estudo de caso enfermagem psiquiatria

Upload: lili-ferraz

Post on 09-Jan-2016

36 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Estudo de caso psiquiatria

TRANSCRIPT

  • Escola Superior de Enfermagem Santa Maria

    Curso de Licenciatura em Enfermagem

    Estgio II Sade Mental e Psiquiatria

    Projeto Integrado de Atendimento Materno

    Ano Letivo 2014/2015

    4 Ano 7 Semestre

    Estudo de Caso

    Trabalho realizado por:

    Lisandra Vitria Cardoso Ferraz, 50.2011

    Porto, 30 de Outubro de 2014

  • Escola Superior de Enfermagem Santa Maria

    Curso de Licenciatura em Enfermagem

    Estgio II Sade Mental e Psiquiatria

    Projeto Integrado de Atendimento Materno

    Ano Letivo 2014/2015

    4 Ano 7 Semestre

    Estudo de Caso

    Trabalho realizado por:

    Lisandra Vitria Ferraz, 50.2011

    Docente:

    Prof. Cristina Campos

    Enfermeira Orientadora:

    Enf. Patrcia Carvalho

    Porto, 30 de Outubro de 2014

  • Dizem que a vida para quem sabe viver mas ningum nasce pronto. A vida para

    quem corajoso o suficiente para arriscar e humilde o bastante para aprender

    Clarice Lispector

  • AGRADECIMENTOS

    Ao longo deste estgio, foram vrias as pessoas envolvidas na minha aprendizagem, que

    com o seu apoio, compreenso, sabedoria e dedicao contriburam para o meu

    crescimento pessoal e profissional e como tal sero enunciadas neste captulo do estudo

    de caso.

    Em primeiro lugar gostaria de agradecer utente abordada no estudo de caso, que me

    permitiram a realizao do mesmo e colaborou para o seu enriquecimento.

    Um especial agradecimento Enfermeira orientadora Patrcia Carvalho, que me

    acompanhou ao longo do estgio contribuindo com a sua boa disposio, sabedoria,

    apoio, incentivo e disponibilidade, tornando possvel a concretizao deste estudo de

    caso e desenrolar do estgio, zelando sempre pela aprendizagem do grupo.

    professora Cristina Campos orientadora da escola, pela forma atenciosa com que nos

    guiou ao longo deste estgio e pela sua disponibilidade em nos esclarecer qualquer

    questo e por nos proporcionar a realizao do mesmo.

    Um especial agradecimento tambm ao enfermeiro Hlio Correia e a enfermeira Slvia

    Teixeira que sempre com boa disposio, dedicao, sabedoria, acompanharam o grupo

    de forma a nos integraram como membro da equipa de enfermagem.

    No podia deixar de agradecer tcnica de referncia da utente abordada no estudo de

    caso, a Dra. Glria Pimentel, que prontamente se disponibilizou a ajudar na recolha de

    informao sobre a doente e na compreenso da sua histria de vida.

    restante equipa multidisciplinar, em especial Dra. Irene, Dona Conceio ao Sr.

    Eduardo, agradeo toda a ajuda e dedicao para a nossa integrao na instituio e pela

    forma pronta que sempre ajudaram na resoluo de qualquer questo.

    minha colega que sempre me ajudou quando necessrio e que me fez enriquecer a

    nvel de experincia com diferentes personalidades e trabalho em dupla.

    Aos restantes utentes e famlia que me permitiram a abordagem enquanto aluna de

    enfermagem.

    O meu muito obrigado!

  • CHAVE DE SIGLAS

    APA American Psychiatric Association;

    ARS Administrao Regional de Sade;

    CAD Comportamentos Aditivos e Dependncias;

    CID 10- Classificao Internacional de Doena e Problemas relacionados com a sade;

    CIPE - Classificao Internacional para a prtica de Enfermagem;

    CRI Centro de respostas Integradas;

    CT Comunidade teraputica;

    DICAD Diviso dos comportamentos aditivos e das dependncias;

    DSM IV- Manual de Diagnstico e Estatstica da Associao Norte-Americana de Psiquiatria;

    EMIT Tcnica Imunoensaio Enzimtico de Multiplicao; IDT, I.P - Instituto da Droga e da Toxicodependncia;

    OMS Organizao mundial de sade;

    PIAM Projeto integrado de atendimento materno;

    PNRCAD Plano Nacional para a reduo dos comportamentos aditivos e das

    dependncias;

    SICAD Servio de interveno nos comportamentos aditivos e nas

    dependncias;

    SRA.- Senhora;

    UA Unidade de alcoologia;

    UD Unidade de desabituao;

  • RESUMO

    O presente trabalho um estudo de caso individual sobre uma utente com antecedentes

    de consumo de substncias ilcitas e com perturbaes da personalidade e

    comportamento, mais especificamente perturbao paranoide, que se encontra inserida

    no programa de substituio opicea do modelo de tratamento dos CAD, sendo

    acompanhada pelo PIAM.

    Tem como principal objetivo adquirir e renovar conhecimentos e realizar um plano de

    cuidados eficaz com base no diagnstico de uma utente inserida no programa de

    substituio opicea, nas suas necessidades biopsicossociais e na sua histria clnica.

    Como mtodo de elaborao deste trabalho, em primeiro lugar, foi-me atribuda a utente

    pela enfermeira Patrcia, de seguida realizei a colheita de dados sobre a utente junto da

    mesma, dos enfermeiros e da tcnica de referncia da utente, a psicloga Glria

    Pimentel, e baseando-me nos dados obtidos atravs do processo da mesma,

    seguidamente analisei esses mesmos dados, fundamentando essa anlise em

    conhecimentos tericos previamente adquiridos, de seguida realizei uma pesquisa

    bibliogrfica em manuais na biblioteca da Escola Superior de Enfermagem de Santa

    Maria, no PIAM, no site da Ordem dos Enfermeiros e no site do SICAD. Resumi essa

    pesquisa com o fim de a expor no trabalho.

    Por fim elaborei um processo de enfermagem, em Microsoft Word, com base na

    evoluo da utente e na atuao de enfermagem abordando tambm a importncia da

    equipa multidisciplinar em sade mental de forma holstica. Para a sua realizao

    recorri CIPE Verso 2.

    Os principais resultados deste estudo foram o aumento dos meus conhecimentos de

    sade mental em especial toxicodependncia, o meu crescimento pessoal e profissional

    a nvel prtico e o reconhecimento de um percurso marcado por vrias componentes que

    levam ao tratamento da doente de dia para dia.

  • SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................... 9

    1. CONTEXTO HISTRICO DAS POLITICAS DE COMBATE

    TOXICODEPENDNCIA EM PORTUGAL ............................................................ 12

    1.1. PLANO NACIONAL PARA A REDUO DOS COMPORTAMENTOS

    ADITIVOS E DAS DEPENDNCIAS ...................................................................... 13

    1.2. ADMINISTRAO REGIONAL DE SADE DO NORTE ......................... 18

    1.2.1. Projeto Integrado de Atendimento Materno ........................................ 19

    2. FUNDAMENTAO TEORICA ....................................................................... 23

    2.1. SADE MENTAL ........................................................................................... 23

    2.2. TOXICODEPENDENCIA ............................................................................... 24

    2.2.1. Classificao das substncias psicoativas.............................................. 25

    3. HISTRIA CLNICA .......................................................................................... 28

    3.1. PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES

    DO USO DE OPIIDES ............................................................................................ 30

    3.2. PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES

    DO USO DE COCANA. ATUALMENTE ABSTINENTE. .................................... 32

    3.3. PERTURBAES DA PERSONALIDADE E DE COMPORTAMENTO ... 33

    3.4. PERTURBAO PARANIDE ..................................................................... 34

    3.5. TIROIDECTOMIA TOTAL DECORRENTE DE HIPERTIROIDISMO E

    NDULOS TIROIDEUS ........................................................................................... 34

    3.6. PROGRAMA DE SUBSTITUIO OPICEA ............................................. 35

    3.6.1. Cloridrato de metadona .............................................................................. 38

    4. PROCESSO DE ENFERMAGEM ...................................................................... 39

    4.1. COLHEITA DE DADOS/AVALIAO INICIAL ........................................ 41

    4.2. PLANO DE CUIDADOS ................................................................................. 47

    4.3. AVALIAO FINAL ..................................................................................... 58

    5. REGIME TERAPEUTICO .................................................................................. 60

    CONCLUSO ............................................................................................................... 63

    ANEXOS ........................................................................................................................ 66

    ANEXO I Avaliao inicial protocolada no servio ................................................ 67

    ANEXO II Rtulo do frasco de Metadona ............................................................... 68

  • INDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Indicadores de sade mental segundo Jahoda (1989) .............................. 24

    Tabela 2 - Classificao das drogas por grupos nocivos, segundo a OMS .............. 25

    Tabela 3 - Grau de dependncia que cada substncia origina. ................................. 26

    Tabela 4 - Efeitos positivos, negativos e tardios, das substncias (herona, cocana e

    haxixe) ............................................................................................................................ 27

    Tabela 5 - Avaliao Inicial da Sra. M (segundo avaliao protocolada no servio)

    ......................................................................................................................................... 47

    Tabela 6 - Diagnstico: Risco de abuso de substncias ............................................. 49

    Tabela 7- Diagnstico: Capacidade para socializar comprometida ......................... 51

    Tabela 8 - Diagnstico: Peso corporal, comprometido .............................................. 52

    Tabela 9 - Diagnstico: Dfice de conhecimento sobre regime medicamentoso ...... 53

    Tabela 10 - Diagnstico: Papel Parental, comprometido .......................................... 55

    Tabela 11 - Diagnstico: Comportamento de procura de sade, comprometido .... 56

    Tabela 12 - Diagnstico: Auto-imagem comprometid ............................................... 58

    Tabela 13 - Frmaco Diplexil ....................................................................................... 61

    Tabela 14 - Frmaco Risperidona ............................................................................... 61

    Tabela 15 - Frmaco Metadona ................................................................................... 62

  • 9

    INTRODUO

    No mbito da Unidade Curricular Estgio II Sade Mental e Psiquiatria integrado no

    Curso de Licenciatura em Enfermagem do 4 ano letivo da Escola Superior de

    Enfermagem de Santa Maria, foi desenvolvido o presente estudo de caso, com base na

    histria clnica de uma utente do Projeto Integrado de Atendimento Materno - PIAM.

    O presente Estgio decorreu no PIAM, em Matosinhos, durante o perodo de 16 de

    Outubro a 14 de Novembro.

    A realizao de um estudo de caso constitui um dos mais antigos mtodos utilizados no

    ensino de Enfermagem, uma vez que procura definir e sistematizar as intervenes

    dessa rea, organizando o trabalho baseado no estabelecimento de aes e na anlise da

    histria do doente. Este estudo deve descrever as aes e cuidados realizados, que

    devem ainda seguir as orientaes dadas pela escola no incio e durante o ensino clnico.

