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REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO
DOS PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS
ESTUDO DE CASO: PLANO DIRETOR URBANÍSTICO DO
MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional FASE
2009
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REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS PLANOS
DIRETORES PARTICIPATIVOS
ESTUDO DE CASO: PLANO DIRETOR URBANÍSTICO DO
MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS, RJ
FICHA TÉCNICA
Nome do pesquisador: Mauro Rego Monteiro Santos e Fabricio Leal de Oliveira.
Assistente de pesquisa: Camila Saraiva.
Email e telefone de contato: [email protected] e [email protected] – (21)
25367350.
Município: Duque de Caxias.
Número da lei: Lei Complementar Nº 01 de 31 de outubro de 2006.
Data da aprovação do Plano Diretor: 31 de outubro de 2006.
Estado: Rio de Janeiro
ÍNDICE
1. Metodologia .............................................................................................................................. 3
2. Processo de elaboração e aprovação ......................................................................................... 5
3. Processo de implementação .................................................................................................... 17
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ESTUDO DE CASO: PLANO DIRETOR URBANÍSTICO DO
MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS, RJ
O Plano Diretor de Duque de Caxias foi elaborado na gestão do Prefeito Washington Reis (PMDB),
com assessoria da Fundação Dom Cintra. O processo, iniciado em fevereiro de 2006, culminou com
a aprovação do projeto de lei pela Câmara Municipal em outubro de 2006. Houve uma iniciativa
anterior de elaboração do Plano, na gestão do Prefeito Zito (PSDB), quando foram contratados
estudos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(FAU/UFRJ), mais tarde parcialmente utilizados na elaboração do Plano Diretor.
1. Metodologia
O estudo de caso tem como objetivo analisar o processo de elaboração e de implementação do
Plano Diretor no que diz respeito às diretrizes, instrumentos e estratégias de acesso à terra
urbanizada e às políticas urbanas, bem como à implementação da gestão democrática. A principal
referência para o estudo de caso é o roteiro de questões elaborado pela coordenação executiva do
projeto (Ministério das Cidades, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional,
IPPUR/UFRJ, Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional FASE e Instituto
Pólis), que definiu o escopo e as ênfases da pesquisa. Para a elaboração do estudo foram realizadas
visitas de campo, debates, consultas e entrevistas com membros de organizações sociais e da
Prefeitura, e consultadas leis, decretos, diagnósticos e atas de reuniões.
A metodologia adotada para análise da elaboração e implementação do Plano Diretor procurou
articular as seguintes dimensões:
i) sistematização dos diagnósticos existentes sobre o Município (tanto os elaborados por órgãos
públicos, como o IBGE e as Universidades, como os estudos realizados especialmente para a
elaboração do Plano), que pudessem subsidiar a nossa análise dos principais problemas e desafios
do Município;
ii) análise da coerência do processo de elaboração e implementação do Plano Diretor com as
orientações, diretrizes e objetivos do Estatuto da Cidade;
iii) identificação das alterações operadas pelo Plano Diretor nas orientações referentes à política
fundiária;
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iv) identificação dos interesses, conflitos e identidades existentes entre os segmentos sociais e entre
estes e a Prefeitura; v) identificação da percepção dos conselheiros municipais da cidade a respeito
dos resultados (parciais) do estudo de caso através de reunião com o Conselho da Cidade; e vi)
identificação do grau de implementação das diretrizes, instrumentos e metas do Plano Diretor.
Foram desenvolvidas as seguintes atividades:
i) Entrevistas1: a) Rodolpho Wanek exSecretário Municipal de Urbanismo na gestão do prefeito
Washington Reis (20052008); também presidiu o Núcleo Gestor do Plano Diretor; b) Mauri Vieira
– arquiteto e urbanista de carreira do Departamento de Urbanismo da Secretaria de Obras, (presidiu
metade das reuniões do Núcleo Gestor); c) Izidoro Gerônimo da Rocha – arquiteto concursado; na
época da elaboração do Plano Diretor estava na Secretaria Municipal de Urbanismo e atualmente
está lotado na Secretaria Municipal de Transporte; d) Solange Bergami – Coordenadora do MUB –
Federação das Associações de Moradores; e e) Sidney Crespo Neves Coordenador do MUB –
Federação das Associações de Moradores (na época pertencia à ONG EXOBRAS).
ii) Levantamento de informações junto à Prefeitura sobre o processo de elaboração e de
implementação do Plano Diretores, atas das reuniões do Núcleo Gestor, materiais utilizados na
oficina de multiplicadores, Plano Diretor anterior e legislação de uso e ocupação do solo atual.
iii) Levantamento e sistematização de indicadores sóciodemográficos (IBGE, Fundação João
Pinheiro e Observatório das Metrópoles) e de informações a respeito do PAC em Duque de Caxias.
iv) Visita de campo a fim de ter um panorama das condições urbanas de parte da área estipulada
como Zona de Ocupação Prioritária (Campos Elíseos, Jardim Primavera e Saracuruna);
v) Apresentação e discussão dos resultados preliminares do estudo de caso na reunião do Conselho
da Cidade do Município de Duque de Caxias em 10 de novembro de 2008;
vi) Consulta aos técnicos da Prefeitura a respeito da aplicação e conhecimento dos novos
parâmetros e instrumentos urbanísticos presentes no Plano Diretor.
1As entrevistas foram realizadas em mais de um encontro (com exceção da entrevista com o exSecretário Rodolpho
Wanek). Foi utilizado como referência o roteiro de questões elaborado para os pesquisadores responsáveis pelos estudos
de caso em âmbito nacional.
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2. Processo de elaboração e aprovação
Com o objetivo de melhor subsidiar a sistematização das informações sobre os planos diretores
fluminenses no Relatório Estadual da pesquisa, este relatório organiza a avaliação do estudo de caso
de Caxias segundo os principais tópicos do questionário de referência.
Formatos adotados no processo de participação
O formato de participação adotado consistiu centralmente na realização de reuniões do Núcleo
Gestor do Plano Diretor. Processos mais amplos de participação ocorreram apenas na realização de
dois dias de seminários temáticos e do Fórum do Plano Diretor, que teve duração de um dia.
