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Estudo de mercado das sementes e produtos biológicos em Portugal Isabel Dinis, Emanuel Ferreira e Pedro Moreira Coimbra, novembro de 2016

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Estudo de mercado das sementes e produtos biológicos em Portugal

Isabel Dinis, Emanuel Ferreira e Pedro Moreira

Coimbra, novembro de 2016

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Índice 1. Enquadramento ...................................................................................................................... 2

2. Caracterização genérica do mercado de sementes biológicas em Portugal ........................... 4

2.1. Sementes obtidas em modo de produção biológico ...................................................... 4

2.2. Sementes não provenientes de produção biológica ....................................................... 8

2.3. Sementes de Variedades Tradicionais e Catálogo Nacional de Variedades 2016 ....... 12

3. Caracterização genérica da oferta de produtos biológicas em Portugal .............................. 14

4. Principais vias de escoamento da produção biológica ......................................................... 16

5. Consumo de produtos hortícolas em Portugal ..................................................................... 19

6. Potencialidade de crescimento do consumo de produtos hortícolas e frutícolas biológicos em Portugal .......................................................................................................................... 21

7. Estratégias de organização dos produtores para a retenção do valor acrescentado da agricultura biológica ao nível da produção.......................................................................... 23

Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 30

ANEXOS..................................................................................................................................... 31

Anexo I – Listagem de variedades com sementes inscritas na Base de Dados da Semente Biológica ............................................................................................................................. 32

Anexo II – Contactos de produtores acondicionadores, fornecedores e entidades certificadoras de sementes biológicas ........................................................................................................ 39

Anexo III – Lista de variedades para as quais foi concedida autorização de utilização de sementes/propágulos não biológicos ................................................................................. 41

Anexo IV - Listagem de estabelecimentos comerciais onde se comercializam frutas e hortícolas biológicas ......................................................................................................... 106

Anexo V – Lista de variedades tradicionais portuguesas de hortícolas .................................... 110

Anexo VI- Variedades Tradicionais do CNV 2016 por ano de inscrição ................................. 120

Anexo VII- Lista do Catálogo Nacional de Variedades 2016 ................................................... 123

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1. Enquadramento

Nos últimos 30 anos, o consumo de produtos biológicos a nível mundial tem vindo a

aumentar de forma sustentada, passando de um valor quase insignificante para 80mil

milhões de dólares em 2014 (Sahota, 2016). No caso da Europa, diversas fontes

estatísticas mostram que o interesse por parte dos consumidores por produtos biológicos

tem também vindo a aumentar de forma consistente em quase todos os países nas duas

últimas décadas, embora nos últimos dez anos se observem tendências diferentes

consoante os países e o impacto que neles teve a crise financeira. Enquanto em países

como a Alemanha, França, Holanda e Finlândia, se tem mantido um crescimento

significativo, na maioria dos restantes tem havido estagnação ou mesmo decréscimo. As

vendas de produtos biológicos verificam-se sobretudo no Norte da Europa, enquanto os

países do Sul, tais como Espanha, Portugal e Grécia, são sobretudo produtores e

exportadores (Willer e Schaak, 2016).

Os principais produtos biológicos transacionados no mercado europeu são as frutas e os

legumes que representam, na maioria dos países, quotas de mercado entre 1/5 e 1/3 dos

mercados de produtos biológicos nacionais. O leite e os produtos lácteos têm também

uma importância significativa, em particular nos países do norte da Europa. Outros

produtos relevantes no mercado europeu de produtos biológicos são as bebidas, os

produtos de panificação e os ovos (Willer e Schaak, 2016).

Os países europeus com maior consumo anual per capita de produtos biológicos eram,

em 2014, a Suíça, o Luxemburgo e a Dinamarca com, respetivamente, 221 €, 164 € e

162 €. Em Portugal, este valor era bastante mais baixo, estimando-se em 2€. Na

Dinamarca, Áustria e Suíça, a quota dos produtos biológicos no mercado retalhista,

ultrapassava já os 6% em 2014, enquanto em Portugal se ficava pelos 0,2%

(Crisóstomo, 2014).

O desenvolvimento do mercado português de produtos biológicos encontra-se ainda

numa fase inicial, embora o crescimento acentuado do número de lojas especializadas e

de pequenos mercados de produtores biológicos, bem como a crescente presença destes

produtos nas prateleiras da grande distribuição, revele uma tendência de crescimento da

procura (Crisóstomo, 2014). Quanto à oferta, a área cultivada em modo de produção

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biológico mostra um crescimento acentuado que foi superior a 120% entre os anos de

2002 e 2011. No entanto, a maior parte da área é constituída por pastagens naturais,

tendo a produção de produtos frescos, como as hortícolas, uma expressão bastante

reduzida. A dificuldade, por parte dos agricultores, em comercializar os seus produtos a

preços justos e beneficiarem da diferença que os consumidores estão dispostos a pagar

por produtos agrícolas biológicos, constitui um obstáculo ao desenvolvimento deste tipo

de produção.

Outra das oportunidades da agricultura portuguesa em geral, e da agricultura biológica

em particular, relaciona-se com a produção e abastecimento de sementes. Em 2013 o

comércio de sementes e plantas representou 129,4 milhões de euros, correspondendo a

1,9% do PIB agrícola português, tendo-se verificado um desequilíbrio na balança

comercial de sementes com 8,43 milhões de euros de exportações e 84,91 milhões de

euros de importações. Este desequilíbrio é ainda maior no caso das hortícolas, com

exportações de 932 462 euros e importações de 30,75 vezes mais. O registo de sementes

em agricultura biológica em Portugal é praticamente inexistente, e muitas das sementes

atualmente utilizadas são importadas de locais com características edafoclimáticas

distintas das nossas condições. Outra parte das sementes são obtidas via derrogações.

Embora legislado pela regulação europeia (EC 889/2008) a utilização de sementes

biológicas e a sua disponibilidade é muitas vezes limitada devido ao parco investimento

na cadeia de sementes biológicas e sua produção (Doring et al., 2012).

O objetivo deste trabalho consiste em caracterizar o mercado português de produtos

biológicos, incluindo o mercado de sementes e propágulos, em particular de produtos

hortícolas, e em identificar formas de organização dos produtores que promovam a

divulgação e facilitem o acesso dos consumidores a este tipo de produtos, promovendo

a retenção de maior valor acrescentado ao nível da produção. A metodologia usada para

o efeito foi a pesquisa documental, assente sobretudo em dados estatísticos oficiais,

bibliografia institucional e pesquisa na internet. Começa-se por uma caracterização do

mercado de sementes usadas em modo de produção biológica, com referência não só

àquelas que são obtidas em modo de produção biológico mas também àquelas que, não

sendo obtidas em agricultura biológica, são usadas pelos agricultores em resultado das

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limitações do mercado das primeiras. Segue-se uma apresentação do mercado de

produtos biológicos, com alusão às principais características e evolução da oferta

primária e da oferta aos consumidores finais. Com base nos indicadores recolhidos e por

extrapolação das tendências, procura-se de seguida fazer uma previsão da evolução do

consumo de hortícolas e frutas biológicas nos próximos anos. Finalmente, usando como

inspiração casos de sucesso noutros países da Europa, principalmente do Sul, sugerem-

se modelos de distribuição que possam aumentar a sustentabilidade económica das

explorações que produzem frutas e hortícolas biológicas em Portugal.

