etica e civilizacao

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    E d i t o r i a l

    i , . i. '( ' - U l . ^i U ',.1

    . , . , . < , i iT i . . -1 ',1. " -1 1,, ,.

    T I CA E C I V I L I Z A OHenrique C. de Lima Vaz, , ' "., Fac. Filosofia CESSJ (BH)

    V ; -.^ -

    1 C o m efi'iUt, as l . i i ^ i k f sdic(1 Fih-^oti i i i l i i Hhlria lo rmi-n . i m n.i lliis(riii;io i' nuKcvi)lin;.(> H r . i i K i ' s . 1 a m n )ii hi>i|i>riit u n i w r s . i l .2 Na i u a (Atra, c m I rsv o l u m e s , Cii-i l i i

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    c na civilizao chinesa. O aparecimento e o desenvolvimento das duas"idades ecumnicas", a ocidental e a chinesa, nos sculos em torno doincio da nossa era c nas quais surgiu, como stella rectrix da rotacivilizatria. a idia de um a "humanidade uniivrsal", foram objeto deampla reconstituio e de profunda anlise fior /wrfi- de Eric Voegelin.^Voegelin mostra como a pretenso universalidade nascida no magodo movimento de expanso poltica e cultural de civdizaes dotadasde poderosa fora criadora constitui, na verdade, uma transformaodecisii>a no modo temporal da existncia humana que, da presena deuma estrutura cosmologicamente fechada da realidade, passa a vivernuma estrutura historicamente aberta, ou seja, num temix) histricopropriamente dito, cuja direo orienta-se irresistivelmente no sentidode um a histria universal*Ora. os tempos moderiios podem se r caracterizados justamente como apoca em que as tendncias para a universalizao, nascidas em pontosdiversos da faixa geogrfico-ciiltural que vai do E xtremo Oriente aoMediterrneo, encontram as condies para a sua efetiva realizaohistrica a partir da rea de extrema densidade cultural que se constitu i desde os fins da Antigidade na fronteira ocidental do ecmenogreco-romano. desse ncleo de civdizao ao qual a teologia cristvai dotar, por meio de Santo Agostinho, com uma viso grandiosa dahistria universal, que se origina o imenso processo de unificao dofluxo histrico que em nossos dias ati}ige aparentemente seu termo t ' , ,igualmente, o paroxismo da sua crise. A predio e mesmo a antecipao desse termo e a interpretao e soluo dessa crise podem se rconsiderados os temas fundamentais das filosofias da histria, herdeiras da antiga teologia da histria, do sculo XV/// at hoje. Elas buscam,em suma, responder pergunta sobre a possibilidade de uma histriauniivrsal transpondo conceptualmente o fato de que a universalizaoda histria dei>e ter lugar obedecendo a uma estrutura radical, ou seja,irradiando os contedos e a forma da histria mundial a partir doncleiy da civilizao ocidental. Assim, ncleos conceptuais cuja energia irradiante deve iluminar e orientar a histria tornada una. como aRazo na Ilustrao, o E sprito em Hegei, o Trabalho em Marx, apresentam-se como o centro dinmico ideal do pensam eio da histriauniversal, assim como o Ocidente o centro dinmico do seu acontecerreal. As filosofias da histria retomam desta sorte, secularizando-o. oesquema teolgico que faz do eivnto da Encarnao o centro irradiadorda histria universal, pensada na conceptualidade teolgica comohistoria salutis, e que tem o seu ncleo central emprico no Fato doCristo, >ui Palestina do primeiro sculo. No parece, pois, simplescoincidncia, m as m anifestao de um a solidariedade profunda naunidade do mesmo processo, analisado este. claro, segundo os componentes do seu acontecer historicamente visvel, o fato de que a difusodo Cristianismo como religio mundial acompanhe a efetiva universalizao da histria a partir do Ocidente. Q ue este fato e a solidariedade que ele manifesta entre o C ristianism o e a histria universal.

    .1. N i i s u a o b r a O n l f r m u if l i s l o r i / , v o l , I V , T / i r K i n -i i i r i t h A ) ! i : B a t o n R ( > U f ; i ' ,L o u i s i a n a S U k - U n i v v r s i t yP n - s s , 1 7 4 .

    4 . K V t d - g e l i n , op. l . . pp .

