evidÊncias da relaÇÃo entre estruturas … · revisão bibliográfica extensiva, de rol aberto....

18
EVIDÊNCIAS DA RELAÇÃO ENTRE ESTRUTURAS NEUROANATÔMICAS, COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM OBESOS E ESTRATÉGIAS PSICOTERÁPICAS 1 Fernanda Tores 1 Francelene Brito da Silva 2 Naythielle Rodrigues de Souza 3 Sandra Pereira Cruz 4 RESUMO A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como agravo prevenível e tratável, decorrente de alimentação excessiva sem gasto energético compatível, com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 pontos. Assim, esse estudo objetivou a melhor compreensão dos mecanismos neurais e processos cognitivos no obeso e, ainda, colher estratégias fortalecedoras da abordagem psicoterapêutica orientada ao manejo desses casos. Dessa forma, foram selecionados cinco artigos publicados em revistas indexadas, na língua portuguesa, que discorriam sobre os três eixos desse tema. Os resultados levantados foram agrupados em quatro núcleos de sentido, a saber, significados da obesidade; estruturas neuroanatômicas, circuitos neurais e modulação neuroquímica do comer; processos cognitivos e sistemas psicoemocionais do comportamento alimentar em obesos; elucidação de estratégias úteis na abordagem psicoterapêutica da pessoa obesa. O estudo conclui pela capacidade de reversão das evidências apontadas pelos artigos em subsídio orientador das mudanças do comportamento alimentar do obeso pela via da psicoterapia. Palavras-chave: Obesidade, Neuroanatomia, Neuropsicologia, Psicoterapia. 1 Acadêmica de Psicologia, São Lucas , [email protected] 2 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected] 3 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected] 4 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected]

Upload: others

Post on 20-Jun-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

EVIDÊNCIAS DA RELAÇÃO ENTRE ESTRUTURAS NEUROANATÔMICAS,

COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM OBESOS E ESTRATÉGIAS

PSICOTERÁPICAS1

Fernanda Tores 1

Francelene Brito da Silva 2

Naythielle Rodrigues de Souza3

Sandra Pereira Cruz4

RESUMO

A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como

agravo prevenível e tratável, decorrente de alimentação excessiva sem gasto

energético compatível, com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30

pontos. Assim, esse estudo objetivou a melhor compreensão dos mecanismos

neurais e processos cognitivos no obeso e, ainda, colher estratégias

fortalecedoras da abordagem psicoterapêutica orientada ao manejo desses

casos. Dessa forma, foram selecionados cinco artigos publicados em revistas

indexadas, na língua portuguesa, que discorriam sobre os três eixos desse

tema. Os resultados levantados foram agrupados em quatro núcleos de

sentido, a saber, significados da obesidade; estruturas neuroanatômicas,

circuitos neurais e modulação neuroquímica do comer; processos cognitivos e

sistemas psicoemocionais do comportamento alimentar em obesos; elucidação

de estratégias úteis na abordagem psicoterapêutica da pessoa obesa. O

estudo conclui pela capacidade de reversão das evidências apontadas pelos

artigos em subsídio orientador das mudanças do comportamento alimentar do

obeso pela via da psicoterapia.

Palavras-chave: Obesidade, Neuroanatomia, Neuropsicologia, Psicoterapia.

1 Acadêmica de Psicologia, São Lucas , [email protected] 2 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected] 3 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected] 4 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected]

2

ABSTRACT

Obesity is defined by the World Health Organization (WHO) as a preventable

and treatable injury, resulting from excessive eating with a sedentary lifestile,

compatible with body mass index (BMI) above 30 points. Thus, this study aimed

at better understanding of the neural mechanisms and cognitive processes in

the obese and at empowering strategies psychotherapeutic oriented approach

to handling such cases. Therefore, we selected 5 articles published in refereed

journals, in Portuguese, which discoursed on the three axes of this theme. The

results collected were divided into 4 directive questions: obesity meanings;

neuroanatomical structures, neural circuitry and neurochemistry modulation of

eating; cognitive and psycho-emotional systems of feeding behavior in obese;

elucidation of useful strategies in the psychotherapeutic approach of obese

person. The study concludes with the ability to reverse the evidence presented

by articles in guiding benefit from changes in the food obese behavior by means

of psychotherapy.

Keywords: Obesity. Neuroanatomy. Neuropsychology. Psychotherapy.

INTRODUÇÃO

A obesidade é um problema de saúde provocado por diferentes fatores

que podem ser físicos, genéticos, psicológicos e ambientais. O sobrepeso e a

obesidade são definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o

acúmulo excessivo de gordura corporal secundário à ingesta hipercalórica e ao

sedentarismo.

