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Estudo de práticas de linguagem do cotidiano: uma experiência vivenciadas por alunos do curso de formação de docentes Simone Ripp Butzge (SEMEC) Rosilei Wentz (SEMEC) Sofia Neumann (UNIOESTE) Kellys Regina Rodio Saucedo (USP) Resumo: O ensino de Língua Portuguesa vem apontando diferentes desafios para professores do Ensino Médio, pois nem sempre os alunos demonstram interesse pela disciplina. Nos cursos de formação docente essa também é uma realidade que tem direcionado os professores formadores a desenvolver diferenciadas metodologias para que esse ensino se torne mais atrativo aos alunos. O presente artigo apresenta um relato de experiência desenvolvida na disciplina de Língua Portuguesa e na disciplina de Metodologia de Língua Portuguesa com alunos do Curso de Formação de Docentes, em Nível Médio do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco, de Santa HelenaPR. O principal objetivo é o de socializar o trabalho desenvolvido nas aulas das referidas disciplinas demonstrando a importância de novos recursos proporcionados aos alunos como metodologias do ensino. Após a discussão de práticas de linguagem, associadas à: gírias, internet (mídias), leitura e produção de textos, os alunos foram divididos em grupos. Cada um dos grupos trabalhou com diferentes gêneros: entrevista, receita, notícias e organizaram uma revista. Ao final do trabalho, realizado em sala de aula, percebeu-se que os alunos se apropriaram com maior facilidade dos conteúdos científicos estudados e demonstraram maior motivação ao aproximar os temas discutidos em aula com o cotidiano vivenciado. Palavras-chave: Ensino de Língua Portuguesa; Práticas de Linguagem; Formação de Professores. Resumen: La enseñanza de Lengua Portuguesa apunta diferentes desafíos para profesores de la secundaria, pues ni siempre los alumnos demuestran interés por la asignatura. En los cursos de formación docente esa también es una realidad que hace con que profesores desarrollen diferenciadas metodologías para que esa enseñanza se vuelva más atractiva a los alumnos. Este artículo presenta un relato de experiencia desarrollada en las asignaturas de Lengua Portuguesa y Metodología de Lengua Portuguesa con alumnos del Curso de Formación de Docentes, en la secundaria del Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco, de Santa Helena- PR. El principal objetivo es el de socializar el trabajo desarrollado en clases de las referidas asignaturas comprobando la importancia de nuevos recursos proporcionados a los estudiantes como metodologías de enseñanza. Tras la discusión de prácticas de lenguaje asociadas a: jergas, internet (medias), lectura y producción de textos, los alumnos fueron divididos en grupos. Cada uno de los grupos hizo el trabajo con géneros distintos: entrevista, receta, noticias y organizaron una publicación. Al final del trabajo hecho en clase, se percibió que los estudiantes se apropiaron con mayor facilidad de los contenidos científicos estudiados y demostraron mayor motivación al aproximar los temas discutidos y clase con el cotidiano vivido. Palabras-clave: Enseñanza de Lengua Portuguesa; Prácticas de lenguaje; Formación de Profesores.

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Estudo de práticas de linguagem do cotidiano: uma experiência vivenciadas por alunos

do curso de formação de docentes

Simone Ripp Butzge (SEMEC) Rosilei Wentz (SEMEC)

Sofia Neumann (UNIOESTE) Kellys Regina Rodio Saucedo (USP)

Resumo: O ensino de Língua Portuguesa vem apontando diferentes desafios para professores

do Ensino Médio, pois nem sempre os alunos demonstram interesse pela disciplina. Nos cursos

de formação docente essa também é uma realidade que tem direcionado os professores

formadores a desenvolver diferenciadas metodologias para que esse ensino se torne mais

atrativo aos alunos. O presente artigo apresenta um relato de experiência desenvolvida na

disciplina de Língua Portuguesa e na disciplina de Metodologia de Língua Portuguesa com

alunos do Curso de Formação de Docentes, em Nível Médio do Colégio Estadual Humberto

de Alencar Castelo Branco, de Santa HelenaPR. O principal objetivo é o de socializar o

trabalho desenvolvido nas aulas das referidas disciplinas demonstrando a importância de novos

recursos proporcionados aos alunos como metodologias do ensino. Após a discussão de

práticas de linguagem, associadas à: gírias, internet (mídias), leitura e produção de textos, os

alunos foram divididos em grupos. Cada um dos grupos trabalhou com diferentes gêneros:

entrevista, receita, notícias e organizaram uma revista. Ao final do trabalho, realizado em sala

de aula, percebeu-se que os alunos se apropriaram com maior facilidade dos conteúdos

científicos estudados e demonstraram maior motivação ao aproximar os temas discutidos em

aula com o cotidiano vivenciado.

