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ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA Ludwigia octovalvis (Jaqc) Raven (CRUZ-DE-MALTA) – CONTRIBUIÇÕES PARA SUA CONSERVAÇÃO.
Luiza Mara Encarnação Rocha (Bióloga – CCBS/UPM – São Paulo/SP – [email protected]);
Marianna Carmona de Almeida Puschiavo ( Licenciatura em Biologia – CCBS/UPM – São Paulo/SP – [email protected]);
Oriana Aparecida Fávero (Dra. em Geografia – CCBS/UPM – São Paulo/SP – [email protected]).
Resumo: A cruz-de-malta, como é popularmente conhecida, é uma planta heliófila típica de lugares úmidos no Domínio da Mata Atlântica, e corresponde à Ludwigia octovalvis (Jacq) Raven espécie herbácea da família Onagraceae com ampla utilização para fins terapêuticos devido, sobretudo, a suas propriedades antidiabética, antiinflamatória, antioxidante e bactericida. As florestas tropicais, como a Mata Atlântica, têm sido intensamente exploradas pelas populações humanas, tanto para obtenção de recursos quanto para ocupação, processos que estão contribuindo para redução significativa de sua cobertura original e, portanto comprometendo a manutenção da biodiversidade e de suas potencialidades de usos, as quais estão diretamente relacionadas às condições ambientais locais. Desta forma, estudos de distribuição geográfica de espécies fornecem importante conhecimento para a recomendação da proteção e conservação de determinadas áreas, garantindo assim a conservação destas espécies tanto para os diversos suprimentos das necessidades humanas quanto para garantia da manutenção da biodiversidade. Neste trabalho verificou-se a distribuição geográfica da Ludwigia octovalvis e os habitats de sua ocorrência preferencial, por meio de levantamentos em literatura científica especializada e da consulta às informações contidas em 365 materiais testemunhos (exsicatas) depositados nos acervos de 12 herbários. As regiões tropicais e subtropicais foram indicadas, na literatura, como de ocorrência preferencial da espécie, em especial, do Sul dos Estados Unidos até o Oeste da Índia, no México e América do Sul. Das informações nas exsicatas verificou-se que o Brasil foi o principal país onde foram coletados os exemplares (93%) e que os estados de São Paulo, Paraná, Bahia e Rio de Janeiro são os de maior ocorrência da espécie, pois totalizaram 50% das coletas. É importante ressaltar, ainda, que somente 46 testemunhos, 6% do total, foram coletados em áreas protegidas. Palavras-chave: Ludwigia octovalvis, distribuição geográfica, Mata Atlântica.
Abstract: The cross-of-malta, as is popularly known, is a plant heliófila typical of damp places in the area of the Atlantic Forest, corresponds to Ludwigia octovalvis(Jacq) Raven, herbaceous species of the family Onagraceae with widely used for therapeutic purposes due particularly to its properties antidiabetic, antiinflammatory, antioxidant and bactericidal. Tropical forests, as the Atlantic Forest have been heavily exploited by human populations, both to obtain resources and to occupation, processes that are contributing to significant reduction of its original cover and therefore endangering the maintenance of biodiversity and its potential for uses, which are directly related to local environmental conditions. Thus, studies of geographical distribution of species provide important knowledge to the recommendation of the protection and conservation of certain areas, thereby ensuring the conservation of these species both for supplies of various human needs and to ensure the maintenance of biodiversity. In this work there was the geographical distribution of Ludwigia octovalvis and preferred habitats of their occurrence, by drawing on scientific literature and expert consultation to the information contained in 365 material witnesses (exsiccates) deposited in the collections of 12 herbariums. The tropical and subtropical regions were indicated in the literature, such as preferential occurrence of the species, in particular the Southern United States to the west of India, Mexico and South America. The information in exsiccates found that Brazil was the main country where the specimens were collected (93%) and the states of São Paulo, Paraná, Bahia and Rio de Janeiro are the highest occurrence of the species because totaled 50% of collections. It should be noted also that only 46 reports, 6% of the total, were collected in protected areas. Key-words: Ludwigia octovalvis, geographical distribution, Atlantic Forest.
