esumo destrutivo na perspectiva de filhos com menos de...

24
222 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245 RESUMO O presente trabalho aborda o ponto de vista dos filhos peque- nos na dinâmica do divórcio des- trutivo e insere-se no contexto jurídico durante a realização do estudo psicossocial. Sujeitos: três famílias divorciadas com filhos menores de 12 anos de idade. Fundamentação teórica: Teoria Familiar Sistêmica. Método: pesquisa-ação. Instrumentos: entrevistas semiestruturadas, genograma familiar, visita do- miciliar e desenho da família realizado pelas crianças. Os re- sultados evidenciaram que as crianças freqüentemente são in- cluídas no conflito e manifestam sentimentos de sofrimento e in- satisfação com o conflito conju- gal. Por outro lado, evidencia- ram recursos importantes para o enfrentamento desse divórcio, como o fortalecimento da fratria. Descritores: divórcio destru- tivo; Psicologia Jurídica; desenho da família; fratria. Artigo Artigo Artigo Artigo Artigo E O DIVÓRCIO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE 12 ANOS Mariana Martins Juras Liana Fortunato Costa ste texto trata de uma pesquisa ação cujo objeto de estudo foi os papéis parentais e conjugais exercidos pela díade parental em casos de divórcio destrutivo com filhos pequenos. Muitas vezes, esses pais inseridos em uma dinâmica de divórcio destru- tivo perdem de vista o cuidado e a proteção das crian- ças envolvidas, uma vez que sobressaem os confli- tos conjugais provenientes do período de casamento. Em nossas observações sobre os conflitos familia- res judiciais, apontamos as confusões entre os pa- péis parentais e conjugais, tendo em vista a com- Psicóloga, Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (IP / UnB). Professora do Curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília. Psicóloga, Terapeuta Conjugal e Familiar, Psicodramatista. Docente Permanente do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília – PSICC/PCL/IP/UnB. 12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31 222

Upload: dangdiep

Post on 15-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

222 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

RESUMO

O presente trabalho aborda oponto de vista dos filhos peque-nos na dinâmica do divórcio des-trutivo e insere-se no contextojurídico durante a realização doestudo psicossocial. Sujeitos: trêsfamílias divorciadas com filhosmenores de 12 anos de idade.Fundamentação teórica: TeoriaFamiliar Sistêmica. Método:pesquisa-ação. Instrumentos:entrevistas semiestruturadas,genograma familiar, visita do-miciliar e desenho da famíliarealizado pelas crianças. Os re-sultados evidenciaram que ascrianças freqüentemente são in-cluídas no conflito e manifestamsentimentos de sofrimento e in-satisfação com o conflito conju-gal. Por outro lado, evidencia-ram recursos importantes parao enfrentamento desse divórcio,como o fortalecimento da fratria.Descritores: divórcio destru-tivo; Psicologia Jurídica; desenhoda família; fratria.

ArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

E

O DIVÓRCIODESTRUTIVO NAPERSPECTIVA DE

FILHOS COM MENOSDE 12 ANOS

Mariana Martins Juras

Liana Fortunato Costa

ste texto trata de uma pesquisa ação cujoobjeto de estudo foi os papéis parentais e conjugaisexercidos pela díade parental em casos de divórciodestrutivo com filhos pequenos. Muitas vezes, essespais inseridos em uma dinâmica de divórcio destru-tivo perdem de vista o cuidado e a proteção das crian-ças envolvidas, uma vez que sobressaem os confli-tos conjugais provenientes do período de casamento.Em nossas observações sobre os conflitos familia-res judiciais, apontamos as confusões entre os pa-péis parentais e conjugais, tendo em vista a com-

Psicóloga, Mestre pelo Programa de Pós-graduação em

Psicologia Clínica e Cultura do Instituto de Psicologia da

Universidade de Brasília (IP / UnB). Professora do Curso de

Psicologia da Universidade Católica de Brasília.

Psicóloga, Terapeuta Conjugal e Familiar, Psicodramatista.

Docente Permanente do Programa

de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura

da Universidade de Brasília – PSICC/PCL/IP/UnB.

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31222

Page 2: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

223

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

plexidade existente em processos dedivórcio nos quais o relacionamentoconjugal termina, mas a parentalida-de ainda deve ser compartilhada.Sendo assim, o objetivo geral da pes-quisa foi compreender como se apre-sentam os papéis parentais e conju-gais em meio a uma dinâmica dedivórcio destrutivo em casos de dis-puta de guarda ou regulamentação devisita envolvendo os filhos pequenos.

O referencial teórico baseia-se naTeoria Familiar Sistêmica, que propõeuma nova visão paradigmática na Psi-cologia e na ciência (Vasconcellos,2003). Esta teoria contemporânea foiescolhida devido à necessidade doestabelecimento de novos paradigmaspara se pensar a complexidade do di-vórcio destrutivo, que vislumbrem atotalidade familiar e a garantia dosdireitos de todos os seus membros.Em sua proposta novo-paradigmáticasobre o pensamento sistêmico, Vas-concellos (2003) identifica possibili-dades de avanços da visão tradicionalda ciência para uma nova ciência emtrês dimensões epistemológicas. Aprimeira refere-se à transformação dopressuposto da simplicidade, com oestabelecimento de relações causais elineares, para o pressuposto da com-plexidade e conseqüente contextuali-zação e recursividade. A segunda di-mensão considerada pela autora é aconcepção de estabilidade, determi-nismo e previsibilidade dos fenôme-nos, em substituição à qual ela sugereuma nova concepção de instabilida-de, indeterminismo e imprevisibilida-

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31223

Page 3: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

224 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

de do mundo. O terceiro pressuposto do paradigma tradicional quea autora refuta é o critério de objetividade, que deve evoluir para ode intersubjetividade, uma vez que não se pode excluir o observa-dor e sua subjetividade do fenômeno estudado.

FFFFFamílias divorciadasamílias divorciadasamílias divorciadasamílias divorciadasamílias divorciadas

O divórcio é um fenômeno complexo e pluridimensional (Féres-Carneiro, 2003) e, cada vez mais, é alvo de estudos científicos, ten-do em vista o crescente número de divórcios na sociedade. De acordocom estudo recentemente publicado pelo Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE, 2008) referente ao registro civil, cons-tatou-se um aumento superior a 200% do número de divórcios noperíodo compreendido entre 1984 e 2007. Ahrons (1995) e Féres-Carneiro (1998) afirmam que é um mito acreditar que o aumentodo número de divórcios está relacionado à falência da família ou docasamento, como normalmente a sociedade declara. Ao contrário,segundo as autoras, isto significa que existe uma maior expectativacom relação ao casamento e uma menor tolerância aos maus casa-mentos, o que evidencia que hoje se dá mais valor à formação debons casamentos. Ademais, Ahrons (1995) defende a importânciada estruturação saudável do processo de divórcio por toda a socie-dade frente a este crescente número de divórcios.

Divórcio destrutivoDivórcio destrutivoDivórcio destrutivoDivórcio destrutivoDivórcio destrutivo

Com relação ao divórcio conflituoso, Glasserman (1989) defi-ne-o como destrutivo. Segundo essa autora, neste tipo de divórcio,a relação dos ex-cônjuges tem como base constantes conflitos,permeados por brigas permanentes que objetivam a conservaçãoda união; dificuldade no cuidado com os filhos; necessidade de ga-nhar e desvalorizar a imagem do outro; necessidade de haver a par-ticipação de intermediários litigantes, tais como membros da famí-lia extensa, profissionais da saúde, da escola, da Justiça, entre outros.Além disso, no divórcio destrutivo não há o reconhecimento da co-responsabilidade do ex-par conjugal no conflito, observando-se ten-

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31224

Page 4: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

225

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

dência em ambos de encontrar cul-pados e cúmplices.

