estudo de caso enfermagem psiquiatria
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Estudo de caso psiquiatriaTRANSCRIPT
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Escola Superior de Enfermagem Santa Maria
Curso de Licenciatura em Enfermagem
Estgio II Sade Mental e Psiquiatria
Projeto Integrado de Atendimento Materno
Ano Letivo 2014/2015
4 Ano 7 Semestre
Estudo de Caso
Trabalho realizado por:
Lisandra Vitria Cardoso Ferraz, 50.2011
Porto, 30 de Outubro de 2014
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Escola Superior de Enfermagem Santa Maria
Curso de Licenciatura em Enfermagem
Estgio II Sade Mental e Psiquiatria
Projeto Integrado de Atendimento Materno
Ano Letivo 2014/2015
4 Ano 7 Semestre
Estudo de Caso
Trabalho realizado por:
Lisandra Vitria Ferraz, 50.2011
Docente:
Prof. Cristina Campos
Enfermeira Orientadora:
Enf. Patrcia Carvalho
Porto, 30 de Outubro de 2014
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Dizem que a vida para quem sabe viver mas ningum nasce pronto. A vida para
quem corajoso o suficiente para arriscar e humilde o bastante para aprender
Clarice Lispector
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AGRADECIMENTOS
Ao longo deste estgio, foram vrias as pessoas envolvidas na minha aprendizagem, que
com o seu apoio, compreenso, sabedoria e dedicao contriburam para o meu
crescimento pessoal e profissional e como tal sero enunciadas neste captulo do estudo
de caso.
Em primeiro lugar gostaria de agradecer utente abordada no estudo de caso, que me
permitiram a realizao do mesmo e colaborou para o seu enriquecimento.
Um especial agradecimento Enfermeira orientadora Patrcia Carvalho, que me
acompanhou ao longo do estgio contribuindo com a sua boa disposio, sabedoria,
apoio, incentivo e disponibilidade, tornando possvel a concretizao deste estudo de
caso e desenrolar do estgio, zelando sempre pela aprendizagem do grupo.
professora Cristina Campos orientadora da escola, pela forma atenciosa com que nos
guiou ao longo deste estgio e pela sua disponibilidade em nos esclarecer qualquer
questo e por nos proporcionar a realizao do mesmo.
Um especial agradecimento tambm ao enfermeiro Hlio Correia e a enfermeira Slvia
Teixeira que sempre com boa disposio, dedicao, sabedoria, acompanharam o grupo
de forma a nos integraram como membro da equipa de enfermagem.
No podia deixar de agradecer tcnica de referncia da utente abordada no estudo de
caso, a Dra. Glria Pimentel, que prontamente se disponibilizou a ajudar na recolha de
informao sobre a doente e na compreenso da sua histria de vida.
restante equipa multidisciplinar, em especial Dra. Irene, Dona Conceio ao Sr.
Eduardo, agradeo toda a ajuda e dedicao para a nossa integrao na instituio e pela
forma pronta que sempre ajudaram na resoluo de qualquer questo.
minha colega que sempre me ajudou quando necessrio e que me fez enriquecer a
nvel de experincia com diferentes personalidades e trabalho em dupla.
Aos restantes utentes e famlia que me permitiram a abordagem enquanto aluna de
enfermagem.
O meu muito obrigado!
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CHAVE DE SIGLAS
APA American Psychiatric Association;
ARS Administrao Regional de Sade;
CAD Comportamentos Aditivos e Dependncias;
CID 10- Classificao Internacional de Doena e Problemas relacionados com a sade;
CIPE - Classificao Internacional para a prtica de Enfermagem;
CRI Centro de respostas Integradas;
CT Comunidade teraputica;
DICAD Diviso dos comportamentos aditivos e das dependncias;
DSM IV- Manual de Diagnstico e Estatstica da Associao Norte-Americana de Psiquiatria;
EMIT Tcnica Imunoensaio Enzimtico de Multiplicao; IDT, I.P - Instituto da Droga e da Toxicodependncia;
OMS Organizao mundial de sade;
PIAM Projeto integrado de atendimento materno;
PNRCAD Plano Nacional para a reduo dos comportamentos aditivos e das
dependncias;
SICAD Servio de interveno nos comportamentos aditivos e nas
dependncias;
SRA.- Senhora;
UA Unidade de alcoologia;
UD Unidade de desabituao;
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RESUMO
O presente trabalho um estudo de caso individual sobre uma utente com antecedentes
de consumo de substncias ilcitas e com perturbaes da personalidade e
comportamento, mais especificamente perturbao paranoide, que se encontra inserida
no programa de substituio opicea do modelo de tratamento dos CAD, sendo
acompanhada pelo PIAM.
Tem como principal objetivo adquirir e renovar conhecimentos e realizar um plano de
cuidados eficaz com base no diagnstico de uma utente inserida no programa de
substituio opicea, nas suas necessidades biopsicossociais e na sua histria clnica.
Como mtodo de elaborao deste trabalho, em primeiro lugar, foi-me atribuda a utente
pela enfermeira Patrcia, de seguida realizei a colheita de dados sobre a utente junto da
mesma, dos enfermeiros e da tcnica de referncia da utente, a psicloga Glria
Pimentel, e baseando-me nos dados obtidos atravs do processo da mesma,
seguidamente analisei esses mesmos dados, fundamentando essa anlise em
conhecimentos tericos previamente adquiridos, de seguida realizei uma pesquisa
bibliogrfica em manuais na biblioteca da Escola Superior de Enfermagem de Santa
Maria, no PIAM, no site da Ordem dos Enfermeiros e no site do SICAD. Resumi essa
pesquisa com o fim de a expor no trabalho.
Por fim elaborei um processo de enfermagem, em Microsoft Word, com base na
evoluo da utente e na atuao de enfermagem abordando tambm a importncia da
equipa multidisciplinar em sade mental de forma holstica. Para a sua realizao
recorri CIPE Verso 2.
Os principais resultados deste estudo foram o aumento dos meus conhecimentos de
sade mental em especial toxicodependncia, o meu crescimento pessoal e profissional
a nvel prtico e o reconhecimento de um percurso marcado por vrias componentes que
levam ao tratamento da doente de dia para dia.
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SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................... 9
1. CONTEXTO HISTRICO DAS POLITICAS DE COMBATE
TOXICODEPENDNCIA EM PORTUGAL ............................................................ 12
1.1. PLANO NACIONAL PARA A REDUO DOS COMPORTAMENTOS
ADITIVOS E DAS DEPENDNCIAS ...................................................................... 13
1.2. ADMINISTRAO REGIONAL DE SADE DO NORTE ......................... 18
1.2.1. Projeto Integrado de Atendimento Materno ........................................ 19
2. FUNDAMENTAO TEORICA ....................................................................... 23
2.1. SADE MENTAL ........................................................................................... 23
2.2. TOXICODEPENDENCIA ............................................................................... 24
2.2.1. Classificao das substncias psicoativas.............................................. 25
3. HISTRIA CLNICA .......................................................................................... 28
3.1. PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES
DO USO DE OPIIDES ............................................................................................ 30
3.2. PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES
DO USO DE COCANA. ATUALMENTE ABSTINENTE. .................................... 32
3.3. PERTURBAES DA PERSONALIDADE E DE COMPORTAMENTO ... 33
3.4. PERTURBAO PARANIDE ..................................................................... 34
3.5. TIROIDECTOMIA TOTAL DECORRENTE DE HIPERTIROIDISMO E
NDULOS TIROIDEUS ........................................................................................... 34
3.6. PROGRAMA DE SUBSTITUIO OPICEA ............................................. 35
3.6.1. Cloridrato de metadona .............................................................................. 38
4. PROCESSO DE ENFERMAGEM ...................................................................... 39
4.1. COLHEITA DE DADOS/AVALIAO INICIAL ........................................ 41
4.2. PLANO DE CUIDADOS ................................................................................. 47
4.3. AVALIAO FINAL ..................................................................................... 58
5. REGIME TERAPEUTICO .................................................................................. 60
CONCLUSO ............................................................................................................... 63
ANEXOS ........................................................................................................................ 66
ANEXO I Avaliao inicial protocolada no servio ................................................ 67
ANEXO II Rtulo do frasco de Metadona ............................................................... 68
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INDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Indicadores de sade mental segundo Jahoda (1989) .............................. 24
Tabela 2 - Classificao das drogas por grupos nocivos, segundo a OMS .............. 25
Tabela 3 - Grau de dependncia que cada substncia origina. ................................. 26
Tabela 4 - Efeitos positivos, negativos e tardios, das substncias (herona, cocana e
haxixe) ............................................................................................................................ 27
Tabela 5 - Avaliao Inicial da Sra. M (segundo avaliao protocolada no servio)
......................................................................................................................................... 47
Tabela 6 - Diagnstico: Risco de abuso de substncias ............................................. 49
Tabela 7- Diagnstico: Capacidade para socializar comprometida ......................... 51
Tabela 8 - Diagnstico: Peso corporal, comprometido .............................................. 52
Tabela 9 - Diagnstico: Dfice de conhecimento sobre regime medicamentoso ...... 53
Tabela 10 - Diagnstico: Papel Parental, comprometido .......................................... 55
Tabela 11 - Diagnstico: Comportamento de procura de sade, comprometido .... 56
Tabela 12 - Diagnstico: Auto-imagem comprometid ............................................... 58
Tabela 13 - Frmaco Diplexil ....................................................................................... 61
Tabela 14 - Frmaco Risperidona ............................................................................... 61
Tabela 15 - Frmaco Metadona ................................................................................... 62
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INTRODUO
No mbito da Unidade Curricular Estgio II Sade Mental e Psiquiatria integrado no
Curso de Licenciatura em Enfermagem do 4 ano letivo da Escola Superior de
Enfermagem de Santa Maria, foi desenvolvido o presente estudo de caso, com base na
histria clnica de uma utente do Projeto Integrado de Atendimento Materno - PIAM.
O presente Estgio decorreu no PIAM, em Matosinhos, durante o perodo de 16 de
Outubro a 14 de Novembro.
A realizao de um estudo de caso constitui um dos mais antigos mtodos utilizados no
ensino de Enfermagem, uma vez que procura definir e sistematizar as intervenes
dessa rea, organizando o trabalho baseado no estabelecimento de aes e na anlise da
histria do doente. Este estudo deve descrever as aes e cuidados realizados, que
devem ainda seguir as orientaes dadas pela escola no incio e durante o ensino clnico.
