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1 LIÇÃO 04 ÉTICA CRISTÃ E ABORTO 22 de abril de 2018 Professor Alberto TEXTO ÁUREO “Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia” (Sl 139.16). VERDADE PRÁTICA O Senhor Deus é quem concede a vida, portanto, o direito de nascer e de viver não pode ser violado pelas ideologias humanas. COMENTÁRIO DO TEXTO ÁUREO

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Page 1: ÉTICA CRISTÃ E ABORTO - professoralberto.com.br · De forma alguma, senão vejamos, análise do Salmo 139, apresentado por Carlos Augusto Vailatti. “Frequentemente sou indagado

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LIÇÃO 04

ÉTICA CRISTÃ E

ABORTO 22 de abril de 2018

Professor Alberto

TEXTO ÁUREO

“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas

estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas,

quando nem ainda uma delas havia” (Sl 139.16).

VERDADE PRÁTICA

O Senhor Deus é quem concede a vida, portanto, o direito de nascer

e de viver não pode ser violado pelas ideologias humanas.

COMENTÁRIO DO TEXTO ÁUREO

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“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas

estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas,

quando nem ainda uma delas havia” (Sl 139.16).

Nosso texto áureo está inserido no Salmo 139 apresenta a onipresença e a

onipotência de Deus.

“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe ...” - O hebraico deste

versículo é difícil, pelo que existem várias ideias e emendas a respeito, conforme

demonstrará uma vista de olhos nas traduções deste versículo. O hebraico diz

literalmente como segue:

Meu feto (literalmente, rolou) viu teus olhos,

E no teu livro todos eles ficaram registrados;

Dias foram formados, e nenhum deles neles.

(Tradução de Ellicott)

A tradução da Imprensa Bíblica Brasileira dá um sentido excelente e suave,

embora não seja, necessariamente, o que o hebraico queria dizer:

“Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu

livro foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados

para mim”.

Todas as versões antigas fazem dos dias das vidas dos homens, ou os homens

nascidos no decurso daqueles dias, o significado da última parte do versículo.

Aqueles dias foram escritos no livro de Deus, por meio de conhecimento anterior,

provavelmente para sugerir que esse conhecimento prévio funcionou em favor do

homem, beneficiando-o.

No livro de Deus, o homem já é um ser vivo, sendo favorecido por Sua providência,

antes mesmo de vir à existência.

Mas será que o Salmo 139.6 ensina o determinismo divino, como pensam alguns.

De forma alguma, senão vejamos, análise do Salmo 139, apresentado por Carlos

Augusto Vailatti.

“Frequentemente sou indagado acerca do significado do Salmo 139:16. Vez por

outra, as pessoas me perguntam se esse texto bíblico ensina ou não o determinismo.

Creio que tal dúvida se dê principalmente em razão da maneira como algumas bíblias

em português traduzem o verbo hebraico yatsar, presente nessa passagem

escriturística. Traduções bíblicas como a de João Ferreira de Almeida, em sua versão

atualizada (ARA – Almeida, Revista e Atualizada), entre outras, têm contribuído

especialmente para esse tipo de questionamento. Vejamos como o Salmo 139:16

aparece nessa tradução bastante popular entre os cristãos evangélicos brasileiros:

“Os teus olhos me viram a substância ainda informe,

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e no teu livro foram escritos todos os meus dias,

cada um deles escrito e determinado,

quando nem um deles havia ainda”.

Esse mesmo “tom determinista” pode ser encontrado em outras traduções

bíblicas deste mesmo salmo, como, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém (BJ), a Bíblia

Viva (BV) e a Nova Versão Internacional (NVI). Entretanto, devemos nos perguntar:

o verbo hebraico yutstsaru (derivado de yatsar) transmite, de fato, uma ideia

determinista, como propõem alguns, ou ele, na verdade, quer dizer outra coisa?

Buscaremos responder a essa pergunta até o fim do presente artigo. Por ora, vejamos

o que diz o texto hebraico do Salmo 139:16, por nós transliterado de forma

simplificada:

golmi ra’u ‘eneyka

we‘al-sipreka kullam yikkatebu

yamim yutstsaru

welo’ ’ehad bahem

Segue, agora, a nossa tradução literal do Salmo 139:16:

“O meu embrião viram os teus olhos

e no teu livro todas as coisas foram escritas;

dias foram formados

quando nem um deles havia”.