2. Caracterização genérica do mercado de sementes biológicas em Portugal

2.1. Sementes obtidas em modo de produção biológico

Neste ponto do estudo analisa-se o mercado de semente biológica usando como

principal fonte de informação a Base de Dados de Semente Biológica (BDSB) da

Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), a qual disponibiliza

informação relativa a diversos itens que permitem caracterizar com algum pormenor o

setor das sementes de agricultura biológica em Portugal (Figura 1). Neste estudo será

dado especial destaque às espécies e variedades registadas, à sua origem geográfica e à

região para a qual são recomendadas, bem como aos produtores e fornecedores

(distribuidores) que operam em Portugal. Esta base de dados foi constituída como

resultado da aplicação do Regulamento (CE) n.º 889/2008, da Comissão, de 5 de

Setembro de 2008, que estabelece as normas de execução do Regulamento (CE) n.º

834/2007, no que respeita ao modo de produção biológica, à rotulagem e ao controlo.

O registo das variedades para as quais existem sementes ou batata de semente

produzidas segundo o método de produção biológica é efetuado pelos fornecedores,

cabendo à DGADR a validação desses registos, mediante a verificação da satisfação de

um conjunto de condições, entre as quais a inspeção por um Organismo de Controlo

reconhecido (DGADR, 2010). Os agricultores certificados que pretendam utilizar

sementes não provenientes de Agricultura Biológica necessitam de uma autorização de

utilização concedida pelos Organismos de Controlo. Esta autorização só pode ser

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concedida, se devidamente justificada, a operadores individuais e apenas por uma época

de produção de cada vez, como adiante se verá.

A inscrição de sementes na base de dados teve início em 2010 com o registo de 72

variedades. Este número foi aumentando lentamente, estando atualmente inscritas 100

variedades (Tabela 1).

Figura 1 – Informação disponibilizada pela Base de Dados de Semente Biológica

Tabela 1 – Evolução do número de variedades inscritas na BDSB

Ano Nº Variedades 2010 72 2012 73 2013 92 2014 101 2015 100

Fonte: DGADR

Das 100 variedades registadas, 79 estavam disponíveis no mercado e 21 indisponíveis à

data da consulta da base de dados. Na tabela 2 apresenta-se o número de variedades por

Semente Agricultura Biológica

Variedade

Espécie nome

cientifico

Espécie nome

comum

Disponibilidade

Categoria

Zona

Data

Produtor

Acondicionador

Código

Organismo de

Certificação

Região

Recomendada

Região da

Variedade

Fornecedor

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cada uma das 35 espécies presentes na base de dados. Observa-se que mais de 20% dos

registos dizem respeito a batata de semente. Com uma importância também significativa

seguem-se as variedades de couve e alface e, embora com menos expressão, as

variedades de cebola, espinafre, beringela, chicória e cenoura. As restantes espécies que

constam da base de dados contam com o registo de apenas 1 ou 2 variedades. Uma

listagem mais completa com a designação e outras características de todas elas é

apresentada no Anexo I.

A análise dos dados disponíveis permite ainda concluir que, em Portugal, no sector das

sementes em Modo de Produção Biológico (MPB), estão registadas sementes de 8

produtores acondicionadores1, os quais têm pesos relativos muito distintos no que

concerne ao número de variedades registadas (Tabela 3 e Figura 2). De facto, os três

maiores produtores (Somers, Bejo e Europlant) representam mais de 80% das

variedades registadas.

Tabela 2 – Número de variedades registadas em MPB Espécie (Nome comum) Número de Variedades Batata 20 Couves 14 Alface 10 Cebola 4 Espinafre 4 Cenoura 4 Beterraba 4 Chicória 4 Outras 36 Total 100 Fonte: DGADR

1Segundo o disposto no decreto de Lei nº 88/2010 de 20 de Julho, um produtor de sementes é uma

entidade que procede diretamente ou sob a sua responsabilidade, com recurso a agricultores

multiplicadores, à produção de semente. Um acondicionador é uma entidade que, dispondo dos meios

adequados, procede às operações de beneficiação, fracionamento, mistura e embalagem de sementes, quer

por incumbência de produtores de sementes quer por sua própria iniciativa.

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Ao nível da distribuição podem identificar-se cinco entidades fornecedoras de semente

biológica, todas elas estrangeiras, com filiais a atuar em Portugal (Tabela 4 e Figura 3).

O principal fornecedor de sementes, a Germisem, trabalha com os produtores

acondicionadores Germisem, Blik e Somers, comercializando 52 variedades de

sementes ou seja 51% das variedades presentes na base de dados. Os contactos destes

produtores e fornecedores constam do Anexo II.

Relativamente à adequação das sementes registadas em Portugal às condições edafo-

climáticas do país, constata-se que, na maioria dos casos (51%), não é conhecida a

região recomendada para as sementes de agricultura biológica registadas em Portugal.

Fonte: DGADR

Fonte: DGADR

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Quando essa informação está disponível, verifica-se que as principais regiões de

utilização recomendada são a Holanda e Portugal, não estando a maioria dessas

variedades diponiveis.

Do total de variedades registadas na Base de Dados, apenas 13 são recomendadas para

cultivo em Portugal (Tabela 5). Todas elas dizem respeito a batata de semente e

nenhuma estava disponível no mercado na data de consulta da base de dados.

Tabela 5 – Distribuição do número de variedades por regiões de utilização recomendada Região Recomendada Variedades Não Disponível 52 Holanda 26 Portugal 13 Itália 5 Alemanha 3 Espanha 1 Total 100 Fonte: DGADR

Informações detalhadas sobre a disponibilidade das sementes inscritas, os produtores

acondicionadores e fornecedores de cada uma delas, bem como o país de inscrição e a

zona recomendada estão disponíveis no Anexo I.

