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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS – DEPARTAMENTO DE QUÍMICA THIAGO PINOTTI SEGATO ESTUDO E OTIMIZAÇÃO DA FOTOCATÁLISE COM TiO 2 (P25) APLICADO E SUPORTADO EM SUPERFÍCIE DE FILME DE PETRÓLEO SOB LUZ SOLAR. LONDRINA 2004

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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS – DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

THIAGO PINOTTI SEGATO

ESTUDO E OTIMIZAÇÃO DA FOTOCATÁLISE COM TiO2 (P25) APLICADO E SUPORTADO EM

SUPERFÍCIE DE FILME DE PETRÓLEO SOB LUZ SOLAR.

LONDRINA

2004

THIAGO PINOTTI SEGATO

ESTUDO E OTIMIZAÇÃO DA FOTOCATÁLISE COM TiO2 (P25) APLICADO E SUPORTADO EM

SUPERFÍCIE DE FILME DE PETRÓLEO SOB LUZ SOLAR.

Relatório de conclusão do Estágio Supervisionado

em Química A apresentado por Thiago Pinotti Segato ao

Departamento de Química da Universidade Estadual de

Londrina, como parte dos requisitos para a obtenção do

grau de Bacharel em Química.

Orientador(a): Profa. Dra. Carmen Luisa Barbosa Guedes

LONDRINA

2004

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Carmen Luisa Barbosa Guedes

Prof. Dr. Eduardo Di Mauro

Prof. Msc. Olívio Fernandes Galão

Londrina, 30 de janeiro de 2004

A Deus, a minha família, aos amigos, e a

todos que sempre acreditaram em mim.

AGRADECIMENTOS

A Profa. Dra. Carmen, por ter me ajudado muito durante todas as etapas deste trabalho

A minha família, pela motivação

Aos amigos, pela força

Aos professores e colegas de Química, por me ajudar a trilhar uma etapa importante de minha

vida

RESUMO

Neste trabalho foi desenvolvido método para aplicação de TiO2 (P25) na forma de pó, sendo borrifado na superfície do filme de petróleo, o qual atua como suporte e substrato a ser fotodegradado. Filmes do óleo bruto, com e sem catalisador, foram expostos à luz solar e monitorados por espectroscopia de fluorescência. Alterações no perfil da fluorescência do óleo indicaram a fotodegradação da fração aromática e asfaltênica de petróleo. De forma diferenciada, o filme de petróleo irradiado na presença de TiO2 apresentou intensa redução de fluorescência na faixa de 550 a 650 nm, correspondente a asfaltenos. A adição de surfactante (dodecil sulfato de sódio) não otimizou o processo fotocatalítico de degradação do óleo bruto nas condições experimentais propostas neste trabalho. Os resultados indicaram que o surfactante inibe a degradação fotocatalítica de petróleo. Palavras chave: surfactante, asfaltenos, aromáticos, fluorescência, fotodegradação.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Ilustração da estrutura molecular representativa para dois diferentes asfaltenos12 Figura 2 – Principais tipos de reações que ocorrem com os HPAs ..................................... 18 Figura 3 – Reação de foto-oxidação ao antraceno em solução............................................ 19 Figura 4 – Produtos da fotólise ou termólise do endoperóxido em solução........................ 20 Figura 5 – Transição eletrônica no semicondutor ............................................................... 21 Figura 6 – Estrutura de surfactantes e micelas .................................................................... 26 Figura 7 – Materiais utilizados na aplicação de TiO2.......................................................... 30 Figura 8 – Exposição das amostras ao Sol .......................................................................... 31 Figura 9 – Cromatograma do óleo bruto ............................................................................. 37 Figura 10 – Fluorescência de filme de petróleo irradiado ao Sol........................................ 40 Figura 11 – Fluorescência de petróleo/TiO2 irradiado ao Sol ............................................. 41 Figura 12 – Intensidade de fluorescência de HPAs e asfaltenos de petróleo durante

processo fotocatalítico...................................................................................... 42 Figura 13 – Fluorescência de petróleo não irradiado e lavado............................................ 43 Figura 14 – Fluorescência do petróleo irradiado lavado ..................................................... 44 Figura 15 – Mecanismo de fotodimerização de HPAs........................................................ 44 Figura 16 – Fluorescência de petróleo/TiO2 irradiado e lavado.......................................... 45 Figura 17 – Reação de foto-oxidação do antraceno ............................................................ 46 Figura 18 – Fluorescência na água de lavagem do petróleo não irradiado.......................... 47 Figura 19 – Fluorescência na água de lavagem do petróleo irradiado ................................ 48 Figura 20 – Fluorescência na água de lavagem do petróleo/TiO2 irradiado ....................... 49 Figura 21 – Efeito da adição de TiO2/surfactante na fluorescência de petróleo.................. 50 Figura 22 – Área integrada dos espectros de fluorescência do petróleo ............................. 51

LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Principais componentes do óleo bruto sob o aspecto ambiental........................ 11 Tabela 2 – HPAs classificados como principais poluentes pela

“U.S. Environmental Protection Agency”(EPA)............................................... 14 Tabela 3 – Porcentagem relativa da área integrada dos espectros de fluorescência............ 39

