Ética e felicidade aristÓteles 2

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INTRODUO

De todos os bens que buscamos, a felicidade pode ser qualificada como derradeiro objetivo, o mais significativo. A felicidade o bem que motiva e d sentido a existncia humana, uma vida sem a pretenso de ser feliz, no teria sentido. Certamente difcil pensar em uma pessoa que projeta para a sua vida ser infeliz. O que podemos afirmar que estar ou ser infeliz uma condio, de forma geral, indesejvel para o homem. No entanto a infelicidade pode acontecer em qualquer momento da vida e por vrios motivos. Para Aristteles, por exemplo, o mau uso da razo pode incorrer em infelicidade. Outro motivo, segundo o estagirita a m sorte. Para Aristteles, a felicidade s poder acontecer se tiver a sorte de viver numa sociedade onde as virtudes podero ser treinadas adequadamente. Todas as nossas aes em so conscincia visam felicidade. Entretanto, quando se trata de felicidade, ainda perguntamos? No que ela consiste? Existe alguma formula? Quais os meios? Ela objetiva ou subjetiva? Outro problema que os seres humanos discordam consideravelmente o que conta como felicidade. Esse trabalho tem a pretenso de esclarecer essas dvidas que tanto nos intriga, alm, de tentar estabelecer uma relao entre tica e felicidade. Para isso, buscamos a fundamentao terica no livro tica a Nicmaco de Aristteles. Aristteles, juntamente Scrates e Plato o qual foi discpulo, compe a trade que so denominados de clssicos gregos e so expoentes das principais referncias do pensamento ocidental. Historicamente no ocidente, os paradigmas que transcorreram no decorrer da histria so permeados de respeito e aluso tradio grega. Nessa perspectiva, 1

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reconhecemos a importncia da grandeza dos ensinamentos desses pensadores, denominados clssicos. Certamente o livro tica a Nicmaco de Aristteles, poder fornecer subsdios importantes na compreenso do sentido de felicidade, principalmente no que tange as relaes humanas e o que isso implica na nossa individualidade. tica a Nicmaco foi o primeiro tratado de tica que se tem conhecimento, a partir da, vrios filsofos que o sucedeu trataram desse tema e mesmo assim, quando se trata de tica, ainda no compreendemos completamente o seu fundamento. Sem entender, fica difcil avanarmos com a tica. Falta reflexo, falta pensamento critico, entender o que agir e como se deve agir. Na inanio intelectual em voga compreende-se que aqueles que expe suas emoes e se mostram como pessoas sensveis, bondosas, so ticos porque emotivos. Porm, isso no basta. Os discursos emotivos com relao poltica, a violncia, a misria, natureza, enfim; passam e tudo continua como antes. Exatamente pela falta de compreenso de seu fundamento, o que significa a tica como elemento estrutural para cada um e como pessoa para a sociedade como um todo, que perdemos de vista a realizao tica. Antes de mais nada, a urgncia se tornou essencial hoje e, que por isso mesmo, por ser essencial, preciso tratar a tica com trabalho de lucidez quanto ao que estamos fazendo com nosso presente, mas, sobretudo, com que nele se plante e defina o rumo futuro. Para isso, preciso renovar a nossa capacidade de dialogo e propor um novo projeto de sociedade no qual o bem de todos esteja realmente em vista. Nesse nosso tempo marcado pela prtica de uma poltica capitalista hiperconsumista, levou as pessoas a concorrerem entre si, seja pela luta de posses,

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ou mesmo, por uma questo de sobrevivncia. Isso favoreceu as pessoas compreenderem a felicidade a partir de novos valores, muito diferente da qual props Aristteles. Hoje, o hedonismo e a massificao tecnolgica levam-nos a constatar que as pessoas revelam cada vez menos inclinadas para as reflexes ticas. O egosmo e a ambio so mais fortes do que a solidariedade e levam muitos a um beco sem sada. Na busca desenfreada pelo prazer, que prpria do tempo de hoje, os principio ticos no so conhecidos, tanto mais que, na vida do dia-a-dia, deixou de haver lugar pra o silencio e o sonho, que so tambm caminhos de descoberta e amadurecimento pessoal. A falta de ponto de referencia provoca a desorientao e conduz a opes consideradas erradas, que muitas vezes, se tornam causa de frustraes para o resto da vida. Por isso, no podemos pensar a felicidade sem antes pensar na tica. As boas relaes sociais o bem humano. O exerccio da cidadania dever ter em vista a totalidade, somente assim, ser possvel avanarmos com a tica em decorrncia a felicidade. Aristteles no contexto histrico do seu tempo disse que se devemos ter como alvo de nossas aes o bem da cidade como um todo, a vantagem comum, e no interesses particulares conflitantes com os da cidade. A compreenso da tica e de felicidade numa perspectiva diferente da cotidiana se faz necessrio. No livro tica a Nicmaco podemos encontrar orientaes que contribui para a lucidez. No so propostas novas, pelo contrrio, o primeiro tratado de tica que temos conhecimento, no entanto, ela oferece uma profunda anlise do que seja o bem como meio para a felicidade.

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I. CONCEITO DE FELICIDADE

A felicidade est intimamente ligada no tempo, no contexto histrico desse tempo permeado pelo que o ambiente cultural oferece para cada indivduo de determinada cultura bem como atravs da viso e da necessidade particular que cada ser estabelece para si. O ser humano movido por desejos, desejos esses que se relacionam intimamente ao que a situao histrica oferece para cada um. Nesse sentido, pensar o contexto histrico nos reporta para a Grcia antiga, onde o conceito de felicidade daquela poca estava ligada virtude que formava um conjunto de

qualidades como: a coragem, a sabedoria, o amor, o belo, a justia, a temperana, a eloqncia, a persuaso. A cultura dessa poca relacionava o conceito de felicidade a quem tinha a capacidade de desenvolver suas habilidades usando-as de acordo com a necessidade. Sobre isso Aristteles vem afirmar que: A felicidade como nos afirmamos requer tanto virtude completa como vida completa. (tica a Nicmaco. Edipro, Baru, SP. 2002, pg. 55). O pensador quer nos levar a entender que a felicidade consiste num esforo de usar a razo de modo to elevado que isso se torne uma virtude. J a Idade Mdia cuja principal influncia foi cultura crist vem relacionar o conceito de felicidade aceitao e crena em seus dogmas onde a felicidade se resumia na obedincia a esses dogmas tendo como finalidade absoro dos pecados recebendo como recompensa a vida eterna.

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A modernidade associa a felicidade necessidade que cada indivduo tem de sentir-se bem nos projetos que estabeleceu para si. Ou seja, ter prazer naquilo que faz. como no exemplo citado por Aristteles na sua investigao: possvel que possamos a ela chegar se determinarmos a funo do ser humano, posto que se pensa que a excelncia ou eficincia de um flautista, de um escultor, ou de um arteso de qualquer tipo e, em geral, de quem quer que se tenha alguma funo ou ocupao a desempenhar, resida nessa funo; e, por analogia, possvel sustentar que o bem humano reside na funo humana, no caso de o ser humano ter uma funo. (tica a Nicmaco. Edipro, Baru, SP. 2002. p. 50).

