estudo de caso: plano diretor urbanÍstico do municÍpio de duque de … · 2010-03-15 · o estudo...

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REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS ESTUDO DE CASO: PLANO DIRETOR URBANÍSTICO DO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS ESTADO DO RIO DE JANEIRO Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional - FASE 2009 1

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REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO 

DOS PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS

ESTUDO DE CASO: PLANO DIRETOR URBANÍSTICO DO 

MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional ­ FASE

2009

1

REDE DE AVALIAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DOS PLANOS 

DIRETORES PARTICIPATIVOS

ESTUDO DE CASO: PLANO DIRETOR URBANÍSTICO DO 

MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS, RJ

FICHA TÉCNICA

Nome do pesquisador: Mauro Rego Monteiro Santos e Fabricio Leal de Oliveira. 

Assistente de pesquisa: Camila Saraiva.

E­mail  e   telefone  de contato:  [email protected]     e     [email protected]     –   (21) 

2536­7350.

Município: Duque de Caxias.

Número da lei: Lei Complementar Nº 01 de 31 de outubro de 2006.

Data da aprovação do Plano Diretor: 31 de outubro de 2006.

Estado: Rio de Janeiro

ÍNDICE

1. Metodologia                                                                                                                                    ..............................................................................................................................   3  

2. Processo de elaboração e aprovação                                                                                               .........................................................................................   5  

3. Processo de implementação                                                                                                          ....................................................................................................   17   

2

ESTUDO   DE   CASO:   PLANO   DIRETOR   URBANÍSTICO   DO 

MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS, RJ

O Plano Diretor de Duque de Caxias foi elaborado na gestão do Prefeito Washington Reis (PMDB), 

com assessoria da Fundação Dom Cintra. O processo, iniciado em fevereiro de 2006, culminou com 

a aprovação do projeto de lei pela Câmara Municipal em outubro de 2006. Houve uma iniciativa 

anterior  de elaboração do Plano,  na gestão do Prefeito  Zito  (PSDB), quando foram contratados 

estudos  da  Faculdade  de  Arquitetura  e  Urbanismo da  Universidade  Federal  do  Rio  de  Janeiro 

(FAU/UFRJ), mais tarde parcialmente utilizados na elaboração do Plano Diretor.

1. Metodologia

O estudo de caso tem como objetivo analisar o processo de elaboração e de implementação do 

Plano   Diretor   no   que   diz   respeito   às   diretrizes,   instrumentos   e   estratégias   de   acesso   à   terra 

urbanizada e às políticas urbanas, bem como à implementação da gestão democrática. A principal 

referência para o estudo de caso é o roteiro de questões elaborado pela coordenação executiva do 

projeto   (Ministério   das   Cidades,   Instituto   de   Pesquisa   e   Planejamento   Urbano   e   Regional, 

IPPUR/UFRJ,  Federação  de  Órgãos  para  Assistência  Social   e  Educacional   ­  FASE e   Instituto 

Pólis), que definiu o escopo e as ênfases da pesquisa.  Para a elaboração do estudo foram realizadas 

visitas  de  campo,  debates,   consultas   e   entrevistas   com membros  de  organizações   sociais   e  da 

Prefeitura, e consultadas leis, decretos, diagnósticos e atas de reuniões.

A metodologia  adotada para análise  da elaboração e  implementação do Plano Diretor procurou 

articular as seguintes dimensões: 

i)  sistematização dos diagnósticos existentes sobre o Município (tanto os elaborados por órgãos 

públicos,   como o   IBGE e  as  Universidades,   como os   estudos   realizados  especialmente  para   a 

elaboração do Plano), que pudessem subsidiar a nossa análise dos principais problemas e desafios 

do Município; 

ii)   análise  da  coerência  do  processo  de  elaboração  e   implementação  do  Plano  Diretor   com as 

orientações, diretrizes e objetivos do Estatuto da Cidade; 

iii)  identificação das alterações operadas pelo Plano Diretor nas orientações referentes à política 

fundiária; 

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iv) identificação dos interesses, conflitos e identidades existentes entre os segmentos sociais e entre 

estes e a Prefeitura; v) identificação da percepção dos conselheiros municipais da cidade a respeito 

dos resultados (parciais) do estudo de caso através de reunião com o Conselho da Cidade; e vi) 

identificação do grau de implementação das diretrizes, instrumentos e metas do Plano Diretor.

Foram desenvolvidas as seguintes atividades:

i) Entrevistas1: a) Rodolpho Wanek ­ ex­Secretário Municipal de Urbanismo na gestão do prefeito 

Washington Reis (2005­2008); também presidiu o Núcleo Gestor do Plano Diretor; b) Mauri Vieira 

– arquiteto e urbanista de carreira do Departamento de Urbanismo da Secretaria de Obras,  (presidiu 

metade das reuniões do Núcleo Gestor); c) Izidoro Gerônimo da Rocha – arquiteto concursado; na 

época da elaboração do Plano Diretor estava na Secretaria Municipal de Urbanismo e atualmente 

está lotado na Secretaria Municipal de Transporte; d) Solange Bergami – Coordenadora do MUB – 

Federação das Associações de Moradores; e e) Sidney Crespo Neves ­ Coordenador do MUB – 

Federação das Associações de Moradores (na época pertencia à ONG EXOBRAS).

ii)   Levantamento   de   informações   junto   à   Prefeitura   sobre   o   processo   de   elaboração   e   de 

implementação do Plano Diretores,  atas  das reuniões  do Núcleo Gestor,  materiais  utilizados  na 

oficina de multiplicadores, Plano Diretor anterior e legislação de uso e ocupação do solo atual.

iii)   Levantamento   e   sistematização   de   indicadores   sócio­demográficos   (IBGE,   Fundação   João 

Pinheiro e Observatório das Metrópoles) e de informações a respeito do PAC em Duque de Caxias.

iv) Visita de campo a fim de ter um panorama das condições urbanas de parte da área estipulada 

como Zona de Ocupação Prioritária (Campos Elíseos, Jardim Primavera e Saracuruna);

v) Apresentação e discussão dos resultados preliminares do estudo de caso na reunião do Conselho 

da Cidade do Município de Duque de Caxias em 10 de novembro de 2008;

vi)   Consulta   aos   técnicos   da   Prefeitura   a   respeito   da   aplicação   e   conhecimento   dos   novos 

parâmetros e instrumentos urbanísticos presentes no Plano Diretor.

1As entrevistas foram realizadas em mais de um encontro (com exceção da entrevista com o ex­Secretário Rodolpho 

Wanek). Foi utilizado como referência o roteiro de questões elaborado para os pesquisadores responsáveis pelos estudos 

de caso em âmbito nacional.

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2. Processo de elaboração e aprovação

Com o objetivo de melhor subsidiar a sistematização das informações sobre os planos diretores 

fluminenses no Relatório Estadual da pesquisa, este relatório organiza a avaliação do estudo de caso 

de Caxias segundo os principais tópicos do questionário de referência.

