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Etec Trajano Camargo: um histórico profa. Marlene Aparecida Guiselini Benedetti Trajano de Barros Camargo Cópia xerográfica da foto original - Phot. Wollsack, São Paulo, 10/02/1914 Acervo do Centro de Memória da Etec Trajano Camargo O Dr. Trajano de Barros Camargo é o patrono da escola. Nasceu no dia 15 de março de 1890, sexto filho do Cel. Flamínio Ferreira de Camargo e de D. Cândida Virgínia de Barros, membros de tradicionais famílias limeirenses. Depois de frequentar por algum tempo as aulas do curso primário do Collegio Buarque e do Seminario Episcopal, entrou para a Escola Americana, onde fez o seu curso secundário, transpondo, com notas distinctas os humbraes da Escola de Engenharia, do Mackenzie College de São Paulo. (O VAGALUME, 1930) Diplomou-se aos 19 anos, em 1909. No início do ano seguinte, ingressou na University of Wisconsin, na cidade de Madison (WI), para fazer um curso de

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Page 1: Etec Trajano Camargo: um histórico · Etec Trajano Camargo: um histórico ... ao falecimento de seu pai. ... dentista Abelardo Aguiar de Souza e Antonio Augusto de Barros Penteado,

   

Etec Trajano Camargo: um histórico

profa. Marlene Aparecida Guiselini Benedetti

Trajano de Barros Camargo Cópia xerográfica da foto original - Phot. Wollsack, São Paulo, 10/02/1914

Acervo do Centro de Memória da Etec Trajano Camargo

O Dr. Trajano de Barros Camargo é o patrono da escola. Nasceu no dia 15

de março de 1890, sexto filho do Cel. Flamínio Ferreira de Camargo e de D. Cândida

Virgínia de Barros, membros de tradicionais famílias limeirenses.

Depois de frequentar por algum tempo as aulas do curso primário do Collegio Buarque e do Seminario Episcopal, entrou para a Escola Americana, onde fez o seu curso secundário, transpondo, com notas distinctas os humbraes da Escola de Engenharia, do Mackenzie College de São Paulo. (O VAGALUME, 1930)

Diplomou-se aos 19 anos, em 1909. No início do ano seguinte, ingressou na

University of Wisconsin, na cidade de Madison (WI), para fazer um curso de

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especialização em mecânica industrial. Não concluiu os estudos, regressou devido

ao falecimento de seu pai.

A partir de 1911, dedicou-se ao comércio e à indústria de madeira no

povoado chamado Faxina de Itapeva, hoje cidade de Itapeva. Lecionou matemática

na Escola Agrícola de Piracicaba, mais tarde denominada, Escola Superior de

Agricultura Luiz de Queiroz. Nessa cidade conheceu a professora Maria Thereza

Silveira Mello. O casamento aconteceu, no dia 10 de fevereiro de 1914, no Rio de

Janeiro, onde residia o Dr. Silveira Mello, pai da noiva.

Trajano Camargo, no dia 30 de janeiro de 1914, constituiu com dois sócios, o

dentista Abelardo Aguiar de Souza e Antonio Augusto de Barros Penteado, seu

cunhado, a empresa “Souza Penteado & Cia”, para a produção de máquinas de

beneficiamento de café. Em 1917, com a saída do primeiro sócio, a indústria, já com

a denominação de “B. Penteado & Cia” foi transferida de Piracicaba para Limeira. No

início dos anos de 1920, o Dr. Trajano concebeu o primeiro descascador de café por

impacto do Brasil. A criação foi significativa para a indústria nacional, o que lhe deu

um importante prêmio na Exposição Internacional do Rio de Janeiro1.

Na década de 1920, foi grande o crescimento da empresa, agora denominada

Machina São Paulo, atraindo profissionais de cidades vizinhas. No seu apogeu,

chegou a ter mais de 600 empregados. Alguns deles, com o estímulo do patrão,

fundaram, mais tarde, oficinas e fábricas do ramo mecânico-metalúrgico. Para os

filhos dos funcionários, maiores de 12 anos, a Machina São Paulo ofereceu na

própria fábrica cursos de carpintaria e de montagem de máquinas. Os aprendizes

produziam e aumentavam a renda familiar. A sociedade com Antonio Augusto de B.

Penteado foi desfeita2.

A Machina São Paulo, antes mesmo da legislação trabalhista expressa na

Constituição Federal de 1934, concedeu benefícios a seus empregados, tais como

                                                                                                                         1 Exposição realizada para celebrar o centenário da independência, no Rio de Janeiro, capital federal. Foi aberta oficialmente, na tarde de 07 de setembro de 1922 e encerrada na primeira semana de julho de 1923. Tinha como objetivo “incentivar o intercâmbio commercial com as nações amigas, como Inglaterra, Estados Unidos, França, Itália e outras. (100 ANOS DA REPÜBLICA. Volume III, p.21) 2 Dr. Trajano era sócio e um dos fundadores da firma B. Penteado & Companhia. Por ser tratado por muitos fregueses como Penteado, optou por assinar Trajano B. Camargo Penteado. É como consta da averbação judicialmente autorizada em 07 de fevereiro de 1927 (Certidão de Nascimento em Inteiro Teor, cópia do original, 28/05/2007).

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férias, assistência médica familiar, participação nos lucros, incentivos à evolução de

carreira e gratificação conforme o desempenho. Para os seus encarregados, os

contramestres, o Dr. Trajano mandou construir quarenta e oito pequenas casas na

Villa São Paulo, uma quadra delimitada pelas ruas Tiradentes, Humaitá, Carlos

Gomes e uma rua sem nome (hoje Tenente Belizário). Com o mesmo propósito,

adquiriu onze casas pequenas na Villa Sant’Anna, na quadra delimitada pelas ruas

Visconde do Rio Branco, Alferes Franco, 1º de Março (atual Presidente Roosevelt) e

Humaitá. Estimulou a transferência, em 1923, de Descalvado para Limeira, do

Colégio Santo Antônio, escola de instrução primária e secundária, sob a direção

geral do professor Antonio de Queiroz, seu colega de estudos no Mackenzie

College.

Foi vereador, vice presidente e presidente da Câmara Municipal de Limeira,

em 1922.

Faleceu em Limeira no dia 8 de abril de 1930, vítima da moléstia de Hodgkin,

aos 40 anos de idade. Deixou viúva a Sra. Maria Thereza Silveira de Barros

Camargo e sete filhos menores: Nelson, Flávio, Renato, Flamínio, Trajano, Prudente

e Maria Thereza. Era visto por seus conterrâneos como um homem bom, caridoso,

modesto, simples, de grande valor e cultura, um homem sem vaidade e sem orgulho

que amou o estudo, o trabalho e os pobres.