Tendo esses dados como ponto de partida em mãos, entendemos que o Salmo

139:16 não esteja ensinando o determinismo, como pensam alguns, por, pelo menos,

quatro boas razões:

(1) Argumento Linguístico: Segundo a maioria dos dicionários de hebraico, o

verbo “yatsar”, presente no Salmo 139:16, significa “formar, criar”, ou ainda,

“moldar, modelar” (cf. Brown-Driver-Briggs, Davidson, Holladay, Koehler &

Baumgartner, Osburn, Schökel et alii) – significados estes também compartilhados

pela Septuaginta (LXX), como pode-se perceber pelo emprego que esta faz do verbo

grego “plasso” – e não “ser predestinado” (cf. Gesenius). Portanto, entendemos que

traduções bíblicas que vertem o hebraico yatsar como “criadas” (Bíblia Hebraica /

Sêfer), “criados” (Tradução na Linguagem de Hoje), “formadas” (Almeida Revista e

Corrigida) e “formados” (Tradução Ecumênica da Bíblia) refletem o sentido do texto

bíblico com maior precisão. Por outro lado, aquelas que traduzem yatsar como

“fixados” (Bíblia de Jerusalém), “planejado” (Bíblia Viva), “determinado” (Almeida

Revista e Atualizada) e “determinados” (Nova Versão Internacional) parecem impor

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interpretações teológicas ao texto bíblico, não refletindo, assim, o sentido primário

do verbo hebraico em questão.

(2) Argumento Contextual: O Salmo 139, em todo o seu contexto, em

momento algum aborda o tema do “determinismo divino”. Em vez disso, ele

apresenta diversos outros assuntos, os quais podem ser verificados por meio de

termos e expressões que enaltecem a grandeza de Deus. O salmo destaca, pelo

menos, seis atributos/traços divinos em suas linhas:

2.1. Sua Onisciência: “sondaste” (v.1), “entendes” (v.2), “conheces” (vv.1-4) e

“nem ainda as trevas me escondem de ti” (v.12);

2.2. Sua Onipresença: “Cercas o meu andar e o meu deitar” (v.3), “Para onde me

irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se

fizer no Sheol a minha cama, eis que tu ali estás também” (vv.7-8);

2.3. Sua Criação do Homem: “entreteceste-me no ventre de minha mãe [...]”

(v.13b; cf. vv.13-16);

2.4. Seus Pensamentos/Propósitos: “E quão preciosos são para mim, ó Deus, os

teus pensamentos! [...]” (vv.17-18);

2.5. Sua Justiça: “Ó Deus! Tu matarás, decerto, o ímpio! [...]” (vv.19-22);

2.6. Sua Orientação: “Sonda-me [...] e guia-me” (vv.23-24).

(3) Argumento da Não-Contradição Escriturística: A Bíblia, como Palavra

de Deus que é, não pode entrar em contradição consigo mesma. Entretanto, há uma

flagrante contradição nas Escrituras se, por um lado, “todos os meus dias, cada um

deles [foi] escrito e determinado [por Deus]” (ARA – acréscimos meus) e se, por

outro, uma pessoa pode vir a morrer “fora de seu tempo” (Eclesiastes 7:17). Por

conseguinte, se Deus determinou inalteravelmente todos os dias de vida que alguém

viverá, como argumentam alguns, por que a Bíblia ensina então que a vida de uma

pessoa pode ser tanto abreviada (“[...] por que morrerias fora de seu tempo?” – Ec

7:17) quanto prolongada (“[...] para que se prolonguem os teus dias [...]” – Êx 20:12;

“[...] e vivas muito tempo sobre a terra” – Ef 6:2-3)? Em outras palavras, Deus

estabelece a longevidade de um indivíduo de forma condicional ou incondicional?

