ex defensoria - aula 07 - civil obrig cristiane xavier - parte 1

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_________________________________________________________________________________________________________ Transcrição por: J.A.K – informações: 7879-8034 – [email protected] Transcrição Turma de Exercícios Diurna (16/03/2010 a 29/04/2010) FESUDEPERJ – Fundação Escola Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro 1 TURMA DE EXERCÍCIOS DIURNA CONCURSO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO AULA 07 – 30/03/2010 – DIREITO CIVIL – OBRIGAÇÕES E CONTRATOS PROFESSORA: CRISTIANE XAVIER - Mantenham-se atualizados com as súmulas e informativos A principal dificuldade que enfrentamos com obrigações e contratos é permanecer na matéria, mas sabemos que a prova da Defensoria não é objetiva e, por isso as respostas devem estar em português correto, com a demonstração das controvérsias, artigos e súmulas. Respondam exatamente ao que foi perguntado e se o aluno domina obrigações, domina contratos, pois o Direito das Obrigações, em relação aos contratos, é regra geral. Após isso estudamos a teoria geral dos contratos. Direito das Obrigações O ponto que não podemos esquecer jamais nesse tema é o que sofreu alteração do Código Civil de 1916 para o Código Civil de 2002 e tudo isso se deve à palavra-chave: COOPERAÇÃO, pois é ela que traz, tanto do devedor como do credor, a observância de relações recíprocas para o cumprimento daquela relação obrigacional pactuada e, nesse momento, surgem os chamados deveres anexos da boa-fé, que abordam a conduta de ambos (devedor e credor). Desse dever principal de cooperação surgem várias ilações, inclusive a violação positiva do contrato (questão que já foi objeto da prova do MP). Sempre que falarmos de obrigações, além da COOPERAÇÃO, também não podemos esquecer-nos do nascimento da prestação, pois e diante do momento do nascimento dela é que vamos passar a diferenciar as obrigações nas suas modalidades: dar, fazer, não fazer e restituir. Daí a necessidade de guardarmos mentalmente a seguinte linha do tempo: As modalidades de pagamento indireto existentes são: 1) consignação em pagamento; 2) Dação em pagamento; 3) Subrogação; 4) Confusão; 5) Remissão. São tidas como NASCIMENTO DA PRESTAÇÃO OBRIGACIONAL PAGAMENTO DIRETO MOMENTO DO ADIMPLEMENTO PAGAMENTO INDIRETO (EXTINÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL) - CONSIGNAÇÃO - DAÇÃO EM PAGAMENTO -SUBROGAÇÃO -CONFUSÃO - REMISSÃO INADIMPLEMENTO a) Total b) Parcial (mora) CUMPRIMENTO FORÇADO PRO - DEVEDOR PRO - CREDOR

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AULA FESUDEPERJ - OBRIGACOES

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_________________________________________________________________________________________________________ Transcrição por: J.A.K – informações: 7879-8034 – [email protected]

Transcrição – Turma de Exercícios – Diurna (16/03/2010 a 29/04/2010 ) FESUDEPERJ – Fundação Escola Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

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TURMA DE EXERCÍCIOS DIURNA CONCURSO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AULA 07 – 30/03/2010 – DIREITO CIVIL – OBRIGAÇÕES E CONTRATOS PROFESSORA: CRISTIANE XAVIER - Mantenham-se atualizados com as súmulas e informativos

A principal dificuldade que enfrentamos com obrigações e contratos é permanecer na matéria, mas sabemos que a prova da Defensoria não é objetiva e, por isso as respostas devem estar em português correto, com a demonstração das controvérsias, artigos e súmulas. Respondam exatamente ao que foi perguntado e se o aluno domina obrigações, domina contratos, pois o Direito das Obrigações, em relação aos contratos, é regra geral. Após isso estudamos a teoria geral dos contratos.

Direito das Obrigações

O ponto que não podemos esquecer jamais nesse tema é o que sofreu alteração do Código Civil de 1916 para o Código Civil de 2002 e tudo isso se deve à palavra-chave: COOPERAÇÃO, pois é ela que traz, tanto do devedor como do credor, a observância de relações recíprocas para o cumprimento daquela relação obrigacional pactuada e, nesse momento, surgem os chamados deveres anexos da boa-fé, que abordam a conduta de ambos (devedor e credor).