Palavras-chave: Ensino de Língua Portuguesa; Práticas de Linguagem; Formação de

Professores.

Resumen: La enseñanza de Lengua Portuguesa apunta diferentes desafíos para profesores de

la secundaria, pues ni siempre los alumnos demuestran interés por la asignatura. En los cursos

de formación docente esa también es una realidad que hace con que profesores desarrollen

diferenciadas metodologías para que esa enseñanza se vuelva más atractiva a los alumnos. Este

artículo presenta un relato de experiencia desarrollada en las asignaturas de Lengua Portuguesa

y Metodología de Lengua Portuguesa con alumnos del Curso de Formación de Docentes, en

la secundaria del Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco, de Santa Helena-

PR. El principal objetivo es el de socializar el trabajo desarrollado en clases de las referidas

asignaturas comprobando la importancia de nuevos recursos proporcionados a los estudiantes

como metodologías de enseñanza. Tras la discusión de prácticas de lenguaje asociadas a:

jergas, internet (medias), lectura y producción de textos, los alumnos fueron divididos en

grupos. Cada uno de los grupos hizo el trabajo con géneros distintos: entrevista, receta, noticias

y organizaron una publicación. Al final del trabajo hecho en clase, se percibió que los

estudiantes se apropiaron con mayor facilidad de los contenidos científicos estudiados y

demostraron mayor motivación al aproximar los temas discutidos y clase con el cotidiano

vivido.

Palabras-clave: Enseñanza de Lengua Portuguesa; Prácticas de lenguaje; Formación de

Profesores.

Introdução

No ensino de língua o trabalho com os gêneros textuais é uma fonte para o

entendimento da língua como um processo de interação verbal. Os estudos mais recentes

reforçam o vínculo da linguagem como constituinte dos sujeitos e, não como um corpo

autônomo, independente dele. A linguagem ao mesmo tempo que constitui o sujeito é

(re)constituída por ele. Podemos dizer, ainda, que falar da linguagem é ter em conta a

construção contínua de mundos e de ações em cada universo específico. Sua função vai além

da transmissão de informações, mas na enunciação os sujeitos reconfiguram elementos da

realidade (ORSATTO; SANTOS; SANTOS, 2014). Entendendo que linguagem e prática se

constituem mutuamente nos questionávamos enquanto formadoras de futuros professores

sobre a nossa ação em um Curso de nível Médio de Formação Docente relacionada à prática

da leitura e a produção de textos de nossos alunos. Entre as nossas inquietações estavam: O

que ensinar? Como ensinar? E como trabalhar a língua no curso de formação, via gêneros

textuais, de modo que esse ensino fosse de tal modo abrangente para o conhecimento dos

próprios alunos, assim como, para sua futura atuação nos anos iniciais?

Avaliamos a necessidade de ir além do trabalho com os gêneros textuais em sala,

pensando uma atividade que desse ao texto condições de funcionar em sua materialidade viva,

instituída e reconhecida socialmente. Dando a oportunidade para que os alunos refletissem

sobre os elementos enunciativos e os discursos caracterizadores do desenho funcional dos

gêneros textuais. Possibilitando que a interação verbal envolvesse eles em situações reais de

comunicação: falando, lendo e escrevendo. Orientamos nossas ações embasadas em estudos

de linguagem formulados por Geraldi (1991), Bakhtin (1992), Marcuschi (2008), Koch e Elias

(2010) no que coadunam sobre a relevância em selecionar texto e gêneros de ampla divulgação

como objeto de estudo e ensino.