A felicidade abordada nas palavras do pensador vem se relacionar no s aquilo que o contexto numa mxima histrico-cultural vem determinar, mas,

tambm a relatividade. Ou seja, aquilo que de acordo com a necessidade torna cada um feliz. A exemplo na individualidade do que torna cada um feliz o mesmo que dizer que para o msico o que o torna feliz sentir que tocou bem seu instrumento, j o que torna o pesquisador feliz saber que conseguiu avanar rapidamente em suas pesquisas, para o pai que educou bem seu filho ver esse bem sucedido em todas as reas de sua vida. Nessas idias associadas modernidade e a exemplo das palavras de Aristteles o que torna cada um feliz se auto projetar realizandose de forma satisfatria na concretizao de seus projetos. A ps-modernidade principalmente atravs do mundo capitalista tem levado o ser humano a uma busca desenfreada de ter. Nesse desejo de caminhar de mos dadas com as tendncias que so lanadas em vrias reas do mercado, o ser humano em sua maioria tem feito uma inverso de valores, onde sua valorao est concentrada no em ser, mas em ter. Esse ter tem sido a mxima do mundo capitalista como forma de alienar o indivduo tornando-o um escravo consumista. Nesse sentido a felicidade na atualidade consiste naquilo que o indivduo pode ter.

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Esse ter tem aprisionado a alma principalmente daqueles que no pode crescer de acordo com aquilo que o capitalismo oferece. necessrio resgatar a viso aristotlica da felicidade na consistncia conceitual como o bem mais nobre e desejvel identificando-a como um estado de atividade da alma que est alm daquilo que se entende hoje por felicidade, ou seja, a valorao do ser revelando-se em sua essncia atravs da virtude no perdendo de vista o contexto histrico presente na atualidade.

II. FUNO DO HOMEM

FELICIDADE

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Segundo Aristteles, tudo no universo tem uma funo e um propsito e esses esto em mais perfeita harmonia com a natureza. Por exemplo, a funo de uma caneta escrever, de uma harpa a msica, de uma semente de ip transformar-se numa rvore bela e robusta. No caso da semente, para que ela germine e transforme-se numa planta, sendo de um tipo ou de outro dependendo da variedade ou espcie, o processo pode ocorrer de duas formas; sendo uma delas naturalmente, quando a semente cai no solo frtil e dali a natureza se encarrega do processo de evoluo da planta; a outra forma a interferncia do homem no processo de cultivo, neste caso, o homem colhe a semente e a planta num local estratgico. Desta forma, o homem pode conduzir o desenvolvimento da planta da melhor maneira que lhe convier. No segundo caso, so necessrios alguns cuidados especiais de cultivo. Por exemplo: o homem deve retirar as ervas daninhas, regar diariamente quando a chuva naturalmente no acontecer, adicionar adubos orgnicos ou qumicos para

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corrigir as eventuais deficincias do solo, a poda, etc., tudo isso para que essa planta cresa bonita e viosa. Os excessos ou falta de cuidados podem incorrer no mau desenvolvimento da planta. Havendo excesso ou falta de regas, de adubos, de podas a planta ter desenvolvimento irregular, comprometendo a qualidade ou poder at morrer. Em Aristteles, a funo do ser humano a felicidade. Para isso, a exemplo da planta, preciso de cuidados especiais para que o homem atinja tal funo. Assim, o homem deve desprender-se do uso da racionalidade no bem, nas virtudes, administrando a vida conscientemente, ou seja, necessrio determinar a essncia do que se busca e os meios para nos tornarmos o que est sendo proposto, ou seja, ser feliz. Portanto, trata de reconhecer essa funo, no caso a felicidade, e os caminhos para se obter a vida feliz. A exemplo dos excessos de cuidados com a planta, o ser humano tambm deve pautar numa certa medida nas aes prticas. Aristteles prope nesse

sentido o justo meio que a resposta emocional correta das aes entre dois extremos. Por um lado um extremo envolvendo a emoo em demasia, o outro extremo envolvendo a falta de emoo. O desenvolvimento da razo capaz de identificar qual o ponto central adequado. Assim, por exemplo, o filsofo relaciona a coragem com uma virtude. A habilidade de uma pessoa de agir corajosamente determinada pelo grau que tenhamos de controle do nosso medo. A coragem

envolve ter a quantidade certa de medo em uma determinada situao. Se o medo excessivo covardia e covardia um vicio. O pouco medo em outra determinada situao tolice ou inconseqncia. Ser inconseqente um vicio. Ter a virtude da coragem significa ter a quantidade certa de medo, apropriada s circunstncias.

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Assim, uma virtude o equilbrio entre dois extremos, o ponto central entre dois vcios. O caminho para o propsito humano de ser feliz esta na atividade prtica ditada pela razo. Esta mesma razo reconhece o sentido de felicidade manifestada no ser em recompensa pela prtica do bem na proporo de suas aes. Como a planta cresce viosa e bonita na proporo dos cuidados desprendidos, o ser humano, tambm, pode ser mais ou menos feliz na proporo e na forma que conduz sua vida na prtica das virtudes. Aristteles considera que alguns fins no so absolutos, mas uma forma para atingir outros fins que esto alm destes, isso quer dizer, so fins, mas tambm meios para atingir outros fins. Assim, se a felicidade o propsito final, no pode ser meio para outro fim. No se escolhe a felicidade como meio para atingir outra coisa, enquanto escolhemos a honra, o prazer, e as virtudes por si mesmo e como meio para atingir a felicidade. Ningum escolhe a felicidade com o objetivo de alcanar a honra, o prazer e as virtudes, nem como meio para atingir qualquer finalidade. Analisando a teoria aristoltica de ato e potncia, ou seja, a semente de ip (ato) uma rvore (potncia), no podemos afirmar que a felicidade seja uma potencialidade, pois, se assim fosse, ela poderia manifestar-se naturalmente, isto , poderia a pessoa humana ser feliz sem nada fazer, alm de algo que em potncia pode no se manifestar. E j est claro que a felicidade precisa ser construda. Ser feliz no o mesmo que estar feliz. Nos discursos cotidianos do senso comum possvel ouvir as pessoas dizerem que esto felizes. Essas respostas geralmente so conceitos de um estado circunstancial da vida, ou seja, porque est feliz no amor, na vida profissional, ou porque passou no vestibular, concluiu os

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estudos, etc. No entanto, ser feliz possui uma conotao mais universal, e uma anlise de estado de felicidade durante toda a vida e como essa ascendncia construda na existncia. A felicidade que buscamos no aquela identificada numa determinada situao de prazer, mas sim, uma atitude em longo prazo no que caracteriza a vida como um todo, onde a soma das sensaes psicolgica positiva sobrepe situaes negativas. Diante da pergunta, a vida boa? Voc feliz? Certamente as maiorias das pessoas diro que sim, mas se perguntar se voc tivesse que nascer de novo queria viver exatamente igual, as mesmas experincias, etc, provavelmente diro que no e que queriam viver de forma diferente. Assim, a questo de felicidade questionvel e na verdade as pessoas tm dvidas o que seja a felicidade de fato. A complexidade subjetiva do homem leva a interpretaes muito diferentes do que seja a felicidade. Nessa perspectiva, alguns a identificam como viver bem e outros como se dar bem, alm de em determinados momentos da vida, para as pessoas, a felicidade ser uma coisa e s vezes outra, Aristteles (2002, p.42) assim descreve:As pessoas ordinrias a identificam com algum bem bvio e visvel, tais como o prazer, ou a riqueza ou a honra, umas dizendo uma coisa e outras algo diferente; na verdade, com muita freqncia o mesmo individuo diz coisas diferentes em ocasies diferentes: quando fica doente, pensa ser a sade a felicidade; quando pobre, julga ser a riqueza a felicidade. Em outras oportunidades, sentido-se conscientes de sua prpria ignorncia, os indivduos [comuns] admiram aqueles que prope algo grandioso e que ultrapassa a compreenso deles e que tem sustentado por alguns pensadores que alm das muitas coisas boas que mencionamos h um outro bem, que o bom em si mesmo, e se coloca em relao a todos aqueles bens como a causa de serem bons.

