estudo sobre os efeitos sociais e econômicos do agronegócio no tocantins

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1 Pedro Ferreira Nunes Estudo sobre o agronegócio tocantinense e seus efeitos econômicos e sociais Lajeado TO 2013

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Page 1: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

1

Pedro Ferreira Nunes

Estudo sobre o agronegócio tocantinense e

seus efeitos econômicos e sociais

Lajeado – TO

2013

Page 2: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

2

In memoria de José Porfírio, líder camponês nascido em Pedro Afonso (TO)

ainda norte goiano, foi uma das principais lideranças na organização dos

posseiros e resistência em Trombas e Formoso contra latifundiários e grileiros

da região. Tornou-se o primeiro deputado camponês do Brasil, fazendo da

tribuna uma trincheira em defesa da reforma agrária. Lutou, foi preso e

desapareceu durante a ditadura militar.

A minha mãe Maria Lucia que mesmo sem saber é o principal pilar de apoio a

minha militância política.

Aos camaradas de todos os movimentos camponeses sem terra.

Page 3: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

3

Índice

Introdução

1- O agronegócio tocantinense..................................................................7

2- Avanço do agronegócio e aumento das desigualdades no meio

rural tocantinense...................................................................................9

3- Trabalho escravo, destruição ambiental, uso abusivo de agrotóxico

e violência no meio rural tocantinense...............................................11

3.1- Trabalho Escravo.................................................................................11

3.2- Destruição ambiental..........................................................................12

3.3 – Aumento de agrotóxico nas lavouras tocantinenses.....................13

3.4 – Violência e conflitos no campo........................................................14

4- A luta camponesa por reforma agrária e um modelo agroecológico

no Tocantins....................................................................................................16

4.1 – A política ruralista de cooptação da agricultura familiar e

camponesa no Tocantins...............................................................................17

5- Processo de antirreforma agrária sob o governo petista no

Tocantins..........................................................................................................19

6- Por uma política em apoio à agricultura familiar e camponesa.........20

Conclusão.........................................................................................................21

Bibliografia.......................................................................................................22

Sobre o autor....................................................................................................23

Page 4: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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Nas margens das rodovias

Nas margens das rodovias,

As veias abertas de uma sociedade desigual.

Barracas de lona daqueles que foram expulsos de suas terras,

Lutando por um pedaço de terra.

Nas margens das rodovias, desertos verdes intermináveis

Soja, cana de açúcar, pastos e mais pastos

Nas margens das rodovias,

Tanta terra sem gente e tanta gente sem terra!

Pedro Ferreira

Page 5: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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Introdução

Nessas ultimas décadas o agronegócio tem se desenvolvido no Tocantins

voluptuosamente, sobretudo com o apoio e financiamento por parte do estado.

A criação de bovinos é ainda a principal atividade desenvolvida no Tocantins

com um rebanho de 8 milhões de cabeça e ocupando uma área de 7.498,50

hectares de pastagem, no entanto essa realidade tem mudado, no ultimo

período houve um avanço de plantação de soja. Tanto que hoje a soja se

tornou o principal produto de exportação do Tocantins, sendo responsável por

80% do que o estado exporta.

A propaganda oficial mostra que o desenvolvimento do agronegócio e a

modernização da agricultura brasileira trouxeram altos índices de produtividade

bem como gerou riqueza para o país. No entanto omite a violência no campo

contra camponeses, quilombolas e os povos indígenas que tem os seus

territórios usurpados e que dignamente lutam pelos seus direitos. O trabalho

escravo e a destruição ambiental, flexibilização das leis trabalhistas e

ambientais, uso abusivo de agrotóxico que contamina o meio ambiente assim

como afeta a saúde da população.

A modernização no campo brasileiro vem acompanhada do aumento das

desigualdades sociais no campo, as riquezas produzidas que são muitas, não

são distribuídas, fica concentrada na mão de poucos.

No Tocantins o apoio do poder público tem sido decisivo no avanço do

agronegócio. Milhares de recursos públicos são destinados a empresas

privadas investirem no desenvolvimento do setor. Doação de áreas públicas,

flexibilização das leis ambientais, incentivos fiscais as empresas transnacionais

que atuam no campo. Tudo isso frente à justificativa de que as vantagens

dadas pelo governo ao setor contribuem para geração de emprego e riquezas

para o povo.

Já não bastasse a secretaria de agricultura e pecuária que historicamente é

gerida pelos ruralistas, acaba também de ser criada pelo governo do estado a

secretaria de desenvolvimento agrário e regularização fundiária que também

será comandada pelos ruralistas.

Há também a delegacia de conflitos agrários e a policia militar agrária, que atua

reprimindo a luta dos camponeses sem terra e assegurando a propriedade

privada outrora usurpada dos indígenas, quilombolas e camponeses.

Dados do ultimo censo agropecuário mostra que o numero de emprego

ofertado pelo setor é mínimo, a agricultura familiar e camponesa gera muito

mais posto de trabalho. Há também o alto indicie de utilização de mão de obra

escravizada por parte do setor. Já a geração de riqueza é incontestável, no

entanto é preciso apontar para quem vai e como são distribuídas as riquezas

geradas, e sob a que custos sociais e ambientais elas são geradas.

Page 6: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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Nesse sentido o estudo a seguir tem o objetivo de mostrar os efeitos sociais e

econômicos do modelo agrícola tocantinense, que nada é mais do que o

modelo hegemônico desenvolvido no campo brasileiro pautado na grande

concentração de terra, na produção de monocultura, utilização de mão de obra

escravizada, uso abusivo de agrotóxico e destruição ambiental entre outros.

Bem como no sentido de ser um instrumento para os movimentos populares e

demais organizações populares que lutam por reforma agrária e por um modelo

agroecológico.