Sob o enfoque interacionista realizamos uma ação combinada nas disciplinas de Língua

Portuguesa e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, com alunos do 4º ano do curso de

Formação de Docentes, em Nível Médio do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo

Branco, de Santa Helena-PR. Nosso encaminhamento estava no estudo do gênero textual e do

discurso presente em gírias, receitas, entrevistas, textos disponibilizados na web, notícias

voltados a seguinte temática: padrões de beleza na sociedade contemporânea e cuidados com

a saúde. O estudo e a leitura dos gêneros na disciplina de Língua Portuguesa forneceram

elementos para o desenvolvimento de entrevistas na escola e a elaboração de uma revista sobre

o assunto pelos alunos nas aulas de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa. Essa foi

considerada uma experiência significativa para o aprendizado dos conteúdos trabalhados nas

disciplinas. Além disso, possibilitou instrumentalizar os futuros professores para atuação nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Fundamentando a prática pedagógica

O trabalho pedagógico da disciplina de Língua Portuguesa é orientado pelas Diretrizes

Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Elaborado de forma coletiva, a partir

de discussão com os “sujeitos da educação” (PARANÁ, 2008, p. 19). O documento propõe

que “[...] o currículo da Educação Básica ofereça, ao estudante, a formação necessária para o

enfrentamento com vistas à transformação da realidade social, econômica e política de seu

tempo” (PARANÁ, 2008, p. 20). Diante disso, consideramos que os conteúdos trabalhados em

sala de aula devem contribuir para que os educandos analisem e compreendam as diferentes

expressões que são empregadas no cotidiano, bem como o que está sendo veiculado pelas

Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) através da internet.

A proposta que orienta o trabalho da disciplina de Metodologia do Ensino da Língua

Portuguesa é o documento Orientações Curriculares para o curso de formação de docentes

da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio na modalidade

normal. O documento traz como proposta de trabalho da disciplina:

Discurso como prática social. Concepções teórico-metodológicas e as

tendências pedagógicas no ensino de Língua Portuguesa. Práticas de ensino:

oralidade, leitura, escrita e análise linguística. As diferentes concepções de

linguagens e metodologias para o ensino da Língua Portuguesa. Norma culta

e suas implicações para transmissão do patrimônio cultural. Concepção de

variação linguística. Gêneros discursivos. Sistema gráfico da Língua

Portuguesa. Análise e produção de material didático para o ensino da Língua

Portuguesa. Programas e documentos vigentes que orientam o ensino da

Língua Portuguesa (PARANÁ, 2014, p. 69).

Tendo como práticas discursivas das duas disciplinas: a oralidade, leitura e escrita. Essa

proposta de trabalho foi elaborada para um projeto de intervenção nas disciplinas em questão,

a partir das discussões suscitadas durante a formação continuada de professores ofertada pelo

Ministério de Educação (MEC), Pacto Nacional pelo fortalecimento do Ensino Médio durante

o ano letivo de 2014. Com o objetivo de melhorar os processos de ensino e de aprendizagem,

foram desenvolvidos no âmbito da educação formal, atividades e ferramentas pedagógicas,

bem como diferenciadas metodologias através de atividades presenciais e a distância.

Destacamos que a formação continuada de professores passou a ser considerada de grande

importância, pois oportuniza a formação de profissionais capacitados para o exercício da

docência. Segundo MEC:

O Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio foi regulamentado

pela Portaria Ministerial Nº 1.140, de 22 de novembro de 2013. Através dele, o Ministério da Educação e as secretarias estaduais e distrital de educação

assumem o compromisso pela valorização da formação continuada dos professores e coordenadores pedagógicos que atual no ensino médio público,

nas áreas rurais e urbanas. (BRASIL, s. d., s. p.).

Durante o processo de formação, os educadores buscaram desenvolver diferenciadas

metodologias para trabalhar os conteúdos em sala de aula. Entre as propostas que surgiram, as

professoras das disciplinas de Língua Portuguesa e Metodologia de Língua Portuguesa que

abordaram o ensino dos conteúdos de práticas de linguagem, associadas à: gírias, internet

(mídias), leitura e produção de textos em forma de uma proposta multidisciplinar. Ambas

trabalharam com diferentes gêneros: entrevista, receita, notícias como trabalho, e organizaram

uma revista como resultado final, possibilitando aos alunos do 4º ano do curso de Formação

de Docentes, vivenciarem atividades que podem contribuir com a sua formação, bem como ser

empregadas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para o qual buscam a formação inicial

para a docência nesse nível de ensino. Bakhtin (1992) afirma que “[...] todos os diversos

campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem” (p. 261). Assim, entendemos

que as diferentes linguagens apresentadas de maneira interdisciplinar podem formar indivíduos

preparados para compreender a realidade, transformá-la por meio do conhecimento e assegurar

seu direito à aprendizagem.

