estudos de linguagem através de ressonância magnética funcional

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i Universidade Estadual de Campinas Instituto de Física Gleb Wataghin Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia DRCC F 896 Monografia Estudos de Linguagem Através de Ressonância Magnética Funcional Aluno: Gabriel Nagamine E-mail: [email protected] Orientador: Prof. Dr. Roberto J. M. Covolan E-mail: [email protected] Campinas-SP 2014

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Ressonância Magnética funcional (fMRI: functional Magnetic Resonance Imaging) é uma técnica de imageamento que permite detectar zonas de atividade cerebral mais intensas através do registro de alterações hemodinâmicas e metabólicas associadas à atividade neuronal [1,2]. Por se constituir de uma técnica não invasiva, sem radiação ionizante e de boa resolução espacial, constitui hoje a principal aposta para estudos da dinâmica cerebral. Este presente trabalho tem como objetivo fazer uma introdução geral a vários aspectos que envolvem essa técnica, desde os princípios físicos envolvidos, técnicas para processamento de dados e a aplicação disso em um experimento real no estudo de linguagem. Nos dois primeiros capítulos são desenvolvidos os princípios físicos básicos que descrevem a ressonância magnética nuclear. O capítulo 2 descreve o comportamento de um momento magnético sob a ação de um campo magnético. Já, no capítulo 3, são utilizados os conceitos desenvolvidos no capítulo anterior para explicar como, a partir disso, é possível gerar, detectar e localizar um sinal em uma amostra.No capítulo 4, a ressonância magnética é introduzida no âmbito do estudo funcional do cérebro, mais precisamente no estudo da linguagem. Nesse capítulo é explicado o que é o acoplamento neurovascular, o sinal BOLD, e a sua importância para a detecção de sinais provindos de uma ativação neuronal. A análise de dados de fMRI é excessivamente complexa, e requer a utilização de técnicas sofisticadas, desde processamentos de imagem, sinal e estatísticas para levar os dados brutos vindos da máquina para um produto final, em que se é possível fazer uma análise. Por isso, antes dos dados serem analisados, eles passam por uma etapa de procedimentos computacionais conhecidos como pré-processamento. No capítulo 5 essa etapa é descrita. Finalmente, nos capítulos 6 e 7, os conhecimentos desenvolvidos ao longo da monografia são aplicados em um experimento prático de fluência verbal. No capítulo 6 é descrito como foi realizado o experimento e, no capítulo 7, os resultados são discutidos.

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  • i

    Universidade Estadual de Campinas

    Instituto de Fsica Gleb Wataghin

    Departamento de Raios Csmicos e Cronologia DRCC

    F 896 Monografia

    Estudos de Linguagem Atravs de Ressonncia

    Magntica Funcional

    Aluno: Gabriel Nagamine

    E-mail: [email protected]

    Orientador: Prof. Dr. Roberto J. M. Covolan

    E-mail: [email protected]

    Campinas-SP

    2014

  • ii

  • iii

    RESUMO

    Ressonncia Magntica funcional (fMRI: functional Magnetic Resonance

    Imaging) uma tcnica de imageamento que permite detectar zonas de atividade cerebral

    mais intensas atravs do registro de alteraes hemodinmicas e metablicas associadas

    atividade neuronal [1,2]. Por se constituir de uma tcnica no invasiva, sem radiao

    ionizante e de boa resoluo espacial, constitui hoje a principal aposta para estudos da

    dinmica cerebral. Este presente trabalho tem como objetivo fazer uma introduo geral

    a vrios aspectos que envolvem essa tcnica, desde os princpios fsicos envolvidos,

    tcnicas para processamento de dados e a aplicao disso em um experimento real no

    estudo de linguagem.

    Nos dois primeiros captulos so desenvolvidos os princpios fsicos bsicos que

    descrevem a ressonncia magntica nuclear. O captulo 2 descreve o comportamento de

    um momento magntico sob a ao de um campo magntico. J, no captulo 3, so

    utilizados os conceitos desenvolvidos no captulo anterior para explicar como, a partir

    disso, possvel gerar, detectar e localizar um sinal em uma amostra.

    No captulo 4, a ressonncia magntica introduzida no mbito do estudo

    funcional do crebro, mais precisamente no estudo da linguagem. Nesse captulo

    explicado o que o acoplamento neurovascular, o sinal BOLD, e a sua importncia para

    a deteco de sinais provindos de uma ativao neuronal.

    A anlise de dados de fMRI excessivamente complexa, e requer a utilizao de

    tcnicas sofisticadas, desde processamentos de imagem, sinal e estatsticas para levar os

    dados brutos vindos da mquina para um produto final, em que se possvel fazer uma

    anlise. Por isso, antes dos dados serem analisados, eles passam por uma etapa de

    procedimentos computacionais conhecidos como pr-processamento. No captulo 5 essa

    etapa descrita.

    Finalmente, nos captulos 6 e 7, os conhecimentos desenvolvidos ao longo da

    monografia so aplicados em um experimento prtico de fluncia verbal. No captulo 6

    descrito como foi realizado o experimento e, no captulo 7, os resultados so discutidos.

  • iv

  • v

    ABSTRACT

    Functional Magnetic Resonance (fMRI) is an imaging technique that allows to

    detect cerebral activities zones more intense over recording hemodynamic and metabolic

    changes, associated to the neuronal activities [1,2]. Because it is composed by a non

    invasive technique, without ionizing radiation and a good spatial resolution, it's the

    principal punt for cerebral dynamic studies. This contemporary work has got as purpose

    to make a general introduction to many aspects that include this technic, since the first

    physical principles involved, data technical processing and one application of that in one

    real trial in language study.

    In the first two chapters are developed the basic physical principles that describe

    nuclear magnetic resonance. Chapter 2 is about the behave of one magnetic moment over

    one magnetic field. In the chapter 3, the concepts developed on the chapter before are

    used to explain how, based on that, it is possible to generate, detect and locate one sample

    signal.

    In chapter 4, the magnetic resonance is implemented within the cerebral functional

    studies, more precisely in the language study. In this section it is explained what is

    neurovascular coupling, the BOLD signal and its value to detect the signals from a

    neuronal activation.

    The data analysis of fMRI is extremely complex, and requires the use of

    sophisticated techniques, since the image-processing, signal and statistics to take the

    whole data that came from the machine into a final product, that it is possible to analyze.

    That is why, before the data being analyzed it passes through a computerized process

    known as preprocessing. In chapter 5 this stage is described.

    Finally, at the 6th and 7th chapter, the knowledge developed through out the

    monograph are applied in a practical experiment of verbal fluency. In chapter 6, it is

    described how the experiment was realized and, in chapter 7, the results are debated.

  • vi

  • vii

    BIOGRAFIA DO AUTOR

    Gabriel Nagamine nasceu em So Paulo, no dia 5 de agosto de 1992. Iniciou sua

    graduao em 2010 no Instituto de Fsica da Universidade de Braslia (UnB) e

    posteriormente, em 2012, se transferiu para o Instituto de Fsica Gleb Wataghin (IFGW)

    da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Em 2013 foi aluno de iniciao

    cientfica do Professor Dr. Roberto J. M. Covolan, realizando o projeto Estudos de

    Linguagem Atravs de Ressonncia Magntica Funcional. Atualmente trabalha no

    projeto Estudos de Conectividade Cerebral em Linguagem Atravs de Ressonncia

    Magntica Funcional alm de realizar esse trabalho de monografia.

  • viii

    Things should be made as simple as possiblebut not simpler

    (Albert Einstein)

  • ix

  • x

  • xi

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos a meus orientadores Prof. Dr. Roberto J. M. Covolan e Dra. Andra

    Alessio pelas orientaes e ensinamentos que foram fundamentais.

    Alm deles, diversas outras pessoas foram essncias para a concluso desse

    trabalho. Gostaria tambm de agradecer a todas elas.