Page 7: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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1- O agronegócio tocantinense

Dados do governo do Tocantins apontam que a cerca de 13.825,070 hectares

de área com potencial agrícola no estado. Mesmo assim o Tocantins já é o

maior produtor de grãos da região norte. Sendo que a soja é o principal grão

produzido com 731,672 toneladas anual, é o dobro da produção da mandioca

que é a segunda colocada no ranking e que produz anualmente 353,534

toneladas. A soja é responsável hoje por cerca de 82% das exportações do

Tocantins. Destaca-se também a criação de bovinos com um rebanho de 8

milhões de cabeça que ocupa uma área de 7.498,50 hectares. Na ultima

década houve um aumento de 26% na produção de carne no estado.

O produto interno bruto tocantinense é pequeno (0,5%), porém vem crescendo

a cada ano, sobretudo devido ao crescimento do setor agropecuário

juntamente com o da construção civil. O estado exporta anualmente 297,7

milhões de dólares. Tendo a soja e a carne bovina como carro chefe da

exportação.

O domínio territorial e econômico do agronegócio tocantinense é também

graças ao domino político do poder legislativo, executivo e também do

judiciário. Pois é através do estado que o agronegócio tem se consolidado e

fortalecido.

Hoje o Tocantins é conhecido no cenário nacional através de políticos como

Katia Abreu e João Ribeiro, ambos senadores da republica, que são grandes

proprietários de terra no estado, e que desempenham nacionalmente papel de

destaque na defesa do agronegócio. Katia Abreu é também a presidente da

principal organização do agronegócio brasileiro a CNA (Confederação Nacional

da Agricultura).

Kátia Abreu e João Ribeiro também têm forte influencia no governo estadual

ocupando cargos e fazendo lobby para favorecer os grandes proprietários de

terra e empresas transnacionais.

No melhor jeito vende-se a secretaria de agricultura recebe comitivas de

empresários de vários países com o objetivo de apresentar aos mesmos os

potenciais agrícolas do estado. Bem como as vantagens e o apoio

incondicional do poder publico as grandes empresas.

Vários incentivos fiscais, concessão de áreas e flexibilização da legislação

ambiental são implementadas pelo governo do Tocantins para atrair mais

investidores para a produção agropecuária no estado. Há até a comenda do

mérito do agronegócio do Tocantins criada pela assembleia legislativa do

estado ofertada as figuras que prestaram relevante papel para o

desenvolvimento do agronegócio no estado.

Page 8: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

8

Um exemplo da política de apoio ao agronegócio é a liberação de licenças

ambientais previa para implantação de grandes projetos de plantação de soja e

eucalipto. Por exemplo, em 2012 o governo do estado concedeu uma licença

previa a Braxcel Celulose que plantará cerca de 180 mil hectares de eucalipto

na cidade de Peixe, sem se preocupar com os impactos ambientais que

atingiram essa região. Também no inicio desse ano o governo concedeu

licença para plantação de uma área inicial de 50 mil hectares para plantação de

eucalipto na região de Brejinho de Nazaré para empresa Itaquari valor

Florestal, a mesma foi concedida graças ao lobby da senadora Kátia Abreu

(PSD).

Segundo levantamento da Seagro - Secretaria Estadual da Agricultura,

Pecuária e Desenvolvimento Agrário, atualmente o Tocantins conta com 83 mil

hectares de florestas, plantadas em 230 fazendas. Até 2016, poderá alcançar

710 mil hectares. A previsão de crescimento de áreas reflorestadas é

animadora e tem atraído à atenção de investidores. Os dados da Seagro

mostram que, de 2009 a 2010, o aumento na área de plantio foi de 20%. No

ano seguinte, esse percentual chegou a 43%. Mas, segundo as estimativas, até

2016 a área plantada será de 543 mil hectares. No Estado existem áreas

plantadas com diversas espécies, mas a maior plantação é de eucalipto.

(http://conexaoto.com.br/2013/02/20/fabrica-de-papel-sera-instalada-na-regiao-

de-brejinho-licenca-para-construcao-sera-assinada-nesta-quinta-feira)

O trecho da reportagem acima reflete bem a política do governo tocantinense,

que em vez de buscar reflorestar as áreas devastadas pela ação do

agronegócio, com o plantio de arvores típicas do bioma cerrado, substitui-as

pela plantação de eucalipto visando o lucro das empresas transnacionais. Pois

plantio de eucalipto não recupera a área local, mas a substitui. Sendo assim

extremamente prejudicial ao nosso bioma natural.

A opção pelo agronegócio por parte do governo tocantinense esta também na

construção de usina hidrelétrica para geração de energia para o setor que

também causa fortes impactos ambientais e expulsas camponeses e

ribeirinhos do leito do rio. Após a construção da usina essas áreas que antes

eram ocupadas pela agricultura familiar e camponesa expulsos pelo estado,

voltam a ser ocupada por grandes empresários que as transformam em área

de lazer. Exemplo disso são as usinas hidrelétricas de Lajeado e do Peixe.

O poder econômico do agronegócio tocantinense é inegável, poder econômico

que reflete no poder político local. Os grandes proprietários de terra influenciam

no poder legislativo, executivo e judiciário. As leis e incentivos aprovados

buscam favorecer a um pequeno grupo, a apenas um setor, o dos grandes

proprietários e empresas transnacionais.

O avanço do agronegócio com dinheiro público e os seus ganhos econômico

tão comemorado por parte do governo esconde uma serie de problemas

sociais e ambientais que a propaganda oficial não divulga.

Page 9: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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2- Avanço do agronegócio e aumento das desigualdades no meio

rural tocantinense

O censo agropecuário de 2006 e retificado em 2009 mostra que mesmo com a

heroica luta do movimento popular de luta por reforma agrária a concentração

de terra aumentou nos últimos anos. Mostrando por tanto um processo de

estagnação e mesmo de retrocesso no processo de reforma agrária.

