evidÊncias da relaÇÃo entre estruturas … · revisão bibliográfica extensiva, de rol aberto....
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EVIDÊNCIAS DA RELAÇÃO ENTRE ESTRUTURAS NEUROANATÔMICAS,
COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM OBESOS E ESTRATÉGIAS
PSICOTERÁPICAS1
Fernanda Tores 1
Francelene Brito da Silva 2
Naythielle Rodrigues de Souza3
Sandra Pereira Cruz4
RESUMO
A obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
agravo prevenível e tratável, decorrente de alimentação excessiva sem gasto
energético compatível, com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30
pontos. Assim, esse estudo objetivou a melhor compreensão dos mecanismos
neurais e processos cognitivos no obeso e, ainda, colher estratégias
fortalecedoras da abordagem psicoterapêutica orientada ao manejo desses
casos. Dessa forma, foram selecionados cinco artigos publicados em revistas
indexadas, na língua portuguesa, que discorriam sobre os três eixos desse
tema. Os resultados levantados foram agrupados em quatro núcleos de
sentido, a saber, significados da obesidade; estruturas neuroanatômicas,
circuitos neurais e modulação neuroquímica do comer; processos cognitivos e
sistemas psicoemocionais do comportamento alimentar em obesos; elucidação
de estratégias úteis na abordagem psicoterapêutica da pessoa obesa. O
estudo conclui pela capacidade de reversão das evidências apontadas pelos
artigos em subsídio orientador das mudanças do comportamento alimentar do
obeso pela via da psicoterapia.
Palavras-chave: Obesidade, Neuroanatomia, Neuropsicologia, Psicoterapia.
1 Acadêmica de Psicologia, São Lucas , [email protected] 2 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected] 3 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected] 4 Acadêmica de Psicologia, São Lucas, [email protected]
2
ABSTRACT
Obesity is defined by the World Health Organization (WHO) as a preventable
and treatable injury, resulting from excessive eating with a sedentary lifestile,
compatible with body mass index (BMI) above 30 points. Thus, this study aimed
at better understanding of the neural mechanisms and cognitive processes in
the obese and at empowering strategies psychotherapeutic oriented approach
to handling such cases. Therefore, we selected 5 articles published in refereed
journals, in Portuguese, which discoursed on the three axes of this theme. The
results collected were divided into 4 directive questions: obesity meanings;
neuroanatomical structures, neural circuitry and neurochemistry modulation of
eating; cognitive and psycho-emotional systems of feeding behavior in obese;
elucidation of useful strategies in the psychotherapeutic approach of obese
person. The study concludes with the ability to reverse the evidence presented
by articles in guiding benefit from changes in the food obese behavior by means
of psychotherapy.
Keywords: Obesity. Neuroanatomy. Neuropsychology. Psychotherapy.
INTRODUÇÃO
A obesidade é um problema de saúde provocado por diferentes fatores
que podem ser físicos, genéticos, psicológicos e ambientais. O sobrepeso e a
obesidade são definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o
acúmulo excessivo de gordura corporal secundário à ingesta hipercalórica e ao
sedentarismo.
O sobre peso traz impacto negativo sobre a saúde por representar fator
de alto risco para doenças cardiovasculares, complicações
musculoesqueléticas, distúrbios metabólico-hormonais e alguns tipos de
cânceres. A caracterização do quadro tem por base o cálculo do Índice de
3
Massa Corporal - IMC (peso corporal em quilogramas dividido pelo dobro da
altura em metros), sendo que os valores entre 25 e 29,9 indicam sobrepeso e
valores acima de 30 indicam obesidade.
A OMS salienta que a obesidade constitui uma comorbidade evitável,
tratável e modificável, sugerindo para tanto a restrição do consumo calórico, o
aumento do gasto energético pela prática regular de atividade desportiva e,
inclusive, o apoio familiar, social e psicológico. A OMS destaca Algumas
doenças entre os mais frequentes estão os problemas cardiovasculares, os
distúrbios do movimento e alguns tipos de câncer fígado, vesícula biliar, rins e
intestino. Este e um assunto de saúde publicam e precisam ser discutido em
diversas redes publicas como saúde educação e rede privada com a população
em geral.