Desse dever principal de cooperação surgem várias ilações, inclusive a violação positiva do contrato (questão que já foi objeto da prova do MP). Sempre que falarmos de obrigações, além da COOPERAÇÃO, também não podemos esquecer-nos do nascimento da prestação, pois e diante do momento do nascimento dela é que vamos passar a diferenciar as obrigações nas suas modalidades: dar, fazer, não fazer e restituir. Daí a necessidade de guardarmos mentalmente a seguinte linha do tempo:

As modalidades de pagamento indireto existentes são: 1) consignação em pagamento; 2) Dação em pagamento; 3) Subrogação; 4) Confusão; 5) Remissão. São tidas como

NASCIMENTO DA PRESTAÇÃO

OBRIGACIONAL

PAGAMENTO DIRETO

MOMENTO DO ADIMPLEMENTO

PAGAMENTO INDIRETO (EXTINÇÃO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL)

- CONSIGNAÇÃO - DAÇÃO EM PAGAMENTO -SUBROGAÇÃO -CONFUSÃO - REMISSÃO

INADIMPLEMENTO a) Total

b) Parcial (mora)

CUMPRIMENTO FORÇADO

PRO - DEVEDOR PRO - CREDOR

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modalidades de pagamento indireto, pois uma vez realizado um daqueles comportamentos a relação obrigacional se extingue.

Existe outra situação: Inadimplemento � que para parte da doutrina pode ser: a)

total e b) parcial. Muitos vão dizer que são diferentes, mas outros vão dizer que terei um inadimplemento parcial (mora). Após o momento da verificação do inadimplemento, temo o cumprimento forçado da obrigação, ou seja, a satisfação do crédito.

Assim sendo, todas as regras dispostas entre as fases “nascimento da prestação” e

“cumprimento forçado” são pró-devedor, enquanto após isso serão pró-credor. Vamos à questão: 1) É absoluta a regra do artigo 391 do Código Civil: " Pelo inadimplemento

das obrigações respondem todos os bens do devedor." Resposta fundamentada.

Não é uma regra absoluta, mas para podermos responder corretamente a questão devemos buscar todos os seus fundamentos, verificando quais as regras constitucionais devemos aplicar, bem como a legislação ordinária, súmulas e enunciados. Assim, as normas de direito constitucional que eu posso invocar na resposta dessa questão são: dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF/88 – que é um direito fundamental que possui objetivos – art. 3º, I da CF/88) e ainda devemos falar do MÍNIMO EXISTENCIAL (ou patrimônio mínimo) – que é matéria tratada com muita propriedade pelos autores Ingo Wolfgang Sarlet e Ricardo Lobo Torres.

Atualmente, tendo em vista que há o dever de COOPERAÇÃO nas relações obrigacionais e o credor pode realizar o cumprimento da sua obrigação, de seu crédito, ele tem obrigatoriamente que observar o mínimo existencial do devedor, com base nos art. 1º ,III e 3º, I da CF/88. Ou seja, ele não pode esfoliar o devedor, ao tentar fazer com que ele satisfaça seu crédito, de tal forma que implique na impossibilidade de que esse devedor tenha uma vida digna.

O mínimo existencial é considerado atualmente na doutrina como sendo uma vida digna e não o mínimo de sua sobrevivência, sendo a Lei 8.009/90 um desses exemplos, pois atualmente a questão da submissão do patrimônio é mitigada pelo novo fundamento constitucional que exige a observância do princípio supralegal da dignidade da pessoa humana, na promoção da solidariedade social, razão pela qual deve assegurar o mínimo existencial e , por força disso, o patrimônio que é considerado o subsistente para uma vida digna, que não está passível de constrição.

Comentários: Já foi objeto de outros concursos o tema a obrigação como processo, que é um dos objetos de alteração do Código Civil e que tem, pela PUC editora, um livro relançado sobre o assunto.

Obrigação como processo significa que a satisfação do credor não estará adstrita a uma provimento jurisdicional, pelo qual estaremos seccionando cada fase de um procedimento para a obtenção do cumprimento da relação obrigacional. A obrigação como processo visa o desencadeamento de atos ou condutas de cooperação para que, por meio de relações intersubjetivas, se alcance o cumprimento da prestação obrigacional pactuada.

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Na prática, ninguém entra com ação na justiça para dizer que “ganhou, mas não levou”, pois quando se tem um direito subjetivo violado, se quer a satisfação daquela prestação, daquela violação sofrida. Por conta disso, o melhor exemplo dessa modificação está positivada no art. 461 do CPC – tutelas de urgência e tutelas inibitórias.

Vamos à outra questão:

1) - QUESTÕES OBJETIVAS:

I- Consideram-se resolvidas as obrigações de dar e de restituir coisa certa, se esta, antes da tradição, se perder sem culpa do devedor.