Enquanto sujeitos, através da língua falada e escrita, socializamos informações e

conhecimentos enunciados por gêneros discursivos. Segundo Marcuschi, “[...] é impossível

não se comunicar verbalmente por algum gênero, assim como é impossível não se comunicar

verbalmente por algum texto.” (MARCUSCHI, 2008, p. 154). Nesse aspecto, destacamos a

importância desse estudo e acreditamos que o trabalho com gêneros textuais desenvolverá um

leitor capaz de analisar de forma crítica e independente as informações veiculadas pelos

diferentes meios de comunicação.

Destacamos que associação de linguagem nos gêneros gíria, notícias, entrevistas e

textos disponíveis na internet (mídias) e a leitura, o estudo do discurso e produção de textos,

objetos do projeto desenvolvido pelas professoras, estão relacionados ao objetivo a que se

propunham, pois faziam parte do conteúdo das respectivas disciplinas e estão presentes nas

interações do cotidiano dos educandos. Segundo Souza e Costa-Hübbes (2010), [...] “nossa

escolha vai depender das necessidades de interação, determinadas pelo contexto social

(imediato e mais amplo) que definirá o que dizer/escrever, como, para quem, quando, onde,

em que suporte, para qual veículo etc” (p. 10).

Ressaltamos que os gêneros escolhidos são os que melhor representam o trabalho a ser

realizado em sala de aula, pois fazem parte do cotidiano dos educandos e consideramos que

sejam de fácil compreensão. Ainda segundo as autoras que buscam a contribuição de Bakhtin

(1997) esses textos são classificados segundo a elaboração dos mesmos, “[...] os gêneros

discursivos em gêneros primários, quando são elaborados espontaneamente, a exemplo o

diálogo cotidiano; e gêneros secundários, quando mais complexos, assim como o romance”

(SOUZA, COSTA-HÜBBES, 2010, p. 4). Segundo essa análise, podem ser considerados como

pertencentes ao primeiro grupo.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa se referem a

importância do trabalho de oralidade a ser realizado pelo professor em sala de aula e a partir

dessa prática identificar os gêneros presentes na oratória. O professor de Língua Portuguesa

deve propiciar aos educandos a narração de fatos (reais ou imaginários) e dessa forma:

[...] o professor poderá abordar a estrutura da narrativa, refletir sobre o uso

de gírias e repetições, explorar os conectivos usados na narração, que apesar

de serem marcadores orais, precisam estar adequados ao grau de

formalidade/informalidade dos textos, entre outros pontos (PARANÁ, 2008,

p. 67).

A partir dessa prática o professor pode levar o educando a refletir que nos diferentes

contextos sociais se exigem diferentes linguagens. Com superiores devemos empregar uma

linguagem formal, com familiares ou amigos podemos usar uma linguagem cotidiana,

descontraída, ou informal.

A leitura como atividade que permeia todo o trabalho pedagógico precisa ser

estimulada pelo educador nos diferentes gêneros que se constitui. “A qualificação e a

capacitação contínua dos leitores ao longo das séries escolares colocam-se como uma garantia

de acesso ao saber sistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornar

disponíveis aos estudantes” (SILVA, 2002, p. 07). O autor destaca a importância da leitura

para a apropriação do conhecimento sistematizado durante todo o processo de escolarização.

O trabalho de produção de texto, nem sempre atrativa aos alunos, desenvolve a

autonomia dos educandos, conforme aponta o documento orientador da proposta de ensino da

disciplina.

Durante a produção de texto, o estudante aumenta seu universo referencial e aprimora sua competência de escrita, apreende as exigências dessa manifestação linguística e o seu sistema de organização próprio. Ao analisar seu texto conforme as intenções e as condições de sua produção, o aluno

adquire a necessária autonomia para avaliá-lo (PARANÁ, 2008, p. 71).