O Projeto Integrado de Atendimento Materno destinadas a mulheres grvidas e
purperas toxicodependentes e seus filhos, funcionando em regime de ambulatrio,
dispe tambm de um protoloco ortogrado ao nvel de acompanhamento de ginecologia,
com o Centro Hospitalar do Porto Maternidade Jlio Dinis e as Unidades de Sade
Familiares. Este dispe de recursos que garantem um atendimento personalizado e
holstico a cada utente, permitindo um acompanhamento ao longo de diversas etapas do
ciclo vital intervindo em diversas reas (Medicina, Enfermagem, Psicologia e Servio
Social).
Para a realizao deste ensino clnico, auto propus-me a atingir um conjunto de
objetivos pessoais, que paralelamente com os definidos pela escola permitiram guiar o
trabalho que desenvolvi. Esses objetivos pessoais foram os seguintes:
Compreender as exigncias especficas do Enfermeiro em Sade Mental;
Compreender as exigncias do servio de Psiquiatria/Sade Mental;
Iniciar a minha prtica fazendo alguns dias de observao minuciosa das rotinas
de funcionamento, registos e dinmicas da equipa multidisciplinar;
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Executar as tarefas de acordo com as normas e os protocolos preconizados pela
instituio;
Adequar as estratgias de comunicao/comportamentos s diferentes situaes
de relacionamento com as utentes, famlia e equipa multidisciplinar;
Diagnosticar necessidades de cuidados de sade utente/filhos e de apoio
familiar;
Planear um plano de cuidados direcionado para as necessidades da utente
adaptando-o sua real situao, enquadrando-o num ponto de vista holstico;
Interagir e estabelecer uma relao teraputica com as utentes e famlia;
Comunicar com a utente e famlia de forma eficaz, mostrando disponibilidade e
interesse, desenvolvendo uma relao de ajuda e confiana tendo por base a
relao prxima e profissional de enfermeiro/utente;
Integrar-me na equipa multidisciplinar;
Aplicao e expanso das aprendizagens adquiridas ao longo da licenciatura at
ao momento, bem como a relao entre os conhecimentos tericos e a prtica;
Comunicar com consistncia e de forma clara a informao relevante sobre o
doente (de forma verbal, escrita e informtica);
Conseguir gerir as emoes sentidas;
Ser assduo e pontual;
Reconhecer os limites do meu papel como aluno e reconhecer as minhas
competncias adquiridas no final do Estgio.
Relativamente ao estudo de caso, este foi realizado com base na histria clnica de uma
utente inserida neste servio aconselhada pela enfermeira orientadora e que despoletou
o meu interesse no s pelos diagnsticos ativos como tambm pela histria de vida e
situao que a mesma enfrenta diariamente no ponto de vista biopsicossocial.
A realizao deste trabalho teve como principais objetivos:
Efetuar de forma sistemtica a colheita de dados e a apreciao dos mesmos na
aplicao do modelo desenvolvido pelo grupo (com base na CIPE verso 2.0);
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Planear um plano de cuidados direcionado para as necessidades da doente
adaptando-o sua real situao, enquadrando-o num ponto de vista social,
econmico e religioso;
Avaliar os resultados obtidos e reformular diagnsticos e intervenes sempre
que necessrio;
Compreender a articulao com outras reas, nomeadamente a Assistncia
Social, Medicina e Psicologia.
Aplicao das aprendizagens adquiridas ao longo da licenciatura at ao
momento, bem como a relao entre os conhecimentos tericos e a prtica;
Comunicar com consistncia e de forma clara a informao relevante sobre o
doente (de forma verbal, escrita e eletrnica)
Gerir emoes;
Diagnosticar necessidades de cuidados de sade do doente e de apoio familiar;
Compreender as exigncias especficas do Enfermeiro de cuidados gerais em
regime de ambulatrio.
Na elaborao deste trabalho, utilizei uma metodologia descritiva, esquemtica e de
observao direta, fundamentada na colheita de dados necessria para a realizao
deste, atravs da consulta do processo clnico da utente, da opinio dos enfermeiros que,
desde o primeiro instante o acompanharam e da prestao de cuidados diretos mesma
durante as consultas de enfermagem.
Ao longo do trabalho no referenciamos nenhum dado que comprometa a identificao
e privacidade do doente, salvaguardando o ponto 9 que consta na Carta dos Doentes
Internados e o artigo 85, alnea d) Do dever de Sigilo como consta no Cdigo
Deontolgico dos Enfermeiros.
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1. CONTEXTO HISTRICO DAS POLITICAS DE COMBATE
TOXICODEPENDNCIA EM PORTUGAL
Em Portugal, tal como na maioria dos pases a histria da evoluo das polticas da
droga, comea a desenhar-se na primeira metade do sculo 20 com a transposio para a
legislao nacional das disposies e recomendaes introduzidas pela Conveno
Internacional do pio, assinada em Haia, em 23 de janeiro de 1912. Assim a primeira
legislao publicada em Portugal em matria de drogas data de 1924. (SICAD, 2012)
O fenmeno do uso/abuso de produtos psicotrpicos e substncias estupefacientes
inicia-se, sem a expresso e o impacto social do fenmeno noutros pases da europa, a
partir do incio dos anos 70. a partir desta altura que so dados os primeiros passos no
sentido de criar uma resposta pblica a esta problemtica, nomeadamente atravs da
criao, em 1973, de uma consulta especfica de toxicodependncia, no Servio de
Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. (SICAD, 2012)
apenas em 1975, na dependncia da Presidncia do Conselho de Ministros, que so
criadas as primeiras estruturas para fazer face a este novo fenmeno, nomeadamente o
Centro de Estudos da Juventude, ao qual competia uma vertente mais preventiva e de
tratamento mdico-social, e o Centro de Investigao Judiciria da Droga, com atuao
na rea da represso e fiscalizao do trfico ilcito de drogas. Ambos os centros so
extintos em 1976 havendo a criao do Centro de Estudos da Profilaxia da Droga, com
competncias nos domnios da preveno, tratamento e insero social do
toxicodependente, e a criao do Centro de Investigao e Controle da Droga, com
competncia na rea da represso do trfico ilcito de drogas. Estes dois organismos
passam a ser coordenados por um terceiro, o Gabinete Coordenador do Combate
Droga, ao qual competia a coordenao das atividades por estes desenvolvidos sob a
tutela do Ministrio da Justia. (SICAD, 2012)
j nos anos 90 que se inicia uma transio, atravs do Projeto VIDA, das respostas de
preveno, tratamento reinsero para a rea da sade, nomeadamente, com a criao,
no Ministrio da sade do Servio de Preveno e Tratamento da Toxicodependncia e
que procedeu ao alargamento da rede de servios pblicos para o tratamento e
reinsero de toxicodependentes, por forma a garantir o acesso a cuidados de preveno,
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tratamento e reinsero social e profissional de todos os cidados afetados pela
toxicodependncia. (SICAD, 2012)
No, entanto, e no obstante terem sido criadas vrias respostas nesta rea, Portugal
enfrentava, no final dos anos noventa, um grave problema social e de sade pblica, por
causa do fenmeno da toxicodependncia, em particular no que diz respeito ao consumo
problemtico de herona. (SICAD, 2012)
O problema da toxicodependncia tornou-se uma das principais preocupaes
portuguesas, chegando mesmo a ser apontado como o principal problema social do pas.
(SICAD, 2012)
1.1. PLANO NACIONAL PARA A REDUO DOS COMPORTAMENTOS
ADITIVOS E DAS DEPENDNCIAS
O Plano Nacional para a Reduo dos Comportamentos Aditivos e das Dependncias
2013 - 2020, surge na sequncia do fim do ciclo do Plano Nacional Contra a Droga e as
Toxicodependncias 2005 2012 (PNCDT) e da redefinio das polticas e dos servios
de sade. Perante os novos desafios que foram identificados nos ltimos anos, foi
decidido ampliar a abordagem e as respostas ao mbito de outros Comportamentos
Aditivos e Dependncias (CAD), que no incluem apenas as substncias psicoativas.
Deste modo com a publicao da nova orgnica do Ministrio da Sade, aprovada pelo
Decreto-Lei n. 124/2011, de 29 de dezembro, o Governo procedeu criao do Servio
de Interveno nos Comportamentos Aditivos e nas Dependncias (SICAD),
extinguindo, em consequncia, o Instituto da Droga e da Toxicodependncia, I. P.,
cometendo s Administraes Regionais de Sade, I. P. a componente de
operacionalizao das polticas de sade. (SICAD, 2012)
O PNRCAD constitui-se, assim, como uma inovao importante no domnio das
polticas de sade, na medida em que estas problemticas encerram riscos e custos aos
quais importante fazer face pelas repercusses e impacto que tm na vida dos
indivduos, das famlias e da sociedade. Investir-se- em dois grandes domnios: a
reduo da procura e a reduo da oferta dando, de forma equilibrada, a devida
relevncia s duas abordagens. (Dependncias, 2013)
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No que se refere reduo da procura, o Cidado constitui o centro da conceptualizao
das polticas e intervenes nos CAD, tendo como pressuposto de base que
fundamental responder s necessidades dos indivduos, perspetivadas de forma
dinmica no contnuo do seu ciclo de vida. Pretende-se desenvolver intervenes
globais e abrangentes que integrem um contnuo que vai da promoo da sade,
preveno, dissuaso, reduo de riscos e minimizao de danos (RRMD), tratamento e
a reinsero social. Naturalmente, tais intervenes desenvolver-se-o de acordo com o
quadro legal em vigor no que se refere ao uso e abuso de substncias psicoativas licitas
e ilcitas, e pretendem promover a sade e o acesso dos indivduos aos cuidados e
servios de que efetivamente necessitam, tendo traduo no aumento de ganhos em
sade e bem-estar social. (Dependncias, 2013)
No que se refere reduo da oferta, a diminuio da disponibilidade e do acesso s
substncias ilcitas tradicionais e s novas substncias psicoativas, a regulamentao do
mercado das substncias lcitas e respetiva fiscalizao e harmonizao dos dispositivos
legais j existentes ou a desenvolver, nomeadamente no que se referente rea do jogo
e a internet, Plano Nacional para a Reduo dos Comportamentos Aditivos e das
Dependncias 2013-2020 constituem o centro das polticas e intervenes, assente no
pressuposto da cooperao nacional e internacional. (Dependncias, 2013)
Deste modo o diploma orgnico do SICAD, aprovado pelo Decreto-Lei n. 17/2012, de
26 de janeiro, concretiza uma inovao assente na opo de reforo da componente de
planeamento e acompanhamento de programas de reduo do consumo de substncias
psicoativas, na preveno dos comportamentos aditivos e na diminuio das
dependncias. Por sua vez, a componente de operacionalizao das intervenes
concentrada no mbito de atuao das Administraes Regionais de Sade (ARS)1.