O sobre peso traz impacto negativo sobre a saúde por representar fator

de alto risco para doenças cardiovasculares, complicações

musculoesqueléticas, distúrbios metabólico-hormonais e alguns tipos de

cânceres. A caracterização do quadro tem por base o cálculo do Índice de

3

Massa Corporal - IMC (peso corporal em quilogramas dividido pelo dobro da

altura em metros), sendo que os valores entre 25 e 29,9 indicam sobrepeso e

valores acima de 30 indicam obesidade.

A OMS salienta que a obesidade constitui uma comorbidade evitável,

tratável e modificável, sugerindo para tanto a restrição do consumo calórico, o

aumento do gasto energético pela prática regular de atividade desportiva e,

inclusive, o apoio familiar, social e psicológico. A OMS destaca Algumas

doenças entre os mais frequentes estão os problemas cardiovasculares, os

distúrbios do movimento e alguns tipos de câncer fígado, vesícula biliar, rins e

intestino. Este e um assunto de saúde publicam e precisam ser discutido em

diversas redes publicas como saúde educação e rede privada com a população

em geral.

Nesse sentido, na perspectiva neuropsicológica e em consonância ao

reconhecimento da OMS acerca dos êxitos alcançáveis à psicoterapia

orientada ao enfrentamento da questão, cumpre destacar o alimentar-se como

um produto complexo de funções cerebrais interligadas, sujeita às

interferências de cunho psicoemocional neuromediadas. Tais peculiaridades do

sistema nervoso central, também chamadas funções executivas, englobam um

organizado sistema administrativo neurológico sobre diversas habilidades

cognitivas que permitem ao indivíduo realizar ações voluntárias, autônomas,

auto-organizadas e orientadas por metas e objetivos.

O circuito cerebral envolvido nas funções executivas se caracteriza pela

integração desses processos cognitivos e pela capacidade de gerar sua auto-

regulação pela modulação da tomada de decisão, da capacidade de resposta a

problemas e dos comportamentos impulsivos, inclusive do comportamento de

comer excessivamente.

O alimentar-se, portanto, não representa um fenômeno regido

unicamente por necessidades nutricionais, mas também por fatores extrínsecos

que não estão diretamente relacionados à questão existencial de

sobrevivência. Prova disso é o fato de que, por aprendizagem associativa,

alguns sinalizadores ambientais parecem ser capazes de sobrepujar sinais

homeostáticos para atuar como estímulo ou inibidor do comer.

4

1. MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo consiste em uma breve revisão bibliográfica por meio dos

descritores obesidade, neuroanatomia/neuropsicologia e

psicologia/psicoterapia. Após levantamento de publicações na base de dados

SCIELO e no Google Scholar, foram selecionados cincos artigos em língua

portuguesa, publicados em periódicos indexados entre os anos de 2010 e

2015, que discorreram sobre os três núcleos de sentido citados.

Assim, os cincos artigos selecionados foram organizados a seguir, por

ordem cronológica de publicação, título do estudo, tipo do estudo, periódico

indexado da sua publicação e fonte de pesquisa em que foi localizado.

A temática escolhida para este trabalho foi selecionada, pois este

conteúdo de extrema importância social. E um evento de proporções globais e

de prevalência crescente. No Brasil, o sobrepeso e a obesidade vêm

aumentando em todas as faixas etárias e em ambos os sexos, em todos os

níveis de renda, sendo a velocidade de crescimento mais expressiva na

população com menor rendimento família.

Pois o ato da alimentação não representa um fenômeno regido

unicamente por necessidades nutricionais, mas também por fatores extrínsecos

que não estão diretamente relacionados à questão existencial de

sobrevivência. Alguns sinalizadores ambientais parecem ser capazes de

sobrepujar sinais homeostáticos para atuar como estímulo ou inibidor do comer

apesar da saciedade ou fome, respectivamente, com um trajeto do circuito

cerebral que envolveria, de forma ainda pouco elucidada, a amígdala, o

hipotálamo lateral e medial e o córtex pré-frontal, segundo estudos de

neuroimagem e mapeamento cerebral.

Por essa via, urge esclarecer a relação entre áreas específicas do

sistema nervoso central (SNC) e funções cognitivas que permeiam o

desenvolvimento da obesidade com vistas ao fortalecimento de estratégias

psicoterapêuticas potentes e orientadas à prevenção e ao tratamento do

agravo.

5

Com o objetivo de Identificar evidências da relação entre estruturas

neuroanatômicas e o comportamento alimentar, orientando-as à elucidação de

estratégias psicoterapêuticas úteis no acompanhamento de casos de

obesidade, à luz dos autores dos artigos selecionados.