Tal ato divino leva em consideração a presciência das ações das criaturas ou não? A

decisão divina concernente à durabilidade da vida terrena de um indivíduo é

alterável ou inalterável? Se tal determinismo divino da longevidade de alguém é

incondicional e inalterável, como podemos explicar o prolongamento da vida do rei

Ezequias, que, primeiro, é retratado como tendo os seus “dias contados” (2 Rs 20:1

// Is 38:1), mas que, logo em seguida, recebe um acréscimo de longevidade de quinze

anos (2 Rs 20:6 // Is 38:5)? Que Deus, levando em consideração a Queda,

determinou “a punição consequente do pecado”, isto é, a morte do ser humano, é

simplesmente verdade. Entretanto, que Ele determina de forma incondicional e

inalterável (ou arbitrária) “quando” alguém irá morrer, sem levar em consideração a

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Sua presciência e o Seu conhecimento médio, bem como os Seus demais atributos

divinos, é falso.

(4) Argumento do Paralelismo Sinonímico Hebraico: Sabe-se que uma

das características da poesia hebraica é o paralelismo sinonímico. Nesse tipo de

recurso literário, a segunda parte de um versículo bíblico repete a mesma ideia da

primeira parte com expressões distintas, mas sinônimas. Tendo isso em mente, a

expressão “dias foram formados quando nem um deles havia” (Sl 139:16b) parece

estar compondo um paralelismo sinonímico com “O meu embrião viram os teus

olhos [...]” (Sl 139:16a). Desse modo, a criação do salmista como embrião no útero

materno (v.16a) equivale à formação dos dias de vida do salmista, os quais, antes da

sua criação, evidentemente ainda não existiam. Portanto, a tônica do Salmo 139:16 é

criacionista e não determinista. O que está em vista aqui é a ação maravilhosa de

Deus na criação do salmista e não a discussão sobre a determinação de cada um de

seus anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos de vida terrena.

Por fim, cremos que uma última palavra seja pertinente à presente discussão.

Ainda que admitamos, em nome do debate, que Deus determine, de fato, a duração

de vida de uma pessoa (como Jó 14:5 parece indicar, todavia, sem especificar o

contexto em que isto se dá e de que forma, se condicional ou incondicional, alterável

ou inalterável), disso não se segue necessariamente, contudo, que Deus também

tenha determinado “o que ela fará” em todos esses dias que Ele graciosamente lhe

concedeu. Aliás, tal assunto simplesmente não é objeto de investigação do salmista

no Salmo 139. Portanto, com base nos argumentos acima expostos, concluímos que

o “determinismo divino” não é o tema do Salmo 139:16. Esse versículo, como

buscamos demonstrar em nossa breve reflexão, parece tratar de outra questão

completamente diferente, a saber, o cuidado que o Deus Criador tem dos Seus filhos

e filhas. Como bem declarou C. S. Lewis em sua obra “Lendo os Salmos”, p.95: “[...]

o Salmo 139 (v.13-16) [...] louva a Deus por fazer o embrião crescer no corpo da mãe,

de modo que Deus é ‘nosso enfermeiro mesmo no útero’”.

Unamo-nos, então, ao salmista, e, em uníssono louvemos ao nosso Criador-

Mantenedor que de forma tão graciosa tem cuidado de nós!”

(https://www.facebook.com/arminianismodazueira/posts/1241633205983504)

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE Salmo 139.1-18 (o capítulo possui 24 versículos)

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. - Expor o conceito geral e bíblico do aborto;

II.- Afirmar que o embrião e o feto são seres humanos;

III.- Destacar os tipos e as implicações do aborto.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO Defender o direito à vida do nascituro é a prova do compromisso com a dignidade

do ser humano e a sacralidade da vida.

A vida é santa, É uma dádiva de Deus.

Só se pode defender o aborto quando se perde a dimensão sacra da vida e

compreensão de dignidade humana inerente à sua natureza.

Quando se remove o transcendente, e foca-se somente numa ética materialista, o

embrião é visto apenas como um amontoado de células que pode ser desprezado por

qualquer motivo.

Por isso, urge por aprofundarmos a visão bíblica e sacra da vida afim de que a cultura

da morte, instaurada em nossa sociedade, seja finalmente sufocada.

PONTO CENTRAL

A dignidade hu­mana e o direito à vida são princípios

fundamentais da fé cristã.