Intensidade e abrangência da participação
A participação foi superficial, envolvendo principalmente as organizações sociais vinculadas à
política urbana e ambiental e participantes do Núcleo Gestor do Plano. Não foi realizada campanha
de mobilização. Os momentos de maior mobilização ocorreram para divulgar a realização das
seguintes atividades: dois dias de seminários temáticos, curso de capacitação de multiplicadores e
realização do Fórum do Plano Diretor, que consolidou o conteúdo do projeto de lei. Cabe ressaltar
que essas atividades contaram com pouco mais de 60 (sessenta) participantes. Outro processo
ampliado ocorreu com a realização da capacitação de multiplicadores, embora não tenha resultado
em desdobramento em encontros distritais ou de bairros.
Tempo e metodologia da participação
O tempo da participação foi muito curto – 6 (seis) meses – e se concentrou na realização de 14
reuniões (12 ordinárias e duas extraordinárias) do Núcleo Gestor , sendo que algumas delas não
obtiveram quórum.
A metodologia da participação foi objeto de severas críticas por parte da sociedade (principalmente
do Movimento União de Bairros – MUB) e fator de conflitos que dominou a pauta das reuniões do
Núcleo Gestor até a nona reunião. Ou seja, a metodologia foi definida quase no final do processo.
Existiam duas propostas metodológicas com naturezas bastante diferenciadas: a da Prefeitura,
elaborada com assessoria da Fundação Dom Cintra, e a do MUB.
A proposta do MUB foi protocolada na Prefeitura em abril de 2005 (quase um ano antes de iniciar o
processo, em fevereiro de 2006), mas não teve resposta da Prefeitura. A metodologia previa amplo
processo de mobilização através de campanha, reuniões descentralizadas nas regiões da cidade em
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cada etapa prevista para a formulação do Plano – diagnóstico técnico e comunitário, fase de
propostas e capacitação e assessoria para o desenvolvimento das etapas , além dos encontros
municipais temáticos. A proposta previa a aprovação da metodologia em audiência pública com
ampla divulgação, antecedida de encontros com os conselhos municipais, secretarias municipais e
Câmara de Vereadores.
Na proposta da Prefeitura não estavam previstas reuniões nas regiões – seriam realizados somente
encontros centralizados – nem a realização da leitura comunitária da cidade. O envolvimento mais
amplo das comunidades se faria através da capacitação de multiplicadores (lideranças e membros
organizados na comunidade) – que, ao fim, só teve um dia de duração – e não estavam previstos
processo de acompanhamento dos participantes, nem espaços onde as comunidades pudessem
expressar suas demandas. Estavam previstos, também, quatro seminários temáticos (em dois dias),
reuniões do Núcleo Gestor e a realização de um Fórum Municipal para consolidar o projeto de lei.
A proposta da Prefeitura foi se estabelecendo na prática, tendo em vista que foram sendo
desenvolvidas as atividades programadas sem que o Núcleo Gestor conseguisse deliberar sobre a
questão. Parte das razões para a não aprovação da proposta diz respeito a ausência de quórum em
várias reuniões programadas, provocadas principalmente pelas ausências do segmento
governamental. O Núcleo Gestor acabou tomando decisões de implementação de algumas ações,
como a mobilização e a realização do curso de capacitação e dos seminários temáticos.
• O debate nas reuniões do Núcleo Gestor
As reuniões do Núcleo Gestor foram permeadas por diversas críticas ao processo de participação
que destacavam: i) a ausência de mecanismos de participação descentralizada, de âmbito regional;
ii) a ausência de assessoria técnica para a realização da leitura comunitária e para a elaboração de
propostas; iii) a falta de empenho da Prefeitura no processo de mobilização da sociedade e na
participação das reuniões do Núcleo Gestor e; iv) a ausência de acesso às informações e aos
diagnósticos elaborados que pudessem subsidiar a fase de propostas.
O curto prazo para o envio da proposta à Câmara – 6 meses – foi fortemente utilizado como
argumento de defesa da metodologia da Prefeitura. Assim, desde o início, as reuniões
descentralizadas foram apresentadas como inviáveis, tendo em vista o curto tempo para a sua
realização. O que garantiria o caráter participativo seria, segundo esse argumento, a capacitação dos
multiplicadores juntamente com os seminários temáticos e o Fórum do Plano Diretor. Um técnico
da Fundação explicitou que no plano de trabalho da Fundação junto à Prefeitura não constava o
acompanhamento de reuniões comunitárias ou distritais:
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“... a Fundação Dom Cintra está dando suporte técnico aos representantes das comunidades com a
realização da capacitação de multiplicadores, para que estes reproduzam as informações que a
assessoria técnica está transmitindo, explicando que a consultoria foi contratada para realizar a
parte técnica e a capacitação de multiplicadores, oficinas, seminários e fórum”2.
Foi enfatizado também que a referida contratação foi feita considerandose o prazo existente
fornecido pelo governo.
Em outra reunião, o mesmo técnico diz que
“a Fundação não está elaborando nada (novo). Ela está costurando estudos anteriores das
Conferências das Cidades, de estudos de planos diretores da UFRJ e está tudo sendo montado para
ser apresentado à equipe técnica e era para ser mostrado na reunião do Núcleo Gestor, para ver se
o caminho é esse” [...]. “O que estamos fazendo realmente é costurando as demandas da
comunidade. O melhor realmente a fazer, são as reuniões nas comunidades como vocês já
propuseram” 3
Entretanto, o técnico disse que teria que consultar seus superiores da Fundação para saber se esta
poderia prestar assessoria técnica nessas reuniões. Na mesma reunião, o Secretário de Urbanismo
afirmou que estaria assegurada a participação da Fundação nas reuniões comunitárias.
Cabe ressaltar que esse “recuo” da Prefeitura quanto à inclusão das reuniões nas comunidades
ocorreu num contexto de muita pressão. A crescente insatisfação dos representantes da sociedade no
Núcleo Gestor quanto à metodologia considerada pouco participativa e quanto à ausência dos
representantes governamentais, bem como do Secretário de Urbanismo (presidente do Núcleo
Gestor), chegou ao ápice na sétima reunião ordinária, onde foi deliberado que o Núcleo deveria
apresentar um relatório ao Secretário de Urbanismo com todos os pontos de insatisfação com o
processo que incluíam, dentre outras, as seguintes reivindicações:
“substituição dos representantes membros das Secretarias Municipais e dos demais segmentos
sociais que não tem comparecido regularmente as reuniões do Núcleo, contribuindo assim para que
o quorum não seja alcançado; que as reuniões comunitárias propostas pela empresa de assessoria
técnica se adeqüem à proposta formulada pelos segmentos sociais participantes, ou seja, reuniões
comunitárias regionais organizada com toda a estrutura necessária, com a logística disponibilizada
pela Prefeitura e a assessoria técnica contratada” 4.