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    $ . V i T E d i l ( i r i . i l " U m C r i s -l a n i s m n p i i r a o pi>vo?" ,$ i i i - > i - N o i - i i f i s c , 2 4 I ' W 2 ) : ? - V ; r e p r i > d u 7 d o stibo l i lu k " C r i s t i . i n i s m o oO i r i d c n t c " e m : H . C . d c L i m . iV a / . f .M r i l o i h - F( J( iS( i//

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    liattuias e localizadas so apenas episdios de maior ou menor intensidade, no seno a lenta e trabalhosa gestao do hom em u n iv er sale como tal que ela se autocompreende pelos seus filsofos e pelos seusidelogos. Ora, nenhum xito decisivo / r a c ter coroado at agora ainiciativa histrica de tantas revolues e o desgnio terico de tantossistemas no sentido da criao de um ethos do homem universal e,conseqentemente, da formulao de uma tica que ex^hmha e codifique as razes desse ethos. Aquela que se pretende a primeira civdizao mundial encontra-se aqui no mago da sua prpria crise: umacivdizao sem ethos e, assim, impotente para formular a tica cor-respimdente s suas praticas culturais e polticas e aos fins uniivrsaispor ela proclamados.Essa crise parece ser o prtico obrigatrio que a humanidadedeirr atravessar ^ H i r a penetrar no terceiro milnio. A questo consiste em saber se ela o atravessar s cegas, em direo ao desco-}dh'cido ou se, atravessando-o consciente c lucidamente saber,a partir dele, traar os caminhos que conduzam s almejadas terras de uma histria verdadeiramente una e universal, de uma civilizao dc todos os homens. A conscincia e a lucidez que deivmacompanhar essa passagem decisiva se alcanam, em primeiro lugar,pela acertada diagnose da crise, pela correta descrio dos seus traosessenciais, o que significa retomar a anlise do processo deuniversalizao da histria nos tempos modernos a partir do ncleoirradiador do Ocideie, e nele descobrir os pontos crticos em tornodos quais se adensam os problemas hoje vividos pela humanidade nasu a primeira experincia efetiva de tor}iar-se sujeito de uma histriauniversal.Parece fora de dvida que entre esses pontos crticos, identificadoscomo sendo os }n)ntos de juno das estruturas bsicas de uma civilizao mundial o econmico, o social, o poltico, o cultural areflexo de todos os que se preocupam cofu a crise profunda que semanifesta nessa civdizao i>olta-se presentemente, de preferncia, parao problema da cultura, no qual se percebe cada vez mais que estoodrelaadas as dimenses do econmico, do social c do fwltico.' Ora.a cultura enquanto , na sua face objetiva, obra ou pragma do homemc, na sua face subjetiva, ao ou prxis humana, obedece ao movimentodialtico que manifesta na prxis uma natureza essencialme}deaxiognica ou geratriz de valor e. no pragma, uma naturezaessencialmente axiolgica ou significativa de valor."^ Vale dizer, emoutras fhdavras. que a cultura coextensiva ao ethos: ao produzir omundo da cultura como o mundo propriamente humano da sua prticae das suas obras, o homem se empenha fwcessariamente na luta pelosentido a ser dado sua existncia, A cultura, como ethos, torna-separa ele a morada a partir da qual a realidade se descobre como dotadade significao e valor. Desta sorte se. pela cultura, o homem assegura

    7 V i T o E d i t o r i . l l " C u l I U Me R e l i g i o " , S i r p c s ' N o i i if i i > . - 35 ( I 9 8 > ) : ' - 1 2 . vTl a m b e m H . C d e I . i m . ) V a / ./ S< nir.-^ l c h i l o s o t i i l U: i l k i'C i i l l i i r n . C o l , F i k i M i f i a H , Sor , \ u l o , E d . L o y o l . 1 , | 4 S , pp.: s o - 2 H 8 -8. Ver E x r i t i H i i h- F i h < ^ < l i i i 11.0( 1 l i l . . p p, !V>-!W,

