estudo teÓrico de inibidores da proteÍna quinase...

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1 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE QUÍMICA Tese de Doutorado ESTUDO TEÓRICO DE INIBIDORES DA PROTEÍNA QUINASE DE ADESÃO FOCAL DANIEL AUGUSTO BARRA DE OLIVEIRA Orientador: PROF. DR. JOÃO BATISTA LOPES MARTINS Brasília, 01 de novembro de 2013

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1

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE QUÍMICA

Tese de Doutorado

ESTUDO TEÓRICO DE INIBIDORES

DA PROTEÍNA QUINASE DE

ADESÃO FOCAL

DANIEL AUGUSTO BARRA DE OLIVEIRA

Orientador:

PROF. DR. JOÃO BATISTA LOPES MARTINS

Brasília, 01 de novembro de 2013

2

Universidade de Brasília

Programa de Pós-Graduação em Química

ESTUDO TEÓRICO DE INIBIDORES

DA PROTEÍNA QUINASE DE

ADESÃO FOCAL

Daniel Augusto Barra de Oliveira

Orientador: Prof. Dr. João Batista Lopes Martins

Brasília 01 de novembro de 2013

Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação

em Química da Universidade de Brasília, como

requisito parcial à obtenção do título de Doutor.

3

Agradecimentos

À Deus, por tudo.

Ao professor João Batista por todo o aprendizado, pela paciência e

dedicação em elucidar vários problemas corriqueiros deste trabalho.

À minha família pelo apoio durante todo o doutorado.

À minha esposa pela paciência.

Aos meus amigos do laboratório: Victor Bonfim, Jussara, Elton e Marcos,

que além de colaborarem com a execução deste trabalho, propiciaram

momentos divertidos e descontraídos.

À Secretaria de Pós-Graduação do Instituto de Química pela ajuda na

elucidação de problemas administrativos.

4

Resumo

As proteínas quinases são importantes por atuar em processos

biológicos conhecidos, como a transdução de sinais. Esses processos estão

intimamente relacionados com o desenvolvimento de neoplasias malignas.

Desse modo, o conhecimento da atuação de drogas, relacionadas com essas

proteínas, é relavante para o tratamento de alguns tipos de câncer. Neste

trabalho, procurou-se estudar inibidores da proteína quinase de adesão focal

(FAK), a fim de correlacionar propriedades teóricas, obtidas pela química

computacional, com atividades biológicas calculadas a partir do IC50, para

auxiliar no entendimento entre essas drogas e a FAK. Para realizar os cálculos

foram usadas diversas aproximações de modelagem molecular, dentre as

quais, mecânica molecular, métodos ab initio, e métodos híbridos. Para a

aproximação de mecânica quântica foram usados os métodos Hartree-Fock,

teoria do funcional de densidade, e semi-empíricos PM3, PM6 e MNDO, para

descrever a interação entre o sítio catalítico da FAK e os inibidores. O

programa O programa auto-docking Vina foi usado para o ancoramento rígido.

As atividades de inibidores da classe 7-h-pirrolo-pirimidina foram comparadas

com dados provenientes da mecânica quântica, cujo resultado mostrou a

importância dos orbitais de fronteira próximos ao aminoácido Cys502. Quanto

mais estendidos esses orbitais, maior poderá ser atividade de inibição da FAK.

São ainda observadas interações moleculares com os aminoácidos Arg424 e

Lys454. Os inibidores dasatinib, sulfonamida e tiazole também foram

estudados com métodos de química quântica. Esses inibidores mostram

tendências químicas semelhantes com aqueles da classe pirrolo pirimidina, no

que se refere às interações com os aminoácidos da tríade catalítica,

enfatizando a necessidade dessas interações na construção de novos

inibidores. Além disso, a partir da análise de componentes principais, foi

mostrada uma correlação entre atividades e propriedades eletrônicas. A soma

de todos esses estudos leva a novas fronteiras para o entendimento da

interação de fármacos inibidores da proteína quinase e, consequentemente, a

compreensão da inibição da metástase, que são uma das maiores causas de

morte no mundo moderno.

5

Palavras-chave: FAK, inibidores, química computacional, câncer.

6

Abstract

The kinases proteins play important role acting in known biological

process, as the signal transduction. These processes are strongly related to the

development of malignant neoplasms. Therefore, the knowledge of the drug

action related to the kinase protein is relevant for the cancer treatment. In this

work, it was studied inhibitors of focal adhesion kinase (FAK) protein in order to

correlate theoretical properties with biological activity via IC50, to understand

the interaction between these drugs with FAK. In order to perform the

calculations it was employed several approaches of molecular modeling, as

molecular mechanics, ab initio and hybrid methods. For the quantum

mechanical approach we have used Hartree-Fock, density functional theory and

semi-empirical PM3, PM6, MNDO methods to describe the interaction between

the catalytic site of FAK binding and the selected inhibitors. Auto Docking Vina

program was employed to perform the rigid docking. The inhibitor activities of 7-

h-pirrole-pirimidines were compared to the results of quantum mechanical

approaches, and these results shows the important relation to the frontier

orbitals close to the Cys502 aminoacid. The largest contribution of these

orbitals is closely related to the FAK inhibition. The molecular interaction with

Arg454 and Lys454 aminoacids were also showed. Dasatinib, sulfonamide and

thiazole inhibitors also presents these main interactions, emphasizing the

relevance of catalytic site interaction of FAK with new inhibitors. Furthermore,

from the principal component analysis, it was shown a correlation between

activity and electronic properties. The present study leads to new frontiers for

the understanding the interaction between focal adhesion kinase and the

inhibitors, which is related to the metastase, one o the main reason of death in

the world

Keywords: FAK, inhibitors, computational chemistry, cancer.

7

Sumário

Introdução ....................................................................................................... 14

O que é câncer? ............................................................................................. 17

Estímulos ambientais..................................................................................... 18

As proteínas G acopladas e a transdução de sinais ................................... 19

Receptores Tirosina Quinase ........................................................................ 19

Integrinas ........................................................................................................ 20

As proteínas quinases e o câncer ................................................................ 20

A proteína quinase de adesão focal ............................................................. 22

A proteína quinase de adesão focal e o desenvolvimento do câncer. ...... 24

Inibidores de tirosina quinase ....................................................................... 25

Alguns inibidores da proteína quinase de adesão focal ............................. 26

Fármaco 7-h-pirrolo-pirimidina .................................................................. 26

O Fármaco Dasatinibe ................................................................................ 28

Bis Anilino Pirimidina ................................................................................. 29

Metanosulfonamida diaminopirimidina ..................................................... 30

Pirrolo 2,3 d tiazole ..................................................................................... 31

IC50 Concentração de Inibição a 50% ............................................................ 33

A química computacional e o estudo de alvos moleculares ...................... 33

Fundamentos da teoria quântica ............................................................... 34

8

Métodos Ab initio ........................................................................................ 35

Métodos Semi-Empíricos ........................................................................... 41

Mecânica Molecular .................................................................................... 43

A aproximação MP2 Moller-Plesset ........................................................... 45

Simulação de Solventes ............................................................................. 46

O método ONIOM ........................................................................................ 48

Termodinâmica estatística ......................................................................... 50

A Dinâmica molecular ................................................................................. 52

Docking Molecular ...................................................................................... 53

Análise de Componentes Principais ......................................................... 54

Objetivos ......................................................................................................... 31

Protocolos Utilizados ..................................................................................... 56

Metodologia 1 (Estudo dos inibidores pirrolo-pirimidinas) ..................... 56

Protocolo 2 (Estudo da molécula Dasatinibe) .......................................... 60

Protocolo 3 (Estudo dos complexos bis-anilino-piridina) ....................... 63

Protocolo 4 (Estudo do complexo 2-3-d-tiazole) ...................................... 64

Protocolo 5 ( Estudo da interação da molécula de ATP com a proteína

FAK). ............................................................................................................ 65

Resultados e discussão................................................................................. 67

Estrutura eletrônica e atividade das moléculas pirrolo-pirimidina ......... 69

Estrutura eletrônica e docking molecular da molécula dasatinibe ........ 83

Estrutura eletrônica e docking molecular da molécula sulfonamida ..... 89

9

Estrutura eletrônica e docking molecular da molécula ATP ................... 92

Estrutura eletrônica do complexo bis-anilino-pirimidina ........................ 96

Estrutura eletrônica da molécula pirrolo 2,3 d tiazole ............................. 99

Análise geral dos resultados obtidos ..................................................... 102

Conclusões ................................................................................................... 107

Perspectivas ................................................................................................. 110

Bibliografia .................................................................................................... 111

10

Lista de Tabelas

Tabela 1: Volume Molecular dos inibidores da proteína FAK .................... 68

Tabela 2: Ligações de hidrogênio realizadas entre os aminoácidos da

enzima FAK e as moléculas da classe pirrolopirimidina ............................ 69

Tabela 3: Energias de interação obtidas com diversos métodos e bases 77

Tabela 4: Resultados dos cálculos de energia livre usando o método

B3lYP/6-31g para a interação inibidor/aminoácidos do sítio ativo. ........... 80

Tabela 5: Contribuição entálpica e entrópica para a formação do

complexo inibidor/aminoácidos. ................................................................... 81

Tabela 6: Desvio de planaridade do fármaco dasatinibe utilizando

diferentes aproximações ............................................................................... 85

Tabela 7: Distâncias interatômicas das ligações de hidrogênio

estabelecidas entre o fármaco dasatinibe e os aminoácidos listados. ..... 87

Tabela 8: Distâncias de ligação entre o inibidor sulfonamida e os

aminoácidos da proteína quinase de adesão focal. .................................... 91

Tabela 9: Distâncias de ligações de hidrogênio realizada pela molécula de

ATP no sítio catalítico da proteína FAK. ...................................................... 94

Tabela 10: Aminoácidos da proteína quinase de adesão focal que

interagem com a molécula bis-anilino-pirimidina. ...................................... 97

11

Lista de Figuras

Figura 1. Modo de interação da enzima FAK com as demais proteínas

participantes do mecanismo de transdução de sinais ............................... 23

Figura 2. Estrutura molecular de molécula 7-h-pirrolo-pirimidina ............. 27

Figura 3. Estrutura molecular da molécula de dasatinibe. ......................... 29

Figura 4. Estrutura da molécula bis anilino pirimidina ............................... 30

Figura 5. Exemplo de uma curva dose/resposta para um inibidor ........ Erro!

Indicador não definido.

Figura 6. Diagrama esquemático do método ONIOM para uma proteína. . 49

Figura 7. Inibidores selecionados para o estudo de docking molecular

com proteína quinase de adesão focal......................................................... 57

Figura 8. Geometria otimizada dos inibidores estudados. ......................... 67

Figura 9. Potencial eletrostático calculado para os inibidores 1 e 16i. ..... 71

Figura 10. Orbitais de Fronteira calculados para a interação entre os

aminoácidos do sítio catalítico da proteína FAK com o inibidor 7-h-pirrolo-

pirimidina. ....................................................................................................... 72

Figura 11. Orbitais de Fronteira calculados para a interação entre os

aminoácidos do sítio catalítico da proteína FAK com o inibidor 7-h-pirrolo-

pirimidina. ....................................................................................................... 73

Figura 12. Orbitais de fronteira para inibidor 18i. ........................................ 73

Figura 13. Orbitais HOMO e LUMO para os inibidores 18i e 16i,

respectivamente. ............................................................................................ 74

12

Figura 14. Disposição dos orbitais HOMO e LUMO para o inibidor 32. ..... 75

Figura 15. Potencial eletrostático gerado para a interação entre o inibidor

17i e os aminoácidos Lys454, Arg412 e Cys502. ......................................... 76

Figura 16. Gráfico de componentes principais para os inibidores da classe

pirrolo pirimidina. ........................................................................................... 82

Figura 17. Droga dasatinibe ancorada ao sítio catalítico da proteína. ...... 84

Figura 18. Grupos químicos que apresentaram rotação dos diedros

durante a dinâmica molecular. ...................................................................... 86

Figura 19. Ligação de hidrogênio associada com a rotação do ângulo

diedro do grupo hidroxila do fármaco dasatinib. ........................................ 86

Figura 20. Mapa de potencial eletrostático obtido para o sítio da proteína

FAK com o fármaco dasatinibe obtido via a aproximação PM6. ................ 88

Figura 21. Inibidor sulfonamida ancorado ao sítio catalítico da proteína

quinase de adesão focal. ............................................................................... 90

Figura 22. Orbitais de Fronteira para interação entre o inibidor

sulfonamida e o sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal. ...... 92

Figura 23. Interação da molécula de ATP com a proteína quinase de

adesão focal . .................................................................................................. 93

Figura 24. Orbitais de fronteira calculados para a interação da molécula

de ATP com o sítio da proteína FAK............................................................. 95

Figura 25. Potencial eletrostático calculado para a molécula de ATP

interagindo com o sítio catalítico da proteína FAK. .................................... 96

Figura 26. Orbitais de fronteira da molécula bis anilino pirimidina ........... 98

Figura 27. Potencial eletrostático obtido para interação entre o fármaco

bis-anilino-pirimidina. .................................................................................... 99

13

Figura 28. Fármaco 2,3 d tiazole complexado ligando-se ao aminoácido

Cys502 ........................................................................................................... 100

Figura 29. Orbitais de Fronteira para interação entre o fármaco 2,3,d

tiazole e o sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal. .............. 101

14

Lista de Abreviaturas e Acrônimos

ALA - Alanina

ARG – Arginina

ASP – Aspartato

ATP – Adenosina Trisfosfato

CYS – Cisteína

DFT – Teoria do Funcional de Densidade

FAK – Focal Adhesion Kinase

GLU – Glutamina

HF – Hartre-Fock

IC50 – Inibição da Concentração de 50%

LEU - Leucina

LYS – Lisina

MET - Metionina

MP2 – Método Pertubacional de Segunda Ordem

Oniom-Own-m-Layered-Integrated – Molecular Orbital and Molecular

Mechanics

PCA – Análise de Componentes Principais

PCM – Modelo Contínuo

PHE - Fenilamina

QM/MM – quantum mechanics/molecular mechanics

RTK – Receptores Tirosina Quinase

SCF – Teoria do Campo Autoconsistente

SER – Serina

15

THR – Tirosina

UFF – Universal Force Field

16

Introdução

O estudo teórico de inibidores da proteína quinase de adesão focal

remete ao estudo de novas drogas contra o câncer. Essas drogas têm sido

utilizadas de modo diversificado no tratamento de tumores em estágio

avançado, tornando-se alternativas aos atuais tratamentos, como a

quimioterapia e a radioterapia. Inibir a atividade do processo bioquímico

conhecido como transdução de sinais é um pressuposto para construção de

novas moléculas, cuja função é bloquear a atividade do ATP e

consequentemente a metástase. Nesse sentido, será abordada nesse trabalho

uma definição gradual do câncer, iniciando-se com a definição macroscópica

em nível de tecido, passando pelo nível bioquímico e chegando a inibição em

nível molecular, que é a conjectura para o entendimento de inibição da

metástase.

