.

Dá-se à causa o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), para efeitos fiscais e de

atendimento à lei.

Pede deferimento.

Aparecida de Goiânia, 13 de setembro de 2004.

Miryam Belle Moraes da Silva

4ª Promotora de Justiça

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