I. ABORTO: CONCEITO GERAL E BÍBLICO Aborto é a interrupção da gravidez.

Parte da sociedade o considera como um direito da mulher, mas a Bíblia trata-o

como um crime contra a vida.

1. Conceito geral de aborto.

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A palavra "aborto" é formada por dois vocábulos latinos: "ab" (privação) e "ortus"

(nascimento), que juntos significam a "privação do nascimento".

O substantivo "aborto" é derivado do verbo latino "aborior" (falecer ou sumir),

expressão que indica o contrário de "orior" (nascer ou aparecer).

Assim, conceitualmente, o aborto é a interrupção do nascimento por meio da morte

do embrião ou do feto. Esta interrupção pode ser involuntária ou provocada.

2. O aborto no contento legal.

O código de Hamurabi (1810-1750 a.C.) condenava o aborto.

No alto do monumento, Hamurabi recebe de Shamash, deus dos oráculos, as leis da

equidade da justiça, dispostas em 46 colunas de 3.600 linhas.

Nele estão codificadas as leis de seu tempo, de um reino de cidades unificadas, um

agrupamento de disposições casuísticas, de ordem civil, penal e administrativa.

Determinava penas para as infrações, baseadas na lei de talião: olho por olho, dente

por dente, sangue por sangue, carne por carne e da ordália (julgamento divino).

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No código de Napoleão (1769-1821) era crime hediondo.

O Código Civil Francês (originalmente chamado de Code Civil, ou código civil e,

posteriormente, chamado de Code Napoléon, ou Código Napoleônico) foi o código

civil francês outorgado por Napoleão Bonaparte e que entrou em vigor 21 de março

de 1804.

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No Código Criminal do Império no Brasil (1830) era proibido.

Hoje, a Legislação brasileira permite apenas nos casos de risco de morte à mulher,

estupro e anencefalia.

Nos demais casos o aborto ainda é crime (Art. 124, CP).

No entanto, no Congresso Nacional, Projetos de Lei tramitam com a proposta de

Legalizá-lo em qualquer caso.

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3. Conceito bíblico de aborto.

Na lei mosaica, provocar a interrupção da gravidez de uma mulher era tratado como

ato criminoso (Êx 21.22-23).

No sexto mandamento, o homem foi proibido de matar (Êx 20.13), que significa

literalmente "não assassinar".

Os intérpretes do Decálogo concordam que o aborto está incluso neste mandamento.

Assim, quem mata o embrião, ou o feto, peca contra Deus e contra o próximo.

4. O aborto na história da Igreja.

"O ensino dos dez apóstolos" (século I), chamado de Didaquê, condena o aborto:

"Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recém-nascido" (Didaquê

2,2).

O apologista Tertuliano (150-220) ensinou que a morte de um embrião tem a mesma

gravidade do assassinato de uma pessoa já nascida e que impedir o nascimento é um

homicídio antecipado.

O polemista Agostinho (354-430) e o teólogo Tomás de Aquino (1225-1274)

consideravam pecado grave interromper a gestação e o desenvolvimento da vida

humana.

SÍNTESE DO TÓPICO (I) O aborto é a interrupção, involuntária ou provocada, do

embrião ou do feto.

SUBSÍDIO LEXOGRÁFICO

O aborto é conhecido também como feiticídio, definido por Houais como o 'crime

no qual, através do aborto provocado, ocorre a morte do feto que se presume com

a vida'. Se nos dermos ao trabalho de examinar a etimologia do vocábulo 'feto',

constataremos que o aborto é um crime não somente hediondo, mas

tremendamente covarde.

No latim, a palavra fetus significa pequenino.

O Dicionário Latino-Português de F. R. dos Santos Saraiva define a palavra

simplesmente como filho no ventre.

O teólogo americano Willian Lane Craig aprofunda-se no significado do termo:

'Assim, como eu digo, parece virtualmente inegável que o feto - que é apenas a

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palavra Latina referente a 'pequenino' - é um ser humano nos primeiros estágios

do seu desenvolvimento.

Seja um 'pequeno', um recém-nascido, um adolescente ou um adulto, ele é, em

cada período, um ser humano nos diferentes estágios do seu desenvolvimento'.

(ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã, 1.ed. Rio

de Janeiro: CPAD, 2017, pp.53,54).