O divórcio difícil é definido porIsaacs, Montalvo e Abelsohn (2001)como aquele divórcio em que não seprotegem os filhos do conflito entreos adultos e da desorganização fami-liar. Nestas famílias, os adultos nãoconseguem controlar suas disputas,fazem com que as crianças tomempartido na situação conflituosa,apresentam dificuldades em exerceras tarefas parentais ou mesmo abdi-cam destas. Uma característica do di-vórcio difícil observado por estes au-tores é quando o par parental nãoconsegue ter uma visão objetiva darealidade de seus filhos. Vainer (1999)considera que os “casais de separa-ção difícil” que mantêm entre si guer-ras judiciais buscam resolver seus con-flitos que não foram resolvidos aolongo do casamento. Eles utilizamterceiros, como advogados e juízes,para se manterem unidos de formainconsciente.

Costa, Penso, Legnani eSudbrack (2009) caracterizam a co-municação entre o par parental nodivórcio destrutivo de acordo comuma escalada simétrica, conceito de-finido por Watzlawick, Beavin eJackson (1990) como um padrão co-municacional patológico. A relaçãosimétrica baseia-se na igualdade e nabusca de refletir o comportamento dooutro; entretanto, o fator competiti-vidade muitas vezes está presente narelação (Watzlawick et al., 1990). Nocaso da escalada em simetria, existe

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31225

Page 5: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

226 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

uma exacerbação da competitividadee da rejeição do outro, fenômeno pre-sente freqüentemente em conflitosmaritais. Para Costa et al. (2009), nodivórcio destrutivo, os ex-cônjugescompetem suas forças, principalmen-te no contexto judicial, levando aeventos violentos entre eles e buscan-do terceiros, como a Justiça, os filhos,os profissionais, entre outros, comoaliados nesta guerra parental.

Conflitos de lealdadeConflitos de lealdadeConflitos de lealdadeConflitos de lealdadeConflitos de lealdadeintergeracional presentesintergeracional presentesintergeracional presentesintergeracional presentesintergeracional presentesno divórcio destrutivono divórcio destrutivono divórcio destrutivono divórcio destrutivono divórcio destrutivo

Quando existem dificuldades porparte do par parental em diferenciaros papéis conjugais dos parentais,implicando em conflitos entre os ex-cônjuges, os filhos podem ser envol-vidos ou sentirem-se obrigados a seenvolver nas brigas dos pais. Algunsconceitos da Terapia Familiar Sistê-mica podem ser aplicados a estas si-tuações de divórcio destrutivo:triangulação, lealdades invisíveis eparentalização.

Segundo a teoria de Bowen(1979), o triângulo encontra-se nabase de qualquer sistema emocionalna família. Quando a tensão entre doismembros da família, normalmente ospais, atinge um nível de ansiedade in-suportável, uma terceira pessoa, ha-bitualmente um filho, é trianguladapara reduzir a tensão no seio do sis-tema, até chegar a níveis mais tolerá-

veis. Mesmo que tais triangulações tra-gam como benefício redução do ní-vel de ansiedade e tensão no sistema,a permanência deste padrão comuni-cacional e interacional a longo prazo,pode trazer significativos prejuízos aodesenvolvimento psicossocial de seusmembros e às relações familiares pre-sentes e futuras.

Normalmente, o que ocorre emsituações de triangulação é o desvioda atenção do conflito para o filhosintomático na tentativa de buscarsoluções para ele. Em casos de divór-cio destrutivo, o sofrimento da crian-ça ou adolescente não é visto comoprioritário e, muitas vezes, pode in-clusive ser negado. Nestes casos, ofoco está no conflito, que toma gran-des dimensões intra e extrafamiliares.De acordo com Miermont et al.(1994), quando a própria família nãoencontra mecanismos de autorregu-lação, novos triângulos se formamcom terceiros fora do núcleo familiar(parentes, amigos, profissionais, ins-tituições, como a Justiça, por exem-plo), atenuando o sofrimento da fa-mília e transferindo-o para instânciasexternas escolhidas.

Outro conceito proposto porBoszormenyi-Nagy e Spark (1973),refere-se às lealdades invisíveis, e estáintimamente relacionado ao conceitode triangulação. Segundo estes auto-res, os diferentes membros de umafamília têm funções interligadas e in-terdependentes e estão unidos porlealdades aparentes e ocultas. As leal-dades invisíveis consistem na

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31226

Page 6: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

227

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

existência de expectativas estruturadas degrupo, em relação com as quais todos osmembros adquirem um compromisso. ... Paraque alguém possa ser um membro leal dogrupo, ele deve interiorizar o espírito de suasexpectativas e assumir uma série de atitudespassíveis de especificação, para cumprir comos mandatos interiorizados (Boszormenyi-Nagy & Spark, 1973, p. 37).

Segundo Féres-Carneiro (1998),o conflito de lealdade exclusiva, ouseja, quando exigida por um ou am-bos os pais, configura um dos maio-res sofrimentos para os filhos em ca-sos de separação dos pais. Em casosde divórcio, podem emergir conflitosde lealdade intergeracionais, em queum ou mais filhos podem se aliar aum genitor em detrimento do outro.Segundo Isaacs, Montalvo e Abelsohn(2001), logo após a separação, nor-malmente os filhos se aliam ao genitorcom quem residem. Para Costa et al.(2009), quando os filhos estão trian-gulados de forma não saudável emdivórcios destrutivos, eles assumemcompromissos com ambos os geni-tores em uma perspectiva perversa devinculação, pois quando se agrada aum genitor, está desagradando aooutro, e vice-versa.

O fenômeno da parentalização,conceito também formulado porBoszormenyi-Nagy e Spark (1973),está fortemente relacionado aos doisanteriores. Parentalização significauma atuação (comportamental oufantasiosa) distorcida de um compa-nheiro ou filho colocando-se no pa-pel paterno. De acordo com estes

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31227

Page 7: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

228 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

autores, de certa forma, toda criançanecessita ser temporariamente paren-talizada, a fim de que aprenda e de-sempenhe responsabilidades para suavida futura. Entretanto, quando aparentalização de uma criança torna-se frequente e rígida, esta pode ser umfator que dificulta o desenvolvimen-to futuro adequado desta criança.