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9 1.1 Composição do petróleo .................................................................................................. 9 1.2 Intemperismo sofrido pelo petróleo............................................................................... 13 1.3 Propriedades físicas do petróleo .................................................................................... 16 1.4 Mecanismo de foto-oxigenação de HPAs ..................................................................... 17 1.5 Degradação fotocatalítica de poluentes ......................................................................... 20 1.5.1 Mecanismo geral da fotocatálise com semicondutor.................................................. 22 1.5.2 Mecanismos envolvendo lacuna (h+) e •OH na fotocatálise com semicondutor ........ 24 1.6 Utilização de surfactantes.............................................................................................. 26 1.7 Objetivo ......................................................................................................................... 27 2 PARTE EXPERIMENTAL ........................................................................................... 28 2.1 Reagentes e solventes .................................................................................................... 28 2.2 Materiais e equipamentos .............................................................................................. 28 2.3 Petróleo/TiO2 sob luz solar............................................................................................ 29 2.3.1 Preparo das amostras .................................................................................................. 29 2.3.2 Exposição das amostras .............................................................................................. 30 2.3.3 Análise de petróleo ..................................................................................................... 31 2.3.3a Análise por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (CG-EM) .. 31 2.3.3b Análise por espectroscopia de fluorescência ............................................................ 32 2.4 Lavagem do óleo após exposição .................................................................................. 32 2.4.1 Análise da fase óleo.................................................................................................... 33 2.4.2 Análise da fase aquosa................................................................................................ 33 2.5 Petróleo/TiO2/surfactante sob luz solar ......................................................................... 34 2.5.1 Preparo das amostras .................................................................................................. 34 2.5.2 Exposição das amostras .............................................................................................. 34 2.5.3 Análise de petróleo ..................................................................................................... 35 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 36 3.1 Considerações gerais ..................................................................................................... 36 3.2 Análise por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (CG-EM)....... 36 3.3 Fluorescência do óleo sob intemperismo....................................................................... 38 3.3 Fluorescência de petróleo/TiO2 sob intemperismo........................................................ 40 3.4 Fluorescência de petróleo após exposição e lavagem ................................................... 42 3.4.1 Análise da fase óleo.................................................................................................... 43 3.4.2 Análise da água de lavagem do petróleo .................................................................... 46 3.5 Fluorescência de petróleo/TiO2 sob luz solar e efeito da adição de surfactante........... 49 4 CONCLUSÃO................................................................................................................. 52 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 53

9

1 INTRODUÇÃO

O meio ambiente tem sido vítima freqüente da ação de poluentes. Este

quadro tem estimulado vários trabalhos científicos na tentativa de monitorar a autodefesa do

ambiente e minimizar os efeitos causados por tais antrópicos. Dentre as várias substâncias que

agridem o ambiente, o petróleo e seus derivados ocupam lugar de destaque no quadro da

poluição (BRAGAGNOLO, 2003).

A contaminação de águas no mundo por petróleo e derivados do óleo foi

estimada em 3,2x106 toneladas por ano (CLARK, 1989), das quais 92% estão diretamente

relacionadas às atividades humanas e um oitavo desta parcela é devido a acidentes com navios

tanques. Mesmo sendo lenta a recuperação do meio ambiente após um derramamento de

óleo, sua velocidade depende de vários fatores como a intensidade de luz natural e o local do

derramamento de óleo (no solo, praias, mar aberto ou sedimentos).

1.1 Composição do petróleo

A composição de petróleo é extremamente complexa e varia de acordo com

o tipo de petróleo (NAS, 1985). Essa composição pode mudar com o tempo, mesmo quando o

óleo é retirado de um mesmo poço.

10

O petróleo é dividido em frações de acordo com a solubilidade, ponto de

ebulição e propriedades cromatográficas em sílica gel. Em termos químicos, o óleo bruto é

dividido em frações alifática, aromática, polar e asfaltênica.

A fração alifática predominantemente apresenta hidrocarbonetos saturados

de cadeia normal, além de muitos cícliclos e policícliclos (naftenos). A fração aromática

apresenta hidrocarbonetos aromáticos alquilados contendo de um até cinco anéis aromáticos

conjugados. A fração polar contém muitos aromáticos heterocíclicos que pode incluir

derivados de porfirinas e compostos alifáticos contendo nitrogênio e enxofre, além de

apresentar traços de compostos como álcool, fenol, cetona e ácido carboxílico. A identificação

de ácidos carboxílicos pode indicar o ano de formação do óleo. A fração asfaltênica é definida

como a fração insolúvel em pentano ou heptano. Essa fração pode variar de petróleo para

petróleo e até mesmo pode estar ausente (NICODEM et al., 2001).

Os aromáticos, nafteno-aromáticos e aromáticos com enxofre (tiofenos) ou

derivados são os principais componentes do óleo bruto responsáveis pelos principais danos ao

meio ambiente e a saúde humana. Esta fração de petróleo é usualmente constituída de

hidrocarbonetos com alto ponto de ebulição. Eles incluem vários anéis aromáticos

condensados os quais se fundem com anéis naftênicos e ramificações. As estruturas mais

freqüentes estão representadas na tabela 1.

11

Tabela 1 – Principais componentes do óleo bruto sob o aspecto ambiental.

Fórmula

molecular

Mono-

aromáticos

Di-aromáticos Tri-

aromáticos

Moléculas

aromáticas com

enxofre

CnH2n-6 R

S

R

CnH2n-10S

CnH2n-8 R

S

R

CnH2n-12S

CnH2n-10 R

S

R

CnH2n-14S

CnH2n-12 R

R

S

R

CnH2n-16S

CnH2n-14 RR

S

R

CnH2n-18S

CnH2n-16 R

S

R

CnH2n-20S

CnH2n-18 RR

S CnH2n-22S

CnH2n-20

S

CnH2n-24S Fonte: TISSOT et al., 1984

12

Em média o petróleo apresenta aproximadamente 15% de asfaltenos em sua

composição. Esta fração asfaltênica possui alto peso molecular e é rica em aromáticos,

heteroátomos e metais (Figura 1). Esta fração é extremamente recalcitrante e persiste no

ambiente por um longo tempo. Estudos vêm sendo realizados utilizando espectroscopia de

fluorescência e ressonância paramagnética eletrônica (GUEDES et al., 2003), para elucidar a

estrutura e o comportamento de asfaltenos de petróleo.