    O Projeto Integrado de Atendimento Materno destinadas a mulheres grvidas e

    purperas toxicodependentes e seus filhos, funcionando em regime de ambulatrio,

    dispe tambm de um protoloco ortogrado ao nvel de acompanhamento de ginecologia,

    com o Centro Hospitalar do Porto Maternidade Jlio Dinis e as Unidades de Sade

    Familiares. Este dispe de recursos que garantem um atendimento personalizado e

    holstico a cada utente, permitindo um acompanhamento ao longo de diversas etapas do

    ciclo vital intervindo em diversas reas (Medicina, Enfermagem, Psicologia e Servio

    Social).

    Para a realizao deste ensino clnico, auto propus-me a atingir um conjunto de

    objetivos pessoais, que paralelamente com os definidos pela escola permitiram guiar o

    trabalho que desenvolvi. Esses objetivos pessoais foram os seguintes:

    Compreender as exigncias especficas do Enfermeiro em Sade Mental;

    Compreender as exigncias do servio de Psiquiatria/Sade Mental;

    Iniciar a minha prtica fazendo alguns dias de observao minuciosa das rotinas

    de funcionamento, registos e dinmicas da equipa multidisciplinar;

  • 10

    Executar as tarefas de acordo com as normas e os protocolos preconizados pela

    instituio;

    Adequar as estratgias de comunicao/comportamentos s diferentes situaes

    de relacionamento com as utentes, famlia e equipa multidisciplinar;

    Diagnosticar necessidades de cuidados de sade utente/filhos e de apoio

    familiar;

    Planear um plano de cuidados direcionado para as necessidades da utente

    adaptando-o sua real situao, enquadrando-o num ponto de vista holstico;

    Interagir e estabelecer uma relao teraputica com as utentes e famlia;

    Comunicar com a utente e famlia de forma eficaz, mostrando disponibilidade e

    interesse, desenvolvendo uma relao de ajuda e confiana tendo por base a

    relao prxima e profissional de enfermeiro/utente;

    Integrar-me na equipa multidisciplinar;

    Aplicao e expanso das aprendizagens adquiridas ao longo da licenciatura at

    ao momento, bem como a relao entre os conhecimentos tericos e a prtica;

    Comunicar com consistncia e de forma clara a informao relevante sobre o

    doente (de forma verbal, escrita e informtica);

    Conseguir gerir as emoes sentidas;

    Ser assduo e pontual;

    Reconhecer os limites do meu papel como aluno e reconhecer as minhas

    competncias adquiridas no final do Estgio.

    Relativamente ao estudo de caso, este foi realizado com base na histria clnica de uma

    utente inserida neste servio aconselhada pela enfermeira orientadora e que despoletou

    o meu interesse no s pelos diagnsticos ativos como tambm pela histria de vida e

    situao que a mesma enfrenta diariamente no ponto de vista biopsicossocial.

    A realizao deste trabalho teve como principais objetivos:

    Efetuar de forma sistemtica a colheita de dados e a apreciao dos mesmos na

    aplicao do modelo desenvolvido pelo grupo (com base na CIPE verso 2.0);

  • 11

    Planear um plano de cuidados direcionado para as necessidades da doente

    adaptando-o sua real situao, enquadrando-o num ponto de vista social,

    econmico e religioso;

    Avaliar os resultados obtidos e reformular diagnsticos e intervenes sempre

    que necessrio;

    Compreender a articulao com outras reas, nomeadamente a Assistncia

    Social, Medicina e Psicologia.

    Aplicao das aprendizagens adquiridas ao longo da licenciatura at ao

    momento, bem como a relao entre os conhecimentos tericos e a prtica;

    Comunicar com consistncia e de forma clara a informao relevante sobre o

    doente (de forma verbal, escrita e eletrnica)

    Gerir emoes;

    Diagnosticar necessidades de cuidados de sade do doente e de apoio familiar;

    Compreender as exigncias especficas do Enfermeiro de cuidados gerais em

    regime de ambulatrio.

    Na elaborao deste trabalho, utilizei uma metodologia descritiva, esquemtica e de

    observao direta, fundamentada na colheita de dados necessria para a realizao

    deste, atravs da consulta do processo clnico da utente, da opinio dos enfermeiros que,

    desde o primeiro instante o acompanharam e da prestao de cuidados diretos mesma

    durante as consultas de enfermagem.

    Ao longo do trabalho no referenciamos nenhum dado que comprometa a identificao

    e privacidade do doente, salvaguardando o ponto 9 que consta na Carta dos Doentes

    Internados e o artigo 85, alnea d) Do dever de Sigilo como consta no Cdigo

    Deontolgico dos Enfermeiros.

  • 12

    1. CONTEXTO HISTRICO DAS POLITICAS DE COMBATE

    TOXICODEPENDNCIA EM PORTUGAL

    Em Portugal, tal como na maioria dos pases a histria da evoluo das polticas da

    droga, comea a desenhar-se na primeira metade do sculo 20 com a transposio para a

    legislao nacional das disposies e recomendaes introduzidas pela Conveno

    Internacional do pio, assinada em Haia, em 23 de janeiro de 1912. Assim a primeira

    legislao publicada em Portugal em matria de drogas data de 1924. (SICAD, 2012)

    O fenmeno do uso/abuso de produtos psicotrpicos e substncias estupefacientes

    inicia-se, sem a expresso e o impacto social do fenmeno noutros pases da europa, a

    partir do incio dos anos 70. a partir desta altura que so dados os primeiros passos no

    sentido de criar uma resposta pblica a esta problemtica, nomeadamente atravs da

    criao, em 1973, de uma consulta especfica de toxicodependncia, no Servio de

    Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. (SICAD, 2012)

    apenas em 1975, na dependncia da Presidncia do Conselho de Ministros, que so

    criadas as primeiras estruturas para fazer face a este novo fenmeno, nomeadamente o

    Centro de Estudos da Juventude, ao qual competia uma vertente mais preventiva e de

    tratamento mdico-social, e o Centro de Investigao Judiciria da Droga, com atuao

    na rea da represso e fiscalizao do trfico ilcito de drogas. Ambos os centros so

    extintos em 1976 havendo a criao do Centro de Estudos da Profilaxia da Droga, com

    competncias nos domnios da preveno, tratamento e insero social do

    toxicodependente, e a criao do Centro de Investigao e Controle da Droga, com

    competncia na rea da represso do trfico ilcito de drogas. Estes dois organismos

    passam a ser coordenados por um terceiro, o Gabinete Coordenador do Combate

    Droga, ao qual competia a coordenao das atividades por estes desenvolvidos sob a

    tutela do Ministrio da Justia. (SICAD, 2012)

    j nos anos 90 que se inicia uma transio, atravs do Projeto VIDA, das respostas de

    preveno, tratamento reinsero para a rea da sade, nomeadamente, com a criao,

    no Ministrio da sade do Servio de Preveno e Tratamento da Toxicodependncia e

    que procedeu ao alargamento da rede de servios pblicos para o tratamento e

    reinsero de toxicodependentes, por forma a garantir o acesso a cuidados de preveno,

  • 13

    tratamento e reinsero social e profissional de todos os cidados afetados pela

    toxicodependncia. (SICAD, 2012)

    No, entanto, e no obstante terem sido criadas vrias respostas nesta rea, Portugal

    enfrentava, no final dos anos noventa, um grave problema social e de sade pblica, por

    causa do fenmeno da toxicodependncia, em particular no que diz respeito ao consumo

    problemtico de herona. (SICAD, 2012)

    O problema da toxicodependncia tornou-se uma das principais preocupaes

    portuguesas, chegando mesmo a ser apontado como o principal problema social do pas.

    (SICAD, 2012)

    1.1. PLANO NACIONAL PARA A REDUO DOS COMPORTAMENTOS

    ADITIVOS E DAS DEPENDNCIAS

    O Plano Nacional para a Reduo dos Comportamentos Aditivos e das Dependncias

    2013 - 2020, surge na sequncia do fim do ciclo do Plano Nacional Contra a Droga e as

    Toxicodependncias 2005 2012 (PNCDT) e da redefinio das polticas e dos servios

    de sade. Perante os novos desafios que foram identificados nos ltimos anos, foi

    decidido ampliar a abordagem e as respostas ao mbito de outros Comportamentos

    Aditivos e Dependncias (CAD), que no incluem apenas as substncias psicoativas.

    Deste modo com a publicao da nova orgnica do Ministrio da Sade, aprovada pelo

    Decreto-Lei n. 124/2011, de 29 de dezembro, o Governo procedeu criao do Servio

    de Interveno nos Comportamentos Aditivos e nas Dependncias (SICAD),

    extinguindo, em consequncia, o Instituto da Droga e da Toxicodependncia, I. P.,

    cometendo s Administraes Regionais de Sade, I. P. a componente de

    operacionalizao das polticas de sade. (SICAD, 2012)

    O PNRCAD constitui-se, assim, como uma inovao importante no domnio das

    polticas de sade, na medida em que estas problemticas encerram riscos e custos aos

    quais importante fazer face pelas repercusses e impacto que tm na vida dos

    indivduos, das famlias e da sociedade. Investir-se- em dois grandes domnios: a

    reduo da procura e a reduo da oferta dando, de forma equilibrada, a devida

    relevncia s duas abordagens. (Dependncias, 2013)

  • 14

    No que se refere reduo da procura, o Cidado constitui o centro da conceptualizao

    das polticas e intervenes nos CAD, tendo como pressuposto de base que

    fundamental responder s necessidades dos indivduos, perspetivadas de forma

    dinmica no contnuo do seu ciclo de vida. Pretende-se desenvolver intervenes

    globais e abrangentes que integrem um contnuo que vai da promoo da sade,

    preveno, dissuaso, reduo de riscos e minimizao de danos (RRMD), tratamento e

    a reinsero social. Naturalmente, tais intervenes desenvolver-se-o de acordo com o

    quadro legal em vigor no que se refere ao uso e abuso de substncias psicoativas licitas

    e ilcitas, e pretendem promover a sade e o acesso dos indivduos aos cuidados e

    servios de que efetivamente necessitam, tendo traduo no aumento de ganhos em

    sade e bem-estar social. (Dependncias, 2013)

    No que se refere reduo da oferta, a diminuio da disponibilidade e do acesso s

    substncias ilcitas tradicionais e s novas substncias psicoativas, a regulamentao do

    mercado das substncias lcitas e respetiva fiscalizao e harmonizao dos dispositivos

    legais j existentes ou a desenvolver, nomeadamente no que se referente rea do jogo

    e a internet, Plano Nacional para a Reduo dos Comportamentos Aditivos e das

    Dependncias 2013-2020 constituem o centro das polticas e intervenes, assente no

    pressuposto da cooperao nacional e internacional. (Dependncias, 2013)

    Deste modo o diploma orgnico do SICAD, aprovado pelo Decreto-Lei n. 17/2012, de

    26 de janeiro, concretiza uma inovao assente na opo de reforo da componente de

    planeamento e acompanhamento de programas de reduo do consumo de substncias

    psicoativas, na preveno dos comportamentos aditivos e na diminuio das

    dependncias. Por sua vez, a componente de operacionalizao das intervenes

    concentrada no mbito de atuao das Administraes Regionais de Sade (ARS)1.