O mesmo censo agropecuário mostra que a agricultura familiar e camponesa é

mais produtiva e emprega mais do que as grandes propriedades, enquanto o

agronegócio gera 1,7 empregos por hectare a agricultura familiar e camponesa

gera 15. Já dos alimentos produzidos 70% do que chega a mesa do brasileiro é

oriundo da pequena agricultura, pois o agronegócio produz prioritariamente

para exportação. Sendo que a área utilizada pela agricultura familiar e

camponesa produzir é 24% já do agronegócio é de 74%. Além do quanto é

prejudicial para o meio ambiente o uso abusivo de agrotóxico nas grandes

lavouras. O Brasil é hoje o maior consumidor mundial de agrotóxico.

Mesmo com as vantagens tanto econômica, mas, sobretudo social da

agricultura familiar e camponesa, o governo prioritariamente prefere financiar o

agronegócio. Dos créditos destinados para agropecuária apenas 14% vai para

a agricultura familiar e camponesa, já o agronegócio recebe 84%. Por tanto a

opção pelo agronegócio baseado na grande concentração de terra,

monocultura e utilização excessiva de agrotóxico é uma opção política.

No Tocantins essa opção pelo agronegócio fica mais evidente como também

tem aumentado nos últimos anos. Tanto que o censo agropecuário realizado

pelo IBGE aponta que a desigualdade no campo tocantinense aumentou

demasiadamente, cerca de 9,1%.

“...Censo Agropecuário identifica problemas relacionados à concentração de

terras. "Tanto no Nordeste, como, mais recentemente, no Centro-Oeste, a

desigualdade vem acompanhando o processo de modernização produtiva e

inserção ao competitivo mercado mundial de commodities agrícolas", afirma o

relatório. Essa desigualdade é mais elevada em Alagoas, onde o índice de Gini

atinge 0,871 pontos, seguido por Mato Grosso (0,865) e Maranhão (0,864). Os

maiores aumentos, contudo, ocorreram em Tocantins (9,1%), São Paulo (6,1%)

e Mato Grosso do Sul (4,1%).” IBGE.

Os dados acima deixa evidente que apesar da modernização e avanço na

produtividade no campo brasileiro tão festejado pelo agronegócio, não há uma

superação das desigualdades sociais, ao contrario essas tem aumentado

demasiadamente. Quanto mais concentração de terra mais desigualdade,

miséria e violência no campo.

No Tocantins os dados do censo agropecuário também mostra a importância

da agricultura familiar e camponesa tanto econômica como socialmente em

relação ao agronegócio.

Page 10: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

10

“Segundo o censo agropecuário 2006 (IBGE, 2009), a agricultura familiar no

Tocantins possui 42.899 unidades produtivas, correspondendo a 75,8% do total

de estabelecimentos. Guilhoto et al (2007), em sua pesquisa, estima que o PIB

da agricultura familiar do Tocantins representava, respectivamente em 2002,

2003 e 2004, 10,80%, 12,52% e 11,13% do PIB total do Estado. Sendo

responsável por 32,4% do PIB agropecuário em 2002, por 30,6% em 2003,

30,7% em 2004 e 34,5% em 2005, isso em apenas 18,9% da área agricultável

do Estado.” Silas, José de Lima.

O Tocantins tem 13.825,070 hectares de terras agricultáveis, a agricultura familiar e camponesa ocupa apenas 18,9%. Mesmo assim consegui produzir cerca de 35% do PIB agrícola do estado. Isso sem nenhuma política efetiva de apoio por parte do governo estadual e de politicas quase inacessíveis por parte do governo federal.

Seguindo a tendência nacional os dados do Censo agropecuário também aponta que a produtividade da agricultura familiar e camponesa no Tocantins é o dobro do agronegócio.

“Enquanto a agricultura patronal teve média de produtividade, nesses quatro

anos, de R$ 105,38/ha, a agricultura familiar no Estado obteve média de

produtividade de R$ 213,07/ha, mais que o dobro da produtividade da

agricultura patronal, acompanhando a tendência nacional de ser mais eficiente

que a agricultura não familiar.” Silas, José de Lima.

Também em relação à geração de trabalho a agricultura familiar e camponesa

é mais eficiente no Tocantins, à mesma é responsável por 74% da ocupação

no campo. Mesmo com todos esses dados favoráveis 85,54% do financiamento

público vão para o agronegócio, para agricultura patronal e apenas 14,46 vai

para agricultura familiar e camponesa.

Ora se a agricultura familiar e camponesa é mais produtiva e sua produção é

voltada para abastecer o mercado interno com a preocupação de levar

alimentos saudáveis e barato a mesa do brasileiro. Se para produzir utiliza uma

área menor e que não precisa de uso abusivo de agrotóxico por tanto menos

prejudicial ao meio ambiente. Emprega-se mais pessoal e não utiliza mão de

obra escravizada, pois essa esta intimamente ligada aos grandes latifúndios.

Por que então o estado brasileiro, os governos de plantão optam por um

modelo agrícola pautado na exploração e desigualdade social?

Esta claro que é por uma opção política e de classes, pois o agronegócio

favorece aos grandes proprietários de terra, latifundiários, e empresas

transnacionais que atuam no campo e que geralmente pertence ou financia a

campanha de muitos políticos. No entanto esse setor é uma minoria, a maioria

da população que vive ou foi expulsa do campo tem os seus direitos ora

negados ou usurpados. População essa quem vem sendo explorada e expulsa

de suas terras dia após dias, com a conivência e omissão do estado.

Page 11: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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3- Trabalho escravo, destruição ambiental, uso abusivo de agrotóxico

e violência no meio rural tocantinense.