Figura 1 – Ilustração da estrutura molecular representativa para dois diferentes

asfaltenos (MULLINS et al., 1998).

1.2 Intemperismo sofrido pelo petróleo

O destino do óleo derramado em ambientes marinhos depende de uma série

de processos físicos, químicos e biológicos, denominados de intemperismo.

13

Quando petróleo é derramado em águas naturais os processos físicos de

intemperismo iniciam-se rapidamente e a degradação biológica é lenta devido à toxicidade de

seus componentes e, algumas vezes, pela falta de nutrientes. As transformações químicas

acontecem principalmente devido a processos fotoquímicos, os quais são significativos na

oxidação dos componentes recalcitrantes do óleo (NICODEM et al., 1997).

O intemperismo fotoquímico ocorre por reações com oxigênio singlete e

radicais livres (GUEDES et al., 1998). Produtos da foto-oxidação do óleo são foto-reativos

em água, ocorrendo à degradação através de transferência de elétrons e formação de radicais

livres (NICODEM et al., 2001).

Os resultados do intemperismo de petróleo são razoavelmente conhecidos

como resultado de análises ambientais, mas os processos pelos quais ocorrem as alterações

não são bem definidos.

No início a evaporação aumenta a viscosidade e a densidade do petróleo e

ainda inicia-se a formação de emulsões água em óleo, conhecidas como “mousse”

(NICODEM et al., 1998).

Processos fotoquímicos modificam as propriedades físicas, a composição do

óleo, e a solubilidade. O aumento na solubilidade afeta a toxicidade e a biodegradação, além

de permitir a fotodegradação na fase aquosa.

A tabela 2 mostra hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs) considerados

tóxicos aos seres vivos. São na maioria carcinogênicos e encontrados em quantidades variadas

14

no petróleo, todos controlados pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA e pela

Associação Mundial de Saúde (BEDDING et al., 1995 e KUMKE et al., 1995).

Tabela 2 – HPAs classificados como principais poluentes pela “U.S. Environmental

Protection Agency”(EPA).

(HPAs)

nomenclatura

peso

molecular

de

anéis

λ máximo

de absorção

(nm)

λ máximo

de emissão

(nm)

Naftaleno 128 2 319

302

322

Acenaftileno 152 3 456

324

541

Acenafteno 154 3 320

300

347

Fluoreno 166 3 300 310

Fenantreno 178 3 346

330

364

Antraceno 178 3 374

356

399

15

(HPAs)

nomenclatura

peso

molecular

de

anéis

λ máximo

de absorção

(nm)

λ máximo

de emissão

(nm)

Fluoranteno 202 4 359 462

Pireno 202 4 372

336

383

Benzo[a]

antraceno

228 4 385

300

385

Criseno 228 4 362

321

381

Benzo[k]

fluoranteno

252 5 402

308

402

Benzo[b]

fluoranteno

252 5 369

302

446

Benzo[a]

pireno

252 5 404

385

403

16

(HPAs)

nomenclatura

peso

molecular

de

anéis

λ máximo

de absorção

(nm)

λ máximo

de emissão

(nm)

Benzo[g,h,i]

perileno

276 6 406

300

419

Indeno

[1,2,3-cd]

pireno

276 6 460

302

503

Dibenzo[a,h]

antraceno

278 5 394

322

394

Fonte: GUEDES, 1998

1.3 Propriedades físicas do petróleo

As mudanças físicas mais importantes que estão relacionadas com o

impacto ambiental são: evaporação, difusão, emulsificação e dissolução. As transformações

químicas afetam todos os processos físicos.

17

Quando o óleo é derramado na superfície da água, a ação dos ventos e o

bater das ondas misturam e dispersam o óleo na água. Há emulsões água em óleo, as quais

podem conter até 90% de água (THINGSTAS e PENGERUD, 1983), que se tornam

completamente estáveis. Essas emulsões são denominadas “mousse de chocolate” devido a

sua aparência.

A formação do “mousse” é um processo importante no intemperismo de

petróleo porque a emulsão água-óleo é altamente viscosa e fica aderida em areias e rochas. É

muito difícil a remoção e o tratamento do “mousse”, por isso ele aumenta o impacto

ambiental. Sua formação esta relacionada com a formação de material polar de alto peso

molecular, e pode ser inibido por β-caroteno que é um bom supressor de oxigênio singlete

(THINGSTAD e PENGERUD, 1983).

A capacidade do petróleo de não sofrer intemperismo para formar emulsões

água-óleo depende da concentração da fração asfaltênica (MACKAY et al., 1973).

1.4 Mecanismo de foto-oxigenação de HPAs

Genericamente as reações que envolvem os HPAs podem ser classificadas

como de substituição (um átomo de hidrogênio é trocado por outro elemento do grupo) ou

adição (uma ligação dupla é desfeita) seguida ou não de eliminação (regeneração da ligação

dupla). O processo de adição seguido de eliminação resulta em reação de substituição. Os

produtos destas reações podem, subseqüentemente, sofrer novas transformações, inclusive a

18

abertura de anéis, e dar origem a substâncias mais complexas. A seguir são mostrados,

esquematicamente, os principais tipos de reação que ocorrem com os HPAs (LOPES et al.,

1996).

Substituição

HX,Y + HYX

Adição 1,2

H

H Y

H

H

XX,Y

Adição 1,4

H HH H

X YX,Y

Adição-Eliminação

H

H

H

H

X

YH

XX,Y -HY

Figura 2 – Principais tipos de reações que ocorrem com os HPAs.

19

O tipo de reação que um HPA pode experimentar depende da sua própria

estrutura e das espécies com quem interage. As posições em que ocorrem as reações são

determinadas pela estabilidade das espécies intermediárias. São mais reativas aquelas

adjacentes à fusão dos anéis por serem energicamente favorecidas.

Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos absorvem fortemente na região

do UV maior que 300 nm (presente na radiação solar) e muitos deles são rapidamente foto-

oxidados.

A reação mais comum dos HPAs é a formação de endoperóxidos. Por

exemplo o 9,10-dimetilantraceno reage com o oxigênio em presença de luz fornecendo o

correspondente 9,10-endoperóxido (Figura 3).

CH3

CH3

CH3

CH3

O Ohν,O2

Figura 3 – Reação de foto-oxidação ao antraceno em solução.

A fotólise ou pirólise do endoperóxido é iniciada pela quebra homolítica da

ligação O−O conduzindo a uma variedade de produtos (Figura 4).

20

CH3

CH3

O OO

O

CH3

CH3

O

OH CH2OH

O

O

OH CH3

OH CH3

ou ∆ +

+

+

Figura 4 – Produtos da fotólise ou termólise do endoperóxido em solução (LOPES et

al., 1996).

1.5 Degradação fotocatalítica de poluentes

Os processos oxidativos avançados (POAs) são capazes de converter

poluentes em espécies químicas inócuas, tais como gás carbônico e água. O termo POA é

21

usado para definir o processo em que radicais hidroxila (•OH) são gerados para atuar como

agentes oxidantes químicos.

Os POAs podem ser classificados em dois grupos; os que envolvem reações

homogêneas, usando H2O2, O3 e/ou luz, e os que empregam catálises heterogêneas.

A fotocatálise heterogênea é baseada na irradiação de um fotocatalisador,

geralmente um semicondutor inorgânico como TiO2, ZnO ou CdS, cuja energia do fóton deve

ser maior ou igual à energia do “band gap” do semicondutor para provocar uma transição

eletrônica (excitação, figura 5). Assim, sob irradiação, um elétron é promovido da banda de

valência para a banda de condução formando sítios oxidantes e redutores capazes de catalisar

reações químicas, oxidando os compostos orgânicos à CO2 e H2O e reduzindo metais

dissolvidos ou outras espécies presentes.

Figura 5 – Transição eletrônica no semicondutor.

22

1.5.1 Mecanismo geral da fotocatálise com semicondutor

O mecanismo geral para fotocatálise heterogênea utilizando TiO2 como

fotocatalisador segue as etapas descritas abaixo (HOFFMANN et al., 1995).

1.5.1a – A adsoção na partícula do catalisador

)ads(

LIV

LIV

IVIV

RRsítios

HOOHTiOOHTi

OHTiOHTi

11

22

22

→+

+→++

→+

−−−

1.5.1b – Excitação do semicondutor

+− +→+ BVBC hehvTiO2

1.5.1c – Manutenção das cargas

( )

( )

IIIBC

IV

IIIBC

IV

IVBV

IV

IVBV

IV

TieTi

OHTieOHTi

OHTihOHTi

HOHTihOHTi

→+

→+

→+

+→+

−−•

•+−−

+•+− 2

23

1.5.1d – Recombinação das cargas

( )

OHTiOHTih

OHTiOHTie

calorhe

IVIIIBV

IVIVBV

BVBc

−−+

−•−

+−

→+

→+

→+

onde:

R1 = é substrato;

h+ = lacuna fotogerada;

hν = irradiação incidente; −e = elétron fotogerado;

X− = espécie adsorvida

BV = banda de valência do semicondutor;

BC = banda de condução do semicondutor; −2

LO = oxigênio do retículo do TiO2

Anpo e colaboradores em 1991 sugeriram que radiacais hidroxila são

formados não apenas via lacunas fotogeradas e água adsorvida em sítios de TiIV na superfície,

mas também via elétrons e oxigênio (oxigênio é adsorvido exclusivamente sobre sítios de

TiIII) como descrito a seguir (item 1.5.1e). Foi proposto também que moléculas de oxigênio

dissolvido atuam como seqüestradores de elétrons para formar íons superóxido (O2•−),

precursores de peróxido de hidrogênio, o qual pode dissociar-se em radicais •OH.

24

1.5.1e – Produção de radicais •OH via O2

22222

22

22

OOHTiHOTiHOTi

HOTiHOTi

OTiOTi

IVIVIV

IVIV

IVIII

+→+

→+

→+

−•

−•

•−

+−•−

−•−

ou

222

2222

OHTiHHOTi

OHOTiHOTiOTi

IVIV

IVIVIV

−+−

−−

•−

−•−

→+

+→+

1.5.2 Mecanismos envolvendo lacuna (h+) e •OH na fotocatálise com semicondutor

Vem sendo estudado o envolvimento de espécies como radical hidroxila

(oxidação indireta), lacuna fotogerada (oxidação direta), oxigênio singlete e íon-radical

superóxido em transformações fotocatalíticas com ZnO em meio aquoso (ZIOLLI et al.,

1998).

Oxigênio singlete pode formar-se em fotocatálise de acordo com o

mecanismo descrito a seguir (item 1.5.2a)

25

1.5.2a – Formação de oxigênio singlete

−•

−→+ 22 OTiOTi IVIII

21

2 OhOTi IV →+ +−•−

onde:

21O = oxigênio singlete

A reatividade química do oxigênio singlete tem sido exaustivamente

estudada. Ele pode interagir com substratos para gerar peróxidos, os quais podem iniciar um

processo radicalar em cadeia, como demonstrado a seguir (item 1.5.2b).

1.5.2b – Oxidação envolvendo 1O2

produtosROOR

RROOHRHROO

ROOOR

ROHRHOH

RAOHRHAO

OHAOAOOH

AOOHAHO

+→+

→+

+→+

+→+

+→

→+

••

••

••

••

••

••

,

23

2

21

onde:

AH = receptor de 21O

RH = composto com hidrogênio ativo

26

1.6 Utilização de surfactantes

Propriedades como umectação, emulsão e dispersão são características de

sabões e detergentes, e estes fenômenos são devidos as micelas complexas presentes nas

soluções destes tensoativos (BORSATO et al., 1999).