    (SICAD, 2012)

    Embora o SICAD, no tenha agora, responsabilidade direta sobre os servios de

    interveno local, tambm para eles que o SICAD desenvolver instrumentos tcnicos

    normativos e linhas de orientao que garantam e sustentem boas prticas de forma

    mais alargada. Dar-se- incio a um novo ciclo, agora com o alargamento das

    1 As administraes Regionais de Sade subdividem-se em administrao regional de sade do Norte,

    Lisboa e Vale do Tejo, Centro, Alentejo e Algarve. Cfr.: (Oliveira, 2011)

  • 15

    competncias aos comportamentos aditivos s dependncias em geral, o que implicar o

    envolvimento de novos parceiros, bem de novas estratgias de atuao. (SICAD, 2012)

    O desafio que se coloca ao SICAD o de, no quadro das mudanas introduzidas e sem

    perder a qualidade at aqui alcanada, conseguir contribuir para o alargamento do

    mbito da interveno rentabilizando e potenciando a utilizao dos recursos existentes.

    (SICAD, 2012)

    Desta forma o SICAD tem como misso promover a reduo do consumo de

    substncias psicoativas, a preveno dos comportamentos aditivos e a diminuio das

    dependncias, possuindo uma viso na perspetiva do PNRCAD, onde este por sua vez

    se constitui como entidade que consolida e aprofunda uma poltica pblica integrada e

    eficaz no mbito dos Comportamentos Aditivos e das Dependncias, baseada na

    articulao intersectorial, visando ganhos sustentveis em sade e bem-estar social.

    No mbito do PNRCAD o SICAD, rege-se pelos princpios consagrados no ciclo

    estratgico2 anterior destacando-se:

    Humanismo: Cuja aceo reconhecer pessoa a sua plena dignidade humana,

    compreendendo a complexidade e relevncia da sua histria pessoal, sendo a

    dependncia considerada uma doena. Assumir que o/a dependente uma

    pessoa doente representa a aceitao incondicional de que o outro, mesmo num

    estado de rutura com valores fundamentais da vida em sociedade, deve ser alvo

    de um olhar de compreenso e empatia que lhe permita um movimento de

    mudana.

    Conhecimento, inovao e pragmatismo: Em que se valoriza o produzir

    conhecimento de forma a contribuir para a melhoria da qualidade de vida do

    cidado, sem dogmas ou ideias preconcebidas face aos resultados baseados na

    evidncia cientfica e promover a inovao das atividades, antecipando-se aos

    desenvolvimentos do fenmeno.

    Cooperao: Onde se configura um valor que promovemos e est na base de

    toda a nossa ao. Trabalhar de forma integrada e potenciar o envolvimento dos

    2 Princpios da cooperao internacional, da preveno, do humanismo, do pragmatismo, da segurana, da

    coordenao e racionalizao de meios, da subsidiariedade e da participao.

  • 16

    parceiros nacionais e internacionais na definio das estratgias e no

    compromisso partilhado para alcanar as metas estabelecidas fundamental para

    potenciar respostas eficientes e eficazes.

    Confiana: Onde se fomenta a criao de relaes e alianas estratgicas

    baseadas no altrusmo e na reciprocidade e que aspirem a preservar-se para alm

    do presente. Pretendemos incrementar os ndices de satisfao e de

    comprometimento com a organizao, estimular a abertura para novos

    compromissos e preparar a organizao para enfrentar ambientes mais instveis

    ou competitivos.

    Transparncia: Em que se promove a abertura e clareza na conduo do servio

    pblico que prestamos, porque queremos fortalecer a legitimidade social da

    nossa ao. Quanto melhor divulgarmos de forma transparente (simples, objetiva

    e clara) o que fazemos, maior a possibilidade de se obter o reconhecimento do

    posicionamento estratgico do SICAD na rede de stakeholders3.

    Assim sendo o ministrio da sade concede as seguintes atribuies ao SICAD:

    Apoiar o membro do Governo responsvel pela rea da sade na definio

    da estratgia nacional e das polticas de reduo do consumo de substncias

    psicoativas, de preveno dos comportamentos aditivos e da diminuio das

    dependncias e sua avaliao;

    Planear e avaliar os programas de preveno, reduo de riscos e

    minimizao de danos, de reinsero social e de tratamento do consumo de

    substncias psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependncias,

    designadamente definindo normas, metodologias e requisitos a satisfazer

    para garantir a qualidade;

    Planear a interveno no mbito dos comportamentos aditivos e das

    dependncias, atravs de uma rede de referenciao entre cuidados

    primrios, centros de respostas integradas e unidades de internamento ou

    unidades hospitalares, consoante a gravidade da dependncia ou dos

    consumos de substncias psicoativas;

    3 Termo utilizado na rea de administrao para pblico estratgico. Descreve uma pessoa ou grupo que

    fez um investimento ou tem aes ou interesse em uma empresa, negcio ou indstria. Cfr.:

    http://www.significados.com.br/stakeholder/

  • 17

    Desenvolver, promover e estimular a investigao cientfica no domnio das

    substncias psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependncias e

    manter um sistema de informao sobre o fenmeno da droga e das

    toxicodependncias;

    Desenvolver mecanismos de planeamento e coordenao efetivos

    conducentes definio das polticas para as intervenes no mbito dos

    comportamentos aditivos e dependncias;

    Efetuar diagnsticos de necessidades de interveno de mbito nacional,

    definir as prioridades e o tipo de interveno a desenvolver;

    Definir as linhas de orientao tcnica e normativa para a interveno nas

    reas dos comportamentos aditivos e das dependncias;

    Promover a formao no domnio das substncias psicoativas, dos

    comportamentos aditivos e das dependncias;

    Assegurar a recolha, tratamento e divulgao dos dados e informao dos

    servios pblicos e das entidades privadas com interveno no domnio das

    substncias psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependncias;

    Assegurar a representao internacional, no domnio das suas competncias

    e atribuies especficas, sem prejuzo das competncias prprias do

    Ministrio dos Negcios Estrangeiros, bem como garantir o cumprimento

    das obrigaes enquanto ponto focal nacional da Rede Europeia de

    Informao sobre Toxicodependncia do Observatrio Europeu das Drogas e

    da Toxicodependncia, em coordenao com a Direco-Geral da Sade,

    enquanto entidade responsvel pelas relaes internacionais do Ministrio da

    Sade;

    Prestar o apoio tcnico e administrativo e garantir as infraestruturas

    necessrias ao funcionamento das Comisses para a Dissuaso da

    Toxicodependncia;

    Definir os requisitos para o licenciamento de unidades privadas prestadoras

    de cuidados de sade na rea das dependncias e comportamentos aditivos.

    Funcionando com as Administraes Regionais de Sade como parte integrante e

    fundamental de modo a responder s necessidades do pblico-alvo o SICAD delega

  • 18

    nestas o trabalho de dar resposta s demais instituies preconizadas para esta rea de

    interveno na sade. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)

    1.2. ADMINISTRAO REGIONAL DE SADE DO NORTE

    A ARS Norte contempla diviso dos comportamentos aditivos e das dependncias onde

    se inserem como as seguintes unidades de interveno local:

    Centros de Respostas Integradas, designados por CRI4;

    Unidade de Desabituao, designados por UD5;

    Comunidade teraputica, designada por CT6;

    Unidade de alcoologia, designada por UA7;

    Esta diviso contempla ainda dois projetos integrados:

    Projeto Integrado de Atendimento Materno, designado por PIAM, ao qual

    compete a prestao de cuidados integrados e globais a mulheres grvidas e

    purperas toxicodependentes e seus filhos, seguindo modalidades teraputicas

    mais adequadas a cada situao, em regime ambulatrio, com vista ao

    tratamento, reduo de danos e reinsero dessas doentes;

    Projeto Integrado de Apoio comunidade, designado por PIAC, ao qual

    compete a prestao de um servio de apoio comunidade no mbito da

    preveno seletiva e indicada, fornecendo um espao de consulta a jovens e

    adultos em dificuldades, promovendo a informao, sensibilizao e formao

    4 Estruturas locais de cariz operativo e de administrao, referenciados a um territrio definido e dispondo

    de equipas tcnicas especializadas multidisciplinares para as diversas reas de misso dedicadas ao

    tratamento, preveno, reinsero e reduo de riscos e minimizao de danos das toxicodependncias e

    alcoolismo. 5 Compete, designadamente, realizar o tratamento de sndromes de privao em doentes

    toxicodependentes e doentes com sndrome de abuso ou dependncia de lcool, sob responsabilidade

    mdica, em regime de internamento. 6 Compete prestar cuidados a doentes toxicodependentes e doentes com sndrome de abuso ou

    dependncia de lcool que necessitem de internamento prolongado, com apoio psicoteraputico e

    scioteraputico, sob superviso psiquitrica. 7 Compete prestar cuidados integrados e globais, em regime ambulatrio ou de internamente, sob a

    responsabilidade mdica, a doentes com sndrome de abuso ou dependncia de lcool, seguindo as

    modalidades de tratamento mais adequadas a cada situao e apoiando as actividades de interveno dos

    CRI na rea de alcoologia, enquanto unidades especializadas, de referncia com competncias de

    formao especfica.

  • 19

    de adultos significativos que possam estar em contacto com jovens, em

    dificuldades ou no, assim como fornecendo um espao de consultadoria e apoio

    tcnico s instituies que lidam com os jovens em risco;

    (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)

    1.2.1. Projeto Integrado de Atendimento Materno

    O Projeto Integrado de Atendimento Materno (P.I.A.M.) da ARS Norte, IP Diviso

    para a Interveno nos Comportamentos Aditivos e Dependncias disponibiliza um

    conjunto diversificado de respostas na rea da preveno, reduo de riscos e

    minimizao de danos, tratamento e reinsero populao feminina, com histria de

    consumo de drogas e lcool, e suas crianas. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,

    2010)

    Esta instituio possui uma equipa multidisciplinar que rene esforos de diversas reas

    tais como a medicina, enfermagem, psicologia e servio social, para discutir cada caso

    como um s, trabalhando todas as suas caractersticas e utilizando uma viso holstica

    procurando entender e auxiliar todas as particularidades da sua situao de vida.