Maria Thereza Silveira de Barros Camargo  

Maria Thereza Silveira Mello nasceu, em 12 de novembro de 1894, em

Piracicaba, filha de D. Maria Amélia de Morais Silveira e do Dr. João Baptista da

Silveira Mello, primeira neta de Prudente de Morais, terceiro Presidente da

República, o primeiro eleito por voto direto (1894-1898). Cursou a escola normal e

se formou professora. Em 1914, casou-se, no Rio de Janeiro, com Trajano de Barros

Camargo, engenheiro, descendente dos antigos povoadores de Limeira. A música

era um dos interesses que partilhavam, ela tocava piano e ele flauta. Tiveram nove

filhos sendo que dois meninos faleceram com pouca idade. Em abril de 1930, ficou

viúva. Assumiu os negócios do marido e iniciou a carreira política. Foi presidente do

diretório do Partido Constitucionalista, em 1931, participou do esforço dos

revolucionários paulistas de 1932. Nomeada em 5 de julho de 1934 para o cargo de

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prefeito pelo interventor Armando de Salles Olivei se tornou a primeira prefeita do

Estado de S. Paulo e uma das primeiras do Brasil. A posse ocorreu no dia 19 de

julho. “Em pouco tempo, sua atuação na Prefeitura revolucionou a política local, que

durante anos, foi dominada pelo Partido Republicano Paulista” (SHUMAHER e

BRAZIL, p. 411).

Em 05 de setembro de 1934, pelo Ato Municipal nº 39, D. Maria Thereza

Silveira de Barros Camargo criou a Escola Profissional Primária Municipal de Limeira

que, com o nome de Escola Profissional Mixta “Dr. Trajano Camargo”, funcionou em

prédio da família, de 1935 a 1939, quando foi extinta. Em atendimento às

solicitações da população e da prefeita, o Decreto nº 6.708, de 28 de setembro de

1934, criou o 2º Grupo Escolar de Limeira em

terreno da prefeitura municipal e com recursos

próprios de D. Maria Thereza, posteriormente,

reembolsada pelo Estado. A escola foi

inaugurada no dia 7 de maio de 1939 e, dois

anos depois, passou a se chamar Grupo

Escolar “Brasil”.

Em 1935, foi eleita deputada estadual pelo

Partido Constitucionalista. Em um

pronunciamento, nesse mesmo ano, defendeu

o desenvolvimento da sericicultura no Estado

de São Paulo, posto que a indústria da seda

poderia gerar uma grande fonte de renda e, apresentou “projeto de lei autorizando o

governo do estado de São Paulo a receber, em doação, terreno oferecido pela

prefeitura de Limeira para a instalação de uma estação sericícola experimental”

(ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE S. PAULO, p. 5).

Com o falecimento do Dr. Trajano, ela, Maria Thereza, assumiu a empresa,

juntamente com o filho Nelson, de 15 anos de idade. A Machina S. Paulo, como é

conhecida, apesar de outras denominações, em cerca de 50 anos de existência,

além das máquinas de café, fabricou uma variedade de produtos como

descascadores de milho, arroz, mandioca; material bélico (corpos de granadas de

mão, munição para canhão); máquina para a indústria têxtil; botijão de gás. A

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indústria abalada por um conjunto de fatores – crise de 1929, Revolução

Constitucionalista de 1932, 2ª Guerra Mundial e decisões governamentais, teve que

encerrar suas atividades. No início da década de 1960, foi vendida para a Mercedes

Benz e suas atividades industriais foram encerradas.

Quando a Escola Industrial Trajano Camargo começou a funcionar em 1953,

D. Maria Thereza esteve presente na aula inaugural e nas primeiras formaturas,

como homenageada e convidada.

Morreu com 80 anos, no dia 29 de julho de1975, em S. Paulo. Está enterrada

no Cemitério Municipal de Limeira, no túmulo da família.

Era uma mulher de fibra e batalhadora, que muitos serviços prestou a seus

funcionários e à Limeira. Maria Thereza Silveira de Barros Camargo é o nome da

avenida que nasce no final da Rua Dr. Trajano e dá nome a uma escola pública

municipal de educação infantil e ensino fundamental (EMEIEF), localizada na Vila

Queiroz.

A instituição escolar

Desde sua fundação, em 1953, a escola Trajano Camargo ofereceu diferentes

cursos e graus de ensino e recebendo nomes variados: Escola Industrial (E.I.,

dez.1944-fev.1965), Ginásio Industrial Estadual (G.I.E., dez.1965-fev.1975), Centro

Estadual Interescolar (C.E.I., fev.1975-fev.1980), Escola Estadual de 2º grau (EESG,

fev.1980-fev.1982), Escola Estadual de 1º e 2º grau (EEPSG, fev.1982-dez.1990),

Escola Técnica Estadual de Segundo Grau (ETESG, dez.1990-maio1994). A partir

de 1º de janeiro de 1992, pelo Decreto nº 34.032 de 22/10/1991 (DOE de 23/10/91),

foi transferida da Secretaria da Educação para a Secretaria de Ciência, Tecnologia e

Desenvolvimento Econômico. O Decreto nº 37.735 de 27/10/93 (DOE 28/10/93)

autorizou sua transferência e de todas as escolas técnicas estaduais para o Centro

Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (1º de janeiro de 1994). Recebeu

então as denominações de Escola Técnica Estadual (ETE, maio 1994-2007) e de

Escola técnica (Etec).

Nesses 64 anos de existência, foram diretores: prof. Creso Assumpção

Coimbra (1953-1965); prof. Manoel da Silva (1965-1971); prof. Cyríaco Antônio

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Hespanhol (1971-1973); prof. Fernando Dário (1973-1975); prof. Arnaldo Luiz de

Gaspari (1976-1992); profa. Márcia Della Coletta Sillman (1992-1993); prof. José

Henrique Heydman Júnior (1993); Clara Viana Cacci e José Vitório Sacilotto (1994);

profa. Neusa Bertim de Campos (1994-2004); Edilze Bonavita M. Mendes (2004);

prof. José Henrique Heydman Jr. (2004-2012) e prof. Diogenes Nielsen Jr. (de 2012

até hoje).

1. A origem

Em 1909, o Presidente da República Nilo Peçanha criou, em cada uma das

capitais dos estados, uma escola de aprendizes artífices, destinada a ministrar o

ensino profissional primário gratuito para os “desfavorecidos da fortuna”. O decreto,

na linguagem saborosa da época, nas considerações iniciais, afirmava:

“que o aumento constante da população das cidades exige que se facilite às classes proletárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentes da luta pela existência e que para isso se torna necessário, não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e profissional, como fazê-los adquirir valiosos hábitos de trabalho profícuo que os afastará da ociosidade ignorante, escola do vício e do crime” (FONSECA, v.1, p. 147).

No estado de São Paulo foram instaladas duas escolas na capital, a Escola

Profissional Feminina (atual Etec Carlos de Campos) e a Escola Profissional

Masculina (hoje Etec Getúlio Vargas) e uma na cidade de Amparo, o Liceu de Artes

e Ofícios (atual Etec João Belarmino). Posteriormente, o Dr. Armando de Salles

Oliveira, interventor federal no estado de São Paulo (1933-35), imprimiu maior

impulso ao ensino dos ofícios ao criar cursos ferroviários e núcleos de ensino

profissional em Rio Claro, Jundiaí, Campinas, Bauru, Pindamonhangaba, São Paulo

e Cachoeira. Estabeleceu também um regime de cooperação entre o Estado e as

municipalidades. Limeira, em visível processo de industrialização, com D. Maria

Thereza Silveira Mello de Barros Camargo, no cargo de prefeito, criou uma escola

profissional pelo Ato Municipal 39 de 05 de setembro e 1934.