  • xii

  • xiii

    1 SUMRIO

    Resumo ............................................................................................................................ iii

    Abstract ............................................................................................................................. v

    Biografia do Autor .......................................................................................................... vii

    Agradecimentos ............................................................................................................... xi

    1 Introduo ................................................................................................................. 1

    2 Ressonncia Magntica Nuclear ............................................................................... 3

    2.1 Reposta Clssica de um Ncleo a um Campo Magntico ................................. 3

    2.1.1 Momento Magntico na Presena de um Campo Magntico ..................... 3

    2.1.2 Momento magntico com Spin: Equao do movimento ........................... 5

    2.1.3 Soluo: Precesso do Spin ........................................................................ 6

    2.2 Magnetizao, Relaxao e Equao de Bloch.................................................. 7

    2.2.1 Vetor Magnetizao .................................................................................... 7

    2.2.2 Interao spin rede ...................................................................................... 8

    2.2.3 Interao spin-spin e decaimento transversal ............................................. 9

    2.2.4 Equao de Bloch e Soluo para o Campo Esttico ............................... 11

    3. Deteco e Localizao de um Sinal em MRI ............................................................ 13

    3.1 Conceitos de Deteco de sinal........................................................................ 13

    3.1.1 Lei da Induo de Faraday........................................................................ 13

    3.1.2 O sinal de MRI e o Princpio da Reciprocidade ....................................... 14

    3.1.3 O Sinal Gerado pela Precesso da Magnetizao ..................................... 15

    3.2 Imageamento por Fourier e Espao-k .............................................................. 17

    3.2.1 Sinal e Densidade Efetiva de Spins .......................................................... 17

    3.2.2 Codificao de Frequncia e Transformada de Fourier............................ 18

    4 Estudos de Linguagem Atravs de Ressonncia Magntica Funcional ................. 22

    4.1 Ressonncia Magntica Funcional ................................................................... 22

    4.2 Acoplamento Neurovascular e o Sinal BOLD ................................................. 22

    4.3 O Crebro e a Linguagem ................................................................................ 23

    5 Pr-processamento .................................................................................................. 26

    5.1 Realinhamento temporal .................................................................................. 26

    5.2 Realinhamento espacial ................................................................................... 27

    5.3 Normalizao ................................................................................................... 29

    5.4 Suavizao ....................................................................................................... 30

    6 Mtodos .................................................................................................................. 32

  • xiv

    6.1 Equipamento e software utilizados .................................................................. 32

    6.2 Paradigma experimental .................................................................................. 32

    6.3 Voluntrios ....................................................................................................... 32

    7 Anlise de dados e Resultados................................................................................ 34

    Resultados ................................................................................................................... 37

    8 Concluses .............................................................................................................. 40

    Bibliografia ..................................................................................................................... 41

  • xv

  • 1

    1 INTRODUO

    O Imageamento por Ressonncia Magntica, ou MRI, um dos mais

    significativos avanos do sculo no que diz respeito a diagnsticos mdicos por

    imagem. Permite criar imagens em duas ou trs dimenses de qualquer parte do corpo,

    com uma excelente resoluo espacial. Alm disso, ela uma tcnica que no utiliza

    radiaes ionizantes, o que constitui uma grande vantagem em relao a outras tcnicas

    de imagem, como o raio X, que so prejudiciais sade.

    Alm de fazer imagens estruturais do corpo, pode-se utilizar a tcnica de MRI

    para detectar zonas de ativao cerebral. O Imageamento por Ressonncia Magntica

    funcional (fMRI: functional Magnetic Resonance Imaging) uma tcnica de

    imageamento que permite detectar zonas de atividade cerebral mais intensas atravs do

    registro de alteraes hemodinmicas e metablicas associadas atividade neuronal [1,2].

    A ressonncia magntica funcional uma das tcnicas mais importantes para o

    entendimento do crebro humano em ao. As vantagens da fMRI, em relao as outras

    tcnicas existentes, incluem que ela uma tcnica no invasiva e possui uma grande

    adaptabilidade para diferentes paradigmas experimentais.

    Nesse contexto, esta monografia tem como objetivo fazer uma introduo geral a

    vrios aspectos que envolvem a tcnica de fMRI, desde os princpios fsicos envolvidos,

    tcnicas para processamento de dados e a aplicao disso em um experimento real no

    estudo de linguagem.

    Os primeiros captulos dessa monografia tero como enfoque uma descrio

    bsica e qualitativa dos princpios fsicos envolvidos na ressonncia magntica. No

    captulo 2 ser descrito como ncleos atmicos se comportam quando imersos em campos

    magnticos. J, no captulo 3, sero utilizados os conceitos desenvolvidos no captulo

    anterior para explicar como, a partir disso, possvel gerar, detectar e localizar um sinal

    em uma amostra.

    Ao contrrio da MRI estrutural, que mede diferenas entre tecidos, estudos de

    MRI funcional medem mudanas na oxigenao do crebro atravs do tempo. Dessas

    mudanas, pesquisadores fazem inferncias indiretas a respeito da atividade neuronal. No

    captulo 4, a ressonncia magntica introduzida no mbito do estudo funcional do

    crebro, mais precisamente no estudo da linguagem. Nesse captulo explicado o que

    o acoplamento neurovascular, o sinal BOLD, e a sua importncia para a deteco de sinais

    provindos de uma ativao neuronal.

    Apesar de fMRI poder ser uma ferramenta extremamente til para entender o

    funcionamento do crebro humano, at a ferramenta mais poderosa pode ser ineficaz se

    no for utilizada da maneira apropriada. O captulo 5 descreve como os dados brutos de

    fMRI se transformam em um mapa estatstico vlido das funes cerebrais. A anlise de

    dados de fMRI excessivamente complexa, e requer a utilizao de tcnicas sofisticadas,

  • 2

    desde processamentos de imagem, sinal e estatsticas para levar os dados brutos vindos

    da mquina para um produto final, em que se possvel fazer uma anlise. Por isso, antes

    dos dados serem analisados, eles passam por uma etapa de procedimentos computacionais

    conhecidos como pr-processamento.

    Finalmente, nos captulos 6 e 7, os conhecimentos desenvolvidos ao longo da

    monografia sero aplicados em um experimento prtico de fluncia verbal. No captulo 6

    descrevemos como foi realizado o experimento e, no captulo 7, os resultados sero

    discutidos exibidos e discutidos.

  • 3

    2 RESSONNCIA MAGNTICA NUCLEAR

    Imageamento por ressonncia magntica (MRI: Magnetic resonance imaging)

    funciona por que possvel observar a maneira com que os prtons no corpo humano

    respondem a um campo magntico externo. O experimento de MRI , na verdade, a

    combinao de um processo de dois estgios. No primeiro estgio, a orientao do spin

    do prton manipulada por uma escolha do campo magntico aplicado. No segundo,

    mudanas na orientao podem ser medidas atravs da interao do campo magntico do

    prton com um detector. Apesar do campo de cada prton ser muito pequeno, um sinal

    significante pode ser medido, resultante da soma de todos os campos de todos os prtons

    afetados no corpo.

    Nesse captulo, sero introduzidos, de maneira geral, alguns conceitos tericos

    importantes para o entendimento do funcionamento da tcnica de imageamento por

    ressonncia magntica. Na primeira seo, o enfoque ser dado primeira etapa do

    processo, a resposta de um prton a um campo magntico externo, ignorando as

    interaes de cada prton com as suas vizinhanas. Na segunda seo veremos como essa

    resposta muda se passamos a considerar a interao de um prton com as suas

    vizinhanas.

    2.1 REPOSTA CLSSICA DE UM NCLEO A UM CAMPO MAGNTICO

    2.1.1 Momento Magntico na Presena de um Campo Magntico

    Apesar da ressonncia magntica nuclear ser um efeito de natureza quntica,

    interessante, para a sua compreenso, estudarmos o problema correspondente clssico.

    Para isso, ser estudada a resposta de um momento magntico aplicao de um campo

    magntico externo. A equao do torque, resultante da interao de um campo magntico

    com um dipolo, dada por:

    = (1)

    Onde o vetor momento magntico de um dipolo. Para entendermos essa equao, podemos analisar o efeito da aplicao de um campo magntico em uma espira

    circular planar. Nesse caso, o vetor momento magntico da espira dado por:

    = (2)

  • 4

    Figura 2.1: Esquematizao do momento magntico em uma espira planar de corrente I.

    Onde A a rea no interior da espira e I a corrente que passa por ela. O

    diferencial torque em uma espira dado por:

    = (3)

    Onde o vetor posio e o diferencial da fora resultante na espira, devido ao campo magntico externo. A fora magntica em uma espira dada por:

    = (4)

    Substituindo-se (4) em (3), obtemos:

    = ( ) = ( . ) ( . ) (5)

    Em coordenadas cilndricas, dado por:

    = ( + ) = + = +

    (6)

    Temos que = e = , logo, o segundo produto escalar em (5) nulo e o primeiro produto escalar ser, usando (6):

    = 2 (7)

    Integrando essa expresso em , temos o torque total, que dado por:

    = 2 (8)

    Se utilizar a equao (2) com A = R e o momento magntico na direo do eixo

    z, e a substituir em (1), vemos que (1) idntico a (8).

    Atravs da equao (1), podemos perceber a resposta de um momento magntico

    aplicao de um campo magntico externo. Vemos que o torque sempre perpendicular

    ao momento magntico e ao campo. Isso faz com que o momento magntico sempre tente

  • 5

    se alinhar ao campo, de maneira semelhante a um pndulo que tenta se alinhar

    gravidade.

    2.1.2 Momento magntico com Spin: Equao do movimento

    Se o torque sobre um sistema no nulo, temos que a variao do seu momento

    angular total dada por:

    =

    (9)

    Podemos tambm relacionar o momento angular intrnseco (spin) do prton (ou

    de outras partculas) com o seu momento magntico. A lgica nessa associao pode ser

    vista caso se imagine o prton como uma carga que possui uma rotao, fazendo com que

    exista uma corrente circular ao seu redor. Essa carga em movimento geraria o momento

    magntico do prton. Claro que esse exemplo s tem fins ilustrativos, com a finalidade

    de dar um sentido mais intuitivo na relao entre momento angular intrnseco e o seu

    momento magntico. Sabemos, pela mecnica quntica, que o spin do prton no

    corresponde a uma rotao, e sim, a um momento angular inerente da partcula.