Quadro 1: Organização e identificação dos artigos selecionados.

AUTOR &

ANO TÍTULO DO ESTUDO

TIPO DO ESTUDO

PERIÓDICO DA

PUBLICAÇÃO

Landeiro e

Quarantini

(2011)6

Obesidade: Controle

Neural e Hormonal do

Comportamento

Alimentar

Revisão bibliográfica

extensiva, de rol aberto.

Revista de Ciências

Médicas e Biológicas

Van De

Dande-lee

et al (2012)7

Disfunção hipotalâmica

na obesidade

Revisão bibliográfica

extensiva, de rol aberto.

Arquivo Brasileiro de

Endocrinologia e

Metabolismo

Ribeiro e

Santos

(2013)8

Recompensa alimentar:

mecanismos envolvidos e

implicações para a

obesidade.

Revisão não

sistemática, de rol

aberto.

Revista Portuguesa de

Endocrinologia,

Diabetes e Metabolismo

Ribeiro et al

(2015)9

Obesidade: um fenótipo

de dependência?

Estudo de caso-

controle, com amostra

de 72 obesos adultos

para aplicação do teste

YFAS na avaliação da

dependência alimentar

Revista Portuguesa de

Endocrinologia,

Diabetes e Metabolismo

Wanderley e

Hamdan

(2015)10

Relações entre obesidade

e controle inibitório: uma

revisão sistemática.

Revisão sistemática de

literatura, com rol de 10

artigos.

Revista de

Neuropsicologia

Latinoamericana

Fonte: Os artigos selecionados para este estudo, sequenciados

cronologicamente pela data de publicação.

Em razão da diversidade de evidências apontadas pelos artigos

escolhidos, além da própria heterogeneidade que envolve a temática, foram

identificados quatros eixos temáticos sob os quais as considerações dos

referidos artigos foram agrupadas para fins de estruturação da discussão a

6

seguir, sendo eles: 1) Significados da obesidade; 2) Estruturas

neuroanatômicas, circuitos neurais e modulação neuroquímica do comer; 3)

Processos cognitivos e sistemas psicoemocionais do comportamento alimentar

em obesos; 4) Elucidação de estratégias úteis na abordagem psicoterapêutica

da pessoa obesa.

2. Significados da Obesidade

Para além da conceituação técnica já apresentada, alguns artigos

agregaram outros sentidos relevantes à definição da obesidade. Na visão dos

autores, obesidade é multideterminada, porém, as causas decorrentes das

questões hormonais e neuroquímicas parecem preponderar na análise de

origem do agravo.

A obesidade também foi classificada como uma doença

neuropsicológica, uma vez que decorre e se sustenta a partir de inúmeros

circuitos neuroquímicos e hormonais bastante peculiares no obeso.

Há autores que apontam elementos da perspectiva evolucionista no

aumento da obesidade. Segundo essa visão, os sistemas regulatórios

alimentares cerebrais seriam ineficazes nessa regulação, pois, nos primórdios,

o sistema nervoso central humano criou funcionalidades, até hoje preservadas,

para garantir a procura irrestrita por alimento e a prevenção de morte por

desnutrição, sem desenvolver habilidades dedicadas a evitar a obesidade.

Outro mecanismo neurocognitivo dos tempos rudimentares que se

manteria até a atualidade é o fato de que a saciedade muitas vezes não se

relaciona ao volume ingerido, mas aos alimentos disponíveis e que foram

consumidos. Essa seria a razão para a tendência natural ao aumento da

ingesta quando do aumento da diversidade de alimentos disponíveis.

Pessoas obesas tendem a focar mais a recompensa imediata hedônica

do alimento e desconsiderar os efeitos negativos futuros desse

comportamento, caracterizando assim o comer por impulso e não por uma

tomada de decisão coerente. Pequenas mudanças nos hábitos cotidianos de

consumo de cada indivíduo são essenciais para a transição para um estilo de

vida mais sustentável. Mudanças no simples ato de se alimentar, por exemplo,

7

podem gerar bons frutos. Adotar como critérios para a compra não só o preço,

mas também a qualidade, a origem, as informações sobre os impactos sociais

e ambientais causados pela empresa fabricante, pode trazer grandes

benefícios para a saúde, para a sociedade.