2.2.Sementes não provenientes de produção biológica

O Regulamento (CE) nº 834/2007 prevê a possibilidade de, nas explorações de

agricultura biológica, serem utilizadas sementes e material de propagação vegetativa

não provenientes da produção biológica desde que provenham de uma unidade de

produção em conversão para a agricultura biológica. Em caso de indisponibilidade de

sementes e propágulos obtidos segundo o método da produção biológica, os Estados-

Membros podem autorizar a utilização de sementes ou material de propagação

vegetativa não provenientes da produção biológica, mediante a satisfação de certas

condições. Só podem ser utilizadas sementes e batata-semente que não tenham sido

tratados com produtos fitofarmacêuticos, exceto os autorizados para tratamento das

sementes, ou se, por razões fitossanitárias, tiver sido prescrito pela autoridade

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competente do Estado-Membro, em conformidade com a legislação, o tratamento

químico de todas as variedades de determinada espécie na zona em que as sementes e a

batata-semente irão ser utilizadas. Além disso, não podem ser objeto de autorizações as

sementes de espécies com um número significativo de variedades disponíveis, em

quantidade suficiente, provenientes de produção biológica, em toda a Comunidade, e

que constam de um anexo ao Regulamento (CE) atrás referido.

Satisfeitas as condições anteriores, a autorização de utilização de sementes ou de batata-

semente de produção não biológica só pode ser concedida se:

a) Não estiver registada na Base de Dados de Semente Biológica nenhuma

variedade da espécie que o utilizador deseja obter;

b) Nenhum fornecedor, entendendo-se por «fornecedor» um operador que vende

sementes ou batata-semente a outros operadores, puder entregar as sementes ou

a batata-semente antes da sementeira ou plantação, embora o utilizador as tenha

encomendado com uma antecedência razoável;

c) A variedade que o utilizador deseja obter não estiver registada na base de dados

e o utilizador puder demonstrar que nenhuma das alternativas registadas da

mesma espécie é adequada e que a autorização é, por conseguinte, importante

para a sua produção;

d) Tal se justificar para atividades de investigação, para ensaios de campo em

pequena escala ou para fins de conservação varietal aprovados pela autoridade

competente do Estado-Membro.

A autorização é concedida, antes da sementeira, apenas a utilizadores individuais e por

uma época de produção de cada vez, devendo a autoridade ou organismo responsável

pelas autorizações registar as quantidades de sementes ou de batata-semente

autorizadas.

Analisando os dados referentes ao período de 2009 a 2015, verifica-se que em Portugal

foram concedidas 3493 autorizações de utilização de sementes de produção não

biológica (Tabela 6) e que, tendencialmente, o seu número aumentou ao longo do

tempo.

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Tabela 6 – Evolução do número de autorizações concedidas para utilização de sementes não biológicas Ano Autorização/ano 2009 316 2010 586 2011 338 2012 427 2013 646 2014 317 2015 863 Total 3493 Fonte: DGADR

Os dados da Tabela 7 confirmam, pela análise da quantidade de sementes utilizadas, a

tendência crescente de uso de sementes não provenientes de agricultura biológica ao

longo do tempo.

Tabela 7 – Quantidade de sementes não biológicas utilizadas no período 2009-2015

Ano Quantidade (1000 Kg) 2009 244 2010 750 2011 189 2012 537 2013 4923 2014 97 2015 618 Total 7360

Fonte: DGADR

Na Tabela 8 mostra-se a evolução do número de variedades para as quais foi solicitada

autorização de utilização de sementes ou propágulos não biológicos, sendo também

evidente uma tendência crescente. As principais justificações para esses pedidos foram a

inexistência de sementes biológicas da espécie que se pretendia cultivar (alínea a) e a

inadequação das variedades disponíveis (alínea c). As espécies para as quais foi

solicitado um maior número de autorizações de uso de sementes não biológicas são as

que constam da Tabela 9.

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Tabela 8 - Número de variedades autorizadas por tipo de justificação no período 2009-2013

Ano

Alíneas do Regulamento (CE) nº 834/2007

a) b) c) d) Diversas n.d Total

2009 180 122 5 6 0 3 316 2010 194 363 7 5 17 0 586 2011 204 1 120 3 9 1 338 2012 174 37 180 0 35 1 427 2013 207 50 331 2 38 18 646 2014 77 3 143 0 71 23 317

2015 275 79 445 0 41 23 863

Total 3493 Fonte: DGADR n.d – não disponível

Tabela 9 – Espécies hortícolas com maior número de autorizações de uso de sementes não biológicas

Anos Nome Comum 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Total Alface 10 16 21 11 19 9 15 101 Feijão 15 18 11 8 20 2 19 93 Couve-nabo 1 11 16 15 12 15 14 84 Beringela 11 9 7 15 16 7 18 83 Tomate 5 10 14 13 23 15 80 Ervilha 8 8 4 7 16 4 16 63 Cebola 7 3 10 7 14 6 16 63 Espinafre 10 13 6 4 12 8 5 58 Aveia 4 3 10 9 9 3 19 57 Abóbora 7 10 2 5 8 5 14 51 Couve-flor 3 6 8 5 12 4 9 47 Couve-bróculos 4 6 7 7 7 3 12 46 Melão 8 3 12 7 4 2 9 45 Pimento 4 2 8 4 10 7 9 44 Couve-portuguesa 2 7 5 5 12 5 8 44 Morango 4 5 10 11 10 40

Fonte: DGADR

De forma agregada, apresentam-se na tabelas seguintes (Tabelas 10 e 11) o peso dos

principais grupos de culturas, no que diz respeito à quantidade de sementes e de plantas

que foram alvo de autorização no período 2009-2015.Uma listagem mais detalhada é

apresentada no Anexo III.

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Tabela 10 – Quantidade de plantas não biológicas autorizadas para propagação em agricultura biológica por tipo de cultura (nº)

Anos

Quantidade (nº plantas)

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Total

Hortícolas 27970 865182 495558 9096760 218795 10704265

Cereais 95 100000 100095

Vinha 5000 21368 2355 70 2850 31643

Frutícolas 4400 5400 9837 19637

Plantas Aromáticas, Condimentares e Medicinais

10000 10000

Forrageiras 605 1050 1655

Oliveira 120 15 135

(em branco) 125 125

Total Geral 5000 28090 891650 497913 9113295 331607 10867555

Fonte: DGADR

Tabela 11 - Quantidade de sementes não biológicas autorizadas para uso em agricultura biológica por tipo de cultura (Kg)

Anos Quantidades

(kg) 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Total

Geral Cereais 135275 637165 148337 403304 2811754 11353 30600 4177788

Hortícolas 13673 135137 27009 69953 2066439 77092 397303 2664982

Forrageiras 94551 96540 13834 63071 45562 8412 170179 492149

Plantas Aromáticas, Condimentares e Medicinais

35 267 0 36 8 364 20641 21351

Oleaginosas 1 2100 84 2185

Frutícolas 35 694 0 729

Floricultura 7 0 0 0 7

Total Geral 243576 749585 189181 537059 4923846 97221 618723 7359190

2.3.Sementes de Variedades Tradicionais e Catálogo Nacional de Variedades

2016

As variedades regionais e tradicionais de plantas são um património genético de alto

valor para o país e também para a Humanidade. Elas foram obtidas por semente,

semeada pelo agricultor ou pela Mãe Natureza, e depois cultivadas e mantidas pelos

Fonte: DGADR

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agricultores da sua região de origem. Estas sementes e variedades, seleccionadas ao

longo do tempo, fazem parte da identidade do próprio agricultor (Ferreira, 2012).

