etnozoologia - biblioteca.unilasalle.edu.br · espaço ao seu redor com todos os outros elementos e...
TRANSCRIPT
1
Pró-Reitoria Acadêmica
TIAGO CORRALES CABRAL.
Curso de Ciências Biológicas – Licenciatura Trabalho de Conclusão
ETNOZOOLOGIA : PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA DE ESCOLAS INSERIDAS EM ÁREA
PREDOMINANTEMENTE URBANA E RURAL
Canoas, 2009
2
TIAGO CORRALES CABRAL
ETNOZOOLOGIA : PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DA
EDUCAÇÃO BÁSICA DE ESCOLAS INSERIDAS EM ÁREA
PREDOMINANTEMENTE URBANA E RURAL
Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência Parcial para obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas sob orientação da Professora Drª. Cristina Vargas Cademartori.
Canoas, 2009
3
TERMO DE APROVAÇÃO
TIAGO CORRALES CABRAL
ETNOZOOLOGIA : PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DA
EDUCAÇÃO BÁSICA DE ESCOLAS INSERIDAS EM ÁREA
PREDOMINANTEMENTE URBANA E RURAL
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de
Licenciado em Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, pelo
avaliador:
_____________________________________________
Profª. Dra. Cristina Vargas Cademartori.
4
Agradecimentos
Agradeço a minha orientadora Professora Dra. Cristina Vargas Cademartori por toda dedicação e paciência, na realização deste trabalho. Às colegas Vera Sasso e Mileni S. Wittzorecki pela ajuda na escola em Nova Santa Rita, Professor Vilmar José da Silva na escola na Mathias Velho e Álvaro Scotti pelo auxilio. Aos grandes amigos que fiz durante minha graduação. A minha mãe e principalmente, a Deus.
5
RESUMO
A ocupação desordenada e o crescimento populacional reduzem cada
vez mais os remanescentes naturais, onde a fauna e a flora nativas dão espaço para
as moradias e a alterações no ambiente, fazendo com que haja perda de
biodiversidade e, aos poucos, ao longo do tempo perda do registro dessas espécies
nativas por completo. Isso torna importante o resgate de informações sobre a
diversidade biológica de uma região. Alunos de escolas públicas de área urbana e
rural foram entrevistados, através da aplicação de questionário, a respeito de seus
conhecimentos sobre a fauna local. Como os alunos estão se relacionando com o
meio onde vivem e se conseguem e aplicar os conhecimentos escolares adquiridos
ao longo da sua formação.
PALAVRAS-CHAVE: Etnonozoologia, espécies nativas, avifauna,
mastofauna, áreas predominante rural e urbana.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................07
1.1. Meio Ambiente segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais.....................08
1.2. Temas Transversais.........................................................................................10
1.3. Histórico sobre Canoas, Mathias velho e Nova Santa Rita..............................11
1.3.1. Mathias Velho..............................................................................................12
1.4. Nova Santa Rita...............................................................................................13
2. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................14
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................15
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................23
5. REFERÊNCIAS.....................................................................................................25
APÊNDICE A ............................................................................................................27
7
1. INTRODUÇÃO
O prefixo ethno tem sido frequêntemente utilizado por significar, de maneira
sintetizada, os modos que as sociedades compreendem o mundo (ROCHA-
MENDES, 2005). Segundo Costa-Neto, (2000) o termo etnozoologia foi veiculado
primeiramente em 1899, mas só em 1914 foi usado formalmente em um artigo
intitulado ―Ethonozoology of the tewa indians‖, de Henderson e Harrington. Já na
definição de Posey (1987, p.15), trata-se "essencialmente do estudo do
conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito
da Biologia". Portanto, a etnobiologia está relacionada "com a ecologia humana, mas
enfatiza as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo"
(COSTA-NETO, 2000).
As interações entre o homem e a diversidade animal constituem uma das cinco
conexões básicas que toda e qualquer sociedade, em qualquer época e lugar,
mantém com o universo; as outras quatro são: mineral, botânica, humana e
sobrenatural (COSTA-NETO apud MARQUES, 1995). A recuperação de
informações a respeito de como era uma região anteriormente à sua ocupação se
faz importante, pois se pode analisar as interações ecológicas e a diversidade de
espécies, além de se resgatar conhecimentos tradicionais, que são igualmente
relevantes, pois esta percepção reflete como as pessoas reconhecem o local que
escolheram para viver, ficando visíveis os medos e receios que surgem da
convivência com os animais (COSTA-NETO, 2000).