II. O EMBRIÃO E O FETO SÃO UM SER

HUMANO

Fecundação, embrião e feto são os nomes das três etapas da gestação.

1. Quando começa a vida?

Muitos cientistas concordam que a vida tem início na fecundação, quando o

espermatozoide e o óvulo se fundem gerando uma nova célula chamada "zigoto".

Outros defendem que a vida inicia com a fixação do óvulo fecundado no útero, onde

recebe o nome de embrião - período entre o 7° e o 10° dia de gestação.

Outros apontam o começo da vida por volta do 14° dia quando ocorre a formação do

sistema nervoso.

Tem ainda os que indicam o começo da vida quando o feto tem condições de se

desenvolver fora do útero por volta da 25a semana de gestação.

E também os que defendem a ideia de que a vida só se inicia por ocasião do

nascimento do bebé.

2. O que diz a Bíblia?

Como as respostas humanas têm sido controversas, o cristão deve buscar a verdade

na revelação divina.

A Palavra de Deus ensina que a vida inicia na fecundação (Jr 1.5).

O rei Davi descreve sua existência como ser vivo desde o início da concepção: "Os

teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu Livro todas estas coisas foram

escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas

havia" (SI 139-16).

Por conseguinte, de acordo com as Escrituras, a vida começa quando ocorre a união

do gameta masculino ao feminino.

Esta nova célula é um ser humano e possui identidade própria.

3. Qual a posição da Igreja?

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Apoiada nas Escrituras, a Igreja de Cristo defende a dignidade humana desde a

concepção.

Ensina que a vida humana é sagrada e não pode ser violada pelo homem (1Sm 2.6).

Que toda ideologia que seculariza os princípios bíblicos deve ser combatida (2 Tm

3.8).

Sabiamente, a posição oficial das Assembleias de Deus no Brasil foi assim exarada:

"A CGADB [Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil] é contrária a essa

medida [aborto], por resultar numa licença ao direito de matar seres humanos

indefesos, na sacralidade do útero materno, em qualquer fase da gestação, por ser

um atentado contra o direito natural à vida" (Carta de Brasília, 41a AGO, 2013).

SÍNTESE DO TÓPICO (II) Segundo a Bíblia, e conforme a tradição da Igreja Cristã, a

vida humana se inicia na concepção.

SUBSÍDIO DIDÁTICO

Caro professor, professora, é importante que você informe aos alunos sobre um

documento importante de nossa denominação no Brasil: Carta de O documento

foi promulgado no dia 12 de abril por ocasião do encerramento da 41ª Assembleia

Geral da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, e traz uma série de

questões polémicas respondidas pela denominação.

Este é o trecho do documento que abordou o aborto: O anteprojeto do Novo

Código Penal Brasileiro prevê a descriminalização do aborto, banalizando a

destruição de seres humanos no ventre materno. É uma terrível agressão ao

direito natural à vida. Esse anteprojeto prevê, em seu Artigo 128: Não há crime

de aborto [...] até a 12ª semana da gestação, quando o médico ou psicólogo

constatar que a mulher não apresenta condições de arcar com a maternidade,

O documento conclui a posição das Assembleias de Deus, deixar qualquer

margem à dúvida: A CGADB é contrária a. essa medida, por resultar numa

licença ao direito de matar seres humanos indefesos, na sacralidade do útero

materno, em qualquer da gestação, por ser um atentado contra o direito natural

à vida. A Palavra de Deus diz:... e não matarás o inocente (Êx 23.7)"

(ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã, 1.ed. Rio

de Janeiro: CPAD, 2017, p.59).

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CONHEÇA MAIS

A vida começa na concepção

"A Bíblia nos informa sobre a origem da vida. Diz o Gênesis: 'E formou o Senhor

Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o

homem foi feito alma vivente' (Gn 2.7).

Depois que o homem estava formado, pelo processo especial da combinação das

substâncias que há na terra, o Criador lhe soprou o fôlego da vida, dando início,

assim, à vida humana.

Entendemos, com base nesse fato, que, cada ser que é formado, a partir da

fecundação, o sopro de vida lhe é assegurado pela lei biológica estabelecida por

Deus."