A Escola Profissional Mixta Primária de Limeira, posteriormente, denominada

Escola Profissional Mixta “Dr. Trajano Camargo” (1934-1939), ocupou um sobrado,

pertencente ao espólio do Dr. Trajano, localizado à Rua Barão de Cascalho, nº 25,

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esquina com a Rua Tiradentes, próximo à estação ferroviária. As primeiras

máquinas foram doadas pela Machina S. Paulo que recebia alunos para as aulas

práticas. Era uma escola primária profissional mantida até 1938 pela prefeitura

municipal. No período da tarde, diariamente, inclusive aos sábados, oferecia os

cursos de marcenaria e mecânica (masculino) e de corte e confecções (feminino),

com a duração de dois anos (ou três, conforme depoentes) e se destinavam aos

concluintes do grupo primário, maiores de doze anos. À noite, três vezes na semana

(2ª, 4ª e 6ª feira), eram formadas turmas de corte e confecções, desenho técnico

profissional e alfabetização para menores e adultos.

Relatos na imprensa escrita evidenciam que a escola teve participação efetiva

na comunidade.

Sua instalação é precária em virtude do seu tipo, que não comporta grande montagem ou instalação, É de se notar, entretanto, que a Escola, desde o seu início, obteve uma produção de 21:000$000 [vinte e um contos de réis], aproximadamente.[...] a escola proporcionou educação profissional, concedendo certificado de conclusão do curso profissional primário a 91 alunos de ambos os sexos, em suas diversas secções, e alfabetização de 200 alunos, neste curto lapso de tempo. (REVISTA COMEMORATIVA DA 1a. FESTA DA LARANJA, . 28)

Apesar dos resultados, o decreto nº 9.422, de 17 de agosto de 1938,

transferiu para o Estado os encargos da escola profissional e fixou sua extinção para

1939. Assim, Limeira ficou sem a sua escola profissional primária, sem a pretendida

escola profissional secundária e sem a prometida escola profissional agrícola e

industrial.

Portanto, a origem da Etec Trajano Camargo encontra-se na Escola

Profissional Mixta Primária de Limeira, dos anos de 1930.

2. A escola industrial

Anos depois, o Decreto-lei nº 14.385, de 19 de dezembro de 1944, criou uma

escola, sob a denominação de Escola Industrial “Trajano Camargo”, subordinada à

Superintendência do Ensino Profissional da Secretaria da Educação e Saúde

Pública, inicialmente com os cursos de mecânica de máquinas, fundição e máquinas

e instalações elétricas. Sua organização e regime deveriam obedecer aos fixados

pela Lei Orgânica do Ensino Industrial - Decreto-Lei Federal nº 4.073 de 20 de

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janeiro de 1942. A Prefeitura Municipal de Limeira doou à Fazenda do Estado de

São Paulo (abril de 1946), um terreno com 5.760 m2 para a construção do prédio. As

obras estiveram paralisadas durante anos, à espera de liberação de verbas. Em

1953, apenas o prédio dos fundos estava pronto para acolher alunos, professores e

funcionários. No período diurno (manhã e tarde) ofereceu o curso industrial básico

de mecânica de máquinas. O currículo era composto por disciplinas de cultura geral,

de cultura técnica e por práticas educativas. Ao final de quatro anos, os alunos

recebiam um diploma de artífice na sua especialidade. A primeira turma com quinze

rapazes se diplomou em dezembro de 1956. No noturno, funcionou o curso

extraordinário de torneiro mecânico, ajustador mecânico, desenho técnico mecânico

e desenho de plantas. Os alunos cursavam menos disciplinas do que os do diurno.

Após três anos de estudos, receberam um certificado. A primeira turma de

concluintes das duas primeiras secções – torneiro e ajustador mecânico, ocorreu em

dezembro de 1955 e a de desenho técnico mecânico em 1957.

Tanto no diurno como no noturno, o abandono da escola era grande,

basicamente, pela necessidade de trabalhar (a lei permitia o trabalho para os

maiores de 14 anos), pelas dificuldades de aprendizagem, acrescidas, no noturno,

pela de conciliar escola-trabalho-família e, às vezes, serviço militar. Nesse tempo, a

Escola Industrial Trajano Camargo era uma instituição essencialmente masculina

por seus alunos, mestres, professores e funcionários - diretor, contador, almoxarife,

escriturário e serventes. Do sexo feminino, só a atendente e as professoras de

português, ciências físicas e naturais, geografia do Brasil e história do Brasil.

Com o prédio da frente finalizado, mas não inteiramente concluído, no início

de 1960, entrou em funcionamento o curso feminino. As candidatas prestavam o

exame de admissão e, sendo aprovadas, iniciavam um curso novo na cidade que

mesclava matérias tradicionais com as voltadas à administração do lar, aos

trabalhos manuais (corte e costura, flores e bordados) e às práticas de cozinha. Era

o curso ginasial industrial, secção corte e costura, em período integral.

As disciplinas de cultura geral (português, matemática, ciências, geografia ou

história, inglês) e as práticas educativas (educação física e canto) eram anuais e

comuns aos cursos masculino e feminino. As aulas de educação física para os

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meninos era ministrada por professores e, para as meninas, por professoras. Mas,

nas aulas de canto, as turmas se juntavam.

A promoção, nas disciplinas de cultura geral e de cultura técnica, levava em

conta as notas bimestrais e os exames, que variavam de zero a cem, e a frequência

mínima de 75%. Essa era essencial para a aprovação em canto e educação física. A

nota final era a média aritmética das notas de cultura geral e de cultura técnica. Os

estudantes que, por frequência insuficiente e/ou nota não atingissem a média 50,

podiam fazer o exame de 2ª época, em até três matérias, em fevereiro do ano

seguinte. “Conservado” era a nomenclatura para aqueles que não alcançaram a média cinco em quatro ou mais disciplinas.

A quadra de esportes, construída no início dos anos de 1960, com piso de

ladrilho antiderrapante, foi uma realização conjunta de professores, funcionários e

alunos, coordenados pelo professor de educação física, Júlio Américo Barbugli

Abbade3, com a venda de muitos e muitos números de rifa. Os prêmios foram: carro

Dauphine (1º), aparelho de televisão (2º), rádio vitrola (3º) e bicicleta (4º).

No início dos anos 1960, o busto do Dr. Trajano sobre uma coluna de granito

foi trasladado do pátio da Machina S. Paulo para o jardim externo do prédio escolar.

3. As habilitações profissionais de 2o grau

As pesquisas anteriores narraram recortes temporais da história da escola

Trajano Camargo enquanto ginásio estadual, com turmas da 5a. a 8a. série ginasial,

nas décadas de 1950 e 1960. Mudanças ocorreram, na década de 1970 com a

criação das habilitações profissionais de 2º grau. Assim é que, no Ginásio Industrial

Estadual Trajano Camargo de Limeira, em 1974, foi autorizada a abertura de uma

classe de 1ª série do 2º grau do curso técnico em Metalurgia. No ano seguinte,

foram autorizadas as habilitações profissionais de 2o grau, de técnico em

Eletromecânica, Economia Doméstica e Desenhista de Ferramentas e Dispositivos

(DFD). Em 1976, com o nome de Centro Estadual Interescolar Trajano Camargo                                                                                                                          3 Na homenagem que lhe foi prestada durante a comemoração dos 63 anos da escola, o prof. Júlio Abbade descerrou, no palco do auditório, a placa da quadra esportiva com seu nome. Como foi dito na sessão, “O nome do prof. Júlio Américo Barbugli Abbade que, um dia, esteve gravado em placa da quadra esportiva, volta para o lugar que conquistou em 27 anos de intenso trabalho na escola Trajano Camargo, de onde diz ter muitas saudades.”