(verdadeiro – a regra que norteia essa assertiva é a res perit domino, pois a transferência do domínio da coisa móvel se faz mediante a tradição – toda a responsabilidade sobre a coisa que pereceu é ocorreu para o dono, que ainda estava com o domínio da coisa);

II - Na obrigação de dar coisa incerta, não pode o devedor, antes da escolha, alegar perda ou deterioração da coisa.

(verdadeira – Gustavo Tepedino entende que a regra de que a coisa em gênero não perece nunca merece ser revista, em razão do princípio da razoabilidade, pois, muito embora, ela não tenha sido individualizada, poderá exigir um desforço desproporcional ao cumprimento da relação obrigacional, violando, pois, o próprio equilíbrio contratual).

Apropriado falar que os três princípios básicos modernos que norteiam as relações obrigacionais, de acordo com a Constituição Federal, são: a) solidariedade; b) boa-fé objetiva e c) equilíbrio contratual. (Ex. Caso da Febre Aftosa – embora houvesse gado para entregar, por exemplo, 20 vacas de uma determinada qualidade, que ainda não estivessem individualizadas. Por conta da febre aftosa, embora se tratasse de uma obrigação de dar coisa incerta, exigir que um devedor buscasse vacas em outro pais seria uma carga excessiva).

III - Nas obrigações alternativas, não havendo estipulação em contrário, a escolha cabe ao devedor.

(verdadeira, pois nesta fase do inadimplemento é sempre pró-devedor, desde que não haja estipulação em contrário).

a) Todas as proposições são verdadeiras ����ALTERNATIVA CORRETA b) Todas as proposições são falsas. c) Apenas uma das proposições é verdadeira. d) Apenas uma das proposições é falsa.

Diferença da Obrigação Alternativa para Obrigação Facultativa (foi questão da Prova da Magistratura): Havia uma obrigação de dar 20 vacas holandesas na data X, podendo se desobrigar o devedor entregando 5 cavalos. Na data do adimplemento (vencimento), o devedor não entregou nem as vacas, nem os cavalos. Poderia o credor exigir a entrega dos 5 cavalos?

Observação pessoal – a questão oficial era a QUESTÃO discursiva n. 03 – Juiz/TJRJ –XXVII Concurso) A e B realizaram um negócio jurídico em que o primeiro se obrigou a fornecer, no curso de 90 dias, por preço certo, de logo adiantado, 20 cabeças de vacas leiteiras da raça holandesa, dentre as melhores de seu pasto, no Município de Cações. Cláusula especial estabeleceu que, no dies ad quem do termo, poderia A desobrigar-se, entregando, no lugar do

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gado, 5 cavalos da raça manga larga marchador, em criação no Haras Solar, situado no município vizinho.

Uma súbita epidemia dizimou todo o rebanho bovino de A, impedindo a entrega das 20 vacas. B, então, exigiu os 5 cavalos, invocando o art. 885 do Código Civil.Responda objetivamente: A) Que tipo ou espécie de obrigação assumiu A; B) Cabe aplicar-se ao caso o artigo 885 do Código Civil? Resolva, sucintamente a questão, fornecendo os esclarecimentos e a fundamentação necessários e pertinentes.

Gabarito: A obrigação que A assumiu é denominada, por alguns autores, como obrigação facultativa. Outros vêem contradição nessa nomenclatura, pois a obrigação não pode ser facultativa e propõem a denominação de obrigação com faculdade de substituição, pelo devedor, da obrigação assumida.

No caso, só está vinculada à obrigação, a entrega das 20 vacas, não se aplicando, portanto, o disposto no art. 885 do Código Civil. Como a morte das vacas decorreu de força maior, o devedor pode dar por resolvida a obrigação, devolvendo o preço recebido, nada podendo exigir o credor.

Poderá ainda o devedor, caso queira a seu exclusivo critério (faculdade) entregar os cinco cavalos, mantendo a relação jurídica e cumprindo-a pela obrigação em faculdade de substituição, não podendo o credor exigir os 5 cavalos. O CC não regulamentou a obrigação denominada de facultativa.

Primeiramente, vamos exemplificar com casa e carro. Essa regra foi criada em benefício do devedor, pois é uma forma dele se desobrigar da obrigação original no dia do vencimento, podendo entregar coisa diversa. Para alguns doutrinadores, isso seria dação em pagamento, prevista no próprio nascimento da relação obrigacional. (art. 313 CC/02).

Seção III Do Objeto do Pagamento e Sua Prova

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA OBRIGAÇÃO FACULTATIVA

OU

- 1ª OBRIGAÇÃO

- 2ª OBRIGAÇÃO

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Para parte da doutrina, as obrigações facultativas conceberiam a dação em pagamento, já que ele aceitou receber coisa diversa, porém o pactuado é a obrigação original, mas como meio de desobrigar o devedor, ele aceita coisa diversa. Já nas obrigações alternativas, temos uma prestação ou outra, vindo o chamado momento da CONCETRAÇÃO.