É inerente ao modelo agrícola hegemônico no Brasil o uso da mão de obra

análoga à escravidão, o desmatamento e outras agressões ao meio ambiente,

o uso abusivo de agrotóxico contaminando o solo, os alimentos produzidos

bem como a saúde do trabalhador e do consumidor, assim como a violência

contra indígenas, quilombolas e camponeses que lutam pela defesa do seu

território ou pela retomada dos mesmos que foram usurpados outrora.

No Tocantins não é diferente, o modelo agrícola hegemônico, mais conhecido

como agronegócio, além de concentrar terra e as riquezas produzidas, de ter

uma produção baseada na monocultura e voltada para exportação. Podemos

observar o aumento dos casos de trabalho escravo, de agressões ao meio

ambiente, do uso de agrotóxico e da violência no campo.

3.1 - Trabalho Escravo

Em 2012 o Tocantins ficou com o 2º no ranking nacional do trabalho escravo,

ficando atrás apenas do estado do Pará. No entanto como os dados mostram

não é apenas de agora o alto índice de casos de trabalho escravo. Os números

oficiais são alarmantes, e falam por se só. Ressaltando ainda a precariedade

da fiscalização, a falta de estrutura dos órgãos responsável por combater o

trabalho escravo, a impunidade a quem utiliza dessa mão de obra, e o mais

grave, o não reconhecimento por parte dos ruralistas de que existe trabalho

escravo no Brasil.

Os recentes debates no congresso nacional mostra bem a posição do setor

ruralista, que se nega a definir a situação degradante de trabalho imposta a

grande parte dos trabalhadores, sobretudo no meio rural que seja definido

como trabalho escravo.

“Segundo informações da Coetrae, em 2012, o Tocantins voltou a ocupar o 2º

lugar no ranking nacional do trabalho escravo pelo número de casos relatados

e o 3º lugar pelo número de trabalhadores libertados. Vinte e um empregadores

tocantinenses estiveram na Lista Suja publicada em 31 de julho de 2012, pelo

Governo Federal. De 2003 a 2012, 63 municípios do Estado tiveram registro de

trabalho escravo. Nos últimos cinco anos, 90 casos foram denunciados na

pecuária, no eucalipto e no carvão; 64 foram fiscalizados, que resultou no

resgate de 943 pessoas.” Conexão Tocantins.

Trabalho escravo no Tocantins de 2003 a 2012 (Dados do COETRAE)

2º Lugar em 2012 no ranking nacional do trabalho escravo pelo número de casos relatados

3º Lugar pelo numero de trabalhadores libertados

21 Empregadores tocantinenses estão na lista suja publicada em julho de 2012

63 é o numero de municípios tocantinenses onde houve denuncias de trabalho

Page 12: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

12

escravo

90 Casos denunciados nos últimos cinco anos na pecuária, eucalipto e no carvão.

64 casos apenas foram fiscalizados

943 pessoas foram libertadas

3.2 – Destruição ambiental

Os dados abaixo mostra o aumento do desmatamento na região de floresta

amazônica no Tocantins, em termos relativos houve aumento de 124%.

Geralmente as áreas desmatadas são para pastagem ou para extração de

madeira ilegal. “Em termos relativos, houve redução de 44% no Acre e 52% em

Roraima. Por outro lado, houve aumento de 155% no Pará, 145% no

Amazonas, 124% no Tocantins, 69% no Mato Grosso e 21% em Rondônia.”

Amazônia Legal.

Além da floresta amazônica o bioma cerrado que ocupa maior parte do nosso

estado também vem sendo devastado com as grandes monoculturas de soja,

eucalipto e cana de açúcar. O reflorestamento tão divulgado pelos órgãos

ambientais através da plantação de eucalipto não recompõem o bioma natural,

por tanto é uma falsa propaganda e não contribui para proteção ou

recuperação das áreas degradadas, ao contrario, a plantação de eucalipto tem

aumentando a destruição do cerrado tocantinense e da floresta amazônica.

As alterações feitas recentemente no código florestal que teve na senadora

Kátia Abreu (PSD/TO) umas das grandes defensoras e articuladoras a nível

nacional pela sua aprovação contribuem para o processo continuo de

agressões ao meio ambiente, pois tanto flexibiliza as leis ambientais que já são

um tanto quanto brandas no nosso país bem como anistia e perdoa os crimes

ambientais cometidos anteriormente.

Assim o congresso nacional e a bancada tocantinense nele presente deram o

aval para que o agronegócio e demais agressores do meio ambiente possam

continuar destruindo a nossa rica fauna e flora em busca de lucro e mais lucro.

Pois terão todo o apoio e legitimidade por parte do omisso estado brasileiro.

Estudo recente, divulgado em fevereiro de 2013 pela ONG Imazon, mostra que

o desmatamento na Amazônia legal, região que o Tocantins faz parte,

aumentou em torno de 91% em relação ao período de 2011. Sendo que o

Tocantins com 7% ficou em terceiro lugar.

Os dados do crescimento do desmatamento acima comprava o que os

ambientalistas e os movimentos de defesa do meio ambiente já previam que

com a reforma do código florestal e a flexibilização das leis ambientais as

agressões ao meio ambiente aumentariam.

A construção de usinas hidrelétrica de grande porte sobre o rio Tocantins

também contribui para destruição da flora e fauna, como também expulsão dos

Page 13: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

13

camponeses e povos ribeirinhos da margem do rio. A maior parte da energia

hidroelétrica produzida no estado é vendida para fora. Os tocantinenses

perdem o seu bioma natural e ainda por cima tem que pagar uma das maiores

taxas de energia do mundo.

3.3 – Aumento de agrotóxico nas lavouras tocantinenses

O Brasil é o segundo maior mercado mundial de agrotóxico, ficando atrás

apenas do EUA. Dados aponta que o mercado de defensivos agrícolas cresceu

14,4% em 2012.