Formatos adotados no processo de participação

O formato de participação adotado consistiu  centralmente  na realização de reuniões  do Núcleo 

Gestor do Plano Diretor. Processos mais amplos de participação ocorreram apenas na realização de 

dois dias de seminários temáticos e do Fórum do Plano Diretor, que teve duração de um dia.

Intensidade e abrangência da participação

A participação   foi   superficial,   envolvendo  principalmente   as  organizações   sociais  vinculadas  à 

política urbana e ambiental e participantes do Núcleo Gestor do Plano. Não foi realizada campanha 

de  mobilização.  Os  momentos  de  maior  mobilização  ocorreram para  divulgar  a   realização  das 

seguintes atividades: dois dias de seminários temáticos, curso de capacitação de multiplicadores e 

realização do Fórum do Plano Diretor, que consolidou o conteúdo do projeto de lei. Cabe ressaltar 

que essas  atividades  contaram com pouco mais  de 60 (sessenta)  participantes.    Outro processo 

ampliado ocorreu com a realização da capacitação de multiplicadores, embora não tenha resultado 

em desdobramento em encontros distritais ou de bairros.

Tempo e metodologia da participação

O tempo da participação foi muito curto – 6 (seis) meses – e se concentrou na realização de 14 

reuniões (12 ordinárias e duas extraordinárias) do Núcleo Gestor , sendo que algumas delas não 

obtiveram quórum.

A metodologia da participação foi objeto de severas críticas por parte da sociedade (principalmente 

do Movimento União de Bairros – MUB) e fator de conflitos que dominou a pauta das reuniões do 

Núcleo Gestor até a nona reunião. Ou seja, a metodologia foi definida quase no final do processo.

Existiam   duas   propostas   metodológicas   com   naturezas   bastante   diferenciadas:   a   da   Prefeitura, 

elaborada com assessoria da Fundação Dom Cintra, e a do MUB.

A proposta do MUB foi protocolada na Prefeitura em abril de 2005 (quase um ano antes de iniciar o 

processo, em fevereiro de 2006), mas não teve resposta da Prefeitura. A metodologia previa amplo 

processo de mobilização através de campanha, reuniões descentralizadas nas regiões da cidade em 

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cada   etapa  prevista   para   a   formulação  do  Plano  –  diagnóstico   técnico   e   comunitário,   fase   de 

propostas  e  capacitação  e  assessoria  para  o  desenvolvimento  das  etapas   ­,   além dos  encontros 

municipais temáticos.  A proposta previa a aprovação da metodologia em audiência pública com 

ampla divulgação, antecedida de encontros com os conselhos municipais, secretarias municipais e 

Câmara de Vereadores.

Na proposta da Prefeitura não estavam previstas reuniões nas regiões – seriam realizados somente 

encontros centralizados – nem a realização da leitura comunitária da cidade. O envolvimento mais 

amplo das comunidades se faria através da capacitação de multiplicadores (lideranças e membros 

organizados na comunidade) – que, ao fim, só teve um dia de duração – e não estavam previstos 

processo  de   acompanhamento   dos  participantes,   nem   espaços   onde   as   comunidades  pudessem 

expressar suas demandas. Estavam previstos, também, quatro seminários temáticos (em dois dias), 

reuniões do Núcleo Gestor e a realização de um Fórum Municipal para consolidar o projeto de lei.

A   proposta   da   Prefeitura   foi   se   estabelecendo   na   prática,   tendo   em   vista   que   foram   sendo 

desenvolvidas as atividades programadas sem que o Núcleo Gestor conseguisse deliberar sobre a 

questão. Parte das razões para a não aprovação da proposta diz respeito a ausência de quórum em 

várias   reuniões   programadas,   provocadas   principalmente   pelas   ausências   do   segmento 

governamental. O Núcleo Gestor acabou tomando decisões de implementação de algumas ações, 

como a mobilização e a realização do curso de capacitação e dos seminários temáticos.

• O debate nas reuniões do Núcleo Gestor

As reuniões do Núcleo Gestor foram permeadas por diversas críticas ao processo de participação 

que destacavam: i) a ausência de mecanismos de participação descentralizada, de âmbito regional; 

ii) a ausência de assessoria técnica para a realização da leitura comunitária e para a elaboração de 

propostas;   iii)  a falta  de empenho da Prefeitura no processo de mobilização da sociedade e na 

participação  das   reuniões  do  Núcleo  Gestor  e;   iv)  a   ausência  de  acesso  às   informações   e  aos 

diagnósticos elaborados que pudessem subsidiar a fase de propostas.

O curto  prazo para  o  envio da proposta  à  Câmara – 6 meses  –   foi   fortemente  utilizado como 

argumento   de   defesa   da   metodologia   da   Prefeitura.   Assim,   desde   o   início,   as   reuniões 

descentralizadas   foram apresentadas  como  inviáveis,   tendo  em vista  o   curto   tempo  para  a   sua 

realização. O que garantiria o caráter participativo seria, segundo esse argumento, a capacitação dos 

multiplicadores juntamente com os seminários temáticos e o Fórum do Plano Diretor. Um técnico 

da Fundação explicitou que no plano de trabalho da Fundação junto à Prefeitura não constava o 

acompanhamento de reuniões comunitárias ou distritais: 

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“... a Fundação Dom Cintra está dando suporte técnico aos representantes das comunidades com a  

realização da capacitação de multiplicadores,  para que estes reproduzam as  informações que a  

assessoria técnica está transmitindo, explicando que a consultoria foi contratada para realizar a  

parte técnica e a capacitação de multiplicadores, oficinas, seminários e fórum”2. 

Foi   enfatizado   também   que   a   referida   contratação   foi   feita   considerando­se   o   prazo   existente 

fornecido pelo governo. 

Em outra reunião, o mesmo técnico diz que 

“a   Fundação   não   está   elaborando   nada   (novo).   Ela   está   costurando   estudos   anteriores   das  

Conferências das Cidades, de estudos de planos diretores da UFRJ e está tudo sendo montado para 

ser apresentado à equipe técnica e era para ser mostrado na reunião do Núcleo Gestor, para ver se  

o   caminho   é   esse”   [...].   “O   que   estamos   fazendo   realmente   é   costurando   as   demandas   da  

comunidade.   O   melhor   realmente   a   fazer,   são   as   reuniões   nas   comunidades   como   vocês   já  

propuseram” 3

Entretanto, o técnico disse que teria que consultar seus superiores da Fundação para saber se esta 

poderia prestar assessoria técnica nessas reuniões. Na mesma reunião, o Secretário de Urbanismo 

afirmou que estaria assegurada a participação da Fundação nas reuniões comunitárias.

