etéreo enquanto dure

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O novo corte, mais passional. Ele trabalha com o que há de mais íntimo de cada personagem. Um filme que não passa sem despertar sensações, nem que sejam tristeza e angústia. Mas o tema da paixão já está mais do que desgastado. Até por ser bastante amplo. E, no caso, não se trata da paixão como um todo, mas do que há de familiar entre as tramas. Para construir essa sugestão de nome, fomos pinçar na paixão algo menos abrangente, específico aos casos apresentados. A partir daí, refinamos em um novo conceito. Como boas paixões, dançam ao sabor do fogo. Platônicas ou recíprocas, o fato em comum é que todas se extinguem. Mas não que nunca chegue a acontecer, afinal há os momentos intensos da Justine capazes de tornar real até a maior das ilusões; como se fosse possível matar a sede com água de miragem. É esse fogo que tudo consome, deixa o rastro de sua destruição e depois some. Esse contraponto entre intensidade e fragilidade é como tango sobre gelo: a única certeza é de que não vai terminar bem; ainda assim, quem seria são para recusar essa dança? Quem troca um “não foi” por um “poderia ter sido”? E assim se dá a tônica do filme: no último cruzamento da principal avenida do país, o sinal amarelo está aceso para os dois lados. Existe uma palavra que consolida essa tensão que vem do conflito entre a intensidade e a fragilidade: ETÉREO. Etéreo é aquilo que é imaterial, que é rarefeito, que facilmente se desfaz. É aquilo que talvez você nem veja, mas está lá; se vir, não conseguirá tocar; e se por ventura puder tocar, certamente não poderá agarrar e impensável seria tentar controlar.

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Divagações sobre o tema...

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O novo corte, mais passional. Ele trabalha com o que há de mais íntimo de cada personagem. Um filme que não passa sem despertar sensações, nem que sejam tristeza e angústia.

Mas o tema da paixão já está mais do que desgastado. Até por ser bastante amplo. E, no caso, não se trata da paixão como um todo, mas do que há de familiar entre as tramas.

Para construir essa sugestão de nome, fomos pinçar na paixão algo menos abrangente, específico aos casos apresentados. A partir daí, refinamos em um novo conceito.

Como boas paixões, dançam ao sabor do fogo. Platônicas ou recíprocas, o fato em comum é que todas se extinguem.

Mas não que nunca chegue a acontecer, afinal há os momentos intensos da Justine capazes de tornar real até a maior das ilusões; como se fosse possível matar a sede com água de miragem. É esse fogo que tudo consome, deixa o rastro de sua destruição e depois some.

Esse contraponto entre intensidade e fragilidade é como tango sobre gelo: a única certeza é de que não vai terminar bem; ainda assim, quem seria são para recusar essa dança? Quem troca um “não foi” por um “poderia ter sido”?

E assim se dá a tônica do filme: no último cruzamento da principal avenida do país, o sinal amarelo está aceso para os dois lados.

Existe uma palavra que consolida essa tensão que vem do conflito entre a intensidade e a fragilidade: ETÉREO. Etéreo é aquilo que é imaterial, que é rarefeito, que facilmente se desfaz. É aquilo que talvez você nem veja, mas está lá; se vir, não conseguirá tocar; e se por ventura puder tocar, certamente não poderá agarrar e impensável seria tentar controlar.

Etéreo vem do éter, elemento proposto por Aristóteles como sendo a quinta-essência (depois dos quatro elementos básicos); uma espécie de substância quase imaterial que permearia tudo e impediria os corpos celestes de caírem sobre a Terra. O conceito tornou o termo “quintessência” sinônimo de algo extremamente refinado, reduzido à sua essência básica.

Mas para os não-iniciados em filosofia ou física, o termo deve causar um certo estranhamento. Então, para compensar a estranheza inicial, o nome ganha um complemento: ENQUANTO DURE, fazendo referência ao célebre trecho do Soneto da Fidelidade de Vinicius de Morais, considerado por muitos como a mais precisa ode à paixão.

Desta forma, ao passo que a primeira impressão causará familiaridade, a adição de um acento e a troca de um N por um E causará uma sensação de algo fora do lugar. Será natural que se deposite uma quantidade maior de atenção sobre o título, o que deverá levar a um início de reflexão. O título, desta forma, não apenas contém a essência do corte como também pode servir como um teaser para os mais atentos.

A partir daí, podemos construir os esforços de divulgação sobre a égide do momento etéreo, daquilo que passa rapidamente e que transforma toda a situação ao seu redor, tal como um semáforo no exato momento em que fica amarelo.