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Estudo de Caso: Ribeira Bote Departamento de Ciências e Tecnologias Realizado por: Charlene Patrícia Brito da Graça Curso Gestão Hoteleira e Turismo Mindelo, 31 de Julho de 2013

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Estudo de Caso: Ribeira Bote

Departamento de Ciências e Tecnologias

Realizado por:

Charlene Patrícia Brito da Graça

Curso

Gestão Hoteleira e Turismo

Mindelo, 31 de Julho de 2013

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Charlene Gaça

Monografia: Projecto Ribeira Bote-Turismo Comunitário

Uma Oportunidade de Desenvolvimento da Comunidade de Ribeira Bote

Monografia submetida como requisito parcial para obtenção de Licenciatura em Gestão

Hoteleira e Turismo

Orientador:

Professor Mestre JoãoRêgo

Universidade do Mindelo

Mindelo, Julho de 2013

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AGRADECIMENTOS

Queria agradecer primeiramente a minha família que me apoiou incondicionalmente na

elaboração deste trabalho e na participação deste do projecto em si.

Um obrigado muito especial ao meu orientador, o Mestre Rêgo, por ter apoiado o projecto

desde o inicio, mesmo antes de ter decido torna-lo a minha monografia, e por ter estado

sempre disponível para esclarecimento de dúvidas relativamente ao projecto e a

monografia.

Quero ainda agradecer a todos os participantes e promotores do projecto sem os quais a

ideia não teria saído do papel principalmente ao Frei Silvino, Marcus Leukel e Mirian

Lopes.

Agradeço a minha irmã Marilene Graça e ao meu amigo Nibel Moreira pela revisão

textual, pelas preciosas informações e documentos cedidos para consulta. E também ao

meu amigo Anderson que esteve sempre disponível no terreno na pesquisa de campo.

Um obrigado muito especial também a Comunidade de Ribeira Bote por ter acolhido este

projecto de braços abertos e a todos os moradores que de uma forma ou outra deram o seu

contributo para este trabalho.

E finalmente, mais importante agradeço a Deus por ter concluído mais uma etapa na minha

vida sempre com humildade e dedicação.

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RESUMO

No âmbito da Licenciatura em Gestão Hoteleira e Turismo foi desenvolvido um estudo

sobre uma iniciativa pioneira na área do turismo comunitário que está sendo realizado na

ilha de São Vicente. O objectivo é analisar a viabilidade desse tipo de turismo tendo em

conta as potencialidades e os constrangimentos dessa modalidade no desenvolvimento das

comunidades locais.

A análise tem por base apresentar uma iniciativa recente denominada de Projecto Ribeira

Bote – Turismo Comunitário desenvolvido por um grupo de jovens da comunidade de

Ribeira Bote. A partir da identificação das motivações e características deste novo tipo de

turismo, apresenta-se alguns conceitos e característica da área de estudo, realçando as

práticas desta nova abordagem turística que se diferencia do turismo convencional ou de

massas, inscrevendo-se num movimento que procura contrariar os efeitos negativos da

actividade turística e promover um desenvolvimento mais humano e sustentável das

comunidades receptoras.

A orientação teórica e metodológica do estudo foi fornecida pelo enquadramento teórico-

prático do turismo de base comunitário, argumentando-se que, mais do que a solidariedade

de quem vem de fora, o Turismo Comunitário exige o envolvimento e a interacção da

população local. A conclusão é como o desenvolvimento deste tipo de turismo poderá

beneficiar directamente a comunidade receptora.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo de base comunitária, sustentável, motivações, beneficiar.

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ABSTRACT

Within the Bachelor of Hotel Management and Tourism has developed a study on a

pioneering initiative in the area of community tourism which is being held on the island of

SãoVicente. The aim is to analyze the feasibility of this type of tourism taking into account

the potential and constraints of this modality in the development of local communities.

The present analysisis based on a recent initiative called Project RibeiraBote-Community

Tourism developed by a group of young community of Ribeira Bote. After identifying the

motivations and characteristics of this new type of tourism, presents some concepts and

characteristics of the studyed area, highlighting the practices of this new approach to

tourism which differs from conventional tourismo or mass, joining amovement that seeks

counteract the negative effects of tourism and promote more human and sustainable

development of host communities.

Thetheoretical and methodological orientation of the study was provided by thetheoretical

and practical frame work of the Community-Based Tourism, arguing that rather than the

solidarity of those who come from outside the Community Tourism requires the

involvement and interaction of the local population. The conclusion is how development of

this type of tourism can directly benefit the host community.

KEY WORDS:community touris,sustainable, motivations benefit

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Índice

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

1.1 Justificativa e Relevância .............................................................................................. 12

1.2 O Problema Da Investigação ......................................................................................... 12

1.3 Questão de partida ........................................................................................................ 13

1.4 Objectivo Geral ............................................................................................................ 13

1.5 Metodologia ................................................................................................................. 14

1.6 Organização Do Trabalho ............................................................................................. 15

2 CAPITULO ......................................................................................................................... 16

2.1 Evolução do Conceito de Turista................................................................................... 16

2.2 Conceito de Turismo..................................................................................................... 19

2.3 O Turismo em Cabo Verde ........................................................................................... 25

2.4 Potencialidade e Atractivos Turísticos........................................................................... 35

2.5 Fragilidades e Constrangimentos................................................................................... 37

2.6 As Novas Tendências em Turismo ................................................................................ 38

2.7 Turismo Social, Turismo Rural, Turismo Responsável, Ecoturismo, Turismo Justo e

Turismo Comunitário. .............................................................................................................. 42

2.8 O Turismo Comunitário ................................................................................................ 45

2.9 O Perfil da Demanda .................................................................................................... 51

2.10 O Turismo Comunitário em Cabo Verde ....................................................................... 52

2.11 O Desenvolvimento Comunitário .................................................................................. 52

2.12 O Capital Social............................................................................................................ 56

3 CAPITULO ......................................................................................................................... 59

3.1 A Ilha de São Vicente ................................................................................................... 59

3.2 Aspectos Históricos ...................................................................................................... 59

3.3 Aspectos Geográficos e Climatéricas ............................................................................ 60

3.4 Aspectos Culturais e Turísticos ..................................................................................... 61

3.5 Perfil Urbano Do Mindelo ............................................................................................ 63

3.6 A Zona de Ribeira Bote ................................................................................................ 67

3.6.1 Importância Histórica ............................................................................................ 67

3.7 O Bairro de Ilha d` Madeira .......................................................................................... 70

3.8 Aspectos Positivos da Zona .......................................................................................... 71

4 CAPITULO ......................................................................................................................... 72

4.1 Estudo de Caso: Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário...................................... 72

4.2 O Desenvolvimento da Comunidade com Base no Projecto ........................................... 79

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4.3 Avaliação do Projecto até ao Momento ......................................................................... 80

4.4 Pesquisa no Terreno ...................................................................................................... 82

4.4.1 População e Amostra ............................................................................................ 82

4.4.2 Método de Selecção da Amostra ........................................................................... 82

4.4.3 Método de Colecta de Dados ................................................................................. 83

4.4.4 O Questionário ...................................................................................................... 83

4.4.5 A Entrevista .......................................................................................................... 84

4.4.6 Tratamento e Analise de Dados ............................................................................. 85

5 CAPITULO ......................................................................................................................... 93

5.1 Limitações e Desafios ................................................................................................... 93

5.2 Pistas para uma Prática Reflexiva de Turismo Comunitário ........................................... 94

CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 97

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 98

ANEXOS................................................................................................................................... 103

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Índice de Tabelas

Tabela 1- Evolução de hóspedes e dormidas 2000-2008 ............................................................... 27

Tabela 2 - Evolução dos hóspedes e das dormidas segundo ano, 2008-2012 ................................. 28

Tabela 3- Hospedes segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência habitual dos

hóspedes, 2012 ............................................................................................................................ 29

Tabela 4- Hóspedes segundo a Ilha, por pais de residência dos hóspedes, 2012 ............................. 30

Tabela 5 - Dormidas segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência dos hóspedes, 2012

.................................................................................................................................................... 32

Tabela 6 –Dormidas segundo Ilhas por pais de residência dos hóspedes, 2012 .............................. 33

Tabela 7 -Infra-estruturas e Serviços situados dentro e nos arredores da comunidade. .................. 71

Tabela 8 - Lista de actividades produtivas dentro da comunidade ................................................. 71

Tabela 9: Nível de conhecimento do projecto por parte da comunidade (%) .................................. 86

Tabela 10: Nível de conhecimento acerca dos responsáveis do projecto por parte da comunidade

(%) .............................................................................................................................................. 86

Tabela 11: Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte da comunidade (%) ......... 86

Tabela 12: Benefício da Comunidade em relação ao projecto (%) ................................................. 87

Tabela 13: Percentagem das pessoas que já foram beneficiadas com as actividades do projecto (%)

.................................................................................................................................................... 87

Tabela 14: Opinião sobre os impactos positivos provocados pelo projecto (%) ............................. 87

Tabela 15: Opinião sobre os impactos negativos provocados pelo projecto (%) ............................ 88

Tabela 16: Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte dos integrantes (%) ......... 88

Tabela 17: Percentagem dos integrantes que já foram beneficiados com o projecto ....................... 88

Tabela 18: Opinião dos integrantes em relação a estrutura das visitas (%)..................................... 89

Tabela 19: Opinião dos turistas em relação a estrutura das visitas (%) .......................................... 90

Tabela 20: Opinião dos visitantes em relação ao preço das visitas................................................. 91

Tabela 21: Percentagem dos visitantes que pretendem voltar a Comunidade ................................. 91

Tabela 22: Tabela 22: Percentagem dos visitantes que recomendarão e acham que deve-se

continuar a apostar no Produto ..................................................................................................... 91

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Índice de gráficos

Gráfico 1- Evolução das chegadas de turistas internacionais no mundo ......................................... 23

Gráfico 2 - Hóspedes e Dormidas (%) segundo tipo de estabelecimento, 2012 .............................. 29

Gráfico 3- Hóspedes e Dormidas (%) segundo ilhas, 2012 ............................................................ 30

Gráfico 4- Hospedes e Dormidas(%) por pais de residência dos hóspedes, 2012 ........................... 31

Gráfico 5 –Estadia média (noites) segundo o tipo de estabelecimento,por pais de residência dos

hóspedes, 2012 ............................................................................................................................ 34

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Lista De Abreviaturas

ADEI - Agência para Desenvolvimento Empresarial e Inovação

CADM-SV - Centro de Apoio aos Doentes Mentais de São Vicente

OIT – OrganizaçãoInternacional do Turismo

OMT - Organização Mundial do Turismo

ONG - Organização Não Governamental

ONU- Organização das Nações Unidas

PPT – Pro PoorTourism(Turismo “Pro-Pobres”)

PRB-TC – Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário

STEP –SustainableTourismEliminatingPoverty

TBC - Turismo de Base Comunitária

TC –TurismoComunitário

UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNWTO - United Nations World Tourism Organization

WTO – World Tourism Organization

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas o sector turístico experimentou uma vertiginosa expansão global,

chegando a ser considerado de grande expressão na economia mundial. A ampliação

geográfica do sector respondeu a processos distintos como às novas demandas de mercado,

como estratégia de desenvolvimento local e, sobretudo, para integrar mercados regionais,

essa expansão deu origem ao chamado Turismo Comunitário.

O Turismo Comunitário não é apenas uma atividade produtiva, procura ressaltar o papel

fundamental da ética e da cooperação nas relações sociais. Valoriza os recursos específicos

de um território e procura estabelecer relações de comunicação/ informação com agentes

externos, entre eles e os visitantes.

Tendo em conta este novo tipo de turismo, o objectivo do trabalho é investigar um projecto

que esta sendo desenvolvido na comunidade de Ribeira Bote, na Ilha de São Vicente, por

um grupo de jovens e que consiste em criar condições para receber turistas dentro da

referida zona, estimulando assim o desenvolvimento da referida comunidade através do

turismo.

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1.1 Justificativa e Relevância

A investigação proposta justifica-se, pela preocupação com o desenvolvimento da

comunidade de Ribeira Bote de forma sustentável e igualitária nas suas múltiplas

dimensões – social, económica, cultural, política e ambiental.

Em termos científicos, tal abordagem é relevante na medida em que o turismo de base

comunitário ainda é um campo disciplinar em afirmação e que precisa de mais e melhor

reflexão e produção teórica.

1.2 O Problema Da Investigação

A literatura e o debate sobre Turismo Comunitário são muito recentes e incipientes e

precisam de ser aprofundados, não fosse o turismo uma das principais actividades

económicas do mundo, promovida por muitos países em desenvolvimento como opção

estratégica para a redução da pobreza e motor de desenvolvimento. É o caso de Cabo

Verde, que usufrui de um conjunto de características e especificidades geográfico-naturais

e socio-culturais, como a sua beleza natural, a riqueza em termos de biodiversidade e

endemismo, o clima tropical, o sincretismo de traços culturais africanos e europeus, que o

torna particularmente atractivo enquanto destino turístico.

Visto que o turismo tem vindo a assumir um crescente destaque no arquipélago, importa

agora analisar como é que o Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário contribui para o

desenvolvimento social e económico da zona de Ribeira Bote, tendo em atenção as

contradições desta actividade que, mesmo gerando rendimentos e diversificando as

oportunidades de trabalho, faz emergir uma série de problemas sociais e ambientais, como

degradação ambiental, especulação imobiliária, descaracterização cultural ou exploração

sexual. Assim, em termos gerais, este trabalho de investigação pretende questionar as

condições em que o turismo é potenciador de Desenvolvimento Comunitário.

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1.3 Questão de partida

Perante o contexto enunciado, a questão que se colocou na definição do problema de

investigação foi perceber em que condições o turismo pode desempenhar um papel

relevante no desenvolvimento das comunidades de acolhimento. Especificando esta

questão de forma a tornar a sua resposta viável, tendo em conta o âmbito da investigação,

foi possível redefinir a questão central da pesquisa nos seguintes termos: O Turismo

Comunitário promove o desenvolvimento das comunidade receptoras?

Tendo em conta a questão de partida defeniram-se duas hipóteses:

1. O Projecto Ribeira Bote- enquadra-se no turismo comunitário.

2. O turismo comunitário desenvolve Ribeira Bote.

1.4 Objectivo Geral

Tendo em conta que o Turismo Comunitário é uma área em afirmação, o objectivo geral

da investigação é aprofundar o conhecimento sobre este tipo Turismo, na sua relação com

o Desenvolvimento Comunitário.

Para isso definimos três objectivos especificos

1. Identificar e caracterizar os efeitos produzidos pela actividade turística na comunidade,

tendo em conta o Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário;

2. Sistematizar pressupostos teóricos e boas práticas em termos de Desenvolvimento

Comunitário associado ao Turismo, tendo especificamente, em consideração a iniciativa de

Turismo Comunitário;

3. Contribuir, através do conhecimento produzido, para uma abordagem reflexiva ao

desenvolvimento do potencial turístico da Ribeira Bote.

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1.5 Metodologia

Como objecto de estudo tem-se a experiência de turismo comunitário na ilha de São

Vicente mais propriamente na zona da Ribeira Bote. Para o alcance dos objectivos

propostos e com o intuito de chegar a uma problematização mais detalhada das questões

abordadas, norteou-se pela pesquisa-acção participativa que pode ser definida como um

processo de questionamento sistémico, no qual aqueles que estão experimentando uma

situação problemática participam em colaboração com pesquisadores na execução da

pesquisa e nos rumos das decisões a serem tomadas diante das demandas surgidas e não

necessariamente das priorizadas pelo pesquisador.

Foram utilizados dados oriundos da aplicação de questionários a turistas e visitantes que

participaram das experiências de Turismo de Base Comunitária na Ribeira Bote, no

período de Março a Julho de 2013 com 50 visitantes no intuito de se conhecer a percepção

dos turistas que visitam o local de forma a propiciar uma maior integração destes aspectos

no planeamento do turismo desenvolvido no local e, consequentemente, garantir uma

experiência rica e agradável aos visitantes sem causar impactos significativos aos recursos

naturais e principalmente culturais. Fez-se uso também de inquéritos aplicados a 145

pessoas moradores da comunidade e 18 participantes directos do projecto com o objectivo

de perceber se a comunidade tem sido beneficiado com o projecto.

Utilizou-se entrevistas para apurar dados relevantes para o trabalho, á pessoas que deram o

seu contributo para o desenvolvimento deste projecto bem como pesquisa bibliográfica

referente ao tema proposto e outros assuntos relacionados que demonstraram ser de

especial interesse para a investigação.

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1.6 Organização Do Trabalho

A presente monografia encontra-se dividida em 5capitulos. O percurso do trabalho inicia

com uma Introdução geral do tema proposto, seguido dos Objectivos e Metodologias de

Estudo, sendo este o capitulo .I

No capitulo II apresenta-se o enquadramento teórico-conceptual onde se faz uma incursão

pelo Turismo, as Novas Tendências em Turismo, o Turismo Comunitário, e o

Desenvolvimento Comunitário.

Em seguida, procede-se a caracterização da área de pesquisa: da ilha de São Vicente e da

zona de Ribeira Bote que é o capítulo III, eapresentação do estudo de caso: Projecto

Ribeira Bote - Turismo Comunitário e a análise dos dados recolhidos, procurando-se aferir

a presença das características do Turismo Comunitário no projecto e os seus contributos

para o Desenvolvimento Comunitário, capítulo IV. O trabalho encerra com alguns

desafios, limitações encontrados no âmbito da realização do trabalho e pistas para uma

prática reflexiva de Turismo Comunitário, compondo o capitulo V.

.

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2 CAPITULO

2.1 Evolução do Conceito de Turista

O conceito de turista evoluiu ao longo do tempo porque não havia necessidade de

identificar o movimento da deslocação de pessoas de um lado para outro. A necessidade de

uma expressão para designar um indivíduo que se desloca só se verificou quando o homem

se tornou sedentário, conduzindo a noção de territorialidade e de fronteira. A partir daí

passou a chamar-se hóspede, viandante, viajante ou forasteiro.

Estas expressões mantiveram-se durante séculos para designar qualquer pessoa que se

deslocasse, com objectivos pacíficos, independentemente da razão porque o fazia. Só

quando as deslocações das pessoas por motivos de prazer, de cultura ou de repouso,

alcançaram carácter de regularidade, dando origem a actividades económicas, é que se

passou a haver necessidade de as designar por uma expressão própria.

Não se conhece o momento exacto do aparecimento da palavra mas é geralmente aceite

que tem origem nas viagens que os ingleses se habituaram a realizar no continente

europeu, para complemento da sua educação, sobretudo a partir de finais do século XVII,

durante as viagens que realizavam a GrandTour (Boyer 2000). Aqueles que participavam

nestas viagens passaram a ser conhecidos por *turistas* (tourists) e a actividade a que

deram origem passou a designar-se por turismo (tourism). Alguns autores identificam o

ano de 1760 (Fuster, 1967) como aquele em que a palavra tour aparece documentalmente

mas é a partir da publicação, em 1838, das Mémoires d únTouriste de Stendhal que se

generaliza a expressão turista (tourist).

Inicialmente a palavra turista era utilizada exclusivamente para designar aqueles que

viajavam por mero prazer, ou para aumentar os seus conhecimentos, com exclusão de

todas as pessoas que se deslocavam por um motivo diferente: profissional, de saúde ou

religioso. A própria natureza da viagem turística identifica-se com o desejo de conhecer as

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particularidades e a maneira de viver de outros povos, as suas tradições, o exotismo, mas

também a descoberta de novas paisagens, da natureza e do pitoresco ou do carácter

histórico dos aglomerados urbanos: aldeias, vilas e cidades.

A medida, porém, que as viagens se foram tornando mais fáceis e a elas tiveram acesso

camadas cada vez mais vastas da população foram-se alargando os motivos pelos quais as

pessoas viajavam e, na actualidade, torna-se impossível separar as pessoas que viajam por

puro prazer daquelas que o fazem por outros motivos

De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre o Turismo e as Viagens

Internacionais em Roma (1963) esta definição passou a compreender dois grupos de

visitantes:

Turistas, isto é, os visitantes que permanecem pelo menos 24 horas no país visitado e

cujos motivos de viagem podem ser agrupados em:

a) Lazer, repouso, férias, saúde, estudo, religião e desporto.

b) Negócios, famílias, missões, reuniões.

Excursionistas, isto é, os visitantes temporários que permanecem menos de 24 horas no

país visitado (incluindo viajantes em cruzeiros).

Em conformidade com esta definição o termo visitante, bem como os seus derivados

turista e excursionista, eram reservados exclusivamente às deslocações internacionais.

Nesta visão só era considerado visitante e, consequentemente, turista, quem se deslocasse

ao estrangeiro e o turismo identificava-se com os movimentos internacionais.