A paisagem urbana, considerada como reflexo da relação circunstancial entre o
homem e a natureza, resulta da ordenação do entorno com base em uma imagem
inicialmente idealizada. Simultaneamente, reflexo da estrutura da sociedade e objeto
de intervenção, esta paisagem é projetada e construída a partir de elaborações
filosóficas e culturais que resultam tanto da observação objetiva do ambiente quanto
8
da experiência individual ou coletiva em relação ao mesmo. A expansão acelerada
das cidades, reservadas as diferentes situações geopolíticas e econômicas, traz,
como, consequência a contaminação dos solos, água e ar; a superpopulação; a
incapacidade de as regiões adjacentes assimilarem o excesso de contaminantes e
nutrientes derivados, e a deterioração das áreas urbanas. (PADILHA e SALVADOR,
2006).
A combinação entre conhecimento local e informação científica é capaz de
auxiliar na solução de problemas ambientais, melhorando a qualidade das
informações que poderão subsidiar estratégias e medidas para a conservação da
biodiversidade, planejamento e gestão do espaço urbano e de áreas de interesse
ambiental (SANTOS-FITA e COSTA-NETO, 2007).
Considerando o contexto apresentado, o objetivo deste trabalho foi levantar
informações sobre a percepção de alunos da Educação Básica a respeito da fauna
silvestre local, e avaliar o grau de contato e interação desses alunos com essa
fauna.
1.1. Meio Ambiente segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998) descrevem o meio
ambiente como uma rede entrelaçada de modo intenso que envolve conjuntos de
seres vivos e elementos físicos. Para cada ser vivo que habita o planeta, existe um
espaço ao seu redor com todos os outros elementos e seres vivos que com ele
interagem, por meio de relações de troca de energia: esse conjunto de elementos,
seres e relações constituem o seu meio ambiente. Explicado dessa forma, pode
parecer que, ao se tratar de meio ambiente, se está falando somente de aspectos
físicos e biológicos. Ao contrário, o ser humano faz parte do meio ambiente e as
relações que são estabelecidas — relações sociais, econômicas e culturais —
também fazem parte desse meio e, portanto, são objetos da área ambiental. Ao
longo da história, o homem transformou-se pela modificação do meio ambiente,
criou cultura, estabeleceu relações econômicas, modos de comunicação com a
natureza e com os outros. Mas é preciso refletir sobre como devem ser essas
relações socioeconômicas e ambientais, para se tomar decisões adequadas a cada
passo, na direção das metas desejadas por todos: o crescimento cultural, a
qualidade de vida e o equilíbrio ambiental. Uma das principais conclusões e
9
proposições assumidas em reuniões internacionais é a recomendação de investir
numa mudança de mentalidade, conscientizando os grupos humanos da
necessidade de adotar novos pontos de vista e novas posturas diante dos dilemas
e das constatações feitas nessas reuniões. (PCN, 1998)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais também citam a Conferência
Internacional Rio/92, onde cidadãos representando instituições de mais de 170
países assinaram tratados nos quais se reconhece o papel central da educação
para a ―construção de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado‖,
o que requer ―responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e
planetário‖. E é isso o que se espera da Educação Ambiental no Brasil, assumida
como obrigação nacional pela Constituição promulgada em 1988. Nesse contexto,
fica a evidência que os Parâmetros Curriculares Nacionais fazem em face à
importância de educar os brasileiros para que hajam de modo responsável e com
sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro;
saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, tanto local
como internacional; e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quanto
nas suas relações com o ambiente.
Assim, a grande tarefa da escola é proporcionar um ambiente escolar
saudável e coerente com aquilo que ela pretende que seus alunos apreendam,
para que possa, de fato, contribuir para a formação da identidade como cidadãos
conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente e capazes de atitudes
de proteção e melhoria em relação a ele. Por outro lado, cabe à escola, também,
garantir situações em que os alunos possam por em prática sua capacidade de
atuação. O fornecimento das informações, a explicitação e discussão das regras e
normas da escola, a promoção de atividades que possibilitem uma participação
concreta dos alunos, desde a definição do objetivo, dos caminhos a seguir para
atingi-lo, da opção pelos materiais didáticos a serem usados, dentro das
possibilidades da escola, são condições para a construção de um ambiente
democrático e para o desenvolvimento da capacidade de intervenção na realidade.