1ª possibilidade: Nesse caso, eu devedor, se não estipulado em contrário, chegando o vencimento, poderei entregar a casa ou o carro, se perecer a casa, há concentração automática no carro, mas se perecer a casa, haverá concentração automática no carro. Nesse momento a escolha ainda é do devedor. Se as duas perecerem, analisou aquela que pereceu por último. Se perecerem simultaneamente, com a escolha é do devedor, quem vai escolher o valor do ressarcimento será o devedor.

Ou seja, pela concentração, chegando o vencimento, posso entregar uma prestação ou outra, perecendo uma delas há concentração automática na prestação restante (escolha do devedor), se perecerem as duas, vai se analisar o que pereceu por último, mas se houve perecimento simultâneo, como a escolha é do devedor, quem escolhe o valor do ressarcimento é o devedor.

Se a casa custar 100.000,00 e o carro 50.000,00, o devedor, embora seja um perecimento simultâneo, vai escolher 50.000,00, mas se for com culpa, ainda assim, os consectários das verbas indenizatórias serão apurados em cima do valor do bem escolhido pelo devedor.

2ª possibilidade: aplicam-se as mesmas regras, quem vai escolher em qual valor ocorrerá a concentração será o credor (que escolherá o valor mais alto) , sendo com culpa, ocorrerá perdas e danos. A única situação em relação à obrigação alternativa é analisar no caso concreto a quem compete realizar a concentração. Portanto, a expressão da questão “podendo se desobrigar o devedor” indica que a obrigação é facultativa, pois essa estipulação foi colocada a favor do devedor, não podendo o credor exigir 5 cavalos. A obrigação facultativa não encontra previsão no Código civil.

Observação pessoal: A obrigação alternativa tem por conteúdo duas ou mais prestações, das quais somente uma será escolhida para pagamento ao credor. A obrigação se considera adimplida desde que o devedor cumpra uma das prestações.

- Concentração do débito: A obrigação alternativa só poderá ser cumprida depois da definição do objeto a ser prestado, ou seja, depois da escolha da prestação. As partes podem atribuir a faculdade de escolha ao credor, ao devedor ou a terceiro. Na ausência de estipulação a respeito de quem exercerá a escolha, esta caberá ao devedor (art.252 caput CC/02). Quando a escolha couber ao devedor (seja por estipulação das partes ou por ausência de estipulação), este não estará, na obrigação alternativa, adstrito ao critério da qualidade média – o titular do direito de escolha pode optar livremente por qualquer das prestações vinculadas à obrigação. No entanto, o devedor não pode obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra (art.252 § 1º CC/02).

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2ª QUESTÃO:

Assinale a Alternativa correta:

a) Falecendo um dos credores solidários, que deixa dois herdeiros necessários, cada herdeiro, ainda que se trate de obrigação indivisível, só pode exigir e receber a cota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário;

Essa assertiva está errada. Trata-se de uma obrigação indivisível. Assim sendo, vamos traça a diferença da obrigação indivisível para a obrigação solidária. Dentro da classificação das obrigações essas estão dentro da modalidade PLURALIDADE DE SUJEITOS.

OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL

OBRIGAÇÃO INDIVISIVEL

NOTAS PESSOAIS: As obrigações divisíveis e indivisíveis são compostas pela multiplicidade de sujeitos. Tal classificação só oferece interesse jurídico havendo pluralidade de credores ou de devedores, pois havendo um único devedor obrigado a um único credor a

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obrigação é indivisível, ou seja, a prestação deverá ser cumprida por inteiro, seja divisível ou indivisível o seu objeto.

Por outro lado, para haver a divisibilidade de obrigações seu objeto há de poder se dividido entre seus sujeitos, o que não é possível com as obrigações indivisíveis.

Nas obrigações indivisíveis com mais de um devedor, cada um é obrigado por toda a dívida, e o que pagar sub-roga-se nos direitos do credor perante os demais. Já nas obrigações indivisíveis com mais de um credor, o pagamento a um deles apenas libera o devedor ou devedores se o que recebeu der ratificação do ato pelos demais.

Para obrigação indivisível, suponha um caso em que três devedores têm a obrigação de entregar um automóvel. Neste caso não há como dividir o veículo, sem tirar suas características como bem, sendo esta obrigação indivisível.