Nesse sentido, na perspectiva neuropsicológica e em consonância ao
reconhecimento da OMS acerca dos êxitos alcançáveis à psicoterapia
orientada ao enfrentamento da questão, cumpre destacar o alimentar-se como
um produto complexo de funções cerebrais interligadas, sujeita às
interferências de cunho psicoemocional neuromediadas. Tais peculiaridades do
sistema nervoso central, também chamadas funções executivas, englobam um
organizado sistema administrativo neurológico sobre diversas habilidades
cognitivas que permitem ao indivíduo realizar ações voluntárias, autônomas,
auto-organizadas e orientadas por metas e objetivos.
O circuito cerebral envolvido nas funções executivas se caracteriza pela
integração desses processos cognitivos e pela capacidade de gerar sua auto-
regulação pela modulação da tomada de decisão, da capacidade de resposta a
problemas e dos comportamentos impulsivos, inclusive do comportamento de
comer excessivamente.
O alimentar-se, portanto, não representa um fenômeno regido
unicamente por necessidades nutricionais, mas também por fatores extrínsecos
que não estão diretamente relacionados à questão existencial de
sobrevivência. Prova disso é o fato de que, por aprendizagem associativa,
alguns sinalizadores ambientais parecem ser capazes de sobrepujar sinais
homeostáticos para atuar como estímulo ou inibidor do comer.
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1. MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo consiste em uma breve revisão bibliográfica por meio dos
descritores obesidade, neuroanatomia/neuropsicologia e
psicologia/psicoterapia. Após levantamento de publicações na base de dados
SCIELO e no Google Scholar, foram selecionados cincos artigos em língua
portuguesa, publicados em periódicos indexados entre os anos de 2010 e
2015, que discorreram sobre os três núcleos de sentido citados.
Assim, os cincos artigos selecionados foram organizados a seguir, por
ordem cronológica de publicação, título do estudo, tipo do estudo, periódico
indexado da sua publicação e fonte de pesquisa em que foi localizado.
A temática escolhida para este trabalho foi selecionada, pois este
conteúdo de extrema importância social. E um evento de proporções globais e
de prevalência crescente. No Brasil, o sobrepeso e a obesidade vêm
aumentando em todas as faixas etárias e em ambos os sexos, em todos os
níveis de renda, sendo a velocidade de crescimento mais expressiva na
população com menor rendimento família.
Pois o ato da alimentação não representa um fenômeno regido
unicamente por necessidades nutricionais, mas também por fatores extrínsecos
que não estão diretamente relacionados à questão existencial de
sobrevivência. Alguns sinalizadores ambientais parecem ser capazes de
sobrepujar sinais homeostáticos para atuar como estímulo ou inibidor do comer
apesar da saciedade ou fome, respectivamente, com um trajeto do circuito
cerebral que envolveria, de forma ainda pouco elucidada, a amígdala, o
hipotálamo lateral e medial e o córtex pré-frontal, segundo estudos de
neuroimagem e mapeamento cerebral.
Por essa via, urge esclarecer a relação entre áreas específicas do
sistema nervoso central (SNC) e funções cognitivas que permeiam o
desenvolvimento da obesidade com vistas ao fortalecimento de estratégias
psicoterapêuticas potentes e orientadas à prevenção e ao tratamento do
agravo.
5
Com o objetivo de Identificar evidências da relação entre estruturas
neuroanatômicas e o comportamento alimentar, orientando-as à elucidação de
estratégias psicoterapêuticas úteis no acompanhamento de casos de
obesidade, à luz dos autores dos artigos selecionados.
Quadro 1: Organização e identificação dos artigos selecionados.
AUTOR &
ANO TÍTULO DO ESTUDO
TIPO DO ESTUDO
PERIÓDICO DA
PUBLICAÇÃO
Landeiro e
Quarantini
(2011)6
Obesidade: Controle
Neural e Hormonal do
Comportamento
Alimentar
Revisão bibliográfica
extensiva, de rol aberto.