Ora,

se por um lado felicidade para Aristteles uma vida bem

administrada de acordo com os padres objetivos para que se avance rumo 9

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felicidade; assim como, os cuidados de

uma planta para que ela desenvolva,

poderemos descobrir atravs da racionalidade o tipo de vida que cada um projeta para si. Por outro lado, somos seres insaciveis e o que felicidade para um pode no ser para o outro; o que a felicidade agora, pode no ser amanh, na verdade o ser humano tem dificuldades para entender a felicidade ao mesmo tempo em que tenta ser feliz. A felicidade parece estar naquilo em que o ser deficiente ou no campo de ao que ele no conseguiu atingir, quando o alcana passa a priorizar outros valores. Por exemplo, quando um homem pobre pensa ser, a riqueza, a felicidade, se passa de pobre para rico, j no mais esse o seu conceito de felicidade, ou seja, de modo geral o homem nunca se encontra realizado. Somente um homem virtuoso capaz de identificar o que seja a felicidade. O ser humano dotado de vontades, emoes, desejos, enfim, uma variedade de necessidades, sendo a razo, na perspectiva aristoltica a nica capaz de administrar todos os conflitos da existncia humana. Atravs da razo poder o homem, desenvolver todas as suas potencialidades e habilidades, direcionando os homens perfeio. Dessa forma, segundo o filsofo, os elementos subjetivos no definem a felicidade, pelo contrrio, esses podem ser empecilhos para a realizao plena do ser. Para ele, a felicidade consiste na nossa atividade que deve estar voltada para a natureza e no coisa sobre a qual decidimos. Nesse sentido Aristteles

argumenta que a felicidade boa em si mesmo, e que a buscamos por si prpria. No objetamos a felicidade para alcanar algo alm dela mesmo. Assim, nossas aes so o que produz a felicidade e, portanto essas aes so subordinadas a ela. 10

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Ao contrrio de seu mestre, Aristteles nega

que a felicidade esteja no

mundo das idias. De acordo com o nosso pensador, devemos partir dos princpios empricos, do conhecido, do que a capacidade sensorial possa entender, discernir, enfim, do cognoscvel. Isso significa que segundo o filsofo, nas aes racionais prticas, est toda a fundamentao do agir tico do homem e a ela deve-se dedicar. Partindo da teoria aristoltica de que todo o ser caminha para a completa realizao de sua natureza, e que o fim ltimo do homem sua realizao plena, entendida como conquista do bem que leva felicidade, associados idia de lei, j que a razo a base primeira da natureza humana e somente pelo seu uso o homem alcanaria a felicidade completa. Esta felicidade, fim ltimo do homem, s poderia, segundo o filsofo, ser alcanada atravs da prtica da virtude, o que pressupe o uso o da racionalidade, fazendo com que o racionalismo, atravs da ao constante em direo virtude, so os critrios para a felicidade e realizao plena da natureza humana. Isso implicaria um amplo conhecimento da natureza e do universo. Para Aristteles, o homem plenamente feliz quando realiza bem a sua funo, isto a natureza do homem. Para isso, o filsofo diz: o bem no sentido de que para que algo existe. A vida nas virtudes produz o prazer da ao e, por sua vez conduz a felicidade. Dessa maneira, o prazer acompanha a ao virtuosa e se identifica com a felicidade. O prazer supremo est ligado a atividade intelectual que exerce a virtude mais elevada, a dos sbios que encontram o mais puro prazer na contemplao, diz Aristteles, est atividade mais elevada da alma.

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Para ele, a vida voltada para a atividade intelectual e na busca pela sabedoria, a mais feliz, por isso, produz mais prazer. Esse tipo de conhecimento permite acessar o divino, aquilo que o homem vulgar no tem acesso. Os argumento de Aristteles a de que, aquilo que um ser vivo, em particular o homem aspira em ultima instancia a vida, isto o seu ser. Para tanto, o que o homem aspira para si viver bem. E isto consiste na vida e na vida boa. Viver bem, para o filsofo quando o homem se potencializa de acordo com a sua razo. Enquanto outros animais, com relao ao seu bem estar, esto determinados unicamente por seus sentimentos de prazer e desprazer, no caso dos homens isso se d de forma diferente, pois o prazer verdadeiro est no campo das reflexes, que manifestado no intelecto. O homem dotado no apenas de sentimentos e afetos, mais, sobretudo, tem a capacidade de se conduzir refletidamente em relao a eles. Assim, o sentir bem, a felicidade tem um sentido subjetivo, depende de que faamos bem. Esse bem que fazemos, para Aristteles, tem uma compreenso objetiva. J a funo social do homem, que a principal preocupao de Aristteles, na tica a Nicmaco, tem um sentido poltico. Para ele, o homem um animal poltico e esse se realiza na polis, exercendo sua funo poltica, que a proposta do nosso prximo tpico.

III. A FUNO SOCIAL DO HOMEM E A FELICIDADE

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Como j dissemos, para Aristteles o homem um animal poltico e a felicidade a finalidade ltima do ser humano, s seria possvel na prtica das virtudes na plis. Para o filsofo, a poltica uma continuidade da tica, ou seja, a tica e entendida como uma parte da poltica. A tica esta relacionada com o bem individual e a poltica o bem comum. O pensamento tico de Aristteles seria uma espcie de preparo para a vida na polis. Sua principal preocupao era a vida poltica na cidade, a ponto da tica ser subordinada a poltica, ou seja, a tica seria um meio e a poltica um fim. Assim, o filsofo prioriza a poltica, a ponto, de que todas as nossas aes visem essa finalidade ultima, ou seja, o homem em sociedade. Da mesma forma que Aristteles diz que o homem um animal racional diz, tambm, que o homem um animal poltico, que s realiza plenamente a sua natureza em comunidade. Ningum pratica as virtudes para si mesmo, o homem no uma ilha, ou seja, no consegue viver isolado. A poltica no trata da individualidade do homem, e sim em comunidade. Aristteles diz que plis uma espcie de comunidade constituda para obteno de um bem. Essa a funo da comunidade poltica, que poder ser identificado como felicidade. S que os homens discordam o que seja a felicidade, para o vulgo uma coisa enquanto para os sbios outras. Por isso, para o filsofo a suprema finalidade da plis a vida segundo as virtudes e a justia, sendo a poltica o bem do homem. A funo social do homem s realiza a sua natureza quando alcana a sua finalidade. Este princpio, como j dissemos no capitulo anterior, tem um sentido biolgico ou metafsico. Porm, esse princpio vale para todos os seres naturais, inclusive, para a plis. Dessa forma, a funo social para Aristteles tem um sentido