    (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)

    1.2.1.1. Misso

    O PIAM, um projeto de mbito regional da ARS do Norte e tem como competncias

    prestar cuidados integrados e globais a mulheres grvidas e purperas

    toxicodependentes e seus filhos. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)

    1.2.1.2. Localizao

    O PIAM faz parte da estrutura fsica do antigo Hospital de Matosinhos e encontra-se

    situado na Rua Alfredo Cunha, n367, em Matosinhos, funcionando de segunda-feira a

    sexta-feira entre as oito e as dezassete horas. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,

    2010)

    1.2.1.3. Estrutura fsica

    O edifcio onde se encontra instalado, encontra-se distribudo por dois pisos do mesmo

    com a entrada principal virada a sul.

  • 20

    A entrada no servio faz-se pelo acesso principal que nos leva ao piso um onde existe

    uma receo e sala de espera8, dois gabinetes de enfermagem9, o gabinete da enfermeira

    responsvel10, uma casa de banho11, uma sala12, dois gabinetes tcnicos13 e uma sala de

    atividades designada por Lucoteca14.

    J no piso dois existe uma secretaria da unidade e arquivo15, um gabinete do diretor de

    servio16, uma sala de reunies17, um gabinete do servio social18, um gabinete

    designado sala de grupos19, trs gabinetes tcnicos20, uma sala de caf, duas casas de

    banho e um quarto de internamento parcial21. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,

    2010)

    8 Sala de espera equipada com cadeiras, televiso e algumas revistas, onde as utentes so recebidas

    chegada por um assistente tcnico e por uma assistente operacional que faz a gesto de acessos. 9 Gabinetes equipados para a realizao de intervenes de enfermagem que se destinam ao acolhimento

    agradvel do doente. Um deles est devidamente equipado para a realizao de consulta de ginecologia e

    planeamento familiar. 10 Espao amplo onde para alm das funes inerentes gesto do servio, tem tambm como funo o

    acolhimento de enfermagem a novas utentes (avaliao inicial, entrevista, interaco com necessidade de

    privacidade, testes klotho (teste de despiste do HIV), anlises de rotina, entre outras). Existe um armrio

    de stock de medicao e um cofre destinado a armazenamento da Metadona. 11 Devidamente equipada que permite a realizao de cuidados de higiene pessoal a doentes com dfice

    no auto-cuidado higiene, estando tambm equipado para cuidados aos filhos das doentes. 12 Destinada a isolamento de doentes com patologias infeto-contagiosas nomeadamente vrus da bola.

    Possui um armrio com stock de material (Equipamento de proteo individual EPI), e um WC e polib. 13 Um onde funciona a Pedopsiquiatria devidamente equipado com material adequado faixa etria dos

    utentes, outro onde se realizam intervenes psicoteraputicas (Terapias familiares Cognitivas,

    Comportamentais, entre outras), da responsabilidade da Psicologia. 14 Espao amplo dividido em reas fsicas de acordo com a idade das crianas. Cada rea est equipada

    com material ldico e didtico selecionado criteriosamente de acordo com as capacidades cognitivas

    inerentes fase de desenvolvimento em que se encontram. Este espao tem permanentemente uma

    Educadora de Infncia, que desenvolve atividades inerentes ao seu contedo funcional. Uma assistente

    operacional colabora em cuidados de higiene e alimentao das crianas mais pequenas. um espao

    com fundamental importncia, j que aqui ficam as crianas durante o momento em que as mes esto em

    consulta, exame ou outra atividade. 15 Onde diariamente dois funcionrios se dedicam gesto dos aspetos burocrticos da Unidade. Sala

    onde funciona o arquivo de processos antigos e atuais. 16 Gabinete se realiza a coordenao da equipa multidisciplinar e consultas de psiquiatria. Espao

    agradvel e acolhedor. 17 Espao fsico bem dimensionado, bem equipado e perfeitamente adequado para a realizao de

    reunies multidisciplinares, que se realizam no final da semana (Sexta-Feira). 18 Gabinete de apoio s tcnicas do servio Social no exerccio das suas funes. 19 Espao utilizado para efetuar aes de educao para a Sade sobre a gravidez, parto e competncias

    maternais. Utilizado tambm para formaes em servio. 20 Destinados atividade dos Psiclogos da unidade. 21 Quarto destinado a proporcionar internamentos em regime de hospital de dia. utilizado para efetuar

    administrao de soroterapia, ou outros tratamentos que necessitem de vigilncia mais alargada.

  • 21

    1.2.1.4. Equipa multidisciplinar

    A multidisciplinaridade nos contextos de trabalho em sade de fundamental

    importncia. Numa rea como a toxicodependncia devemos ainda reforar mais esta

    ideia, pela necessidade de articulao quase permanente de todos os tcnicos.

    Deste modo o PIAM dispe de uma equipa multidisciplinar, que abrange grande parte

    das valncias necessrias prestao de cuidados e assistncia populao alvo.

    Alguns tcnicos fazem parte do quadro ou mapa da instituio, enquanto outros prestam

    assistncia ao abrigo de protocolos estabelecidos com o SICAD e os recursos de sade,

    nomeadamente com o Centro Hospitalar do Porto (Maternidade Jlio Dinis).

    Assim sendo a equipa integra elementos com longa e comprovada experincia nesta

    rea (desde 1990) e composta por um Psiquiatra, um Pedopsiquiatra (4h30 horas /

    semana), um Obstetra (6h30 horas / semana), quatro Psiclogos, trs Assistentes

    Sociais, trs Enfermeiras, dois Assistentes Tcnicos e trs Tcnicos Operacionais.

    (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)

    1.2.1.5. Recursos de sade disponibilizados

    Graas a uma equipa multidisciplinar funcionante o PIAM dispe de recursos de sade

    a diversos nvel sendo estes:

    Consultas de Enfermagem;

    Consultas Mdicas;

    Consultas de Planeamento

    Familiar e Ginecologia, com o

    objetivo de prestar cudados do

    foro ginecolgico mulher nas

    diferentes etapas da vida;

    Consulta Antitabgica;

    Consulta de Jovens e

    Adolescentes;

    Grupos de Educao para a

    Sade;

    Apoio Psicossocial s Famlias;

    Terapia Familiar;

    Visitao Domiciliaria

    multidisciplinar;

    Ergoterapia;

    Programas de Tratamento de

    substituio com o objetivo de

    reduo de danos e minimizao

    de riscos;

    Rastreio de doenas infeto-

    contagiosas;

  • 22

    Administrao de Teraputica

    Antiretroviral, tuberculosttica,

    entre outras;

    Tratamento de feridas;

    Superviso do cumprimento do

    Plano Nacional de Vacinao;

    Colheita de espcimenes para

    anlises de rotina e protocolos

    com o Centro Hospitalar do

    Porto (ex. pr-operatrias);

    Acompanhamento em trajetos de

    vida, assim como na reinsero

    social (programa vida emprego);

    Articulao com vrias reas de

    cuidados de sade;

    Internamento Parcial

    Soroterapia;

    (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,

    2010)

  • 23

    2. FUNDAMENTAO TEORICA

    Neste captulo sero abordadas temticas referentes utente em estudo, tais como a

    toxicodependncia, as classes de substncias psicoativas e patologias da utente das

    quais se verificou necessidade de aprofundar conhecimentos de modo a no

    comprometer a prestao de cuidados de sade personalizados e focados na viso

    holstica.

    2.1. SADE MENTAL

    A American Psychiatric Association (APA, 2003), define sade mental como um estado

    que relativo em vez de absoluto. O desempenho com sucesso de funes mentais

    demonstrado por atividades produtivas, relaes satisfatrias com outras pessoas e a

    capacidade para se adaptar mudana e de lidar com a adversidade.

    Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS, 2003) sade mental definida como

    o estado de bem-estar no qual o indivduo realiza as suas capacidades, pode fazer face

    ao stress normal da vida, de forma produtiva e frutfera e contribuir para a comunidade

    em que se insere.

    No se pode considerar que as alteraes que ocorrem a nvel comportamental e as

    perturbaes psquicas sejam traduzidas em termos de Doena Mental. A sade mental

    corresponde a uma constante tentativa de adaptao do individuo ao meio em que se

    insere, no sentido de manter estvel a relao harmoniosa e quando a adaptao no

    satisfatria para a sociedade ou para o individuo, no se devendo considerar a existncia

    de fracasso ou ausncia de capacidades para o sucesso ou a existncia de doena

    psquica. (Amaral, 2010)

    Alguns fatores so considerados como critrios determinantes de graduao relativa

    existncia de sade mental. Jahoda (1989) identificou seis indicadores de sade mental

    que de seguida sero apresentados em formato tabela.

  • 24

    Atitudes positivas22 em relao a si prprio e aos outros

    Crescimento, desenvolvimento e capacidade de alcanar a auto-realizao23

    Perceo da realidade24

    Integrao25

    Autonomia26

    Mestria ambiental27

    (Townsend, 2011).

    Tabela 1 - Indicadores de sade mental segundo Jahoda (1989)

    2.2. TOXICODEPENDENCIA

    Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS, 1993) a dependncia de substncias

    txicas (toxicodependncia) traduz-se num estado de intoxicao crnica do organismo

    que organismo que prejudicial ao indivduo e sociedade e que produzido pela

    administrao de uma droga (natural ou sinttica) que se caracteriza por um desejo ou

    caracteriza por um desejo ou necessidade incoercvel de continuar com a sua

    administrao.

    22 Viso objetiva de si prprio, incluindo conhecimento e aceitao das suas foras e limitaes. O

    individuo sente um forte sentido de identidade pessoal e segurana dentro do seu ambiente. 23 O indicador crescimento, desenvolvimento e capacidade de alcanar a auto-realizao est

    correlacionado com o facto de o indivduo alcanar sucesso nas tarefas associadas a cada nvel de

    desenvolvimento. A medida que alcana o xito em cada nvel o individuo ganha motivao para alcanar

    o prximo e para avanar para o seu mais alto potencial. 24 Uma perceo correta da realidade um indicador positivo de sade mental. Isto inclui a perceo do

    ambiente sem distores, assim como a capacidade para ter empatia e sensibilidade social (respeito e

    preocupao com os desejos e necessidades dos outros). 25 A integrao inclui a capacidade para responder adaptativamente ao ambiente e o desenvolvimento de

    uma filosofia de vida, uma vez que ambos ajudam o individuo a manter a ansiedade a um nvel tolervel

    em resposta a situaes stressantes. Aqui o interesse est em manter um equilbrio entre os processos de

    vida. 26 Refere-se capacidade do individuo de atuar de maneira independente. Este faz as suas escolhas e

    aceita a responsabilidade pelos resultados. 27 Este indicador sugere que o individuo alcanou um papel satisfatrio dentro do grupo, sociedade ou

    ambiente. Sugere que capaz de amar e aceitar o amor dos outros. Quando confrontado com qualquer

    situao o individuo capaz de tomar decises, mudar e ajustar-se/adaptar-se. A vida d satisfao ao

    individuo que alcanou mestria ambiental.