“Mais de 80% das vendas de defensivos no Brasil são destinadas a cinco

culturas - soja, cana, milho, algodão e café. A soja é o principal mercado para

os fabricantes de defensivos. No ano passado, a receita gerada pela cultura

cresceu 23,6%, para US$ 4,56 bilhões ou 47% das vendas totais. Só a venda

de produtos para combater a ferrugem da soja totalizou US$ 1,5 bilhão.”

Sindag/Andaf

Infelizmente não há pesquisa que mostre a quantidade de agrotóxico utilizado

nas lavouras tocantinense, mas olhando para o cenário nacional e das culturas

desenvolvidas no estado, sobretudo o aumento da produção de soja e cana de

açúcar, não é leviano afirmar o aumento do uso de agrotóxico no estado.

O documentário do cineasta Silvio Tendler (O veneno está na mesa) mostra o

quanto os alimentos produzidos no Brasil, sobretudo pelo agronegócio esta

contaminado por agrotóxico. E o quanto isso e nocivo ao meio ambiente, aos

trabalhadores rurais e as famílias que consomem estes produtos

contaminados.

Em pronunciamento no congresso nacional a senadora Kátia Abreu (PSD/TO)

declarou que a única forma de produzir alimentos em abundância e barato é

usando agrotóxico nas lavouras. O discurso era proferido contra os diretores da

Anvisa que se colocavam contra a liberação de alguns defensivos agrícolas no

Brasil.

No entanto sabemos que é falso. Em primeiro lugar não leva em consideração

o mau que os alimentos contaminados por agrotóxico trás aos consumidores,

se economiza comprando alimentos mais barato, depois tem que pagar mais

com remédios ou mesmo em alguns casos com a vida. Mesmo o discurso de

produzir alimento mais barato é falso, pois sabemos que a produção agrícola

dos grandes proprietários de terra (a quem a senadora defende) é voltada para

exportação e não para o mercado interno.

Os interesses dos políticos que defendem o mercado de agrotóxico no Brasil, a

exemplo de Kátia Abreu, não é defender os interesses da população em ter

Page 14: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

14

acesso a alimentos mais baratos, mas sim em defesa do lucro das grandes

multinacionais que atuam no setor a exemplo da Monsanto.

No Tocantins a vigilância sanitária divulgou o aumento do recolhimento de

embalagens de agrotóxico em cerca de 23%, em 2008. No entanto a maioria

dos produtores não devolve as embalagens dos produtos utilizados nas

lavouras. Além do comercio ilegal de agrotóxico que não são controlados pelos

órgãos de vigilância sanitária.

Assim, mesmo sem dados concretos do uso de agrotóxico no estado, por falta

de fiscalização e controle dos órgãos governamentais responsáveis por esse

trabalho, ou de pesquisas na área, é fato que há um uso abusivo de agrotóxico

nas lavouras tocantinenses contaminando os alimentos que chegam a nossa

mesa.

3.4 – Violência e conflitos no campo

A luta camponesa, quilombola e indígena pela conservação dos seus territórios

ou pela retomada dos mesmos que outrora foram usurpados pelo agronegócio

com o apoio e omissão do estado brasileiro mostra a vitalidade da luta por

reforma agrária no Brasil. Com o aumento da luta cresce os conflitos e a

violência no campo, sobretudo por parte da burguesia agrária contra o

movimento popular de luta pela terra.

Os dados mais recentes sobre conflitos no campo mostra que em 2012 houve

1.067 conflitos por terra registrada no Brasil, a maioria desses casos de

violência aconteceu na Amazônia. O levantamento feito anualmente pela

Comissão Pastoral da Terra também aponta que “Em todo o país, os

assassinatos motivados por conflitos por terra aumentaram 24% entre 2011 e

2012, passando de 29 para 36. Rondônia, estado com maior número de

ocorrências, concentrou nove dos homicídios, seguida pelo Pará, com seis. As

tentativas de assassinatos também aumentaram 51% no período analisado (de

38 para 77), assim como as prisões de trabalhadores 11,2% (de 89 para 99)”.

A CPT também aponta que “os grupos sociais envolvidos nos conflitos, 15%

eram indígenas, 12%, quilombolas, 9%, membros de outras comunidades

tradicionais, e 24%, posseiros e ocupantes de áreas sem o título de

propriedade. “Conclui-se que 60% dos que estão envolvidos em conflitos fazem

parte de grupos humanos que não se enquadram nos parâmetros exigidos pelo

capitalismo e sobre os quais a pressão é maior.”

O Tocantins faz parte por tanto da região onde concentra hoje 91% dos

conflitos por terra no Brasil, isto é a região amazônica, o extremo norte do país.

Os dados sobre os conflitos no campo são crescente, quanto mais o estado

brasileiro se omite dessa questão, a violência aumenta.

Por tanto a violência no campo é reflexo da omissão do estado em enfrentar o

problema da questão agrária no Brasil. De resolver a divida social que o estado

Page 15: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

15

brasileiro tem com seu povo, bem como tirar a reforma agrária tão sonhada

pelos povos do campo do papel.

Quanto mais omissão do estado em relação às demandas do movimento

popular de luta pela terra, vemos mais conflitos e violência no campo,

sobretudo porque essa omissão tem significado o avanço do agronegócio, pois

as demandas desse setor são atendidas sem nenhuma contestação pelo

estado brasileiro.

O Tocantins é um dos poucos estados do Brasil onde há policia militar agrária e

uma delegacia de combate a conflitos agrários. No entanto isso não significa a

diminuição dos conflitos agrários, pois a questão que gera os conflitos não é

resolvida. A força policial no estado atua reprimindo a luta dos camponeses

conquistada ilegalmente.