    Experimentalmente, temos que a relao direta entre momento magntico e momento

    angular dada por:

    = (10)

    Onde chamada de razo giromagntica e depende da partcula ou do ncleo

    em questo. Para o prton, temos experimentalmente: = 2,675 108

    / . Para

    outros elementos, temos:

    Tabela 2.1: Razo giromagntica de alguns elementos, seus spins e suas respectivas abundncias no corpo

    humano.

    Utilizando a relao (10) entre o momento magntico e o spin, e a relao (1) do

    torque no momento magntico gerado pela aplicao de um campo magntico externo,

    podemos ver que (9) se reduz a:

    =

    (11)

  • 6

    Essa a equao fundamental que governa o movimento de precesso e rotao

    dos spins.

    2.1.3 Soluo: Precesso do Spin

    Figura 1.1: Esquematizao de uma precesso no sentido horrio do spin de um prton. Podemos

    ver que d negativo.

    Pela figura, vemos que:

    | | = || (12)

    Mas, por outro lado, por (11) e (12):

    | | = | | = (13)

    Logo, por comparao:

    || = || (14)

    De onde podemos tirar a frmula de precesso de Lamour:

    = |

    | =

    (15)

    Ou seja, o spin precessiona em torno do campo magntico com uma velocidade

    angular = . Tambm podemos achar a soluo de (11), para em coordenadas cartesianas. Resolvendo essa equao, obtemos que:

    () = () + () + () (16)

    Com

    () = (0)0 + (0)0

  • 7

    () = (0)0 (0)0

    () = (0)

    (17)

    2.2 MAGNETIZAO, RELAXAO E EQUAO DE BLOCH

    At agora, estudamos a resposta de um prton isolado aplicao de um campo

    magntico externo. Mas, alm disso, importante sabermos o resultado da interao do

    spin de um prton com a sua vizinhana, para a compreenso do fenmeno de ressonncia

    magntica. Os campos locais interferem na frequncia de precesso do spin, e o prton

    pode trocar sua energia de spin com as suas proximidades.

    2.2.1 Vetor Magnetizao

    Para entender melhor esses efeitos, primeiramente vamos definir o vetor

    magnetizao :

    =

    (18)

    Onde V um volume pequeno o suficiente para que os campos externos possam

    ser aproximados a serem constantes em V, porm, grande o suficiente para ter um grande

    nmero de prtons. Como trabalhamos com corpos macroscpicos, mais interessante a

    utilizao do vetor magnetizao do que o do momento magntico , de um nico prton. Com isso, (11) vira:

    =

    (19)

    Daqui para frente, sempre consideraremos o campo magntico externo na direo

    do eixo z, = 0, para efeito de simplicidade. Com isso, podemos separar o vetor magnetizao M em termos das suas componentes paralela e transversal:

    {

    || =

    = +

    (20)

    Resultando, sem considerar as interaes entre os prtons:

    {

    = 0

    =

    (21)

  • 8

    2.2.2 Interao spin rede

    Certamente a equao (21) na direo z est errada, pois na sua formulao

    levamos apenas em considerao a interao dos prtons com um campo magntico

    externo. Para chegarmos a uma equao correta, necessrio que levemos em conta

    tambm a interao de um prton com a sua vizinhana. Para entender a origem do termo

    faltante na equao, vamos o problema do ponto de vista energtico.

    Temos que a equao clssica que relaciona a energia potencial a um momento

    magntico imerso em um campo magntico dada por:

    = . (22)

    Logo, temos que a energia potencial em termos do vetor magnetizao dada por:

    = . = ||0 (23)

    Com isso, vemos que a energia potencial ser a menor possvel quando o vetor

    magnetizao estiver em paralelo com o campo magntico. Isso implica que o vetor

    magnetizao tentar se alinhar com , para atingir o seu estado de mnima energia. Como os prtons esto em contato trmico com a sua rede de tomos vizinhos, o

    movimento trmico presente na rede pode dar conta de qualquer mudana no spin de um

    determinado prton dado. Isso significa que como o prton no est isolado, ele pode

    perder energia para o seu meio, fazendo com que a direo de precesso do seu spin mude.

    Falando em termos qunticos, o spin pode trocar um quantum de energia com a rede.

    Apesar de que as componentes transversais podem ser ignoradas na discusso da

    energia (elas somem no produto escalar com o campo externo), podemos inferir de (23)

    que elas devem desaparecer medida que a componente longitudinal retorna ao

    equilbrio. Na verdade, elas desaparecem mais rpido do que isso, devido ao efeito de

    defasagem, que ser visto na prxima seo. O valor de equilbrio da magnetizao

    longitudinal depende do campo externo aplicado e da temperatura do meio e obedece

    lei de Curie:

    0 =

    0

    (24)

    Onde C uma constante de proporcionalidade para prtons e outras partculas

    com diferentes spins.

    Introduzindo T1:

    A taxa de variao temporal da magnetizao longitudinal proporcional

    diferena 0 . A constante de proporcionalidade determinada empiricamente e representa o inverso do tempo de relaxao longitudinal. Com isso, a equao (21), para

    a magnetizao longitudinal, vira:

  • 9

    =1

    1(0 )

    (25)

    Onde 1 determinado experimentalmente e chamado de tempo de relaxao spin-rede. O parmetro de relaxao 1 normalmente assume diferentes valores para diferentes tecidos do corpo humano, como pode ser visto na tabela a seguir:

    Tecido 1(ms) Substncia cinzenta 950

    Substncia branca 600

    Msculo 900

    Fluido cerebrospinal 4500

    Gordura 250

    Sangue 1200

    Tabela 2.2: Valores representativos do parmetro de relaxao 1 em milissegundos para diferentes tecidos do corpo humano.

    Imaginemos a situao na qual o vetor magnetizao tirado do equilbrio atravs

    da aplicao de um pulso de rdio frequncia em uma direo diferente da do campo

    magntico externo . Resolvendo (25), temos que a soluo para o campo magntico externo dada por:

    () = (0)(0) 1 +0(1

    1 ) (26)

    2.2.3 Interao spin-spin e decaimento transversal

    Outro importante mecanismo para a ocorrncia do decaimento da magnetizao

    transversal o efeito de defasagem. Todos os prtons em uma amostra sentem um campo

    magntico que a soma do campo magntico externo com o campo gerado pelos seus

    vizinhos. Como visto anteriormente em (15), a velocidade de precesso dos spins est

    diretamente relacionada com o campo magntico que eles sentem. Logo, como cada

    prton sente um campo magntico diferente em um determinado instante de tempo, as

    suas respectivas velocidades de precesso tambm sero diferentes. Isso faz com que

    exista uma defasagem nas componentes transversais de cada momento magntico. Com

    isso, a soma de todos os momentos magnticos locais, que gera o vetor magnetizao , se anulam depois de um determinado tempo. Esse efeito est ilustrado na figura a seguir:

  • 10

    Figura 2.2: A sequncia de cima mostra o vetor momento magntico de vrios prtons sendo

    derrubado para o plano x-y. Uma vez que ele derrubado cada prton precessiona com uma velocidade

    diferente, criando uma defasagem, como visto na terceira imagem. Na sequncia de baixo mostra o que

    acontece com o vetor magnetizao, que a soma de todos os momentos magnticos dividido pelo

    volume da amostra. Note que na terceira imagem, medida que os momentos vo defasando, o mdulo

    do vetor magnetizao diminui.

    Introduo de T2:

    A caracterizao geral da maneira como a magnetizao transversal decai traz um

    novo parmetro experimental, o tempo de relaxao spin-spin 2. Com isso, a equao diferencial dada em (21), na parte transversal do vetor magnetizao, se tornar:

    =

    1

    2

    (27)

    Assim como 1 , 2 pode assumir diferentes valores para diferentes tecidos do corpo humano. A ttulo de exemplificao, podemos adicionar os respectivos valores de

    2 na tabela anterior:

    Tecido 1(ms) 2 (ms) Substncia cinzenta 950 100

    Substncia branca 600 80

    Msculo 900 50

    Fluido cerebrospinal 4500 2200

    Gordura 250 60

    Sangue 1200 100-200

    Tabela 2.2: Valores representativos dos parmetros de relaxao 1 e 2 em milissegundos para diferentes tecidos do corpo humano.