2 Ata da Sexta Reunião do Núcleo Gestor do dia 26/05/2006.
3 Ata da Oitava Reunião do Núcleo Gestor do dia 24/07/2006.
4 Ata da Sétima Reunião do Núcleo Gestor do dia 10/07/2006.
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Neste mesmo documento, o Núcleo Gestor critica a assessoria técnica ao expressar que esta “não
está contemplando as proposições encaminhadas pelos segmentos sociais participantes”.
A Prefeitura respondeu positivamente às reivindicações. O Secretário passou a estar presente nas
reuniões, foi realizada a substituição dos membros faltosos e houve concordância quanto à
realização de reuniões distritais com a presença da assessoria técnica. Entretanto, na prática as
reuniões não ocorreram, devido à proximidade do prazo para o envio do projeto de lei à Câmara.
Parte do movimento social ainda tentou ampliar o prazo para a elaboração do Plano, tendo em vista
que no prazo estipulado seria impossível realizar as reuniões comunitárias. Na nona reunião,
realizada no dia 14/08, finalmente se delibera sobre a metodologia para formulação do Plano.
O MUB apresenta a proposta de seguir integralmente as etapas previstas pela metodologia
apresentada pelo movimento em 2005, mesmo que isso representasse ir além do prazo estipulado
pelo Estatuto da Cidade.
Na defesa da proposta da Fundação, foi destacado que aquela não era uma metodologia da
Fundação, mas uma metodologia criada em acordo com a Prefeitura para que se cumprisse o prazo
para a elaboração do Plano. O Secretário de Urbanismo tentou articular as duas metodologias ao
propor a inserção das reuniões com as associações na metodologia da Fundação. O MUB responde
que a diferença não é só a realização de reuniões comunitárias, mas o cumprimento de sete etapas,
mas não consegue sucesso. A proposta de prorrogação do processo de elaboração até 2007 foi
derrotada pelos membros governamentais (7 votos a 5), que tinham maioria nessa reunião.
Por fim, cabe destacar que o acesso ao teor das propostas da consultoria/Prefeitura para o projeto de
lei só foi conhecido no dia de realização do Fórum do Plano Diretor, tendo em vista que os
processos prévios foram muito frágeis em termos de sistematização e os participantes não tinham
conhecimento do que estava sendo incorporado. Após o Fórum foram programadas 4 (quatro)
audiências públicas sobre habitação, saneamento ambiental, transporte e mobilidade e
desenvolvimento econômico. As audiências – duas delas realizadas no período da manhã tiveram
baixo comparecimento, pouco mais do que era registrado nas reuniões do Núcleo Gestor que tinham
em média o comparecimento de 13 pessoas.
Mobilização dos segmentos e interesses representados
O processo de elaboração do Plano envolveu principalmente as organizações sociais vinculadas à
política urbana e ambiental, como a Associação de Arquitetos e Engenheiros (ADAE), o MUB –
Federação das Associações de Moradores e algumas ONGs ambientalistas. Além desses segmentos,
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destacase a representação da UNIGRANRIO, importante universidade privada de Caxias e o
SINDIPETRO – Sindicato dos Petroleiros.
A metodologia empregada não privilegiou a identificação de conflitos nem a elaboração de
diagnósticos capazes de orientar a aplicação dos instrumentos e estratégias previstas no Estatuto da
Cidade para reverter processos contrários à função social da propriedade e da cidade.
A Associação Industrial e Comercial de Caxias integrava o Núcleo Gestor, mas participou de
poucas reuniões. Seu representante se pronunciou poucas vezes, se manifestando apenas quanto à
defesa do loteamento industrial de Figueira, que, além das zonas industriais, deve possuir áreas
mistas que permitam a presença de habitação.
O movimento popular se fez representar através do MUB – Federação das Associações de
Moradores. O MUB tem forte presença nos Conselhos Municipais e atualmente integra o Conselho
da Cidade. Como não foram realizadas atividades descentralizadas nas regiões e comunidades, o
envolvimento dos membros das associações foi baixo. Os momentos de maior participação das
associações de moradores ocorreram somente no curso de capacitação de multiplicadores, nos dois
Seminários Temáticos e no Fórum do Plano Diretor. Como a capacitação não estava vinculada aos
processos de elaboração do diagnóstico e das propostas, o resultado desse processo foi inócuo em
termos da participação.
O MUB foi o único segmento que formalizou propostas para o Plano Diretor. Como visto, antes de
o processo ter início, apresentou uma proposta de metodologia, que, entretanto, foi rejeitada. No
processo de elaboração, o MUB apresentou propostas por escrito referentes ao capítulo de gestão
democrática e para as políticas de habitação, saneamento ambiental e transporte e mobilidade. Em
relação à gestão democrática, destacamse as propostas relativas a:
(i) criação de Conselho da Cidade deliberativo, incidindo de forma integrada sobre as políticas
fundiária e de habitação, de saneamento ambiental e transporte e mobilidade;
(ii) obrigatoriedade de elaboração de planos setoriais com participação do Conselho; e
(iii) participação da sociedade na aprovação de contratos de concessão de serviços públicos de
saneamento e transporte, através de audiência pública e deliberação do Conselho.
O envolvimento do segmento governamental no processo também foi pequeno. A Secretaria
Municipal de Urbanismo atuou na coordenação do processo, enquanto as secretarias de obras, de
habitação e de serviços públicos tiveram uma participação esporádica nas reuniões do Conselho
Gestor. Registrase, também, a participação pontual das secretarias de desenvolvimento econômico,
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de saúde e de cultura.
Cabe ressaltar que o Secretário de Urbanismo era o presidente do Núcleo Gestor, mas participou de
poucas das suas reuniões5, Na prática, portanto, o governo esteve representado por funcionários de
carreira da Prefeitura.
A Câmara de Vereadores participou do processo através de um vereador, que é membro da
Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara.