A concepção que identificava o turismo com as deslocações internacionais prevaleceu

durante muito tempo e ainda hoje erradamente, se mantém em vastos sectores da opinião

pública reduzindo a importância do turismo apenas à sua dimensão internacional quando

esta já não é mais importante e, em muitos casos, nem sequer é a que produz maiores

rendimentos económicos e sociais.

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De acordo com a OMT – (Organização Mundial do Turismo) (1994) o termo

“visitante”mantêm-se como conceito básico de todo sistema estatístico do turismo do qual

derivam os restantes conceitos. Com efeito, de acordo com a última definição adoptada

pela ONU (Organização das Nações Unidas) (1993), por recomendação da OMT, passou-

se a ter os seguintes conceitos:

1. Visitante é toda a pessoa que se desloca a um local situado fora do seu

ambiente habitual durante um período inferior a 12 meses consecutivos e cujo

motivo principal da visita é outro que não seja o de exercer uma actividade

remunerada no local visitado.

2. Turista é todo o visitante que passa pelo menos uma noite num

estabelecimento de alojamento colectivo ou um alojamento privado no local

visitado.

3. Visitante do dia (same-day-visitor), em substituição do termo excursionista é

todo o visitante que não passa a noite no local visitado.

Sempre que uma pessoa se desloca para um local diferente daquele onde reside para aí se

consagrar a uma actividade remunerada ou para acompanhar ou se juntar a outrem que aí

exerce essa actividade, ficando a cargo desta, é considerado como emigrante não podendo

ser incluído na categoria dos visitantes. Os estudantes e pessoas que se deslocam a um país

estrangeiro ou dentro do próprio país mas que custeiam as suas despesas exercendo uma

actividade no local visitado também não são consideradas turistas.

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2.2 Conceito de Turismo

Tal como o conceito de turista, também o conceito de turismo sofreu varias alterações ao

longo dos tempos. Contudo foram os professores Walter Hunziker e Kurt Krapf que

estabeleceram uma definição mais elaborada em 1942, definindo o turismo como «o

conjunto das relações e fenómenos originados pela deslocação e permanência de pessoas

fora do seu local habitual de residência, desde que tais deslocações e permanência não

sejam utilizadas para o exercício de uma actividade lucrativa».

Em 1982, Mathienson e Wall apresentam uma definição mais conceptual considerando o

turismo como «movimento temporário de pessoas para fora dos seus locais normais de

trabalho e de residência, as actividades desenvolvidas durante a sua permanência nesses

destinos e as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades.»

Tendo presente as diversas definições e perspectivas existentes sobre o conceito de

Turismo, optou-se pela definição amplamente difundida pela OMT, segundo a qual

Turismo representa as actividades de pessoas que viajam para lugares fora do seu ambiente

habitual, por não mais do que um ano consecutivo, por motivos de lazer, negócios ou

outros não relacionados com o exercício de uma actividade remunerada no local visitado.

Para haver turismo tem que haver deslocação, mas nem toda a viagem é turismo, sendo

usados três critérios, simultaneamente, para que se possa caracterizar uma viagem como

turismo:

– Deslocação: para fora do ambiente habitual;

– Motivo: a viagem deve ocorrer com qualquer finalidade que não seja a remuneração a

partir do local visitado;

– Duração: apenas uma duração máxima é mencionado, não a mínima, o que significa que

não necessita de haver pernoita.

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Para além destes critérios mais objectivos, o turismo é um fenómeno multifacetado, um

verdadeiro fenómeno social total, com múltiplas dimensões – social, económica, histórica,

cultural, psicológica, ambiental – que importa considerar.

Do ponto de vista histórico, o acto de viajar está presente desde os primórdios da

humanidade, por motivos de sobrevivência, comerciais, expansionistas, religiosos, ou pelo

simples desejo de conhecer novos povos e culturas. As primeiras formas de turismo

moderno situam-se em meados do século XIX, nomeadamente o turismo de montanha,

balnear, o termalismo, considerando-se Thomas Cook o primeiro agente de viagens do

mundo. As capacidades de alojamento, os meios de transporte e os equipamentos turísticos

tiveram um crescimento exponencial, seguindo a procura de uma clientela cada vez mais

numerosa e diversificada. Laurent sistematiza um conjunto de causas que estão na origem

do turismo de massas: o aumento da longevidade, a descida da idade de reforma, a redução

da duração do trabalho, o aumento dos tempos livres, a melhoria do nível de vida, a

explosão da publicidade, mas também a necessidade de evasão e de compensação dos

constrangimentos profissionais e privados da civilização industrial ocidental (Laurent,

2003: 7).

Do ponto de vista da Ciência Económica, o turismo surge como uma actividade económica

ou um ramo de actividades, cujo mercado resulta do funcionamento das forças da oferta e

da procura turísticas. O bem turístico engloba o produto turístico – produzido

exclusivamente no âmbito da indústria turística mediante o recurso a uma tecnologia

própria – e o serviço turístico – produzido em qualquer sector económico, mas só

adquirindo o estatuto de serviço turístico no momento em que o acto de consumo é

perpetrado por um turista (Matias, 2007: 31). Entre estes destacam-se os serviços de

transporte, os serviços de alojamento e hotelaria, os serviços de distribuição de viagens

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(operadores turísticos, agências de viagens e outros intermediários), entre outros serviços e

produtos associados às novas e alternativas formas de turismo (WTO, 1999).

Laurent aponta quatro características que fazem do turismo um sector tão específico, ao

mesmo tempo que o colocam em relação com os processos de desenvolvimento (2003:14):

a explosão da oferta turística é produto do marketing e de uma evolução cultural favorável

ao lazer nos países ricos e, dado o carácter não vital do produto turístico, pode ficar em

sobre-abundância logo que surjam dificuldades junto dos consumidores; os potenciais

compradores dispõem de uma oferta planetária de produtos e de destinos turísticos cuja

concorrência é global e em permanente renovação; em relação às transacções económicas

habituais, o turismo apresenta a particularidade de a procura se deslocar em direcção à

oferta, já que o produto turístico não é um bem móvel; o cliente não pode ver o produto

antes da decisão de compra, pelo que se impõe o desenvolvimento de elaboradas

estratégias de comunicação e a implantação de um marketing eficaz para conquistar a sua

decisão.

Do ponto de vista sociológico, o turismo é um campo muito rico, embora ainda pouco

explorado. No prefácio do livro “The Sociology of Tourism” (Apostolopouloset al, 1991) é

referido que, devido à escassa utilização de teorias e abordagens metodológicas mais

sofisticadas, a Sociologia do Turismo, enquanto especialidade sociológica formalizada,

está ainda para ser reconhecida no interior do campo da Sociologia. Ainda assim,

encontramos nesta obra um trabalho pioneiro de sistematização da análise sociológica do

fenómeno turístico na sua relação com temas como o indivíduo, género, classe,

dependência, desenvolvimento, instituições sociais, mudança social, mercantilização, entre

outros. Cohen (1991: 51) considera quatro categorias principais da investigação

sociológica sobre Turismo o turista; as relações entre turistas e residentes; a estrutura e

funcionamento do sistema turístico; as consequências do turismo. Por sua vez, Dann e

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Cohen (1991), considerando que ainda não existe nenhuma perspectiva sociológica

universalmente aceite, analisam diferentes teorias sociológicas e sua aplicação ao turismo,

desde as perspectivas mais micro às mais abrangentes de carácter macro-social. Para os

autores, dada a complexidade do fenómeno, não pode haver uma única Sociologia do

Turismo, defendendo, por isso, o ecletismo na análise, em vez de se limitarem a uma linha

teórica específica. Neste sentido, é necessário considerar uma diversidade de contributos

que procuram compreender sociologicamente diferentes aspectos do turismo, partindo de

diferentes perspectivas teóricas. Os autores concluem ainda que a Sociologia por si só

fornece apenas uma interpretação parcial do fenómeno multifacetado que é o turismo. Daí

a necessidade de combinar os contributos da Sociologia com os de outras ciências sociais.

Também Urry tem-se debruçado sobre o turismo, incidindo a sua análise no olhar do

turista e como este se demarca do “outro” (1995), nos destinos enquanto locais de consumo

(1997) e no turismo enquanto uma cultura ou um estilo de vida (2002).

Finalmente, e sem sermos exaustivos, do ponto de vista da Antropologia,

MacCannell(1976) é um autor pioneiro e de referência na abordagem ao Turismo,

explicando o fenómeno como uma busca por uma autenticidade perdida, numa crítica à

civilização ocidental. Numa outra abordagem, Beek (2007) considera que o turismo gera

uma visão do outro consistente com a visão do self, enquanto, do outro lado, o turista é

percebido de formas diversas dependendo dos processos de definição da identidade

colectiva de quem é visitado.

A internacionalização do turismo significa que todos os objectos potenciais à

contemplação do turista podem ser localizados numa escala e ser comparados uns com os

outros. Significa também que não podemos explicar os padrões turísticos numa sociedade

em particular sem analisar o desenvolvimento ocorrido noutros países (Urry, 1991b: 200).

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As estatísticas disponibilizadas pela OMT enfatizam a importância económica do turismo a

nível global, considerando que o seu crescimento contínuo e a sua diversificação fazem do

sector um dos maiores e mais rápidos motores de crescimento económicos em todo o

mundo. O número de chegadas internacionais mostra uma evolução de 25 milhões de

chegadas internacionais em 1950 para um valor aproximado de 903 milhões em 2007,

correspondendo a uma taxa média de crescimento anual superior a 6%. As receitas totais

geradas por estas chegadas (receitas do turismo internacional e transporte de passageiros)

cresceram a um ritmo semelhante, ultrapassando o crescimento da economia mundial,

superando 1 trilião de dólares em 2007, ou seja, quase 3 biliões de dólares por dia (WTO,

2008).

Gráfico 1- Evolução das chegadas de turistas internacionais no mundo

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Regionalmente, entre 1950 e 2005 o desenvolvimento turístico foi particularmente forte na

Ásia e no Pacífico (média de 13% por ano), no Médio Oriente (10%) e até mesmo em

África (8%). Na América (5%) e Europa (6%), cresceu a um ritmo mais lento e

ligeiramente abaixo da média mundial, mas, ainda assim, foram as principais regiões

turísticas, representando uma quota de mercado conjunta de mais de 95% em 1950 e 76%

em 2000. As receitas do turismo internacional representaram, em 2003, cerca de 6% das

exportações mundiais de bens e serviços e, se considerarmos apenas as exportações de

serviços, a quota das exportações do turismo aumenta para quase 30%.

Com o surgimento de novos destinos e a expansão do investimento no sector, o turismo

tornou-se uma das principais categorias do comércio internacional. Hoje, o turismo

internacional é o quarto sector de exportação que gera mais rendimentos, depois dos

combustíveis, dos produtos químicos e do sector automóvel. Para muitos países em

desenvolvimento, tornou-se numa das principais fontes de rendimento e exportação,

gerando a criação de emprego e oportunidades para o desenvolvimento (WTO, 2008).

Entretanto, os anos de 2008 e 2009 são marcados por uma conjuntura de crise económica e

recessão a nível mundial que se reflectiu sobre o sector do turismo, com uma forte quebra

no crescimento das chegadas de turistas internacionais, atingindo valores negativos em

algumas regiões, de acordo com os últimos dados da OMT (WTO, 2009).

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2.3 O Turismo em Cabo Verde

Cabo Verde é um pequeno arquipélago formado por 10 ilhas (Santo Antão, São Vicente,

Santa Luzia, São Nicolau, Sal, Boavista, Maio, Santiago, Fogo e Brava) e alguns ilhéus,

localizado no Oceano Atlântico, a 500 milhas da costa do Senegal, e a 4hs de voo de

Portugal. Descoberto em 1462 por navegadores portugueses a caminho das Índias, foi, nos

primeiros séculos depois do descobrimento, um dos mais importantes entrepostos no

comércio de escravos africanos, tendo sido aqui fundada a primeira cidade pelos europeus

nesta região da África (Ribeira Grande de Santiago, hoje chamada Cidade Velha), cujas

ruínas constituem hoje objecto de estudo e investigação e atractivo turístico importante na

ilha de Santiago.

O país tem um clima do tipo quente, subtropical seco, com uma temperatura média anual

de 25º, características que conferem às ilhas – juntamente com a sua localização e a origem

vulcânica, uma identidade geofísica rica, diversa e com acentuados contrastes

paisagísticos: relevo acidentado e caprichoso e áreas completamente planas; paisagens

verdejantes e paisagens áridas; extensas praias e encostas escarpadas; paisagens urbanas e

cosmopolitas e paisagens rurais.

Estas condições naturais específicas, a par de uma cultura marcante e diversificada e de

uma história rica, constituem um dos mais importantes atractivos do país no que diz

respeito à sua competitividade como destino turístico, não obstante a sua fragilidade em

termos de equilíbrio ambiental, que requer uma abordagem cuidadosa no quadro do

desenvolvimento da actividade turística.

Com uma superfície de 4.033km2, alberga um total aproximado de 500 mil habitantes

(dados do INE, 2008), concentrados sobretudo nas ilhas de Santiago (282,7 mil), São

Vicente (76 mil), Santo Antão (48 mil) e Fogo (37 mil). De destacar, entretanto, o forte

ritmo de crescimento da população nas ilhas do Sal e Boavista, sobretudo estimulado pelo

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crescimento do turismo nessas ilhas. A estrutura da população cabo-verdiana é marcada

pela juventude (em 2008, 24% da população tinha menos de 15 anos e 59% tinha de 15 a

64 anos) e por agregados familiares numerosos (em média, 4,9 pessoas por família). O país

regista igualmente um dos mais elevados indicadores de desenvolvimento social da África

Subsaariana (IDHS de 0,705 em 2008), com 83% da população acima de 15 anos

alfabetizada e esperança de vida de 71,3 anos.

Em termos de organização administrativa, Cabo Verde divide-se actualmente em 22

concelhos, que se subdividem em freguesias e estas em povoados ou bairros. A Cidade da

Praia é a Capital do país. Existem, no entanto, outras 5 cidades: Mindelo (na Ilha de São

Vicente), São Filipe (na Ilha do Fogo), Assomada (na Ilha de Santiago), Porto Novo (na

Ilha de Santo Antão) e Ribeira Grande(antiga Cidade Velha, na Ilha de Santiago).1

Pode-se dizer que o turismo em Cabo Verde teve o seu início ainda na década de 60 do

século passado, após a construção do aeroporto internacional na ilha do Sal. A imobiliária

turística arranca igualmente na ilha do Sal, com a actuação de investidores sobretudo

italianos (entre os quais os fundadores do actual Grupo Stefaninna), e também de

investidores nacionais, que em 1991 fundam a empresa Turim para a construção de um

aldeamento na baía da Murdeira.

No entanto, o crescimento do sector turístico como actividade económica relevante no

processo de desenvolvimento de Cabo Verde é bastante recente (anos 90 do século

passado), impulsionado por diversos factores onde podemos destacar a crescente

visibilidade conferida pelo fenómeno Cesária Évora, a “descoberta” das ilhas por

investidores do sector, primeiro, portugueses e italianos, seguida depois por espanhóis e

1Dados obtidos através do Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Cabo Verde 2010/2013

p.27

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27

ingleses, a própria assumpção pelos sucessivos governos desde então, do turismo como

uma das principais alavancas da economia cabo-verdiana.

Nos últimos 8 anos, o número de turistas em Cabo Verde cresceu a uma média de 11,4%

ao ano - taxas superiores ao crescimento do turismo mundial – tendo passado de 145.000

turistas em 2000 para 333.354 em 2008. No mesmo período, as dormidas aumentaram de

684,7 mil para 1,8 milhões, um crescimento anual médio de 14,5% no período em

referência.

Em 2008, não obstante os efeitos negativos da crise sobre o turismo mundial, Cabo Verde

registou um aumento de 7% no fluxo de turistas em relação ao ano anterior, um

crescimento, entretanto, inferior à média registada nos últimos anos. Por seu lado, o

número de dormidas aumentou 27% em relação a 2007, como resultado do aumento da

estadia média de 4,3 para 5,2 dias em 2008.

Contudo, apesar da diversidade em termos de produtos turísticos que Cabo Verde

apresenta, nem todas as ilhas se têm beneficiado desta dinâmica. De facto, constata-se que

em 2008 94,7% do fluxo de turismo concentra-se em 4 ilhas, Sal (57%), Santiago (20,1%),

Boavista (9,9%) e São Vicente (7,6%). De realçar o crescimento do fluxo para a ilha da

Boavista, que aumentou 4,9 pontos percentuais em relação ao ano anterior, fruto da

abertura do aeroporto internacional na ilha em Novembro de 2007.

Tabela 1- Evolução de hóspedes e dormidas 2000-2008

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Tal desequilíbrio resulta, sobretudo, das dificuldades nas ligações aéreas e marítimas entre

as ilhas (insuficiência de ligações, preços elevados, desarticulação entre horários com

impacto no tempo morto gasto em viagens, etc.), da insuficiência de infra-estruturas

turísticas em algumas das ilhas e da deficiente promoção de todas as ilhas de forma

integrada e complementar.2

No ano de 2012, a hotelaria registou cerca de 534 mil hóspedes, correspondendo a um

acréscimo de 12,3% face ao ano de 2011. No mesmo período, as dormidas cresceram

17,9%. O Reino Unido foi o principal país de proveniência de turistas. Os turistas do Reino

Unido foram os que permaneceram mais tempo em Cabo Verde, com uma estadia média

de 9,1 noites. A ilha da Boa Vista foi a ilha mais procurada pelos turistas, representando

cerca de 38,1% das entradas nos estabelecimentos hoteleiros.

Hóspedes e Dormidas

No período de Janeiro a Dezembro de 2012 os estabelecimentos hoteleiros registaram

cerca de 534 mil hóspedes e 3,3 milhões de dormidas. Em termos absolutos representaram

58.583 entradas e 506.713 dormidas à mais do que os valores registados em 2011.

2Dados obtidos através do Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Cabo Verde 2010/2013

p.50

Tabela 2 - Evolução dos hóspedes e das dormidas segundo ano, 2008-2012

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29

A análise por tipo de estabelecimentos, revela que os hotéis continuam sendo os

estabelecimentos hoteleiros mais procurados, representando 85,0% do total das entradas.

Seguem-se as pensões e as residenciais, com cerca de 5,2% e 4,8%, respectivamente.

Relativamente às dormidas, os hotéis representam 91,8%, os caldeamentos turísticos 2,8%

e as residenciais 2,2%.

Gráfico 2 - Hóspedes e Dormidas (%) segundo tipo de estabelecimento, 201

Tabela 3- Hospedes segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência habitual

dos hóspedes, 2012

Fonte INE

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30

A Ilha da Boa Vista, a semelhança do ano anterior, continua a ter maior acolhimento, com

38,1% do total das entradas, seguido da ilha do Sal, com 35,2% e Santiago com 12,9%. Em

relação às dormidas, a ordem é a mesma: Boavista com 47,4%, Sal com 42,2% e Santiago,

com 4,4%.

Fonte INE

Gráfico 3- Hóspedes e Dormidas (%) segundo ilhas, 2012

Tabela 4- Hóspedes segundo a Ilha, por pais de residência dos hóspedes, 2012

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A maioria dos turistas provenientes do Reino Unido preferiu como destinos as ilhas da

Boa Vista e Sal representando, respectivamente 63,3% e 36,2% das dormidas e escolheram

como local de acolhimento os hotéis, 99,7%.

As dormidas dos residentes na Alemanha distribuíram-se principalmente pelas Ilhas da

Boavista (48,5%) e Sal (46,9%). Os hotéis foram os tipos dos estabelecimentos mais

procurados pelos Alemães, representando cerca de 92,4%.

Os visitantes provenientes de Portugal escolheram como destinos principais as ilhas do

Sal (40,5%), Boa Vista (40,3%) e Santiago (14,3%). Preferiram também, os hotéis como o

principal meio de alojamento, representando 92,8%.

Gráfico 4- Hospedes e Dormidas(%) por pais de residência dos hóspedes, 2012

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Tabela 5 - Dormidas segundo o tipo de estabelecimento, por pais de residência dos hóspedes,

2012

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No ano em apreço, em média, a taxa de ocupação-cama, a nível geral, foi de 57%,

ligeiramente inferior à registada em 2011 (58%). As ilhas da Boa Vista e do Sal tiveram as

maiores taxas de ocupação – cama com 82% e 57%, respectivamente.

Os hotéis foram os estabelecimentos hoteleiros com maior taxa de ocupação – cama, 66%.

Seguem-se-lhes os hotéis-apartamentos e os aldeamentos turísticos, ambos com 23%.