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recebeu o curso de Nutrição e Dietética, como a 5ª habilitação, o de Decoração

(1977) e o de Mecânica (1978). As habilitações profissionais parciais ou plenas,

eram oferecidas nos turnos diurno e/ou noturno.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 5.692, de 11 de

agosto de 1971, fixava para o ensino de 2º grau, na parte de educação geral, as

áreas de estudo do núcleo comum - comunicação e expressão, estudos sociais e

ciências. Em cada uma delas, elencava as disciplinas, a distribuição pelas três ou

quatro séries e o número de aulas semanais. A parte de formação especial era

composta por matérias e disciplinas específicas de cada habilitação técnica. A LDB

tornava obrigatória nos currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus a

inclusão de educação física, educação artística, educação moral e cívica e

programas de saúde. O ensino religioso, de matrícula facultativa para os alunos, era

disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiais, nos dois graus.

Sem dados quantitativos sobre o aproveitamento escolar dos anos de 1974,

1975 e 1976, nada pode ser dito sobre a matrícula, promoção, retenção, abandono e

transferência dos alunos da 1ª turma do curso de metalurgia (1974-1976), dos

alunos da 1ª e 2ª séries de eletromecânica, economia doméstica e desenho de

ferramentas e dispositivos, tanto quanto da 1ª classe de nutrição e dietética. Mas, é

possível afirmar que foram “masculinos” os cursos de eletromecânica, desenhista de

ferramentas e dispositivos e mecânica, foram “femininos” os cursos de nutrição e

dietética, economia doméstica e decoração. Esses apresentaram as taxas mais

elevadas de aprovação apesar de altas taxas de desistência, em determinadas

classes. Metalurgia, com exceção da turma de 1974, sempre contou com algumas

mulheres, nada muito representativo mas significativo, como, em 1977, numa classe

de 44 alunos, oito eram mulheres, todas promovidas na 3a série.

Nas primeiras séries, ocorriam elevadas taxas de retenção e de desistência,

chamada “abandono”, que somadas, em 1978 e 1979, superaram as taxas de

promoção. Os cursos que mais reprovavam eram o de eletromecânica e de

metalurgia. Os índices de aprovação superiores a 75% aconteciam nas séries

terminais (3ª e 4ª). Mesmo assim, em 1979, é significativa a porcentagem dos

desistentes na 4ª série, o que implicou em taxa de promoção inferior a 60%. Havia

uma variação muito grande quanto ao número de alunos por classe. Exemplos

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extremos percebidos, oito alunos matriculados no curso de decoração e cinquenta e

cinco na 1a série “E” do 2o grau básico, ambas classes do período noturno.

Não foram encontrados registros sobre as causas da evasão escolar.

Algumas explicações podem ter sido dificuldades de aprendizagem, de inserção no

mercado de trabalho (“achou emprego, largou a escola”), de transporte (distância

casa-escola, meios e custos da locomoção), de conciliar trabalho e estudo. Outras

poderiam ser a mudança de domicílio, a prestação do serviço militar, a aprovação na

faculdade (então, não fez o 4o. ano nem entregou o estágio supervisionado).

Também o curso técnico poderia não estar correspondendo às suas expectativas e

alguns professores poderiam ter deficiências de conhecimento e/ou de metodologia.

Pode ser que não houvesse um projeto pessoal futuro que justificasse o “sacrifício”

do presente. Havia também casos de desistentes temporários, aqueles que voltavam

depois de um ou dois anos bem como os transferidos do período diurno para o

noturno, na mesma habilitação ou diversa. Cabe a pergunta: Por que eram formadas

classes com mais de 50 alunos, apesar da elevada taxa de evasão? Ou será que

era justamente por serem esperadas tais taxas é que as classes eram numerosas?

Enfim, com várias habilitações profissionais, com tantos dados quantitativos,

com uma variedade de grades curriculares, com a necessidade de consultar fichas

individuais de dezenas de alunos, de colher depoimentos de história oral,

evidentemente, uma pesquisa seria insuficiente para dar conta da tarefa. Foi

necessário delimitar o universo. Foram escolhidas as habilitações de metalurgia e de

eletromecânica.

4. Estudo de caso: o curso de metalurgia

Dentre todos os cursos profissionalizantes de nível técnico oferecidos pela

instituição escolar, desde os anos de 1970, os que permanecem até hoje são

Metalurgia, Nutrição e Dietética e Mecânica. Alguns foram extintos, outros

substituídos por cursos afins, da mesma área. O curso de metalurgia estava para

completar 40 anos, em 2014. Uma boa razão para investigar sobre os currículos,

alunos, professores e laboratórios, enfim, para conhecê-lo melhor e escrever um

texto sobre os dados coletados, para conseguir, pelo menos um depoimento de

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antigo aluno ou professor, para apresentar os resultados desse “fazer histórico” num

encontro com a comunidade escolar.

Para um enxuto relato comparativo de três momentos do curso, foram

levantadas as grades curriculares de 1974 (o ano da criação), 1994 (o ano da

passagem para o Centro Paula Souza) e 2014 (o tempo presente). Os planos de

curso mais antigos não estão arquivados, o que inviabilizou uma tentativa de análise

entre o que estabelecia a lei e o que foi efetivamente ensinado.

Sobre os dez concluintes da 1a turma (1974-76) foi feita uma ligeira

caracterização com base na idade, escola de origem, profissão dos pais, local de

residência, religião. Os dados foram obtidos no requerimento de matrícula à 1a série

do 2o grau, datado de 14 de fevereiro de 1974. Não era um questionário

socioeconômico mas permitiu afirmar que: tinham entre 15 e 19 anos; 80% deles

concluiu o ginásio no Trajano Camargo e não trabalhava; 90% residia na cidade de

Limeira, apenas um morava na zona rural, 70% era declaradamente católico e 30%

evangélico/protestante. Quanto a profissão, “doméstica” era a de todas as mães,

com exceção de uma que era professora. A profissão dos pais era diversificada -

motorista, inspetor de vendas, encarregado, administrador, viajante. Três deles eram

proprietários, dois industriais e um sitiante. Um dos pais era falecido. Não havia

mulheres matriculadas. O estágio cumprido pelos dez egressos foi realizado no ano

imediato, 1977. Seis deles estagiaram em empresas sediadas em Limeira (Máquinas

Varga S/A, Rockwell International, Indústrias Emanoel Rocco S/A, Indústria

Máquinas Invicta S/A), um realizou o estágio em Jundiaí (Sifco do Brasil S/A

Indústrias Metalúrgicas) e três em Cubatão (Cia. Siderúrgica Paulista – Cosipa).

A não observância de algumas normas do regimento escolar pelos alunos das

três primeiras turmas de metalurgia resultaram em suspensões dos infratores por 3 e

5 dias letivos4. Os antigos alunos se lembraram da carência de materiais e de

laboratório para as aulas práticas, em parte compensada com as visitas técnicas a

empresas, realizadas por empenhados professores. Alguns deles eram mestres,

outros técnicos de nível médio, outros estudantes de curso superior. Para ministrar                                                                                                                          4 Suspensões de 3 dias por ”rasuras e destruição de boletins de faltas e constantes indisciplinas em aula”, “por abandonar a sala de aula de Matemática após ser advertido por indisciplina”, “por não usar uniforme e chamado a atenção pelo Diretor do Estabelecimento foi deselegante no tratamento”. Suspensão de 5 dias por “explodir bomba na sala de aula”.