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poltico. Por isso, o filosofo preocupa-se com a tica, pois, a finalidade da plis consiste em viver bem e agir bem. O relacionamento social, s avana dentro de alguns princpios que so fundamentais pra a boa convivncia. Somente a partir de determinadas normas que se torna possvel boa convivncia, e isso significa ser feliz. As virtudes morais e a justia equilibram o homem no plano individual que o conduz a aes no justo meio no plano social. Esse homem atua de acordo com as virtudes visando o equilbrio e a equidade, isso tem um reflexo positivo na sociedade. A justia o ponto de convergncia da tica e da poltica, pois, as virtudes morais recebem da justia seu sentido pleno por essa manifestar nas relaes sociais. Dessa forma, a justia uma espcie de ao reguladora das relaes sociais. Para Aristteles ela tem uma idia de lei a ser aplicada na plis, pois, alm de aperfeioar o individuo como as demais virtudes, ela tem a particularidade de procurar o bem de todos. Aristteles, diz que o homem perfeito no aquele que pratica a virtude para si mesmo, mais sim aquele que a pratica visando o bem de todos. Assim, conclumos que felicidade decorrente da vida coletiva, o que significa considerar o bem no sentido poltico, fundamentado na disposio do homem em praticar a virtude e reconhecer e valorizar o outro, numa atitude do que o outro uma extenso do eu, pois, o necessitamos do outro, a vida se realiza na interao social e o bem seja para todos. Dessa forma, o bem uma necessidade que s tem sentido quando considerado no contexto da vida das pessoas, no somente no campo individual, 14

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mas, sobretudo no social. na relao com o outro, no consenso poltico, na alteridade, pela justia, que se pode construir a base efetiva para a felicidade.

IV. RAZO E FELICIDADE

J dissemos que a felicidade para Aristteles o desenvolvimento da capacidade e da potencialidade humana. Todo o homem naturalmente possui a capacidade e a potncia para se desenvolver e a razo o instrumento para que isso acontea. Nessa perspectiva, a razo a capacidade humana que o diferencia de outros animais e somente atravs dela que o homem pode administrar a sua natureza. O propsito do homem ou a funo do homem, como j vimos, a felicidade. Assim a funo do homem sustentada pela racionalidade. O argumento de Aristteles para isto que:O mero ato de viver parece ser compartilhado mesmo pelas plantas e estamos buscando a funo peculiar do ser humano. Diante disso, devemos por de lado a atividade vital da nutrio e crescimento. A seguir na escala vemos alguma forma de vida sensitiva, porm esta, igualmente, parece ser compartilhada por cavalos, bois e animais em geral. Resta, assim, o que pode ser denominado a vida ativa da parte racional do ser humano. (Aristteles, 2002, p.50).

A capacidade racional do homem da lhe o privilgio de adquirir a cultura que lhe afasta das intempries da natureza. Diferentemente dos animais o homem adquire habilidades que ameniza as condies que a natureza lhe impe. Por exemplo, ao imaginar, sonhar, planejar, escrever, conduzir, rezar ou divertir, o homem exerce sua racionalidade dentro do principio de liberdade. Diante dos 15

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sofrimentos impostos pela natureza o homem pode prever situaes de alivio e consola-se diante do inevitvel de suas derrotas. A natureza impe ao ser humano condies no muito favorveis, exigindo deles uma condio que assemelha aos outros animais, submetendo-os aos destinos, isto , o homem poderia simplesmente seguir o percurso natural que a natureza lhe impe, vivendo uma vida simplesmente no estado de natureza. Porm, o que constitui a natureza humana a capacidade racional. Atravs dela o homem pode pensar a vida, assim, planejar uma vida mais significativa. Dessa forma, diferentemente das plantas e de outros objetos naturais, os seres humanos podem escolher afastar-se de sua natureza. A razo humana o confere ao homem a conscincia de si mesmo e a capacidade de julgar suas aes, e de escolher, dentre as circunstncias possveis, seu prprio caminho na vida, e esta caracterstica peculiar o que torna o homem dotado de vontade e potncia. Dessa maneira, o homem pode escolher seu caminho na vida e construir sua histria. Evidentemente, esse percurso existencial no algo que se exerce no vazio, mas dentro das limitaes impostas pelas circunstncias. Somente ao homem capaz de dentro do exerccio de liberdade, lutar para ampliar ou romper com os limites circunstanciais. Como j dissemos, para Aristteles o bem o tipo de vida o qual brilhe a nossa racionalidade, Reale (1994, p.408) assim escreve:O bem do homem s poder consistir na obra que lhe peculiar, isto , na obra que ele e s ele pode realizar, assim como, em geral, o bem de cada coisa consiste na obra que peculiar a cada coisa. E a obra do homem? a) Esta no pode ser o simples viver, dado que o viver prprio de todos os seres vegetativos. b) E no pode ser tambm o sentir, dado que este comum tambm aos animais. c) Resta, pois, que a obra peculiar do homem seja a razo e a atividade da alma segundo a razo. O verdadeiro bem do

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homem consiste nessa obra ou atividade de razo, e, mais precisamente, no perfeito desenvolvimento e atuao dessa atividade.

Dessa forma, impossvel pensar em felicidade na concepo aristoltica sem considerar o papel da razo. Pois esta a faculdade humana de desenvolvimento das aes a qual a potencialidade possa ser desenvolvida. O homem no se faz realizado fora do mbito da racionalidade. Ningum deseja uma vida no completo cio, onde a vida se resume numa espcie de vegetar humano. Quando o homem acometido por algum acidente ou doena e o coloca nessa condio a sua felicidade comprometida. Diante dessa triste situao, muitos at deseja a morte. Aristteles, tambm, define a as funes da alma: a) Alma Vegetativa: funes biolgicas (comer, dormir, reproduzir); b) Alma Sensitiva: funes de apetites, movimentos e sensaes (funes fsicas fantasias e desejos movimento); c) Alma Intelectiva Funo Racional (pensar, raciocinar, conhecer). A felicidade completa do homem depende da realizao de todas essas funes da alma. Mas, segundo uma ordem de importncia, a alma intelectiva, ou seja, a inteligncia, deve governar todas as funes. O sentido da vida est na ao, na atividade intelectual que o homem se realiza. O pensamento a principal caracterstica humana, com isso, podemos concluir que a felicidade consiste na atividade da alma segundo a razo.

V. AS VIRTUDES E A FELICIDADE

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J vimos que para o estagirita a felicidade boa em si mesmo, que o homem no busca a felicidade para atingir outro fim. Quaisquer outras atividades que produza felicidade so subordinadas a ela. O homem para desenvolver sua potencialidade necessita de algumas necessidades bsicas, ou seja, de alguns bens. Por exemplo: no campo fisiolgico, as necessidades que compe sua prpria sobrevivncia como: alimentao, vestimentas, teto, etc. Para a sua estima ou ego, autoconfiana, independncia, reputao, etc. Necessita tambm de segurana, proteo a sua famlia, estabilidade no lar e no emprego. No campo social de sentimento de aceitao, amizade, associao, enfim, precisa conviver bem com o grupo e esse sentimento de aceitao. O homem para desenvolver suas potencialidades acima de tudo tem que viver numa sociedade que funcione bem. Sem esses tipos de bens, o homem no pode desenvolver suas potencialidades. No entanto, segundo Aristteles, para que o homem alcance tais bens necessrio que desenvolva as virtudes. Virtudes so hbitos adquiridos

voluntariamente, ou seja, uma forma de agir que conduz o homem ao seu desenvolvimento. Para isso, necessrio que se compreenda como funo de um fim. O filsofo divide as virtudes em virtudes dianoticas ou virtudes intelectuais e virtudes ticas ou virtudes morais. As virtudes intelectuais so o resultado do ensino, dessa forma, precisam de experincia e tempo. J as virtudes morais so adquiridas pelo hbito, elas no surgem naturalmente, mas possvel adquiria-las a exemplo das artes. Por exemplo, aprende-se a tocar um instrumento atravs do treinamento sistemtico. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando a justia. bem uma