Tabela 6 –Dormidas segundo Ilhas por pais de residência dos hóspedes, 2012

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Os dados apurados pelo INE, mostram também que os visitantes provenientes do Reino

Unido foram os que tiveram maior permanência média em Cabo Verde no ano em análise

(9,1 noites). A seguir estão os provenientes da Alemanha (7,2 noites) e da Bélgica e

Holanda com 7,0 noites. Os Cabo-verdianos residentes permaneceram, em média, 2,7

noites nos estabelecimentos hoteleiros durante o ano 2012.3

3Todos os dados referentes as estatísticas do turismo no período de 2008 á 2012 foram obtidos através da

Folha de Informação Rápida do INE Estatísticas do Turismo 2012 - Movimentação de Hóspedes (p.7, 14)

Gráfico 5 –Estadia média (noites) segundo o tipo de estabelecimento,por pais de

residência dos hóspedes, 2012

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2.4 Potencialidade e Atractivos Turísticos

As características naturais e socio-culturais das ilhas constituem, como referimos atrás,

uma das suas forças, nomeadamente por constituírem fortes atractivos turísticos,

associados à imagem de um ambiente tropical, de praias de águas quentes e límpidas,

gentes calorosas e múltiplas expressões culturais.

Enquanto destino cultural, encontramos em Cabo Verde inúmeras expressões que

constituem elementos de atracção turística como a música, a dança, o teatro, as festividades

locais, os locais e edifícios históricos, a gastronomia, a arte e o artesanato, as

manifestações religiosas, as próprias actividades e modos de vida dos habitantes. Nestas

várias manifestações culturais está presente o sincretismo entre as raízes africanas e

europeias.

Começando pelo artesanato cabo-verdiano, destaca-se a cestaria em caniço, a tecelagem

em algodão, a tapeçaria, a cerâmica e os trabalhos em casca de côco, batik, conchas e

bonecas de trapos, sendo o pano di terra4o produto de maior referência, com um grande

valor para a história e cultura cabo-verdiana. As datas festivas e os festivais constituem

outro atractivo turístico de destaque, sendo a principal festa cabo-verdiana o Carnaval,

festejado em todas as ilhas, com destaque para o de Mindelo. Existem ainda várias festas

regionais, sobretudo de carácter religioso, associadas aos santos populares de cada região,

como o Kola San Jon da ilha de Santo Antão, em que à tradicional missa e procissão se

acrescenta a música e a dança. Em termos de cultura musical, Cabo Verde é conhecido

4A história da nação cabo-verdiana está associada ao “pano di terra”. No passado, Cabo Verde, no sentido de

alimentar as transacções do comércio da escravatura, desenvolveu uma verdadeira indústria familiar de

panaria, a ponto de o historiador António Carreira afirmar: “Pomos sérias dúvidas se o tráfico de escravos

chegaria a tomar as proporções que tomou, sem o algodão e sem os panos de vestir, estes sobretudo depois de

introduzida a padronagem com desenhos em relevo. O algodão e o pano foram incontroversamente uma das

mais importantes mercadorias usadas no tráfico” (www.areasprotegidas.cv).

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sobretudo pelas suas mornas e coladeiras, mas também por outros estilos musicais mais

ritmados e dançáveis, como o funaná ou o batuque.

Alguns festivais são já uma referência, como é o caso do festival de Música da Baía das

Gatas e o Festival de Teatro Mindelact, em São Vicente; o Festival de Gamboa e o recém-

criado Kriol Jazz Festival, em Santiago. Na gastronomia, destaque para a cachupa, na

fusão entre as influências africanas e portuguesas, e, nos produtos agro-pecuários, o queijo,

os doces, os vinhos, licores e o famoso grogue5. Em termos de locais históricos destaca-se,

na ilha de Santiago, a Cidade Velha, desde 2009 classificada pela UNESCO (Organização

das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como património da

Humanidade, entre muitos outros locais de elevado valor histórico e artístico.

Os atractivos naturais, para além do sol e praia, são igualmente muito diversos, desde a

paisagem lunar do vulcão da ilha do Fogo, à zona florestal do Planalto Leste, em Santo

Antão, a observação de tartarugas na Boavista, ou as salinas do Maio e do Sal, muitos dos

quais em contexto de áreas protegidas amplamente implantadas em todo o arquipélago.

A este propósito, do ponto de vista de actividades desportivas e de lazer, Cabo Verde está

sobretudo associado às actividades náuticas, como a pesca, o mergulho, a observação de

corais, o windsurf, bodyboard ou surf, mas existem também muitas zonas montanhosas,

propícias ao montanhismo e trekking6.

Cabo Verde goza ainda de aspectos importantes como excelentes condições e qualidade

ambiental e um equilíbrio da relação do homem com a natureza; o património e tradição

sociocultural; a identidade e estilos de vida distintos do das sociedades industriais e

urbanas – função de reserva (ecológica, patrimonial, cultural) face ao mundo industrial; a

morabeza; a segurança, a paz e a tranquilidade.

5Grogue é uma aguardente de cana-de-açúcar fabricada por métodos artesanais. O mais conhecido e

apreciado é o da Ilha de Santo Antão 6Caminhadas de longa distância, geralmente em montanhas ou florestas (Cambridge Dictionary)

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2.5 Fragilidades e Constrangimentos

Apesar do grande potencial turístico de Cabo Verde, o seu desenvolvimento é dificultado

pela presença de um conjunto de vulnerabilidades e constrangimentos, tais como:

– Carências ao nível das infra-estruturas básicas em algumas ilhas (condições de

habitabilidade, qualidade da água, saneamento, recolha e tratamento de resíduos, sistema

de saúde e educação, equipamentos de lazer, cultura e desporto);

– Fragilidade dos meios de transporte, comunicações, electricidade e acessibilidades;

– Predominância de situações de pobreza;

– Destino procurado para turismo sexual;

– Pressões imobiliárias e turísticas, com expansão desordenada das áreas urbanas;

– Falta de recursos financeiros para efectuar os investimentos necessários;

– Falta de informação para os turistas, quer no exterior, quer localmente;

– Dificuldade em garantir o abastecimento regular de bens e serviços em algumas ilhas do

País;

– Procura turística interna limitada, ainda assim em crescimento.

Apesar de Cabo Verde dispor de algumas infra-estruturas, consultores externos consideram

que a qualidade dos serviços turísticos – dominado pelo sol e praia – senão for melhorada

poderá comprometer a sustentabilidade do sector a longo prazo; em particular, é urgente a

implantação de sistemas de saneamento e de reciclagem de águas residuais, bem como a

melhoria dos sistemas de recolha de resíduos sólidos.

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2.6 As Novas Tendências em Turismo

A indústria turística mundial tem enfrentado grandes desafios, tanto a nível local como a

nível global, o que levou a novas preocupações em relação ao desenvolvimento sustentado

e equilíbrio ambiental das zonas onde o desenvolvimento turístico tem maior impacto.

Ao longo dos tempos, o turismo tem sido enaltecido e criticado, por investigadores,

políticos, gestores e pelas próprias comunidades de acolhimento. Por um lado, o turismo é

uma das principais actividades económicas do mundo, com efeitos positivos a diferentes

níveis:

– A nível macroeconómico, contribuindo para o aumento dos rendimentos do Estado,

entrada de divisas, atracção de investimento estrangeiro e estímulo ao investimento em

geral, maior equilíbrio da balança comercial;

– Estímulo de diferentes actividades económicas – de forma directa: alojamentos,

restaurantes, cafés e bares, serviços de lazer e organização de viagens e visitas, serviços

locais (transporte, cabeleireiro, comunicações), produtos e serviços periféricos (tais como

transporte domicílio-destino, compras de preparação para a viagem, feiras e salões); de

forma indirecta: através das cadeias de abastecimento, nomeadamente em sectores como a

agricultura ou a indústria local as pescas e a construção civil;

– Criação de emprego;

– Valorização dos recursos naturais e culturais, criando valor económico e protecção de

recursos que de outra forma não teriam valor para as populações locais;

– Promoção do diálogo intercultural e abertura a outros modelos culturais;

– Melhoria do nível e qualidade de vida;

– Melhoria das infra-estruturas em geral;

– Promoção das artes e artesanato;

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– Aumento do nível educacional da população local (aprendizagem de novas

competências, línguas e culturas estrangeiras).

Contudo, apesar dos potenciais impactos positivos do turismo sobre os países de

acolhimento, esses impactos geralmente beneficiam apenas uma minoria da população e as

externalidades negativas que acompanham as formas dominantes de turismo (turismo de

massa, capitalista, industrial) são consideráveis:

– Geralmente, há uma excessiva dependência face ao investimento estrangeiro, sobretudo

nos países menos desenvolvidos, com perda de controlo local sobre os recursos;

– É frequente a fuga de divisas, devido ao endividamento externo necessário para fazer

face ao investimento inicial e porque as entradas são penalizadas pelas crescentes

necessidades de produtos e serviços importados;

– Como consequência, as riquezas geradas pelo turismo são desigualmente repartidas, já

que, sendo os territórios de acolhimento do turismo de massa países em vias de

desenvolvimento, estes não controlam os fluxos turísticos, os quais são dominados por

grandes grupos económicos sedeados nos países industrializados (Laurent, 2004: 35);

– Os complexos turísticos constituem-se frequentemente como enclaves, sem articulação

com os outros sectores da economia doméstica, utilizando uma variedade de estratégias

para reter o turista, sem lhe dar a oportunidade de sair desses ambientes, para divertimentos

e consumos fora das suas dependências (Coriolano e Almeida, 2007);

– A excessiva dependência face ao sector turístico é perigosa, dadas as flutuações, muitas

vezes imprevisíveis, a que o sector está sujeito (nomeadamente por motivos como

epidemias, terrorismo, catástrofes naturais, instabilidade política, oscilação das taxas de

câmbio, acontecimentos mediáticos);

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– Grande parte do emprego no turismo é precária, desqualificada, mal-remunerado,sazonal,

sendo frequentes os atentados aos direitos dos trabalhadores, bem como o desenvolvimento

de redes de prostituição e trabalho infantil;

– O tecido social dos territórios de acolhimento é debilitado dada a repartição desigual das

vantagens inerentes ao turismo, fonte de disparidades sociais agravadas pelas diferenças

culturais e de poder de compra, bem como com a introdução de hábitos de consumo não

sustentáveis;

– O contraste entre a riqueza dos turistas e a pobreza das comunidades locais deixa-as mais

vulneráveis à violência simbólica (Amblés, 2002) e à exploração, podendo verificar-se um

reforço de padrões neocoloniais (Brohman, 1996);

– Há uma tendência para a descaracterização cultural, com perda de identidade, alienação

cultural e “folclorização” das culturas, em que as tradições locais se tornam

comercializáveis e perdem a sua autenticidade;

– O aumento do número de turistas perturba as actividades da comunidade e entra em

competição pelos locais de lazer e outros serviços e recursos;

– A utilização da área acarreta degradação ambiental – associada à construção de infra-

estruturas, demasiada exploração dos recursos naturais, utilização de transportes com

emissões de dióxido de carbono, pressão sobre os ecossistemas, poluição, distúrbio dos

habitats naturais, artificialização das paisagens, conflitos no uso de recursos limitados

como água e energia;

– A pressão turística estimula ainda a especulação imobiliária e os conflitos pela

propriedade fundiária;

– Geram-se fortes desequilíbrios regionais dada a concentração do turismo apenas em

algumas zonas mais atractivas.

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Para Alves de Oliveira (2008), o turismo que ele designa de capitalista assume-se como

uma nova modalidade do processo de acumulação capitalista, onde uma minoria se

apropria dos espaços e dos recursos neles contidos, apresentando-os como atractivos

turísticos, transformados em objectos de consumo. Deste modo, regiões litorais

originalmente ocupadas por comunidades tradicionais, grupos indígenas e pescadores, são

expropriadas para dar lugar às segundas residências, aos grandes complexos hoteleiros, às

cadeias internacionais, aos parques temáticos. O espaço do residente e os espaços dos

turistas, o espaço esquecido do cidadão local e o espaço elitizado e luxuoso dos turistas,

entram, assim, em conflito. O autor chama a atenção para o papel determinante do Estado

nesse processo, já que este frequentemente se posiciona a favor dos empresários do

turismo, dos proprietários de terra, dos agentes imobiliários.

Estas críticas e contradições estão na origem de uma nova consciência em relação aos

impactos negativos do turismo convencional e de massas, evidenciando a necessidade de

um turismo diferente. Tal preocupação está presente em diversos organismos

internacionais, tais como a OMT através da pioneira Conferência de Manila (1980), do

Código Ético Mundial para o Turismo (2001) e do programa STEP – Sustainable Tourism

Eliminating Poverty (2002); a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and

Development) através de diversas conferências internacionais; a OIT com o seu contributo

para a promoção do Turismo Comunitário, através da Redturs (Rede de Turismo

Comunitário Latino-Americana);

Deste modo, se fundamenta a evolução recente do sector turístico que, segundo Laurent

(2003), tem seguido por duas direcções:

– Uma melhoria qualitativa de uma parte das prestações do turismo de massa,

nomeadamente ao nível da protecção do ambiente e recursos naturais e da luta contra a

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poluição no sector hoteleiro, do lazer e, marginalmente, dos transportes, numa perspectiva

de responsabilidade social;

– A diversificação de uma oferta alternativa, de nicho, diferenciada, conforme se apresenta

a seguir.

2.7 Turismo Social, Turismo Rural, Turismo Responsável, Ecoturismo,

Turismo Justo e Turismo Comunitário.

Na aproximação ao conceito e às práticas de Turismo Comunitário, identifica-se um

conjunto de formas alternativas de turismo que se têm vindo a afirmar em oposição às

práticas dominantes do sector, surgindo com as mais diversas designações – Turismo

Responsável, Turismo Rural, Turismo Social, Ecoturismo, Turismo Justo e Turismo

Comunitário.

Apresenta-se de seguida uma breve definição de algumas das terminologias mais

utilizadas.

Começando pelo Turismo Social, não sendo uma forma de turismo alternativo, é

importante contemplá-la dada a sua frequente confusão com Turismo Comunitário. O

Bureau Internacional de Tourisme Social define-o como o conjunto de relações e

fenómenos resultantes da participação no turismo e, em particular, da participação de

estratos sociais de baixos rendimentos. Esta participação é possível, ou facilitada, por

medidas de natureza social bem definidas (BITS, 2003). Portanto, o Turismo Social visa

promover o acesso ao turismo a todos os grupos populacionais, dando especial atenção a

segmentos desfavorecidos, e referindo-se nomeadamente a medidas aplicadas pelos

governos para encorajar as férias – um direito fundamental dos trabalhadores na maioria

dos países. O seu objectivo é favorecer o acesso ao turismo para o máximo de pessoas, o

que, segundo Poos(2006), tenderá a evoluir em direcção a formas de Turismo Solidário.

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No Turismo Rural, o viajante tende a estabelecer uma relação estreita com os habitantes a

fim de facilitar as trocas e compreensão mútua, constituindo o turismo uma fonte

complementar de rendimentos para as explorações agrícolas ou zonas rurais. Com origem

nos anos 60-70, pode ser visto como um antecessor das Novas Formas de Turismo, já que

constitui uma alternativa às grandes concentrações turísticas.

O Ecoturismo é definido como viagem responsável na natureza que conserva o ambiente e

contribui para o bem-estar das populações locais (TIES, 2008). A principal motivação do

turista é observar e apreciar a natureza, bem como as culturas tradicionais que prevalecem

nas zonas naturais.“Ecoturismo é o segmento da actividade turística que utiliza, de forma

sustentável, o património natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação

de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o

bem-estar das populações”. (Marcos Conceituais – MTur)

O Turismo Justo baseia-se nos princípios do comércio justo, enfatizando a justa

remuneração dos prestadores locais, a participação das comunidades de acolhimento, os

processos de decisão democrática e os modos de produção amigos do ambiente (Poos,

2006; Ritimo, 2007). Os seus objectivos são maximizar os benefícios do turismo para os

actores locais, através de parcerias justas e mutuamente benéficas com os parceiros

nacionais e internacionais, e também apoiar os direitos das comunidades indígenas.

A abordagem PPT – Pro PoorTourism(Turismo “Pro-Pobres”) emergiu da pesquisa

britânica sobre meios de vida sustentáveis e em particular dos trabalhos de Harold

Goodwin (1998), estando na origem da criação da Pro PoorTourismPartnership do

programa STEPSustainable Tourism Eliminating Poverty– da OMT. De acordo com a Pro

Poor Tourism Partnership (2008) o PPT é um turismo que resulta num acréscimo de

benefício sem rede para os pobres, frisando que não se trata de um produto ou nicho de

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mercado, mas antes uma abordagem ao desenvolvimento e gestão do turismo que visa

ampliar os benefícios do sector para os pobres.

O Turismo Responsável coloca a ênfase no viajante, e não na comunidade que ele visita.

No seu cerne está a tomada de consciência de que o viajante é responsável pelo efeito do

turismo sobre a população e o ambiente, sendo que responsabilidade significa aqui uma

atitude de respeito pelos lugares sem danificar nem a comunidade nem o ambiente (ICRT,

2002). Podemos dizer que o Turismo Responsável também é solidário, sendo que essa

solidariedade se expressa sobretudo no estado de espírito com que o turista parte em

viagem.

O Turismo Comunitário é constituído por formas turísticas propostas e geradas pelas

comunidades, as quais se integram de forma harmoniosa nas diversas dinâmicas colectivas

do local de acolhimento. Na medida em que uma comunidade implica, por definição,

indivíduos com algum tipo de responsabilidade colectiva e capacidade de tomar decisões

por órgãos representativos, o Turismo Comunitário implica um acréscimo de solidariedade

e co-gestão (Laurent, 2003).

Em resumo, os vários conceitos e abordagens de turismo alternativo, embora distintos, são

compatíveis e, em parte, sobrepõem-se. Qualquer classificação destes termos será sempre

parcial e incompleta, não existindo uma definição única e generalizada. O essencial é que

em todas as definições apresentadas está presente a ideia de responsabilização e de parceria

ou solidariedade. Segundo Amo (2003), a riqueza de terminologias deriva da multiplicação

destas parcerias, que contribui para dar um novo sentido ao turismo, já não apenas

reduzido ao prazer ou ao ócio casual, mas aberto ao diferente, à procura de novas relações

e à preocupação por um mundo mais justo.

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2.8 O Turismo Comunitário

As novas tendências da demanda mundial fazem com que o turismo conquiste

constantemente novos espaços e incorpore novos atractivos à sua oferta. Neste cenário,

inúmeros micro-empreendimentos familiares, cooperativos e comunitários enriquecem a

oferta turística nos âmbitos local, nacional e internacional, ao incorporarem “um turismo

com selo próprio”, a partir de uma combinação de atributos singulares e originais

(MALDONADO, 2009).

Segundo a discussão de Beni (2006), para que a prática turística seja bem planeada, é

necessário o envolvimento da comunidade local em todo o processo de desenvolvimento

da actividade. Nesse sentido, as práticas do desenvolvimento endógeno apresentam-se

como fortes instrumentos que devem ser utilizados no planeamento turístico.

De acordo com Beni o planeamento endógeno:

“ [...] visa atender às necessidades e demanda da população local por meio da participação activa da

comunidade envolvida. Mais do que obter ganhos em relação à posição do sistema produtivo local na

divisão nacional ou internacional do trabalho, o objectivo é buscar o bem-estar económico, social e

cultural da comunidade local, o que leva à diferentes caminhos de desenvolvimento, conforme as

características e capacidades de cada economia e sociedades locais.”(Beni,2006, p. 36),

Para Buarque (2002, p. 30), “[...]o desenvolvimento de uma localidade – município, micro-

região, bacia, ou mesmo espaço urbano – deve ter um claro componente endógeno,

principalmente no que se refere ao papel dos actores sociais, mas também em relação às

potencialidades locais” Ou seja, este conceito transforma o território no qual a actividade é

desenvolvida num grande agente de transformação, onde se trabalha evidenciando as

potencialidades locais, promovendo o desenvolvimento sociocultural sustentável e melhor

qualidade de vida paraa comunidade autóctone.

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Neste limiar, diante deste projecto de gestão do território com base no planeamento de

actividades que possam promover níveis expressivos de desenvolvimento local, surge o

Turismo de Base Comunitária (TBC) como alternativa económica para comunidades que,

por um lado, possuem desvantagens sócio económicas, mas por outro, preocupam-se com a

conservação da biodiversidade e dos aspectos culturais que as compõem.

O TC é caracterizado pela forma de associação em que as comunidades se organizam,

através de arranjos produtivos locais, gerindo o território e as actividades económicas

associadas ao turismo. Ao mesmo tempo, Maldonado (2009) fala da importância de se

pensar no património comunitário como fonte de atracção e instrumento de

desenvolvimento, ao definir que:

“O património comunitário é formado por um conjunto de valores e crenças, conhecimentos e

práticas, técnicas e habilidades, instrumentos e artefactos, lugares e representações, terras e territórios,

assim como todos os tipos de manifestações tangíveis e intangíveis existentes em um povo. Através

disso, se expressam seu modo de vida e organização social, sua identidade cultural e suas relações

com a natureza” (MALDONADO, 2009, p. 29).