Cabe ressaltar  que esse “recuo” da Prefeitura  quanto à   inclusão das  reuniões  nas  comunidades 

ocorreu num contexto de muita pressão. A crescente insatisfação dos representantes da sociedade no 

Núcleo  Gestor  quanto  à  metodologia   considerada  pouco  participativa  e  quanto  à   ausência  dos 

representantes   governamentais,   bem   como   do   Secretário   de   Urbanismo   (presidente   do   Núcleo 

Gestor), chegou ao ápice na sétima reunião ordinária, onde foi deliberado que o Núcleo deveria 

apresentar um relatório ao Secretário de Urbanismo com todos os pontos de insatisfação com o 

processo que incluíam, dentre outras, as seguintes reivindicações: 

“substituição  dos   representantes  membros  das  Secretarias  Municipais   e  dos  demais   segmentos  

sociais que não tem comparecido regularmente as reuniões do Núcleo, contribuindo assim para que  

o quorum não seja alcançado; que as reuniões comunitárias propostas pela empresa de assessoria  

técnica se adeqüem à proposta formulada pelos segmentos sociais participantes, ou seja, reuniões  

comunitárias regionais organizada com toda a estrutura necessária, com a logística disponibilizada  

pela Prefeitura e a assessoria técnica contratada” 4. 

2 Ata da Sexta Reunião do Núcleo Gestor do dia 26/05/2006.

3 Ata da Oitava Reunião do Núcleo Gestor do dia 24/07/2006.

4 Ata da Sétima Reunião do Núcleo Gestor do dia 10/07/2006.

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Neste mesmo documento, o Núcleo Gestor critica a assessoria técnica ao expressar que esta “não 

está contemplando as proposições encaminhadas pelos segmentos sociais participantes”.

A Prefeitura respondeu positivamente às reivindicações. O Secretário passou a estar presente nas 

reuniões,   foi   realizada   a   substituição   dos   membros   faltosos   e   houve   concordância   quanto   à 

realização de reuniões distritais  com a presença da assessoria   técnica.  Entretanto,  na prática  as 

reuniões não ocorreram, devido à proximidade do prazo para o envio do projeto de lei à Câmara.

Parte do movimento social ainda tentou ampliar o prazo para a elaboração do Plano, tendo em vista 

que   no   prazo   estipulado   seria   impossível   realizar   as   reuniões   comunitárias.   Na   nona   reunião, 

realizada no dia 14/08, finalmente se delibera sobre a metodologia para formulação do Plano.

O   MUB   apresenta   a   proposta   de   seguir   integralmente   as   etapas   previstas   pela   metodologia 

apresentada pelo movimento em 2005, mesmo que isso representasse ir além do prazo estipulado 

pelo Estatuto da Cidade.

Na   defesa   da   proposta   da   Fundação,   foi   destacado   que   aquela   não   era   uma   metodologia   da 

Fundação, mas uma metodologia criada em acordo com a Prefeitura para que se cumprisse o prazo 

para a elaboração do Plano. O Secretário de Urbanismo tentou articular as duas metodologias ao 

propor a inserção das reuniões com as associações na metodologia da Fundação. O MUB responde 

que a diferença não é só a realização de reuniões comunitárias, mas o cumprimento de sete etapas, 

mas não consegue sucesso.  A proposta  de prorrogação do processo de elaboração até  2007 foi 

derrotada pelos membros governamentais (7 votos a 5), que tinham maioria nessa reunião.

Por fim, cabe destacar que o acesso ao teor das propostas da consultoria/Prefeitura para o projeto de 

lei   só   foi  conhecido  no  dia  de   realização  do  Fórum do  Plano  Diretor,   tendo  em vista  que  os 

processos prévios foram muito frágeis em termos de sistematização e os participantes não tinham 

conhecimento  do  que  estava  sendo  incorporado.  Após  o  Fórum foram programadas  4   (quatro) 

audiências   públicas   sobre   habitação,   saneamento   ambiental,   transporte   e   mobilidade   e 

desenvolvimento econômico. As audiências – duas delas realizadas no período da manhã ­ tiveram 

baixo comparecimento, pouco mais do que era registrado nas reuniões do Núcleo Gestor que tinham 

em média o comparecimento de 13 pessoas.

Mobilização dos segmentos e interesses representados

O processo de elaboração do Plano envolveu principalmente as organizações sociais vinculadas à 

política urbana e ambiental, como a Associação de Arquitetos e Engenheiros (ADAE), o MUB – 

Federação das Associações de Moradores e algumas ONGs ambientalistas. Além desses segmentos, 

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destaca­se   a   representação  da  UNIGRANRIO,   importante   universidade  privada  de  Caxias   e   o 

SINDIPETRO – Sindicato dos Petroleiros.

A   metodologia   empregada   não   privilegiou   a   identificação   de   conflitos   nem   a   elaboração   de 

diagnósticos capazes de orientar a aplicação dos instrumentos e estratégias previstas no Estatuto da 

Cidade para reverter processos contrários à função social da propriedade e da cidade.

A Associação   Industrial   e  Comercial  de  Caxias   integrava  o  Núcleo  Gestor,  mas  participou  de 

poucas reuniões. Seu representante se pronunciou poucas vezes, se manifestando apenas quanto à 

defesa do loteamento industrial  de Figueira, que, além das zonas industriais, deve possuir áreas 

mistas que permitam a presença de habitação.

O   movimento   popular   se   fez   representar   através   do   MUB   –   Federação   das   Associações   de 

Moradores. O MUB tem forte presença nos Conselhos Municipais e atualmente integra o Conselho 

da Cidade. Como não foram realizadas atividades descentralizadas nas regiões e comunidades, o 

envolvimento dos membros das associações  foi baixo.  Os momentos  de maior  participação das 

associações de moradores ocorreram somente no curso de capacitação de multiplicadores, nos dois 

Seminários Temáticos e no Fórum do Plano Diretor. Como a capacitação não estava vinculada aos 

processos de elaboração do diagnóstico e das propostas, o resultado desse processo foi inócuo em 

termos da participação.

O MUB foi o único segmento que formalizou propostas para o Plano Diretor. Como visto, antes de 

o processo ter início, apresentou uma proposta de metodologia, que, entretanto, foi rejeitada. No 

processo de elaboração, o MUB apresentou propostas por escrito referentes ao capítulo de gestão 

democrática e para as políticas de habitação, saneamento ambiental e transporte e mobilidade. Em 

relação à gestão democrática, destacam­se as propostas relativas a: 

(i)  criação de Conselho da Cidade deliberativo,   incidindo de forma integrada sobre as políticas 

fundiária e de habitação, de saneamento ambiental e transporte e mobilidade; 

(ii) obrigatoriedade de elaboração de planos setoriais com participação do Conselho; e 

(iii)  participação da sociedade na aprovação de contratos  de concessão de serviços públicos  de 

saneamento e transporte, através de audiência pública e deliberação do Conselho.

O   envolvimento   do   segmento   governamental   no   processo   também   foi   pequeno.   A   Secretaria 

Municipal de Urbanismo atuou na coordenação do processo, enquanto as secretarias de obras, de 

habitação e de serviços públicos tiveram uma participação esporádica nas reuniões do Conselho 

Gestor. Registra­se, também, a participação pontual das secretarias de desenvolvimento econômico, 

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de saúde e de cultura.