As micelas são formadas pela interação entre as cadeias apolares do

surfactante e pela repulsão dos grupos polares que formam pontes de hidrogênio com a água

(Figura 6).

Figura 6 – Estrutura de surfactantes e micelas (NITSCHKE et al., 2002).

A capacidade dos surfactantes em emulsificar e dispersar hidrocarbonetos

em água aumenta a possibilidade de degradação destes compostos no ambiente, fator este que

justifica a utilização de surfactantes em processos de biorremediação (NITSCHKE et al.,

2002).

27

O surfactante dodecil sulfato de sódio (SDS), também conhecido

comercialmente como lauril sulfato de sódio, é altamente biodegradável, sendo metabolizado

rapidamente por microrganismos a CO2 e também incorporado à biomassa microbiana

(SCOTT et al., 2000).

1.7 Objetivo

O objetivo deste trabalho foi investigar a eficiência do processo

fotocatalítico, utilizando luz solar e TiO2 aplicado e suportado diretamente sobre filme de

petróleo, e ainda, avaliar o efeito da adição de surfactante na degradação fotocatalítica do óleo

bruto.

28

2 PARTE EXPERIMENTAL

2.1 Reagentes e solventes

• Petróleo, mistura para refino, fornecido pela REPAR-PETROBRAS e utilizado sem

nenhum tratamento;

• Diclorometano da marca Nuclear, grau PA, PM 84,93 e 99,5 % de pureza;

• Água destilada;

• Solução comercial de dodecilsulfato de sódio a 25% (m/v);

• Dióxido de titânio (P25) da marca Degussa.

2.2 Materiais e equipamentos

• Balão volumétrico

• Funil

• Funil de decantação

• Micropipeta

• Papel filtro

• Pipeta volumétrica

• Suporte e garra

• Bomba pulverizadora

29

• Garrafa plástica

• Placas de Petri (vidro Pyrex) com 5 cm de diâmetro interno

• Balança analítica

• Refrigerador da marca Brastemp

• Espectrofluorímetro da Shimadzu RF-5301PC

• Infravermelho da marca Shimadzu FTIR-8300

2.3 Petróleo/TiO2 sob luz solar

2.3.1 Preparo das amostras

Os filmes de petróleo foram preparados pipetando-se 10 ml do petróleo

(uma mistura de óleos para refino) utilizando pipeta volumétrica, mantendo a distância de

aproximadamente 1 cm da placa de Petri durante o processo de transferência do óleo.

A aplicação de TiO2 foi realizada utilizando os seguintes materiais (Figura

7):

• Bomba pulverizadora simples;

• Garrafa plástica (2 L) com dois cortes circulares: um no fundo e outro na lateral.

Foi colocado o cone (garrafa plástica) sobre a placa de Petri para que o TiO2

fosse pulverizado através da abertura lateral e depositasse sobre o filme de petróleo. Em cada

30

placa de Petri foi pulverizado 4 vezes o TiO2, depositado completamente após 1 minuto.

Através desta metodologia foi possível a deposição de aproximadamente 0,0007 g de TiO2 em

cada amostra preparada.

Figura 7 – Materiais utilizados na aplicação de TiO2.

Para cada amostra irradiada contendo TiO2 foram preparadas outras duas:

irradiada sem TiO2 e não irradiada (recipiente pintado com tinta preta), num total de 21

amostras.

2.3.2 Exposição das amostras

As amostras foram expostas à luz solar no pátio do Departamento de Física

da UEL, em dias de céu claro, das 10:00 às 16:00h, nas estações da primavera de 2002 e verão

de 2002/2003 (Figura 8). As amostras foram recolhidas em intervalos de 2, 5, 10, 15, 20, 40, e

31

60 horas de exposição para posterior análise. Entre os intervalos de irradiação e no aguardo

das análises, as amostras foram estocadas no escuro a aproximadamente 10oC.

Figura 8 – Exposição das amostras ao Sol.

2.3.3 Análise de petróleo

2.3.3a Análise por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (CG-EM)

Na análise do petróleo por cromatografia gasosa foi utilizada coluna capilar

DB1 com 30 m de comprimento e 0,25 mm de diâmetro interno, contendo fase estacionária

com espessura de 0,25 µm, usando hélio como gás de arraste na vazão de 1,8 mL/min.

A injeção da amostra de óleo bruto ocorreu à temperatura de 250ºC. A

temperatura inicial da coluna foi de 40ºC durante 4 minutos, com programação de 10ºC/min

32

até 250ºC (durante 5 minutos) e 15ºC/min até 320ºC (durante 3,5 minutos), mantendo essa

temperatura final por 10 minutos. O tempo total de análise foi de aproximadamente 37

minutos. A faixa de massa detectada foi entre 45 e 550 com intervalo de varredura de 0,5 s. A

sensibilidade de ganho do detector foi 2,0 kV.

O petróleo foi diluído em diclorometano e injetado na concentração de

1:100 (v/v).

2.3.3b Análise por espectroscopia de fluorescência

A análise do óleo sob intemperismo foi realizada em um espectrômetro de

fluorescência. Espectros de fluorescência synchronous (sincronismo dos monocromadores de

excitação e emissão) foram registrados de 300 a 800 nm para petróleo diluído em

diclorometano 1:1000 v/v. A excitação das amostras ocorreu a partir de 270 nm com

intervalos de 30 nm entre excitação e emissão, abertura da fenda de 1,5 µm e velocidade

rápida de varredura. Foram utilizadas cubetas de quartzo para as análises.