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    permanncia tio seu ser no mbito da natureza, fun- ela e nela ele estabelece as normas e os fins do seu dever-ser no movimento da histria.Toda cultura, sendo histrica, essencialmente tica e no ethos queela encontra a unidade mais alta das suas manifestaes e as razesmais decisivas para resistir usura do tempo. O ethos, em suma. a alma de uma cultura viva. iustamente seguindo os elos da cadeia terica que une histria ecultura e cultura e ethos que {iodemos mais seguramente atingir ocerne da crise vivida pela civdizao contemporiwa na hora em quese reconhece como primeira civdizao efetivamente mundial. Como ifoi antes observado, essa crise se manifesta na densa nuveut de interrogaes e dvidas que paira sobre o imenso e revolucio}irio processo de gestao de uma cultura universal ( I cultura do nniivrsai que denominamos modernidade. O devir histrico da moder-}iidade apresoita o paradoxal espetculo de um avanar vertiginoso,mas por caminhos hicertos e sem a viso de um claro horizonte demetas e ideais. No h, aiHirentenumte, uma }iuvem luminosa, comoa que acompatdiou Moiss no deserto, a guiar a marcha da modernidade. A semelhana lembra mais a nuvem escura que cobriu a rotados navegadores lusadas na hora de dobrar o Cal\) Tormentoso. Terchegado para a modernidade o desafio maior de passar alm do seuCabo das Tonnenlas? Essa grave interrogao pi\ie ser traduzida assim:ter chegado pnira a modernidade o momento de ultrapassar o espaode sombra do nHsmo tico qiw. neste fim de milnio, se estendesobre a sua rota histrica e prosseguir, nos tempos que j se anunciam, luz de um ethos correspo}U ent e ao seu desgnio civUizatriouniversal?A resposta a esta interrogao supe, eidentemente, em primeiro lugar,a tentativa de reconstituio da gnese dialtica da modernidade fxiraque nela se descubram os antecedentes tericos e o lugar de emergnciado nidisnui tico. Essa tentativa, como sabido, tem sido. pelo menosdesde o sculo XVIU, um tema permanente e quase obsessiiK) dosgrandes pensadores da modernidade que so. igualmente, seus atoresintelectuais. No o lugar aqui para se enumerar todas as versesdessa dialtica do esprito moderno. Basta lembrar que, de Hegel aNietzsche. como nu^strou Karl Lwith numa obra clssica, o esforo dehermenutica da modernidade atinge uma intensidade dramtica econfigura, }i a verdade, uma ruptura revolucionria do pensameuto, jagora colocado sob o sigim do niismo e do intento de umaUmwalzung, de uma subivrso de todos os indores e da criao deum homem noiH^. protagonista de uma nova histria. Esse desgniotitnico tem em vista, primeiramente a instaurao de um novo mundode cultura e, portanto, de um novo ethos, cuios traos e cuja escalade valores se procura ler na face enigmtica das reivlues que abalamo solo histrico da modernidade. Ora. nosso fim de milnio assiste aoamortecimento rpido que anuncia, provavelmente, o definitivo apa-