3. ESTRUTURAS NEUROANATÔMICAS, CIRCUITOS NEUOANATÔMICAS,

CIRCUITOS NEURAIS E MODULAÇÃO NEUROQUÍMICA DO COMER;

A fome fisiológica é controlada por um grupo de neurônios

especializados no hipotálamo lateral, bem como a saciedade fisiológica é

comandada pelos neurônios especializados do hipotálamo ventromedial. Essas

estruturas neuroanatômicas atuam na regência de um processo de múltiplos

fatores por meio de regulação hormonal, modulação por neurotransmissores e

comunicação intercelular periférica e central.

Pode-se destacar a atuação da leptina (hormônio produzido pelos

adipócitos para, em termos gerais, inibir a ingesta pelo anabolismo) e da

insulina (hormônio pancreático que motiva a ingesta pelo catabolismo) como os

dois principais elementos nesse circuito, pois além da função hormonal,

também impactam a transmissão sináptica hipotalâmica.

Em obesos, entretanto, por meio de investigação laboratorial, tomografia

por emissão de pósitrons e ressonância magnética funcional, verificam-se

fortes indícios da existência de uma atividade inflamatória sistêmica e crônica,

secundária ao perfil hiperlipídico, que provoca a resistência hipotalâmica aos

efeitos desses hormônios, a despeito de sua alta presença na circulação

sanguínea. Esse mecanismo, segundo os autores, pode gerar morte neuronal

hipotalâmica programada (apoptose) e sustentar a hiperfagia (comer

excessivo), o gasto energético reduzido e, portanto, a manutenção e até o

agravamento da obesidade.

Assim, tais características neuroquímicas dos obesos se traduzem na

perda do equilíbrio homeostático que regula o consumo e o gasto energético e

na famigerada dificuldade em emagrecer relatada no contexto da obesidade.

8

A rede neurofuncional, via leptina, insulina, grelina e outros tantos

mediadores químicos, emite sinais que promovem interação neuronal do

núcleo arqueado no terceiro ventrículo hipotalâmico para estimular a

termogênese e a saciedade após consumo energético suficiente ou ainda para

inibir a termogênese e estimular a sensação de fome, durante períodos de

privação alimentar.

Houve artigos que se alinharam no que tange à apoptose hipotalâmica

secundária à toxicidade inflamatória da ingesta hiperlipídica do obeso, e

somam evidências que apontam para a ocorrência de outros danos cerebrais

em áreas como o hipocampo, repercutindo com baixo desempenho cognitivo e

maior vulnerabilidade a doenças do estresse e depressão.

Os pesquisadores destacam também o núcleo arqueado do hipotálamo

como o centro regulador do apetite que liberam neurotransmissores diversos

para mediar a resposta de busca ou recusa alimentar com ação sobre o núcleo

ventromedial, o núcleo paraventricular e o hipotálamo lateral.

Ainda, as estruturas límbico-corticais (amígdala e o córtex pré-frontal)

também participam desse processo executivo alimentar por meio de

mecanismos de feedback com o hipotálamo lateral para a atribuição de valor

hedônico ao alimento.

Adicionalmente, ressalta-se a atuação do hipocampo na modulação do

comportamento alimentar por suas funcionalidades nos processos de ensino-

aprendizagem e memória. Por fim, o estudo elucida que o eixo hipotálamo-

pituitária-adrenal estabelece preferências alimentares e suas correlações com

o humor.

4. Processos cognitivos e sistemas psicoemocionais do comportamento

alimentar em obesos:

Embora haja uma interpretação consensual e intuitiva de que comer e

até mesmo o engordar ou o manter-se gordo seja uma ação de

responsabilidade autônoma individual, tem-se descoberto pelas evidências de

pesquisas recentes que existe um complexo e poderoso circuito biológico

9

coordenado pelo SNC que determina a ingesta e o gasto energético. E,

portanto, na ocorrência de falhas nesse sistema, a obesidade surgiria se

manteria e agravaria.

Os alimentos calóricos e o fácil acesso a eles, preço baixo,

disponibilidade abundante, pressão midiática e publicitária, além do ritmo

cotidiano acelerado e estressante que também influenciam as escolhas

relacionadas ao comer.

O conflito dos obesos é intenso, pois o apelo dos alimentos é saliente e

há a consciência de ganho de peso decorrente desse consumo. O controle

inibitório, uma das funções executivas, constituiria um processo de auto

regulação capaz de resolver esse conflito, por exemplo, pela via da

recompensa em longo prazo.

Os autores apresentam evidências de que os obesos possuem controle

inibitório diminuto. Esse aspecto torna urgente a formulação de estratégias de

tratamento de crianças obesas, pois ainda não possuem funções executivas

consolidadas e, portanto, incorreriam em controle inibitório mais restrito, com

maior risco de tornarem-se adultos obesos.

