evans-pritchard - bruxaria, oráculo e magia entre os azande

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  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    1/49

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    Il,\,'

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    11'01

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    I

    XII

    \ \

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

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    ( . t .P I / / o /

    A bruxaria é fn

    fenômeno

    orgâni o

    e hereditário

    I

    Os Azande acred itam que certas pessoas são bruxa,; e podem Ih fazer m J m

    virtude de

    uma

    qualidade intrínseca.

    Um

    bruxo não pratiu nto

    nau

    pr r

    encantações e não possui drogas mágicas. Um ato de bruxaria e um aí J>\

    quico. Eles crêem ainda que os feiticeiros podem fazé-Ios adoecer por meIO d.t

    execução

    de

    ritos mágicos que envolvem drogas maleficas. O Azande do Ín-

    guem claramente entre bruxos e feiticeiros. Contra ambo empregam :iI

    nhos, oráculos e drogas mágICas. O objeto deste li, ro são a

    R , a _ o ~

    entr

    essas crenças e ritos.

    Descrevo a bruxaria em primeiro lugar, por

    se

    tratar de uma base ind

    pensável

    para

    a compreensão das demais crenças.

    Quando

    o Azande

    alD.Sill-

    tam os oráculos, sua preocupação

    maior

    são os bruxos. Quando empreg m

    adivinhos, fazem-no com o mesmo objeti,"o. O curandemsmo e a confrana

    que o praticam são dirigidos contra o mesmo inimigo:

    Não tive dificuldade em descobrir o que pensam os Azande

    sobre

    a

    bru-

    xaria, nem em observar o que fazem pa ra combatê-la . Tai - i d e i ~ e

    prau

    .a5

    J.l-

    7em à superfície de sua vida; elas são a c e s s í n i ~ a quem quer que vi, a om d

    em suas casas por algumas semanas.

    Todo

    zande e uma autoridade

    em

    brm .I-

    ria. Não ha necessidade de consultJr s p e c i a l i . ~ t a s . ' \em me. mo e pre ci - ÍD-

    terrogâ -Ios sobre esse

    a s ~ u n t o , porque

    as i n f o r m a ç õ e ~ tluem li\Temen > d

    situações recorrentes em sua "ida social, e

    tudo

    o que \e tem a faz r ob ~ f \ a r

    e ouvir. Mangll "bruxaria", (01 uma das p n m e l r a ~ p.l Jwa que oun na

    t

    rr.

    lande, e continuei a OU\ i 1 1 dia após dia no correr do:. m e .

    Os

    Alanue

    acreditam que. brux.ni.1 é um.

    \Ulh(.'in i.1

    e i tt'nt n . rp<

    d ( ) ~ b r u \ ( ) ~ Fsta t: uma

    cren

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    ,fifi 11\ r Ir \ jU I I ~ \ 1 ~ l l l I l \ ll.I' (\

    1.1111.11

    ru

    .lIi.1

    .

    Ulh.' \'i l' S I suh,

    t

    n I llru

    ,111,1

    hun n I n u ti III 1.11 til'

    nt,l

    \ . l l l l l l lUI l l . I I 'CqUUl.1b .

    b.I .. 1I

    m hil ao U I II: 1 1 l I \

    II Ic:ntro

    d.1 YII.I ' li tU1ll,1

    \ l ' r

    l ' l l l l l l l t r .HI .1 UIll.1 V.I

    ri lad dl

    pt ' \ lUl l I l l III, t .

    )u,mdo

    os A/,lI1dl'

    dCSl

    H'\ 'l '1ll SU.l

    form.l , m

    ~ t : r a l

    \ 1( nt m

    I

    .u. o uh \,dl)

    do

    br,l\ u I1l' 1011.1.10. l' lju.lI1do dl'\l H'\'l'm

    ~ U , I

    ln 111

    .U

    m I Ir.\llI

    ,I Jrc.1 10gll

    .lh,lixo d.1 lartilagl'm xifoide.I,' que. di/l'Jll,

    r ohr uh 1.1Ilu.1 hruxar la , l'gllndo eles: I ' ~ , t . í prc\,1 :1 beir.1

    do

    flg.ldo,

    )uando

    ..

    br

    1 h.lrrig.l, h.lsl,1 fur,lr ,I subslalllia-brux.lri,I, ljUl'

    da l'\plllde

    \m

    um I: tal

    I,

    )U\ I 0.1 dlzc:rem que

    doi

    ,lpresent,1

    U f

    ,I\'crmclhada l'

    conlem

    se-

    m nt d ahubora,

    g

    rgelim

    ou

    quaisquer outras plalllas ljue lenham sido

    d

    \orada por um

    bruxo nas roças de \eus vizinhos,

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    Il\n: hrll '.trI.i • .lO t. prcn.l\·ej quI.' oulras p e S ~ ( I . h .Ileltem lal .Irgll-

    11 nlo

    mJ' na

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    ,eoutr.IS pô (l.l · o n h ~ u : ,el11 os nomes ll.Jqueles q U?

    c.lI

    rJm \'Jtilll ,h d,]

    m,l ',] de \ IIl gJn \J. h1do o proCÔSIl tai,l SU,l

    p r e ~ - J n e d a d e

    exposta C,h O

    .;ouhes,e que a morte de um homem \ fOI nngada sobre Ulll b

    nl\o

    ) , entao

    todo

    o

    pnKe .

    so e

    tana

    redUZIdo ao

    absurdo,

    porque a m orte de )

    esl

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    D

    de cedo a Cn.1lh,aS fi':,lm ahendo ~ o h r e

    bruxaria.

    o n \ e r ~ a n d o com

    memna c

    m

    ninos pequeno,

    .1te

    me,mo de : > e l ~ anos, constatei

    que com

    preendem

    o

    que

    o

    mal

    \"e1hos

    ('\tao

    dizendo quando

    talam

    d J ~ s o .

    Disse

    ram-me

    que,

    numa briga,

    uma criança pode

    vir a

    mencionar a ma

    r

    ep utação

    do pai de outra cnança.

    Entretanto,

    as pessoas

    não

    compreendem a

    verdadei

    ra

    naturv.a da

    bruxaria

    até

    que sejam

    capazes de operar

    com ~ e g u r a n ç a os

    oraculo ,de agir em ~ i t u a ç õ e ~ de

    IOfortúmo

    conforme

    as re\'e1açoes

    oracula

    res e

    de praticar

    a magIa. O

    conceito

    se

    expande

    junto com

    a

    experiéncia so

    cial de wda

    indivíduo.

    Homem e

    mulheres podem igualmente ser

    bruxo >.

    Os primeiros po

    dem

    ser vítimas

    de bruxaria praticada por homens

    e

    mulheres, mas

    estas ge ral

    mente são atacadas

    apenas

    por membros

    de

    seu próprio sexo. Um

    home

    m

    doente de hábito consulta

    os oráculO >

    sobre

    seus vizinhos homens, mas

    se

    os

    consulta

    por causa de uma esposa

    ou

    parenta doente, normalmente pe rgunta

    sobre

    outras

    mulheres.

    Isso porque a

    animosidade tende

    a surgir

    mais

    en

    tre

    homem

    e

    homem,

    e

    mulher

    e

    mulher, do que entre homem

    e

    mu l

    her.

    Um homem

    está em

    contato regular apenas

    com

    sua

    esposa e

    parentas,

    tendo

    portanto pouca oportunidade de despertar

    o

    ódio de outras mulheres. Provo

    cana

    uspeitas se,

    em seu próprio

    benefício, consultasse

    os oráculos sobre

    a

    esposa de outro homem. O marido

    e r i a levado

    a

    presumir um

    adultério,

    pe

    r

    guntando

    se que contato

    teria tIdo

    sua mulher

    com o

    acusador

    que

    pudesse

    ter

    levado ao desentendimento. ontudo, um homem freqüentemente con

    sulta 05

    oráculos sobre u a ~ próprias

    esposas, pois

    pode ter

    certeza

    de

    que as

    desagradou alguma

    vez, e é comum elas o

    detestarem.

    Nunca soube de casos

    em que um homem fosse

    acusado

    de

    ter

    feito

    bruxaria para

    sua esposa. Os

    Azande

    dizem que ninguém

    faria uma

    coisa

    dessas,

    pois ninguém

    quer matar

    ou faler adoecer

    a esposa,

    que

    o

    próprio marido

    seria

    o

    prinCIpal

    prejudica

    do.

    Kuagbiaru

    disse-me

    que ele nunca seJUbe de um homem

    ter pago

    indeni

    zaçao pela

    morte da

    esposa.

    Outro motivo pelo qual nunca

    se

    ouve talar em

    asas

    de

    galínha

    cndo

    apresentadas

    a

    maridos,

    wmo c u s a ~ ã o de bruxaria li -

    gada

    aos

    males

    de

    suas i p o < ; a ~ , e que uma mulher ná() pode consultar

    direta

    mente o oráculo de

    ve

    lleno

    ,

    geralmente confiando

    essa tarefa

    ao

    marido

    . Ela

    pode pedir ao irmao que faça a cOllSulta

    em

    ~ e u benefício. mas

    este provavel

    mente não apn:sentará

    o nOllle

    de

    seu cunhado

    diante do oráculo,

    porque

    um

    mando

    jamais

    de.'>eja

    a

    morte

    da

    espo,a.

    l o u ne

    't

    undo M t. ,peltJ d, l.rUX d,

    pedu

    de r'flno ,,, lo .... ou fIl.1

    f 'ljUe/l'clllCJlIl' ,I ,eu

    1 19') lU (/ U II.

    J J

    de d\'<

    JO

    pr' UI 11 cll·rUK/J < t,lIIdo 0

    tive notiCIa de

    um

    Ul l lW

    J

    00 lIdltos

    contra a

    bruxaria

    durante

    lima

    gUerra.

    A 1110rt

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    ,

    POdl f.llc-Ins r e ~ p o l 1 d c r

    por 1 , , 0 , i,\

    que eles 11,10 a protegeram

    COll1

    uma

    COI1-

    \ult . 1 t l ~ ,lr.íl l o ~ \llbre

    ,eu

    bcm e,tar.

    Qu,l11to m,llS di,tal1k de quai\quer

    ,ülllhos

    estl\'t?r 1 resldênLl,\ de um

    homem, maIs a \ ' o ele estar,j de n I ~ a r i a . Qu,mdo os Azande do ~ u d , i o allglo

    cglpuo tÍ1ram forçados a ,i\'er em aldeamentos

    à

    beira das estradas, eles obe

    deceram com

    mUlt,1

    apreemao, e mUItos fugiram para o Congo Belga para

    e\ itar l.ontato tao estreito com ,eus \'Izinhos. Os Azande afirmam que IlJO

    go\t am de vi\'cr mUIto prÓXInlO,

    um

    dos outros, em parte porque convem t

    er

    uma boa faixa de terra entre

    ,uas

    esposas e os possí\'eis amantes, em parte

    porque, quanto mais perto de um bru:\o, maior o perigo.

    o

    é o

    erbo

    zande c o r r e ~ p o n d e n t e ao "embrlLxar"; em seu único outro

    contexto de emprego, traduZlríamo, essa palana por "atirar". Ela é usada

    para designar o ato de atirar com arco-e-flecha ou com uma arma de fogo.

    Com

    um movimento brusco

    da

    perna, os adi\"inhos atiram (/la) pedaços de

    osso nos outros d i y j n h o ~ , de longe. Deve-se notar a analogia ent re esses dife

    rentes "atIrar" a partir de um fator comum, a ato de fazer mal a distância.

    6

    Ao falarJe bruxos e bruxaria,

    é

    p r e c i ~ o esclarecer que os Azande

    normalmen

    te pensam em bruxaria de uma forma mUIto i m p e ~ ~ o a l , sem reterenCla a

    q u a l ~ q u e r

    bruxo

    ou

    bruxos em particular.