Revista de Ciências
Médicas e Biológicas
Van De
Dande-lee
et al (2012)7
Disfunção hipotalâmica
na obesidade
Revisão bibliográfica
extensiva, de rol aberto.
Arquivo Brasileiro de
Endocrinologia e
Metabolismo
Ribeiro e
Santos
(2013)8
Recompensa alimentar:
mecanismos envolvidos e
implicações para a
obesidade.
Revisão não
sistemática, de rol
aberto.
Revista Portuguesa de
Endocrinologia,
Diabetes e Metabolismo
Ribeiro et al
(2015)9
Obesidade: um fenótipo
de dependência?
Estudo de caso-
controle, com amostra
de 72 obesos adultos
para aplicação do teste
YFAS na avaliação da
dependência alimentar
Revista Portuguesa de
Endocrinologia,
Diabetes e Metabolismo
Wanderley e
Hamdan
(2015)10
Relações entre obesidade
e controle inibitório: uma
revisão sistemática.
Revisão sistemática de
literatura, com rol de 10
artigos.
Revista de
Neuropsicologia
Latinoamericana
Fonte: Os artigos selecionados para este estudo, sequenciados
cronologicamente pela data de publicação.
Em razão da diversidade de evidências apontadas pelos artigos
escolhidos, além da própria heterogeneidade que envolve a temática, foram
identificados quatros eixos temáticos sob os quais as considerações dos
referidos artigos foram agrupadas para fins de estruturação da discussão a
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seguir, sendo eles: 1) Significados da obesidade; 2) Estruturas
neuroanatômicas, circuitos neurais e modulação neuroquímica do comer; 3)
Processos cognitivos e sistemas psicoemocionais do comportamento alimentar
em obesos; 4) Elucidação de estratégias úteis na abordagem psicoterapêutica
da pessoa obesa.
2. Significados da Obesidade
Para além da conceituação técnica já apresentada, alguns artigos
agregaram outros sentidos relevantes à definição da obesidade. Na visão dos
autores, obesidade é multideterminada, porém, as causas decorrentes das
questões hormonais e neuroquímicas parecem preponderar na análise de
origem do agravo.
A obesidade também foi classificada como uma doença
neuropsicológica, uma vez que decorre e se sustenta a partir de inúmeros
circuitos neuroquímicos e hormonais bastante peculiares no obeso.
Há autores que apontam elementos da perspectiva evolucionista no
aumento da obesidade. Segundo essa visão, os sistemas regulatórios
alimentares cerebrais seriam ineficazes nessa regulação, pois, nos primórdios,
o sistema nervoso central humano criou funcionalidades, até hoje preservadas,
para garantir a procura irrestrita por alimento e a prevenção de morte por
desnutrição, sem desenvolver habilidades dedicadas a evitar a obesidade.
Outro mecanismo neurocognitivo dos tempos rudimentares que se
manteria até a atualidade é o fato de que a saciedade muitas vezes não se
relaciona ao volume ingerido, mas aos alimentos disponíveis e que foram
consumidos. Essa seria a razão para a tendência natural ao aumento da
ingesta quando do aumento da diversidade de alimentos disponíveis.
Pessoas obesas tendem a focar mais a recompensa imediata hedônica
do alimento e desconsiderar os efeitos negativos futuros desse
comportamento, caracterizando assim o comer por impulso e não por uma
tomada de decisão coerente. Pequenas mudanças nos hábitos cotidianos de
consumo de cada indivíduo são essenciais para a transição para um estilo de
vida mais sustentável. Mudanças no simples ato de se alimentar, por exemplo,
7
podem gerar bons frutos. Adotar como critérios para a compra não só o preço,
mas também a qualidade, a origem, as informações sobre os impactos sociais
e ambientais causados pela empresa fabricante, pode trazer grandes
benefícios para a saúde, para a sociedade.