Segundo Rump (2004) ao longo de 10.000 anos foram domesticadas cerca de 70.000

espécies vegetais para satisfazer necessidades alimentares, de vestuário e alimentares.

Atualmente apenas se cultivam cerca de 150 dessas espécies que apresentam na sua

diversidade genética a herança de todas as experiencias práticas dos agricultores através

dos tempos, dos intercâmbios culturais resultantes do cruzamento dos povos, migrações,

conquistas ou descobertas, que se transmitiram de geração em geração.

Algumas variedades regionais portuguesas são praticamente imprescindíveis à produção

agrícola dessas regiões, seja em modo de produção biológico ou não. É o caso das

variedades que dão origem a produtos de Denominação de Origem Protegida (DOP) ou

outras denominações que se baseiam nas variedades da região.

De Norte a Sul do país é possível encontrar uma grande diversidade de variedades

tradicionais, sobretudo nas culturas do feijão (23,13 %), couve (18,75%), melão

(8,13%), abóbora (7,5%), cebola (5,63%) e grão de bico (4,38%). No entanto, é

importante ressaltar que nomes diferentes nem sempre correspondem a variedades

distintas. Frequentemente são apenas designações regionais de uma mesma variedade

que ocorre em diferentes zonas do país. Da mesma maneira, acontece, por vezes, que

uma mesma designação se refere, de facto, a variedades distintas. No Anexo V é

apresentada uma listagem de 160 designações de variedades regionais que foi possível

obter a partir de diversas fontes, identificando-se o nome pelo qual são conhecidas e o

seu local de origem. Algumas destas variedades (59), apresentadas no Anexo VI por

ano de inscrição, estão já inscritas no Catálogo Nacional de Variedades (CNV) de 2016.

O CNV 2016 totaliza 864 inscrições, correspondendo apenas 6% a inscrições de

variedades tradicionais. A título informativo, no Anexo VII, encontram-se todas as

variedades inscritas no CNV de 2016, tendo sido elaborada uma base de dados em que

consta o tipo de cultura, espécie, nome comum, denominação, características,

proponente (responsável de seleção de manutenção), ano de inscrição e observações.

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3. Caracterização genérica da oferta de produtos biológicas em Portugal

A importância da agricultura biológica em Portugal tem vindo a aumentar de forma

espetacular nos últimos anos. Em 1994 existiam apenas 73 produtores biológicos que

exploravam 7183 ha e, em 2014, esses números passaram para 3132 produtores e

211948 ha neste modo de produção (Figuras 4 e 5). Isto significa que num período de

20 anos, o número de produtores e a área dedicada ao modo de produção biológico

aumentaram cerca de 40 e de 30 vezes, respetivamente.

Em termos de área, como se pode ver pela Tabela 12, a produção biológica portuguesa

assenta essencialmente em atividades de fácil conversão, como as pastagens e o olival,

nas quais a incorporação de adubos industriais e fitofármacos de síntese é

tradicionalmente baixa. Esta preponderância é menos visível quando se olha para o

número de produtores porque as culturas atrás referidas são essencialmente praticadas

nas zonas sul e interior do país, onde dominam as explorações de maiores dimensões.

Como se pode ver na Tabela 13, a maior parte das explorações agrícolas com produção

de hortícolas biológicas localiza-se na zona litoral do país, com destaque para as regiões

do Ribatejo e Oeste, Entre Douro e Minho e Beira Litoral. Nesta última região encontra-

se mais de 40% da área de horticultura biológica do país. Já a área e os produtores

frutícolas estão distribuídos um pouco por todo o país. Por seu lado, a região de Trás-os-

Montes domina a produção de frutos secos, quer pelo critério da área, quer pelo critério

do número de produtores.

Fonte: DGADR

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15

Tabela 12 – Área e nº de produtores em MPB em 2014 Nº de produtores (*) Área Tipo de culturas Nº % ha % Culturas arvenses 373 11,9 8207 3,9 Fruticultura 798 25,5 2489 1,2 Frutos Secos 725 23,1 4567 2,2 Horticultura 803 25,6 1982 0,9 Olival 1400 44,7 18990 9,0 Pastagens 1144 36,5 150824 71,2 Plantas Aromáticas 245 7,8 1272 0,6 Pousio 720 23,0 7439 3,5 Vinha 560 17,9 2767 1,3 Culturas Forrageiras 431 13,8 13413 6,3 Total 3132 100,0 211948 100,0 Fonte: DGADR (*) O número total de produtores é inferior ao somatório da coluna porque

cada produtor se dedica a mais do que uma atividade.

A evolução da área dedicada à horticultura foi muito positiva e equilibrada nos últimos

10 anos, tendo passado de 604 ha em 2004 para 1918 ha em 2014 (Figura 7). Embora

com uma tendência geral também crescente, a área dedicada à fruticultura sofreu, no

mesmo período, oscilações por vezes acentuadas.

Os dados da Tabela 13 permitem ainda analisar a dimensão média da área dedicada a

cada cultura, a qual se situa em 2,7 ha na horticultura e 3,4 ha na fruticultura. Estes

números traduzam a natureza minifundiária da produção agrícola biológica, a qual não

se distingue, neste aspeto, da produção convencional.

Tabela 13 – Distribuição geográfica de algumas culturas produzidas em MPB em 2014

Regiões agrárias

Fruticultura Horticultura Frutos Secos Plantas aromáticas

Área Produtores Área Produtores Área Produtores Área Produtores

ha nº ha nº ha nº ha nº Entre-Douro e Minho 241 123 188 174 178 70 95 72 Trás-os-Montes 274 169 64 69 3870 472 10 7 Beira Litoral 93 58 819 140 58 25 27 28 Beira Interior 621 128 171 106 345 101 37 17 Ribatejo e Oeste 453 131 262 153 61 16 625 49

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Alentejo 512 88 412 79 46 17 458 53 Algarve 294 38 66 28 10 8 19 12 Total 2489 735 1982 749 4567 709 1272 238

Fonte: DGADR

4. Principais vias de escoamento da produção biológica

A maioria dos países europeus não dispõe de informação relativa aos canais de

escoamento dos produtos biológicos e, mesmo quando isso acontece, nem sempre os

critérios de recolha dos dados coincidem. Ainda assim, existem dados disponíveis

(Willer e Schaak, 2016) que mostram que as principais formas de escoamento variam de

país para país, embora em todos eles seja visível o peso significativo dos retalhistas não

especializados. Apenas em França e Itália, este tipo de estabelecimentos (retalhistas não

especializados) tem uma quota de mercado inferior a 50%.