    Quando

    um

    homem

    diz

    que

    não

    pode \'l\'er em certo lugar

    por

    causa de bruxaria , isso significa que os oráculos

    alertaram-no

    contra

    esse lugJr, dec larando que, se ele for

    morar

    lá, será ataca

    do por bruxos, e ele assim «)ncebe este perigo como um risco geral ligado à

    b r u x a r ~ a . Por isso está sempre falando de mangu bruxaria. Essa força não

    eXIste

    fora dos indivíduo;

    ,10

    contrário, ela é uma parte orgânica de alguns

    deles. MJS quando indivlduos em particular não são especificados e

    não

    se

    procura I d e n t i f i ~ á - I o s , a bruxaria l · ~ t á sendo concebida como uma força gene

    ralIzada. Bruxana, p ortant o, SIgnifica alguns bruxos - q u . l Í ~ q u e r

    um.

    Quan

    d?

    um L.lnde COllll'nta

    um

    reves dIZendo "isto

    é

    bruxaria", ele est.í

    querendo

    dl7er que ISSO se de\'e a algum bruxo. mas nao sabe eXiltamente qual. No mes

    mo enlido ele dirá, numa encantal,Jo, que morra a brux,\ria", refeIindll-se

    a quem

    quer que

    tente embrux,l lo. O conceIto de brux, fi" n,lo é o

    de

    uma

    força Impes oal

    que

    pode \incular-se a pe5SO,15, ma, Itim I1II1J

    for\

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    ·

    1

    IU O br u \

    l1\

    ,

    ,11l/( l l lIldll, t l '

    a

    km

    - tul11u lo?

    'unca

    g u l ob ter lim

    a

    .lfirma

    ao

    l: pont.l11lJ ~ l ) b r c I ~ ~ { ) . I l 1 J ~ , l'm

    . , p ( ) ~ t i l

    a qu cstões d l r i

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    II1form.I\'

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    de quc •

    0 morrer,

    L

    ';

    h r l l ) . O ~ se tr,l11sfo r

    l11JIll

    em l " l ' l l t l ) ~ malignos

    (agm,a).

    Aforo.

    dos

    mortos

    C 0 1 l 1

    n ~ ,

    ~ ã o ,e rô benc\ okntes, pclo m e n o ~ tanto quan to pode digamos, um p.li

    de

    famlli,} ZJndc. e

    sua partlupação

    oc,lsional no

    mund

    o que

    deixaram é tran

    quil,1 e \ olt.ld.l pMa o bem-estar de seus d e ~ c ( ' l l d e s . Os agirisfl, ao co

    nt r

    á

    rio. demonstram um ódiO mortal pela humamdade. As sombram viajantes no

    mato e

    l.lusam

    estados tramitórios de dissociação

    mental.

    8

    A existéncia

    de

    substáncia-bruxaria numa pessoa viva é conhecida por meio

    de \eredictos

    orawlares.

    Nos mortos,

    ela é descoberta pela abertura do ven

    trc

    , e é este

    segundo

    método

    de

    identificação

    qu

    e interessa

    para

    a

    prcse

    nt e

    descrrç.lO da base física da bruxaria. Sugeri an ten o rm ente que o órgão em qu e

    acha a ~ u b s t . i n c i a - b r u x a r i a está localizado no intestino delgado.

    São

    obscuras

    as

    condições

    de

    realização de

    uma

    a

    utópsia

    na

    época

    pré-européia. ~ e g u n d o

    um informante,

    Gbaru, elas

    eram

    um

    antigo costu

    me

    dos Ambomu,

    e dificuldades

    ~ ç , H a

    a aparec

    er 'l penas no tempo de

    Gbudwe.

    E provável que se a t a s ~ e de UIlla prática antiga, que

    desapareceu

    quando o

    controle

    po lítico exerc ido pelos Avongara aumentou, para

    reapare

    cer com todo vigor depois da

    conquista curopéia

    . O rei Gbudwe

    desenco

    raJava

    sua prática,

    segu

    nd

    o m

    I.

    dis s

    eram tudos

    os

    informantes

    .

    Co n

    t

    udo,

    quando um

    bru

    xo era

    executado

    sem

    sanção

    real, por \'e7eS

    realizavam se. Ocasionalmente os a r e n t e ~ de um homem morto agiam con

    forme o vcredido de seu

    pr

    óprio oraculo de veneno , i n g a n d o de um bru

    xo

    sem esperar confi

    rm

    ação d o or á

    culo

    de veneno real. Em tai s casos , a açao

    deste parente era II

    /Ira

    VI

    res,

    e se os pa

    rente

    s da vÍUma

    da

    vin gan

    ç..

    l c

    on

    se

    gUI sem provar que nào havia sub stância- bru xari a em seu ve nt re, podiam

    exigir rompemaçao, na

    co

    rt e do rc

    i,

    por parte

    do

    grupo

    qu

    e fi za a jus t iça

    co

    m

    a propnas

    mao

    .

    Por

    sua vez, as

    aut

    ó psia s

    de

    stinadas a

    limpai

    o

    11

    0me de

    uma

    linhagem que. um mcmbro a L u ~ a d o dc atos menurcs de bru xan a,

    sem

    lmplic. r

    inde

    nl l.açao ,

    dcve

    m

    ler Sid

    o

    bem fr

    eq

    Lient

    es

    ,1Ille

    s

    d" L0 11 l) LJ

    ls ta

    europeia, tonJO

    ()

    foram com certl'za de

    pOI

    S

    dd

    a.

    Um home

    m

    que cm

    vida tlveSSl' Sido fre

    qLi

    c

    nt

    t'

    lIl

    ent e

    ,1l

    u

    sa

    do de brux,l

    ria. JII.da

    que a m < i i ~

    de

    11llJll ic

    ldlo , tinh a o d ir

    ei

    to de

    sentir \e 1I1s lI

    II.1do

    sem

    r

    1ZJU de

    (onsidt ra r

    que

    o nome d

    L SU J

    1

    Il

    11ílIa fo ra .lrra'l.ldo a 1

    II11a.

    I:111 \ ' l ~

    ta

    di 'o,

    dO

    morrer, po

    den a Ins

    truir

    os

    fi

    lh

    os

    p.lI a que lhe

    ,"llissem

    o .tbd(J -

    \ f  II) II( td 11111 I I 110/111 fiO

    f II r I f

    lIl

    en an tes do

    en

    t

    erro

    l' \ ' e r i f i l a

    l l J

    se t ra/ll J u ~ t l f I < . a d a

    qu

    cI ai

    1

    o

    1

    lo n tra a honra da linhagem . Pod eria t,

    ll11bém

    l'XeLutclrC'i op rJ.Ç.Io nu f

    lho

    pre

    m at

    uramente.

    Poi s a m ent alidade l.ande é

    lóg.ll I. . ,

    I

    I

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    10/49

    enterro, ele

    se torna

    pl'lo ato seu

    irmão

    de sangue. Sendo encontr,lda a subs

    t ~ n c i a - b r U \ , l r i a ,

    o

    operador

    de\ erá ser regiamente pago

    por

    seus serviços.

    Ha\'t'ndl) substáncia-bru \ana ou não, ele precisa submeter-se a uma purifica

    ção ritual após a operação. Carregado nos

    ombros

    de

    um

    parente do morto, é

    saudado com gritos cerimoniais e

    bombardeado com

    torrões de terra e

    com

    frutos vermelhos de

    l1011ga Amo1nU/1I korarima , pa ra que

    a friagem o

    abandone .

    É

    ievado em seguida a

    um

    curso de águ

    a, onde

    os parentes

    do

    morto lavam-lhe as mãos e lhe

    dão de

    beber

    uma

    infusão feita de raízes, cascas

    ou folhas de várias árvores. Antes da punficação, esse homem não pode co

    mer ou beber, pois está

    contaminado, como

    uma

    mulher

    cujo

    marido mor

    reu. Finalmente, se não foi

    encontrada

    a substância-b ruxaria,

    prepara-se uma

    festa na qual o homem

    que

    fez os cortes e

    um

    parente do morto partem ao

    meio uma cabaça de cerveja. A seguir os parentes do morto e os do operador

    trocam presentes:

    um homem

    de

    cada

    grupo a\

    'ança até o

    outro

    e

    atira seu

    presente ao chão, e assim sucessivamente.

    I

    I

    ( ' \ ' I I

    l ILO

    II

    A

    noção

    de bruxaria

    omo

    explicação

    de

    infortúnios

    I

    Da forma como os Azande os

    concebem, bruxos

    não podem

    evidentemente

    existir.

    N

    o

    entanto,

    o conceito

    de bruxaria

    fornece a eles

    uma

    filosofia

    natural

    por meio da

    qual

    explicam para si mesmos as relações entre os homens e o

    in

    fortúnio,

    e

    um meio

    rápido

    e

    estereotipado

    de reação aos

    eventos

    funestos.

    Ao;

    crenças sobre bruxaria compreendem, além

    disso, um sistema

    de

    valores

    que

    regula a conduta humana.

    A

    bruxaria

    é onipresente. Ela

    desempenha um

    papel em

    todas

    as

    ati\

    ida

    des

    da

    vida zande: na agricultura, pesca e caça; na

    ida cotidiana dos g r u p o ~

    domésticos tanto quanto na

    vida

    comunal do

    distrito e da corte.

    É

    um

    topico

    importante

    da

    vida mental,

    desenhando

    o h

    orizonte

    de um , as to panorama

    de oráculos

    e magia; sua influência está

    claramente estampada

    na lei e na mo

    ral,

    na etiqueta

    e na religião ; ela sobressai na tecnologia e na

    linguagem • 50

    existe

    nicho

    ou recanto da

    cultura

    zande

    em que não

    se

    insinue.

    Se

    uma praga

    ataca a colheita

    de

    amendoim, foi

    bruxaria;

    se o

    mato

    é batido em ão

    em

    blb

    ca

    de

    caça, foi bruxaria; se as

    mulh

    eres esvaziam

    laboriosamente

    a água de

    uma

    lagoa e

    conseguem

    apenas uns míseros peixinhos, foi

    bnn:aria; se

    as t ~ r

    mitas não aparecem

    quand o era hora

    de

    sua revoada, e uma

    noite

    fria é

    perdi

    da à espera

    de

    seu vôo, foi bruxaria; se um a esposa está mal-humorada e trara

    seu

    marido

    co m

    indif

    erença,

    foi

    bruxaria; se

    um príncipe e ~ t á

    frio e dist..lme

    co m seu

    súdi

    to , foi bruxaria; se

    um

    rito

    mágico

    fracassa

    em eu proposito,

    roi

    bruxaria; na verdade, qualqu

    er

    insucesso

    ou infortúnio que se

    ab.u.1 :obre

    qualquer pessoa, a

    qualquer hora

    e em relação a

    qualquer

    das

    múltiplas

    atiú

    elades da vida, ele

    pode

    ser atribuído

    à

    brm::aria.

    O

    l.1nde

    atribui todo-

    e

    'e

    infortúnios

    à bruxaria, a

    menos que

    haja forte e\'idenCla, e

    s u b ~ e q u e n t e con

    firmação

    oracu

    lar, de

    que

    a feitIçaria ou

    um

    outro agente 111.1ligno 't3\am

    envolvidos, ou a

    menos que

    e s v e I l t u r , l ~ possam ser cbramenre .ltribUl

    d a ~ à incompelência, quebra

    de

    um

    tabu,

    ou

    ao

    não-cumpruuelltü

    de

    uma

    r '

    gra

    moral.

    Dizer que a bruxaria estragou

    ,\

    colheIta d,' amend'Hll1,

    que

    esp.lIlhlU

    ,\

    caça,

    que

    fez fulano (il.lr

    doente

    elj l l l \ l lc.l dIzei, em

    tal1h , ti I1th

    a

    propri,l

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    11/49

    \ .

    t

    t l

    (

    Lultura, quc .1 Ú 1Ih'1t.\ de .\llle.'llduim fl.K.I\'I'lI por CJusa tI.IS pr.lg.IS, que .1

    c.1

    .1

    CC l,bS.ll1C' .1 '-'P\k.1 e qUI tul.mo peg,lllullla gripe.

    t

    brU'\.ln.1 partlcip,1

    de

    todo o

    Il1fllrtUIll

    .,

    e é

    \I Idwl11. 10'111

    quc'

    m

    Az.lnde.' fllJI11 ,obre ele,

    I.

    por meio d qu.ll

    de,

    ,ao cxpliLJdm. PJr.1 nos, bru'\Jria é

    .l

    lgo que prmocav.

    pa\or

    (

    rC'pugnancia em nos,>os crédulO'> antepJssado". I\las o zande es pera

    ruzar

    COI11

    a bruxaria a qu,IJqucr

    hora do

    dia ou da noite. hcari,1 tJO surpreso

    , 11.10.1

    enlontr.\"e.' diarialllente quanto no\ o Jlcanamos se.' I

    Or,1\se1110S CO Il1

    da.