3. ESTRUTURAS NEUROANATÔMICAS, CIRCUITOS NEUOANATÔMICAS,
CIRCUITOS NEURAIS E MODULAÇÃO NEUROQUÍMICA DO COMER;
A fome fisiológica é controlada por um grupo de neurônios
especializados no hipotálamo lateral, bem como a saciedade fisiológica é
comandada pelos neurônios especializados do hipotálamo ventromedial. Essas
estruturas neuroanatômicas atuam na regência de um processo de múltiplos
fatores por meio de regulação hormonal, modulação por neurotransmissores e
comunicação intercelular periférica e central.
Pode-se destacar a atuação da leptina (hormônio produzido pelos
adipócitos para, em termos gerais, inibir a ingesta pelo anabolismo) e da
insulina (hormônio pancreático que motiva a ingesta pelo catabolismo) como os
dois principais elementos nesse circuito, pois além da função hormonal,
também impactam a transmissão sináptica hipotalâmica.
Em obesos, entretanto, por meio de investigação laboratorial, tomografia
por emissão de pósitrons e ressonância magnética funcional, verificam-se
fortes indícios da existência de uma atividade inflamatória sistêmica e crônica,
secundária ao perfil hiperlipídico, que provoca a resistência hipotalâmica aos
efeitos desses hormônios, a despeito de sua alta presença na circulação
sanguínea. Esse mecanismo, segundo os autores, pode gerar morte neuronal
hipotalâmica programada (apoptose) e sustentar a hiperfagia (comer
excessivo), o gasto energético reduzido e, portanto, a manutenção e até o
agravamento da obesidade.
Assim, tais características neuroquímicas dos obesos se traduzem na
perda do equilíbrio homeostático que regula o consumo e o gasto energético e
na famigerada dificuldade em emagrecer relatada no contexto da obesidade.
8
A rede neurofuncional, via leptina, insulina, grelina e outros tantos
mediadores químicos, emite sinais que promovem interação neuronal do
núcleo arqueado no terceiro ventrículo hipotalâmico para estimular a
termogênese e a saciedade após consumo energético suficiente ou ainda para
inibir a termogênese e estimular a sensação de fome, durante períodos de
privação alimentar.
Houve artigos que se alinharam no que tange à apoptose hipotalâmica
secundária à toxicidade inflamatória da ingesta hiperlipídica do obeso, e
somam evidências que apontam para a ocorrência de outros danos cerebrais
em áreas como o hipocampo, repercutindo com baixo desempenho cognitivo e
maior vulnerabilidade a doenças do estresse e depressão.
Os pesquisadores destacam também o núcleo arqueado do hipotálamo
como o centro regulador do apetite que liberam neurotransmissores diversos
para mediar a resposta de busca ou recusa alimentar com ação sobre o núcleo
ventromedial, o núcleo paraventricular e o hipotálamo lateral.
Ainda, as estruturas límbico-corticais (amígdala e o córtex pré-frontal)
também participam desse processo executivo alimentar por meio de
mecanismos de feedback com o hipotálamo lateral para a atribuição de valor
hedônico ao alimento.
Adicionalmente, ressalta-se a atuação do hipocampo na modulação do
comportamento alimentar por suas funcionalidades nos processos de ensino-
aprendizagem e memória. Por fim, o estudo elucida que o eixo hipotálamo-
pituitária-adrenal estabelece preferências alimentares e suas correlações com
o humor.
4. Processos cognitivos e sistemas psicoemocionais do comportamento
alimentar em obesos:
Embora haja uma interpretação consensual e intuitiva de que comer e
até mesmo o engordar ou o manter-se gordo seja uma ação de
responsabilidade autônoma individual, tem-se descoberto pelas evidências de
pesquisas recentes que existe um complexo e poderoso circuito biológico
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coordenado pelo SNC que determina a ingesta e o gasto energético. E,
portanto, na ocorrência de falhas nesse sistema, a obesidade surgiria se
manteria e agravaria.