Assim, quando a obrigação é indivisível, e há pluralidade de devedores, cada um será obrigado pela dívida toda, haja vista o objeto não poder ser dividido.

Obrigações solidárias: Solidariedade pode ser entendida como a relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo se sinta na obrigação de apoiar o(s) outro(s). É, portanto, o laço ou vínculo recíproco de pessoas ou coisas independentes.

A obrigação é solidária se mais de um credor (solidariedade ativa) ou mais de um devedor (solidariedade passiva) têm direito ou se obrigam à dívida toda. Na solidariedade, que resulta necessariamente de lei ou contrato, excepciona-se o princípio da divisibilidade das obrigações estatuído pelo artigo 257 do Código Civil.

Assim, nas obrigações solidárias, havendo mais de um devedor, cada um responde pela dívida inteira, assumindo circunstancialmente a condição de devedor único. Nesta hipótese, o credor tem direito de exigir de qualquer um deles o pagamento integral da dívida.

Por outro lado, se houver mais de um credor, qualquer deles pode exigir a prestação na sua totalidade, assumindo neste caso a posição como se fosse credor único.

Não se deve confundir a pluralidade de sujeitos com o conteúdo da prestação obrigacional, como, por exemplo, no caso em que a prestação seja um animal, não poderemos esquartejar o animal para entregá-lo, podendo, mesmo assim ser solidária, muito embora, no seu cumprimento, seja indivisível pela sua própria natureza.

Qualquer um dos co-devedores, no momento da entrega, deverá entregá-lo integralmente. Quando observarem sobre isso, lembrem que solidariedade é um conceito de PLURALIDADE, podendo ser os sujeitos ACCIPIENS (devedor) ou SOLVENS (credor). Nessa relação podemos estipular que a obrigação é solidária, que não se presume, oriunda de acordo ou de lei.

Se for estipulado que a obrigação é solidária, todos os sujeitos são tratados como uma única pessoa (tanto se for devedor, como credor). Por isso, quando eu interpelar um deles, vai valer para todos, assim como a prescrição numa obrigação solidária, se interrompida para

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um, será para todos. Internamente a relação é comum, divisível, mas externamente é tratada como uma única obrigação.

No primeiro desenho temos uma relação interna divisível, que por causa da solidariedade, é tida externamente como uma só. Na indivisibilidade, segundo desenho, se estamos trabalhando com pluralidade de sujeitos, não havendo, em tese solidariedade estipulada, mas quando eu verifico que o conteúdo é indivisível (seja, por estipulação ou natureza do objeto), significa que eu também terei que dar a integralidade da coisa.

Ex. se eu estipular que a obrigação de 100.000,00 reais é indivisível, qualquer um dos devedores estará obrigado a cumprir com a integralidade da obrigação. Na obrigação divisível, se houver a solidariedade, serão devedores dos 100.000 – qual a diferença?

Nas obrigações divisíveis com solidariedade, não vigora a regra da divisibilida de, não vigora o concursus pactum fiunt, que é “na ausência de pactuação em contrário, tudo é dividido em partes iguais” (pizza). Assim, a diferença é que em não havendo o pagamento, na obrigação divisível, a solidariedade permanece, podendo o credor demandar a totalidade do valor de qualquer devedor. Na obrigação indivisível, o que era indivisível, passa a ser divisível, aplicando-se a regra da cota parte, o credor somente poderá cobrar de cada um deles 25.000,00.

Se acontecer que 1 dos devedores tenha dado causa ao inadimplemento, seja na obrigação indivisível, seja na obrigação divisível, somente quem deu causa ao inadimplemento é que estará sujeito às penalidade, havendo um rateio interno.

b) No condomínio pro diviso a comunhão existe de fato e de direito;

(Essa assertiva está errada – a comunhão condomínio pro diviso existe somente de direito, a de fato ainda não existe).

c) O dever de coabitação, decorrente do casamento, é observado com a simples convivência dos cônjuges sob o mesmo teto;

(assertiva errada – logicamente que não – isso é pacífico)

d) a obrigação cumulativa não se caracteriza pela pluralidade de obrigações, mas sim pela pluralidade de prestações, estas oriundas da mesma causa ou título.

(assertiva correta)

II- QUESTÕES - PROVA ESCRITA: ( 8 linhas)

1) É absoluta a regra do artigo 391 do Código Civil: " Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor." Resposta fundamentada.

2) Quais são as exceções à regra contida no artigo 882 do Código Civil: " Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível."

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Obrigação prescrita é considerada obrigação natural. Antes disso é preciso explicar a escada ponteana, criada por Pontes de Miranda (ou Pontiana): 1) EXISTENCIA; 2) VALIDADE e 3) EFICÁCIA (Antônio Junqueira tem um livro somente sobre assunto).