17

O que é câncer?

O termo tumor (ou neoplasia) é usado para indicar um aumento de uma

parte ou totalidade de um tecido, podendo ser devido às chamadas neoplasias

malignas, o qual denominamos de câncer. Este é na realidade o termo usado

para um conjunto de mais de 100 doenças, nas quais as células se dividem

sem controle, sendo capazes de invadir outros tecidos 1. O câncer não é uma

única doença, mas várias, cujas denominações estão orientadas ao órgão ou

tecido lesado, como por exemplo, carcinoma, sarcoma, leucemia, linfoma e

melanoma e no sistema nervoso central. No organismo, as células crescem e

se dividem de uma maneira controlada, criando assim novas células 2.

Chegando por fim à morte celular que pode ser classificada de acordo com

sua aparência, tal qual, apoptose, necrose, autofágica, ou associada com a

mitose 3. Estudos sobre a apoptose aumentaram bastante desde a década de

1990, com o prêmio Nobel de medicina em 2002 para o trabalho que

identificava os genes relacionados ao controle da apoptose. A importância dos

estudos de apoptose levou a criação de periódicos especializados nesse tema

tais como: Cell Death and Differentiation da Nature e a revista Apoptosis da

Springer, desde 1996. O câncer tem início nas células, quando alterações

genéticas levam o DNA dessas células a produzir mutações, as quais afetam

um amplo espectro de funções destas células, como proliferação, migração,

diferenciação e morte celular. As novas células formam um tumor que pode ser

benigno ou maligno, que no último caso é denominado de câncer.

18

A propagação do câncer para outros tecidos do corpo se dá mediante a

chamada metástase. A origem da metástase está intimamente correlacionada a

reações bioquímicas que ocorrem dentro das células. Essas envolvem a

comunicação celular mediante a transdução de sinais, que ocorre quando um

sinal extracelular ativa uma proteína receptora presente na superfície das

células. A ativação se dá pela mudança conformacional da proteína receptora,

desencadeando dessa forma uma resposta física por parte da célula. Essas

respostas podem ser dadas na forma de multiplicação celular ou mesmo a

morte programada (apoptose).

Uma breve explanação acerca dos estímulos ambientais associado ao

processo de transdução de sinais demonstrará como se inicia esse processo

bioquímico de transdução de sinais. Em seguida serão demonstrados os

caminhos ulteriores percorridos pela transdução de sinais.

Estímulos ambientais

Há vários modos de iniciar o processo de transdução de sinais. Fótons

advindos do ambiente externo podem interagir com as células da retina do

olho, desencadeando respostas bioquímicas, cuja finalização resultará na

formação das imagens que enxergamos. Esse processo é conhecido como

fototransdução. Pode-se ainda ressaltar, a título de exemplo, a nossa

percepção acerca dos odores. Nesse mecanismo bioquímico, o estímulo

ambiental ocorre pela interação das moléculas odorantes com receptores no

epitélio nasal4. Essas realidades demonstram a vitalidade desse processo

bioquímico na percepção do mundo pelos seres vivos.

19

De modo análogo aos exemplos anteriores, porém essencialmente

deletério, verifica-se a existência de desordens transducionais propiciadas pelo

meio externo à célula e aos tecidos. Nesses processos, verifica-se uma

desordem no processo de transdução de sinais, cujo resultado é conhecido

como câncer. Mutações no DNA, propiciadas pelos fótons ambientais,

alimentos e certos organismos como vírus, têm sido correlacionadas com o

descontrole do mecanismo de comunicação celular 3.

O fenômeno de transdução de sinais envolve uma série de moléculas

bioquímicas cuja ênfase se faz necessária para o entendimento de processos

bioquímicos que propiciam a metástase.

As proteínas G acopladas e a transdução de sinais

A sinalização celular inicia-se com uma proteína do tipo G acoplada

inativa, que são proteínas transmembranares. Um ligante do meio exterior se

liga à proteína G, levando a mudanças conformacionais nessa molécula,

tornando-a ativa. Essas mudanças conformacionais propiciam a interação das

proteínas G acopladas com outras moléculas 5. O tempo total de atuação das

proteínas do tipo G é mediado pela interação molécula/receptor.

Receptores Tirosina Quinase

Receptores tirosina quinase (RTK) são proteínas transmembranares,

com um domínio quinase intracelular e extracelular, que se liga aos íons ou

moléculas específicas. Como exemplo podemos citar as proteínas de fator de

crescimento, capazes de estimular o crescimento celular, ou mesmo receptores

de insulina, que regulam o metabolismo de carboidratos e gorduras no corpo 6.

20

A fim de realizar a transdução de sinais, as proteínas RTK precisam

formar dímeros na membrana plasmática. Esses dímeros são estabilizados por

moléculas específicas que se ligam ao receptor 7. A interação dessas

proteínas, com o meio citoplasmático, estimula à auto fosforilação de tirosinas

dentro do domínio das proteínas RTK, causando mudanças conformacionais.

Os receptores quinase são subsequentemente ativados, iniciando a cascata de

sinais, via fosforilação no citoplasma, que facilita vários processos celulares,

tais quais a diferenciação celular e o metabolismo 6.

Integrinas

As integrinas são produzidas por grande variedade de células, cuja

função é a adesão celular e a transdução de sinais provenientes da matriz

extracelular. De forma análoga as RTKs, as integrinas são ativadas via ligação

de moléculas específicas a sua cavidade catalítica, propiciando mudanças

conformacionais na estrutura proteica, cuja resposta é a inicialização da

transdução de sinais. Essas proteínas têm sido correlacionadas com o

desenvolvimento da metástase.

As proteínas quinases e o câncer

As proteínas quinases são enzimas que catalisam as reações de

fosforilação entre proteínas. Essas entidades macromoleculares propiciam a

transferência de um grupo fosfato para os aminoácidos Thr e Ser.

O grupo de enzimas denominadas quinases constitui uma família muito

numerosa de proteínas em eucariotos 8 e é o cerne da comunicação e

regulação intracelular. O mecanismo regulador envolve fenômenos variados,

21

que vão desde a alteração de estruturas proteicas até o controle transcricional.

Por isso, um entendimento detalhado dessas enzimas, bem como dos seus

respectivos mecanismos de atuação, tem sido foco de constantes pesquisas

científicas, principalmente na descoberta de novos fármacos 9. A importância

singular, desse ramo científico da bioquímica, ainda pode ser vislumbrada pela

existência de várias revistas científicas, de alto impacto acadêmico, dedicadas

ao processo de transdução de sinais 10,11.

A participação de proteínas quinases no desenvolvimento da metástase

está bem estabelecida, pois verifica-se que essas enzimas se encontram

desreguladas em tumores, mantendo a fosforilação, que leva aos sinais de

transdução a um estado permanentemente ativado 12.

Atualmente há inúmeros medicamentos antitumorais cuja atuação se dá

em nível do processo de transdução de sinais. Dentre esses medicamentos

pode-se destacar o imatinibe (Gleevec)® que teve grande relevância para o

tratamento da leucemia mielóide crônica. O imatinibe inibe especificamente a

enzima BCR-ABL, uma tirosina quinase que participa do processo de

transdução de sinais, bem como no desenvolvimento de tumores 13. Esse

medicamento teve especial importância no desenvolvimento de moléculas

inibidoras de quinase 14 15.

Apesar da singularidade dessa molécula, cuja inibição se dá em alvos

enzimáticos específicos, tem se verificado um aumento da resistência ao

tratamento com esse fármaco. Essa resistência se dá através da aquisição de

mutações secundárias nas quinases, aumento do fluxo e metabolismo dos

fármacos, bem como a utilização de vias oncogênicas distintas 9. Diante dessa

22

realidade, são propostos outros fármacos inibidores de proteínas quinases,

cuja inibição ocorre em diferentes tipos de enzimas 16.

A proteína quinase de adesão focal

As enzimas quinases de adesão focal (FAK) se localizam no meio

citoplasmático, conectadas com as integrinas. O aumento da fosforilação da

proteína FAK tem sido correlacionado com a interação das integrinas com a

fibronectina, que é uma proteína adesiva que ajuda as células a aderirem a

matriz celular 17.

A enzima FAK faz parte da família dos receptores de tirosinas quinases.

Essa é encontrada em muitos tipos de tecidos e células e é conservada em

mamíferos bem como em eucariotos como as drosófilas 18.

A estrutura da enzima FAK compreende um domínio catalítico, ao lado

de domínios não catalítico de terminais N-C, que são os átomos finalizadores

da cadeia polipeptídica 19. Possui uma massa de 125kDa e é encontrada no

citosol. Em geral, os membros dessa família são ligados à glicoproteínas

transmembranares. In vitro verifica-se que os domínios N terminais se ligam às

subunidades das integrinas 20, embora essa interação in vivo ainda seja

desconhecida. O domínio N terminal, da enzima FAK, também regula a

interação com as proteínas de fator de crescimento epidérmicas, embora ainda

não seja claro onde ocorra essa interação 21.

A fosforilação da proteína FAK é uma reposta da interação das proteínas

integrinas com sinalizadores químicos, cuja continuidade induz mudanças

conformacionais que promovem a interação com outras proteínas,

23

prosseguindo dessa forma, o mecanismo de transdução de sinais. Essa

realidade é mais bem contemplada com o auxílio da Figura 1.

Figura 1. Modo de interação da enzima FAK com as demais proteínas participantes do mecanismo de transdução de sinais

Consideráveis evidências mostram que a proteína FAK está intimamente

envolvida no processo de regulação da migração celular. Quando se verifica a

deficiência da proteína FAK, as células se espalham mais lentamente, exibindo

dessa forma mais adesões celulares 23.

Pode-se verificar, portanto que a enzima FAK é um componente crucial

na sinalização celular, ativando numerosos estímulos e biosensores integrados

com o controle da motilidade celular. Através das múltiplas conexões

moleculares, a enzima FAK pode influenciar o citoesqueleto, estruturas de

adesão celular e sítios regulam o movimento celular 24.

24

A proteína quinase de adesão focal e o desenvolvimento do câncer.

A enzima FAK é uma importante mediadora nos processos de

proliferação celular, sobrevivência celular e migração celular. Dado que o

desenvolvimento de tumores malignos está associado com a perturbação

nesses processos, não é surpreendente o fato de que a atividade da proteína

FAK esteja alterada em células cancerígenas.

Modelos usando ratos têm mostrado que a FAK está envolvida na

formação e progressão de tumores. Outros estudos mostram ainda que a super

expressão da FAK é observada em tumores malignos, tornando a FAK, dessa

forma, um alvo interessante no desenvolvimento de fármacos contra o câncer

25.

Estudos sobre a expressão anormal da FAK demonstraram alterações

fenotípicas nas células, bem como em outras funções celulares. Em vários

tipos de tumores como os de tireoide, próstata, cólon e ovário observa-se uma

expressão elevada da proteína FAK correlacionando-se ainda com o aumento

substancial da metástase 26 27 28 29 30 . Em adição, a FAK regula a formação do

tumor e a progressão do mesmo 31. Nesse sentido, a inibição da proteína FAK

é evidenciada como uma nova estratégia para o tratamento do câncer 25.

As proteínas quinases existem em duas conformações de equilíbrio:

uma é ativa e a outra inativa 32. A ativação da FAK se dá pela fosforilação de

aminoácidos no conhecido laço de ativação. Essa parte da proteína contém

três resíduos altamente conservados que formam o motivo DFG, que são

curtas sequências de aminoácidos que se repetem em outras proteínas. A

conformação derivada da fosforilação do laço de ativação é a estrutura da FAK

25

ativada. A conformação ativa do padrão DFG é muito similar entre as quinases.

Desse modo, muitos inibidores da proteína FAK são construídos a fim de inibir

a ativação da proteína FAK, via alvos moleculares no padrão DFG. Essas

moléculas são conhecidas como inibidores do tipo I. Inibidores dessa categoria

se ligam diretamente ao sítio de ligação do ATP, competindo diretamente com

o mesmo.

Inibidores de tirosina quinase

Existem no mercado vários fármacos para o tratamento de tumores

específicos, cujo enfoque é a inibição de proteínas quinases. Dentre esses

podemos destacar a droga imatinibe, cujo desenvolvimento se deu para o

tratamento do câncer de mieloide, e inaugurou a era das drogas do tipo tinibes

33.

O exacerbado uso desse medicamento gerou a resistência por parte das

doenças tratáveis, o que levou ao aparecimento de novas drogas no mercado.

Surgiram, dessa maneira, as drogas inibidoras de multiquinases. Dentre essas

podemos destacar o lapatinibe 34, carnetinibe 35, nilotinibe 36 e o dasatinibe

conhecido como sprycel® 37.

A observação das estruturas moleculares desses fármacos revelam

estruturas farmocofóricas comuns entre eles. O carnetinibe e o lapatinibe

possuem núcleos quinazolínicos. Essas características farmacofóricas em

comum foram inseridas, a fim de mimetizar o anel de adenina do substrato ATP

facilitando assim a ligação na região de dobradura, conectando os domínios N

e C terminal do sítio catalítico 10.

26

Geralmente os inibidores de proteína quinase competem pelo sítio da

ligação da molécula de ATP, possuindo aspectos terapêuticos garantidos,

podendo ser combinados com outros tipos de tratamento como aqueles

provenientes de fontes radioativas e aqueles de quimioterápicos 38.