Os alimentos calóricos e o fácil acesso a eles, preço baixo,
disponibilidade abundante, pressão midiática e publicitária, além do ritmo
cotidiano acelerado e estressante que também influenciam as escolhas
relacionadas ao comer.
O conflito dos obesos é intenso, pois o apelo dos alimentos é saliente e
há a consciência de ganho de peso decorrente desse consumo. O controle
inibitório, uma das funções executivas, constituiria um processo de auto
regulação capaz de resolver esse conflito, por exemplo, pela via da
recompensa em longo prazo.
Os autores apresentam evidências de que os obesos possuem controle
inibitório diminuto. Esse aspecto torna urgente a formulação de estratégias de
tratamento de crianças obesas, pois ainda não possuem funções executivas
consolidadas e, portanto, incorreriam em controle inibitório mais restrito, com
maior risco de tornarem-se adultos obesos.
Diversas ações do hipotálamo a partir de informações provenientes do
córtex cerebral, como influências na seleção de alimentos, na resposta aos
tipos de dieta, na sensorialidade que capta a aparência, textura, temperatura,
consistência, olfato e paladar dos alimentos, nas representações mnemônicas
do alimento, nos circuitos de recompensa imediata ou a longo-prazo, entre
outras.
Tais processos corticais estabelecem de forma psicoemocional o quanto
uma comida é desejável e insaciável. Nesse sentido, a hiperfagia pode produzir
respostas similares à adição em drogas, especialmente no contexto do
consumo do alimento como automedicação contra questões emocionais.
Evidências apontam similaridades em circuitos cerebrais de aditos e
obesos, especialmente no que tange os processos de recompensa, decisão,
aprendizagem e memória. No nível neuroquímico, considerando o sistema
dopaminérgico, tanto em aditos quanto em obesos nota-se redução de
10
peptídios mediadores por hipometabolismo do córtex orbito-frontal, giro
cingulado e do córtex pré-frontal dorsolateral, que são estruturas que atuariam
no controle inibitório e processamento de emoções.
Essas evidências sinalizam uma percepção aumentada das
recompensas que foram estimuladas por vias sensoriais (olfato, visual,
gustativo) e uma redução da recompensa pela ingesta. Assim, o desequilíbrio
entre a recompensa esperada e obtida (inferior ao que se esperava) gera o
comportamento da hiperingestão como estratégia ao alcance da recompensa
esperada. Assim, o sistema de recompensa cerebral é o fundamento neural
dos comportamentos de dependência.
5. Elucidação de estratégias úteis na abordagem psicoterapêutica da
pessoa obesa:
Os autores consideram que o reconhecimento dessa rede neuronal
cognitiva mais propensa às falhas de um bloqueio regulatório no caso dos
idosos é um aspecto bastante conhecido pelas indústrias de produtos
alimentícios e empresas do ramo alimentício. A publicidade de alimentos
veicula conteúdos que distorcem associações cognitivas desejáveis à vida
saudável, induzindo de forma neurônica o consumo de comidas de baixo valor
nutricional e alto valor calórico, com efeitos danosos às pessoas.
Além de mitigar o contato com fontes publicitárias, como os comerciais
de televisão, essas reflexões também sinalizam que é necessário maior
envolvimento dos segmentos sociais representativos de pessoas obesas junto
aos órgãos que formulam e implementam políticas publicas na temática
alimentar.
Outros autores alertam, ainda, que a compreensão de menor controle
inibitório alimentar entre obesos aponta para a necessidade de treinos de
controle inibitório como parte de um programa de perda de peso.
Outro ponto relevante, segundo outros autores, e a motivação para o
consumo de alimentos de alta palatabilidade como fome hedônica simbolizaria
o prazer decorrente dessa ingesta em detrimento da ponderação nutricional e
11
energética. Essa é a habilidade de subjugar os sinais homeostáticos e orientar-
se pelo prazer alimentar e consequentemente o ganho de peso.
A sobreposição é capaz de explicar a suposta ineficácia das estratégias
nutricionais, farmacológicas e terapêuticas no acompanhamento psicoterápico
de obesos, impondo a necessidade de entender os sistemas neurais
complexos que podem ser capazes de sobrepor a homeostasia energética
sobre o prazer alimentar por meio de abordagem psicoterápica.