Um estudo realizado em 2014 (Agence Bio, 2014) revela que em França, em 2013, 46%

das vendas foram realizadas através das Grandes Superfícies, 36% através de lojas

especializadas, 13% diretamente do produtor ao consumidor e 5% por artesãos-

comerciantes. O estudo mostra também que a venda direta tem uma grande importância

no escoamento dos produtos, já que que 1 em cada 2 agricultores biológicos franceses

praticam venda direta, com especial relevância para a venda direta na exploração, que é

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Áre

a (h

a)

Ano

Figura 7 - Evolução da área de algumas culturas em MPB no período 2004-2014

Horticultura (ha)

Fruticultura (ha)

Frutos secos (ha)

Plantas aromáticas (ha)

Fonte: DGADR

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citada como um dos canais de venda por 37 % dos inquiridos, e a venda em mercados

de produtores (26%). Em relação ao volume de negócios, o peso dos mercados de

produtores é notório, variando muito de produtos para produto. Enquanto nas frutas e

legumes representa cerca de 1/3 do volume de vendas realizado em venda direta, no

setor do pão e das farinhas atinge os 50% e no vinho mais de 65%.

Em Itália, em 2014, as Grandes Superfícies foram responsáveis por 41,6% do volume

de vendas de alimentos biológicos, as lojas especializadas por 32,7% e os mercados de

produtores por 10,5% (Abitabile et al., 2015).

Embora em Portugal não existam dados estatísticos relativos ao peso dos diferentes

canais na distribuição dos produtos agrícolas biológicos, existe a perceção de que, tal

como acontece na maioria dos países europeus onde essa informação está disponível, o

peso dos canais de distribuição convencionais, com relevo para as grandes superfícies, é

elevado. Na maior parte dos supermercados das cadeias da grande distribuição alimentar

que operam no país, tais como os supermercados Modelo e Continente, Pingo Doce,

Intermarché e Jumbo, Auchan, Aldi e El Corte Inglês é atualmente possível adquirir

produtos biológicos frescos, pelo menos em algumas das suas lojas. Até há pouco

tempo, os produtos biológicos eram frequentemente enquadrados por estes

distribuidores no conceito de “produto gourmet”, legitimando a fixação de preços muito

elevados que, não sendo refletidos ao nível da produção, lhes asseguravam margens de

comercialização muito superiores às praticadas na generalidade dos produtos.

Atualmente, embora isso já não se verifique, os preços praticados nas lojas da grande

distribuição são geralmente mais elevados do que os que se observam noutros pontos de

venda, em virtude das exigências que têm que ser respeitadas, nomeadamente o

embalamento para impedir a mistura com produtos convencionais. Algumas destas

cadeias já certificam as suas lojas para poderem vender os produtos a granel e outras,

como é o caso do Pingo Doce, disponibilizam mesmo uma marca própria de produtos

biológicos com preços bastante competitivos.

Quanto às lojas especializadas, até 2000 a sua presença era residual, contando-se apenas

uma na área de Lisboa (Biocoop) que, dada a sua natureza cooperativa, se destinava

exclusivamente a sócios. A rede Celeiro, embora não comercialize em exclusivo

produtos biológicos, opera na área da alimentação saudável e natural desde 1974. Hoje

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conta com 29 lojas espalhadas pelas zonas da Grande Lisboa, Grande Porto, e noutras

cidades do país, como Coimbra, Leiria, Braga ou Guimarães. Nesta cadeia de lojas, a

oferta de alimentos biológicos restringe-se a produtos com algum nível de

processamento, com reduzida presença de frutas e hortícolas frescas.

A partir de 2000, a quantidade de lojas dedicadas ao comércio de produtos biológicos

tem-se multiplicado, existindo mesmo alguns supermercados de dimensão

considerável especializados na venda deste tipo de produtos, como é o caso da rede

de supermercados Brio que opera em diversas zonas de Lisboa e vende todas as

gamas de produtos presentes nos supermercados convencionais. Paralelamente

surgiram lojas de menores dimensões, espalhadas um pouco por todo o país mas com

alguma concentração na zona de Lisboa. Regra geral, estes novos espaços

comercializam exclusivamente produtos biológicos certificados e dão prioridade aos

produtos nacionais. Oferecem aos pequenos produtores a vantagem de receberem menor

quantidade de produto em cada entrega, o que, por outro lado, se traduz em maior

diversidade disponível para os consumidores. Além do mais, permitem o escoamento de

produtos com pequenos defeitos, o que não acontece na grande distribuição.

Utilizando como metodologia a pesquisa na internet pelo sistema de “bola de neve”, foi

possível identificar, para além das Grandes Superfícies, 45 estabelecimentos em

Portugal Continental onde são comercializadas frutas e hortícolas frescas biológicas,

sendo que 30 delas comercializam exclusivamente produtos biológicos certificados.

Algumas destas lojas apresentam também a opção de encomenda on-line, diretamente

no seu site ou através de mensagem eletrónica ou telefone, e posterior entrega ao

domicílio. Foram ainda identificados 7 distribuidores com atividade exclusiva on-line

que distribuem cabazes de produtos biológicos frescos em várias zonas do país,

tratando-se nalguns casos dos próprios produtores agrícolas.

Os mercados de rua têm-se vindo a afirmar como uma alternativa ao escoamento da

produção biológica com bastante expressão geográfica de Norte a Sul do país. São a

forma de venda que garante melhores margens aos produtores e melhores preços aos

consumidores, constituindo ao mesmo tempo um veículo privilegiado de contacto

entre produtores e consumidores. A grande maioria é semanal e funciona ao sábado

de manhã mas há também outros horários e periodicidades. Utilizando a metodologia

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descrita atrás foram identificados 20 mercados de produtores biológicos, sendo doze

deles fomentados pela Agrobio - Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, uma

associação do sector. Uma listagem dos estabelecimentos comerciais onde se

comercializam frutas e hortícolas biológicas é apresentada no Anexo IV.

5. Consumo de produtos hortícolas em Portugal

Analisando o consumo de hortícolas frescos em Portugal, constata-se que tem crescido

de forma sustentada nas últimas décadas, tendo passado de cerca de 700 mil toneladas

em 1990 para 1492 mil toneladas em 2012 (Figura 8). Tal variação corresponde a uma

taxa de crescimento média anual de 3,3%. Já relativamente ao consumo de frutas

frescas, os dados do INE mostram, para o mesmo período, uma relativa estagnação, com

uma tendência relativamente crescente até 2003, a qual se inverteu a partir daí.