Com a omissão do estado e mesmo o seu total apoio e auxilio as agressões

feitas pela burguesia agrária contra camponeses, quilombolas e os povos

indígenas é fato que os conflitos tenderam a crescer como já vem apontando

anualmente os dados levantados pela Comissão Pastoral da Terra.

Page 16: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

16

4- A luta camponesa por reforma agrária e um modelo agroecológico

no Tocantins

“Ou o povo com o seu poder popular impõe uma reforma agrária ao

governo ou o governo não fará uma reforma agrária.”

Plínio de Arruda Sampaio

O avanço do agronegócio no Tocantins trás por outro lado à resistência dos

camponeses sem terra, sobretudo, contra o modelo agrícola hegemônico, isto é

contra a concentração de terras, a monocultura, o uso abusivo de agrotóxicos

nas lavouras, a utilização de mão de obra escrava e as agressões ao meio

ambiente.

Por tanto o hegemonismo do agronegócio no Tocantins não prevalece sem

contestação, à luta dos camponeses sem terra e a resistência dos quilombolas

e indígenas mostra as contradições de um modelo agrícola nocivo às

populações campesinas e mesmo urbana, bem como ao meio ambiente.

Assim os movimentos campesinos tem mostrado que é possível um modelo

agrícola que acabe com as desigualdades existentes no campo.

Desenvolvendo uma prática agroecológica de respeito ao meio ambiente e

produzindo alimentos saudáveis para população da cidade e do campo.

Sem o financiamento do governo, das transnacionais e dos bancos a

agricultura familiar e camponesa é responsável por 35% do PIB agrícola

tocantinense. Ressaltando ainda a inexistência de uma politica seria de

assistência técnica, extensão rural, bem como a falta de estrutura nos

assentamentos de reforma agrária e outras pequenas propriedades rurais

como estradas, pontes e transporte para escoar a produção.

A produção da agricultura familiar e camponesa é diversificada e voltada para

atender as necessidades locais e não a demanda do mercado externo. É

responsável também por empregar 74% da mão de obra no campo entre tantas

outras vantagens já apontadas neste artigo.

Mesmo sem politicas públicas por parte do governo tocantinense em apoio à

agricultura familiar e camponesa, a mesma resiste e tem demostrado sua força

e importância tanto econômica como social para o desenvolvimento do

Tocantins.

A luta do movimento campesino dos sem terra já conseguiu assentar 41.978

famílias no Tocantins, segundo os dados do Instituto Nacional de Colonização

e Reforma agrária (INCRA) em propriedades que antes estavam nas mãos de

alguns latifundiários e não produziam nada.

Essas famílias estão assentadas hoje em um pouco mais de 300 projetos de

assentamentos espalhado por todo o estado. No entanto essa conquista não

seria possível sem a organização do campesinato sem terra, a resistência em

Page 17: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

17

acampamento nas margens das rodovias e as lutas travadas contra a

burguesia agrária e o governo estadual e federal a serviço dessa burguesia.

Por tanto mesmo com todas as dificuldades a luta e resistência do campesinato

sem terra, por terra, território e dignidade tem conseguido minimamente fazer

frente ao agronegócio. Impondo pequenas, mas importantes derrotas contra os

latifundiários. Mas, sobretudo, tem conseguido emancipar centenas de famílias

que antes se quer tinham condição para sobreviver, e hoje tem um pedacinho

de chão para minimamente manter a sua subsistência e produzir a maioria dos

alimentos que chegam à mesa do tocantinense.

Centenas de famílias continuam resistindo nas margens das rodovias que

cortam o estado em baixo de barracas de lona, ocupando latifúndios, fazendo

marchas reivindicando e lutando pelos seus direitos, mesmo em uma

conjuntura extremamente difícil para luta agrária no Brasil de forma geral.

Sob o governo petista de Lula e Dilma os resultados não são animadores para

aqueles que resistem na luta por reforma agrária. 2012, por exemplo, foi o pior

ano para a política de assentamento de novas famílias no Tocantins dês do

governo FHC segundo os dados do próprio INCRA.

O PT no governo federal não assumiu o desenvolvimento de uma política de

reforma agrária que faça frente ao agronegócio, ao contrario o governo petista

tem cumprido um papel fundamental para o desenvolvimento e fortalecimento

do agronegócio. Com isso a luta camponesa dos sem terra tem sido ainda mais

difícil, sobretudo por que existe um amplo setor do movimento popular que se

ilude com as políticas compensatórias do governo petista e que mantem boa

parte da base de movimentos como MST, CONTAG, FETRAF entre outros

paralisados. No Tocantins, onde o governo estadual comandado pelo

PSDB/PSD é fundamentalmente um governo dos ruralistas e para os ruralistas

as dificuldades da luta camponesa dos sem terra e da agricultura familiar torna-

se uma missão cruel.

4.1 – A política ruralista de cooptação da agricultura familiar e camponesa

no Tocantins

“E a luta por reforma agrária a gente até para se tiver em fim, coragem a

burguesia agrária de ensinar seus filhos a comer capim.”

Canto Popular

Com a ausência de uma política para agricultura familiar e camponesa por

parte do estado, falta de infraestrutura nos assentamentos conquistados com

muita luta como estradas para escoar a produção, assistência técnica, escolas

no/do campo, atendimento de saúde entre outras necessidades básicas da

população campesina.

Page 18: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

18

O trabalho que deveria ser feito pelo estado tem sido desenvolvido por

organizações ruralistas, pois depois das áreas conquistadas pelos camponeses

sem terra, o agronegócio entra nessas áreas para cooptar essas áreas para a

cadeia e logica do agronegócio.

Utilizando a influencia nos governos federal e estadual os ruralistas utilizam da

estrutura do estado e de organizações como CNA e SENAR para entrar nas

áreas conquistadas pelos movimentos campesinos de luta pela terra fazendo

com que essas áreas acabam aderindo a logica da grande agricultura, sem

êxito, pois acaba tendo um papel apenas complementar.