    P.lra d ,nada

    lü de

    milagroso a ,eu fl'spCiln. E de se esperar

    que

    Ulll,1ca

    ç.1da ,eja pn:judicad.

    por

    bruxos, e () zande dispi)e

    de

    llll'ios p,lra l'nfr

    e.

    n

    ta los. Quando ocorrl'm infortunios,

    de

    nJO tica paralisado de.' lllcdo diante

    da a ao dc f o r ç a ~ truída pelo f o ~ o na

    noite

    anterior.

    O

    propriet

    ár

    io es tava JCJbrunhado, poi > ela abriga\a a len eld

    que estava preparando para uma fes ta mortuária.

    Ele

    nos contou que na noite

    do acidente fora até lá exa min

    ar

    a cerveja. Acendeu

    um punhado

    ue palha

    e

    Ievantoll -o so

    br

    e a cabeça para iluminar os potes, e com isso incendIOU o te

    lhado de palha, Ele - assim como meus c o m p n h e i r o ~ - e ~ t a \ 3 clllwen.:id

    de qu e () desas tre fora causado por brux. na.

    Um de meus principais informantes,

    ki

    anga, era hábil entJlhauor,

    um

    dos melhores em todo o reino de Gbudwe. De \·ez em quando, como bem

    po de imaginar naq uele clima, gamelas

    l

    bancos que ~ . : u l p i a rachavam du

    rante a operação, Embora se escolham as madeiras mais duras, e l J ~ a, "ezes

    rach

    am dura

    nte o enta lhe ou no processo de acabamento, mesmo qu.mdo o

    ar

    lesão é cuidadoso e esta bem familiarizado com

    as

    regras tecnica

    deua

    ar t

    e,

    Qua ndo isso ocorria com as gamelas e bancos desse artesão em par ticu

    lar, el e at

    ribU

    la o acidente

    J

    bruxaria, e ostumava reclamar comIgo sobre u

    despeito e \.iúme de seus

    v i z i n h ( ) ~ . Quando

    eu re'plllldla que '1I.havJ e,tar

    ek

    engdnado, que as pesso.ls go,t,l\

    nll

    dele, br,lndi,\ o b.lJlco ou gamel.l ra had .

    em millh,1 dlleçao,

    como

    pnw,1 conLreta de

    SU.IS

    c o n d u ~ ó e , .

    e

    n. iü ti\e.

    genle

    embruxando

    seu tl,lb,\lho, llHllO eu Iria e'\phcar

    q u i l o ~

    - \ S ~ I : l tJmbem

    um

    oll'lrtl ,lInblllra

    ,I

    quebr,1 de

    ~ e . ' u s

    poles dur,lIlte ,lloLedur.l ii bru .ln.l.

    Um

    oleIro expl'nenll' n,lt) p r e u ~ LUllel que pote\ raLhem pllr

    cm,.\

    lle ~ r r

    '.

    I

    Il'

    sl'Il'Clon,1

    a argrl, 'ldequ,ld.1,

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    12/49

     

    ,

    Ao

    (,OI1\"l.:r'.lI·(ol11 II Az.ll1,k sohrL'

    hrux,ni.l, e llbscr".lIldn

    SlI.IS rCd(11CS

    em

    si

    tU.1Úh? dI : infortúnio, tllrIlOU-SC úb\

    io

    par.1mim que eles não pretendi.lIl1 e.

    p l J C ~ 1 a existênCl.l de fenômenos, nu mcsmo

    a

    ação de

    fenómcnm,

    por uma

    íduo a acontecimentos n.ltur.lis que

    de

    sofreu dano.

    O

    rapa7 que deu

    uma (0p.lda no toco de ár\'nre não justificou o toco por

    referenLl

    gamelas e

    b.1I1cos

    nao racham como os

    produtos

    de artesãos iná

    beIS;

    portanto,

    por

    que em certas r a r a ~ oCJsioes

    as

    gamelas e hancos racham,

    se usualmente i,so não dcontele e .se ele tinha exerl ido

    todo

    seu cuidado e co

    nheClfllento usuais? ,lr, Jogar lU

    faler

    algum tr ba

    lho manual. Portanto, pode acontccl'r que haja

    pc,>soas

    senwda, d banco do

    celeiro

    quando

    ele deslllorona ; e

    e l a ~ madlLlC.1m.

    pOIS trJta-5e

    de uma eo;

    tru tu

    ra

    pes,lcla,

    fei ta

    dc grossa\ viga \ e de harro. que pode alem di w e.,tarur-

    regada de eleusina.l\las por que estariam e s s a ~

    p e ~

    oa') em pJrtiwldr sentadJ

    debaixo des5e celeiro cm particular, no exato

    momento

    em qu e ele

    desabou'

    E facilmente inteligível que ele tenha

    desmoronado

    - mas

    por que

    ele

    un

    que desabar exatamente naquele

    momento, quando

    aquelas pessoas em

    p

    rtl

    cular estavam sentadas ali em baixo?

    Ele

    já poderia ter caído

    anos -

    por

    que, então, tinha que cair justamente

    quando

    certas pessoas bu cavam seu

    abrigo acolhedor? Diríamos que o celeiro desmoronou

    porque

    os esteio fo

    ram

    devorad os pelas térmitas: essa é a causa que explica o desabamento do ce

    leiro.

    Também

    diríamos q ue havia gente ali sentad a àquela

    hora

    porque era o

    período mais quente do dia, e acharam que

    ali

    seria um bom lugar para com'er

    sar e trabalhar.

    Essa

    é a causa de haver gente

    ~ o b

    o celeiro

    quando

    ele

    desabou.

    Em nosso

    modo

    de ver, a única relação entre esses dOIS fato) independente

    mente

    causados é sua coincidência e paço-temporal. 1\ão somos capazc de

    explicar por que duas cadeias causais interceptaram-se em determinado mo

    mento

    e determinado

    ponto

    do e paço, já que elas não são interdependent e-.

    A

    filosofia

    za

    nde pode acrescent.u o elo que f.l ta.

    O

    zande sabe que

    e -

    teios foram

    minado

    s pelas térmitas e que

    as

    pessoas estavam ~ e n t a d a ~

    d e b a i . ~ o

    do celeiro para escapar ao calor e

    à

    luz ofuscante do sol. ~ 1 a s

    também

    sabe

    por

    que esses dois even tos ocorreram precisamente no mesmo

    momento

    e

    no

    m

    es

    mo

    lu

    gar: pela ação da bruxari.1.

    Se

    náo tivcs,e havido bm:-..aria,.lS

    pe 'oO.E

    es tariam ali sentadas sem que o celeiro lhes C

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    13/49

    , I

    / I \t1 \t l til rtlilCUI

    .HlsJ, • U.\ íilt)

    1111.\

    LXi'hL il.\,

    11I.\s n.1I1 Il1l'11I.\111l('nle

    .llirll1.\d.\ lIlIlHl

    Ull1,1

    dllutrm.\.

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    "A'lnlll\l

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    111."

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    .Idw

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    pCI1

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    "um.l .In OIC L.li , ",I'

    tcrmit,ls \l.lo

    C , t ~ l O I:llendo

    scu \

    (111,.1/0

    n,11

    lju,\Ildo (k\ 'l .'rJ.lll1", l .\s,im pm di,l11ll', I

    ·s

     . \ sc prnnunLi.1l1do sobrc f.l to,

    emplrllamente t c ~ t . l J ( ) s . M,I'

    t,lInbém

    dll' L

    m bul.llo at.ILOlle

    t\:riulu

    l.1l1o"

    .

    "um,\ .lrH)(l

    L.tiU n,1

    ubcc,.a dl' ,IG,lIlO e

    o

    Jl1,lIou",

    "minh.l'

    tL'nnil,ls H

     LlI

    -

    an1- . \O,lr l'm ljuJ\ltid,lde

    sulillcntl"

    111,1\ outra, pesso,b

    I:'st,lO

    Lolet,l11do.IS

    110rm.llmentl''',

    e

    .1S,im

    por

    di,lI1te.

    I:k

    \.lI dizeI' que

    e,S,IS

    loi"IS dele Jl1 se

    .1

    bruxaria, cO/llent,lI1do, para cada l'\'l'nto:

    ·'Ful.lno

    foi cmbnr\ado". Os 1lt os

    n,1O" e placam a

    SI mesmos,

    ou fazem

    no

    apl'n.l' parei.11mel1tL', Eles

    so

    p

    o

    dem ser

    integralmente

    expIaLad()\ Ie\ando· se el11 comider,l.;,j()

    .1

    br u\clfi.\.

    Podemo,

    (,lpt,lr.1

    e temão

    total d,1S idéicls

    dl' uI111,1l1dl'

    sobrl Lausalida

      e

    apena se () delxnrmm

    pr

    l'n,her

    ao,

    1,ILUI1.lS

    sozinho; (aso cont

    r

    úio

    nos

    perdell,unos

    l'/Il

    (om

    n ~ o l ' , Illlgli"ta';h

    I I

    diz: "I'ulano Illl embruxado e

    matou" Ou, n \ . l Í ~

    ,imple >lllente:

    "lul,uIO fOI

    morto por

    bruxan,I,"

    d e

    ('stá

    ai ndo d,1 cau .1

    ultlllla d.1 mortl dl'

    fulano

    ,

    nao

    d,l, e , l m , l ~ "cLund.

    ui"s,

    \'OCl- pode perguntar:

    "Como

    cI e matou?' ,e

    seu II1tCrlocutor

    did

    q ue ful.

    no

    wml'lcu uic idlO enfürcand, , niJm g.llho

    d

    árnlft.:'.

    Você pode

    t,lmbém

    inquinr:

    "Por

    que

    ele e

    matou? ,e de

    dlra que foi porqul.' fulano esta\

     ,1

    zan

    gado lom

    IfIl lJO

    . A c a u ~ a da

    mort

    l'

    fOI enforcamento

    numa

    o 1Il,lt.ILlIl1. "l

    11m

    hl)lIlL' l\ III (,1

    )Ut

    o , m

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    14/49

    unt.llun\Jd.1

    11.1

    guerra,

    o hOlllllld.1 t'.1

    pnmllr,1

    1.11\\.1.

    .1

    hruxa

    li. l'.1 ' C 1 ~ U l l l l . 1 ;

    I u n l , ~ , a ~

    dUJ' o

    TI

    Ilal

    1111.

    <

    omo A l ~ l I 1 d e ret.{Inhetem a plllrJhd.lde da, l.\lI'.1 ,e e.1 ' 1 I u . I ~ " . 1 1 l 0

    tI.11

    que

    II1dK.1 qual , l l . I l I ~ . 1 rdl'\.lIlle, r O d l l J 1 ( l ~

    enlcndl'1 por qlle.1

    doullln.1

    d.1 br

    i

    ".lIl.1 11.10 r

    lhada

    p.lI a exp" .11

    li I.11

    q IIt'l fI.ll.1 o II i nl o rt tinr o. Pn r

    \e

    le

    a '1Iu.1

    .\(1 ~ o l i a l

    eXIge

    UIll

    /ldc.lIllento

    l.lU,.11

    d,

    ,ell'O

    COlllum, n.\() 1111'

    IllO. AS\IIIl.

    \e

    \Olt· tonl.1

    um.

    lllUlllra.

    lomtle

    ,ldultlrlO, n,uh.1

    ou

    Ir.1I

    ,eu

    pnllclp e e de )lOherlo, lIao

    pode

    l (.lpar.l punh •H)

    dlll'fldo

    que t01emhru-

    .Ido. A doUlnna

    1.lI1dedld.lraenf.lli

    menlequl "bruxaria II.HI fú IIm.1 pc,·

    ,oa dller

    r n e n t l l a ~ ,

    "llIu .Ifld 11.10 I,tl um.1 pe""d ("meter

    .Idulterio".