(PNC, 1998)
Entretanto, não se pode esquecer que a escola não é o único agente
educativo e que os padrões de comportamento da família e as informações
veiculadas pela mídia exercem especial influência sobre os adolescentes e jovens.
No que se refere à área ambiental, há muitas informações, valores e procedimentos
10
aprendidos pelo que se faz e se diz em casa. Esses conhecimentos poderão ser
trazidos e debatidos nos trabalhos da escola, para que se estabeleçam as relações
entre esses dois universos no reconhecimento dos valores expressos por
comportamentos, técnicas, manifestações artísticas e culturais, além disso, o rádio,
a TV e a imprensa constituem uma fonte de informações sobre o Meio Ambiente
para a maioria das pessoas, sendo, portanto, inegável sua importância no
desencadeamento dos debates que podem gerar transformações e soluções
efetivas dos problemas locais. No entanto, muitas vezes, as questões ambientais
são abordadas de forma superficial ou equivocada pelos diferentes meios de
comunicação. Notícias de TV e de rádio, de jornais e revistas, programas especiais
tratando de questões relacionadas ao meio ambiente têm sido cada vez mais
freqüentes. Paralelamente, existe o discurso veiculado pelos mesmos meios de
comunicação quando propõem uma idéia de desenvolvimento que não raro entra
em conflito com a idéia de respeito ao meio ambiente. São propostos e estimulados
por meio do incentivo ao consumismo, desperdício, violência, egoísmo,
desrespeito, preconceito, irresponsabilidade e tantas outras atitudes questionáveis
dentro de uma perspectiva de melhoria de qualidade de vida. Por isso, é
imprescindível que os educadores relativizem essas mensagens, ao mostrar que
elas traduzem um posicionamento diante da realidade e que é possível haver
outros. (PCN,1998)
1.2. Temas Transversais
A educação para a cidadania requer, portanto, que questões sociais sejam
apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos. A inclusão de questões
sociais no currículo escolar não é uma preocupação inédita. Essas temáticas já têm
sido discutidas e incorporadas às áreas ligadas às Ciências Sociais e Ciências
Naturais, chegando mesmo, em algumas propostas, a constituir novas áreas, como
no caso dos temas Meio Ambiente e Saúde. (PCN, 1998)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998) incorporam essa
tendência e a incluem no currículo de forma a compor um conjunto articulado e
aberto a novos temas, buscando um tratamento didático que contemple sua
complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas
convencionais. O currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que os
11
temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes
realidades locais e regionais, e outros temas podem ser incluídos. O conjunto de
temas proposto (Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação
Sexual) recebeu o título geral de Temas Transversais, indicando a metodologia
proposta para sua inclusão no currículo e seu tratamento didático. Esse trabalho
requer uma reflexão ética como eixo norteador, por envolver posicionamentos e
concepções a respeito de suas causas e efeitos, de sua dimensão histórica e
política. (PCN, 1998)
A ética é abordada nos Parâmetros Curriculares Nacionais, (1998) como um
dos temas mais trabalhados do pensamento filosófico contemporâneo, mas é
também um tema presente no cotidiano de cada um, que faz parte do vocabulário
conhecido por quase todos, a reflexão ética traz à luz a discussão sobre a liberdade
de escolha. A ética interroga sobre a legitimidade de práticas e valores
consagrados pela tradição e pelo costume. Abrange tanto a crítica das relações
entre os grupos, dos grupos nas instituições e perante elas, quanto à dimensão das
ações pessoais. Trata-se, portanto de discutir o sentido ético da convivência
humana nas suas relações com várias dimensões da vida social: o ambiente, a
cultura, a sexualidade e a saúde.