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    gar-s-e du chama revolucionria acesa h dois sculos no Ocidente. Aomesmo tempo esvaem-se os traos e desfaz-se a escala de inalares queidentificavam o proclamado novo ethos do homem universal, saudadocomo filho legtimo da nuniernidade. Nosso tempo acompanha, silencioso e perplexo, o enterro das utopias e. na wlta desse caminho,apresenta-se j a ps-modenndade anunciada pelos seus idelogos comoreino da universalidade negativa, do niilisnu) tico c da contradiovivida do no-sentido.A grande falha aberta no solo cultural da modernidade torna-se. assim, defindivamente visvel e ela que desenha o perfd da crise de umacivilizao que se tornou universal pela difuso plaietria das suasobras e do seu way of Hfe, mas que no logrou infundir nessa universalidade n alma de um ethos que fosse o principio vital da sua unidadec do seu sentido. A crise da modernidade fHirece atingir, pois. o seu paroxismo. a hora em que se desivmecem, um a um, os grandes ideaisque povoaram o cu simblico do homem nwderno na sua marcha. f)orele tida como avanar seguro, para a civilizao universal e o kantiano"reino da liberdade". Onde buscar a origem desse trgico fviradoxo deuma civilizao sem tica ou de uma cultura que no seu impetuoso e,aparentemente, irresistvel ainnio para a universalizao, no se fezacompanhar pela formao de um ethos igualmente universal, quefosse a expresso simblica das suas razes de ser e do seu sentido?A estrutura que sustentou o movimento de universalizao da culturamoderna manifestou-se, como vinu^s, aMt uma estrutura radial, quepode ser analisada em dois )uveis: )w nvel histrico a/t irradiaodo ncleo de civilizao europeu-ocidenfal a partir do sculo XV; )ionvel simbhco como representao da histria como convergnciaevolutiva para o advento de uma humanidade universal tendo comoncleo irradiador de universalidade a idia mesma do homemmtxierno, st';;) ele pensado segutulo a ideologia das Luzes do sculoXVIU. dos messianismos polticos ou da ideologia do cientismo positivista do sculo XIX ou. ainda, seguiuio essa variedade de modelosantropolgicos que nos oferecem as filosofias das chamadas cinciashumanas no sculo XX. Em suma, no nvel simbHco, a universalizao da histria }U >s tempos modernos se fez atravs das fdosofias dahistria e das filosofias do homem que. do sculo XVIU at hoje,assunram a tarefa de explicar, iustificar c at mesmo orientar o cursograndioso dos eventos de uma histria enfim tornada liiiversal no seudesenrolar emprico. Ora. j notamos a homologia que existe entre aestrutura radial da histria moderna como histria universal, e aestrutura da histria crist qiw tem seu ncleo irradiador emprico noFato do Cristo na Palestina do primeiro sculo, donde parte paraconstituir um ecmeno cristo segundo as dimenses do mundo, e temsua expresso simbHca na inuigem paulina do "homem novo" quetranscende as particularidades culturais e histricas e participa dauniversalidade da vida do Senhor ressuscitado (Gl 3,27-29; ICor 3,21-

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    23; 15.46-57). No aibc aqui o tiprofuntinincnto dessa honudogiaestrutural entre a universalidade do k r y g m a cristo e a efetiva universalizao da histria nos tempos moderuosi' como tambm no aqui o lugar para se exam ituir a hiptese da universalizao da histria a partir de outros centros como a civdizao islm ica o u a civdizao chinesa no sculo XV. O que importa descobrir a razo profunda que levou o nwvimento de u}iiversalizao da histria desencadeado a partir do Ocidente moderno e estruturado em homologiacom a universalidade da historia salutis crist, crise radical donui-ciada pela ausncia de um ethos do homem sujeito e ator de umahistria efetivamente universal e pela conseqente impossibilidade deformulao de um a tica que codifique suas razes de ser e de agir.Ora, as anlises mais clssicas da gnese e do descnvolvinwnto conceptuais da modernidade, }tu-si}io levadas a cabo sob inspirao efiiudidade diversas, parecem corroborar a idia de que na prxissocial e histrica do homem nwderno que devem ser buscadas asexplicaes para o rumo singular e extraordinrio que tomou a suaaventura de instaurar uma histria efetivamente universal. UmaaiKmtura que desemboca, coroada de xito, na extenso planetria dacincia e da tcnica ocidentais e da economia-mundo da qual elas soa mais poderosa fora de produo. Um a aventura que. em meio multiplicao dos seus xitos, se detm inquieta diante da incertezadas suas razes e dos seus fins. Reconhecendo-se como instauradora deum a civdizao que uiversal efetivamente pela su a base material,a nuHer]iidade deve iguabnente reconhecer-se como tendo sido incapaz de tornar essa civilizao eticamente universal, z'em a ser, regidapor valores e guiada por fins cujo coiitedo e cuja normalividadcsejam demonstrados como universais e, portatdo, aceitos consensual-mente, ao metws em princpio, por todos os homens.Uma anlise filosfica, conduzida com algum rigor, da estrutura daprxis humana, poder talvez a{ixiliar- }U)S a entender a razo profunda da inadequao etitre a universalidade efetiva e a universalidade