Cabe ressaltar que o Secretário de Urbanismo era o presidente do Núcleo Gestor, mas participou de 

poucas das suas reuniões5, Na prática, portanto, o governo esteve representado por funcionários de 

carreira da Prefeitura.

A   Câmara   de   Vereadores   participou   do   processo   através   de   um   vereador,   que   é   membro   da 

Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara.

Atividades de formação/capacitação

Como já apresentado, o único momento da capacitação propriamente dita foi realizado no curso de 

capacitação de multiplicadores realizado ao longo de 1 dia. Podemos também caracterizar como 

momentos formativos a realização de palestras no âmbito dos seminários temáticos de habitação, 

saneamento,  ordenamento urbano e gestão municipal,  estruturas econômicas  e meio ambiente  e 

mobilidade e segurança.  A maior fragilidade do processo de capacitação está   relacionado à  sua 

desvinculação   dos   processos   de   leitura   da   cidade   (indicadores)   e   à   sua   desvinculação   dos 

instrumentos possíveis de serem utilizados no processo de planejamento da cidade a fim reverter 

processos de descumprimento da função social da propriedade e da cidade.

O curso de capacitação de multiplicadores  proporcionou poucos elementos  para aprofundar um 

diagnóstico participativo e a realização de propostas, tendo em vista que se estimulava a realização 

de reuniões nas comunidades pelos participantes para debater a cidade de forma genérica (a cidade 

que temos e a cidade que queremos). Além de não estar prevista a assessoria para estas atividades, 

não   foram   apresentados   diagnósticos   ou   questões   para   o   debate,   nem   foram   abordados   os 

instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade. A Fundação chegou a produzir o 

manual do multiplicador, com a receita de uma boa reunião (“boa conversa”), que incluía o que 

fazer na abertura da reunião, a distribuição de tarefas entre os participantes para organizar a reunião, 

questões para apresentação de idéias e o que fazer para encerrar a reunião. O passo a passo não 

problematiza a existência de visões divergentes e conflitantes e parece indicar que a participação 

deve se resumir a um registro das opiniões emitidas. 

A Fundação avaliou positivamente a oficina de capacitação de multiplicadores, entretanto, creditou 

a  ausência  de retorno dos  participantes  ao movimento  popular,  com o argumento  de que  estes 

solicitaram   à   assessoria   técnica   da   Fundação   para   acompanhá­los   nas   comunidades,   mas   não 

tomaram para si a responsabilidade, tal como teria acontecido em outros municípios. Por outro lado, 

5 O Secretário participou de apenas 6 (seis) entre 12 reuniões do Núcleo Gestor.

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as lideranças populares que participaram da atividade disseram que esse processo teria que ter a 

participação da Prefeitura e da assessoria.

Posições  assumidas  pelos  atores  participantes   (especialmente  em relação  ao   tema do   solo 

urbano para habitação)

As questões relativas à política do uso do solo não foram debatidas no Plano Diretor. A delimitação 

das   zonas   não   foi   apresentada   em   mapa   e   os   parâmetros   de   ocupação   e   uso   do   solo   foram 

apresentados  na  forma de   texto  no Fórum de encerramento  da fase  de propostas  para  o  Plano 

(depois foram marcadas 4 audiências públicas na Câmara). Em encontro com os pesquisadores, os 

representantes   do   MUB   no   Núcleo   Gestor   demonstraram   nunca   ter   visto   o   mapa   de 

macrozoneamento que lhes foi mostrado – nem a versão aprovada na lei do Plano Diretor, em 2006, 

nem aquela modificada por lei posterior, em 2007, como se verá mais adiante.

Na entrevista com o ex­Secretário de Urbanismo do Município, o macrozoneamento é relacionado à 

estratégia   econômica   de   viabilizar   a   ocupação   industrial   e   habitacional   do   novo   eixo   de 

desenvolvimento   a   ser   viabilizado   com   a   construção   do   Arco   Metropolitano,   que   cortará   o 

Município.

Em   relação   às   ZEIS,   o   Plano   delimitou   de   forma   preliminar,   em   mapa,   27   áreas   a   serem 

regulamentadas posteriormente em lei complementar de uso e ocupação do solo. As ZEIS  e sua 

localização em mapa foram apresentadas em reunião do Conselho Gestor, mas esta questão não foi 

objeto  de  aprofundamento  quanto  a   finalidade  do   instrumento   e   quanto   aos   critérios   para   sua 

delimitação. Houve questionamento quanto à indiferenciação das áreas quanto ao acesso à infra­

estrutura,   tendo   em   vista   que   algumas   ZEIS   definidas   já   eram   beneficiadas   por   obras   de 

urbanização.  Entretanto,  o  debate   foi   esvaziado  pela  Prefeitura,  que   justificou  que  a  definição 

daquelas áreas estavam baseadas em estudos preliminares realizados no âmbito do programa HBB – 

Habitar Brasil BID, transferindo para a lei de uso do solo a revisão ou a inclusão de novas ZEIS. 

Também foi informado que este processo seria subsidiado pelo estudo que estava sendo realizado 

pela empresa de consultoria Archi 5 para a delimitação de todas áreas de interesse social.   Cabe 

destacar que não foram delimitadas ZEIS em áreas vazias, mas estas estão previstas no estudo da 

Archi 5 e constam como diretriz da política de habitação. Entretanto,  nem a empresa que tinha 

ganho a concorrência no início do processo da elaboração do Plano Diretor, nem a Arqui 5 tinham 

elaborado o estudo até agosto de 2009 .

De   maneira   muito   pontual,   ocorreu   um   debate   a   respeito   do   estabelecimento   de   loteamento 

industrial  em Figueira,  no qual o representante da Associação Industrial  e Comercial  de Caxias 

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polemizou com representantes do MUB e de ONG ambientalista a respeito da presença de moradia 

na região e dos riscos de desvalorização  imobiliária,  dados os riscos ambientais  relacionadas  à 

presença de indústrias na região de Figueira. A resposta da Prefeitura era de que a zona já tinha 

presença de indústrias e que se estimularia a presença de indústrias não poluentes. O representante 

da   indústria   complementou   dizendo  que   esta   zona   deve  possuir   áreas  mistas   que  permitam   a 

presença de habitação.

Em relação aos instrumentos de política fundiária, é possível afirmar que os parâmetros para sua 

utilização não foram debatidos, e que estes não estão claramente vinculados à estratégia de garantia 

da moradia de interesse social.

Apresentamos, a seguir, algumas considerações sobre o Macrozoneamento e as condições para a 

ocupação definidas no Plano Diretor.

• Notas sobre o macrozoneamento e as condições para a ocupação 

No título referente ao Macrozoneamento, o Plano Diretor de Caxias divide o Município segundo as 

seguintes zonas: Zona de Ocupação Controlada – ZOC, Zona de Ocupação Básica – ZOB, Zona de 

Ocupação   Preferencial   –   ZOP,   Zona   Especial   de   Interesse   Social   –   ZEIS,   Zona   Especial   de 

Interesse Ambiental – ZEIA, Zona Especial de Negócios – ZEN e Áreas de Reserva – AR. Para as 

zonas de ocupação de ocupação controlada,  básica e preferencial  e  para as Zonas Especiais  de 

Negócios   são   estabelecidos   coeficientes   de   aproveitamento   básico   e   máximo,   para   fins   de 

implementação da outorga do direito de construir.  Para todas as zonas especiais (ZEIS, ZEIA e 

ZEN) são definidas diretrizes de uso e intervenção.