Introdução:
As florestas tropicais, como a Mata Atlântica, têm sido intensamente exploradas pelas
populações humanas, tanto para obtenção de recursos quanto para ocupação, processos que estão
contribuindo para redução significativa de sua cobertura original. Destas relações técnicas
estabelecidas entre ser humano e natureza, um dos grandes problemas da atualidade é a perda da
biodiversidade.
Esta biodiversidade está sendo colocada em risco, pois a maioria das espécies vegetais, de
interesse para o uso humano (sobretudo terapêutico), tem sido exaustivamente exploradas de modo
irracional e inconseqüente causando, em principio, problemas de desequilíbrio ambiental,
especialmente nas formações florestais tropicais (DI STASI, 1996).
Segundo Wilson (2002: 118 apud FÁVERO, 2007), a maioria dos pesquisadores, especialistas
em biodiversidade, acredita que o índice de extinções atual (1.000 a 10.000 espécies por milhão a cada
ano) esteja entre mil a dez mil vezes maiores que o respectivo índice de antes dos seres humanos
começarem a exercer efeitos deletérios sobre o meio ambiente, ou antes, da revolução instrumental do
Neolítico (portanto, do período de 450 milhões de anos á cerca de 10 mil anos atrás, o índice de
extinções, salvo episódios ocasionados de extinção em massa, era de uma espécie por milhão a cada
ano) como, por exemplo, estima-se que pelo menos 976 espécies de árvores, das 100.000 conhecidas,
estejam ameaçadas de extinção.
Rocha (2004) alerta para o problema do ritmo intenso das devastações florestais que promovem
a perda de diversas espécies sem que antes se conheça a sua distribuição, utilização potencial, ecologia
ou fisiologia reprodutiva. Além da destruição da natureza, esta pressão dos usos antrópicos, tem
acelerado a perda de recursos genéticos, comprometendo a manutenção da biodiversidade e de suas
potencialidades de usos, as quais estão diretamente relacionadas às condições ambientais locais.
As florestas Tropicais exercem diversas funções ambientais na atualidade dentre elas o efeito
regulatório sobre o clima global. A queima e o desmatamento destas florestas emitem pelo menos 20%
dos ‘gases estufa’, sendo uma das causas das mudanças climáticas que vem ocorrendo no planeta. Elas
ainda, abrigam mais da metade de todas as espécies vegetais da Terra e a sua destruição significa a
extinção de inúmeras espécies de plantas e animais selvagens, muitas ainda desconhecidas para a
ciência (FÁVERO, 2007).
Dentre as Florestas Tropicais mais ameaçadas e biodiversas destaca-se o Domínio da Mata
Atlântica, um dos 34 ‘hotspots’ de biodiversidade da atualidade prioritários para conservação
(MYERS et al., 2000).
Um ‘hotspots’ de biodiversidade é uma área com excepcional concentração de espécies
endêmicas (com ocorrência exclusiva em uma única região) e perda de habitats. No caso, a Mata
Atlântica é o quarto ‘hotspots’ considerado prioritário para conservação, pois: nele são encontradas
cerca de 20.000 espécies de plantas das quais 8.000 são endêmicas (2,7% do total global) e 1.361
espécies de vertebrados dos quais 654 são endêmicas (2,1% do total global); a densidade de espécies
endêmicas é de 8,7 plantas/Km² e 0,6 vertebrados/Km²; e os remanescentes de vegetação original estão
estimados em 7,5% da cobertura original (MYERS et al., 2000: 853).
A proteção das áreas mais biodiversas do planeta, como as de Florestas Tropicais e do Domínio
da Mata Atlântica, justifica-se tanto pelas funções naturais que exercem quanto pela garantia de
manutenção do potencial produtivo de seus recursos genéticos que, por vezes endêmicos, só
apresentarão eficácia e possibilidade de utilização se obtidos nos locais de origem (FÁVERO, 2007).