PPPPPresença de filhosresença de filhosresença de filhosresença de filhosresença de filhospequenos no divórciopequenos no divórciopequenos no divórciopequenos no divórciopequenos no divórciodestrutivodestrutivodestrutivodestrutivodestrutivo

Peck e Manocherian (1995) es-tudaram o processo de divórcio nasdiferentes fases do ciclo de vida fa-miliar. As famílias com filhos peque-nos podem dividir-se em dois subgru-pos: famílias com filhos em idadepré-escolar e famílias com filhos naidade da Escola Elementar. No pri-meiro subgrupo, as autoras ressaltamo aumento de estresse e intensidadeno relacionamento entre o genitorguardião e os filhos, pelas dificulda-des enfrentadas por este genitor nacondução do divórcio e educação dosfilhos, que podem apresentar regres-são em seu comportamento. O apoioda família extensa neste momento éextremamente importante para oenfrentamento do processo de divór-cio nesta fase do ciclo vital. As auto-ras apontam que a faixa etária decrianças de seis a oito anos, que seencontram na fase escolar elementar,é a que sofre maior impacto do di-

vórcio, visto que elas já conseguemcompreender de certa forma o queestá acontecendo, porém não pos-suem maturidade suficiente para lidarcom o rompimento. Em casos de di-vórcio conflituoso, as crianças podemser envolvidas em conflitos de leal-dade intergeracional, bem como as-sumirem papéis parentais, que podemprejudicar seu desenvolvimento sau-dável (Costa et al., 2009).

Glasserman (1989) afirma que,em um divórcio destrutivo, o movi-mento constante da família em bri-gar e disputar dificulta a proteção in-tegral dos filhos, especialmente se elesse encontram em uma fase de desen-volvimento que necessitam dos cui-dados dos pais, como é o caso decrianças e adolescentes. No divórciodestrutivo, muitas vezes os pais bus-cam a aliança de familiares, especial-mente dos filhos, que dificilmentesaem ilesos do conflito familiar.

MétodoMétodoMétodoMétodoMétodo

O método utilizado neste estu-do tem como orientação a pesquisa-ação, na qual o pesquisador não tra-balha sobre os outros, mas com eles. Aproposta de pesquisa-ação tem doisprincipais objetivos, que consistemem transformar a realidade estudada,servindo-se de instrumento para amudança, e produzir conhecimentorelativo a estas mudanças (Barbier,2002; Böing, Crepaldi & Moré, 2008).

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31228

Page 8: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

229

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

Desta forma, a prática profissional interventiva também pode serum meio de pesquisar e contribuir para a produção de saber.

Contexto: A presente pesquisa-ação foi realizada no Serviço deAtendimento a Famílias com Ação Cível (SERAF), que é um Servi-ço oferecido pela Secretaria Psicossocial Judiciária do Tribunal deJustiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). O estudopsicossocial realizado no SERAF tem dois objetivos principais: pro-mover intervenções junto às famílias ao longo dos atendimentos eassessorar os magistrados em suas decisões com informaçõespsicossociais por meio do relatório (Lima & Ribeiro, 2008).

Sujeitos: Foram selecionadas três famílias atendidas no SERAFcom dinâmica de divórcio destrutivo e presença de filhos na idadeinfantil, ou seja, crianças de até 11 anos de idade. Este critério deidade dos filhos foi utilizado tendo em vista trabalhos de autoressobre o divórcio destrutivo, que afirmam que filhos na idade infan-til são os que mais sofrem com o processo de divórcio destrutivo,pois eles percebem a dinâmica violenta, mas muitas vezes não conse-guem lidar com o conflito parental e dele se afastar (Cerveny, 2006;Glasserman, 1989; Peck & Manocherian, 1995). As famílias serão iden-tificadas como Família A, B e C e todos os nomes são fictícios.

Família A

Processo judicial: A ação judicial é de Regulamentação de Visitas,na qual Ana solicita a revisão das visitas do pai ao filho. Estavaregularizado judicialmente o pernoite da criança na residência pa-terna de sexta a segunda-feira e a mãe solicita que as visitas ocorramde sábado a domingo, alegando que a forma com que vem ocorren-do está prejudicando a criança na escola.

História do par parental: Ana e André conheceram-se e, após trêsmeses de relacionamento, Ana engravidou e eles passaram a residir

Nome Idade Profissão Renda Reside com

Requerente Ana (mãe) 26 Servidora pública

R$ 2500 Mãe, irmã e filho

Requerido André (pai)

29 Desempregado Auxílio dos pais Pai, mãe e irmão

Criança

Adriano (filho)

5

Estudante da Educação Infantil

Recebe Pensão

Alimentícia dos avós paternos no valor de dois salários mínimos

Família materna

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31229

Page 9: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

230 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

juntos. Quando o filho Adriano contava com cerca de um ano emeio, o par parental decidiu se separar. O divórcio judicial deu-sede forma conflituosa, especialmente no que se refere à divisão doapartamento em que moravam juntos. As brigas entre o par paren-tal ocorrem, principalmente, nas ocasiões de visita do pai ao filho eem eventos escolares. Atualmente, o par parental evita qualquer tipode contato, deixando a cargo dos avós as negociações a respeito dacriança. Apesar da dinâmica de divórcio destrutivo, Adriano parecetransitar bem entre as residências materna e paterna. Entretanto,nas ocasiões em que os pais se encontram, como em eventos esco-lares de Adriano, a criança reage com nervosismo e ansiedade.

Família B

Processo judicial: A ação judicial é de Guarda e Responsabilidade,na qual a mãe Beatriz solicita regulamentação da situação do filhoBernardo. Ela afirma no processo judicial que o pai de Bernardotem comportamento violento, uma vez que por diversas vezes aagrediu verbal e fisicamente ao longo do período de casamento.Em sua defesa, o pai alega que a mãe está promovendo a Síndromede Alienação Parental na criança, impedindo-o de ver o filho.

História do par parental: Beatriz e Bruno, par parental, permane-ceram casados por cerca de 11 anos. Bruno já tinha duas filhas decasamento anterior e Beatriz passou a residir com este núcleo fami-liar. De acordo com os ex-cônjuges, o período de casamento foipermeado por várias agressões verbais e físicas de ambas as partes,tendo resultado em algumas denúncias policiais. Na separação, queocorreu após episódio de agressão conjugal, Beatriz saiu de casa efoi para a casa de sua mãe, levando o filho Bernardo consigo. Atual-mente, não há qualquer contato entre o par parental, ficando a criança

Nome Idade Profissão Renda Reside com

Requerente

Beatriz (mãe)

34

Do lar

Recebe pensão

vitalícia (militar) de Bruno no valor de R$

2000

Mãe, irmãos e filho

Requerido Bruno (pai)

41 Servidor público

R$ 5000 Filhas

Criança

Bernardo (filho)

10

5º ano do

Ensino Fundamen

tal

Recebe Pensão

Alimentícia do pai no valor de

R$500

Família materna

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31230

Page 10: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

231

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

responsável por passar os recados entre eles. Percebe-se que a criançademonstra grande tristeza com a situação conflituosa atual entre ospais e parece estar mais leal à mãe e ao seu sofrimento. Beatriz pas-sou por uma forte depressão após a separação conjugal, tendo com-partilhado esses momentos com o filho Bernardo.

Família C

Processo judicial: A Ação judicial refere-se à Separação Litigiosa,proposta pela mãe. Camila solicita a guarda dos filhos que ficaramcom o pai após a separação do casal. O pai afirma que a mãe aban-donou as crianças com ele e que ela não tem condições psicológicaspara ficar com os filhos, pois sofre de depressão.

