estudo de três sistemas de imobilização utilizados em...

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Estudo de três sistemas de imobilização utilizados em Radioterapia perspetiva atual e futura Mestrando: Marco Alexandre Amador Caetano Orientador: Fátima Monsanto (ESTSeL) Mestrado em Radioterapia Lisboa, Janeiro de 2014 Instituto Politécnico de Lisboa Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

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Estudo de três sistemas de imobilização

utilizados em Radioterapia – perspetiva atual e

futura

Mestrando: Marco Alexandre Amador Caetano

Orientador: Fátima Monsanto (ESTSeL)

Mestrado em Radioterapia

Lisboa, Janeiro de 2014

Instituto Politécnico de Lisboa

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

ii

Instituto Politécnico de Lisboa

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

Estudo de três sistemas de imobilização

utilizados em Radioterapia – perspetiva atual e

futura.

Mestrando: Marco Alexandre Amador Caetano

Orientador: Fátima Monsanto (ESTSeL)

Júri: Elisabete Almeida Carolino

Anabela Gregório Dias

Mestrado em Radioterapia

Lisboa, Janeiro de 2014

(Esta versão inclui as críticas e sugestões feitas pelo júri)

iii

Dedicatória

Ao suporte e ajuda

da minha esposa

Débora

e à paciência da minha filha

Ester

que dispensou várias horas

de brincadeira.

iv

Agradecimento

Com sincero agradecimento à Professora Fátima Monsanto pelo apoio prestado no

desenvolvimento desta investigação, bem como à Professora Elisabete Carolino pelo

acompanhamento e aconselhamento estatístico.

Já Sócrates, o filósofo, disse “Para conseguir amizade de uma pessoa digna é preciso

desenvolver em nós as qualidades que naqueles admiramos.” Um agradecimento em

especial à Cecília, Miriam e Hamilton.

v

Resumo

Em oncologia e de acordo com a literatura, 50 a 60% dos doentes realizam

Radioterapia. Destes, cerca de 40% são integrados em esquema de tratamentos de

Radioterapia paliativa. Um aspeto fulcral para o sucesso da realização do tratamento

de Radioterapia consiste no posicionamento adequado do doente, e tentar garantir

que este posicionamento seja reprodutível entre as diversas sessões de tratamento.

Os sistemas de imobilização tem um papel preponderante para garantirem este

requisito, No entanto, verifica-se no dia-a-dia que os sistemas disponíveis

comercialmente nem sempre apresentam a melhor solução que garanta um

posicionamento confortável ao doente, logo poderá dificultar a sua imobilização. Para

além disto é essencial contar com a colaboração do doente, devendo este ser

informado e treinado para se manter imóvel durante o tratamento.

É objetivo deste estudo recolher informações bibliográficas sobre a utilização de

equipamentos de imobilização, tendo como critérios de análise o conforto para o

doente e a reprodutibilidade do posicionamento diário, com maior enfase em tumores

de cabeça e pescoço, mama e pélvicos. Com base nas informações bibliográficas, foi

realizado um estudo prático com um grupo de 19 doentes consecutivos tratados em

colchão de vácuo, no Centro Oncológico Drª Natália Chaves.

Considera-se que os três sistemas de imobilização (sistema de fixação de máscaras,

apoio de mama e imobilizadores pélvicos) atualmente utilizados poderão ser

melhorados. Os dados estatísticos na reprodutibilidade do colchão de vácuo justificam

a oportunidade para melhorar os sistemas de imobilização. Neste sentido com este

trabalho, pretende-se apresentar uma proposta de mesa de tratamento robotizada que

teoricamente, poderá aumentar o conforto do doente durante tratamento e,

consequentemente a reprodutibilidade ao longo do tratamento de Radioterapia.

Palavras-chaves: Radioterapia; sistemas de imobilização; reprodutibilidade;

posicionamento.

vi

Abstract

According to the literature, 50 to 60% of all oncology patients receive radiotherapy

treatment. From these patients, about 40% receive radiotherapy with palliative

intention.

A major factor for the success of the radiotherapy treatment is the right patient setup

and the assurance that this setup will be reproducible during all treatment sessions.

Immobilization devices play a major role in achieving these requirements. However, on

daily practice, the devices available on the market aren’t always the best way to ensure

a comfortable patient setup, which may hinder immobilization. Besides, one needs to

rely on patient’s will to collaborate, making patient information and training so important

to assure he remains still during treatment sessions.

This study’s goal is to obtain bibliographic information about the use of immobilization

devices, analyzing its comfort for the patient and daily setup reproducibility, for head

and neck, breast and pelvic tumors setup. A study for vac-lok cushions was also made,

including 19 consecutive patients from Centro Oncológico Dr.ª Natália Chaves whose

setup was made using this device.

Conclusions were that the three immobilization devices in literature (mask systems,

breast board and pelvice devices) currently used can be improved. Statistic data on

reproducibility using the vac-lok cushion also justifies the opportunity to improve

immobilization devices. Therefore, it is presented in this study the idea for a robotic

treatment couch which will, in theory, be able to increase patient’s comfort and

reproducibility of setup during radiotherapy treatment.

Keywords: Radiotherapy, Immobilization devices, Reproducibility, patient setup.

vii

Índice

Dedicatória ................................................................................................................... iii

Agradecimento ............................................................................................................. iv

Resumo ........................................................................................................................ v

Abstract ........................................................................................................................ vi

Índice ........................................................................................................................... vii

Índice de Quadros ........................................................................................................ ix

Índice de Tabelas ......................................................................................................... x

Índice de Figuras .......................................................................................................... xi

Siglas e Abreviaturas ................................................................................................... xii

1 – Introdução ............................................................................................................... 1

1.1 – Justificação ...................................................................................................... 2

1.2 – Objetivos .......................................................................................................... 3

2 – Materiais e Métodos ............................................................................................... 7

3 – Resultados ............................................................................................................ 11

3.1 – Sistema de imobilização e localização – estudo bibliográfico ......................... 11

3.1.1 – Sistema de localização e imobilização da região anatómica de cabeça e

pescoço ............................................................................................................... 12

3.1.2 – Sistema de localização e imobilização da região anatómica da mama .... 15

3.1.3 – Sistema de localização e imobilização da região pélvica ......................... 18

3.2 – Desvios obtidos com o colchão de vácuo – resultados experimentais ............ 20

3.2.1 – Análise estatística .................................................................................... 20

3.2.2 – Análise dos erros aleatórios e sistemáticos .............................................. 23

3.3 – Evolução da mesa de tratamento ................................................................... 26

3.4 – Projeto de mesa de tratamento robotizada ..................................................... 29

3.4.1 – Características físicas da mesa ............................................................... 30

3.4.2 – Validação virtual da mesa robotizada em condições de tratamento ......... 34

4 – Discussão ............................................................................................................. 39

viii

5 – Conclusão ............................................................................................................. 43

6 – Bibliografia ............................................................................................................ 47

7 – Anexo I ................................................................................................................. 53

7 – Anexo II ................................................................................................................ 55

ix

Índice de Quadros

Quadro 1 - Caracterização dos doentes e aquisição diária de imagem para correção de

desvios .................................................................................................................. 9

Quadro 2 - Número de doentes em cada momento temporal de aquisição. ................ 10

Quadro 3 - Análise de média do desvio padrão, máximo e mínimo nos três momentos

de aquisição. ....................................................................................................... 20

Quadro 4 - Resumo dos casos e diagrama de extremos e quartis dos desvios

observados nas três direções em X, Y e Z. .......................................................... 21

Quadro 5 - Histogramas da distribuição dos desvios observados nas direções X, Y e Z.

............................................................................................................................ 22

Quadro 6 - Histogramas com as percentagens cumulativas da distribuição dos desvios

observados nas direções X, Y e Z. ...................................................................... 23

Quadro 7- Histogramas da distribuição dos desvios sistemáticos para as direções X, Y,

Z. ......................................................................................................................... 24

Quadro 8 - Histogramas da distribuição dos erros aleatórios para as direções X, Y, Z.

............................................................................................................................ 25

x

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Os dez tumores mais frequentes nos homens no ROR-Sul, 2000 – 2001 .... 4

Tabela 2 - Os dez tumores mais frequentes nas mulheres no ROR-Sul, 2000 – 2001 .. 5

Tabela 3 - Os dez tumores mais frequentes no ROR-Sul, 2000-2001 ........................... 5

Tabela 4 - Média, desvio padrão, mínimo, máximo para os desvios sistemáticos em

cada uma das direções. ....................................................................................... 24

Tabela 5 - Mínimo, máximo e desvio padrão para os erros aleatórios para cada uma

das direções X, Y, Z. ........................................................................................... 25

Tabela 6 - Caraterísticas físicas da mesa robotizada .................................................. 31

Tabela 7 - Proporção dos materiais utilizados na construção da mesa nas duas

hipóteses apresentadas. ...................................................................................... 35

xi

Índice de Figuras

Figura 1 - a) apoio de cabeça e pescoço standard, b) apoio de cabeça individualizado.

Fonte: estudo de Antonetta C. Houwelings et al. ................................................. 13

Figura 2 - Zona de interesse na avaliação dos deslocamentos: a) zona de cabeça e

pescoço, b) crânio, c) mandíbula, d) C1 a C3, e) C4 a C6. Fonte estudo de

Antonetta C. Houweling et al................................................................................ 14

Figura 3 - Plataforma de tratamento em decúbito ventral com dispositivo de

posicionamento de braços. Fonte: estudo de Anna Kirby et al. ............................ 16

Figura 4 - Esquema ilustrativo do percurso do doente desde o scanner por laser ao

tratamento em mesa robotizada. ......................................................................... 30

Figura 5 - Esquema das condições simuladas para avaliação de atenuação da mesa

robotizada, sob diferentes hipóteses simples de constituição. ............................. 36

Figura 6 - Esquema das condições simuladas para avaliação da atenuação da mesa

robotizada, sob diferentes hipóteses complexas de constituição da mesa. .......... 37

Figura 7 - Perfil de dose no eixo central com normalização para a água. ................... 37

Figura 8 - Esquema de mesa de tratamento robotizada .............................................. 54

xii

Siglas e Abreviaturas

2D

Duas dimensões

3 - DCRT Radioterapia conformacional a três dimensões

3D

4D

Três dimensões

Quatro dimensões

C1 – C3 Primeira vértebra cervical à terceira vértebra cervical

C3 – C6 Terceira vértebra cervical à sexta vértebra cervical

CBCT Cone beam computed tomography (Tomografia computorizada por cone

beam)

CTV

cm

Clinical target volume (volume alvo clínico)

Centímetro

DRR Digitally reconstructed radiograph (Imagem digitalmente reconstruída)

G II Grau dois

G III Grau três

GTV Gross tumor volume (volume tumoral)

Gy Gray

ICRU International Commission on Radiation Units And Measurements

IGRT Image guided radiation therapy (Radioterapia por imagem guiada)

IMRT Intensity Modulated Radiation Therapy (Radioterapia de intensidade

modulada)

KV Kilo voltagem

MV Mega voltagem

OAR’s

ORL

Órgãos de risco

Otorrinolaringologia

PTV Planning target volume (volume alvo)

RMN

RPM

ROR

Ressonância magnética nuclear

Real-time Position Management™ (monotorização em tempo real do

movimento Respiratório)

Registro Oncológico regional

SNC Sistema nervoso central

TC Tomografia computorizada

US Ultrassonografia

X,Y,Z Coordenadas tridimensionais em X, Y e Z

1

1 – Introdução

No decurso da sua doença, 50% a 60% dos doentes oncológicos, irão necessitar de

tratamentos de Radioterapia(1). Com o avanço tecnológico os tratamentos tornaram-se

mais conformacionais, mais complexos e mais individualizados, permitindo uma maior

eficácia no tratamento.

Pretende-se com o tratamento de Radioterapia irradiar devidamente o volume alvo

clínico (Clinical Target volume - CTV) com a dose prescrita pelo Radio-Oncologista,

evitando lesar os órgãos de risco (OAR’S) específicos envolvidos, administrando-lhes

o mínimo de dose possível. Com o aumento do rigor na localização do tumor e a

melhoria significativa dos sistemas de verificação pré-tratamento com recurso a

imagem guiada (IGRT), pretende-se diminuir a margem a atribuir ao CTV, e assim

potencialmente diminuir efeitos secundários(2).