Atividades de formação/capacitação
Como já apresentado, o único momento da capacitação propriamente dita foi realizado no curso de
capacitação de multiplicadores realizado ao longo de 1 dia. Podemos também caracterizar como
momentos formativos a realização de palestras no âmbito dos seminários temáticos de habitação,
saneamento, ordenamento urbano e gestão municipal, estruturas econômicas e meio ambiente e
mobilidade e segurança. A maior fragilidade do processo de capacitação está relacionado à sua
desvinculação dos processos de leitura da cidade (indicadores) e à sua desvinculação dos
instrumentos possíveis de serem utilizados no processo de planejamento da cidade a fim reverter
processos de descumprimento da função social da propriedade e da cidade.
O curso de capacitação de multiplicadores proporcionou poucos elementos para aprofundar um
diagnóstico participativo e a realização de propostas, tendo em vista que se estimulava a realização
de reuniões nas comunidades pelos participantes para debater a cidade de forma genérica (a cidade
que temos e a cidade que queremos). Além de não estar prevista a assessoria para estas atividades,
não foram apresentados diagnósticos ou questões para o debate, nem foram abordados os
instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade. A Fundação chegou a produzir o
manual do multiplicador, com a receita de uma boa reunião (“boa conversa”), que incluía o que
fazer na abertura da reunião, a distribuição de tarefas entre os participantes para organizar a reunião,
questões para apresentação de idéias e o que fazer para encerrar a reunião. O passo a passo não
problematiza a existência de visões divergentes e conflitantes e parece indicar que a participação
deve se resumir a um registro das opiniões emitidas.
A Fundação avaliou positivamente a oficina de capacitação de multiplicadores, entretanto, creditou
a ausência de retorno dos participantes ao movimento popular, com o argumento de que estes
solicitaram à assessoria técnica da Fundação para acompanhálos nas comunidades, mas não
tomaram para si a responsabilidade, tal como teria acontecido em outros municípios. Por outro lado,
5 O Secretário participou de apenas 6 (seis) entre 12 reuniões do Núcleo Gestor.
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as lideranças populares que participaram da atividade disseram que esse processo teria que ter a
participação da Prefeitura e da assessoria.
Posições assumidas pelos atores participantes (especialmente em relação ao tema do solo
urbano para habitação)
As questões relativas à política do uso do solo não foram debatidas no Plano Diretor. A delimitação
das zonas não foi apresentada em mapa e os parâmetros de ocupação e uso do solo foram
apresentados na forma de texto no Fórum de encerramento da fase de propostas para o Plano
(depois foram marcadas 4 audiências públicas na Câmara). Em encontro com os pesquisadores, os
representantes do MUB no Núcleo Gestor demonstraram nunca ter visto o mapa de
macrozoneamento que lhes foi mostrado – nem a versão aprovada na lei do Plano Diretor, em 2006,
nem aquela modificada por lei posterior, em 2007, como se verá mais adiante.
Na entrevista com o exSecretário de Urbanismo do Município, o macrozoneamento é relacionado à
estratégia econômica de viabilizar a ocupação industrial e habitacional do novo eixo de
desenvolvimento a ser viabilizado com a construção do Arco Metropolitano, que cortará o
Município.
Em relação às ZEIS, o Plano delimitou de forma preliminar, em mapa, 27 áreas a serem
regulamentadas posteriormente em lei complementar de uso e ocupação do solo. As ZEIS e sua
localização em mapa foram apresentadas em reunião do Conselho Gestor, mas esta questão não foi
objeto de aprofundamento quanto a finalidade do instrumento e quanto aos critérios para sua
delimitação. Houve questionamento quanto à indiferenciação das áreas quanto ao acesso à infra
estrutura, tendo em vista que algumas ZEIS definidas já eram beneficiadas por obras de
urbanização. Entretanto, o debate foi esvaziado pela Prefeitura, que justificou que a definição
daquelas áreas estavam baseadas em estudos preliminares realizados no âmbito do programa HBB –
Habitar Brasil BID, transferindo para a lei de uso do solo a revisão ou a inclusão de novas ZEIS.
Também foi informado que este processo seria subsidiado pelo estudo que estava sendo realizado
pela empresa de consultoria Archi 5 para a delimitação de todas áreas de interesse social. Cabe
destacar que não foram delimitadas ZEIS em áreas vazias, mas estas estão previstas no estudo da
Archi 5 e constam como diretriz da política de habitação. Entretanto, nem a empresa que tinha
ganho a concorrência no início do processo da elaboração do Plano Diretor, nem a Arqui 5 tinham
elaborado o estudo até agosto de 2009 .
De maneira muito pontual, ocorreu um debate a respeito do estabelecimento de loteamento
industrial em Figueira, no qual o representante da Associação Industrial e Comercial de Caxias
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polemizou com representantes do MUB e de ONG ambientalista a respeito da presença de moradia
na região e dos riscos de desvalorização imobiliária, dados os riscos ambientais relacionadas à
presença de indústrias na região de Figueira. A resposta da Prefeitura era de que a zona já tinha
presença de indústrias e que se estimularia a presença de indústrias não poluentes. O representante
da indústria complementou dizendo que esta zona deve possuir áreas mistas que permitam a
presença de habitação.
Em relação aos instrumentos de política fundiária, é possível afirmar que os parâmetros para sua
utilização não foram debatidos, e que estes não estão claramente vinculados à estratégia de garantia
da moradia de interesse social.
Apresentamos, a seguir, algumas considerações sobre o Macrozoneamento e as condições para a
ocupação definidas no Plano Diretor.
• Notas sobre o macrozoneamento e as condições para a ocupação
No título referente ao Macrozoneamento, o Plano Diretor de Caxias divide o Município segundo as
seguintes zonas: Zona de Ocupação Controlada – ZOC, Zona de Ocupação Básica – ZOB, Zona de
Ocupação Preferencial – ZOP, Zona Especial de Interesse Social – ZEIS, Zona Especial de
Interesse Ambiental – ZEIA, Zona Especial de Negócios – ZEN e Áreas de Reserva – AR. Para as
zonas de ocupação de ocupação controlada, básica e preferencial e para as Zonas Especiais de
Negócios são estabelecidos coeficientes de aproveitamento básico e máximo, para fins de
implementação da outorga do direito de construir. Para todas as zonas especiais (ZEIS, ZEIA e
ZEN) são definidas diretrizes de uso e intervenção.