1.3. Históricos sobre Canoas, bairro Mathias Velho e o município de Nova
Santa Rita
A cidade de Canoas, que hoje é constituída apenas por zona urbana,
segundo critérios do IBGE, teve como pioneiros grandes proprietários de terras. O
primeiro deles foi o conquistador Francisco Pinto Bandeira, que recebeu da Coroa
portuguesa, em 1740, uma área com três léguas de comprimento e uma de largura
ao longo da margem direita do Rio Gravataí. No local, foi instalada a sede da
Fazenda do Gravataí - atualmente bairro Estância Velha. Em 1771, com a morte de
Francisco, as terras passaram para o filho Rafael Pinto Bandeira. Com o
falecimento deste, sua viúva Josefa Eulália de Azevedo, a ―Brigadeira‖, divide a
área entre os filhos. A partir daí, as terras são repartidas, dando origem a um
povoado.
A área onde hoje se localiza o Município de Canoas, no Rio Grande do Sul,
era habitada pelos índios Tapes, quando, em 1725, chegaram à região os tropeiros
12
lagunistas e com eles o povoador e conquistador Francisco Pinto Bandeira, que
solicitou ao Rei de Portugal, as terras que se estendiam ao longo do Rio Gravataí
pela margem direita. A suas cartas de sesmaria tem a data de 20 de maio de 1740,
mas já em 1733 ele tinha ocupado as terras, e criado a Fazenda Gravataí,
localizada onde hoje se encontra o bairro Estância Velha. Em 1871 a construção da
estrada de ferro que ligaria São Leopoldo a Porto Alegre tem início, o primeiro
trecho da ferrovia foi inaugurado em 1874 e na atual área de Canoas, que na época
pertencia aos municípios de Gravataí e São Sebastião do Caí. (Prefeitura Municipal
de Canoas, 2009)
O povoamento da região tem início em torno desta estação férrea, que ficava
no centro da Fazenda Gravataí. Os homens da guarda da estação utilizaram uma
grande árvore na construção de uma canoa para o serviço da sede, situada às
margens do Rio dos Sinos. Outras canoas foram feitas com árvores do mato que
havia no local, que por esse motivo ficou conhecido como Capão das Canoas, o
que originou o nome da estação, do povoado e, posteriormente, do município.
(Prefeitura Municipal de Canoas, 2009)
O major Vicente Ferrer da Silva Freire, proprietário da Fazenda Gravataí na
ocasião, aproveitou a viação férrea para transformar suas terras em um lote de
chácaras de veraneio, que ele pôs à venda. Logo, as grandes fazendas foram
perdendo espaço para as pequenas propriedades, chácaras e granjas. Formação
Administrativa Em 1908, Canoas é elevada a Capela Curada, tendo por orago
(santo que dá nome à igreja) São Luís Gonzaga. Elevada à condição de vila em
1938, já no ano seguinte, no dia 27 de junho de 1939, Canoas torna-se cidade e
sede de município. Em 20 de março de 1992, Canoas perdeu seu 2º Distrito que,
emancipado, se transformou no Município de Nova Santa Rita. (Prefeitura Municipal
de Canoas, 2009)
1.4. Bairro Mathias Velho
A história do bairro Mathias Velho não se diferencia do histórico da cidade de
Canoas, segundo Penna, (2000) a região ainda pertencia a os descendentes de
Francisco Pinto Bandeira, seu comprador Saturnino Mathias Velho que adquiriu
estas terras em 1901, a área onde hoje é o bairro Mathias Velho foi adquirida por
apresentar características propicias para orizicultura e pecuária, e por ser uma
13
planície úmida e alagada, sua área é de 7.150.000m2. Em 1952 a área passou a
ser de interesse comercial e grande parte foi loteada, mas ainda dividia espaço com
a produção agrária esta área é singular por ter seus limites com o rio dos sinos a
oeste da região, hoje é um dos bairros mais populosos do sul do Brasil (PENNA,
2000).
1.5. Nova Santa Rita
No dia 11 de fevereiro de 1884, em Santana do Rio dos Sinos, no lugar
denominado ―Picada do Vicente‖, Justino Batista e sua mulher, Rita Carolina
Martins, doaram um terreno para construção de uma capela. Rita pediu que a
capela fosse a louvor à Santa Rita de Cássia e isto deu origem ao nome do
município. No início do século XX, a área abrangida pelo Município de Nova Santa
Rita fazia parte integrante de São Sebastião do Caí como 6º Distrito,
permanecendo nesta situação até 28 de junho de 1939, quando Canoas
emancipou-se do Município de Gravataí e anexou ao seu território a referida área,
que passou a denominar-se 2º Distrito de Canoas, tendo como sede Berto Círio.