A Radioterapia é uma modalidade de tratamento do cancro que tem evoluído

exponencialmente ao longo dos anos a nível tecnológico e científico, assumindo um

papel central no tratamento de neoplasias malignas com probabilidade de sucesso

terapêutico. Antes do aparecimento da técnica de aquisição de imagem por

fluoroscopia1, os campos de tratamento baseavam-se na palpação e ou visualização

de marcações feitas ao nível da pele. A possibilidade de aquisição de imagem permitiu

ao Radio-Oncologista uma visualização da zona a tratar, tendo por referências as

estruturas anatómicas(1 – 2).

A tomografia computorizada (TC) tornou-se uma prática indispensável para o

planeamento de Radioterapia. Para a sua realização, o doente é colocado em posição

de tratamento, usando sistemas de imobilização/localização, de acordo com a sua

anatomia/patologia e limitações. Com a correta colocação do doente em posição de

tratamento, são adquiridas as imagens para o planeamento. Estas são posteriormente

exportadas para o sistema de planeamento do tratamento, onde o médico Radio-

Oncologista irá delimitar os diversos volumes de interesse. A otimização do

planeamento é fundamental para que a distribuição de dose seja o mais homogénea

possível, para que o volume alvo receba a dose prescrita e que se proteja (tanto

quanto possível) os OAR’s adjacentes(3). Em Radioterapia curativa, o volume alvo

irradiado com altas doses de radiação deve abranger todo o tumor e extensões

1 Técnica que fornece imagens em movimento e em tempo real do corpo humano, a partir de

um emissor de Rx com posterior visualização num monitor.

2

microscópicas da doença, e deve ser mantido tão pequeno quanto possível para

minimizar os danos nos tecidos normais adjacentes (2 - 4).

Devido à constante evolução tecnológica, que se tem evidenciado nas últimas

décadas, houve um grande desenvolvimento na área dos aceleradores lineares e no

planeamento assistido por computador, tornando possível gerar imagens a três

dimensões ou a quatro dimensões (4D), com objetivo de realizar um tratamento com

uma melhor conformação do feixe de radiação – Radioterapia conformal a três

dimensões (3-DCRT), intensidade modelada (IMRT), IGRT e monotorização em tempo

real do movimento respiratório (RPM). Termos como gross tumor volume (GTV), CTV,

planning target volume (PTV) e avaliação do histograma dose volume, tornaram-se

comuns no vocabulário da Radioterapia(4 – 6).

Nos últimos anos desenvolveram-se diferentes sistemas mecânicos que permitem

melhorar a imobilização do doente e melhorar a localização da zona a tratar. Há

necessidade que o doente fique o mais imóvel possível durante o tratamento. Para tal,

o doente deve ser devidamente informado tomando conhecimento dos riscos

envolvidos, sendo fundamental o seu treino e que seja participante ativo para manter a

imobilidade durante o tratamento.

Considera-se que o sistema de imobilização mais adequado é aquele que permite

garantir o posicionamento confortável e seguro do doente, de modo a assegurar uma

correta irradiação do CTV. O seu reposicionamento diário deverá ser rápido e fácil de

executar e, idealmente, o sistema de imobilização não deveria afetar as características

do feixe de irradiação nomeadamente se for necessário o feixe atravessá-lo antes de

chegar ao doente. Contudo, é de esperar que nenhum sistema de imobilização seja

perfeito(5 , 7).

1.1 – Justificação

A indústria de materiais de imobilização utilizado em Radioterapia tem lançado no

mercado diferentes dispositivos que tentam corresponder ao propósito de se obter

maior precisão na localização do volume alvo para administração da radiação. Assim,

os sistemas de imobilização utilizados nas diversas patologias deverão ser fiáveis e

reprodutíveis com o intuito de garantir o correto alinhamento e reposicionamento do

doente. As suas construções tem sido concebidas de forma a tentar satisfazer as

necessidades de acordo com a patologia, tendo sempre alguma flexibilidade para se

adaptar a diferentes anatomias e/ou limitações dos doentes. A arquitetura destes

dispositivos deve assegurar a rigidez necessária para uma maior imobilização e um

nível adequado de conforto de modo a garantir a colaboração do doente(2 – 7).

3

O reposicionamento incorreto do doente pode ocorrer devido a erros de set-up que

podem persistir durante todo o tratamento (erros sistemáticos) ou pode variar de forma

imprevisível em torno de um valor médio (erros aleatórios)(2 – 3).

Geralmente os erros sistemáticos têm maior impacto a nível clínico do que os

aleatórios. Embora seja impossível eliminar todos os erros, um conhecimento das

imprecisões do reposicionamento que ocorre durante a irradiação (erros sistemáticos)

deverão permitir a redução de margem e incrementar o aumento de dose ao CTV,

melhorando o controlo local e, provavelmente a sobrevida(3 – 4). Alguns autores(3 – 5)

defendem que os erros aleatórios no tratamento associados aos erros provocados por

sistemas de imobilização desadequados pode ser uma causa importante na

recorrência tumoral local.

O posicionamento para o tratamento é um dos componentes mais importantes do

planeamento e tratamento em Radioterapia. De acordo com o protocolo internacional

ICRU - International Commission on Radiation Units and Measurements(6), o volume

planeado deve ser irradiado uniformemente com até +7% ou - 5% da dose prescrita. É

de máxima importância que o doente ao longo das várias sessões de tratamento seja

posicionado nas mesmas condições aquando da aquisição da TC de planeamento,

garantindo a reprodutibilidade do tratamento planeado. Para um melhor

reposicionamento diário, poder-se-á optar por corresponder as marcações cutâneas

do ponto do isocentro a referências existentes nos sistemas de imobilização. Por sua

vez, os sistemas de imobilização do doente devem ter correspondência à mesa de

tratamento através de indexação(8).

Na prática clínica há, frequentemente, por parte dos doentes, manifestações de

desconforto devido à dureza do material utilizado nos sistemas de imobilização. A

realização para o estudo foi motivada por este fator aliado a toda a problemática

descrita com os sistemas de imobilização.

1.2 – Objetivos

Para uma irradiação homogénea da lesão tumoral e a administração mínima dose nos

tecidos sãos adjacentes, o controlo sobre os movimentos do doente deve ser preciso.

Tratamentos complexos e a correta localização tumoral, recorrendo ao planeamento

conformacional e auxiliares para uma maior precisão do tratamento (IGRT, RPM) não

serão úteis se o doente não permanecer imóvel. Consideramos, no entanto que

poderá haver um salto qualitativo nos sistemas usados, aumentando o conforto e a

reprodutibilidade do tratamento, independentemente do performance status do

doente(1, 7).

4

O presente estudo pretende também avaliar a reprodutibilidade de dispositivos que

auxiliem na imobilização de três patologias comuns (Sistema Nervoso Central

(SNC)/Otorrinolaringologia (ORL), mama e pélvica) em doentes sujeitos a tratamentos

de Radioterapia. São objetivos deste trabalho os seguintes pontos:

1) Pesquisa bibliográfica no sentido de avaliar a reprodutibilidade de dispositivos

que auxiliem na imobilização de 3 diferentes patologias:

a) ORL

b) Mama

c) Zona pélvica;

2) Estudo de possíveis erros na irradiação do volume alvo ao longo do tratamento

de Radioterapia de um sistema de imobilização, colchão de vácuo, devido a

deformação do mesmo;

3) Proposta e validação virtual de uma mesa de tratamento robotizada adequada

às limitações físicas do doente.

A seleção das patologias referidas acima deveu-se a, segundo publicação do Registo

Oncológico Regional - Sul (ROR – Sul) de 2000/01(9), estarem entre os dez tumores

mais frequentes. Os dez tumores mais frequentes por sexo estão ordenados nas

tabelas 1, 2 e 3.

Verifica-se que os tumores de próstata são os tumores mais incidentes no sexo

masculino. Os tumores de bexiga, reto e laringe, ocupam respetivamente o quinto,

sexto e oitavo lugar dos tumores mais frequentes do sexo masculino (tabela 1).

Topografia (ICD-O-3) Descrição Nº de casos

C61 Próstata 4140

C33+C34 Traqueia, Brônquios e

Pulmão

2102

C18 Cólon 1790

C16 Estômago 1333

C67 Bexiga 1240

C19+C20 Reto 1158

Linfoma não Hodgkin 681

C32 Laringe 503

C15 Esófago 364

C64 Rim 355

Tabela 1 - Os dez tumores mais frequentes nos homens no ROR-Sul, 2000 – 2001

5

Nas mulheres o tumor da mama ocupa o primeiro lugar na incidência, sendo os

tumores do cólon os segundos tumores mais frequentes, neste sexo (tabela 2).

Topografia (ICD-O-3) Descrição Nº de casos

C50 Mama 4643

C18 Cólon 1441

C16 Estômago 839

C54 Corpo do Útero 822

C19 + C20 Reto 696

C55 Colo do Útero 664

Linfoma não Hodgkin 627

C56 Ovário 504

C33+C34 Traqueia, Brônquios e

Pulmão

486

C73 Glândula Tiroideia 380

Tabela 2 - Os dez tumores mais frequentes nas mulheres no ROR-Sul, 2000 – 2001

Os dez tumores mais frequentes no que respeita à incidência, considerando ambos os

sexos e excluindo os tumores de pele, apresentam-se na tabela 3.

Topografia (ICD-O-3) Descrição Nº de casos

C50 Mama feminina 4643

C61 Próstata 4140

C18 Cólon 3232

C33+C34 Traqueia, brônquios e

pulmão

2588

C16 Estômago 2172

C19+C20 Reto 1854

C67 Bexiga 1582

Linfoma não Hdgkin 1308

C54 Corpo do Útero 822

C53 Colo do Útero 664

Tabela 3 - Os dez tumores mais frequentes no ROR-Sul, 2000-2001

6

Uma das possíveis consequências do cancro é a sua proliferação metastática.

Metástases ósseas podem surgir em cerca de 85% dos doentes com cancro da mama,

próstata e pulmão(1,3). Um dos sintomas mais comuns neste tipo de doentes é dor

insidiosa e geralmente, de difícil localização (1,3).

7

2 – Materiais e Métodos

Este trabalho assenta numa revisão sistemática da literatura de forma a reunir os

estudos que pensamos que melhor definem o valor dos sistemas de imobilização e

posicionamento usados no tratamento de várias patologias com Radioterapia. Os

estudos foram pesquisados nas bases de dados PUBMED e Elsevier.

Foram selecionados artigos publicados nas revistas Radiotherapy & Oncology e

International Journal of Radiation Oncology Biology Physics, por estarem associadas a

instituições internacionais de referência na área da Radioterapia e por apresentarem a

maior quantidade de publicação de artigos científicos na Europa e nos Estados

Unidos.

Os seguintes termos de pesquisa foram utilizados: “treatment position, prone position,

supine position, breast board immobilization, head and neck immobilization, pelvic

immobilization”. Para serem selecionados para o estudo, os artigos tinham de cumprir

com os seguintes critérios de elegibilidade:

As palavras-chaves devem estar incluídas no título ou abstract;

Comparação entre dispositivos de imobilização tanto em decúbito dorsal como

em decúbito ventral;

O erro de set-up associado à utilização do sistema de imobilização;

Análise de dose entre o volume alvo e os OAR’s;

Os estudos incluem artigos originais em inglês publicado entre Janeiro de 2010

e Dezembro 2011;

Estudos correspondentes a patologias do SNC ou cabeça e pescoço, mama e

zona pélvica.

Usando a pesquisa bibliográfica, foram identificados 96 artigos, dos quais 10

preencheram os critérios de elegibilidade. Nenhum artigo de revisão sobre as

vantagens de um sistema de imobilização e posicionamento foi encontrado. A maioria

dos estudos analisados neste trabalho são prospectivos, retrospectivos e

comparativos de planeamento.