 

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as aulas do núcleo comum, haviam professores com licenciatura plena, como exigia

a lei.

A fim de avaliar o grau de satisfação, no tempo presente, foi feita uma

enquete com os alunos do 2o módulo, no 1o semestre de 2014. Foi-lhes perguntado:

1. Por que você faz esse curso? 2. Como avalia as aulas e os laboratórios? 3. Dê

sugestões de melhorias. 4. Como fazer uma comemoração dos 40 anos do curso de

metalurgia?

A pesquisa envolveu 23 alunos matriculados, todos homens, entre 16 e 29

anos. A maioria trabalhava em indústrias, alguns na área de metalurgia e concluintes

do ensino médio. Os mais jovens eram aprendizes e estudantes do ensino médio.

Em fevereiro de 2014, quando foi realizada a consulta, dois alunos estavam

desempregados e, posteriormente, um trancou a matrícula. A maioria deles residia

em Limeira, enquanto seis procediam de cidades vizinhas - Piracicaba, Cosmópolis,

Sumaré e Engenheiro Coelho. Todos demonstraram compromisso com a enquete e

sinceridade nas respostas.

Apontaram para “razões da escolha do curso”, o fato de: trabalhar na área;

permitir a entrada no mercado de trabalho com maior qualificação profissional;

conseguir o melhor desempenho no trabalho; envolver conhecimentos de várias

áreas como química, elétrica e mecânica. No geral, essa turma demonstrou

satisfação com as aulas, tidas como interessantes, e com os professores, havidos

como bem formados e competentes. Quanto às melhorias, a classe afirmou que as

aulas poderiam ser mais dinâmicas e as visitas técnicas direcionadas a empresas

dos diferentes ramos da indústria metalúrgica. Os laboratórios de metalografia,

bromatologia, elétrica e fundição foram considerados bem equipados e satisfatórios.

Mas poderiam ser melhores se houvesse mais bancadas, mais espaço, mais

praticidade e organização e, mesmo, mais segurança. Depois dessa avaliação,

aconteceram mudanças, como a reforma da rede elétrica e o descarte de um grande

forno, abrindo espaço para as aulas práticas.

Os inqueridos disseram que os 40 anos da instalação do curso de metalurgia

poderiam ser comemorados com a visita técnica a uma grande metalúrgica; uma

apresentação dos processos metalúrgicos e do dia-a-dia em uma fundição;

entrevistas com professores e profissionais da área e depoimentos de ex-alunos que

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ainda atuam na área, além de homenagem a antigos alunos e professores de hoje e

do passado, sem faltar os comes e bebes.

No dia 24 de setembro foi realizada a sessão comemorativa dos 40 anos do

curso de metalurgia. Um logo foi criado e reproduzido no banner, nos convites e nos

certificados dos homenageados - um professor e três empresas parceiras. Antigos

professores e alunos foram identificados e convidados para a cerimônia. Alguns

compareceram. O programa se dividiu entre a leitura de um breve histórico do curso,

e, com recursos de multimídia, apresentação das fotografias de alunos e professores

do passado e do presente. Foram tiradas fotos. A palestra “Processo de microfusão”

encerrou a sessão que foi simples, curta, precisa, de agrado dos presentes. Missão

cumprida. Só não teve os “comes e bebes”.

5. Estudo de caso: os cursos da área de elétrica

Os cursos técnicos da área de elétrica no recém denominado Centro Estadual

Interescolar Trajano Camargo tiveram início em 1975, com a criação de uma classe

da habilitação profissional de Técnico em Eletromecânica. Em 1993, ela foi

substituída pela habilitação plena de Eletroeletrônica.

Uma análise de vinte fichas individuais (amostra aleatória) dos matriculados

em eletromecânica, entre os anos de 1975 e 78, mostrou que dezenove eram do

sexo masculino, com a predominância da faixa etária de 15-16 anos, católicos,

egressos de escolas públicas de 1o. grau, inclusive do Trajano Camargo, cujas mães

não exerciam atividade remunerada, eram domésticas ou do lar, ou seja, se

dedicavam às tarefas da casa. As exceções foram uma comerciante e uma

enfermeira. Os pais exerciam profissões variadas – contador, funcionário público

estadual, tapeceiro, mecânico, pedreiro (construtor), ajudante geral, eletricitário,

pintor (aposentado). Dois eram comerciantes e um citricultor. Apenas um aluno

morava na zona rural, em Cosmópolis, os demais residiam em vilas não muito

distantes do centro urbano de Limeira. Os alunos que trabalhavam estavam

dispensados das aulas de educação física, presentes em todas as séries.

Facultativas eram as de ensino religioso, uma aula por semana. No requerimento de

matrícula era perguntado se aluno desejava assistir a aulas de ensino religioso e de

qual religião. Quase todos responderam que sim, o que não significa que tenham

assistido tais aulas. A maioria dos estudantes do período noturno trabalhava. Nem

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todos os concluintes da 3a. série, ou da 4a. série, apresentaram o relatório de

estágio. A direção do Trajano Camargo chegou a fazer (como consta numa ficha)

“consulta para estágio em áreas de atividades relacionadas à habilitação de Eletro

Mecânica para o aluno [...], regularmente matriculado no 3o. ano, a fim de melhorar

seus conhecimentos técnicos e práticos”. Fez contato com a Nardini (Americana),

Máquinas Varga S/A (Limeira), Cosipa (Cubatão), Romi (Sta. Bárbara D’Oeste). E o

aluno em questão não fez estágio. Igualmente outros quatro alunos da amostra

pesquisada não entregaram o relatório de estágio. Em contrapartida, um aluno

cumpriu o seu, em 400 horas, ao término da 3a. série, no período das férias

escolares. Outros jovens durante o curso, ou no ano seguinte, apresentaram

estágios, com carga horária de 560, 720, 760 e mesmo 3.800 horas realizados em

empresas locais - Máquinas Varga S/A, Rockwell do Brasil - Divisão Fumagalli,

Equipamentos Varga S/A, Mastra, Ind. e Com. Ltda. Um concluinte fez estágio na

Teka (tecelagem - Artur Nogueira) e outro na Braseixos S/A (Sumaré).

O cumprimento de algumas exigências legais e normas disciplinares puderam

ser atestadas nos vários papéis dos prontuários. Por exemplo, o pagamento anual

para a Associação de Pais e Mestres; a suspensão de um aluno, durante 3 dias, por

“reincidência indisciplinar na aula de Matemática”; o cartão de inscrição ao exame à

seleção para a 1a série do 2o. grau (mas as notas não constavam do histórico

escolar); a solicitação para uma nova prova de determinada disciplina, posto que

perdeu, por algum motivo, a anterior; os comprovantes de certidão de nascimento e

de histórico escolar do curso de 1o. e 2o. graus, além de várias fotografias 3X4. Era

possível a um aluno cursar a 1a. série de qualquer habilitação profissional no Trajano

Camargo ou a 1a. série numa escola de 2o. grau (não técnica) e se matricular na 2a.

série de eletromecânica, se fosse aprovado na denominada “dependência” em física

(disciplina instrumental).