Para Paiva (1999 apud ROCHA, 2004) e Primack e Rodrigues (2001), a melhor estratégia para
se conservar a biodiversidade com eficiência é a de conservação ‘in situ’, ou seja, realizada dentro dos
próprios ecossistemas e habitats naturais conservados, pois permite propiciar que a biodiversidade se
mantenha dentro do contexto do ecossistema no qual é encontrada.
Gobbo-Neto e Lopes (2006) demonstraram que as variações diárias, mensais e anuais de
temperatura são fatores fundamentais que influenciam no desenvolvimento vegetal e, desta forma, na
produção de metabólitos secundários, assim como a temperatura e a disponibilidade hídrica que ao
alterarem processos fisiológicos como o rendimento fotossintético, o comportamento estomatal, a
mobilização das reservas, a expansão foliar e o crescimento, acarretam alterações no metabolismo
secundário. Além disto, a intensidade luminosa também é um fator que altera as concentrações e/ou
composições de metabólitos secundários, assim como a radiação ultravioleta, contribuindo para uma
crescente preocupação devido à destruição da camada de ozônio.
Desta forma, a distribuição geográfica e a dispersão de plantas nativas e cultivadas se tornaram
importantes referências para os estudos que promoverão o desenvolvimento de medicamentos a partir
de produtos naturais vegetais, pois torna possível o reconhecimento da distribuição e diversidade
dessas plantas no tempo e no espaço (ALBUQUERQUE,1997, apud ARJONA et al., 2007).
Os estudos de distribuição podem fornecer também importante conhecimento para a
recomendação da conservação e proteção de certas áreas tanto para os diversos suprimentos de
necessidades humanas quanto para garantia da manutenção da biodiversidade, além de incentivarem o
desenvolvimento de trabalhos que auxiliem na ampliação do conhecimento do patrimônio biológico
dos países (ROCHA, 2004; e FÁVERO, 2007).
Inúmeras são as espécies de plantas, por vezes endêmicas da Mata Atlântica, que vem sendo
amplamente utilizadas para fins terapêuticos, tanto com base no conhecimento tradicional de uso
quanto com comprovações técnico-científcas de sua eficácia (DI STASI, 1996; GUERRA e NODARI,
2004).
Dentre elas destaca-se a cruz-de-malta, como é popularmente conhecida, planta heliófila típica
de lugares úmidos no Domínio da Mata Atlântica, e que corresponde à Ludwigia octovalvis (Jacq)
Raven espécie herbácea da família Onagraceae com ampla utilização para fins terapêuticos devido,
sobretudo, a suas propriedades antidiabética, antiinflamatória, antioxidante e bactericida (UENO,
2005).
Desta forma, o presente trabalho objetivou: investigar a provável distribuição geográfica da
espécie Ludwigia octovalvis (Jaqc) Raven, sobretudo no Brasil, com base na literatura afim e por meio
de levantamentos de dados de depósitos de exsicatas em herbários.
Materiais e Métodos:
A seleção da espécie para estudo foi feita com base nos resultados preliminares do projeto
intitulado “Estudo químico de espécies vegetais – composição micromolecular e avaliação do
potencial biológico”, o qual objetivou a seleção de espécies vegetais nativas do estado de São Paulo,
principalmente de regiões de altitude, visando análise fitoquímica, biológica e ecofisiológica. Para
tanto, um grande número de espécies vegetais previamente selecionadas foram coletadas e seus
extratos preparados conforme metodologia convencional. Após tal procedimento, os mesmos foram
submetidos a uma seqüência de ensaios biológicos (atividades antifúngica, antimicrobiana e anti-
radicalar) para a seleção daqueles que apresentem potencial que justificasse a análise de sua
constituição química. As amostras dos vegetais para preparação dos extratos estão sendo colhidas em
fragmentos secundários de Floresta Ombrófila Mista (Mata Atlântica) e em Campos de Altitude na
Colônia de Férias da Universidade Presbiteriana Mackenzie, localizada no Condomínio Umuarama no
Município de Campos do Jordão (SP). Ludwigia octovalvis (Figura 01) apresentou alto potencial
antifúngico (para Cladosporum sphaerospermum) no extrato etanólico e médio potencial anti-radicalar
no extrato hexânico, o que justificou sua escolha para este estudo.