Em média, o consumo de fruta aumentou 0,6 % ao ano no período 1990-2012 mas

decresceu em média cerca de 2% em cada ano se restringirmos a análise ao período

2002-2012. Os dados apresentados incluem a azeitona.

A análise das Estatísticas do Comércio publicadas pelo INE mostram-nos que em

termos nominais houve também um crescimento positivo do valor das vendas de frutas

e hortícolas nas empresas retalhistas do comércio alimentar em Portugal, o qual atingiu

o valor médio de 6,9% ao ano durante a década de 2004 a 2014 (Figura 9), embora se

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

1990 1995 2000 2005 2010

Milh

ares

de

tone

lada

s

Ano

Figura 8 - Evolução do consumo de frutas e hortícolas em Portugal no período 1990-2012

Hortícolas

Frutos

Fonte: INE, Estatísticas Agrícolas

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note um abrandamento claro a partir da crise financeira de 2008. A partir deste ano, a

taxa de crescimento médio anual situou-se nos 2,3%.

Com o objetivo de avaliar a importância de cada espécie no consumo de hortícolas em

Portugal e na ausência de dados disponíveis, procurou estimar-se a utilização interna

das principais produções hortícolas e similares através da soma da produção com as

importações e a subtração das exportações (Tabela 14). Consideraram-se como

produções similares das hortícolas, a batata e as leguminosas secas (feijão e grão-de-

bico). É ainda de referir que os valores encontrados para o tomate incluem o tomate para

indústria, por não ser possível fazer a separação entre tomate para consumo e tomate

para indústria nas Estatísticas do Comércio Externo publicadas pelo Instituto Nacional

de Estatística (INE). Os dados da Tabela 14 referem-se, assim, não apenas ao consumo

humano mas à totalidade das utilizações, incluindo a indústria, a alimentação animal,

etc. É possível verificar que o tomate é, sem dúvida, a espécie mais procurada no país,

seguida pela batata e por diversos tipos de couves.

Tabela 14 - Utilização interna das principais produções hortícolas e similares (t)

Anos Espécies 2011 2012 2013 2014 Tomate 1169910 1326007 1114677 1310678 Batata 761180 817882 864107 858870

400000

500000

600000

700000

800000

900000

1000000

1100000

1200000

2004 2006 2008 2010 2012 2014

Milh

ares

de

euro

s

Ano

Figura 9 - Evolução do volume de vendas de frutas e hortícolas em empresas retalhistas do comércio alimentar em Portugal

no período 2004-2014

Fonte: INE, Estatísticas do Comércio

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Couves (excetuando couve flor e brócolo) 125148 150635 178345 185279 Cenouras e nabos 131332 109406 114878 142830 Cebola 92076 92954 94416 108389

Abóboras e Courgette 59243 58606 63203 71163 Alface 69009 51535 56206 61837

Couve-flor e couve-brócolo 65531 61592 49514 54639 Pimento 41718 67504 47841 52189 Feijão 26981 24099 27537 36709 Grão-de-bico 8935 12306 14213 17121 Feijão-verde 13470 15207 14235 16315 Alho 10915 12712 8662 13110 Espinafre 7221 7918 7544 11641 Ervilha 5152 7206 4070 7739 Fonte: INE

6. Potencialidade de crescimento do consumo de produtos hortícolas e frutícolas biológicos em Portugal

A falta de disponibilidade de dados estatísticos fiáveis sobre a evolução recente do

consumo de produtos biológicos em Portugal, bem como a ausência de qualquer

informação desagregada por tipo de produto, dificulta muito o exercício de quantificar

tendências e, mais ainda, o de fazer previsões relativas à evolução futura do consumo de

frutas e hortícolas biológicas no país. Neste trabalho procura fazer-se uma aproximação

ao que poderá vir a ser o consumo destes produtos num horizonte de 10 anos,

transpondo tendências e comportamentos observados noutros países europeus e

considerando o atual nível de consumo de hortícolas e frutos, em geral, e a sua taxa de

crescimento nas últimas décadas em Portugal.

Segundo dados publicados pela FIBL (Wille e Schaak, 2016) a quota de mercado

ocupada pelos produtos biológicos em Portugal, no último ano para o qual existe

informação, situar-se-ia em 0,2% do valor das vendas de retalho, estimativa muito

inferior às registadas noutros países do Sul da Europa, tais como a Espanha, a Itália ou a

França com valores de 1%, 2,2% e 2,5%, respetivamente. Para além de esta informação

nem sempre se basear em dados estatísticos recolhidos de forma rigorosa e sistemática,

a sua desagregação por produto não está disponível para Portugal. Em todos os países

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para os quais é possível obter informação desagregada, observa-se que a quota dos

frutos e hortícolas biológicos é sempre bastante superior à média dos produtos

biológicos em geral (Tabela 15).

Os dados disponíveis mostram também que o mercado de produtos biológicos na UE

tem crescido de forma consistente nos últimos anos, com uma taxa de crescimento

média anual das vendas a retalho de quase 9%, entre 2004 e 2014, e de 7,2% no ano de

2014. O aumento substancial de estabelecimentos comerciais onde são vendidos

produtos biológicos dá uma clara indicação no sentido de que a tendência em Portugal

segue a da UE mas não é possível estabelecê-la de forma quantificada.

Ainda assim, podemos admitir que o mercado biológico de frutas e hortícolas terá

tendência a crescer, aproximando-se, eventualmente, das quotas de mercado que se

observam hoje noutros países da Europa. Para reduzir o risco de estimativas demasiado

otimistas, tendo em conta os dados da Tabela 13, considerou-se razoável admitir uma

quota de mercado de 3% para frutas e hortícolas biológicas no mercado português num

horizonte de 10 anos.

Usando os valores e tendências descritos no ponto anterior será razoável admitir que em

2026 o consumo de hortícolas e de frutas em Portugal andará próximo de 2200 e 1400

Tabela 15 - Quota de mercado dos produtos biológicos em diversos países da EU em 2014 (% do valor das vendas no retalho)

Países Frutas Hortícolas Todos os produtos Alemanha 6,7 8,6 4,4 Áustria b) 10,7 12,6 6,5 Bélgica 3,5 5,4 1,8 Espanha c) a) a) 1,0 Finlândia a) 3,2 1,7 França 4,3 4 2,5 Holanda a) 3,9 3,0 Itália a) a) 2,2 Noruega 1,7 3,6 1,5 Portugal b) a) a) 0,2

a) Dados não disponíveis; b) Dados de 2011; c) Dados de 2012 Fonte: Wille e Schaak, 2016.