Em 1977, o curso de eletromecânica, há poucos anos instalado, atraiu muitos

candidatos, de tal modo que foram formadas três classes, uma no período da tarde,

com 39 alunos, e duas, no período noturno, com 89 alunos, totalizando 118

matrículas. Mas o número de promovidos foi muito baixo, apenas 37 alunos ou 29%.

A taxa de retidos e desistentes foi bastante elevada, respectivamente, 38% e 31%.

No ano seguinte, o sistema adotado para a 1a. série foi o chamado 2o. grau básico.

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As classes não eram organizadas por habilitações - eletromecânica, metalurgia,

nutrição e dietética, desenho de ferramentas e dispositivos e economia doméstica.

Então não há como comparar os resultados.

Apesar da demanda inicial, eletromecânica, no decorrer dos anos, não

conseguiu formar classes em todas as séries. Especificando, não houve 1a. série

em 1979, 1980, 1981 e 1982.

Com o avanço tecnológico e, provavelmente, em atendimento ao mercado de

trabalho, o curso de eletromecânica foi substituído pelo de eletroeletrônica. Foram

formadas três classes de 1a. série – duas no diurno e uma no noturno, com 120

matrículas. Alta foi a taxa de retenção. O turno diurno integral era concluído em 3

anos e o noturno em 4 anos.

A organização do currículo da 1a. turma de eletroeletrônica (1993-95) foi

definida pela Lei federal 10403/71, Del. CEE 07/85. Na parte comum (Res. CFE

6/86) as disciplinas de língua portuguesa e literatura, matemática, física, química,

história, geografia, biologia e programas de saúde estavam distribuídas em três ou

quatro séries. Organização social e política brasileira e educação moral e cívica

foram extintas e seus temas deveriam permear os programas de história e geografia.

Na parte diversificada do mínimo profissionalizante (Parecer CEE 367/85) desde a

série inicial eram ministradas disciplinas técnicas como desenho técnico de

mecânica, desenho aplicado à eletroeletrônica, prática profissional de eletricidade e

de eletrônica, eletrotécnica e medidas elétricas, controle e automação industrial,

comandos hidráulicos e pneumáticos, dentre outras.

A carga horária da parte técnica dos anos 90 era superior a dos anos 70. As

disciplinas das grades de eletroeletrônica para o período integral, de 3 anos e 4.800

horas, e para o noturno, de 4 anos e 4.480 horas, eram basicamente as mesmas. O

estágio supervisionado de 720 horas era exigido para os dois turnos.

Na atualidade, o curso é concluído em quatro módulos. O técnico em

eletroeletrônica

planeja e realiza manutenções preventivas, preditivas e corretivas, e instalações eletroeletrônicas; faz medições e testes; desenvolve e executa projetos de instalações elétricas, circuitos eletrônicos e automação. Elabora documentação técnica; planeja e executa instalação e manutenção de equipamentos industriais, observando normas técnicas e de segurança. Projeta e instala sistemas de acionamento e controle eletroeletrônicos. Mercado de Trabalho: Empresas de manutenção e automação; indústrias; laboratórios de controle de qualidade, de manutenção e de pesquisa. Onde

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estudar: Limeira, Rio Claro, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Joaquim da Barra. (CEETEPS, 2013)

Para conhecer o momento presente do curso de eletroeletrônica, foram

realizadas duas ações, entre os meses de abril e maio de 2015: um breve

levantamento sobre a formação dos professores e uma enquete com os alunos do

3o. módulo. Não havia turma do 4o. módulo.

Resultados auferidos (em 2015): Os seis professores da área técnica, estão

há mais de doze anos na escola. Têm idades entre 44 e 51 anos. Quatro cursaram

engenharia elétrica, três deles na Faculdade de Engenharia de Barretos e um na de

Lins. No Instituto Superior de Ciências Aplicadas de Limeira, um docente concluiu

engenharia de produção elétrica. O professor de sistemas digitais é formado em

análise de sistemas pela Universidade Metodista de Piracicaba. Todos têm

especialização na área, a saber engenharia elétrica, fontes de energia, coordenação

de isolamento ou em áreas afins como matemática, segurança do trabalho,

tecnologia, inclusive em metodologia de ensino. Concluíram o esquema I.

Trabalharam em empresas. Hoje, majoritariamente, são professores.

Aos alunos foram apresentadas as seguintes questões: 1. Por que você faz o

curso de eletroeletrônica? Trabalha na área? 2. Dê sua avaliação para as aulas do

curso. Sugestões de melhorias. 3. Como avalia os professores do curso? 4. Como

avalia o laboratório de eletro? ( ) razoável, ( ) bom, ( ) muito bom. 5. Do seu ponto

de vista, o que o curso precisa? 6. Como avalia o atual mercado de trabalho para o

técnico em eletroeletrônica? 7. O curso de eletromecânica no Trajano Camargo foi

implantado em 1975. Como comemorar seus 40 anos? Dê ideias.

Responderam o questionário os vinte e três alunos presentes. Um faltou.

Caracterização básica: todos são do sexo masculino, solteiros, residentes em

Limeira (83%), nos bairros urbanos e um na zona rural. De fora, dois alunos de Artur

Nogueira, um de Iracemápolis e um de Cordeirópolis. Com idades entre 16 e 19

anos se enquadraram 13 alunos (57%) e os outros 10, entre 20 e 29 anos (43%).

Quanto à crença religiosa, 10 são católicos (43%), 8 evangélicos (35%) e os demais

disseram ser espírita, ateu, agnóstico ou sem religião. O ensino médio foi concluído

por 15 alunos (65%), enquanto que 8 (35%) estão cursando o ensino médio em

escolas públicas e 3 têm curso superior incompleto (todos em instituições

particulares nos cursos de engenharia de controle e automação, administração de

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empresa e design gráfico. Trancaram a matrícula). Um aluno é eletricista de

manutenção formado pelo Senai.

A tabulação revelou que trabalham na área 9 alunos (39%) e 14 não (61%).

Um deles afirmou que “nem pretende”. Cursam eletroeletrônica para ampliar os

conhecimentos, conseguir um emprego e uma qualificação profissional melhor (as

razões mais citadas). Também apontaram: a identificação com o curso, o mercado

de trabalho favorável, o gosto pela parte de eletricidade, o ter passado no exame, o

valor do curso para currículo e para seguir carreira nas exatas.

As aulas foram avaliados como boas, muito bem explicadas, bem elaboradas

e interessantes pela maioria dos consultados. As falas mais críticas disseram que

algumas aulas são boas, outras razoáveis e alguns conteúdos não são passados

com clareza. Poderiam ser mais proveitosas com maior número de aulas práticas e

vídeos sobre novidades tecnológicas, com novas tecnologias e a solução dos

problemas técnicos em CAD e no laboratório. Também gostariam que os

equipamentos do laboratório fossem melhores, mais novos e mais organizados.

Deram o recado para um ou outro professor, ao apontar a falta de atenção, de

interesse, de paciência, de disposição para esclarecer dúvidas, de metodologia

(dificuldade de passar os conhecimentos) como barreiras ao aprendizado. Ou seja,

certos professores deveriam ter um pouco mais de vontade de ensinar. Mas, um

aluno afirmou que “o professor não deve desanimar porque há alunos interessados”.