6. A sociedade contemporânea e os padrões de corpo perfeito
Podemos compreender que o corpo é um vetor muito importante para a
construção da identidade do individuo, também percebemos a sua importância
para interação dos grupos sociais. Há uma ideia que o corpo é construído a
partir de varias significações, culturalmente usadas e associadas às pessoas
vistas como corporeidade. O corpo não é só produto, mas também, quem
constrói a sociedade. Os significados culturais das praticas corporais, o símbolo
do corpo na cultura e através dele podemos obter o conhecimento de nossa
sociedade. (SOARES, 2010).
O corpo é algo primordial para interagirmos na sociedade, pois
dependendo da forma que ele se encontra somos muito bem visto por
determinados grupos sociais, isto é, se ele estiver em “forma ideal” de acordo
com o padrão que a mídia tenta nos influenciar, caso contrario se não
estivermos nesse padrão estético somos muitas vezes criticados por alguns
grupos sociais, dificultando assim a interação social.
A estética favorece na vida social porque a sociedade atual impôs uma
ideologia onde afirma que devemos manter o corpo em forma, ou seja,
“malhado”, então dessa maneira a pessoa que tem seu corpo considerável
“perfeito” em muitos casos é mais favorecido na vida social de que outra que
não tem o chamado corpo “ideal”.
Dessa forma o desenvolvimento social influencia diretamente o pensar
sobre si e sobre o próprio corpo. Tem ligação direta com o desenvolvimento
psicológico da sociedade sobre sua visão de mundo quando comparada com
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seu corpo. Podendo a cultura contribuir ou atrapalhar um desenvolvimento
saldável no quesito da saúde e obesidade.
A convivência social seus hábitos e sua historia tem fator diretamente
relacionado a esta temática. Para Rabello e Passos (2015, p. 4, 5), Vygotsky
ressalta que: [...]
O desenvolvimento [...] psicológico/mental (que é
promovido pela convivência social, pelo processo de
socialização, além das maturações orgânicas) – depende
da aprendizagem na medida em que se dá por processos
de internalização de conceitos, que são promovidos pela
aprendizagem social, principalmente aquela planejada no
meio escolar, ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter
todo o aparato biológico da espécie para realizar uma
tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas
específicas que propiciem esta aprendizagem.
Portanto, o sujeito seja ele com a obesidade ou dentro dos padrões
aceitos socialmente, é reconhecido como um ser pensante que vincula suas
ações à representação do mundo que constitui sua cultura, sendo o meio social
o principal lugar onde ocorre o ensino-aprendizagem, pois envolve diretamente
a interação entre os sujeitos. Assim uma sociedade que se tem muito a cobrar
para que todos estejam dentro dos “padrões”, porem pouco se contribui para
uma vida saudável e não acolhe esta disfunção de comportamento quando se
fala em comida só atrapalha o desenvolvimento das pesos que sofrem desse
mal.
A construção do sujeito é mediada ao longo do tempo pelo
desenvolvimento humano, e construída através das relações e da cultura.
Assim um sujeito se reconhecer quanto obsesso e se reconhecer fora dos
padres atuais da sociedade geram muito sofrimento e solidão. Pois as relações
são construídas pelos signos que são as comunicações entre as funções
psicológicas superiores, que está exposto para assim tornar conhecido o
processo de constituição do homem.
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Uma construção com preconceito relacionado ao corpo só vai trazer
muito sofrimento e uma vida social disfuncional. As experiências decorridas da
apreensão dos hábitos alimentares desde a infância podem definir os aspectos
subjetivos que influenciam o comportamento alimentar do indivíduo. A memória
afetiva pode interferir na resposta perante os estímulos sociais para o consumo
ou para atender a um padrão de beleza preestabelecido, por exemplo.