A escrita é uma construção humana e dessa forma, para que se possa fazer uso da mesma, é

preciso que ela seja apropriada. Atualmente, através das redes sociais, as pessoas se

comunicam através do WhatsApp e outras formas de interação que e dessa forma, escrevem e

se comunicam diariamente, mas nem todos se dão conta da escrita. Nesse sentido, os

educadores devem ressaltar a importância do processo de escrita em todos os níveis do

processo de escolarização dos educandos.

A prática pedagógica desenvolvida

O estudo realizado com as alunas da 4°série de Formação Docentes em 2015, teve como

base a proposta de atividade do SISMÉDIO. A proposta de trabalho elaborada pelas

professoras durante o período de formação continuada buscou abordar os conteúdos sobre:

gírias, internet (mídias), leitura e produção de textos. Decidimos realizar essa atividade em

sala de aula com as alunas que ao final do trabalho, produziram uma revista. Num primeiro

momento, trabalhamos as práticas de linguagem, abordando os conteúdos escolhidos para essa

proposta interdisciplinar, tratando de: gírias, internet (mídias), leitura e concluímos o trabalho

com a produção de textos, realizada através de diferentes gêneros textuais, como: a entrevista,

receita e notícias.

1. Gírias

As línguas, dentre elas a Língua Portuguesa, são “vivas”, ou seja, estão em constante

mudança produzida por seus falantes, que por necessidade e criatividade, transformam

palavras já existentes e criam novas expressões, que vão sendo incorporadas ao vocabulário.

As gírias são formas de variações linguísticas, que são objeto de ensino da Língua Portuguesa,

que por sua vez busca criar condições para que o aluno desenvolva sua competência discursiva,

adequando o texto a diversas situações e interlocutores. As variações linguísticas estão

presentes principalmente no universo “jovem”, o que justifica o trabalho com gírias em sala

de aula, pois é conteúdo a ser trabalhado na disciplina.

Na proposta de trabalho elaborada pelas professoras o primeiro passo foi conversar com

as alunas sobre o que entendiam por gíria, se usavam a gíria no seu dia a dia e se gostavam de

usar gírias em seus discursos. A maioria falou que não tem como fugir de termos que aparecem

regularmente, comentaram que sempre surgem novas gírias, quando aprendem e começam

usar um termo, já surge outro. Destacaram que é preciso estar por dentro dos termos que

surgem, pois demonstra que estão “antenadas”, são modernas e estão “ligadas”. Após,

trabalhou-se o conceito de gíria e as alunas listaram algumas gírias que conheciam,

socializando com as colegas. Depois de refletir sobre o uso da gíria no discurso cotidiano, leu-

se um texto, feito a leitura e as gírias substituídas por outros termos aceitos pela gramática

normativa.

Todo o trabalho teve como objetivo entender que o discurso deve ser adequado

conforme o público e gênero textual. A gíria é permitida principalmente no universo literário,

em uma crônica, piada, música, entre outros. Mas não é aceita em textos formais, como no

caso da revista que as alunas estavam produzindo. A gíria pode estar presente em algum gênero

que a revista apresenta, como: Relato de experiência vivida, diálogo ou mesmo uma piada.

Mas não na apresentação das chamadas, páginas.

2. Internet (mídias)

A evolução da tecnologia tem contribuído com a melhoria da qualidade de vida em

diversos setores, além de trazer novas exigências ao mercado de trabalho e na educação.

Busca-se um trabalhador que seja capaz de utilizar-se dos diferentes recursos tecnológicos

presentes na sociedade. No campo educacional, as tecnologias cada vez mais a disposição dos

educandos se configuram como um recurso atrativo a crianças, jovens e adolescentes expostos

a esses recursos a maior parte do tempo.

Em se tratando de educação, a internet vem contribuir com o trabalho do professor,

pois a facilidade de acesso a modernos sites de pesquisa, comunicação, interações e o Registro

de Classe On-line (RCO) que vem facilitar o registro da ação pedagógica do professor e

consequente acesso da informação das atividades pedagógicas desenvolvidas em sala de aula

pela equipe pedagógica das escolas.

Além disso, destacamos que os recursos disponíveis na internet podem contribuir com

o trabalho de pesquisa dos educandos, destacamos nesse trabalho, o estudo dos gêneros que

circulam nessa esfera, contribuindo com o trabalho de pesquisa escolar de forma segura, pois

alguns ambientes são confiáveis.