  • 11

    Introduo de e :

    At agora, tratamos o campo externo como se ele fosse constante. Na prtica, ele no homogneo, e isso adiciona efeitos de defasagem extras na magnetizao. A

    reduo no valor inicial da componente transversal da magnetizao, devido a essas

    inomogeneidades, pode ser caracterizada por um tempo de decaimento separado, 2. Com

    isso, podemos definir:

    1

    2 =

    1

    2 +

    1

    2

    (28)

    2.2.4 Equao de Bloch e Soluo para o Campo Esttico

    Com isso, podemos finalmente juntar as equaes (25) e (27) em uma nica

    equao vetorial:

    = +

    1

    1(0 )

    1

    2

    (29)

    Essa a equao diferencial que governa a dinmica de excitao/relaxao em

    experimento de MRI, e chamada de Equao de Bloch. Considerando um campo externo

    = 0 na direo z, como foi feito at agora, podemos separar a equao (29) em mais

    3 equaes, uma para cada componente de :

    =0

    1

    (30)

    = 0 2

    (31)

    = 0 2

    (32)

    Cujas solues so dadas por:

    () = 2 ((0)0 + (0)0) (33)

    () = 2 ((0)0 (0)0) (34)

    () = (0) 1 +0(1

    1 ) (35)

    Podemos observar a situao de equilbrio do sistema analisando o limite em que

    nessas solues. Nesse caso, temos:

    () = () = 0 e () = 0 (36)

    O Pulso de Rdio Frequncia e o experimento de MRI

  • 12

    Com o que foi dito at agora, podemos resumir o experimento de MRI em algumas

    etapas bsicas. Primeiramente, aplicado campo magntico uniforme no tempo, que

    convencionamos como sendo na direo z. Esse campo alinha os momentos magnticos

    dos prtons da amostra na mesma direo. Depois de alinhados aplicado um novo

    campo na amostra durante um determinado tempo para tirar os spins do equilbrio. Depois

    que esse novo campo retirado, os spins tendem a voltar pro seu estado de menor energia,

    perdendo energia. Nessa volta possvel detectar (como ser descrito no prximo

    captulo) um sinal que nos da informaes a respeito da amostra estudada.

    O que no foi dito at agora que esse campo utilizado tirar os spins do equilbrio

    precisa ter algumas caractersticas. Para ele ser absorvido pela amostra ele precisa ter a

    mesma frequncia de oscilao dos prtons do sistema, da vem a palavra ressonncia

    em ressonncia magntica. Essa frequncia prxima da faixa das radio frequncias, por

    isso esse campo magntico inserido para excitar os prtons do sistema chamado de pulso

    de rdio frequncia.

  • 13

    3. DETECO E LOCALIZAO DE UM SINAL EM MRI

    No captulo anterior, foi caracterizada a maneira como os momentos magnticos

    de uma amostra reagem presena de campos magnticos externos. Nesse captulo sero

    utilizados estes conhecimentos para estudar como esses efeitos so utilizados em um

    experimento de ressonncia magntica. Na primeira seo estudaremos como so

    utilizados os princpios estudados at agora para se detectar um sinal. Depois, na segunda

    seo, estudaremos como que possvel, com a insero de um campo gradiente no

    sistema, localizar o sinal detectado.

    3.1 CONCEITOS DE DETECO DE SINAL

    Vimos que os momentos magnticos dos prtons de uma amostra podem ser

    tirados do equilbrio atravs da aplicao de um pulso de rdio frequncia. Nesse caso,

    quando eles saem do equilbrio, so criadas componentes transversais no vetor de

    magnetizao. Uma vez que o vetor magnetizao possua uma componente transversal,

    a deteco da sua precesso ao redor de 0 pode ser considerada.

    A chave para se entender como possvel observar a magnetizao em uma

    amostra d-se na compreenso de como a precesso dos spins geram uma interao com

    o detector. Quando os spins dos prtons de uma amostra precessionam, os seus campos

    magnticos tambm giram, criando uma variao do fluxo magntico em uma

    determinada superfcie. Essa variao, pela lei de Faraday, cria uma fora eletromotriz

    (emf) em uma espira atravessada pelo campo magntico dos spins em precesso. Essa

    a origem do sinal detectado no experimento de ressonncia magntica.

    H detalhes de engenharia importantes para se maximizar a eficincia da

    aquisio desse sinal. Porm, nesse trabalho, o enfoque ser dado aos princpios fsicos

    bsicos associados a esse processo.

    3.1.1 Lei da Induo de Faraday

    Como foi visto, a Lei da Induo de Faraday um princpio fsico essencial para

    a compreenso de como se d a deteco de um sinal em um experimento de ressonncia

    magntica funcional. Basicamente, ela diz que uma fora eletromotriz induzida em uma

    bobina pela variao do fluxo magntico que a atravessa, ou seja:

    =

    (37)

    Onde:

    =

    .

    (38)

  • 14

    A corrente induzida em uma espira por essa emf tal que produz um campo que

    se ope s mudanas induzidas pelo campo externo.

    3.1.2 O sinal de MRI e o Princpio da Reciprocidade

    Podemos converter a equao (38) para uma forma mais til ao estudo de MRI. O

    campo magntico associado com a magnetizao de uma amostra origina-se de uma

    densidade efetiva de corrente, dada por:

    ( , ) = ( , ) (39)

    Onde a densidade efetiva de corrente. O operador rotacional computa circulao na rede da magnetizao. como se associasse essa densidade de corrente a

    vrias pequenas espiras (nesse caso, os spins precessionando).

    O vetor potencial em uma posio devido a essa densidade dado por:

    ( ) =

    04

    ( , )

    | |

    (40)

    O campo magntico dado por:

    = (41)

    Utilizando o teorema de Stokes, podemos achar o fluxo na bobina (38) em termos

    do potencial vetor, utilizando (41):

    =

    . =

    . = .

    (42)

    Substituindo (39) em (40), e depois (40) em (42), e desenvolvendo, obtemos:

    =

    043 ( , ) [ (

    | |)]

    (43)

    Se calcular (40) em r, porm, para correntes em espiras, temos:

    ( ) =

    04(

    | |)

    (44)

    Isso mostra que o rotacional da integral de linha sobre o caminho da corrente ,

    na verdade, , o campo magntico por unidade de corrente que seria produzido pela bobina em r:

  • 15

    ( ) =

    ( )

    = (

    04

    | |)

    (45)

    Com isso, podemos escrever o fluxo como:

    = 3

    ( ). ( , )

    (46)

    Onde agora fazemos explcita a dependncia temporal do vetor magnetizao. O

    fato de que este fluxo dependa de , o campo de recepo produzido pela bobina de deteco em todos os pontos onde a magnetizao no zero, um exemplo do

    princpio da reciprocidade. A expresso original, como integral de superfcie sobre a rea

    da bobina de deteco, foi substituda por uma integral de volume sobre a regio em que

    a magnetizao diferente de zero. Isto , o fluxo atravs da bobina de deteco devido

    a magnetizao pode ser achada calculando o fluxo que iria emanar da bobina detectora,

    por unidade de corrente, atravs da magnetizao.

    Finalmente, a fora eletromotriz induzida na bobina detectora, por (37), dada

    por:

    =

    =

    3

    ( ). ( , )

    (47)

    Essa a expresso chave para se entender os fatores que influenciam na amplitude

    do sinal detectado. Com isso, temos que o sinal ser proporcional a (47):

    ()

    3

    ( ). ( , )

    (48)

    Vamos considerar um caso onde j o correu o processo de excitao em uma

    amostra.

    3.1.3 O Sinal Gerado pela Precesso da Magnetizao

    Vamos considerar um caso onde j o correu o processo de excitao em uma

    amostra. Assim a magnetizao possui componentes , , . Logo, (48) fica:

    ()

    3 [

    ( )( , ) + ( )( , )

    + ( )( , )]

    (49)

  • 16

    Introduzindo as componentes de ( , ) no integrando acima, podemos computar as derivadas temporais. Isso mostrar que a componente longitudinal pode ser

    desprezada.

    Definindo:

    +( , ) = 2( ) 0+( , 0) =

    2( ) 0+0( )( , 0) (50)

    Onde

    { = + = +

    (51)

    Para campos na ordem de Tesla, 0 muito maior do que 1/1 e 1/2. Logo, os

    termos que contm derivadas de 1 e 2 podem ser desprezados frente aos termos

    que possuem derivadas de 0 . Com isso, utilizando (51), (50) e (35) em (49), obtemos:

    () 0

    3 2( ) ( , 0)[ ( ) sin(0 0( ))

    + ( ) cos(0 0( ))]

    (52)

    Isso mostra que o sinal provm da magnetizao transversal +, cuja magnitude dada por:

    + = 2 +2

    (53)

    A expresso (52) pode ser simplificada ainda mais, fazendo:

    cos

    sin (54)

    Usando essa definio, (52) vira:

    () 0

    3 2( ) ( , 0)( ) sin(0 + ( ) 0( )) (55)

    Se considerarmos amostras pequenas e homogneas, podemos eliminar a

    dependncia espacial. Com isso, essa integral vira:

    () 0 sin(0 + 0) (56)

    Onde o volume da amostra. Onde esse o sinal no limite da independncia espacial.

  • 17

    3.2 IMAGEAMENTO POR FOURIER E ESPAO-K

    At agora, estudamos os princpios bsicos de como o momento magntico em

    uma amostra se comporta com a aplicao de um campo, e com isso, como se d a gerao

    e a deteco de um sinal em ressonncia magntica. Porm, o objetivo da ressonncia

    magntica no apenas gerar e detectar um sinal. Para a ressonncia magntica nuclear

    se transformar em imageamento por ressonncia magntica preciso tambm saber

    localizar a origem desse sinal. Vimos em (15) que ncleos idnticos podem precessar a

    diferentes velocidades, se so submetidos a campos magnticos diferentes. Com isso,

    podemos determinar a distribuio espacial dos spins atravs da sobreposio de uma

    variao espacial do campo magntico externo ao campo esttico e homogneo, que

    utilizamos at agora.