Portanto, o turismo comunitário possibilita o contacto do turista com o património

comunitário e o modo de vida das comunidades autóctones. Dá oportunidade ainda, que

visitantes conscientes - estudantes, professores, pesquisadores e simpatizantes – entrem em

contacto com assuntos relacionados à conservação da natureza (sistemas ecológicos) e, ao

mesmo tempo, a conservação de modos de vida tradicionais (sistemas sociais) (SAMPAIO;

ZECHNER; HENRÍQUEZ, 2008). O TBC pode ser entendido como aquele

“[...]desenvolvido pelos próprios moradores de um lugar que passaram a ser os

articuladores e os construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam na

comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida” (CORIOLANO, 2003 p. 41).

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Trata-se, assim, de um novo conceito de turismo, o qual a priori não se diferencia

totalmente das demais modalidades, pois também utiliza serviços de hospedagem e

alimentação, bem como a integração de vivências. Contudo, podem ser apresentadas

algumas características que distinguem o turismo comunitário das demais temáticas

abordadas. Uma das diferenças é o entendimento da actividade turística como um

subsistema interligado a outros sistemas como meio ambiente e educação. A segunda

característica é a visão do turismo comunitário como um projecto de desenvolvimento

territorial sistémico por meio da própria comunidade. A terceira característica está ligada a

convivencialidade entre a população local e os visitantes, imbricada em um arranjo sócio

produtivo de base comunitária (SAMPAIO; ZECHNER; HENRÍQUEZ, 2008).

Neste limiar, Sampaio (2005) complementa o conceito de turismo comunitário como um

projecto de comunicação social que favorece as experiências de planeamento para o

desenvolvimento de base local, na qual os residentes se tornam os principais articuladores

da cadeia produtiva, bem como no resgate e conservação de seus modos de vida, os quais

podem ser vivenciados através da actividade turística. Assim, estas comunidades

tradicionais que vivem em espaços rurais podem conservar modos de vida próprios,

manifestados em suas actividades produtivas agrícolas e através de seu artesanato local.

Espera-se que o TBC proporcione às famílias autóctones oportunidades de

desenvolvimento, sem interferir nas particularidades e dinamismo comunitário.

Do ponto de vista cultural, o Turismo de Base Comunitária significa aprendizagem,

conhecimento, encontro de pessoas. Representam-se os valores, signos e símbolos que

favorecem as relações interpessoais e de hospitalidade entre turistas e visitados. Oferece

um local de encontro e convivencialidade, expressando sua essência nas trocas e

intercâmbios culturais.

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Se contrapondo ao turismo convencional, Coriolano (2006) enfatiza que a ideia do

Turismo de Base Comunitária é mais do que visitar atracções turísticas; procura-se

oferecer aos visitantes a oportunidade de experimentarem a vida local da comunidade

como ela realmente é, fortalecendo a relação entre visitantes e residentes, promovendo um

processo de intercâmbio cultural, trocas de experiências, conhecimentos e saberes.

A partir deste modo de organização comunitária, Coriolano (2003, p. 191) afirma que “[...]

o turista é atraído pela simplicidade, pelas belezas naturais, calmaria e a rusticidade do

lugar”. A autora acrescenta ainda que uma das principais características do turismo

comunitário é a criação de comunicação entre visitantes e visitados, havendo interacção e

respeito mútuo entre turista e morador, as relações são humanizadas, pessoais e singulares,

ao contrário do turismo convencional, onde as relações são impessoais, distantes ou nem

chegam a existir.

O turismo é considerado em âmbito global como uma actividade económica, que gera

crescimento, oportunidades de emprego, rendas e dividas. Contudo, a proposta do TC se

opõe à esse estilo consumista, priorizando a descoberta de experiências com outros modos

de vida, superando a hegemonia da sociedade de mercado, prezando pela relação

harmónica entre turista e comunidade receptora, onde ambos são considerados agentes de

acção socioeconómico e ambiental, repensando as bases de um novo estilo de

desenvolvimento (SAMPAIO, 2005).

Frente a todas as potencialidades apresentadas acima, são inúmeras as vantagens

socioeconómicas e culturais que o Turismo de Base Comunitária pode proporcionar a

todos os agentes económicos envolvidos. Acredita-se, portanto, que na comunidade

envolvida, a actividade turística se caracteriza como um factor que contribuirá para a

melhoria do nível e da qualidade de vida da população, bem como para a prosperidade dos

micro - empreendimentos e economia local.

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Ainda neste contexto, o TBC aparece como potencializador da conservação dos aspectos

culturais da comunidade autóctone, preservando e resgatando a autenticidade cultural.

Segundo Max-Neef (2008), o elemento fundamental para a vitalidade das comunidades é a

diversidade. Logo, o turismo comunitário pode ser visto como o “meio” para alcançar a

conservação da diversidade dos modos de vida das comunidades e das identidades locais.

Este tipo de turismo pressupõem uma forma construída num modelo mais justo e

equitativo, que leve em conta a sustentabilidade ambiental e que coloque a população local

no centro do planeamento, da implementação e do controle das actividades turísticas,

permitindo a geração de emprego e renda para as populações locais.

Experiências de projectos de turismo solidário e comunitário têm sido desenvolvidos

principalmente no Brasil têm revelado que na prática, as pessoas nos destinos turísticos

podem se beneficiar mais da actividade turística. Estas experiências estão sendo

identificadas e divulgadas de forma activa para trocar experiências afirmativas e contribuir

com o desenvolvimento de estratégias para um turismo equitativo, centrado em pessoas,

sustentável, ecologicamente correcto, e que respeita os direitos das crianças e das

mulheres.

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O Turismo Comunitário é uma actividade turística que se baseia em uma série de

Princípios.7

1 - Turismo da comunidade. A comunidade deve ser proprietária dos empreendimentos

turísticos e gerir colectivamente a actividade.

2 - Turismo para a comunidade. A comunidade deve ser a principal beneficiária da

actividade turística, que existe para o desenvolvimento e fortalecimento da Associação

Comunitária.

3 - Atracção Principal = Modo de Vida. A principal atracção turística é o modo de vida da

comunidade, ou seja, sua forma de organização, os projectos sociais que faz parte, formas

de mobilização comunitária, tradição cultural e actividades económicas.

4 - Partilha Cultural. As actividades são criadas para proporcionar intercâmbio cultural e

aprendizagem ao visitante. Não se trata de apresentações folclóricas da cultura popular, e

sim de actividades que fazem parte do quotidiano que o turista vai experimentar.

5 - Conservação ambiental. Os roteiros respeitam as normas de conservação da região e

procuram gerar o menor impacto possível no meio ambiente.

6 - Transparência no uso dos recursos. Comunidades e visitantes participam da

distribuição justa dos recursos financeiros.

7 - Parceria Social com Agências de Turismo. Procura envolver todos os elos da cadeia do

turismo no benefício das comunidades.

7Estes Princípios são identificados pela Rede Turisol -Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitáriono

(Projecto Bagagem)

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2.9 O Perfil da Demanda

No turismo comunitário a demanda apresenta aos poucos um comportamento que procura

conhecer a cultura, os hábitos da população, a natureza e a história dos locais visitados.

Diante destas tendências de novos padrões, desponta-se um novo segmento de mercado,

com foco nos anseios de uma geração que idealiza ética, a identidade e, principalmente, as

vivências, aproximando-se do que Illich (1976) define como:

“[…]convivencialidade. Estas vivências consistem em viver intensamente a experiência. O turista

deixa de lado o papel de espectador passiva, e entra em cena tornando-se o protagonista, isto é, passa

acontracenar, a ver, sentir e agir no cenário”.“

[…]Deste modo, a motivação e a conduta dos turistas se caracterizam, cada vez mais, pelo

crescimento da selectividade ao escolher o destino, da sensibilidade pelo meio ambiente e cultura

local e pela exigência de qualidade da experiência” (ZAMIGNAN,2009).

Para o turismo e o lazer as diferentes motivações que influenciam a demanda na tomada de

decisão sobre que destino turístico escolher evidenciam que a actividade turística depende

essencialmente da motivação das pessoas e, principalmente, de que suas necessidades

vitais sejam satisfeitas. Krippendorf (2003, p. 47) afirma que:

“[…] o ser humano viaja, sobretudo em função de um desejo de fuga. Na verdade, esta seria a

principal razão de ser do turismo hoje. O universo industrial é percebido como uma prisão que incita a

evasão. E isto porque, na realidade, o mundo do trabalho é feio, o ambiente é desagradável,

uniformizado e envenenado, o ser humano é tomado pela necessidade obsessiva de se liberar, o que torna inevitável o desejo de fuga.”

Coriolano (2003, p. 121) destaca que as motivações para as pessoas viajarem são muitas:

“[…]Algumas ligadas à educação e à cultura, como saber como vivem e trabalham as pessoas de

outros lugares, visitar monumentos, museus e ver peças de arte, conhecer melhor o mundo,

compreender melhor os acontecimentos mundiais, assistir a eventos especiais culturais e artísticos. Por

prazer, assim como para escapar da rotina diária e das obrigações, fazer aventuras, visitar novos

lugares, buscar novas experiências, ter aventuras românticas, por saúde e entretenimento, para

descansar e recuperar-se do trabalho, do stress, praticar desporto, para viajar com a família, com

amigos e parentes, visitar lugares de onde procede a família. […] Uma das maiores motivações na

actualidade vem sendo aproveitar a natureza e assim surgiu o ecoturismo e o eco turista, os hóspedes

da natureza.”

A diversidade de experiências de viagens vem resultando em novos tipos de turistas que

tem uma ampla experiência de viagens, seleccionam mais e melhor seus destinos e a forma

de viajar, valorizam mais os aspectos espirituais e ecológicos da viagem. Procuram o real e

o natural nos destinos, não o alterado; tem mais tempo livre e são mais flexíveis, são

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espontâneos em suas escolhas. As actividades turísticas formam parte das necessidades

fundamentais e da qualidade de vida desse novo tipo de turista que dedicam mais tempo a

essas actividades.

2.10 O Turismo Comunitário em Cabo Verde

O TC em Cabo Verde ainda não tem grande expressão, mas alguns projectos foram

identificados, como é o caso de Lajedos na ilha de Santo Antão desenvolvido pelo Atelier

Mar, o projecto de Turismo Comunitário na Ribeira de Vinha em São Vicente, que se

encontra ainda na fase de lançamento e um caso de Turismo Comunitário na ilha do Fogo

que não teve sucesso devido a falta de planeamento direccionado a esse tipo de turismo.

2.11 O Desenvolvimento Comunitário

O turismo comunitário também é visto por alguns autores como meio para a inserção de

outras práticas, como o desenvolvimento económico de uma determinada área, como um

meio de interacção e desenvolvimento social, concretização da consciência de preservação

ambiental, cultural e ainda como ferramenta para a sustentabilidade. Porém para o sucesso

do desenvolvimento turístico de base comunitária é necessário ter em atenção diversos

factores determinantes para sua afirmação e não apenas ser desenvolvido a partir da

comunidade em si, pois esta deve estar ciente de seu papel e responsabilidade adquirida

pela prática da actividade turística em seu entorno, pois a mesma planeará estratégias para

a exploração do turismo dentre outras inúmeras responsabilidades como afirma Carvalho

(2007):

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“[…]O turismo comunitário apresenta-se sendo desenvolvido pela própria comunidade, onde seus

membros passam a ser ao mesmo tempo articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda

e o lucro permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade de vida, levando todos

a se sentirem capazes de cooperar e organizar as estratégias do desenvolvimento do turismo. Além de

requerer a participação de toda a comunidade, considera os direitos e deveres individuais e colectivos

elaborando um processo de planeamento participativo. Desenvolvendo assim a gestão participativa, ou

seja, os actores sociais na sua maioria se envolvem com as actividades desenvolvidas no local de

forma directa ou indirecta tendo sempre em vista a melhoria da comunidade e de cada participante,

levando em conta os desejos e as necessidades das pessoas, a cultura local e a valorização do

património natural e cultural.”

Porém como desenvolver a comunidade capaz de exercer o desenvolvimento comunitário?

Pois, são citadas inúmeras vezes as responsabilidades colocadas em mãos da mesma que

devem ser capazes de defender suas ideias.

Segundo Carvalho esta sociedade deve estar madura, composta por indivíduos habilidosos

para a formação sólida de uma comunidade e só então com seu amadurecimento e

normalmente em formações associativas atingir o desenvolvimento comunitário. Porém

como formar indivíduos habilidosos? Ainda segundo Carvalho, é necessário o

desenvolvimento do indivíduo dando-o condições mínimas e recursos básicos para esta

procura, Carvalho (2007):

“[…]Para que ocorra o desenvolvimento, é preciso priorizar a satisfação de algumas necessidades

humanas no que diz respeito à saúde, educação, moradia, lazer, emprego e renda. Esses factores

implicam directamente no processo de desenvolvimento do individuo, uma vez que o mesmo

necessita de auto-independência e habilidades para actuar em grupo, tornando-se protagonista de sua

evolução e consequentemente de sua comunidade, já que a participação é considerada pelos estudiosos

um processo de mobilização social e espaço de construção de cidadania.”

A promoção do turismo comunitário abre espaço para as comunidades, que são levadas à

transformação das mesmas em núcleos receptores do turismo, procurando no mesmo,

ferramentas para o desenvolvimento local, além de se auto beneficiarem com a produção

de produtos e prestação de serviços. Aderem ao associativismo através de cooperativas e

organizações comunitárias.

Porém para que estes requisitos na formação do indivíduo sejam atendidos é necessário

como sempre o apoio governamental, incentivo público e privado, assim como para

viabilizar a formação de comunidades, para que esta seja capaz de gerir o turismo local.

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Em alguns modelos de desenvolvimento para o sector turístico é evidenciada a importância

de incentivos públicos da participação privada e da população na actividade, sendo a

comunidade trabalhada para a receptividade e também para a preservação de patrimónios

ambientais e culturais gerando a consciencialização da importância do turista e para a

actividade turística, fazendo com que se alcance o sucesso do destino.

No turismo comunitário não é diferente, existe a necessidade de entrelaçamento entre os

sectores, pois o modelo comunitário não exclui a importância do apoio e recursos para que

o modelo de desenvolvimento não seja mais uma utopia deparada à globalização de

economia capitalista, é necessário que a comunidade consciente se organize e procure

apoio para exploração do turismo já que este modelo diferentemente possibilita a

participação activa e directa da comunidade, tornando possível que esta usufrua das

oportunidades geradas pela actividade e não sejam excluídos e servindo de mão de obra

barata para grande empreendedores oportunistas do consumismo.

Dessa forma o turismo comunitário surge como uma possibilidade de preservação de

culturas e oportunidade em busca de uma fatia de mercado como afirma Coriolano (2006):

“[…]Os seus organizadores elaboram críticas ao modelo excludente e tentam produzir

serviçosturísticos de forma associativa, comunitária, juntando esforços, ideias e as poucas condições

financeiras de pessoas que se agrupam para desenvolverem serviços, assim, é realizado de forma

compartilhada. A criatividade, é outro importante componente da elaboração destes arranjos produtivos locais - APLs, pois, diante da carência de capital, de informações e outras mais, adaptam-

se às realidades locais. Em alguns casos ficam à margem da grande hotelaria, das áreas do turismo

globalizado oferecendo produtos alternativos. Alocam-se nos corredores turísticos e são beneficiados

por aqueles fluxos, em outros casos estão em áreas diferenciadas e atraem uma demanda específica,

mais interessada em apreciar modos de vida, culturas tradicionais, aprendizagens e valores éticos, que

consumir.”

Contudo Machado e Vilela (2006, p.3) abaixo, reafirma a necessidade da interacção entre

os sectores para a efectuação do turismo comunitário, deixando claro que mesmo neste

modelo de desenvolvimento não é possível pratica-lo de forma isolada somente pela

comunidade, revelando também outros consequentes benefícios trazidos por este novo

modelo de desenvolvimento para a actividade turística como o caso da inclusão social.

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Por meio da interacção dessas políticas com as exercidas por cada sector da sociedade-

público, privado e terceiro sector - tornar-se-ápossível vislumbrar a inclusão social

associada às práticas exercidas pelo turismo com base local. Assim, haverá a possibilidade

de se trabalhar o turismo não como um produto acabado, fruto do capitalismo, mas como

um fenómeno em contínua mudança e que permite à sociedade se reorganizar de forma a

assegurar àqueles até então excluídos da dinâmica capitalista, a uma real possibilidade de

inclusão social.

Logo não se deve radicalizar o termo comunitário como única interferência de manejo para

este modelo de desenvolvimento turístico e sim, entendê-lo como um modo surgido a partir

da comunidade madura capaz de conduzir a execução do turismo, devemos considerar que

sempre para qualquer que seja o modelo adoptado para o desenvolvimento do turismo, a

comunidade local e seus costumes devem ser respeitados e ainda inseridos de forma

participativa ao processo.

Ao considerar a organização da produção turística com base territorial e protagonizado

pelas comunidades locais, as iniciativas de turismo comunitário visam:

• Contribuir para a geração de emprego e renda locais;

• Fortalecer a governação local, em articulação com os demais actores envolvidos na

actividade turística;

• Incentivar a justa distribuição da renda e fomentar o adensamento do mercado local:

• Estruturar este segmento turístico, face a crescente demanda turística a nível nacional e

internacional;

• Agregar valor a destinos turísticos, por meio da diversificação dos segmentos a serem

oferecidos;

• Promover padrões de qualidade e de segurança da experiência turística, tanto para a

comunidade anfitriã quanto para os visitantes;

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2.12 O Capital Social

De acordo com as abordagens anteriores, a participação passa a ser considerada uma

premissa importante para o desenvolvimento local. Surge, então, a idéia de capital social

como outro elemento fundamental para o desenvolvimento. O capital social, segundo

Kliksberg (1999), é composto pelos seguintes elementos: valores partilhados, cultura,

tradições, saber acumulado, redes de solidariedade e expectativas de comportamento

recíproco. O capital social, imbuído de espírito público, através de relações horizontais de

reciprocidade, cooperação, solidariedade e confiança, na busca de relações e oportunidades

igualitárias, conforme explicitado por Kliksberg (2003), se apresenta silenciosamente,

junto com o capital econômico, como ferramenta essencial para o desenvolvimento local.

Para Putnam (1996), o stock de capital social, que incluem itens como confiança, normas,

sistemas de participação e cadeias de relações sociais, tendem a ser cumulativos e a

reforçar-se mutuamente. Itens que constituem um bem público, ao contrário do capital

convencional, que é normalmente privado. Ou seja, o capital social é um atributo da

estrutura social que não é propriedade particular de nenhuma das pessoas que dele se

beneficiam. O stock de capital social levam a equilíbrios sociais com elevados níveis de

cooperação, confiança reciprocidade, civismo e bem estar coletivo, que ajudam na

construção de uma "comunidade cívica". Segundo o autor (op. cit., p.102), tal comunidade:

“[…]se mantém unida por relações horizontais de reciprocidade e cooperação e não por relações

verticais de autoridade e dependência. Os cidadãos interagem como iguais e não como patronos e

cliente ou como governantes e requerentes. A participação numa comunidade cívica pressupõe

espírito público do que da atitude mais voltada para vantagens partilhadas. Os cidadãos não são santos

abnegados, mas consideram o domínio público algo mais que um campo de batalha para a afirmação

do interesse pessoal. Eles são mais do que meramente atuantes, imbuídos de espírito público e iguais. Eles são prestativos respeitosos e confiantes uns nos outros, mesmo quando divergem em relação a

assunto importantes. Ela não está livre de conflitos, pois seus cidadãos têm opiniões firmes sobre as

questões públicas, mas são tolerantes com seus componentes.”

A ideia de capital social rompe com os mitos sobre as comunidades pobres, excluídas do

processo participativo (os "nativos mudos"), pois uma comunidade pode carecer de

recursos econômicos, mas sempre tem capital social (KLIKSBERG, 1999). Conforme

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Hirschmann (1984 apud KLIKSBERG, 1999, p. 29): “[…]Diferentemente de outras

formas de capital, o capital social é o único que aumenta com o uso."

Esta afirmativa é validada por Putnam, quando declara que a participação em organizações

cívicas desenvolve o espírito de cooperação e o senso de responsabilidade comum para

com os empreendimentos coletivos.

Uma lição retirada por Putnam (op. cit., p. 191) durante sua pesquisa de campo foi que o

contexto social e o histórico de um grupo condicionam profundamente o seu desempenho.

A cultura das comunidades deve se respeitada e considerada no processo de

desenvolvimento, pois conforme Kliksberg (2003, p. 11):

“[…]As pessoas, as famílias, os grupos, são capital social e cultura por essência. São portadores de

atitudes de cooperação, valores tradições, visões da realidade, que são sua própria identidade. Se isso

for ignorado, saltado, deteriorado, importantes capacidades aplicáveis ao desenvolvimento estão

inutilizadas, e serão desatadas poderosas resistências. Se pelo contrário, se reconhecer, explorar,

valorizar e potencializar sua contribuição, pode ser muito relevante e propiciar círculos virtuosos com

as outras dimensões do desenvolvimento.”