2.4 Lavagem do óleo após exposição

Foram pipetados 5 mL de cada amostra de óleo e adicionados a 20 mL de

água destilada contida em um funil de separação. Foi agitado vigorosamente o funil por 10

33

segundos e decantação durante 30 minutos para posterior separação das fases. A fase aquosa

foi filtrada e recolhida em frasco âmbar de 25 mL. A fase óleo foi recolhida em frasco âmbar

de 10 mL. A “borra” formada na interface foi descartada.

2.4.1 Análise da fase óleo

Este item segue a mesma metodologia do item 2.3.3b.

2.4.2 Análise da fase aquosa

A análise da fase aquosa foi realizada em um espectrômetro de

fluorescência. Espectros de fluorescência synchronous (sincronismo dos monocromadores de

excitação e emissão) foram registrados de 250 a 750 nm para a fase aquosa. A excitação das

amostras ocorreu à partir de 230 nm com intervalos de 20 nm entre excitação e emissão, com

abertura da fenda de 1,5 µm e velocidade rápida de varredura. Foram utilizadas cubetas de

quartzo para as análises.

34

2.5 Petróleo/TiO2/surfactante sob luz solar

2.5.1 Preparo das amostras

Quatro amostras foram preparadas seguindo a metodologia do item 2.3.1,

alterando de 4 para 10 o número de borrifadas do TiO2. As amostras preparadas foram: não

irradiada, irradiada sem TiO2, irradiada com TiO2 e irradiada com TiO2 e surfactante. A massa

aproximada de TiO2 e da solução de surfactante foram respectivamente de 0,001 g e 1,4 g.

2.5.2 Exposição das amostras

As amostras foram expostas à luz solar durante 60 horas no pátio do

Departamento de Química da UEL, em dias de céu claro, das 10:00 às 16:00h durante a

primavera de 2003. Entre os intervalos de irradiação e no aguardo das análises, as amostras

foram estocadas no escuro a aproximadamente 10oC.

35

2.5.3 Análise de petróleo

Este item segue a mesma metodologia do item 2.3.3b.

36

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Considerações gerais

O petróleo absorve a luz solar que penetra na atmosfera terrestre, desde o

ultravioleta até o infravermelho próximo, passando por todo o visível (NICODEM et al.,

1997).

As tampas dos recipientes de irradiação utilizados nos experimentos são da

marca Pyrex. Este tipo de vidro é de uso comum em experimentos utilizando substâncias com

considerável absorção no ultravioleta próximo e visível do espectro solar (LARTIGES e

GARRIGUES, 1995).

As amostras denominadas “não irradiadas” tiveram as tampas dos

recipientes pintadas com tinta preta para evitar o efeito da luz solar, e assim, pudessem

retratar somente o efeito térmico.

3.2 Análise por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (CG-EM)

Analisou-se por cromatografia gasosa apenas o óleo bruto (não exposto ao

intemperismo) com o objetivo de caracterizá-lo, pois trata-se de uma mistura de vários tipos

37

de petróleo coletados em diferentes poços. A mistura de óleos é tipicamente utilizada nas

refinarias para a produção de derivados.

O perfil cromatográfico do petróleo utilizado neste experimento foi

registrado na figura 9, onde foram destacados 44 picos correspondentes a componentes

presentes em maior concentração no óleo.

Figura 9 – Cromatograma do óleo bruto.

A detecção por espectrometria de massa caracterizou a complexidade desta

mistura de óleos pesados. Os componentes característicos foram: benzenos substituídos,

alcanos normais (C9-C44), alcanos ramificados (C11-C15), cicloalcanos substituídos (C10-

C16), álcoois alifáticos (C10), éteres cíclicos, ácidos carboxílicos, cetonas, norbornenos.

Foram identificadas algumas estruturas muito complexas de peso molecular

elevado contendo ciclos e anéis aromáticos condensados e isolados:

OSi

N O

38

Alguns componentes contendo heteroátomos (N, O e S) também foram

observados no óleo bruto:

N

N

N

OHOH

NH

SH

3.3 Fluorescência do óleo sob intemperismo

A análise do óleo por espectroscopia de fluorescência foi realizada para

monitorar processos físicos e químicos de intemperismo que determinam alterações na

composição do petróleo.

Através do cálculo da área correspondente aos espectros foi possível

observar redução na fluorescência do óleo (Tabela 3), ocorrendo de forma muito semelhante

com as amostras não irradiadas e irradiadas. Este resultado foi diferente daquele encontrado

por Guedes em 1998, onde filme de petróleo irradiado sobre água do mar sofreu redução de

até 60% na fluorescência e petróleo não irradiado reduziu no máximo 18,8%. Foi relatado

também que o efeito térmico praticamente não altera a fluorescência de petróleo quando

comparado com o efeito fotoquímico.

Neste trabalho, após 60 horas de exposição das amostras ao Sol, a

fluorescência foi reduzida em 16% no óleo “não irradiado” e 19% no óleo “irradiado”. A

39

ausência de uma fase polar determina a permanência dos fotoprodutos (polares) na fase óleo,

alterando muito pouco a área correspondente à fluorescência do óleo sob intemperismo.

Tabela 3 – Porcentagem relativa da área integrada dos espectros de fluorescência.

Tempo de exposição Petróleo não irradiado Petróleo irradiado

Zero 100% 100%

2h 91,0% 96,5%

5h 98,5% 95,5%

10h 92,0% 93,5%

15h 97,0% 81,0%

20h 93,0% 91,0%

40h 90,5% 91,5%

60h 84,0% 81,0%

O processo de fotodegradação do petróleo, já descrito na literatura

(NICODEM et al., 1998 e NICODEM et al., 2001), foi aqui detectado através da redução na

fluorescência do óleo sob intemperismo. A figura 10 demonstra que nas primeiras horas de

irradiação solar a degradação do petróleo ocorreu discretamente atingindo componentes

aromáticos de baixa e média massa molecular, isto é, BTEX e HPAs com 2 ou 3 anéis. Os

espectros revelaram que o processo fotoquímico reduziu de maneira considerável a

fluorescência no visível (550 a 700 nm) correspondente à fração asfaltênica do óleo bruto

(aromáticos de elevada massa molecular) após 60 horas de irradiação ao Sol.