Segundo   o   Plano,   as   zonas   de   ocupação   são   classificadas   segundo   seu   nível   máximo   de 

adensamento permitido, o que seria definido em função das condições e da disponibilidade de infra­

estrutura   urbana,   capacidade  viária   e  das   diretrizes   de  expansão  urbana   (art.40).  As  Zonas  de 

Ocupação Controlada (ZOC) são definidas como aquelas que apresentam restrição à ocupação mais 

intensiva e seus coeficientes de aproveitamento básico e máximo são, respectivamente, 1,0 e 2,4. As 

Zonas   de   Ocupação   Básica   (ZOB)   são   definidas   como   aquelas   que   apresentam   “potencial   de 

urbanização sub­aproveitado, com ocupação não consolidada, déficit de infra­estrutura, de sistema 

viário, de transporte, de comércio e serviços, e onde a ocupação do solo deve ser de intensidade 

moderada” e seus coeficientes básico e máximo são definidos como 2,0 e 3,6. Finalmente, as Zonas 

de Ocupação Preferencial (ZOP) são definidas como “aquelas de privilegiada centralidade e cuja 

intensificação de ocupação é estratégica para a consolidação da cidade compacta e econômica e dos 

vetores adequados de expansão urbana”, para as quais são definidas como diretrizes “priorizar e 

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estimular a ocupação de grandes vazios e áreas subutilizadas”. São definidos para essas áreas os 

coeficientes básico e máximo de, respectivamente, 2,0 e 4,8.

Entre as Zonas Especiais, são definidos coeficientes de aproveitamento básico e máximo apenas 

para as Zonas Especiais de Negócios Industriais6, definidas como áreas já consolidadas como pólos 

industriais  e logísticos ou vazios de localização estratégica,  próximas aos pólos existentes,  com 

potencial para receber novos investimentos. Seus coeficientes de aproveitamento básico e máximo 

chegam a, respectivamente, 1,0 e 4,8.

1   (um)  ano após   a   aprovação  do  Plano Diretor,   sem a   realização  de  audiência  pública  ou  de 

qualquer processo de participação, consulta ou informação à população, o Prefeito enviou à Câmara 

um projeto de lei, imediatamente aprovado, que revia o macrozoneamento, criando uma grande área 

definida como Zona de Ocupação Preferencial (ZOP) no distrito de Xerém ao longo e no entorno do 

traçado do Arco Metropolitano. Essa área estava antes gravada no Plano Diretor em duas zonas: 

uma Zona Especial de Negócios voltada para “incentivar a qualidade de vida e a permanência da 

população em área rural” e uma Zona de Ocupação Controlada. Na legislação vigente até 2006, a 

maior parte da área abrangida pela nova ZOP estava quase toda incluída na zona rural.

A comparação entre a conceituação das zonas e sua espacialização no território municipal, permite 

verificar  que as definições do Plano não correspondem à   realidade do Município.  As Zonas de 

Ocupação Preferencial,  especialmente,  para as quais  o Plano dirige  o processo de expansão da 

ocupação, estão localizadas nas áreas com piores condições de moradia do Município, ocupando 

extensas áreas do distrito de Imbariê e Campos Elíseos e, também, Xerém, após a modificação do 

macrozoneamento. Imbariê tem os piores indicadores de saneamento básico de Caxias, com apenas 

23% dos domicílios ligados à rede de abastecimento de água (Censo 2000) e 30% à rede de esgoto 

ou  à   fossa  séptica.    Campos  Elíseos   também tem  indicadores  precários,  com apenas  55% dos 

domicílios ligados à rede de água e 27% com esgoto adequado. Visita a campo e entrevistas com 

moradores e técnicos municipais confirmaram que essas regiões mantêm, até hoje, 2009, perfil de 

precariedade. Já o caso de Xerém parece ser ainda mais distante das definições de ZOP, pois a área 

abrangida   pela   zona   compreende   área   com   ocupação   rural,   sem   nenhuma   infra­estrutura   de 

saneamento  básico ou qualquer  serviço público.  No caso do 1º  Distrito  –  Centro,  a  situação é 

inversa: com 90% dos domicílios ligados à rede de água, 79% com esgoto adequado, 97% com 

coleta de lixo adequado e as melhores condições de transporte público, o 1º Distrito é, em sua maior 

6  Há   zonas   especiais   de   negócios   dos   seguintes   tipos:   Zonas   Especiais   de   Negócios   de   indústrias   e   centros 

distribuidores, Zonas Especiais de Negócios de interesse turístico e Zonas Especiais de Negócios de interesse rural.

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parte, definido como uma Zona de Ocupação Controlada7.

Ou   seja,   as   ZOPs   definidas   no   Plano   não   são   “aquelas   de   privilegiada   centralidade”   nem, 

correspondem,  muito  menos,  às  áreas   estratégicas  para   a   “consolidação  da  cidade  compacta   e 

econômica”.   Ao   contrário,   com   a   exceção   possível   dos   lotes   lindeiros   aos   grandes   eixos   de 

transporte, estão entre as áreas mais precárias do Município. Já a ZOC do Centro, ao contrário, 

apesar   de   contar   com   as   melhores   condições   de   moradia,   tem   os   menores   coeficientes   de 

aproveitamento do terreno.

Quanto   aos   instrumentos   de   política   fundiária,   é   importante   destacar,   entre   os   aspectos   já 

examinados   e   detalhados   na   pesquisa   básica,   que   o   Plano   Diretor   inviabiliza   a   aplicação   do 

instrumento de Edificação/Parcelamento/Utilização Compulsórios e IPTU progressivo no tempo ao 

estabelecer que estes só podem incidir sobre áreas vazias em lotes enormes, cujo tamanho mínimo 

para aplicação dos intrumentos é definido em 700 m2 no caso de ZEIS e chega a  10.000 m2, em 

ZOC, e a 50.000 m2 em ZOP. O Plano prevê ainda critérios de isenção do IPTU com opinamento 

do Conselho da Cidade sobre o assunto.

Por  outro  lado,  cabe   registrar  que as  orientações  para  a  operação urbana consorciada  e  para a 

cobrança  da  outorga  onerosa  do  direito  de  construir   foram estabelecidas   em desacordo  com o 

Estatuto da Cidade – o Plano define que o Executivo e não o Legislativo deverá regulamentar os 

instrumentos no prazo de 1 (um) ano – e que o Plano permite que os recursos da outorga sejam 

reinvestidos na própria área de cobrança, o que contribui para esvaziar o sentido de redistribuição 

de renda e de redução das desigualdades que o instrumento poderia ter. 