Tendo em conta esta abordagem integrada e multidimensional, o Turismo Comunitário

pode ser encarada como uma estratégia integral de Desenvolvimento Comunitário, ao

introduzir novas práticas de intervenção social, oferece novas formas de luta contra a

pobreza para as populações mais excluídas e promove a mobilização de recursos, locais e

externos, necessários para esse desenvolvimento. Considera-se então que o DC se cruza

com a economia solidária, na emergência de um novo modelo de desenvolvimento em

ruptura com o antigo modelo da sociedade salarial e providencialista, caracterizado por

diversas exclusões, tanto na produção como no consumo. As novas práticas do DC e do TC

estão assim profundamente relacionadas,caracterizando-se pela participação activa dos

cidadãos e dos profissionais directamente envolvidos, os quais se tornaram

“empreendedores sociais”, capazes de antever o que ainda não existe e de mobilizar os

recursos locais e externos para aí chegar. O princípio do envolvimento das populações

locais implica um novo entendimento dos protagonismos, dando prioridade às capacidades

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endógenas e às potencialidades locais no que respeita a recursos materiais, físicos e

humanos. As novas práticas das organizações de TC rompem com as práticas anteriores de

meros agitadores sociais ou simples prestadores de serviços, rompem com a lógica

assistencialista, para se tornarem organismos de animação do desenvolvimento, através de

um novo empoderamentodas comunidades locais, como forma de democratização da

sociedade e da economia. Ressalta-se tambémo facto de elas serem constituídas por um

“misto de associação e empresa” favorece uma mobilização exemplar tanto dos

intervenientes como dos utilizadores; o seu enraizamento na comunidade local permite-

lhes identificar novas necessidades e trazer soluções originais às necessidades já

identificadas mas não satisfeitas.

A referência ao território e a intervenção territorial são centrais ao DC e ao TC, numa

abordagem mais holística, integrada e participativa é este projecto territorial que é

paradigmático das duas abordagens: a comunidade e o território são o ponto de partida e de

chegada.

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3 CAPITULO

3.1 A Ilha de São Vicente

São Vicente é a segunda ilha mais populosa de Cabo Verde localizada no grupo do

Barlavento, a noroeste do arquipélago. A ilha tem uma superfície de 227 km². Mede 24 km

de leste a oeste e 16 km de norte a sul. É a sétima maior ilha de Cabo Verde (ou a quarta

menor).O canal de São Vicente separa-a da vizinha ilha de Santo Antão. O Aeroporto

Internacional Cesária Évora localiza-se a sul da cidade do Mindelo, o principal centro

urbano da ilha e segunda maior cidade do país, onde se concentra grande parte da

população da ilha com cerca 76.100 habitantes (2010). Mindelo é frequentemente

considerada informalmente a capital cultural de Cabo Verde.

3.2 Aspectos Históricos

Descoberta no dia 22 de Janeiro de 1462, pelo navegador português Diogo Gomes,

escudeiro do infante D. Fernando, a quem ficou pertencendo por doação de D. João II, o rei

seu tio. A ilha foi inicialmente outorgada aos Viseu e posteriormente foi passado para a

propriedade do rei D. Manuel I, por herança.

Devido a falta de água, a ilha ficou, desabitada por muitos anos, servindo apenas de campo

de pastagem do gado de alguns proprietários da vizinha ilha de Santo Antão.

São Vicente seria a última das ilhas do arquipélago a ser povoada quando em meados do

século XIX a população começou a fixar-se na ilha fundando assim a cidade do Mindelo,

que no entanto começava a desenvolver-se através da actividade portuária. Foram os

ingleses, após o pacto com Portugal em 1838, ao instalarem um depósito de carvão para

reabastecimento de navios em rotas atlânticas, que criaram as bases para o povoamento da

ilha. Devido ao seu excelente porto marítimo -Porto Grande, o maior porto do país,

transformou-se no centro das principais rotas de navegação através do Atlântico, daqui

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partiam os barcos que a ligam ao mundo mas em particular à ilha de Santo Antão. Esta

centralidade marítima, sem igual no resto do arquipélago, converteu a cidade do Mindelo

na mais cosmopolita de Cabo Verde aqui se produzindo uma interessante mestiçagem.

Por essa altura, a cidade tornou-se um centro cultural importante onde a música, a literatura

e o desporto eram cultivados.

O ciclo durou apenas algumas décadas, pois com a substituição, no início do século XX, do

carvão pelo diesel como combustível dos navios, o importante porto perdeu a sua

preponderância, sendo substituído pelas Canárias e por Dakar. Mais tarde, a ilha ganhou

novo fôlego como ponto de ligação transatlântica de cabos submarinos de telégrafo.

No centro histórico, foi preservada uma rica herança colonial onde se ergue o Palácio do

Governador, a Praça Nova, peculiar local de encontro e convívio que anima a noite

Mindelense, o Fortim d’el Rei, a réplica da Torre de Belém, o Mercado Municipal,

a Escola Jorge Barbosa, inaugurado em 1917, teve enorme importância no

desenvolvimento da consciência nacional cabo-verdiana, tendo lá estudado muitos dos

obreiros da independência nacional, como Amílcar Cabral, entre outros.

3.3 Aspectos Geográficos e Climatéricas

Com uma superfície de 227 km², a ilha mede 24 km de leste a oeste e 16 km de norte a sul.

Representa a sétima maior ilha de Cabo Verde e embora seja de origem vulcânica, a ilha é

relativamente plana, especialmente a área central, a zona leste do Calhau e a zona norte da

Baía das Gatas. O ponto mais alto da ilha é o Monte Verde com 774 m de altitude. O

Monte Cara mede 488 m no pico do "queixo", 480 m na ponta do "nariz", estando a maior

elevação da formação montanhosa no pico de Fateixa, mais a oeste, com 571 m, o conjunto

Madeiral/Topona com 675 m e 699 m, respectivamente e Tope de Caixa com 535 m.

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Apesar da forte erosão, ainda se consegue visualizar na ilha algumas crateras como vulcão

Viana no Calhau, e a própria baía do Porto Grande.

A área urbana do Mindelo localiza-se na zona noroeste. As praias de areia branca da Baía

das Gatas, Calhau e São Pedro são muito frequentadas. A ilha está quase totalmente

despida de vegetação, tendo sido efectuado um trabalho de plantação de acácias nas zonas

mais planas, como ao longo da ribeira de São Pedro (entre o Mindelo e o aeroporto em São

Pedro), na Ribeira de Vinha e na zona interior de Salamansa. O sucesso destas plantações

tem sido muito limitado.

O clima é tropical seco, rondando os 24 °C de temperatura média do ar. A temperatura da

água do mar oscila, durante o ano, entre os 12 °C e os 25 °C. Há duas estações: de

Novembro a Julho decorre a estação seca e é quando sopram os ventos alísios; de Agosto a

Outubro é a "estação das chuvas", embora a precipitação seja na realidade baixa.

3.4 Aspectos Culturais e Turísticos

São Vicente foi sempre uma ilha fértil em termos culturais. A cidade do Mindelo é

informalmente considerada a capital cultural de Cabo Verde e a sua noite é famosa pelos

seus bares animados com música ao vivo, nos quais por exemplo se iniciou a carreira de

cantora Cesária Évora. O ponto de encontro para a ronda de bares e discotecas é na Praça

Nova de onde se parte para descobrir a riqueza e diversidade da música cabo-verdiana

como mornas, coladeras, funanás e zouk. Além da música, a cultura são-vicentina se

destaca em diversas áreas como o teatro e a literatura.

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Um dos pontos altos da animação da cidade é o Carnaval de Mindelo que actualmente é

animada pelos Mandingas8 desde o primeiro Domingo de Janeiro até o primeiro Domingo

a seguir ao Carnaval.

No mês de Agosto realiza-se anualmente durante três dias o famoso Gatas que atrai

milhares de turistas e emigrantes. Outras festas que também se destacam em São Vicente

são as festas de romarias como a Festa São João realizado no dia 24 de Junho.

Devido a sua importância cultural, Mindelo foi a Capital Lusófona da Cultura em 2003.

São Vicente apresenta uma oferta turística bastante diversificada, onde se destacam o

turismo de praia (nas belas praias da Laginha, logo no centro da Cidade, e nas de Baía das

Gatas, Calhau e São Pedro), o turismo cultural, com realce para o famoso Carnaval, o

Festival de Música de Baía das Gatas, organizada anualmente nesta praia, os festivais de

teatro Mindelact e Setembro Mês do Teatro, e o tradicional Reveillon, o turismo de

mergulho/subaquático e desportos náuticos e o turismo de natureza. Acresce-se ainda as

potencialidades oferecidas ao turismo de natureza pelo Parque Natural de Monte Verde

(800ha), de onde também se pode ter belíssimas vistas panorâmicas de quase toda a ilha.

Dada a complementaridade, em termos de oferta turística, com a vizinha ilha de Santo

Antão (que dista apenas 1 hora de barco), nos últimos tempos vem-se desenhando uma

tendência de oferta de pacotes integrados englobando essas duas ilhas.

Recentemente, este potencial turístico tem atraído a atenção de vários investidores,

prevendo-se a implementação de grandes projectos na ilha, principalmente nas localidades

de Baía das Gatas, Salamansa, São Pedro, Calhau e Saragarça, além do Centro da Cidade.

Este potencial aumentou também graças a abertura do Aeroporto Internacional Cesária

Évora.

8Mandingas (em São Vicente) são grupos que se mascaram com uma mistura de óleo e pólvora e saias de

sacos e saem a rua na época de carnaval para animarem as zonas do Mindelo acompanhados de muita música

e euforia. Essa figura tem-se destacado no Carnaval Mindelense principalmente ao Domingos que precedem o carnaval movimentando centenas de pessoas pelas ruas do Mindelo. Os grupos mais conhecidos são

Mandingas de Ribeira Bote, Mandingas de Espia e os Mandingas de Areia (mascarados com Areia).

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Apesar de algum esmorecimento derivado da crise económica mundial, acredita-se que a

implementação desses projectos irá trazer uma nova dinâmica à região norte do país,

beneficiando não apenas a ilha de São Vicente mas, por arrastamento, as ilhas de Santo

Antão e São Nicolau.

Entretanto, alguns pontos de estrangulamentos precisam ser resolvidos ou minimizados.

Nomeadamente a nível da ligação com o exterior e com as restantes ilhas, melhoria das

ligações aéreas e marítimas com outras ilhas, melhor planeamento e promoção integrada da

oferta turística de São Vicente, qualificação de mão-de-obra, entre outros.

3.5 Perfil Urbano Do Mindelo9

A Cidade do Mindelo nasceu urbana, expandiu-se e consolidou-se essencialmente urbana e

cosmopolita, servindo, hoje em dia, de residência a cerca de 62.970 habitantes, no seu

limite territorial de apenas 75 km2, fazendo dela, um dos espaços mais densamente

povoados do país (839,60 hab/km2). A cidade do Mindelo corresponde estatisticamente à

zona do mesmo nome e está dividida em, pelo menos, 31 lugares.

Dos 19.962 agregados familiares existentes na Ilha de São Vicente, 92,6% concentra-se na

Cidade do Mindelo, ou seja, cerca de 18.485 agregados familiares.

Cada agregado familiar integra uma média 3,8 indivíduos. De mencionar que cerca de

8891 (i.e. 48,1%) desses agregados é dirigido por mulheres chefes de família, sendo que

80,3% de todas as habitações serve de residência habitual aos respectivos proprietários.

O Município de São Vicente enfrenta um conjunto de problemas, desafios e

constrangimentos urbanos já identificados e articulados, aguardando negociações e

mobilização de recursos para a implementação das soluções previstas. As principais linhas

9Perfil Urbano do Mindelo” foi obtida através da Revista Soncent Nº 1 Ano XII/ Novembro 12 da Câmara

Municipal de São Vicente “In Perfil Urbano do Mindelo”, São Vicente, República de Cabo Verde, ONU-

HABITAT, Março de 2012

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de intervenção no quadro da governação urbana,vem no sentido de reforçar os seus

esforços e apelo para engajamento em parcerias pró-activas, incluem: o crescimento

exponencial da população residente e construções informais, clandestinas e desordenadas

na cintura da cidade; o fenómeno de ocupação espontânea do solo urbano; a necessidade de

expansão da rede de utilidades públicas essenciais; a recuperação e reabilitação de edifícios

públicos e privados de valor histórico para a cidade; a convivência entre o “velho” e o

“novo” (moderno) na harmonia arquitectónica da Cidade; da falta de água na cidade do

Mindelo, sobretudo nas cinturas de expansão; e sinais de ruralização da cidade, mais em

termos de atitudes, comportamentos e práticas dos habitantes.

Com uma economia sempre virada para o mar e as suas potencialidades, o rápido

crescimento da sua população deveu-se à convergência de cidadãos provenientes de outros

concelhos em busca de melhores condições de vida, sobretudo quando a seca e a fome os

fustigava nas outras ilhas, principalmente Santo Antão e São Nicolau. Trabalhavam em

São Vicente, na altura do Censo 2000, cerca de 21.087 pessoas, sendo 57% homens e 43%

mulheres. Já o Censo 2010, com base numa nova metodologia, apurou uma taxa de

desemprego de 14,8%, de uma população com taxa de actividade económica de 58,2%.

Essa taxa de desemprego é a mais elevada do país e corresponde a mais do dobro da média

nacional, que é de 6,3%.

O desemprego afecta mais as mulheres activas do que os homens activos. Ainda segundo o

Censo 2000, mais de um quarto dos indivíduos que trabalhavam na altura (26,7%) exerce

profissões sem qualquer qualificação, sendo de sublinhar a de empregadas domésticas e

serventes.

Destaque no sector privado (47,7%). A massa trabalhadora de São Vicente concentra-se

principalmente na actividade de comércio (21,2% contra 17% a nível nacional) e na

indústria transformadora (17,4% contra 7% a nível nacional, Censo 2000). Esta

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percentagem é explicada pela presença das principais fábricas industriais em São Vicente.

Outro ramo que sobressai nesta ilha é a das famílias com empregados domésticos (9,2%)

contra 4,5% nacional. A Cidade do Mindelo é sede de muitas empresas com peso

estruturante na economia de todo o país (e.g. ENAPOR, ENACOL,VIVO ENERGY,

CABNAVE, ELECTRA, MOAVE) que, para além de garantirem emprego permanente a

muitos Mindelense, contribuem, de forma significativa, para o PIB de Cabo Verde.

Alojamento e Condições de Vida nos Bairros Informais

A cidade tem a forma de uma meia-lua, rodeando a Baía do Porto Grande, sendo

delimitada pelas colinas despidas de vegetação que a cercam. A sua população duplicou

entre 1960 e 1980, e voltou a duplicar em 2005, persistindo numa taxa de crescimento

anual de 2,9 % ao ano que, entretanto, baixou para 1,3% no Censo 2010, mesmo assim

superior à média nacional de 1,24%. Este ritmo de crescimento populacional foi

acompanhado por uma idêntica expansão do território urbanizado.

A partir da década de 90, Mindelo começou a alargar as suas fronteiras em direcção a

Norte, Este e Sul, criando novos bairros e tornando os já existentes mais populosos e

consequentemente mais densamente povoados. Este fenómeno tem feito com que a

população se afaste cada vez mais do centro histórico e se fixe nas cinturas periféricas da

cidade e, em muitos casos, nas zonas mais afastadas do Concelho de São Vicente que vêm

conhecendo uma grande expansão, como é o caso da Ribeira de Julião, Lazareto, Baía das

Gatas, Calhau, entre outros.

Tipicamente, quanto mais afastado do centro da cidade, da beira-mar e das estradas

principais, mais zonas pobres se localizam, por exemplo: Alto Solarine, Fonte Filipe, Bela

Vista e Monte Sossego. O facto de as áreas mais pobres não serem visíveis a partir do

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centro, nem das principais ruas e avenidas da cidade, mantém uma ilusão de prosperidade

generalizada que, infelizmente, não reflecte, com rigor, a situação real.

O Censo 2010 apurou a existência de 19.047 edifícios em São Vicente, que servem de

alojamento a 19.062 agregados familiares e demais unidades económicas da ilha. Do total

de edifícios da ilha, apenas 59,6% estão concluídos

Segurança Urbana

A Segurança na Cidade do Mindelo, nos últimos tempos, tem vindo a ser posta à prova

com o aparecimento do fenómeno de “Grupos de Thugs- (grupos de delinquentes) ” e

“CaçuBody (assaltos a pessoas) ”.

Esse fenómeno levou com que a Polícia Nacional se reorganizasse e adequasse estratégias

de acção à realidade na cidade (e.g. Posto Móvel na Cidade). Em 2009, tanto o crime

contra pessoas como contra o património aumentou, mantendo-se a mesma tendência no

ano 2010, de acordo com os dados disponíveis na altura. No que diz respeito ao Crime de

Roubo, São Vicente responde por 27,28% desse tipo de crime a nível nacional em 2009 e

27,71% em 2010. Em relação ao crime de furto, verifica-se também uma tendência de

diminuição entre 2009 e 2010, tanto em São Vicente como no país em geral, o que

confirma que 2009 foi, efectivamente, um ano muito intenso em termos de prática de

crimes no país. Já em relação ao Crime de Homicídio, de natureza normalmente violenta,

constata-se um aumento de mais 3 casos em São Vicente no ano de 2010 em relação ao

ano de 2009. Dados do QUIBB 2007 indicam que 46,7% dos agregados familiares de São

Vicente leva menos de 15 minutos para chegar a um Posto Policial mais próximo, média

inferior à nacional para espaços urbanos, que é de 49,4%.

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3.6 A Zona de Ribeira Bote

A zona de Ribeira Bote situa-se na periferia da cidade do Mindelo em São Vicente e conta

com 3.956 habitantes (Censo de 2010), é composta por uma população maioritariamente

jovem, agregados familiares numerosos, predominantemente matriarcal, e onde estão

presentes os problemas sociais que afectam a generalidade da sociedade cabo-verdiana:

pobreza, desemprego, condições de saúde limitadas, condições de habitabilidade precárias,

gravidez precoce, abandono escolar, alcoolismo, sendo consideradas umas das zonas mais

perigosas da ilha. A população activa dedica-se essencialmente ao comércio onde

destacam-se diversas lojas e mercearias, bares, vendedores ambulantes de doces e fritos,

peixeiras, artesanato, entre outros.

Apesar de todos esses constrangimentos Ribeira Bote é uma zona rica em história, artistas

e artesões e outros aspectos culturais que o tornam atractivo e com grande potencial para o

turismo comunitário como se demonstra a seguir.

3.6.1 Importância Histórica

“No princípio dos anos 20 a zona era povoada apenas na zona da ribeira e possuía acima de

200 moradias, constituídas na maior parte de casas de telhas e de cimento e por alguns

funcos (casas de pedras areia e cal) cobertos de colmo.

Este bairro, não muito antigo, contíguo ao Lombo, deverá ter nascido nos princípios do

século xx, alguns anos depois de 1895, ano em que apareceram dois dos mais antigos

bairros anteriores a ele, o Lombo Palha (por ai se vender palha para os animais) e o Monte

Craca. Habitado por gente laboriosa, o bairro de R.B. tinha gente de todo o tipo social,

gente humilde e trabalhadora que se dedicava a apanha do carvão que caía ao mar,

proveniente da descarga das lanchas das companhias inglesas sediadas no Mindelo.

Depois de alguns anos a zona já tinha uma população bastante grande e hospitaleira,

oriunda das ilhas de Boavista e Santo Antão, que trabalhava no porto nos limites da cidade,

marcando já a diferença entre os prédios novos e as casas de linhas tradicionais, rasteiras,

de duas águas de paredes de pedra, embuçadas de cal por fora e telha marselhesa

contrastando com as modernas de cimento armado e terraços e terraços com quintais nas

traseiras, onde as crianças brincavam ainda na rua a porta de casa.

Todos viviam da baía; alguns por conta própria, na pesca, na estiva e do “negócio de

bordo”, uma espécie de fornecedores de vários artigos e hortaliças para os barcos, mas em

pequena escala, não chegando a constituir a categoria de shipschandlers ou seja empresas

fornecedoras de frescos e frios aos barcos e navios de grande porte.

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No seu seio também viveram muitos compositores de música tradicional, mornas e

coladeiras ou mesmo de sambas e marchas carnavalescas, a moda brasileira mas tendo

motivo de carnaval cabo-verdiano.

É a R.B. que irá continuar a fornecer a maior parte dos músicos, estivadores e pescadores;

bairro de naturalistas, que passará à história do Mindelo com episódios como o da “Zona

Libertada”, porque é o primeiro bairro da cidade a opor-se a entrada de tropas portuguesas

logo após o 25 de Abril, e donde também sairão os artistas do carnaval, os serralheiros

mecânicos da Cabenave, os polícias da capitania dos Portos de São Vicente e empregados

de limpeza da empresa que se dedica aos trabalhos do Porto - a Enapor. Aqui serão

acolhidos, mantendo a tradição dos que regressaram dos trabalhos de São Tomé.