    "A

    hruxaria

    11.\0 tolo a o .Idulteuo delllro d UI11 h. rnel11; e".1

    hrll\.lri.I'

    e,tü em

    \ ( lU: m e ~ r n o

    (VOU

    o

    rcspon

    .lHO, i ~ t o e,

    >cu

    J1eni,

    fila Ul'to; \ê 0

    ca

    helo, da

    ' ~ p O ~ d um hornl'lJ1 L fiL.t l reIO, porque a UllIt.1 ·brlL'"lrl.I' l' ele Illes-

    1110" ('bruxal la' JlJUI esla sendo u ~ J d . l metdfof (JIllCnl ) "BIlI"ana n.lo

    l ~ l Z

    Ullla pe,so.1

    wuh.lr";

    "bru).,ana

    nao

    101 na urna pe"oa

    .ksleal". Apen.l'

    ull1a \ 0

    oU\'i Ulll l ~ / I d t legar quc nl.I\J

    cmbfllx.ldo

    quando h.1\ iJ

    (Olllelido

    uma

    ofem,I,l

    I ~ S O 101 qUJlldo

    'TI

    nliu para mim, e ~ l 1 \ o

    n L ~ ~ , 1

    ( K . l ~ I . I O , l o d l l ' m

    pre

    sente

    ruam dde e

    lhe lr.lm

    hruxauJ

    n.Hl

    taz Illllguclll

    dl/cr

    l l e n l i r a ~ .

    ':li' um homem J S.I ~ 1 I 1 . 1 outro membro tribo 0111 hn\.1 ou faLa. ele e

    l) . , llll,ldo.

    'UIIl O dlmo t,

    nao

    e pre,iso

    prOtur,lr

    um hruxo,

    poi,

    ia se

    tem o ah \I (OIhr . o

    qual

    ,I

    \ ing.ln\-a pode

    ser

    dlrlgld.1 C, por Olll ru latiu, t um

    membro de uma outrJ tnbo qUl I.II1CloU um

    hor'lem, seus

    p a r c n t e ~ ou

    'cu

    pnn':l)le

    tOl11arao m e d l d . l ~ rar d c.ohrir () bruxo respomj\ el

    pelo

    fato.

    'ol r1,1

    tr.llçJo firm...r que um homem exec utado por ordem dc

    ~ e u

    rci,

    por orem.1 a .lUtoridadc rL.I fOI

    mono

    por bruxari.l. e um homl"lll (OI1sul

    tils >e

    or

    ulo

    p.l r. l

    deSlolmr. urux. I respoma

    'c1

    pela 1110rt e dl

    um p.1

    rCII

    te 'lU 101 eXtllJt.IJo

    I

    ()/' orJem do reI, l'SI,InJ l rrendo o

    n,c()

    de Sl'r ele

    propno xuulJdo. POI .Iqlll ,I '>ltUdÇJO

    sOllallxdUl .1

    IWÇJll brux,ui,l,

    tomo em outr.1 Ol,1 I. l Iltghgclllla o a g e n t e ~ Ilatur.li t.

    10(.1117.01

    .lpcn,IS ,I

    11rux•

    na

    J)o

    me mo

    lIIodo, l

    um

    hll/lH m for

    morto

    ror

    \ ' l I 1 g a l l ~ J

    pDI qUl

    os

    orá(ulm

    dls t ralllljlll: era um hru IJ l" , I ~ s a mara

    outro

    hOJlwl11 com l l d

    Inu

    .Iria, enlao

    'lU

    ll.lrUIIt: n.lo poder,1O dlll r qUl til' Illll\lorto por hlu .If1J

    A

    doutrlll 1 ~ 1 I 1 d t Idl

    de

    lflllle l'

    pecado,

    porque ,lqUI CI.IS

    cnlr.lnl

    em confhto

    lOll1

    ,I

    lei e

    ,I moral,

    que S.IO .1.\I0ll1aticas.l) lande .ILell.IUl11a (XphC3\-JO mbt;

    ca d,l' ( , l l I ~ . S

    de inforlunlO\

    ,

    docnç.ls

    c

    mortes, m.15

    reCU'.1l:,sa cxpli ..

    açao

    t

    cl.1

    'L'

    Lh

    dllenç.ls, m.b

    ,IS doell\.1'i n.lo

    os tl'1'l,1l111110rtO

    ~ l ' . 1 brU\.JrI.1

    n,IO

    l'.,tl\l"Sl' agindo

    t,lmbcm.

    t'

    ,I

    brU".lfI,11I.10

    estl\e'i'l'

    prl'\L1ltt' lOlllO

    "sl'gullda

    I,lll\a

    ,de.,

    tl'ri,lm

    tido le

    bre l'lepr.1

    do

    lllc,>nlll

    lllndo,

    111.ls 11.\0

    nlllrren,llll

    por 1,.,0. ~ l ' e ~ e"l'mplo

    h.1 du.l,> L . I U ~ , I S SOLl,llml'lIlL' signifil.lnks: qUl'br.1

    de

    labu l' bru".lfl.I, ,1I11hJ

    rL'1.lIi\',h

    .1

    lillL'rcntl'S Prull""ll\ '>llêiú" l' l,ld.1

    lima

    sublinh.ld.l por ~ l l , h

    di e

    rl' n te"

    l\1.1' qu,lndo h,í qucbr,1

    dl'

    Ul1ll, lHl L I 11llHIl' n,llll)Lllne, ,I blllx.ln.1 n.h'

    Sl'r.l JIll'l1lion.ld,lull1111l,llIS.1

    d,'

    inl\ll tUI1I\l. Sl'

    UIll

    hOI11l'lllltlllll'

    Ulll,llimcn·

    tu pllllhldll t1l'plll,> de

    tl'l Il"dl/,I d,) Ulll' podt'rll.,.1

    m . l ~ i , 1

    punitlv,I,

    e l ~

    Pllde

    /1IOITt'r t l I e ~ , l ' l.l'O .1

    1.1/.1<

    dl' 'U.I

    morte L'

    (onhúid.1 de .lIlt m,IO, P' I l.I

    t:

    t.ll,)lItld,1 I l . I ~ (Ondl\lll,

    d,1

    .,ilu.I\.1O ell ljUl' l'le l1llHreU,

    me,mo

    'lU '.1 bru

    MI I t 1111 bc III

    e'>t

    I ' S ~ l ' opu ,Illdo.

    I . I ~

    IS'" ll.\lll)

    uer

    ,hlt r ct Ul'

    ti

    l110er r.1 '-)

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    15/49

    qUt' me\ 11.1\ el1111'nte ~ u L e d e r < i ~ qUl'

    I

    dll)g,1 m,lgica que de prep,lnH1 dei",ara

    de iUJlllO\ur Lontr,)

    ii

    pt 0,1 ,1 qUl'

    ~ l '

    d e ~ t in;l\ ,I, Lde, e ~ e r dest ru Id,) ,oh pen,1

    dc

    'L ,oh,H

    LOlltr,ll) Ill.lgo

    qUL

    J emiou. O t r a ( , I ~ ~ O da drog.1

    em

    ,1linglr ~ l : U

    ob,t.'t"

    l)

    dc,"l'-'

    ,I

    quehrJ de um t,lbu L

    Jl,10

    a bruxana. um ho mem ten : re

    I.I\ôe,

    "exllal'

    u1111 a e'posa e no

    dl,1

    \egull1te

    consu

    lta o

    oran

    do d e ven eno ,

    c ~ t e

    não re\ dará a verdadl', e \UJ elldClJ oracular l'stara

    per

    manent emente

    preludILad,l. Se Ulll

    tabu

    llJO t i \ l ' ~ , e sido

    quebr.ldo,

    d i r - ~ e - q ue a bru",ariJ

    fez o

    nraculo mentir,

    ma,

    o

    e,tado

    d,1

    peS,OJ

    que

    assistiu

    a

    se por

    br u

    xa

    ria, ou , me smo que d   a Jceitar ,\

    possibilidade

    da

    bruxa na,

    \.on

    si

    deram

    a

    estupid

    e/ ,\

    G1U  >J

    prinCipa

    l.

    Ade mais, o

    zande

    n.w e ingcnuo

    cl

    pon

    lo

    de

    culpJr a bruxan a pela qu ebra de um pO le durante a cozedura se me

    posterio

    res revelam

    qu

    e um seixo

    f

    OI delxdd o na argila; ou pel.l fuga

    de um

    ,

    111 i mal de

    armadi

    lha se alguém o

    n t o u

    com

    um movimento ou

    baru

    lho. As pessoas não culpam a bruxaria se um a mulher

    queima

    ()

    mingau,

    ou se

    o serve cr u

    ao

    marido . E

    quando um art

    esão

    l i d o ~ o

    faz um banLO ~ r o 5

    seiro , o u que racha, isso é

    atribuíd

    o

    à

    sua inexperiência.

    Em todos esses casos, o ho m em qu e sofre o infortúnio possnelmente

    di r

    á que e le se

    deve

    à bruxaria ,

    l 1 1 a

    os o u tros n

    ão

    farão o

    mesmo.

    Devemo

    lemb rar

    co

    ntudo que

    um inf

    o

    rtúni

    o

    séno, especialmente

    se r e ~ u l t a em morte,

    é no rmalm

    ente

    atribuído por todos a

    ação

    da bruxaria - e e ~ p e c i a l m e n t e

    pela ví ti ma e seus pdrent es, por mais que tal desgraça tenha ~ i d o causada pda

    incom pe téncia ou falta de aut oco ntrole. Se

    um

    homem cai

    no

    fogo e se qUet

    m a seriamente, ou cai

    num

    fOlo e quebra o pescoço

    ou

    a perna, isso será auto

    m aticamente

    atribu

    ído à bruxaria. Assim,

    quando

    seis ou sete filho\ do

    prínc i

    pe

    Rikita

    fi

    car,

    lm

    encu rralados

    num anel de

    fogo ao

    caçar

    a t o ~ do

    bre

    jo ,

    morr

    e

    nd

    o

    qu

    eim ad os, suas mortes foram indubitavelmente

    a u ~ a d a por

    bruxaria

    .

    Desse modo, vemos q ue ,I bruxana tem sua

    propria

    lógica, . uas

    próprias

    regras de pens

    am

    ento, e

    qu

    e estas nJO

    excluem

    a causalidade natural. A

    cren

    ça na bru

    xar

    ia

    é

    baS la

    nt

    e

    consistente com a

    rc pon abilidade

    humana

    e

    com

    um ,\ aprec iação rac i

    ona

    l

    da

    1l,llurelJ. Ante de mais nada, um homem de\e

    d

    e\e

    l11 pe

    ll

    h,lr qua lquer .1lividade

    conforme

    as regras técnicas tradicionai ,

    q ue

    c o n s i ~ l e m

    no con heLllllento teslado por ensaio e erro a c.ld,1

    geração.

    E

    ,1penas q Ucllldo ele

    fraGISS,I,

    ,lpeS,\f

    de

    sua ,ldesdo a ÔS,h regras,

    que

    \ J I I I l1pU-

    lar a falt,1 de

    S l l c e ~ s o ii

    bnr\.Il"IJ.

    s

    h eqlll'l1telllenll' ind,lg,l-se

    Sl '

    os pO\ lh primiti\'os

    disungu 1\1

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    16/49

    1 ]C I I pHu 1Il1

    1 11ll

    I ' l l . h t I l l I lOS

    .1

    Olll'd,ldl i

    lllnIU,1J11l11l('

    rt I lOI I

    11'1

    ttllO

    . I ~ ' lUl

    n.1O

    I' delll

    Cl lIl.I

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    17/49

    ( \ 'l llllllll

    s vÍt i11las e i / ~ f t l Í l l i o s

    lJll5Cl1

    11l

    os bruxos

    t

    os inimigos

    I

    D

    inuttl

    d e ~ c o O i

    br u

    xos

    quc

    a

    espantaram;

    I l la,

    no auge da estaçáo

    ,

    a I d e n t J f i c J ~ a o d o ~ b

    ru

    xos pode assegur. r Ulll bom resultado. Se Ulll homem {-

    mordIdo

    por um a

    (o

    hra \'ene

    nosa

    , ele fica bom

    logo

    ou

    morre.