Inicialmente, destacamos a importância das modernas mídias e que estas podem

contribuir com a construção do conhecimento. Porém o professor deve estar atento as

interações que ocorrem durante esse processo, pois os educandos podem perder tempo e

acessar outros sites que nada contribuem com a prática pedagógica proposta.

Iniciou-se a atividade com a leitura do artigo “A internet como fonte de pesquisa”

(SILVA, 2012), disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-internet-como-fonte-

depesquisa/86161/>, que faz uma análise da importância de se buscar uma boa fonte de

pesquisa. Na sequência, realizou-se uma atividade de pesquisa em

sites como o Portal <http://www.diaadia.pr.gov.br/> que disponibiliza uma série de

atividades e conteúdos das diferentes disciplinas da Educação Básica. Outro espaço visitado

pelos educandos, foi o site <https://scholar.google.com.br/> que oferece ferramentas para

pesquisar artigos dos mais diversos assuntos. O <http://www.scielo.br/?lng=pt> se apresenta

como uma biblioteca eletrônica onde se encontram disponíveis periódicos científicos sobre

diversos assuntos. O <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html> apoia o processo de

formação do professor. O site

<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000016800.PDF> apresenta um

plano de aula sobre a Gíria, prática de linguagem que faz parte desta proposta de estudo.

Diante desse trabalho de pesquisa e análise realizada no ambiente virtual, as educandas

puderam perceber que a internet oferece diversas possibilidades de pesquisa, porém é preciso

que se busque fontes seguras de pesquisa.

3. Leitura e produção de textos:

Essa abordagem foi realizada em duas etapas, a primeira delas leitura e análise,

tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da área de Linguagens e de

disciplinas de outras áreas. Os estudantes tiveram o contato com os mais variados gêneros

textuais e suas aplicabilidades e características. A partir das leituras realizadas, puderam

compreender o nível das linhas, entrelinhas e além das linhas.

Entre essas atividades, uma delas foi analisar como as revistas femininas têm explorado

o padrão de boa forma e beleza em seus conteúdos. As revistas analisadas foram, Marie Claire,

Boa Forma, Claudia, Capricho, entre outras, escolhidas intencionalmente, considerando que

as mesmas “fazem a cabeça dos jovens” em relação à satisfação corporal. As alunas foram

desafiadas a analisar diversas perspectivas, passando pelo conteúdo, identificação dos gêneros

textuais predominantes, os efeitos de sentidos procurados, o uso das imagens, o desenho,

organização.

O trabalho iniciou com o questionamento em relação à satisfação corporal das alunas,

haja visto, os padrões corporais impostos pela sociedade. Nesse momento a maioria das alunas

mostraram-se insatisfeitas em relação ao seu corpo, todas gostariam de se parecer com as

modelos que a mídia expõe.

Após, as alunas manusearam as revistas ditas “femininas”. Essas revistas foram

recebidas com muito entusiasmo por todas. Num primeiro momento, olharam as revistas sem

compromisso algum. Posteriormente o trabalho foi identificar a quantidade de propagandas

existente na revista e se os produtos vendidos eram possíveis de serem comprados, se caberiam

nos seus orçamentos, pois eram todos produtos de valor altíssimo. Durante a aula, a professora

falou sobre a sociedade de consumo, padrões de beleza estabelecidos e grau de satisfação

pessoal com a própria imagem.

O trabalho produziu algumas conclusões interessantes, como: o padrão de beleza ditado

pela sociedade, a questão da maioria das modelos serem loiras, magras e altas; os produtos

oferecidos serem de alto valor aquisitivo; as receitas culinárias possuírem produtos muitas

vezes incomuns na mesa da maioria da população; as dicas de beleza utilizarem produtos

importados e caros. Esses fatores fizeram com que as alunas percebessem de forma crítica,

através da análise do discurso que essas revistas acabavam elevando o grau de insatisfação

delas em relação à própria imagem e também em relação à questão financeira. Perceberam que

buscavam algo difícil de atingir ou mesmo impossível. Depois de muita discussão e reflexão,

a professora propôs a elaboração de alguns gêneros textuais presentes em uma revista que se

aproximasse da realidade das alunas, com produtos acessíveis e com pessoas reais.