O colchão de vácuo é um sistema de imobilização e posicionamento individualizado

alternativo aos sistemas de posicionamento comuns na maioria dos departamentos de

Radioterapia, que facilmente se adapta à forma anatómica do doente. São fabricados

na sua maioria em nylon, que é um material mais resistente aos danos que levam à

perda de vácuo(8). No seu interior existem pequenas esferas de poliestireno que em

vácuo vão conferir a rigidez e forma desejada(8). Atualmente existe uma grande

8

variedade de tamanhos, podendo-se adaptar a qualquer zona anatómica sujeita a

tratamento.

O uso de colchão de vácuo pressupõe uma contínua monitorização das condições do

colchão, desde o dia de planeamento até ao último dia de tratamento. A perda de

vácuo poderá causar erro na cobertura do PTV, aumentando a probabilidade de

recidiva local e o aumento da toxicidade nos tecidos são adjacentes(2, 8).

Dos estudos apresentados, regra geral, o facto do colchão de vácuo ser incorporado

ao sistema de imobilização, diminui o erro sistemático associado(10 – 12, 15 – 23). A

indústria já se apercebeu que os apoios crânio-cervicais utilizados na maioria dos

departamentos de Radioterapia devem ter a possibilidade de adicionar uma almofada

de vácuo, se necessário, o que aumentará a reprodutibilidade e o conforto do

doente(18).

Visto que um sistema de reposicionamento e imobilização perfeito não existe, o

colchão de vácuo pode ser utilizado em situações em que os sistemas mais comuns

não se adaptem às limitações ou necessidades do doente aquando da TC de

planeamento. Para reforço desta ideia, realizou-se um estudo que pretende avaliar os

desvios longitudinais, laterais e verticais relativo ao isocentro de tratamento, em

dezanove doentes planeados em colchão de vácuo. Os desvios foram analisados com

recurso ao sistema de aquisição de imagem existentes na instituição, comparando

com a imagem de referência previamente definida. Os doentes foram tratados no

Centro Oncológico Dr.ª Natália Chaves, entre 1 de Agosto de 2011 e 30 de Maio de

2012, planeados em colchão de vácuo, em patologias com localização torácica,

abdominal, pélvica e membros inferiores. Os desvios apresentados são

representativos de imagens adquiridas pré tratamento, com correção a posteriori. Em

cerca de 63,2% dos doentes recorreu-se a imagem diária para correção do erro

associado ao reposicionamento.

Este estudo pretende analisar se ao longo do tratamento, com a deformação do

colchão, ocorrem erros na irradiação do volume alvo. Considera-se para esta análise

que se os desvios presentes se mantiverem constantes e dentro dos valores aceites

na instituição (inferiores a 2 mm), o colchão de vácuo é um bom recurso no

planeamento do tratamento de Radioterapia.

Os doentes realizaram TC de planeamento (Tomografia Computorizada – Siemens

Somatom™) onde foi escolhido o seu posicionamento. Conforme a região anatómica

de interesse, assim se moldou o colchão de vácuo. Foram colocadas tatuagens de

referenciação definitiva na pele do doente, anteriormente na linha média e

lateralmente no alinhamento dos lasers, definindo o corte zero. Os cortes de TC têm a

espessura de 3 mm.

9

Os doentes foram tratados num dos aceleradores lineares disponíveis no serviço.

Durante o tratamento, os doentes foram reposicionados conforme a descrição do

posicionamento na ficha clínica aquando da TC de planeamento. Todos os dias os

doentes são reposicionados utilizando as marcações na pele no ponto do isocentro,

com ajuda dos sistemas de lasers existentes na sala de tratamento.

Características dos doentes

Número de doentes 19

Idade (anos)

Média 61,2

Amplitude [28;83]

Localização

Membros Inferiores

Membros superiores

Zona Pélvica

Metástases ósseas

11

1

2

5

Género (%)

Masculino 67,4%

Feminino

Imagem Diária (%)

Sim

Não

32,6%

63,2%

36,8%

Quadro 1 - Caracterização dos doentes e aquisição diária de imagem para correção de

desvios

10

Conforme já referido, para 63,2% dos doentes recorreu-se a imagem diária. As

imagens adquiridas foram comparadas com a imagem de referência DRR (imagem

gerada por reconstrução digital dos cortes de TC de planeamento), que permite

detetar e quantificar os desvios, calculados sob a forma de coordenadas

tridimensionais (X,Y,Z). De acordo com o protocolo da instituição, desvios inferiores ou

iguais a 0,2 cm são ignorados; desvios superiores a 0,2 cm são corrigidos. A amostra

de doentes contém doentes de várias patologias e número de tratamentos diferente

(números de tratamentos totais estão compreendido entre 10 e 33). Os desvios

analisados neste trabalho correspondem à primeira aquisição (aquisição 1), a meio do

tratamento (aquisição 2) e ao último momento de aquisição (aquisição 3), conforme

quadro 2.

Período Temporal Doentes adquiridos

Aquisição 1 (segundo dia de tratamento) 19

Aquisição 2 (meio do tratamento) 18

Aquisição 3 (último momento adquirido) 12

Quadro 2 - Número de doentes em cada momento temporal de aquisição.

Um doente não completou o tratamento, não havendo lugar a aquisição a meio do

tratamento. Seis doentes correspondem a tratamentos paliativos de dez frações,

sendo apenas adquiridos em dois momentos, no início e a meio do tratamento.

11

3 – Resultados

3.1 – Sistema de imobilização e localização – estudo

bibliográfico

Os sistemas de imobilização facilitam o rigor no reposicionamento diário do doente(2, 4).

Os sistemas de imobilização devem obedecer a alguns critérios:

O doente deve estar posicionado confortavelmente;

O doente deve sentir-se em segurança e deve ser minimizado o risco de

queda;

A imobilização e os sistemas a utilizar devem ser adequados à localização da

área a tratar;

O posicionamento deve ser rápido quando possível e fácil de reproduzir;

Os sistemas de imobilização não devem interferir com o feixe de irradiação(2, 7).

Embora sistemas de imobilização perfeitos não existam, espera-se que sejam o mais

adaptável possível ao doente.

As técnicas de imobilização e posicionamento variam de instituição para instituição, e

espera-se que todas elas sejam igualmente adaptadas às exigências de cada

tratamento e limitações físicas do doente(8).

Existe uma grande variedade comercial de acessórios de imobilização embora o seu

uso não substitua a periodicidade de verificação através de imagem por detetor

eletrónico em Mega voltagem (MV) e/ou Kilo voltagem (KV) ou Cone Beam – CT

(CBCT), Imagens por Ultrassons (US), etc., do tratamento. Considera-se que o uso de

sistemas de imobilização adequados à patologia e individualizados em relação a cada

doente contribuirá para minimizar o erro associado ao tratamento de Radioterapia(2 – 5,

8).

12

3.1.1 – Sistema de localização e imobilização da região

anatómica de cabeça e pescoço

No tratamento dos doentes com patologia da região de cabeça e pescoço são

utilizadas, como sistema de imobilização, máscaras termoplásticas. As máscaras

utilizadas em Radioterapia são, na sua maioria, confecionadas a partir de uma folha

termoplástica. Esta folha é colocada em água quente, numa tina específica para o

efeito, que passado alguns minutos torna-a maleável. É removida da água quente e

moldada à face e pescoço do doente. Aquando da moldagem, a máscara é presa ao

sistema de fixação de máscaras indexado previamente à mesa de tratamento. A sua

confeção deve assegurar a rigidez adequada para uma máxima imobilização,

conferindo um nível adequado de conforto ao doente, sendo individual e

personalizada(5). A posição da cabeça em hiperextensão, hipo-extensão ou em

posição neutra deve ser definida de acordo com o propósito terapêutico. Deve ser

confecionada numa posição que seja adequada para o doente. Após alguns minutos

de arrefecimento, a máscara está pronta para ser usada na aquisição da TC de

planeamento. A máscara por princípio é utilizada do início ao fim do tratamento. No

entanto, devido a fatores como o emagrecimento dos doentes ou uma diminuição

significativa da lesão, esta pode ficar desajustada. Quando isto acontece, confeciona-

se uma nova máscara e realiza-se um novo planeamento para garantir a correta

irradiação do volume alvo de tratamento.

Outra das vantagens de ter um sistema de máscara para o tratamento em doentes

com tumores de cabeça e pescoço prende-se com o facto de não ser necessário fazer

marcações na pele do doente. As referências usadas para a localização da zona de

tratamento são colocadas na própria máscara. A maior desvantagem descrita é o facto

de o uso de máscara potenciar o aumento de dose à pele, provocando efeitos

colaterais ao nível da pele(2, 8, 12).

Imprecisões no tratamento de doentes com cancro de cabeça e pescoço podem levar

a uma subdosagem no volume alvo, aumentando o risco de recorrência local. Os erros

de localização podem levar a sobredosagem nos tecidos normais adjacentes e OAR’s

(ex., glândulas salivares, quiasma ótico, tronco cerebral), que pode resultar em

morbilidade aumentada(5).

Nos últimos anos, a técnica de IMRT no tratamento de patologias de cabeça e

pescoço tem sido desenvolvida podendo vir a tornar-se padrão. A sua realização tem o

intuito de obter uma distribuição e de administrar diferentes doses a volumes destintos,

o que poderá poupar OAR's, recorrendo a diminuição de margens de segurança em

torno do volume clínico. Para isso é fundamental uma correta imobilização da zona de

13

cabeça e pescoço tornando-se ainda mais relevante quando comparada com a

Radioterapia conformacional 3D(5, 12).

Apesar do esforço para a máxima imobilização, existem diariamente variações no

posicionamento, que ocorrem porque o alinhamento é feito pelas marcações na

máscara, que poderá não corresponder com a anatomia do doente(13 – 10). Essas

diferenças motivam a necessidade de melhoria na imobilização do doente para reduzir

deformações(5, 10). No interior do sistema de fixação, certas estruturas têm mais

liberdade de movimento do que outras. Por exemplo, as últimas vértebras cervicais

movem-se de forma diferente da mandíbula ou do crânio, podendo as apófises

espinhosas das últimas vértebras cervicais apresentar uma curvatura diferente nos

vários dias de tratamento(10).

No estudo de Houweling et al(10), a imobilização individual de cabeça e pescoço foi

comparada com a imobilização em apoio de cabeça e pescoço usualmente utilizado.

Vinte e dois doentes foram selecionados para o estudo, independentemente do

estadio e localização da lesão, tendo sido imobilizados com a utilização de máscaras

termoplásticas de cinco pontos de fixação. Dez doentes foram tratados com o apoio de

cabeça e pescoço usualmente utilizado (figura 1a) e doze com o suporte de cabeça e

pescoço personalizado (figura 1b) feito com espuma de impressão, de modo a garantir

a moldagem da cabeça e dos ombros, conforme abaixo.

Em ambos os grupos foram adquiridas imagens de verificação durante a primeira

semana, antes e depois de cada fração e, depois uma vez por semana, antes de cada

fração. Para cada doente, cinco zonas de verificação foram definidas para

determinação das diferenças entre a imagem de referência e a de tratamento(10). As

zonas de interesse definidas foram: cabeça e pescoço, crânio, mandíbula, vértebras

C1-C3 e vértebras C4-C6(10) – Figura 2.

Figura 1 - a) apoio de cabeça e pescoço standard, b) apoio de cabeça individualizado.

Fonte: estudo de Antonetta C. Houwelings et al.

14

Os resultados mostram que o erro sistemático e o erro aleatório diminuíram

significativamente quando se utiliza o apoio de cabeça e pescoço individualizado

comparando com o apoio de cabeça e pescoço usualmente utilizado. As deformações

entre as diferentes regiões eram menores no apoio de cabeça individualizado e

maiores reduções foram observadas na região do pescoço. A imobilização usando um

suporte de cabeça e pescoço individualizado, reduz o erro sistemático e aleatório dos

deslocamentos e deformações. A reprodutibilidade e estabilidade dos doentes foram

melhoradas(10).

Existem projetos para novos sistemas de imobilização, nomeadamente sistemas de

localização para o tratamento de lesões intracranianas. Neste sistema a máscara é

substituída por um sistema de localização com colchão de vácuo e sistema de bite-

block2 a vácuo com reposicionamento, utilizando uma quadro estereotáxico(11).