Diversas ações do hipotálamo a partir de informações provenientes do

córtex cerebral, como influências na seleção de alimentos, na resposta aos

tipos de dieta, na sensorialidade que capta a aparência, textura, temperatura,

consistência, olfato e paladar dos alimentos, nas representações mnemônicas

do alimento, nos circuitos de recompensa imediata ou a longo-prazo, entre

outras.

Tais processos corticais estabelecem de forma psicoemocional o quanto

uma comida é desejável e insaciável. Nesse sentido, a hiperfagia pode produzir

respostas similares à adição em drogas, especialmente no contexto do

consumo do alimento como automedicação contra questões emocionais.

Evidências apontam similaridades em circuitos cerebrais de aditos e

obesos, especialmente no que tange os processos de recompensa, decisão,

aprendizagem e memória. No nível neuroquímico, considerando o sistema

dopaminérgico, tanto em aditos quanto em obesos nota-se redução de

10

peptídios mediadores por hipometabolismo do córtex orbito-frontal, giro

cingulado e do córtex pré-frontal dorsolateral, que são estruturas que atuariam

no controle inibitório e processamento de emoções.

Essas evidências sinalizam uma percepção aumentada das

recompensas que foram estimuladas por vias sensoriais (olfato, visual,

gustativo) e uma redução da recompensa pela ingesta. Assim, o desequilíbrio

entre a recompensa esperada e obtida (inferior ao que se esperava) gera o

comportamento da hiperingestão como estratégia ao alcance da recompensa

esperada. Assim, o sistema de recompensa cerebral é o fundamento neural

dos comportamentos de dependência.

5. Elucidação de estratégias úteis na abordagem psicoterapêutica da

pessoa obesa:

Os autores consideram que o reconhecimento dessa rede neuronal

cognitiva mais propensa às falhas de um bloqueio regulatório no caso dos

idosos é um aspecto bastante conhecido pelas indústrias de produtos

alimentícios e empresas do ramo alimentício. A publicidade de alimentos

veicula conteúdos que distorcem associações cognitivas desejáveis à vida

saudável, induzindo de forma neurônica o consumo de comidas de baixo valor

nutricional e alto valor calórico, com efeitos danosos às pessoas.

Além de mitigar o contato com fontes publicitárias, como os comerciais

de televisão, essas reflexões também sinalizam que é necessário maior

envolvimento dos segmentos sociais representativos de pessoas obesas junto

aos órgãos que formulam e implementam políticas publicas na temática

alimentar.

Outros autores alertam, ainda, que a compreensão de menor controle

inibitório alimentar entre obesos aponta para a necessidade de treinos de

controle inibitório como parte de um programa de perda de peso.

Outro ponto relevante, segundo outros autores, e a motivação para o

consumo de alimentos de alta palatabilidade como fome hedônica simbolizaria

o prazer decorrente dessa ingesta em detrimento da ponderação nutricional e

11

energética. Essa é a habilidade de subjugar os sinais homeostáticos e orientar-

se pelo prazer alimentar e consequentemente o ganho de peso.

A sobreposição é capaz de explicar a suposta ineficácia das estratégias

nutricionais, farmacológicas e terapêuticas no acompanhamento psicoterápico

de obesos, impondo a necessidade de entender os sistemas neurais

complexos que podem ser capazes de sobrepor a homeostasia energética

sobre o prazer alimentar por meio de abordagem psicoterápica.

6. A sociedade contemporânea e os padrões de corpo perfeito

Podemos compreender que o corpo é um vetor muito importante para a

construção da identidade do individuo, também percebemos a sua importância

para interação dos grupos sociais. Há uma ideia que o corpo é construído a

partir de varias significações, culturalmente usadas e associadas às pessoas

vistas como corporeidade. O corpo não é só produto, mas também, quem

constrói a sociedade. Os significados culturais das praticas corporais, o símbolo

do corpo na cultura e através dele podemos obter o conhecimento de nossa

sociedade. (SOARES, 2010).

O corpo é algo primordial para interagirmos na sociedade, pois

dependendo da forma que ele se encontra somos muito bem visto por

determinados grupos sociais, isto é, se ele estiver em “forma ideal” de acordo

com o padrão que a mídia tenta nos influenciar, caso contrario se não

estivermos nesse padrão estético somos muitas vezes criticados por alguns

grupos sociais, dificultando assim a interação social.

A estética favorece na vida social porque a sociedade atual impôs uma

ideologia onde afirma que devemos manter o corpo em forma, ou seja,

“malhado”, então dessa maneira a pessoa que tem seu corpo considerável

“perfeito” em muitos casos é mais favorecido na vida social de que outra que

não tem o chamado corpo “ideal”.