(SICAD, 2012)
Embora o SICAD, no tenha agora, responsabilidade direta sobre os servios de
interveno local, tambm para eles que o SICAD desenvolver instrumentos tcnicos
normativos e linhas de orientao que garantam e sustentem boas prticas de forma
mais alargada. Dar-se- incio a um novo ciclo, agora com o alargamento das
1 As administraes Regionais de Sade subdividem-se em administrao regional de sade do Norte,
Lisboa e Vale do Tejo, Centro, Alentejo e Algarve. Cfr.: (Oliveira, 2011)
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competncias aos comportamentos aditivos s dependncias em geral, o que implicar o
envolvimento de novos parceiros, bem de novas estratgias de atuao. (SICAD, 2012)
O desafio que se coloca ao SICAD o de, no quadro das mudanas introduzidas e sem
perder a qualidade at aqui alcanada, conseguir contribuir para o alargamento do
mbito da interveno rentabilizando e potenciando a utilizao dos recursos existentes.
(SICAD, 2012)
Desta forma o SICAD tem como misso promover a reduo do consumo de
substncias psicoativas, a preveno dos comportamentos aditivos e a diminuio das
dependncias, possuindo uma viso na perspetiva do PNRCAD, onde este por sua vez
se constitui como entidade que consolida e aprofunda uma poltica pblica integrada e
eficaz no mbito dos Comportamentos Aditivos e das Dependncias, baseada na
articulao intersectorial, visando ganhos sustentveis em sade e bem-estar social.
No mbito do PNRCAD o SICAD, rege-se pelos princpios consagrados no ciclo
estratgico2 anterior destacando-se:
Humanismo: Cuja aceo reconhecer pessoa a sua plena dignidade humana,
compreendendo a complexidade e relevncia da sua histria pessoal, sendo a
dependncia considerada uma doena. Assumir que o/a dependente uma
pessoa doente representa a aceitao incondicional de que o outro, mesmo num
estado de rutura com valores fundamentais da vida em sociedade, deve ser alvo
de um olhar de compreenso e empatia que lhe permita um movimento de
mudana.
Conhecimento, inovao e pragmatismo: Em que se valoriza o produzir
conhecimento de forma a contribuir para a melhoria da qualidade de vida do
cidado, sem dogmas ou ideias preconcebidas face aos resultados baseados na
evidncia cientfica e promover a inovao das atividades, antecipando-se aos
desenvolvimentos do fenmeno.
Cooperao: Onde se configura um valor que promovemos e est na base de
toda a nossa ao. Trabalhar de forma integrada e potenciar o envolvimento dos
2 Princpios da cooperao internacional, da preveno, do humanismo, do pragmatismo, da segurana, da
coordenao e racionalizao de meios, da subsidiariedade e da participao.
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parceiros nacionais e internacionais na definio das estratgias e no
compromisso partilhado para alcanar as metas estabelecidas fundamental para
potenciar respostas eficientes e eficazes.
Confiana: Onde se fomenta a criao de relaes e alianas estratgicas
baseadas no altrusmo e na reciprocidade e que aspirem a preservar-se para alm
do presente. Pretendemos incrementar os ndices de satisfao e de
comprometimento com a organizao, estimular a abertura para novos
compromissos e preparar a organizao para enfrentar ambientes mais instveis
ou competitivos.
Transparncia: Em que se promove a abertura e clareza na conduo do servio
pblico que prestamos, porque queremos fortalecer a legitimidade social da
nossa ao. Quanto melhor divulgarmos de forma transparente (simples, objetiva
e clara) o que fazemos, maior a possibilidade de se obter o reconhecimento do
posicionamento estratgico do SICAD na rede de stakeholders3.
Assim sendo o ministrio da sade concede as seguintes atribuies ao SICAD:
Apoiar o membro do Governo responsvel pela rea da sade na definio
da estratgia nacional e das polticas de reduo do consumo de substncias
psicoativas, de preveno dos comportamentos aditivos e da diminuio das
dependncias e sua avaliao;
Planear e avaliar os programas de preveno, reduo de riscos e
minimizao de danos, de reinsero social e de tratamento do consumo de
substncias psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependncias,
designadamente definindo normas, metodologias e requisitos a satisfazer
para garantir a qualidade;
Planear a interveno no mbito dos comportamentos aditivos e das
dependncias, atravs de uma rede de referenciao entre cuidados
primrios, centros de respostas integradas e unidades de internamento ou
unidades hospitalares, consoante a gravidade da dependncia ou dos
consumos de substncias psicoativas;
3 Termo utilizado na rea de administrao para pblico estratgico. Descreve uma pessoa ou grupo que
fez um investimento ou tem aes ou interesse em uma empresa, negcio ou indstria. Cfr.:
http://www.significados.com.br/stakeholder/
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Desenvolver, promover e estimular a investigao cientfica no domnio das
substncias psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependncias e
manter um sistema de informao sobre o fenmeno da droga e das
toxicodependncias;
Desenvolver mecanismos de planeamento e coordenao efetivos
conducentes definio das polticas para as intervenes no mbito dos
comportamentos aditivos e dependncias;
Efetuar diagnsticos de necessidades de interveno de mbito nacional,
definir as prioridades e o tipo de interveno a desenvolver;
Definir as linhas de orientao tcnica e normativa para a interveno nas
reas dos comportamentos aditivos e das dependncias;
Promover a formao no domnio das substncias psicoativas, dos
comportamentos aditivos e das dependncias;
Assegurar a recolha, tratamento e divulgao dos dados e informao dos
servios pblicos e das entidades privadas com interveno no domnio das
substncias psicoativas, dos comportamentos aditivos e das dependncias;
Assegurar a representao internacional, no domnio das suas competncias
e atribuies especficas, sem prejuzo das competncias prprias do
Ministrio dos Negcios Estrangeiros, bem como garantir o cumprimento
das obrigaes enquanto ponto focal nacional da Rede Europeia de
Informao sobre Toxicodependncia do Observatrio Europeu das Drogas e
da Toxicodependncia, em coordenao com a Direco-Geral da Sade,
enquanto entidade responsvel pelas relaes internacionais do Ministrio da
Sade;
Prestar o apoio tcnico e administrativo e garantir as infraestruturas
necessrias ao funcionamento das Comisses para a Dissuaso da
Toxicodependncia;
Definir os requisitos para o licenciamento de unidades privadas prestadoras
de cuidados de sade na rea das dependncias e comportamentos aditivos.
Funcionando com as Administraes Regionais de Sade como parte integrante e
fundamental de modo a responder s necessidades do pblico-alvo o SICAD delega
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nestas o trabalho de dar resposta s demais instituies preconizadas para esta rea de
interveno na sade. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)
1.2. ADMINISTRAO REGIONAL DE SADE DO NORTE
A ARS Norte contempla diviso dos comportamentos aditivos e das dependncias onde
se inserem como as seguintes unidades de interveno local:
Centros de Respostas Integradas, designados por CRI4;
Unidade de Desabituao, designados por UD5;
Comunidade teraputica, designada por CT6;
Unidade de alcoologia, designada por UA7;
Esta diviso contempla ainda dois projetos integrados:
Projeto Integrado de Atendimento Materno, designado por PIAM, ao qual
compete a prestao de cuidados integrados e globais a mulheres grvidas e
purperas toxicodependentes e seus filhos, seguindo modalidades teraputicas
mais adequadas a cada situao, em regime ambulatrio, com vista ao
tratamento, reduo de danos e reinsero dessas doentes;
Projeto Integrado de Apoio comunidade, designado por PIAC, ao qual
compete a prestao de um servio de apoio comunidade no mbito da
preveno seletiva e indicada, fornecendo um espao de consulta a jovens e
adultos em dificuldades, promovendo a informao, sensibilizao e formao
4 Estruturas locais de cariz operativo e de administrao, referenciados a um territrio definido e dispondo
de equipas tcnicas especializadas multidisciplinares para as diversas reas de misso dedicadas ao
tratamento, preveno, reinsero e reduo de riscos e minimizao de danos das toxicodependncias e
alcoolismo. 5 Compete, designadamente, realizar o tratamento de sndromes de privao em doentes
toxicodependentes e doentes com sndrome de abuso ou dependncia de lcool, sob responsabilidade
mdica, em regime de internamento. 6 Compete prestar cuidados a doentes toxicodependentes e doentes com sndrome de abuso ou
dependncia de lcool que necessitem de internamento prolongado, com apoio psicoteraputico e
scioteraputico, sob superviso psiquitrica. 7 Compete prestar cuidados integrados e globais, em regime ambulatrio ou de internamente, sob a
responsabilidade mdica, a doentes com sndrome de abuso ou dependncia de lcool, seguindo as
modalidades de tratamento mais adequadas a cada situao e apoiando as actividades de interveno dos
CRI na rea de alcoologia, enquanto unidades especializadas, de referncia com competncias de
formao especfica.
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de adultos significativos que possam estar em contacto com jovens, em
dificuldades ou no, assim como fornecendo um espao de consultadoria e apoio
tcnico s instituies que lidam com os jovens em risco;
(Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)
1.2.1. Projeto Integrado de Atendimento Materno
O Projeto Integrado de Atendimento Materno (P.I.A.M.) da ARS Norte, IP Diviso
para a Interveno nos Comportamentos Aditivos e Dependncias disponibiliza um
conjunto diversificado de respostas na rea da preveno, reduo de riscos e
minimizao de danos, tratamento e reinsero populao feminina, com histria de
consumo de drogas e lcool, e suas crianas. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,
2010)
Esta instituio possui uma equipa multidisciplinar que rene esforos de diversas reas
tais como a medicina, enfermagem, psicologia e servio social, para discutir cada caso
como um s, trabalhando todas as suas caractersticas e utilizando uma viso holstica
procurando entender e auxiliar todas as particularidades da sua situao de vida.
(Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)
1.2.1.1. Misso
O PIAM, um projeto de mbito regional da ARS do Norte e tem como competncias
prestar cuidados integrados e globais a mulheres grvidas e purperas
toxicodependentes e seus filhos. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)
1.2.1.2. Localizao
O PIAM faz parte da estrutura fsica do antigo Hospital de Matosinhos e encontra-se
situado na Rua Alfredo Cunha, n367, em Matosinhos, funcionando de segunda-feira a
sexta-feira entre as oito e as dezassete horas. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,
2010)
1.2.1.3. Estrutura fsica
O edifcio onde se encontra instalado, encontra-se distribudo por dois pisos do mesmo
com a entrada principal virada a sul.
-
20
A entrada no servio faz-se pelo acesso principal que nos leva ao piso um onde existe
uma receo e sala de espera8, dois gabinetes de enfermagem9, o gabinete da enfermeira
responsvel10, uma casa de banho11, uma sala12, dois gabinetes tcnicos13 e uma sala de
atividades designada por Lucoteca14.
J no piso dois existe uma secretaria da unidade e arquivo15, um gabinete do diretor de
servio16, uma sala de reunies17, um gabinete do servio social18, um gabinete
designado sala de grupos19, trs gabinetes tcnicos20, uma sala de caf, duas casas de
banho e um quarto de internamento parcial21. (Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,
2010)
8 Sala de espera equipada com cadeiras, televiso e algumas revistas, onde as utentes so recebidas
chegada por um assistente tcnico e por uma assistente operacional que faz a gesto de acessos. 9 Gabinetes equipados para a realizao de intervenes de enfermagem que se destinam ao acolhimento
agradvel do doente. Um deles est devidamente equipado para a realizao de consulta de ginecologia e
planeamento familiar. 10 Espao amplo onde para alm das funes inerentes gesto do servio, tem tambm como funo o
acolhimento de enfermagem a novas utentes (avaliao inicial, entrevista, interaco com necessidade de
privacidade, testes klotho (teste de despiste do HIV), anlises de rotina, entre outras). Existe um armrio
de stock de medicao e um cofre destinado a armazenamento da Metadona. 11 Devidamente equipada que permite a realizao de cuidados de higiene pessoal a doentes com dfice
no auto-cuidado higiene, estando tambm equipado para cuidados aos filhos das doentes. 12 Destinada a isolamento de doentes com patologias infeto-contagiosas nomeadamente vrus da bola.
Possui um armrio com stock de material (Equipamento de proteo individual EPI), e um WC e polib. 13 Um onde funciona a Pedopsiquiatria devidamente equipado com material adequado faixa etria dos
utentes, outro onde se realizam intervenes psicoteraputicas (Terapias familiares Cognitivas,
Comportamentais, entre outras), da responsabilidade da Psicologia. 14 Espao amplo dividido em reas fsicas de acordo com a idade das crianas. Cada rea est equipada
com material ldico e didtico selecionado criteriosamente de acordo com as capacidades cognitivas
inerentes fase de desenvolvimento em que se encontram. Este espao tem permanentemente uma
Educadora de Infncia, que desenvolve atividades inerentes ao seu contedo funcional. Uma assistente
operacional colabora em cuidados de higiene e alimentao das crianas mais pequenas. um espao
com fundamental importncia, j que aqui ficam as crianas durante o momento em que as mes esto em
consulta, exame ou outra atividade. 15 Onde diariamente dois funcionrios se dedicam gesto dos aspetos burocrticos da Unidade. Sala
onde funciona o arquivo de processos antigos e atuais. 16 Gabinete se realiza a coordenao da equipa multidisciplinar e consultas de psiquiatria. Espao
agradvel e acolhedor. 17 Espao fsico bem dimensionado, bem equipado e perfeitamente adequado para a realizao de
reunies multidisciplinares, que se realizam no final da semana (Sexta-Feira). 18 Gabinete de apoio s tcnicas do servio Social no exerccio das suas funes. 19 Espao utilizado para efetuar aes de educao para a Sade sobre a gravidez, parto e competncias
maternais. Utilizado tambm para formaes em servio. 20 Destinados atividade dos Psiclogos da unidade. 21 Quarto destinado a proporcionar internamentos em regime de hospital de dia. utilizado para efetuar
administrao de soroterapia, ou outros tratamentos que necessitem de vigilncia mais alargada.
-
21
1.2.1.4. Equipa multidisciplinar
A multidisciplinaridade nos contextos de trabalho em sade de fundamental
importncia. Numa rea como a toxicodependncia devemos ainda reforar mais esta
ideia, pela necessidade de articulao quase permanente de todos os tcnicos.
Deste modo o PIAM dispe de uma equipa multidisciplinar, que abrange grande parte
das valncias necessrias prestao de cuidados e assistncia populao alvo.
Alguns tcnicos fazem parte do quadro ou mapa da instituio, enquanto outros prestam
assistncia ao abrigo de protocolos estabelecidos com o SICAD e os recursos de sade,
nomeadamente com o Centro Hospitalar do Porto (Maternidade Jlio Dinis).
Assim sendo a equipa integra elementos com longa e comprovada experincia nesta
rea (desde 1990) e composta por um Psiquiatra, um Pedopsiquiatra (4h30 horas /
semana), um Obstetra (6h30 horas / semana), quatro Psiclogos, trs Assistentes
Sociais, trs Enfermeiras, dois Assistentes Tcnicos e trs Tcnicos Operacionais.
(Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S, 2010)
1.2.1.5. Recursos de sade disponibilizados
Graas a uma equipa multidisciplinar funcionante o PIAM dispe de recursos de sade
a diversos nvel sendo estes:
Consultas de Enfermagem;
Consultas Mdicas;
Consultas de Planeamento
Familiar e Ginecologia, com o
objetivo de prestar cudados do
foro ginecolgico mulher nas
diferentes etapas da vida;
Consulta Antitabgica;
Consulta de Jovens e
Adolescentes;
Grupos de Educao para a
Sade;
Apoio Psicossocial s Famlias;
Terapia Familiar;
Visitao Domiciliaria
multidisciplinar;
Ergoterapia;
Programas de Tratamento de
substituio com o objetivo de
reduo de danos e minimizao
de riscos;
Rastreio de doenas infeto-
contagiosas;
-
22
Administrao de Teraputica
Antiretroviral, tuberculosttica,
entre outras;
Tratamento de feridas;
Superviso do cumprimento do
Plano Nacional de Vacinao;
Colheita de espcimenes para
anlises de rotina e protocolos
com o Centro Hospitalar do
Porto (ex. pr-operatrias);
Acompanhamento em trajetos de
vida, assim como na reinsero
social (programa vida emprego);
Articulao com vrias reas de
cuidados de sade;
Internamento Parcial
Soroterapia;
(Correia, H., Carvalho, P., & Teixeira, S,
2010)
-
23
2. FUNDAMENTAO TEORICA
Neste captulo sero abordadas temticas referentes utente em estudo, tais como a
toxicodependncia, as classes de substncias psicoativas e patologias da utente das
quais se verificou necessidade de aprofundar conhecimentos de modo a no
comprometer a prestao de cuidados de sade personalizados e focados na viso
holstica.
2.1. SADE MENTAL
A American Psychiatric Association (APA, 2003), define sade mental como um estado
que relativo em vez de absoluto. O desempenho com sucesso de funes mentais
demonstrado por atividades produtivas, relaes satisfatrias com outras pessoas e a
capacidade para se adaptar mudana e de lidar com a adversidade.
Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS, 2003) sade mental definida como
o estado de bem-estar no qual o indivduo realiza as suas capacidades, pode fazer face
ao stress normal da vida, de forma produtiva e frutfera e contribuir para a comunidade
em que se insere.
No se pode considerar que as alteraes que ocorrem a nvel comportamental e as
perturbaes psquicas sejam traduzidas em termos de Doena Mental. A sade mental
corresponde a uma constante tentativa de adaptao do individuo ao meio em que se
insere, no sentido de manter estvel a relao harmoniosa e quando a adaptao no
satisfatria para a sociedade ou para o individuo, no se devendo considerar a existncia
de fracasso ou ausncia de capacidades para o sucesso ou a existncia de doena
psquica. (Amaral, 2010)
Alguns fatores so considerados como critrios determinantes de graduao relativa
existncia de sade mental. Jahoda (1989) identificou seis indicadores de sade mental
que de seguida sero apresentados em formato tabela.
-
24
Atitudes positivas22 em relao a si prprio e aos outros
Crescimento, desenvolvimento e capacidade de alcanar a auto-realizao23
Perceo da realidade24
Integrao25
Autonomia26
Mestria ambiental27
(Townsend, 2011).
Tabela 1 - Indicadores de sade mental segundo Jahoda (1989)
2.2. TOXICODEPENDENCIA
Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS, 1993) a dependncia de substncias
txicas (toxicodependncia) traduz-se num estado de intoxicao crnica do organismo
que organismo que prejudicial ao indivduo e sociedade e que produzido pela
administrao de uma droga (natural ou sinttica) que se caracteriza por um desejo ou
caracteriza por um desejo ou necessidade incoercvel de continuar com a sua
administrao.
22 Viso objetiva de si prprio, incluindo conhecimento e aceitao das suas foras e limitaes. O
individuo sente um forte sentido de identidade pessoal e segurana dentro do seu ambiente. 23 O indicador crescimento, desenvolvimento e capacidade de alcanar a auto-realizao est
correlacionado com o facto de o indivduo alcanar sucesso nas tarefas associadas a cada nvel de
desenvolvimento. A medida que alcana o xito em cada nvel o individuo ganha motivao para alcanar
o prximo e para avanar para o seu mais alto potencial. 24 Uma perceo correta da realidade um indicador positivo de sade mental. Isto inclui a perceo do
ambiente sem distores, assim como a capacidade para ter empatia e sensibilidade social (respeito e
preocupao com os desejos e necessidades dos outros). 25 A integrao inclui a capacidade para responder adaptativamente ao ambiente e o desenvolvimento de
uma filosofia de vida, uma vez que ambos ajudam o individuo a manter a ansiedade a um nvel tolervel
em resposta a situaes stressantes. Aqui o interesse est em manter um equilbrio entre os processos de
vida. 26 Refere-se capacidade do individuo de atuar de maneira independente. Este faz as suas escolhas e
aceita a responsabilidade pelos resultados. 27 Este indicador sugere que o individuo alcanou um papel satisfatrio dentro do grupo, sociedade ou
ambiente. Sugere que capaz de amar e aceitar o amor dos outros. Quando confrontado com qualquer
situao o individuo capaz de tomar decises, mudar e ajustar-se/adaptar-se. A vida d satisfao ao
individuo que alcanou mestria ambiental.