  • 25

    2.2.1. Classificao das substncias psicoativas

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) classificou as drogas pelo seu grau de

    perigosidade, seguindo critrios como o maior ou menor perigo txico, a maior ou

    menor capacidade de provocar a dependncia fsica, e a maior ou menor rapidez em que

    esta dependncia se estabelece.

    Assim, com base nos critrios anteriores, as drogas so classificadas em quatro grupos,

    descritos na tabela que ser apresentada de seguida.

    Grupo 1: pio e derivados (morfina, herona);

    Grupo 2: Barbitricos e lcool;

    Grupo 3: Cocana e anfetaminas;

    Grupo 4: LSD, canabinides, tabaco, etc.

    Tabela 2 - Classificao das drogas por grupos nocivos, segundo a OMS

    (Baseado em OMS, 2003)

  • 26

    A dependncia de substncias txicas desencadeia reaes fisiolgicas no organismo

    causando tolerncia28 e dependncia fsica29 e psicolgica. A sua interrupo abruta

    causa por sua vez sndrome de abstinncia30

    Legenda: inexistente (-); ligeira (+); mdia (++); forte (+++); muito forte

    Tabela 3 - Grau de dependncia que cada substncia origina.

    (Baseado na OMS, 2003)

    28 O consumo persistente leva situao seguinte: para se obter o mesmo efeito torna-se necessrio o

    aumento progressivo das doses. 29 Alterao induzida no organismo pela droga, quando esta reduzida ou suspensa. este o mecanismo que conduz ao este o mecanismo que conduz sndrome de abstinncia. 30 Conjunto de manifestaes psicolgicas e fsicas. Os sintomas de dependncia fsica, quando no

    tratados, podem conduzir a situaes de verdadeira emergncia mdica. A sintomatologia varia de grupo

    para grupo para grupo de drogas.

    DROGA DEPENDNCIA FSICA

    DEPENDNCIA

    PSICOLGICA

    TOLERNCIA

    TABACO + + + +

    CANABINIDES - + + +

    LSD - + -

    INALANTES + + + + + +

    LCOOL + + + + + + + + +

    BENZODIAZEPINAS + + + +

    ANFETAMINAS + + + + + + + + +

    ECSTASY - + -

    COCANA - + + + + -

    HERONA + + + + + + + + + + + +

    METADONA + + + + + + + + +

    CAFENA + + + +

  • 27

    As substncias consumidas pela doente em estudo era cocana31, haxixe32 e herona33,

    cujos efeitos sero apresentados em formato tabela seguidamente.

    Tabela 4 - Efeitos positivos, negativos e tardios, das substncias (herona, cocana e haxixe

    (OMS, 2003)

    31 Provm da folha de uma planta designada Coca. Apresenta-se como p cristalino, branco, de sabor

    amargo. Habitualmente consumido por via nasal. 32 Deriva da planta designada Cannabis Sativa. Prepara-se prensando a resina da planta fmea,

    transformando-se numa barra acastanhada com o nome coloquial de Chamom 33 Pertence ao grupo dos opiceos mais prejudiciais. descendente direta da morfina, que por sua vez se

    obtm do pio, sendo este extrado atravs de uma planta designada papoula.

    Efeitos

    Substncia Positivo (esperado pelo

    consumidor)

    Negativo (Frequente em

    sobredosagem e em fases tardias de

    consumo continuado)

    Tardios por consumo

    continuado

    Herona Elimina a ansiedade e

    depresso, promove a

    confiana, euforia e

    extremo bem-estar.

    Clicas abdominais, confuso

    mental, convulses, paragem

    respiratria por inibio dos Centros

    Respiratrios e, se no houver

    assistncia teraputica rpida, a

    morte

    Anorexia, emagrecimento

    e desnutrio, obstipao,

    impotncia ou frigidez

    sexual, esterilidade,

    demncia, confuso e

    infees vrias (hepatites,

    Sida, endocardites quando

    a administrao

    endovenosa)

    Haxixe Elimina a ansiedade e

    promove sensao de

    bem-estar, desinibio,

    aumenta a capacidade de

    fantasiar, visualizao

    da realidade com mais

    intensidade (cores e sons

    mais distintos)

    Secura da boca, reaes de ansiedade

    e pnico (paradoxalmente mais

    comuns em fumadores experientes),

    agressividade e alucinaes.

    Pode desencadear uma

    doena mental (psicose)

    nos raros indivduos

    predispostos

    Cocana Estado de grande auto-

    confiana, euforia e

    energia. Aumento

    efmero da capacidade

    de concentrao,

    memorizao, rapidez

    de associao de ideias,

    maior fora muscular e

    diminuio da fadiga,

    sono, fome, sede ou frio

    Secura da boca, suores, febre,

    hipertenso e arritmias cardacas,

    irritabilidade, agressividade, tremores

    e convulses, delrios paranoides

    A exausto contnua pode provocar

    desidratao, problemas cardacos,

    renais e morte

    A cocana est frequentemente

    associada perfurao do septo nasal

    Emagrecimento,

    irritabilidade, delrios

    paranoides (sensao de

    ser perseguido por

    organizaes secretas,

    etc.)

    A perfurao do septo

    nasal uma complicao

    tpica do consumo inalado

    de cocana

  • 28

    3. HISTRIA CLNICA

    A histria clnica de um doente deve incluir um relato sobre a histria de doena atual,

    antecedentes pessoais, histria psicossocial e familiar. Na psiquiatria esta recolha

    fundamental de modo a percebermos todos os fatores que possam desencadear a doena

    e no caso concreto do PIAM, quais os fatores que desencadearam o inicio, continuao

    e ou fim do consumo de substncias ilcitas. (Baseado em Amaral, 2010)

    Neste captulo ir ser abordada a histria clnica da Sra. M, que se seguira de

    subcaptulos onde ser abordado de forma sucinta as patologias da utente.

    A Sra. M de 48 anos, solteira, residente no Porto, vive com o companheiro numa casa

    alugada. Tem historial de consumo de drogas e est em tratamento no PIAM, estando

    inserida no programa de substituio de opiceos. Cresceu com os pais, tem 12 irmos,

    nove rapazes e trs raparigas. Os pais da Sra. M (pai reformado de guarda prisional e

    me reformada em encadernaes), j faleceram ambos, sendo que o pai era saudvel e

    a me tinha como antecedentes bronquite e asma. Um dos irmos, era consumidor,

    seropositivo e encontrava-se em tratamento tendo falecido por complicaes associadas

    doena.

    A Sra. M, estudou at ao stimo ano de escolaridade e relata que faltava s aulas para ir

    para o caf pelo que quando o pai descobriu, este retirou-a da escola e colocou-a a

    trabalhar como ajudante de costureira.

    A histria de consumo de drogas inicia-se nesta altura onde juntamente com os amigos

    quando faltava a escola para ir para o caf, comeou a consumir Haxixe aos 14/15 anos

    de idade. No entanto aquando da descoberta do pai esta comeou a ter problemas em

    casa e a no poder sair, isolando-se no quarto, onde aos 19/20 anos comeou a fumar

    Haxixe e Herona.

    Iniciou tratamento por insistncia do pai que a levava ao CAT Boavista, para o realizar.

    Aos 20 anos decidiu ir trabalhar como auxiliar de Educao num colgio de Freiras em

    Miragaia. Foi nesta altura, na faixa etria entre os 20-30 anos, que a Sra. M conheceu o

    pai do primeiro filho, tambm ele consumidor, com quem vai viver durante um ano.

    Relata que durante a gravidez no deixou de consumir sendo que o beb nasceu com a

  • 29

    sndrome de privao tendo sido cuidado pelos avs, pais da Sra. M, para onde ela foi

    viver aps ter sado da casa que tinha conjuntamente com o pai do filho, que

    posteriormente foi preso por furto, sendo habitual vrias detenes por este tipo de

    infraes.

    O filho fica ao cuidado da av materna e a Sra. M sa de casa dos pais para ir viver com

    uma irm.

    Mais tarde conhece o atual companheiro (que separado e tem dois filhos um dos quais

    vive com av paterna), tambm ele consumidor, do qual posteriormente engravida.

    Por esta altura a Sra. M relata que j havia tido um aborto anterior, fruto da relao com

    o atual companheiro e que este no quer que esta leve a gravidez adiante, s que esta

    decidiu levar e afirma contar com o apoio da me e irms.

    Durante esta que viria a ser a ltima gravidez, a Sra. M afirma que consumiu cocana

    diariamente durante o primeiro trimestre e durante o resto da gravidez apenas consumia

    duas vezes por semana

    Por esta altura a Sra. M transferida para a instituio atual, PIAM, onde esteve

    integrada num projeto, destinado integrao profissional, onde manteve um emprego

    como funcionria de limpeza de condomnios. No entanto ao chegar ao fim do contrato

    o empregador optou por no a colocar no quadro da empresa, dando-lhe assim a carta

    para subsdio de desemprego, o qual ainda hoje recebe. Como a Sra. M trabalha de

    forma dedicada o empregador decidiu dar-lhe um emprego ainda que de forma irregular,

    ou seja do qual no desconta para a segurana social, onde esta retira um ordenado

    inferior ao ordenado mnimo. Estima-se que receba por volta de 1000, de onde retira o

    valor para o aluguer da casa 300 e o valor dos gastos do carro que o casal mantm.

    Na atualidade a Sra. M e o Sr. R encontram-se em fase de abstinncia de consumos. Ela

    por sua vez, mantm seguimento no PIAM assim como a filha L, que acompanhada

    por Pedopsiquiatria. Enquanto, que ele seguido pelo ET Oriental, onde mantm

    tratamento.

    Encontra-se a viver com o pai da filha L, numa casa alugada, qual s se dirige para ir

    dormir, pois tm dvidas com a companhia da gua e luz o que levou ao corte das

  • 30

    mesmas, sendo que desse modo a casa no rene condies nesse aspeto de

    habitabilidade.

    Vai diariamente a casa da sogra onde realiza todas as atividades de vida diria e onde a

    filha, habita atualmente. A filha L, est a frequentar um curso profissional e afirma estar

    feliz em casa da av pois sente um apoio que no sente quando ao habitar com os pais.

    A relao que mantem com a Sra. M por sua vez bastante conflituosa pois a me exige

    dela o impossvel, e no revela compreenso para as situaes em que no estejam de

    acordo. Afirma ainda que mantm uma relao mais prxima com o pai e que por vezes

    no compreende a me.

    Tem como antecedente clnico Hipertiroidismo e ndulos da tiroide, para a qual foi

    submetida a uma tiroidectomia total, seguindo tratamento com Eutirox, mas com baixa

    adeso s consultas subsequentes, (consulta agendada medica de famlia dia 12/11/14)

    Possui diagnsticos patolgicos ativos:

    Perturbaes mentais e de comportamento decorrentes do uso de opiides.

