Évora, integrada no convento da ordem cartusiana, a igreja ... · talha dourada na parede de fundo...

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..~ Évora, integrada no convento da Ordem Cartusiana, a Igreja da Cartuxa ou de Nossa Senhora Scala Coeli, foi alvo de uma intervenção de restauro, apoiada pela Comunidade E uropeia. A candidatura ao programa comunitário de apoio a Projectos Piloto de Conservação do Património Arquitectónico Europeu foi uma das 100seleccionadas entre um total de 2004 apresentadas. Os 50 mil ecus concedidos, apenas

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Page 1: Évora, integrada no convento da Ordem Cartusiana, a Igreja ... · talha dourada na parede de fundo da Igreja, para se avaliar do ... na zona de entrada do convento, uma imagem de

..~ Évora, integrada noconvento da OrdemCartusiana, a Igreja daCartuxa ou de Nossa SenhoraScala Coeli, foi alvo de umaintervenção de restauro,apoiada pela ComunidadeE uropeia.

A candidatura ao programacomunitário de apoio a ProjectosPiloto de Conservação doPatrimónio Arquitectónico Europeufoi uma das 100 seleccionadas entreum total de 2004 apresentadas. Os50 mil ecus concedidos, apenas

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cobriram uma parte dos 120 milcontos do custo total da obra, sendoa diferença suportada pela FundaçãoEugénio de Almeida, actualproprietária do convento e peloEstado Português.É visível e perfeitamente justificado,o orgulho manifestado peloArquitecto Fernando Pinto, quantoao facto deste projecto ter sidoapoiado com o valor máximoprevisto, reflexo óbvio da qualidadedo projecto apresentado pelaDirecção Geral dos Edifícios eMonumentos do. Sul.Mas para o director deste serviço,igualmente importante é o facto dea intervenção efectuada ser "umtrabalho notável" a corresponder àsexpectativas. No final da obra, quedurou cerca de dois anos, "a maiorparte daquilo que foi feito não se vê, que

é o que deve acontecer em obras de

reparado, bem como a aplicação denovos rebocos e caiações.Naquilo que se pode classificarcomo intervenções especializadas,refira-se o trabalho de revisão ereparação de caixilharias e outroselementos de madeira. E, neste caso, énotória a importância da competênciatécnica do arlffice carpinteiro que fazajustar a parte nova de substituição aoque fica da peça original. ParaFernando Pinto, que ~ssumiu aresponsabilidade máxima pelaglobalidade dos trabalhos, "esteprocedimento é tecnicamente maiseficiente face à dinâmica dos materiaise historicamente mais correcto",Para se ter uma ideia mais aproximadada dificuldade de recuperação dointerior do imóvel, convém referir quea Igreja da Cartuxa serviu durante umlargo período de tempo comoarmazém de cereais. Uma utilizaçãoque, para além de danificar tudo o quese encontrava abajxo dos 4/5 meh'OS dealtura de cereal, nomeadamente oscadeirais, resultou em penetrações nasparedes e pedras, de sulfato de cobreutilizado para manter os roedoresafastados do trigo armazenado. Senas paredes a aplicação de nova cal

resolveu o problema, já nascantarias não foi possível evitar aexistência de vestígios.No caso do restauro da lindíssimatalha dourada na parede de fundoda Igreja, para se avaliar doresultado da referida utilizaçãocomo celeiro, atente-se nos 80 kilosde pó aspirados antes de passar àlimpeza técnica.Para além da reconstrução daarmação que suporta e liga a talhaà parede, foram também efectuadasreconstituições de partes, às quais,no entanto, não foram aplicadasnovas douragens. A justificação deFemando Pinto surge de formanatural e segura quando explica "nãomascarámos nada do que foi feito, paraque se entenda que aquela peça tem umaidade".Outra intervenção que registou umsignificativo grau de dificuldade foia reconstituição dos cadeirais quese encontravam totalmentedesmontados, sendo necessáriorefazer as zonas de fixação à parede.Por último, refira-se as intervençõesmeticulosas que refizeram a pinturamural e permitiram a revisão dos

azulejos.

restauro quando são bem feitas", refere

Fernando Pinto acrescentando comênfase "a esse nível, esta é uma obra

irrepreensível".Os trabalhos de limpeza e restaurodas pedras, devolveram à fachada daigreja da Cartuxa uma imponênciaprópria, que a luminosidade do soldo Alentejo em muito beneficia,propiciando, na zona de entrada doconvento, uma imagem de grandeforça visual. Uma admiraçãoreforçada quando se verifica aimpossibilidade de transpor o portãode ferro trabalhado, imposta pelasregras deste convento, de clausura.Regras aliás, rarissimas vezes

quebradas.As obras, incluíram diversos trabalhosde construção civil, como as reparaçõesdo telhado, que já em 1989 tinha sido

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- undada e edificada entre 1530 e 1602, por vontade de D. Teotónio deBragança, que custeou quase integralmente as obras, registou entre 1621 e 1625a construção do claustro e pórtico principal, em mármore, da autoria de FilipeTerzi.Em 1663 foi destruída, aquando do cerco de Évora, restando o pórtico demármore.Em 1834 foi extinta a congregação em Portugal e em 1852 foi ali instalada aEscola Agrícola Regional, extinta 17 anos depois. O Estado vendeu-a a José MariaEugénio de Almeida, que em 1960 a devolveu aos Frades Cartuxos.Nadescrição feita pela DGEMN - Direcção Geral dos Edifícios e MonumentosNacionais pode ler-se:- Planimetria longitudinal orientada,composta, regular; volumes articulados,massas dispostas na vertical, cobertura diferenciada. Antecede a Igreja majestoso nártexde cinco tramos de arcaria em alvenaria, corrido na cima1ha por baixa balaustradasobre friso de biglifos. A rematar cada um dos fortes pilares de alvenaria, um pargeminado de colunas caneladas da ordem dórica, sobre altos plintos paralelipipédicos.Ergue-se sobre o nártex frontaria monumental de dois lanços, o primeiro corrido porcolunata corintia, em três tramos, em tudo semelhante à anterio~ com arquitrave bemmarcada de molduras profundas e emoldurando os vãos de três amplos janelõesrectangulares, gradeados. Levanta-se então o segundo lanço, mais estreito e amparadoàs ilhargas de volutas, com par de duplas colunas gerninadas da ordem corintia. Ocorpo da nave, coberto de telliado de duas águas, é rematado, no topo, pela curiosamole do oratório privativo da comunidade, um cubelo rematado por cunhaisapilastrados de cantaria granítica, nos paramentos do qual se rasgam lunetascirculares. A capela mor, pouco profunda, não se distingue exteriormente docorpo da nave. No interior do nártex coberto por cinco cruzarias de ogivadescarregues em mísulas, abre-se o pórtico, com belo entablamento setecentistaassente em sobreposição de pilastras da ordem jónica. Interiormente, a Igrejatem traça modesta, com nave única de berço e a capela mor pouco profundafranqueada por arco triunfal de volta perfeita e ombreiras apilastradas.

FICHA TÉCNICA DA OBRAResponsável - ArqQ. FernandoPintoControle T écnico/FinanceiroArqQ. José RamalhoTécnico Projectista eOrçamentação ArqQ. José SousaFiscalização - António ModasTrabalhos de Construção CivilPaulo Ferreira (Empreiteiro)Conservação da Pedra - CarlosEduardo BoalRecuperação e Restauro dosCadeirais - Isabel PomboPinturas Murais - Mural daHistória, LdaRecuperação de TalhasDouradas - Tacula, Lda