    Para impor uma dependncia espacial ao campo magntico, o campo magntico

    uniforme pode ser aumentado por um campo pequeno e linear, um gradiente. A ttulo de

    simplicidade, esse trabalho apenas se restringir no estudo unidimensional desses campos

    de gradiente.

    3.2.1 Sinal e Densidade Efetiva de Spins

    Podemos fazer o sinal obtido em (55) passar por um processo chamado de

    demodulao. A demodulao uma etapa na qual removemos as oscilaes rpidas na

    frequncia 0 atravs da multiplicao do sinal por uma funo senoildal ou cossenoidal perto da frequncia 0. No ser mostrado aqui, mas demodulando o sinal (55), podemos obter:

    () = 0

    3 ( , 0)(+( ,))

    (57)

    Onde a frequncia de demodulao, a fase acumulada e uma constante

    de proporcionalidade que pode absorver todas as constantes de fase ou de ganho do

    sistema. Por (15), dada por:

    ( , ) =

    0

    ( , ) (58)

    Nesse trabalho apenas fizemos uma anlise clssica do problema de como a

    magnetizao responde a um campo magntico externo, apesar dele se tratar de um

    problema de origens qunticas. A Lei de Curie dada em (24), possui seu anlogo quntico

    que relaciona a magnetizao com a densidade de spins 0:

    0

    1

    4022

    0 0

    (59)

  • 18

    Imaginemos que a amostra j tenha sido excitada por um pulso de rdio frequncia

    de /2 (nesse caso o vetor magnetizao jogado totalmente no plano transversal, fazendo

    com que ( = 0) = 0 ( = 0) = 0 ). Com isso, utilizando (59), podemos dizer que:

    ( , 0) = 0( ) =

    1

    40( )

    22

    0

    (60)

    Onde 0( ) o nmero de spins de prtons por unidade de volume em 3 dimenses. Combinando (57) com (60), obtemos:

    () = 3 ( )(+( ,))

    (61)

    Onde introduzimos a densidade efetiva de spins:

    ( ) = 00( ) =

    1

    400( )

    22

    0

    (62)

    Vamos agora restringir o nosso interesse ao caso unidimensional. Nesse caso, o

    sinal pode ser escrito como:

    () = ()(+(,))

    (63)

    Onde:

    () ( )

    (64)

    No qual todos os limites de integrao so delimitados pela regio onde a

    densidade de spins no nula.

    3.2.2 Codificao de Frequncia e Transformada de Fourier

    O objetivo em um experimento de ressonncia magntica poder construir uma

    imagem, onde possvel distinguir as diferentes caractersticas que diferentes regies de

    uma amostra possui. Essas diferenas so caracterizadas pela densidade efetiva de spins

    ( ). Logo, para entender como determinar ( ) a partir do sinal coletado, o nosso prximo passo ser conectar a precesso do spin a sua posio, e depois reconhecer que

    essa conexo implica em que o sinal uma j conhecida transformada integral linear da

    sua densidade de spins.

    Codificao de Frequncia da Posio do Spin

  • 19

    A frequncia de precesso de um spin ser proporcional sua posio se for

    adicionado ao campo esttico uniforme um outro campo, que varie linearmente. Nesse

    caso, teremos:

    (, ) = 0 + () (65)

    Onde G o gradiente na direo z, espacialmente constante:

    (66)

    E para o caso unidimensional = . Com a introduo desse gradiente no campo, a frequncia angular dos spins ser:

    (, ) 0 +(, ) (67)

    Por (65) a frequncia de Lamour linear tanto em G como em z, com isso:

    (, ) = () (68)

    A utilizao de um gradiente para estabelecer uma relao tal qual (68), entre a

    posio dos spins em alguma direo e suas taxas de precesso chamado de codificao

    em uma determinada direo. Com isso, a fase acumulada (58) em t, devido a aplicao

    de um gradiente, fica:

    (, ) =

    0

    (, ) = ()

    0

    (69)

    Onde assumido que o gradiente comeou a ser aplicado a partir do tempo t = 0.

    Equao de Imagem em 1-D e Transformada de Fourier

    O sinal dado em (63), com uma frequncia de demodulao = 0 e frequncia de precesso (67), fica:

    () = ()(,)

    (70)

    Onde a fase determinada pelo campo de gradiente. A dependncia explicita em

    z na fase em (69) para o campo linear, nos faz poder reescrever (70) como:

    () = ()2

    (71)

    Onde a dependncia temporal fica implcita em k = k(t), que dado por:

  • 20

    () =

    2 ()

    0

    (72)

    Essas expresses nos mostram que, quando gradientes lineares so

    implementados, o sinal s(k) dado pela transformada de Fourier da densidade de spins

    da amostra. A densidade de spins dita codificada por Fourier em z pelo gradiente linear.

    Ento, podemos obter a densidade efetiva de spins aplicando a transformada

    inversa de Fourier em (71):

    () = () +2

    (73)

    A Cobertura do Espao-k

    Vimos ento que a transformada de Fourier conecta o espao k, que o espao

    do sinal medido, com o espao z, que o espao da densidade de spins, ou seja, da

    imagem que desejamos montar. Isso implica que a funo da densidade de spins pode ser

    construda a partir do sinal, isso se o sinal for colhido para um grande nmero de valores

    de k. A integral (73) requer uma boa cobertura do espao k.[7] As imagens abaixo

    ilustram como se d essa relao entre o sinal obtido e a densidade de spins.

    Para reconstruir a densidade de spins, na relao (73) o sinal teria de ser adquirido

    de maneira continua por um tempo infinito. Porm, obviamente, esse no o caso em um

    experimento de ressonncia magntica. Para dar conta desse problema, utilizada a teoria

    da transformada de Fourier discreta em (73) que no ser discutida nesse trabalho.

    Figura 3.1: A transformada de Fourier conecta o espao do sinal (espao k) com o espao da imagem.

  • 21

    Figura 3.2: Do lado esquerdo temos uma amostragem do sinal no espao k. Se aplicarmos a transformada

    de Fourier podemos gerar a imagem desejada, como a da direita.

  • 22

    4 ESTUDOS DE LINGUAGEM ATRAVS DE RESSONNCIA MAGNTICA

    FUNCIONAL

    Nesse captulo ser descrito o que a ressonncia magntica funcional, como ela

    consegue identificar zonas de ativao neuronal e sua importncia no estudo do crebro,

    em particular no estudo da linguagem.

    4.1 RESSONNCIA MAGNTICA FUNCIONAL

    At agora, vimos os fundamentos fsicos bsicos para entendermos como

    possvel formar imagens com ressonncia magntica. Alm dessa tcnica ser til para

    fazer imagens estruturais no interior do corpo de uma pessoa (pode ser utilizada para

    identificar uma leso, por exemplo) ela tambm consegue identificar zonas de ativao

    cerebrais.

    Ressonncia Magntica funcional (fMRI: functional Magnetic Resonance

    Imaging) uma tcnica de imageamento que permite detectar zonas de atividade cerebral

    mais intensas atravs do registro de alteraes hemodinmicas e metablicas associadas

    atividade neuronal [1,2].

    4.2 ACOPLAMENTO NEUROVASCULAR E O SINAL BOLD

    A atividade neuronal um processo que requer energia, suprida na forma de

    trifosfato de adenosina (ATP). O ciclo metablico para a produo de ATP utiliza, como

    substratos bsicos, oxignio e glicose, que so conduzidos aos neurnios atravs da

    corrente sangunea. O sangue transporta oxignio at os neurnios atravs da

    oxihemoglobina (HbO) que, ao liberar O2 atravs da vasculatura capilar, torna-se

    desoxihemoglobina (dHb). As propriedades magnticas do sangue dependem das

    concentraes relativas desses dois componentes, dado que a HbO uma substncia

    diamagntica, enquanto que a dHb paramagntica.

    Durante a ativao neuronal, para suprir a carncia momentnea e localizada de

    oxignio, ocorre um acrscimo seletivo de fluxo sanguneo regional (CBF: cerebral blood

    flow). Acompanhando o aumento da taxa de consumo de oxignio (CMRO2: cerebral

    metabolic rate for oxygen consumption) e o aumento de CBF, ocorre vasodilatao, que

    implica em um aumento do volume sanguneo localizado (CBV: cerebral blood volume).

    Esse mecanismo chamado de acoplamento neurovascular.

    A inter-relao desses fatores, representada na figura a seguir, ou mais

    precisamente, a dinmica a que eles obedecem o que determina a prevalncia

    momentnea de HbO ou dHb em relao ao estado basal em uma determinada regio

    cerebral.

  • 23

    Figura 4.1: Esquematizao do acoplamento neurovascular.

    O sinal obtido em fMRI acaba dependendo da predominncia de um ou de outro

    desses fatores ao longo do tempo. Inicialmente, com o aumento no consumo de oxignio,

    existe um predomnio momentneo de dHb, implicando em um aumento do campo

    magntico local e na consequente queda de sinal. Com o aumento do fluxo sanguneo,

    aumenta a concentrao de HbO, levando diminuio do campo magntico local e a um

    aumento de sinal. Essas alteraes estabelecem uma forma de contraste endgeno em

    relao a imagens obtidas no estado basal, possibilitando localizar os stios de ativao

    [2].