Em 1991, foi organizada uma comissão de moradores para trabalhar pelo
movimento pró-emancipação, saindo vitorioso em plebiscito realizado no dia 10 de
novembro, em 20 de março de 1992, através da Lei Estadual nº 9585/92, foi criado
o Município de Nova Santa Rita. (PMNSR, 2009)
14
2. MATERIAL E MÉTODOS
O projeto ―Etnozoologia: percepção ambiental de alunos da educação básica
de escolas inseridas em áreas predominantemente urbana e rural‖ foi aplicado em
duas escolas de educação básica, uma escolas no município de Canoas, RS, no
bairro Mathias Velho outra em Nova Santa Rita, RS para avaliar a percepção dos
alunos dessas escolas foi desenvolvido um roteiro de entrevista com numeração,
dados de identificação dos entrevistados informações como sexo, idade, data de
nascimento e o tempo que a família mora na região. Foram aplicadas sete (7)
perguntas (apêndice A), formuladas para levantar informações sobre a percepção
individual sobre a fauna e interação com o meio ambiente. As entrevistas foram
realizadas nos períodos de março a maio de 2009, sendo priorizadas entrevistas
com alunos das séries finais do ensino fundamental 8ª série e alunos do 2º E 3º
anos do ensino médio as entrevistas transcorreram nas respectivas escolas. Os
questionários foram distribuídos explicando-se a sua finalidade, mas tomando-se
cuidado para não induzir as suas respostas que poderia comprometer os resultados.
Um total de 102 alunos, desde adolescentes a adultos jovens (13 a 22anos) também
explicou-se que não se tratava de uma avaliação do professor e nem da escola.
15
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a aplicação do instrumento de pesquisa, foi possível observar como é a
percepção destes grupos de estudantes acerca do meio onde vivem, e como o
crescimento urbano reduz drasticamente o contato com elementos da fauna
silvestre por parte destes indivíduos. Esperava-se, ainda, destes alunos a aplicação
dos conhecimentos adquiridos ao longo da sua formação escolar sobre a fauna e a
compreensão sobre as interações ecológicas que ocorrem dentro das regiões nas
quais estão inseridos. Os resultados obtidos são apresentados a seguir.
16
Na área de perimetro urbano, fica evidente a falta de contato ou interesse pela
fauna por parte da turma que esta finalizando a educação básica. O gráfico (figura
1) apresenta um quadro de distanciamento da natureza, quando mais da metade da
turma respondeu que nunca viu um animal silvestre. Essa questão fica mais
evidente quando se constata que ninguém vê com frequência representantes da
fauna silvestre.
Os resultados do ensino fundamental não são muito diferentes das respostas
dadas pelo terceiro ano (figura 2) pois mais uma vez refletem que a grande maioria
não tem reconhece minimamentea fauna do local onde mora. A grande maioria
também respondeu que nunca avistou e que nunca vê com frequência estes
animais silvestres. Somente poucos alunos reconhecem esses elementos e,
mesmo, assim não os precebem frequentemente.
Figura 1. Mathias Velho – Escola em zona predominante urbana – Ensino médio 3ª ano.
Figura 2. Gráfico de respostas 8ª série, Mathias Velho.
Figura 1. Gráfico de respostas 3º ano, Mathias Velho.
^
^
17
esses
A escola dentro do perímetro rural (figura 3) demonstra um padrão distinto,
quase 90% dos alunos avistam, ainda que raramente alguns animais silvestres.
Percebe-se uma maior interação da fauna da área onde residem. Mesmo
apresentando um crescimento urbano rápido a baixa densidade talvez ainda
favoreça um contato mais próximo com a natureza. Por serem alunos do ensino
médio e estarem finalizando, também, a educação básica eles demonstram-se mais
receptivos em relação à fauna e esse resultado se reflete na frequência com que
eles observam animais silvestres. Fica evidente que a grande maioria dos alunos
reconhece e interage com a fauna silvestre.
Os alunos que estão finalizando o ensino fundamental demonstram estar
cientes e atentos ao meio em que vivem, embora se perceba uma pequena
redução no percentual de alunos que diz ter avistado animais silvestres (figura 4)
entretanto há ainda um numero significativo de alunos que entrarão no ensino
médio carregando consigo esse contato com a fauna local.