Para o levantamento da distribuição geográfica, desta espécie, foram utilizadas as estratégias de
levantamentos bibliográficos e consulta as informações de coleta de materiais testemunhos (exsicatas)
da espécie depositados em herbários.
Para revisão e verificação dos principais locais de ocorrência e de dados sobre a distribuição
geográfica desta espécie foi realizado levantamento de artigos científicos, utilizando como palavras-
chave o binômio específico, nos seguintes indexadores de periódicos:
Capes (http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp) - acesso em fevereiro de 2008.
SinBiota (http://sinbiota.cria.org.br/) – acesso em março de 2008.
Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo (http://www.teses.usp.br/) - acesso em abril de
2008.
Scielo – Scientific Electronic Library Online (http://www.scielo.org/php/index.php) - acesso em
setembro de 2008
Figura 01 – Detalhe da flor de Ludwigia octovalvis (Jacq.) Raven – amostra coletada para elaboração
de exsicata depositada no Herbário do Instituto Florestal (voucher SPSF37592 – identificado pela Ms.
Fátima O. de Souza-Buturi/UNICAMP). (Foto: FÁVERO, 2007).
Paralelamente a estas pesquisas foram feitas consultas a herbários, pois para se iniciar uma
análise biogeográfica primeiramente é preciso conhecer a distribuição geográfica do grupo ou grupos
que se deseja estudar, e a obtenção dessa distribuição pode ser feita por meio de informações obtidas
de exemplares depositados em coleções científicas como herbários e museus, da literatura ou de
material coletado pelos próprios pesquisadores (HALL, 1994; MORRONE e RUGGIERO, 2001, apud
MEDINA, 2006).
Segundo Mori et al. (1985, apud ROCHA, 2004) um herbário consiste em uma coleção de
exemplares de material botânico coletado em diferentes regiões e suas principais funções são
armazenar essas coleções, fazer identificações de plantas à pesquisadores não taxonomistas que
estejam elaborando trabalhos científicos, identificar plantas tóxicas, auxiliar na identificação da flora
da região, visto que as informações do herbário devem ser reveladas ao público, entre outras. As
coletas, depois de devidamente preparadas são armazenadas geralmente em ordem numérica de acordo
com o nome de um de seus coletores e etiquetadas com as seguintes informações: identificação do
herbário e região de origem da coleta; número de um dos coletores, o qual deve ser o primeiro coletor
citado na etiqueta; espaço para o nome cientifico da planta e nome do identificador; dados sobre o
local de coleta, como localização geográfica para que se permitam estudos sobre a distribuição
geográfica da espécie ou para que outro botânico possa visitar o mesmo local; coletores ; e data da
coleta.
Neste trabalho, para investigação de uma tendência indicando a distribuição geográfica
predominante das espécies selecionadas optou-se pela estratégia de verificação da ocorrência por meio
de informações contidas em materiais testemunhos (exsicatas) depositados em acervos de herbários.
O acesso as informações das exsicatas foi realizado:
por meio de visitas e consultas diretas aos testemunhos nos acervos de herbários;
por meio de pesquisas aos bancos de dados de depósitos em herbários disponíveis na internet; e
por meio de pesquisas na base de dados de acervos de herbários indexada pelo speciesLink que
é um sistema de banco de dados que organiza e disponibiliza em tempo real os dados primários de
coleções científicas através da internet.