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Dessa mesma forma e pelos mesmos meios possvel construir e destruir a virtude. No mesmo exemplo da arte de tocar um instrumento, surgem os bons e maus msicos. Com a virtude pode acontecer mesma coisa, isto , pelos atos que se praticam. na relao interpessoal que os homens se tornam justou ou injustos e isso torna necessria certa vigilncia sobre os atos humanos, para que sejam sempre virtuosos. Assim, tanto o excesso quanto falta so prejudiciais, levando a destruio da fora, a exemplo do que acontece na arte. O excesso e a falta so uma forma de erro e por isso preciso buscar o meiotermo. O vicio caracterizado quando uma conduta excessiva ou deficiente e a virtude uma conduta moderada. Por exemplo, para a virtude da f, Aristteles aponta o vicio por excesso que seria a temeridade e o vicio por deficincia, que seria a covardia. O mesmo para a virtude da amizade, que em excesso seria condescendncia e em deficincia, enfado; ou o respeito prprio, que em excesso seria vaidade e por deficincia seria modstia. de se considerar que nem toda ao admite este equilbrio, pois so ms em si mesmas e nelas no h como encontrar meio-termo. o caso da inveja, onde seria absurdo encontrar qualquer tipo de equilbrio virtuoso. Para Aristteles, justamente pela prtica dos atos justos que se gera o homem justo, ou seja, o resultado da ao torna o homem justo ou injusto. No basta saber o que virtude, precisa pratica-las. Na realidade, na prtica das virtudes que o homem se perde, as reflexes ticas no so difceis o difcil coloca-las em prticas, para isso, o filosofo nos impe a idia do exerccio cotidiano das virtudes. atravs da ao que existe a possibilidade de algum tornar-se bom.

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A partir da, Aristteles vai tratar da estrutura do ato moral. Para ele, as virtudes relacionam-se com paixes e aes, mas, um sentimento ou uma ao pode ser voluntria ou involuntria. As paixes ou aes voluntrias merecem louvor e censura, enquanto as involuntrias como resultado da compulso (o principio motor dessas aes estaria fora do individuo, o qual no pode altera-la) ou da ignorncia, mereciam perdo ou piedade. Assim, o que faz um ato voluntrio ou involuntrio o poder de escolha de cada pessoa, como algo eu est ao seu alcance e desejado aps a sua deliberao. As aes, portanto, devem sempre concordar com as escolhas, j que so resultados de uma deliberao. Nesse sentido, para o filsofo, a virtudes estariam assim, no poder de escolha do individuo. Ser virtuoso ou no, dependendo das circunstancia e da ao realizada frente a elas. 1. As virtudes ticas As virtudes ticas so aquelas que tratam das virtudes morais, como j dissemos esse tipo de virtude so adquiridas pelo hbito. Pela natureza, somos potencialmente capazes de form-los e, mediante o exerccio, traduzimos essa potencialidade em atualidade. (REALE, 1997, p.413). Nessa modalidade de virtude que Aristteles chama ateno para o meio termo. Para isso, o filsofo descreve um cardpio de virtudes como: a coragem, a temperana, a liberdade, a magnificncia, o justo orgulho, o anonimato, a calma, a veracidade, a espirituosidade, a amabilidade, a modstia, a justa indignao e a justia, elaborando para cada uma delas uma definio e a caracterizao pela via do equilbrio em relao ao vicio por excesso e por falta.

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Nesse contexto elucidamos no quadro abaixo as virtudes morais e o equilbrio entre elas, ou seja, o meio termo como forma ideal de virtude, extrada do Caderno do Professor de Filosofia SEE 2008:

Virtude (atitudes que levam felicidade)

Vcio por excesso

Covardia: ter medo de Coragem: saber enfrentar Temeridade: no ter medo tudo ou deixar que o medo os medos e perigos, de nada e se arriscar em domine. calculando a hora de agir. todas as situaes de perigo. Insensibilidade: desejar nada de insensvel. no Temperana: saber usar Libertinagem: ser os prazeres sem se somente atrs prejudicar. prazeres. viver dos nunca nada,

Avareza: jamais gastar o Liberdade: saber gastar o Esbanjamento: dinheiro e querer guardar dinheiro, escolhendo onde economizar com sempre o que tem, alm de gasta-lo. gastar sem pensar. ganhar mais.

Vileza: nunca usar nada Magnificncia: saber usar Vulgaridade: exagerar nas bonito roupa, por coisas bonitas. coisas bonitas. exemplo e criticar os outros por isso. Modstia: achar que Respeito Prprio: menor que os outros, ou reconhecer seus defeitos e mais feio, ou errado. qualidades e no deixar as pessoas diminurem sua auto-estima. Vaidade: preocupar-se apenas com sua grandiosidade e jamais aceitar seus defeitos.

Indolncia: nunca fazer Prudncia: saber a hora e Ambio: ir atrs de suas nada para si e para os como agir para alcanar coisas, sem pensar em outros, procurando s o eu seus objetivos. nada. mais fcil. Indiferena: ignorar as Gentileza: ser agradvel Irascibilidade: deixar que pessoas completamente. com todas as pessoas, as emoes tomem conta. conter a raiva. a ponto de ser violento com as pessoas, nas palavras e nas aes.

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Descrdito prprio: no Veracidade: ser se achar bom em nada. verdadeiro e receber crdito por isso, saber usar seus limites, saber que bom em alguma coisa e que no bom em outras.

Orgulho: achar-se melhor que os outros, nunca aceitar que precisa dos outros.

Rusticidade: nunca usar a Agudeza de esprito: Zombaria: humilhar quem inteligncia para viver, saber usar a inteligncia no tm as habilidades agindo sempre por instinto. de modo brilhante. intelectivas. Enfado: ser chato, pesado, Amizade: saber se incapaz de dizer uma coisa relacionar com as pessoas boa pra as pessoas. por meio do afeto e da inteligncia. Condescendncia: querer ser amigo de todos, perdoar tudo de todos, nunca ver maldade nos outros.

Desavergonhado: mostrar Comedimento: saber Timidez: ter medo de tudo o que tem, a ponto de como se mostrar para os mostrar seus sentimentos e no sobrar nada para si. outros. seus pensamentos pra os outros. Malevolncia: no se Justa Indignao: saber Inveja: no aceitar que as importar com a maldade e quando uma coisa est pessoas tenham sucesso. usa-la a seu favor. certa ou errada.