-
25
2.2.1. Classificao das substncias psicoativas
A Organizao Mundial da Sade (OMS) classificou as drogas pelo seu grau de
perigosidade, seguindo critrios como o maior ou menor perigo txico, a maior ou
menor capacidade de provocar a dependncia fsica, e a maior ou menor rapidez em que
esta dependncia se estabelece.
Assim, com base nos critrios anteriores, as drogas so classificadas em quatro grupos,
descritos na tabela que ser apresentada de seguida.
Grupo 1: pio e derivados (morfina, herona);
Grupo 2: Barbitricos e lcool;
Grupo 3: Cocana e anfetaminas;
Grupo 4: LSD, canabinides, tabaco, etc.
Tabela 2 - Classificao das drogas por grupos nocivos, segundo a OMS
(Baseado em OMS, 2003)
-
26
A dependncia de substncias txicas desencadeia reaes fisiolgicas no organismo
causando tolerncia28 e dependncia fsica29 e psicolgica. A sua interrupo abruta
causa por sua vez sndrome de abstinncia30
Legenda: inexistente (-); ligeira (+); mdia (++); forte (+++); muito forte
Tabela 3 - Grau de dependncia que cada substncia origina.
(Baseado na OMS, 2003)
28 O consumo persistente leva situao seguinte: para se obter o mesmo efeito torna-se necessrio o
aumento progressivo das doses. 29 Alterao induzida no organismo pela droga, quando esta reduzida ou suspensa. este o mecanismo que conduz ao este o mecanismo que conduz sndrome de abstinncia. 30 Conjunto de manifestaes psicolgicas e fsicas. Os sintomas de dependncia fsica, quando no
tratados, podem conduzir a situaes de verdadeira emergncia mdica. A sintomatologia varia de grupo
para grupo para grupo de drogas.
DROGA DEPENDNCIA FSICA
DEPENDNCIA
PSICOLGICA
TOLERNCIA
TABACO + + + +
CANABINIDES - + + +
LSD - + -
INALANTES + + + + + +
LCOOL + + + + + + + + +
BENZODIAZEPINAS + + + +
ANFETAMINAS + + + + + + + + +
ECSTASY - + -
COCANA - + + + + -
HERONA + + + + + + + + + + + +
METADONA + + + + + + + + +
CAFENA + + + +
-
27
As substncias consumidas pela doente em estudo era cocana31, haxixe32 e herona33,
cujos efeitos sero apresentados em formato tabela seguidamente.
Tabela 4 - Efeitos positivos, negativos e tardios, das substncias (herona, cocana e haxixe
(OMS, 2003)
31 Provm da folha de uma planta designada Coca. Apresenta-se como p cristalino, branco, de sabor
amargo. Habitualmente consumido por via nasal. 32 Deriva da planta designada Cannabis Sativa. Prepara-se prensando a resina da planta fmea,
transformando-se numa barra acastanhada com o nome coloquial de Chamom 33 Pertence ao grupo dos opiceos mais prejudiciais. descendente direta da morfina, que por sua vez se
obtm do pio, sendo este extrado atravs de uma planta designada papoula.
Efeitos
Substncia Positivo (esperado pelo
consumidor)
Negativo (Frequente em
sobredosagem e em fases tardias de
consumo continuado)
Tardios por consumo
continuado
Herona Elimina a ansiedade e
depresso, promove a
confiana, euforia e
extremo bem-estar.
Clicas abdominais, confuso
mental, convulses, paragem
respiratria por inibio dos Centros
Respiratrios e, se no houver
assistncia teraputica rpida, a
morte
Anorexia, emagrecimento
e desnutrio, obstipao,
impotncia ou frigidez
sexual, esterilidade,
demncia, confuso e
infees vrias (hepatites,
Sida, endocardites quando
a administrao
endovenosa)
Haxixe Elimina a ansiedade e
promove sensao de
bem-estar, desinibio,
aumenta a capacidade de
fantasiar, visualizao
da realidade com mais
intensidade (cores e sons
mais distintos)
Secura da boca, reaes de ansiedade
e pnico (paradoxalmente mais
comuns em fumadores experientes),
agressividade e alucinaes.
Pode desencadear uma
doena mental (psicose)
nos raros indivduos
predispostos
Cocana Estado de grande auto-
confiana, euforia e
energia. Aumento
efmero da capacidade
de concentrao,
memorizao, rapidez
de associao de ideias,
maior fora muscular e
diminuio da fadiga,
sono, fome, sede ou frio
Secura da boca, suores, febre,
hipertenso e arritmias cardacas,
irritabilidade, agressividade, tremores
e convulses, delrios paranoides
A exausto contnua pode provocar
desidratao, problemas cardacos,
renais e morte
A cocana est frequentemente
associada perfurao do septo nasal
Emagrecimento,
irritabilidade, delrios
paranoides (sensao de
ser perseguido por
organizaes secretas,
etc.)
A perfurao do septo
nasal uma complicao
tpica do consumo inalado
de cocana
-
28
3. HISTRIA CLNICA
A histria clnica de um doente deve incluir um relato sobre a histria de doena atual,
antecedentes pessoais, histria psicossocial e familiar. Na psiquiatria esta recolha
fundamental de modo a percebermos todos os fatores que possam desencadear a doena
e no caso concreto do PIAM, quais os fatores que desencadearam o inicio, continuao
e ou fim do consumo de substncias ilcitas. (Baseado em Amaral, 2010)
Neste captulo ir ser abordada a histria clnica da Sra. M, que se seguira de
subcaptulos onde ser abordado de forma sucinta as patologias da utente.
A Sra. M de 48 anos, solteira, residente no Porto, vive com o companheiro numa casa
alugada. Tem historial de consumo de drogas e est em tratamento no PIAM, estando
inserida no programa de substituio de opiceos. Cresceu com os pais, tem 12 irmos,
nove rapazes e trs raparigas. Os pais da Sra. M (pai reformado de guarda prisional e
me reformada em encadernaes), j faleceram ambos, sendo que o pai era saudvel e
a me tinha como antecedentes bronquite e asma. Um dos irmos, era consumidor,
seropositivo e encontrava-se em tratamento tendo falecido por complicaes associadas
doena.
A Sra. M, estudou at ao stimo ano de escolaridade e relata que faltava s aulas para ir
para o caf pelo que quando o pai descobriu, este retirou-a da escola e colocou-a a
trabalhar como ajudante de costureira.
A histria de consumo de drogas inicia-se nesta altura onde juntamente com os amigos
quando faltava a escola para ir para o caf, comeou a consumir Haxixe aos 14/15 anos
de idade. No entanto aquando da descoberta do pai esta comeou a ter problemas em
casa e a no poder sair, isolando-se no quarto, onde aos 19/20 anos comeou a fumar
Haxixe e Herona.
Iniciou tratamento por insistncia do pai que a levava ao CAT Boavista, para o realizar.
Aos 20 anos decidiu ir trabalhar como auxiliar de Educao num colgio de Freiras em
Miragaia. Foi nesta altura, na faixa etria entre os 20-30 anos, que a Sra. M conheceu o
pai do primeiro filho, tambm ele consumidor, com quem vai viver durante um ano.
Relata que durante a gravidez no deixou de consumir sendo que o beb nasceu com a
-
29
sndrome de privao tendo sido cuidado pelos avs, pais da Sra. M, para onde ela foi
viver aps ter sado da casa que tinha conjuntamente com o pai do filho, que
posteriormente foi preso por furto, sendo habitual vrias detenes por este tipo de
infraes.
O filho fica ao cuidado da av materna e a Sra. M sa de casa dos pais para ir viver com
uma irm.
Mais tarde conhece o atual companheiro (que separado e tem dois filhos um dos quais
vive com av paterna), tambm ele consumidor, do qual posteriormente engravida.
Por esta altura a Sra. M relata que j havia tido um aborto anterior, fruto da relao com
o atual companheiro e que este no quer que esta leve a gravidez adiante, s que esta
decidiu levar e afirma contar com o apoio da me e irms.
Durante esta que viria a ser a ltima gravidez, a Sra. M afirma que consumiu cocana
diariamente durante o primeiro trimestre e durante o resto da gravidez apenas consumia
duas vezes por semana
Por esta altura a Sra. M transferida para a instituio atual, PIAM, onde esteve
integrada num projeto, destinado integrao profissional, onde manteve um emprego
como funcionria de limpeza de condomnios. No entanto ao chegar ao fim do contrato
o empregador optou por no a colocar no quadro da empresa, dando-lhe assim a carta
para subsdio de desemprego, o qual ainda hoje recebe. Como a Sra. M trabalha de
forma dedicada o empregador decidiu dar-lhe um emprego ainda que de forma irregular,
ou seja do qual no desconta para a segurana social, onde esta retira um ordenado
inferior ao ordenado mnimo. Estima-se que receba por volta de 1000, de onde retira o
valor para o aluguer da casa 300 e o valor dos gastos do carro que o casal mantm.
Na atualidade a Sra. M e o Sr. R encontram-se em fase de abstinncia de consumos. Ela
por sua vez, mantm seguimento no PIAM assim como a filha L, que acompanhada
por Pedopsiquiatria. Enquanto, que ele seguido pelo ET Oriental, onde mantm
tratamento.
Encontra-se a viver com o pai da filha L, numa casa alugada, qual s se dirige para ir
dormir, pois tm dvidas com a companhia da gua e luz o que levou ao corte das
-
30
mesmas, sendo que desse modo a casa no rene condies nesse aspeto de
habitabilidade.
Vai diariamente a casa da sogra onde realiza todas as atividades de vida diria e onde a
filha, habita atualmente. A filha L, est a frequentar um curso profissional e afirma estar
feliz em casa da av pois sente um apoio que no sente quando ao habitar com os pais.
A relao que mantem com a Sra. M por sua vez bastante conflituosa pois a me exige
dela o impossvel, e no revela compreenso para as situaes em que no estejam de
acordo. Afirma ainda que mantm uma relao mais prxima com o pai e que por vezes
no compreende a me.
Tem como antecedente clnico Hipertiroidismo e ndulos da tiroide, para a qual foi
submetida a uma tiroidectomia total, seguindo tratamento com Eutirox, mas com baixa
adeso s consultas subsequentes, (consulta agendada medica de famlia dia 12/11/14)
Possui diagnsticos patolgicos ativos:
Perturbaes mentais e de comportamento decorrentes do uso de opiides.