Muitas vezes, a comida se apresenta como um refúgio, um escape
prazeroso das pressões que o indivíduo enfrenta no dia a dia. Esse sentimento
remete às lembranças em que o alimento foi sentido como um objeto que
significou a satisfação de um desejo não só fisiológico, mas como uma carga
extremamente afetiva, preenchendo, assim, um espaço importante nas
relações do sujeito com o meio externo. A forma do sujeito se relacionar e se
organizar muito tem haver com seus hábitos alimentares.
Os hábitos incorporados pelo indivíduo implica a ideia das relações
sociais, de interações sociais, principalmente a de interações simbólicas, em
um espaço determinado, carregadas de significados e relações desiguais entre
sujeitos que possuem um padrão corporal diferente do exigido socialmente.
Torna-se importante auxiliar o indivíduo a reconhecer os aspectos que
interferem no seu comportamento ou dificultam as mudanças em suas práticas
alimentares.
A partir da conscientização e aceitação, o indivíduo mobiliza-se para agir
e transformar a sua realidade. Por isso, a compreensão das particularidades de
cada indivíduo contribui para uma abordagem mais assertiva, não
desvinculando o sujeito do meio social, historicamente construído, em que está
inserido, porem fazendo-o reconhecer que este sujeito e em quanto ser nessa
sociedade e onde ele se reconhece. A auto aceitação e um importante passo
para o processo de equilíbrio psicológico e paz com seu corpo.
A informação esta disponível, e as diversas da divulgação de
conhecimento sobre a importância dos hábitos de vida saudáveis,
independente de corpo hábitos para uma vida psíquica e social com, mas
qualidade porem o indivíduo ainda apresenta justificativas para a não adoção
de uma alimentação mais equilibrada. Com isso, a pessoa consegue adiar a
14
decisão de mudar hábitos e expressa de alguma forma a negação de seus
problemas, sua resistência em enfrentar as dificuldades e lidar com os
sentimentos envolvidos no processo de construção de novas rotinas e um novo
comportamento alimentar esta um empecilho encontrado nas clinicas de
psicologia, pois quem uma mudança de padrão corporal, mas devido o valor
social da comida encontram dificuldade para mudar os hábitos de vida.
Assim, a psicologia seu trabalho multidisciplinar com outras ciências tem
muito a fornecer aquém-esta passando por esse processo. Aos outros
profissionais de saúde cabe reconhecer o grau de compreensão de cada
paciente sobre o seu processo de mudança e adesão ao tratamento, mudança
de hábitos, considerando a complexidade e singularidade de cada sujeito e,
sobretudo, respeitar o tempo de mudança de cada indivíduo que aceitou entrar
neste processo.
Sabe-se que o comportamento disfuncional alimentar, e extremamente
complexo, e contém determinantes externos e internos ao sujeito e as práticas
alimentares são definidas pelo poder socioeconômico, afetivo e cultural do
indivíduo. A construção do hábito alimentar é determinada pela conduta da
família ou do meio em que foi criado. Assim com a aquisição de
comportamentos, mas saudáveis com á praticar atividades físicas.
As escolhas e decisões de cada pessoa ao longo da vida e influenciada
pela herança comportamental e social, muitas vezes carregada de valor afetivo,
Essa memória afetiva é fator determinante na capacidade da pessoa de
alcançar mudanças com maior ou menor facilidade. Leva sempre em
consideração pra uma vida saldável, a felicidade o nível de aceitação do
individuo e sua autoestima com seu corpo e sua vida. O senso de
pertencimento à tribo um grupo é um quesito que sempre este presente na
hora de tomar decisão e de se aceitar como parte de um corpo que tem valor
de destaque em uma sociedade cheia de padrões, que cultiva um corpo que
muitas vezes para estarem nesses padrões às pessoas machucam o próprio
corpo e própria saúde psíquica.
Assim observa-se que a obesidade é um problema de saúde provocado
por diferentes fatores que podem ser físicos, genéticos, psicológicos e
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ambientais. Mostrando assim evidências científicas que esclarecem a relação
entre estruturas neuroanatômicas, mecanismos neurofuncionais e processos
cognitivos integrados, no contexto da obesidade, com bom nível de
alinhamento entre as pesquisas e sem confronto de entendimento identificável
nos artigos.