Temas de controvérsias/conflitos

O tema de maior  conflito   foi  o da participação.  Esse conflito  durou quase  todo o processo de 

elaboração   e   foi   definido   apenas   na   aprovação   da   metodologia   apresentada   pela 

consultoria/Prefeitura   no   final   do   processo.   As   principais   divergências   estão   vinculadas   à 

inexistência de diagnóstico e assessoria técnica adequada e à não previsão de reuniões nos bairros e 

regiões da cidade.

Tempo para amadurecer as propostas

Não houve tempo para amadurecer as propostas, tendo em vista que as reuniões do Núcleo Gestor 

se limitaram, na maioria das vezes, ao debate sobre o processo de participação e a organização de 

7  Para  maiores   informações   sobre  as  condições  de   saneamento  ambiental   em Caxias,   consultar  o  questionário  da 

pesquisa básica.

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atividades. Como os seminários temáticos não foram organizados para elaborar propostas, o início 

desse processo teve início em setembro, com a realização do Fórum do Plano Diretor e das quatro 

audiências públicas que antecederam a aprovação do projeto na Câmara. Ou seja, os segmentos 

sociais   tiveram   menos   de   1   (um)   mês   para   debater   as   propostas   apresentadas   pela 

Prefeitura/consultoria.

Como os conflitos/controvérsias foram mediados?

Em  relação   ao   conteúdo  do  Plano,   os   poucos   conflitos   que   apareceram   foram minimizados   e 

postergados para o momento da elaboração das leis complementares. A justificativa da exigüidade 

de tempo foi  o grande argumento para se minimizarem os conflitos.  Como já  visto,  o conflito 

quanto à metodologia da participação acompanhou o início do processo e foi até a nona reunião do 

Conselho   em   agosto   (o   Plano   foi   aprovado   em   outubro)   com   a   aprovação   da   metodologia 

apresentada   pela   Fundação   Dom   Cintra.   O   não   encaminhamento   dessa   questão   para   votação 

viabilizou que, na prática, a metodologia fosse implementada. A justificativa do tempo foi utilizada 

para   não  debater   o   conteúdo  da  participação.  Nem mesmo  a  metodologia   da  Dom Cintra   foi 

defendida, pois esta foi apresentada simplesmente como uma adequação à “realidade dos fatos”, 

dado o risco de caracterização de improbidade administrativa face a não aprovação do Plano no 

prazo previsto pelo Estatuto da Cidade.

Grau de incorporação das propostas do processo participativo na proposta formulada pelo 

poder executivo

Com   exceção   do   MUB,   que   apresentou   propostas   sistematizadas   para   o   capítulo   de   gestão 

democrática,  habitação,   saneamento  ambiental  e   transporte  e  mobilidade,  os  demais   segmentos 

apresentaram propostas pontuais.

Dentre   as   propostas   do   MUB   que   foram   incorporadas,  destacam­se   às   relativas   à   criação   de 

Conselho da Cidade deliberativo,  incidindo de forma integrada sobre as políticas fundiária e de 

habitação,   de   saneamento   ambiental   e   transporte   e   mobilidade.   Para   as   políticas   setoriais,   foi 

estabelecida  a obrigatoriedade de elaboração de planos setoriais  com participação do Conselho. 

Especificamente   para   a   política   de   saneamento   e   transporte,  o   Plano   define   a   necessidade  de 

participação da sociedade na aprovação de contratos de concessão de serviços públicos, através de 

audiência pública e deliberação do Conselho.

Em relação as propostas pontuais,  destacam­se as relativas  à  questão ambiental,   levantadas  por 

ONGs ambientalistas, como a que prevê a criação de um Grupo de Trabalho (GT) da Cidade dos 

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Meninos,  área  degradada ambientalmente  por  pó  de  broca.  O GT  tem como atribuição  definir 

estratégia de uso e de recuperação ambiental da área. Algumas diretrizes pontuais aprovadas nas 

Conferências da Cidade também foram incorporadas.

Processo de discussão e aprovação na Câmara de Vereadores

O processo de elaboração do Plano contou apenas com a participação de um vereador. Quando o 

projeto chegou à Câmara, foi aprovado sem emendas.

Participação   da   sociedade   no   processo   de   aprovação   na   Câmara   de   Vereadores   e   no 

sancionamento do prefeito

Não houve participação da sociedade nesse momento e, no dia da aprovação na Câmara, não houve 

acompanhamento da população. A Câmara não apresentou emendas.

Quadro sintético da metodologia (etapas e procedimentos) utilizada no processo de elaboração 

e aprovação dos planos diretores

Processo de elaboração e aprovação dos planos diretores: síntese da metodologia

Etapas Procedimentos Mobilização Discussão interna com a Prefeitura; consolidação 

dos   trabalhos   antecedentes   ao  Plano;   formação 

do Núcleo Gestor.Estudos preliminares Análise dos trabalhos antecedentes; detalhamento 

da metodologia de trabalho do Plano DiretorSeminários Temáticos Produção de relatório crítico de resultados.Estudos intermediários e preparação do Fórum 

do Plano Diretor

Discussão   com   a   Prefeitura   e   com   o   Núcleo 

Gestor.Realização do Fórum do Plano Diretor Consolidação dos resultadosRelatório Final Revisão final do projeto de lei e seminário com 

os vereadores.

No   processo,   a   Fundação   Dom   Cintra   incorporou   a   realização   do   curso   de   capacitação   de 

multiplicadores, que não estava previsto inicialmente.

Todo o processo ocorreu ao longo de pouco mais de seis meses.

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3. Processo de implementação

Entre outubro de 2006 e maio de 2009, praticamente nada foi implementado do Plano Diretor. 

Foram previstos quatro grupos de trabalho para tratar de temas prioritários e com prazos definidos 

de funcionamento. Três Gts previstos não foram instituídos, como o GT – Bairros (cujo objetivo era 

propor abairramento),  o GT para delimitar  as zonas especial  de interesse ambiental  e  o GT de 

resíduos sólidos (seu objetivo era elaborar projeto para instalar a Usina Municipal de Disposição de 

Resíduos Sólidos, para implantar coleta seletiva de lixo, incentivar a instalação de pólo de indústrias 

de produtos reciclados diversos e avaliar instalação de unidade de produção de biogás no aterro de 

Gramacho,   quando   este   estiver   desativado).   O   Grupo   de   Trabalho   da   Cidade   dos   Meninos 

recentemente   realizou   uma   reunião,   mas   ainda   não   tem   a   indicação   dos   conselheiros 

governamentais. 

O estudo previsto para as zonas especiais de interesse social também não foi concluído.

Também não foi observada qualquer  relação entre  as determinações  do Plano Diretor  e as  leis 

orçamentárias (LDO, LOA e Plano Plurianual).