Existem mais de noventa proteínas quinases, cujo modo de ativação se

dá pela transferência de grupos fosfato, provenientes do seu sítio catalítico.

Observa-se desse modo que a topologia do sítio catalítico nessas enzimas é

bastante similar, porém altamente seletiva, constituindo, desse modo, um

desafio à construção de moléculas que inibam a atividade dessas enzimas 39 40

41.

Para a molécula de ATP são observadas ligações com o sítio através

dos aminoácidos Asp381, Phe382 e Gly383.

Alguns inibidores da proteína quinase de adesão focal

Como seria demasiado longo trabalhar atomisticamente com todos os

inibidores da proteína quinase de adesão focal, podendo dizer que é não

tratável nas condições atuais, restringir-se-á este trabalho a algumas moléculas

de aplicabilidade mais recente na indústria farmacêutica.

Fármaco 7-h-pirrolo-pirimidina

A molécula 7-h-pirrolopirimidina, produzida pela indústria Astrazeneca,

tem sido correlacionada com a inibição da proteína FAK. Estudos em ratos,

utilizando células de melanoma humano, mostraram que o bloqueio da

atividade da enzima FAK propicia a inibição do crescimento de tumores

27

primários e virtualmente eliminam a metástase 42. Por conseguinte, o fármaco

da classe 7-h-pirrolopirimidina atua como uma importante regra no tratamento

desses tipos de cânceres. A estrutura molecular dessa droga é mostrada na

Figura 2:

MeOMeO OMe

NHN

N

N

N

Figura 2. Estrutura molecular de molécula 7-h-pirrolo-pirimidina

Nesse trabalho foram escolhidas as drogas da classe 7-h-pirropirimidina

sintetizadas por Choi e colaboradores 42, cuja diferenciação se dá pelo

acréscimo do grupo carboxilato em diferentes posições no anel piridínico.

Nesse artigo, essas drogas foram denominadas utilizando a mesma notação do

autor, 1, 16i, 18i, 17g, 17h, 17i e 3242. A disposição do grupo carboxilato em

diferentes substituições no anel piridínico, associada com o computo do IC50

para cada droga, foi associada nesse trabalho com a energia de interação.

Esse estudo teve o intuito de estabelecer uma possível relação entre energia

de interação inibidor/sítio com o IC50, seguindo trabalho estudos da literatura 42.

28

Para estes inibidores procedeu-se ainda estudos estatísticos, cujo

resultado propicia o agrupamento desses fármacos de acordo com suas

atividades.

O Fármaco Dasatinib

Dasatinibe é uma droga produzida pela indústria farmacêutica Bristol-

Myers Squibb®, a qual é utilizada para o tratamento do câncer de mielóide e

próstata. A venda dessa droga se dá sobre o nome de Sprycel. Essa molécula

tem conhecida atividade inibitória de receptores tirosina quinase. De modo

específico, está correlacionada com inibição das enzimas BCR/ABL, Src e c-Kit.

O fármaco Dasatinibe foi escolhido pois apresenta também atividade

inibitória para a proteína FAK 43. Portanto, o uso dessa droga poderia se

estender ao tratamento de outros tipos de câncer, tais quais os relacionados ao

pulmão, esôfago, tireóide, mama entre outros 44 45 . A estrutura do fármaco

dasatinibe pode ser vislumbrada na Figura 3. Nesse trabalho, a droga dasatinib

foi ancorada ao sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal, com o

intuito de estabelecer quais aminoácidos poderiam interagir com essa

molécula, no sítio catalítico. A fim de auxiliar na busca de uma conformação de

equilíbrio para o complexo inibidor/proteína, foram empregados métodos

quânticos semi-empíricos para a otimização do complexo molecular. Uma

dinâmica molecular foi ainda empregada para a busca de possíveis ligações

fora do equilíbrio. Cálculos de propriedades eletrônicas foram usados para

corroborar esses resultados, que podem ser comparados com aqueles das

drogas da classe pirropirimidina.

29

Figura 3. Estrutura molecular da molécula de dasatinibe.

Bis Anilino Pirimidina

O fármaco da classe bis anilino pirimidina 46 inibe a autofosforilação da

matriz celular induzida, pela proteína quinase de adesão focal. Essa droga

retarda o crescimento de células tumorais, atenua a progressão do ciclo celular

e, ainda, inibe a invasão da célula tumoral, em pelo menos 50%. Pode ser

utilizado no tratamento de tumores de mama e de pulmão. A estrutura dessa

droga pode ser visualizada na Figura 4. Esta droga apresenta um padrão

molecular semelhante a dasatinib, portanto também foi selecionada para o

cálculo de estrutura e atividade.

30

Figura 4. Estrutura da molécula bis anilino pirimidina

Neste trabalho foram realizados cálculos de estrutura eletrônica para

essa droga ancorada ao sítio catalítico, na intenção de determinar possíveis

interações com aminoácidos encontrados em outras classes de drogas como

aquelas provenientes da estrutura da 7-h-pirrolopirimidina.

Metanosulfonamida diaminopirimidina

A molécula da classe metanosulfonamida diaminopirimidina 47 é um

potente inibidor competitivo da molécula de ATP, apresentando inibição robusta

da proteína quinase de adesão focal em ensaios celulares. Tem aplicações no

tratamento de câncer de cólon e pulmão.

No presente trabalho, a droga metanosulfonamida foi estudada ancorada

ao sítio catalítico da proteína FAK, empregando-se cálculos de estrutura

eletrônica que pudessem determinar interações com aminoácidos específicos

presentes no sítio catalítico. A realização desses cálculos teve o intuito de

verificar interações dessa droga com aminoácidos presentes em outros

inibidores da FAK.

31

Pirrolo 2,3 d tiazole

O composto 2,3 d tiazole é capaz de induzir a morte programada das

células em diferentes linhas de células antitumorais 48. A droga foi estudada

nesse trabalho ancorada ao sítio catalítico da proteína FAK, empregando-se

cálculos de estrutura eletrônica para encontrar geometrias de equilíbrio. Esse

estudo teve o objetivo de confrontar as interações presentes no complexo

droga/enzima com interações presentes em outros inibidores da proteína FAK.

IC50 Concentração de Inibição a 50%

O IC50 será utilizado ao longo deste estudo como uma base para acessar

a informação de atividade da droga. Esta é uma medida de efetividade de um

composto na inibição de atividades biológicas ou bioquímicas. Essa medida

quantitativa indica quanto de uma droga ou substância particular é necessário

para inibir uma resposta bioquímica pela metade. Em outras palavras, é a

metade de máxima inibição de uma substância. Essa medida experimental é

utilizada como medida do potencial de drogas na pesquisa farmacológica. O

IC50 de uma droga pode ser determinado construindo-se a curva dose-resposta,

e verificando o efeito de diferentes concentrações do antagonista invertendo a

atividade do agonista, conforme o gráfico ilustrativo presente na Figura 5.

32

Figura 5. Exemplo de uma curva dose/resposta para um inibidor

Os valores de IC50 são dependentes das condições nos quais eles são

aferidos. Além disso, dependendo do tipo de inibição, outros fatores podem

influenciar os valores de IC50. Para enzimas dependentes de ATP, os valores

de IC50 tem interdependência com a concentração de ATP, principalmente se a

inibição deles é competitiva. O IC50 pode der usado para comparar o potencial

de dois ou mais antagonistas.

Objetivos

Objetivo Geral

Esse trabalho tem como objetivo correlacionar às propriedades

biológicas dos inibidores da proteína quinase de adesão com determinadas

propriedades eletrônicas, procurando-se estabelecer padrões que ajudem na

construção de novas moléculas inibidores da enzima FAK.

Objetivos específicos

a) Comparação da atividade biológicas (IC50) dos inibidores da classe

pirrolopirimidina com propriedades eletrônicas derivadas de cálculos de

estrutura eletrônica.

33

b) Estudo da interação fármaco/receptor para a droga dasatinib, com

consequente obtenção de propriedades químicas e eletrônicas via cálculos de

estrutura eletrônica.

c) Estudo teórico do ATP, da droga sulfonamida, anilinopirimidina, e

tiazole com o intuito de obter uma descrição química e eletrônica da interação

fármaco receptor.

d) Inferir características químicas e eletrônicas comuns, que tornam os

inibidores estudados em potenciais drogas para o combate do câncer,

auxiliando dessa forma na construção de novas drogas com maior potencial de

inibição para a enzima quinase de adesão focal.

Fundamentação Teórica

A química computacional e o estudo de alvos moleculares

As proteínas possuem alta especialização em relação às reações que

catalisam, bem como na interação com o substrato que interage com o seu

sítio catalítico. Nesse sentido, os inibidores devem possuir geometria

complementar ao do sítio catalítico das enzimas, de modo a propiciar um dos

requisitos que é a interação fármaco-receptor com menor energia livre possível,

podendo estar associada ainda a ganhos entrópicos pela desordem de águas

de solvatação. Esse tipo de interação é analisado mediante a técnica de

docking molecular, que é uma técnica computacional que prediz a melhor

orientação da droga em relação ao sítio catalítico da enzima estudada 49. A

34

interação da molécula alvo com o sítio catalítico da enzima pode ser utilizada

na predição da afinidade e a atividade da droga.

O uso da técnica de docking molecular requer conhecimento da

estrutura eletrônica de átomos e moléculas, cujas orientações e disposições no

espaço são descritas pela mecânica clássica. Nesse sentido, serão avaliados

alguns conceitos e metodologias essenciais para o cálculo de estruturas

eletrônicas que figuram em uma importante regra na obtenção das

propriedades de átomos e moléculas. Esses métodos diferem essencialmente

na exatidão da obtenção de certas propriedades, estabelecendo uma relação

inversamente proporcional com o custo computacional exigido para a obtenção

dessas propriedades.

Fundamentos da teoria quântica

A fim de descrever sistemas microscópicos, faz-se o uso da mecânica

quântica. Essa ciência foi erguida sobre as controvérsias experimentais do

início do século XX, cujos resultados divergiam inesperadamente dos

resultados previstos pela mecânica clássica. Dentre esses, merece destaque o

experimento da radiação do corpo negro, que é aquele que absorve toda

radiação eletromagnética. Muitos estudiosos tentaram conciliar o conceito do

corpo negro com a distribuição de energia prevista pela termodinâmica, porém

essas explicações resultaram em divergências como a conhecida catástrofe do

ultravioleta. Planck sanou o problema em 1901, ao introduzir a constante de

Planck como mero recurso matemático, bem como introduziu a quantização de

energia. Essa ideia inicial levaria aos fundamentos da mecânica quântica. De

35

Broglie demonstrou mais tarde que a matéria se comporta como onda e

partícula baseando-se no conceito de quanta desenvolvido por Planck na

radiação do corpo negro e por Einstein no experimento do efeito fotoelétrico.

Em 1927 Werner Heisenberg, trabalhando com variáveis observáveis, enuncia

o Princípio da Incerteza. Existe uma incerteza na determinação do momento da

partícula quando se determina a posição da mesma. Baseado em tais

realidades, foi desenvolvido o conceito de função de onda Ψ, cuja aplicação de

um operador retorna uma propriedade observável. O quadrado dessa função

de onda é a probabilidade de encontrar a partícula em um elemento diferencial

de espaço.

Métodos Ab initio

Os métodos ab initio são aqueles cuja obtenção das propriedades

eletrônicas de átomos e moléculas, é feita a partir das equações da mecânica

quântica 50. A implementação da mecânica quântica para átomos e moléculas

se dá pela resolução da equação de Schröndinger.

),(),(ˆ rRErRH (1)

onde R e r representam as coordenadas nucleares e eletrônicas do sistema

molecular, respectivamente.

A energia do sistema é obtida através da solução da Equação 1, com a

atuação do operador hamiltoniano descrito pela Equação 2 sobre a função de

36

onda ( em unidades atômicas). O hamiltoniano (Equação 2) descreve uma

molécula constituída por elétrons e núcleos.

A AB AB

BA

i j iji A iA

AiA

R

ZZ+

r+

r

Z=H

1

2

1

2M

1

A i

22

A (2)

Nessa equação, o primeiro termo representa a energia cinética dos

elétrons, o segundo termo diz respeito à energia cinética dos núcleos. O

terceiro termo representa a interação entre núcleos e elétrons. O quarto termo

denota a interação dos elétrons. O quinto termo é a interação entre os núcleos.

A Equação 1, com o hamiltoniano dado pela Equação 2, não tem

solução analítica para sistemas de muitos corpos, tanto analiticamente quanto

computacionalmente. Dessa forma, aproximações se fazem necessárias.

Em 1926, Max Born e Robert Oppenheimer propuseram uma

aproximação para equação de Schrödinger para o movimento dos núcleos.

Usando a expansão adiabática descrita pela equação 3 na equação1, é

possível desacoplar a equação de Schrödinger em duas outras: Uma

eletrônica e outra nuclear. Esta aproximação é conhecida como aproximação

de Born-Oppenheimer.

ψ(R,r)=Qnúcleos (R)Felétrons( R,r) (3)

A equação eletrônica irá assumir uma dependência paramétrica em relação a

posição do núcleo. Pode-se agora resolver a equação eletrônica e nuclear

separadamente.

37

Uma segunda aproximação remete ao problema de muitos corpos

presente nos problemas de química quântica desde o advento dessa ciência na

segunda década do século XX 51. Para sistemas multieletrônicos a solução das

integrais de interação entre dois ou mais elétrons é o problema de interação

entre muitos corpos. Essa dificuldade física é o gargalo temporal dos cálculos

computacionais de química quântica, cujas aproximações para contornar essa

realidade vão caracterizar o surgimento de múltiplos métodos de química

computacional.

Os cientistas Hartree e Fock propuseram um método alternativo para

tratar o problema de interação entre muitos elétrons. Nesse método, cada

elétron interage com o campo médio gerado pelos demais elétrons (Hartree),

seguido da antissimetrização (Fock). Essa metodologia negligencia o efeito de

correlação que existe na interação entre dois elétrons.