Para conhecer mais leia "Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais

de Nosso Tempo", CPAD, p.44.

III. TIPOS DE ABORTOS E SUAS

IMPLICAÇÕES ÉTICAS

A legislação brasileira autoriza a interrupção da gravidez em três casos somente.

Neste tópico apresentamos as principais implicações éticas para estes tipos de

aborto.

1. Aborto de Anencéfalo.

Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) legalizou a interrupção da gravidez

de feto anencéfalo (má-formação rara do tubo neural).

A principal implicação ética desta decisão está no descarte de um ser humano por

apresentar uma má formação cerebral.

Trata-se de uma ideologia racista chamada "eugenia" que defende a sobrevivência

apenas dos seres saudáveis e fortes.

Uma nítida incoerência de quem defende os direitos humanos e ao mesmo tempo

age de modo discriminatório.

Neste quesito enfatizam as Escrituras: para com Deus, não há acepção de pessoas

(Rm 2.11).

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2. Aborto em caso de estupro.

Como não é necessária a comprovação do crime de estupro e nem autorização

judicial para o aborto, a lei é permissiva e complacente com a interrupção da

gravidez sob a alegação de estupro sem que ele tenha ocorrido.

Assim, discute-se a inviolabilidade do direito à vida do nascituro (Art. 5°, CF e

Art. 2° do CC).

Outra questão ética relaciona--se ao fato de que um crime não pode justificar

outro crime. Para os cristãos o ensino bíblico é claro: "Não te deixes vencer do

mal, mas vence o mal com o bem" (Rm 12.21).

3. Aborto Terapêutico.

Procura-se justificar clinicamente esta ação sob a alegação de que a vida de um

adulto tem maior valor que a de um ser em gestação.

Daí surge questões éticas quanto à valoração da vida humana.

Uma pessoa merece viver e outra não?

Tertuliano, em sua obra Apologeticum (197), ensinava que não existe diferença

entre uma pessoa que já tenha nascido e um ser em gestação.

Outra questão é acerca do poder sobre a existência.

Podemos decidir quem deve viver ou morrer?

Não afirmam as Escrituras que a vida e a morte são, unicamente, da alçada divina?

(1Sm 2.6; Fp 1.21-24).

Neste caso específico, ajamos com sabedoria, prudência e critério, nunca nos

esquecendo da sacralidade da vida humana.

SÍNTESE DO TÓPICO (III)

Aborto terapêutico, aborto em caso de estupro e aborto

anencéfalo são os previstos na lei brasileira.

SUBSÍDIO ÉTICO-TEOLÓGICO

Em face dos avanços médicos e científicos, a igreja posiciona-se favoravelmente

às técnicas reprodutivas que não atentam contra a pureza da relação sexual

monogâmica, desde que a fertilização (processo no qual tem início a vida humana)

ocorra no interior do corpo da mulher e os gametas utilizados pertençam ao

próprio casal.

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As técnicas em que a fertilização ocorre fora do corpo da mulher, com a respectiva

manipulação do embrião, são condenáveis por desrespeitarem o processo de

fecundação natural que deve ocorrer no interior do ventre materno.

Além de esses procedimentos exporem os embriões ao risco de serem

descartados, criopreservados ou utilizados em experimentos, podem possibilitar

a comercialização de corpos e de almas, atitude essa escatologicamente prevista e

condenada nas Escrituras.

Condenamos as técnicas reprodutivas que requerem o descarte de embriões e

doação. Rejeitamos a maternidade de substituição, mediante a qual se doa

temporariamente o útero, por ferir a pureza monogâmica.

Não admitimos a reprodução post-mortem em virtude de cessação do vínculo

matrimonial: 'A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo em que o seu

marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre para casar com quem

quiser, contanto que seja no Senhor'"

(Declaração de Fé das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro: CPAO, 2017,

p.206)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A valorização da dignidade humana, o direito à vida e o cuidado à pessoa vulnerável

são princípios e doutrinas imutáveis do Cristianismo.

Em uma sociedade secularizada o cristão precisa tomar cuidado com relativismo e

estar alerta quanto às ações de manipulação de sua consciência e o desrespeito à vida

humana (1Tm 4.1,2).