Resultados e Discussões:
Caracterização Botânica:
Ludwigia ocotvalvis (Jacq.) Raven, da família Onagraceae, ou brinco-de-princesa (SALOMON
e DIETRICH, 1984): Onagraceae, de Onagra, que vem do grego onos (burro) e agrios (selvagem), por
apresentar folhas com formato e tamanho de orelha de burro.
A família das onagráceas, segundo Salomon e Dietrich (1984), possui por volta de 20 gêneros,
650 espécies, distribuídas em regiões de clima temperado e subtropical, poucas espécies nos trópicos,
principalmente nas regiões temperadas do oeste das Américas. Segundo Chang et al. (2003) o gênero
possui por volta de 80 espécies amplamente distribuídas em áreas úmidas de Taiwan.
Sinonímias da Ludwigia octovalvis, segundo Howard (1989) e Liogier (1995):
Oenothea octovalvis Jacq.
Jussiaea suffruticosa L.
Jussiaea pubescens L.
Jussiaea angustifolia Lam.
Jussiaea octovalvis (Jacq.) Sw.
A espécie é descrita morfologicamente por Francis (2003) como sendo uma erva lenhosa de
cerca de 2m de altura e 1cm de diâmetro do caule, o caule de plantas “velhas” é lenhoso na maior parte
de seu comprimento, ramificações se tornam suculentas nas pontas; apenas as regiões mais inferiores
das plantas “novas” são lenhosas. As raízes laterais têm o interior muito forte e são rodeados por uma
“massa de algodão ou raízes com pêlos. No primeiro ano de desenvolvimento o caule produz um
número de finas ramificações laterais, depois de 1 ou 2 anos cada ramificação lateral produz uma
segunda ou terceira ramificação. As folhas estão dispostas alternadamente e possuem coloração verde-
clara e formato lanceolado (pontiagudos). As flores são solitárias nas folhas mais altas, possui 4
sépalas oval, ou lanceoladas e de 8 a 13mm de tamanho, 4 pétalas amarelas, os galhos são geralmente
de cor vermelha, as cápsulas tem formato de cravo da índia, são de 2,5cm a 5cm e tem algumas
sementes pretas arredondadas.
Habitats ou Ecossistemas em que ocorre:
Para Francis (2003), Ludwigia octovalvis cresce em solos úmidos e águas rasas, como por
exemplo, brejos, pântanos, lagos e margens de rios e estradas, pastos e campos de arroz. Holm e
colaboradores (1997) completam dizendo que pode ser encontrada em cipó flutuante e que auxilia na
formação de "ilhas flutuantes" em lagos.
Segundo Francis (2003) a L. octovalvis cresce a uma altitude próxima ao nível do mar até 800m
de altitude, e trata-se de uma espécie que prefere o sol e pode desenvolver-se tanto uma a uma quanto
formando "moitas".
Wogu et al. (2000) descreve a espécie como sendo uma planta aquática e Chang e
colaboradores (2003) completam dizendo que está amplamente distribuída em áreas molhadas de
Taiwan.
Distribuição Geográfica obtida em Literatura:
Wogu et al. (2000) descrevem o gênero Ludwigia como pantropical, sendo que possui 82
espécies distribuídas por 23 subespécies, 25 dessas espécies incluindo 8 dessas subespécies ocorrem no
Velho Mundo. Estes mesmos autores afirmam que 45 das 82 espécies ocorrem na América do Sul,
local onde citam como o provável centro de origem do gênero e da família (Onagraceae).
Segundo Francis (2003), L. octovalvis cresce atualmente do Sul dos Estados Unidos até o Oeste
da Índia, e no México e América do Sul.
Burkill (1997), Liogier (1995) e Howard (1989) apontam que essa espécie desenvolve-se em
regiões tropicais e subtropicais em todo o mundo. O crescimento desta planta ocorre no estado da
Flórida, sendo também localizada na Geórgia, Alabama, Louisiana, Mississippi, Carolina do Sul e do
Norte, Texas, Porto Rico, Ilhas Virgens e Avaí. Este último, segundo Francis (2003) é um local onde a
planta foi naturalizada.