Outro método que se vale de aproximações para contornar o problema

de correlação eletrônica é o método DFT (Density Functional Theory). A teoria

do funcional de densidade é uma alternativa aos cálculos de estruturas

eletrônicas. Essa metodologia propicia um ganho de tempo computacional e

uma redução do uso de memória na execução de cálculos de estruturas

eletrônicas.

Diferente das metodologias provenientes do método Hartree-Fock-

Roothaan e pós-Hartree-Fock, o método DFT usa a densidade eletrônica como

entidade mecânico-quântico em vez da função de onda presente nos outros

métodos de cálculo de estrutura eletrônica. A teoria do DFT foi inicialmente

desenvolvida por P. Hohenberg e W. Kohn. A partir desse estudo foram

38

desenvolvidas equações auto-consistentes para o tratamento do efeito de troca

e correlação 52. De modo geral, o método DFT é regido por dois postulados

essenciais:

1) A função de onda do estado fundamental, e daí todas as

propriedades desse estado são funcionais da densidade eletrônica.

2) A energia do estado fundamental de um sistema multieletrônico

sob um potencial elétrico V(r), pode ser escrita como:

)()()()]([ FdrrrvrEv (4)

Onde F é o funcional universal de que independe de v(r).

Um problema inerente à equação (4) é a obtenção da função analítica

que represente . Essa representação é geralmente derivada de um cálculo do

tipo HF (Hartree-Fock) através de um método auto-consistente de modo que a

função de onda esteja no mínimo de energia.

Para se iniciar um cálculo do tipo DFT, procede-se a escolha das bases

atômicas, para construção dos orbitais moleculares de acordo com a Equação

5.

M

ii C

(5)

A aplicação do método variacional conduz a equação matricial (6)

SCChKS

(6)

onde

39

KShh

S

xcneKS Vdrrr

rVh ´

´

)́(

2

1 2

Nessa equação h é o operador hamiltoniano para a teoria do funcional de

densidade, e S é a integral de sobreposição dos orbitais atômicos. O operador

h contém a energia cinética dos elétrons, a interação núcleo-elétron, interação

elétron-elétron e o conhecido potencial de troca. A resolução da equação

matricial é análoga àquela aplicada à matriz de Fock. Temos ainda que a

resolução das partes que correspondem à energia cinética eletrônica e a

interação de Coulomb são idênticas aos dos elementos da matriz de Fock.

Todavia, o termo de troca e correlação é dado em termos da densidade

eletrônica, podendo envolver a derivada da densidade eletrônica como

mostrado na equação 7.

drrrrVr xc )()(),()((7)

O funcional xcVdepende da integração de variáveis implícitas via obtenção da

densidade eletrônica. Essas integrais geralmente não podem ser calculadas

analiticamente, mas precisam ser geradas por uma integração numérica.

40

kkk

G

k

kxcxc vrrrrVdrrrrVr )()()(),()()(),()(1 (8)

Como o número de pontos da malha vai para o infinito, a aproximação se torna

exata. No ambiente computacional o número de pontos da malha vai depender

da precisão que se almeja no resultado final.

Metodologias para a resolução da equação de energia no

método DFT

Uma das diferenças do método DFT em relação aos demais métodos ab

initio é o uso de funções matemáticas para representar os termos que

compõem o funcional de energia. A partir da equação 5 pode-se descrever o

funcional F( ) pela soma dos funcionais de energia cinética T( ) e de

repulsão eletrônica V( ), assim a energia eletrônica se torna:

eeel VdrrvrTE )()()()((9)

A descrição de cada termo do funcional energia denotará uma

metodologia diferente para a obtenção das propriedades eletrônicas na teoria

do DFT.

Nesse trabalho será utilizada a aproximação GGA (Generalized

Gradient Approximation) para a correção do termo de troca e correlação devido

à repulsão eletrônica 53. A energia de correlação irá depender não somente de

41

densidade eletrônica, mas também da derivada da densidade. Esse método

apresenta ainda tratamento exato para energia cinética com uma descrição

simples para o termo de troca e correlação dada pela equação (9).

drsFrpECGA

x )()(3

4

3][ 3

43

1

(10)

Onde s é igual

)(2

)(

rK

rs

F

Métodos Semi-Empíricos

Os cálculos de estrutura eletrônica que fazem o uso da teoria do DFT

ainda são excessivamente complexos para serem aplicados a moléculas

biológicas como proteínas. Dessa forma, novas aproximações são necessárias

para tornar os métodos de mecânica quântica aplicáveis ao estudo de

estruturas de macromoléculas biológicas. Por conseguinte, é recorrente o uso

dos métodos semi-empíricos, os quais utilizam dados experimentais para

simplificar o cálculo de integrais de dois elétrons, diminuindo substancialmente

o tempo computacional para o cálculo de estruturas eletrônicas.

Porém, esses cálculos, apesar de serem mais robustos que aqueles

ditos ab initio, apresentam dificuldades quanto ao tempo computacional quando

aplicados a maior número de átomos, pois apresentam escalonamento

42

quadrático quanto ao uso da memória devido à diagonalização da matriz de

Fock.

Com efeito, atualmente estão sendo desenvolvidos algoritmos de

escalonamento linear para contornar o problema de diagonalização da matriz

de Fock. No presente trabalho, será utilizado o método de escalonamento

linear desenvolvido por Stewart 54. Este método de escalonamento, proposto

por Stewart e colaboradores, aplica as rotações de Jacobi ao bloco ocupado

virtual da matriz de Fock em orbitais moleculares localizados. Esses tipos de

orbitais moleculares são limitados a uma região específica da molécula a

exemplo de ligações específicas, ou um par de elétrons isolados.

Orbitais moleculares localizados (LMO) são obtidos pela transformação

unitária sobre um conjunto de orbitais moleculares canônicos 55. A

transformação geralmente envolve a otimização do valor esperado de um

determinado operador. De modo genérico, a forma do operador de localização

L pode ser escrito como (equação 11):

n

i

iiii LL1

(11)

Onde é o orbital molecular espacial.

A qualidade dos resultados de cálculos de estrutura eletrônica que

fazem uso dos métodos semi-empíricos, dependerá da escolha de uma

aproximação que possa descrever de forma acurada as propriedades das

macromoléculas biológicas. Neste trabalho, será utilizada a aproximação PM6,

AM1, MNDO, PM3 presentes no programa Cache 56 e Gaussian. Cada uma

43

dessas aproximações semi-empíricas apresenta tratamentos distintos na

parametrização e funções usadas para substituir as integrais. No método

MNDO (Modified Neglect of Diatomic Overlap), tem-se o negligenciamento da

integral diatômica de sobreposição. O método PM3 (Parameterized Mode) e o

AM1 (Austin Model) usam a mesma aproximação que o método MNDO, o

diferencial reside nas parametrizações e nas funções para representar a

repulsão dos elétrons do caroço, que foram corrigidas devido aos erros em

sistemas com ponte de hidrogênio. No método PM3 são usadas duas

gaussianas, enquanto no método AM1 usa-se de três a quatro funções

gaussianas por elemento. Outra diferença substancial reside na abordagem

filosófica dos métodos. Enquanto no método AM1 existem parâmetros

oriundos de dados experimentais, no método PM3 esses foram reotimizados.

O método PM6 incorpora a filosofia do método PM3, porém com a

parametrização para mais de 70 átomos, melhorias nos mesmos.

Mecânica Molecular

Os métodos semi-empíricos têm conquistado um espaço

relevante no cálculo de estruturas moleculares com grande número de átomos.

Entretanto, tais métodos ainda são limitados quando o sistema molecular é

excessivamente grande ou demanda uma evolução temporal do sistema, com

o uso da dinâmica molecular. A fim de contornar essa problemática, tem-se

utilizado a mecânica molecular para cálculos de estruturas moleculares com

milhares e até milhões de átomos.

44

A mecânica molecular é um método de química computacional

que se vale das leis clássicas da física propostas por Robert Hooke. Nessa

metodologia, a descrição da ligação química é feita através do uso de funções

harmônicas. Tais funções são parametrizadas por métodos quânticos a fim de

representar o comportamento da molécula. Cálculos que se valem dessa

aproximação, apresentam escalonamento linear no tempo de cálculo

computacional.

A essência da mecânica molecular é a construção de um campo

de força clássico, através do somatório de diversas funções harmônicas e

termos de interação de van der Walls e eletrostáticos. De modo mais particular,

deve-se realizar o somatório de funções que representem o estiramento das

ligações químicas, a deformação angular, a deformação de diedros, bem como

componentes que representem a interação entre os átomos. Nesse caso,

constroem-se funções que envolvem o potencial eletrostático e interações de

curto e longo alcance. Em geral, pode-se representar um campo de força da

seguinte forma:

1

1 1 0

6

0

12

0

0,

2

0

2

0

42

)](cos1[2

1)(

2

1)(

2

1)(

N

j

N

ji ij

ji

ij

ij

ij

ij

ji

TORSÕES

N

ÂNGULOS

a

LIGAÇÕES

B

N

r

qq

r

r

r

r

VKllKrV

(12)

O primeiro termo descreve o estiramento das ligações químicas, o

segundo a deformação angular, o terceiro os ângulos diedros, o quarto o

45

potencial de Lernad Jones e o quinto a interação eletrostática existente entre

as moléculas.

A aproximação MP2 Moller-Plesset

A aplicabilidade dos métodos de química computacional em moléculas

biológicas não se restringe a sistemas moleculares com milhares de átomos,

mas também se dá em sistemas com pouco mais de cem átomos. Nessa

situação, métodos mais refinados de cálculo são utilizados para estimar

propriedades que são dependentes do efeito de correlação eletrônica.

Um dos vários métodos que consideram o efeito de correlação

eletrônica é o método MP2 ( Moller-Plesset Theory) 58. Assim, os efeitos de

correlação eletrônica são adicionados através da teoria de perturbação de

Rayleigh–Schrödinger. Nessa aproximação, adiciona-se uma perturbação ao

operador Hamiltoniano, cuja simulação é conhecida, para simular a correlação

eletrônica, como pode ser visto na Equação 13.

VHH ˆˆ0

(13)

Nesta equação o H0 é o operador não perturbado e V̂ é uma perturbação

externa corrigida pelo parâmetro . A energia e a função de onda são

perturbadas pela expansão em série em torno de , segundo a equação 14:

46

n

i

ii

n

n

i

ii

n

EE0

)(

0

)(

lim

lim

(14)

A substituição dessas séries na equação de Schröndinger, independente

do tempo, nos dá uma nova equação.

)()())(ˆ(0

)(

0 0

)()(

0

n

i

iin

i

n

i

iiii EVH

(15)

Igualando os termos de perturbação i

nessa equação, obtém-se a ordem de

perturbação. Nesse trabalho, será utilizado a perturbação de ordem 2 para

calcular as propriedades eletrônicas dos sistemas biológicos em estudo, para

incluir a correlação no cálculo da energia de interação fármaco/receptor.

Simulação de Solventes

Foram apresentados diversos métodos de química computacional que

permitem estimar as propriedades de estruturas eletrônicas. Nestes, o cálculo

quântico é feito considerando que a molécula ou o átomo esteja no vácuo.

Todavia, esse ambiente é bastante diferenciado dos ambientes biológicos, os

47

quais estão essencialmente solvatados por moléculas de água. Dessa maneira,

surge a necessidade de simular solventes em cálculos de estrutura eletrônica.

Existem basicamente duas formas de simular solventes em cálculos de

estrutura eletrônica. A primeira faz o uso da adição de águas explícitas no

sistema molecular em estudo. São adicionadas geralmente condições de

contorno, que são moléculas de águas envoltas por uma caixa de dimensões

compatíveis com o sistema de interesse, que ajudarão a aproximar o problema

do meio biológico. A segunda maneira é a simulação implícita do solvente, os

quais usam modelos teóricos para simular um meio contínuo que leva em conta

a constante dielétrica do solvente, com o soluto considerado numa cavidade. A

definição dessa cavidade é o que fundamentalmente difere os vários métodos.

A inclusão de um solvente explícito é a aproximação mais próxima de um

sistema biológico, porém demandará maior tempo computacional de cálculo,

pois se estará adicionando mais átomos e moléculas ao sistema molecular. A

utilização de meios contínuos uma alternativa computacionalmente mais

exequível e serve para estimar propriedades como a energia livre do complexo

inibidor/receptor 59,60.

Um dos modelos mais simples para a simulação de solvente implícito é o

COSMOS (Conductor-like-Screening Model), que é um método de cálculo

utilizado para estimar a interação eletrostática entre o soluto e o solvente.

Nessa metodologia, o solvente é tratado como um contínuo com

permissividade . Deste modo, aproxima-se o solvente por um contínuo

dielétrico fora da cavidade molecular 61. Com este método é utilizada a

equação (16) de Poisson para descrever o meio contínuo.

48

0

2 )()(

rr

(16)

onde representa a densidade eletrônica do soluto, 2 (r) gradiente do

potencial eletrostático e 0 é o fator de permissividade.

Porém os métodos que usam dessa aproximação podem dissimular

alguns resultados nos cálculos teóricos que envolvem a interação de

moléculas, pois a contribuição termodinâmica para a formação de interações

químicas pode estar associada ao aumento entrópico de águas explícitas. Além

disso, há a dificuldade da construção do grid, que denotará a área de influência

do solvente sobre o soluto trabalhado. Dessa forma o uso dessa aproximação

requer prévios estudos com o objetivo de adequar uma boa proposta de

simulação para o sistema.

O método ONIOM

A combinação de aproximações clássicas com aproximações quânticas

é uma alternativa para moléculas com elevado número de elétrons, cuja

essência catalítica esteja restrita a uma parte do sistema molecular. Dentro

dessa perspectiva, os métodos de cálculo de estrutura eletrônica podem ser

utilizados para a descrição do sítio catalítico da proteína, e os métodos

clássicos provenientes de campos de força, são utilizados para tratar o resto da

proteína.