No estudo de Ruschin et al(11) foi utilizado o sistema de Perfexion®3 da Elekta™ no

tratamento de tumores intracranianos em doze doentes. Foram realizados trezentos e

trinta e três tratamentos com imagem guiada por Cone Beam Computed Tomography

(CBCT) para verificação/correção diária da posição antes do tratamento(11). Os erros

de set-up foram comparados com a imagem de referência e registados e o erro médio

foi de 0.4±0.3 mm na média das direções x, y e z. Os autores concluem que este tipo

de dispositivo fornece uma excelente imobilização para o tratamento de lesões

intracranianas com Radioterapia estereotáxica, mas que o erro associado deve ser

considerado na altura de planear o tratamento.

2 Sistema que facilita o reposicionamento da mandibula inferior, que tem a impressão da

arcada dentária superior e inferior. 3 Sistema de posicionamento utilizado principalmente em doentes com lesões intracranianas

sujeitos a radiocirurgia.

Figura 2 - Zona de interesse na avaliação dos

deslocamentos: a) zona de cabeça e pescoço, b)

crânio, c) mandíbula, d) C1 a C3, e) C4 a C6.

Fonte estudo de Antonetta C. Houweling et al.

15

3.1.2 – Sistema de localização e imobilização da região

anatómica da mama

Em doentes com patologia mamária, o posicionamento requerido visa assegurar uma

otimização de exposição da zona alvo com o máximo de proteção do tecido são

adjacente. Existem vários dispositivos que podem ser usados no tratamento da

patologia mamária, entre os quais se destacam: T-bar, grip pole, breast board, entre

outros. Podem ainda ser usados outros dispositivos personalizados (colchão de vácuo,

máscara termoplástica) para garantir uma maior exatidão no reposicionamento diário(2,

7).

Uma questão importante levantada no tratamento de doentes com cancro da mama

sujeitas a Radioterapia está relacionado com o volume da mama. Algumas mulheres

têm mamas de grandes dimensões e pendentes que podem causar dificuldade

acrescida na altura do posicionamento para o tratamento. Durante o tratamento de

toda a glândula mamária em decúbito dorsal, frequentemente pode ocorrer uma

descamação húmida dolorosa da pele em zonas mais sensíveis, como seja a prega

axilar e a zona infra mamária, devido ao contacto da mama pendente com a parede

abdominal(2, 8, 12 – 18). No sentido de minimizar este efeito incomodativo, foi desenvolvido

um dispositivo de imobilização e localização de doentes posicionadas em decúbito

ventral – apoio de mama em decúbito ventral, cujo objetivo é afastar a mama irradiada

do tórax e, consequentemente, afastar a mama pendente da parede abdominal,

diminuindo a dose no pulmão e na mama contra lateral(12).

Stegman et al(13), no seu estudo reportou o risco da doente desenvolver dermatite

radiógena de grau II e III. Em 245 doentes tratados em posição de decúbito ventral, o

risco era de 18%. Pommier et al(14) reportou, por seu lado, que o risco de a doente

desenvolver o mesmo tipo de dermatite radiógena (grau II e III) posicionada em

decúbito dorsal poderia ser desenvolvida em cerca de 60% das mulheres tratadas

nesta posição.

Um estudo com 18 doentes com cancro da mama (10 do lado direito e 8 do lado

esquerdo), planeados com 2 campos tangenciais e posicionadas em breast board

foram tratados. Foram adquiridas imagens ao longo das várias sessões antes do

tratamento. Ao longo do tratamento não houve alterações significativas nos desvios

verificados por imagem, chegando-se à conclusão de que as doentes são bem

imobilizadas com o sistema de breast board, sendo reprodutível a sua posição ao

longo do tratamento(15).

Veldeman et al(16) tinham como objeto de estudo a comparação da dose nos órgãos de

risco na mesma doente, nas duas posições. O tratamento decorreu em decúbito

16

ventral, com verificação da reprodutibilidade através de CBCT diária. Este estudo

demonstrou que o decúbito ventral tem resultados comparáveis ao decúbito dorsal,

com a vantagem de reduzir as doses no pulmão homolateral e no coração. Verifica-se

no entanto, que esta é uma técnica em que o reposicionamento do doente é mais

demorado devido ao maior desconforto sentido pelo doente originado pela tensão da

mama e pela compressão da mama contra lateral; denota-se também uma maior

dificuldade por parte do doente em se movimentar; os profissionais têm maior

dificuldade no alinhamento do doente sendo também mais problemático o controlo

correto do posicionamento dos braços.

Sethi et al(17) no seu estudo pretenderam avaliar o melhor método de tratamento da

mama após cirurgia com dissecação axilar. Foram comparadas duas técnicas de

tratamento 3DCRT e de IMRT para tratar mama e zona axilar em doentes

posicionados em decúbito ventral e dorsal. O estudo envolveu 12 doentes com cancro

da mama (9 doentes com localização à esquerda e 3 à direita) simuladas em posição

de decúbito dorsal e ventral. Os doentes, aquando da simulação em decúbito dorsal,

foram posicionadas numa breast board com os braços posicionados acima da cabeça

e com a cabeça rodada para o lado contra lateral à lesão. Um colchão de vácuo é

usado na região da cabeça e pescoço para auxiliar na reprodutibilidade da posição.

Após a simulação em decúbito dorsal, o mesmo doente é posicionado em decúbito

ventral, com o sistema de imobilização e posicionamento Grip Pole com os braços

acima da cabeça e com a cabeça rodada para o lado contra lateral. Um colchão de

vácuo é novamente utilizado na região dos braços e cabeça para auxiliar na

reprodutibilidade da posição. Em posição de decúbito dorsal foi conseguida uma

melhor cobertura da região axilar e supraclavicular em comparação com a posição em

Figura 3 - Plataforma de tratamento em decúbito ventral com dispositivo de

posicionamento de braços. Fonte: estudo de Anna Kirby et al.

17

decúbito ventral. O posicionamento neste estudo não afetou a dose recebida pela

mama contra lateral. Por outro lado, o planeamento em decúbito ventral reduziu

significativamente a dose no pulmão ipsilateral(17).

Kirby et al(18), compararam a posição em decúbito ventral com a posição em decúbito

dorsal em doente submetidos a irradiação mamária após excisão local de cancro da

mama em estadio inicial, em termos de viabilidade, erros no set-up e componente

respiratória. Vinte e seis doentes foram randomizados para este estudo, sendo

planeados nas duas posições. Foram feitos os planeamentos e cuidadosamente

registada a posição para as duas situações. Os doentes iniciaram o tratamento em

decúbito dorsal, mudando para decúbito ventral entre os tratamentos 8º e 15º. A

verificação dos desvios foi feita por aquisição de CBCT e comparada com a CT de

planeamento. No final do estudo, os autores concluíram que o posicionamento de

decúbito ventral conforme figura 3 é viável, embora os erros associados fossem

maiores quando comparados com o decúbito dorsal. Concluíram também, que existe a

necessidade de aumentar as margens de CTV/PTV em doentes posicionados em

decúbito ventral. Um aspeto interessante deste estudo está relacionado com o

conforto relatado pelos doentes nas duas posições. Numa escala de 0 a 9 (0 não

satisfeito – até 9 muito satisfeito), a posição de decúbito dorsal durante o tratamento é

a que satisfaz mais o doente em questão de conforto (9 na TC de planeamento e 8,5

no tratamento), embora a diferença seja mínima comparada com a posição de

pronação (8 na TC planeamento e tratamento) (18).

Noutro estudo dos mesmos autores(19), faz-se a comparação do tecido normal

adjacente a proteger, incluindo a artéria coronária esquerda descendente na irradiação

total e parcial da mama em o decúbito dorsal e ventral. Sessenta e cinco doentes com

cancro da mama pós tumorectomia e linfadectomia foram submetidas a TC em

decúbito ventral e dorsal. Em cada conjunto de dados, tanto na irradiação total da

mama como na irradiação parcial, o pulmão ipsilateral e a parede torácica foram

delimitados. Em doentes com cancro da mama esquerda, coração e artéria coronária

esquerda descendente foram delimitados. Concluíram que o decúbito ventral poderá

beneficiar mulheres com cancro da mama esquerda volumosas, mas não beneficia no

tratamento de mulheres com cancro da mama esquerda de menor volume. No caso do

cancro da mama direita em decúbito ventral, poderá beneficiar deste posicionamento

independentemente do volume da mama(19).

18

3.1.3 – Sistema de localização e imobilização da região

pélvica

Na irradiação de tumores pélvicos, o grande obstáculo para uma maior dose na zona

alvo a tratar são os tecidos sãos adjacentes, variando consoante a patologia a tratar.

Wilder et al(20) submeteram quinze doentes com cancro da próstata ao implante de 5

sementes de ouro para localização da próstata. Todos os doentes foram tratados com

braquiterapia de alta taxa de dose (22 Gy) seguida de IMRT com dose total de 50.4

Gy. Os doentes foram submetidos a duas TC de planeamento (decúbito ventral e

dorsal) e foram tratados em cada uma das posições durante 14 frações num total de

28 frações. Durante os primeiros 5 dias de tratamento em cada uma das posições,

foram realizadas duas imagens portais (anterior/posterior e lateral) pré e pós

tratamento para analisar os desvios da próstata dentro da mesma fração. No final do

tratamento, cada doente respondeu a um teste binomial de avaliação sobre a

satisfação em função da posição de tratamento e os autores concluíram que, tanto em

decúbito dorsal como em decúbito ventral, os movimentos anterior/posterior e

inferior/superior da próstata dentro da mesma fração são idênticos (2mm)

independentemente da posição de tratamento. O teste de satisfação mostrou que os

doentes realizam o tratamento com maior grau de satisfação em decúbito dorsal(20).

Noutro estudo, vinte doentes com cancro da próstata foram tratados utilizando o

sistema Calypso® 4D Localization System4 para monitorizar o movimento em tempo

real da próstata(21). Todos os doentes foram tratados em decúbito dorsal durante dez

tratamentos, sendo a sessão 11ª em decúbito ventral. Ao monitorizar o movimento da

próstata em tempo real é possível estudar os efeitos da posição sobre a mobilidade da

mesma. Ao estudar-se a percentagem de tempo do movimento da próstata entre 3 e

5mm, este foi multiplicado por um fator de três em decúbito ventral em comparação

com o decúbito dorsal. No estudo verifica-se que, para deslocamentos superiores

a 7mm não houve diferença na amplitude do movimento da próstata nas duas

posições. Para reduzir a toxicidade retal, a Radioterapia no cancro da próstata em

decúbito ventral, pode ser uma alternativa terapêutica a ponderar, desde que os

movimentos respiratórios sejam contabilizados durante o período de tratamento. Os

resultados da toxicidade aguda e tardia continuam a ser avaliados em ambas as

posições(21).

4 Sistema de localização do PTV que transmite a sua posição por radiofrequência, permitindo

melhorar a precisão na administração do tratamento, principalmente em doentes com cancro de próstata.

19

No estudo de Stromberger et al(22), compararam a irradiação do intestino delgado em

posição prona e supina. Foram incluídos dez doentes com cancro do colo do útero em

estadio de FIGO IB – III. A técnica de tratamento utilizada foi IMRT para a dose

prescrita de 50.4 Gy, com prioridade máxima na otimização de cobertura do PTV para

a isodose dos 95% e, em segunda prioridade, poupar o intestino delgado. O objetivo

era baixar a dose recebida pela bexiga e reto. Uma questão negativa levantada

relativamente à posição de decúbito ventral prende-se com o facto de que esta

posição é mais instável e menos “fiável” quando comparado com o posicionamento em

decúbito dorsal(22). Esta questão é reforçado no estudo de Siddiqui et al(23) em que

comparam o decúbito ventral versus decúbito dorsal em doentes com patologia

pélvica, e chegaram à conclusão que o reposicionamento dos doentes em decúbito

ventral, comporta maiores probabilidades de erros sistemáticos, enquanto nos doentes

posicionados em decúbito dorsal, o erro associado com maior probabilidade é o

aleatório.