40

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

óleo bruto2h irradiado5h irradiado10h irradiado15h irradiado20h irradiado40h irradiado60h irradiado

Figura 10 – Fluorescência de filme de petróleo irradiado ao Sol.

3.3 Fluorescência de petróleo/TiO2 sob intemperismo

Os espectros de fluorescência registrados na figura 11 revelam que durante a

fotocatálise com TiO2, as duas primeiras horas de exposição do filme de petróleo foram

suficientes para promover a perda de componentes mais voláteis (400 nm), aumentando a

concentração de componentes fluorescentes com massa molecular elevada (550 a 650 nm).

A redução na fluorescência do óleo na faixa entre 500 e 650 nm inicia-se

após longo período de irradiação (40h), correspondendo à degradação fotoquímica de

asfaltenos. O aumento na intensidade de fluorescência entre 350 e 450 nm após 60 horas de

irradiação, correspondente a emissão de aromáticos com menor massa molecular, foi devido à

41

fotodegradação daqueles componentes mais pesados do óleo. A eficiência na geração de

radical •OH durante a degradação fotocatalítica do óleo contribuiu para a formação de

derivados fluorescentes no UV próximo e não mais na região do visível, processo

correspondente à abertura de anéis aromáticos.

0

5

10

15

20

25

30

35

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45

50

55

300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

óleo bruto2h irrad c/ TiO25h irrad c/ TiO210h irrad c/ TiO215h irrad c/ TiO220h irrad c/ TiO240h irrad c/ TiO260h irrad c/ TiO2

Figura 11 – Fluorescência de petróleo/TiO2 irradiado ao Sol.

Na Figura 12, os pontos em azul indicam redução na intensidade de

fluorescência a 600 nm, região do espectro correspondente a emissão de asfaltenos. Os pontos

em vermelho sinalizam aumento na intensidade de fluorescência a 450 nm, correspondente a

compostos aromáticos e polares formados durante o processo fotocatalítico e retidos na fase

óleo.

42

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0 10 20 30 40 50 60 70Tempo de exposição (horas)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

intensidade de fluorescência a 600 nmintensidade de fluorescência a 450 nm

Figura 12 – Intensidade de fluorescência de HPAs e asfaltenos de petróleo durante

processo fotocatalítico.

3.4 Fluorescência de petróleo após exposição e lavagem

A lavagem do óleo, isto é, a extração de produtos resultantes do

intemperismo de petróleo, teve como objetivo investigar a formação de derivados polares.

43

3.4.1 Análise da fase óleo

As amostras de petróleo “não irradiado” praticamente não apresentaram

mudanças no perfil de fluorescência após a lavagem do óleo (Figura 13).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

óleo bruto lavado2h não irrad. lavado5h não irrad. lavado10h não irrad. lavado15h não irrad. lavado20h não irrad. lavado40h não irrad. lavado60h não irrad. lavado

Figura 13 – Fluorescência de petróleo não irradiado lavado.

Na figura 14 observa-se redução de fluorescência em todo o perfil do

espectro, porém de forma mais acentuada na faixa de 450 a 550 nm (derivados de HPAs)

devido a migração de compostos polares para a água durante o processo de lavagem.

44

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

óloe bruto lavado

2h irrad. lavado

5h irrad. lavado

10h irrad. lavado

15h irrad. lavado

20h irrad. lavado

40h irrad. lavado

60h irrad. lavado

Figura 14 – Fluorescência do petróleo irradiado lavado.

Nem sempre que ocorre redução na fluorescência do óleo ocorre aumento de

fluorescência na água, depende do mecanismo de degradação dos componentes do óleo. Um

mecanismo que ilustra este fato é a formação de dímeros que, apesar de reduzir e/ou deslocar

a fluorescência do óleo, não migram para a água, pois não são polares quando comparados aos

fotoprodutos oxigenados (Figura 15).

Figura 15 – Mecanismo de fotodimerização de HPAs.

45

Na figura 16 observa-se redução significativa na fluorescência de HPAs já

nas primeiras duas horas de irradiação, prosseguindo até 60 horas de forma bastante intensa.

Foi alterada também a relação entre os picos correspondentes a aromáticos/polares (λmax 450-

500 nm) e asfaltenos (λmax 550-600 nm).

0

5

10

15

20

25

30

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45

50

55

300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

óleo bruto lavado2h irrad. c/ TiO2 lavado5h irrad. c/ TiO2 lavado10h irrad. c/ TiO2 lavado15h irrad. c/ TiO2 lavado20h irrad. c/ TiO2 lavado40h irrad. c/ TiO2 lavado60h irrad. c/ TiO2 lavado

Figura 16 – Fluorescência de petróleo/TiO2 irradiado e lavado.

O mecanismo de fotodegradação natural do óleo bruto diferencia-se da

fotocatálise com TiO2, constatado pela modificação no perfil de fluorescência do óleo sob

intemperismo (Figura 15) e ação catalítica (Figura 16).

Derivados de poliaromáticos do petróleo geralmente migram para o extrato

aquoso devido à ação fotoquímica da luz solar. Como discutido anteriormente, o mecanismo

proposto para a fotodegradação do filme de óleo é, principalmente, a foto-oxigenação

(Figura 17) que leva à formação de fotoprodutos polares. Durante o processo de

46

fotossensibilização do petróleo, o intermediário da reação é predominantemente o oxigênio

singlete.

CH3

CH3

CH3

CH3

O Ohν,O2

Figura 17 – Reação de foto-oxidação do antraceno.