Segundo o Plano, as zonas de ocupação são classificadas segundo seu nível máximo de
adensamento permitido, o que seria definido em função das condições e da disponibilidade de infra
estrutura urbana, capacidade viária e das diretrizes de expansão urbana (art.40). As Zonas de
Ocupação Controlada (ZOC) são definidas como aquelas que apresentam restrição à ocupação mais
intensiva e seus coeficientes de aproveitamento básico e máximo são, respectivamente, 1,0 e 2,4. As
Zonas de Ocupação Básica (ZOB) são definidas como aquelas que apresentam “potencial de
urbanização subaproveitado, com ocupação não consolidada, déficit de infraestrutura, de sistema
viário, de transporte, de comércio e serviços, e onde a ocupação do solo deve ser de intensidade
moderada” e seus coeficientes básico e máximo são definidos como 2,0 e 3,6. Finalmente, as Zonas
de Ocupação Preferencial (ZOP) são definidas como “aquelas de privilegiada centralidade e cuja
intensificação de ocupação é estratégica para a consolidação da cidade compacta e econômica e dos
vetores adequados de expansão urbana”, para as quais são definidas como diretrizes “priorizar e
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estimular a ocupação de grandes vazios e áreas subutilizadas”. São definidos para essas áreas os
coeficientes básico e máximo de, respectivamente, 2,0 e 4,8.
Entre as Zonas Especiais, são definidos coeficientes de aproveitamento básico e máximo apenas
para as Zonas Especiais de Negócios Industriais6, definidas como áreas já consolidadas como pólos
industriais e logísticos ou vazios de localização estratégica, próximas aos pólos existentes, com
potencial para receber novos investimentos. Seus coeficientes de aproveitamento básico e máximo
chegam a, respectivamente, 1,0 e 4,8.
1 (um) ano após a aprovação do Plano Diretor, sem a realização de audiência pública ou de
qualquer processo de participação, consulta ou informação à população, o Prefeito enviou à Câmara
um projeto de lei, imediatamente aprovado, que revia o macrozoneamento, criando uma grande área
definida como Zona de Ocupação Preferencial (ZOP) no distrito de Xerém ao longo e no entorno do
traçado do Arco Metropolitano. Essa área estava antes gravada no Plano Diretor em duas zonas:
uma Zona Especial de Negócios voltada para “incentivar a qualidade de vida e a permanência da
população em área rural” e uma Zona de Ocupação Controlada. Na legislação vigente até 2006, a
maior parte da área abrangida pela nova ZOP estava quase toda incluída na zona rural.
A comparação entre a conceituação das zonas e sua espacialização no território municipal, permite
verificar que as definições do Plano não correspondem à realidade do Município. As Zonas de
Ocupação Preferencial, especialmente, para as quais o Plano dirige o processo de expansão da
ocupação, estão localizadas nas áreas com piores condições de moradia do Município, ocupando
extensas áreas do distrito de Imbariê e Campos Elíseos e, também, Xerém, após a modificação do
macrozoneamento. Imbariê tem os piores indicadores de saneamento básico de Caxias, com apenas
23% dos domicílios ligados à rede de abastecimento de água (Censo 2000) e 30% à rede de esgoto
ou à fossa séptica. Campos Elíseos também tem indicadores precários, com apenas 55% dos
domicílios ligados à rede de água e 27% com esgoto adequado. Visita a campo e entrevistas com
moradores e técnicos municipais confirmaram que essas regiões mantêm, até hoje, 2009, perfil de
precariedade. Já o caso de Xerém parece ser ainda mais distante das definições de ZOP, pois a área
abrangida pela zona compreende área com ocupação rural, sem nenhuma infraestrutura de
saneamento básico ou qualquer serviço público. No caso do 1º Distrito – Centro, a situação é
inversa: com 90% dos domicílios ligados à rede de água, 79% com esgoto adequado, 97% com
coleta de lixo adequado e as melhores condições de transporte público, o 1º Distrito é, em sua maior
6 Há zonas especiais de negócios dos seguintes tipos: Zonas Especiais de Negócios de indústrias e centros
distribuidores, Zonas Especiais de Negócios de interesse turístico e Zonas Especiais de Negócios de interesse rural.
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parte, definido como uma Zona de Ocupação Controlada7.
Ou seja, as ZOPs definidas no Plano não são “aquelas de privilegiada centralidade” nem,
correspondem, muito menos, às áreas estratégicas para a “consolidação da cidade compacta e
econômica”. Ao contrário, com a exceção possível dos lotes lindeiros aos grandes eixos de
transporte, estão entre as áreas mais precárias do Município. Já a ZOC do Centro, ao contrário,
apesar de contar com as melhores condições de moradia, tem os menores coeficientes de
aproveitamento do terreno.
Quanto aos instrumentos de política fundiária, é importante destacar, entre os aspectos já
examinados e detalhados na pesquisa básica, que o Plano Diretor inviabiliza a aplicação do
instrumento de Edificação/Parcelamento/Utilização Compulsórios e IPTU progressivo no tempo ao
estabelecer que estes só podem incidir sobre áreas vazias em lotes enormes, cujo tamanho mínimo
para aplicação dos intrumentos é definido em 700 m2 no caso de ZEIS e chega a 10.000 m2, em
ZOC, e a 50.000 m2 em ZOP. O Plano prevê ainda critérios de isenção do IPTU com opinamento
do Conselho da Cidade sobre o assunto.
Por outro lado, cabe registrar que as orientações para a operação urbana consorciada e para a
cobrança da outorga onerosa do direito de construir foram estabelecidas em desacordo com o
Estatuto da Cidade – o Plano define que o Executivo e não o Legislativo deverá regulamentar os
instrumentos no prazo de 1 (um) ano – e que o Plano permite que os recursos da outorga sejam
reinvestidos na própria área de cobrança, o que contribui para esvaziar o sentido de redistribuição
de renda e de redução das desigualdades que o instrumento poderia ter.