História do par parental: Camila e Carlos foram casados por qua-se 13 anos e tiveram três filhos: Cícero, Cássio e Cecília. De acordocom o par parental, os primeiros anos de casamento foram tranqüi-los, tendo Camila compartilhado com Carlos os cuidados do pri-meiro filho, que nasceu logo que se casaram. Já na segunda e naterceira gravidez, Camila sofreu depressão pós-parto, deixandoCarlos mais à frente dos cuidados dos três filhos. Os conflitos con-jugais surgiram nesses períodos de depressão, levando à separaçãoconjugal com a saída repentina de Camila de casa. Desta forma, odiálogo entre o par parental após a separação ficou bastante com-prometido, especialmente no que se refere aos filhos. Carlos infor-mou que os filhos chegaram a ficar com a mãe por cerca de seismeses, mas foram reprovados de ano na escola, passando nova-mente a morar com o pai, situação em que se encontram até o mo-mento, com visitas não-regulares à mãe. Camila considera que Carlostem dificultado seus contatos com os filhos, impedindo que os fi-lhos a visitem, especialmente os mais novos. As negociações para arealização das visitas ficam a cargo dos filhos, especialmente o mais

Nome Idade Profissão Renda Reside com

Requerente Camila (mãe) 42 Auxiliar de enfermagem

R$ 2162

Sozinha

Requerido (a)

Carlos (pai) 39 Trabalhador rural R$ 415 Filhos

Crianças Cícero

Cássio

Cecília

11

10

7

8º ano,

4º ano,

2º ano

do Ensino Fundamental

Pai

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31231

Page 11: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

232 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

velho, Cícero, uma vez que não exis-te comunicação entre o par parental.

Instrumentos: Os instrumentos dapresente pesquisa-ação coincidemcom os instrumentos que geralmentesão utilizados no estudo psicossocialdo SERAF, quais sejam: entrevistassemi-estruturadas com as famílias,genograma familiar, visita domiciliare desenho da família realizado pelascrianças. Segundo Moura e Ferreira(2005) o formato flexível e aberto dasentrevistas possibilita maior implica-ção e participação entre entrevistadoe entrevistador. O genograma é umaferramenta clínica e avaliativa quepermite visualizar de maneira gráficainformações acerca dos membros deuma família e suas relações ao longode, no mínimo, três gerações (Böing,Crepaldi & Moré, 2008; McGoldrick& Gerson, 2005). Com relação aosdesenhos, vários autores consideramo desenho da família como uma téc-nica relevante no trabalho com crian-ças, uma vez que possibilita que acriança expresse sua percepção e sen-timentos sobre o mundo familiar,considerado um dos primeiros e maissignificativos contextos da criança(Flick, 2009; Penn, 2000).

Procedimentos: As famílias foramentrevistadas por um período de seismeses. Os critérios para a escolha dasfamílias foram: dinâmica de divórciodestrutivo, presença de filhos na ida-de infantil e semelhança nos procedi-mentos técnicos realizados. Todos osatendimentos realizados foram grava-dos em áudio por meio de um grava-

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31232

Page 12: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

233

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

dor de voz digital e todas as grava-ções foram transcritas.

Cuidados Éticos: O estudo obteveautorização do Presidente do TJDFTem maio de 2008, uma vez que oSERAF atua em segredo de justiça.Além disso, o projeto de pesquisa foisubmetido e aprovado pelo Comitêde Ética do Instituto de CiênciasHumanas da Universidade de Brasí-lia em junho de 2008.

Análise dos Resultados: Os dese-nhos e informações obtidos dos con-tatos com as crianças foram analisa-dos a partir da proposta de Análisede Conteúdo de González Rey (2005),cuja construção-interpretação dosdados é feita por zonas de sentido.De acordo com este autor, as zonasde sentido consistem em campos deinteligibilidade produzidos ao longodo processo científico. Estes espaçosvisam abrir novas possibilidades deanálises futuras, ao invés de esgotarteoricamente um determinado fenô-meno.

Discussão dos resultadosDiscussão dos resultadosDiscussão dos resultadosDiscussão dos resultadosDiscussão dos resultados

Os atendimentos realizados comas crianças levaram à construção dedados provenientes das entrevistas eprodução de desenhos infantis. A aná-lise das transcrições das entrevistas edos desenhos infantis configurou-seem três zonas de sentido: relação dacriança com os pais, com os irmãos ecom ela mesma. As crianças, de fato,

expressaram a situação de conflitofamiliar que estão vivenciando. Asimagens gráficas, representadas pelosdesenhos de família realizados pelascrianças, devem ser analisadas contex-tualmente e relacionadas ao texto queas seguem, neste caso, à fala da crian-ça (Ferreira, 1998; Penn, 2002; VanKolck, 1981). É importante ainda as-sinalar que os desenhos foram pro-duzidos no contexto das entrevistasrealizadas no processo de estudopsicossocial padrão que o SERAFpossui. Flick (2009) aponta que asexpressões gráficas descrevem a rea-lidade, e assim também encaramos aprodução de desenhos das crianças.

Em função da limitação de es-paço, vamos descrever os desenhosrealizados pelas crianças, pois estesforam o nosso principal material deanálise. O desenho da família realiza-do por Adriano mostra o espaço bas-tante rabiscado, nuvens superpostas,estrelas, quadrados, triângulos espa-lhados pelo papel, e abaixo de tudouma figura humana bastante rabisca-da. Adriano fez os rabiscos e a figurahumana em cor preta e os quadradose triângulos na cor vermelha. O de-senho da família de Bernardo apre-senta, na parte de baixo do papel, cin-co pessoas na seguinte ordem daesquerda para a direita do papel: o pai,a mãe, Bianca (irmã), Bárbara (irmã),e ele mesmo. O pai e ele estão dese-nhados com roupas iguais na cor ver-de, a mãe na cor amarela, as duas ir-mãs foram desenhadas com vestidosna cor rosa. Todas as figuras huma-

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31233

Page 13: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

234 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

nas estão desenhadas equidistantes,com a mesma estatura e cuidado naconfecção, pés bem apoiados na mar-gem inferior do papel, braços esten-didos ao largo do corpo, cabelos ar-rumados e todo o desenho foirealizado na metade inferior do pa-pel. O desenho da família de Cícero,Cássio e Cecília foi realizado em pa-pel amarelo pelas três crianças emconjunto. Na parte superior existemnuvens, algumas claras outras escuras,e das nuvens mais à direita do dese-nho está chovendo sobre Carlos queestá acompanhado somente de umpato, Carlos está desenhado integral-mente porém suas pernas estão qua-se apagadas, seu cabelo está desenha-do fortemente e sua boca é bemvermelha. No meio do papel, na mar-gem inferior há uma casa desenhadacom traços fracos e um telhado dese-nhado com força, que segundo ascrianças é a casa materna. Esta casasepara Carlos do restante da família.Sobressaem na casa as fechadurasdesenhadas com força e nitidez. Dolado esquerdo do papel, na margeminferior, aparecem da esquerda para adireita: minha mãe, Cícero, Cecília eCássio. Minha mãe é a figura mais alta,com uma cabeça mais avantajada doque o corpo, de onde saem coraçõesvermelhos, as pernas estão fracamen-te desenhadas, as mãos estendidas aolargo do corpo e um sorriso nos lá-bios. Cícero, é menor que a mãe, temas mãos nos bolsos, e as feições dese-nhadas com ênfase. Cecília é menorainda, as mãos estão nos bolsos da

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31234

Page 14: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

235

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

saia, suas feições e cabelos são bem definidos e há um coração de-senhado com destaque por cima da roupa. E, finalmente Cássio éum pouco maior, do tamanho de Cícero, não há destaques em suafigura e suas mãos estão nos bolsos da calça.