Dessa forma, a virtudes morais o justo meio e cabe a razo a tarefa de guiar os sentimentos, atitudes e aes de forma equilibrada, evitando os vcios por deficincias e por excesso. Assim, a felicidade consiste nas virtudes que o meio entre a deficincia e o excesso. 2. As virtudes dianoticas As virtudes dianoticas so aquelas que derivam do intelecto, ou seja, da parte racional da alma. Essas virtudes, segundo o filsofo, so adquiridas pelo ensino, como j dissemos. Aristteles divide a parte racional da alma em cientifica (direcional ou pratica) e calculista (especulativa ou terica, que trata das coisas universais e tem como

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objeto verdade), esta ultima parte, o bem esta associado ao verdadeiro e o mal ao falso. A alma seria formada por trs elementos que controlam a ao e a verdade: a sensao, a razo e o desejo. A origem da ao a escolha e a origem da escolha o desejo, e o raciocnio dirigido a algum fim. Por isso, a escolha no pode existir sem a razo e o intelecto, nem sem a moral, pois as boas e as ms aes no podem existir sem uma combinao do intelecto e de carter. Desta forma, o intelecto no move nada, assim, necessrio que exista o intelecto prtico, que vise a algum fim. O puro pensamento, segundo o filsofo, nada anima e o homem deve ser considerado como uma unio do desejo com a razo, , novamente, do equilbrio das duas que se deve resultar a verdade. As disposies pelas quais a alma pode chegar a verdade seriam cinco: a arte, o conhecimento cientifico, a sabedoria prtica, a sabedoria filosfica e a intuio ou razo intuitiva. A arte considerada por Aristteles como uma capacidade de produo que envolve o raciocnio que pretende criar ou considerar as maneiras de produzir algo, no se importando com o que passa a existir a partir de uma necessidade ou resultado da natureza. Assim, toda arte relacionada com a criao, inveno, no estudo das maneiras desta produo, de coisas que existem ou ainda no. O conhecimento cientifico tem como objetivo aquilo que necessrio e eterno e envolve sempre um ensino e uma aprendizagem que torna o homem capaz de demonstrar algo. a convico de um homem, a qual chegou este de uma maneira conhecida por ele desde os pontos de partida at as concluses, seu conhecimento puro tido de maneira acidental.

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A sabedoria prtica a atividade de deliberao a respeito do que bom e conveniente, no apenas para si mesmo, mas, sobretudo para o comum dos homens, exigindo uma capacidade verdadeira e raciocinada de concluir a respeito da bondade e/ou maldade de uma coisa em relao aos homens. Ou seja, consiste na capacidade de raciocinar e agir naquilo tocante ao bem e ao mau para os homens, difere-se da arte excelente na sua elaborao e no em sua ao. A sabedoria prtica a capacidade verdadeira e raciocinada de agir no que se refere ao humana, j o conhecimento cientifico o juzo acerca das coisas universais e necessrias, tanto suas concluses quanto demonstraes so derivadas dos primeiros princpios. A razo intuitiva aquela que se ocupa de fornecer informaes sobre os princpios primeiros, que so as premissas das cincias, tendo como mtodo induo, ou seja, aprende uma verdade sobre o todo a partir das analises das partes. A sabedoria teortica a razo intuitiva juntada ao conhecimento cientifico e tem como objeto os objetos mais elevados, sendo a forma mais perfeita do conhecimento. Consideramos um homem sbio e no em um campo particular, mas em mbito geral, pois a sabedoria deve ser a mais perfeita forma de conhecimento, ela deve ser a combinao entre razo intuitiva e o conhecimento cientifico. A sabedoria pratica possui um campo gigantesco, ela envolve tudo sobre o que o homem pode deliberar e visa como agir, ela necessita de experincia por isso no se pode ser jovem e sbio j a sabedoria filosfica no visa a ao, mas o estudo, necessria ter ambas, pois uma completa a outra. A sabedoria pratica, sendo uma disposio da mente, uma qualidade do homem bom, mas no nos torna capazes de agir simplesmente pelo fato de conhece-las, ou seja, se a sabedoria prtica tem como objetivo tornar o homem 24

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bom. Ora, ambas as sabedorias seriam teis porque produzem a felicidade pelo fato de serem virtudes, pois, a sabedoria filosfica tambm produz felicidade pelo fato desta estar em continuidade na prpria noo de virtude e a sabedoria prtica nos ajuda a escolher o melhor objetivo e os melhores meios para alcana-la. A sabedoria poltica e a pratica correspondem mesma disposio da alma, mas so diferentes, pois a poltica relaciona-se com a ao na cidade e a prtica com o individuo e ele mesmo. Investigaes e deliberao so diferentes, pois esta ultima refere-se na investigao de algo em particular e implica o raciocnio, a deliberao excelente aquela que tende a alcanar o bem, para o estagirita, um bom deliberador normalmente tambm dotado de sabedoria prtica, pois deve agir naquilo que delibera para alcanar o bem, que de certa forma a felicidade. A inteligncia tambm difere da sabedoria prtica, posto que esta encarregase de agir em suas deliberaes e aquela se ocupa em julgar. A inteligncia no consiste em ter sabedoria prtica, mas em aprender, no exerccio da arte de conhecer, no opinar, ela idntica a perspiccia e o homem perspicaz observador e sagaz, diz Aristteles. Discernimento o julgar segundo a verdade, e a ele converge tudo aqui explicado, inteligncia, sabedoria prtica, razo intuitiva. A pessoa dotada destes atributos tambm conferida o discernimento, que assim como estas formas de sabedoria (exceto a inteligncia) vem com o tempo. Mas qual ser o beneficio de ter a sabedoria prtica e filosfica? Pois um homem sem virtude no se torna bom apenas por conseguir estas sabedorias com o tempo se no as usasse. O fato que elas trazem complemento a vida, fazer parte da felicidade, deixam nos cientes

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daquilo que acontece e daquilo que vivemos, elas no nos tornam virtuosos e bons, mas nos do instrumentos para decidirmos se o queremos ser. As disposies das virtudes, com as quais todos nascem, nada adiantaria sem a razo, do mesmo modo que um corpo forte poderia cair no cho sem a viso, por isso a razo indispensvel para a formao das virtudes em ns, estas ento quando praticadas e estimuladas implicam sabedoria prtica. Para Aristteles, todas estas virtudes se convergiriam pra um objetivo comum: a conquista da idade da razo, a posse completa da inteligncia e da sabedoria. Conhecer as coisas imediatas seria um primeiro passo, mas o homem inteligente deveria buscar discernir sobre o que deve ser feito. Dessa forma as virtudes intelectuais, resume-se nas capacidades necessrias para a compreenso do universo em que vivemos, essencialmente a habilidade para fazer cincia e matemtica. A sabedoria prtica tambm uma virtude intelectual. A sabedoria pratica a habilidade de avaliar o que bom e mau ao homem e a habilidade de aplicar este conhecimento em circunstncias particulares a fim de dirigir nossas aes em direo ao alcance da felicidade. J as virtudes morais, so hbitos de carter que se expressam na resposta emocional correta a qualquer situao que possamos confrontar, utilizando para isto, o justo meio. Para isso, nossa sabedoria prtica identifica qual o ponto central adequado. 3. Relao entre as Virtudes ticas (morais) e (Intelectuais) Na investigao e no ordenamento da moral, Aristteles foi enftico na superioridade da alma sobre o corpo, bem como da distino entre a parte racional e apetitiva da alma. Dessa forma, o corpo seria um instrumento da alma como uma 26 Dianotias

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flauta o instrumento do msico e como o escravo s ordens do seu mestre. Por outro lado na alma possui dois elementos hierrquicos, sendo uma parte superior e outra inferior. O exerccio do intelecto pertence parte superior da alma. Por exemplo, uma pessoa que tem a virtude moral da temperana precisa seguir uma regra para saber controlar-la. A formulao e a aceitao dessa regra faz-se atravs do intelecto. Como j dissemos, as virtudes intelectuais so adquiridas pelo ensino e as morais pelo hbito, isso se d pela distino que existe entre elas, ou seja, possuem naturezas diferentes, porm, uma est subordinada a outra. De uma certa forma, elas esto intrinsecamente interligadas. As virtudes morais so subordinadas ao intelecto e da razo, um manda e outra obedece. A parte intelectiva que determina as aes do homem, esta faz parte do homem e o que constitui a realidade. Assim, a parte intelectiva a responsvel pelo que o homem seja de uma forma ou de outra na manifestao de seu carter. A essncia do homem est no intelecto, por isso, o homem identifica com esta parte (intelecto). O atravs do intelecto que o homem desenvolve suas potencialidades. A conscincia da felicidade se faz atravs das virtudes intelectuais. Nesse sentido, como tambm j dissemos, a finalidade do homem consiste na atividade da alma racional. Aristteles elucida essa atividade racional com as seguintes palavras:A virtude que temos que considerar claramente a virtude humana, visto que o bem e a felicidade que nos dispomos buscar foram o bem humano e a felicidade humana, Mas a felicidade humana significa, a nosso ver, excelncia da alma, no excelncia do corpo; em coerncia com isso definimos, a propsito, a felicidade como uma atividade da alma. (ARISTTELES, 2002, p.61).