    Portanto, a gerao de contraste em fMRI acaba dependendo, em ltima anlise,

    do nvel de oxigenao do sangue. Por esta razo, esse mecanismo denominado efeito

    BOLD (Blood Oxygenation Level Dependent effect). A aquisio de sinal BOLD o

    principal mtodo utilizado em fMRI. Contudo, a gerao de fMRI via BOLD resulta de

    um mecanismo intrincado e complexo, que envolve alteraes concomitantes de CBF, de

    CBV e de nvel de oxigenao sangunea [3], atravs de uma dinmica que ainda demanda

    estudos.

    4.3 O CREBRO E A LINGUAGEM

    A linguagem um sistema universal, complexo e poderoso atravs do qual os

    sons, os smbolos, os gestos e as expresses podem ser interpretados e usados para

    comunicao. A porta para receber os sinais relacionados comunicao e que, em

    seguida, so interpretados pelo nosso crebro compreende dois sistemas sensoriais

  • 24

    principais: a viso e a audio. O sistema motor, por sua vez, responsvel por transmitir

    esses sinais, seja atravs da fala ou atravs da escrita. O processamento cerebral entre

    esses dois sistemas, o sensitivo e o motor, a essncia da linguagem.

    A linguagem tem sido estudada por muitos anos. Pelo estudo de casos em que a

    capacidade da fala foi perdida aps alguma leso cerebral, sem haver alteraes nas

    faculdades mentais, inferiu-se que deveria haver regies especficas no crebro

    responsvel pelo sistema da linguagem.

    Em 1825, o fsico francs Jean-Baptiste Bouilland props que a fala controlada

    por reas do crebro localizadas nos lobos frontais. Em 1861, Simon Ernest Aubertin,

    enteado de Jean-Baptiste Bouilland, percebeu que, pressionando uma rea exposta do

    lobo frontal, havia interrupo da fala de um paciente que, ao tentar suicdio, tivera aberto

    essa regio. Alm da confirmao da hiptese apresentada pelo padrasto, essa observao

    permitiu que se soubesse que a rea do crtex cerebral influenciava a produo da fala.

    No mesmo ano, ao estudarem um paciente incapaz de falar, o neurologista francs Paul

    Broca juntamente com Aubertin atriburam essa deficincia leso cerebral no lobo

    frontal. A ideia da existncia de um centro da linguagem no crebro humano, resultado

    das concluses de Broca e Aubertin, causou muita polmica. Dois anos mais tarde, porm,

    o neurologista publicou um artigo relatando oito casos nos quais ocorrera prejuzo

    capacidade de falar, devido a danos no lobo frontal do hemisfrio esquerdo. No mesmo

    estudo, incluram-se casos de leses no lobo frontal do hemisfrio direito sem alterao

    dessa mesma faculdade, comprovando que, alm de haver um ncleo no crebro

    responsvel pela linguagem, este localizava-se no lobo frontal do hemisfrio esquerdo.

    O trabalho de Paul Broca foi considerado a primeira demonstrao clara de que as

    funcionalidades cerebrais podem ser anatomicamente localizadas e, por este motivo, deu-

    se o nome de rea de Broca rea responsvel pela fala (ver figura abaixo).

    Figura 4.2: Destacado em verde, a rea de Broca e em vermelho, a rea de Wernicke.

  • 25

    Em 1874, o neurologista alemo Karl Wernicke registrou a existncia de leses

    numa regio do hemisfrio esquerdo, no coincidente com a regio de Broca, e que eram

    responsveis por distrbios de linguagem. Essa regio, localizada na superfcie do lobo

    temporal, entre o crtex auditivo e o giro angular (ver figura anterior), recebeu o nome de

    rea de Wernicke.

    Assim, estabeleceu-se a existncia de duas regies do hemisfrio esquerdo

    responsveis pela fala, as reas de Broca e de Wernicke. Embora essas denominaes

    sejam muito utilizadas, os limites dessas reas ainda no so bem definidos e variam de

    pessoa para pessoa. A partir dessas concluses, Wernicke props um modelo para o

    processamento cerebral da linguagem, o modelo de Wernicke-Geschwind [4], que atribui

    a compreenso da informao recebida, seja pelo sistema visual ou auditivo, rea de

    Wernicke. rea de Broca, atribui-se a converso dessa informao em um sinal para

    coordenar os msculos necessrios para a manifestao da linguagem falada.

    Embora seja capaz de explicar os resultados obtidos em testes com pacientes

    portadores de diversos tipos de afasias, esse modelo possui limitaes. Por esse motivo,

    tm-se usado tcnicas de imageamento cerebral em experimentos envolvendo a

    linguagem. Seus resultados, alm de serem consistentes com as concluses obtidas com

    os estudos de afasia, indicam que o processamento da linguagem no crebro humano

    regido por mecanismos mais complexos do que propunham os modelos mais antigos.

    Com o estudo das imagens, descobriu-se a ativao de mltiplas regies entre o sistema

    sensorial e motor e revelou-se que a ativao, na verdade, bilateral. Com isso, notou-se

    que o processamento cerebral relacionado linguagem envolve muitos outros aspectos,

    alm da simples interao entre as reas de Wernicke e Broca.

    Linguagem e Mapeamento Cerebral

    O imageamento cerebral , portanto, uma ferramenta imprescindvel na

    determinao de mapas do processamento da linguagem no crebro e as tcnicas de

    imageamento por ressonncia magntica funcional so a grande aposta para desvendar

    esse sistema ainda pouco entendido.

  • 26

    5 PR-PROCESSAMENTO

    Apesar de fMRI poder ser uma ferramenta extremamente til para entender o

    funcionamento do crebro humano, at a ferramenta mais poderosa pode ser ineficaz se

    no for utilizada da maneira apropriada. Nesse captulo, ser descrito como os dados

    brutos de fMRI se transformam em um mapa estatstico vlido das funes cerebrais. A

    anlise de dados de fMRI excessivamente complexa, e requer a utilizao de tcnicas

    sofisticadas, desde processamentos de imagem, sinal e estatsticas para levar os dados

    brutos vindos da mquina para um produto final, em que se possvel fazer uma anlise.

    Por isso, antes dos dados serem analisados, eles passam por uma etapa de procedimentos

    computacionais conhecidos como pr-processamento.

    Podemos considerar que os dados de fMRI consistem em uma matriz 3-D de

    elementos de volume (voxels), que so amostrados repetidamente ao longo do tempo.

    Uma maneira simples de analisar tais conjuntos de dados seria extrair a srie temporal

    para cada voxel e comparar esses resultados a alguma hiptese usando um teste de

    significncia. Enquanto essa abordagem, de fato, forma a base de muitas anlises de dados

    de fMRI, ela contm algumas suposies ocultas. assumido que cada voxel representa

    um local nico e inaltervel do crebro e que a amostragem desse voxel ocorre a uma taxa

    temporal conhecida e regular. Estas suposies, apesar de aparentemente plausveis, esto

    sempre incorretas devido a fontes de variabilidade inerentes ao experimento [2].

    Esses procedimentos, da etapa de pr-processamento, operam em dados de fMRI,

    visando a reconstruo da imagem, mas priorizando uma anlise estatstica. Para este

    trabalho, o pr-processamento foi realizado atravs do programa SPM8 (Statistical

    Parametric Mapping) e consiste, resumidamente, em quatro etapas: realinhamento

    espacial, realinhamento temporal, normalizao e suavizao.

    5.1 REALINHAMENTO TEMPORAL

    Em experimentos tpicos de fMRI, os dados de ativao cerebral so obtidos por

    fatias. Nesse experimento, para varrer um volume completo do crebro, so coletadas 40

    fatias em um tempo de aproximadamente 2 segundos. Essas fatias so coletadas de

    maneira sequencial, de baixo para cima. Logo, cada uma delas coletada em um instante

    de tempo diferente da anterior.

  • 27

    Figura 5.1: Efeito da aquisio por fatia em um determinado instante de tempo na resposta

    hemodinmica.

    Analisando-se a figura 5.1, pode-se ter uma ideia melhor desse efeito. Imagine

    uma regio de ativao cerebral que cobre as fatias 15, 16 e 17, esquematizadas em (B).

    A resposta hemodinmica esperada seria a mesma da dada em (C), porm, devido a esse

    efeito temporal, cada uma dessas fatias so amostradas em tempos diferentes, e o

    resultado disso a reposta hemodinmica mostrada em (D).

    Para podermos analisar esses dados, necessrio que as informaes de ativao

    cerebral que vemos em cada ponto do crebro sejam de dados que foram adquiridos no

    mesmo instante de tempo. Para isso serve a etapa do pr-processamento, chamada de

    realinhamento temporal.