Apesar   do   Plano   Diretor   definir   que   os   coeficientes   de   aproveitamento   básico   só   podem   ser 

ultrapassados com o pagamento da outorga onerosa do direito de construir nos casos de ZOC e ZEN 

industrial e após a instalação de redes  de esgotos, de água e drenagem em ZOB e ZOP, os órgãos 

da Prefeitura de Duque de Caxias vem licenciando as novas edificações segundo os coeficientes de 

aproveitamento   definidos   pela   legislação   anterior   ao   Plano   Diretor,   sempre   superiores   aos 

coeficientes básicos definidos e eventualmente superiores mesmo aos máximos definidos, como nos 

casos das zonas industrias, zonas de uso misto e determinadas zonas residenciais. Aparentemente, a 

Prefeitura entende que, como o Plano estabelece que a outorga do direito de construir depende de 

regulamentação do Poder Executivo – o que, aliás, contraria o Estatuto da Cidade ­, os coeficientes 

válidos são os anteriores ao Plano Diretor.  O Plano Diretor,  contudo, é  claro ao definir  que os 

coeficientes   básicos   só   podem   ser   superados   após   a   regulamentação  da  outorga  do  direito   de 

construir.

Na verdade, segundo constatado em entrevistas com técnicos da Prefeitura, praticamente nenhuma 

diretriz definida no Plano Diretor está sendo obedecida pela administração municipal. Depois de 

quase 3 (três) anos da sua aprovação, nenhum instrumento foi regulamentado e a implementação do 

Plano parece se resumir à criação do Conselho da Cidade, destacando­se que, contudo, apesar de 

suas reuniões periódicas, este não tem cumprido com as suas atribuições. 

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Sistema de gestão e planejamento

Em relação à gestão democrática, cabe destacar a criação do Conselho da Cidade, em 2007, e seu 

funcionamento mensal desde então. A última reunião registrada ocorreu no início de agosto de 

2009.

Na composição do Conselho, foi levada em consideração a determinação do sistema nacional de 

habitação  de   interesse  social,  que preconiza  que  o segmento movimento  popular  deve   ter  pelo 

menos 25% da composição total (o Conselho da Cidade de Caxias também tem como atribuição 

gerir os recursos do Fundo de Habitação de Interesse Social). No caso de Caxias, esse segmento 

alcança 28% do total de membros. 

A representação da sociedade é maior do que a do poder público. Dos seis representantes do poder 

público, um é da Câmara de Vereadores e metade da representação da sociedade é ocupada pelo 

segmento movimento popular.

Composição do Conselho Municipal da Cidade de Duque de Caxias

Segmentos indicados no Plano Diretor Instituições Representantes

5 Representantes da Secretarias de Governo Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo

Secretaria Municipal de Serviços Públicos

Secretaria Municipal de Habitação

Secretaria Municipal de Educação

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

1 Representante da Câmara Municipal 1 vereador

1 Representante das Associações Industriais Associação das Indústrias de Capivari

1 Representante das Universidades Universidade UNIGRANRIO

4 Representantes do Movimento Popular 4 Representantes do MUB – Federação das 

Associações de Moradores de Duque de Caxias

1 Representante das Ongs e Movimentos Sociais PROFEC – Programa de Formação e Educação 

Comunitária

1. Representante Sindicatos e Associações de 

Classe

SINDPETRO – Sindicato dos Petroleiros

Total 14 membros

A participação das mulheres é minoritária no primeiro mandato do Conselho. No período da gestão 

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do prefeito Washington Reis, a representação das mulheres se restringia a duas representantes do 

movimento  popular   contra   doze  homens.  Com a   indicação  de  uma  mulher   para   representar   a 

Secretaria de Educação no Conselho (na gestão do prefeito Zito), se alterou a proporção de gênero 

de três mulheres para onze homens. 

A duração do mandato dos conselheiros não está  estipulada na lei do Plano Diretor (que cria o 

Conselho), somente no regimento interno do Conselho, que define um período de 2 anos. A forma 

de escolha dos representantes precisa ser melhor definida, tendo em vista que o Plano estabelece 

apenas que os representantes serão eleitos de forma democrática, contemplando a participação de 

entidades   públicas   e   privadas.   A   única   indicação   é   para   o   movimento   popular,   que   deve   ser 

representado pelas associações de moradores e ter sua eleição organizada pelo MUB.

O primeiro mandato do Conselho teve início em 2007 e se encerra em 2009. O MUB está propondo 

que a eleição dos segmentos seja convocada pela Secretaria de Obras e Urbanismo através de edital 

público e tenha ampla divulgação.

O  Conselho  das  Cidades  possui   caráter  deliberativo  e   tem atribuições   amplas   sobre   a  política 

urbana. De acordo com o Plano, o Conselho: 

i) aprecia, acompanha e delibera sobre planos e programas relativos à política de gestão do solo 

urbano, de habitação de interesse social, de saneamento ambiental, e de transportes e mobilidade 

urbana; 

ii)  aprova a realização de convênios na área de desenvolvimento urbano a serem firmados com 

organismos nacionais e internacionais, públicos e privados; 

iii) aprova contratos de concessão dos serviços públicos de coleta de lixo, abastecimento de água, 

esgotamento sanitário e de transporte; 

iv) define sobre a aplicação dos recursos do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social. 

Além disso, o Conselho deve propor ao órgão municipal de urbanismo a edição de normas gerais de 

direito urbanístico e manifestar­se sobre propostas de alteração da legislação pertinente. Também 

deve propor diretrizes  e  critérios  para a  distribuição do orçamento  municipal  anual  e  do plano 

plurianual.

Ao   longo   da   lei   do   Plano   Diretor,   são   detalhadas   várias   situações   onde   o   Conselho   deve   se 

manifestar: 

i) nas atividades de movimentação de terra para execução de obras públicas e privadas, de aterro, 

desaterro, bota fora, quando implicarem em degradação ambiental; 

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ii) na instalação de empreendimentos em Zonas especiais de Interesse Ambiental – ZEIAs; 

iii) na definição de novos bens imóveis de interesse cultural (junto com o Conselho Municipal de 

Cultura); 

iv) na alteração de bens preservados, tombados e declarados de interesse cultural (juntamente com o 

Conselho Municipal de Cultura); 

v) na criação de novas Zonas e Áreas de Diretrizes Especiais e de seus respectivos parâmetros de 

uso e ocupação, assim como a alteração dos limites das zonas e áreas especiais existentes; 

vi)  no  licenciamento  dos empreendimentos  considerados  de  impacto,  que necessitam estudo de 

impacto de vizinhança; 

vii) na implantação das Operações Urbanas; 

viii) nos processos de isenção do IPTU; e 

ix) no processo de regulamentação do Plano Diretor e nos casos omissos.

Apesar de ter reuniões mensais periódicas, este não tem cumprido com as suas atribuições. Várias 

decisões relativas à política urbana não passaram pela aprovação do Conselho, entre elas: 

i)  as decisões relativas  à  gestão e aplicação dos recursos do Fundo Municipal  de Habitação de 

Interesse Social; 

ii) a proposição de diretrizes e critérios para a distribuição do orçamento municipal anual e do plano 

plurianual; 

iii) a alteração do zoneamento do Plano Diretor, um ano depois de sua aprovação; 

iv) as decisões relativas à implementação e ao monitoramento do PAC – Programa de Aceleração 

do Crescimento. 