Zona de sentido 1: percepção do conflitoZona de sentido 1: percepção do conflitoZona de sentido 1: percepção do conflitoZona de sentido 1: percepção do conflitoZona de sentido 1: percepção do conflitoparental pelas crianças – “meus pais não podemparental pelas crianças – “meus pais não podemparental pelas crianças – “meus pais não podemparental pelas crianças – “meus pais não podemparental pelas crianças – “meus pais não podemse verse verse verse verse ver”””””

Nos atendimentos realizados com as crianças, todas elas reve-laram perceber a situação de conflito em que se encontram seuspais. Todas elas sabem que os pais não se dão bem e afirmam que oencontro entre o par parental gera conflito. De forma geral, a litera-tura aponta que as crianças são sensíveis ao ambiente familiar. Deacordo com Despert (1970), em uma situação de divórcio, normal-mente as crianças percebem quando algo não vai bem entre os pais,sendo orientadas principalmente por sentimentos e expressões su-tis que muitas vezes os genitores tentam esconder. Ao falarmos dopróximo atendimento em que deverão estar presentes pai e mãe,Adriano falou: “Isso não vai dar certo”. Cássio: “Não sei. Meu pai maisminha mãe brigou de repente. E nunca mais nenhum quer ver a cara do outro”.

Com relação à vivência de um conflito familiar, os três dese-nhos trazem aspectos da percepção das crianças sobre o relaciona-mento parental. No desenho de Adriano, ele aparece sozinho nodesenho de sua família. De acordo com Van Kolck (1981), a ausên-cia de elementos que são comuns em um desenho pode demonstrarsignificativo conflito com relação a eles. A ausência da figura dospais e outros familiares no desenho da família de Adriano, a impaci-ência da criança em fazer este desenho e o desvio de sua atençãopara outras formas que disse ter mais facilidade em desenhar (bordado desenho, formas geométricas e contorno da mão) são fatoresque evidenciam que o alto nível de conflito familiar está afetandonegativamente a relação da criança com seus pais.

No desenho de Bernardo, observa-se que ele está afastado dospais e protegido pelas irmãs. Embora o desenho não explicite oconflito conjugal e, de certa forma, demonstre um desejo de Ber-nardo em unir os pais, a criança coloca-se distante do relaciona-mento parental, o que pode significar que ele não se sente à vontade

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31235

Page 15: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

236 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

com maior proximidade dos pais, poisa realidade ainda é de conflito. Cíce-ro, Cássio e Cecília desenharam ospais nas extremidades do papel. Oafastamento entre o par parental éreforçado pela presença de várias bar-reiras entre eles, como os própriosfilhos, a casa materna e a chuva emvolta do pai. Percebe-se que todosesses elementos apresentam-se paramanter os pais distantes, o que de-monstra uma fantasia dos filhos deque o encontro entre os pais gera con-flito.

Essas análises interpretativas dosdesenhos de família a partir de umaóptica do conflito existente entre ospais estão de acordo com a literatura,que afirma que as crianças tambémvivenciam os conflitos conjugais, es-tejam os pais casados ou divorciados(Ahrons, 1995; Costa et al., 2009;Despert, 1970; Glasserman, 1989;Isaacs, Montalvo & Abelsohn,, 2001).Verifica-se, portanto, que as criançassão incluídas de diversas formas noconflito entre os pais e expressamessas dificuldades em seus desenhos.

Observou-se que as crianças dastrês famílias têm a função de nego-ciar com os pais questões que deve-riam ser responsabilidade dos adul-tos, como, por exemplo, as visitas como genitor não-guardião. Com as crian-ças mais velhas, essa organização ficaainda mais evidenciada, como é o casode Bernardo e Cícero. Bernardo: “Játeve um dia que ele falou que tava fazendocompras, chegou aqui em baixo eram quehoras? Já tava até escurecendo”. Psicólo-

ga: “E aí você ficou o dia todo espe-rando...?” Bernardo: “Não, aí eu, quersaber, eu desfiz a mala que eu faço pra irpra lá e fiquei em casa. Aí ele veio aqui e eufalei que não ia não. Que por causa do...porque se ele passar do horário, eu vou se euquiser, se ele passar do horário”. Cícero:“Ai eu falo assim ‘Papai, se eu arrumar acasa, eu posso ir na casa da minha mãe?’Ai ele deixa. Sempre eu peço pros meninosir comigo, né? Mas aí ele não deixa, aí quan-do vai só eu, ele deixa”.

Colocar a criança em uma situa-ção cuja responsabilidade não é cabí-vel a ela e sim aos seus genitores ca-racteriza-se como uma parentalização(Boszormenyi-Nagy & Spark, 1973).Uma dinâmica familiar que utilize aparentalização de crianças como umpadrão de relacionamento pode tra-zer sérios prejuízos ao desenvolvi-mento saudável dessas crianças, umavez que delas são esperadas tomadasde decisões que não estão de acordocom sua faixa etária (Costa et al., 2009;Fedullo, 2001). Apesar desta comu-nicação indireta entre o par parentalindicar uma estratégia para reduzir atensão entre o par parental, a manu-tenção desta forma de vínculo depen-dente da criança pode colocá-la emuma situação de confusão, sem saberem qual pai pode confiar, levando àformação de lealdades invisíveis(Dantas, Jablonski & Féres-Carneiro,2004).

No mesmo sentido, Siméon(2000) afirma que, em famílias con-flituosamente vinculadas, a criançapode ser exigida a escolher uma das

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31236

Page 16: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

237

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

partes beligerantes, criando conflitos de lealdades. Além disso, aautora pontua mais uma questão importante em casos de divórciodestrutivo que se refere à manipulação dos adultos por parte dacriança. A delegação de uma posição hierárquica superior dentro dafamília pode levar a criança a manifestar comportamentos manipu-ladores, uma vez que lhe foi concedido poder e saber pelos adultos,principalmente em casos de pais que não possuem diálogo (Siméon,2000).

Zona de sentido 2: a imporZona de sentido 2: a imporZona de sentido 2: a imporZona de sentido 2: a imporZona de sentido 2: a importância da fratria –tância da fratria –tância da fratria –tância da fratria –tância da fratria –“meus irmãos me ajudam em tudo”“meus irmãos me ajudam em tudo”“meus irmãos me ajudam em tudo”“meus irmãos me ajudam em tudo”“meus irmãos me ajudam em tudo”

A fratria é um recurso de suporte e fortalecimento das criançasem uma situação de conflito entre o par parental. Notou-se que,nos desenhos de família realizados pelas crianças que possuem ir-mãos (Famílias B e C), todos os membros da fratria foram grafica-mente representados lado a lado, o que demonstra que o subsistemafraterno encontra-se unido. De acordo com Oliveira (2006), o rela-cionamento fraterno proporciona uma experiência íntima, rica ecomplexa entre iguais, envolvendo vivências em comum que muitasvezes só podem ser compartilhadas ente irmãos, embora tambémexista espaço para rivalidades e competições. Quando a família vivemomentos traumáticos, como é o caso de um processo de divórciodestrutivo, os vínculos fraternos são intensificados, uma vez queatravessam a mesma situação dolorosa e buscam apoiar-se mutua-mente (Goldsmid & Féres-Carneiro, 2007; Meynckens-Fourez, 2000;Oliveira, 2006; Siméon, 2000).

Pesquisadora: “E vocês conversam muito?” Bernardo: “Com asminhas irmãs? A gente conta todos os segredos”. Pesquisadora: “Todos ossegredos?” Bernardo: “É, a gente é muito unido”.