    Normalmente, esse pr-processamento, para corrigir essas discrepncias, feito

    atravs de uma interpolao temporal. A interpolao usa informaes sobre pontos

    temporais vizinhos para estimar a amplitude do sinal de ressonncia magntica, para cada

    fatia, em um nico ponto. importante enfatizar, que tcnicas de interpolao so

    intrinsecamente imperfeitas. Qualquer tentativa de se recuperar as informaes perdidas

    estar limitada a variabilidades nos dados experimentais [2].

    5.2 REALINHAMENTO ESPACIAL

    Provavelmente, o problema mais prejudicial para estudos em fMRI so os

    movimentos que correm na cabea durante o experimento. Para se ter uma noo do quo

  • 28

    pequeno necessrio ser o movimento, para tornar os dados sem significado, basta olhar

    para a figura a seguir.

    Figura 5.2: Efeitos do movimento da cabea em dados de fMRI

    Podemos notar a grande diferena de intensidade em voxels adjacentes no painel

    B. Agora, imagine que o sujeito mova a cabea 3mm (que pode ser, por exemplo, a largura

    de um voxel) para direita. Mesmo esse movimento to pequeno teria um efeito drstico

    nos dados, como mostrado no painel C.

    Para corrigir esse tipo de artefato, utilizada a etapa do pr-processamento,

    chamada de realinhamento espacial. Para fazer o alinhamento de sucessivos volumes a

    um determinado volume de referncia, assumido que o tamanho e forma do crebro no

    mudam. Com isso, possvel utilizarmos de transformaes de corpo rgido.

    Transformaes de corpo rgido assumem que, se o tamanho e a forma de dois objetos

    so idnticos, um pode se sobrepor ao outro, exatamente, atravs de uma combinao de

    trs translaes (nos eixos x, y e z) e trs rotaes (sobre o plano x-y, x-z, e y-z).

    Para determinar a quantidade certa do movimento da cabea, so utilizados

    algoritmos computacionais para identificar o conjunto de parmetros de translaes e

    rotaes que fornecem a melhor correspondncia a um volume de referncia. A medida

    matemtica de quo bem uma imagem corresponde com a outra chamada de funo de

    custo. No caso ideal de alinhamento completo entre um volume corrigido e o volume de

    referncia, uma subtrao voxel por voxel levaria a uma diferena de zero entre os dois

    volumes. Um exemplo de funo de custo simples poderia ento ser a soma absoluta das

    intensidades de todas as diferenas entre voxels do volume corrigido e do volume de

    referncia.

    Independentemente da funo de custo utilizada, o objetivo encontrar a

    transformao que reduz ao mximo o valor da funo de custo. No

    computacionalmente possvel comparar, com alta preciso, todas as maneiras possveis

    que uma cabea pode se mexer para cada um dos volumes adquiridos no experimento.

    Ento, para minimizar os custos computacionais, so utilizados algoritmos de

    realinhamento com aproximaes iterativas, que incluem aproximaes estimadas

    seguidas de um refinamento mais preciso. Apesar de ser mais rpido do que testar todas

  • 29

    as possibilidades, esses algoritmos possuem a desvantagem de poder achar mnimos

    locais da funo de custo ao invs do desejado mnimo global [2].

    5.3 NORMALIZAO

    As correes temporais e espaciais descritas nas sees anteriores garantem que

    cada voxel contenha dados de uma nica regio cerebral amostrados em intervalos

    regulares atravs de uma srie temporal. Porm, ainda resta o problema de como sero

    feitas comparaes da ativao entre indivduos, tanto nesse mesmo estudo, como em

    outros estudos. Algumas pessoas podem ter crebros com formato e tamanho diferentes

    de outras. Para que comparaes entre sujeitos diferentes sejam viveis, cada imagem

    deve ser transformada, a fim de que elas possuam o mesmo tamanho e formato de todas

    as outras. A esse processo dado o nome de normalizao [2]. Na figura a seguir,

    podemos ver exemplos da variabilidade no formato e tamanho de crebros adultos.

    Figura 5.3: Exemplos da variabilidade no formato e no tamanho de crebros adultos.

  • 30

    As imagens de crebros que servem de modelos para a normalizao so dadas

    pelo programa utilizado para realizar o pr-processamento SPM8.

    O objetivo da normalizao compensar a diferena no formato dos crebros

    fazendo transformaes matemticas. Geralmente, o algoritmo responsvel pela

    normalizao trabalha minimizando a soma dos quadrados das diferenas entre a imagem

    que se quer normalizar e a combinao linear de um ou mais imagens modelos

    (templates).

    5.4 SUAVIZAO

    A suavizao a etapa do pr-processamento encarregada por suprimir os rudos

    e efeitos de diferenas residuais [5]. Normalmente, esses rudos e efeitos so apresentados

    nos dados como uma discrepncia no sinal obtido entre voxels vizinhos.

    Nesse estudo, a suavizao realizada atravs da aplicao de um filtro Gaussiano

    nos dados. Quando esse filtro Gaussiano espacial aplicado, efetivamente ele espalha a

    intensidade de cada voxel da imagem sobre os voxels das proximidades. A largura desse

    filtro, que configurada no programa SPM8, utilizado para realizar o pr-processamento

    dos dados, refere-se ao alcance do seu efeito. Para esse estudo, o filtro configurado em

    uma largura de 6 mm, o que equivale largura de dois voxels.

    Uma grande vantagem de utilizar-se dessa etapa de normalizao a reduo do

    rudo presente nos dados de fMRI. Isso pode ser entendido quando vemos o tamanho

    espacial tpico de regies de atividade cerebral. Se no existisse correlao espacial nos

    dados de fMRI, de maneira que no seria possvel prever qual voxel ativado, baseado

    se a vizinhana ativada, ento o filtro faria com que o rudo nos dados diminusse.

    Porm, todos os dados de fMRI possuem correlao espacial, devido a similaridades

    funcionais entre regies cerebrais adjacentes e a efeitos introduzidos pelo sistema

    vascular. O prprio crtex cerebral possui uma profundidade de aproximadamente 5 mm,

    logo a ativao de uma nica coluna cortical pode resultar na ativao de 2 ou 3 voxels,

    dependendo do seu tamanho. Logo, se utilizarmos o filtro que mais se aproxima com a

    correlao cerebral esperada, podemos reduzir consideravelmente a relao sinal rudo

    presente nos dados, a um pequeno custo da resoluo espacial.

    Uma segunda vantagem na utilizao de filtros espaciais a de melhorar a

    validade das tcnicas estatsticas empregadas. Durante a anlise de dados de fMRI,

    sempre haver uma enorme quantidade de testes estatsticos. Em um experimento tpico

    de fMRI, existiram mais de 100.000 voxels. Se o limiar de significncia posto em <

    0,05, como frequentemente acontece em experimentos psicolgicos e experimentos

    mdicos, ento devero existir mais de 5000 voxels que aparecem ao acaso. Porm, se os

    dados possuem uma correlao espacial, ento devero existir menos mximos locais que

    exibem ativao significante, como exemplificado na figura a seguir.

  • 31

    Figura 5.4: Reduo da taxa de falso positivo pela suavizao.

    Nessa figura, so mostrados grficos de intensidade de sinal (no eixo vertical) para

    cada um dos 64 x 64 voxels gerados, nesse conjunto de dados. Como existem

    aproximadamente 4000 voxels nesse conjunto de dados, um grande nmero dever passar

    um limiar determinado (para um de 0,01, por exemplo), como mostrado em (A). Em

    (B), apenas um cluster ativo passa o limiar de significncia depois da suavizao.

  • 32

    6 MTODOS

    Nos captulos 2 e 3 desse trabalho foram estudados os conceitos fsicos bsicos

    que envolvem um experimento de ressonncia magntica. No captulo 5, foram

    introduzidos alguns fundamentos tericos a respeito da etapa de pr-processamento dos

    dados brutos que vem da mquina de ressonncia em um experimento funcional. Agora,

    nesses prximos captulos, mostraremos o resultado de tudo isso na prtica, em um

    experimento de linguagem.

    6.1 EQUIPAMENTO E SOFTWARE UTILIZADOS

    Os dados de fMRI foram obtidos atravs do equipamento de ressonncia

    magntica de 3 Tesla (intera-Achieva Philips) instalado no Hospital de Clnicas da

    Unicamp, seguindo o protocolo de aquisio para experimentos de fMRI.

    A anlise de dados foi realizada atravs de um programa de comprovada qualidade

    e eficincia, o SPM8 (Statistical Parametric Mapping), e que est disponvel

    gratuitamente via internet (www.fil.ion.ucl.ac.uk/spm).

    6.2 PARADIGMA EXPERIMENTAL

    O paradigma experimental da avaliao de linguagem consistiu de cinco sesses

    de gerao silenciosa de palavras, durante as quais foram feitas aquisies de fMRI. Cada

    sesso consistiu na apresentao de letras pr-determinadas (F, A e C). Os indivduos

    foram instrudos: (1) a focar sua ateno em uma cruz, durante os 30 segundos da

    condio de base; e (2) a tentar produzir, silenciosamente, o maior nmero de palavras

    que comeassem com as letras apresentadas, durante os 30 segundos da condio

    experimental.