Sndrome de dependncia atualmente em regime de manuteno ou substituio
supervisionada (dependncia controlada)
Perturbaes mentais e de comportamento decorrentes do uso de cocana.
Sndrome de dependncia, atualmente abstinente
Perturbaes da personalidade e do comportamento
Perturbao Paranide
A Sra. M est medicada para todas as patologias acima mencionadas, no entanto revela
baixa adeso teraputica.
3.1. PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES DO
USO DE OPIIDES
Os transtornos mentais e de comportamento associados ao uso de substncias
psicoativas so um dos maiores problemas de sade pblica da humanidade e tm
significativa participao no incremento da criminalidade, no somente pela questo do
-
31
trfico de drogas, mas tambm pelas alteraes mentais e de comportamento que o uso
dessas substncias provoca. (Ramos, 2007)
A expresso transtorno mental usada por motivos prticos para indicar aqueles
transtornos mentais que no so induzidos por substncias e que no se devem a uma
condio mdica geral. (DSM-IV, 2014)
A caracterstica essencial da Dependncia de Substncia a presena de um
agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiolgicos indicando que o
indivduo continua utilizando uma substncia, apesar de problemas significativos
relacionados a ela. Existe um padro de auto-administrao repetida que geralmente
resulta em tolerncia, abstinncia e comportamento compulsivo de consumo da droga.
(DSM-IV, 2014)
O diagnstico de Dependncia de Substncia exige a obteno da histria detalhada a
partir do indivduo e, sempre que possvel, de fontes adicionais de informaes. (DSM-
IV, 2014)
O uso de substncias muitas vezes faz parte do quadro sintomtico de transtornos
mentais. Quando os sintomas so considerados consequncia fisiolgica direta de uma
substncia, aplica-se o diagnstico de Transtorno Induzido por Substncia. Os
Transtornos Relacionados a Substncias tambm so muitas vezes co mrbidos,
complicando o curso e o tratamento de muitos transtornos mentais (por ex.,
Transtornode Conduta em adolescentes, Transtorno da Personalidade Anti-Social e
Borderline, Esquizofrenia e Transtornos do Humor). (DSM-IV, 2014)
A herona (opiceo semi-sinttico) uma das drogas desta classe com maior abuso.
(DSM-IV, 2014)
A abstinncia de opiceos caracteriza-se por um padro de sinais e sintomas opostos aos
dos efeitos agonistas agudos. Os primeiros so subjetivos e consistem em queixas de
ansiedade, inquietao e uma sensao dolorida, frequentemente localizada nas costas
e nas pernas, acompanhada pelo desejo de consumir opiceos (nsia) e por um
comportamento de procura de droga, alm da sensibilidade, e aumento da dor. (DSM-
IV, 2014)
-
32
No caso da herona os sintomas demoram entre seis e vinte e quatro horas aps a ltima
dose. J os sintomas de abstinncia podem prolongar-se por semanas ou meses. (DSM-
IV, 2014)
3.2.PERTURBAES MENTAIS E DE COMPORTAMENTO DECORRENTES DO
USO DE COCANA. ATUALMENTE ABSTINENTE.
A cocana compartilha caractersticas das anfetaminas ou simpaticomimticos de ao
similar. (DSM-IV,2014)
Os sinais e sintomas de abstinncia esto frequentemente presentes, mas podem ser
menos visveis, no caso de estimulantes tais como anfetaminas, cocana e nicotina.
(DSM-IV,2014)
Em alguns casos de Dependncia de Substncia, virtualmente todas as atividades da
pessoa giram em torno da substncia. As atividades sociais, ocupacionais ou recreativas
podem ser abandonadas ou reduzidas em virtude do seu uso. O indivduo pode afastar-
se de atividades familiares e passatempos a fim de us-la em segredo para passar mais
tempo com amigos usurios da substncia. (DSM-IV,2014)
Apesar de admitir a sua contribuio para um problema psicolgico ou fsico a pessoa
continua a usar a substncia. (DSM-IV,2014)
Doses moderadas de cocana podem, inicialmente, produzir sociabilidade, mas um
retraimento social pode desenvolver-se, caso essas doses sejam frequentemente
repetidas. (DSM-IV,2014)
Diferentes substncias (s vezes at mesmo diferentes classes de substncias) podem
produzir sintomas idnticos. A Intoxicao com Cocana e a Intoxicao com
Anfetaminas, por exemplo, podem apresentar um quadro de grandiosidade e
hiperatividade, acompanhado de taquicardia, dilatao das pupilas, presso sangunea
elevada e perspirao ou calafrios. (DSM-IV,2014)
A Sndrome de abstinncia caracteriza-se pelo desenvolvimento de humor disfrico,
acompanhados por uma ou mais das alteraes fisiolgicas seguintes: fadiga, sonhos
vividos e desagradveis, insnia ou hipersnia, aumento do apetite e lentificao ou
agitao psicomotora. (CID-10,2014)
-
33
A abstinncia da cocana acontece quando h uma interrupo (ou reduo) da
utilizao macia e prolongada da cocana. (CID-10, 2014)
3.3. PERTURBAES DA PERSONALIDADE E DE COMPORTAMENTO
As alteraes da personalidade caracterizam-se por padres de perceo, de reao e de
relao que so relativamente fixos, inflexveis e socialmente desadaptados, incluindo
uma variedade de situaes. (DSM-IV, 2014)
Cada um tem padres caractersticos de perceo e de relao com outras pessoas e
situaes (traos pessoais), ou seja, toda a gente tende a confrontar-se com situaes
stressantes com um estilo individual, mas repetitivo. Por exemplo, algumas pessoas
tendem a responder sempre a uma situao problemtica procurando a ajuda de outros.
Outras assumem sempre que podem lidar com os problemas por si prprias. Algumas
pessoas minimizam os problemas, outras exageram-nos. Ainda que as pessoas tendam a
responder sempre do mesmo modo a uma situao difcil, a maioria propensa a tentar
outro caminho se a primeira resposta for ineficaz. Em contraste, as pessoas com
alteraes da personalidade so to rgidas que no se podem adaptar realidade, o que
debilita a sua capacidade operacional. Os seus padres desadaptados de pensamento e
de comportamento tornam-se evidentes no incio da idade adulta, frequentemente antes,
e tendem a durar toda a vida. So pessoas propensas a ter problemas nas suas relaes
sociais e interpessoais e no trabalho. (Townsend, 2011)
As pessoas com alteraes da personalidade no tm, geralmente, conscincia de que o
seu comportamento ou os seus padres de pensamento so desadequados, mas, pelo
contrrio, muitas vezes pensam que os seus padres so normais e corretos. frequente
que os familiares os enviem para receber ajuda psiquitrica porque o seu
comportamento desadequado causa dificuldades aos outros. (Baseado em CID-10,
2014)
Quando as pessoas com alteraes da personalidade procuram ajuda por si mesmas
(frequentemente, por causa de frustraes), tendem a pensar que os seus problemas so
provocados por outras pessoas ou por uma situao particularmente difcil, e no
entendem que a sua personalidade que gera essas questes problemticas. Baseado em
DSM-IV, 2014)
-
34
As alteraes da personalidade incluem os seguintes tipos: paranide, esquizide,
esquizotpico, histrinico, narcisista, anti-social, limite, esquivo, dependente, obsessivo-
compulsivo e passivo-agressivo. (Baseado em CID-10, 2014)
3.4. PERTURBAO PARANIDE
caracterstico das pessoas que apresentam perturbao paranoide que estas projetem
os seus prprios conflitos e hostilidades para os outros. So geralmente frias e distantes
nas suas relaes o que tendencialmente expe um conflito entre ambas as partes.
tambm comum que tentem encontrar intenes hostis e malvolas nos atos triviais,
inocentes ou mesmo positivos de outras pessoas e reagem com suspeio s mudanas
nas situaes. Muitas vezes, as suspeitas conduzem a comportamentos agressivos ou
rejeio por parte dos outros (resultados que parecem justificar os seus sentimentos
originais). (Baseado em CID-10, 2014)
Os que tm uma personalidade paranide tentam frequentemente aes legais contra
outros, especialmente se se sentem indignados com razo. So incapazes de ver o seu
prprio papel dentro de um conflito. Embora costumem trabalhar num isolamento
relativo, podem ser altamente eficientes e conscienciosos. (Baseado em CID-10, 2014)
A doente em caso apresenta uma personalidade tpica de uma perturbao paranoide,
apresentando dificuldade nas relaes sociais mesmo entre a famlia.
3.5.TIROIDECTOMIA TOTAL DECORRENTE DE HIPERTIROIDISMO E
NDULOS TIROIDEUS
A glndula tiroide uma parte do sistema endcrino e desempenha um papel importante
na regulao do metabolismo corporal. Existem doenas que afetam a tiroide quer pela
reduo da produo das hormonas T3 e T4, a que se d o nome de hipotiroidismo, quer
pelo aumento excessivo da produo das mesmas hormonas, que se designa
hipertiroidismo. (Baseado em Mohanan et al, 2010)
O hipertiroidismo caracteriza-se ento por uma perturbao em que a tiride est
hiperativa. (Baseado em Mohanan et al, 2010)
O hipertiroidismo tem vrias causas, entre elas as reaes imunolgicas. Os doentes
com tiroidite (inflamao da tiride), sofrem habitualmente uma fase de hipertiroidismo.