Dividiu-se a turma em 5 (cinco) grupos, cada grupo ficou com um gênero textual

presente nas revistas analisadas: entrevista, receitas (culinária e beleza), relato de experiência

vivida, dicas de moda e produção de paródias empregando gíria. O próximo passo foi estudar

a estrutura composicional de cada gênero textual, e observar o conteúdo presente, que deveria

ser relacionado com a saúde e a economia. As alunas desenvolveram as pesquisas sempre

levando em conta o fator saúde, fazendo entrevistas com profissionais da própria escola;

optando por receitas saudáveis e que coubessem no orçamento da maioria. Entre os trabalhos

produzidos pelas alunas, as melhores produções de cada gênero foram escolhidas para compor

a Revista das Normalistas.

Para ilustrar, destacamos algumas das produções realizadas pelas alunas na organização

da Revista das Normalistas. Entre elas apresentamos a paródia da música ..... com gíria, escrita

pelas alunas número 04, 09 ,10 e 16.

Quadro 1 – Gíria

Amiga da minha irmã

(Michel Teló)

Oxé, quando o sinal toca Ainda tem três provas para estudar

Todos se espremem na porta Tanto trabalho pra eu terminar

E a professora passando um trabalho Já não sei o que fazer, mas vou fica de boa

Para o final de semana inteiro Tô vendo que hoje eu vou madrugar

Trabalhos acumulados E daí que tem prova amanhã

Se não passar eu fico vacilado O professor vou trolar

Mano são tantas coisas para fazer E agora vou cochilar, cochilar Que

já começou a bater o tal desespero E daí que tem prova amanhã

Não quero sem saber vou pra esbórnia.

Fonte: Revista das Normalistas.

Outro trabalho que merece destaque foi à receita culinária especialmente elaborada para

a revista foi a produção das alunas 02, 15 e 17.

Quadro 2 - Receita culinária

Bolo de Laranja Diet Ingredientes: - 1 laranja pera com casca e sem sementes; - 2 xícaras (chá) de farinha de trigo;

- 1 xícara (chá) de óleo; - 1 xícara (chá) de multi adoçante; - 1 colher (sopa) de fermento em pó; - 4 ovos. Modo de Preparo: Bater no liquidificador a laranja, o óleo, os ovos e o multi adoçante até espumar bem. Despejar em uma

vasilha, adicionar a farinha previamente peneirada, e o fermento também previamente peneirado, mexendo

até homogeneizar a massa. Despejar em forma untada com margarina e farinha ou em formas de papel do

tipo bolo inglês. Assar em forno preaquecido a temperatura de 180ºC até dourar. Benefícios da laranja péra: A laranja pera é muita doce, suculenta e menos ácida, podendo ser consumida por pessoas de todas as idades,

inclusive bebês. Além da vitamina C, a laranja pera é rica em sais minerais como o cálcio, potássio, sódio e

fósforo e vitaminas do complexo B. Segundo especialistas, o consumo de duas laranjas por dia é suficiente

para garantir a quantidade diária de vitamina C de que o organismo necessita. A laranja pera é uma fruta

pouco calórica e, por suas propriedades antioxidantes, o seu consumo é importante para reforçar as defesas

do organismo, assim como para o controle da pressão sanguínea, combate ao colesterol ruim, e melhora o

funcionamento do sistema digestivo, estimula funções intestinais

e previne gripes e infecções. Benefícios do uso de adoçantes: A maioria dos adoçantes de baixa e sem calorias é centenas de vezes mais doce que o açúcar de

mesa. Adoçantes de baixa e sem calorias não contribuem para as cáries dentárias. Adoçantes de baixa

e sem calorias não afetam a glicose sanguínea nem a resposta da insulina. Adoçantes de baixa e sem

calorias ajudam a melhorar o sabor de dietas de calorias reduzidas, o que pode ajudar no

cumprimento e na manutenção do peso a longo prazo.

Fonte: Revista das Normalistas

Registramos também o relato de experiências realizado pelas alunas 01, 05, 07 e 13

realizado com uma educadora da instituição de ensino.