49

O método ONIOM (Our own n-layered Integrated Molecular Orbital

and Molecular Mechanics) 62 é um método que permite tratar o sistema em até

3 camadas, atribuindo a cada camada um grau de acurácia nos cálculos de

modelagem molecular. Segundo essa metodologia, qualquer sistema molecular

pode ser separado em diferentes níveis ligados de acordo com uma ordem pré-

estabelecida para o tratamento do problema. Portanto o primeiro problema

tratado para usar o ONIOM é a partição/corte do sistema, principalmente para

ligações covalentes, onde uma partição deve ser bem analisada. Ao integrar os

resultados obtidos nas diferentes camadas, obtém-se uma extrapolação

chegando-se a valores mais acurados sobre todo o sistema molecular

estudado 63. Quando dois métodos são combinados na metodologia ONIOM,

segue o modelo apresentado na Figura 6:

Figura 6: Diagrama esquemático do método ONIOM para uma proteína.

A equação para a energia final do sistema contendo duas camadas pode

ser descrita como:

50

elSLrealLelSH EEEE mod,,mod, (17)

Onde H (high) e L (Low) dizem respeito aos níveis de teoria alto e baixo de

aproximação respectivamente, enquanto Smodel (small) e Real referem-se ao

tamanho do sistema, pequeno e “real” respectivamente. Aqui é importante frizar

que a palavra real não deve ser entendida na sua definição, mas sim dentro de

um modelo, a parte indicada como real seria todo o modelo, enquanto que a

parte pequena é apenas uma parte do modelo.

Termodinâmica estatística

Os programas de química computacional se valem da termodinâmica

estatística para a computação de propriedades termoquímicas de sistemas

moleculares. O ponto de partida da termodinâmica estatística é a construção

da função de partição, que é uma grandeza que descreve as propriedades

estatísticas de um sistema em equilíbrio termodinâmico.

Existem vários tipos de função de partição, as quais correspondem a

diferentes ensembles. A função de partição canônica, por exemplo, aplica-se

ao ensemble canônico, que é um sistema que permite troca de calor com o

ambiente, mantendo-se a temperatura, o volume e o número de partículas fixas

(NVT). Matematicamente a função de partição canônica pode ser descrita

como:

j

E jeZ(18)

51

Onde E é a energia total do sistema quando está no microestado j e é a

temperatura inversa definida como:

TkB

1

(19)

Onde kB é a constante de Boltzmann.

Para os sistemas moleculares, existem contribuições na função da

partição originadas dos movimentos rotacionais, translacionais, vibracionais e

eletrônica. A soma dessas contribuições poderá ser computada na função de

partição total, podendo-se derivar algumas funções básicas da termodinâmica,

tais quais a energia (Equação 20), capacidade calorífica (Equação 21), entropia

(Equação 22), e energia de Helmholtz (Equação 23).

ZE

ln

(20)

2

2

1E

TkT

EC

B

V

(21)

)ln()(ln ZkT

EZkS BB

(22)

ZTkTSEA B ln

(23)

52

A Dinâmica molecular

A dinâmica molecular é uma técnica muito utilizada para o estudo de

macromoléculas biológicas 64 65 66 67, bem como no desenho e planejamento de

novas drogas 68 69.

A dinâmica molecular é uma técnica que propicia a evolução temporal do

sistema microscópico via a integração das equações de Newton 70 56 71 68 64

passo a passo no tempo. Essas equações são descritas abaixo.

i

ii

iii

r

rVtF

amtF

)(

)(

)(

Onde Fi é a força que atua sobre cada partícula em um instante de

tempo t, ai é a aceleração do átomo i de massa mi. A função V é um campo de

força clássico como aquele definido na Equação 12. Para calcular a força,

calcula-se a derivada da energia em relação às posições dos átomos do

sistema molecular. O cálculo da força gera automaticamente a aceleração. A

partir desta, pode se obter a integração das equações do movimento e

consequentemente a velocidade, cuja integração propicia a mudança de

posição dos átomos. Com as novas posições atômicas, calcula-se a energia

cinética e potencial do sistema molecular em estudo. Aplicando-se esse

procedimento gera-se uma trajetória, que nada mais é que o conjunto de

posições e velocidades dos átomos em cada tempo.

A integração das equações do movimento é feita via algoritmos

baseados nos métodos da diferenças finitas, nos quais a integração é dividida

53

em pequenos intervalos de tempo da ordem de femtosegundos a fim de poder

computar as vibrações associadas ao átomo de hidrogênio 72. Um dos métodos

mais comuns aplicados na integração das equações do movimento é o

algoritmo de Verlet, que utiliza as posição e acelerações dos átomos no tempo

t e as posições do passo anterior r( t-t), para determinar as novas posições no

tempo t+ t de acordo com a equação abaixo.

2)(')(2)( ttartrttr

Em sistemas biológicos é comum o uso de ensembles NVT e NVP.

Docking Molecular

Uma metodologia essencial usada no desenvolvimento de novos

fármacos é o ancoramento molecular, conhecida como docking em inglês. O

objetivo do cálculo do tipo ancoramento molecular consiste na avaliação das

interações energéticas de algumas conformações moleculares em relação a

outras, a busca de conformação é feita segunda uma contagem de funções.

Para as melhores soluções de docking, os programas quantificam estimativas

aproximadas da energia livre.

Para realizar este feito, as moléculas são descritas como corpos rígidos

em uma primeira aproximação. Nesse sentido, o ancoramento molecular pode

ser entendido como um problema de interação química de moléculas à

cavidade catalítica de uma determinada proteína

54

No entanto, essa aproximação não é suficiente para a determinação de

uma configuração inicial satisfatória, especialmente para sistemas envolvendo

interações de pequenas moléculas no sítio catalítico de enzimas. Pode-se,

então, escolher modelos que levem em conta a flexibilidade das moléculas.

Nesse modo de atuação, as moléculas sofrerão transições conformacionais de

maneira a alcançar um melhor ajuste para as interações moleculares.

Nesta técnica, as interações químicas são computadas pela contribuição

dos termos de van der Walls e eletrostáticos, sem considerar os demais termos

de um campo de força clássico, ou seja, usa-se para este fim um campo de

força clássico simplificado, que descreverá a energia dos ligantes e receptores.

A inserção de solventes torna a aproximação mais realística por computar o

ganho entrópico de águas de solvatação associada à perda entrópica do

ligante. Nessa aproximação há um excessivo ganho de custo computacional

associado ao cálculo de energias de interação.

Estas interações são computadas dentro de uma grade que envolverá

parte do sistema estudado, como por exemplo, a cavidade catalítica da enzima

a ser estudada. A construção da grade de energia depende do campo de força

estudado 73.

Análise de Componentes Principais

Dentre os métodos de natureza multivariada destaca-se a análise de

componentes principais, a qual é amplamente utilizada para a construção de

modelos teóricos que relacionem atividade do inibidor a propriedades

descritivas. Essas propriedades podem ser log p, que é a partição

molécula/octanol, energia dos orbitais HOMO e LUMO, número heteroátomos,

55

volume das moléculas, peso molecular, entre outros milhares de descritores.

Por isso a análise de componentes principais é muito aplicada no estudo de

fármacos.

O PCA é uma maneira de identificar a relação entre

características extraídas de descritores. A componente principal é o arranjo que

melhor representa a distribuição dos dados e a componente secundária é

perpendicular a componente principal. Os passos para calcular as

componentes principais são:

Obtém-se os dados ou as M amostras de vetores de dimensão M.

Calcula-se a média ou o vetor médio destes dados.

Subtrai-se a média de todos os dados.

Calcula-se a matriz de covariância usando todas as subtrações. Ela é

o resultado da média do produto de cada subtração por ela mesma, e

terá dimensão MxN.

Calcula-se os autovalores e autovetores da matriz covariância.

O auto vetor com o maior autovalor associado, corresponde a componente

principal do conjunto de dados utilizados.

A aplicação desse método tem duas importantes metas: Diminuir a

quantidade de dados em problemas que envolvam estudos de análise multi-

variacional, bem como filtrar as propriedades mais descritivas do problema

multivariado.

56

Protocolos Utilizados

Como neste trabalho foram utilizadas técnicas e moléculas

diferenciadas, o capítulo relativo às metodologias será separado em

subcapítulos, detalhando os métodos aplicados, bem como as abordagens dos

problemas dentro do âmbito da química computacional.

Metodologia 1 (Estudo dos inibidores pirrolo-pirimidinas)

O estudo dos inibidores pirrolo-pirimidinas da proteína quinase de

adesão focal foi realizado da seguinte forma.

Foram selecionados 7 inibidores da classe pirrolo-pirimidina com

substituintes do tipo carboxila em diferentes posições do anel

aromático piridinico 74 75 segundo a Figura 7.

Todas as moléculas selecionadas foram submetidas a

otimização de geometria com o método DFT/B3LYP 6-31* (d)

utilizando a camada fechada para a distribuição dos elétrons na

molécula. Os cálculos foram realizados no programa Gaussian

2009 76.

57

Figura 7. Inibidores selecionados para o estudo de docking molecular

com proteína quinase de adesão focal.

Nas geometrias de equilíbrio foram adicionados comandos no

programa Gaussian09 fim de se obter a distribuição dos orbitais

moleculares, cargas do tipo Chelpg bem como o potencial

eletrostático.

Em seguida, foi selecionada a proteína quinase de adesão focal

do site de banco de dados www.pdb.org 54,77. O código de

58

acesso para a proteína quinase de adesão focal foi o 2ETM 77

com inibidor 7-h-pirrolo-pirimidina complexado no sítio catalítico.

Tendo como base o inibidor 7-h-pirrolopirimidina foram

ancoradas as demais moléculas descritas na Figura 7 ao sítio

catalítico da proteína quinase de adesão focal utilizando o

programa Auto-Docking Vina 78.

Após esse procedimento, os complexos formados pela proteína

FAK e os demais inibidores foram otimizados utilizando o campo

de força clássico AMBER presente no programa Hyperchem. Em

seguida, procedeu-se à análise das interações e ligações

moleculares presentes entre os inibidores e a proteína FAK,

selecionando dessa forma os aminoácidos que se ligam

quimicamente com as moléculas estudadas.

Os complexos aminoácidos/inibidores foram separados do resto

da proteína. Nessa estrutura molecular foram realizados cálculos

de estrutura eletrônica com o método B3LYP/6-31g(p).

Utilizando o método B3LYP e a mesma função de base da etapa

anterior foram extraídas informações relativas aos orbitais de

fronteira, densidade eletrônica, bem como o potencial

eletrostático do complexo fármaco/receptor.

Associado às propriedades eletrônicas foram obtidas

informações relativas à energia livre de Gibbs de interação,

entalpia e entropia de interação fármaco/receptor através do

cálculo das frequências no programa Gaussian 09 para o

complexo aminoácidos/inibidores. Foram realizados cálculos de

59

estrutura eletrônica para o complexo fármaco/receptor. A

energia foi computada como diferença entre aquela dos

produtos (complexos) menos dos reagentes (fármaco e sítio).

Esses cálculos foram realizados com o uso do método DFT e os

seguintes funcionais – LANLDZ, B3LYP, M06. Foram também

computadas energias de interação com o método MP2 com o

objetivo de verificar se o fator de correlação eletrônica era

essencial na descrição da interação química.

Os resultados advindos da etapa anterior foram comparados

com as atividades das drogas em estudo.

Todos os cálculos anteriores foram realizados utilizando o

modelo de solvente polarizado contínuo IEFPCM (water) 79.

A fim de se comparar as moléculas da classe pirrolo-pirimidina foi

realizado um estudo com a análise de componentes principais (PCA)

como um método de análise multivariada. Para esse fim, foram utilizadas

as seguintes propriedades: Topologia da superfície polar, log de p,

volume molecular, número de ângulos diedros, número de átomos

passivos de realizar ligações de hidrogênio, número de doadores de

ligação de hidrogênio. Essas propriedades foram obtidas utilizando o

pacote computacional Property Calculation Service. As propriedades

obtidas por esse pacote computacional, associadas às propriedades

energéticas e termodinâmicas de interação foram utilizadas no cálculo

PCA.

60

Protocolo 2 (Estudo da molécula Dasatinibe)

Nessa etapa, é descrito o protocolo aplicado ao docking do fármaco

Dasatinibe no sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal.

Em uma primeira etapa foi selecionada a proteína FAK do banco

de dado dados www.pdb.org, cuja abreviatura é 2ETM.

À essa enzima foi aplicada um campo de força clássico, com o

intuito de obter o relaxamento da estrutura molecular via

otimização de geometria. Para esse fim, foi utilizado o campo de

força AMBER presente no programa Hyperchem.

Em uma etapa ulterior, foi desenhado o fármaco Dasatinibe

usando o programa Cache.

A molécula de Dasatinibe e a proteína FAK foram convertidas

para o arquivo do tipo pdbqt, o qual é utilizado pelo programa

Auto-Docking Vina.

De posse das estruturas em formato de arquivo adequado, foi

realizado o docking molecular do fármaco Dasatinibe ao sítio

catalítico da FAK. Nessa etapa, foram permitidas rotações nos

ângulos diedros e ângulos de deformações durante a realização

do ancoramento do ligante. A descrição dos dados

computacionais do ancoramento são descritos abaixo.

No programa Auto-Docking Vina definiu-se um grid com

as seguintes dimensões em angstrons: x=-18, y=22 e

z =16.

61

Esse grid foi centrado no centro da proteína FAK de modo

a abranger toda a cavidade catalítica.

O grid foi orientado segundo os seguintes pontos:

x=-0.444, y=10.627 e z=6.613.

O tempo utilizado para a procura exaustiva das

conformações do ligante no sítio catalítico foi de 500

segundos.

Após o ancoramento do fármaco ao sítio catalítico da enzima, foi

realizada a otimização de geometria do complexo utilizando o

campo de força clássico AMBER.

A fim de se obter uma descrição quântica do complexo

Dasatinibe-FAK, foi realizado um cálculo do tipo QM/MM

utilizando o programa ONIOM presente no programa Gaussian

09. Aos aminoácidos Cys502, Lys454, Met499, Arg426, Ala 452,

Glu506, Glu471, Arg508, Arg550, Asp564, Leu501, Glu430,

Thr605 e ao fármaco Dasatinibe foi aplicado à aproximação

quântico semi-empírica PM6, definindo dessa forma a camada

alta do cálculo. Ao restante da proteína foi aplicado um campo

de força clássico, definindo dessa forma a camada baixa do

cálculo. Em seguida, se averiguou quais aminoácidos do sítio

catalítico da proteína FAK podem ligar-se ao fármaco Dasatinib.