Um dos temas centrais do Conselho tem sido o debate sobre o PAC. Entretanto, não se conseguiu 

ainda definir a metodologia de monitoramento. Foi realizada uma reunião no dia 27/08/2008, onde 

o   Secretário   de   urbanismo,   após   várias   tentativas   frustadas   do   Conselho,   disponibilizou   as 

informações a respeito do PAC de Habitação.

As reuniões tem sido mais um espaço de denúncia da omissão do poder publico municipal do que 

um espaço de negociação e implementação pactuada da política urbana. Vários representantes da 

sociedade e até mesmo técnicos da Prefeitura fazem críticas ao funcionamento do Conselho, tendo 

em vista que este tem baixo envolvimento do poder público. Os representantes do poder público que 

são assíduos no Conselho, são técnicos da Prefeitura sem poder de decisão política. Também podem 

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ser citadas reclamações sobre a ausência de assessoria técnica.

Sobressaem na pauta do Conselho, os temas relativos à implementação do Plano Diretor no que diz 

respeito à instalação dos grupos de trabalho, à alteração do zoneamento da cidade sem consulta ao 

Conselho da Cidade e à implementação do PAC sem a garantia da participação e do controle social.

Apesar  de previstos  no regimento   interno do Conselho,  os Comitês  Técnicos  de Habitação,  de 

Saneamento e de Mobilidade não estão funcionando. Houve uma tentativa de instalação do Comitê 

de   Mobilidade,   onde   a   sociedade   fez   as   indicações   de   representação,   mas,   novamente,   os 

conselheiros governamentais não foram indicados. O Comitê Técnico de Habitação realizou uma 

única reunião no segundo semestre de 2008, onde encaminhou para o Conselho deliberar sobre a 

emissão de ofício à  Prefeitura para que esta apresente  todos os projetos de habitação,   todos os 

projetos de transferência de famílias e o que está sendo feito em relação ao Plano de Regularização 

Fundiária Sustentável.

Por fim, cabe ressaltar que a apropriação do conteúdo do Plano pelos segmentos sociais e pelo 

poder  público  municipal  é   baixo.   Internamente  à  Prefeitura,   a  nova   legislação  não   só   não   foi 

implementada,   como os   técnicos  que  aplicam as  normas  urbanísticas   aparentemente  ainda  não 

tomaram conhecimento  da  nova   legislação   (com poucas  exceções).  Em relação  à   sociedade,   a 

apropriação do Plano está mais relacionada aos mecanismos de gestão e controle social do que a 

compreensão  dos   instrumentos   e  parâmetros  urbanísticos  dispostos  na   lei.  Também não   foram 

previstos nesse período nenhum mecanismo de capacitação dos conselheiros.

Segundo informações das entrevistas realizadas, somente no primeiro semestre de 2009 foi criado 

um grupo de trabalho interno ao Departamento de Urbanismo da Secretaria de Obras para conhecer 

com maior profundidade o Plano Diretor e identificar  prioridades e estratégias para dar início à sua 

implementação. 

A relação entre o Plano Diretor e os investimentos em Habitação de Interesse Social, como 

foco nos investimentos do PAC e no FNHIS

Todos os investimentos aprovados junto ao Conselho Gestor do Fundo Nacional de Habitação de 

Interesse Social e junto ao PAC não foram definidos pelo Conselho Municipal da Cidade (apesar 

deste Conselho ter como atribuição aprovar os investimentos do FMHIS). Os projetos e as decisões 

foram tomadas exclusivamente pelo poder público municipal.

Depois de aprovado, o Conselho da Cidade conseguiu marcar uma reunião com o Secretário de 

Urbanismo   da   gestão   anterior,   que   apresentou   os   investimentos   do   PAC   Habitação.   A   maior 

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polêmica  estava   relacionada  à   definição  de  prioridades  e  à   necessidade  de   incluir  novas  áreas 

precárias do Município. Na nova gestão, em 2009, ainda não foi possível estabelecer diálogo com a 

Prefeitura em torno do PAC. A Prefeitura, mesmo sendo gerida por outro partido, mantém, até o 

momento, a mesma postura diante do Conselho da Cidade: baixo comparecimento nas reuniões e 

indicação de representantes sem poder de deliberação. Os investimentos em saneamento não foram 

sequer apresentados no Conselho da Cidade. 

Questões gerais sobre a avaliação do Plano Diretor

Tendo em vista que todos os segmentos avaliaram que o Plano apresentou problemas devido ao 

curto prazo para a sua elaboração, procurou­se perceber se este era visto apenas como uma mera 

formalidade   ou   se   apresentava   avanços   a   serem   considerados.   Todas   as   pessoas   contatadas 

consideraram que a lei foi importante, mesmo que em vários aspectos não passasse de uma mera 

formalidade ou, ainda, que fosse muito genérica.

Para   o   ex­Secretário   de   Urbanismo,   sobressaíram­se   os   avanços   em   termos   de   adequação   do 

Município   a   um   novo   eixo   de   desenvolvimento   a   ser   criado   com   a   implantação   do   Arco 

Metropolitano, que fará a ligação entre o Complexo Petroquímico de Itaboraí e o Porto de Itaguaí, 

criando ao mesmo tempo um novo eixo de ligação entre os municípios da Baixada Fluminense. 

Essa   “adequação”   se   refere   à   possibilidade   de   Caxias   consolidar   sua   presença   industrial   na 

metrópole por meio da instituição de novas áreas favoráveis à  instalação de indústrias, além da 

possibilidade de ocupar áreas vazias fora do Centro, que, na sua opinião, estaria saturado. Na sua 

gestão foi realizada a alteração do macrozoneamento do Plano Diretor de área próxima ao traçado 

do Arco já comentada. Segundo foi comentado pelos participantes da reunião de apresentação dos 

resultados preliminares da pesquisa ao Conselho da Cidade, em 10 de novembro de 2008, o objetivo 

da  mudança  do  zoneamento   (transformação  de  parte  da  ZEN e  ZOC em ZOP)   foi  permitir   a 

instalação  de  novas   indústrias   e  habitações   em um grande  empreendimento  denominado  Nova 

Caxias. 

Pela ótica do quadro técnico da Prefeitura, destaca­se uma avaliação de que o Plano Diretor tem sua 

importância, mesmo que não toque nos principais problemas da cidade. O argumento enfatiza que, 

ao inscrever as diretrizes do Estatuto da Cidade no Plano, este pode contribuir no condicionamento 

da   legalização  de  empreendimentos   industriais  e   imobiliários  ao  cumprimento  de  determinadas 

exigências sociais e ambientais.

Pelo lado do movimento popular, sobressaem­se os avanços na ótica da participação e do controle 

social,  que ainda precisam ser efetivados,  principalmente  em relação à  criação do Conselho da 

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Cidade deliberativo e nas suas prerrogativas na aprovação de planos setoriais, no acompanhamento 

da aplicação de instrumentos urbanísticos e na aprovação de contratos de concessão de serviços 

públicos. 

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