    Qu,lJ1do se

    Lura,

    de nada

    adlJn ta (

    omultar

    os or.1culo$ par.

    saber ()

    nome do bru xo re,

    p o n s á \ ( ~ 1

    peja m

    ordl

    d.l Mas se

    UIIl

    homt'1l1 Lli

    doente,

    e a doenç,1 promet e SLI

    ena

    edemora

    d.l, então se us

    parentes

    hU\lJm o bruxo r e ~ p o m . I \ l 1 P,H,I que.l

    balançil pese ma Is do 1ldo

    d.1

    LUTa que d.l morll'.

    i.lÍs

    ad 111

    te e

    phC.lI"CIl)(

    " .Imallura pd a tlllJ I

    OP

    U, lI1l l o r.1Cldos. Aq ui

    *alaremu ,IP nas do, vCTedi

    ctos

    c

    om

    o p.H\c do meLan lS II10

    S

    OL 131de Lo n t

    ro

    le

    d b

    uxarl.

    I eV iden te q ue, qu ando um bruxo l (it 'nulhlddo pelo>ol .

    llul

    'h,

    t

    ll

    U

    iiI I, t

    J,

    u

    tl r

    ie cri ,l um,l

    ~ l l u I Ç , I O

    perigo ,I,

    I ' l J I ~

    l ho m cm p reJudJ(..tdo

    l,lm

    l u n m ) ~

    lom

    Ulll" .Itronl.l .J dlgll l

    dJ d

    e t um .11 u ,I(}

    pOI

    p.1 rt l

    dL UIIl

    \'l/lI1ho

    lIlgUCIII ,l

    C

    Cll

    a

    I r a n ~ u j l a m e n t e qu

    o

    r

    guelll ~ U < l

    L

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

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    \ Id.le S o ,

    ou

    ,>e.1

    C ~ p O ' i , 1

    IlllllTt.'r.í ll11 '>U,I L.I,a logo IlOS

    ,

    p l J l ) J

    ,II1

    OS

    de

    (o l1

    vivéllliJ . NeslL'

    C.hO ,

    ,I I11 (,l1

    tO. pa ra então persuadI

    lo,>

    a Lessarem sua animOSIdade contra

    DepO ISde ter (o ll vers,ldo com 05 br u xo

    s,

    deixa

    a\

    loisas ~ f n a r c m um po J

    eo

    e en t,10

    vo

    lt

    a a

    consu

    l

    tar

    0 5

    o r.ículos para sa b

    erse

    ainda

    há perigo

    a vi

    ta

    ,

    ou

    se

    ()

    ca

    minh

    o est

    .l

    limpo para o casam ent o. POIS é inú t

    il

    caSdr-se com

    um

    A o\em

    q ue, sabe-se

    de

    an te

    ma o

    , vai morrer se desp

    osá-

    lo

    Cabe observar qu e, quando

    um

    zand e a firma que um empreendimento

    está e

    mbru

    xa do, ele

    pode

    estar

    mentindo

    . Co m o n

    ão

    se L'spcra

    que

    alguem

    cumpra um a o brigação se isso

    acarretar

    desastr e, o jeito mal fácil de fugIr

    dela

    é

    i

    ze

    r

    qu

    e os oráculos in

    formaram

    que vo cê m o rrerá se insi tir na em

    pr

    esa. Ninguém pode es pera r

    que

    vocé corra o

    ri

    sco.

    Em vI,ta disso

    , as

    vezes

    abusa-se

    da bo

    a- fé a lheia. Se

    você

    não

    quer

    m and ar seu

    fi lho pa

    ra

    ,er

    pa jem

    na cor te real, aco mp anh a r u m amigo até os Bo ngo, da r sua filha em

    casamen

    to ao

    ho m

    em a

    qu

    em você a prometeu , ou deixar sua esposa i ~ i t a r os pJren

    tes, bas ta- lhe alegar q ue os oráculos pr essagiam a morte como resultad o

    desses e

    mp r

    ee

    ndim

    entos.

    Esses circ

    unl

    ó

    qu

    ios, p

    orém, permitem-lhe

    a

    di

    ar,

    m as não fugir definitivamente de suas o bri gações; as pessoas com quem

    VO Le

    está co

    mp

    ro m et ido - o re

    i,

    o a mi go, o

    futur

    o genro, os sogros - , todas ela ,

    irão con s

    ult

    ar

    os

    própri os orâculos para venficar a alegadas declaraçãe do

    seu orác ulo.

    E

    m e

    smo que

    as declara

    ções

    dos

    orácu

    lo delas

    concordem

    com

    o qu e você mentirosam ent e afirmo u serem as declarações do seu oráculo, is,o

    o lib

    erará

    de suas obrigações ap enas por alg

    um

    tempo . As

    ~ o a s

    em oh idas

    l

    ogo

    tomarão providênc

    ia

    s

    para

    d

    escobri

    r o

    bruxo que

    ameaça

    seu futur

    o,

    e

    quando t

    iver

    em

    co

    nve ncido esse

    bruma re

    t irar

    a influência

    , você \a i te r q ue

    inve

    ntar

    o ut ra descul pa. Assi m ,

    que

    os oráculos são m ei

    os

    de l

    mpor

    c

    om p

    o

    rtam

    ent os,

    ma

    s a

    ut ondade pode ser impropriamente u ~ 3 d a

    pJ.rJ.

    Sl'

    fugir

    ao

    d ever.

    Não

    o bst

    an

    te, nen

    hum

    ,ande

    afirman.l

    que

    um

    oráculo

    di sse

    al

    go di f

    ere

    nte

    do

    q ue rea lme nt L' d Isse. Se um

    ind" idu o

    qu er J11tntir,

    prete nd e te r obt ido uma ded araçüo orJCUI,lr

    sem

    ter dL' fato \.o

    mult .l

    d

    t)

    ora

    n do

    .ll

    gum .

    3

    Em geral o land e comulta m orautlos ,1 respeito de lU prnpna SJlId

    'entr,l

    el1l

    C lllt,tto

    lom

    os

    bru\o

    s

    segund

    o Lcrt,ls etap,

    lS

    l

    os

    tulll

    ..

    ira , )

    I

    Jrlnt

    u

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    19/49

    a famtli,1

    de

    um Lh)cntL' dL"Lohnl,Jl) qucm (l es t  1 emb ru\,md o e \OIILlt,H,io do

    bru o

    que (e"l

    ' ' ·U I'llKl'dimcnto.

    l\ la,

    mUitos Aza llde qu c est,jo

    em pu telt,1

    ',JULie co tumam llltl\ult,lr um

    do,

    or,lllllos no inICIOde cada

    me, p.1I

    ,I b c r

    LIHl1,le,t,lr,1

    '>ua

    \,Iude n'lqude período; pu de no tar que,

    em

    cada

    lomu

    lta,Jo

    or:Jculo de atrito, um

    homem

    l l ' \ ~ e im an J \'elmente pergunt,1 \e mor rer,l

    cm futuro próximo "e o

    1l1,icu

    lo d

    l\\e

    r q ue alguém esta ame.lç,llllio , lI ,1

    ,J

    ud e

    e quc ele morrer,i em breve, o

    home

    m \o har,l para c a ~ a ab,ltl

    do

    , p o i ~ m A7.1 n

    dc n.1O dissimulam ,ua ansiedade em a l ~ circun stâncias. O maib alegre de

    mcu\

    amigos lande

    fiL

    ilfia depfJJl1ido até

    que

    tivesse

    anulado

    o veredicto do

    oráculo,

    t ~ z e n d o com

    que o

    bruxo

    que o am ea

    ça

    va se aqulet,lsse. D uv

    id

    o,

    contudo, que jamais algum zande tenha morrido ou fic,ldo séria e demorada

    mente perturbddo pelo

    conhecimento

    de que

    es

    ta\a

    embruxado; nunca

    depa

    reI com um caso de morte por sugestâo desse tipo.

    Um zande que está doente ou fo i informado pelos oráculo\ de qu e

    es

    ta

    prestes a (air

    doente

    \empre dispôe de meios para enfrentar a situaçâo. Co nsi

    dcremc):, a atitude de um homem que est,) perfeItamente bem de saú d

    e,

    ma s

    qu(' , abe de antemão quc irá adoecer, a menos

    que

    reap à bru \ ana . Ele n

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    20/49

    continual.1O

    ignorJnJo

    ~ \ I . I idcntid.lde.

    () d b C u r ~ ( l

    e

    pronunciado

    cm cslilo

    dr,1Il1.ltlco, logn JLl'oi, do

    pór -d

    l1

    '010\1

    ao

    Jlvorecer.

    O orador ,oh\.' num ni

    n11l)

    de t\.'nnitJs e 1.1Il\-a

    um gnto

    agudo: J

    ia

    H.li Hail", P,H,) atr,1II ,I

    alenl,-'lO

    d o ~

    \

    lI111ho,.

    T o J o ~

    acorre m il11cdialamente,

    pOIS e ~ , c

    grito

    é

    O mcsmo que

    se

    d.1 qu.lJ1du

    dlgul11 anim.11 é a\"l >tado,

    nu

    quando

    um

    homcm

    .1rm.ldo

    é

    desco

    berto dL' L'mhn'Lad.1 no matagal

    O orador

    repete seu gn lo v,lrias veles e

    en te

    e on j

    dcrado

    o

    n1.1l

    ' (hgno de con fiança, e cm ger,II

    a

    denúnc.la

    de

    r u x ( J ~

    o e

    feita a

    pall1r de s

    ua

    s declaraçôes.

    O

    orác.ulo

    de

    veneno pode

    apontar um ou

    ano

    bruxos

    como r e s p o n s á v e pel.1

    doença,

    m a ~

    o procedim ento e o

    me

    mo, eJa

    qual

    for

    o

    número

    de acu,ados. Corta-se

    a a ~ a

    da ave que

    morreu

    qu,lOdo

    e

    enunciou

    o

    nome

    de um bruxo e e s p r t a - ~ e ela

    num

    grdveto

    pontudo,

    arru

    mando

    as

    p e n a ~

    em forma de um leque, que

    os

    consulentes levam para

    Cd>J.

    ,IPÓ\ a

    sessão.

    Um

    dos

    p 3 r e n t

    do doente Ir\'3 a a\a entao ao delegado

    de um

    príncipe - nem sempre um pn ncipe e tã

    ace >sível;

    alias, ele não go taria

    de

    ser

    importunado

    com qualquer pequeno caso desse tipo. Um delegad

    nào o;e

    importa

    de ser de vez em

    quando

    assediado com tais pedido\. Embora

    OJ.O

    re

    ceba

    honorários

    por

    esse trabalho , as solicitaçõessão um

    tributo à ~ u a impor

    tância, e assim ele tem prazer em atendê-Ias.

    O mensageiro deposita

    a

    asa aos pés do delegado e agacha-se

    para mfi

    r

    m

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    21/49

    \.erteza e\te \ aI r e L U p e r J l - ~ c , pOHluC' do fundo de ,eu cora.;,\() ele

    deseja

    toda

    .Illdc e feh(ld.lde para o doC'nte; c (.(lmo ,inal de ~ u a bOa-\Ol1l.ldc

    ~ ( ) p r a r á

    agua. Pede.1 e ~ p o ' J um.1

    l a h , l ~ a

    de agua,

    tOll1a

    um gole, enxagua a boca com

    eI.1

    e

    dcpoi\ o p r a - a em cl1U\

    ciro fino ,obre a ,I'a de galinha a

    e u ~

    pés. Em se

    guida declara

    em

    \'oz alta, para que < men ageiro ou\-a e comunique suas pa

    lanas, que se ele e um bruxo. ignora\J tal condição, e que não está fazendo

    mJI ao doente

    pur

    querer.

    Di,

    qut' esta interpelando .1 bruxaria em seu pró

    pno

    ventre,

    u p l i l a 1 1 d o - l h e

    que

    'e

    lornL' fria (inativJ),

    num

    apelo

    que

    parte

    de

    seu c u r a ~ . j ( l . e 11.10 .Ipcna de

    SUIS

    lablus.