Reconhecem que os professores têm conhecimento, competência, são bons/muito

bons profissionais, pontuais e graduados. A queixa mais generalizada se refere ao

relacionamento professor/aluno.

O laboratório é considerado bom para 61% dos consultados, razoável para

26% e muito bom para 13%. Para ficar melhor, o curso de eletroeletrônica precisa

de: laboratório mais bem equipado; componentes de melhor qualidade; organização;

reposição de alguns materiais; programas específicos no CPD. A ligação externa

com a empresa foi pouco mencionada, nenhum deles pensou em “trazer a realidade

das indústrias para a escola”, em visitas técnicas ou em maior divulgação do curso.

Palestras não foram citadas. Também foi dito que eletro precisa de alunos mais

interessados, precisa receber mais incentivos da diretoria e dos professores porque

há muita desistência. Em síntese: as deficiências do curso de eletroeletrônica se

referem ao laboratório, à metodologia e à interação alunos/professores. A

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abordagem sobre as causas da evasão que, de modo geral, atinge todos os cursos

técnicos, não foi colocada em pauta. Continua em aberto.

O mercado de trabalho é visto como amplo, abrangente (área de elétrica e de

eletrônica), com muitas áreas a serem exploradas e carentes de bons profissionais.

Consideram o mercado difícil de ser afetado pela crise. O momento político e a

situação econômica atual do país nem foram lembrados.

Quanto à comemoração dos 40 anos da implantação do curso de

eletromecânica, antecessor de eletroeletrônica, os alunos do 3o módulo deram

sugestões relacionadas às origens da habilitação, tais como apresentar fotos,

histórias e projetos de antigos alunos; homenagear e ouvir o relato dos alunos das

primeiras turmas quanto às transformações do mercado de trabalho; fazer um

levantamento histórico do curso; montar um projeto investigado há anos, como a

bobina de Tesla; “trazer alunos que fizeram carreira na área, a fim de incentivar os

atuais alunos”5. Outras ideias apontaram para ações de interesse imediato como

visitas a empresas, a museus, a feira de eletrônica. Também sugeriram a montagem

de “uma feira de eletrônica para mostrar aos alunos da escola o que se aprende no

curso”; uma exposição de projetos dos alunos de eletro e de mecânica; workshops,

palestras. Foram sugeridas ainda uma confraternização entre os atuais e os antigos

alunos, uma comemoração com salgados e refrescos e mesmo um baile anos 70.

No dia 21 de outubro, no auditório da escola foi realizada uma sessão

comemorativa intitulada Os cursos da área de elétrica: eletromecânica e

eletroeletrônica na escola Trajano Camargo (1975-2014). Estiveram presentes

professores e alunos do noturno dos cursos técnicos de eletroeletrônica, eletrônica,

metalurgia e mecânica. Os agradecimentos a todos os colaboradores foram feitos

antes da abertura da sessão pelo prof. José Henrique Heydman Jr., assistente

técnico administrativo e representante do diretor. Do programa constaram: 1. a

apresentação (texto e slides) de alguns resultados da pesquisa sobre a implantação

dos cursos técnicos de 2o. grau na escola Trajano Camargo, nos anos 1970, e seus

desdobramentos, nos anos 1990. 2. Um vídeo com fotos de antigos alunos e

professores dos cursos da área de elétrica e a gravação editada da entrevista com o                                                                                                                          5 Em alguma medida, essa sugestão foi atendida. Como trabalho escolar, um grupo de alunos do 2o. ETIM Eventos trouxe, no dia 19 de agosto de 2015, como palestrante Daniel Veira Munhoz, ex-aluno de eletroeletrônica do Trajano Camargo e aluno do 5o. ano de engenharia elétrica na Unicamp. Através de slides, apresentou sua experiência profissional, as conquistas, os desafios e as dificuldades nos quatro anos trabalhados em empresa prestadora de serviços na área de eletroeletrônica. Conseguiu a atenção dos alunos e professores presentes.

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prof. Bazana. 3. A palestra O status atual da automação com robôs proferida pelo

engenheiro elétrico e eletrônico Luiz Ricardo Silva de Medeiros. 4. Os

agradecimentos do homenageado, engenheiro e professor César Donizetti Bazana,

que foi aluno do curso de eletromecânica, professor e coordenador do curso de

eletroeletrônica. 5. Os mimos e as fotos encerraram a sessão.

6. Projeto Nutrição

O denominado Projeto Nutrição foi desenvolvido entre março e agosto de

2016. Ele foi diferente dos projetos de pesquisa anteriores pela coleta superficial de

dados em fontes primárias (prontuários, fichas e grades curriculares), porque não foi

acompanhado por um histórico, porque, desde o início, contou com a colaboração

das alunas do 2o. Etim Nutrição e de Maria Rita Contin Castro, ex-professora e

coordenadora do curso, atual orientadora educacional.

As alunas realizaram entrevistas com perguntas abertas, via e-mail, com

estudantes do sexo masculino do curso médio integrado ao técnico – ETIM, e com

os alunos, de ambos os sexos, do curso modular de técnico de nutrição e dietética.

Colheram depoimentos de professoras, por meio de entrevistas, para saber sobre o

ensino e as peculiaridades da habilitação em décadas passadas. Na fase final,

Rafael Gonçalves desenhou e Isabela Piva coloriu o logo da comemoração.

Desenvolvimento da sessão comemorativa: abertura pelo diretor prof.

Diogenes Nielsen Jr.; apresentação de alguns dados sobre a criação e o

funcionamento do curso de nutrição e dietética na escola Trajano Camargo (fala da

profa. Marlene Aparecida Guiselini Benedetti); apresentação de um breve texto

escrito e lido pela profa. Maria Rita Contin Castro sobre a origem do ensino

profissional e sobre desnutrição e obesidade; homenagens à Neuza Bertim de

Campos (ex-professora e ex-diretora) e Maria Flávia de Toledo Corlatti; (ex-

professora e ex-coordenadora do curso); projeção de slides dos professores, alunos

e laboratórios; momento musical pelas alunas do 2o. ano; sessão de fotos e

encerramento.

As informações sobre o passado foram obtidas nos depoimentos das

professoras da casa, Gislaine Barana Delbianco e Maria Rita Contin Castro, alunas,

respectivamente, da 2a. e da 3a. turmas de nutrição e dietética; Íris Borges de

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Almeida, diplomada, na mesma habilitação, na mais antiga escola profissional

feminina do estado de São Paulo, a Etec Carlos de Campos e Giovana de Barros

Sacco, nutricionista que chegou em 1996.

Os dados sobre o presente foram colhidos, via internet, com alguns alunos do

técnico noturno e com os oito estudantes do sexo masculino do ensino técnico

integrado ao médio em nutrição.

UM BREVE HISTÓRICO (apresentado na sessão comemorativa)

O nome da escola era Centro Estadual Interescolar Trajano Camargo. O

diretor era o prof. Fernando Dário. O ano era 1976. As habilitações de ensino de 2º

grau oferecidas eram metalurgia, eletromecânica, economia doméstica, desenhista

de ferramentas e dispositivos, nutrição e dietética, decoração e mecânica.

Posteriormente, foram extintos os cursos de economia doméstica, DFD e decoração.