Dessa forma o desenvolvimento social influencia diretamente o pensar

sobre si e sobre o próprio corpo. Tem ligação direta com o desenvolvimento

psicológico da sociedade sobre sua visão de mundo quando comparada com

12

seu corpo. Podendo a cultura contribuir ou atrapalhar um desenvolvimento

saldável no quesito da saúde e obesidade.

A convivência social seus hábitos e sua historia tem fator diretamente

relacionado a esta temática. Para Rabello e Passos (2015, p. 4, 5), Vygotsky

ressalta que: [...]

O desenvolvimento [...] psicológico/mental (que é

promovido pela convivência social, pelo processo de

socialização, além das maturações orgânicas) – depende

da aprendizagem na medida em que se dá por processos

de internalização de conceitos, que são promovidos pela

aprendizagem social, principalmente aquela planejada no

meio escolar, ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter

todo o aparato biológico da espécie para realizar uma

tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas

específicas que propiciem esta aprendizagem.

Portanto, o sujeito seja ele com a obesidade ou dentro dos padrões

aceitos socialmente, é reconhecido como um ser pensante que vincula suas

ações à representação do mundo que constitui sua cultura, sendo o meio social

o principal lugar onde ocorre o ensino-aprendizagem, pois envolve diretamente

a interação entre os sujeitos. Assim uma sociedade que se tem muito a cobrar

para que todos estejam dentro dos “padrões”, porem pouco se contribui para

uma vida saudável e não acolhe esta disfunção de comportamento quando se

fala em comida só atrapalha o desenvolvimento das pesos que sofrem desse

mal.

A construção do sujeito é mediada ao longo do tempo pelo

desenvolvimento humano, e construída através das relações e da cultura.

Assim um sujeito se reconhecer quanto obsesso e se reconhecer fora dos

padres atuais da sociedade geram muito sofrimento e solidão. Pois as relações

são construídas pelos signos que são as comunicações entre as funções

psicológicas superiores, que está exposto para assim tornar conhecido o

processo de constituição do homem.

13

Uma construção com preconceito relacionado ao corpo só vai trazer

muito sofrimento e uma vida social disfuncional. As experiências decorridas da

apreensão dos hábitos alimentares desde a infância podem definir os aspectos

subjetivos que influenciam o comportamento alimentar do indivíduo. A memória

afetiva pode interferir na resposta perante os estímulos sociais para o consumo

ou para atender a um padrão de beleza preestabelecido, por exemplo.

Muitas vezes, a comida se apresenta como um refúgio, um escape

prazeroso das pressões que o indivíduo enfrenta no dia a dia. Esse sentimento

remete às lembranças em que o alimento foi sentido como um objeto que

significou a satisfação de um desejo não só fisiológico, mas como uma carga

extremamente afetiva, preenchendo, assim, um espaço importante nas

relações do sujeito com o meio externo. A forma do sujeito se relacionar e se

organizar muito tem haver com seus hábitos alimentares.

Os hábitos incorporados pelo indivíduo implica a ideia das relações

sociais, de interações sociais, principalmente a de interações simbólicas, em

um espaço determinado, carregadas de significados e relações desiguais entre

sujeitos que possuem um padrão corporal diferente do exigido socialmente.

Torna-se importante auxiliar o indivíduo a reconhecer os aspectos que

interferem no seu comportamento ou dificultam as mudanças em suas práticas

alimentares.

A partir da conscientização e aceitação, o indivíduo mobiliza-se para agir

e transformar a sua realidade. Por isso, a compreensão das particularidades de

cada indivíduo contribui para uma abordagem mais assertiva, não

desvinculando o sujeito do meio social, historicamente construído, em que está

inserido, porem fazendo-o reconhecer que este sujeito e em quanto ser nessa

sociedade e onde ele se reconhece. A auto aceitação e um importante passo

para o processo de equilíbrio psicológico e paz com seu corpo.

A informação esta disponível, e as diversas da divulgação de

conhecimento sobre a importância dos hábitos de vida saudáveis,

independente de corpo hábitos para uma vida psíquica e social com, mas

qualidade porem o indivíduo ainda apresenta justificativas para a não adoção

de uma alimentação mais equilibrada. Com isso, a pessoa consegue adiar a

14

decisão de mudar hábitos e expressa de alguma forma a negação de seus

problemas, sua resistência em enfrentar as dificuldades e lidar com os

sentimentos envolvidos no processo de construção de novas rotinas e um novo

comportamento alimentar esta um empecilho encontrado nas clinicas de

psicologia, pois quem uma mudança de padrão corporal, mas devido o valor

social da comida encontram dificuldade para mudar os hábitos de vida.