Quadro 3 – Relato de Experiência de vida

Ao encontro do peso ideal

No dia quatro de setembro de dois mil e quinze estivemos com a professora A para realizarmos um

relato de experiência que ela vivenciou, onde ela relatou uma situação presenciada rotineiramente

em nossa sociedade, a busca pelo dito “corpo ideal”. Onde homens e mulheres sacrificam seu bem

estar, para alcançarem a autoestima tão cobiçada. Segundo a professora ela enfrentou desde pequena o controle alimentício, por um período sua rotina

alimentar sofreu mudanças drásticas que desencadearam um processo de emagrecimento no qual ela

carrega consequências até hoje. A professora relata: Na minha infância meu pai sempre privou a mim e minhas irmãs de alguns alimentos, ele que havia

vivido no rígido regime do exército, tinha muito cuidado com a boa alimentação e nos cobrava um comportamento regrado diante da comida. Esses hábitos eu segui até o meu casamento, pois meu

marido e sua família tinham hábitos alimentares bem diferentes, o que inevitavelmente me fez

abandonar meus costumes passados.

Com esse hábito alimentar passei a engordar e cada vez comendo mais. Os filhos vieram e a

dificuldade de emagrecer só aumentava. Chegou um momento que resolvi emagrecer de qualquer forma, independente das consequências que isso poderia acarretar. Fui ao médico e ele me receitou um medicamento que eu tomava e perdia

totalmente a fome, pois ele reduzia expressivamente a ansiedade. Emagreci, mas esse esforço me gerou grandes problemas, sacrifício que não recomendo a ninguém, por que me gerou grandes

complicações a saúde, tenho depressão até hoje, não durmo, durante o período de tratamento perdi o desejo sexual, perdi o cabelo e os cabelos brancos vieram mais cedo, sem falar que quando

terminei de tomá-los voltei a engordar. Passei por um tratamento cirúrgico seis anos após a terminar de tomar os medicamentos,

procedimento este, que não me arrependo. Depois de tudo que passei aprendi a valorizar a minha saúde. Emagrecer sim, mas de forma

saudável, corro todos os dias, e hoje ainda sofro com sequelas desses medicamentos.

Fonte: Revista das Normalistas.

As alunas 03, 06 e 08, realizaram uma entrevista com um profissional de Educação

Física, tratando de um assunto importante para a nossa qualidade de vida.

Quadro 4 - Entrevista

Qual seu ponto de vista em relação às pessoas que praticam atividades físicas em busca de

corpo sarado e não pela saúde? Isso é um modismo, mas o importante e fazer algum tipo de atividade física independentemente para

qual fim. Também é muito difícil dissociar a atividade física para saúde ou corpo sarado, um está

ligado ao outro, a diferença é que não podemos virar escravos dos exercícios e nem submeter a algum

modismo que existe por ai; ingerir substâncias nocivas ao organismo, mas que molduram o corpo. O

ideal e sempre procurar um profissional de educação física e uma academia regulamentada. Para as

duas propostas mencionadas precisamos fazer sacrifícios, mas sempre levando em conta o melhor

para sua saúde. Antes de iniciar atividades físicas faça exames médicos.

Fonte: Revista das Normalistas.

Ao final de todo o trabalho realizado, concluiu-se que cada biotipo tem sua beleza; que saúde

é fundamental; e que é possível estar de bem consigo mesma sem incorrer no consumismo

exacerbado.

À guisa de conclusão

Apoiadas nos resultados produzidos e analisados neste relato de experiência (re)

afirmamos a importância do texto no ensino de língua atrelado a interação verbal. A todo

tempo consideramos a palavra como unidade de significado e o texto como unidade de sentido

e de comunicação. E, sem deixar de lado as orientações contidas nos PCNs, optamos por

variados gêneros textuais com a finalidade de promover atos comunicativos que fossem

incorporados por nossos alunos nos diferentes níveis de aprendizagem. Ao selecionarmos os

textos com os alunos, estes formam estimulados a desenvolver suas habilidades de leitura e de

produção textual.

Em suma, entendemos que o trabalho desenvolvido nas aulas de Língua Portuguesa e

Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa resultou em um maior envolvimento e interesse

dos alunos pelo trabalho em sala de aula a partir dos gêneros textuais e dos discursos por eles

veiculado. Após as reflexões sobre os gêneros textuais e a produção de novos textos pelos

alunos para composição da revista notamos um maior alcance em relação aos objetivos

traçados para essa ação.

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