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milhares de toneladas, respetivamente. Se nestes mercados a quota de produtos

biológicos atingir os 3%, isso representará um consumo de 66 mil toneladas de

hortícolas biológicas e de 42 mil toneladas de frutos biológicos, incluindo azeitona.

Naturalmente que, dadas as limitações na informação e a simplificação dos pressupostos

usados nos cálculos, estes valores devem ser encarados com precaução e tomados

apenas como uma referência de partida.

7. Estratégias de organização dos produtores para a retenção do valor acrescentado da agricultura biológica ao nível da produção

Como foi referido atrás, a principal via de escoamento de alimentos biológicos em

Portugal são as cadeias de grande distribuição, embora uma parte significativa dos

produtos que vendem seja importada, já que as exigências por elas impostas em termos

de quantidade, de apresentação dos produtos e de regularidade temporal dos

abastecimentos, geram constrangimentos aos agricultores biológicos portugueses que,

dada a dimensão da maioria das explorações, produzem geralmente pequenas

quantidades, em épocas específicas do ano. Estes constrangimentos podem em parte ser

ultrapassados através de formas de escoamento que fomentem uma ligação mais direta

entre produtores e consumidores e que consigam lidar com a sazonalidade, intrínseca à

produção agrícola, particularmente quando é praticada em modo de produção biológica.

A redução do número de intermediários que opera na cadeia de distribuição dos

produtos alimentares e o incentivo aos mercados locais têm surgido no discurso político

e técnico como vias prioritárias para a captação de valor acrescentado no seio das

explorações agrícolas. Esta estratégia constitui atualmente um desígnio da Política de

Desenvolvimento Rural da União Europeia, como facilmente se constata através da

leitura da informação disponibilizada no sítio da REDR - Rede Europeia do

Desenvolvimento Rural (https://enrd.ec.europa.eu/pt), da qual constam os benefícios

económicos, ambientais e sociais que podem resultar do desenvolvimento deste tipo de

circuitos. Considera-se que podem ser vantajosos para os consumidores que, deste

modo,conseguem obter alimentos de maior qualidade a preços mais baixos, e para os

produtores, na medida em que permitem aumentar o valor final da margem que

recebem, quer pela redução do número de intermediários, quer pela diminuição dos

custos de transporte e armazenamento, ao mesmo tempo que permitem a redução

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significativa dos prazos de recebimento. Por outro lado, com grande relevância na

agricultura biológica, este tipo de circuitos reforça os laços de confiança entre

produtores e consumidores e permite um melhor conhecimento sobre a origem dos

produtos e as práticas agrícolas utilizadas na sua produção. Além disso, se bem

organizados, contribuem para minorar os impactes ambientais da distribuição alimentar,

quer pela redução da emissão de poluentes, quer pela diminuição dos consumos

energéticos, quer ainda pela redução do uso e desgaste das estradas rurais e do

congestionamento de trânsito e pela maior segurança nas estradas. Os circuitos curtos

adequam-se particularmente bem à natureza fragmentada da agricultura portuguesa que

é muitas vezes apontada como uma das causas da falta de competitividade e dificulta o

acesso dos agricultores aos mercados de massa. Outras estratégias, tal como a

transformação artesanal dos excedentes, podem também permitir a retenção de valor

acrescentado nas explorações agrícolas, ao mesmo tempo que permitem conservar os

produtos, reduzir os custos de armazenamento e fazer face à sazonalidade da produção.

No período de programação da política de desenvolvimento rural para o período 2014-

2020, os estados membros puderam incluir nos seus Programas de Desenvolvimento

Rural (PDR) subprogramas especiais para canalizar financiamento extraordinário para

projetos de desenvolvimento rural orientados para o incentivo às cadeias alimentares

locais e circuitos curtos de abastecimento.No caso português, no capítulo referente à

estratégia do PDR 2020 (GPP, 2014), considera-se que aumentar a competitividade dos

produtores primários pode passar, entre outras coisas, por uma melhor integração na

cadeia agroalimentar através de sistemas de qualidade e da promoção de mercados

locais e circuitos de abastecimento curtos. Esta estratégia será posta em prática através

da aplicação da Medida 10. Leader do PDR 2020, a ser operacionalizada pelos Grupos

de Ação Local das respetivas regiões de intervenção.

Existem diversos tipos de circuitos curtos que podem ir desde a venda direta na

exploração, colhendo ou não o cliente os seus próprios produtos, passando pela venda

em mercados de produtores, até sistemas mais complexos como os grupos de

consumidores e produtores, organizados ou não em cooperativas. O desenvolvimento de

políticas de compras públicas que descriminem positivamente os alimentos produzidos

localmente e através de modos de produção sustentáveis pode também contribuir para o

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encurtamento dos circuitos e facilitar o escoamento e a retenção de valor ao nível das

explorações agrícolas. Na União Europeia as compras públicas correspondem a cerca de

14% do Produto Interno Bruto (EC, 2016) e o grande desafio consiste no

desenvolvimento de sistemas de compras públicas que incluam critérios ecológicos

(Green Public Procurement). Existem na Europa diversos casos de sucesso nesta

matéria. Por exemplo, na cidade de Malmo, entre 1997 e 2012, 40% do orçamento

destinado à alimentação escolar foi gasto em produtos biológicos e o objetivo para 2020

é atingir o valor de 100%.

A venda direta tem vantagens evidentes, já atrás referidas, resultantes da proximidade

entre consumidores e produtores e da maior independência dos agricultores

relativamente a atores mais poderosos da cadeia de distribuição, mas tem como

limitação a fraca conveniência e acessibilidade da oferta. De facto, a venda na

exploração implica a necessidade de os clientes se deslocarem, tendo por vezes que

percorrer distâncias longas, o que se agrava ainda mais se cada agricultor não dispuser

de uma diversidade significativa de produtos para venda, obrigando a múltiplas

deslocações de cada cliente. Os mercados de produtores acarretam alguns

inconvenientes para os vendedores tais como os custos de deslocação, de compra das

bancas e as taxas municipais e também a necessidade de proceder à montagem e

desmontagem dos expositores e restante estrutura de venda. Para os consumidores, um

dos inconvenientes é a necessidade de terem que programar as suas compras para os

dias em que os mercados funcionam. Além de esses dias nem sempre serem adequados

ao quotidiano dos consumidores, a sua periodicidade pode não ser adequada ao

abastecimento de certos tipos de produtos. Por exemplo os produtos frescos, tais como

as frutas e legumes, são frequentemente adquiridos pelas famílias mais do que uma vez

por semana, enquanto a periodicidade dos mercados de produtores é normalmente

semanal ou mensal. Alguns destes inconvenientes podem ser em parte ultrapassados

através de alternativas mais criativas de venda direta, tais como a encomenda de

cabazes, on-line ou por outras vias, posteriormente enviados ao domicílio dos clientes,

ou o desenvolvimento de compromissos de CSA - Community supported agriculture,

designados em França por AMAP - Associations pour le maintien d'une agriculture

paysanne. O princípio subjacente a este tipo de circuito consiste na criação de um laço

direto entre os agricultores, que se comprometem a cumprir um conjunto de práticas, e

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os consumidores que se comprometem a comprar e a pagar em adiantado uma certa

quantidade de produtos a um preço justo.