3.4.2 Análise da água de lavagem do petróleo

Os derivados do óleo, com fluorescência em água a 300 nm, são

essencialmente os monoaromáticos (BTEX) que migraram para a fase aquosa em decorrência

da solubilidade.

Componentes com massa molecular mais elevada, HPAs de 2 e 3 anéis com

fluorescência na faixa de 320 a 370 nm, também foram observados em fase aquosa, e este

efeito foi favorecido pela ação térmica da luz solar (Figura 18).

47

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

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4

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250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

fase aquosanão irrad. 2hnão irrad. 5hnão irrad. 10hnão irrad. 15hnão irrad. 20hnão irrad. 40hnão irrad. 60h

Figura 18 – Fluorescência na água de lavagem do petróleo não irradiado.

Derivados monoaromáticos (300 nm) e principalmente poliaromáticos (320-

420 nm) do óleo migraram para a fase aquosa devido à ação fotoquímica da luz solar (Figura

19). Como discutido anteriormente, o mecanismo proposto para a fotodegradação do filme de

óleo é, principalmente, a foto-oxigenação, que leva à formação de produtos polares como

fenóis, cetonas e ácidos carboxílicos. Durante o processo de fotossensibilização do petróleo o

intermediário da reação é predominantemente o oxigênio singlete.

48

0

0,5

1

1,5

2

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4

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5

250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

fase aquosairrad. 2hirrad. 5hirrad. 10hirrad. 15hirrad. 20hirrad. 40hirrad. 60h

Figura 19 – Fluorescência na água de lavagem do petróleo irradiado.

No caso da fotocatálise com TiO2, além da espécie reativa oxigênio singlete,

ocorrem outros intermediários (•OH, •OOH, O2−•, etc.), os quais originam outros produtos

(derivados de poliaromáticos) além daqueles observados durante o processo fotoquímico

natural.

Observa-se no perfil dos espectros, nas figuras 19 e 20, que a fluorescência

em água aumenta, porém retratando produtos distintos na faixa entre 400 e 600 nm.

49

0

0,5

1

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3

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4

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250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsid

ade

rela

tiva

fase aquosairrad. c/ TiO2 2hirrad. c/ TiO2 5hirrad. c/ TiO2 10hirrad. c/ TiO2 15hirrad. c/ TiO2 20hirrad. c/ TiO2 40hirrad. c/ TiO2 60h

Figura 20 – Fluorescência na água de lavagem do petróleo/TiO2 irradiado.

3.5 Fluorescência de petróleo/TiO2 sob luz solar e efeito da adição de surfactante

Os espectros de fluorescência do óleo irradiado sem o catalisador, com TiO2

e com TiO2/surfactante foram registrados na figura 21.

A ação térmica da luz solar geralmente não contribui para alterar a

fluorescência do óleo. Porém a irradiação durante 60 horas contribuiu de forma significativa

para a redução de fluorescência dos HPAs e asfaltenos de petróleo, principalmente quando se

adicionou o fotocatalisador. Aparentemente, a ação do surfactante não auxilia na fotocatálise.

50

A princípio, o surfactante deveria auxiliar na difusão das espécies reativas

no meio. O tensoativo deveria facilitar a transferência de massa ou carga no sistema

heterogêneo. Neste caso, a adição do detergente não contribuiu para otimizar a fotocatálise.

0

5

10

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20

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35

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300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda

Inte

nsid

ade

rela

tiva

óleo brutonão irrd. 60hirrd. 60hirrd. 60h c/ TiO2irrd. 60h c/ TiO2 + surfactante

Figura 21 – Efeito da adição de TiO2/surfactante na fluorescência de petróleo.

O uso de fotocatalisadores imobilizados sobre uma superfície tem como

ponto negativo a limitação na transferência de massa. A adição do surfactante teve como

objetivo promover a difusão das espécies fotogeradas durante a fotocatálise heterogênea com

TiO2.

As áreas integradas dos espectros de fluorescência (Figura 22)

demonstraram que a ação do surfactante não otimiza o processo fotocatalítico.

51

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

10000

Óleo bruto Petróleo nãoirradiado

Petróleo irradiado Petróleo irradiadoc/ TiO2

Petróleo irradiadoc/ TiO2 e

surfactante

Áre

a de

fluo

resc

ênci

a

Figura 22 – Área integrada dos espectros de fluorescência do petróleo.

A lacuna fotogerada na partícula do semicondutor TiO2 (ZIOLLI et al.,

1998) pode ter sido trapeada pelo grupo polar do surfactante impedindo a oxidação direta (via

h+), prevalecendo assim, a degradação do surfactante sobre a degradação de componentes do

óleo. O surfactante também pode ter inibido a reação indireta de oxidação do poluente, não

permitindo a formação do intermediário •OH gerado a partir da molécula de água adsorvida

sobre a superfície do óxido.

Na literatura o uso de surfactantes na biorremediação tem obtido sucesso

devido ao fato destes emulsificarem e dispensarem poluentes pouco solúveis, aumentando sua

biodisponibilidade e acelerando sua mineralização.

52

4 CONCLUSÃO

A fotocatálise com TiO2 promove a degradação preferencial de asfaltenos

do petróleo. A fotodegradação natural de petróleo, apesar de ocorrer em sinergia com a

fotocatálise, promove transformações mais discretas, porém em todas as frações fluorescentes

do óleo bruto.

A lavagem do petróleo comprovou a formação de derivados polares durante

a irradiação do óleo bruto.

O lauril sulfato de sódio não favoreceu a fotocatálise heterogênea com TiO2

(P25) nas condições experimentais propostas neste trabalho.

Faz-se necessária a continuidade deste estudo, investigando o efeito de

concentrações variadas do catalisador e do surfactante, assim como o emprego de outros

agentes emulsificantes que otimizem o processo fotocatalítico com TiO2.

53

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