Não obstante as profundas modificações sofridas pela zona com a construção de novas

casas e moradias bem ordenadas dentro dos possíveis para um bairro que nasceu a esmo, a

R.B. não se modificou muito, mas também não deixou de ter os seus espaços obscuros,

como retrata Aurélio Gonçalves: « nos confins da cidade» com « larguinhos contornados

de murros baixos a resguardar os quintais e dos infalíveis alinhamento de rés de chão

vindos de tempos atrasados – a cal das frontarias desfazendo-se – a exalar pobreza e

velhice». E também nem mudou do ponto de vista da população solidária e dos seus velhos

hábitos de vida nocturna, que continua a abrir as meias portas dos botecos e das casas para

receber os fregueses «finos».” (Rodrigues 2011)

Segundo conta os populares o nome dessa localidade surgiu porque havia na zona um

mini-estaleiro, onde eram construídos barcos de madeira que faziam carreira entre as ilhas

do nosso arquipélago, bem como botes e escaleres de todos os tamanhos e feitios que

serviriam e muito bem, a baia do Porto Grande e as outras ilhas.

Quando os barcos eram lançados ao mar e dada a distância, em assentes em roletos de ferro

maciço e apoiados lateralmente em escoras de madeira e a medida que as pessoas iam

puxando os barcos com cabos fortes simultaneamente, as escoras eram novamente

colocadas para manter o equilíbrio dos mesmos. Logo que os barcos começassem a flutuar,

os mastros e as cabines eram colocados mesmo no mar, bem como quaisquer outros

retoques de que necessitassem até os barcos começarem a navegar.

Os mestres carpinteiros de construção naval eram hábeis, muito competentes e sobretudo

conhecedores profundos do seu ofício.

Portanto, o povo passou a chamar ao sítio Ribeira Bote e daí o nome pegou para sempre.

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Outras das histórias marcantes da Ribeira Bote foi a Revolução Capitão Ambrósio

em 4 de Junho de 1934

“Foi no célebre dia 4 de Junho de 1934 dia inesquecível para a história de São Vicente,

em que se deu aqui o primeiro grito de liberdade! Sim foi nesse dia que o povo do

Mindelo, já não podendo aguentar mais a angústia da fome crónica e a incerteza do

futuro, viu, assistiu e compartilhou da marcha revolucionária chegada a cidade ai pelas

11 horas da manha, de homens e mulheres de todas as idades, incorporando-se

solidariamente no movimento liberdade do nosso povo sofredor de Cabo Verde. Nesse dia

juntou-se uma multidão que partiu da Ribeira Bote formada por gente resoluta e confiante

nos seus planos, a frente ia Nhó Ambrósio todo altivo e firme.

Nhó Ambrósio era um modesto carpinteiro, que vivia de sol a sol ganhava uma cachupa

quando aparecia o que fazer. E eram tempos difíceis o Porto Grande dava pouco que

ganhar uma vez que os barcos tinham mudado a sua rota e era grande a miséria para o

nosso povo humilde. NhóAmbrósio tinha o dom de empolgar a massa, com suas palavras

rudes mas sinceras de homem bom que se revoltava contra as injustiças que o governo

fazia contra o seu povo. Mas o povo tinha medo de revoltar temendo as represálias.

Chegou finalmente o dia em que o povo se revoltou e percorreu as ruas da cidade, com a

bandeira da fome gritando MISERIA! MISERIA!FOME! FOME! Entretanto ficou

marcada uma revolução ás duas horas caso o governo da Praia não desse qualquer

resposta favorável aos objectivos, depois nessa hora dentro da Câmara Municipal tiveram

uma demorada conferência na câmara com o Secretário da Administração, de tal

conferência não chegou a conclusão cabal. Passado horas não foi recebido nenhuma

resposta. Então o líder Nhó Ambrósio lançou uma palavra de ordem ao povo estacionado

na rua.

BOCES CME ONTE E ONTEONTE? NÃO E NO TEM FOME! BOCES TEM

TRABAIODE? DIAZA NO QUE TRABAIA PAQUE NOTE BANDONOD!

E depois disso levantou bem alto a bandeira negra e gritou vamos arranjar comida com as

nossas próprias mãos! Os grandes da terra estão com suas barrigas cheias portanto povo

de São Vicente vamos invadir a alfândega que é onde se encontra armazenada a comida

para a nossa gente.

O povo com sua fúria sem limite invadiu a alfândega e numa confusão diabólica começou

a retirar tudo o que estava ai depositado. De seguida foram para outros armazéns onde

eram guardados alimentos onde retiraram tudo o que puderam.

Mas após algum tempo vieram a força militar que começou a disparar ao ar para

dispersar a população mas o povo enfureceu – se e começou a arremessar pedras. Mas

pelas oito horas o povo se recolheu e durante dias não se falou em maisnada senão da

revolução de Nhó Ambrósio. De tudo o que foi distribuído nhó Ambrósio ficou com apenas

um saco de café em pó que vendeu para comprar carne.

Mais tarde chegou soldados ordenados a capturar os cabeças de lista do movimento nhó

Ambrósio foi o primeiro a ser capturado, os principais líderes foram enviados para

Angola incluindo nhó Ambrósio depois de comprida a pena ele e mais dois companheiros

regressaram mas infelizmente os outros morreram na cadeia. Esses bravos homens que

conseguiram resistir a opressão colonial fascista e que deram provas da valentia e

coragem, acordando a consciência do povo sofredor, entraram para sempre na história do

Mindelo e de São Vicente.

Capitão Ambrósio era natural de Santo Antão e faleceu em Mindelo, São Vicente em

Ribeira Bote aos 68 anos. (Ramos,2003)”

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3.7 O Bairro de Ilha d` Madeira

Ilha d´Madeira é um bairro pequeno situado dentro da zona de Ribeira Bote e é onde se

desenvolve a maior parte do roteiro do projecto. O bairro reúne as características da zona

da Ribeira Bote e é considerado um dos bairros mais pobres da ilha,

As ruas são estreitas, e calcetadas, a maioria das casas são de betão mas ainda se

encontram algumas casas de latas habitadas.

A comunidade enfrenta muitos problemas sociais, a destacar prostituição infantil,

delinquência juvenil, gravidez precoce, tráfico de drogas e toxicodependência. Esses

problemas são sintomas de factores de risco como a pobreza, desemprego, abandono e

insucesso escolar, falta de informação e educação, desestruturação familiar, conflitos

interpessoais, e os sintomas mencionados também constituem uma pré-disposição para

aumento de casos desses problemas.

É uma comunidade com uma vida nocturna intensa, com fácil acesso a substâncias ilícitas.

Apesar de todos esses constrangimentos é considerado um bairro de gente trabalhadora,

artistas e artesões, músicos onde encontramos pessoas de todas as áreas e profissões, de

quase todas as ilhas. É um bairro alegre e movimentado onde se realizam actividades para

crianças, actividades desportivas para pessoas da comunidade e entre comunidades,

animação musical aos fins de semanas. É uma comunidade onde as pessoas são muito

próximas, unidas e solidárias e as informações passam extremamente rápidas de forma

informal, ponto que pode ser aproveitado para transmissão de informações.

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3.8 Aspectos Positivos da Zona

A zona da Ribeira Bote é rica em história como se viu anteriormente, nesta comunidade

encontra-se a maior parte dos artesões e artistas da ilha tanto que podem ser encontrados

em qualquer parte do bairro dividindo-se em músicos, escultores, pintores, famosos

jogadores de futebol, jogadores de ténis, presidentes, actores de manifestações culturais,

como os Mandingas ou os tocares de tambores nas festas de romárias, etc. Por ser uma

zona situada nos arredores da cidade, a zona de Ribeira Bote beneficia de muitas infra-

estruturas importantes para a melhoria da qualidade de vida dos moradores:

Tabela 7 -Infra-estruturas e Serviços situados dentro e nos arredores da comunidade.

Lista de infra-estruturas e serviços

dentro da Comunidade

Lista de infra-estruturas e serviços nos

arredores que beneficiam Comunidade

Bancos (BCA) Posto Policial (Fonte Inês)

Posto de Abastecimento (Shell) Serviços de Telecomunicações (Cvmovel)

Posto dos Correios Mercado de Peixe da Ribeirinha

Escolas Bancos (Caixa Económica de Cabo Verde)

Jardins Infantis Hospital (Lombo)

Igrejas Agência Funerária (Lombo)

Lar de Idosos Padarias

Serviços de Comercio Geral

Posto de abastecimento de Água Potável

Clínica Dentária

Associações Diversas

Clubes Desportivos

Fonte: Própria

Tabela 8 - Lista de actividades produtivas dentro da comunidade

Artesanato Construção Civil Pescadores

Lojas/ Mercearias/ Bares Electricistas Estivadores

Mini Mercados Drogarias Advogados

Vendas ambulantes Confeitarias

Sapataria Barbearias

Alfaiataria Pintores

Carpintaria Escultores

Marcenaria Cabeleireiros Fonte: Própria

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4 CAPITULO

4.1 Estudo de Caso: Projecto Ribeira Bote - Turismo Comunitário

A Ideia

A ideia surgiu através do activista social italiano, Frei Silvino Benetti da Igreja São

Francisco na Ribeira de Craquinha e responsável pela Associação Espaço Jovem da

Ribeira de Craquinha. Frei Silvino em parceria com o Espaço Jovem tem desenvolvido

diversas actividades em São Vicente principalmente na camada mais jovem

nomeadamente, realização de actividades desportivas, pagamento de propinas e incentivo

aos estudos, actuando assim na diminuição do abandono escolar, na obtenção de

financiamento para formações diversas direccionadas aos jovens da ilha e ultimamente

actuou como principal pacificador de jovens integrantes de grupos rivais os chamados

gangs, em SV.

Benetti conta que há mais de dez anos que frequenta a Comunidade da Ribeira Bote, pois

ia a procura de jovens que incentivava a continuarem os estudos e assim conheceu muitos

moradores da zona. Segundo Benetti( ver Anexo A ) :

“Ao frequentar o bairro reparei que apesar da má imagem da zona, havia muitas potencialidades,

como música, artesanato, gastronomia, excelente acolhimento por parte dos moradores e por ser um

bairro pequeno a interacção e os laços entre os moradores é bastante grande e demonstram grande

solidariedade entre vizinhos, sem falar que a zona ainda é rica em história e cultura.” (Entrevista 1)

Ao reparar que todas essas potencialidades poderiam ser um atractivo para atrair

estrangeiros para a zona, ele em parceria com o alemão MarkusLeukel, músico e guia de

turismo resolveram levar para visitarem a zona da Ribeira Bote/Ilha de Madeira um casal

de amigos cabo-verdianos (da ilha de São Nicolau) radicados em Luxemburgo e que há

mais de vinte anos não regressava a Cabo Verde, pois estes queriam mesmo interacção

com a população no intuito de relembrar as suas raízes em vez do tradicional turismo sol e

praia. Para isso o Frei entrou em contacto com uma jovem do bairro, Miriam Lopes recém-

licenciada em Psicologia Clínica e de Saúde e apresentou a ideia e ela por sua vez como

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não tinha noções de turismo entrou em contacto com uma Licenciada em Gestão Hoteleira

e Turismo.

Depois de algumas pesquisas na zona que consistiu em conversar com os moradores,

artistas e artesões que poderiam receber o casal foi criado o primeiro roteiro que foi

efectuado no dia 6 de Setembro de 2012. O roteiro consistiu em receber o grupo dentro das

casas dos moradores e dos artesões estimulando assim a participação e interacção com os

turistas de forma a valorizar os aspectos do dia-a-dia da comunidade bem como os aspectos

históricos já que apostam também na história da zona.

No dia 16 de Setembro recebeu-se na mesma óptica o Presidente da República de Cabo

Verde e a sua comitiva que se encontrava em visita a alguns bairros da Ilha de São Vicente,

guiados pelo Frei Silvino. Depois do sucesso da primeira visita e impulsionados com a

visita do Presidente viu-se que a ideia era viável e decidiu-se criar um projecto de turismo

comunitário.

Em parceria com o Frei Silvino e o Guia Markus, que entretanto já tinha apresentado a

ideia a Agência de Viagens e Turismo Vista Verde10

para a qual ele trabalha e que apostou

desde logo nesta iniciativa, foi desenvolvido o Projecto Ribeira Bote – Turismo

Comunitário. Segundo Markus, o projecto ( ver anexo B):

“Vai ajudar as pessoas de valorizar o bairro delesmais com o fim de cuidar melhor das casas, ruas e das

relações sociais”. “Procuramos uma alternativa do percurso turístico clássico de Mindelo. Queríamos mostrar

como a gente mesmo vivem.” (Entrevista 2).

10

Vista Verde é uma agência de viagens e turismo alemã, sediada no Mindelo. Foi a primeira agencia a

apostar neste projecto e é responsável pela maior parte dos turistas que visitam a zona da RB, é também uma

agência que financia projectos de cariz social.

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O Projecto

O Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário tem como principal objectivo contribuir

para o desenvolvimento da comunidade de Ribeira Bote através do turismo comunitário.

Para isso o PRB-TC esta sendo desenvolvido baseado em dois pilares importantes que se

complementam entre si formando as bases necessárias para o desenvolvimento do turismo

comunitário e o respectivo desenvolvimento da comunidade de Ribeira Bote.

Estes pilares consistem no Enfoque a Nível Comunitário e no Enfoque a Nível Turístico.

a) Enfoque a Nível Comunitário

Partindo do pressuposto de que a comunidade receptora é o ponto mais importante para

criar condições para a prática do TC, e é na comunidade que se encontra o Património

Comunitário e o Capital Social torna-se de extrema importância envolver os moradores em

todas as fases do desenvolvimento do projecto. O enfoque na comunidade tem a ver com a

sensibilização, inserção e participação, formaçãoinformaçãodos moradores para a

importância deste projecto para R.B. estimulando assim o acolhimento do projecto. Para

isso foram utilizadas algumas estratégias para sensibilização da comunidade.

Uma das estratégias utilizadas foi o empoderamento da comunidade de Ribeira Bote que

esta estritamente ligado a promoção da saúde na comunidade (através de feiras de saúde,

campanhas de limpeza, etc.), apoio à grupos de risco11

(através de palestras sobre álcool,

drogas, sexualidade responsável, etc.) e atenção a criança desenvolvendo tardes infantis,

secções de cinema infantil, distribuição de materiais escolares, etc. passando por uma

intervenção que visa capacitar as pessoas para serem protagonistas das suas vidas,

11

Consideram grupos de riscos, pessoas que criam distúrbios na comunidade, estimulados pelo uso excessivo

de álcool e drogas. Estes grupos são constituídos principalmente por adolescentes/jovens, com alta taxa de

abandono escolar, sem ocupação positiva, pertencentes a grupos degangs e famílias monoparentais.

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ganhando auto-estima e auto-confiança, com o objectivo de responsabiliza-las para tomada

de decisões que irão ser de extrema importância para uma vida saudável.

Este empoderamento leva as pessoas a reflectirem sobre os seus modos de vida, criando

assim o desejo de mudança de comportamento e da forma como vêm a própria

comunidade, visto que a zona é considerada uma das mais problemáticas da ilha, tentamos

mostrar as potencialidades dentro da comunidade o que leva as pessoas a procurar as suas

próprias habilidades no intuito de fazer parte do projecto dando o seu contributo de forma

positiva. É importante salientar que o projecto não pretende alterar os estilo de vida e os

hábitos dentro da comunidade mas sim transformar os pontos fracos em pontos positivos

tanto para propiciar o pratica do turismo como também criando um caminho de

oportunidades, ou seja condições de formação, espaços de convívio infanto-juvenil,

condições que permitem a tomada de decisões, e que se desdobram no bem-estar comum

de jovens, crianças e a comunidade em geral.

Estes aspectos permitem que os residentes valorizem mais a comunidade, o que permite

mudar a má imagem que as pessoas têm da Ribeira Bote, segundo Frei Silvino:

“A animação sócio cultural constrói ligações de unidade entre as pessoas, reforça sentimentos de

pertença ao bairro e a sua história, procura valorizar e promover os talentos dos indivíduos, constrói

percursos educativos para o amadurecimento da pessoa e da sua integração na sociedade e pode

também, por dentro das suas dinâmicas, criar ocasiões para abertura de caminhos que levam ao

encaminhamento e descoberta da própria profissão.” (Entrevista 1)

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Objectivos Comunitários

1. Mudar a imagem que as pessoas têm da comunidade promovendo uma imagem

social positiva do Bairro de Ilha d´Madeira e da zona de Ribeira Bote;

2. Criar recursos para dar resposta a situações humanas extremamente precárias,

através de parcerias com entidades responsáveis. Ex: Câmara Municipal de São

Vicente;

3. Valorizar e desenvolver as habilidades artísticas e desportivas dos jovens da zona

através de formações diversas com ajuda de parcerias externas;

4. Valorizar a zona e a sua importância histórica, bem como as suas tradições

transformando-os num atractivo turístico;

5. Chamar a atenção das instituições locais para as insuficiências e necessidades da

zona;

6. Beneficiar a comunidade através dos integrantes do projecto com os rendimentos

obtidos com a prática do turismo;

7. Intervir como um parceiro na obtenção de financiamentos para projectos de cariz

social que beneficiem a comunidade;

8. Dinamizar a comunidade através de actividades sociais diversas.

Actividades realizadas no âmbito do projecto

Tardes de chá

Campanhas de limpeza

Reflexões e palestras sobre os problemas da comunidade

Promoção de actividades para crianças, jovens e idosos

Feiras diversas (de saúde, gastronómicas, culturais, etc.)

Promoção de actividades desportivas

Promoção de formações diversas

Projecção periódica de filmes e documentários.

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b) Enfoque a Nível Turístico.

Tem a ver com a captação e recepção dos turistas e visitantes nacionais. Consiste em

preparar a comunidade para receber e interagir com aqueles que vem de fora. Para receber

os turistas dentro da comunidade é necessário uma grande organização, que vai desde

criação e actualização constante dos percursos, pesquisa dos pontos atractivos disponíveis,

limpeza das ruas, preparação dos materiais e equipamentos necessários etc. pois o

objectivo é fazer com que os turistas convivam directamente com os moradores da zona

para conhecerem de perto as suas realidades e o seu quotidiano, com isso cria-se uma

forma de desenvolver tanto social como financeiramente esta comunidade.

Objectivos Turísticos

1. Sensibilizar a comunidade para receber turistas de forma a oferecer um produto

capaz de satisfazer as expectativas dos visitantes;

2. Promover a interacção entre os turistas e os moradores da comunidade de forma

activa;

3. Criar um fundo comunitário com parte das receitas provenientes do turismo

praticado na comunidade;

4. Promover e Comercializar os produtos confeccionados pelos moradores;

5. Estimular a criação de novos produtos (artesanato, lembranças, gastronomia) por

outros residentes para que todos tenham participação no projecto;

6. Potenciar os atractivos da comunidade como a história, cultura, o capital social, as

vivências, produtos locais, etc.

7. Criar novos pacotes dinâmicos e atractivos para captar turistas e visitantes;

8. Estabelecer novas parcerias com agentes turísticos e não turísticos para atrair novos

visitantes (hotéis, agências de viagens, residenciais, escolas, jardins infantis,

organizações diversas, etc.).

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Os pacotes oferecidos aos turistas/visitantes são:

1. Pacote Descoberta de Ribeira Bote - este pacote consiste em levar os turistas a

conhecer a fundo a zona de Ribeira Bote/ Ilha Madeira onde poderão conviver com

os moradores de forma descontraída e prazerosa, ver como são confeccionados os

produtos artesanais e provar a gastronomia local feito pelos próprios moradores.

Este roteiro tem duração de 3 horas. Assim, através das vivências, o turista toma

contacto pleno com os modos de vida e costumes da comunidade, mantendo

contacto com a história local, com a diversidade e com a cultura do espaço visitado.

O turista passa a fazer parte do ambiente, passa a pertencer a um contexto

específico, através de suas percepções e experiências que as vivências

proporcionam. Emerge, portanto, a possibilidade real de outro estilo de vida,

passível de outro sentido de valor, menos utilitarista e mais voltado para a relação

com a natureza e com o outro. (Ver anexo C e C1)

2. Pacote Mandingas de Ribeira Bote onde leva-se os turistas a conhecer esta

tradição. Este pacote consiste em levar os turistas ao estaleiro dos mandingas,

observarem os preparativos e o ritual que antecedem a volta a ilha e termina com o

passeio que os mandingas fazem todos os Domingos antes do Carnaval em São

Vicente. Este roteiro tem duração de cerca de 4 horas. Este pacote é oferecido

apenas nos meses de Janeiro e Fevereiro.