    6.3 VOLUNTRIOS

    Foram includos no estudo de linguagem, voluntrios destros, saudveis, com

    idade entre 20 e 30 anos, sem qualquer histrico de distrbios neurolgicos e livres de

    qualquer impedimento para realizao de exames em equipamentos de ressonncia

    magntica.

    Todos os indivduos participantes do estudo receberam um formulrio de livre

    consentimento, previamente aprovado pelo Comit de tica da Unicamp, pelo qual

    tomaram cincia de todos os aspectos que envolvem os exames aos quais foram

    submetidos.

  • 33

    A segurana desses indivduos foi assegurada atravs da utilizao de materiais e

    dispositivos apropriados para aquisio de imagens tomogrficas em campo magntico,

    e de procedimentos de segurana padro de exames de fMRI.

  • 34

    7 ANLISE DE DADOS E RESULTADOS

    Como mencionado anteriormente, os dados que so obtidos da mquina de

    ressonncia magntica, antes de poderem ser analisados, precisam passar por etapas de

    pr-processamento realizadas atravs do software SPM8. A ttulo de exemplificao,

    sero mostradas, nessa seo, todas as etapas da anlise de dados, que foram abordadas

    no captulo 5, feitas para um sujeito denominado de controle 1. Posteriormente, sero

    mostrados os resultados obtidos para mais 3 controles e algumas concluses que j podem

    ser tiradas a partir desses dados.

    A primeira etapa realizada do pr-processamento o realinhamento espacial.

    Como j abordado anteriormente, essa etapa tem como objetivo tentar corrigir ao mximo

    artefatos de movimento que os pacientes geram ao mover a cabea durante o experimento.

    Na figura a seguir, so mostrados os parmetros escolhidos no programa SPM8

    para essa etapa.

    Figura 7.1: Parmetros escolhidos na etapa de realinhamento espacial

    No item wrapping (invlucro), foi escolhida a opo Wrap Y, pois ela indica

    em quais direes nos volumes, os valores devem se envolver. Em MRI, as imagens se

    envolvem na direo de codificao de fase, ou seja, na direo Y.

  • 35

    Figura 7.2: Esquematizao do movimento da cabea em uma seo experimental

    Em cada um dos grficos, podemos visualizar a quantidade de movimento

    realizada pela cabea do paciente, em cada respectivo grau de liberdade. No eixo das

    abscissas, vemos o nmero da respectiva fatia (so amostradas 255 fatias durante o

    experimento) e no eixo das ordenadas podemos ver a quantidade de movimento em mm

    (no caso das translaes) e em graus (no caso das rotaes). E assim, com essas

    informaes, possvel para o programa diminuir os artefatos da imagem devido ao

    movimento da cabea do indivduo.

    A prxima etapa a de alinhamento temporal das fatias. Eventos de ativao que

    ocorrem em regies diferentes do crebro, porm ao mesmo tempo, no so amostrados

    simultaneamente. Isso acontece pois a aquisio dos dados de fMRI no acontece

    simultaneamente para todo o crebro, demorando cerca de 2 segundos para percorrer um

    volume. Essa etapa tem como objetivo corrigir esse problema.

    Figura 7.3: Parmetros escolhidos na etapa de realinhamento temporal.

  • 36

    Esses parmetros so escolhidos, pois, nesse experimento, um volume de crebro

    varrido por 40 fatias em um tempo de 2 segundos, de baixo para cima.

    A prxima etapa a de normalizao. Crebros de pessoas diferentes podem

    possuir uma grande variabilidade de formato e tamanho. Logo, para podermos fazer

    estudos e comparaes entre diversos crebros, necessrio primeiramente que todos

    sejam normalizados para um template padro.

    Figura 7.4: esquematizao da normalizao espacial de um crebro para um template padro.

    A ltima etapa do pr-processamento a suavizao. Essa etapa utilizada para

    suprimir o rudo e efeitos devido a diferenas residuais na anatomia funcional.

    Figura 7.5: Parmetros escolhidos na etapa de suavizao.

    Nessa etapa, foi escolhida uma largura de 6 mm para a funo Gaussiana, pois

    esse valor representa o dobro do voxel (3 mm) desse experimento. Assim, a suavizao

    tem alcance maior em apenas voxels vizinhos.

  • 37

    RESULTADOS

    Aps essa etapa de pr-processamentos, pode-se obter imagens dos resultados

    desejados. Porm, antes necessrio criar um contraste a fim de se conseguir analisar o

    desejado, que a localizao das zonas de ativao quando o indivduo passa por uma

    avaliao de linguagem.

    Para isso, damos peso 1 para os instantes de tempo em que o indivduo est se

    concentrando na cruz, ou seja, no momento em que, teoricamente, ele no est buscando

    nenhuma informao relacionada a linguagem no seu crebro. Para os momentos em que

    ele deve buscar palavras na sua memria, damos o peso de -1. Com isso, ao somarmos as

    ativaes cerebrais nesses dois intervalos de tempo, obtemos o que nos interessa, que a

    diferena nas funes cerebrais de um indivduo quando ele realiza uma tarefa de

    linguagem, e quando ele no a realiza.

    Os resultados para cada um dos 4 controles esto ilustrados a seguir:

    Figura 7.6: Zonas de ativao cerebral no paradigma de linguagem para o controle 1.

  • 38

    Figura 7.7: Zonas de ativao cerebral no paradigma de linguagem para o controle 2.

    Figura 7.8: Zonas de ativao cerebral no paradigma de linguagem para o controle 3.

  • 39

    Figura 7.9: Zonas de ativao cerebral no paradigma de linguagem para o controle 4.

    As imagens cerebrais presentes no canto inferior esquerdo, superior esquerdo e

    superior direito representam, respectivamente, cortes transversais, sagitais e coronais do

    crebro. Alm disso, toda a ativao do crebro foi projetada nesses respectivos planos

    em cada imagem.

    A fim de se ter uma imagem mais limpa, para se visualizar melhor as ativaes

    que interessam, foi aplicado um filtro de cluster de 60 voxels. Isso significa que somente

    ativaes mais abrangentes apareceram na imagem.

    Com os resultados mostrados nas imagens apresentadas, podemos observar, como

    esperado, a presena de reas de ativao sobre as reas de Broca (lobo frontal) e de

    Wernicke (lobo temporal) nos 04 indivduos controles;

    Alm disso, possvel visualizar a lateralizao esquerda dessas reas de

    ativao, indicando uma clara dominncia hemisfrica esquerda para a linguagem

    nesses controles. Esses resultados concordam com dados da literatura que demonstram o

    papel preponderante das reas de Broca e Wernicke, localizadas em hemisfrio cerebral

    esquerdo, para o processamento de tarefas de linguagem em sujeitos com dominncia

    manual direita (destros) [6].

  • 40

    8 CONCLUSES

    O Imageamento por Ressonncia Magntica, ou MRI, um dos mais

    significativos avanos do sculo no que diz respeito a diagnsticos mdicos por

    imagem. Permite criar imagens em duas ou trs dimenses de qualquer parte do corpo,

    com uma excelente resoluo espacial. Alm disso, ela uma tcnica que no se de utiliza

    radiaes ionizantes, o que constitui uma grande vantagem em relao a outras tcnicas

    de imagem, como o raio X, que so prejudiciais sade.

    Nesse trabalho, foi possvel alcanar o objetivo proposto, que era o de introduzir,

    de uma maneira geral, vrios conceitos relacionados com a ressonncia magntica

    funcional.

    Na primeira parte, conseguimos atravs de noes intuitivas de mecnica clssica,

    fazer uma descrio matemtica dos fenmenos fsicos que envolvem o experimento de

    MRI. Apesar da rigorosidade dessa descrio no ser ideal, ela foi satisfatria para o

    objetivo de apenas fazer uma abordagem inicial ao assunto.

    Posteriormente, a Ressonncia Magntica introduzida no mbito do estudo

    funcional do crebro, mais precisamente no estudo da linguagem. Nessa parte explicado

    o que o acoplamento neurovascular, o sinal BOLD, e a sua importncia para a deteco

    de sinais provindos de uma ativao neuronal.

    Alm disso, tambm foi possvel discorrer um pouco a respeito de uma parte de

    grande importncia em fMRI, que a etapa do pr-processamento dos dados. Foram

    explicados, resumidamente, quatro etapas principais do pr-processamento: O

    realinhamento espacial, o realinhamento temporal, a normalizao e a suavizao.

    Por fim, todos os conhecimentos desenvolvidos na monografia foram aplicados

    em um experimento prtico de linguagem. Foi possvel inclusive analisar os dados

    obtidos, e comprova-los com resultados j esperados pela literatura.

    Concluindo, apesar dos temas visto nesse trabalho no terem sido desenvolvidos

    com muita profundidade e rigorosidade, foi possvel tratar de uma grande gama de tpicos

    relacionados a fMRI. Com isso, foi possvel criar uma familiaridade em diversos aspectos

    dessa tcnica, que hoje considerada a maior aposta para estudos cerebrais.

  • 41

    BIBLIOGRAFIA

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    and techniques Cambridge University Press (NY 2002).

    2. S. A. Huettel, A. W. Song, G. McCarthy. Functional Magnetic Resonance

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