Figura 3. Gráfico de respostas 2º ano, Nova Santa Rita.
Figura 4. Gráfico de respostas 8ª série, Nova Santa Rita.
esses
18
Uma outra questão proposta aos alunos foi se eles saberiam descrever
algum animal silvestre avistado por eles. Na escola que fica no bairro Mathias
Velho obtiteve-se os seguintes resultados expressos na figura 5.
Os gráficos demonstram que os alunos entrevistados, sentem-se incapazes
de descrever elementos da fauna silvestre, o que evidencia certo desinteresse pelo
contexto no qual estão inseridas. Contudo, embora não se julguem capazes de
descrever, foram capazes de reconhecer e apontar espécies animais que compõe a
fauna local. Assim com base nos demais questionamentos foi possível elaborar
uma lista de espécies citadas por eles (tabela 1).
AVIFAUNA
Família Nome científico Nome popular Ameaça
1 ACCIPITRIDAE Indeterminado gavião ni 2 CHARADRIIDAE Vanellus chilensis quero-quero ni
3 COLUMBIDAE Columba Lívia pomba ni 4 EMBEREZIDAE Sicalis flaveola canarinho-da-terra ni 5 EMBERIZIDAE Paroaria coronata cardeal ni 6 FURNARIDAE Furnarius rufus joão-de-barro ni 7 MUSCICAPIDAE Turdus rufiventris sabiá-laranjeira ni 8 PASSARIDAE Passer domesticus pardal ni 9 PICIDAE Indeterminado pica-pau ni 10 PSITTACIDAE Myopsitta monachus caturrita ni 11 PSITTACIDAE Amazona aestiva papagaio ni 12 PSITTACIDAE Melopsittacus undulatos periquito ni 13 TROCHIIDAE Indeterminado beija-flor ni 14 TYRANNIDAE Pitangus sulphuratus bem-ti-vi ni 15 TYRANNIDAE Tyrannus savana tesourinha ni
Tabela 1. Lista de espécies citadas – Mathias Velho. ni – não informado
Figura 5. Gráfico sobre a descrição de espécies, Mathias Velho.
19
Quanto às demais perguntas que abordavam conhecimentos referentes à
representante de outros grupos da fauna do bairro, os alunos da escola no bairro
Mathias Velho, fizeram muitas citações de visitas a zoológicos, mas como as
perguntas se referiam exclusivamente a fauna local, somente foi possível construir
uma lista de avefauna. Toda via todos souberam reconhecer a importância da
fauna dos papéis ecológicos que desempenham e, consequentemente da
necessidade de sua preservação. Já os alunos de Nova Santa Rita, quando foram
indagados se saberiam descrever animais que já tivessem avistado, em sua
maioria afirmaram que sim conforme se observa na figura 6.
A partir das informações obtidas foi possível elaborar uma lista de espécies
que não se resumiu a avefauna (tabela 2). Também foi possível construir uma lista
de espécies de mamíferos da área de Nova Santa Rita de acordo com a tabela 3.
Figura 6. Gráfico sobre descrição de espécies, Nova Santa Rita.