Temas de controvérsias/conflitos
O tema de maior conflito foi o da participação. Esse conflito durou quase todo o processo de
elaboração e foi definido apenas na aprovação da metodologia apresentada pela
consultoria/Prefeitura no final do processo. As principais divergências estão vinculadas à
inexistência de diagnóstico e assessoria técnica adequada e à não previsão de reuniões nos bairros e
regiões da cidade.
Tempo para amadurecer as propostas
Não houve tempo para amadurecer as propostas, tendo em vista que as reuniões do Núcleo Gestor
se limitaram, na maioria das vezes, ao debate sobre o processo de participação e a organização de
7 Para maiores informações sobre as condições de saneamento ambiental em Caxias, consultar o questionário da
pesquisa básica.
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atividades. Como os seminários temáticos não foram organizados para elaborar propostas, o início
desse processo teve início em setembro, com a realização do Fórum do Plano Diretor e das quatro
audiências públicas que antecederam a aprovação do projeto na Câmara. Ou seja, os segmentos
sociais tiveram menos de 1 (um) mês para debater as propostas apresentadas pela
Prefeitura/consultoria.
Como os conflitos/controvérsias foram mediados?
Em relação ao conteúdo do Plano, os poucos conflitos que apareceram foram minimizados e
postergados para o momento da elaboração das leis complementares. A justificativa da exigüidade
de tempo foi o grande argumento para se minimizarem os conflitos. Como já visto, o conflito
quanto à metodologia da participação acompanhou o início do processo e foi até a nona reunião do
Conselho em agosto (o Plano foi aprovado em outubro) com a aprovação da metodologia
apresentada pela Fundação Dom Cintra. O não encaminhamento dessa questão para votação
viabilizou que, na prática, a metodologia fosse implementada. A justificativa do tempo foi utilizada
para não debater o conteúdo da participação. Nem mesmo a metodologia da Dom Cintra foi
defendida, pois esta foi apresentada simplesmente como uma adequação à “realidade dos fatos”,
dado o risco de caracterização de improbidade administrativa face a não aprovação do Plano no
prazo previsto pelo Estatuto da Cidade.
Grau de incorporação das propostas do processo participativo na proposta formulada pelo
poder executivo
Com exceção do MUB, que apresentou propostas sistematizadas para o capítulo de gestão
democrática, habitação, saneamento ambiental e transporte e mobilidade, os demais segmentos
apresentaram propostas pontuais.
Dentre as propostas do MUB que foram incorporadas, destacamse às relativas à criação de
Conselho da Cidade deliberativo, incidindo de forma integrada sobre as políticas fundiária e de
habitação, de saneamento ambiental e transporte e mobilidade. Para as políticas setoriais, foi
estabelecida a obrigatoriedade de elaboração de planos setoriais com participação do Conselho.
Especificamente para a política de saneamento e transporte, o Plano define a necessidade de
participação da sociedade na aprovação de contratos de concessão de serviços públicos, através de
audiência pública e deliberação do Conselho.
Em relação as propostas pontuais, destacamse as relativas à questão ambiental, levantadas por
ONGs ambientalistas, como a que prevê a criação de um Grupo de Trabalho (GT) da Cidade dos
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Meninos, área degradada ambientalmente por pó de broca. O GT tem como atribuição definir
estratégia de uso e de recuperação ambiental da área. Algumas diretrizes pontuais aprovadas nas
Conferências da Cidade também foram incorporadas.
Processo de discussão e aprovação na Câmara de Vereadores
O processo de elaboração do Plano contou apenas com a participação de um vereador. Quando o
projeto chegou à Câmara, foi aprovado sem emendas.
Participação da sociedade no processo de aprovação na Câmara de Vereadores e no
sancionamento do prefeito
Não houve participação da sociedade nesse momento e, no dia da aprovação na Câmara, não houve
acompanhamento da população. A Câmara não apresentou emendas.
Quadro sintético da metodologia (etapas e procedimentos) utilizada no processo de elaboração
e aprovação dos planos diretores
Processo de elaboração e aprovação dos planos diretores: síntese da metodologia
Etapas Procedimentos Mobilização Discussão interna com a Prefeitura; consolidação
dos trabalhos antecedentes ao Plano; formação
do Núcleo Gestor.Estudos preliminares Análise dos trabalhos antecedentes; detalhamento
da metodologia de trabalho do Plano DiretorSeminários Temáticos Produção de relatório crítico de resultados.Estudos intermediários e preparação do Fórum
do Plano Diretor
Discussão com a Prefeitura e com o Núcleo
Gestor.Realização do Fórum do Plano Diretor Consolidação dos resultadosRelatório Final Revisão final do projeto de lei e seminário com
os vereadores.
No processo, a Fundação Dom Cintra incorporou a realização do curso de capacitação de
multiplicadores, que não estava previsto inicialmente.
Todo o processo ocorreu ao longo de pouco mais de seis meses.
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3. Processo de implementação
Entre outubro de 2006 e maio de 2009, praticamente nada foi implementado do Plano Diretor.
Foram previstos quatro grupos de trabalho para tratar de temas prioritários e com prazos definidos
de funcionamento. Três Gts previstos não foram instituídos, como o GT – Bairros (cujo objetivo era
propor abairramento), o GT para delimitar as zonas especial de interesse ambiental e o GT de
resíduos sólidos (seu objetivo era elaborar projeto para instalar a Usina Municipal de Disposição de
Resíduos Sólidos, para implantar coleta seletiva de lixo, incentivar a instalação de pólo de indústrias
de produtos reciclados diversos e avaliar instalação de unidade de produção de biogás no aterro de
Gramacho, quando este estiver desativado). O Grupo de Trabalho da Cidade dos Meninos
recentemente realizou uma reunião, mas ainda não tem a indicação dos conselheiros
governamentais.
O estudo previsto para as zonas especiais de interesse social também não foi concluído.
Também não foi observada qualquer relação entre as determinações do Plano Diretor e as leis
orçamentárias (LDO, LOA e Plano Plurianual).