Em conclusão, o estudo de Carmen Stromberger et al(22) demostrou que a nível

dosimétrico para o tratamento de doentes com patologia maligna do colo do útero

tratados com IMRT em decúbito ventral em belly board diminui o volume do intestino

delgado irradiado, com uma cobertura do volume planeado idêntico aos doentes em

posição dorsal. Devido à técnica de tratamento envolvida, os autores recomendam o

uso de imagem guiada diária para a diminuição dos erros associados(22).

20

3.2 – Desvios obtidos com o colchão de vácuo – resultados

experimentais

A análise estatística foi realizada com recurso ao programa IBM SPSS Statistics

versão 20®. Numa primeira fase, foram calculadas as médias, o desvio padrão, o valor

máximo e mínimo de cada momento de aquisição, que se encontram no quadro 3.

Contagem Média Desvio padrão Mínimo Máximo

Desvios em X 49 0,129 cm 0,549 cm -1,600 cm 2,100 cm

Desvios em Y 49 -0,078 cm 0,281 cm -0,900 cm 0,700 cm

Desvios em Z 49 0,071 cm 0,499 cm -1,100 cm 1,300 cm

Quadro 3 - Análise de média do desvio padrão, máximo e mínimo nos três momentos de

aquisição.

Numa primeira fase, o tratamento estatístico e a análise de resultados foi efetuado em

dois momentos. Primeiro foram analisados os desvios nas coordenadas X, Y, Z, em

relação ao ponto do isocentro, nos três momentos de aquisição. Posteriormente,

analisaram-se os erros aleatórios e os erros sistemáticos, recorrendo à estatística

descritiva.

3.2.1 – Análise estatística

Ao longo do tratamento e em três momentos de aquisição, analisaram-se e

registaram-se 49 observações nos três sentidos de deslocamento (X, Y, Z), o que

perfaz um total de 147 observações. Os desvios relativos ao isocentros são expressos

em centímetros (cm).

Pela observação dos dados presentes no quadro 3, podemos verificar que, em média,

os desvios relativos à posição do isocentro, nas três direções analisadas são inferiores

a 0,129 cm.

O quadro 3 mostra que a média dos desvios é negativa para o sentido longitudinal Y (-

0,078 cm) e positiva para os outros dois sentidos (0,129 cm em X e 0,071 cm em Z).

No entanto, as medidas obtidas ao longo da direção X apresentam maior amplitude

( mínimomáximo ) de valores observados.

Fazendo a análise do box-plot (quadro 4), observamos a existência de “outliers” em X.

A mediana observada está muito perto do zero.

21

Da análise dos histogramas abaixo, (Quadro 5), pode ver-se que em qualquer uma

das direções analisadas (X, Y, Z) há uma maior concentração de desvios nulos e a

percentagem de desvios que não pertencem ao intervalo [-0,2; 0,2] é muito baixa.

Quadro 4 - Resumo dos casos e diagrama de extremos e quartis dos desvios

observados nas três direções em X, Y e Z.

22

Quadro 5 - Histogramas da distribuição dos desvios observados nas direções X, Y e Z.

Os histogramas com as frequências cumulativas do quadro 6 mostram também a

pequena percentagem de valores que não pertencem ao intervalo [-0,2; 0,2]

centímetros.

23

3.2.2 – Análise dos erros aleatórios e sistemáticos

Para cada direção e para cada doente, a medição do desvio entre a imagem de

referência e o momento de aquisição representa o erro total do posicionamento do

paciente para a sessão de tratamento em causa. Este deslocamento é uma

combinação dos erros sistemático e aleatório que ocorrem durante o posicionamento.

O erro sistemático de posicionamento de cada doente é dado pelo valor médio dos

deslocamentos ao longo do respetivo eixo, o que significa 18 observações para os

erros sistemáticos em cada uma das direções. Um dos doentes, com uma única,

aquisição teve de ser excluído.

Os erros aleatórios são representados pela dispersão dos dados individuais em torno

da média. Para cada doente, os deslocamentos aleatórios são determinados pela

subtração do deslocamento sistemático com o deslocamento observado. Para toda a

amostra, a distribuição dos desvios aleatórios é expressa por DP (desvio padrão) para

Quadro 6 - Histogramas com as percentagens cumulativas da distribuição dos desvios

observados nas direções X, Y e Z.

24

todos os valores aleatórios individuais, significando que há 49 observações para os

erros aleatórios em cada uma das direções.

Contagem Média Desvio padrão Mínimo Máximo

Desvio Sistemático em X 18 0,15 cm 0,40 cm -0,47 cm 1,45 cm

Desvio Sistemático em Y 18 -0,07 cm 0,15 cm -0,33 cm 0,27 cm

Desvio Sistemático em Z 18 0,13 cm 0,44 cm -0,47 cm 1,20 cm

Tabela 4 - Média, desvio padrão, mínimo, máximo para os desvios sistemáticos em cada

uma das direções.

Da observação dos resultados apresentados na tabela 4, pode ver-se que a média dos

desvios sistemáticos se encontram dentro do intervalo [-0,2; 0,2] cm, para todas as

direções. Estes resultados vêm ao encontro do que é apresentado nos gráficos abaixo

– quadro 7.

Quadro 7- Histogramas da distribuição dos desvios sistemáticos para as

direções X, Y, Z.

25

Analisando os resultados da tabela 5, pode ver-se que há valores dos desvios

aleatórios que não pertencem ao intervalo [-0,2; 0,2] cm, nas direções X e Z. Estes

resultados vêm ao encontro ao que é apresentado nos gráficos do quadro 8.

Contagem Desvio padrão Mínimo Máximo

Erro Aleatório em X 18 0,32 cm 0,07 cm 1,06 cm

Erro Aleatório em Y 18 0,18 cm 0,00 cm 0,71 cm

Erro Aleatório em Z 18 0,23 cm 0,00 cm 0,75 cm

Tabela 5 - Mínimo, máximo e desvio padrão para os erros aleatórios para cada uma das

direções X, Y, Z.

Quadro 8 - Histogramas da distribuição dos erros aleatórios para as direções X, Y, Z.

26

Na componente temporal dos três momentos de aquisição, não foram determinadas

diferenças estatísticas significativas (teste de Friedman(24), px= 0,915, py= 0,065 e pz=

0,934) em nenhuma das direções do eixo de coordenadas (X, Y, Z). Este resultado

deve-se ao facto de que, dos dezanove doentes analisados, apenas doze têm

informação completa nos três momentos de aquisição.

Este estudo apresenta como limitação a amostra ser reduzida e os momentos de

aquisição serem reduzidos.

3.3 – Evolução da mesa de tratamento

Um dos principais materiais usados no fabrico de sistemas de imobilização utilizados

em Radioterapia é a fibra de carbono(25 – 27). A mesa de tratamento em fibra de carbono

tornou-se o padrão no tratamento em Radioterapia devido às suas propriedades de

rigidez, leveza e resistência(27). Os benefícios da utilização deste material contribuíram

para mudanças no planeamento do tratamento de Radioterapia, devido à suposição

geral de que a atenuação dos sistemas de imobilização não é significativo(27, 29). Em

1991, De Mooy(28) caracterizou as propriedades da fibra de carbono e introduziu a fibra

de carbono em sistemas aplicados ao tratamento de Radioterapia. Meara(30) e

Langmack(31) investigaram a transmissão e o build-up em energias de 5 MV, 6 MV e 8

MV da fibra de carbono combinado com uma variedade de outros materiais de

plástico. De Ost et al(32) na sua investigação observaram que a atenuação no feixe de

radiação em material de fibra de carbono em energias de cobalto e feixe de 6 MV é de

1%(32). Reportou no seu estudo que a dose à superfície aumentou na ordem dos 18%

a 77% da dose máxima em energia de Cobalto, e de 21% a 55% da dose máxima em

fotões de 6MV. Higgins et al(33) validaram as conclusões de Ost et al e concluíram que

a percentagem de aumento de dose à superfície é maior para campos de dimensões

mais reduzidas. Carl et al(34) sugeriram que material de fibra de carbono com

espessura superior a 100 mg/cm2 deve ser evitado por energias de 4 MV para reduzir

a dose na pele em casos de dose total entre 54Gy e 60Gy. Myint et al(29) verificaram

que em campos de tratamento oblíquos usados no tratamento de patologia de mama,

SNC, pulmão, entre outros, dependendo da sua configuração geométrica, o campo de

tratamento pode passar pelas barras laterais da mesa de tratamento. Nestas

condições o feixe de radiação poderá sofrer uma atenuação até 16,2% da dose. Se

ignorado, este erro pode ser clinicamente significativo(29). Uma das principais

vantagens dos sistemas de imobilização em fibra de carbono no tratamento em

Radioterapia são as baixas limitações na angulação da gantry, o que não acontecia

antigamente devido à existência de estruturas à base de aço nas mesas de

27

tratamento(32 – 36). Em campos posteriores ou oblíquos, a mesa deve apresentar uma

atenuação mínima a feixes de alta energia (32 – 38).De Ost et al(32) no seu estudo

mostraram que inserções na mesa de tratamento em fibra de carbono foram mais

adequadas do que em polimetilmetacrilato e em fibras de madeira. Estudos realizados

por Meara et al(30) que envolveram a utilização de outros materiais além da fibra de

carbono, mostraram que a atenuação através da fibra de carbono era insignificante.

Segundo este estudo é preciso ter alguma atenção à utilização de campos oblíquos

posteriores. Vieira et al(38) comprovaram o que foi referido no estudo anterior ao

mediram uma atenuação de cerca de 15% do feixe em campos oblíquos posteriores

na irradiação de lesões de cabeça de pescoço. Os autores documentaram ainda no

estudo que existe uma atenuação do feixe em cerca de 3% a 5% da dose total(38).

Com a utilização de materiais entre o feixe de radiação e o doente, existe a

probabilidade aumentada de reações a nível da pele. Emami et al(39) investigaram a

tolerância normal do tecido à radiação. Wengstrom et al(40) mostraram que nenhum de

dois cremes profiláticos utilizados no seu estudo preveniu o aparecimento de reações

cutâneas. Higgins et al (33) mostraram que o efeito a nível da pele é maior em campos

de dimensões mais reduzidas (para campos de 10 cm x 10 cm a dose à superfície

aumenta quatro vezes, enquanto um campo de 40cm x 40 cm aumenta a dose à

superfície em duas vezes). Vários estudos foram feitos e publicados que indicam que

a atenuação da mesa em fibra de carbono poderá não ser tão insignificante com se

pensava(41). McCormack et al(25) observaram que extensão de mesa em fibra de

carbono poderá atenuar o feixe em 2% em incidências diretas, a cerca de 9% em

incidências obliquas em energias de 6Mv. Myint et al(29) concluíram que se desprezar a

atenuação do feixe de radiação pela mesa em fibra de carbono em campos

posteriores, poderemos estar a subestimar dose clinicamente significativa em cerca de

4% a 16%, dependendo da energia do feixe e ângulo de incidência. Outro dos pontos

levantados relaciona-se com a dose à superfície em alguns campos oblíquos

posteriores. Butson et al(42) realizaram medições em peliculas da dose à pele em

mesas em fibra de carbono, e relataram um aumento de 37 – 66 % da dose à pele em

campos oblíquos. A fibra de carbono foi inicialmente proposta como o material ideal

para a Radioterapia devido à sua força, rigidez e baixa densidade(26 – 28). Para

aplicação em Radioterapia, os estudos acima demonstram que existe atenuação do

feixe de radiação que não deve ser desconsiderada em campos oblíquos posteriores e

apresenta um efeito significativo de dose à pele(28, 32 - 42). O estudo de Hope et al(43)

demostra que energias mais altas de fotões utilizados em planos de IMRT, poderão ter

um efeito de poupar a pele que varia entre 5% a mais de 49% em certos casos. A

utilização de energias mistas em planos de IMRT em que se utilize feixe de radiação

28

que atravesse dispositivos em fibra de carbono resulta em doses mais baixas à pele

em cerca de 18%. Existem outros fatores menos vantajosos na utilização de fibra de

carbono em Radioterapia, como a necessidade de equipamentos específicos para a

produção dos dispositivos, aumentando o custo na sua produção assim como a sua

não total compatibilidade com exames de ressonância Magnética dado que a fibra de

carbono é material condutor, que pode aquecer e produzir artefactos de imagem na

Ressonância Magnética( 31).