-
35
Os ndulos txicos (adenomas), zonas de tecido anmalo que crescem dentro da
glndula tiride, alteram por vezes os mecanismos que controlam a glndula e
produzem, por conseguinte, hormonas tirideas em grandes quantidades. Um doente
pode ter um ndulo ou vrios. (Baseado em Mohanan et al, 2010)
No hipertiroidismo, em geral, as funes do corpo aceleram-se. O corao bate mais
depressa e pode desenvolver um ritmo anmalo, e o indivduo afetado pode chegar a
sentir os batimentos do seu prprio corao (palpitaes). Tambm provvel que a
presso arterial aumente. Muitos doentes com hipertiroidismo sentem calor mesmo
numa habitao fria, a sua pele torna-se hmida, j que tendem a suar profusamente, e
as mos podem tremer. Sentem-se nervosos, cansados e fracos, e apesar disso
aumentam o seu nvel de atividade, aumenta o apetite, embora percam peso, dormem
pouco e evacuam frequentemente. (Baseado em Mohanan et al, 2010)
No caso da doente em estudo devido a patologia, hipertiroidismo e aos ndulos
tiroideus, foi submetida a cirurgia tiroidectomia total. Esta, consiste na remoo da
glndula tiroide, na sua totalidade, sendo feita uma inciso na parte frontal do pescoo,
enquanto o paciente est sob anestesia geral. (Baseado em Mohanan et al, 2010)
No caso da tiroidectomia total prescrito medicao de substituio/reposio das
hormonas produzidas pela glndula e supresso da TSH, tal como no caso da doente em
estudo. (Baseado em Mohanan et al, 2010)
3.6. PROGRAMA DE SUBSTITUIO OPICEA
A induo de antagonista opiceo praticada com o consentimento informado do
Cliente e aps este ter completado um processo teraputico de desintoxicao fsica, a
fim de evitar eventual sofrimento de sintomas de abstinncia. (Neto & CNEnfermagem,
2009)
As probabilidades de sucesso de um programa de substituio com metadona dependem
muito do acompanhamento dado aos utentes, sendo tambm fundamental que se
transmita e entenda que a soluo no passa somente pela prescrio de metadona,
sendo esta apenas uma etapa do tratamento que exige outras intervenes.
-
36
Para o sucesso do programa necessrio que se garanta apoio psicoteraputico,
reabilitao psicossocial e melhores cuidados de sade, aos utentes. Se estas dimenses
no estiverem presentes ento no est em processo o tratamento, uma vez que no est
assegurada a continuidade de no consumo e mudana de estilo de vida, o que poder
originar a morte do individuo. Baseado em (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)
Deste modo o programa consiste num tratamento de manuteno com objetivos simples
sendo um desses a estabilidade do sistema opiceo. Como o cloridrato de Metadona tem
uma semi-vida relativamente longa (24-36h), os seus nveis oscilam pouco entre a toma
de doses tornando o paciente mais estvel.
A durao mdia do tratamento com a metadona em Portugal de um a trs anos e o
objetivo reduzir gradualmente a dose at se deixar de usar este frmaco. (Weissberg,
2012)
A metadona tem alto poder aditivo, ainda que este seja inferior ao da herona. Por ser
txica e poder gerar comportamentos a sua administrao tem de ser cuidadosa e
vigiada por enfermeiros. Tal como qualquer outro opiide a toma de doses extra de
metadona e a mistura com sedativos ou lcool aumentam o risco de overdose.
(Townsend, 2011)
As vantagens da prescrio de metadona integrada em bons programas de tratamento
so a reduo do uso de droga ilcita, a diminuio do consumo de opiceos ilegais, dos
comportamentos criminosos e da mortalidade dos toxicodependentes. Alm disso, os
doentes organizam mais facilmente outros aspetos das suas vidas. (Neto, E., &
CNEnfermagem, 2009)
Como no produz os mesmos efeitos psicolgicos que a herona e exige uma nica dose
diria compatvel com uma vida ativa, estvel e organizada. A maior estabilidade dos
pacientes resulta da supresso dos sintomas da sndrome de abstinncia e do
acompanhamento psicoteraputico includo nos programas de tratamento. A
administrao legal tambm evita que os toxicodependentes estejam em contacto com
pessoas e ambientes do consumo de herona. (Townsend, 2011)
Os pacientes de programas de substituio com metadona podem aceder a programas de
baixo, mdio ou alto limiar. No baixo limiar fornecida metadona e assistncia mdica
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37
e social bsica. Destina-se a toxicodependentes a viver em condies muito degradadas,
muitas vezes doentes e com um percurso muito longo. O objetivo reduo de danos e
riscos. Se a evoluo for boa podero passar a programas de alto limiar. No mdio
limiar h seguimento mdico e psicossocial. J o alto limiar as normas so muito mais
estreitas e o seu incumprimento pode levar expulso do programa. A oferta de
cuidados de sade mais ampla que nos outros programas. (Townsend, 2011)
De acordo com a boa evoluo do doente e do seu tratamento, as tomas do medicamento
podem ser gradualmente e parcialmente feitas no domiclio. Tal como no caso da doente
em estudo.
Os objetivos do tratamento com metadona e manuteno de alto limiar devem ser claros
e bem conhecidos pelos doentes e pela comunidade, sendo eles:
Conseguir obter a abstinncia de consumos danosos;
Conseguir executar o plano teraputico predefinido e evolutivo para a
autonomia; (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)
Em Portugal, os programas de substituio com metadona so, essencialmente,
programas de alto limiar. Nos programas de alto limiar o grau de exigncia com os
pacientes elevado. Existe controlo urina para detetar o consumo de substncias.
tambm importante a ocupao em termos sociais, pois o programa de alto limiar serve
de suporte para os pacientes terem um desempenho social. Discute-se a abstinncia
como fim possvel. (Townsend, 2011)
Tal como foi supramencionado a suspenso ou excluso deste programa pode acontecer,
devendo desde o incio do tratamento, ser claras e aceites as regras a respeitar para
poder permanecer no programa. (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)
Podem ser razes para a suspenso ou para a excluso:
As faltas sistemticas (trs seguidas);
A recusa em fazer anlises;
O desvio ou venda de metadona;
A recusa em cumprir com o programa de metadona;
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38
Agresso fsica ou verbal ou outra forma de violncia para com profissionais ou
com doentes; (Neto, E., & CNEnfermagem, 2009)
A maior parte dos toxicodependentes no tm apenas um problema de dependncia
fsica e psquica da herona. Para alm da dependncia carregam muitas vezes situaes
de vida graves. A metadona no uma cura por si s e, tratar estas pessoas no passa s
pela sua prescrio. (Townsend, 2011)
3.6.1. Cloridrato de metadona
Produzido em laboratrio, o cloridrato de metadona um narctico do grupo
dos opiides utilizado principalmente no tratamento da dependncia de herona.
Este agonista opiide ajuda no alvio de sintomas caractersticos do consumo de droga
como dores de cabea, diarreia, perda da libido, dificuldades em urinar, dores nas
articulaes ou nervosismo. Nas mulheres os programas de substituio com metadona
permitem normalizar o ciclo menstrual que o consumo de herona desregra.
Apesar de ajudar no alvio de sintomas esta pode causar obstipao, suores, pele
irritada, hipersensibilidade heptica e perda de apetite, sendo estes os principais efeitos
adversos. (Townsend, 2011)
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39
4. PROCESSO DE ENFERMAGEM
O processo de enfermagem permite organizar, e prestar, os cuidados de enfermagem de
que o doente precisa. Este usado para identificar, diagnosticar, e tratar reaes
humanas sade e doena (Associao dos Enfermeiros Americanos, 1995). Trata-se de
um processo contnuo e dinmico, que permite alterar os cuidados, medida que se
alteram as necessidades do doente. uma abordagem que permite aos enfermeiros
distinguir a sua prtica da dos mdicos e de outros profissionais de sade (Potter &
Perry, 2006).
O processo de enfermagem constitudo por 5 fases: apreciao inicial, diagnstico de
enfermagem, planeamento, implementao e avaliao. Uma etapa d origem a outra,
ou seja, a avaliao inicial consiste na recolha e anlise de dados e informao e,
conduz etapa seguinte, a formulao do diagnstico de enfermagem. Ao diagnstico
de enfermagem segue-se a execuo e avaliao o ltimo passo (Veiga, 2012).
Na fase da apreciao inicial colhe-se informao sobre a pessoa, o que inclui dados
sobre o seu estado fsico, como psicossocial. Os dados obtm-se atravs de entrevistas,
observao, avaliao fsica, consulta dos registos mdicos e discusso com a famlia. A
colheita inicial de dados faz-se quando a pessoa admitida no servio, no entanto, a
recolha de dados um processo contnuo que atualizado sempre que o enfermeiro
interage com a pessoa. a partir dos dados colhidos na avaliao inicial que
estabelecida uma referncia para a comparao dos dados futuros, bem como para a
identificao dos primeiros problemas do indivduo. Os dados colhidos usam-se para
formular os diagnsticos de enfermagem, atravs da sua seleo, organizao e anlise
(Sorensen & Luckman, 1998).
O diagnstico de enfermagem o passo seguinte no processo de enfermagem, em que
se d significado aos dados que se recolheu e organizou durante a avaliao inicial. O
objetivo desta etapa identificar problemas de sade reais e potenciais, do doente que
se possa evitar, reduzir ou solucionar. necessrio utilizar o pensamento crtico na
-
40
formulao de diagnsticos de enfermagem, para poder individualizar os cuidados de
enfermagem (Potter & Perry, 2006).
O planeamento o componente do comportamento de enfermagem em que se fixam os
objetivos centrados no doente e se program intervenes para se atingir os objetivos.
Esta etapa requer por parte do enfermeiro a utilizao de ponderao na tomada de
decises e na resoluo de problemas, ao planificar os cuidados de enfermagem para
cada doente. Durante o planeamento, estabelece prioridades, fixa objetivos, formula os
resultados esperados, e elabora o plano de cuidados (Potter & Perry, 2006).
O plano de cuidados inclui trs componentes: Diagnstico de Enfermagem,
Intervenes de Enfermagem e Resultados de Enfermagem. (Sorensen & Luckman,
1998). Os resultados esperados so declaraes que descrevem comportamentos que o
doente demonstra se o diagnstico de enfermagem for superado (Veiga, 2012). As
intervenes de enfermagem so as aes especificas realizadas para ajudar a pessoa a
atingir os resultados esperados (Sorensen & Luckman, 1998). A fase de execuo
consiste na prestao de cuidados de enfermagem e implica: prestao direta de
cuidados; superviso dos cuidados prestados por outros; ensino; orientao;
identificao da necessidade de encaminhamento; cumprimento de prescries de outros
prestadores de cuidados de sade.
Quanto implementao, consiste no inicio do comportamento de enfermagem, quando
as aes, necessrias consecuo dos objetivos e dos resultados esperados dos
cuidados de enfermagem, so iniciados e terminados. No processo de implementao
deve-se seguir cinco aes preparatrias: reavaliar o doente, reler e alterar
eventualmente o plano de cuidados, organizar recursos e a prestao de cuidados, prever
e prevenir complicaes, e implementar intervenes de enfermagem.
O enfermeiro responsvel pela avaliao dos cuidados prestados e f-lo pela
formulao de juizos relativos eficcia e eficincia dos cuidados de enfermagem. A
avaliao um processo continuo que acontece sempre que h contacto com o doente.