Assim, a psicologia seu trabalho multidisciplinar com outras ciências tem

muito a fornecer aquém-esta passando por esse processo. Aos outros

profissionais de saúde cabe reconhecer o grau de compreensão de cada

paciente sobre o seu processo de mudança e adesão ao tratamento, mudança

de hábitos, considerando a complexidade e singularidade de cada sujeito e,

sobretudo, respeitar o tempo de mudança de cada indivíduo que aceitou entrar

neste processo.

Sabe-se que o comportamento disfuncional alimentar, e extremamente

complexo, e contém determinantes externos e internos ao sujeito e as práticas

alimentares são definidas pelo poder socioeconômico, afetivo e cultural do

indivíduo. A construção do hábito alimentar é determinada pela conduta da

família ou do meio em que foi criado. Assim com a aquisição de

comportamentos, mas saudáveis com á praticar atividades físicas.

As escolhas e decisões de cada pessoa ao longo da vida e influenciada

pela herança comportamental e social, muitas vezes carregada de valor afetivo,

Essa memória afetiva é fator determinante na capacidade da pessoa de

alcançar mudanças com maior ou menor facilidade. Leva sempre em

consideração pra uma vida saldável, a felicidade o nível de aceitação do

individuo e sua autoestima com seu corpo e sua vida. O senso de

pertencimento à tribo um grupo é um quesito que sempre este presente na

hora de tomar decisão e de se aceitar como parte de um corpo que tem valor

de destaque em uma sociedade cheia de padrões, que cultiva um corpo que

muitas vezes para estarem nesses padrões às pessoas machucam o próprio

corpo e própria saúde psíquica.

Assim observa-se que a obesidade é um problema de saúde provocado

por diferentes fatores que podem ser físicos, genéticos, psicológicos e

15

ambientais. Mostrando assim evidências científicas que esclarecem a relação

entre estruturas neuroanatômicas, mecanismos neurofuncionais e processos

cognitivos integrados, no contexto da obesidade, com bom nível de

alinhamento entre as pesquisas e sem confronto de entendimento identificável

nos artigos.

Tais evidências constituem potentes subsídios para orientar a

formulação e implementação de programas de prevenção e tratamento da

obesidade, contando inclusive com treinos cognitivos que impulsione a

reconstrução de novos sistemas neurais e o remodelamento de funções

executivas ligadas à questão.

Os programas de prevenção tem mais sucesso quando se insere o

ambiente familiar, pois e provado que a influência dos pais nos padrões de

estilo de vida dos filhos tem muito a contribuir neste processo, incluindo a

escolha dos alimentos, indicam o importante papel da família em relação ao

ganho de peso infantil. E quanto ao estilo de vida e nível de aceitação a

situação atual que cada pessoa se encontra o núcleo familiar também exerce

influencia direta, neste processo de aceitação.

CONCLUSÃO

Infere-se por meio deste estudo que a obesidade é um problema de

saúde provocado por diferentes fatores que podem ser físicos, genéticos,

psicológicos. Neste estudo mostra que as intervenções que produziram

maiores efeitos incluíram a participação dos pais no processo de prevenção a

obesidade tem grande influencia neste processo.

O nível sócio econômico da também influência diretamente o consumo

e os hábitos de uma família. Estudo na cidade do Rio de Janeiro mostrou que

o nível de renda e escolaridade dos pais foi modificador do consumo de

alimentos dos adolescentes. Nos mais pobres o consumo de refrigerantes e

doces entre adolescentes é mais próximo do consumo da mãe, e o consumo

destes itens é muito maior nos adolescentes do que em suas mães entre os de

maior renda.

16

Algumas das tarefas e fazes importante quando se fala em saúde

corporal e bem esta relacionada a um peso ideal para uma vida funcional são:

atividade física embora sua eficácia seja ou longo prazo, atenção ao tamanho

da porção de alimentos enjeridos, técnicas psicoterápicas para conscientização

de alimentos saudáveis como, frutas e vegetais, politicas publicas

governamentais para as escolas trabalharem com alimentação, mas saudáveis

incentivos às famílias a plantarem hortas em suas propriedades.

As emoções são os elementos psicológicos mais associados à

obesidade e ao excesso de peso assim iremos apresentar. Algumas variáveis

psicológicas associadas á obesidade e ao excesso de peso. Assim o estado

emocional de uma pessoa ela diretamente ligado ao apetite, as suas escolhas

e preferencias no momento de escolher os alimentos para suas refeições, esta

ligado ao tamanho das porções. Deste modo a psicologia conta com técnicas

de grande eficácia para trabalhar junto a estes pacientes desdá sua

estruturação neurológica para escolha dos alimentos no sentido de uma

educação alimentar ate uma possível interversão cirúrgica.