No caso do divórcio destrutivo, em que há desorganização dospapéis parentais, o poder da fratria intensifica-se com a busca deconforto na formação de um continente substitutivo próprio(Goldsmid & Féres-Carneiro, 2007; Meynckens-Fourez, 2000; Oli-veira, 2006; Siméon, 2000). Segundo Meynckens-Fourez (2000), osubsistema fraterno possui três funções básicas: continente emo-cional de afeto, tranquilidade e recurso; provimento parental; e apren-dizagem dos papéis sociais e cognitivos. Observa-se, portanto, que

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31237

Page 17: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

238 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

o vácuo parental ocasionado pela ex-periência do divórcio destrutivo pro-move destaque à função de provimen-to parental por parte dos irmãos,como pode ser exemplificado: Assis-tente Social: “Quando você tá comdificuldade, quem te ajuda?” Cecília:“Meus irmãos!”

De acordo com Isaacs, Montalvoe Abelsohn (2001), “a afiliação a umgrupo fraternal coloca-nos em umasituação favorável a responder ativa-mente frente a seus progenitores” (p.155), ou seja, a fratria oferece um for-talecimento dos filhos com relação àsreações emocionais dos adultos queestão em conflito. Ademais, Siméon(2000) considera que os subsistemasfraternos são mais flexíveis para atra-vessar e comunicar-se com os demaissubsistemas familiares. Neste sentido,a ausência de irmãos em uma situa-ção de divórcio destrutivo coloca ofilho único em situação de desvanta-gem e de maior sobrecarga emocio-nal, como afirma Meynckens-Fourez(2000) e como pode ser observado nodesenho de Adriano, que é a únicacriança desta família. O desenho dafamília de Adriano demonstra umaclara tensão que pode ser entendida apartir da dinâmica relacional de divór-cio destrutivo adotada por seus paise familiares. A criança encontra-sesozinha em um mundo de adultos quese comunicam de forma destrutiva.A ausência de pares mais próximos aele coloca-o em uma posição despri-vilegiada em relação às crianças dasoutras famílias analisadas.

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31238

Page 18: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

239

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

No caso de Bernardo, embora exista um subsistema fraternoque é fonte de recursos para a criança, a separação conjugal promo-veu a separação entre os irmãos, e a dinâmica destrutiva tem dificulta-do um maior apoio fraterno e, até mesmo, incluindo as irmãs na dis-puta parental. Desta forma, Bernardo encontra-se isolado de sua fratriae é sobrecarregado pela dinâmica destrutiva na qual a família vem-serelacionando. Meynckens-Fourez (2000) e Siméon (2000) afirmamque filhos únicos e primogênitos geralmente são incluídos mais facil-mente em conflitos de lealdade, analisados na zona de sentido ante-rior. Esse isolamento de Bernardo para com fratria, por vezes, o colo-ca em uma situação de filho único, sendo alvo das disputas conjugais.

Cícero, o primogênito da Família C, cumpre suas delegaçõesfamiliares de cuidado com a família, tanto em relação aos irmãosmais novos, quanto ao bem-estar dos adultos. Ele busca ser umareferência para os irmãos, além de aliar-se ao sofrimento da mãe aomanifestar claramente seu desejo de estar mais com ela. De acordocom Siméon (2000), frequentemente os primogênitos são convida-dos a preencher vazios afetivos e a ocupar uma posição de maiorresponsabilidade e confidência dos sofrimentos tanto dos adultosquanto dos irmãos. Essa tarefa quando levada ao extremo pela difi-culdade dos adultos em reassumir os cuidados parentais, como noscasos de divórcio destrutivo, marginaliza-os progressivamente e di-ficulta seu processo de socialização. Nestes casos, os primogênitostornam-se verdadeiros “para-choques” para protegerem a famíliadas dificuldades.

Considera-se, portanto, que a existência do subsistema fraternoem casos de divórcio destrutivo pode ser um fator positivo para lidarcom as dificuldades e os conflitos parentais. O fortalecimento da fratriadeve ocupar um papel central no trabalho com famílias com alto ní-vel de disputa (Siméon, 2000). Além disso, esse trabalho deve forne-cer maior suporte aos filhos únicos e primogênitos a fim de que elesnão sejam tão prejudicados nos casos de divórcio destrutivo.

Zona de sentido 3: manifestações afetivas dasZona de sentido 3: manifestações afetivas dasZona de sentido 3: manifestações afetivas dasZona de sentido 3: manifestações afetivas dasZona de sentido 3: manifestações afetivas dascrianças – “não gosto nada dessa situação”crianças – “não gosto nada dessa situação”crianças – “não gosto nada dessa situação”crianças – “não gosto nada dessa situação”crianças – “não gosto nada dessa situação”

Percebeu-se que os filhos das três famílias manifestaram dediversas formas seu sofrimento e insatisfação com a dinâmica fami-

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31239

Page 19: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

240 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

liar de divórcio destrutivo adotadapelos adultos. Embora a experiênciade um divórcio seja dolorosa paratodos os membros da família (Féres-Carneiro, 2003), a manutenção de al-tos níveis de sofrimento infantil, anosapós o término do casamento, não estárelacionada à separação conjugal emsi, mas principalmente à forma de re-lacionamento que os pais constroementre eles (Ahrons, 1995; Cerveny,2006; Despert, 1970; Fedullo, 2001).

No desenho de Adriano, obser-va-se claramente uma sobrecarga deinformações e conflitos, uma vez queele se apresenta sozinho no desenhode sua família e com muitos elemen-tos em cima dele. Os rabiscos verti-cais, de acordo com a verbalização deAdriano, representam a chuva, que éum fenômeno da natureza impossí-vel de ser controlado (Van Kolck,1981). A utilização da cor vermelha edo grafite também demonstra expres-são de reações emocionais fortes,como afirma Van Kolck (1981). Alémdo desenho, Adriano também de-monstrou alto nível de ansiedade eagressividade nas brincadeiras, derru-bando os brinquedos no chão, matan-do e batendo em todos os persona-gens, especialmente os pais e o juiz, esolicitando silêncio de todos, comopode ser observado na brincadeira dogênio da lâmpada: Psicóloga: “Então,Adriano, você pode... Qual é o seuprimeiro pedido?” Adriano: “Que vocêfique em silêncio!” Psicóloga: “Hum...”Adriano: “Que você vá embora! E tercei-ro, que você cale essa sua boca!”

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31240

Page 20: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

241

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

Percebe-se que o alto nível deconflito entre seus familiares (pais,tios e avós), além da falta do recursoque uma fratria poderia oferecer-lhe,contribui para as expressões de sofri-mento de Adriano por meio de raivae agressividade. Despert (1970) com-preende que ataques de raiva por partedas crianças, após o divórcio, revelamuma forma de protesto sobre o con-flito parental. Não querer desenharnem falar sobre a situação de sua fa-mília representa uma estratégia debuscar saídas desse conflito familiarexplícito entre os adultos.