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As virtudes morais, que so subordinadas ao intelecto e a razo, quando exercitadas constantemente por aes equilibradas desperta a paixo por participar da racionalidade. Na medida que a paixo for interiorizada na racionalidade, o homem poder conhecer a alegria da virtude e a superao do confronto da paixo com a razo. Superando os conflitos, reina a harmonia e pelo repetio de boas aes o homem torna-se naturalmente virtuoso. Dessa forma os atos virtuosos so praticados com facilidade e prazer. O homem virtuoso vive em paz consigo mesmo porque conquista a harmonia interior. Dessa forma, esta conquista significa felicidade. Para Aristteles, um homem virtuoso vive em paz com sua conscincia, as lembranas das aes passadas possuem prazer e beleza e as futuras so cheias de esperanas, pois, tem a certeza que sero agradveis. Essa paz interior resultado da prtica das virtudes, e nas virtudes

intelectuais que so manifestadas esse sentimento de paz interior. As virtudes morais que so aes ditadas pelo intelecto e mediadas pela razo e retornam para o intelecto atravs da satisfao e a alegria. Conclumos essa parte, como uma citao de Aristteles, onde o mesmo remata o tratado da tica com um discurso sobre a felicidade do homem que auto conquistou-se.Mas se a felicidade consiste na atividade de acordo com a virtude, razovel que seja atividade de acordo com a virtude maior, e est ser a virtude da melhor parte de ns. Se o intelecto ou alguma coisa mais essa parte ou elemento que se considera ser nosso governante e guia natural e que capaz de conhecer o que nobre e divino, ou s ele prprio tambm divino, ou apenas parte relativamente mais divina dentro de ns a atividade dessa parte de ns em harmonia com a virtude que lhe prpria que constituir a perfeita felicidade, e j foi indicado que essa atividade aquela da especulao. (ARISTOTLES, 2002 p.276).

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Dessa forma, Aristteles evidencia que sabedoria uma virtude intelectual e superior a todas as demais. Atravs da sabedoria, que prpria do intelecto, o homem pode administrar as virtudes morais no justo meio, em decorrncia, colher os frutos de uma vida tranqila e feliz.

VI. A AMIZADE E A FELICIDADE

Aristteles dedicou dois livros dois livros da tica a Nicmaco ao tema amizade. Isso demonstra a importncia que o filsofo deu ao tema por diversas razes. Para Aristteles, amizade uma virtude indispensvel para a felicidade, tambm, o objetivo ultima da vida moral, aquilo que define o pice de uma vida corretamente vivida. Assim, ser amigo ser tico. amigo aquele que realiza em si e junto dos outros a excelncia moral, ou seja, ele que o bem das pessoas quem ama. Ainda, dizendo sobre a importncia da amizade, Reale (1994, p.422) disse que:Em primeiro lugar, a amizade , para Aristteles, estruturalmente liga virtude e felicidade, portanto, aos problemas centrais da tica. Em segundo lugar, a problemtica da amizade, por Scrates e, sobretudo, por Plato, como vimos, j fora debatido a fundo e conquistara uma notvel consistncia filosfica. Em terceiro lugar, a estrutura da sociedade grega dava amizade uma importncia decididamente superior que do as modernas sociedades, de modo que tambm desse ponto de vista explicase a particular ateno que lhe dedica o Estagirita.

Assim, Aristteles tenta definir a amizade, designando-a como uma convivncia intima, agradvel e, sobretudo, benfica, capaz de fazer de produzir felicidade.

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Entende que ela uma das necessidades mais importantes do ser humano. No se pode viver sem amigos. Dessa forma, nenhum homem escolheria viver sob a condio de viver sozinho e sem amigos. Para o filsofo, o homem um animal poltico. Sua natureza viver com os outros e para isso preciso conviver bem e viver bem representa ser feliz. Se por sua natureza o homem destinado a viver em sociedade, a conviver com o outro, no possvel imagina-lo vivendo sem amigos, pois na hora das angstias no amigo que ele encontra o conforto e quando se sente feliz com o amigo que ele partilha a alegria. A amizade a forma mais abrangente do amor. um apelo e uma resposta existencial. Este apelo vai do meu eu ao outro e do outro a mim, numa dialtica de cumplicidade que compreende sem palavras o que vai no corao de cada um. Os amigos partilham a vida com suas angstias e alegrias, que assimila a condio humana. J vimos que para Aristteles o ser humano para ser feliz deve viver uma vida prospera. Para isso, deve desenvolver a sua capacidade e potencialidades e a razo a responsvel por governar esse desenvolvimento. Vimos tambm que a felicidade boa em si mesmo, ningum deseja a felicidade para atingir outro fim. Qualquer outra atividade ou bem valioso, porque produz felicidade e, portanto, esses outros bens so subordinados a ela. A virtude o meio para o desenvolvimento da potencialidade humana e a verdadeira amizade era para Aristteles uma autentica virtude. J vimos tambm que para ele, a virtude um hbito que aperfeioa o homem, tornando-os capazes de agir, na maioria das vezes, de um modo excelente. Nesta perspectiva, o hbito

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da prtica da virtude o homem pode criar um estilo de vida prprio, o que poderia ser visto como a finalidade da tica. A amizade um importante veculo para o desenvolvimento das virtudes, atravs dela que possibilita a solidariedade e a compaixo, buscando o desenvolvimento integral do homem, sua libertao e autonomia. Para ele a amizade a possibilidade de atualizao de um devir, cuja capacidade nunca termina de se atualizar, pois est sempre em movimento. Na verdadeira amizade no h interesses, nem dominante e dominado ou superior ou inferior. Sua principal caracterstica o compromisso com o outro e, por solidarizar-se com o outro. Dessa forma, a amizade possui uma conotao poltica, pois tem o valor e a dignidade de uma virtude poltica, movidas pelos desejos de justia, igualdades de oportunidades e dignidade humana. Um homem deseja o bem do seu amigo por amor ao amigo, e no como um meio para a sua felicidade, diz Aristteles. O filsofo faz referncia a vrias formas de amizade e essas, por analogia, constituem todas as ilustraes da natureza social do homem. No plano inferior, necessita de amizades teis. Num plano mais elevado, forma amizades por prazer, ou seja, tem um prazer natural no convvio com os seus amigos. Num plano ainda mais elevado, que constitui a amizade por bondade, por amor, nas quais possvel um amigo ajudar o outro a viver uma vida melhor. Para Aristteles a amizade perfeita seria aquela existente entre os homens bons e semelhantes nas virtudes, pois, essas pessoas desejam o bem de forma igual, mutuamente. Suas virtudes raramente mudam, assim, suas amizades so praticamente permanentes, ou seja, so mais duradouras, pois encontram um no