Existem muitas pessoas que utiliza a comida com regulação emocional.

Assim diante de frustrações, de ansiedade de desentendimento no contexto da

vida utiliza da alimentação como rota de fuga para não entrar em contato com

estes sentimentos.

As variáveis do ambiente são importantes para qualidade de vida

fatores ambiental relacionada à obesidade e ao excesso de peso, estão

diretamente vinculadas a este tema. As influências vêm nas mudanças no

horário de trabalho, estão relacionadas ou distúrbio do sono. A influência do

ambiente e o elemento chave para a obesidade e aumento de peso.

O psicólogo e o profissional da saúde especializado nas emoções,

comportamentos e pensamentos, portanto e o profissional melhor preparado

para ajudar a pessoa que passa por algum processo de dificuldade em relação

à saúde corporal relacionada ou peso. A psicologia com suas técnicas ira

modificar hábitos pouco saudáveis e aprender a gerenciar as emoções de

forma positiva benéficas para uma melhor qualidade de vida. O tratamento de

obesidade não estará completo se não tiver tratamento psicológico dentro do

17

processo. Será um trabalho multe disciplina onde cada profissional terá um

trabalho árduo a executar.

REFERÊNCIAS

1. WHO. World Health Organization. Obesity and overweight. Geneva. Fact

sheet n° 311. Updated January 2015. Avaiable in:

<http://www.who.int/mediacentre/ factsheets/fs311/en/#>.

2. FERREIRA, Patrícia et al. Obesidade: Prevalência, causas e

consequências. Sintomas Alimentares, Cultura, Corpo e Obesidade. 1ª ed.

Lisboa: Placebo Editora, 2013. p. 11-33. Disponível em: <sp-

ps.pt/uploads/publicacoes/126_c.pdf>.

3. REINERT, K.R.S.; PO’E, E.K.; BARKIN, S.L. The Relationship between

Executive Function and Obesity in Children and Adolescents: A Systematic

Literature Review. Journal of Obesity. 2013; 2013:820956.

doi:10.1155/2013/820956. Avaiable in:

<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3595670/pdf/JOBES2013-

820956.pdf>.

4. DUCHESNE, Mônica et al. Avaliação de funções executivas em indivíduos

obesos com transtorno da compulsão alimentar periódica. Rev. Bras.

Psiquiatr., São Paulo , v. 32, n.4, p.381-388, dez. 2010. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1516-

44462010000400011&lng=pt&nrm=iso>.

5. GOLDENBERG, M. Dominação masculina e saúde: usos do corpo em

jovens das camadas médias urbanas. Ciência & Saúde Coletiva, 10(1): 91-96,

2005.

6. PETROVICH, G. D. Learning and the motivation to eat: Forebrain circuitry.

Physiology & behavior. 2011; 104(4):582-589.

doi:10.1016/j.physbeh.2011.04.059. Avaiable in:

<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3446257/>.

18

7. LANDEIRO, F. M.; QUARANTINI, L. C. Obesidade: Controle Neural e

Hormonal do Comportamento Alimentar. Revista de Ciências Médicas e

Biológicas, v. 10, n. 3 (2011) ISSN 1677-5090:2010. Disponível em:

<http://www.portalseer.ufba.br/index. php/cmbio/article/view/5883/4237>.

8. VAN DE SANDE-LEE, Simone et al. Disfunção hipotalâmica na obesidade.

Arq Bras Endocrinol Metab, v. 56, n. 6, p. 341-50, 2012. Disponível em: <

http://www.aem-sbem.com/media/uploads/01_ABEM_566.pdf>.

9. RIBEIRO, Gabriela; SANTOS, Osvaldo. Recompensa alimentar:

mecanismos envolvidos e implicações para a obesidade. Rev Port Endocrinol

Diabetes Metab. 2013;8(2):82–88. Disponível em: <

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S1646343913000400>.

10. RIBEIRO, Gabriela et al. Obesidade: um fenótipo de dependência? Rev

Port Endocrinol Diabetes Metab, 2015;10(2):193–199. Disponível em:

<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1646343914000686>.

11. WANDERLEY, Marjorie Rodrigues; HAMDAN, Amer Cavalheiro. Relações

entre obesidade e controle inibitório: uma revisão sistemática. Neuropsicologia

Latinoamericana, v. 7, n. 1, 2015. Disponível em:

<http://neuropsicolatina.org/index.

php/Neuropsicologia_Latinoamericana/article/view/223/17>.