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    propriamente humana. A prxis , ento, mensurante da realidade.O i^egundo momento dessa dialtica assinala a negao da primaziado sujeito. A realidade impe significao que lhe atribuda nomhifo da prxis SI ? natureza e o seu contedo, em suma, su a verdade. E la nega ento, em fora da necessidade do seu ser, a limitaoe a contingncia da prxis , da qual passa a ser mensurante . A su-prassuno dessa oposio dialtica constitutiva da prxis se d justamente na constduio do ethos t ' na sua posterior sistematizaoracional como tica. Ento o homem e as sociedades aceitam submetera sua prxis a normas e fins cujo fundamento transcende seja o seremprico do objeto sela a contingncia histrica da ao. A trans-ceiuincia desse fundamento, afirmada na sano religiosa e sapiencialdo ethos como tradio, e traduzida na conceptualizao filosfico--teolgica do ethos a>fm tica (o Bein platnico, a Natureza aris-toflico-estica, o De us cristo), assegurou ao pensanwido tico clssicoum equillirio sa tisfatrio da sntese entre a verdade da prxis e averdade do real.A profunda revoluo operada nus estruturas simblicas do ethos dasociedade ocidental a partir do sculo XVll tem origem com a imanen-tizao do fundamento transcendente qu e assegurava a suprassunodialtica da oposio eiitre a prxis hitmana e o seu mundo. Essa, quefoi sem dvida uma das mais radicais transformaes da autocom-precnso do homem ao longo da sua histria, correlativa, como sabido (sem que tenhamos de recorrer, para explicar essa correlao,aos esquemas simplistas dc uma causalidade linear que procede dainfra-estrutura), aos gigantescos mozmnentos de transforntao dascondies materiais da vida na sociedade ocidental que acompanham aformao da primeira economia-mundo e os primeiros passos em direo ao horizonte de uma histria efetivamente universal. Seja comofor, o que enwrge desse revolver profundo do solo histrico do Ocidentea figura paradigm tua do honw in que levanta a form idvel pretensode ser o fundamento c o lugar conceptual do movimento de transcendncia no qual suprassuiida. no nvel dos valores, nornuis e finsunix^ersais. a oposio eidre a prxis humana e seu mundo enquantosituados lu i particularidade do seu acontecer emprico. Pretensoformidvel, com efeito, essa em que n prxis humana se prope comocapaz de dar a si mesma o seu prprio fundamento, de ser a fonteltima da sua prpria teoria, de constituir-se, em suma, no sentidomais estrito, conto criadora do seu mundo, vem a ser, do uniz^erso dacultura e do ethos que lhe consubstanciai. As filosofias do sujeito,expresso simblica por excelncia desse prometesmo antropolgico damodernidade, so a sua consagrao filosfica, assim como o individualismo a sua consagrao ideolgica.'-Portanto, nessa concepo da prxis que preside gtwse e ao desen-ixdvimento da idia de modernidade, a dialtica mensurante-mensu-rado radicalmente alterada na sua estrutura pela absolutizao do

    1 2 . V e r A . K e n . i u t , i 'c dcrn i i l i i - i i iu : Vit lnhi ioi i i i i i cl i i > l tu r i - l / l - I n s(( !>/((( rih".Paris, C l a i l i m a r d , q u e ,M ) b n ' 11 prt'ssup

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    13. Sob i - s s o p o n l o d o v i s l a ,. i s U - n I f l t i v . i N r t ' i . i . - i i U ' s d ec o n s t i t u i i ; . i i > d e u i n . i ticad a s s o c i e d . i d i " . m o d e r i i . i ia v . i n . i d . i s f u n d . i d . i sobre opostulado de uma a ) m i i -n i d a d e u n i v e r s a l d e a i m u -n i c a i ; o , d e s d u b r a n d o - s e noc a m p o da pnixh i m a n e n l ec o m o a o a i m u n i c a t i v a ,a p r i - s e n t a d i f i c u l d a d i - s j u d i -ciosamente a n a l i s a d a s porJ o o /\. A. Mae D o w e l l e m" t i c a p o l t i c a : u r R i i c i a el i m i t e s " , S i i i h - ^ - N n i i i / - n sc .4 ( l 'JW):7-34