Ao analisar o desenho de Bernar-do, observa-se que ele utilizou ape-nas o espaço da metade inferior dafolha de papel, que, segundo VanKolck (1981), indica a presença desentimentos de insegurança, depres-são e comportamento emocional-mente dependente. Ademais, o dese-nho da família de Bernardo apresentauma simetria gráfica, o que represen-ta necessidade de segurança e equilí-brio interno (Van Kolck, 1981). Apartir desta análise, aliada aos atendi-mentos infantis realizados com Ber-nardo em que ele demonstrou ser umacriança tímica e calada, compreende-se que o ambiente familiar conflituosonão tem proporcionado à criança asegurança e o conforto necessários aoseu desenvolvimento. Por outro lado,Bernardo pratica atividades extra-es-colares, futebol e judô, que lhe ofere-cem recursos de superação e reconhe-cimento pessoal, participando decampeonatos importantes e apresen-

tando posição de destaque nessas ati-vidades.

Com relação às crianças da Fa-mília C, observa-se que há níveis dedetalhes e áreas reforçadas na repre-sentação de si mesmos, especialmen-te em Cícero e Cecília. No desenhoda família, as cabeças destas criançasencontram-se reforçadas, além deCecília possuir flores em seu peito. Deacordo com Van Kolck (1981), par-tes reforçadas no desenho infantildenunciam zonas de maior valor parao sujeito, além de significar uma preo-cupação ou conflito. O reforço naárea da cabeça com a cor azul poderepresentar uma tentativa de regula-ção das emoções por meio do auto-controle e da razão (Van Kolck, 1981).Por sua vez, Cássio parece estar maisindividualizado e afastado dos con-flitos de lealdade, sendo desenhadopor traços mais simples e mais dis-tante dos irmãos.

De maneira geral, evidencia-seque as crianças inseridas em uma di-nâmica de divórcio destrutivo buscamestratégias saudáveis e não-saudáveisde compreender a situação conflituo-sa e dela retirar-se. A busca de com-preensão do conflito parental dá-semediante expressões de afetividade –agressividade, insegurança, depressão– e de racionalização. Além disso,outras atividades significativas paraessas crianças devem ser proporcio-nadas fora do ambiente familiar, a fimde promover novos recursos internossaudáveis para lidar melhor com asdificuldades parentais.

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31241

Page 21: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

242 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finais

Esperamos ter demonstrado o quanto as vozes das crianças edos adolescentes, que surgem neste contexto de decisão, devem servalorizadas, pois são informações imprescindíveis em um contextono qual o “adultismo” prevalece. Frequentemente, as crianças e osadolescentes são menosprezados pelos adultos como sujeitos dedireitos e que merecem ser ouvidos, postura esta proveniente delegado histórico ainda presente em nossa sociedade (Ariés, 1986).Cabe aos profissionais que lidam diretamente com esta populaçãobuscar desvendar suas manifestações afetivas dentro da dinâmicade divórcio destrutivo em que está inserida. É primordial ter sensi-bilidade e conhecimento acerca do sofrimento infantil, que se en-contra inserido nas falas, nos desenhos e nas brincadeiras, a fim deque se proporcionem intervenções favoráveis ao seu desenvolvi-mento saudável.

Os profissionais que lidam com essas famílias no contexto ju-rídico devem priorizar o bem-estar da criança e do adolescente e,em razão disso, privilegiar os papéis parentais em detrimento dosconjugais em uma situação de divórcio destrutivo. As decisões dosmagistrados e as intervenções psicossociais devem voltar-se para ospapéis parentais e para o bem-estar das crianças envolvidas, na pers-pectiva de que prevaleça o “interesse superior da criança” (Pereira,1999).

Não há respostas prontas e simples para a complexidade dodivórcio destrutivo. A postura crítica e sistêmica dos profissionais érequisito necessário para a atuação com famílias em situação de con-flito e disputa. Para tanto, o desenvolvimento de novas pesquisasque visem essa ampliação de visão é fundamental para o progressoda ciência. As contribuições que visei com este trabalho são enca-minhamentos de mudança paradigmática a fim de que se apresen-tem reflexões e soluções mais eficazes para os aspectos familiaresviolentos presentes no divórcio destrutivo.

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31242

Page 22: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

243

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

DESTRUCTIVE DIVORCE UNDER THEPERSPECTIVE OF CHILDREN OF LESSTHAN 12 YEARS OLD

ABSTRACT

This paper addresses the perspective from children indestructive divorce and falls within the legal contextfor the psychosocial study. Participants: three divorcedfamilies qith children, all under 12 years old.Theoretical basis: Family Systems Theory. Method:action research. Instruments: semi-structuredinterviews with families, family genogram, home visitsand family drawing held by children. The resultsshowed that children often are included in the conflictand express feelings of distress and dissatisfactionwith the marital conflict. Moreover, they showedsignificant resources to face divorce, as thestrengthening of fraternal subsystem.

Index terms: destructive divorce, JuridicalPsychology, drawing of family, phratry.

EL DIVORCIO DESTRUCTIVO DESDEEL PUNTO DE VISTA DE LOS NIÑOSHASTA 12 AÑOS DE EDAD

RESUMEN

Este artículo discute el punto de vista de los niñospequeños en la dinámica de divorcio destructivo y estádentro del marco jurídico durante el estudio psicosocial.Participantes: tres familias de divorciados con hijosmenores de 12 años de edad. Teórica: Teoría Sistémicade la Familia. Método: investigación-acción. Instru-mentos: entrevistas semi-estructuradas, genogramasfamiliares, visitas al domicilio y el diseño de la familiapor los niños. Los resultados mostraron que los niñoscon frecuencia se incluyen en el conflicto y expresansentimientos de malestar y descontento con el conflictomarital. Por otro lado, mostró importantes recursospara hacer frente al divorcio, como el fortalecimientode la fratría.

Palabras clave: divorcio destructivo, PsicologíaJurídica, el dibujo de la familia, fratría.

REFERÊNCIAS

Ahrons, C. R. (1995). O Bom Divórcio: comomanter a família unida quando o casamentotermina. (F. T. J. Fadel, H. Tarnapolsky &V. P. da Silva, trads.) Rio de Janeiro: Ob-jetiva. (Trabalho original publicado em1994).

Ariés, P. (1986). História Social da Criança e daFamília. (D. Flaksman, trad.) Rio de Janei-ro: Guanabara. (Trabalho original publi-cado em 1973).

Barbier, R. (2002). A Pesquisa-Ação. (L. Didio,trad.) Brasília: Liber Livro. (Trabalho ori-ginal publicado em 1996).

Böing, E., Crepaldi, M. A., & Moré, C. L. O.O. (2008). Pesquisa com famílias: aspec-tos teórico-metodológicos [versão eletrô-nica]. Paidéia, 18(40), 251-266.

Boszormenyi-Nagy, I., & Spark, G. M. (1973).Invisible Loyalties: Reciprocity inIntergenerational Family Therapy. New York:Harper & Row.

Bowen, M. (1979). De la família al individuo: ladiferenciación del si mismo en el sistema fami-liar. Barcelona: Paidos.

Campos, D. M. de S. (2000). O Teste do Dese-nho como Instrumento de Diagnóstico da Perso-nalidade: validade, técnica de aplicação e normasde interpretação. Petrópolis: Vozes.

Cerveny, C. M. de O. (2006). Família e filhosno divórcio. In C. M. de O. Cerveny (Org.).Família e... (pp. 83-95). São Paulo: Casa doPsicólogo.

Costa, L. F., Penso, M. A., Legnani, V. N., &Sudbrack, M. F. O. (2009). As competên-cias da Psicologia Jurídica na avaliaçãopsicossocial de famílias em conflito. Re-vista Psicologia e Sociedade, 21(2), 233-241.