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outro todas as qualidades que se deseja possuir. Para ele, esses tipos de amizades so raras, assim como tambm so raras homens com essas caractersticas. Esse tipo de amizade leva tempo e possui um alto grau de intimidade e afinidade mtua. J quando as amizades so por interesse elas so mais facilmente configuradas, da mesma forma que so facilmente dissolvidas, pois, quando acaba o interesse essa amizade j no faz mais sentido. Nesse tipo de amizade a afinidade, o amor, no o elemento base que a constitui. Por exemplo, a amizade

estabelecida porque esse amigo pode me oferecer algo que no possuo ou uma forma que eu gostaria de ser enquanto humano, a os interesses podem ser os mais variados, desde de interesses materiais a afetivos. Para o filsofo, esse tipo de amizade mais fraca. Somente a amizade entre os bons invulnervel as provaes como exemplo a calnia, pois, dificilmente desacreditamos de algum cuja fidelidade da amizade foi colado prova durante muito tempo, assim, a confiana permeia essa relao, diferentemente de outros tipos de amizade. A exemplo da planta que deve ser cultivada, para cresa robusta e feliz, para o filsofo a amizade, tambm deve ser cultivada. Dessa forma, a amizade uma atividade permanente. Veja o que diz o prprio Aristteles, sobre isso:Acontece com a amizade como acontece com as virtudes. Os seres humanos so chamados de bons em dois sentidos, ou por deterem uma disposio virtuosa, ou por praticarem a virtude; analogamente, amigos quando juntos extraem prazer disso e se conferem benefcios, enquanto amigos que se chamam adormecidos ou separados no esto praticando amizade, ainda que tenha a disposio para pratica-la, pois a separao no destri a amizade totalmente, embora impea a sua prtica. Se, contudo, a ausncia prolongada, parece que produz o esquecimento do prprio sentimento de amizade... (Aristteles, 2002 p.222).

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Nos dois livros, de tica a Nicmaco, quando o autor trata do tema, por vrias vezes, Aristteles refora que a amizade s possvel quando h reciprocidade, ou seja, no possvel um ser amigo do outro se esse outro tambm no for seu amigo. Na concepo grega de amizade difere da tradio crist de que tem que amar os inimigos, pois, para os gregos, s possvel ser amigo do outro se esse corresponde a minha expectativa de amizade, ao contrario o amigo seria amigo do inimigo, essa possibilidade descartada por Aristteles. Dessa forma, a reciprocidade do amor entre amigos faz parte da natureza da amizade, pois impossvel conceber a amizade sem reciprocidade. A felicidade no dispensa a amizade, pelo contrrio, fundamental. Para o autor, a amizade at mesmo superior a justia, pois quando as pessoas so amigas no necessrio a justia, mas havendo justia ainda precisamos de amizade. Ningum consegue viver sozinho, o homem no auto-suficiente. Aristteles fundamente na amizade a alteridade, a amizade : amor, compromisso com o outro, nessa relao que vemos o outro como ns mesmos. Dessa forma conclumos que aquele que descobre seu potencial racional e consegue exercitar as virtudes e a amizade de forma verdadeira, deliberando de modo correto sobre o que o bem ou mal para si e para o outro, poder gozar de uma boa dose de felicidade.

VII. CONCLUSO

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O livro tica a Nicmaco de Aristteles, nos prope uma srie de desafios sobre como por em prtica a razo para a felicidade. Os textos que compe os X livros da obra, um convite ao exerccio da liberdade interior e escolha de um caminho para a vida, para o bem prprio e da sociedade. O homem dotado de razo, ao contrrio de outros animais, ele no se satisfaz com uma vida vegetativa reduzida s funes biolgicas como: comer, dormir e reproduzir para ser feliz. A sua dimenso racional produz expectativas relacionadas ao pensar, raciocinar e conhecer. Essa potencialidade racional capaz de administrar as sensaes fsicas como: as fantasias, desejos e movimentos que nem sempre so perfeitos e resultem em sensaes positivas. A funo do ser humano que Aristteles prope administrar a vida de forma que brilhe a racionalidade no sentido do bem. No caminho da procura do bem e felicidade, o filsofo inclui a reflexo sobre a virtude, as virtudes morais e intelectuais e a necessidade de serem exercidas com prazer. As virtudes morais so adquiridas pelo hbito, que so os controles das paixes, movimentos espontneos do carter humano, elas consistem nas aes prticas como a coragem, temperana e magnificncia, que so a mediania entre dois extremos. Por exemplo, a temperana o meio termo entre os extremos, insensibilidade e a libertinagem. J as virtudes intelectuais so adquiridas pelo ensino e so superiores, porque, atravs dela que o homem toma conhecimento e discernimento das coisas. Por exemplo, diferenciar o bem do mal. A felicidade verdadeira conquistada pelas virtudes. As virtudes so ento analisadas detalhadamente na obra tica a Nicmaco. Como o corpo est sujeito a paixes, a alma deve desenvolver hbitos bons. Sendo a virtude uma fora

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adquirida, um hbito no desenvolve espontaneamente pela natureza, da mesma forma, a felicidade no dada e sim construda. Uma outra fonte de felicidade para o filsofo a contemplao, ela no um estado, mas uma atividade que no pode ser incessantemente praticada, desejvel por ela prpria. A contemplao relaciona-se com as virtudes intelectuais, ou seja, uma atividade intelectual. Alm disso, vivemos em sociedade, por isso, funo da alma treinar as virtudes, que so as nossas boas aes no dia-a-dia. Seguindo esse raciocnio, disciplinar nossos hbitos, significa uma profunda reflexo sobre o modo de agir, das quais resultam indicaes para orientar a conduta. Para Aristteles, o treinamento das virtudes, acabam se incorporando alma da pessoa. Uma vez adquirida a virtude, age-se naturalmente com ela sem esforo e com prazer, porque se age de acordo com a prpria natureza. J o vicio ao contrrio, produz desprazer uma vez que esta ao contrrio a natureza. O tema amizade tambm abordado com nfase na obra, Aristteles compreende a amizade como uma virtude extremamente necessria vida. Para viver bem e ser feliz, essencial agir moralmente, isto , procurar alcanar um equilbrio nas aes humanas acompanhadas de alguns bens materiais, indispensveis necessidade humana e amigos idneos, pois, ningum feliz sozinho. Por conseguinte, consideramos que o livro tica a Nicmaco, seja um convite para reflexo sobre a felicidade, numa perspectiva diferente da compreenso em voga. Dessa forma, a obra de verdadeira atualidade, porque tem a ver com o que o homem sempre procurou, que ser feliz. So desafios de reflexo e meditao

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que consideramos urgentes para o homem do nosso tempo, no raro afastado do caminho da pratica da razo e da contemplao como atividade intelectual como via para a felicidade de si prprio e da comunidade.

Referncia Bibliogrfica:

ABBAGNANO. N. Dicionrio de Filosofia. So Paulo, Mestre Jou, 1970.

http://www.marciatiburi.com.br/textos/eticahoje.htmMARTINS, Adilton Lus.Caderno do professor. Filosofia: ensino mdio 2 srie 1 bimestre.So Paulo: SEE, 2008. REALE, Giovanni. Histria da Filosofia Antiga. Volume II So Paulo: Loyola, 1994 (Srie Histria da Filosofia). TUGENDHAT, Ernst. Lies sobre tica. Traduo grupo de doutorando do curso de ps-graduao em Filosofia do Rio Grande do Sul. 6 ed. Petrpolis, RJ. Vozes, 2007.

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