Fosberg et al. (1979) lista Ludwigia octovalvis como nativa da Micronésia. Shyur et al. (2005)
e Chang et al. (2003) apontam em seus estudos que trata-se de uma espécie presente em Taiwan.
Estudos realizados por Martin (2003) sobre a história da família Onagraceae na Austrália,
procuram demonstrar que o gênero Ludwigia migrou para a Austrália e os primeiros registros são do
período Paleoceno, e que a família Onagraceae surgiu no período Cretáceo primeiramente no norte da
América do Sul e no sul da América do Norte.
Distribuição Geográfica obtida de Depósitos em Herbários:
Foram visitados os acervos de 02 herbários e obtidos dados de depósitos em acervo, por meio
de acesso à internet, de 10 herbários para o levantamento de informações principalmente do habitat de
ocorrência e de localização geográfica da espécie. Este número de herbários foi suficiente para
obtenção de uma tendência de distribuição da espécie conforme mostra o gráfico da Figura 02.
3 4
11
26
31
35 35 35 35 35 35 35
0
5
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UFPR UFRN NYBG JBRJ MBM INPA ASE IF MOBOT IMA IPA UFPB
Herbários
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Figura 02 - Suficiência Amostral de Acordo com Local de Ocorrência Obtido nos Testemunhos de
Ludwigia octovalvis Depositados nos Herbários.
O Quadro 01 apresenta os herbários fontes de dados, como foram obtidos os dados, e quantos
testemunhos foram considerados em cada qual respectivamente.
No gráfico da Figura 03 verificou-se que o Brasil é o principal país onde foram coletados os
exemplares (93%) de Ludwigia octovalvis e que os estados de São Paulo, Paraná, Bahia e Rio de
Janeiro, respectivamente, são onde ocorre o predomínio das coletas da espécie totalizando cerca da
metade das ocorrências (50%).
Quadro 01 – Acervos de Herbários consultados para a Ludwigia octovalvis (Jacq.) Raven
Herbário Forma de Consulta ao Acervo Total de
Testemunhos Consultados
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
09/07/2008 Visita ao acervo pessualmente 7
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN)
26/07/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 7
Jardim Botânico de Nova York (NYBG)
26/07/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 36
Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ)
27/07/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 109
Museu Botânico Municipal de Curitiba
(MBM)
28/07/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 75
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA)
29/07/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 49
Universidade Federal de Sergipe (ASE)
29/07/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 4
Instituto Florestal (IF) 16/09/2008 Visita ao acervo pessualmente 14
Jardim Botânico do Missouri (MOBOT)
17/09/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 51
Instituto do Meio Ambiente do Estado de
Alagoas (IMA)
17/09/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 5
Empresa Pernambucana de
Pesquisa Agropecuária (IPA)
17/09/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 4
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
17/09/2008 Consulta à base de dados Species Link
http://splink.cria.org.br/centralized_search 4
Outros-3,56
Amazonas-6,03
Bahia-11,78
Espírito Santo-2,19Goiás-1,92
Mato Grosso-1,10
Minas Gerais-4,66
Pará-3,01Paraíba-2,19
Paraná-17,26
Pernambuco-1,64
Rio de Janeiro-9,59
Roraima-2,47Santa Catarina-2,74
São Paulo-10,68
Sergipe-1,37
Bolívia-0,82
Acre-0,27Alagoas-1,37
Amapá-0,27
Ceará-1,37Distrito Federal-
1,37
Mato Grosso do Sul-2,19
Piauí-0,55
Rio Grande do Norte-2,47
Rio Grande do Sul-0,55
Costa Rica-0,27
Estados Unidos-0,55
Guiné Equatorial-0,27
México-1,64Nicarágua-1,10Panamá-0,82
Peru-0,82Suriname-0,27 Venezuela-0,55
Figura 03 – Freqüência de distribuição de Ludwigia octovalvis de acordo com os Locais de
Ocorrência deTestemunhos Depositados nos Herbários.