OBS: Na visão de Pontes de Miranda, o negócio jurídico é dividido em três planos, o que gera um esquema gráfico como uma estrada com três degraus, denominada por parte da doutrina, como escada ponteana. Esses três degraus seriam: Primeiro degrau: o plano da existência. Onde estão os elementos mínimos, os pressupostos de existência. Sem eles, o negócio não existe. Substantivos (partes, vontade, objeto e forma) sem adjetivos. Se não tiver partes, vontade, objeto e forma, ele não existe.

Segundo degrau: o plano da validade. Os substantivos recebem os adjetivos. Requisitos de validade (art 104) -> partes capazes, vontade livre (sem vícios), objeto lícito, possível ou determinado ou determinável, e forma prescrita ou não defesa em lei. Temos aqui os requisitos da validade. Não há dúvida, o código civil adotou o plano da validade. Se tenho um vício de validade, ou problema estrutural, ou funcional, o negocio jurídico será nulo (166 e 167) ou anulável (171). (palavras-chave)

Terceiro degrau: o plano da eficácia. Estão as conseqüências do negócio jurídico, seus efeitos práticos no caso concreto. Elementos acidentais (condição, termo e encargo).

Na obrigação natural, como o caso da obrigação prescrita, temos o débito, mas falta a coercibilidade. No conceito de obrigação, para que seja considerada obrigação tutelada pelo direito, tem que haver exigibilidade pela via judicial, se não houver ela deixar de ter relevância jurídica.

As teorias que adotamos no Direito das Obrigações que abordam o débito e sua coercibilidade são: a) teoria monista – para essa teoria basta o débito, pois a coercibilidade ou responsabilidade é apurada no momento do inadimplemento; e b)teoria dualista – o Código Civil adota esta, que divide o débito (haftung)e a responsabilidade (schuld), e, em função disso, podemos ter um débito, mas podemos não ter a responsabilidade, ou vice-versa. (ex. débito existente, mas sem responsabilidade – DÍVIDA PRESCRITA e DÍVIDAS DE JOGO) e (Ex. de responsabilidade sem débito – obrigação de garantia – fiança e avalista e art. 50 do Código Civil – fraude nas sociedades).

Na questão da desconsideração da pessoa jurídica, temos duas teorias, a teoria maior e a teoria menor, sendo certo que a teoria adotada pelo Código Civil foi a teoria maior e a adotada pelo Código de defesa do Consumidor foi a teoria menor.

Cuidado com o Informativo 426 que saiu sobre dívida de jogo. Essa dívida de jogo, a princípio, somente não é devida se for jogo proibido, pois temos jogos permitidos, como Loteria, Jockey. Assim sendo cuidado com a questão da Caixa Econômica Federal, aquele caso que a funcionária esqueceu-se de cadastrar a aposta e o caso que saiu nesse informativo, constante do REsp 1.070.316-SP:

CORRIDA. CAVALOS. APOSTA. EMPRÉSTIMO.

O cerne da questão do REsp cinge-se à possibilidade de exigir dívida resultante de empréstimo da própria banca exploradora do jogo para apostas em corridas

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de cavalos, sendo que, no caso, a aposta foi efetuada mediante contato telefônico entre o recorrente e o recorrido. Inicialmente, observou-se que, a despeito da previsão de não obrigatoriedade de pagamento das dívidas de jogo, contida nos arts. 1.477 e 1.478 do CC/1916 (correspondentes aos arts. 814, § 1º, e 815 do CC/2002), tais dispositivos não se aplicam a jogos legalmente permitidos. Na hipótese, trata-se de aposta em corrida de cavalos, atividade regulamentada pela Lei n. 7.291/1984 e pelo Dec. n. 96.993/1988, não incidindo, pois, as vedações contidas na lei substantiva civil a esse tipo de jogo. Diante disso, ao prosseguir o julgamento, a Turma, por maioria, entendeu que inexiste nulidade de título extrajudicial na execução promovida pelo recorrido, porquanto, embora os referidos diplomas legais prevejam a realização de apostas em dinheiro nas dependências do hipódromo, em nenhum momento eles proíbem a realização delas por telefone e mediante o empréstimo de dinheiro da banca exploradora ao apostador. O entendimento de ser abusiva tal prática levaria ao enriquecimento ilícito do apostador e violaria o princípio da autonomia da vontade, que permeia as relações de Direito Privado, no qual, ao contrário do Direito Público, é possível fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Assentou-se, por fim, que as instâncias ordinárias concluíram que inexistiam provas de que as apostas deixaram de ser efetuadas em dinheiro; o valor das apostas feitas pelo recorrente integrou o rateio dos páreos em que ele apostou; as apostas realizadas por telefone foram confirmadas pelo próprio recorrente quanto à sua realização; o título que fundamentou o ajuizamento da ação de execução foi assinado pelo recorrente e o contrato e as notas promissórias tiveram valor certo e determinado. Assim, tais constatações corroboram que não houve qualquer vício no procedimento das apostas. Todavia, a Min. Relatora, entre os fundamentos de seu voto vencido, destacou que a concessão de empréstimo ao jogador por aquela banca de apostas é uma prática claramente abusiva, que toma a fraqueza do apostador como oportunidade de lucro, sendo vedada nos termos do art. 39, IV, do CDC. Observou que o próprio art. 1.478 do CC/1916 (art. 815 do CC/2002) revela muito sobre a questão, ao estipular que não se pode exigir reembolso do que se emprestou para jogo ou aposta no ato de apostar ou jogar. Destarte, não se trata de premiar a má-fé do