3. Pacote Festas de Romarias, onde mostra-se a tradição do Toca tambor e Colá San

Jon e também como são confeccionados os tambores de pele de cabra dentro da

zona. Este pacote é oferecido apenas no mês de Junho.

4. Pacote Toca Recordai, neste pacote, o objectivo é levar os turistas a tocar São

Silvestre porta a porta como manda a tradição em SV. São oferecidos como brindes

os conhecidos *Recordai* e a letra da Musica. Outra vertente deste pacote também

consiste em dar as Boas Festas pelas casas da comunidade com visitantes até o dia

6 de Janeiro do Ano Novo. Este pacote é oferecido apenas no final do mês de

Dezembro e início de Janeiro.

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4.2 O Desenvolvimento da Comunidade com Base no Projecto

Para que haja DC, os impactos dos projectos não se podem limitar a um grupo

determinando dentro da comunidade, mas sim a um todo. Tendencialmente, esses impactos

deverão ser alargados a toda a comunidade, através dos seus efeitos indirectos, bem como

efeitos de imitação das suas boas práticas. Deste modo, esta dimensão foi analisada tendo

em conta os principais beneficiários do projecto e os efeitos indirectos da intervenção ao

nível da comunidade.

Na Ribeira Bote, os beneficiários directos do projecto são os artesões, artistas, as famílias

receptoras, os jovens e as crianças. Indirectamente, o projecto pretende abranger também

outros beneficiários, que serão incluídos pelas actividades desenvolvidas no âmbito do

projecto.Outros efeitos prendem-se com a dinamização social, o estímulo ao

associativismo e a promoção do território em geral, do seu património, cultura e

identidade.Em termos de impactos mais globais, o trabalho de sensibilização conduzido no

âmbito do projecto de PRB-TC tem tido algumas repercussões, nomeadamente devido ao

interesse que o projecto tem suscitado junto dos Mídias (com reportagens em revistas,

jornais, rádios e televisão), estudantes e investigadores, agentes de desenvolvimento, poder

político. O projecto chama atenção principalmente por ser inovador, desenvolvido por

jovens e por estar colocando no foco, uma das zonas consideradas mais problemáticas da

ilha de São Vicente.O PRB-TC ainda é novo e pioneiro, bem como os seus promotores, por

isso o projecto foi pensado numa forma que beneficie toda a comunidade e não só os

intervenientes directos. O caminho é longo, portanto há ainda muito trabalho a fazer como

campanhas de sensibilização mais abrangentes, procurar mais parcerias, principalmente

com organizações e com pessoas experientes e mais influentes que possam contribuir para

o alcance dos objectivos propostos.

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4.3 Avaliação do Projecto até ao Momento

O projecto Ribeira Bote- Turismo Comunitário iniciou no mês de Setembro de 2012 e já

conta neste momento com cerca de 160 visitantes (nacionais e internacionais) que

participaram do roteiro completo.

Dentre esses visitantes recebeu-se:

Dia 16 de Setembro de 2012: O Presidente da República de Cabo Verde, Dr. Jorge

Carlos Fonseca e a Primeira-dama, Lígia Lubrino Fonseca;

Dia 5 de Fevereiro de 2013: Dois Representantes do CNV (Corpo Nacional do

Voluntariado), Émerson Pimentel e Vanessa Cruz onde foram estabelecidos

algumas parcerias no âmbito do desenvolvimento comunitário.

Dia 18 de Fevereiro de 2013: Membros do Conselho de Ministros, nomeadamente,

a Ministra da Juventude,Dr.ª Janira HoppherAlmada, a Ministra das Finanças Dr.ª

Cristina Duarte, a Ministra da Saúde Dr.ª Cristina Fontes Lima, A Ministra da

Educação e Desporto Drª.Fernanda Marques, O Ministro do Turismo Dr. Humberto

Brito, o Ministro da Cultura Dr. Mário Lúcio e a Directora da ADEI (Agência para

Desenvolvimento Empresarial e Inovação) Dr.ª Leontina, participando de uma

actividade destinada ao jovens da zona em parceria com a CNV e o Centro da

Juventude de São Vicente.

Dia 27 de Março de 2013: Um grupo de 35 estudantes do Liceu Domingos Ramos

na Cidade da Praia, juntamente com estudantes da Escola Jorge Barbosa do

Mindelo.

Dia 3 de Abril de 2013: Presidente da Assembleia Nacional de Cabo Verde Dr.

Basílio Mosso Ramos e alguns deputados representantes dos partidos políticos.

Turistas de diversas nacionalidades: cerca de 60 Alemãos, 15 Suecos, 10 Suíços, 5

Luxemburgueses, 5 Brasileiros, 8 Portugueses e 10 Itálianos.

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O projecto integra directamente cerca de 20 moradores da comunidade incluindo artistas,

artesões músicos e famílias acolhedoras.

Das actividades realizadas na comunidade, destacam-se a realização de uma Feira de

Saúde em parceria com a Verdefam, CADM –SV(Centro de Apoio aos Doentes Mentais de

São Vicente) e a Delegacia de Saúde de São Vicente, algumas palestras sobre álcool,

drogas e delinquência juvenil tendo como público-alvo, os grupos de jovens considerados

de riscos, a promoção de actividades diversas destinadas a crianças, como tardes infantis,

tardes de leitura e teatros educativos, sessão de cinema infantil com parcerias diversas.

Procedeu-setambém a distribuição de materiais escolares resultantes da visita do Presidente

da República, onde foram beneficiados 100 famílias incluindo 180 crianças na idade

escolar. No âmbito das actividades comunitárias de Natal houve recolha e distribuição de

brinquedos e roupas para as crianças mais carenciadas da zona.

E alguns projectos de desenvolvimento comunitário que foram submetidos a

financiamentos em algumas organizações. (Projectos para formações diversas e para

reabilitação do Jardim Infantil de Ilha d´Madeira.)

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4.4 Pesquisa no Terreno

4.4.1 População e Amostra

Entende-se por população o conjunto de todos os indivíduos nos quais se desejam

investigar algumas propriedades, tendo uma ou mais características comuns, e encontram-

se num espaço ou território conhecido. Vilelas (2009)

Para o cálculo do tamanho da nossa amostra, utilizou-se a fórmula indicada pelo

Richardson (1999), que é a seguinte:

Onde:

n = Tamanho da amostra.

σ2 = Nível de confiança

p = Proporção da característica pesquisada no universo, calculada em percentagem.

q = 100 – p (em percentagem).

N = Tamanho da amostra

E2 = Erro de estimação permitido

4.4.2 Método de Selecção da Amostra

Existem dois grandes grupos de métodos para seleccionar amostras: os métodos

probabilísticos ou de amostragem casual e os métodos não probabilísticos ou de

amostragem dirigida.

A amostragem casual permite ao investigador demonstrar a representatividade da amostra,

para além de permitir medir explicitamente o erro cometido por se usar uma amostra em

vez da população. Ainda permite identificar explicitamente os potenciais enviesamentos.

Relativamente ao método probabilístico utilizado, optamos pelo método de amostragem

aleatória simples, de forma a assegurar que todos os elementos da população tivessem a

mesma probabilidade de serem escolhidos e a garantir uma amostra representativa da

população.

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4.4.3 Método de Colecta de Dados

A colecta de dados é a etapa em que se inicia a aplicação dos instrumentos elaborados e

das técnicas seleccionadas e, de acordo com Lakatos e Marconi (2001), é uma tarefa

demorada que exige do pesquisador muita paciência, um cuidadoso registo dos dados e

deum bom preparo anterior.

Os dados podem ser divididos em dois grupos: dados primários e dados secundários.

Vilelas (2009) define dados primários como aqueles que o investigador obtém

directamente da realidade, recolhendo-os com os seus próprios instrumentos. Dados

secundários são os registos escritos também provenientes de um contacto com a prática,

mas que já foram recolhidos e diversas vezes processadas por outros investigadores.

A fonte primária utilizada para a recolha de dados foram três questionários (em anexo)

dirigido a comunidade, aos integrantes e aos turistas. Foi aplicado com intuito de recolher

informações concretas a cerca das opiniões pessoais e percepções tendo em conta O PRB-

TC.

4.4.4 O Questionário

Para atingir o objectivo geral definido para estudo, foi criado um instrumento para colecta

de dados, o questionário, visto que, apresenta maior simplicidade de análise e maior

rapidez na recolha dos dados.Este questionário foi aplicado no preriodo de 01 de Março á

03 de Julho de 2013 com intuito de se conhecer a percepção dos turistas que visitam o

local de forma a propiciar uma maior integração destes aspectos no planeamento do

turismo desenvolvido no local e, consequentemente, garantir uma experiência rica e

agradável aos visitantes sem causar impactos significativos aos recursos naturais e

principalmente culturais. Fez uso também de inquéritos aplicados a pessoas moradores da

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comunidade e aosparticipantes directos do projecto com o objectivo de perceber se a

comunidade tem sido beneficiado com o projecto.

Para Wood e Haber (2001) apud Vilelas (2009:287), os questionários são instrumentos de

registo escritos e planeados para pesquisar dados de sujeitos, através de questões, a

respeito de conhecimentos, atitudes, crenças e sentimentos.

Para Gil (1999), o questionário é uma das técnicas de colecta de dados e é composto por

questões escritas apresentadas aos detentores de dados, para a obtenção de opiniões,

percepções, interesses, situações vivenciadas, de entre outros.

4.4.5 A Entrevista

ANDRADE (2006) defende que a entrevista é um instrumento eficaz na recolha de dados

fidedignos para a elaboração de uma pesquisa, desde que seja bem elaborada, bem

realizada e bem interpretada.

Para MARCONI (2007) entrevista é um encontro entre duas pessoas a fim de que uma

delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação

de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social para a colecta

de dados ou para ajudar no diagnóstico ou tratamento de um problema social.

ANDRADE (2006) (apud MARCONI, 1990, p.85) apresenta 3 tipos de entrevista, sendo a

padronizada ou estruturada; despadronizada ou não estruturada e painel.

A fim de conhecer a opinião dos promotores do projecto efectuou-se duas entrevista a duas

pessoas de importante relevância para o projecto, o Frei Silvino Benetti e Marcus Leukel

que consiste em fazer uma serie de perguntas segundo um roteiro com os principais tópicos

relativos ao assunto da pesquisa.

Este tipo de entrevista confere mais liberdade tanto para o pesquisador quanto para o

entrevistado, podendo o entrevistador alongar-se em determinados tópicos, o que traz mais

informações e decorre como uma conversa informal.

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4.4.6 Tratamento e Analise de Dados

Na pesquisa de carácter quantitativo, normalmente os dados colectados são submetidos à

análise estatística, com a ajuda de alguns softwares. Os dados obtidos da amostra foram

alvos de tratamento no software estatístico, mais concretamente o SPSS 17.0 e Excel.

Para o presente estudo, recorreu-se à análise descritiva para descrever os dados e tirar

conclusões sobre o domínio do conhecimento em estudo.

A Comunidade

Para avaliar a opinião e a percepção da comunidade em relação ao PRB-TC foi utilizado

uma amostra de 145 morados de um total de 3.956 habitantes da Ribeira Bote aos quais se

aplicou um questionário por inquérito (ver Anexo D) com o objectivo de saber se a

comunidade tem sido beneficiada com este projecto. O grau de confiabilidade da pesquisa

é de 95% tendo como nivel de confiança uma percentagem de 1.96% e uma margem de

erro de 8%.

Tendo em conta os inquéritos aplicados constatou-se que 60% dos inquiridos tem

conhecimento do projecto, pois já foram informados das actividades realizadas e costumam

ver frequentemente os turistas a passearem na comunidade, sendo que 48,3% desses

conhece todos os seus responsáveis. Enquanto 40% diz desconhecer o projecto, apesar de

alguns já terem vistos os turistas mas não faziam ideia de que tinha um projecto por de trás

das visitas. Essa percentagem representa uma grande fatia devido ao facto do projecto ser

novo ainda não foi estendido a toda comunidade. 22,1% diz conhecer ou já ouviu falar,

mas não tem conhecimento de todos os seus responsáveis, pelo que na sua opinião o

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projecto deveria ser ainda mais divulgado, como se poderá verificar nas tabelas a

seguir:(tabela 9 e 10)

Tabela 9:Nível de conhecimento do projecto por parte da comunidade(%)

Sim 60,0

Não 40,0

Total 100,0

Tabela 10:Nível de conhecimento acerca dos responsáveis do projecto por parte da comunidade (%)

Sim 48,3

Não 22,1

S/ resposta 29,7

Total 100,0

No que diz respeito aos objectivos do projecto tanto a nível comunitário como a nível

turístico, a maior parte dos inquiridos que representam 60% não tem conhecimento desses

objectivos. Pelo que será necessário uma maior abordagem a nível de divulgação dos

mesmos.

Tabela 11:Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte da comunidade (%)

Sim 40,0

Não 29,7

S/ resposta 30,3

Total 100,0

Um dos objectivos da investigação era perceber se o PRB- TC beneficia e contribui para o

desenvolvimento da comunidade de Ribeira Bote, segundo os dados apresentados a seguir

58% da população acredita que a zona tem sido beneficiada sim e desses 24,1% já obteve

benefício próprio principalmente através das actividades comunitárias realizadas no

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âmbitodo projecto, como distribuição de roupas e materiais escolares, as actividades

infantis, palestras etc. (tabela 12 e 13).

Tabela 12: Benefício da Comunidade em relação ao projecto (%)

Sim 58,6

Não 0,7

S/ resposta 40,7

Total 100,0

Tabela 13:Percentagem das pessoas que já foram beneficiadas com as actividades do projecto (%)

Sim 24,1

Não 44,1

S/ resposta 31,7

Total 100,0

Tendo em conta os impactos provocados pelo PRB-TC até ao presente, 60% considera que

tem trazido impactos positivos, nomeadamente a abertura da comunidade ao exterior,

referindo-se aos turistas, a mudança da imagem e da mentalidade, que as pessoas tem dessa

comunidade, as oportunidades visualizadas no que diz respeito aos projectos de

financiamento, e principalmente a inclusão dos jovens nos objectivos do projecto. No que

se refere aos impactos negativos, 57,9% acredita que o projecto não tem causado

transtornos na comunidade, mas uma pequena percentagem (2,8%) mostra-se preocupada

com a questão da exploração do turismo sexual na comunidade e com a distribuição dos

rendimentos auferidos dessa actividade (tabela 14 e 15)

Tabela 14:Opinião sobre os impactos positivos provocados pelo projecto (%)

Sim 60,0

S/ resposta 40,0

Total 100,0

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Tabela 15:Opinião sobre os impactos negativos provocados pelo projecto (%)

Sim 2,8

Não 57,9

S/ resposta 39,3

Total 100,0

Os integrantes

Os integrantes do projecto são as pessoas que fazem parte do roteiro e que são visitados

pelos turistas durante a sua visita a R.B e representam um total de 20 integrantes. Destes

obteve-se uma amostra de 18, aos quais foram aplicados um inquéritos (ver Anexo E). As

conclusões do estudo efectuado apresentam um grau de confiabilidade de 95% para um

Nivel de Confiança de 1,96% e uma margem de erro de 8%.

Referindo-se aos objectivos do projecto, as pesquisas demonstram que a sua divulgação

tem sido fraca pelo que apenas 55,6% dos integrantes tem esse conhecimento, enquanto

44,4 os desconhece.

Tabela 16:Nível de conhecimento dos objectivos do projecto por parte dos integrantes (%)

Sim 55,6

Não 44,4

Total 100,0

A percentagem dos integrantes directos que já foram beneficiados com o projecto é de

94,4% sendo incluído nesses benefícios, as actividades comunitárias desenvolvidas, a

venda dos produtos aos turistas, a divulgação dos seus produtos, a integração no projecto,

etc.A maioria dos inquiridos manifestou o interesse em participar de uma associação de

desenvolvimento comunitário, para terem maior envolvimento nas tomadas de decisões.

Tabela 17: Percentagem dos integrantes que já foram beneficiados com o projecto

Sim 94,4

Não 5,6

Total 100,0

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Para melhor planeamento das visitas turísticas aplicou-se um inquérito para obter a opinião

acerca da estrutura das visitas, os dados revelam que o nível de organização no geral é Boa

(88,9%), pois a data e o horário das visitas é informada sempre com alguma antecedência e

pessoalmente, no caso de cancelamento por parte das agências, essa informação também é

repassada imediatamente. No caso da duração e interacção com os turistas essa opinião

desce para Razoável, sendo 66,7% e 77,8% respectivamente, indicam os integrantes que a

duração das visitas junto de cada participante deveria ser mais longa estimulando assim

uma maior interacção com os mesmos. Apesar disso a grande maioria (77,8%) acham os

turistas e visitantes mostram um bom nível de interesse em relação aos produtos

apresentados por cada integrante. (tabela18)

Tabela 18: Opinião dos integrantes em relação a estrutura das visitas (%)

Organização

Duração

Interacção com

os Turistas

Nível de

interesse dos

turistas em

relação ao

atractivo

Insuficiente 0,0 5,6 0,0 0,0

Suficiente 5,6 0,0 0,0 0,0

Razoável 0,0 66,7 77,8 16,7

Bom 88,9 22,2 11,1 77,8

Muito Bom 5,6 5,6 11,1 5,6

Total 100,0 100,0 100,0 100,0

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Os Turistas

Para analisar a percepção e a satisfação dos turistas que visitaram a R.B. aplicou-se um

modelo de inquérito (ver Anexo F) à 50 visitantes que representam a amostra de um total

75 turistas que estiveram na R.B. no período de Março a Julho. Os dados recolhidos deste

estudo representam um grau de confiabilidade de 95% para e um nivel de confiança de

1,96% para um grau de erro de 8%.

Com o mesmo objectivo de melhor planeamento das visitas turísticas aplicou-se um

inquérito para obter a opinião acerca da estrutura das visitas aos turistas que segundo o

quadro seguinte o nível de organização no geral é Boa (82,%), e Muito Boa para 16% dos

visitantes. Em relação a duração da visita, o tempo disponibilizado é Bom (78%) e para os

restantes 22% é Razoável. Na interacção com a comunidade a opinião desce para Razoável

(54%) pois estes também partilham da opinião de que deveria haver mais interacção com a

comunidade. Os dados demonstram ainda que o nível de percepção em relação ao atractivo

assim como a experiência vivida e o profissionalismo dos responsáveis é Boa sendo 48%,

54% e 74% respectivamente.

Tabela 19:Opinião dos turistas em relação a estrutura das visitas (%)

Organização

Duração

Interacção com

a Comunidade

Nível de

percepção

em relação

ao atractivo

Experiência

Profissional

.

Suficiente 0,0 0,0 4,0 0,0 0,0 2,0

Razoável 2,0 22,0 54,0 24,0 6,0 0,0

Bom 82,0 78,0 38,0 48,0 54,0 74,0

Muito

Bom

16,0 0,0 4,0 28,0 40,0 24.0

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

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A totalidade (100%) dos inquiridos; turistas e visitantes considera que o preço do roteiro é

bastante acessível tendo em conta o tipo de produto oferecido e ainda partilham da opinião

de que recomendará o produto a amigos e conhecidos e ainda que deve-se continuar a

apostar neste projecto (tabela 20 e 22) sendo que desses 92% pretende voltar a comunidade

posteriormente (tabela 21).

Tabela 20: Opinião dos visitantes em relação ao preço das visitas

Preço (%)

Acessível 100,0

Total 100,0

Tabela 21: Percentagem dos visitantes que pretendem voltar a Comunidade

Sim 92,0

Não sabe 8,0

Total 100,0

Tabela 22:Percentagem dos visitantes que recomendarão e acham que deve-se continuar a apostar no Produto

Recomenda o

Produto

Continuar a apostar

no Produto

Sim 100,0 100,0

Total 100,0 100,0

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Breve reflexão tendo em conta os dados recolhidos

Tendo em conta o estudo de caso no terreno e os dados obtidos, sugere-se algumas

estratégias para o alcance dos objectivos proposto na elaboração do PRB-TC:

Fazer novas campanhas de divulgação do projecto, dos seus objectivos e dos

responsáveis, tanto na comunidade como fora dela, e incluindo em primeiro plano

os integrantes directos do projecto;

Fazer novas campanhas de sensibilização para dar a conhecer ainda mais a

importância do projecto;

Tentar envolver no máximo todos os bairros situados dentro da Ribeira Bote,

descobrindo todo o seu potencial tornando num atractivo turístico;

Ter em conta a duração das visitas, refazer as rotas diminuindo o número de

atractivo em cada visita alternadamente, para que os turistas, integrantes e

comunidade tenham mais tempo para interacção;

Investir mais na história de alguns pontos do roteiro de forma a enriquecer o

produto e cativar ainda mais os visitantes;

Tentar envolver os turistas mais na aprendizagem dos processos de fabricação dos

produtos, criando assim o sentido de pertença em vez de simplesmente mostrar-lhes

produtos para compra;

Apostar nas formações para prestar um serviço de qualidade ao turistas como por

exemplo, guias de turismo, cursos de línguas, tratamento e higiene alimentar para

as famílias acolhedoras, etc.