29

3.4 – Projeto de mesa de tratamento robotizada

O colchão de vácuo é um sistema de imobilização utilizado em Radioterapia,

facilmente adaptável a um vasto número de patologias e limitações físicas do doente.

Deverá haver cuidado no seu manuseamento para garantir ao longo do tratamento

que a sua forma e vácuo se mantenham. O doente deverá ser treinado para o correto

reposicionamento diário.

Dos estudos apresentados por patologia – cabeça e pescoço e mama, na sua maioria,

a introdução de uma almofada de vácuo ou um colchão de vácuo tende a melhorar a

reprodutibilidade diária do tratamento, por ser mais confortável e diminui o erro

sistemático(10 – 12, 18).

A limitação do uso generalizado deste sistema de imobilização prende-se com o

elevado número de doentes tratados diariamente dificultando o seu armazenamento e

logística, bem como na manutenção das suas características de vácuo(8).

Considera-se que seria um avanço significativo para a Radioterapia se existisse um

sistema de imobilização que pudesse ser simultaneamente confortável, personalizado,

não deformável após a moldagem e que se adequasse à universalidade das

patologias tratadas em Radioterapia, reduzindo assim significativamente os custos de

armazenamento e logística existentes. Pretende-se com as várias áreas do

conhecimento, incluindo a Engenharia poder vir a construir uma mesa robotizada. Esta

mesa deve ter características técnicas que permitam a individualização e moldagem

ao corpo de cada doente, tendo assim em conta as limitações tanto anatómicas como

as provocadas pela doença. Pensamos ser possível integrar a mesa, que se molda de

forma a englobar todas as variações anatómicas dos doentes, para que o sistema de

planeamento possa calcular a dose contanto com todas as alterações físicas que o

feixe de radiação poderia sofrer ao atravessar a mesa robotizada – figura 4.

A construção da mesa robotizada assenta no conceito de estampagem comum dentro

da Engenharia Mecânica. Através de um processo de cópia por laser já é possível

criar informaticamente informação que permite ao computador fazer uma reconstrução

a 3D do contorno do doente. Esta informação servirá para criar um negativo do doente

que seria reproduzido na mesa robotizada.

Esta mesa robotizada seria constituída por pequenos “dedos” verticais que terão, no

seu conjunto, a forma do contorno do doente. Os “dedos” deslocam-se verticalmente

assumindo a posição já previamente estabelecida pela informação retirada do

mapeamento corporal por laser do doente. A construção dos dedos será redonda na

sua extremidade superior que estará em contacto com o doente, minimizando o

desconforto provocado por arestas vivas – ver anexo I.

30

Uma forma de garantir um correto posicionamento do doente na mesa de tratamento

robotizada, que corresponda ao local exato do negativo do corpo do doente, deve ser

estabelecida em quatro pontos de referência – cabeça e pescoço, ombros, pélvis e

pés.

Falta apresentar o desenho da mesa, o material em que é constituído e as contas

Espessura de polietileno: 10,00 mm

3.4.1 – Características físicas da mesa

A mesa robotizada deverá obedecer a princípios físicos que garantam a integridade da

sua estrutura suportando carga até 150 kg. Nesta situação devemos garantir também

que a sua flexão seja mínima, ao longo do seu deslocamento longitudinal. Para além

disto, a mesa de tratamento deve ser sólida para resistir ao dia a dia de um serviço de

Radioterapia e garantir que a interferência a nível de atenuação do feixe seja a mínima

possível.

Mihaylov et al, no seu estudo descreve uma mesa de tratamento convencional usada

em Radioterapia constituído por um núcleo de espuma coberta por uma folha de fibra

de carbono de 0,2 cm de espessura e com uma densidade de 0,7 g\cm3. O núcleo de

espuma tem uma espessura de 4,6 cm e uma densidade de 0,1 g\cm3 (44).

Para este projeto idealizou-se uma mesa constituída por polietileno e fibra de vidro,

por estes materiais serem de uso comum a nível industrial, sendo o custo associado à

sua fabricação baixo. Por outro lado, a resistência à tração da fibra de vidro é idêntica

à tração da fibra de carbono (3,53 GPa versus 3,45 GPa respetivamente) e um fator

Varrimento corporal com scanner

laser

Processamento de dados

Criação de um molde virtual

Transferência de dados para mesa

robotizada

Formação do molde negativo

Aquisição da TC de planeamento com

doente incorporado no molde

Planeamento do tratamento

Tratamento diário na mesa

robotizada.

Figura 4 - Esquema ilustrativo do percurso do doente desde o scanner por laser ao

tratamento em mesa robotizada.

31

de transmissão em energia de 6 MV idêntico (0,986±0,002 da fibra de vidro em

comparação com a fibra de carbono 0,984±0,002)(31). Embora a mesa seja composta

por polietileno e fibra de vidro, a comparação feita abaixo é realizada considerando

somente a fibra de vidro. A fibra de vidro possui características mecânicas que

permitirão uma utilização prolongada, sem que a resistência e estabilidade estrutural

se deteriore ao longo do tempo e das várias sessões de tratamento.

As características físicas dos materiais que constituem a mesa robotizada serão objeto

de estudo no contexto da atenuação que provoca aquando da passagem de radiação

pelos mesmos, com as características descritas na tabela 7.

Características físicas da mesa

Comprimento: 2825 mm

Largura: 800 mm

Espessura: 200mm

Espessura de fibra de vidro: 2 mm + 2 mm

Espessura de polietileno: 196 mm

Número total de dedos: 8580 unidades

Diâmetro dos dedos: 10 mm

Secção transversal total da mesa: 150000 mm2

Secção transversal de polietileno: 146800 mm2

Secção transversal de fibra de vidro: 3200 mm2

Proporção de fibra de vidro da mesa excluindo os dedos: 9,59%

Características Físicas dos dedos

Número total de dedos: 8580 unidades

Diâmetro dos dedos: 10 mm

Secção transversal de um dedo: 78,54 mm2

Hipótese 1 (dedos em fibra de vidro)

Proporção de fibra de vidro: 60,53%

Hipótese 2 (dedos em polietileno)

Proporção de fibra de vidro: 4,78 %

Tabela 6 - Caraterísticas físicas da mesa robotizada

32

O primeiro estudo foi realizado para estimar a secção transversal mínima da mesa de

forma a suportar um paciente de 150 kg. Realizou-se o cálculo com base na fórmula

matemática Sº = F/σ, em que Sº é a secção mínima da mesa, em milímetros

quadrados, F é a força exercida pelo paciente com 150 kg de massa, que corresponde

a 1472 Newtons (N) e σ é a tensão de rotura da fibra de vidro, corresponde a um valor

de 3600 N/mm2.

Sº = F/ σ

Sº = 1472 N : 3600 N/mm2

Sº = 0,409 mm2

O cálculo da secção mínima da mesa constituída na sua totalidade em polietileno para

um paciente com os mesmos 150 kg baseia-se na fórmula matemática:

Sº = F/ σ

Sº = 1472 N : 8 N/mm2

Sº = 184 mm2

A secção transversal mínima (Sº = 0,409 mm2) é muito inferior à secção transversal da

mesa em fibra de vidro, pelo que, não haverá rutura da mesa, mesmo que esteja

sujeita ao peso de um paciente com 150 kg. Estes dados permitem-nos, também,

afirmar que a mesa robotizada está apta para suportar massas superiores a 150 kg.

Por outro lado a secção transversal mínima para o polietileno (Sº = 184 mm2) é muito

inferior à secção transversal da mesa pelo que, não haverá rutura da mesma.

Estando o primeiro critério satisfeito, vamos estimar a flexão da mesa. Para tal

considere-se um paciente de 150 kg sentado na extremidade da mesa e que esta

poderá ter um deslocamento longitudinal máximo de 1,5 m.

O deslocamento vertical que a mesa robotizada terá (flecha) quando suporta o peso

do paciente é calculado através da fórmula: Y = y * ε, em que y é o deslocamento

longitudinal, 1500 mm, ε é a deformação elástica da mesa (adimensional) e E é o

módulo de elasticidade (módulo de Young)(45) da fibra de vidro que corresponde ao

valor de 940000 N/mm2.

σº é a tensão de elasticidade da mesa, quando sujeita ao peso (força) de um paciente

com 150 kg de massa e pode estimar-se como se mostra de seguida:

σº = F/A

σº = 1472 N : 3200 mm2

σº = 0,46 N/mm2

33

A deformação elástica da mesa é, então, determinada:

ε = σº/E

ε = 0,46 N/mm2 : 940000 N/mm2

ε = 4,8936 x 10-7 N/mm2

A flexão vertical que a mesa poderá ter, é dado por:

Y = 1500 mm x 4,8936 x 10-7 N/mm2

Y = 7,3404 x 10-4 mm

Repete-se os cálculos para a mesa constituída por polietileno. O deslocamento

longitudinal que a mesa robotizada terá (flecha) quando suporta o peso do paciente é

calculado através da fórmula: Y = y * ε, em que Y é o deslocamento vertical, 1500 mm,

ε é a deformação elástica da mesa (adimensional) e E é o módulo de elasticidade

(módulo de Young) do polietileno que corresponde ao valor de 102 N/mm2.

σº é a tensão de elasticidade da mesa, quando sujeita ao peso (força) de um paciente

com 150 kg de massa.

σº = F/A

σº = 1472 N : 3200 mm2

σº = 0,46 N/mm2

ε = σº/E

ε = 0,46 N/mm2 : 102 N/mm2

ε = 4,51 x 10-3 N/mm2

Y = 1500 mm x 4,51 x 10-3 N/mm2

Y = 6,76 mm

Pelos resultados obtidos, podemos afirmar que a flexão que a mesa em fibra de vidro

terá é muito reduzida e por conseguinte, quando esta tem um deslocamento

longitudinal correspondente a 1.5 m fletirá 7,3404 x 10-4 mm, valor que pode ser

desprezado. Assim, estes dados permitem-nos afirmar que uma mesa robotizada e

com a estrutura apresentada no anexo 1 é suficientemente resistente para

corresponder às solicitações do uso diário em tratamentos de Radioterapia. Por outro

lado, se considerar-mos a mesa constituída na sua íntegra em polietileno, podemos

afirmar que a flexão que a mesa em polietileno terá é um valor a considerar e por

34

conseguinte, quando esta tem um deslocamento longitudinal correspondente a 1,5 m

fletirá 6,76 mm. Este valor deve-se às características inerentes ao polietileno que

possuí uma elevada plasticidade e a sua deformação com o tempo, pode não ser

recuperável.

Um aspeto importante é o cálculo da tensão de compressão nos dedos, uma vez que

o paciente não ocupa completamente a superfície total da mesa, quando se senta

sobre ela. Vamos convencionar que a superfície ocupada pelo paciente é de 400 x 300

mm2. Nesta superfície teremos um total de 520 dedos.

Neste estudo convencionamos que o paciente tem uma massa de 150 kg que se

distribui pelos 520 dedos da mesa, a que corresponde uma massa de 0,289 kg (2,84 N

de força) por cada um dos dedos.

A fórmula matemática para o seu cálculo da tensão de compressão dos dedos será:

σ* = F/ S*

em que S* corresponde à secção transversal dos dedos, no valor de 78,54 em

milímetros quadrados, F* corresponde à força exercida pelo paciente com 150 kg de

massa (2,84 N), em cada um dos 520 dedos e σ* corresponde à tensão exercida sobre

um dedo, que suporta uma força de 2,84 N em N/mm2.

σº = 2,84 N : 78,54 mm2

σº = 0,036 N/mm2

O valor da tensão de compressão 0,036 N/mm2 é muito inferior às tensões de

compressão de rutura da fibra de vidro (Hipótese 1) 35x107 N/mm2 e do polietileno

(Hipótese 2) 3 x107 N/mm2(45). Portanto, os dedos são tecnicamente capazes de

suportar o peso do paciente que será sujeito a tratamentos de Radioterapia.