    Sndrome de dependncia atualmente em regime de manuteno ou substituio

    supervisionada (dependncia controlada)

    Perturbaes mentais e de comportamento decorrentes do uso de cocana.

    Sndrome de dependncia, atualmente abstinente

    Perturbaes da personalidade e do comportamento

    Perturbao Paranide

    A Sra. M est medicada para todas as patologias acima mencionadas, no entanto revela

    baixa adeso teraputica.

    3.1. PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES DO

    USO DE OPIIDES

    Os transtornos mentais e de comportamento associados ao uso de substncias

    psicoativas so um dos maiores problemas de sade pblica da humanidade e tm

    significativa participao no incremento da criminalidade, no somente pela questo do

  • 31

    trfico de drogas, mas tambm pelas alteraes mentais e de comportamento que o uso

    dessas substncias provoca. (Ramos, 2007)

    A expresso transtorno mental usada por motivos prticos para indicar aqueles

    transtornos mentais que no so induzidos por substncias e que no se devem a uma

    condio mdica geral. (DSM-IV, 2014)

    A caracterstica essencial da Dependncia de Substncia a presena de um

    agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiolgicos indicando que o

    indivduo continua utilizando uma substncia, apesar de problemas significativos

    relacionados a ela. Existe um padro de auto-administrao repetida que geralmente

    resulta em tolerncia, abstinncia e comportamento compulsivo de consumo da droga.

    (DSM-IV, 2014)

    O diagnstico de Dependncia de Substncia exige a obteno da histria detalhada a

    partir do indivduo e, sempre que possvel, de fontes adicionais de informaes. (DSM-

    IV, 2014)

    O uso de substncias muitas vezes faz parte do quadro sintomtico de transtornos

    mentais. Quando os sintomas so considerados consequncia fisiolgica direta de uma

    substncia, aplica-se o diagnstico de Transtorno Induzido por Substncia. Os

    Transtornos Relacionados a Substncias tambm so muitas vezes co mrbidos,

    complicando o curso e o tratamento de muitos transtornos mentais (por ex.,

    Transtornode Conduta em adolescentes, Transtorno da Personalidade Anti-Social e

    Borderline, Esquizofrenia e Transtornos do Humor). (DSM-IV, 2014)

    A herona (opiceo semi-sinttico) uma das drogas desta classe com maior abuso.

    (DSM-IV, 2014)

    A abstinncia de opiceos caracteriza-se por um padro de sinais e sintomas opostos aos

    dos efeitos agonistas agudos. Os primeiros so subjetivos e consistem em queixas de

    ansiedade, inquietao e uma sensao dolorida, frequentemente localizada nas costas

    e nas pernas, acompanhada pelo desejo de consumir opiceos (nsia) e por um

    comportamento de procura de droga, alm da sensibilidade, e aumento da dor. (DSM-

    IV, 2014)

  • 32

    No caso da herona os sintomas demoram entre seis e vinte e quatro horas aps a ltima

    dose. J os sintomas de abstinncia podem prolongar-se por semanas ou meses. (DSM-

    IV, 2014)

    3.2.PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES DO

    USO DE COCANA. ATUALMENTE ABSTINENTE.

    A cocana compartilha caractersticas das anfetaminas ou simpaticomimticos de ao

    similar. (DSM-IV,2014)

    Os sinais e sintomas de abstinncia esto frequentemente presentes, mas podem ser

    menos visveis, no caso de estimulantes tais como anfetaminas, cocana e nicotina.

    (DSM-IV,2014)

    Em alguns casos de Dependncia de Substncia, virtualmente todas as atividades da

    pessoa giram em torno da substncia. As atividades sociais, ocupacionais ou recreativas

    podem ser abandonadas ou reduzidas em virtude do seu uso. O indivduo pode afastar-

    se de atividades familiares e passatempos a fim de us-la em segredo para passar mais

    tempo com amigos usurios da substncia. (DSM-IV,2014)

    Apesar de admitir a sua contribuio para um problema psicolgico ou fsico a pessoa

    continua a usar a substncia. (DSM-IV,2014)

    Doses moderadas de cocana podem, inicialmente, produzir sociabilidade, mas um

    retraimento social pode desenvolver-se, caso essas doses sejam frequentemente

    repetidas. (DSM-IV,2014)

    Diferentes substncias (s vezes at mesmo diferentes classes de substncias) podem

    produzir sintomas idnticos. A Intoxicao com Cocana e a Intoxicao com

    Anfetaminas, por exemplo, podem apresentar um quadro de grandiosidade e

    hiperatividade, acompanhado de taquicardia, dilatao das pupilas, presso sangunea

    elevada e perspirao ou calafrios. (DSM-IV,2014)

    A Sndrome de abstinncia caracteriza-se pelo desenvolvimento de humor disfrico,

    acompanhados por uma ou mais das alteraes fisiolgicas seguintes: fadiga, sonhos

    vividos e desagradveis, insnia ou hipersnia, aumento do apetite e lentificao ou

    agitao psicomotora. (CID-10,2014)

  • 33

    A abstinncia da cocana acontece quando h uma interrupo (ou reduo) da

    utilizao macia e prolongada da cocana. (CID-10, 2014)

    3.3. PERTURBAES DA PERSONALIDADE E DE COMPORTAMENTO

    As alteraes da personalidade caracterizam-se por padres de perceo, de reao e de

    relao que so relativamente fixos, inflexveis e socialmente desadaptados, incluindo

    uma variedade de situaes. (DSM-IV, 2014)

    Cada um tem padres caractersticos de perceo e de relao com outras pessoas e

    situaes (traos pessoais), ou seja, toda a gente tende a confrontar-se com situaes

    stressantes com um estilo individual, mas repetitivo. Por exemplo, algumas pessoas

    tendem a responder sempre a uma situao problemtica procurando a ajuda de outros.

    Outras assumem sempre que podem lidar com os problemas por si prprias. Algumas

    pessoas minimizam os problemas, outras exageram-nos. Ainda que as pessoas tendam a

    responder sempre do mesmo modo a uma situao difcil, a maioria propensa a tentar

    outro caminho se a primeira resposta for ineficaz. Em contraste, as pessoas com

    alteraes da personalidade so to rgidas que no se podem adaptar realidade, o que

    debilita a sua capacidade operacional. Os seus padres desadaptados de pensamento e

    de comportamento tornam-se evidentes no incio da idade adulta, frequentemente antes,

    e tendem a durar toda a vida. So pessoas propensas a ter problemas nas suas relaes

    sociais e interpessoais e no trabalho. (Townsend, 2011)

    As pessoas com alteraes da personalidade no tm, geralmente, conscincia de que o

    seu comportamento ou os seus padres de pensamento so desadequados, mas, pelo

    contrrio, muitas vezes pensam que os seus padres so normais e corretos. frequente

    que os familiares os enviem para receber ajuda psiquitrica porque o seu

    comportamento desadequado causa dificuldades aos outros. (Baseado em CID-10,

    2014)

    Quando as pessoas com alteraes da personalidade procuram ajuda por si mesmas

    (frequentemente, por causa de frustraes), tendem a pensar que os seus problemas so

    provocados por outras pessoas ou por uma situao particularmente difcil, e no

    entendem que a sua personalidade que gera essas questes problemticas. Baseado em

    DSM-IV, 2014)

  • 34

    As alteraes da personalidade incluem os seguintes tipos: paranide, esquizide,

    esquizotpico, histrinico, narcisista, anti-social, limite, esquivo, dependente, obsessivo-

    compulsivo e passivo-agressivo. (Baseado em CID-10, 2014)

    3.4. PERTURBAO PARANIDE

    caracterstico das pessoas que apresentam perturbao paranoide que estas projetem

    os seus prprios conflitos e hostilidades para os outros. So geralmente frias e distantes

    nas suas relaes o que tendencialmente expe um conflito entre ambas as partes.

    tambm comum que tentem encontrar intenes hostis e malvolas nos atos triviais,

    inocentes ou mesmo positivos de outras pessoas e reagem com suspeio s mudanas

    nas situaes. Muitas vezes, as suspeitas conduzem a comportamentos agressivos ou

    rejeio por parte dos outros (resultados que parecem justificar os seus sentimentos

    originais). (Baseado em CID-10, 2014)

    Os que tm uma personalidade paranide tentam frequentemente aes legais contra

    outros, especialmente se se sentem indignados com razo. So incapazes de ver o seu

    prprio papel dentro de um conflito. Embora costumem trabalhar num isolamento

    relativo, podem ser altamente eficientes e conscienciosos. (Baseado em CID-10, 2014)

    A doente em caso apresenta uma personalidade tpica de uma perturbao paranoide,

    apresentando dificuldade nas relaes sociais mesmo entre a famlia.

    3.5.TIROIDECTOMIA TOTAL DECORRENTE DE HIPERTIROIDISMO E

    NDULOS TIROIDEUS

    A glndula tiroide uma parte do sistema endcrino e desempenha um papel importante

    na regulao do metabolismo corporal. Existem doenas que afetam a tiroide quer pela

    reduo da produo das hormonas T3 e T4, a que se d o nome de hipotiroidismo, quer

    pelo aumento excessivo da produo das mesmas hormonas, que se designa

    hipertiroidismo. (Baseado em Mohanan et al, 2010)

    O hipertiroidismo caracteriza-se ento por uma perturbao em que a tiride est

    hiperativa. (Baseado em Mohanan et al, 2010)

    O hipertiroidismo tem vrias causas, entre elas as reaes imunolgicas. Os doentes

    com tiroidite (inflamao da tiride), sofrem habitualmente uma fase de hipertiroidismo.

  • 35

    Os ndulos txicos (adenomas), zonas de tecido anmalo que crescem dentro da

    glndula tiride, alteram por vezes os mecanismos que controlam a glndula e

    produzem, por conseguinte, hormonas tirideas em grandes quantidades. Um doente

    pode ter um ndulo ou vrios. (Baseado em Mohanan et al, 2010)

    No hipertiroidismo, em geral, as funes do corpo aceleram-se. O corao bate mais

    depressa e pode desenvolver um ritmo anmalo, e o indivduo afetado pode chegar a

    sentir os batimentos do seu prprio corao (palpitaes). Tambm provvel que a

    presso arterial aumente. Muitos doentes com hipertiroidismo sentem calor mesmo

    numa habitao fria, a sua pele torna-se hmida, j que tendem a suar profusamente, e

    as mos podem tremer. Sentem-se nervosos, cansados e fracos, e apesar disso

    aumentam o seu nvel de atividade, aumenta o apetite, embora percam peso, dormem

    pouco e evacuam frequentemente. (Baseado em Mohanan et al, 2010)

    No caso da doente em estudo devido a patologia, hipertiroidismo e aos ndulos

    tiroideus, foi submetida a cirurgia tiroidectomia total. Esta, consiste na remoo da

    glndula tiroide, na sua totalidade, sendo feita uma inciso na parte frontal do pescoo,

    enquanto o paciente est sob anestesia geral. (Baseado em Mohanan et al, 2010)

    No caso da tiroidectomia total prescrito medicao de substituio/reposio das

    hormonas produzidas pela glndula e supresso da TSH, tal como no caso da doente em

    estudo. (Baseado em Mohanan et al, 2010)

    3.6. PROGRAMA DE SUBSTITUIO OPICEA

    A induo de antagonista opiceo praticada com o consentimento informado do

    Cliente e aps este ter completado um processo teraputico de desintoxicao fsica, a

    fim de evitar eventual sofrimento de sintomas de abstinncia. (Neto & CNEnfermagem,

    2009)

    As probabilidades de sucesso de um programa de substituio com metadona dependem

    muito do acompanhamento dado aos utentes, sendo tambm fundamental que se

    transmita e entenda que a soluo no passa somente pela prescrio de metadona,

    sendo esta apenas uma etapa do tratamento que exige outras intervenes.