Zelar ainda mais pela segurança dos visitantes dentro da comunidade contando com

o apoio fundamental dos moradores e criando parcerias com a Policia de Ordem

Pública.

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5 CAPITULO

5.1 Limitações e Desafios

O estudo sobre o Turismo Comunitário não foi aqui analisado com base em bibliografias

editadas como era previsto, devido ao facto de existirem poucas obras sobre o assunto em

São Vicente, pelo que se baseou em documentos e trabalhos académicos feitos,

encontrados na internet que serão indicados na Bibliografia, o que pode ser entendido

como uma limitação do estudo e da abordagemproposta. Outras das limitações encontradas

foi a falta de actores na comunidade e pessoas com conhecimento profundo sobre o tema

proposto que poderiam enriquecer ainda mais o trabalho com o seu contributo.

Contudo, um desafio para uma investigação futura poderia ser uma maior quantificação

dos impactos deste projecto, através do recurso aos indicadores tradicionais como o

número de empregos criados, as novas actividades económicas, as taxas deocupação, o

volume de negócios, ou as próprias iniciativas criadas dentro do projecto a longo prazo.

Por outro lado, a questão da sustentabilidade do projecto não foi abordada, porque tendo

em conta a duração do projecto ainda não se pode dizer que é sustentável embora os

índices existentes e a crescente taxa de procura indicam que o mesmo possa ocorrer, sendo

este um tipo de turismo cada vez mais procurado pelo facto da consciência social estar a

aumentar em todo mundo indica que o potencial para o crecimento exista, pelo que poderá

ser profundamente analisada em futuros estudos

Um outro desafio no sentido de potenciar o impacto social e político dainvestigação seria

desenvolver a análise no contexto da metodologia de investigação-acção, articulando a

aprendizagem com a acção formando e informando a comunidade sobre o turismo

comunitário e a sua importância para o DC.

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Este estudo representa apenas uma pesquisa inicial sobre Turismo Comunitário e seus

impactos sobre o desenvolvimento das comunidades e territórios de acolhimento, podendo

constituiruma base para a realização de futuras investigações.

5.2 Pistas para uma Prática Reflexiva de Turismo Comunitário

A análise teórica e empírica evidencia que o turismo, por si só, não é uma receita milagrosa

para o desenvolvimento. Para que o turismo contribua efectivamente para o DC,

aparticipação da comunidade é um factor crítico, já que tem influência sobre as

restantesdimensões do DC: sem participação comunitária não há mobilização dos recursos

humanos endógenos, não há empoderamento; não é possível a fertilização dos recursos

exógenos numa perspectiva de autonomia e sustentabilidade; a intervenção fica desligada

do território, da sua identidade e valores; a satisfação das necessidades da comunidade é

limitada; a abordagem fica desintegrada, sem o envolvimento dos diferentes actores locais;

o contributo para o processo de mudança da comunidade e o impacto em toda a

comunidade são limitados, podendo tornar-se num enclave. Assim, é essencial ter em conta

as questões socioculturais e o conhecimento profundo da realidade em que se intervém

para a sensibilização e o envolvimento da comunidade, para a aceitação por parte da

mesma da metodologia proposta, para ultrapassar eventuais resistências e desistências.

Para tal, têm que ser aplicados mecanismos no sentido de facilitar a participação da

população local, trabalhando sobre a autonomia, auto-estima e auto-determinação da

comunidade. Afinal, só a participação e responsabilidade colectiva da comunidade

permitem garantir que a actividade turística se faz em benefício de toda a comunidade e

território.

Por outro lado, os projectos de TC, enquanto projectos turísticos de pequena escala, não

funcionam em favor das comunidades de acolhimento a não ser que tragam benefícios

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directos e perceptíveis para essas comunidades. Isto ocorre naturalmente se houver espaço

para as populações locais desenvolverem as suas actividades e serviços, seja através da sua

participação nas cadeias de abastecimento do sector (agricultura, pecuária, actividades

artesanais, pequena indústria), seja prestando directamente os seus serviços enquanto guias

turísticos, monitores de actividades desportivas e de lazer, venda de artesanato, pequeno

comércio, contadores de histórias. Este efeito difusor dos projectos turísticos ao nível do

despoletar de novas actividade geradoras de rendimentos, não é automático ou linear,

podendo, numa fase inicial, requerer um trabalho de facilitação e estímulo ao

empreendedorismo.

É, assim, necessária a adopção de metodologias participativas, acompanhadas de um

trabalho de sensibilização, capacitação, assessoria técnica, no sentido da facilitação das

iniciativas turísticas locais, sejam de carácter individual ou comunitário. Por outro lado, só

a reunião regular com os residentes e interlocutores locais permite explicar, sensibilizar,

consolidar e gerar discussão para fazer emergir decisões satisfatórias para todos.

O Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário pretende assumir estas responsabilidades

para que a comunidade de Ribeira Bote saia a ganhar em todas as actividades

desenvolvidas no âmbito do mesmo como por exemplo, o envolvimento dos líderes

comunitários e outros interlocutores locais; animação comunitária e estruturação colectiva;

diagnóstico participativo e definição participada de prioridades e estratégias;

estabelecimento de parcerias; opção pela pequena escala.

Qualquer abordagem deverá necessariamente inscrever-se num processo gradual,

progressivo e de longa duração.

Em suma, para que os projectos turísticos possam desencadear processos de

desenvolvimento, de forma continuada e sustentável – com repercussões ao nível da

valorização das capacidades e potencialidades locais, do aprofundamento das redes de

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solidariedade e da autonomia – é necessária uma abordagem multidimensional,

participativa, integrada e integradora, sempre em articulação com os restantes sectores da

economia e da sociedade.

A

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CONCLUSÃO

O Turismo Comunitário remete-nos a essência do turismo onde as viagens tinham o

propósito principal de conhecer outros povos, sua cultura e seus hábitos e não somente o

consumismo e vivências temáticas.

Este modelo de desenvolvimento, pode explorar o turismo de forma justa preservando

patrimônios naturais, culturais e social, porém este modelo não deve ser tratado de forma

utópica ou como meio de expressão revolucionária contra os padrões econômicos atuais e

sim como uma oportunidade de desenvolvimento para uma comunidade organizada.

Contudo, para que o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária tenha real

concretização, é essencial de algum modo, a interferência de outros setores, garantindo que

a atividade turística não pode ser desenvolvida isoladamente pela comunidade, porém a

comunidade consciente pode ser a base para o desenvolvimento do turismo.

Tendo em conta a questão de partida podemos afirmar que o turismo comunitário pode sim

desenvolver a comunidade de R. B. pois o Projecto Ribeira Bote- Turismo Comunitário

propõe diversos objectivos de forma a assegurar que toda a comunidade seja beneficiada

com o desenvolvimento do turismo a longo prazo, pelo que se confirmam também as

hipóteses anteriormente apresentadas, chegando a conclusão de que este projecto se

enquadra no TC.

Tendo em conta o estudo de caso apresentado, vê-se necessário ainda investir nos

processos de formação dos intervenientes, fomentar a comercialização de produtos

visando, sobretudo, a qualificação da experiência do turista, proporcionando a sua máxima

satisfação e, consequente, fidelização e/ou promoção positiva do destino, através do

marketing boca-a-boca. E também criar novas parcerias que contribuirão para o alcance

dos objectivos propostos.

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ANEXOS

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ANEXO A

Entrevista Ao Frei Silvino (Entrevista 1)

1- Ha quanto tempo trabalha com a comunidade de Ribeira Bote

2- Como é que surgiu a ideia de trazer turistas para a comunidade de Ribeira Bote?

3- Porque é que escolheu a comunidade para receber os turistas tendo em conta que

trabalha também com outras comunidades em SV?

4- Que iniciativas o Frei tem desenvolvido na Comunidade actualmente?

5- Na sua opinião, como é que este projecto poderá ajudar no desenvolvimento da

comunidade de Ribeira Bote?

6- Qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento actual do Projecto Ribeira Bote –

Turismo Comunitário?

7- Como é que o Frei tem colaborado com o projecto actualmente?

8- Sugestões.

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ANEXO B

Entrevista a Agência Vista Verde (MarkusLeukel)Entrevista 2

1- Qual é a sua opinião em relação ao projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?

2- Como é que teve conhecimento do referido projecto?

3- Na vossa opinião, como é que este projecto vem ajudar no desenvolvimento da

comunidade de Ribeira Bote?

4- Porque é que a agência apostou nesse tipo de turismo?

5- Qual a vossa opinião em relação ao serviço prestado até ao momento?

6- Pretendem continuar a apostar nessa iniciativa? Porquê?

7- Na vossa percepção qual é o nivel de satisfação dos turistas que tem visitado a

comunidade em relação a experiência vivida?

8- Esse tipo de turismo tem despertado muito interesse por parte dos turistas que

procuram a agência? E dos turistas no estrangeiro que tem acesso ao catalogo da

agência?

9- Qual é o perfil do turista que procura o tipo de turismo comunitário?

10- Sugestões.

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ANEXO C- Mapa De Ribeira Bote Indicando Um Dos Roteiros Do Projecto

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ANEXO C 1 - O Roteiro Turístico do Projecto

A imagem do projecto é representada por um puzzle onde integra algumas das

potencialidades da comunidade. A imagem foi inspirada pelo grupo e criada pelo designer

Rui Ribeiro também morador da comunidade. Nesta imagem destaca-se a Pintura, a

Gastronomia, a Escultura, Os Mandingas, a Cerâmica, o Desporto e a Música.

O passeio tem uma duração de cerca de 3 horas e começa com a visita ao mercado da

Ribeirinha (situado frente a zona da Ribeira Bote). Inicia-se com um pouco história sobre o

mercado, depois segue-se a apresentação, pelos próprios vendedores, dos produtos

vendidos no local tais como roupas, ervas para chás, argila, pimenta, milho, peixe,

verduras e hortaliças provenientes da zona de Calhau e da ilha de Santo Antão, entre outros

produtos. Podem encontrar também pessoas de outras ilhas de Cabo Verde como Santo

Antão, S Nicolau e Fogo e também de outros países da África como Costa do Marfim,

Senegal, Guine Bissau, etc.

Ilustração 1– Imagem do Projecto Ribeira Bote – Turismo

Comunitário

Fonte: PRB - TC

Ilustração 2- Mercado da Ribeirinha

Fonte: PRB - TC

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(Continuação do Anexo C1…)

A visita continua em direcção ao bairro d` Ilha da Madeira, onde introduz-se sempre a

história do bairro e é onde se encontra grande parte dos artistas da ilha de São Vicente. Os

turistas visitam um grande sapateiro desta localidade oriundo da ilha do Fogo, que mostra

como são confeccionados ou consertados os sapatos que chegam até a sua sapataria.

Ilustração 3 - Sapateiro " Di Fogo" na sua sapataria

Fonte: PRB -TC

Após essa visita, entram na casa e ateliê de uma artesã de quadros Carina Mota. Os

quadros são feitos com uma técnica manual em platex (madeira) e utilizando Cola Branca

everniz para fazer os motivos dos desenhos. A maioria dos temas dos quadros representa a

vida quotidiana dos cabo-verdianos ou as ilhas de Cabo Verde.

Ilustração 4 - Artesã Carina Mota na confecção dos seus quadros

Fonte: PRB -TC

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(Continuação do Anexo C1…)

Mais um famoso artista é o pintor Bitú Alves, conhecido pela sua pintura colorida e

bastante expressiva, e também pelas esculturas e trabalhos carnavalescos na ilha de São

Vicente.Outros artistas também da Ribeira Bote que tem o prazer de visitar são o Manu

Cabral, escultor e dinamizador do Carnaval, e o Albertino, artesão e escultor de pedras.

Estes três últimos com exposições e trabalhos reconhecidos internacionalmente.

É mesmo impressionante presenciar como esses artistas fazem os seus trabalhos.

Depois de visitar este artista, segue-se em direcção à mais um atractivo da comunidade,

onde uma simpática moradora da comunidade abre as portas da sua casa para visitarem um

poço de água salobra e límpida, com aproximadamente 30 metros de profundidade. A água

serve para as tarefas domésticas, tomar banho, para rega das plantas e para os animais e

outros fins excepto para o consumo humano e para cozinhar. O poço é de propriedade

privada mas a água é vendida a toda a comunidade, a um preço simbólico.

Ilustração 5 - Pintor Bitú Alves das suas pinturas

Fonte: PRB - TC

Ilustração 6: O poço de água e alguns visitantes

Fonte: PRB - TC

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(Continuação do Anexo C1…)

A caminhada continua em direcção a casa de mais um artista/reciclador que faz cortinas

com argolas e tampas de garrafa plásticas, é importante mostrar que os moradores dessa

comunidade também estão preocupados com os problemas ambientais e fazem também da

reciclagem uma forma de sustento.

Na mesma casa ainda têm a oportunidade de visitar uma simpática rendeira também

oriunda da ilha do Fogo, mas há muito tempo residente em São Vicente que apresenta aos

visitantes o seu trabalho e os convida a aprender essa arte.

Ilustração 7: Artesão " Cubano" fazendo uma demonstração aos visitantes. A direita uma peça já confeccionada.

Fonte: PRB - TC

Ilustração 8: Rendas feitas pela dona Leopoldina

Fonte: PRB - TC

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(Continuação do Anexo C1…)

O pessoal não para e a visita continua. O próximo ponto é uma oficina de carpintaria de um

dos melhores carpinteiros da ilha, Victor Pio. Este carpinteiro confecciona móveis

completos em madeira, faz o aproveitamento de paletes, emprega e da formação a muitos

de jovens da comunidade.

No Centro Social da Ribeira Bote têm ainda a oportunidade de visitar o CAPS –RB

(Centro de Apoio Psico-Social da Ribeira Bote), a Abraço - Associação dos Seropositivos

de São Vicente), o Clube Desportivo da Ribeira Bote e ainda outro artista que trabalha com

uma mistura de barro da ilha de Santo Antão e de São Vicente produzindo manualmente

magníficas peças artesanais em barro.

Ilustração 9: O carpinteiro

Victor Pio no seu ofício

Fonte: PRB - TC

Ilustração 10: O artesão e escultor "Djoy" e alguns dos seus trabalhos

Fonte: PRB - TC

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(Continuação do Anexo C1…)

Ainda no mesmo edifício do centro, é possível também conhecer um costureiro designer de

moda que para além de fabricar uniformes escolares e empresariais, faz consertos de

roupas e ainda confecciona peças para o Carnaval. Este costureiro mais conhecido por

“DyBody”foi o autor dos três últimos vestidos vencedores de Rainha do Carnaval

Mindelense. E promove também formações para os jovens do bairro.

Esta localidade está recheada de pessoas com muito talento, e acsegue-se a visita amais

uma artesã/ reciclado, utiliza garrafa plásticas para fazer cestos e trabalhos diversos de

reciclagem, portanto, vale a pena visitar esses talentos que estão aí escondidos. Durante a

visita pela comunidade, têm ainda a oportunidade de cruzar com diversos artistas de rua

que confeccionam bijutarias e diversas peças de decoração.

Ilustração 11: Alguns trabalhos feitos pelo costureiro "Dy Body"

Fonte: PRB - TC

Ilustração 12: Um dos jovens que

podemos encontrar na Ribeira Bote

fazendo bijutaria.

Fonte: PRB - TC

Ilustração 13: Cestos feitos com garrafa plástica da

artesã Charlene Graça

Fonte: PRB - TC

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(Continuação do Anexo C1…)

Avisitacontinua em direcção a casa de um jovem músico que anima ainda mais a visita

num ambiente descontraído ao som de diversas músicas cabo-verdianas.

No final do passeio os visitantes sentam-se para descansar um pouco, degustando o famoso

grogue e o ponche de sabores diversos, sumo de papaia natural ou de tamarindo, consoante

a época, pastel de milho, queijo de cabra fresco, etc. Ou um almoço na casa de uma família

da comunidade que pode ser cozido de peixe, cachupa fresca ou guisada entre outros pratos

típicos.

Depois do lanche ou do almoço ainda há tempo para um jogo de “uril” com os visitantes

visitantes.

Ilustração 14: O cantor Yanick e uma visitante. Fonte: PRB-TC

Ilustração 15: Almoço dos turistas na casa da

comunidade. Fonte: PRB- TC

Ilustração 16: Jogo de "Uril" depois do

almoço. Fonte: PRB- TC

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(Continuação do Anexo C1…)

A visita termina sempre com uma foto de “família” que vai para a página do facebook do

Projecto onde os turistas, visitantes e a população no geral ficam a par das actividades

desenvolvidas na comunidade.

O roteiro sempre vária, tendo em conta o dia, o horário e o tamanho do grupo. A

comunidade tem ainda muitas coisas a serem descobertas pelos visitantes mas apenas numa

visita presencial.

Ilustração 17: um grupo de turistas depois da visita.

Fonte: PRB-TC

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115

ANEXO D

Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem

por objectivo analisar o grau de envolvimento e satisfação da comunidade de Ribeira Bote

em relação ao referido projecto.

Obrigado pela sua contribuição

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-------

Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem

por objectivo analisar o grau de envolvimento e satisfação da comunidade de Ribeira Bote

em relação ao referido projecto.

Obrigado pela sua contribuição

Sim Não

1 Tem conhecimento do projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?

2 Sabe quem são os seus responsáveis?

3 Sabe quais são os objectivos do projecto a nível comunitário e a nível

turístico?

4 Na sua opinião a Comunidade tem sido beneficiada com o projecto?

5 Já foi beneficiado alguma vez pelas actividades promovidas no âmbito do

projecto?

6 O projecto tem trazido impactos positivos para a Comunidade?

7 O projecto tem trazido impactos negativos para a Comunidade?

Sim Não

1 Tem conhecimento do projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?

2 Sabe quem são os seus responsáveis?

3 Sabe quais são os objectivos do projecto a nível comunitário e a nível

turístico?

4 Na sua opinião a Comunidade tem sido beneficiada com o projecto?

5 Já foi beneficiado alguma vez pelas actividades promovidas no âmbito do

projecto?

6 O projecto tem trazido impactos positivos para a Comunidade?

7 O projecto tem trazido impactos negativos para a Comunidade?

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ANEXO E

Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem

por objectivo analisar o grau de envolvimento e satisfação dos integrantes que participam

no roteiro em relação ao referido projecto.

Obrigado pela sua contribuição

Sim Não

1 Tem conhecimento do projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário?

2 Sabe quem são os seus responsáveis?

3 Sabe quais são os objectivos do projecto a nível comunitário e a nível

turístico?

4 Na sua opinião a Comunidade tem sido beneficiada com o projecto?

5 Como integrante directo, tem sido beneficiado pelas actividades

promovidas no âmbito do projecto?

6 O projecto tem trazido impactos positivos para a Comunidade?

7 O projecto tem trazido impactos negativos para a Comunidade?

8 Estaria interessado em participar numa associação de desenvolvimento

comunitário?

9 Como caracteriza as visitas turísticas, um termos de:

Insuf. Suf. Razoável Bom M.Bom

Organização

Duração

Interação com os turistas

Nível de interesse por parte dos turistas em relação

ao atrativo

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ANEXO F

Framed in the ProjectRibeiraBote-Community Tourism, this questionnaire is toanalyze the

degreeofsatisfaction of touristsanddomesticvisitorswhovisitedthecommunityinrelationto the

project.

Nationality:

TANK YOU

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Enquadrado no Projecto Ribeira Bote – Turismo Comunitário, o presente questionário tem

por objectivo analisar o grau satisfação dos turistas e dos visitantes nacionais que visitam a

comunidade em relação ao projecto.

Nacionalidade:

Obrigado pela sua colaboração

1 Characterizesthevisitsasaterms of: Insuff. Suff. Reasonable good VeryGood

A organization

B Duration of visit

C Interaction with the community

D Level of perception regarding the attractive

E Experience

F Professionalism

2 How do you rate the product in relation to price Cheap Affordable Expensive

3 Seeks to return to the community later? Yes________ No_______

4 Would you recommend the product to friends Yes________ No_______

5 Could we continue betting in this type of tourism? Yes________ No_______

1 Como caracteriza a visitas, um termos de: Insuf. Suf. Razoável Bom M.Bom

A Organização

B Duração da visita

C Interacção com a comunidade

D Nível de percepção em relação ao atractivo

E Experiência

F Profissionalismo

2 Como classifica o produto em ralação ao preço Barato_____ Acessível____ Caro_____

3 Pretende voltar a comunidade posteriormente? Sim________ Não_______

4 Recomendaria o produto aos amigos/conhecidos? Sim________ Não_______

5 Podem continuar a apostar nesse tipo de turismo? Sim________ Não_______