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jogador que toma o empréstimo e se recusa ao pagamento, mas simplesmente de reconhecer que a banca de apostas não poderia conceder empréstimos e, se quisesse obter a tutela jurisdicional, deveria também demonstrar a lisura de sua conduta. Assim, constatado pelo tribunal a quo que houve mútuo, é certo que o valor cobrado não se inclui entre as dívidas lícitas de jogo. REsp 1.070.316-SP, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Massami Uyeda, julgado em 9/3/2010.

Assim, considerando o art. 882 do Código Civil, se espontaneamente pagamos uma dívida prescrita, não poderemos pedir a devolução, salvo as hipóteses do art. 814 , art. 191 e art. 369:

Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito. Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.

Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

A prescrição pode ser renunciada, mas cuidado, não haverá a validade daquele pagamento se for em prejuízo de um credor. O devedor paga dívida prescrita justamente para se tornar insolvente e não pagar credores legitimados. No caso do art. 369 – no caso de uma dívida prescrita, está vencida, mas não podemos aplicar a ela o pagamento em prejuízo.

Obrigação Natural não paga – existem 2 entendimentos: 1) não se admite a novação, pois é modalidade de pagamento, permitir seria burla o próprio instituto de proteção que implica em tirar a coercibilidade do débito, é uma fraude ao próprio sistema que retira a coercibilidade do débito – posição superada. 2) não há obstáculo para a novação,pois se eu posso renunciar a prescrição, não há motivo para não nová-la para fazer surgir uma nova relação obrigacional.(quem adota esse entendimento – Carlos Roberto Gonçalves , Silvio Venosa e Gustavo Tepedino). Para eles o fundamento inclui o principio da eticidade.

Art. 202 do Código Civil – Interrupção da Prescrição – uma única vez somente podemos interromper a prescrição, o mesmo se aplicaria à novação. (somente toquem nesses pontos em provas específicas).

Outra decisão sobre aposta:

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REsp 819482 – “DIREITO CIVIL. CONTRATO DE APOSTA. TURFE. ATIVIDADE LEGALIZADA. ART. 1.477 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. INAPLICABILIDADE. A aposta expressamente permitida em lei tem amparo jurisdicional e não se insere na previsão do art. 1.477 do Código Civil de 1916, obrigando o apostador ao pagamento de seu preço, como no caso. Hipótese em que as corridas de cavalos foram realizadas em estrita conformidade com a legislação pertinente (Lei n. 7.291/84). Recurso especial não conhecido “ (fls. 237-238).

3ª QUESTÃO:

Discorra sobre instituto da Exceção de Insegurança, indicando o(s) dispositivo(s) legal (is) previsto(s) no ordenamento civil.

Abram o art. 477 do Código Civil:

Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

Pela leitura desse artigo, depois que foi concluída, há possibilidade de descumprimento daquela obrigação que foi pactuada, ela é chamada de Exceção de Insegurança, pois ele vislumbra uma deficiência fática no cumprimento daquela obrigação contratual. É hipótese diversa da regra contida no art. 476 – que é a exceção do contrato não cumprido (execptio non adimpleti contratus).