Consiste na reviso adequada dos diagnsticos de enfermagem, dos resultados e das
intervenes. (Sorensen & Luckman, 1998)
-
41
4.1. COLHEITA DE DADOS/AVALIAO INICIAL
Quando o enfermeiro presta assistncia ao utente, deve faz-lo de forma sistemtica e
cientfica, atravs de um mtodo que, sendo uma estrutura racional e adaptada para a
Enfermagem, fornece a organizao e a direo aos vrios elementos da sua prtica,
alm de um meio adequado para a previso de resultados, de previso de alternativas de
ao e de avaliao dos resultados obtidos. (Amaral, 2010)
Assim sendo a colheita de dados constitui a primeira fase do processo de enfermagem,
em que se determina o estado em que o individuo se encontra no primeiro contacto que
estabelecem. Baseado em (Amaral, 2010)
A presente colheita de dados foi efetuada atravs do preenchimento dos itens presentes
na avaliao instituda no PIAM, onde decorreu o estgio. Foi realizada ao longo do
estgio em colaborao com os profissionais da equipa multidisciplinar do servio, e
complementada atravs de consulta do processo clnico da utente e observao direta
durante o contacto com esta. Os dados sero apresentados em forma de tabela, de modo
a simplificar a sua consulta, com a explicao de alguns itens, em forma de texto.
AVALIAO INICIAL
IDENTIFICAO DA UTENTE
NOME M.C.S.M
DATA DE NASCIMENTO 01/10/1966
ESTADO CIVIL Solteira
NATURALIDADE Miragaia
TELEFONE *********
HABILITAES LITERRIAS 7 ano de escolaridade
PROFISSO Empregada de Limpeza
SITUAO PROFISSIONAL Desempregada
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42
GRAVIDEZ
GRVIDA ATUALMENTE? No
N DE FILHOS Dois
SEXO Um do sexo masculino e outro do feminino
IDADE Rapaz 22 anos;
Rapariga 15 anos;
COM QUEM ESTO OS
FILHOS?
O rapaz est a viver com uma tia materna e a
rapariga vive atualmente com a av paterna.
HISTRIA TOXICODEPENDENCIA
Tipo de
Substncias
Idade de
incio
Modo ou via
de
administrao
Quantidade
Diria
Frequncia
Herona 14/15
anos
Inalatria No
especificado
Diria
Cocana 19/20
anos
Inalatria No
especificado
Diria
Benzodiazepinas X34 X X X
lcool X X X X
34 Sem histria de consumo
-
43
Anfetaminas X X X X
Canabinides 14/15
anos
Inalatria No
especificado
Diria
HBITOS DE CONSUMO
Iniciou a histria de consumo de drogas,
juntamente com os amigos quando faltava a
escola para ir para o caf. No entanto aquando
da descoberta do pai esta comeou a ter
problemas em casa e a no poder sair,
isolando-se no quarto, onde aos 19/20 anos
comeou a fumar Haxixe e Herona.
Apenas consumia drogas pelo mtodo
inalatrio/fumado.
Consumiu durante ambas as gravidezes.
TRATAMENTOS
ANTERIORES
Iniciou tratamento no CAT Boavista,
Cedofeita.
Tem tambm historial de internamento para
soroterapia e desintoxicao j no CAT do
Conde (atual PIAM).
COMPANHEIRO
TOXICODEPENDENTE? Sim
ONDE EFETUA
TRATAMENTO?
ET Oriental
SITUAO ECONMICA
FONTE (S) DE RENDIMENTO? Subsdio de desemprego e ordenado da Sra. M.
HABITAO Alugada
AGREGADO FAMILIAR Sra.M e companheiro
-
44
HISTRIA FAMILIAR
PROBLEMAS RELACIONADOS
COM A FAMLIA
Relao conflituosa com os irmos,
excetuando uma irm. Tem uma relao
problemtica com os filhos.
A relao que mantm com a sogra
problemtica e conflituosa, uma vez que
no confia nela, recusando-se a comer
tudo o que esta prepara para as refeies,
devido desconfiana, caracterstica que
comum na perturbao paranoide.
J com o companheiro mantem uma
relao conflituosa e agressiva, chegando-
o a agredir e a sair de casa por diversas
vezes, havendo no entanto, sempre
reconciliaes. O Sr. R, apresenta-se
sempre com educao mas com um humor
que evidencia depresso.
N DE IRMOS Doze, dos quais nove so rapazes e trs
so raparigas.
FAMILIAR
TOXICODEPENDENTE?
Irmo
ONDE EFETUA TRATAMENTO Faleceu devido a complicaes associadas
patologia (Consumidor e HIV)
ANTECEDENTES PESSOAIS
PROBLEMAS DE SADE NA
FAMILIA
Me Asmtica;
Pai- saudvel
-
45
PROCESSOS JURIDICOS Sem processos
PROSTITUIO _____________________
DOENAS
Hipertiroidismo;
Perturbaes mentais e de
comportamento decorrentes do uso
de opiides. Sndrome de
dependncia atualmente em regime
de manuteno ou substituio
supervisionada (dependncia
controlada).
Perturbaes mentais e de
comportamento decorrentes do uso
de cocana. Sndrome de
dependncia, atualmente
abstinente.
Perturbaes da personalidade e do
comportamento.
Perturbao Paranide.
COMPORTAMENTOS DE RISCO
INJETOU PELO MENOS UMA VEZ
QUALQUER TIPO DE DROGA?
No
J PARTILHOU MATERIAL E.V?
No
-
46
NOS LTIMOS TRS MESES
QUANTOS PARCEIROS SEXUAIS
TEVE?
Um companheiro.
USA PRESERVATIVO?
Nunca
PADRO DE CONSUMO ATUAL
Tipo de
Substncias
Modo ou via de
administrao
Quantidade
Diria
Frequncia
Herona
ATUALMENTE ABSTINENTE
Cocana
Benzodiazepinas
lcool
Anfetaminas
Canabinides
Outras
RESULTADOS DO EMIT
Tipo de
Substncias
Positivo
Negativo
Herona _ X
Cocana _ X
-
47
Tabela 5 - Avaliao Inicial da Sra. M (segundo avaliao protocolada no servio)
4.2.PLANO DE CUIDADOS
Este plano engloba a fase de diagnstico, a fase de planeamento e de implementao.
O diagnstico de enfermagem definido como o problema ou necessidade da pessoa ou
da famlia, tendo por base o pensamento crtico da avaliao inicial e sobre as respostas
da famlia e da criana aos processos de vida. (Hockenberry, 2006)
A fase de planeamento ocorre quando formulamos intervenes de enfermagem, ou seja
aes que iro contribuir para a resoluo do diagnstico, obtendo desta forma o
resultado esperado. (Hockenberry, 2006)
A fase de implementao fase ativa do processo de enfermagem em que so definidas
estratgias de cumprimento das intervenes. (Hockenberry, 2006)
O plano de cuidados, a seguir apresentado, constitudo por data de incio, foco de
enfermagem, atividades de diagnstico, critrios de diagnstico, diagnstico, objetivos,
intervenes e resultados de enfermagem, avaliao de enfermagem e data de termo.
Benzodiazepinas _ _
lcool _ _
Anfetaminas _ _
Canabinides _ X
Outras _ _
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48
DATA DE INICIO 22/10/2014
FOCO DE ENFERMAGEM Abuso de substncias35
ATIVIDADES DE DIAGNSTICO Avaliar o abuso de substncias
CRITRIOS DE DIAGNSTICO A Sra. M encontra-se a ser seguida pelo
PIAM, dado ter antecedentes de consumo
de substncias ilcitas, tais como, herona,
cocana e haxixe.
Apesar de atualmente se encontrar
abstinente est ainda inserida no programa
de substituio opicea, sendo que se
encontra no limiar alto, fazendo as doses de
metadona em casa e vigilncia uma vez por
semana, quando se dirige ao PIAM, para ir
buscar as doses de medicao semanais. A
utente por vezes pede a familiares para lhe
levantarem a medicao o que se traduz
num risco pois no h controlo semanal,
nomeadamente atravs de teste de despiste
de substncias urina.
DIAGNSTICO DE
ENFERMAGEM
Risco de abuso de substncias
OBJETIVOS Sem abuso de substncias
INTERVENES DE
ENFERMAGEM
(22/10/2014) Rastrear o abuso de
substncias, atravs do teste de urina
(1x/semana)
(22/10/2014) Avaliar o bem-estar fsico
35 Define-se como comportamento comprometido: uso inadequado de substncia quimicamente ativa para
um efeito no teraputico, que poder ser nocivo para a sade e causar adio. CIPE Verso 2
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49
(1x/semana)
(22/10/2014) Avaliar o bem-estar
psicolgico (1x/semana)
(22/10/2014) Reforar a consecuo de
objetivos (1x/semana)
RESULTADOS DE
ENFERMAGEM
Sem abuso de substncias
AVALIAO DE
ENFERMAGEM
A utente atualmente abstinente de
consumos e manteve essa abstinncia ao
longo das avaliaes semanais que pude
observar. Apresentou-se sem sinais ou
sintomas de consumo de substncias, sendo
que se reforou e elogiou a consecuo do
seu objetivo que era neste caso deixar de
consumir substncias.
Apesar de apresentar um risco de voltar a
consumir a utente tem neste momento um
perodo de abstinncia prolongado,
mantendo-se no programa de substituio a
reduzir as doses de metadona.
DATA DE FIM
Tabela 6 - Diagnstico: Risco de abuso de substncias
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50
DATA DE INICIO 22/10/2014
FOCO DE ENFERMAGEM Socializao36
ATIVIDADES DE DIAGNSTICO Avaliar a capacidade para socializar
CRITRIOS DE DIAGNSTICO A Sra. M apresenta uma perturbao
paranoide, o que se traduz na alterao da sua
personalidade, sendo natural que esta adote
um comportamento desconfiado e reticente
em relao ao prximo.
Sabe-se que a utente apresenta uma relao
conflituosa e distante com a famlia.
Aquando das consultas de enfermagem a Sra.
M revela uma postura desconfiada, distante e
por vezes mais agressiva.
DIAGNSTICO DE ENFERMAGEM Capacidade para socializar, comprometida
OBJETIVOS Socializao efetiva
Capacidade para socializar, melhorada
INTERVENES DE ENFERMAGEM (22/10/2014) Apoiar o status psicolgico
(1x/semana);
(22/10/2014) Promover o bem-estar so