  • 36

    Para o sucesso do programa necessrio que se garanta apoio psicoteraputico,

    reabilitao psicossocial e melhores cuidados de sade, aos utentes. Se estas dimenses

    no estiverem presentes ento no est em processo o tratamento, uma vez que no est

    assegurada a continuidade de no consumo e mudana de estilo de vida, o que poder

    originar a morte do individuo. Baseado em (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)

    Deste modo o programa consiste num tratamento de manuteno com objetivos simples

    sendo um desses a estabilidade do sistema opiceo. Como o cloridrato de Metadona tem

    uma semi-vida relativamente longa (24-36h), os seus nveis oscilam pouco entre a toma

    de doses tornando o paciente mais estvel.

    A durao mdia do tratamento com a metadona em Portugal de um a trs anos e o

    objetivo reduzir gradualmente a dose at se deixar de usar este frmaco. (Weissberg,

    2012)

    A metadona tem alto poder aditivo, ainda que este seja inferior ao da herona. Por ser

    txica e poder gerar comportamentos a sua administrao tem de ser cuidadosa e

    vigiada por enfermeiros. Tal como qualquer outro opiide a toma de doses extra de

    metadona e a mistura com sedativos ou lcool aumentam o risco de overdose.

    (Townsend, 2011)

    As vantagens da prescrio de metadona integrada em bons programas de tratamento

    so a reduo do uso de droga ilcita, a diminuio do consumo de opiceos ilegais, dos

    comportamentos criminosos e da mortalidade dos toxicodependentes. Alm disso, os

    doentes organizam mais facilmente outros aspetos das suas vidas. (Neto, E., &

    CNEnfermagem, 2009)

    Como no produz os mesmos efeitos psicolgicos que a herona e exige uma nica dose

    diria compatvel com uma vida ativa, estvel e organizada. A maior estabilidade dos

    pacientes resulta da supresso dos sintomas da sndrome de abstinncia e do

    acompanhamento psicoteraputico includo nos programas de tratamento. A

    administrao legal tambm evita que os toxicodependentes estejam em contacto com

    pessoas e ambientes do consumo de herona. (Townsend, 2011)

    Os pacientes de programas de substituio com metadona podem aceder a programas de

    baixo, mdio ou alto limiar. No baixo limiar fornecida metadona e assistncia mdica

  • 37

    e social bsica. Destina-se a toxicodependentes a viver em condies muito degradadas,

    muitas vezes doentes e com um percurso muito longo. O objetivo reduo de danos e

    riscos. Se a evoluo for boa podero passar a programas de alto limiar. No mdio

    limiar h seguimento mdico e psicossocial. J o alto limiar as normas so muito mais

    estreitas e o seu incumprimento pode levar expulso do programa. A oferta de

    cuidados de sade mais ampla que nos outros programas. (Townsend, 2011)

    De acordo com a boa evoluo do doente e do seu tratamento, as tomas do medicamento

    podem ser gradualmente e parcialmente feitas no domiclio. Tal como no caso da doente

    em estudo.

    Os objetivos do tratamento com metadona e manuteno de alto limiar devem ser claros

    e bem conhecidos pelos doentes e pela comunidade, sendo eles:

    Conseguir obter a abstinncia de consumos danosos;

    Conseguir executar o plano teraputico predefinido e evolutivo para a

    autonomia; (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)

    Em Portugal, os programas de substituio com metadona so, essencialmente,

    programas de alto limiar. Nos programas de alto limiar o grau de exigncia com os

    pacientes elevado. Existe controlo urina para detetar o consumo de substncias.

    tambm importante a ocupao em termos sociais, pois o programa de alto limiar serve

    de suporte para os pacientes terem um desempenho social. Discute-se a abstinncia

    como fim possvel. (Townsend, 2011)

    Tal como foi supramencionado a suspenso ou excluso deste programa pode acontecer,

    devendo desde o incio do tratamento, ser claras e aceites as regras a respeitar para

    poder permanecer no programa. (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)

    Podem ser razes para a suspenso ou para a excluso:

    As faltas sistemticas (trs seguidas);

    A recusa em fazer anlises;

    O desvio ou venda de metadona;

    A recusa em cumprir com o programa de metadona;

  • 38

    Agresso fsica ou verbal ou outra forma de violncia para com profissionais ou

    com doentes; (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)

    A maior parte dos toxicodependentes no tm apenas um problema de dependncia

    fsica e psquica da herona. Para alm da dependncia carregam muitas vezes situaes

    de vida graves. A metadona no uma cura por si s e, tratar estas pessoas no passa s

    pela sua prescrio. (Townsend, 2011)

    3.6.1. Cloridrato de metadona

    Produzido em laboratrio, o cloridrato de metadona um narctico do grupo

    dos opiides utilizado principalmente no tratamento da dependncia de herona.

    Este agonista opiide ajuda no alvio de sintomas caractersticos do consumo de droga

    como dores de cabea, diarreia, perda da libido, dificuldades em urinar, dores nas

    articulaes ou nervosismo. Nas mulheres os programas de substituio com metadona

    permitem normalizar o ciclo menstrual que o consumo de herona desregra.

    Apesar de ajudar no alvio de sintomas esta pode causar obstipao, suores, pele

    irritada, hipersensibilidade heptica e perda de apetite, sendo estes os principais efeitos

    adversos. (Townsend, 2011)

  • 39

    4. PROCESSO DE ENFERMAGEM

    O processo de enfermagem permite organizar, e prestar, os cuidados de enfermagem de

    que o doente precisa. Este usado para identificar, diagnosticar, e tratar reaes

    humanas sade e doena (Associao dos Enfermeiros Americanos, 1995). Trata-se de

    um processo contnuo e dinmico, que permite alterar os cuidados, medida que se

    alteram as necessidades do doente. uma abordagem que permite aos enfermeiros

    distinguir a sua prtica da dos mdicos e de outros profissionais de sade (Potter &

    Perry, 2006).

    O processo de enfermagem constitudo por 5 fases: apreciao inicial, diagnstico de

    enfermagem, planeamento, implementao e avaliao. Uma etapa d origem a outra,

    ou seja, a avaliao inicial consiste na recolha e anlise de dados e informao e,

    conduz etapa seguinte, a formulao do diagnstico de enfermagem. Ao diagnstico

    de enfermagem segue-se a execuo e avaliao o ltimo passo (Veiga, 2012).

    Na fase da apreciao inicial colhe-se informao sobre a pessoa, o que inclui dados

    sobre o seu estado fsico, como psicossocial. Os dados obtm-se atravs de entrevistas,

    observao, avaliao fsica, consulta dos registos mdicos e discusso com a famlia. A

    colheita inicial de dados faz-se quando a pessoa admitida no servio, no entanto, a

    recolha de dados um processo contnuo que atualizado sempre que o enfermeiro

    interage com a pessoa. a partir dos dados colhidos na avaliao inicial que

    estabelecida uma referncia para a comparao dos dados futuros, bem como para a

    identificao dos primeiros problemas do indivduo. Os dados colhidos usam-se para

    formular os diagnsticos de enfermagem, atravs da sua seleo, organizao e anlise

    (Sorensen & Luckman, 1998).

    O diagnstico de enfermagem o passo seguinte no processo de enfermagem, em que

    se d significado aos dados que se recolheu e organizou durante a avaliao inicial. O

    objetivo desta etapa identificar problemas de sade reais e potenciais, do doente que

    se possa evitar, reduzir ou solucionar. necessrio utilizar o pensamento crtico na

  • 40

    formulao de diagnsticos de enfermagem, para poder individualizar os cuidados de

    enfermagem (Potter & Perry, 2006).

    O planeamento o componente do comportamento de enfermagem em que se fixam os

    objetivos centrados no doente e se program intervenes para se atingir os objetivos.

    Esta etapa requer por parte do enfermeiro a utilizao de ponderao na tomada de

    decises e na resoluo de problemas, ao planificar os cuidados de enfermagem para

    cada doente. Durante o planeamento, estabelece prioridades, fixa objetivos, formula os

    resultados esperados, e elabora o plano de cuidados (Potter & Perry, 2006).

    O plano de cuidados inclui trs componentes: Diagnstico de Enfermagem,

    Intervenes de Enfermagem e Resultados de Enfermagem. (Sorensen & Luckman,

    1998). Os resultados esperados so declaraes que descrevem comportamentos que o

    doente demonstra se o diagnstico de enfermagem for superado (Veiga, 2012). As

    intervenes de enfermagem so as aes especificas realizadas para ajudar a pessoa a

    atingir os resultados esperados (Sorensen & Luckman, 1998). A fase de execuo

    consiste na prestao de cuidados de enfermagem e implica: prestao direta de

    cuidados; superviso dos cuidados prestados por outros; ensino; orientao;

    identificao da necessidade de encaminhamento; cumprimento de prescries de outros

    prestadores de cuidados de sade.

    Quanto implementao, consiste no inicio do comportamento de enfermagem, quando

    as aes, necessrias consecuo dos objetivos e dos resultados esperados dos

    cuidados de enfermagem, so iniciados e terminados. No processo de implementao

    deve-se seguir cinco aes preparatrias: reavaliar o doente, reler e alterar

    eventualmente o plano de cuidados, organizar recursos e a prestao de cuidados, prever

    e prevenir complicaes, e implementar intervenes de enfermagem.

    O enfermeiro responsvel pela avaliao dos cuidados prestados e f-lo pela

    formulao de juizos relativos eficcia e eficincia dos cuidados de enfermagem. A

    avaliao um processo continuo que acontece sempre que h contacto com o doente.