Qualquer das tipologias atrás descritas envolve essencialmente relações individuais

entre produtores e consumidores, não resolvendo a questão da necessidade de

diversidade de produtos oferecidos a cada momento ao consumidor. Um circuito curto

que responda a esta questão terá que integrar diversos agricultores, organizados segundo

um modelo de governança adequado. De acordo com o nível de comprometimento

exigido a produtores e consumidores, Galli e Brunori (2013) propõem uma classificação

de circuitos curtos, onde o máximo comprometimento de ambos os agentes é alcançado

numa rede de distribuição baseada em cooperativas de consumo geridas por produtores

e consumidores (Tabela 16).

As relações neste tipo de redes assentam menos nas forças de mercado e nas políticas

públicas e mais em iniciativas de grupos de cidadãos. Representam uma viragem no

papel social de consumidores e agricultores que, como referem Renting et al. (2012), de

meros compradores e produtores, passam a cidadãos-consumidores e cidadãos-

produtores, mais proactivos e preocupados com a forma como os alimentos são

produzidos e distribuídos.

Tabela 16 – Circuitos curtos classificados de acordo com o nível de compromisso de produtores e consumidores

Produtores

Nível de

compromisso

Baixo Médio Elevado

Co

nsu

mid

ore

s

Baixo Supermercado Loja que se abastece

diretamente ao

produtor; mercado de

produtores

Venda direta na

exploração

Médio Cabazes

Elevado Cooperativas de

consumidores

CSA; Cooperativas de

consumidores geridas

por produtores e

consumidores

Adaptado de Galli e Brunori (2013)

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Diversas iniciativas enquadradas nestas novas formas de distribuição, mais ou menos

institucionalizadas, podem ser encontradas um pouco por toda a Europa. Alguns

exemplos são apresentados na Tabela 17 mas muitos outros podem ser encontrados em

diversos relatórios produzidos no âmbito de projetos de investigação europeus (ex. Galli

e Brunori, 2013).

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Tabela 17 – Exemplos de iniciativas de fomento de circuitos curtos com forte envolvimento de produtores e consumidores

Iniciativa (país) O que é? Governança Website Como funciona?

PROVE (Portugal)

Projeto iniciado em 2006, financiado por fundos comunitários, no âmbito do LEADER, visando o estabelecimento de circuitos curtos de comercialização entre núcleos de pequenos produtores agrícolas e consumidores, com recurso às Tecnologias de Informação e Comunicação.

A iniciativa de construir um núcleo é dos produtores, sendo apoiados no processo pelos Grupos de Ação Local que constituem a base da parceria de elaboração do projeto.

http://www.prove.com.pt

• 3 a 5 produtores agrícolas unem-se para constituir um núcleo PROVE na sua região. • De semana a semana os produtores reúnem-se e organizam os cabazes de acordo com as encomendas dos clientes e com os produtos da época. • No dia da entrega, os produtores preparam os cabazes e fazem a sua distribuição no local selecionado. • Na semana seguinte os produtores voltam a reunir-se para dividirem o dinheiro da semana anterior e retomam todo o processo de organização dos cabazes.

Biocoop (França)

Rede de 382 lojas de produtos biológicos distribuídas por todo o território francês.

Modelo cooperativo multi- profissional que engloba 4 colégios: . Lojas (40% de cooperativas, 60% de SARL familiares) . Produtores (que representam os membros da secção agrícola) . Trabalhadores . Associação de consumidores

http://www.biocoop.fr

O fornecimento das suas lojas assenta no abastecimento local, numa central de compras e em 4 plataformas logísticas.

AMAP - Associations pour le maintien d'une agriculture paysanne (França)

Criação de um laço direto entre os agricultores, que se comprometem a cumprir um conjunto de práticas, e os consumidores que se

Cada grupo estabelece as suas próprias regras e tem o apoio na sua constituição de uma rede que envolve todas as iniciativas.

www.reseau-amap.org www.communitysupportedagric

O produtor compromete-se a entregar todas as semanas os produtos que constam do acordo. O consumidor compromete-se a ir buscar o seu cabaz ao local definido, a colaborar nas atividades

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CSA - Community supported agriculture (Reino Unido e diversos países)

comprometem a comprar e a pagar em adiantado uma certa quantidade de produtos a um preço justo.

ulture.org.uk

de produção e a pré-financiar as colheitas.

Panier Hiroko (França)

Associação local (Rennes) de produtores e consumidores, criada com o objetivo de preservar a agricultura local de forma duradoura, através da criação de uma rede de difusão de produtos agrícolas locais e biológicos.

A Associação é administrada por uma direção constituída por 6 membros, incluindo representantes dos produtores e dos consumidores.

http://panierhiroko.ouvaton.org/

Planificação partilhada da produção entre produtores e consumidores. Estes asseguram, de forma rotativa, o transporte dos cabazes no ponto de venda, a gestão das encomendas, a organização de encontros com os produtores e a promoção da Associação.

ECOCONSUM (Espanha)

Associação catalã coordenadora decooperativas e associações de Consumidores.

Cada associação, cooperativa ou grupo informalé autogerido rotativamente pelos consumidores.

http://www.ecoconsum.org/

Coordenação de cerca de 20 organizações de consumidores de produtos biológicos. A Ecoconsum defende um consumo crítico de produtos biológicoslocais, o envolvimento com os produtores e uma intervenção social e política.

Gruppi di Acquisto Solidale (GAS) (Itália) Groupe d’Achat Solidaire de l’Agriculture Paysanne (GASAP) (Bélgica)

Grupos de consumidores que cooperam no sentido de adquirirem alimentos e outros bens de uso comum diretamente aos produtores.

A constituição de um grupo é da iniciativa dos consumidores. Cada grupo tem que estabelecer uma estrutura interna que lhe permita levar a cabo o processo de recolha e distribuição dos produtos. Existe uma rede que pode dar apoio na constituição e funcionamento dos grupos.

http://www.economiasolidale.net www.gasap.be

Cada grupo tem o seu próprio modelo de funcionamento

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