Tais evidências constituem potentes subsídios para orientar a
formulação e implementação de programas de prevenção e tratamento da
obesidade, contando inclusive com treinos cognitivos que impulsione a
reconstrução de novos sistemas neurais e o remodelamento de funções
executivas ligadas à questão.
Os programas de prevenção tem mais sucesso quando se insere o
ambiente familiar, pois e provado que a influência dos pais nos padrões de
estilo de vida dos filhos tem muito a contribuir neste processo, incluindo a
escolha dos alimentos, indicam o importante papel da família em relação ao
ganho de peso infantil. E quanto ao estilo de vida e nível de aceitação a
situação atual que cada pessoa se encontra o núcleo familiar também exerce
influencia direta, neste processo de aceitação.
CONCLUSÃO
Infere-se por meio deste estudo que a obesidade é um problema de
saúde provocado por diferentes fatores que podem ser físicos, genéticos,
psicológicos. Neste estudo mostra que as intervenções que produziram
maiores efeitos incluíram a participação dos pais no processo de prevenção a
obesidade tem grande influencia neste processo.
O nível sócio econômico da também influência diretamente o consumo
e os hábitos de uma família. Estudo na cidade do Rio de Janeiro mostrou que
o nível de renda e escolaridade dos pais foi modificador do consumo de
alimentos dos adolescentes. Nos mais pobres o consumo de refrigerantes e
doces entre adolescentes é mais próximo do consumo da mãe, e o consumo
destes itens é muito maior nos adolescentes do que em suas mães entre os de
maior renda.
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Algumas das tarefas e fazes importante quando se fala em saúde
corporal e bem esta relacionada a um peso ideal para uma vida funcional são:
atividade física embora sua eficácia seja ou longo prazo, atenção ao tamanho
da porção de alimentos enjeridos, técnicas psicoterápicas para conscientização
de alimentos saudáveis como, frutas e vegetais, politicas publicas
governamentais para as escolas trabalharem com alimentação, mas saudáveis
incentivos às famílias a plantarem hortas em suas propriedades.
As emoções são os elementos psicológicos mais associados à
obesidade e ao excesso de peso assim iremos apresentar. Algumas variáveis
psicológicas associadas á obesidade e ao excesso de peso. Assim o estado
emocional de uma pessoa ela diretamente ligado ao apetite, as suas escolhas
e preferencias no momento de escolher os alimentos para suas refeições, esta
ligado ao tamanho das porções. Deste modo a psicologia conta com técnicas
de grande eficácia para trabalhar junto a estes pacientes desdá sua
estruturação neurológica para escolha dos alimentos no sentido de uma
educação alimentar ate uma possível interversão cirúrgica.
Existem muitas pessoas que utiliza a comida com regulação emocional.
Assim diante de frustrações, de ansiedade de desentendimento no contexto da
vida utiliza da alimentação como rota de fuga para não entrar em contato com
estes sentimentos.
As variáveis do ambiente são importantes para qualidade de vida
fatores ambiental relacionada à obesidade e ao excesso de peso, estão
diretamente vinculadas a este tema. As influências vêm nas mudanças no
horário de trabalho, estão relacionadas ou distúrbio do sono. A influência do
ambiente e o elemento chave para a obesidade e aumento de peso.
O psicólogo e o profissional da saúde especializado nas emoções,
comportamentos e pensamentos, portanto e o profissional melhor preparado
para ajudar a pessoa que passa por algum processo de dificuldade em relação
à saúde corporal relacionada ou peso. A psicologia com suas técnicas ira
modificar hábitos pouco saudáveis e aprender a gerenciar as emoções de
forma positiva benéficas para uma melhor qualidade de vida. O tratamento de
obesidade não estará completo se não tiver tratamento psicológico dentro do
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processo. Será um trabalho multe disciplina onde cada profissional terá um
trabalho árduo a executar.
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