20
VU – vulnerável, ni – não informado
AVIFAUNA
Família Nome científico Nome popular Ameaça
1 ACCIPITRIDAE Indeterminado gavião ni
2 ANATIDAE Indeterminado marreca ni
3 CATHARIDAE Indeterminado urubu ni
4 CHARADRIIDAE Vanellus chilensis quero-quero ni
5 COLUMBIDAE Columba livia pomba ni
6 CUCULIDAE Guira guira anu-branco ni
7 CUCULIDAE Crotofaga ani anu-preto ni
8 EMBERIZIDAE Saltator similis trica-ferro ni
9 EMBERIZIDAE Sicalis flaveola canarinho-da-terra ni
10 EMBERIZIDAE Paroaria coronata cardial ni
11 FALCONIDAE Indeterminado falcão ni
12 FURNARIDAE Furnarius rufus joão-de-barro ni
13 MUSCICAPIDAE Turdus rufiventris sabiá-laranjeira ni
14 MUSCICAPIDAE Turdus albicollis sabiá-coleira ni
15 PASSERIDAE Passer domesticus pardal ni
16 PICIDAE Indeterminado pica-pau ni
17 PSITTACIDAE Amazona aestiva papagaio ni
18 PSITTACIDAE Indeterminado periquito ni
19 PSITTACIDAE Indeterminado arara ni
20 PSITTACIDAE Myopsitta monachus caturrita ni
21 RAMPHASTIDAE Indeterminado tucano ni
22 RHEIDAE Rhea americana ema ni
23 TYRANNIDAE Pitangus sulphuratus bem-ti-vi ni
24 TYRANNIDAE Tyrannus savana tesourinha ni
Tabela 2. Lista de espécies citadas – Nova Santa Rita. ni – não informado
21
MAMÍFEROS
Família Nome científico Nome popular Ameaça
1 CANIDAE Indeterminado cachorro-do-mato ni
2 CANIDAE Indeterminado coiote ni
3 CANIDAE Indeterminado raposa ni
4 CAPROMYIDAE Myocastor coypus ratão-do-banhado ni
5 CAVIIDAE Hydrochaerus hydrochaeris capivara ni
6 CHIROPTERA* Indeterminado morcego ni
7 DASYPOTIDAE Indeterminado tatu ni
8 DIDELPHIDAE Indeterminado gambá ni
9 ERETHIZONTIDAE Coendou villosus ouriço ni
10 FELIDAE Leopardus pardalis jaguatirica VU
11 MUSTELIDAE Lontra longicaudis lontra VU
É possível elaborar listagens com elementos da fauna somente a partir do
conhecimento próprio dos alunos. Essa integração de informações pode ser aplicada
em sala de aula principalmente quando se aborda os conteúdos de ecologia e
zoologia no ensino médio e fundamental. O resgate de informações sobre a fauna
local permite reconstruir a identidade ambiental de uma região.
O papel da escola é provocar a revisão dos conhecimentos, valorizando-os,
bem como a construção de novos conhecimentos, buscando enriquecer as
discussões a respeito das relações entre problemas ambientais e os fatores
modernos que desencadeiam de ordem econômica, política, social e histórica. Não
se pode esquecer que a escola não é o único agente educativo. Segundo PCN
(1998), o conhecimento biológico deve subsidiar o julgamento de questões
polêmicas, que dizem respeito ao desenvolvimento, ao aproveitamento de recursos
naturais e à utilização de tecnologias que implicam intensa intervenção humana no
ambiente, cuja avaliação deve levar em conta a dinâmica dos ecossistemas, dos
organismos, enfim, o modo como a natureza se comporta e a vida se processa.
A Educação Ambiental possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades
capazes de induzir mudanças de atitudes. Objetiva a construção de uma nova visão
das relações do homem com o seu meio e a adoção de novas posturas individuais e
coletivas em relação ao ambiente. A consolidação de novos valores, conhecimentos,
competências, habilidades e atitudes refletirão na implantação de uma nova ordem
ambientalmente sustentável (MMA, 2003).
Tabela 3. Lista de espécies citadas – Nova Santa Rita. VU – Vulnerável, ni – não informado
22
Faz-se necessário revisar o papel da escola nos ambientes que se inserem
de modo estimular a construção de novos ideais ambientais onde,desenvolver e
aprimorar percepções sobre o ambiente onde residem, estende-se esses esforços
para a comunidade de entorno e transformando a escola em um pólo de formação e
reflexão sobre as decisões mais adequadas às soluções de problemas
socioambientais locais.
23
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não foi possível recuperar informações sobre a fauna originalmente ocorria no
local, pois pelo próprio histórico de formação das cidades tais informações foram
perdidas. Como o processo que iniciou ainda no final do século XVII, as áreas onde
se situam as respectivas cidades sofreram grandes alterações, resultantes da
prática da pecuária e orizicultura. Posteriormente a ocupação desordenada foi
afastando muitos representantes da fauna da região. Contudo, a partir do
conhecimento dos alunos é possível construir estratégias para a conservação de
áreas e também um material educativo para ser utilizados com os próprios alunos.