O que sabemos sobre os primeiros tempos de nutrição e dietética? Que

funcionava no período diurno e noturno. Que era um curso feminino tanto quanto o

de economia doméstica. Que os conceitos A, B ou C promoviam e os conceitos D e

E retinham ou lançavam os alunos para os estudos de recuperação. Que a 1a. turma

(1976-78) concluiu o curso em 3 anos, estendido para 4 anos, a partir da 2a. turma.

Que havia o estágio de observação na 3a. série e o de efetivo exercício na 4a. série.

Que muitos estudantes não conseguiram empresas para estagiar, não tinham como

apresentar o relatório de estágio, portanto, não se graduaram como técnicos.

Sabemos que entre os primeiros professores estavam Maria Flávia de Toledo

Corlatti, Neuza Bertim de Campos, José Farid Zaine, Marilda Pacheco, Sônia

Marcolino, Daniel Peruzza, Noraci Angotti de Moraes, Elza Ragazzo. Que, da grade

curricular para os anos de 1976 a 1979, constavam as disciplinas do núcleo comum

como língua portuguesa e literatura brasileira, educação artística, inglês, história,

geografia, educação moral e cívica, organização social e política do Brasil,

matemática, física, química, biologia e programas de saúde; as disciplinas

instrumentais: inglês, matemática, anatomia e psicologia humana, química orgânica,

bioquímica, noções de puericultura. As disciplinas do mínimo profissionalizante

eram: higiene e saúde pública, técnicas de educação alimentar, inquéritos

alimentares, administração de serviço alimentar, ética profissional, psicologia das

relações humanas, organização e planejamento de serviços de nutrição, nutrição

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normal, fisiologia da nutrição e dietoterapia, técnica dietética e arte culinária,

bromatologia, tecnologia de alimentos, noções de legislação aplicada. E também

ensino religioso e educação física.

No corrente ano, em nutrição há três classes no ETIM – cento e oito alunos

frequentes, sendo oito do sexo masculino. No curso técnico modular, em 3 módulos,

estavam matriculados cento e oitenta e dois alunos – 54 mulheres e 17 homens. As

idades variam de 15 a 57 anos, 72% dos alunos são provenientes de escolas

públicas e 28% de escolas particulares.

O núcleo técnico atual é formado pelas professoras Giovana de Barros

Sacco, Jacqueline Duarte do Páteo Curi, Lília Maria Alves Gomes, Margarete

Francescato Sampaio, Maria Teresa Trovó de Almeida e Milena Donatti Scherrer

(coordenadora).

7. O Centro de Memória da Etec Trajano Camargo

Os projetos de pesquisa desenvolvidos por dez anos sobre determinados

momentos da história da instituição escolar geraram uma quantidade razoável de

documentos como certidões cartoriais, diplomas, certificados, fotografias e

reproduções, entrevistas gravadas com som e imagem e outros. Os artefatos

estavam em salas e laboratórios, na diretoria de serviços. A possibilidade de juntá-

los num mesmo espaço reforçou a necessidade de um centro de memória.

[...] o Centro de Memória deve desempenhar a sua missão de preservar os documentos considerados de valor histórico e artístico e que possam contribuir para a construção de uma memória coletiva, garantido o resgate, a preservação a disseminação do patrimônio histórico-documental. As práticas sem esta concepção, não passarão de técnicas museográficas que se esgotam em sim mesmas e que não contribuem com a proposta de construção de projetos educativos que venham a ser desenvolvidos pelo centro de memória, tornando a instituição um grande depósito para guarda de objetos. [...] (SANTOS e LARSEN, 2013, p. 328)

Numa sala de 22m2 (3,50mX6,30m), no piso superior, voltada para a Rua

Tenente Belizário, a tarefa era organizar o acervo, mobiliar, classificar em pastas e

caixas os documentos em papel, iniciar um arquivo fotográfico, recuperar e fazer

funcionar, na medida do possível, algum material didático-pedagógico de décadas

anteriores. Concomitantemente, armazenar em HD externo o material coletado,

produzido e a produzir, para um centro de memória virtual. Propósito cumprido,

parcialmente.

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O centro de memória foi oficialmente inaugurado em 28 de setembro de 2016

durante a 11a. Feira de Projetos e Tecnologia. Fotos, dispositivos fotográficos em

slides e artefatos captaram a atenção e o interesse dos visitantes. A apresentação

do acervo foi feita pelos alunos do Projeto Troféus (uma proposta de trabalho com

os prêmios) e pelos monitores de história. Além dos sessenta troféus,

majoritariamente esportivos, hoje há alguns objetos da área de mecânica,

metalurgia, química, elétrica, administrativa e material didático-pedagógico.

A organização do acervo arquivistico, em pastas físicas e digitais é uma

atividade contínua, realizada, aos poucos, entremeada a outras, até que todo

material já coletado e produzido tenha sido classificado. Mesmo com lacunas, as

fichas de registro dos objetos têm sido preenchidas. Os objetos museológicos do

acervo (cerca de cem), foi utilizado para a montagem de slides para a palestra "A

importância do Centro de Memória da Etec Trajano Camargo para a história da

educação profissional em Limeira", proferida no auditório da escola, em 23/05/2017,

na presença de alunos das treze classes do Etim. As fotografias e reproduções, por

sua vez, além de pesquisa bibliográfica, permitiram a confecção de um video que

recebeu o título de “Maria Thereza Silveira de Barros Camargo e Trajano de Barros

Camargo: Registros da vida privada e pública”, com 13 minutos, de duração. O

vídeo poderia ser apresentado na escola, em algumas ocasiões, por exemplo, na

recepção aos novos alunos. A exposição dos três instrumentos científicos

provenientes do laboratório de química, foi parte da comemoração dos 30 anos da

implantação do curso Técnico em Química. Em 2016, três alunos do 3o Etim

Administração, produziram um texto sobre os troféus do CM, conquistados em

competições esportivas, em sua maioria.

Para a Jornada Patrimônio Cultural e Tecnológico da Educação Profissional,

realizada em novembro de 2017, foi desenvolvido o trabalho “Mestres e professores

da educação profissional: formação e práticas na escola Trajano Camargo”.

REFERÊNCIAS

Fontes primárias Arquivo da Câmara Municipal de Limeira, Arquivo do jornal Gazeta de Limeira, Arquivo da Etec Trajano Camargo.

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Fontes orais

Depoimentos de: Alfredo Pezzoto, Antenor Ghisellini, Antonio Vanderlei de Quintal, Celestino Mikami, César Donizetti Bazana, Daisy Santiago Ramello Ferreira, Dora Arruda Binotti, Edison José Christovam, Everaldo Chinellato, Flávio Henrique Marcolino, Giovana de Barros Sacco, Gislaine Barana Delbianco, Ida de Souza Coelho, Iris Borges de Almeida, José Carlos Faveri, José Henrique Heydman Jr., Júlio Amércio Barbugli Abbade, Lori Ferreira de Camargo Bacan, Manoel da Silva, Maria Christina Martensen Belatini, Maria Conceição Negro Siqueira, Maria Elisa Panaro, Maria Flávia de Toledo Corlatti, Maria Negro Lencioni, Maria Rita Contin Castro, Mariusa da Silva, Muris Dumit, Nairo Angelo Ferlin, Osmar Bacan, Renato de Almeida, Sílvia Helena Ragazzo Pastori.

Referências bibliográficas

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