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

Pelo art.477 eu não vou cumprir, porque estou vendo que a outra parte não vai me pagar – ex. estou pagando as prestações para um apartamento, faltam 2 meses para a entrega, mas sequer a construção saiu da edificação – para a exceção do contrato não cumprido eu tenho que cumprir a minha parte para poder exigir da outra, nesse caso se aplica o Exceção de Insegurança ou quebra antecipada de contrato (basta a dificuldade patrimonial)

Onerosidade Excessiva - Vejam o art. 478:

Seção IV

Da Resolução por Onerosidade Excessiva

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Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

O que acontece na quebra antecipada do contrato quando aplicamos a Exceção de Insegurança prevista no art. 477? Em relação ao art. 477 existe mera dificuldade patrimonial, basta a dificuldade para caracterizá-la. A quebra antecipada do contrato pela onerosidade excessiva exige demonstração cabal do inadimplemento, ou seja, a evidência deque o devedor não vai cumprir.

Vejam o art. 333:

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

Quando tenho data certa, pode o devedor compelir o credor a receber a prestação

antes do vencimento? Justifique. Escrevam em vermelho – prazo de pagamento sempre estipulado como benefício para o devedor, daí a possibilidade de pagamento antecipado, pois a recusa injustificada do credor importa em abuso de direito.

Para o pagamento antecipado deve ser descontado juros e todos os encargos, pois na parcela está embutida a expectativa de inadimplemento em indisponibilidade de capital (juros de mora), sob pena de enriquecimento sem causa do credor.

Relembrando – Obrigação Propter Rem: é uma obrigação pessoal com efeitos reais. O desdobramento é real, pois oriundo do titular da coisa. Você paga IPVA , pois você é proprietário de veículo. O mesmo ocorre com IPTU e condomínio. Assim sendo, qual a diferença entre assunção de dívida e assunção de cumprimento (ou promessa de liberação)?

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Transmissão das obrigações – modalidades: a) cessão de crédito ou dívida e b) assunção de dívida. Na cessão de crédito temos a transmissão das obrigações no pólo ativo – credor (cedente x cessionário). Em contrapartida, se falo de assunção, estou falando do no pólo passivo daquela relação obrigacional, tendo a figura do proponente (devedor primitivo) e do assuntor.

Quando se tratar de transmissão das obrigações, lembre-se que a relação obrigacional permanece a mesma. Não se modifica, se mantendo, em regra, com todas as garantias, devendo ter um cuidado quanto ao pagamento. Ainda estou na primeira fase da minha linha lá do início da aula. Contudo, quando eu chamo outra pessoa para assumir a obrigação, ela pode ter efeito liberatório ou não.

Na cessão de crédito eu também posso ter uma relação interna e outra externa. Na externa, o credor de uma obrigação, chamado cedente, transfere a um terceiro, chamado cessionário, sua posição ativa na relação obrigacional, devendo dar ciência ao devedor do crédito cedido, em função do pagamento, pois se ele não for notificado dessa alteração, fará o pagamento a pessoa diversa - credor primitivo – credor putativo (figura aos olhos de todos como sendo credor e na verdade não é).

A teoria que aborda o credor putativo é a teoria da aparência e , em razão dela, o pagamento está feito e extingue a relação obrigacional. Se demonstrada má-fé do devedor, não será extinta a relação obrigacional.

Na assunção de dívida, o credor pode chamar um terceiro para ingressar na relação obrigacional no lugar do devedor – isso se chama ASSUNÇÃO DE DÍVIDA EXPROMISSÓRIA (ou por expromissão) - Expromissão é a forma de novação em que se substitui o devedor primitivo por outro, em regra, sem o conhecimento ou anuência daquele.

Entretanto, quando se chama um terceiro para ser devedor, em razão do princípio da boa-fé objetiva, atualmente se tem entendido que, não só pelo fato de ser uma relação obrigacional, mas por ser moral, deve o credor notificar o devedor.

Na relação interna – pode ocorrer a ASSUNÇÃO DE DÍVIDA POR DELEGAÇÃO: delegação é a modalidade de novação pela qual um devedor passa a terceiro o encargo de pagar a sua dívida. O devedor, que chamou esse terceiro, passará a ser assuntor, ele é responsável pelo pagamento daquela relação obrigacional?

Não, somente se houver disposição em contrário, pois a regra é pela solvência, que será verificada na data da assunção da dívida. Se , no momento em que houve a assunção da dívida, o devedor era solvente, está perfeito – não há nada o que se restabelecer. Se após, se tornar insolvente, haverá responsabilidade nessa nova relação obrigacional.

Ou seja, a assunção de dívida por delegação é uma relação interna, na qual o devedor chama um terceiro para assumir a posição de assuntor, sendo sua responsabilidade, salvo disposição em contrário, na verificação da solvência deste assuntor à época da assunção da dívida. Se ele for insolvente em momento posterior, isso é conseqüência normal da relação obrigacional e o credor vai cobrar a dívida do assuntor, não podendo restabelecer a responsabilidade do devedor primitivo.