Apesar do Plano Diretor definir que os coeficientes de aproveitamento básico só podem ser
ultrapassados com o pagamento da outorga onerosa do direito de construir nos casos de ZOC e ZEN
industrial e após a instalação de redes de esgotos, de água e drenagem em ZOB e ZOP, os órgãos
da Prefeitura de Duque de Caxias vem licenciando as novas edificações segundo os coeficientes de
aproveitamento definidos pela legislação anterior ao Plano Diretor, sempre superiores aos
coeficientes básicos definidos e eventualmente superiores mesmo aos máximos definidos, como nos
casos das zonas industrias, zonas de uso misto e determinadas zonas residenciais. Aparentemente, a
Prefeitura entende que, como o Plano estabelece que a outorga do direito de construir depende de
regulamentação do Poder Executivo – o que, aliás, contraria o Estatuto da Cidade , os coeficientes
válidos são os anteriores ao Plano Diretor. O Plano Diretor, contudo, é claro ao definir que os
coeficientes básicos só podem ser superados após a regulamentação da outorga do direito de
construir.
Na verdade, segundo constatado em entrevistas com técnicos da Prefeitura, praticamente nenhuma
diretriz definida no Plano Diretor está sendo obedecida pela administração municipal. Depois de
quase 3 (três) anos da sua aprovação, nenhum instrumento foi regulamentado e a implementação do
Plano parece se resumir à criação do Conselho da Cidade, destacandose que, contudo, apesar de
suas reuniões periódicas, este não tem cumprido com as suas atribuições.
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Sistema de gestão e planejamento
Em relação à gestão democrática, cabe destacar a criação do Conselho da Cidade, em 2007, e seu
funcionamento mensal desde então. A última reunião registrada ocorreu no início de agosto de
2009.
Na composição do Conselho, foi levada em consideração a determinação do sistema nacional de
habitação de interesse social, que preconiza que o segmento movimento popular deve ter pelo
menos 25% da composição total (o Conselho da Cidade de Caxias também tem como atribuição
gerir os recursos do Fundo de Habitação de Interesse Social). No caso de Caxias, esse segmento
alcança 28% do total de membros.
A representação da sociedade é maior do que a do poder público. Dos seis representantes do poder
público, um é da Câmara de Vereadores e metade da representação da sociedade é ocupada pelo
segmento movimento popular.
Composição do Conselho Municipal da Cidade de Duque de Caxias
Segmentos indicados no Plano Diretor Instituições Representantes
5 Representantes da Secretarias de Governo Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo
Secretaria Municipal de Serviços Públicos
Secretaria Municipal de Habitação
Secretaria Municipal de Educação
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
1 Representante da Câmara Municipal 1 vereador
1 Representante das Associações Industriais Associação das Indústrias de Capivari
1 Representante das Universidades Universidade UNIGRANRIO
4 Representantes do Movimento Popular 4 Representantes do MUB – Federação das
Associações de Moradores de Duque de Caxias
1 Representante das Ongs e Movimentos Sociais PROFEC – Programa de Formação e Educação
Comunitária
1. Representante Sindicatos e Associações de
Classe
SINDPETRO – Sindicato dos Petroleiros
Total 14 membros
A participação das mulheres é minoritária no primeiro mandato do Conselho. No período da gestão
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do prefeito Washington Reis, a representação das mulheres se restringia a duas representantes do
movimento popular contra doze homens. Com a indicação de uma mulher para representar a
Secretaria de Educação no Conselho (na gestão do prefeito Zito), se alterou a proporção de gênero
de três mulheres para onze homens.
A duração do mandato dos conselheiros não está estipulada na lei do Plano Diretor (que cria o
Conselho), somente no regimento interno do Conselho, que define um período de 2 anos. A forma
de escolha dos representantes precisa ser melhor definida, tendo em vista que o Plano estabelece
apenas que os representantes serão eleitos de forma democrática, contemplando a participação de
entidades públicas e privadas. A única indicação é para o movimento popular, que deve ser
representado pelas associações de moradores e ter sua eleição organizada pelo MUB.
O primeiro mandato do Conselho teve início em 2007 e se encerra em 2009. O MUB está propondo
que a eleição dos segmentos seja convocada pela Secretaria de Obras e Urbanismo através de edital
público e tenha ampla divulgação.
O Conselho das Cidades possui caráter deliberativo e tem atribuições amplas sobre a política
urbana. De acordo com o Plano, o Conselho:
i) aprecia, acompanha e delibera sobre planos e programas relativos à política de gestão do solo
urbano, de habitação de interesse social, de saneamento ambiental, e de transportes e mobilidade
urbana;
ii) aprova a realização de convênios na área de desenvolvimento urbano a serem firmados com
organismos nacionais e internacionais, públicos e privados;
iii) aprova contratos de concessão dos serviços públicos de coleta de lixo, abastecimento de água,
esgotamento sanitário e de transporte;
iv) define sobre a aplicação dos recursos do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social.
Além disso, o Conselho deve propor ao órgão municipal de urbanismo a edição de normas gerais de
direito urbanístico e manifestarse sobre propostas de alteração da legislação pertinente. Também
deve propor diretrizes e critérios para a distribuição do orçamento municipal anual e do plano
plurianual.
Ao longo da lei do Plano Diretor, são detalhadas várias situações onde o Conselho deve se
manifestar:
i) nas atividades de movimentação de terra para execução de obras públicas e privadas, de aterro,
desaterro, bota fora, quando implicarem em degradação ambiental;
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ii) na instalação de empreendimentos em Zonas especiais de Interesse Ambiental – ZEIAs;
iii) na definição de novos bens imóveis de interesse cultural (junto com o Conselho Municipal de
Cultura);
iv) na alteração de bens preservados, tombados e declarados de interesse cultural (juntamente com o
Conselho Municipal de Cultura);
v) na criação de novas Zonas e Áreas de Diretrizes Especiais e de seus respectivos parâmetros de
uso e ocupação, assim como a alteração dos limites das zonas e áreas especiais existentes;
vi) no licenciamento dos empreendimentos considerados de impacto, que necessitam estudo de
impacto de vizinhança;
vii) na implantação das Operações Urbanas;
viii) nos processos de isenção do IPTU; e
ix) no processo de regulamentação do Plano Diretor e nos casos omissos.
Apesar de ter reuniões mensais periódicas, este não tem cumprido com as suas atribuições. Várias
decisões relativas à política urbana não passaram pela aprovação do Conselho, entre elas:
i) as decisões relativas à gestão e aplicação dos recursos do Fundo Municipal de Habitação de
Interesse Social;
ii) a proposição de diretrizes e critérios para a distribuição do orçamento municipal anual e do plano
plurianual;
iii) a alteração do zoneamento do Plano Diretor, um ano depois de sua aprovação;
iv) as decisões relativas à implementação e ao monitoramento do PAC – Programa de Aceleração
do Crescimento.