Dantas, C., Jablonski, B., & Féres-Carneiro,T. (2004). Paternidade: considerações so-bre a relação pais-filhos após a separaçãoconjugal [versão eletrônica]. Paidéia,29(14), 347-357.

Despert, J. L. (1970). Crianças e Divórcio. (E.V. R. Lins, Trad.) São Paulo: Brasiliense.(Trabalho original publicado em 1953).

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31243

Page 23: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

244 Estilos da Clínica, 2011, 16(1), 222-245

Fedullo, S. (2001). Filhos do Divórcio. Em T.Castilho (Org.). Temas em Terapia Familiar(pp. 131-143). São Paulo: Summus.

Féres-Carneiro, T. (1998). Casamento con-temporâneo: o difícil convívio da indivi-dualidade com a conjugalidade [versão ele-trônica]. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11(2),379-394.

Féres-Carneiro, T. (2003). Separação: o do-loroso processo de dissolução da conju-galidade [versão eletrônica]. Estudos de Psi-cologia, 8(3), 367-374.

Ferreira, S. (1998). Imaginação e linguagem nodesenho da criança. Campinas: Papirus.

Flick, U (2009). Introdução à Pesquisa Qualitati-va (J. E. Costa, trad.). Porto Alegre: Artmed(Trabalho original publicado em 2007).

Glasserman, M. R. (1989). Clínica del divor-cio destrutivo. In J. M. Droeven (Org.),Mas allá de pactos y traiciones: construyendo eldialogo terapéutico (pp. 251-303). BuenosAires: Paidós.

Goldsmid, R., & Féres-Carneiro, T. (2007).A função fraterna e as vicissitudes de tere ser um irmão [versão eletrônica]. Psico-logia em Revista, 13(2), 293-308.

González Rey, F. (2005). Pesquisa Qualitativa eSubjetividade: os processos de construção da in-formação. (M. A. R. Silva, trad.) São Paulo:Pioneira Thomson Learning. (Trabalhooriginal publicado em 2005).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-ca – IBGE (2008). Estatísticas do RegistroCivil (Vol. 34). Rio de Janeiro: Ministériodo Planejamento, Orçamento e Gestão.

Isaacs, M. B., Montalvo, B., & Abelsohn, D.(2001). Divorcio difícil: terapia para los hijos ela familia. Buenos Aires: Amorrortu.

Lima, H. G. D. de, & Ribeiro, R. (2008). Con-tribuições da psicologia jurídica na práti-ca psicossocial na justiça. In E. F. Bastos& A. Fernandes da Luz (Orgs.), Família eJurisdição II (pp. 143-160). Belo Horizon-te: DeI Rey.

McGoldrick, M., & Gerson, R. (2005).Genogramas en La Evaluacion Familiar. Bar-celona: Gedisa.

Meynckens-Fourez, M. (2000). A fratria: oponto de vista eco-sistêmico. In E.Tilmans-Ostyn & M. Meynckens-Fourez(Orgs.), Os Recursos da Fratria (pp. 19-53)(C. A. Molina-Loza e A. M. Prates, trad.)Belo Horizonte: Artesã. (Trabalho origi-nal publicado em 1999).

Miermont, J., Angel, P., Angel, S., Cordina,A., Christian, D., Garrigues, P., Gross, M.,Errieau, G., Louppe, A., Maruani, G.,Molina-Loza, C. A., Neuburger, R., &Segond, P. (1994). Dicionário de terapias fa-miliares: teoria e prática. (C. A. Molina-Loza,trad.) Porto Alegre: Artes Médicas. (Tra-balho original publicado em 1987).

Minuchin, S. (1985). Calidoscopio familiar :imágenes de violencia y curación. Buenos Aires:Paidos.

Moura, M. L. S. de, & Ferreira, M. C. (2005).Projetos de Pesquisa: elaboração, redação e apre-sentação. Rio de Janeiro: EdUERJ.

Oliveira, A. L. (2006). Família e irmãos. In C.M. de O. Cerveny (Org.), Família e... (pp.63-81). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Peck, J. S., & Manocherian, J. R. (1995). Odivórcio nas mudanças do ciclo de vidafamiliar. In B. Carter & M. McGoldrick(Orgs.), As mudanças no ciclo de vida fami-liar : uma estrutura para terapia familiar (pp.291-320). (M. A. V. Veronese, trad) PortoAlegre: Artes Médicas. (Trabalho originalpublicado em 1989).

Penn, G. (2002). Análise semiótica de ima-gens paradas. In M. W. Bauer & G. Gaskell(Orgs.), Pesquisa Qualitativa com Texto, Ima-gem e Som: um manual prático (pp. 319-342).(P. A. Guareschi, trad.) Petrópolis: Vozes.(Trabalho original publicado em 2000).

Pereira, T. da S. (1999). O princípio do “melhorinteresse da criança”: da teoria à prática. Recu-perado em 03 nov. 2009, do site http://www.gonti jo-famil ia .adv.br/novo/artigos_pdf/Tania_da_Silva_Pereira/MelhorInteresse.pdf

Siméon, M. (2000). Em que se transformamas fratrias depois das separações e recom-posições? In E. Tilmans-Ostyn & M.

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31244

Page 24: ESUMO DESTRUTIVO NA PERSPECTIVA DE FILHOS COM MENOS DE …pepsic.bvsalud.org/pdf/estic/v16n1/a13v16n1.pdf · 223 DossiêArtigo plexidade existente em processos de divórcio nos quais

245

DossiêArtigoArtigoArtigoArtigoArtigo

Meynckens-Fourez (Orgs.), Os Recursos da Fratria (pp. 135-162) (C. A. Molina-Loza e A. M. Prates, trad.) Belo Horizonte: Artesã. (Trabalho original publica-do em 1999).

Vainer, R. (1999). Anatomia de um Divórcio Interminável: o litígio como forma de vínculo.São Paulo: Casa do Psicólogo.

Van Kolck, O. L. (1981). Interpretação Psicológica de Desenhos: três estudos. São Paulo:Pioneira.

Vasconcellos, M. J. E. de (1995). Terapia Familiar Sistêmica: bases cibernéticas. Campi-nas: Psy II.

Vasconcellos, M. J. E. de (2003). Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência.Campinas: Papirus.

Wallerstein, J. S., & Blakeslee, S. (1991). Sonhos e Realidades no Divórcio (E. L. C.Correa, trad.) São Paulo: Saraiva. (Trabalho original publicado em 1989).

Wallerstein, J., Lewis, J., & Blakeslee, S. (2002). Filhos do Divórcio (W. Fuchs, trad.)São Paulo: Loyola. (Trabalho original publicado em 2000).

Watzlawick, P., Beavin, J. H., & Jackson, D. D. (1990). Pragmática da ComunicaçãoHumana: um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação (A. Cabral, trad.)São Paulo: Cultrix. (Trabalho original publicado em 1967).

NOTA

1 Este texto está baseado na Dissertação de Mestrado “Papéis Conjugais e Pa-rentais na Situação de Divórcio Destrutivo com Filhos Pequenos” realizada pelaprimeira autora e orientada pela segunda, defendida perante o Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília.

[email protected]@terra.com.br

Recebido em maio/2010.Aceito em dezembro/2010.

12 Estilos 16.pmd 12/9/2011, 15:31245