    O m e n ~ g e i r o uJl.1O retorna ao delegado, conta-lhe o que foi feito e o que

    t ~ t e m u n h o u , e o delegado informa 10 parentes

    do

    doente que a tarefa de

    que o incumbiram foi de empenhada.

    O

    mensageiro não recebe pagamento;

    seu sen'iço é (011 iderado um ato de cortesia

    com

    o delegado e os parentes

    do

    doente. A \ Itima e seus l J l l l g l l ~ esperam .111 iosamente alguns dias até saberem

    efcitoda entrega da a .1 de galinha ao bruxo. Seo doente mostra sinais de re

    Lupera'rao, eks

    enaltecem

    ()

    orac ulo de veneno

    por

    sua presteza em revelar o

    II 0111 e do bruxu . assun, ter pemlilldo o restabelecimento do doente. Mas

    sea

    doença per oiste, ele illlClam urna no\ a rodada de con ultas ao oráculo. Agora

    desejam s.lber o hruxu estava apena simulando arrependimento e conti

    nua

    tdO

    hostil (omo ant •ou M , n e ~ s e meio tempo. outro bruxo entrou QJ1

    ..

    ena pdrJ uKo11.udar eu paren te e agravar-lhe a doença. Em ambos ' ~ f 9 l ~

    a aprcsc11tafrdO formal de asas de galinha continua sendo C l t a c o m a m t J d ' . ~

    do delegado

    de um

    prmLip . '

    . Embora 110 pa sado os pnncipes por vezes tenham toIQadomrdidN II)8IS

    dra tlcaS para garantir própria e g u r a n ç a . o s p r P C e d , " l e a t O l a d m i J ~ -

    tos ao de uso rotineiro em cada

    seçao

    d

    soa

    . . MltaçOe de

    doenÇ. chances de uma açlo vioJenr. do

    e.ofenno

    ~ a o oulllml7.ada pela

    rotina

    FeRdo

    cues mo-

    dos de agir e tabelecido e de valor _u....

    _

    _ · · , N 1VO

    mUIto raramente,

    em atuar

    de outlQ

    ••

    .

    Além do comportamento

    cor

    umetra, tendo

    portanto a natureza compulillhiule .ldehabilu.t.exiStem outro fato-

    res que contnbuem para ........... • srandt autoridade do orálUlo

    de veneno

    mútil

    P declarações; o mprego

    de

    inter

    medaanos entre ,.....

    de

    encontrarem nu decorr r de

    todaaq deumpnn Ipe,

    ~ t o q U t UIJIIl l-

    l / I d,' ,r rlllll/OS busca ,,, bruxo mtre m

    su to a seu mensageiro

    é

    um insulto ao

    própno

    prlnclpe;eas

    l n o l C l l Ç l Ç . , e e , . z _ ~ . ·

    bruxaria, que tornam o procedimento vantajoso para ambas s pai

    Mas, se o veredicto do oráculo de veneno é sufiCiente p r dia•• r.

    antemão qualquer negativa ou oposição. é precIso ser capaz de

    pro+m

    declaração oracular válida. e um homem acusasse outro de bruxaria scat

    sear

    sua

    denúncia num veredicto do

    oráculo

    de veneno,

    ou

    pelo metJ05 110

    oráculo das

    térmitas,

    todos zombariam

    da tentativa. e talvez ele até

    sal

    ma-

    chucado da história.

    Por

    isso, os parentes de

    um

    enfermo em ger l

    conma

    m

    alguém

    que

    nao seja da família para estar presente quando consultam o ora

    culo de veneno.

    Essa

    pessoa poderá. assim, atestar que o

    oráculo

    foi rca1mcnte

    consultadoda maneira correta.

    ~ ; l m l l ) a s

    as

    partes não criar animosidade recíproca

    O l = U i 4 ~ ~ : Y e r K i o j u n t a s . ,

    como

    vizinhas,

    ~ n c de mteresse mútuo que

    eYÍ

    _epltiB'lenl:Opor uma razão mais imedi ata e direta..

    ) I Q j ~ i o é

    colocar o bruxo em boa disposição de ânimo

    t M J : . ~ u n e n 1 t o cortês.

    O

    bruxo.

    por

    sua vez, deve sentir-se agra

    ~ I d ~ , o

    às pessoas que o preveniram

    tão educadamente

    do perigo

    . â t 4 l ~ U T e n d Q . Devemos lembrar

    que, como a

    bruxaria

    não

    tem

    existência

    ~ ~ 1 1 Q I h 4 J m l e m não

    sabe

    que

    embruxou

    outrem,

    mesmo

    quando

    tem cons

    _da

    de que lhe quer

    mal. Ao mesmo tempo, acredita firmemente na exi -

    tência da bruxaria e na precisão

    do

    oráculo de veneno, de forma que,

    quando

    o oráculo diz que ele está matando um homem por bruxaria, ficará pro

    vavelmente agradecido

    por

    ter sido avisado

    ii

    tempo. Se o deixassem matar o

    homem,

    ignorando o que fazia, ele inevitavelmente seria vítima de uma

    vingança fatal. Pela polida indicação de um veredicto oracular, feito pelos

    parentes do

    enfermo

    ao bruxo que o fez ficar doente, salva-se d

    \ida tanto

    do enfermo quanto do bruxo. Daí o afllrismo lande: "Aquele

    que sopra

    agua

    não morre.

    Essa máxi ma refere-se a açao de

    um bruxo

    qUdndo sopra

    um

    jorro

    d'agua

    de sua b ( ) ~ a sobre a de g,llinh.1 coloc.lda

    .1

    scus pés pelo mensageiro de um

    delegado.

    Quando

    o

    bruxo

    sopra .ígua, ele "esfria" sua brux.uia. Em razão

    desse rito simples, garante que o enfermo recobrará

    t'

    que ele me

    mo

    e -a

    p.mí

    d.1

    ving,I1I\.l. Porém os A/.l1Ide ~ u s t e n t . l I l 1 firmL'lI1ente que a merd. \-3 )

    de sopr,lr água n.\o tem v,llllr

    ClIl

    si, (aso () bruxo

    11.10

    deseje si 11cerd mente que

    o doente

    SL

    reLupere. (,OJl1 I'SO ,ISse\'L'r,lIl1

    ()

    l.u.íter

    l1Ior.11

    e volitho 1I.1 bruxa

    I

    ia. I )i/l'llI: "Llu)

    homem

    de\'l'

    \oprar .ígll.) ~ O I 1 l

    II lora ao. nao

    .Ipt:

    11.1 lO11l o

    láhios", e que "slJl'r.1r .lgll.l d.1 hOL.I 11.\0 eIlLL'rr.lll,lssunto;

    111.1

    se

    ,\

    agu.1 \ m

    d,1 barrig.l.

    eI.

    esfri.1 o (Or.I,.ltl , (' L·,te e o \'c ld.ldciro soprM .Iglld."

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    22/49

    I

    1.11 proLe"o

    de umlr. .11 q u ~ a bruxaria que de.;cre\l e Illlrm.llmenle

    ulllllado em -illia oe de d o e n ~ a . ou qu.mdo l or.1ullo prcdll docn J p.lr.1

    um homem

    qUI:

    no momcnto Iode c,lar em

    perfeila ,

    aude.

    l le 1lm h

    C

    m e

    u'),ldo

    para

    o

    in,uce"o

    na La\a

    ou cm

    oulr.1

    aliyidade

    clOnÚm l

    cJ

    ,

    e,lela

    ,' ,tol

    em c

    ur'o ou

    ,eia planeladd

    quando

    or,l(

    l l ( l ~

    rredl7cm

    ..eu r . l c a ~ s o

    ,lI1le(i

    rad.l1nenle

    ....

    em dU\'lda .1 grandt'

    m.liona

    de s , l ~ de g,llinha .11 1 e,cnl.ld.h .10s

    b r u x o ~ \ ln

    por

    moll\ o de L.\,O de docll\a. Enqualllo l do cnle (llnlll1u,1 , '1\ o,

    sem

    parente, ratem t o d o ~

    os t : , f o r ç ( 1 ~

    polido, par,l p

    er, Sob

    multo J peLto ,

    mmha \'Ida

    era Igual

    a

    deles: Lontra l suas

    doen".l usei de ua fonl d Jlimen to e adotei

    ao

    nJáxlmo pmsíw l seus

    prtlpnos padro s de comportamento,

    0111

    as resultanles anllzade in im

    ilJ

    de. Mas

    foi

    na ~ f e r J

    da

    bruxan

    .l que ti ve

    mais

    ucesso em

    "pt'mar como ne

    gro",

    ou melhor dll.endo,

    ..

    enllr Gomo negro : Eu tambem me

    Jcos

    tumei

    .1

    I

    eagir

    ao I I 1 l 0 r t U n t o ~ no IdIOma

    da br u

    x

    an. t' trequentemlnle

    preei,t'1 mI:

    t'S

    forç.a l pJIJ Lontrolar meu ln)\

    no

    apeio

    ii

    d r lLJO.

    VImo

    ntellorrn

    nl

    e

    Lomo

    a

    bl u

    x

    Jna p'Hltlipa

    de todo

    os

    intortúlllOS.

    Info[\ ulllo e IHu

    ana

    ao b,m ment J

    mesma

    Loisd

    para

    um l..tnde, pois l'

    apena

    em Slt

    U

    dÇO

    d

    II1f .,

    rtUI\l

    f) ou em

    dntellpalrJO a

    eI que

    a

    noçao de

    bruxanJ (' e\'owdn.

    Lm

    Le

    rt o

    nudo

    , pode se

    dller

    que

    bruxJrJJ

    é

    infol tu

    nio. que l: melOdo de l 1 l t . l o ralulard l apre entJçJo

    de

    ii

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    p r ~ CC

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    .. 11 idade bruxar id e o t r . l t ( ) Id ologlLl' nele%arlO I ara ddr Loer nua lo

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    menos

    dotado

    e

    'ie

    tem

    01' bnas grJ ç

    a'

    d t' seu p n n e de scu, \ Izinhu" que serJ delt' udo por

    '>Cu

    pre

    \t l

    gHl e p o

    puIJrid

    .ld e.

    Nas

    tarefJs

    rolineir,ls d,1 'Id.1 h,l m uil.l

    oportunidJde

    pJr.1

    atritos

    . Dentro

    do grupo

    doméstico.

    '.10 frcquent es

    .1

    ' po so;l h iltd.ldt'

    d.lIlça" 1.11\'0 st'

    tenh

    .lm

    pronu n"

    ia

    do pahl\TJS irrefl etidas qu e dt'poi, foram rt'pelld.l'

    .1

    llulrüs. Um homem

    pode

    pensar que c erta CJnçaO

    'c

    reteria a ele. Ou t.l"ez lenh,l 'Id o lIl,>ult.ldo

    ou espan

    c

    ad

    o nJ

    co

    rte. O u

    pode

    ter

    um

    rival

    dispuI.\nd

    o

    o,

    t

    .

    l"Ü[

    t'

    S

    de

    u m

    prlncipe

    . Qualque r p ,lla"

    r.

    n1.lIdos,l,

    alo

    pena,o ou immUaLJO

    SJO

    gu,lrda

    dm

    na me m ó ria

    p.Hol

    posler

    ior

    retali.1\Jo . B.lst.l que

    um pnnLlpe

    demo nstre

    favoritismo por

    um

    de se

    lb (ortesaos,

    um marido por

    uma

    ti.h

    e p l ) , J ~

    p.

    \r

    a

    qu e 0 desp rezados deteslem n escolhido.

    lnuml

    r.l' lt , ~ o n s t . l t e i .qu e b.

    ht .l

    Vl CU ~ e n e r o s o o u

    apenas

    multo amig.l\'el

    (om

    um

    dc meu,

    \'I711lhos p.l ra

    ~ I e

    fj

    ca'ise imedl.lt.1men IC .lpret'nsinl qu.1nlo

    ,I

    b r u ' , H e qUJIl.}uer

    1m

    pre\,\ ,to qu

    C

    o atlllgl sse er.l ,lInbllldo.lll Llllmc qUl mm h .l am l l .llit' dt'sl'cr t.lfJ

    no

    ( O r a ~ , H l

    do.