O mapa da Figura 04 apresenta a distribuição de Ludwigia octovalvis, de acordo com as
informações dos testemunhos dos herbários.
Figura 04 – Mapa representando a distribuição da Ludwigia octovalvis de acordo com os testemunhos
depositados nos herbários pesquisados.
Nota-se, na Figura 04, uma predominância da distribuição da espécie principalmente no
Brasil, e em estados que apresentam remanescentes significativos do Domínio da Mata Atlântica
(FÁVERO, 2007) como a Bahia, São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
Analisando os dados obtidos a partir do levantamento dos acervos verifica-se como indicação
de habitat desta espécie ambientes como, Floresta Ombrófila Densa Submontana, Mata Atlântica,
Caatinga, tratando-se de uma planta freqüente em borda de mata, beira de rio, lagoas perenes, beira de
estrada e ambientes palustres apresenta também em locais de solo arenoso e é caracterizada como uma
erva de brejo. Foi possível ainda observas apartir dos dados obtidos que cerca de 6% dos testemunhos
consultados foram coletados em áreas protegidas.
A análise de estudos de Ludwigia octovalvis permite considerá-la uma espécie vegetal arbustiva
de grande importância devido ao seu potencial de uso medicinal, visto sua significativa utilização
terapêutica descrita e testada em experimentos fitoquímicos e fitofármacológicos.
De acordo com os dados obtidos em literatura é possível no presente trabalho, constatar a
provável distribuição geográfica da Ludwigia octovalvis, que segundo Francis (2003) ocorre
atualmente do Sul dos Estados Unidos até o Oeste da Índia e no México e América do Sul. Francis
(2003) afirma ainda que o crescimento ocorre em alguns estados dos Estados Unidos, além de Porto
Rico, Ilhas Virgens e Avaí, sendo este último, segundo um local onde a L. octovalvis foi naturalizada.
A Ludwigia octovalvis é apontada por Fosberg et al. (1979) como sendo nativa da Micronésia,
e Shyur et al. (2005) e Chang et al. (2003) citam em seus estudos que trata-se de uma espécie presente
em Taiwan.
Para Burkill (1997), Liogier (1995) e Howard (1989) a espécie desenvolve-se em regiões
tropicais e subtropicais em todo o mundo.
Não foi encontrado em literatura, informações que apontem a provável distribuição geográfica
da espécie no Brasil, porém através dos dados obtidos nos acervos, que em grande parte estão
presentes no país torna-se possível esta estimativa. Deve-se considerar também que a consulta a
acervos realizadas no presente trabalho foi realizada em sua grande maioria em herbários brasileiros
devido à dificuldade ao acesso a herbários internacionais, além disso, é importante ressaltar que a
maioria das consultas foram realizadas por meio da internet devido a melhor acessibilidade.
Portanto deve-se levar em conta ao analisar o gráfico da Figura 02 da suficiência amostral a
predominância de herbários brasileiros, além do fato que um dos herbários internacionais, o do Jardim
Botânico de Nova York, apesar do grande número de testemunhos, todos eles foram coletados em
estados brasileiros.
Francis (2003) cita que a espécie Ludwigia octovalvis cresce em solos úmidos como brejos,
pântanos e margens de rios e lagos. Além disso, Francis (2003) completa afirmando que a espécie
cresce a uma altitude ao nível do mar até 800m de altitude. As notas dos testemunhos consultados
demonstram em diversas observações de campo a ocorrência predominante da espécie em Floresta
Ombrófila Densa Submontana, Mata Atlântica, Caatinga, e trata-se de uma espécie freqüente em borda
de mata, beira de rio, lagoas perenes, presente também em locais com solos arenoso e caracterizada
como erva de brejo. De acordo com essas informações observa-se que a Ludwigia octovalvis é uma
espécie amplamente distribuída nesses ambientes.