No que concerne as tentativas de otimização, foram utilizados os

seguintes protocolos para o programa ONIOM.

AM1/UFF, B3LYP/3-21G, HF/LANL2DZ/UFF, MNDO/UFF

62

Em um passo posterior gerou-se um arquivo com a camada alta,

ou seja, aquela camada que continha os aminoácidos

selecionados e o fármaco dasatinibe.

Associado ao método ab initio foram calculadas as seguintes

propriedades da camada alta: Potencial eletrostático, Orbitais de

Fronteira e Densidade eletrônica da camada alta descrita pela

aproximação PM6.

Foram computadas ainda as propriedades termodinâmicas de

interação fármaco/receptor a partir da frequência e

termodinâmica estatística.

Os cálculos das propriedades acima mencionadas foram

realizados com o programa Materials Studio.

Realização de uma dinâmica molecular de 1nanosegundo em

todo o complexo FAK/dasatinib para verificar ligações de

hidrogênio não quantificadas pelo método ONIOM. Essa

dinâmica foi realizada utilizando o campo de força AMBER a

temperatura constante 300K. 100ps foram utilizados para o

banho térmico. Os passos utilizados para a dinâmica molecular

foram da ordem de 1femtosegundo

63

Protocolo 3 (Estudo dos complexos bis-anilino-piridina)

Foi selecionado o arquivo 2JKK 80 do banco de dados de

proteína (PDB).

A estrutura obtida foi otimizada utilizando o campo de força

clássico implementado no programa Hyperchem.

Posteriormente foi realizado um cálculo QM/MM para a

otimização do complexo inibidor/proteína utilizando o programa

Gaussian 09. A definição da camada alta e camada baixa, no

cálculo ONIOM, foram os mesmos que aqueles utilizados para o

fármaco dasatinib.

64

Protocolo 4 (Estudo do complexo 2-3-d-tiazole)

Foi selecionado o código de acesso 3PXK 1 do banco de dados

que contém a droga tiazole complexada com proteína FAK.

A estrutura obtida foi otimizada utilizando o campo de força

clássico AMBER e o programa Hyperchem.

Posteriormente foi realizado um cálculo QM/MM para a

otimização do complexo inibidor/proteína. Os protocolos de

cálculos para a definição da camada alta e camada baixa, no

cálculo tipo ONIOM, foram os mesmos que aqueles utilizados

para o fármaco dasatinib.

65

Protocolo 5 ( Estudo da interação da molécula de ATP com a proteína FAK).

Foi selecionado o código de acesso 2JIM 81 do banco de dados

pdb, que contém o complexo ATP interagindo com a proteína

FAK.

A estrutura obtida foi otimizada utilizando o campo de força

clássico AMBER implementado no programa Hyperchem.

Posteriormente foi realizado um cálculo. A definição da camada

alta e camada baixa no cálculo tipo ONIOM foram do tipo

HF/LANL2DZ:UFF.

66

Protocolo 6 ( Estudo da interação entre o complexo metano sulfonamida com a proteína FAK)

Foi selecionado o código de acesso 3BZ3 82 do pdb, que contém

o complexo cristalizada FAK/sulfonamida.

A estrutura obtida foi otimizada utilizando o campo de força

clássico AMBER implementado no programa Hyperchem

Posteriormente foi realizado um cálculo QM/MM para a

otimização do complexo inibidor/proteína. Os protocolos de

cálculos para a definição da camada alta e camada baixa no

cálculo tipo ONIOM foram os mesmos que aqueles utilizados

para o fármaco Dasatinibe.

67

Resultados e discussão

Volume molecular dos inibidores estudados

Os inibidores utilizados neste trabalho são ilustrados na Figura 8,

com suas respectivas geometrias otimizadas com o método semi

empírico PM6.

Figura 8. Geometria otimizada dos inibidores estudados.

Todos os inibidores, com exceção do fármaco dasatinibe, apresentam

em suas estruturas o anel de adenina presente no ATP. No que concerne a

geometria de equilíbrio, apenas os inibidores da classe pirrolo-pirimidina,

tiazole e amino-pirimidina apresentam estrutura planar. As demais estruturas

apresentam deformações angulares, para a estrutura de equilíbrio, fora do

68

plano. Esse fato gerou dificuldades particulares para a validação da otimização

de geometria com os cálculos do tipo QM/MM utilizando o programa ONIOM

presente no software Gaussian09. Isto porque a estrutura deverá ser

encaixada em uma cavidade pouco flexível. Essas dificuldades serão descritas

de modo mais adequado nos respectivos tópicos de estudo da interação de

cada inibidor com a proteína quinase de adesão focal.

A estrutura de cada inibidor difere substancialmente em termos de

volume molecular, o que suscitará também diversos tipos de interação

molecular com a proteína FAK, bem como problemas de otimização

concernentes a pouca mobilidade dessas drogas no sítio catalítico da proteína

quinase de adesão focal. Os volumes moleculares da cada inibidor são

ilustrados abaixo na Tabela 1.

Tabela 1: Volume Molecular dos inibidores da proteína FAK

Inibidor Volume Molecular A3

Pirrolo-pirimidina 1510,93

ATP 1044,64

Dasatinibe 2303,61

Tiazole 1411,87

Sulfonamida 3702,42

Amino-pirimidina 1260,35

69

Estrutura eletrônica e atividade das moléculas pirrolo-pirimidina

Os resultados devidos aos ancoramentos inibidor/enzima mostram que

as moléculas da classe pirrolo-pirimidina podem estabelecer ligações de

hidrogênio com os aminoácidos Cys502, Arg426 e Lys454, conforme pode ser

visto na Tabela 2. Essas ligações são computadas pelo programa Hyperchem a

partir do ângulo entre doadores e receptores de elétrons pelo programa

Hyperchem, bem como usando distâncias de até 2.5 A.

Tabela 2: Ligações de hidrogênio realizadas entre os aminoácidos da enzima FAK e as moléculas da classe pirrolo-pirimidina

Duas exceções são observadas para os inibidores 17i e 32, os quais

podem estabelecer ligações de hidrogênio com os aminoácidos Ser e Glu. A

substituição na posição orto e meta no anel aromático de pirimidina para o

inibidor 32 ou benzeno para os demais inibidores, permite a realização de mais

Inibidor

Ligações de Hidrogênio calculadas (Å)

Lys454 Lys454 Cys502 Arg424

16i 1,88 --- --- ---

17g 1,99 2,18 --- ---

17h 2,13 2,20 --- ---

17i 1,90 --- 2,20 1,74

18i 2,20 --- --- ---

32 2,18 2,01 2,05 1,74

70

ligações de hidrogênio. Em contraposição à substituição na posição para

presente no inibidor 18i resulta em poucas ligações de hidrogênio com o

aminoácido Lys454. Um entendimento mais refinado das ligações químicas

estabelecidas pelos aminoácidos e os inibidores pirrolo-pirimidina pode ser

contemplado pelos métodos ab initio.

Pode-se verificar através dos cálculos de potencial eletrostático obtidos

pelo método MP2, que o par de elétrons não ligados do átomo de nitrogênio

presente no anel pirimidínico apresenta interação com o aminoácido Lys454.

Interações com os aminoácidos Arg426 e Cys502 são também

observadas para o inibidor 1. A adição do substituinte na posição para no anel

benzênico no inibidor 16i pode ser visualizada pela concentração de densidade

eletrônica entre o grupo substituído carboxila e os hidrogênios do aminoácido

LYS. Essa concentração de carga negativa no inibidor 16i, bem como a

interação do inibidor 1 com o aminoácido Lys454 pode ser visualizado na

Figura 9. O resultado mostrado na figura 9 ressalta ainda o melhoramento da

interação com os aminoácidos Lys454, Arg412 e Cys502 mediante a clara

formação de uma ligação de hidrogênio com o aminoácido Lys454 quando se

adiciona o substituinte carboxila à molécula 7-h-pirrolo-pirimidina.

71

Figura 9. Potencial eletrostático calculado para os inibidores 1 e 16i.

No que concerne aos orbitais moleculares, o orbital HOMO do inibidor 1

está localizado sobre o anel pirimidínico, enquanto o LUMO está localizado

sobre o anel pirrólico. Esta disposição dos orbitais de fronteira mostra que as

principais ligações químicas são realizadas com os aminoácidos Lys454 e Cys

502, conforme pode ser visualizado na Figura 10. Essa disposição dos orbitais

confere ao inibidor 1 uma atividade de inibição intermediária quando

comparado às demais moléculas.

72

Figura 10. Orbitais de Fronteira calculados para a interação entre os aminoácidos do sítio catalítico da proteína FAK com o inibidor 7-h-pirrolo-

pirimidina.

No que reporta aos inibidores 18i e 16i o orbital HOMO está

essencialmente localizado sobre o grupo aril, e o orbital LUMO está situado

sobre o anel metoxifenil. Esses inibidores são os que apresentam maior IC50,

ou seja, são aqueles inibidores que inibem menos eficientemente a enzima

FAK, sendo necessário, portanto, doses relativamente altas dessas moléculas

para controlar o processo de transdução de sinais.

73

Figura 12. Orbitais de fronteira para inibidor 18i.

Figura 11: Orbitais de Fronteira calculados para a interação entre os aminoácidos do sítio catalítico da proteína FAK com o inibidor 7-h-pirrolo-

pirimidina.

74

Figura 13. Orbitais HOMO e LUMO para os inibidores 18i e 16i, respectivamente.

A analogia dos orbitais moleculares com as atividades dos demais

inibidores pode ser feita da mesma forma. Com efeito, verifica-se através dos

cálculos de estrutura eletrônica, que o orbital HOMO dos inibidores 17g,17h,17i

e 32 está localizado sobre o anel pirimidínico próximo ao aminoácido Cys502,

enquanto nos inibidores 16i e 18i os orbitais estão mais próximos do

aminoácido Lys454. Pode-se dizer dessa maneira, que o aumento da atividade

das drogas está correlacionado com ocupação de orbitais próximos ao

aminoácido Lys454. Essa realidade é verificada na disposição dos orbitais

moleculares do inibidor 32, que é aquele que apresenta o menor IC50, ou seja,

é a molécula que melhor inibe a enzima FAK. Na disposição dos orbitais

moleculares HOMO, verifica-se que a maior contribuição eletrônica se dá

75

próximo ao aminoácido Cys502 conforme pode ser verificado na Figura 14. O

aumento de densidade eletrônica próxima ao aminoácido Cys502 contribui de

maneira significativa para o melhoramento da atividade das drogas da classe

pirrolo-pirimidina.

Figura 14. . Disposição dos orbitais HOMO e LUMO para o inibidor 32.

A perda da atividade por parte dos inibidores 16i e 18i pode ser

visualizada também do ponto de vista do potencial eletrostático. Para o inibidor

16i o acréscimo do substituinte na posição meta enseja um aumento da

concentração de densidade eletrônica próxima ao aminoácido Lys454, com

consequente perda daquela, próxima ao aminoácido Cys502. Para a classe de

inibidores 17g, 17h,17i e 32 as densidades eletrônicas estão próximas do

aminoácido Cys502, conforme pode ser visualizado na Figura 15.

76

Figura 15. Potencial eletrostático gerado para a interação entre o inibidor 17i e os aminoácidos Lys454, Arg412 e Cys502.

Os resultados dos cálculos de energia de interação são mostrados na

Tabela 3:

77

Tabela 3: Energias de interação obtidas com diversos métodos e

bases em Kcal.

Inibidor IC50 contra

FAK* (μM)

M06

LANL2DZ

B3LYP

LANL2DZ

B3LYP

6-31G

MP2

6-31G

MP2

LANL2DZ

18i 2.84 419.15 –353.46 –310.54 –414.63

-99.86

16i 2.82 410.62 –351.04 –307.06 683.04

162.43

1 0.212 367.56 –337.82 –248.11 –368.40

158.46

17g 0.038 380.49 –329.28 –286.35 737.35

-114.81

17h 0.037 379.61 –309.45 –314.05 –456.89

152.788

17i 0.035 393.84 –340.74 –333.38 –452.58

-109.32

32 0.004 446.35 –380.70 –349.78 –490.66

-117.70

Energia de interação computada em unidades atômicas.

As energias derivadas do método MP2 com a base LANL2DZ não

apresentaram correlação com as atividades das moléculas da classe

pirrolopirimidina. As energias de interação para os inibidores 17h e 17i foram

positivas, caracterizando uma repulsão entre essas moléculas e os

aminoácidos pertencentes ao sítio catalítico da proteína, demonstrando a

ineficiência da metodologia na obtenção de uma linearidade entre energia de

interação e atividade da droga 7-h-pirrolopirimidina.

Em oposição aos resultados da aproximação MP2, os funcionais com

base 6-31g proporcionaram resultados mais relacionadas com dados de IC50,

não apresentando energias que caracterizassem repulsão entre os inibidores e

os aminoácidos componentes do sítio catalítico da proteína FAK. Os resultados

mostraram uma razoável conexão com os dados experimentais, com desvio de

linearidade entre relação atividade e energia de interação. A mais baixa energia

78

de interação foi obtida para o inibidor 32, podendo-se correlacionar esse

resultado com a boa atividade de inibição dessa droga. Em contraposição a

esses resultados, foram obtidas energias de interação não correlatas com as

suas respectivas atividades. O inibidor 18i não apresentou a energia de

interação mais baixa, não apresentando, dessa forma, uma correlação com

sua baixa atividade na inibição da proteína FAK.

Para os demais métodos, ocorreram problemas similares de relação

entre a atividade da droga com suas energias de interação, sugerindo dessa

forma que a energia de interação não é a única variável necessária para

caracterizar a atividade inibitória de uma droga. Atenta-se ao fato de que não

foram computadas águas explícitas no cálculo, podendo ser o fator entrópico

nesse caso mais importante que a energia de interação. O tamanho do sistema

molecular trabalhado pode ainda não ser representativo para esse tipo de

relação. Baseando-se nesses resultados, foram realizados cálculos

termodinâmicos relativos à ligação fármaco e receptor a fim de estudar a

relação de energia com a descrição das atividades das drogas. Esses cálculos

possibilitaram o conhecimento da contribuição de cada função de estado

termodinâmica para a realização da ligação química entre o inibidor e os

aminoácidos componentes do sítio catalítico da proteína FAK.