    ,elh \'Il1nho,

    FIl1 gl'l.ll, no ('nt,mlO,

    um

    ho mem que ,lcre:dit.1 que:

    os \Hltrtls

    sentem

    .:

    iu

    me, dl'le

    n ío

    faz n,ld. .

    t

    ontinu .l a ' l'I

    pnlidnlllll1

    todlb e pfllLlIf.l m .

    lI1t

    d - <

    .lmi,tllsO. H.1st.l, porem , que ,urra um infllrtul1lo

    p.lr.1

    ,ILrl'Lht.1r que Ulll da

    quek, homens li

    embrll'l.oll . l' .Iprt',

    .

    nu ra

    'c u

    s nlHlle, dl.lIlll' d o de

    \elll'

    IHl

    poHJ ,.lha qll.ll

    <

    o rt'splln.,.I\

    d

    As llm.,IIIt.I' tlr.llul.lre" h l ~ n l . l

    Illl'lll

    hl,tOrl.l' do.

    rl'l ,lllllll;lllllntl" Pl'

    SSll

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    Plll'

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    .

    llllm

    IIldl\ldu

    o ' o

    ,010L .1 h.lIl te

    do

    nr ,l,ulo os nllme, d,lq lIl'lcs que II pOlkn.lI11 1, 1 pr l) 11.1

    h.

    ado

    elll r.

    ll .

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    ul11

    .lulllh'CIIl1l'IlI\) t1l' terll1in.ldo que , em \11.1 Opll1."lll . 1110 11

    \ "II

    .1

    III

    i n

    I

    iI Ide d e

    t.1I

    s peS'n.

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    .1

    .II"escnt,I\.lll de IIIll nOllll dl.lllte do o r.h u lo

    .1

    algum IlIllcll'nt, p.l\s,ldll.

    4

    \ l i l l l l l t l de Inlo JÚfl I u

    iCltn

    <   rll II r--

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    23/49

    6

    Uma el que ,1 , l L u ~ . l ç 0 e > de bruxaria 5:10 sw,litad,ls por inimizades p c s ~ o a i s ,

    e eViUl'l1tl a

    ra7dO

    pela qual certas pessoa" nem cheg

    am

    a ~ e r u)nsidcrada;"

    quando um

    doente

    p,lssa

    em

    re\

    is

    ta os

    l 1 o m daqueles

    que lhe poderi,lJll es

    lar fatendo mal

    de

    forma a apre;,ent á- Ios ao o ráculo. Não se

    a c u ~ a l 1 1

    os

    nobres

    de bnL\,lria, e rar3t11t?nte se pk be

    ll"

    i n t l u e n t e ~ ; não

    apenas porque

    não

    ~ e r i a

    a c o m e l h á \

    e l l l 1 ~ u l t a - o s ,

    co

    m o t,lll1bém p o

    rque

    o

    cantata

    social das

    pessoas comum com gente e S a ~ catego rias limita-se a situações em que o

    comportamento recíproco esta deter minado por

    noções

    de stalus. Um ho

    mem briga com seus iguaIS e deles

    sente

    iIweja. Um nobre está socialmente

    t.lO

    separado dos plebeus que, se um desk s fosse brigar com ele, o caso seria

    antes de traição. Plebeus detestam plebeus, pnncipes

    odeiam

    pnJ1cipes.

    Da

    mesma forma, um plebeu rico fun ciona como patrão de um plebeu pobre; di

    ficilmente surgirão o incentivo e as

    op

    o rtunidades para haver suspeita entre

    eles. Um plebeu rico inveja rá out ro ple

    beu

    rico, um pobre terá

    ciúmes de

    ou

    tro pobre.

    f

    muito m a i ~ fácil Jlguém sentir-.,e ofendido por palanas ou atos

    de um

    igual

    qu

    e

    de um

    supe

    rior

    ou inferior.

    Do

    mesmo

    modo,

    as

    mulheres

    entram

    em con ta to c

    om

    outras mulheres, e

    não C0111 homens,

    salvo seus

    ma

    ridos e parente s, de forma que é a respeito de outras mulheres que elas pedem

    que se co nsultem os oráculos; desde quI.' não há

    intercursll

    social entre ho

    mem e mulheres não-aparentadas, é diflcil surgir inimizade entre eles. Igual

    me nt

    e, como já vimos, crianças não embruxam

    adultos.

    Isso significa que

    uma crian ça não costuma ter relações com outros adultos, além de seus pais e

    pare

    nt es, capazes de

    despertar

    rancor em

    seu

    coração. Quando um adulto

    e

    mb

    ruxa uma criança, é geralmente por ódio ao pai dela.

    A

    maior

    oportuni

    da de de surgirem conflitos da-se entre líderes

    de

    grupos d o m é ~ t i c o que

    man têm contatu cotidiano, e são essas pessoas as que maIs freqüentemente

    ap

    r

    l se

    nt

    am os

    nomes umas

    das

    u t r a ~

    diank

    oráculos, quando um

    deles

    ou um membro da família está doente.

    <

    ollludo,

    as noçoes de

    bruxaria

    são evocadas fundamentalmente por

    Cl

    ma infortúnios, e não dependem inteiramente de ll1imizadl s,

    Quando

    um homem sofre

    um

    infortúnio, ele sabe que foi embruxado, e é so aI que lisa

    a

    memória

    para descobrir quais

    bruxos

    lhe delicjam mal e poderi,lm té-Io e111 -

    bruXddo. Se ele

    não

    consegue

    lembrar-se

    de nenhum incidente que tivesse le

     

    .Ido alguém a udiá-Io, e se nao tem

    nenhum

    inimigo em espelÍdl, ainda a s ~ i m

    deve LOmuJtar o

    oráculo para

    encontrar um

    bruxo.

    Por isso, até um prl1Jcípe

    lrJ por vezes acusar plebeus de

    bruxaria,

    pois seus infortúnios

    devem

    ser e:>

    plil.adm e evitados,

    mesmo

    quando

    .Iqudes

    que ele acusa de bruxari, nJ,li, serio, l

    demos sugerir que a ra7âo dessa crença se deve

    ao

    fato de que

    pe; d a ~

    outra

    s não têm conta tos souais suficientt"i para de-,prr

    tar

    ódio mútuo,

    ao

    passo

    que

    ampla

    s possibilidades

    de

    at rito

    en

    tre pes;'O.b

    que

    têm

    .

    suas

    casas e rf\ças

    em contigüidad

    e.

    Os

    Azande

    te

    ndem a

    en

    tía r

    em

    disputa com

    aqueles

    que estão mai5 próximos quando essa proximidade naoe

    atenuada por sentimentos

    de

    parentesco

    ou

    torn

    a

    da

    i

    rr

    ele\'a

    nt

    e

    por

    di l 1 l r l o l

    nobre

    é

    sempre um nobre, t' LOlll0 t,lll' tratado

    ('111

    hl t J , .1'

    ,I1lhlÇ"nc

    ; nu n,

    hl

    ha semelhante nitidel ou lon,t,illlla qu.llltt) .1 l ' d , ~

    n . l h , l . l d 'lld,ll

    k tlm

    bruxo,

    poi,

    t',te

    t'

    Lllllsílkr.ldo

    bw\o l l ~

    LCrI,l' 'llll,IL ll

    .'

    n l\'

    le,

    .l

    z,md

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

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    I IdO eu I ~ m í i c d d o depende em

    t 11

    medldJ de contexto

    P,IS

    3 g e l r o ~ que

    um

    homtm dlllulmente e enc.dr,ldo

    como

    bruxo qUdndo d itudção

    que pro·

    \ ou umJ .leu leão ontra ele

    i 1

    de apJreas. Ma se

    um

    homem não so

    freu

    agressão alguma, então não deve mostrar

    hostilidade

    para com o

    outros.

    Igualmente o

    ciúme

    e a inveja são mal es, a menos que seJam cuI u·

    ralmente aceitos, como no ea,o da rivalidade entre príncipes, ddn-mhos ou

    cantores.

    Todo

    comportamenro que se choca com a IdéIas azande sobre o

    que

    e

    direito

    e próprio,

    embora

    não seia por si bruxaria, é o Impulso que esW

    por

    trás dela, e as pessoas que infringem as regras

    de conduta as mal frequen

    temente

    acw,adas. Se

    e x a m i n a r m o ~

    as situações

    que

    e\·ocam

    no.

    ões

    de

    bru.n

    ria e o método

    de

    identificação de

    bruxos.

    fica claro que

    ele. irnplteam

    caráter \'oliti\"O e

    moral

    da

    bruxaria.

    A condenação moral e prt:determuu a,

    pois quando

    um homem

    sofre

    um

    infortúnio, ele medna obre ')ua m a ~ a e

    comidera quem, dentre seus \'izinhos, lhe

    demomtrou ho

    tilid d

    imerectda

    ou

    ressentimento

    injustificado.

    Es

    as pessoas o prejudiCaram

    e

    lhe

    querem

    mal, e portanto ele

    deduz

    que 1 a ~ o embruxaram - p o i ~ um

    homem não

    ma

    embruxá-lo e não o d e t e ~ t a s ~ e .

    As IHH,OeS morais aLande, em

    ua

    i ~ ; a o da onduta em boa e m nâ

    são muito diferentes das n o , ~ a s , mas, como elas não >e exprimem em tcrm

    lei tielh, sua semelhança com os o d i g o Ja rehgioes mal> \.onheoru nao e

    aparente de

    IIllt:JiJto.

    O,

    ópmto

    do,

    morto

    n30

    podem

    er on do

    como

    árbitros da Illoral e

    annonadores

    da conduta,

    I

    rqu

    I

    bro

    de

    grupos de parente,co e so ~ x e r em

    autondade

    d ntro d

    obre.1 me nu pe soas que

    lhe,

    e tJ\am submetida· quand r am ,

    ~ e r 'lupremo

    ê

    Ullld IIItluent..l.l mUIto "aga,

    n.lO

    . endo nado rei z:ande

    .01110 gu,lrdl.lo de um.1 lei moral que de\'a ser ob decida Olpl m

    nt

    r

    que Ile

    : o eu

    autor. no

    Idioll1.l

    da hruxana que

    o 7.and :pnm m d re

    grJ

    morai

    que e'>L.lpam J t:sfera da lei < 1 11 e Lnmll1,ll 10 r

    lauSd da bru aria; um homem 1m eio o pode matar algu m d

    1m falam também de outro nUmento dnli- 1.11

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

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    h l fl 11

    e

    ,/(lrIJlIIII

    I : . I

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    26/49

    l're nda UIll.1 rt'l.lh.I\.io. 'llr , . 1 I l . l i ~ p r l \ L n t ( l ~ . cnnt l

    .1

    O r e ~ p o n ~ . 1 \ li

    \)oen

    ~ J . OU

    Ira,.I'

    II Cllll'llll're,.h

    lll)JWJl1IC.l' n.ío ,.10

    (on'lder.u

    ln , lllnHl d.lJlo,.1

    n o ~

    1 I 1 t 1 l p d o ~

    por

    nutr.

    jll'''O.I,. um hOJl1elll lai

    l 'nfamo ou SU.l

    e l l 1 p r e ~

    \.11

    .1

    f.11.:110.1,

    de

    nan pode m.lr

    de

    rctJhaç.1o contra nl11guem. C0\l10 poderia

    l U relógIO tl\"C,

    .

    e ~ I d ( ) roubado ou se ele f o s ~ e

    agredido.

    t-.las

    no p.lb

    I.1 Jlde

    h,do,

    lb I l 1 f ( ) r t ú n I O ~ 'c

    devem

    à

    bruxana. permitll1dn que a p e ~ s o . 1 que \nfreu

    t d.mo

    empreenda

    rt'l.1ltJçao por Lanai., costumetnh, porquc o d.lno é .1tri

    btlldo ii uma

    pe oa.