No Tocantins a Senadora e presidente da CNA (Confederação Nacional da

Agricultura) têm feito varias atividades em assentamentos, inteligentemente

com o apoio do governo do PT a nível nacional e do PSDB no estado, o

agronegócio tem percebido a importância de trazer para sua logica de

produção os assentamentos conquistados enfrentando os próprios ruralistas.

Assim a agricultura familiar e camponesa em vez de se apresentar como um

modelo agrícola diferente que pode fazer frente ao agronegócio, acaba

desempenhando um papel complementar a grande agricultura e por tanto

submissa a essa logica.

Nas áreas onde as organizações camponesas de luta pela terra acabam

perdendo a coordenação, é recorrente a venda ou arrendamento das áreas,

muitas vezes para o plantio de culturas que nós tanto combatemos como a

soja, cana de açúcar e eucalipto. A assistência técnica e desenvolvida pelo

SEBRAE e pelo SENAR com a logica da produção do agronegócio.

Kátia Abreu também tem sido a porta voz do governo federal do programa

minha casa, minha vida rural. Através desse programa a senadora da republica

e presidente da CNA tem entrado e feito palestra nas áreas de assentamentos

e na comunidade rural em geral anunciando as conquistas dos ruralistas junto

ao governo federal. No entanto omite que as conquistas feitas pelos ruralistas

favorece aos grandes proprietários de terra e as transnacionais que atuam no

campo em detrimento a agricultura familiar e camponesa.

Por tanto é fundamental fortalecer as organizações camponesas de luta que

atuam no campo para que essas organizações possam enfrentar e se

contrapor ao agronegócio, e não se somar a essa logica de produção. Assim é

fundamental combater também a movimentos de oportunistas que atuam no

estado loteando e vendendo áreas, manchando uma historia de muita luta,

sacrifício e resistência daqueles que dignamente seguem na marcha por

reforma agrária e justiça social.

Page 19: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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5- Processo de antirreforma agrária sob o governo petista no

Tocantins

“Só uma reforma agrária radical poderá dar a terra ao camponês.”

Ernesto Che Guevara

A tão sonhada e almejada reforma agrária nunca saiu do papel no Brasil, o

máximo que o movimento campesino dos sem terra conseguiu foi uma política

de assentamento por parte dos governos de plantão. Política essa que não

enfrenta o latifúndio e nem se contrapõem a política agrícola hegemônica no

país. Sob o governo petista vemos em curso até mesmo um retrocesso nessa

política de assentamento.

Assentamento de trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra (SR-26/TO)

dados oficiais

Até 1994 FHC FHC FHC FHC Total

1.763

(1995) 1.552

(1997) 754

(1999) 2.598

(2001) 3.322

20.795

(1996) 2.071

(1998) 5.829

(2000) 2.370

(2002) 2.299

Lula Lula Lula Lula Total

(2003) 1.573

(2005) 3.112

(2007) 2.242

(2009) 2.018

17.199

(2004) 1.786

(2006) 2.505

(2008) 2.596

(2010) 1.367

Dilma Total

(2011) 1.166

(2012) 1.055

2.221

Até o ano de 2012 são 41.978 famílias assentadas no Tocantins. Mais famílias

foram assentadas nos 08 anos de FHC do PSDB do que os 08 anos do

governo Lula do PT. Sob o governo Dilma do PT o ano de 2012 só foi melhor

que o ano de 1997, ano que FHC assentou apenas 754 famílias no Tocantins.

Sendo por tanto o pior dos últimos 14 anos.

Page 20: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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6- Por uma política estadual de apoio a agricultura familiar e

camponesa no Tocantins

Abaixo apresentamos algumas bandeiras e reivindicações dos movimentos

campesinos de luta pela terra e demais organizações populares que atuam na

defesa de uma politica de reforma agrária de fato e de apoio à agricultura

familiar e camponesa, bandeiras essas que são fundamentais para

fortalecermos a luta contra o modelo agrícola hegemônico no estado, o

agronegócio.

1- Criação de um plano estadual de reforma agrária;

2- Retomada das terras públicas doadas para políticos, empresas privadas

entre outras autoridades públicas;

3- Destinação das terras públicas do estado para assentamento de famílias

sem terra;

4- Desapropriação de todas as terras que utilizam trabalho escravo;

5- Elaboração e execução de uma politica de assistência técnica e

extensão rural exclusiva para agricultura familiar e camponesa;

6- Educação no/do campo;

7- Combate à violência no campo contra camponeses, indígenas e

quilombolas;

8- Pelo fim de construção de usinas hidrelétricas e a expulsão dos povos

ribeirinhos da margem dos rios do Tocantins;

9- Combate à destruição do bioma cerrado e da floresta amazônica;

10- Não ao reflorestamento com arvores que não pertencem aos biomas

naturais como, por exemplo, o Eucalipto;

11- Conservação dos territórios indígenas e Quilombolas;

12- Elaboração de uma política estadual de apoio à aquicultura;

13- Pelo fim da criminalização dos movimentos populares e suas lideranças;

14- Produção diversifica de alimentos;

15- Proibição do uso abusivo de agrotóxico nas lavouras;

16- Pela participação dos movimentos campesinos na elaboração e

execução de uma politica de apoio a agricultura familiar e camponesa.

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Conclusão

“A nossa luta é pra vencer, pra vencer, vamos plantar outro país, outro

país, o nosso lema é ocupar, produzir. Organizar para ser feliz, ser feliz.”

Canto Popular

O avanço do agronegócio com dinheiro público e os seus ganhos econômico

tão comemorado por parte do governo esconde uma serie de problemas

sociais e ambientais que a propaganda oficial não divulga.