No que se refere às propriedades termodinâmicas de um sistema

biológico, pode-se correlacionar a atividade de uma droga com a energia livre

do complexo enzima/inibidor através da Equação 24.

ΔG=−RT ln k i (24)

79

Onde ki é a constante afinidade da droga. Essa constante pode ser relacionada

com a constante de inibição aparente 15.

m

i

K

[S]+

IC=K

1

50 (25)

Essa relação matemática permite correlacionar a constante de afinidade

de uma droga com a propriedade IC50. A concentração do substrato S

bem como km (constante que denota atividade máxima da enzima) é

constante para o caso aqui exposto. Assim sendo, podem-se obter as

propriedades termodinâmicas com intuito de entender a correlação

existente entre a atividade biológica da droga, e sua interação com os

aminoácidos componentes do sítio catalítico da proteína FAK. Os

resultados referentes aos cálculos da energia livre são mostrados abaixo

na Tabela 4.

80

Tabela 4: Resultados dos cálculos de energia livre usando o

método B3lYP/6-31G para a interação inibidor/aminoácidos do sítio

ativo.

Inibidor IC50 contraFAK (μM) Energia Livre Teórica

(kcal/mol)

18i 2,84 -55,6

16i 2,82 -52,3

1 0,212 -11,1

17g 0,038 -74,4

17h 0,037 -71,2

17i 0,035 -58,2

32 0,004 -82,4

No que reporta aos resultados de energia livre, pode-se verificar que o

inibidor 32 é aquele com o resultado mais exergônico. Esse resultado é

correspondente com o fato dessa molécula ser aquela com o menor IC50. Os

inibidores 17g e 17h também foram bem correlacionados com a sua atividade

inibitória tendo em vista suas energias livres. Todavia, os inibidores 1, 17i

apresentaram energias livres não condizentes com suas atividades

intermediárias aos inibidores 18i e 16i.

A fim de se vislumbrar de modo mais sistemático a contribuição da

energia livre para os sistemas em estudo, foram também realizados cálculos

81

para verificar a contribuição da entropia e da entalpia. Os resultados referentes

a essas funções de estado termodinâmicas são mostradas na Tabela 5:

Tabela 5: Contribuição entálpica e entrópica para a formação do

complexo inibidor/aminoácidos.

Inibidor Entalpia

kcal/mol

Entropia

(cal/K.mol)

18i 1,0 189,8

16i -0,4 174,0

1 1,1 41,2

17g 3,0 259,6

17h 3,2 249,6

17i 0,0 195,5

32 -2,2 269,2

Os resultados mostram que o inibidor 32 apresenta a maior entropia e a

menor entalpia, colocando-o com o maior potencial de inibição da proteína

FAK. Para os demais inibidores, não se verifica a mesma correlação entre a

entalpia e a atividade das drogas. Observa-se, no entanto, que a função

entropia parece reger a interação inibidor/aminoácidos. Verifica-se que os

inibidores 17g, 17h e 17i, que tem potencial de inibição intermediário aos

demais inibidores, possuem contribuições entrópicas essencialmente maiores

que o 18i e 16i, os quais são os que apresentam alto IC50.

82

Através da análise de componentes principais podemos ter maior

entendimento das propriedades eletrônicas e estruturais. A Figura 16 abaixo

mostra as componentes principais 1 e 2 usando a energia dos orbitais HOMO

e LUMO, momento de dipolo, energias de interação ( M06/B3LYP/PM6) calor

de formação, nON, nOHN, nORTB e os resultados experimentais do IC50. Três

grupos de moléculas foram encontrados, independentemente de qual energia

de interação funcional de densidade era utilizada (B3LYP ou M06). O primeiro

foi composto pelas moléculas 17h, 17i e 32, que são as moléculas mais ativas,

e a segunda foi constituída por 16i, 18i e 17g que são as moléculas menos

ativas. A estrutura 1 ficou isolada, já que esta estrutura não tem grupo

carboxílico e tem o menor número de ligações de hidrogênio. A informação

acerca das atividades dos inibidores está espalhada entre a PC1 e PC2.

Figura 16. Gráfico de componentes principais para os inibidores da classe pirrolo pirimidina.

83

A componente principal 2 carrega informações acerca da atividade

inibitória e a estrutura 1 divide as moléculas com mais e menos atividades. No

entanto, a estrutura 32 que tem o grupo carboxila também divide o conjunto de

moléculas em mais menos ativas. É importante ressaltar que, apesar de não se

obter uma relação direta entre as componentes principais e os valores de IC50,

consegue-se agrupar as moléculas em relação a sua estrutura e atividade.

Além disso, para o inibidor 32 os valores das PC1 e PC2 encontra-se no

extremo esquerdo do gráfico, com o valor da PC1 mais afastado em relação

aos outros, o que conduz a correlacioná-los com a molécula de maior IC50, o

que que está em conformidade com a atividade esperada.

Estrutura eletrônica e docking molecular da molécula dasatinibe

A droga dasatinibe ocupa uma grande porção do sítio catalítico. Essa

situação ocasionou sucessivos problemas de convergência nos cálculos de

estrutura eletrônica do tipo QM/MM. No intuito de entender essa problemática,

foi realizado uma curta dinâmica molecular de 1 ns no programa Hyperchem,

cujo resultado certificou severas restrições no movimento do inibidor no sítio

catalítico. Essas restrições propiciaram inúmeros erros de otimização quando

da utilização do programa ONIOM e as aproximações combinadas AM1/MM,

PM3/MM e B3LYP/3-21g/MM, onde MM se refere ao campo de força UFF. O

uso dessas aproximações propiciou otimizações incompletas com erros

inerentes as coordenadas internas do sistema inibidor/proteína. Os resultados

84

relativos ao docking molecular do fármaco dasatinibe são mostrados na Figura

17.

Figura 17. Droga dasatinibe ancorada ao sítio catalítico da proteína.

No entanto, quando se fez o uso do método MNDO/MM e do método

HF/MM observou-se otimizações completas para o sistema inibidor/proteína.

Na interação entre a droga dasatinibe e a proteína FAK, verificou-se interações

do tipo π-stacking, que são interações entre a nuvem pi dos anéis aromáticos

com o nuvem eletrônica do sítio catalítico da proteína FAK. A aproximação

quântica HF e a aproximação semi-empírica possuem deficiências relativas à

descrição de ligações de hidrogênio, que são sanadas na maioria dos casos

pelos métodos pós-Hartree-Fock e por alguns funcionais de densidade. Esses

métodos apesar de apresentarem maior acurácia no cálculo de propriedades

eletrônicas, são essencialmente caros computacionalmente, sendo impraticável

em se tratando de moléculas biológicas. As outras aproximações cujo

resultado foi a não convergência do sistema fazem com que a droga dasatinibe

realize movimentos mais bruscos na cavidade catalítica, propiciando dessa

forma erros nos cálculos de otimização de estrutura eletrônica. Esses

85

movimentos bruscos associados a desvio de planaridade podem ser verificados

quando se realiza otimizações de geometria para os diferentes métodos

utilizando somente o fármaco dasatinibe. Os desvios de planaridade são

mostrados na Tabela 6 para os diferentes métodos utilizados neste trabalho.

Tendo em vista esses deslocamentos em relação ao plano, foi utilizado o

método quântico semi-empírico MNDO para o cálculo do tipo QM/MM, o qual

possui menores deslocamentos planares.

Tabela 6: Desvio de planaridade do fármaco dasatinibe utilizando diferentes aproximações

Método 1 LUMO

PM6 175,89 119,09 -0,3677 -0,4509

MNDO 158,93 136,62 -0,34708 -0,03196

AM1 132,57 102,91 -0,32586 -0,03548

PM3 132,57 102,91 -0,32705 -0,04244

HF 174,75 121,91 -0,31023 0,08797

M06 132,57 102,909 -0,22463 -0,0493

MP2 132,57 102,91 -0,8461 0,06146

Baseando-se no mínimo local encontrado pela aproximação MNDO, foi

realizada uma otimização com a aproximação semi-empírica PM6 obtendo-se

êxito nesses cálculos. As demais aproximações foram empregadas do mesmo

modo, porém não obtiveram êxito na otimização do sistema biológico, devido a

repetidas falhas na convergência do SCF.

Os cálculos relativos à dinâmica molecular propiciaram a visualização de

rotações de ângulos diedros, permitindo analisar as ligações de hidrogênio

antes não existentes. Os grupos químicos cuja rotação levou a ligações de

hidrogênio são mostrados na Figura 18.

86

Figura 18. Grupos químicos que apresentaram rotação dos diedros durante a dinâmica molecular.

Figura 19. Ligação de hidrogênio associada com a rotação do ângulo diedro do grupo hidroxila do fármaco dasatinib.

A rotação do ângulo diedro associado com o grupo hidroxila terminal do

fármaco dasatinibe propicia a formação de ligações de hidrogênio com o

aminoácido terminal Arg426 como mostrado na Figura 19. A ligação de

87

hidrogênio é vista através do formato molecular do tipo “esferas de

sobreposição” presente no programa Hyperchem.

Ligações de hidrogênio permanentes, ratificadas pelos cálculos de

otimização de geometria com a aproximação PM6/UFF para esse modelo

teórico, foram encontradas com os aminoácidos Glu18, Thr91, Asp152 e

Gly93. Na geometria de equilíbrio, o programa ONIOM não permitiu observar

ligações de hidrogênio com o grupo hidroxila terminal do fármaco dasatinibe.

As distâncias interatômicas estabelecidas para as ligações de hidrogênio são

mostradas na Tabela 7. Ressalta-se que a ligação com o aminoácido Cys502

tem sido encontrada em diversas interações entre drogas inibidoras da proteína

quinase de adesão focal 83 84.

Tabela 7: Distâncias interatômicas das ligações de hidrogênio estabelecidas entre o fármaco dasatinibe e os aminoácidos listados.

Aminoácidos Distância das Ligações de Hidrogênio (Å)

Glu(18) 2,80

Thr(91) 3,65

Asp(152) 1,60, 2,60

Gly(93) 3,39

O mapa de potencial eletrostático derivado de cálculos quânticos semi-

empíricos mostram que o fármaco dasatinibe pode estabelecer ligações de

hidrogênio com os aminoácidos Lys454 e Arg426. Essa interação pode ser

observada através do mapa de potencial eletrostático presente na Figura 20.

88

Figura 20. Mapa de potencial eletrostático obtido para o sítio da proteína FAK com o fármaco dasatinibe obtido via a aproximação PM6.

A ligação com o aminoácido Arg426 não é tão clara na geometria de

equilíbrio, porém o mapa de potencial eletrostático mostra densidade eletrônica

negativa no grupo hidroxila terminal. Essa interação se torna acessível quando

se verifica que o diedro associado ao grupo hidroxila terminal da molécula

dasatinibe pode rotacionar em direção ao aminoácido Arg426.

No que concerne aos resultados dos cálculos de estrutura eletrônica

para obtenção dos orbitais de fronteira, verifica-se que os mesmos se localizam

sobre o aminoácido Arg426 e o anel central heterocíclico do fármaco

dasatinibe, salientando dessa forma, a importância desse aminoácido na

descrição da interação dasatinibe/FAK.

89

Estrutura eletrônica e docking molecular da molécula sulfonamida

Para o cálculo de otimização de geometria do complexo sulfonamida/

FAK houve problemas devido à otimização de geometria utilizando o método

ONIOM. Os métodos PM6, B3LYP, PM3, AM1 combinados com um campo de

força clássico em cálculos do tipo QM/MM foram incapazes de propiciar uma

completa otimização de geometria, suscitando em diversos momentos, erros

nas coordenadas internas do sistema molecular. Somente o método HF e o

método MNDO foram capazes de propiciar uma otimização de energia

completa. O primeiro fato a destacar é o grande volume ocupado pela molécula

sulfonamida no sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal quando

comparado ao volume da molécula de ATP, conforme a Tabela 1. Um segundo

fator, não menos importante, são as deformações angulares dos diedros fora

do plano molecular. Métodos mais recentes, como aqueles problemáticos no

que se refere à otimização de geometria do complexo sulfonamida/FAK,

apresentam melhor descrição das interações entre inibidor e enzima, aceitando

mudanças abruptas de geometria no sítio catalítico. Dessa forma, o uso dessas

metodologias se torna problemática quando aplicadas a sistemas moleculares

com essas características. De modo antagônico as aproximações quânticas HF

e MNDO possuem em suas aproximações, problemas relativos à descrição de

interações intermoleculares e intramoleculares como aquelas provenientes da

interação de um elétron com o campo gerado pelos demais elétrons no método

HF. Essa baixa descrição da interação do sistema faz com que hajam baixos

deslocamentos fora do plano molecular, propiciando otimizações completas de

geometria. Foi então utilizado o método quântico semi-empírcio MNDO como

90

primeira aproximação seguido do método HF com um pseudo potencial

LANLDZ. O uso do pseudo-potencial LANL2DZ, foi escolhido pelo fato de ser

um potencial que descreve orbitais do tipo d, ao mesmo tempo possui um baixo

custo computacional, quando comparado com outras funções de onda. As

ligações de hidrogênio formadas pela molécula sulfonamida são mostrados na

Figura 21.

Figura 21. Inibidor sulfonamida ancorado ao sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal.

São observadas ligações de hidrogênio com o aminoácido Cys502,

Asp564 e Arg424. As distâncias de ligação relativas a essas ligações são

mostradas na Tabela 8.

91

Tabela 8: Distâncias de ligação entre o inibidor sulfonamida e os

aminoácidos da proteína quinase de adesão focal.

Aminoácidos Distância das ligações de hidrogênio (Å)

Cys502 2,3,1.9

Asp564 2,4

Arg424 1,9

Os orbitais de fronteira do sistema sulfonamida e o sítio catalítico da

proteína FAK são ilustrados na Figura 22. Como pode ser observado, o orbital

HOMO se encontra espalhado entre os aminoácidos Arg426 e Glu431,

enquanto os orbitais LUMO se encontram sobre o aminoácido Lys454.