Um dos temas centrais do Conselho tem sido o debate sobre o PAC. Entretanto, não se conseguiu
ainda definir a metodologia de monitoramento. Foi realizada uma reunião no dia 27/08/2008, onde
o Secretário de urbanismo, após várias tentativas frustadas do Conselho, disponibilizou as
informações a respeito do PAC de Habitação.
As reuniões tem sido mais um espaço de denúncia da omissão do poder publico municipal do que
um espaço de negociação e implementação pactuada da política urbana. Vários representantes da
sociedade e até mesmo técnicos da Prefeitura fazem críticas ao funcionamento do Conselho, tendo
em vista que este tem baixo envolvimento do poder público. Os representantes do poder público que
são assíduos no Conselho, são técnicos da Prefeitura sem poder de decisão política. Também podem
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ser citadas reclamações sobre a ausência de assessoria técnica.
Sobressaem na pauta do Conselho, os temas relativos à implementação do Plano Diretor no que diz
respeito à instalação dos grupos de trabalho, à alteração do zoneamento da cidade sem consulta ao
Conselho da Cidade e à implementação do PAC sem a garantia da participação e do controle social.
Apesar de previstos no regimento interno do Conselho, os Comitês Técnicos de Habitação, de
Saneamento e de Mobilidade não estão funcionando. Houve uma tentativa de instalação do Comitê
de Mobilidade, onde a sociedade fez as indicações de representação, mas, novamente, os
conselheiros governamentais não foram indicados. O Comitê Técnico de Habitação realizou uma
única reunião no segundo semestre de 2008, onde encaminhou para o Conselho deliberar sobre a
emissão de ofício à Prefeitura para que esta apresente todos os projetos de habitação, todos os
projetos de transferência de famílias e o que está sendo feito em relação ao Plano de Regularização
Fundiária Sustentável.
Por fim, cabe ressaltar que a apropriação do conteúdo do Plano pelos segmentos sociais e pelo
poder público municipal é baixo. Internamente à Prefeitura, a nova legislação não só não foi
implementada, como os técnicos que aplicam as normas urbanísticas aparentemente ainda não
tomaram conhecimento da nova legislação (com poucas exceções). Em relação à sociedade, a
apropriação do Plano está mais relacionada aos mecanismos de gestão e controle social do que a
compreensão dos instrumentos e parâmetros urbanísticos dispostos na lei. Também não foram
previstos nesse período nenhum mecanismo de capacitação dos conselheiros.
Segundo informações das entrevistas realizadas, somente no primeiro semestre de 2009 foi criado
um grupo de trabalho interno ao Departamento de Urbanismo da Secretaria de Obras para conhecer
com maior profundidade o Plano Diretor e identificar prioridades e estratégias para dar início à sua
implementação.
A relação entre o Plano Diretor e os investimentos em Habitação de Interesse Social, como
foco nos investimentos do PAC e no FNHIS
Todos os investimentos aprovados junto ao Conselho Gestor do Fundo Nacional de Habitação de
Interesse Social e junto ao PAC não foram definidos pelo Conselho Municipal da Cidade (apesar
deste Conselho ter como atribuição aprovar os investimentos do FMHIS). Os projetos e as decisões
foram tomadas exclusivamente pelo poder público municipal.
Depois de aprovado, o Conselho da Cidade conseguiu marcar uma reunião com o Secretário de
Urbanismo da gestão anterior, que apresentou os investimentos do PAC Habitação. A maior
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polêmica estava relacionada à definição de prioridades e à necessidade de incluir novas áreas
precárias do Município. Na nova gestão, em 2009, ainda não foi possível estabelecer diálogo com a
Prefeitura em torno do PAC. A Prefeitura, mesmo sendo gerida por outro partido, mantém, até o
momento, a mesma postura diante do Conselho da Cidade: baixo comparecimento nas reuniões e
indicação de representantes sem poder de deliberação. Os investimentos em saneamento não foram
sequer apresentados no Conselho da Cidade.
Questões gerais sobre a avaliação do Plano Diretor
Tendo em vista que todos os segmentos avaliaram que o Plano apresentou problemas devido ao
curto prazo para a sua elaboração, procurouse perceber se este era visto apenas como uma mera
formalidade ou se apresentava avanços a serem considerados. Todas as pessoas contatadas
consideraram que a lei foi importante, mesmo que em vários aspectos não passasse de uma mera
formalidade ou, ainda, que fosse muito genérica.
Para o exSecretário de Urbanismo, sobressaíramse os avanços em termos de adequação do
Município a um novo eixo de desenvolvimento a ser criado com a implantação do Arco
Metropolitano, que fará a ligação entre o Complexo Petroquímico de Itaboraí e o Porto de Itaguaí,
criando ao mesmo tempo um novo eixo de ligação entre os municípios da Baixada Fluminense.
Essa “adequação” se refere à possibilidade de Caxias consolidar sua presença industrial na
metrópole por meio da instituição de novas áreas favoráveis à instalação de indústrias, além da
possibilidade de ocupar áreas vazias fora do Centro, que, na sua opinião, estaria saturado. Na sua
gestão foi realizada a alteração do macrozoneamento do Plano Diretor de área próxima ao traçado
do Arco já comentada. Segundo foi comentado pelos participantes da reunião de apresentação dos
resultados preliminares da pesquisa ao Conselho da Cidade, em 10 de novembro de 2008, o objetivo
da mudança do zoneamento (transformação de parte da ZEN e ZOC em ZOP) foi permitir a
instalação de novas indústrias e habitações em um grande empreendimento denominado Nova
Caxias.
Pela ótica do quadro técnico da Prefeitura, destacase uma avaliação de que o Plano Diretor tem sua
importância, mesmo que não toque nos principais problemas da cidade. O argumento enfatiza que,
ao inscrever as diretrizes do Estatuto da Cidade no Plano, este pode contribuir no condicionamento
da legalização de empreendimentos industriais e imobiliários ao cumprimento de determinadas
exigências sociais e ambientais.
Pelo lado do movimento popular, sobressaemse os avanços na ótica da participação e do controle
social, que ainda precisam ser efetivados, principalmente em relação à criação do Conselho da
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