A pesquisa tornou evidente que os alunos da escola inserida dentro do
perímetro urbano, em um bairro densamente povoado, têm alguma percepção sobre
o meio ambiente. Contudo os alunos não sabem aplicar os seus conhecimentos
escolares adquiridos durante a sua formação. Na escola do município de Nova
Santa Rita que se localiza em uma área predominante rural, foi possível observar
que os alunos são mais sensíveis e atentos às questões ambientais. Os
conhecimentos sobre a fauna local propiciaram a construção de duas listas
referentes à fauna da região, uma lista da avifauna e outra da mastofauna incluindo
espécies que são mais tolerantes à presença humana. Cabe à escola valorizar e
aprimorar esse conhecimento. Foi possível constatar pequena redução na
percepção dos alunos do ensino fundamental com a fauna local comparativamente
ao ensino médio, que pode ter algumas variáveis, entre elas o crescimento
desordenado do município, esta pode estar alterando ainda mais os remanescentes
abrigam a fauna local, reduzindo a frequência das aparições. Talvez a escola não
esteja, também, valorizando esses conhecimentos e desenvolvendo atividades
extras de educação ambiental com esses alunos e a comunidade do entorno.
24
Foi possível evidenciar que, realmente, as pessoas que moram em áreas
rurais são mais sensíveis e interagem melhor com o meio, pois vivenciam e
compartilham as mesmas áreas que algumas espécies silvestres que ainda
persistem no local.
25
5. REFERÊNCIAS
NETO, Eraldo. Medeiros. Conhecimeto e uso tradicional de recursos faunísticos
por uma comunidade Afro-brasileira, resultados prelimináres. INTERCIÊNCIA.
Revista científicas da América Latina y el caribe y portugal. Dezembro 2000. Vol.
25. Nº 009. Caracas. Venezuela. Pp. 423-431.
PADILHA, D. C. C.; SALVADOR, N. N. B. V. IV Congresso Brasileiro de Direito
Urbanístico: "Desafios para o Direito Urbanístico Brasileiro no Século XXI".
Estudo do Ecossistema das Áreas de preservação Permanente (APP's) de corpo
d'água em zonas urbanas como subsídio à alterações do Código Florestal. IBDU.
São Paulo, 2006. 22p.
SANTOS-FITA, D.; COSTA-NETO, E. M. As interações entre os seres humanos e os
animais: a contribuição da etnozoologia. Biotemas, v. 20, n. 4, p. 99-110, 2007.
BRASIL. PCN: 3° e 4° Ciclo: Apresentação dos Temas Transversais. Secretaria
de Educação Fundamental. Brasília. DF: MEC/ SEF, 1998.
BRASIL. PCN: 3° e 4° Ciclo: Introdução aos PCN. Secretaria de Educação
Fundamental. Brasília. DF: MEC/ SEF, 1998.
CANOAS, História do município de canoas. Site da prefeitura municipal de
Canoas – RS. Canoas. 20 Mar. 2009. Disponível em: http://www.canoas.rs.gov.br
/Site/Canoas/Historia.asp. Acesso em: 19 jan. 2009.
PENNA, Rejane Silva; CORBELLINI, Darnis; GAYESKI, Miguel. Canoas pra
lembrar quem somos - Mathias Velho. Canoas, RS: La Salle, 2000. 140 p.
NOVA SANTA RITA, História do município de Nova Santa Rita. Site da prefeitura
municipal de Nova Santa Rita – RS. 20 Mar. 2009. Disponível em:
http://www.novasantarita.rs.gov.br/Site/Historia.asp. Acesso em: 19 jan. 2009.
26
BELTON, W. Aves silvestres do Rio Grande do Sul. 4. ed. Porto Alegre. Fundação
Zoobotânica do Rio Grande do Sul. 2004. 175p.
EFE, M, A., MOHR, L. V., BUGONI, L. Guia Ilustrado das Aves dos Parques de
Porto Alegre. Porto Alegre: PROAVES, SMAM, COPESUL, CEMAVE, 2001.144p.
BELTON, W. Aves do Rio Grande do Sul. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1994.
584p.
SILVA, F. Mamíferos Silvestres- Rio Grande do Sul. 2. ed. Porto Alegre: Fundação
Zoobotânica do Rio Grande do Sul, 1994. 246p.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Breve histórico da educação ambiental
desde o séc. XX. IBAMA. NEA-RS. 2003.
MARQUES, A. A. B. et al. Lista de Referência da Fauna Ameaçada de Extinção
no Rio Grande do Sul. Decreto no 41.672, de 11 junho de 2002. Porto Alegre:
FZB/MCT–PUCRS/PANGEA, 2002. 52p.
27
APÊNDICE A – Modelo do questionário aplicado nas áreas de estudo