92

Figura 22. Orbitais de Fronteira para interação entre o inibidor sulfonamida e o sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal.

Estrutura eletrônica e docking molecular da molécula ATP

A molécula de ATP (adenosina trifosfato) é aquela responsável pela

propagação dos sinais celulares mediante reações de fosforilação do

aminoácido Thr397, por isso é crucial a descrição de sua interação com a

enzima quinase de adesão focal no intuito de entender a ação desse substrato.

Devido aos problemas provenientes da estrutura obtida do banco de dados de

93

proteína, foram necessárias correções no que diz respeito à geometria da

molécula de ATP. Essas correções foram realizadas dentro do sítio catalítico

da proteína FAK, eliminando a sobreposição de átomos e proximidade

excessiva de ligações químicas. Após a eliminação desses problemas, se

tornou praticável a otimização de geometria utilizando o método QM/MM.

Seguindo o protocolo dos cálculos anteriores, foi utilizado o método MNDO

para uma primeira aproximação. Em seguida foi realizado um cálculo HF com o

pseudo-potencial LANL2DZ. Ambas as otimizações ocorreram sem os erros

nas coordenadas internas, observados nos cálculos dos sistemas anteriores.

As ligações de hidrogênio formadas entre a molécula de ATP e FAK são

mostradas na Figura 23.

Figura 23. Interação da molécula de ATP com a proteína quinase de adesão focal .

No que concerne à ligação da molécula de ATP com o sítio catalítico da

proteína quinase de adesão focal, são observadas as seguintes ligações de

hidrogênio conforme pode ser visualizado na Tabela 9.

94

Tabela 9: Distâncias de ligações de hidrogênio realizada pela molécula de

ATP no sítio catalítico da proteína FAK.

Aminoácidos Ligações de Hidrogênio (Å)

Met499 2,7

Gln432 1,8

Lys454 1,3

A energia livre de ligação calculada para interação entre a molécula de ATP e

os aminoácidos componentes do sítio catalítico da proteína FAK foi da ordem

de -58,91 kcal mostrando que essa interação química é favorável

termodinamicamente.

Os orbitais de fronteira calculados para a molécula de ATP são

mostrados abaixo na Figura 24. Os orbitais estão localizados sobre os grupos

fosfatos da molécula de ATP e os aminoácidos Glu 430, Phe 565 e Glu 506.

95

Figura 24. Orbitais de fronteira calculados para a interação da molécula de ATP com o sítio da proteína FAK.

Os cálculos de potencial eletrostático mostram uma concentração de

carga negativa sobre os anéis de adenina da molécula de ATP, ressaltando a

importância dessa estrutura molécula, presente na maioria dos fármacos

inibidores da enzima quinase de adesão focal. Essa relação é mostrada na

Figura 25.

96

Figura 25. Potencial eletrostático calculado para a molécula de ATP interagindo com o sítio catalítico da proteína FAK.

Estrutura eletrônica do complexo bis-anilino-pirimidina

Para a otimização de geometria do sistema bis-anilino-pirimidina não

foram encontrados problemas como erros de coordenadas internas. Esse fato é

explicado pelo pequeno volume molecular do inibidor quando comparado à

molécula de ATP, bem como com o baixo deslocamento fora do plano quanto à

movimentação dos diedros dessa molécula. Os protocolos de cálculos foram os

97

mesmos utilizados nos protocolos anteriores. Os resultados dos cálculos

provenientes da aproximação ONIOM mostram que são possíveis ligações de

hidrogênio com os aminoácidos Cys502 e Asp564. As distâncias de ligação

relativas a essa interação são mostradas na Tabela 10.

Tabela 10: Aminoácidos da proteína quinase de adesão focal que interagem com a molécula bis-anilino-pirimidina.

Aminoácidos Distância das Ligações de Hidrogênio (Å)

Cys502 2,29

Asp564 1,94

A energia livre de ligação entre o fármaco e o sítio catalítico da proteína

quinase de adesão focal é igual -157,087kcal/mol, sugerindo desta forma

espontaneidade da interação fármaco/receptor.

Com relação aos orbitais de fronteira é possível verificar que os orbitais

HOMO estão essencialmente dispostos sobre o fármaco bis-anilino-pirimidina

enquanto os orbitais LUMO estão localizados sobre o aminoácido Arg14,

conforme a Figura 26:

98

Figura 26. Orbitais de fronteira da molécula bis anilino pirimidina

99

Figura 27. Potencial eletrostático obtido para interação entre o fármaco bis-anilino-pirimidina.

Os resultados do cálculo de potencial eletrostático para a interação entre

o fármaco bis-anilino-pirimidina, verifica-se a interações da nuvem pi do anel

aromático com o substituinte cloro com o aminoácido Glu430.

Estrutura eletrônica da molécula pirrolo 2,3 d tiazole

Na otimização do sistema tiazole/FAK não foram observados problemas

procedentes dos cálculos de otimização do tipo QM/MM. Apesar de esse

inibidor apresentar um volume maior que o ATP, há baixos deslocamentos no

plano quanto a movimento dos diedros dessa molécula. O protocolo de cálculo

seguiu as mesmas aproximações e sequências dos demais, a fim de tornar os

resultados comparáveis. Para a molécula de tiazole só foi observada uma

100

única ligação de hidrogênio com o aminoácido Cys502 conforme mostrado na

Figura 28.

Figura 28. Fármaco 2,3 d tiazole complexado ligando-se ao aminoácido Cys502

Com respeito aos orbitais de fronteira podemos verificar que o orbital

HOMO está localizado sobre o inibidor 2,3 d tiazole em sua totalidade e o

orbital LUMO está localizado sobre o aminoácido Glu430. Essas informações

podem ser visualizadas na Figura 29:

101

Figura 29. Orbitais de Fronteira para interação entre o fármaco 2,3,d tiazole e o sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal.

102

Análise geral dos resultados obtidos

Tendo previamente demonstrado os resultados procedentes dos

cálculos de estrutura eletrônica da interação entre fármaco/receptor, torna-se

factível uma análise crítica dos problemas abordados neste trabalho.

O mais notório dos fatos são as diferentes formas de atacar à

problemática da inibição de sinal, cuja consequência é a supressão da divisão

celular. O diferencial reside quimicamente nas diferentes disposições

moleculares de cada fármaco, construídos para inibir o mesmo alvo molecular.

Nota-se, neste sentido, a presença do grupo adenina na maioria dos fármacos

estudados neste trabalho, apesar de haver uma exceção à regra, que é o

fármaco dasatinibe. Esse resultado mostra que nem sempre as moléculas

inibidoras devem possuir essencialmente os mesmos grupos químicos que

aqueles encontrados no substrato original presente no sítio catalítico, que no

caso das proteínas quinases, propicia a evolução dos sinais celulares.

Porém, apesar das substanciais diferenças geométricas entre os

inibidores, encontram-se similaridades eletrônicas bastante relevantes. É

bastante perceptível a interação para todos os casos estudados dos inibidores

com os aminoácidos Cys502, Lys454 e Arg412. A construção dessas

moléculas é propositalmente realizada para estabelecer ligações de hidrogênio

com esses aminoácidos. Na maioria dos inibidores, com exceção do inibidor

tiazole, se encontram grupos COCH3, cuja clara função é interagir com os

aminoácidos terminais Arg424 e Lys454. Todavia, essa interação não pode

103

ocorrer de qualquer forma. O anel de adenina, presente em parte dos

inibidores, deve estar orientando a fazer uma ligação de hidrogênio com o

aminoácido Cys502. Os nitrogênios provenientes do anel de adenina devem

estar orientados para o aminoácido Cys502. Mesmo o fármaco dasatinibe, que

não possui um anel de adenina, realiza essa ligação obrigatoriamente. Essa

interação é feita com o anel pirimidina do fármaco dasatinibe, que deve ter sua

orientação privilegiada nesse sentido.

Um olhar sobre o estudo realizado com os inibidores da classe pirrolo-

pirimidina pode abrir algumas correlações com os demais resultados obtidos, já

que os mesmos possuem descrição de suas atividades biológicas na literatura.

Inicialmente percebe-se que a introdução de um grupo COCH3 próximo ao

aminoácido Lys454, torna a inibição da proteína quinase de adesão focal mais

efetiva. Essa “correlação” química coloca as demais drogas, excluindo-se a

molécula de tiazole, próxima aos inibidores mais potentes da classe pirrolo-

pirimidina. Todavia, averígua-se de forma contraditória que a adição de grupos

COO, em posições para no anel pirimidínico próximo ao aminoácido Lys454

torna a inibição biológica muito ruim para os inibidores da classe

pirrolopirimidina. No estudo de PCM verificou-se a separação dessas

moléculas do demais conjunto, quando são utilizadas variáveis teóricas tais

como energia de ligação e número de átomos de haletos. Apesar da baixa

linearidade obtida entre IC50 e energia de ligação, é plausível pensar que a

inibição também está norteada por um boa “adequação” entre a cavidade

catalítica e a geometria do inibidor associada com uma baixa energia de

ligação entre os mesmos.

104

A corroboração dessas interações para os inibidores estudados nem

sempre se deu através da medida de distâncias de ligação de hidrogênio.

Resultados provenientes de cálculos de orbitais de fronteira e potencial

eletrostático respaldaram a interação dos inibidores com os aminoácidos

Cys502 502, Arg424 e Cys502. No caso do fármaco dasatinib, o resultado foi

consolidado por cálculos de dinâmica molecular, que mostraram que a ligação

com o aminoácido Arg424, antes não realizada na geometria de equilíbrio,

pode ser realizada mediante a movimentação do ângulo diedro associado ao

grupo hidroxila terminal da molécula.

O aminoácido Asp564 apareceu na interação entre a proteína FAK e os

inibidores dasatinibe, sulfonamida e anillino-pirimidina. As demais ligações de

hidrogênio são características peculiares de cada inibidor.

Apesar de não ser o foco deste trabalho, a problemática de otimização

de sistemas biológicos, via QM/MM se tornou uma árdua tarefa para inibidores

que possuem excessivo volume quando comparados ao substrato original e

que possuem mudanças severas em seus diedros quando submetidos a

determinados tipos de aproximações quânticas. Os métodos quânticos

parecem aproximar os átomos desses inibidores de tal forma, que surgem

problemas de sobreposição de átomos e consequentemente erros nas

coordenadas internas. As aproximações utilizadas nesses métodos é o núcleo

de entendimento para sanar essas situações problemáticas. Se as interações

forem mais repulsivas, os métodos com pior descrição eletrônica dos sistemas

moleculares como MNDO e o HF propiciam baixo deslocamento de átomos

dentro do sítio catalítico da proteína quinase de adesão focal. De outro modo, o

uso de métodos como o funcional de densidade e os métodos semi-empíricos

105

PM6 e AM1 fazem com que a os inibidores se movimentem exacerbadamente,

levando a constantes erros de otimização de geometria.

106

107

Conclusões

Neste trabalho foram estabelecidas as principais ligações de hidrogênio

nas geometrias de equilíbrio dos inibidores da proteína quinase listado no

banco de dados de proteínas, bem como a determinação inédita da interação

dessa enzima com o fármaco dasatinib através da técnica de ancoramento

molecular seguido de cálculos de estrutura eletrônica com o método ONIOM,

bem como de uma curta dinâmica molecular.

Foram encontradas ligações de hidrogênio com os aminoácidos Lys 454,

Arg424 e Cys502 para a maioria dos inibidores, indicando a importância desses

aminoácidos na construção de novas drogas para o tratamento do câncer.

Mesmo com diferentes estruturas moleculares, as moléculas inibidoras da

proteína quinase de adesão focal possuem uma similaridade em relação à

interação com a proteína quinase de adesão focal. Essa correlação pode ser

verificada quando se verificam a disposição dos orbitais de fronteira e o

potencial eletrostático, cujos resultados levam a ratificação das interações com

os aminoácidos citados. O tamanho do orbital próximo a Cys502 está

correlacionado com as atividades de inibição dos inibidores da proteína

quinase de adesão focal.

A baixa correlação entre a energia de ligação dos inibidores com os

sítios catalíticos e a atividade de inibição das drogas pode estar correlacionada

a fatores entrópicos que não são passíveis de descrição com solventes

implícitos.

As variáveis obtidas neste trabalho, empregadas para a corroboração

das ligações químicas entre os inibidores da proteína quinase, podem ser

108

utilizadas para a construção de novas drogas inibidoras da proteína quinase de

adesão focal.

Os protocolos de otimização de geometria com os métodos estudados

neste trabalho podem ser utilizados para sanar problemas relativos ao

tratamento de biomoléculas. O método MNDO e HF são particularmente úteis

como ponto de partida para a otimização de geometria do complexo inibidor

interagindo com a FAK. Porém os resultados obtidos via essas aproximações

devem ser corroborados com cálculos mais avançados utilizando o funcional de

densidade B3LYP ou o método semi-empírico PM6, que levam em conta mais

variáveis eletrônicas para melhor descrição do complexo molecular.

109

110

Perspectivas

Na linha das questões em aberto para trabalhos futuros, temos o estudo

dinâmico de todos os sistemas inibidores deste trabalho na proteína quinase de

adesão focal, no intuito de identificar interações e ligações comuns. Para

execução dessa etapa, será necessária a construção de um campo de força

individual para cada inibidor estudado. A fim de construir esse campo de força,

serão utilizadas as bases de dados do campo de força CHARM, para a

definição dos potenciais harmônicos, associados aos cálculos quânticos para a

obtenção das cargas e do potencial de van der Walls.

De posse dos resultados dinâmicos, pode-se estimar a energia livre

dessas interações, bem como o IC50 associado a essas drogas, avaliando-se a

potencialidade das drogas na inibição do mecanismo de transdução de sinais.

Como os resultados provenientes dos cálculos de estrutura eletrônica

conseguem correlacionar a o tamanho dos orbitais próximos a Cys502 com a

atividade da droga, poderia realizar uma mutação nesse aminoácido a fim de

verificar se os inibidores atuais estariam adequado a uma possível mutação da

proteína quinase de adesão focal.

111

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