É possível observar, da análise dos resultados obtidos tanto na literatura quanto em pesquisas
nos acervos, que a Ludwigia octovalvis ocorre em diversos países que por sua vez possuem diferentes
climas. Desta forma, a planta sofre diferentes influências em seu metabolismo, de acordo com sua
localidade, fator que, como comentado por Gobbo-Neto e Lopes (2006), pode indicar que os
metabólitos com propriedades medicinais presentes na Ludwigia octovalvis variam de acordo com a
região onde a espécie é encontrada, possivelmente resultando em uma variação do seu potencial
medicinal.
Considerando o grande potencial de uso destacado da literatura para esta espécie, bem como
sua ocorrência e maior distribuição no bioma de Florestas Tropicais das Américas, algumas questões
merecem atenção tanto para se pensar em sua conservação quanto em seu aproveitamento humano com
eficácia e segurança.
As florestas tropicais, em particular no Brasil, o Domínio da Mata Atlântica, têm sido
intensamente exploradas pelas populações humanas tanto para obtenção de recursos quanto para
ocupação. Deste processo temos redução significativa de sua cobertura original, fenômeno que indica
comprometimento da manutenção da biodiversidade e das suas diversas funções ambientais, como por
exemplo o efeito regulatório sobre o clima global, exercido por estes biomas (FÁVERO, 2007).
Por outro lado ainda têm-se verificado que o metabolismo dos vegetais, no qual inúmeros
derivados úteis são sintetizados, está diretamente relacionado às condições ambientais em que estes se
encontram sofrendo alterações significativas, sobretudo na produção secundária, conforme estas
condições se modificam (GOBBO-NETO e LOPES, 2006).
Portanto, esta espécie em seu habitat predominante, certas fisionomias de Florestas Tropicais,
corre o risco de sofrer pressões seletivas pelo homem, visando determinadas características desejadas.
Por isso são necessárias medidas para a conservação dessas florestas, onde há maior distribuição destas
espécie onde vive e interage com outras diversas espécies (GUERRA e NODARI, 2004).
Considerando ainda, a alta distribuição desta espécie no Domínio da Mata Atlântica, um dos 34
‘hotspots’ de biodiversidade da atualidade prioritários para conservação (MYERS et al., 2000),
recomenda-se uma ação prioritária para conservação dessas áreas contemplando principalmente
estratégias de conservação ‘in situ’, ou seja, realizada dentro do próprio habitat natural conservado,
pois permite propiciar que a biodiversidade se mantenha dentro do contexto do ecossistema no qual é
encontrada (PAIVA, 1999 apud ROCHA, 2004; e PRIMACK E RODRIGUES, 2001).
Tal estratégia, porém, vem sendo ainda pouco utilizada visto que dos testemunhos de Ludwigia
octovalvis analisados, nos herbários, somente 6% foram coletados em áreas protegidas que segundo
Paiva (1999, apud ROCHA, 2004) e Primack e Rodrigues (2001) trata-se da melhor estratégia de
conservação da biodiversidade.
A conservação de espécies ‘in situ’ torna-se ainda mais importante quando lembramos, de
acordo com Gobbo-Neto e Lopes (2006), que existem diversos fatores que influenciam o conteúdo dos
metabólitos secundários dos vegetais, que segundo Di Stasi (1996) e Gobbo-Neto e Lopes (2006),
podem originar compostos medicinais tornando a planta útil para fins terapêuticos.
Conclusões:
A espécie Ludwigia octovalvis apresenta potencial terapêutico sendo suas principais
propriedades a antidiabética, antiinflamatória, antioxidante e bactericida. Desta forma, chama-se a
atenção para a preservação da espécie devido ao seu potencial de uso para beneficio humano. Sendo a
preservação facilitada pelo fato de se conhecer a distribuição da espécie, este trabalho obteve a
provável distribuição geográfica deste vegetal, sendo esta, amplamente distribuída “nas Américas”,
principalmente em regiões com remanescentes de Mata Atlântica no Brasil, e encontrada também na
China.
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