3.4.2 – Validação virtual da mesa robotizada em condições de

tratamento

A mesa robotizada proposta tem na sua composição fibra de vidro e polietileno.

Apresentam-se duas hipóteses com percentagens diferentes de cada material. A

primeira hipótese considera a construção dos dedos autoajustáveis ao contorno

externo do doente, em fibra de vidro. A segunda hipótese é a construção dos dedos

em polietileno.

35

A proporção do material é descrito na tabela abaixo.

Proporção dos materiais

Hipótese 1 Hipótese 2

Fibra de Vidro 60,53% 4,78%

Polietileno 39,47% 95,22%

Tabela 7 - Proporção dos materiais utilizados na construção da mesa nas duas hipóteses

apresentadas.

A fibra de vidro é composta de 72% de sílica (SiO2), 0,7% de Alumina (Al2O3) e 27, 3%

de sulfato de sódio (Na2SO4). O polietileno é um polímero constituído por oxigénio e

hidrogénio. As densidades do polietileno e da fibra de vidro são respetivamente de

0,92 g/cm3 (46) e 1,80g/cm3 (47). Estas informações são importantes para a validação

virtual das duas hipóteses de mesa.

O objetivo principal do planeamento de um tratamento usado em Radioterapia é

determinar como a dose prescrita é depositada no tumor avaliando e reduzindo os

possíveis efeitos nos tecidos sãos ou OAR's adjacentes.

A validação da mesa robotizada foi realizada num sistema de cálculo independente

(não de uso clínico), recorrendo um algoritmo de cálculo de Monte Carlo com

simulação do feixe de 6 MV acelerador Trilogy® VARIAN® (Medical Systems, Palo Alto,

CA) realizado no software de simulação BEAMnrc/EGSnrc e cálculos de dose em

fantoma realizados no DOSXYZnrc(48, 49). Este sistema de simulação foi previamente

modelado e validado por Borges et al(50).

Simulou-se a irradiação de um campo de 10x10 cm2 a 100 cm de distância do foco

primário de eletrões, com a gantry posicionada com angulação de 180º para avaliar a

atenuação de diferentes tipos de mesa em função do material que a constitui. Para tal,

nas simulações coloca-se um fantoma de água para avaliação das curvas de dose

depositada na água. Estudaram-se as seguintes situações se a mesa fosse composta

por uma espessura de:

A. Água;

B. Fibra de vidro;

C. Polietileno

36

O esquema das simulações é mostrado na figura 5.

Figura 5 - Esquema das condições simuladas para avaliação de atenuação da mesa

robotizada, sob diferentes hipóteses simples de constituição.

Para além destas simulações realizaram-se também simulações mais complexas com

mistura de materiais para a constituição física da mesa. As hipóteses simuladas são

apresentadas na figura 6. Em D simulou-se uma mesa constituída por duas camadas

externas de fibra de vidro de 6 cm de espessura cada, sendo o interior da mesa

constituída por polietileno, com uma espessura de 8 cm – constituição esta a que se

chamou Sandwich A. Em E variaram-se as espessuras das camadas de fibra de vidro

para 0,5 cm e polietileno para 19 cm – Sandwich B.

20 c

m

Água

Fantoma

A

20 c

m

Fibra-Vidro

Fantoma

B

Água

20 c

m

Polietileno

Fantoma

C

Água

37

Figura 6 - Esquema das condições simuladas para avaliação da atenuação da mesa robotizada,

sob diferentes hipóteses complexas de constituição da mesa.

Os detalhes usados na simulação de Monte Carlo encontram-se no anexo II. Depois

de simuladas estas cinco situações, traçou-se um perfil de dose ao longo do fantoma,

no eixo central do feixe para efeitos de comparação das cinco situações apresentadas.

Os resultados encontram-se na figura 7.

Figura 7 - Perfil de dose no eixo central com normalização para a água.

20 c

m

Polietileno

Fantoma E Sandwich B

Água

Fibra-Vidro

Fibra-Vidro

0.5 cm

19 cm

0.5 cm

20 c

m

Polietileno

Fantoma D

Sandwich A

Água

Fibra-Vidro

Fibra-Vidro

6 cm

8 cm

6 cm

Percentagem

de dose (%)

Profundidade

em cm

38

Os resultados apresentados na figura 7 foram normalizados para a dose máxima

simulada para a situação mais simples de a mesa ser constituída por água. Atendendo

a estes resultados pode-se constatar que à profundidade de 20 cm, as hipóteses de

mesa que mais atenuam o feixe são as que tem maior quantidade de fibra de vidro

(situação B e D). Dada a incerteza das simulações não se pode afirmar com clareza

grandes variações entre as hipóteses de a mesa ser constituída por água, polietileno

ou a situação E (com maior proporção de polietileno).

39

4 – Discussão

O sucesso do tratamento utilizando as mais variáveis modalidades depende do

reposicionamento preciso e reprodutível do doente (2 – 3). O uso desadequado dos

sistemas de imobilização pode resultar em falhas na localização e irradiação do

volume alvo, aumentando o risco de recorrência local e das comorbilidades por

irradiação dos tecidos sãos adjacentes(5).

Um parâmetro importante na comparação dos dispositivos de imobilização é o conforto

do doente. No caso de utilização de máscaras, a fixação deve ser rígida o suficiente

para limitar movimentos, mas de forma a que seja tolerado pelo doente(5). O mesmo

deverá acontecer com os sistemas de apoio crânio-cervical com as almofadas de

vácuo, de modo a diminuir o erro associado ao movimento ântero-posterior(32). No

entanto, e de acordo com os autores, mais estudos serão necessários realizar para a

concretização de técnicas mais exigentes e conformacionais (10, 11). O estudo de

Ruschin et al(11) refere que o uso de o sistema de vácuo para o reposicionamento de

doentes com lesões intracranianas, embora forneça uma excelente imobilização,

apresenta ainda “pequenas” incertezas associadas ao reposicionamento da frame. Os

autores também mencionam que é necessário estudar e trabalhar na melhoria do

reposicionamento e na precisão do tratamento de cada tratamento(11). Analisou-se

também o estudo de Zhang et al(51) em que se adquirem imagens em 3D enquanto o

doente permanece imobilizado em posição de tratamento com o intuito de analisar as

incertezas nas diferentes rotações anatómicas no cancro de cabeça e pescoço.

Evidencia-se que os doentes foram planeados recorrendo a um sistema de

imobilização crânio-cervical frequentemente utilizado na maioria dos departamentos de

Radioterapia. Teoricamente, as mudanças de configurações verificadas ao longo do

tratamento tais como a diferença na posição de volume de tumor no planeamento em

contraste com o volume do tumor devem ser definidas durante as várias frações de

tratamento. Na realidade, os tecidos moles são difíceis de visualizar e podem mudar

durante o decurso do tratamento devido ao emagrecimento acentuado e alterações

das dimensões da lesão. As estruturas ósseas são geralmente utilizadas como pontos

de referência para o alinhamento dos doentes em patologia de cabeça e pescoço. É

evidente que quanto mais perto de estruturas ósseas estiver a lesão, mais fácil será

determinar as imprecisões na reprodutibilidade diária do tratamento(51 - 53).

Os fatores que contribuem para as incertezas no reposicionamento do doente nas

diversas frações de tratamento podem dever-se a três causas principais(14, 54, 55):

40

As diferenças sistemáticas entre o dispositivo de imobilização na simulação e

no tratamento;

Incertezas aleatórias no reposicionamento diário e mudanças residuais devido

a erros de execução durante o processo de correção de imagem portal ou

rotação anatómica;

Tendências causadas por variação da anatomia – diminuição do tumor e/ou

perda de peso (entre outras)(14, 54, 55).

O mesmo estudo(14) adverte que as incertezas de carácter aleatório podem ser

minimizadas com o recurso a dispositivos de imobilização mais adequados. O uso do

apoio crânio-cervical usualmente utilizado para todos os doentes pode não fornecer

um ótimo ajuste à curvatura do pescoço de cada doente. O estudo de Oita et al(56)

propõe uma monitorização apertada da posição do volume alvo, mesmo com a

utilização de uma máscara individualizada. Sugerem que técnicas de imobilização

mais rigorosas podem ser uma possível solução para a redução da incerteza no

reposicionamento diário do doente.

No caso da patologia da mama, o posicionamento em decúbito ventral ou dorsal já foi

objeto de estudo de vários grupos de investigação, considerando que a posição em

decúbito ventral é uma técnica que reduz a dose no tecido normal – coração e pulmão

ipsilateral(12 – 19). Por exemplo, doentes que necessitem de irradiação axilar, a

cobertura do PTV pela isodose de referência dos gânglios axilares pode ser menor em

comparação com o tratamento realizado em decúbito dorsal(18). Esta dificuldade pode

ser ultrapassada com a utilização de IMRT no tratamento da mama e áreas

ganglionares(15, 18). Alguns fatores que poderão influenciar o aumento do erro

sistemático em doentes posicionados em decúbito ventral poderá estar associado á

configuração do dispositivo e fatores inerentes ao doente(19). O dispositivo para tratar

os doentes com cancro da mama em posição de decúbito ventral é confortável e

portátil. O uso de um colchão de vácuo para a recolocação do braço homolateral

aumenta a reprodutibilidade, assim como a indexação do dispositivo à mesa de

tratamento. Embora o braço esteja numa posição estável, os autores mencionam que

os doentes poderiam posicionar o braço de formas diferentes ao longo do decurso do

tratamento. Um dos fatores mais comum e importante é o da obesidade dos doentes,

porque a gordura subcutânea permite tatuagens mais móveis levando a uma maior

imprecisão no posicionamento do doente(15-19). O desenvolvimento de seroma da

mama e a sua diminuição ao longo do tratamento poderá também contribuir para o

aumento de imprecisões no tratamento(19).

41

Em doentes com cancro da próstata, vários estudos tentam relacionar o movimento da

próstata com o posicionamento utilizado(20-23). Em decúbito dorsal, o movimento da

próstata é influenciado pelos movimentos respiratórios(21).

Os dados apresentados no estudo da análise dos desvios em doentes planeados com

o recurso ao colchão de vácuo, corroboram que este é um bom método de

imobilização, uma vez que o erro associado ao reposicionamento diário é aceitável.

Por outro lado, as patologias em questão podem levar a um maior movimento

involuntário por parte do doente durante o tratamento, bem como uma maior

degradação da forma do colchão. O rigor na aplicação do tratamento levou a uma

percentagem elevada de verificação diária (63,2%) e posterior correção. Este facto

levou a maior consumo de tempo útil de acelerador. Tem como limitação a dimensão

da amostra, bem como os momentos de verificação serem reduzidos.

Em técnicas de tratamento mais conformais ou em técnicas especiais, como IMRT, a

otimização do feixe de radiação permite conformar a dose no alvo clínico, e

simultaneamente, reduzir dose nos tecidos circundantes. A orientação dos campos de

tratamento pode ser conseguida por diferentes ângulos de gantry e pela rotação da

mesa de tratamento. Estas rotações permitem conformar o feixe à zona de interesse, e

faz com que o feixe possa passar através de diferentes materiais, como a mesa de

tratamento, o sistema de imobilização, apoio crânio-cervical ou outro sistema de

suporte(25 – 27). Alta absorção de feixe pode ser atribuída à atenuação provocada pela

mesa e pelos dispositivos de tratamento. Se o feixe de radiação passa através destes

materiais antes de chegar ao doente, pode provocar mudanças inaceitáveis na

distribuição de dose, que devem ser consideradas no sistema de planeamento(25).

O desenvolvimento tecnológico tem permitido melhorar a precisão no tratamento de

Radioterapia(1 – 5). Os métodos de imobilização existentes parecem não acompanhar o

desenvolvimento tecnológico(31). Moldes termoplásticos são realizados para reduzir o

movimento de doentes com patologia de cabeça e pescoço(10, 11, 51 - 53). Moldes em

poliestireno (colchões de vácuo) podem ser feitos para impressão da anatomia do

doente por vácuo(18). Inovações tecnológicas permitem a aquisição de imagem

tridimensional não invasiva. Esta técnica está disponível em outras áreas da saúde.