    Consiste na reviso adequada dos diagnsticos de enfermagem, dos resultados e das

    intervenes. (Sorensen & Luckman, 1998)

  • 41

    4.1. COLHEITA DE DADOS/AVALIAO INICIAL

    Quando o enfermeiro presta assistncia ao utente, deve faz-lo de forma sistemtica e

    cientfica, atravs de um mtodo que, sendo uma estrutura racional e adaptada para a

    Enfermagem, fornece a organizao e a direo aos vrios elementos da sua prtica,

    alm de um meio adequado para a previso de resultados, de previso de alternativas de

    ao e de avaliao dos resultados obtidos. (Amaral, 2010)

    Assim sendo a colheita de dados constitui a primeira fase do processo de enfermagem,

    em que se determina o estado em que o individuo se encontra no primeiro contacto que

    estabelecem. Baseado em (Amaral, 2010)

    A presente colheita de dados foi efetuada atravs do preenchimento dos itens presentes

    na avaliao instituda no PIAM, onde decorreu o estgio. Foi realizada ao longo do

    estgio em colaborao com os profissionais da equipa multidisciplinar do servio, e

    complementada atravs de consulta do processo clnico da utente e observao direta

    durante o contacto com esta. Os dados sero apresentados em forma de tabela, de modo

    a simplificar a sua consulta, com a explicao de alguns itens, em forma de texto.

    AVALIAO INICIAL

    IDENTIFICAO DA UTENTE

    NOME M.C.S.M

    DATA DE NASCIMENTO 01/10/1966

    ESTADO CIVIL Solteira

    NATURALIDADE Miragaia

    TELEFONE *********

    HABILITAES LITERRIAS 7 ano de escolaridade

    PROFISSO Empregada de Limpeza

    SITUAO PROFISSIONAL Desempregada

  • 42

    GRAVIDEZ

    GRVIDA ATUALMENTE? No

    N DE FILHOS Dois

    SEXO Um do sexo masculino e outro do feminino

    IDADE Rapaz 22 anos;

    Rapariga 15 anos;

    COM QUEM ESTO OS

    FILHOS?

    O rapaz est a viver com uma tia materna e a

    rapariga vive atualmente com a av paterna.

    HISTRIA TOXICODEPENDENCIA

    Tipo de

    Substncias

    Idade de

    incio

    Modo ou via

    de

    administrao

    Quantidade

    Diria

    Frequncia

    Herona 14/15

    anos

    Inalatria No

    especificado

    Diria

    Cocana 19/20

    anos

    Inalatria No

    especificado

    Diria

    Benzodiazepinas X34 X X X

    lcool X X X X

    34 Sem histria de consumo

  • 43

    Anfetaminas X X X X

    Canabinides 14/15

    anos

    Inalatria No

    especificado

    Diria

    HBITOS DE CONSUMO

    Iniciou a histria de consumo de drogas,

    juntamente com os amigos quando faltava a

    escola para ir para o caf. No entanto aquando

    da descoberta do pai esta comeou a ter

    problemas em casa e a no poder sair,

    isolando-se no quarto, onde aos 19/20 anos

    comeou a fumar Haxixe e Herona.

    Apenas consumia drogas pelo mtodo

    inalatrio/fumado.

    Consumiu durante ambas as gravidezes.

    TRATAMENTOS

    ANTERIORES

    Iniciou tratamento no CAT Boavista,

    Cedofeita.

    Tem tambm historial de internamento para

    soroterapia e desintoxicao j no CAT do

    Conde (atual PIAM).

    COMPANHEIRO

    TOXICODEPENDENTE? Sim

    ONDE EFETUA

    TRATAMENTO?

    ET Oriental

    SITUAO ECONMICA

    FONTE (S) DE RENDIMENTO? Subsdio de desemprego e ordenado da Sra. M.

    HABITAO Alugada

    AGREGADO FAMILIAR Sra.M e companheiro

  • 44

    HISTRIA FAMILIAR

    PROBLEMAS RELACIONADOS

    COM A FAMLIA

    Relao conflituosa com os irmos,

    excetuando uma irm. Tem uma relao

    problemtica com os filhos.

    A relao que mantm com a sogra

    problemtica e conflituosa, uma vez que

    no confia nela, recusando-se a comer

    tudo o que esta prepara para as refeies,

    devido desconfiana, caracterstica que

    comum na perturbao paranoide.

    J com o companheiro mantem uma

    relao conflituosa e agressiva, chegando-

    o a agredir e a sair de casa por diversas

    vezes, havendo no entanto, sempre

    reconciliaes. O Sr. R, apresenta-se

    sempre com educao mas com um humor

    que evidencia depresso.

    N DE IRMOS Doze, dos quais nove so rapazes e trs

    so raparigas.

    FAMILIAR

    TOXICODEPENDENTE?

    Irmo

    ONDE EFETUA TRATAMENTO Faleceu devido a complicaes associadas

    patologia (Consumidor e HIV)

    ANTECEDENTES PESSOAIS

    PROBLEMAS DE SADE NA

    FAMILIA

    Me Asmtica;

    Pai- saudvel

  • 45

    PROCESSOS JURIDICOS Sem processos

    PROSTITUIO _____________________

    DOENAS

    Hipertiroidismo;

    Perturbaes mentais e de

    comportamento decorrentes do uso

    de opiides. Sndrome de

    dependncia atualmente em regime

    de manuteno ou substituio

    supervisionada (dependncia

    controlada).

    Perturbaes mentais e de

    comportamento decorrentes do uso

    de cocana. Sndrome de

    dependncia, atualmente

    abstinente.

    Perturbaes da personalidade e do

    comportamento.

    Perturbao Paranide.

    COMPORTAMENTOS DE RISCO

    INJETOU PELO MENOS UMA VEZ

    QUALQUER TIPO DE DROGA?

    No

    J PARTILHOU MATERIAL E.V?

    No

  • 46

    NOS LTIMOS TRS MESES

    QUANTOS PARCEIROS SEXUAIS

    TEVE?

    Um companheiro.

    USA PRESERVATIVO?

    Nunca

    PADRO DE CONSUMO ATUAL

    Tipo de

    Substncias

    Modo ou via de

    administrao

    Quantidade

    Diria

    Frequncia

    Herona

    ATUALMENTE ABSTINENTE

    Cocana

    Benzodiazepinas

    lcool

    Anfetaminas

    Canabinides

    Outras

    RESULTADOS DO EMIT

    Tipo de

    Substncias

    Positivo

    Negativo

    Herona _ X

    Cocana _ X

  • 47

    Tabela 5 - Avaliao Inicial da Sra. M (segundo avaliao protocolada no servio)

    4.2.PLANO DE CUIDADOS

    Este plano engloba a fase de diagnstico, a fase de planeamento e de implementao.

    O diagnstico de enfermagem definido como o problema ou necessidade da pessoa ou

    da famlia, tendo por base o pensamento crtico da avaliao inicial e sobre as respostas

    da famlia e da criana aos processos de vida. (Hockenberry, 2006)

    A fase de planeamento ocorre quando formulamos intervenes de enfermagem, ou seja

    aes que iro contribuir para a resoluo do diagnstico, obtendo desta forma o

    resultado esperado. (Hockenberry, 2006)

    A fase de implementao fase ativa do processo de enfermagem em que so definidas

    estratgias de cumprimento das intervenes. (Hockenberry, 2006)

    O plano de cuidados, a seguir apresentado, constitudo por data de incio, foco de

    enfermagem, atividades de diagnstico, critrios de diagnstico, diagnstico, objetivos,

    intervenes e resultados de enfermagem, avaliao de enfermagem e data de termo.

    Benzodiazepinas _ _

    lcool _ _

    Anfetaminas _ _

    Canabinides _ X

    Outras _ _

  • 48

    DATA DE INICIO 22/10/2014

    FOCO DE ENFERMAGEM Abuso de substncias35

    ATIVIDADES DE DIAGNSTICO Avaliar o abuso de substncias

    CRITRIOS DE DIAGNSTICO A Sra. M encontra-se a ser seguida pelo

    PIAM, dado ter antecedentes de consumo

    de substncias ilcitas, tais como, herona,

    cocana e haxixe.

    Apesar de atualmente se encontrar

    abstinente est ainda inserida no programa

    de substituio opicea, sendo que se

    encontra no limiar alto, fazendo as doses de

    metadona em casa e vigilncia uma vez por

    semana, quando se dirige ao PIAM, para ir

    buscar as doses de medicao semanais. A

    utente por vezes pede a familiares para lhe

    levantarem a medicao o que se traduz

    num risco pois no h controlo semanal,

    nomeadamente atravs de teste de despiste

    de substncias urina.

    DIAGNSTICO DE

    ENFERMAGEM

    Risco de abuso de substncias

    OBJETIVOS Sem abuso de substncias

    INTERVENES DE

    ENFERMAGEM

    (22/10/2014) Rastrear o abuso de

    substncias, atravs do teste de urina

    (1x/semana)

    (22/10/2014) Avaliar o bem-estar fsico

    35 Define-se como comportamento comprometido: uso inadequado de substncia quimicamente ativa para

    um efeito no teraputico, que poder ser nocivo para a sade e causar adio. CIPE Verso 2

  • 49

    (1x/semana)

    (22/10/2014) Avaliar o bem-estar

    psicolgico (1x/semana)

    (22/10/2014) Reforar a consecuo de

    objetivos (1x/semana)

    RESULTADOS DE

    ENFERMAGEM

    Sem abuso de substncias

    AVALIAO DE

    ENFERMAGEM

    A utente atualmente abstinente de

    consumos e manteve essa abstinncia ao

    longo das avaliaes semanais que pude

    observar. Apresentou-se sem sinais ou

    sintomas de consumo de substncias, sendo

    que se reforou e elogiou a consecuo do

    seu objetivo que era neste caso deixar de

    consumir substncias.

    Apesar de apresentar um risco de voltar a

    consumir a utente tem neste momento um

    perodo de abstinncia prolongado,

    mantendo-se no programa de substituio a

    reduzir as doses de metadona.

    DATA DE FIM

    Tabela 6 - Diagnstico: Risco de abuso de substncias

  • 50

    DATA DE INICIO 22/10/2014

    FOCO DE ENFERMAGEM Socializao36

    ATIVIDADES DE DIAGNSTICO Avaliar a capacidade para socializar

    CRITRIOS DE DIAGNSTICO A Sra. M apresenta uma perturbao

    paranoide, o que se traduz na alterao da sua

    personalidade, sendo natural que esta adote

    um comportamento desconfiado e reticente

    em relao ao prximo.

    Sabe-se que a utente apresenta uma relao

    conflituosa e distante com a famlia.

    Aquando das consultas de enfermagem a Sra.

    M revela uma postura desconfiada, distante e

    por vezes mais agressiva.

    DIAGNSTICO DE ENFERMAGEM Capacidade para socializar, comprometida

    OBJETIVOS Socializao efetiva

    Capacidade para socializar, melhorada

    INTERVENES DE ENFERMAGEM (22/10/2014) Apoiar o status psicolgico

    (1x/semana);

    (22/10/2014) Promover o bem-estar so