O censo agropecuário de 2006 e retificado em 2009 mostra que mesmo com a

heroica luta do movimento popular de luta por reforma agrária a concentração

de terra aumentou nos últimos anos. Mostrando por tanto um processo de

estagnação e mesmo de retrocesso no processo de reforma agrária.

É inerente ao modelo agrícola hegemônico no Brasil o uso da mão de obra

análoga à escravidão, o desmatamento e outras agressões ao meio ambiente,

o uso abusivo de agrotóxico contaminando o solo, os alimentos produzidos

bem como a saúde do trabalhador e do consumidor, assim como a violência

contra indígenas, quilombolas e camponeses que lutam pela defesa do seu

território ou pela retomada dos mesmos que foram usurpados outrora.

O avanço do agronegócio no Tocantins trás por outro lado à resistência dos

camponeses sem terra, sobretudo, contra o modelo agrícola hegemônico, isto é

contra a concentração de terras, a monocultura, o uso abusivo de agrotóxicos

nas lavouras, a utilização de mão de obra escrava e as agressões ao meio

ambiente.

Por tanto é fundamental fortalecer as organizações camponesas de luta que

atuam no campo para que essas organizações possam enfrentar e se

contrapor ao agronegócio, e não se somar a essa logica de produção. Assim é

fundamental combater também a movimentos de oportunistas que atuam no

estado loteando e vendendo áreas, manchando uma historia de muita luta,

sacrifício e resistência daqueles que dignamente seguem na marcha por

reforma agrária e justiça social.

A tão sonhada e almejada reforma agrária nunca saiu do papel no Brasil, o

máximo que o movimento campesino dos sem terra conseguiu foi uma política

de assentamento por parte dos governos de plantão.

Apesar da hegemonia dos grandes proprietários de terra no país que com o

apoio e a omissão do estado vem a cada dia se fortalecendo, mesmo com a

cooptação de setores do movimento social, da intelectualidade e partidos

políticos que antes defendiam a luta por reforma agraria. Essa bandeira mostra

se atual e necessária. E como mostra os dados de conflitos no campo, a

resistência camponesa, quilombola e indígena segue em marcha por reforma

agrária e soberania alimentar.

Page 22: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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Bibliografia:

http://www.brasilescola.com/brasil/a-economia-tocantins.htm

Agricultura - Governo do Estado do Tocantins -

to.gov.br/empresario/agricultura/448

Tocantins - SIC - Secretaria da Indústria e Comércio -

sic.to.gov.br/conteudo.php?id=3

AGRICULTURA FAMILIAR NO TOCANTINS: UM ESTUDO ... – IFTO-

propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/.../2920

Comissão Pastoral da Terra - http://www.cptnacional.org.br/

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - www.incra.gov.org.br

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – www.ibge.gov.org

Page 23: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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Nota sobre o autor

Pedro Ferreira Nunes – Foi

militante e da direção do

Movimento Popular Terra Livre,

atuando junto ao Comitê de

Educação no Campo, Fórum

Goiano de EJA e do Fórum de

Reforma Agrária e Justiça no

Campo de Goiás, também

contribuiu no Coletivo de

Comunicação e Educação, e

organização do Terra Livre. Atuou

como educador popular pela

Rede de Educação Cidadã de Goiás, fazendo formação, sobretudo com os

movimentos do campo, além de fazer parte da direção executiva e da

coordenação da Rede de Educação Cidadã no Centro Oeste. Atualmente milita

no Bloco de Resistencia Socialista, sendo responsável pela comunicação do

BRS. Milita na LSR – CIT, tendência interna do Partido Socialismo e Liberdade

- PSOL. E no PSOL-TO. De volta a sua terra natal (o estado do Tocantins) tem

se concentrado no processo de elaboração de textos e artigos políticos bem

como na produção literária uma paixão desde sua infância, como também

presta assessoria para os movimentos populares do campo e da cidade. O

autor também é formado em Serviço Social pela Universidade Norte do Paraná.

Page 24: Estudo Sobre os Efeitos Sociais e Econômicos do Agronegócio no Tocantins

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Estudo sobre o agronegócio tocantinense e

seus efeitos econômicos e sociais

A propaganda oficial mostra que o desenvolvimento do agronegócio e a

modernização da agricultura brasileira trouxeram altos índices de produtividade

bem como gerou riqueza para o país. No entanto omite a violência no campo

contra camponeses, quilombolas e os povos indígenas que tem os seus

territórios usurpados e que dignamente lutam pelos seus direitos. O trabalho

escravo e a destruição ambiental, flexibilização das leis trabalhistas e

ambientais, uso abusivo de agrotóxico que contamina o meio ambiente assim

como afeta a saúde da população.

A modernização no campo brasileiro vem acompanhada do aumento das

desigualdades sociais no campo, as riquezas produzidas que são muitas, não

são distribuídas, fica concentrada na mão de poucos.

No Tocantins o apoio do poder público tem sido decisivo no avanço do

agronegócio. Milhares de recursos públicos são destinados a empresas

privadas investirem no desenvolvimento do setor. Doação de áreas públicas,

flexibilização das leis ambientais, incentivos fiscais as empresas transnacionais

que atuam no campo. Tudo isso frente à justificativa de que as vantagens

dadas pelo governo ao setor contribuem para geração de emprego e riquezas

para o povo...

Nesse sentido o estudo a seguir tem o objetivo de mostrar os efeitos sociais e

econômicos do modelo agrícola tocantinense, que nada é mais do que o

modelo hegemônico desenvolvido no campo brasileiro pautado na grande

concentração de terra, na produção de monocultura, utilização de mão de obra

escravizada, uso abusivo de agrotóxico e destruição ambiental entre outros.

Bem como no sentido de ser um instrumento para os movimentos populares e

demais organizações populares que lutam por reforma agrária e por um modelo

agroecológico.

Pedro Ferreira Nunes