Exemplo disso é o estudo de desordem alimentar de Stewart et al(57), que demonstra

que a aquisição tridimensional de scanner por laser e posterior analise computorizada,

permite uma maior perceção da alteração de dimensões de certas partes do corpo

humano comparado com o mapeamento fotográfico em 2D. Esta técnica de

mapeamento do corpo humano poderá ser facilmente adaptada à área da

Radioterapia. Dispositivo de verificação do posicionamento do doente com base num

sistema que integra uma câmara e um laser é utilizado em conjunto com o registro do

42

posicionamento com imagem de TC(58). Com este agrupamento, é possível verificar

desvios com precisão de 1 mm e 1º. Atualmente está disponível o fabrico de máscaras

pelo processo de mapeamento 3D com recurso a scanner por laser. O scanner manual

é realizado por um dispositivo que comporta duas câmaras em miniatura e um gerador

laser embutido centralmente. Este calcula a posição de cada ponto da superfície por

triangulação. O doente permanece imóvel enquanto o Técnico de Radioterapia varre

manualmente a face do doente. Os dados são processados e uma imagem é gerada

simultaneamente ao processo de varrimento. A digitalização real demora normalmente

cerca de vinte segundos(58, 59).

Após a análise dos estudos mencionados apresenta-se uma hipótese de mesa

robotizada, que tem como objetivo uma personalização da mesa de tratamento. A

informação gerada é integrada no sistema de planeamento para melhor compreensão

das alterações físicas provocadas pela passagem da radiação pela mesa antes de

interagir com o doente. Para uma melhor compreensão do impacto da estrutura da

mesa robotizada, deverá ser incluído em próximos estudos a simulação das matérias

presentes nas mesas de tratamento usadas atualmente, com as características

apresentadas nesta investigação. Pensa-se que esta adaptação por parte da mesa ao

contorno externo do doente poderá representar uma mais-valia no tratamento de

Radioterapia, uma vez que poderá levar a um maior conforto e reprodutibilidade do

mesmo.

43

5 – Conclusão

Ao longo do trabalho e através da literatura consultada, consciencializamo-nos de

como nos últimos vinte anos houve uma grande evolução no tratamento de

Radioterapia em doentes com cancro. Novas técnicas de irradiação foram

desenvolvidas e aperfeiçoadas, devido à maior capacidade de localização por imagem

da zona a tratar(1 - 3). Atualmente é sentida com frequência a necessidade de novas

tecnologias de modo a acrescentar uma nova possibilidade de tratamento mais

conformal, mais rápido e mais eficaz que se traduz no aparecimento de novos

aceleradores. Denota-se, no entanto, uma displicência relativamente aos sistemas de

posicionamento e imobilização que se traduz em menor número de estudos que

abrangem esta problemática. No dia-a-dia observa-se que os doentes com limitações

severas provocadas pela doença olham para os aparelhos de tratamento como

“monstros” de grande tamanho e de alta tecnologia, mas olham para os sistemas de

imobilização e posicionamento com alguma indiferença embora sejam essenciais para

um tratamento de qualidade

A generalidade dos artigos consultados conclui que os sistemas de imobilização

utilizados em Radioterapia são ajustados à patologia e ao doente conferindo a rigidez

e a imobilização adequada. No caso da patologia de cabeça e pescoço, a utilização de

suporte crânio cervical individualizado pode resultar na diminuição de erros de

posicionamento em comparação com o suporte utilizado na maioria dos serviços de

Radioterapia(10). Verifica-se que erros inter e intra-fração, em especial no movimento

de rotação, foram reduzidos com a utilização do sistema de apoio individualizado de

cabeça e pescoço(14 – 11). A ausência de diferenças significativas entre os dois apoios

foi reportada na parte inferior do pescoço, possivelmente devido ao facto do apoio

individual não contemplar a moldagem posterior de todo o pescoço(10). A precisão no

reposicionamento diário por uso de um sistema de imobilização ajustado ao doente

pode auxiliar na redução segura das margens, podendo no entanto, ser

desconfortáveis para o doente(32).

Na segunda patologia abordada neste estudo (cancro de mama), o tratamento pode

ser realizado em decúbito dorsal ou ventral(12 – 19). A técnica em decúbito ventral é

conhecida pela diminuição da dose a nível do pulmão ipsilateral, do coração e da

mama contra lateral. Alguns estudos mencionados apontam para um erro no

reposicionamento e um maior consumo de tempo no alinhamento em que o doente

está posicionado em decúbito ventral, embora possa ser viável e bem tolerado pelos

doentes. Os erros associados ao reposicionamento do doente podem, como é referido,

44

serem maiores na posição em decúbito ventral comparado com o decúbito dorsal. Os

erros tendem a diminuir por otimização do posicionamento do doente no sistema de

imobilização, pela colocação de tatuagens em zonas do corpo que apresentem menor

variabilidade, tanto pelo treino e experiência dos Técnicos de Radioterapia na

realização da técnica, bem como pela otimização dos meios de verificação por

imagem(12 – 19). O autor constatou que devido à maior probabilidade da existência de

erro sistemático, poderá haver a necessidade de aumentar as margens de CTV-PTV

na posição em decúbito ventral. O mesmo autor refere que a IMRT pode ser uma

mais-valia na irradiação da mama e das áreas ganglionares adjacentes. Ainda

menciona no seu artigo, que esta técnica para ser implementada clinicamente, é

necessário assegurar a reprodutibilidade diária da posição do doente, nomeadamente

a níveis da posição da cabeça e do ombro. Medidas adicionais devem ser tomadas

para garantir o setup do doente com a utilização de técnicas mais conformacionais(19).

A utilização de um colchão de vácuo na região da cabeça e dos braços e de imagens

de verificação diária para a localização da região a tratar poderá diminuir a

probabilidade de variação do posicionamento, além de garantir um maior conforto para

o doente. Estudos adicionais deverão ser desenvolvidos de modo a permitir uma maior

otimização do dispositivo de decúbito ventral antes de se tornar uma opção terapêutica

padrão(16- 19 ).

Sistemas de imobilização perfeitos não existem. O colchão de vácuo apresenta-se

como uma boa alternativa em situações que careçam de uma maior adaptabilidade

não alcançada pelos sistemas de imobilização comuns. Um outro aspeto importante

relaciona-se com a maior adaptabilidade do colchão de vácuo às limitações inerentes

ao doente. No estudo que se realizou sobre os desvios em doentes planeados e

tratados com o colchão de vácuo, dentro das limitações já referidas e associando aos

estudos científicos sobre a sua utilização, podemos aceitar que é um bom método de

imobilização, embora deva-se realizar periodicamente uma verificação às condições

de vácuo e providenciar novo planeamento se se verificar degradação do colchão e a

não garantia da correta irradiação do PTV (7 – 8). A verificação deve ser feita avaliando

o estado do colchão, que consiste na observação das marcações iniciais que tem

correspondência direta com os laser, em conjunto com a programação de imagem

guiada diária e com a dose acrescida incorporada no planeamento do doente. A

amostra do estudo dos doentes tratados em colchão de vácuo foi de 19 doentes.

Pensamos que uma amostra maior e que obedeça ao protocolo eNAL(60) dedicada a

uma única patologia, poderá apresentar ou não uma maior realidade sobre a

necessidade de recorrer a imagem guiada diária.

45

Consideramos que um salto tecnológico nos sistemas de imobilização poderá

contribuir para um maior conforto do doente. O projeto apresentado de mesa

robotizado pretende dar um cunho de personalização ao contorno externo do doente a

tratar. Por outro lado, é um sistema de imobilização individual com características de

moldagem ao doente, sem perda de vácuo e sem ocupar espaço físico, em que os

materiais utilizados apresentam um custo associado à sua produção menor

comparado com o custo da utilização de mesas convencionais em fibra de carbono(31).

Este projeto leva em conta as limitações já estudas em mesas de fibra de carbono

convencionais(25 – 42). Sabe-se que existe uma atenuação significativa do feixe de

radiação que atravessa a mesa de tratamento e o dispositivo de imobilização em fibra

de carbono(25). Alguns autores referem que embora a fibra de carbono seja

radiotransparente não pode ser ignorado a existência de erros e por vezes

clinicamente significativos(27-33). A solução referida passa pela incorporação da mesa

no cálculo de dose, embora esta não seja linear devido às diferenças estruturais e de

compósitos utilizados entre a mesa de TC de planeamento e a mesa do tratamento(25).

É constatado por outro autor que devido ao diferente processo de fabrico das mesas

de tratamento e ao risco associado de reação cutânea, as propriedades dosimétricas

da mesa em fibra de carbono, devem ser cuidadosamente examinadas pelos

respetivos profissionais da equipe de Radioterapia e devem ser levadas em conta

durante o planeamento, considerando a sua influência sobre o cálculo dosimétrico(61).

A atenuação do feixe de radiação varia com a angulação de incidência, comparado

com medições em campos diretos. A dimensão da espessura da mesa robotizada

apresentada neste projeto poderá induzir a uma atenuação do feixe entre 60 a 65%.

Uma possível solução poderá passar pela diminuição da espessura da mesa. Se

considerar-mos a espessura da mesa de 10 cm, a atenuação do feixe seria

sensivelmente de 35%. Sugere-se que a atenuação da mesa seja considerada no

cálculo de dose em base individual(25). Outro aspeto a considerar é a radiação ao nível

da pele que poderá ser aumentada com o uso deste dispositivo(26-28,42). A utilização de

um misto de energias principalmente em campos posteriores ou oblíquos posteriores

poderá diminuir a dose á pele(43). Existe também um autor que no seu estudo sobre

desordens alimentares, identifica que o mapeamento informático do corpo do doente

através de laser sobrepõe-se à comparação tradicional de fotografias a 2D(57). Esta

ideia transposta para o modelo apresentado de mesa robotizada, pensamos que

permitiria diagnosticar alterações físicas do doente durante as várias sessões de

tratamento diárias, como por exemplo o emagrecimento. Uma das vantagens que este

sistema poderá ter é a possibilidade de comparação do primeiro mapeamento a 3D,

usado para a formação do negativo do doente na mesa, com um segundo

46

mapeamento do doente. As diferenças estruturais apresentadas poderão fornecer

indicações para o replaneamento dosimétrico do doente ou a continuação do

tratamento. O projeto de mesa robotizada apresentado foi pensado com o intuito de

tentar contribuir para a resolução das problemáticas referidas.

Acrescenta-se que as futuras linhas de investigação devem consistir no fabrico do

modelo apresentado, na criação de critérios de validação do modelo e testá-los em

condições reais.

47

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– 8.

53

7 – Anexo I

54

Figura 8 - Esquema de mesa de tratamento robotizada

55

7 – Anexo II

56

Parâmetros da Simulação:

Materiais:

MEDIUM=Polietileno

RHO= 9.2000E-01 g/cm3

CH2

MEDIUM=Fibra-Vidro

RHO= 1,88 g/cm3

ASYM=SI,Z=14.,A= 28.088, RHOZ(%)= 2.40000E-01

ASYM=O ,Z= 8.,A= 15.999, RHOZ (%)= 4.00200E-01

ASYM=AL,Z=13.,A= 26.982, RHOZ (%)= 2.80000E-03

ASYM=NA,Z=11.,A= 22.990, RHOZ (%)= 7.80000E-02

ASYM=S ,Z=16.,A= 32.064, RHOZ (%)= 3.90000E-02

Incerteza estatística da simulação (média) ~1.2%

Resolução:

a) De 0 a 20 cm profundidade: 0.2 x 0.2 x 0.5 cm3

b) De 20 a 25 cm: 0.2 x 0.2 x 0.2 cm3

c) De 25 a 35 cm: 0.2 x 0.2 x 0.5 cm3

d)De 35 a 55 cm: 0.2 x 0.2 x 1.0 cm3

AE = ECUT = 0.521 MeV; AP = PCUT = 0.01 MeV (cortes de energia para o

transporte de eletrões e fotões)