    momcnio mensurante que compete prxis . Esta absorve na suaimanncia o fundamento transcendente que assegurava a primaziarelativa da prxis sobre a realidade e da realidade sobre a prxis cn(,em termos ticos, da liberdade sobre a norma e da norma sobre aliberdade. Enquanto permanece indiscutido o postulado da imannciado fundamento no sujeito ou, eticamente, o postulado da autonomiaabsoluta do sujeito, a prxis concreta do homem ocidental, na suatitnica empresa de uinversalizao da histria, ava)ia impelida peladialtica do desejo e da dominalo (ou da satisfao hedonfstica e dopoder), expresso universal do nii l ism o t ico c forma uu)derna, itt-finitamente mais ambiciosa, do programa do honwm-ntedula segundoProtdgoras. Sobre a base desse postulado, atravessado pelo paradoxodc uma razo terica finita que se infinitiza como razo prtica (K ant),torna-se invivel a construo de uma tica universal: a tica kan-tiana do dever foi notoriamente submergida pela tica empirista doprazer. Nossa ciinlizao, no seu desgnio e no seu efetivo operaruniversalizantes, permanece uma civdizao sem tica.*^, pois, a concepo da prxis absolutizada na sua imanncia queconstitui, no nvel simbl ico , o centro da estrutura radial da histriauniversal moderna, assim como o Ocidoite o seu centro no nvelhistrico . Esse centro simblico permde compreender por que, noobstante a homologia estrutural entre a historia salutis crist e ahistria universal moderna, o Cristianismo no se tornou a religiodos tempfos modernos, como queria Hegel, seiuio fio sentido de tornarpossvel, pela sua iwgao dialtica, entendida como operao simblicafundamental da modernidade, a emergncia do atesmo absoluto dap r x i s . Pensado luz dessa negao o Cristianisnui aparece, a partirde purspectivas diversas, mas cotivergeides (Hegel, Marx, M. Gauchet),como sendo a ltima grande religio historicamente possvel. Tendo-se mostrado como ideologia da primeira civilizao sem tica, amodernidade manifesta-se igualmente como ideologia da primeiracivdizao no-religiosa da histria. Na verdade, como poderia o Cristianismo integrar-se tarefa da criao de um ethos do homemmoderno, definido pela absolutizao da sua prxis ou pela autonomiaabsoluta da sua liberdade, sem aceitar que o atesnm se instalasse noprprio corao da sua mensagem?Desde o ponto de vista da ledura da Histria, a solidariedade entre oCristianismo e o Ocidente e uma ezdncia enorme e irrecusvel. Elamarca de maneira profunda e, provavelmente, definitiva o destino dacivdizao que se desenvolve a partir da pennsula extreuu^-ocidentaldo continente eurasitico. Mas ela torna-se uma relao de extrematenso dramtica desde quando essa civdizao assume o protagonismode primeira civdizao mundial. O Cristianismo dos tempos modernos deve. com efeito, reconhecer e suportar o insuportvel paradoxopatente no fato de que tenha nascido no seio da nica tradio civUi-zatria que pode ser chamada crist a ideologia da prxis absoluta,que se tornou o centro simblico do movimento de universalizao da

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    histria ocidental. } nos sculos !V e V, quando Cristianismo cOcidente iam confundir para sempre seus destinos, tezv lugar umconfronto decisivo de identidades, ao tentar a ideologia imperial trans-fundir suas categorias na substncia do dogma cristo. Em nosso tempo um risco infinitamente mais grave pesa sobre a identidade crist,na medida em que se tenta suprimir o paradoxo de um "atesmo decivilizao"'* dialeticamcnte articulado ao desenvolvimento da prpriacivdizao crist, aceitando reinterpretar o ncleo doutrinai do Cristianismo segundo os pi^stulados e as conseqncias da ideologia daprxis. ss7 imensa operao hermenutica, que ocupa a cena douniverso religioso nesse fim do segundo milnio cristo, acaba porfazer justamente das Igrejas crists um dos lugares mais espetacularmente visveis da crise presente, com a rpida e aparentementeincontrolvel deteriorao da sua f e da sua nmral e com a batializaoecltica, segundo os critrios do individualismo dominante, dos seussmbolos e dos seus ritos.A crise da nossa civdizao apresenta-se historicamente com caractersticas absolutamente originais. As grandes civdizaes do passadoque declinaram e morreram viram-se a braos com a incapacidade derenovar e ampliar suas bases materiais e de dar nova vida ao seuuniverso simblico. Nossa civdizao impelida pelo mais gigantescodinatnismo de progresso material conhecido at hoje pela humanidade.E la t em ou ter nas mos, dentro de breve tempo, os instrumentos eos meios para assegurar a definitiva expanso da vida inteligente nouniz\'rso e mesnw para conjurar eventuais acidentes csncos. Mas, seBergson jreclamava para ela um supplmont d'me, hoje torna-secada vez mais clara e mais dramaticamente vivida a certeza de que lhefalta unui alm is