    Em .,ituaçoe\ (01110 roubo, .Kiultc::rio, nu homiLldlO com

    \ iolência

    eXI.,te

    uma

    pessoa el1\ oh Ida,

    que

    collvid,1à ret,lliaçáo; se ,ua iden

    tidade

    é conhecida, o

    culpado

    e le\'ado

    am

    tribunais;

    a ~ o contrario, ele e pcr

    \L'gUldo por magia puniti\'a.

    Quando

    essa pes.,oa e ~ t , i ausellte, porém, as

    no\oes

    de

    bruxaria oferecem um al\"o alternativo. Todo infortunio supôe

    bruxarIa, e

    toda

    inmllzade ~ u g e r e um autor.

    Considerando

    a

    questáo

    por este lado, fica

    mais

    facil entender

    C01110 os

    Alande deixam

    de observar

    e explicitar o fato

    de

    que não só qualquer pessoa

    pode ,er UI11 bruxo

    - o que eks admitem facilmente - 11as que a

    maioria

    dos

    plebeus é comtituída de

    bruxos.

    Se \'ocê disser que a I11aior parte das pes

    ~ o a s

    e formada por bruxos, lh Azande negam imedia tamente tal afirmação.

    Porem,

    na minha experiência,

    todos,

    exceto n o b r e ~ e

    plebeus influentes

    d,1

    corte.:,

    foram

    uma

    \ 1. 1

    ou outra acusados

    pelos

    oráculos de terem embruxa-

    do l . b

    VIzinhos - e portanto

    sao

    bruxos. Isso tem necessariamente de ser as

    Slm,).í que

    todos os

    homens

    sofrem infortúnios,

    e que todo mundo é sempre

    mllTIlgo

    de

    alguem. Mas. em geral, a p e n a ~ aqueles que se fazem detestados

    pela

    maioria dos vizinhos são acusados com frequência de bruxaria, adquirin-

    do

    reputação de b r u x o ~ .

    Se fi

    armm

    atentos

    ao iglllticado dinámico

    da bruxaria,

    reconhecendo

    portanto sua

    uni ersalidade.

    cntl'ndl'remos

    mdhor por

    que

    os

    bruxos não

    ~ a o p e r ~ l g u l d ( h

    nem sofrcm

    ostr,ILlsmo:

    pois

    o que é uma

    fu nção

    de

    estados

    passagellos e é LOl11Um

    I

    multO', n,IO pude ser tratado com sC\'Crtdade. A

    pm l

    çao

    de um bruxo nada

    tem

    de ,lllalogo a

    do

    Lrtl11mOSO cm

    nossa sociedadc;

    ele

    c.ertalllCllte não e um pari,1 ,Illngido pela desgr,lça e cvitado pelo,

    vi,inhm.

    Pelo

    contráno, bruxos

    relonheudus,

    fal11(hus

    como

    lal

    por

    n:giül's Inteira"

    \ Ivem C0l110 C1dadaos col11uns. Podem ser pais c

    m.llidos

    respelt,ldos, visi

    tantes blff i · nndos

    as reside J)C ,ls ,

    convidado, a >

    fest,ls e

    ,IS

    Wles melllbros in

    fluent

    do

    comclho informal da

    Lmle

    de

    um

    príllupe. ,\lgullS de llleu,

    lOl lh( Lidos

    eram bruxu,> lIot,'JlJ( IS

    l m bruxo pode g()l.lr de

    lerto

    prl'stlgio em ralao

    de

    seus poderes, pOIS

    'oti

    J

    ~ l I d , l l n

    de nao oknJt lo - ningucll1 prolur,1 ddiberadallll'lItl' o de

    trL. I

    pur

    1

    so qUt I

    hdn de um grupo domestico que

    C,H,.I

    UllI ,Inlllhd

    malld.\

    um

    pUUlO

    da .Ime

    L01110 pn

    .

    sl'nte p.tra os velho s qu\:' vi\l'1I1 1l0S

    , í t l < ) ~

    \ III Ilho  >. grat,-a para

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    27/49

    \1'. Il l ) 1\

    l \05

    tt 1ll c lccié

    llcia

    tit'

    CU

    S

    lltO

    I

    l ma da a r a c t ri ll1.l i. n t.1\ \?I' da bruxaria eurl'pei,1

    l f

    a .I t:1Cilidade

    ~ o m que o br uxo. as \ el e

    ~ o n k ,

    a\"

    am ,ua

    -:UlP,l ~ e l 1 1 uso

    de

    tort ur.] e torne

    uam longa. de criçõe

    dc

    eu crime e

    de

    llrganila,J tl. Tudo indi-:a que,

    em algum gra u pelo meno , a ~ pe. oa. que \wem n um .l comunidade onde o

    fato da bnLu na n u n ~ a e po,to cm dúvida ,ão (ap.lle, de ({lll\"t:n(er de que

    po

    uem o poder que

    o

    outro lhe .ltribucl11 "e,a (omo

    for.

    eria interessante

    abcrmo

    e o

    \z

    ,mde lamal . cOllfe' 'am qllL , l O h

    rux

    o ,.

    Par.I o ALlndt:. a q u e ~ t d o da LUlp.l

    nao

    , e colo -:a da Illoma forma que

    rara no . Como

    ja

    expliquei.

    eu

    I I 1 t e r e ~ e p

    da

    b rux.lria

    só é

    dôpertado em

    c a s o

    e ~ p e d f i c o

    de

    infortunio e .lpena perdura e nquanto perdurar o infor

    t i

    O. Ol\ r d dificulda de sU< Litdda

    por . to

    slsll

    J LClIlsuhJ\ or L 1 U d r e .Ifll C

    i

    en

    t,lÇ lW

    '"

    de

    .IS,I'"

    de

    l h n h

    alousado pelo ora

  • 8/21/2019 Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculo e Magia Entre Os Azande

    28/49

    ~ u n t , \

    n,h1

    era tt.'lt,\ ü p l i ~ i t . \ l 1 l e l 1 k

    ..

    \Ituaç,lo e,>peLi,llem qUe ach,lv,\1l1

    Ill

    o(h

    fi

    C,l\ ,1 \ u a ~ , l i i r l l 1 a \ i ) e ~ e colon. \U,h opllllúes.

    , 'o decorrer de d l s ( u ~ s o e .

    \obre

    outros assunto\, comt.lkl que IS C 7 e ~

    o. mlornl.lntes

    admitiam que

    alguns

    b r u : > . o ~ , em

    certas

    L l r c u n ~ t < l n L i , l s ,

    po

    diam

    Ignor,u' condição. Essa ignorância era

    geralmente

    aceita

    nm

    , I s m

    de

    LrJ,ln\,ls -bruxas e de ,1dultm ,ILusados apenas

    uma ou duas

    \'e7e . na \ ida .

    Quando

    a bruxaria de

    um homem L;

    fna",

    como

    dizem os Azande, Isto

    é,

    qu,lI1do ela

    nao

    é

    operatl\a,

    ele

    pode

    mUIto

    bem

    ignorar sua LOndiç,'io.

    Penso que , na \ erdade, não seria demais

    descre\er

    as

    i d é l , l ~

    z,lIlde

    sobre

    osa questão da seguinte forma: um

    homem não

    pode entar ser um bruxo;

    nao é

    por

    sua culpa que nasccu

    com

    oru:>.aria na barriga, Ele pode ser perfeita

    mente ignorante dc que e bruxo c inocente de atos de bruxaria. Nesse estado

    de mocênCla, pode fazer mal a .lIguem sem querer; quando já foi várias

    \'e7es e>..posto pelo oráculo de \eneno, entao está conscien te de seus poderes e

    começa a usá los

    com

    malícia.

    Quando

    um

    homem

    fica doente, ou alguém de sua família ou parentela,

    ele fica profundamente Irritado. Para

    quc entendamos

    seus sentimentos a res

    pello da responsabilidadc moral do hOlllem II1dicado pelo oráculo como ge

    rador

    dd

    doença,

    é

    preLlso

    Icmbrarmos que

    o

    consulente apresentou

    ao

    oráculo o nome a ~ p e ~ s o , h que mais detesta, de forma que o bruxo será pro-

    ,'a\'dmentL .lIguem com quem ja linha é ~ ~ i m a ~ reiaçôes, A velha animosida-

    de

    é

    reforçada

    por um

    no\'o

    re entimento.

    E

    portanto

    inútil

    wgerir

    ao

    I l 1 t e r e 5 ~ a d o que

    o

    bruxo

    não

    tem

    cnnsClencia da

    bruxana,

    pois ele

    não

    está

    in-

    clinado a considerar tal possibilidade, uma vez que sabe há muito tempo

    do

    ódio do acusado e de seu de,elo de ~ 1 7 c r - I h L mal.

    Numa

    situação como esta, a

    re ponsabilidade moral

    dos

    b r u x o ~ é pressuposta

    incondicionalmente;

    está

    ~ o n t l d a nos pro.:esws de

    sc el,.Hl

    e Jcus,l\ào,

    não prcusa

    ser explicitada

    M,IS

    a mesmas pe,>so.ls ljUL', quando preJudiLadas, afirmar,lm

    \'ecmente-

    menk a I1lallL1J delibérada dos outros,

    bIJm

    de outra forma quando ,.10 elas

    a

    rn,dler

    as

    aS.ls de

    galinha, Pude mUIt.ls veles obStrv.lr as me mas pessoas

    em

    amh.l as

    s i t u a ç o e ~ .

    Tendo

    des(

    nto

    ,IS

    (Ipinioes usuais

    dos

    A/ande

    sobre

    a

    responsabilidade

    dos

    bruxos, e conll) sua rea.,.ao ao IIlfortunio 1,11\(

    ;,\

    111,10 da

    nO\JO

    de

    re ponsabiliJ.lde ell1 sua forma

    m;m

    intranSigente, devemo'i agol'tl

    oh en.lr Lomo o bruxo re ponde.1 ulIla .lcu açao.

    ')e

    elt

    for

    uma

    pessoa

    Lllm pOULO autocontrole,

    Pllde

    1 l/el uma

    Lena

    quando d

    .Isa

    de g,Jlinha c

    (010

    dda a seus pés. Pode dizer .10 lllens.lgeiro qUl' a

    lt'\e emhora, dmaldH,oilndo 'Iljueles

    que

    a

    enviaram, dell.lrando

    ljue IjUtlell1

    Jpula hUITIllhà

    lo

    por

    ITIdldaut'.

    rals

    tenas são raras, 1ll.IS .IS

    1St

    I

    ou

    soul.e

    dt

    afias, t sabe se de gente

    que

    atacou o mensageiro. Um

    homem

    que UI I I

    porta d

    modo

    esta IOdo contri o

    lostume,

    ao insultar o delegado do Lhcfe

    J ruxo l

    que

    ordenou 1 , I p r c , e n t c l ~ . i ( ) dd 1 a.

    He ser obJeto

    de 1 mb

    na

    I °0 om I

    UIll prm InuallO Ignora nte dcls manei ras da sl)uedadc t'.duc.sda e pode d I

    rir a reputaç..io de bruxo empedernido

    que

    admite sua bruxana ,u amen e

    pela raiva que demonstra ao ser denunciado. O que ele devena fazer era )

    prar

    ngua e dizer: "Se

    possuo bruxaria em meu

    ventre, dis o

    nao tenho \.0"1

    ciê ncia; quI' ela c ~ f r i e ,

    Por

    ISSO,

    ~ o p r o

    água."

    t. difícil perceber os sentimentos reais de

    um homem

    partIr de

    .ua

    rei

    ção

    pública quando

    reLebe a asa, pois

    mesmo que

    ele

    ~ t e j a certo.de rua

    II

    cência, realilará a

    cerimonia,

    ja

    que i ~ s o

    é o que

    um

    cavalheiro deve fazer.

    O

    costume

    não apenas prescreve que se sopre água, mas

    a i

    frases com que

    acusado deve exprimir sua contrição são mais ou menos estereotipadas; e o

    tom mesmo, desculposo e sincero, em que ele as profere é determinado

    pela

    tradicão

    Quanto eu tinha oportunidade,

    falava

    com um

    acusado o mais

    rapida-

    mente possível

    depois

    da

    apre

    entação da asa,

    para ter

    suas impressocs. Mm-

    tas vezes era

    um

    de

    meus

    criados,